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Cidadania, direitos e desigualdades: aula 5 Direitos e deveres para governantes e governados: abordagens modernas III Professor Adalberto Azevedo São Bernardo do Campo, 28/01/2013

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Cidadania, direitos e desigualdades: aula 5Direitos e deveres para governantes e governados:

abordagens modernas III

Professor Adalberto AzevedoSão Bernardo do Campo, 28/01/2013

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Plano de aula

1. O contrato de Locke: questões atuais e questões em aberto

2. Estados Unidos e sua independência

3. Liberdade e Igualdade nos Estados Unidos: contradições

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O contrato de Locke

Contexto: final da restauração da monarquia (1688), que em 1660 voltou após o fim do protetorado de Cromwell instituído na Revolução Puritana de 1649.

União entre Tories (conservadores) e Whigs (liberais) contra abusos do Rei Jaime II (católico) e mercantilista 1688: revolução gloriosa (liberal). Locke volta da Holanda, onde se refugiara em 1683.

1689: Bill of rights (poder do parlamento sobre a monarquia)

Publicação de “Dois tratados sobre o governo civil”, “Cartas sobre a tolerância” e “Ensaio sobre o entendimento humano” (escritos cerca de dez anos antes)

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O contrato de LockeCientificismo: Empirista, “todo conhecimento se funda na experiência”, não existe conhecimento inerente ao ser humano

Utilização de dados etnográficos/antropológicos (indígenas da América) para definir o ser humano

2º Tratado do Governo Civil: caracteriza e estabelece limites do Estado e seu poder frente ao cidadão (Estado legítimo: controlado por cidadãos por direito natural)

Contratualismo liberal: da submissão (Hobbes) ao pacto de consentimento com poderes moderadores (legislativo, executivo e federativo (RI)

Tirania também é limitada pelo direito de resistência (justifica a revolução e fortalece o Rei Guilherme de Orange, genro holandês de Jaime II que assume o poder)

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A revolta da vacinaRevolta da vacina, Brasil (1904): revolta contra a tirania tecnocrática-higienista (e a remodelação urbana do RJ)Tirania movida por uma idéia tecnocrática de bem comum?Verdade científica como legitimação do poder e limitadora dos direitos do cidadão: reações violentas e satíricas

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O contrato de LockeConcebia o Estado de Natureza como sendo de relativa paz (diferente de Hobbes): igualdade natural, nenhum homem pode subordinar outro como se faz com outras espécies. Criminoso se afasta da condição humana, desiguala-se, e pode assim ser punido no Estado Natural (sistemas prisionais, pena de morte?)

Homem natural tem propriedade sobre sua vida, liberdade e bens (diferente da propriedade criada e dissolúvel pelo Leviatã de Hobbes): direito de propriedade antecede qualquer Estado ou lei civil

Propriedade não pode ser suprimida. Inicialmente se conquista com o trabalho realizado sobre o que é dado por Deus aos homens: limitação da propriedade

Possibilidade de acumulação capitalista: direito civil, gerador de desigualdades

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O contrato de LockeEstado de natureza dá margem a ataques à propriedade alheia. Além disso, é necessário se prevenir contra agressões externas.

Contrato: consentimento entre os homens, visando conservar seus direitos naturais (e não limitá-los, como em Hobbes)

Admite formas alternativas de governo, desde que conservando a liberdade de propriedade: separação do público/privado e moderação do poder

Poder legislativo: submete o executivo e federativo (RI) e representa a sociedade (juiz na relação cidadão/governante) Isso funciona no presidencialismo de coalizão brasileiro?

Poder das maiorias, limitado pelo direito natural das minorias. Mas ser, pensar e agir de forma diferente pode ser considerado crime (como Oscar Wilde no final do séc XIX)

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O contrato de Locke“Carta acerca da tolerância” (diferenças religiosas):

“ [...] não é a diversidade de opiniões (o que não pode ser evitado), mas a recusa de tolerância para com os que têm opinião diversa, o que se poderia admitir, que deu origem à maioria das disputas e guerras que se têm manifestado no mundo cristão por causa da religião.”

mas...

A liberdade de acumulação não gera desigualdades auto-reforçadoras da exclusão de grupos desprotegidos?

A maioria não tende a se tornar tirânica?

Tocqueville esclarece melhor esses pontos em “A democracia na América”

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O contrato de Locke: questões em aberto

Abordagem não histórica: momento do contrato abstrato

Liberdade e igualdade são inimigas? Grande problema da ideologia liberal

Igualdade formal (no mercado de compradores e vendedores mercadorias) gera desigualdades (Marx propõe um novo sistema, o socialismo- mas e a liberdade?)

Igualdade de Locke está mais relacionada à relação com o poder (relação cidadão-Estado) do que à igualdade entre cidadãos com status econômico diferente (relação cidadão com o mercado)

Como isso limita-se o acesso ao poder, mesmo com igualdade de direitos políticos? ($, organização e educação)

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Estados Unidos e sua independência

Influência de Locke: concepção do Estado como garantidor dos direitos naturais; caso contrário, direito à rebelião

Revoltas coloniais (Nathaniel Bacon, 1676): cores democráticas (general por consentimento do povo, universalização do voto)

Não se repeitava, desde então, os direitos dos indígenas, escravos, mulheres e outros grupos discriminados

Colônia relativamente livre para comércio, na metade do século XVIII começa a ser oprimida por leis mercantilistas: Declaração da Independência (1776) contra a opressão da Inglaterra

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Estados Unidos e sua independênciaValores míticos de cidadania: primeiros imigrantes ingleses (Mayflower e os pilgrim fathers, Thanksgiving). Invenção do passado como parte da criação de identidade da nova nação.

Mito dos bandeirantes, no Brasil identifica o poder com as classes dominantes e mostra preconceitos?

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Estados Unidos e sua independência

Estados Unidos: união de interesses dispersos em função de ideais de liberdade cristalizados na memória histórica

Tradição protestante: não formalismo, prática religiosa entendida como individual e sem intermediários

Declaração de independência: homens têm direitos iguais e inalienáveis (vida, liberdade e busca da felicidade)

Constituição: We, the people of the United States...

Desconfiança do poder político: separação público-privado.

Importância do poder legislativo destacada na Constituição.Constituição maleável (emendas): anterioridade dos indivíduos frente ao Estado (mas também pode empoderar o Estado...)

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Estados Unidos e sua independência

1791: 10 emendas constitucionais (liberdade de expressão, porte de armas, julgamentos com júri, proibição de penas cruéis, etc). Seguiram-se mais 17, entre as quais:

•XIII (1865, fim da escravidão)

•XV (1870, direito à voto independente de diferença racial)

•XVI (1909, direito do governo cobrar imposto de renda)

•XVIII (1917, lei seca), revogada com a XXI (1933, fim da lei seca)

•XIX (1919, voto feminino)

• XXII (1947, proíbe a trieleição de um presidente)

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Estados Unidos: contradiçõesMinute man X Estado despótico: indivíduos X tirano

Contudo, cidadania e liberdade bastante limitadas: liberdade real X liberdade formal

Voto não era universal; escravidão instituída até 1865, diferenciação por renda e gênero ( nos estados)

Desigualdades muitas vezes mantidas pelo Estado defensor da classe dominante: fortíssima interferência corporativa em assuntos públicos (sistema de saúde)

Estados Unidos: Lobby regulado (1946), conhecer interesses no Congresso. Ineficaz: 15 mil lobistas profissionais em Washington, poucos registrados. Public Disclosure Act (1995): adiciona contatos entre os lobistas e a administração pública nos registros.

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Estados Unidos: contradiçõesCidadania excludente: para os indígenas, a situação só piorou. Mulheres só obtiveram direito de voto após a I Guerra. Cidadão típico em 1830 era homem, branco, anglo-saxão e protestante

Caos da revolução francesa: argumentos para os conservadores, contrabalançados pelos estados mais liberais

Vozes contrárias à exclusão se manifestam: Constituição igualitarista permite movimentos de conquista da cidadania e direitos dos prejudicados pela desigualdade (Jackson, Lincoln: origens humildes)

Jackson: desconfiança com o capital financeiro Robber barons: instituição do Sherman AntitrustAct, 1890)Ficção muito comum: cidadãos honestos e “sós” vs corporações ou grandes interesses

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Estados Unidos

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Estados Unidos: contradiçõesDécada de 1830: ampliação dos direitos de cidadania (participação política, jornais baratos, ensino pago pelo Estado, maior participação de grupos populares). Remoção dos obstáculos à igualdade?

Expansão para o Oeste (violação dos direitos de índios e mexicanos), imperialismo para interesses privados

Atração de imigrantes: terra de oportunidades. Riqueza como conquista do esforço individual gera a discriminação do looser?

Crença de que o sistema é isento de problemas: a falha é daqueles que não se adaptam

Estabilidade de governo, com retrocessos: desigualdades (e preconceitos) agravadas em períodos de crise (Oakies na Califórnia na crise de 1929)

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Estados Unidos: contradições

1940, Direção de John Ford

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Estados Unidos: contradições

Ideologia individualista: dificuldade para aceitar diferenças- o eu e o anti-eu (se eu ando de bicicleta na Califórnia, sou contra seu direito de dirigir um SUV no Colorado?)

Imposição do sistema americano ao mundo: imperialismo (cultural e militar)

Muitas vezes, a ampliação de direitos sociais é vista como socialismo e ameaça ao direito privado, como o caso do sistema de saúde: direitos sociais (igualdade) X direitos de propriedade (liberdade)?

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Estados Unidos: A análise de Tocqueville

Crítica da filosofia política do século XVIII: abstrações generalizantes. Estudo de lugares e momentos históricos.

Momento do contrato é situado no tempo/espaço- Nova Inglaterra, 1620, entre iguais

Liberdade X Igualdade: desafio dos contratualistas em apresentá-las como situações políticas não contraditórias

A Democracia na América (1835 a 40): objetivo de definir em traços gerais um governo democrático (USA era A. Jackson)

Atuação política na França- Considerava a democracia um caminho natural, mas que dependia da ação (em seu país- Napoleão, volta dos Bourbons). Preso em 1848 (Napoleão III), por se opor ao regime

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Estados Unidos: O momento do contrato

Em nome de Deus. Amém. Nós cujos nomes vão abaixo assinados, súditos leais de nosso venerado Senhor Soberano o Rei Jaime etc. etc., tendo empreendido para a glória de Deus e o progresso da Fé Cristã, e honra de nosso Rei e país, uma viagem para implantar a primeira colônia nas regiões setentrionais da Virgínia; pelo presente, solene e mutuamente – na presença de Deus e de cada um – nos reunimos e combinamos a nós mesmos como um corpo político e civil, para nossa melhor ordem e preservação e a busca dos fins acima mencionados, e em virtude do presente, promulgaremos, constituiremos e moldaremos as leis, ordenações, atos, constituições e ofícios justos e iguais que, de tempos em tempos, forem considerados melhores e mais convenientes para o bem geral da Colônia; nos quais prometemos toda a devida submissão e obediência. (TOCQUEVILLE, 1989, p. 53).(In: José Otacílio da Silva- O poder político na visão de Tocqueville: um diferencial entre antigos e modernos. Revista Espaço Acadêmico, no 75, 2007. Disponível: http://www.espacoacademico.com.br/075/75silva.htm)