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Aula Vinicius de Farias dos Santos A Linguagem diz algo?

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Page 1: Aula Vinicius de Farias dos Santos A Linguagem diz algo?

Aula

Vinicius de Farias dos Santos

A Linguagem diz algo?

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A Linguagem diz algo?

Vinicius SantosMestrando em Filosofia da Linguagem

PPGFIL/UFRRJFilosofia da Linguagem – IH 987

O Ceticismo Semântico

Page 3: Aula Vinicius de Farias dos Santos A Linguagem diz algo?

Objetivos:1)Identificar a dúvida do ceticismo semântico;2)Formular o “paradoxo cético” de Kripke;3)Distinguir o ceticismo semântico e o ceticismo epistemológico.4)Formalizar a estrutura do argumento cético;5)Definir as noções de ‘factualismo’ e ‘anti-factualismo’ semântico;

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Wittgenstein“Nosso paradoxo era: uma regra não

poderia determinar um modo de agir, pois cada modo de agir deveria estar

em conformidade com a regra. A resposta era: se cada modo de agir deve estar em conformidade com a regra, pode também contradizê-la.

Disto resultaria não haver aqui nem conformidade nem contradições.”

(Investigações Filosóficas, § 201)

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Bibliografia

KRIPKE, Saul. Wittgenstein on Rules and Private Language. USA: Cambridge University Press, 1982.

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Bibliografia Secundária

MILLER, A. Filosofia da Linguagem. Trad. de Evandro Lins Gomes e Christian Dit Maillard. São Paulo: Paulus, 2010.

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Uma apresentação do “Paradoxo”

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Prolegômenos Sob quais condições dizemos que alguém

captou a regra da adição?Como sabemos, por exemplo, que ‘2+2=4’

é um uso correto e ‘2+2=6’ não é?

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ProlegômenosQual o significado de ‘+’?

Quanto é ‘68+57’?R: 125

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Dois sentidos da correçãoSentido Aritmético• A função adição aplicada aos números

68 e 57 realmente totaliza 125.

Sentido Metalinguístico• Conforme sempre empregamos o signo

‘+’, ele realmente denota a função adição.

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Os ‘passos’ céticos1. A hipótese cética extravagante;2. O desafio cético-semântico;3. Os três modos de objeção céticos;4. O ‘paradoxo’ cético;5. A conclusão cética.

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A hipótese cética extravaganteDado o seu uso prévio de “adição”, atribuindo agora o mesmo significado passado, você deveria responder 5 à soma de 68+57, não 125. Mas como justificar a correção de sua resposta frente a um caso de soma particular?

O cético formula primeiramente a hipótese extravagante de que, tal qual havia sistematicamente empregado os termos ‘adição’ e ‘+’ no passado, você sempre significou a função quadição, e para manter-se semanticamente de acordo com seu uso prévio, deveria responder 5 como denotação da expressão ‘68+57’.

Page 13: Aula Vinicius de Farias dos Santos A Linguagem diz algo?

O desafio cético-semânticoO que justifica que o termo, tal como você o usa no presente e o usou no passado, denote a função adição e não a função quadição?

O ‘desafio cético-semântico’ consiste em propor que cite algum fato acerca de si mesmo que constitui o fato de você significar adição por meio de ‘adição’ e ‘+’.

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Os três modos de objeção céticosModo 1 – O Cálculo: Não é possível apelar às instruções para que 125 fosse o resultado da adição para um caso particular. Por hipótese, você não poderia fazer isto já que nunca havia aplicado tal função a este caso e especificado a resposta correta à questão.

Modo 2 – Aplicações prévias da adição: conforme a definição da quadição, para números inteiros positivos inferiores a 57 a quadição gera o mesmo valor que a adição.

Page 15: Aula Vinicius de Farias dos Santos A Linguagem diz algo?

Os três modos de objeção céticosModo 2 – Aplicações prévias da adição:

xy = x+y, se x,y 57

= 5 caso contrário

Tradução: a quadição de quaisquer dois números inteiros positivos x e y é igual à adição de x e y se, e somente se, x e y forem menores que 57; caso contrário, a quadição de x e y será igual a 5.

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Os três modos de objeção céticosModo 3 – A Regra ou Algoritmo: Se você tenciona propor tal tipo de regra básica ou primitiva não há modo de justificar ao cético a maneira em que esta regra deve se aplicar, já que ele a interpreta como dando lugar a um número indefinido de outros resultados. Sempre que formular uma definição da regra empregada, o cético pode reinterpreta-la de modo a produzir inúmeros resultados.

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O ‘paradoxo’ céticoSe não é possível justificar o fato de que no passado você atribuiu o significado de adição ou quadição aos signos ‘adição’ e ‘+’, então não é possível ter certeza quanto ao seu uso prévio das ditas expressões.Ora, se você não pôde justificar a atribuição do significado adição ontem (tendo em vista que o recurso quer ao cálculo, à função matemática ou à regra ou algoritmo estão postos em suspensão pelas objeções céticas), não pode hoje (pois não pode recorrer ao seu uso ontem) e tampouco poderá amanhã já que a mesma dúvida cética pode se colocar em relação à sua atribuição anterior.

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O ‘paradoxo’ céticoO cético semântico astutamente questiona nossa atribuição passada e não põe em causa nossa presente atribuição de significado linguístico. Entretanto, se o seu argumento segundo o qual nossa linguagem é destituída de significatividade vale, logo a dúvida concernente à justificativa da atribuição prévia de significado novamente se colocará de tal modo que nosso próprio uso presente será vazio de significado. Em decorrência disso, dizemos que o argumento consiste num paradoxo cético: sua conclusão refuta o pressuposto inicial do mesmo, a saber, o de que nossa linguagem presente possui significado.

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A conclusão céticaNossa linguagem é inteiramente destituída de significado, tendo em vista que não é possível justificar nossa atribuição de significado às palavras que empregamos na comunicação.

Mas, será a conclusão cética aceitável?

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Ceticismo Epistemológico e Ceticismo Semântico

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A hipótese cética epistemológicaAnálogo ao ceticismo semântico, o ceticismo epistemológico formula argumentos com o objetivo de pôr em suspensão a justificação numa determinada crença ou num corpo de crenças, assumindo como premissa fundamental uma hipótese cética.

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Argumento Cético EpistemológicoSe você não sabe que não-H, então você não sabe que P. Você não sabe que não-H.Então:(C) Você não sabe que P.

Qual a forma deste argumento?Dicionário: P= proposição

H= hipótese cética

Page 23: Aula Vinicius de Farias dos Santos A Linguagem diz algo?

Ceticismo EpistemológicoO cético epistemológico põe em causa a possibilidade de oferecermos uma adequada explicação da justificativa que temos para as crenças sobre os fatos do mundo, a despeito de reconhecer a existência deles. Sua conclusão é a de que não há critérios objetivos de determinação da certeza de nossas crenças e, portanto, o conhecimento é impossível.

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Estrutura do Argumento Cético Semântico

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Argumento Cético SemânticoAntes mesmo de duvidar do conhecimento do mundo (ceticismo epistemológico), o cético semântico duvida da possibilidade de haver significatividade na própria linguagem que empregamos para formular nossa dúvida.

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(1) Se no passado houve um fato sobre o que você significa por ‘+’, em particular, se houve um fato que você tenha atribuído o significado adição por ‘+’ e ‘adição’, então:

(I) ou o fato de sua atribuição prévia do significado adição a ‘+’ e ‘adição’ era um fato primitivo, i.e., não determinado por fatos não intencionais. [teorias ideacionais do significado](II) ou este fato era determinado por fatos não intencionais de tais e tais tipos – fatos sobre meus cálculos usando ‘+’, sobre a regras ou algoritmos que você tenha seguido ao fazer cálculos envolvendo ‘+’, suas disposições prévias a responder às questões ‘n + m = ?’, a totalidade de suas disposições prévias referentes ao comportamento verbal (ou comportamento linguístico) envolvendo ‘+’, etc. [análise disposicional do significado]

(2) O que você significa por ‘+’ não era um fato primitivo. (3) Os fatos não intencionais do tipo (I) não determinam por si mesmos que eu tenha atribuído o significado adição (ou qualquer outro significado) a ‘+’ e ‘adição’.

Então:(C1) no passado não havia um fato em virtude do qual você, ou quem quer que seja, tenha significado adição por ‘+’ e ‘adição’.(C2) por generalização do argumento, nunca houve um fato constitutivo de que você, ou quem quer que seja, tenha atribuído qualquer significado por qualquer expressão linguística no passado; dito para o presente.

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Factualismo e Anti-factualismo Semântico

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Prolegômenos Naide é feliz.

Ícaro voador canta cisterna.Cvs vsvreed sjaja.

Qual a diferença entre as três sequências? O que as torna significativas ou não-significativas?

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Pressupostos do Factualismo Semântico

A linguagem parece funcionar de modo essencialmente referencial, isto é, descrevendo estados de coisas no mundo. Exemplos:‘+’ signica adição.‘livro’ significa livro.‘o livro é azul’ significa o livro é azul.

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Pressupostos do Factualismo Semântico

Uma sequência S de palavras é dotada de significado se, e somente se, houver uma proposição p com a qual S mantém uma certa relação de expressão. Isto é, uma frase é significativa se exprime uma proposição.

Compreender uma sequência S de palavras é apreender uma proposição p e saber que S exprime p.

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Sinonímia e Ambiguidade no Factualismo Semântico

‘A neve é branca = Snow is White’ pois ambas exprimem a mesma proposição a neve é branca.

‘A manga é amarela’ é ambígua pois mantém a relação de expressão com duas proposições, p1 e p2.

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Significado no Factualismo SemânticoO ‘significado’ é definido como aquilo que se correlaciona com as expressões possibilitando à comunidade linguística uma série infinita de aplicações corretas e uma série infinita de aplicações incorretas.

O que assegura esta característica do significado é a existência de fatos semânticos.

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Significado e Condições de Verdade no Factualismo Semântico

Fornecer uma explicação do significado é dar conta de uma entidade (um fato semântico), que em muitos casos é redutível a outros fatos ou constitui um fato irredutível.

Por que razão a sentença ‘Vinicius é um livro’ é Falsa enquanto ‘Dom Casmurro é um livro’ é Verdadeira?

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Vinicius

Extensão do predicado ‘ser um

livro’.

‘Vinicius é um livro’

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‘Dom Casmurro é um livro’Dom Casmurro

Extensão do predicado ‘ser um

livro’.

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Tese do Anti-factualismo SemânticoNão há fatos semânticos. A tarefa de uma teoria semântica é caracterizar as condições de assertibilidade e uso das expressões por parte de seus falantes.

Sendo a negação do factualismo, o anti-factualismo consequentemente nega que as sentenças de atribuição de significado possuam condições de verdade, sendo desprovidas, portanto, de valor de verdade e impossibilitadas de expressar fatos.

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Questão Final

E quanto ao paradoxo cético semântico? Factualista ou Anti-factualista?

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