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JC Empresas & Negócios Porto Alegre, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013 - Nº 40 INFRAESTRUTURA Passados quase dois anos desde o acidente de Fukushima, no Japão, o governo voltou a discutir a instalação de novas usinas nucleares no Brasil, pressionado pela necessidade de uso cada vez maior de usinas térmicas, percebida neste verão. Página 3 COM A PALAVRA As operadoras precisam melhorar a comunicação com os clientes, inclusive no que diz respeito à sinalização de forma clara das limitações dos serviços vendidos, alerta o presidente do Grupo Telefônica no Brasil, Antonio Carlos Valente. Página 5 VIVO/DIVULGAÇÃO/JC AURACEBIO PEREIRA/ARTE/JC Rio Grande do Sul Governo do Estado

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Page 1: AURACEBIO PEREIRA/ARTE/JC · de cutelaria (-50%). Entre os empresários gaúchos, o sinal de trégua dos argentinos é encarado com ressalvas. “Em um primeiro momento, a queda da

JCEmpresas & Negócios

Porto Alegre, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013 - Nº 40

INFRAESTRUTURAPassados quase dois anos desde o acidente de Fukushima, no Japão, o governo voltou a discutir a instalação de novas usinas nucleares no Brasil, pressionado pela necessidade de uso cada vez maior de usinas térmicas, percebida neste verão. Página 3

COM A PALAVRAAs operadoras precisam melhorar a comunicação com os clientes, inclusive no que diz respeito à sinalização de forma clara das limitações dos serviços vendidos, alerta o presidente do Grupo Telefônica no Brasil, Antonio Carlos Valente. Página 5V

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8 Jornal do Comércio - Porto AlegreSegunda-feira, 25 de fevereiro de 2013 9CONJUNTURA INTERNACIONAL

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Barreiras comerciais com o Brasil podem ser diminuídas neste ano

Os recentes números po-sitivos obtidos no comércio exterior podem diminuir as barreiras comerciais para a importação de produtos brasileiros. Ao menos é o que sinaliza o próprio go-verno argentino. Em janeiro, através de seu diário oficial, o país vizinho implementou uma resolução revogando as licenças não automáticas para uma série de itens, entre eles calçados, têxteis e manufaturados. A deci-são veio dias depois de a presidente Cristina Kirchner anunciar um superávit de US$ 12,6 bilhões na balança comercial em 2012.

Na temporada passada, os hermanos exportaram US$ 81,22 bilhões, uma queda de 2,7% frente a 2011. Entretanto, as importações caíram em ritmo maior (7,3%), fechando em US$ 68,56 bilhões. E as relações com o Brasil acabaram con-tribuindo significativamente para o resultado. Os brasilei-ros continuam ganhando o jogo dos argentinos, mas não de goleada, como no passado. De acordo com as estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o superávit verde e amarelo caiu de US$ 5,8 bilhões para US$ 1,5 bilhão.

Enquanto as vendas brasileiras para aquela nação caíram de US$ 22,7 bilhões a US$ 17,9 bilhões, entre 2011 e 2012, as im-portações decresceram de US$ 16,9 bilhões para US$ 16,4 bilhões. Mesmo assim, há quem veja perspectivas mais positivas de negócios entre Argentina e Brasil em 2013. “A safra agrícola argentina neste ano será 20% maior, por causa das condições climáticas me-lhores. Isso vai aumentar as exportações e pode permitir algumas importações a mais”, projeta Eric Riton-dale, economista sênior da consultoria Econviews.

Por outro lado, a coorde-nadora da área de comércio

exterior do Instituto Brasi-leiro de Economia (Ibre) da FGV, Lia Valls, é pouco oti-mista. “Não vejo, no curto prazo, tendência de alguma mudança substancial nas relações, até porque a situa-ção econômica da Argentina continua difícil”, analisa. A economista acredita que o Brasil continuará contem-porizando e não irá bater de frente com o governo de Cristina, até pelo fato de a Argentina continuar tendo grande relevância na pauta exportadora.

O Rio Grande do Sul tem sido um dos principais afetados pelas barreiras. As exportações gaúchas para solo argentino, o segundo destino mais frequente dos embarques, caíram de US$ 2,1 bilhões para US$ 1,5 bilhão entre 2009 e 2012, conforme dados do MDIC. No mesmo período, as importações subiram de US$ 2,8 bilhões para US$ 4,1 bilhões. Apenas entre 2011 e o ano passado, houve grande retração nas transa-ções de máquinas agrícolas (-49%), calçados (-32%), móveis (-36%), borracha (-33%) e ferramentas e itens de cutelaria (-50%).

Entre os empresários gaúchos, o sinal de trégua dos argentinos é encarado com ressalvas. “Em um primeiro momento, a queda da licença não automática sinaliza tempos melhores, mas ainda é cedo para avaliarmos os efeitos. A história recente nos mostra algumas surpresas, até desagradáveis, vindas da Argentina”, aborda Cézar Müller, coordenador do Conselho de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado (Fier-gs). Segundo Müller, apesar da troca de procedimento, o controle das importações continua na mão do gover-no vizinho. Isso porque ain-da é exigida a Declaração Juramentada Antecipada de Importação (DJAI).

situação econômica do país

perspectiva econômica futura (próximos seis meses)

quantidade de empregos

perspectiva de emprego (próximos seis meses)

compra de bens duráveis

AURACEBIO PEREIRA/ARTE/JC

FONTE: FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA ARGENTINA (UBA) E TNS GALLUP

opinião dez/2011 dez/2012

Boa 30% 22%

Nem boa nem ruim

44% 38%

Ruim 24% 36%

Não sabe 2% 4%

opinião dez/2011 dez/2012

Vai melhorar 36% 23%

Será igual 37% 37%

Vai piorar 21% 31%

Não sabe 6% 9%

opinião dez/2011 dez/2012

Há bastante 34% 21%

Não há muitos nem poucos

30% 37%

Há poucos 34% 36%

Não sabe 2% 6%

opinião dez/2011 dez/2012

Haverá mais postos

33% 23%

Será igual a de agora

44% 41%

Haverá menos postos

15% 23%

Não sabe 8% 13%

opinião dez/2011 dez/2012

Bom momento

33% 24%

O momento não é bom nem mau

34% 35%

Mau momento

27% 33%

Não sabe 6% 8%

A PERCEPÇÃO DOShermanos

Momento é de instabilidade na economia do país vizinho, com problemas como inflação elevada, falta de confiança externa e desaceleração no ritmo de crescimento em relação a anos anteriores

Fernando Soares

Após decretar moratória em 2001 e viver um momento contur-bado em sua economia, a Argen-tina parecia se encaminhar para a plena recuperação. Alguns sinais, como o crescimento significativo do Produto Interno Bruto (PIB) desde então e o desemprego em queda, apontavam para esse caminho. No entanto, mantendo uma dose de drama típico da nação vizinha, o cenário atual não é dos melhores. A inflação saiu de controle, a con-fiança externa ficou abalada e, para piorar o quadro, a expansão cons-tante dos anos anteriores começa a ser colocada em xeque.

O PIB argentino decolou, depois de cair 15,5%, de 1999 a 2002, du-rante a crise. De 2003 a 2011, o cres-cimento acumulado chega a 79,5%, conforme dados do Banco Mundial. O ápice aconteceu em 2010, com incremento em velocidade chine-

sa de 9,1%. Porém, a projeção é de que 2012 chegue a 2,6%, na ótica do banco, e há analistas argentinos que preveem um índice ainda me-nor. Economista sênior da consulto-ria Econviews, sediada em Buenos Aires, Eric Ritondale indica que a ascensão não deve passar de 1%.

E as perspectivas de futuro não são positivas. “A economia vai avan-çar a taxas menores, basicamente, porque o investimento atual em in-fraestrutura não sustenta um cresci-mento tão rápido quanto antes”, as-sinala Ritondale. Ele ainda constata que a aplicação de capital estrangei-ro em solo argentino tem diminuído, chegando a 1% do PIB após a expro-priação da petroleira YPF, até então controlada pela espanhola Repsol. “É preocupante, mas é preciso lem-brar que todo o desenvolvimento dos últimos anos foi financiado pelo mercado interno”, salienta.

Mercado interno que ganhou força com políticas voltadas à dis-tribuição de renda e à redução do número de desocupados. Confor-me o Instituto Nacional de Estatís-ticas e Censos (Indec), o IBGE cas-telhano, de 2002 a 2012, a taxa de desemprego caiu de 17,8% a 6,9%. Contudo, desde 2007, quando pas-sou por uma troca de comando orientada pelo governo federal, a instituição tem suas estatísticas questionadas. A principal queixa se refere ao índice oficial de infla-ção, muito abaixo dos divulgados

por consultorias privadas. Além disso, o especialista da

Econviews recorda que a Argentina carece de investimentos em áreas estratégicas, como a energética. A mineração é um dos poucos seg-mentos com projetos em andamen-to, incluindo um aporte da Vale de US$ 5,9 bilhões em minas de potás-sio na província de Mendoza. No momento, a companhia brasileira paralisou os trabalhos, aguardando maiores benefícios fiscais e cam-biais por parte do governo.

Câmbio, aliás, que se confi-gurou um dos principais alvos da presidente Cristina Kirchner. A chefe do Executivo tem imposto restrições para a compra de mo-edas estrangeiras. Como efeito, o mercado paralelo, com seu dólar “azul”, ganhou força. Hoje, a co-tação estabelecida pelos doleiros é quase 50% superior frente à da moeda obtida legalmente.

Por ter uma economia tradicio-nalmente dolarizada, a Argentina está vendo uma série de ramos sofrerem com o chamado “cepo cambiário” (prisão cambial, numa tradução livre). “O mercado imobi-liário e a indústria da construção foram muito afetados, pois todas as transações eram feitas em dólar. Ademais, a produção agroindustrial exporta pelo câmbio oficial, mas o custo dos insumos sobe ao nível do dólar paralelo”, explica Ernesto O’Connor, diretor do Programa de

Análise de Conjuntura da Faculda-de de Economia da Universidade Católica Argentina (UCA).

De acordo com O’Connor, a eco-nomia argentina está vivendo seu terceiro ciclo desde a chegada dos Kirchner ao poder. De 2003 a 2006, sob o mandato de Néstor, havia con-trole da inflação e superávits gême-os (fiscal e comercial). Entre 2007 e 2010, já com Cristina, os superávits diminuíram e os preços começaram a subir. Como consequência, na atu-al etapa, iniciada em 2011, há déficit fiscal e uma intervenção maior do Estado para ajustar as contas.

Para o professor da UCA, um dos maiores problemas atuais do país é a inflação. “Mas o governo não reconhece que haja esse pro-blema”, critica. A taxa oficial, me-dida pelo Indec, finalizou 2012 em 10,8%, contra 25,8% do índice cal-culado por analistas de mercado.

Apesar de não reconhecer a diferença, Cristina fechou acordo com as maiores cadeias de super-mercados para congelar os preços até abril. “É uma medida que não vai levar a nada, como já vimos no Brasil nos anos 1980. A cadeia de comercialização, do produtor ao consumidor, é muito ampla, e as etapas anteriores não vão con-seguir reproduzir o preço do con-gelamento”, aposta Alfredo Mene-ghetti Neto, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católi-ca do Rio Grande do Sul (Pucrs).

Argentina revive a crise

Moratória decretada no início dos anos 2000 foi interrompida por sinais de crescimento, mas a economia do país vizinho voltou a sofrer com a crise

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Pesquisa mostra que população está menos confiante em relação à economia

Pesquisa realizada pela Uni-versidade Católica Argentina (UCA) e a TNS Gallup mostra que os argentinos terminaram 2012 mais pessimistas em relação à si-tuação da economia do país. Na amostra, realizada em dezembro do ano passado, 22% dos entrevis-tados definem o quadro atual como bom. Por outro lado, 36% conside-ram ruim. Em 2011, 30% classifica-vam o cenário de momento como bom, e 24%, ruim.

O economista e professor da Faculdade Decision-Fundação Ge-tulio Vargas (FGV) Antônio Carlos Fraquelli acredita que a gestão de

Cristina Kirchner vem se isolando, tanto nas relações internas quanto nas externas. “Ao invés de avançar na criação de uma agenda econô-mica, ela está em conflito com o grupo Clarín, o Judiciário, os produ-tores rurais, a indústria e até os sin-dicatos, que já foram aliados dela”, menciona. Fraquelli considera a situação da Argentina muito preo-cupante e constata a existência de uma crise de confiança internacio-nal. “A expropriação da YPF reper-cutiu muito mal. Quem vai investir lá depois disso?”, indaga.

Com outro ponto de vista, o professor de Relações Internacio-

nais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Paulo Vi-zentini descarta um isolamento de Cristina do resto do mundo. “Ela está ficando isolada de quem? Com os chineses, por exemplo, a Argen-tina tem feito bons negócios”, res-salta. Para ele, os hermanos vivem um momento de vulnerabilidade econômica e impõem ações defen-sivas a fim de evitar que a crise de 2001 se repita. “As autoridades pre-viram uma evasão de capitais do país e adotaram uma série de me-didas impopulares, mas que não afetam a maior parte da população argentina”, complementa.

Moratória segue gerando problemasMesmo com 93% de sua dívi-

da reestruturada, a Argentina se-gue tendo dores de cabeça com a moratória decretada no passado. Os credores que não aceitaram aderir às renegociações feitas em 2005 e 2010 pelo governo federal - que preveem pagamento menor que o do valor devido e um par-celamento mais flexível -, seguem pleiteando o montante na íntegra. O diretor do Programa de Análise de Conjuntura da Universidade Católica Argentina (UCA), Ernesto O’Connor, diz que os detentores dos bônus argentinos não reade-quados exigem, ao todo, cerca de US$ 30 bilhões.

No final do ano passado, um juiz federal norte-americano havia decidido a favor de dois fundos de investimentos dos Estados Unidos que solicitam o pagamento ime-diato de US$ 1,3 bilhão referente aos bônus que detinham da dívida argentina. Fundos estes que a pre-sidente Cristina Kirchner apelidou de “abutres”, por agirem igual à ave de rapina. A Argentina recor-reu ao tribunal federal de apela-ções e, nesta quarta-feira, todas as partes envolvidas terão a chance de expor seus pontos de vista em uma audiência. A partir daí, será tomada uma decisão.

“Há esperança de que a decisão não seja a favor dos ‘fundos abu-tres’”, afirma O’Connor. Caso perca a ação, a Argentina até teria como pagar a pendência. O problema é que, se fizer isso, o país pode colo-car por água abaixo todo o processo de renegociação de débitos feito an-teriormente. E o governo já declarou que não fará negócio nos moldes exigidos pelos “fundos abutres”. Enquanto isso, algumas agências de classificação de risco tem rebai-

xado a nota da Argentina. A Fitch, por exemplo, alega uma situação de default (calote) provável.

Devido à atual conjuntura da economia argentina, o Fundo Mo-netário Internacional (FMI) lançou uma moção de censura ao país por seus índices pouco transparentes, especialmente no que se refere ao cálculo da inflação e do PIB. O or-ganismo solicitou correções até se-tembro. O ministro da Economia, Hernán Lorenzino, até sinalizou com a criação de um novo indica-dor de preços.

Usuária frequente de redes sociais, a presidente respondeu à carraspana do FMI por meio de seu perfil no Facebook. “A Argen-tina era uma aluna exemplar do FMI nos anos 1990, que seguia cada uma de suas receitas e, quan-do quebrou, o fundo soltou a mão (dos argentinos)”, criticou, lem-brando os governos neoliberais da época. A chefe do Executivo ainda questionou a omissão do órgão diante da crise financeira global iniciada em 2008: “Onde o FMI es-tava?”, ironizou.

“Onde o FMI estava?”, questionou Cristina, ao falar da crise financeira

global iniciada em 2008

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