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Page 1: AUMENTO DE PRODUTIVIDADE REDUZ OS CUSTOS … do Café_março2008.pdf · produtividade passou de 22 sacas benefi - ciadas para um patamar de 27 sacas por hectare. Vale ressaltar que

Os resultados do painel realizado no mu-

nicípio de Três Pontas, sul de Minas Ge-

rais, região tradicional no cultivo de café

arábica (coffea arábica) e uma das maio-

res produtoras mundiais dessa espécie,

mostram que o aumento de produtivida-

de, apesar de elevar o custo total, reduz

consideravelmente os custos unitários,

aumentando a rentabilidade da empre-

sa rural. No caso específi co desta região,

considerando o potencial da lavoura, a

produtividade passou de 22 sacas benefi -

ciadas para um patamar de 27 sacas por

hectare. Vale ressaltar que todo o manejo

permaneceu inalterado.

A propriedade analisada em Três Pontas

possui área de 30 hectares cultivada com

cafeeiros e produtividade média de 22

sacas benefi ciadas por hectare. A colhei-

ta é realizada manualmente em 40% das

lavouras e mecanicamente em 60%. Os

itens considerados se referem ao uso de

insumos (fertilizantes - macronutrientes e

micronutrientes e defensivos agrícolas);

todos os gastos com a colheita, desde

a mão-de-obra até o benefi ciamento;

despesas com funcionários contratados,

incluindo os encargos; gastos com depre-

ciação, correspondentes a perda de valor

dos ativos fi xos que constam no inven-

tário. Também foram incluídos os gastos

que representam menos do que 5% do

COT que, por serem numerosos, foram

classifi cados como outros. Com a produ-

tividade indicada no painel, o custo ope-

racional efetivo (COE) é de R$ 5.716,12

por hectare e o custo operacional total

(COT) de R$ 6.073,83 por hectare.

Com o

objetivo de

analisar a implica-

ção do aumento de produtividade

na redução dos custos unitários (R$

por saca benefi ciada), são apresenta-

das duas situações: uma com a produ-

tividade indicada no painel e outra com

uma produtividade potencial, calculada

utilizando-se como referenciais as quanti-

dades de Nitrogênio (N) e Potássio (K2O),

aplicadas via adubação (1,2t de 20-05-

20, como única fonte de fertilizante),

informadas na realização do painel. Na

situação de potencial, foram mantidos

constantes todos os itens originais, exce-

to os referentes ao incremento de produ-

ção, que são os gastos com a colheita,

sacaria e benefi ciamento.

AUMENTO DE PRODUTIVIDADE REDUZ OS CUSTOS UNITÁRIOS

Ano 2 – Edição 3 Março - 2008

RESULTADOS DO PAINEL NO MUNICÍPIO DE TRÊS PONTAS, SUL DE MINAS GERAIS

R$ 5.716,12

R$ 6.163,40

R$ 259,82

R$ 228,27

R$ 210

R$ 215

R$ 220

R$ 225

R$ 230

R$ 235

R$ 240

R$ 245

R$ 250

R$ 255

R$ 260

R$ 265

R$ 4.000

R$ 4.500

R$ 5.000

R$ 5.500

R$ 6.000

R$ 6.500

R$ 7.000

R$ 7.500COE / ha COE / SC

Produtividade indicada pelo painel - 22 Sacas/ha

Produtividade potencial - 27 Sacas/ha

Produtividade indicada pelo painel - 22 Sacas/ha

Produtividade potencial - 27 Sacas/ha

R$ 6.073,83

R$ 6.521,10

R$ 276,08

R$ 241,52

R$ 220

R$ 230

R$ 240

R$ 250

R$ 260

R$ 270

R$ 280

R$ 4.000

R$ 4.500

R$ 5.000

R$ 5.500

R$ 6.000

R$ 6.500

R$ 7.000

R$ 7.500

COT / ha COT / SC

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O custo de produção é uma informação fi -

nanceira fundamental para a avaliação do

desempenho do negócio café. Para facili-

tar o cálculo destes custos as equipes da

Confederação da Agricultura e Pecuária do

Brasil (CNA) e da Universidade Federal de

Lavras (UFLA) desenvolveram uma planilha

que será disponibilizada aos cafeicultores

no site da CNA – www.cna.org.br. Sua utili-

zação viabilizará o procedimento de cálculo

do custo de produção, permitindo a análise

dos resultados obtidos.

A planilha funciona como uma agenda

preparada para receber os dados que se-

rão digitados. A ordem de preenchimento

dos campos não é importante, o essencial

é que a alocação dos dados seja criteriosa

e respeite a correspondência entre um item

lançado e seu local na planilha. Dividida

em três guias - inventário, implantação e

lançamento dos custos – essas devem ser

preenchidas pelo usuário. Os dados devem

ser lançados estritamente nas células mar-

cadas com a cor amarela, já que as demais

estarão protegidas para evitar a alteração

das fórmulas que compõem a planilha.

A guia Lançamento dos Custos é subdivi-

dida em meses, facilitando o registro dos

desembolsos realizados. Não é obrigatório

o lançamento mensal, já que qualquer va-

lor digitado em um dos

meses é somado ao fi nal

da linha. As demais guias são destinadas à

avaliação do custo. Após a inserção, os da-

dos são organizados automaticamente em

seus respectivos grupos. Esta estrutura de

apresentação dos resultados proporciona a

visualização analítica do custo de produção,

ou seja, o custo integral é decomposto em

partes passíveis de interpretação. A ferra-

menta otimiza o processo, porém sua utili-

zação requer organização e método. Tais es-

forços conduzirão o cafeicultor a uma maior

compreensão de seu negócio e, conse-

qüentemente, ao sucesso da empresa rural.

PLANILHA PERMITE CALCULAR O CUSTO DE PRODUÇÃO

Ativos do Campo é o braço informativo

do Projeto Campo Futuro. A metodo-

logia utilizada para o levantamento das

informações consiste na defi nição da

propriedade típica e do sistema de pro-

dução em cada região de estudo. Técni-

cos e produtores locais formam um gru-

po de debate para construir um sistema

de produção (a moda). Juntos, elaboram

uma planilha de custos de insumos e

receita da faixa mais representativa dos

produtores.

Além de descrever os coefi cientes técni-

cos e econômicos da propriedade típica,

o painel determina a estrutura organiza-

cional da atividade. Com base neste le-

vantamento, é feito o acompanhamento

dos preços da cesta insumos usada na

produção, conforme a freqüência e a sa-

zonalidade de comercialização.

A pesquisa será realizada em 16 Estados,

para nove culturas. Mais informações so-

bre a metodologia utilizada estão dispo-

níveis no site da CNA. www.cna.org.br.

ESTIMATIVA DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO DE CAFÉ

Propriedade:Proprietário:Município:Estado:

Análises Safras: Número de Meses:RECEITA Ano 2007 12

Área de lavourasProdução Total Sacas 1.750,00 1.750,00 Produtividade 25,00 SC/ha Preço Médio da Saca 230,00 230,00 RECEITA CAFÉ 402.500,00

CUSTOS DE PRODUÇÃO: TOTAL Período TOTAL / HA TOTAL / SACA

CUSTO OPERACIONAL EFETIVO (COE)

70

Propriedade

•Nome: Serra Negra•Proprietário: Emanuel Cândido

Localização

•Município: Altinópolis•Estado: São Paulo

Análise

•Safras dos anos: 2006/2007

CUS O O C O O (CO )Fertilizantes Macro (com frete) 95.375,00 1.362,50 54,50 Fertilizantes Micro (com frete) 9.870,00 141,00 5,64 Fertilizantes Organicos - - - Corretivos de solo 2.978,50 42,55 1,70 Fungicidas 14.532,00 207,60 8,30 Inseticidas 7.084,00 101,20 4,05 Herbicidas 5.250,00 75,00 3,00

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Os custos estimados nos painéis realiza-

dos nas principais regiões produtoras são

cotados mensalmente pelos Ativos do

Café em estabelecimentos comerciais de

todos os municípios participantes. A ta-

bela sintetiza as seguintes informações:

os itens de custos--; sua participação no

Custo Operacional Total- valores atuali-

zados; e as variações dos preços entre os

meses de novembro de 2007 e fevereiro

de 2008 (acumulado) e entre os meses

de janeiro de 2008 e fevereiro de 2008,

respectivamente. Vale lembrar que, o

reajuste salarial não foi computado e,

na próxima atualização, os custos com

mão-de- obra serão afetados.

Espera-se que o aumento do salário mí-

nimo aumente signifi cativamente o cus-

to de produção nas propriedades onde

predomina o manejo não mecanizado.

De janeiro a fevereiro, o COT cresceu

0,28%, justifi cado por queda de cor-

retivos e aumento dos defensivos. Este

aumento é o somatório dos resultados

obtidos multiplicando-se a variação de

cada item pela sua correspondente par-

ticipação no COT. A elevação dos preços

dos fertilizantes é impactante devido à

alta participação desse tipo de insumo

no COT. Os itens de custo, em geral, au-

mentaram em 15,1% de novembro de

2007 até fevereiro de 2008.

Com o objetivo de apresentar a evolução

do poder de compra do café, foi avalia-

da a sua relação de troca. Calculou-se a

quantidade de sacas de café benefi ciadas

(tipo 6 bebida dura) necessárias para a

compra de uma tonelada de adubo (20-

05-20), entre os meses de novembro de

2007 e fevereiro de 2008. A compara-

ção com esse insumo é relevante devido

a sua importância no processo produti-

vo. A quantidade de sacas de café neces-

sárias para a compra de uma tonelada

desse adubo, em fevereiro de 2008, é

inferior a de novembro de 2007. Na rea-

lidade, os dois produtos tiveram aumen-

tos de preço e essa aparente vantagem

demanda maior refl exão.

Os índices relativos entre fevereiro de

2008 e novembro de 2007 dos dois pro-

dutos e a relação de troca podem

auxiliar nesta avaliação. Os

índices expressam que a quantidade de

sacas necessárias para comprar uma tone-

lada de adubo foi 99,1% menor em feve-

reiro de 2008, enquanto o preço da saca

de café foi 13% superior no mesmo mês

e o preço da tonelada de adubo aumen-

tou 12% em relação a

novembro de 2007.

REAJUSTE SALARIAL AFETARÁ OS CUSTOS COM MÃO-DE-OBRA

Fev. 2008 Fev. 2008/Nov. 2007

Fev. 2008/jan. 2007

Fertilizantes 26,9% 12,0% 0,91%Defensivos 4,2% -6,0% 2,39%

Corretivos 2,0% 4,8% -4,49%

Estimativa de Funcionários Contratados (Fixos) e Funcionários Eventuais

17,1% 0,0% 0,00%

Assistencia Técnica + Análises de Solo/foliar + contabilidade

1,3% 0,0% 0,00%

Energia Elétrica + energia irrigação + Telefone

1,7% 0,0% 0,00%

Juros Financiamento 4,1% 0,0% 0,00%

Manutenção das Máquinas e Benfeito-rias

4,8% 2,3% 0,16%

Combustiveis gastos diesel + gasolina 5,4% 0,0% 0,00%

IPVA + ITR + Sindicato + CNA + Despesas bancárias

0,9% 0,0% 0,00%

Fretes café 0,4% 0,0% 0,00%

Custos de colheita e benefi ciamento 25,2% 0,0% 0,00%

Depreciações 6,0% 2,0% 0,23%Total 100% 15,1% -0,81%

ITENS DE CUSTOParticipação

COT Variação Ponderada

Item Índice relativo

Sacas de Café(unid.) 0,99

Preço Café(R$/sc) 1,14

Preço adubo(R$/t.) 1,12

Fonte: CNA/UFLA

SACAS POR TONELADA (20-05-20)

rela

uxil

S

dutos e a

a

3,66

3,68

3,70

3,72

3,74

3,76

3,71 3,71

3,78

3,68

3,78

3,80

Nov Dez Jan Fev

sacas por tonelada (20-05-20)

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Para uma apuração minuciosa dos custos

de produção, que gere informações que

possam subsidiar decisões do gestor, é

importante que os custos sejam contro-

lados por áreas de plantio (talhões), nas

quais, via de regra, recebem os mesmos

tratos culturais e estão em terrenos es-

pecífi cos. Essa dinâmica resulta em um

custo de produção diferente para cada

área, pois uma pode utilizar mais mão-

de-obra, enquanto outra usará mais

maquinário. Essas informações podem

possibilitar a continuidade de um talhão

ou não, dependendo de seu comporta-

mento perante os demais.

Em uma fazenda, existem vários talhões

que devem ser analisados separadamen-

te, para que o resultado positivo de um

não mascare o resultado negativo de

outro, possibilitando a tomada da deci-

são de continuar ou não a produção em

determinadas áreas. A coleta e proces-

samento dos dados devem possibilitar

a apuração dos custos de produção por

saca de cada talhão. A lógica de estima-

tiva continua a mesma, já discutida neste

espaço, ou seja, custos do talhão dividi-

dos pela produção em sacas do talhão.

É preciso, então, separar os insumos alo-

cados a cada área da fazenda. No caso

dos insumos (fertilizantes, corretivos

de solo, defensivos, entre outros), cuja

quantidade aplicada pode ser separada

por talhão, deve-se consultar o receitu-

ário agronômico ou mesmo anotações

que registrem o uso dos insumos por

área. Assim, com a quantidade e preço

pago pelo insumo, o produtor saberá o

custo com o insumo em cada talhão. Po-

rém, para os custos com mão-de-obra,

algumas considerações devem ser feitas.

Quando a mão-de-obra é temporária, o

custo desse serviço deve ser alocado aos

talhões de acordo com o tempo gasto

em cada área. Caso sejam pagos serviços

relativos a 10 dias trabalhados, sendo

que, nesses 10 dias, o trabalhador pas-

sou sete no talhão X e três dias no talhão

Y, os talhões devem receber como custo

desse serviço 70% e 30% respectivamen-

te, incluindo os encargos incidentes.

Quando a mão-de-obra é temporária e

exclusiva da colheita, é preciso apurar

o volume de café, muitas vezes chama-

da de medida, colhido em cada talhão,

assim como o valor pago pela medida.

Supondo uma colheita em dois talhões,

onde o total colhido foi de 100 medidas;

20 medidas foram colhidas no talhão X

e 80 medidas no talhão Y, deve-se con-

siderar como custo do talhão Y, 80% dos

custos com a mão-de-obra da colheita

e para o talhão X os 20% dos custos

restantes. No caso da mão-de-obra ser

permanente, quando os funcionários da

fazenda são pagos durante todo o ano,

a apropriação dos custos com mão-de-

obra torna-se mais trabalhosa e em algu-

mas circunstâncias arbitrária.

É importante ressaltar que todo esse pro-

cesso de alocação dos custos aos talhões

tem como principal fi nalidade a identifi -

cação de possíveis áreas inviáveis econo-

micamente, que seriam mascaradas pelas

demais áreas em uma análise conjunta

da propriedade. Assim, o produtor pode

tomar decisões que revertam à situação

dessa área específi ca ou mesmo elimine

a produção desse talhão.

Voltando a questão da alocação da mão-

de-obra permanente, uma alternativa é o

controle de todas as atividades exercidas

pelos funcionários fi xos. Esse controle

deve apontar o tempo gasto em cada

atividade (adubação, poda, entre outros)

no talhão responsável por esta demanda.

Dessa forma, somados os custos do ano

agrícola com os funcionários fi xos, esses

custos serão apropriados a cada talhão,

de acordo com as horas trabalhadas em

cada um. Quanto mais horas gastas em

um talhão, mais esse talhão receberá os

custos com mão-de-obra contratada.

Existem, também, custos que difi cilmen-

te são identifi cados para cada talhão,

como gastos de escritório, mão-de-obra

administrativa, reformas das benfeitorias,

entre outras. Estas discussões estarão nos

próximos Ativos do Café.

COMO ESTIMAR OS CUSTOS DE PRODUÇÃO DO CAFÉ – III

“ É importante ressaltar que todo esse processo de alocação dos custos aos talhões tem como

principal fi nalidade a identifi cação de

possíveis áreas inviáveis economicamente, que

seriam mascaradas pelas demais áreas em

uma análise conjunta da propriedade. ”