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Macroeconomia Aula 12 - Moeda, Inflação e Política Monetária 166 Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Aula 12 - Moeda, Inflação e Política Monetária Desenvolver habilidades e competências que permitam ao aluno compreender o significado e as funções da moeda no sistema de economia de mercado, bem como os indicadores de seu volume conjuntural; Interpretar o processo inflacionário, conhecer suas causas segundo a Teoria Econômica e manipular corretamente os diversos índices utilizados para mensurá-la; e avaliar a política monetária do governo e os instrumentos que a constituem. Introdução O tema desta aula é a moeda. Este termo designa de forma genérica o que costumamos chamar de dinheiro. Vamos discutir o conceito e os atributos da moeda e qual seu papel na economia. Também entraremos no tema da principal doença da moeda: a inflação. Você vai conhecer a definição, as medidas (os índices de preços) e as causas apontadas pela teoria econômica para a sua ocorrência. Falaremos um pouco da política monetária, observando os instrumentos que o governo utiliza para controlar o volume de moeda em circulação. E daremos uma olhada geral sobre o sistema financeiro no Brasil, no qual circula a maior parte da moeda existente na economia. Pequena história da moeda A necessidade de algum tipo de medida de valor dos bens, que servisse também para trocá-los entre si, vem desde o final da pré-história. As primeiras civilizações já realizavam intensas trocas de mercadorias, tanto internamente como umas com as outras. Comunidades primitivas podem trocar os bens entre si sem precisar de

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Aula 12 - Moeda, Inflação e Política Monetária

Desenvolver habilidades e competências que permitam ao aluno

compreender o significado e as funções da moeda no sistema de economia

de mercado, bem como os indicadores de seu volume conjuntural;

Interpretar o processo inflacionário, conhecer suas causas segundo a Teoria

Econômica e manipular corretamente os diversos índices utilizados para

mensurá-la; e avaliar a política monetária do governo e os instrumentos

que a constituem.

Introdução

O tema desta aula é a moeda. Este termo designa de forma genérica o

que costumamos chamar de dinheiro. Vamos discutir o conceito e os

atributos da moeda e qual seu papel na economia. Também entraremos

no tema da principal doença da moeda: a inflação. Você vai conhecer a

definição, as medidas (os índices de preços) e as causas apontadas pela

teoria econômica para a sua ocorrência. Falaremos um pouco da política

monetária, observando os instrumentos que o governo utiliza para

controlar o volume de moeda em circulação. E daremos uma olhada geral

sobre o sistema financeiro no Brasil, no qual circula a maior parte da moeda

existente na economia.

Pequena história da moeda

A necessidade de algum tipo de medida de valor dos bens, que servisse

também para trocá-los entre si, vem desde o final da pré-história. As

primeiras civilizações já realizavam intensas trocas de mercadorias, tanto

internamente como umas com as outras.

Comunidades primitivas podem trocar os bens entre si sem precisar de

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moeda, simplesmente através da troca direta. Isso deixa de funcionar

quando as trocas não são mais eventuais (produzi mais feijão do que

precisava, gostaria de ter mais arroz; procuro alguém que tenha excesso

de arroz e o troque por feijão). Definir os valores recíprocos (quanto de um

vale o outro), acertar as quantidades, achar o interessado na troca exata

que desejamos fazer, tudo isso é complexo e não funciona regularmente.

A moeda simplifica tudo. Vendo meu feijão por moeda e utilizo-a para

comprar arroz, sem precisar achar quem deseja fazer a troca inversa. Os

preços dos bens também acabam se acertando mais facilmente. Enfim, as

trocas freqüentes tornaram a moeda uma necessidade.

A moeda teve várias fases. Inicialmente, usava-se algum bem abundante

na época e no lugar: o sal foi um dos primeiros, daí a palavra salário. Gado

também foi utilizado: carneiros na Roma antiga (antes de ser o grande

Império que todos conhecem) – daí a palavra “pecúnia”, “pecuniário”, que

se refere a algo pago em dinheiro, cuja raiz é o latim “pecus” – gado (que

também é a origem de pecuária, pecúlio, etc).

Mais tarde, usou-se algum metal tido como precioso, porque muito útil e

escasso. Daí as moedas de cobre, bronze, prata e ouro. Essa foi a fase das

moedas metálicas, que durou até o final da Idade Média na Europa. Essas

moedas primeiramente eram locais e mais tarde passaram a ser nacionais

(somente o governo do país podia emiti-las).

Cedo, elas conheceram a inflação: os reis emitiam moedas com menor teor

metálico para cobrir suas despesas excedentes (já existia déficit público);

isso gerou alguns tumultos sociais famosos naquele período, pois as

pessoas se viam mais pobres – as moedas valiam menos, o que significava

preços mais altos.

Uma terrível crise inflacionária sacudiu a Europa um século após a

descoberta da América. Os metais preciosos encontrados pelos espanhóis

circularam pela Europa durante o final do séc. XVI e metade do séc.

XVII, quadruplicando os preços em geral. Essa explosão de preços teve

importantes conseqüências sociais e econômicas, as quais estão na raiz da

Revolução Industrial - origem do capitalismo contemporâneo.

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Nessa época, começou a circular a chamada moeda-papel, títulos emitidos

pelos bancos e casas de crédito em nome do depositante do metal real.

Os negócios fluíam muito rapidamente dentro dos paises e entre estes.

Ninguém saía mais carregando sacolas de ouro e prata, substituídos por

esses documentos das instituições a quem o metal estava confiado. Eles

tinham aceitação geral e as casas de crédito intercambiavam-nos entre si,

cobrindo apenas o saldo devedor com metal sonante.

O passo seguinte foi a emissão do papel-moeda (as cédulas oficiais do

dinheiro de cada país) emitidas e garantidas pelo governo através de

uma reserva em ouro – o lastro da moeda. O sistema foi acertado entre

as principais potências e passou a ser chamado de padrão ouro. Cada

país emitia sua moeda (em metal comum e em papel) de acordo com

suas reservas em ouro e o governo comprometia-se a trocá-la por ouro a

quem desejasse, a uma taxa fixa. Assim, também, as contas dos diversos

países nas suas transações comerciais eram acertadas, seguindo as taxas

de conversão para o ouro de cada moeda nacional.

O sistema do padrão ouro foi substituído no final da Segunda Guerra

Mundial (1945) por um sistema em que apenas o dólar norte-americano

seria trocado por ouro, a uma taxa fixa. Todas as demais moedas podiam

ser trocadas por dólares, a taxas também fixas. Em 1971, o presidente Nixon,

dos EUA, decretou o fim da conversibilidade do dólar em ouro, encerrando

essa fase. Desde então, as moedas nacionais flutuam de forma aleatória e

são garantidas pelos governos como fonte de valor – mas sem qualquer

garantia em bens reais.

Características e funções da moeda

A moeda cumpre três funções econômicas fundamentais:

meio de troca

unidade de conta

reserva de valor

Como meio de troca, ela intermedia todas as transações econômicas, tanto

de bens e serviços, quanto de fatores de produção (é usada para pagar

salários, lucros, juros e aluguéis). Somente se tiver aceitação generalizada,

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ela pode cumprir essa função. O governo impõe o uso da moeda nacional

em todas as transações – daí dizer-se que a moeda possui curso forçado.

Como unidade de conta, a moeda é usada em todos os cálculos de preços,

rentabilidade e comparações de valores. Como reserva de valor, ela permite

guardar valores ao ser poupada, isto é, não utilizada imediatamente

no consumo. Guardar moeda significa guardar valor para consumo ou

investimento futuro.

Os problemas da moeda – e da economia – começam quando ela perde

uma ou mais dessas funções. Houve época, no Brasil, em que ninguém

guardava moeda, pois era o mesmo que gelo: derretia. As contas também

eram feitas usando outro padrão – geralmente, o dólar. Só assim podia-se

comparar preços, lucros, salários, etc, sem incorrer em equívoco. Estivemos

a um passo de ver nossa moeda nacional perder até a função de meio de

troca, sem o que ela deixaria de ter qualquer significado econômico. Esse

trabalho destrutivo foi feito pelo maior dos males que pode acometer uma

moeda: a inflação.

Assim, para cumprir as funções devidas, a moeda precisa ter as seguintes

características físicas:

ser facilmente divisível (divisibilidade)

ser bastante portátil (portabilidade)

ser durável em termos físicos (durabilidade)

O governo possui o monopólio da emissão da moeda e tem a tarefa de

assegurar essas características físicas e, principalmente, as três funções

descritas mais acima. Para isso, ele precisa defender o valor da moeda,

combatendo a inflação. Também deve evitar o oposto, a deflação (queda

de preços). Esse problema causa tantos ou mais horrores econômicos

quanto a inflação. Deflação associa-se a depressão econômica: queda do

PIB, falências e desemprego. Por isso, a função estabilizadora do governo

é tão importante e reconhecida por economistas de todas as tendências

(veja a Aula 10). A política monetária busca manter estável o valor da

moeda nacional.

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Há dois conceitos de moeda muito utilizados para mensurar o seu volume

na economia (tanto o governo como os analistas privados estão sempre

acompanhando as alterações nesse volume). O primeiro é chamado

de Meios de Pagamento; consiste na soma da moeda em poder do

público e dos depósitos à vista nos bancos comerciais. Representa-se

os meios de pagamentos pelo símbolo M1. Conceitos mais amplos de

meios de pagamento são também utilizados, acrescentando-se ao M1,

sucessivamente, os depósitos em poupança e em títulos privados (o

resultado chama-se M2), os depósitos em fundos de renda fixa (M3) e os

títulos públicos (M4). Todos esses títulos ou aplicações são considerados,

em maior ou menor grau, como moeda, porque podem ser nela

convertidos com margens variadas de facilidade. A maior facilidade de um

título ou um ativo, de ser convertido em moeda, é denominada liquidez.

Assim, do M1 ao M4, estamos incorporando ao cômputo dos meios de

pagamento ativos com níveis cada vez menores de liquidez - mas que

funcionam parcialmente como moeda, especialmente em situações de

inflação elevada.

O segundo conceito, mais restrito, é o de Base Monetária. Ela consiste na

moeda em circulação e nos encaixes bancários, isto é, o total da moeda

em poder do público e no caixa dos bancos (moeda em circulação), mais

os depósitos dos bancos junto à autoridade monetária (no caso brasileiro,

esta é o Banco Central). Esses depósitos são, em parte voluntários, e em

parte obrigatórios.

Comparando os dois conceitos, percebemos que:

a) os depósitos à vista nos bancos comerciais não fazem parte da Base

Monetária e sim dos Meios de Pagamento;

b) o papel-moeda mantido em caixa pelos bancos está na Base Monetária,

mas não nos Meios de Pagamento;

c) os depósitos dos bancos comerciais junto à autoridade monetária (Banco

Central) estão na Base Monetária, mas não nos Meios de Pagamento.

Os dois primeiros componentes – depósitos à vista e caixa dos bancos – são

fundamentais para entendermos o que se chama de moeda escritural. Ela é

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constituída pelos depósitos e circula na forma de cheques (os depósitos, e

não os cheques, constituem a moeda escritural). Os bancos a utilizam para

emprestar dinheiro. Retêm uma parte dos depósitos em caixa, a partir de

estimativas de quanto os depositantes costumam retirar em curto prazo. O

restante é emprestado aos demandantes de crédito (empresas e pessoas

físicas).

Ao realizar empréstimos, os bancos expandem os meios de pagamento.

Parte desses empréstimos retorna à rede bancária, possibilitando novos

empréstimos (da parcela não retida pelos próprios bancos para atender os

saques dos depositantes). Assim, há uma proporção de recursos que volta

ao fluxo da produção e do consumo. Por isso, dizemos que os bancos criam

moeda, na forma escritural. O multiplicador dos meios de pagamento é a

proporção em que os depósitos retornam ao circuito econômico na forma

de empréstimos, novos depósitos, mais empréstimos e assim por diante.

Assim, quando o governo emite moeda, está ampliando a base monetária.

Mas ele pode evitar que os meios de pagamento cresçam na mesma

proporção, fazendo os bancos depositarem parte dos novos recursos junto

ao Banco Central. Esses depósitos são parte da base monetária, mas não dos

meios de pagamento, pois não estão circulando na economia através do

crédito bancário. O multiplicador dos meios de pagamento será reduzido,

expandindo o crédito numa proporção menor. O potencial inflacionário

da nova emissão é parcialmente esterilizado com esse procedimento, pelo

menos por certo tempo. Falaremos mais adiante do Banco Central e dos

instrumentos de política monetária, que possibilitam esse tipo de ação do

governo.

A inflação: conceito, causas e medidas

Inflação significa a perda do poder de compra da moeda de um país. Ela

se traduz numa alta generalizada dos preços dessa economia (os preços

“inflam”, daí o nome). O problema com a inflação é que ela não ocorre uma

vez e acaba; mesmo nesse caso, as conseqüências seriam danosas, mas

ela é persistente. Depois de se instalar, é difícil de remover e as políticas

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conhecidas para isso são sacrificantes para boa parte da sociedade.

A inflação causa graves problemas ao funcionamento da economia,

destacando-se os seguintes:

a) altas de preços generalizadas produzem distorções econômicas,

porque os preços não sobem todos ao mesmo tempo, há uma

dispersão dos preços relativos: a relação entre os preços sofre

mudanças pulverizadas e eles deixam de ser referências válidas

para decisões dos agentes econômicos.

b) a inflação causa concentração de renda, porque os mais pobres têm

maiores dificuldades de se defender, enquanto os ricos podem

reajustar suas rendas, ganhar no mercado financeiro, dolarizar seus

ativos, etc.

c) ambientes de alta inflação, ao dificultar o cálculo de ganhos, perdas

e comparações, e também por atiçar ganhos especulativos e levar

a altas taxas de juros como meio de defesa do governo, inibem

o investimento produtivo, causando impasse no crescimento

econômico

Há três explicações básicas na Teoria Econômica sobre inflação, vejamo-

las;

1.Inflação de Demanda – é resultado do excesso da Demanda Agregada

sobre a Oferta Agregada. Na verdade, significa “muito dinheiro em

busca de poucos bens”. Os keynesianos atribuem esse caso à aceleração

excessiva da economia, quando os negócios fluem com muita rapidez

e a renda monetária cresce mais que a oferta de bens e serviços. Nessa

situação, defendem política monetária restritiva (reduzindo o volume

de moeda em circulação) e política fiscal contracionista (contraindo a

demanda agregada). Os economistas da escola monetarista (corrente

conservadora, crítica do keynesianismo e que ganhou terreno nas últimas

duas décadas) atribuem a inflação ao descontrole monetário do governo,

devido aos seus excessos fiscais: o governo emite moeda para cobrir seus

déficits freqüentes, desvalorizando-a. Esta corrente defende uma política

monetária mais forte e não confia na política fiscal.

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2.Inflação de custos: é gerada no lado da oferta e não da demanda.

Há três fontes possíveis de inflação de custos: aumento excessivo de

salários ou de lucros e choques de oferta. Aumentos salariais da mesma

magnitude que o crescimento da produtividade não são inflacionários:

nesse caso, o volume de produtos terá crescido na mesma proporção e

o aumento salarial será absorvido pela maior receita, sem elevação dos

preços. Aumentos salariais superiores à produtividade podem gerar dois

efeitos: repasse aos preços ou quebra das empresas pela contração dos

lucros. As empresas monopolistas e oligopolistas também podem gerar

inflação se procurarem aumentar suas margens de lucro. Lembre-se de

que, em momentos de recessão econômica, elas não reduzem os preços e

sim o volume produzido (veja Aula 5); podem inclusive tentar compensar

nos preços a perda nas quantidades. Finalmente, os choques de oferta

têm raiz no clima ou na política: quebras de safra, altas de insumos-

chave como o petróleo, “apagões” como tivemos no Brasil em 2001,

desvalorizações cambiais violentas como a de 2002. A oferta se retrai e os

preços sobem. Nesse caso, recomenda-se usar a política monetária apenas

para evitar a propagação desses choques para toda a economia; outras

opções, que muitos consideram mais eficazes em tais casos, são a abertura

para importações ou negociações de preços e salários entre o governo,

empresários e sindicatos de trabalhadores.

3.Inflação inercial: foi diagnosticada no Brasil por economistas brasileiros

que elaboraram uma série de planos antiinflacionários apoiados nessa

teoria, culminando no Plano Real. Trata-se da indexação generalizada

na economia – todos os preços, impostos, contratos, salários e aluguéis

acabam sofrendo reajustes de acordo com um ou alguns índices de

preços, que medem a inflação. Assim, todos vão jogando a alta de preços

de ontem para a frente e ela se eterniza. Gera-se uma tendência estável de

inflação, em lugar de preços estáveis. Choques de oferta, nesses casos, só

aumentam o patamar da inflação, que depois se repete ano a ano naquele

patamar.

A medição da inflação é feita por índices de preços, que acompanham

o nível geral dos preços ao longo do tempo para detectar sua variação.

Em geral, observamos três tipos principais de índices de preços: no

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varejo (também chamados de índices do Custo de Vida ou de Preços

ao Consumidor), no Atacado e Gerais. A maioria dos índices conhecidos

refere-se ao varejo. Somente a Fundação Getúlio Vargas (FGV) calcula o

Índice de Preços no Atacado (IPA) e o Índice Geral de Preços (IGP). O IGP

é uma média ponderada do Índice de Preços ao Consumidor, coletado

em doze capitais brasileiras (peso de 30%), do IPA (peso de 60%) e do

Índice Nacional da Construção Civil (INCC), com peso de 10%. Assim, é o

único índice que mede realmente a inflação, porque observa os principais

preços na economia, tanto para as famílias (varejo), como para as empresas

(atacado).

Uma versão do IGP para o mercado financeiro (o IGP-M, cuja sigla incorpora

a expressão “de mercado”) é calculada com antecedência de dez dias, com

divulgação no final de cada mês (o IGP normal é divulgado no dia 10 do

mês seguinte). Na verdade, a coleta de preços do IGP vai de 1 a 30 de cada

mês e a do IGPM, de 21 a 20.

Costuma-se utilizar o IGP no conceito de Disponibilidade Interna (daí a

sigla completa: IGP-DI), que acompanha apenas os preços no mercado

interno. O IGP também é calculado no conceito de Oferta Global (OG),

incluindo produtos transacionados no mercado internacional, mas seu

uso é mais restrito.

O IBGE calcula o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o Índice

de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Índices desse tipo baseiam-se

em Pesquisas de Orçamentos Familiares (conhecidas pela sigla POF), nas

quais famílias selecionadas têm suas compras acompanhadas durante

alguns meses, gerando uma distribuição de bens e serviços em termos

percentuais. Esses percentuais médios transformam-se na ponderação

(pesos) do índice. Em seguida, pesquisas mensais desses preços são

realizadas e as variações são ponderadas por esses pesos para compor o

índice do mês.

O INPC utiliza ponderações de famílias com renda até oito salários

mínimos e o IPCA, de um a quarenta salários mínimos. Ambos pesquisam

onze regiões metropolitanas do País. Além destes, o IPC da FGV, citado

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acima, assim como o IPC elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas

Econômicas da USP (FIPE) e o Índice do Custo de Vida calculado pelo

Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos

(Dieese), compõem a lista dos índices mais conhecidos e populares no

Brasil. Os dois últimos restringem-se aos preços coletados no município de

São Paulo: a FIPE usa uma ponderação extraída de famílias de um a vinte

salários mínimos e o Dieese, de um a trinta.

O IPCA é o índice adotado para fixar as metas da inflação e consta dos

acordos com o FMI. Em certo sentido, isso o torna o índice mais importante:

todo o mercado acompanha a sua evolução, projetando as reações do

governo a qualquer “estouro” da meta oficial. No entanto, nem sempre

esse índice é utilizado em estudos econômicos, onde o IGP, pelas razões

já assinaladas, costuma ter preferência, principalmente quando se analisa

não apenas o consumo, mas também a produção (os custos das empresas

são melhor expressos pelos preços no atacado).

Sistema Financeiro

O conjunto das instituições públicas e privadas que organiza e concentra

os fluxos de moeda na economia é chamado de sistema financeiro.

O sistema financeiro público é composto pelo Conselho Monetário

Nacional (CMN), pelo Banco Central do Brasil (BaCen), pelo Comitê de

Política Monetária (COPOM), pelo Banco do Brasil, pela Caixa Econômica

Federal (CEF), pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES) e pelos bancos de desenvolvimento regionais (Banco do

Nordeste e Banco da Amazônia).

O CMN é o órgão superior que define a política monetária do governo

(no próximo item, discutiremos os instrumentos de política monetária).

As metas e a orientação geral são definidas pelo CMN, composto pelos

ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do BaCen. Uma

das atribuições do CMN é estabelecer a meta de inflação do ano corrente

e, principalmente, do ano seguinte, acompanhando a execução da política

monetária pelo BaCen de forma a avaliar se a meta está sendo atingida.

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O COPOM levanta as informações sobre a inflação e o desempenho da

economia, as projeções do mercado sobre a inflação, o PIB e a taxade

juros e define a taxa de juros dos títulos públicos (denominada taxa Selic),

compatível com a meta fixada pelo governo (CMN).

O BaCen é o principal órgão executor da política monetária. Ele concentra

quatro funções:

Banco dos bancos – fornecedor de recursos de última instância para os

bancos privados em caso de necessidade e receptor de depósitos

voluntários e compulsórios dos mesmos.

Gestor do Sistema Financeiro Nacional – o Bacen autoriza o

funcionamento das instituições financeiras e regulamenta suas

atividades, emitindo normas e circulares.

Emissor da moeda nacional – compete ao BaCen a decisão de emitir

e a definição do volume emitido.

Banqueiro do Governo – o BaCen financia o Tesouro Nacional através

da emissão de títulos de crédito, recebe depósitos do Governo e

administra sua dívida interna e externa. Também é o gestor das

reservas internacionais do País e do fluxo de capitais do e para o

País (assunto da próxima aula).

O Banco do Brasil e a CEF são instituições financeiras federais. O primeiro

atua como agente financeiro do governo e opera o crédito rural e

industrial, além de administrar o comércio exterior brasileiro. A CEF atua

no financiamento da habitação e saneamento básico e capta depósitos de

poupança e contas correntes.

O BNDES é o instrumento do governo para financiar projetos de

investimento públicos e privados com impacto importante na economia.

Tanto as empresas estatais, como empresas privadas nacionais e

estrangeiras, utilizam-se das linhas de financiamento desse banco para

ampliar (ou instalar) suas atividades. O mesmo papel, em escala regional,

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é desempenhado pelos bancos oficiais de desenvolvimento do Nordeste

e da Amazônia, mais envolvidos em financiamentos a pequenas e médias

empresas, produtores cooperados, etc.

O sistema financeiro privado é constituído pelos bancos comerciais, que

captam depósitos à vista e atuam no crédito de curto prazo; bancos de

investimento, que captam depósitos a prazo e fornecem capital de mais

longo prazo às empresas; pelas sociedades de crédito, financiamento e

investimento (financeiras), responsáveis pelo crédito ao consumidor; pelas

sociedades de arrendamento mercantil (leasing); pelas associações de

poupança e empréstimo; e pelos bancos múltiplos, que são uma fusão da

maioria dessas instituições numa única com diversas carteiras de crédito

e financiamento. Como já dito, a regulamentação desse setor é uma das

atribuições do Banco Central.

Política monetária

O objetivo de estabilizar o valor (ou poder aquisitivo) da moeda nacional é

perseguido pelo governo através da política monetária. Esta compõe-se de

diversos instrumentos. Os mais importantes são os seguintes:

a)emissões: seu volume e limites são definidos pelo CMN e sua execução

está a cargo do Banco Central. O governo deve emitir moeda para

acompanhar o crescimento dos negócios. Quando se observa excesso de

moeda e o governo tenciona reduzir seu volume ou aumentá-lo sem novas

emissões, os demais instrumentos entram em ação;

b)compulsório: são depósitos obrigatórios dos bancos comerciais junto ao

Banco Central, de um percentual dos depósitos à vista de seus correntistas.

O objetivo é evitar que os bancos utilizem o dinheiro desses depósitos no

crédito, ampliando os meios de pagamento. O governo varia a porcentagem

dos depósitos cujo recolhimento é obrigatório e com isso amplia ou reduz o

crédito privado ao consumo e ao investimento (o compulsório rende juros

abaixo do mercado);

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c)redesconto: é um empréstimo de última instância do Banco Central aos

bancos comerciais que se encontram descobertos ao final de suas operações

diárias. Aumentando ou reduzindo a taxa desse empréstimo, o BaCen

estimula ou desestimula a ousadia dos bancos comerciais na concessão de

crédito (maior ousadia implica em maior risco de terminar descoberto e ter

de recorrer ao redesconto);

d)taxa de juros: ao fixar os juros que pagará pelos seus próprios títulos,

o governo (através do Banco Central) estabelece um piso no mercado

de crédito. Ninguém lançará títulos a taxas mais baixas que as dos títulos

públicos, pois estes são muito mais garantidos e os aplicadores recusarão

taxas mais baixas. Como os empréstimos em geral são garantidos por

títulos lançados pelas instituições financeiras (depósitos a prazo, etc), estas

precisam competir com o governo na captação de recursos de aplicadores

para obterem os fundos que utilizarão no crédito, na outra ponta. Juros altos

desestimulam os tomadores de crédito e esfriam os negócios, dificultando

a prática de aumentos de preços;

e)operações de mercado aberto (open market): o governo negocia seus

títulos com objetivos ligados à política monetária. Se desejar reduzir os meios

de pagamento, vende títulos ao mercado e esteriliza os recursos obtidos

(não os utiliza em despesas ou em crédito, impedindo-os de voltar ao fluxo

monetário); se desejar aumentar os meios de pagamento, recomprará seus

próprios títulos.

Em geral, o combate à inflação é feito com elevação da taxa de juros,

aumento das porcentagens e prazos de recolhimento dos compulsórios,

aumento da taxa de redesconto e operações de enxugamento de moeda via

open market. O combate à recessão utiliza os instrumentos opostos (baixa

dos juros, redução do compulsório e do redesconto, ampliação dos meios

de pagamento através do open market). As doses de cada instrumento e a

combinação final de todos eles dependem dos objetivos mais específicos

do governo, além do estudo de seus impactos sobre outras variáveis (déficit

público, dívida pública, câmbio, etc).

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Anotações do Aluno

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O regime de metas de inflação

Desde 1999, a política monetária brasileira segue o regime de metas de

inflação. Sinteticamente, ele funciona com base em decisões do CMN

sobre a inflação desejada no ano corrente e nos seguintes. O COPOM

analisa os indicadores da conjuntura econômica para observar se a inflação

está caminhando em direção à meta definida ou, ao contrário, está se

afastando dela. Além dos indicadores da economia real e dos índices de

preços, também é observada a previsão dos principais agentes financeiros

do mercado, porque ela forma expectativas dos agentes econômicos que

se refletirão em suas políticas de preços. Com base nesse conjunto de

informações, o COPOM decide mensalmente a taxa de juros dos títulos

públicos (denominada Selic), influindo sobre o conjunto das taxas de juros

do mercado. Os demais instrumentos também podem ser acionados, mas

nos últimos anos a taxa de juros tem sido, de fato, a arma principal do

governo no combate à inflação.

As críticas a essa concentração da política monetária na taxa de juros

partem de economistas que não a consideram como o instrumento mais

eficiente, devido a seus efeitos colaterais. De fato, aumentos na taxa de juros

fazem crescer a dívida interna do governo e ocasionam novas despesas,

pressionando os déficits públicos. No final do processo, pode-se ter mais

inflação. Além disso, taxas muito altas – como tem ocorrido no Brasil –

desestimulam os investimentos produtivos. Sem estes, é impossível manter

o crescimento do PIB em bases sustentáveis. Se o PIB não cresce, as receitas

tributárias também ficam estagnadas, obrigando o governo a aumentar a

carga fiscal – o que acaba prejudicando de novo o crescimento econômico

– ou a incorrer em novos déficits. Essa crítica parte de um diagnóstico de

inflação de custos, para a qual as restrições de política monetária são pouco

eficazes, a não ser para evitar a propagação dos efeitos a toda a economia.

O debate prossegue até os dias de hoje. Questões originais têm vindo à

tona. Por exemplo, será que o Brasil possui uma taxa de juros de equilíbrio

– isto é, aquela que estabiliza a inflação em patamares baixos – mais alta

que a média dos países? E, se for, quais serão os motivos? Ou será que tudo

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Anotações do Aluno

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não passa de uma visão política estreita, que acaba beneficiando o setor

financeiro em prejuízo dos setores produtivos da economia?

Quem sabe você, futuro economista, contribua para aclarar essas e outras

questões.

Síntese

Nesta aula, discutimos as funções da moeda, a inflação – significado, causas

e medidas – o sistema financeiro nacional e a política monetária com seus

instrumentos. Você deve ter percebido que a economia real é um sistema de

“vasos comunicantes” (lembra das aulas de física no ensino médio?): mexe-

se numa variável e afeta-se uma grande variedade de outras. Não deixe de

fazer as atividades propostas na Aula digital.

Na próxima aula, estudaremos melhor o setor externo da economia: Balanço

de Pagamentos, câmbio, dívida externa. Esperamos você lá!