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  Aula 8 Gêneros textuais Flavia Medeiros Ronaldo Lobão 

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Aula 8 cederj Oficina

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  • Aula 8Gneros textuais

    Flavia MedeirosRonaldo Lobo

  • Oficina de Texto

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    Aula 8 Gnerostextuais

    Metas

    Apresentar e conceituar gneros textuais.

    Objetivos

    Esperamos que, ao final desta aula, voc seja capaz de:

    1. compreender o significado da leitura para o processo de classificao dos modos de expresso textual;

    2. identificar o conceito de gneros textuais como forma de organizao de textos, segundo critrios que dizem respeito forma de ser, agir e pensar de pessoas ou grupos;

    3. listar os principais gneros textuais.

    Introduo

    Figura 9.1: Escultura na fachada de um teatro. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1396345.

    Observe atentamente a figura acima, antes de iniciar a leitura desta aula. Faa uma anlise levando em conta as seguintes questes: o que signifi-ca a expresso facial apresentada na escultura? Como se poderia expli-car a sua ao? O que algum poderia estar pensando ao se expressar daquele modo?

    A escultura acima a representao de um ser, segundo uma ao, que reflete certo pensamento ou reao diante de algo. Pouco importa se uma pessoa hipottica ou real. H uma ao facilmente perceptvel, que foi congelada nessa obra de arte. A partir da descrio que fizermos relativa s atitudes dos seres representados, podemos inferir hipteses quanto ao pensamento que ronda essa expresso artstica.

    A expresso dessa figura parece significar uma manifestao de sarcas-mo, deboche, aquele momento de soberba na face de algum. Ainda que no saibamos o que explica essa atitude, ela no deixa de ser recor-rente nas relaes humanas. Quem algum dia j no fez essa cara ou viu esse ar de deboche no rosto de algum, desdenhando de outra pessoa, objeto ou ideia? O exagero na expresso da escultura tem a ver com o espao que ela ocupa um teatro, onde os aspectos expressivos preci-sam ganhar maior salincia.

    Soberba:Sentimento de altivez, sobranceria. Significa

    ainda um comportamento excessivamente orgulhoso;

    arrogncia, presuno de superioridade.

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    Aula 8 Gnerostextuais

    O importante para esta aula sabermos que, da mesma maneira que podemos classificar uma escultura, como a da Figura 9.1, segundo questes que envolvem o ser, o agir e o pensar, o mesmo possvel fa-zer com os textos. Gneros textuais e literrios so formas de classificar textos. Nesta aula, cuidaremos dos gneros textuais.

    Para cada gnero, h uma mirade de maneiras de explicar e de mos-trar a funo que exerce no aprendizado ou na produo literria. Nesta aula, procuraremos aplicar uma forma de diferenciar os textos sob trs aspectos: (1) o que um texto; (2) qual o seu objetivo como uma ao ou a representao de uma ao; e (3) quais as ideias que o envolvem.

    Um dos resultados desse tipo de olhar que no apenas classificaremos os textos para um aprendizado formal, mas perceberemos o quanto a forma e o contedo de um texto dizem respeito vida humana e social, justamente porque encontramos nele expresses do ser, do agir e do pensar de pessoas e grupos, em dados tempo e espao.

    Isso se explica por conta do carter expressivo da literatura, que surge das manifestaes verbais humanas. No fundo, os textos so maneiras pelas quais as pessoas podem expor suas aes, sonhos, fantasias, dese-jos, ideias etc. como se cada tipo de texto fosse uma espcie de brao daquilo que a mente humana projetou ou, por algum motivo, conseguiu realizar atravs da forma escrita. Assim, uma lista de compras, que um dos gneros textuais possveis, pode ter a sua origem um tanto quanto banal a partir da necessidade de algum que precisa comprar manti-mentos para sua sobrevivncia semanal. Ao mesmo tempo, dessa sim-ples lista de compras, vrias questes podem ser inferidas, por exemplo, a respeito da inteno daquele que escreveu a lista: quais e quantos pro-dutos quer comprar, se detalhou cada artigo, o que pretende fazer com aquelas compras etc.

    Um passo atrs e dois na frente. Para precisar melhor o contedo dos gneros textuais, a fim de que se saiba classificar e expressar os modos textuais possveis, vale a pena dar um passo atrs. Retomaremos um aspecto que voc, provavelmente, teve a oportunidade de aprender an-teriormente neste curso, em especfico na aula cujo ttulo foi O escritor tambm leitor: a importncia da leitura para produo de textos.

    Para escrever bem, tanto quanto para analisar a estrutura dos textos, pre-ciso ler bem. Por isso, o primeiro objetivo desta aula tratar da arte de ler.

    A arte de ler

    Figura 9.2: Esttua representando uma mulher lendo um livro para uma criana. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/267030.

    Figura 9.3: Oscar Wilde, escritor irlands.Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Oscar_Wilde_portrait.jpg.

    Texto: o conjunto das palavras escritas, em livro, folheto, documento etc.; refere-se redao original de qualquer obra escrita. Em algumas ocasies, significa a parte principal de livro ou outra publicao, com excluso dos ttulos, subttulos, epgrafes, gravuras, notas etc.

    Mirade:no sentido empregado no texto, a palavra no busca atingir uma quantidade determinada, mas quer dizer que essa quantidade imensa. Mirade nos leva noo de grandeza. Normalmente, corresponde a dez mil unidades de algo.

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    Aula 8 Gnerostextuais

    O escritor irlands Oscar Wilde (1854-1900), em sua obra publicada postumamente, no ano de 1905 De profundis , afirma que

    as duas caractersticas principais da vida moderna so a comple-xidade e a relatividade. Para transmitir a primeira, necessitamos de um clima cheio de sutilezas, sugestes e estranhas perspecti-vas; para transmitir a segunda, precisamos ter experincia. por isso que a escultura deixou de ser uma arte representativa, que a msica ainda uma arte representativa e a literatura , sempre foi e sempre ser a suprema arte representativa (WILDE, 1905, p. 69; grifos nossos).

    Apesar de pequeno, o trecho guarda uma ampla possibilidade de anlises, especialmente por conta da profundidade com que o autor trata do tema. Mas fiquemos apenas com a parte grifada por ns e com a Figura 9.2.

    A escultura, por conta da vida moderna, imersa em situaes com-plexas e relativas, pode ter perdido a sua capacidade representativa, como afirma Wilde, mas, ainda assim, contribui bastante para saber-mos o que significa representar algo: apresentar novamente. A escultura, de modo geral, tem a dificuldade de sempre representar alguma coisa porque no possui as mesmas capacidades complexas e relativas que a literatura tem na modernidade.

    E por que a literatura sempre ser a suprema arte representativa? Porque primordialmente atravs dela que o ser humano estabelece o encontro com as mais diversas formas de imaginao. E a literatura, por conta de sua capacidade de ser compreendida das mais diversas manei-ras como iremos observar atravs das variedades de gneros textuais e literrios , pode ser moldada e apreendida conforme situaes com-plexas e relativas.

    As fontes mais penetrantes de formas de ser e de agir aparecem nas obras literrias e so repetidas e retrabalhadas ao longo do tempo. Sem essas fontes mitolgicas, histricas, religiosas, tradicionais e de todo o complexo de saber humano, no se pode adquirir uma noo mnima de completude a respeito do ser, da inteligncia, da vida comunitria, da relao com a natureza e com a divindade.

    Pense um pouco: em toda a nossa vida estamos representando algo, pois agimos conforme a nossa base mental, a partir dos sentimentos, do intelecto, do reflexo, de costumes, de automatizaes etc. O fato

    que, consciente ou inconscientemente, agimos a partir do conjunto das ideias e das imagens que recolhemos do mundo. No se sabe at hoje se todas elas so adquiridas do meio externo e da composio biolgica de cada um, se tudo o que um recm-nascido vai aprendendo porque a famlia o ensinou, o condicionou, ou se isso se d devido s reaes bio-lgicas (por exemplo: fugimos do fogo, j que nossa pele inflamvel).

    possvel que haja saberes inatos e outros adquiridos por meios fenomnicos, como acontece com os milagres, intuies etc. O impor-tante, para ns, saber que a literatura o manancial que contribui para ampliarmos o leque de nossos interesses, daquilo que reside na nossa imaginao. Do imaginrio que cada um possui que se forma a inteligncia. Aplicar a inteligncia para algo como uma pescaria, na qual o intelecto resgata a imagem que navega na mente e serve a uma dada situao concreta ou hipottica. Contudo, a literatura capaz de ir alm da nossa capacidade mental e adentrar na prpria alma. Por isso, no h expresso artstica mais sublime que a literatura.

    A leitura e os gneros textuais e literrios

    Vamos discutir alguns conceitos, com o objetivo de retomar a cen-tralidade da leitura, direcionando-a ao processo de aprendizado dos g-neros textuais e literrios, assim como produo textual.

    Figura 9.4. Bblia. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/806516.

    Apreender:assimilar mentalmente, abarcar com profundidade; compreender, captar.

    Inato:que pertence ao ser

    desde o seu nascimento; inerente, natural,

    congnito. Refere-se quilo que inerente

    mente ou constituio do intelecto, em lugar

    de ser adquirido com a experincia.

    Manancial:mina de gua; olho-

    dgua, nascente, fonte. No sentido empregado, considerado princpio ou fonte abundante de algo.

    Sublime:que apresenta inexcedvel perfeio material, moral

    ou intelectual, algo elevado. Condiz com o superlativamente belo, esteticamente perfeito;

    grandioso, soberbo.

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    Aula 8 Gnerostextuais

    Uma civilizao s uma civilizao enquanto apresenta smbolos que so transmitidos pelas formas de expresso artstica. A Bblia uma obra-prima da literatura universal e significa a expresso real e mtica da existncia e manifestao de Deus entre os homens, segundo a narrati-va judaico-crist. Se voc ler a Bblia, ainda que no acredite em todas aquelas histrias, logo ir perceber que o conjunto de imagens que se formaram na sua cabea lhe servir em algum momento da sua vida, no s para questes religiosas ou espirituais, mas para responder sobre os mais diversos temas que dizem respeito vida humana e social.

    O clebre escritor brasileiro Machado de Assis (1839-1908), por exemplo, frequentemente lanava mo de narrativas bblicas para criar histrias e personagens, que se tornaram to universais quanto a ideia original. Mas o formato das personagens e o esquema do enredo j esta-vam previamente dados: ele ia busc-los em situaes apresentadas nas Sagradas Escrituras (como fez no romance Esa e Jac). Isso acontece porque os gneros literrios no variam muito, at hoje no passam de trs ou quatro (lrico, dramtico, narrativo e pico, que foi incorpo-rado ao narrativo, como veremos na Aula 10). Com os grandes clssicos da literatura acontece o mesmo: os mais importantes criaram gneros e outros retrabalharam ou aprofundaram algum aspecto da vida humana ou de um grupo, em um dado tempo histrico e em certa sociedade.

    O carter maior de uma obra poder apresentar situaes e persona-gens universais, que valem a todo tempo e em todas as pocas. Tal qual se depreende da leitura de versos do maior poeta da lngua portuguesa, Lus de Cames (1524-1580): transforma-se o amador na coisa ama-da,/ por virtude do muito imaginar. Essa frase tem um valor universal, independente do fato de voc estar na China ou no Peru, ou de estarmos falando de amor hoje ou no ano 300 a.C.

    O filsofo norte-americano Mortimer Adler (1902-2001) publicou, com Charles Van Doren, nos anos 1950, o livro A arte de ler. Trata--se de um manual para a leitura, uma contribuio metodologia de como estudar. Esse livro explica que a leitura uma atividade (e no uma passividade), sendo esse o principal motivo de a caracterizarmos como arte. Essa arte, por sua vez, envolve tipos de leitura, conforme as caractersticas de cada texto. Em outras palavras, a profundidade com que se l uma pea teatral no a mesma necessria para se compreen-der uma receita de bolo, visto que pretencem a gneros diferentes a pea um gnero literrio dramtico, enquanto a receita de bolo um gnero textual.

    Os nveis de leitura

    Ler bem compreender o que o texto quer dizer: se a sua leitura con-tribui para deixar o leitor informado, para servir ao entendimento quanto a determinado tema ou apenas para passatempo. A postura ativa diante do texto aquela que consegue inquiri-lo, a fim de radiograf-lo.

    O passo seguinte, aps apercebermo-nos da relevncia do ato de ler, segundo Adler e Van Doren (1974), desenvolver os nveis de leitura. Atravs deles, podem-se realizar leituras em camadas, atingindo desde os nveis mais superficiais, at aqueles em que se podem comparar as especificidades de um texto com outros, provocando dilogos intertex-tuais. Significa que uma pessoa capaz de ler as diversas camadas de uma narrativa densa como Ulysses, de James Joyce, pode perfeitamente ler um cardpio, pois, para ela, bastaria a mais bsica das leituras.

    Os nveis de leitura so quatro:

    1. elementar como o encontro da criana com a leitura, as primeiras letras, o primeiro contato, a identificao das palavras, a brincadeira do jogo da memria;

    2. inspecional atribui importncia especial ao tempo, como se fosse a digesto do texto; o folhear ou a pr-leitura de um livro. Esse nvel de leitura se d de modo sistemtico, de modo que o leitor capaz de captar as imagens mais marcantes do livro e, ao mesmo tempo, iden-tificar sua estrutura, lendo o resumo, o ndice, o assunto, sabendo quem escreveu e quando, qual o tipo de livro etc.;

    3. analtico exige maior complexidade, leitura minuciosa, formula-o de perguntas ao texto; a tomada de posse do livro pelo leitor ou, conforme a frase atribuda a Francis Bacon: certos livros devem ser lidos, outros engolidos e uns poucos mastigados e digeridos. Ou seja, nem toda leitura vale a pena. preciso saber no que vale inves-tir e lembrar-se de que, ao apostar nesse nvel de leitura, o objetivo entender o mximo do texto;

    4. sintpico ou comparativo trata-se do mais complexo e sistemtico nvel de leitura, o de maior exigncia, que combina vrios livros e promove dilogos entre eles. Este mais laborioso e ativo modo de leitura compreende as seguintes etapas:1 - encontrar as passagens relevantes;2 - conhecer os termos dos autores como se fizesse um dicionrio prprio;

    Gnero: uma forma de classificar algo a partir de coisas ou seres ligados a um conjunto de particularidades. Gneros literrios so as divises que agregam as obras literrias, segundo caractersticas comuns (lrica, dramtica, narrativa e/ou pica). Gneros textuais servem para organizar as formas textuais, segundo aspectos comuns (bilhete, carta, entrevista, piada, lista de compras etc.). Todos os gneros literrios esto expressos em uma das formas de gneros textuais. Os gneros textuais so mais abrangentes, pois servem para classificar todas as formas de manifestao textual utilizadas. Por outro lado, os gneros apenas so literrios quando envolvem temas que servem para contar um mito, uma histria, uma situao pessoal ou social.

    Leitura: uma habilidade ou disposio dirigida para a execuo de uma finalidade prtica ou terica, realizada de forma consciente, controlada e racional; conjunto de meios e procedimentos atravs dos quais possvel a obteno de finalidades prticas ou a produo de objetos; tcnica; carter ativo da leitura.

    Inquirir: fazer perguntas;

    interrogar, perguntar, indagar.

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    3 - aclarar as perguntas;

    4 - definir as partes controversas;

    5 - analisar a discusso promovida pelo texto.

    A melhor forma de aplicar essa metodologia de nveis de leitura lendo mais e o resultado desse aprendizado possui dupla serventia. Em primeiro lugar, no que se refere classificao formal dos textos: no caso dos gneros textuais, a diferenciao bastante aparente (percebe--se com facilidade a diferena entre um anncio de venda de um pro-duto e uma carta de amor), enquanto os gneros literrios exigem no s a leitura elementar, mas uma anlise um pouco mais profunda para reconhecer seus subgneros (para no confundir um conto com uma crnica, por exemplo); em segundo lugar: esse aprendizado serve para desenvolver o hbito da leitura de obras literrias pois, ao aguar a ca-pacidade de ler com profundidade, possvel extrair mais elementos de um texto.

    Esse o caminho para uma pessoa dar solidez prpria vida intelec-tual, j que tambm atravs da literatura que se adquire cultura.

    Literatura e cultura

    A base cultural de uma nao est na literatura, que capaz de tra-tar de temas universais, ao mesmo tempo em que reflete a linguagem corrente de um povo, em uma dada poca. Com a literatura, pode-se conhecer uma srie de mitos sobre a vida humana, que vo servir s relaes pessoais, tanto quanto s descobertas cientficas.

    Os avanos cientficos foram, antes, imaginados de modo metaf-rico pela literatura, mas no encontramos em um livro especializado em Fsica, por exemplo, algo que se aproxime da dimenso universal de um clssico literrio. Essa a diferena. Por isso, um fsico, qumico ou matemtico que no l literatura no um homem culto. No en-tanto, algum que conhea muito pouco das especificidades da Fsica, da Qumica ou da Matemtica, mas que leia muita literatura, ser uma pessoa culta. Tal condio lhe proporciona capacidade para participar, de modo til, adequado e pertinente, de debates sobre as ideias que de-terminam os destinos da sociedade. E a se destaca a importncia da literatura, pois determinar esses rumos algo que se sobrepe s vonta-des cientficas que, por sua vez, esto na ordem da especificidade.

    O texto literrio bem construdo fornece condies para um indiv-duo organizar suas ideias, percebendo os vrios enfoques e a perspec-tiva da histria: onde o fato surgiu e como se situa no tempo. A pessoa culta capaz de articular esse conjunto de imagens extrado da literatura com valores fundamentais sociedade.

    Atividade 1

    Atende ao Objetivo 1

    Mdico manda mulher usar cadeado para fechar a boca e per-der peso:

    A dona de casa est doente e precisa perder peso. O mdico man-dou a mulher comprar um cadeado para fechar a boca e parar de comer. Revoltada, a paciente mostra a receita mdica.

    (Fonte: http://rederecord.r7.com/video/medico-manda-mulher-usar--cadeado-para-fechar-a-boca-e-perder-peso-509b9b6692bb785a-9de19288/. R7, Acesso em: 09/11/2012)

    Essa notcia causou ampla discusso nas redes sociais da internet. Al-gumas pessoas interpretaram a situao como um exagero por parte do mdico escrever na receita mdica que a mulher deveria comprar um cadeado para fechar a boca. Outras pessoas, no entanto, consideraram razovel a situao, e que o mdico apenas teria utilizado uma lingua-gem metafrica para que a paciente compreendesse a necessidade de parar de comer e evitar a doena.

    Faa uma anlise da situao, luz do que foi estudado, sobre a impor-tncia da leitura para a classificao dos modos de expresso literrio e textual. E responda:

    a) O que uma leitura elementar da receita mdica possibilita quanto interpretao daquilo que o texto quer expressar?

    b) A linguagem utilizada pelo mdico foi adequada para a situao? Para o gnero textual em questo, a linguagem utilizada foi correta?

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    Resposta Comentada

    a) Uma leitura elementar, que avalia as caractersticas mais gerais e for-mais de um texto, permitiria ao leitor saber que se trata de um texto tc-nico, voltado a uma funo especfica, e que normalmente possui uma linguagem adequada ao tratamento mdico e/ou farmacutico.

    b) O fato de o mdico ter utilizado uma linguagem coloquial, escre-vendo que a paciente deveria colocar um cadeado na boca, descarac-teriza a linguagem tcnica voltada a uma receita mdica. Esse gnero textual no um texto literrio por conta de sua funo e forma, ou seja, no deveria contar com linguagem metafrica como a empregada pelo profissional de sade em questo.

    O mnimo que se deve saber sobre gneros textuais

    Nesta seo, voc conhecer o conceito e a estrutura dos gneros tex-tuais, cuja classificao preocupa-se com a forma do texto.

    Os gneros textuais

    Gneros textuais so as diferentes maneiras pelas quais informaes so expressas atravs de textos, abarcando todas as formas de expresso literria. No se pode confundir ou comparar gneros textuais e liter-rios, j que cada um refere-se a objetos diferentes.

    Figura 9.5: Guarda avisando sobre algo.Fonte: http://www.sxc.hu/photo/236497.

    Figura 9.6: Aviso para no pisar na grama.Fonte: http://www.sxc.hu/photo/510396.

    As Figuras 9.5 e 9.6 introduzem a ideia de gneros textuais. Ima-ginemos que o guarda da Figura 9.5 esteja dando o seguinte aviso: No pise na grama. Trata-se da mesma informao contida na Figura 9.6. Qual a diferena? Obviamente, em um caso, o aviso verbaliza-do, no outro, ele textual.

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    Uma placa de aviso um gnero textual. Para o contexto apresenta-do, na forma textual, o aviso se torna mais simples, econmico, impes-soal e direto do que verbalmente. O emprego do texto para um aviso um recurso que serve para expressar uma informao, podendo ser identificado como gnero textual pela forma do texto no caso da Fi-gura 9.6, muito fcil perceber que se trata de um aviso.

    Todas as formas escritas da lngua, conforme o formato e a estrutura do texto, inclusive gneros literrios, so expressas em gneros textuais. Por exemplo: praticamente toda narrativa (gnero literrio) est na for-ma de romance (gnero textual). Os gneros textuais variam das formas mais simples e utilitrias (como uma ata de reunio) at aquelas que contam com profundidade de descrio, discusso, contextualizao e demais objetos observados nas obras literrias.

    Sempre que se utilizar alguma forma de expresso escrita para co-municar algo, um gnero textual poder ser observado. O que define um gnero textual o seu estilo, funo, composio, contedo e canal pelo qual veiculado. Na prxima seo, identificaremos exemplos de gneros textuais.

    Os casos de gneros textuais

    Antes de listar alguns gneros textuais, importante consolidar seu conceito.

    O conceito de gnero textual

    As prticas sociais que envolvem o dia a dia de cada indivduo so diversas e sempre intermediadas pela linguagem. Assim, para cada situao social ou atividade humana distinta h uma reali-zao lingustica correspondente que geralmente caracterizada por estrutura e objetivo especficos. As caractersticas das reali-zaes so determinadas pelos usurios da lngua. Esses usurios utilizam a lngua para efetivar o processo de comunicao. (...)

    Para Swales (1990), gnero textual uma classe de eventos co-municativos, ou seja, atividades onde a participao da lingua-gem significativa e indispensvel. O autor considera o evento comunicativo como um conjunto formado pelo prprio discurso e seus participantes. O discurso e seu ambiente de produo e recepo so vistos a partir de aspectos histricos e culturais. (VICENTE, 2009, p. 16).

    A lista completa de gneros textuais demasiada exaustiva pois, na verdade, eles so os mais diversos possveis (inclusive esta aula pode ser designada como um gnero textual). Confira, a seguir, alguns exemplos:

    a) carta: mensagem, manuscrita ou impressa, a uma pessoa ou a uma organizao, para comunicar-lhe algo.

    Exemplo:

    Estimados Senhores,

    Comunicamo-lhes que no dia 03 do corrente ms ocorrer uma reunio dos departamentos financeiro e contbil com a diretoria. Na ocasio, haver premiao aos melhores vende-dores, bem como do contador mais organizado. Por este mo-tivo, as outras sees esto convidadas a prestigiar os colegas a partir das 9 horas da manh, na sala 30.

    Sds,

    A gerncia.

    b) bilhete: carta ou mensagem reduzida ao essencial, na forma e no contedo.

    Exemplo:

    Figura 9.7: Bilhete lembrando algum de tomar uma plula. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1381775.

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    Dea

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    c) anotaes: indicao escrita, feita de breves comentrios, notas, chamadas e observaes.

    Exemplo:

    Figura 9.8: Anotaes. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/494879.

    d) receita culinria: indicao sobre a maneira de preparar uma iguaria.Exemplo:

    Macarro cremoso

    Ingredientes:

    250 g de macarro

    1 colher (sopa) de azeite de oliva

    50 g de bacon picado

    1 cebola pequena picada

    4 tomates sem pele e sem sementes picados

    200 g de palmito picado

    1 xcara (ch) de creme de queijo minas frescal

    1 colher (sopa) de manjerico picado

    Modo de preparo:

    Cozinhe o macarro conforme as instrues da embalagem. Escorra e reserve.

    Em uma panela mdia, aquea o azeite e frite o bacon. Junte a cebola e deixe dourar. Acrescente os tomates e cozinhe por 5 minutos, em fogo baixo. Junte o palmito, o creme de queijo mi-nas frescal, o manjerico, misture bem e deixe levantar fervura. Misture com o macarro reservado. Sirva quente.

    Dica: Se preferir, substitua o palmito por fundos de alcachofra.

    e) dirio pessoal: escrito em que se registram os acontecimentos de cada dia.

    Exemplo:

    Figura 9.9: Dirio de Anne Frank (1929-1945), vti-ma judia do holocausto nazista.Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:The_Diary_of_a_

    Young_Girl_at_the_Anne_Frank_Zentrum.jpg.

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    f) piada: histria curta de final surpreendente, s vezes picante ou obs-cena, contada para provocar risos.

    Exemplo:

    Piada do eletricista no hospital:

    Um eletricista vai at a UTI de um hospital, olha para os pacien-tes ligados a diversos tipos de aparelhos e diz-lhes: Respirem fundo: vou trocar o fusvel.

    g) romance: texto feito em prosa, mais ou menos longo, na qual se nar-ram fatos imaginrios, s vezes inspirados em histrias reais, cujo centro de interesse pode estar no relato de aventuras, no estudo de costumes ou tipos psicolgicos, na crtica social etc. Compreende uma infinidade de exemplos.

    Figura 9.10: Vrios romances em uma livraria alem.Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:2009_stapelweise_Neuerscheinungen_im_Buchladen.JPG.

    h) poema: composio em verso.

    Exemplo:

    Porquinho-da-ndia (Manuel Bandeira 1886-1868)

    Quando eu tinha seis anos

    Ganhei um porquinho-da-ndia.

    Que dor de corao me dava

    Porque o bichinho s queria estar debaixo do fogo!

    Levava ele pra sala

    Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos

    Ele no gostava:

    Queria era estar debaixo do fogo.

    No fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

    O meu porquinho-da-ndia foi minha primeira namorada.

    i) multa de trnsito: penalidade de natureza pecuniria imposta pelos rgos de trnsito, conforme o poder de polcia das autoridades, aos proprietrios, condutores, embarcadores e transportadores que des-cumprirem as regras estabelecidas na norma de trnsito.

    Figura 9.11: Policial aplicando multa ao carro esta-cionado sobre a faixa de pedestres.Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Policia_multando_en_paso_de_cebra.jpg.

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    j) blogue ou blog: pgina pessoal, atualizada periodicamente, em que os usurios podem trocar experincias, comentrios etc., geralmente re-lacionados a uma determinada rea de interesse.

    k) entrevista: coleta de declaraes tomadas por jornalista(s) para di-vulgao atravs dos meios de comunicao.

    l) cardpio: relao das iguarias disponveis para consumo nos restau-rantes e afins, frequentemente seguida dos seus preos e, por vezes, com a descrio da sua composio.

    m) horscopo: diagrama das posies relativas dos planetas e dos sig-nos zodiacais em um momento especfico (como o do nascimento de uma pessoa), usado pelos astrlogos com a inteno de inferir o carter e os traos de personalidade e prever os acontecimentos da vida de al-gum; cronograma, mapa astral, mapa astrolgico.

    n) telegrama: impresso onde se escreve a comunicao recebida via te-lgrafo.

    o) bula de remdio: impresso que acompanha medicamento e contm informaes sobre a sua composio, indicaes, posologias e contrain-dicaes.

    p) notcia de jornal: informao a respeito de acontecimento ou mu-dana recente. Relato de algo novo em jornal.

    q) histria em quadrinhos: gnero narrativo marcado por enredos contados em pequenos quadros, atravs de dilogos diretos entre as personagens, gerando uma espcie de conversao.

    r) lista telefnica: publicao que consiste na relao de assinantes, or-ganizada por nome, atividade econmica, residncia/sede comercial etc.

    Atividade 2

    Atente ao Objetivo 2

    O texto a seguir o poema mais famoso do poeta amazonense Thiago de Mello. O texto mimetiza, ou seja, est disfarado de outro gnero textu-al, que no o poema. Aps l-lo, identifique que gnero este e descreva como voc reconheceu as diferenas entre o gnero textual expresso por Thiago de Mello e o outro que ele tomou como modelo.

    Os estatutos do homem

    (Thiago de Mello)

    Artigo I

    Fica decretado que agora vale a verdade.

    Agora vale a vida, e de mos dadas,

    Marcharemos todos pela vida verdadeira.

    Artigo II

    Fica decretado que todos os dias da semana,

    Inclusive as teras-feiras mais cinzentas,

    Tm direito a converter-se em manh de domingo.

    Artigo III

    Fica decretado que, a partir deste instante,

    Haver girassis em todas as janelas

    Que os girassis tero direito

    A abrir-se dentro da sombra;

    E que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,

    Abertas para o verde onde cresce a esperana.

    Artigo IV

    Fica decretado que o homem

    No precisar nunca mais

    Duvidar do homem.

    Que o homem confiar no homem

    Como a palmeira confia no vento,

    Como o vento confia no ar,

    Como o ar confia no campo azul do cu.

    (Fonte: http://www.revista.agulha.nom.br/tmello.html#estat)

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    Aula 8 Gnerostextuais

    Resposta Comentada

    O gnero textual que foi mimetizado o estatuto, um documento legal, com forma e contedo formais. Essas seriam algumas das possibilida-des para voc apontar as diferenas entre os gneros textuais poema e estatuto:

    A leitura elementar j prova que a linguagem utilizada no corresponde a uma linguagem jurdica, ou seja, o contedo potico no cabvel para documentos formais, como os estatutos. O carter potico carregado de subjetivismo, enquanto o gnero textual estatuto objetivo.

    Ao dar vida animada a seres inanimados, como o ar e o vento, o poeta utiliza algo que no caberia em um texto legal.

    Gneros textuais e tipos textuais

    preciso ateno para no confundir tipos com gneros textuais. Gneros textuais so as diversas formas de expresso textual en-contradas no cotidiano. Tipos textuais so mecanismos que fun-cionam como modos de organizao utilizados para escrever os textos, conforme a seguir:

    Descrio: ato ou efeito de descrever; reproduo, traado, deli-mitao; representao escrita de algo.

    Narrao: ao, processo ou efeito de narrar; narrativa; exposio escrita ou oral de um acontecimento ou de uma srie de aconte-cimentos mais ou menos sequenciados.

    Dissertao: ato ou efeito de dissertar; exposio, redao; expo-sio escrita de assunto relevante nas reas cientfica, artstica, doutrinria etc.

    Exposio: apresentao organizada de um assunto por escrito; explanao.

    Injuno: ato de injungir, de ordenar expressamente uma coisa; ordem precisa e formal.

    Sugesto de filme, Sonho tcheco.

    Figura 9.12: Repblica Tcheca, 2004, cor, 90 min. Direo: Vt Klusk e Filip Remunda.Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:%C4%8Cesk%C3%BD_sen_davy.jpg.

    Os gneros textuais so ferramentas bastante teis para moldar um discurso. A maneira como algo anunciado por um emissor repercute no modo como o receptor compreende a informao. O estudo de como a mudana da forma de um texto transforma a mensagem a parte mais interessante dos estudos sobre os g-neros textuais.

    O filme Sonho tcheco (Czech Dream, em ingls, e em tcheco, ln-gua original: esk sen) um curioso exemplo do que uma publi-cidade inteligente e incisiva pode fazer. Sonho tcheco o nome de um hipermercado falso, mas que foi anunciado como se fosse verdadeiro e, nos anncios, feitos de diversos modos, com vrios

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    Aula 8 Gnerostextuais

    gneros textuais diferentes outdoor, anncio de jornal, folha de produtos em promoo etc. e meios de divulgao audiovisuais propaganda na TV, nos rdios, jingles etc. , tudo era feito para o pblico acreditar que realmente haveria a inaugurao de um hipermercado chamado Sonho tcheco. A inaugurao tinha lo-cal, data e hora. Na ocasio, uma multido foi para o evento, mas no encontrou nada alm de um imenso outdoor com o nome e as cores do falso hipermercado (como na imagem acima), e as pessoas, desesperadas, caminhavam em busca do Sonho tcheco, que jamais existiu...

    possvel assistir ao filme completo pelo YouTube (em tcheco e com legendas em ingls). Busque por Czech Dream 2004 ou no link:

    http://www.youtube.com/watch?v=piRnqLOfqA4.

    Atividade 3

    Atende ao Objetivo 3

    Figura 9.13: Histria em quadrinhos.Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:The_Thimble_Theater_(Segar),_1920.gif.

    Observe a histria em quadrinhos. Ainda que voc no consiga traduzir o texto, que est em ingls, observe as imagens e, a partir delas, crie uma histria e escreva-a em dois outros gneros textuais, podendo transformar os quadrinhos em uma carta, piada, notcia de jornal, reportagem ou conto.

    Resposta Comentada

    No h uma resposta precisa para esta questo. Trata-se de um exerccio em que voc deve ter criatividade e transformar um texto de um gnero textual em outro, conforme demanda o enunciado. Veja, a seguir, dois exemplos desta transformao:

    Reportagem:

    Maluco provoca acidente de irmo e cunhada.

    Jovem que estava pescando em um buraco na neve d susto em casal de patinadores. Ao relatar que tentava pescar uma baleia, Castor Oyl deu um susto no irmo, acompanhado da namorada, e provocou a queda inusitada do casal. Eles no suportaram a ideia exagerada do irmo e caram estupefatos. Contudo, no foram constatadas leses graves, ape-nas escoriaes nas costas.

    Piada:

    Olhe l, amor, o meu irmo pescando. Algumas pessoas dizem que ele no tem nada na cachola.

    Vamos conversar com ele e ver se voc acha que ele maluco.

    Eu estou pescando tubares disse o pescador.

    No h tubares aqui neste pequeno lago. Respondeu o irmo, com a namorada.

    Ok. Ento eu vou pescar baleias.

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    Aula 8 Gnerostextuais

    CONCLUSO

    Vimos, ao longo desta aula, que a diversidade de meios de expresses textuais pode ser estudada atravs dos gneros textuais, o que equivale reflexo quanto s formas de poder que investimos a partir da escrita. Ou seja, ela pode significar mais que um meio de comunicao, uma forma de persuaso, de conquista, de ordenao. Expressar-se de uma dada maneira e fazer-se compreender um desafio que percorre as mais variadas atividades sociais e que figura dentro da dinmica da conscien-tizao do indivduo e do coletivo.

    A cada um cabe, tanto no seu mbito privado, como nas aes coletivas, reconhecer e desenvolver formas de se expressar textualmente e, assim, fazer com que os seus leitores saibam do que est tratando; isso porque uma informao, ordem, relato, discusso, ou qualquer outro intento de passar algo atravs de texto, pode ser admitido ou rejeitado, como algum que aceita ou nega um alimento.

    A leitura como um alimento contnuo: a pessoa pode ter lcera ao no comer regularmente, assim como pode adquirir uma lcera cerebral devido carncia de leitura, de ideias, do reconhecimento de diferen-tes e elevadas formas de expresso textual. Ainda que no seja a nica forma de alimentar a inteligncia, a leitura a nica que se perpetua culturalmente, no se limitando a um perodo histrico, a uma ou outra sociedade, valendo para todas e perdurando ao longo do tempo.

    Uma sociedade pautada em bons nveis literrios, em que mesmo fora do ambiente escolar as pessoas estejam habituadas a compreender tex-tos mais complexos, adquire um salto qualitativo nas suas relaes, con-segue manter-se isenta de expresses mais baixas e procura formas mais profundas de conhecimento.

    A filsofa Hannah Arendt (1906-1975) pensava que a fonte do poder estava em criar uma convico sobre o outro, fazer com que o outro executasse aquilo que o emissor do texto ou de outro modo de expres-so estivesse querendo. Diante dos diversos meios de expresso textual, podemos avaliar que o limite desse poder ou sua aceitao condiz com o nvel de entendimento de algum sobre a maneira pela qual nos ex-pressamos. Do mesmo modo que precisamos condicionar nossas aes a partir do lugar que ocupamos, fundamental que possamos ampliar numericamente e qualitativamente o contedo dos gneros textuais dis-ponveis, e necessrio que, culturalmente, a sociedade esteja pronta a aceitar os modos de exerccio textual.

    Para terminar, ilustremos um caso. Os dez mandamentos da religiosida-de judaico-crist, dados por Deus atravs de Moiss, so compostos de dez frases simples e diretas que organizaram e formaram todo o mun-do ocidental, conforme o conhecemos hoje. Nada seria desenvolvido sem as garantias de que, minimamente, aqueles mandamentos fossem respeitados, direcionamentos que se tornaram regras morais, sociais e individuais. Apesar de a linguagem no ser complexa, ela contm pre-ceitos difceis de serem acatados se um grupo no estiver bem orienta-do, coeso e organizado.

    Pois bem, a recepo e a manuteno daquelas ordens divinas, inicial-mente para a comunidade judaica, s foi possvel porque havia uma preparao moral e religiosa desenvolvida pela liderana do prprio Moiss, alm, claro, da manuteno das tradies de um povo, atravs da qual a mensagem foi passada. Ou seja, havia uma coerncia entre o desenvolvimento religioso dos judeus e aquela nova mensagem. Isso quer dizer que a linguagem e o contedo empregados poderiam muito bem ser rechaados socialmente, se acaso no estivessem de acordo com a tradio da comunidade ou se as pessoas no estivessem preparadas para receb-lo. como se hoje um chefe de Estado dissesse que lei roubar o vizinho. A sociedade se tornaria catica.

    As pessoas passaram a respeitar os dez mandamentos e tiveram aquilo como espelho para a vida, justamente porque compreenderam a men-sagem. Os valores tradicionais eram mantidos naquela comunidade e a liderana poltico-religiosa de Moiss era honesta, verdadeiramente superior e orientadora do povo. Havia uma segurana no lder e nas tradies que gerava toda uma corrente de fidelidades.

    Pensando em linguagem, o grande problema se d quando uma mensa-gem j no consegue ser compreendida socialmente, por uma ausncia de comum acordo religioso e/ou cultural atravs da manuteno das tradies, o que acaba levando a nveis baixos de compreenso, que se torna pobre a ponto de muitas mensagens que estejam fora de um cir-cuito cclico j no poderem preencher a vida social. o que acontece quando a sociedade est marcada fortemente por anncios comerciais e a vida coletiva est pautada em relaes de consumo. O que diz respeito cidadania, ao altrusmo, vida em comunidade e outros atributos fora desse circuito de relaes mercantis tem dificuldade de adentrar e per-manecer na mentalidade coletiva. Por isso, a luta contnua e, para essa guerra em prol da inteligncia, preciso formar soldados e batalhes.

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    Aula 8 Gnerostextuais

    Resumo

    1. Da mesma maneira que podemos classificar uma escultura, segundo questes que envolvem o ser, o agir e o pensar, o mesmo possvel fa-zer com os textos. Gneros literrios e textuais so formas de classificar textos.

    2. No fundo, os textos so maneiras pelas quais as pessoas desencadeiam suas aes, sonhos, fantasias, desejos, ideias etc. como se cada tipo de texto fosse uma espcie de brao daquilo que a mente humana projetou ou, por algum motivo, conseguiu realizar atravs da forma escrita.

    3. Para se escrever bem, tanto quanto analisar qual a estrutura dos tex-tos, preciso ler bem, e o primeiro objetivo desta aula foi tratar da arte de ler.

    4. A literatura sempre ser a suprema arte representativa. Por conta de sua capacidade de ser compreendida das mais diversas maneiras como podemos observar atravs das variedades de gneros textuais e literrios , a literatura pode ser moldada e apreendida conforme situaes com-plexas e relativas.

    5. O filsofo norte-americano Mortimer Adler (1902-2001) publicou, com Charles Van Doren, nos anos 1950, o livro A arte de ler, que expli-ca que a leitura uma atividade (e no uma passividade), sendo esse o principal motivo de a caracterizarmos como arte. Nessa obra, os autores tratam de quatro nveis de leitura: 1) elementar; 2) inspecional; 3) analtico; 4) sintpico ou comparativo.

    6. Gneros textuais so as diferentes maneiras pelas quais so expressas informaes atravs de textos. Os gneros textuais abarcam todas as for-mas de expresso literria.

    7. Exemplos de gneros textuais: carta, bilhete, anotao, receita culin-ria, dirio pessoal, carto postal, gibi, piada, romance, poema, multa de trnsito, nota promissria, cheque, blogue, entrevista, horscopo, tele-grama, piada etc.

    Informaes sobre a prxima aula

    Na prxima aula, estudaremos os gneros literrios, mantendo a mes-ma metodologia usada para explicar os gneros textuais. Ser um pro-longamento desta aula, justamente porque gneros textuais e literrios so temas afins: no se pode falar de literatura sem falar de texto, assim como no se pode falar de textos sem conceituar literatura.