aula 6 - mapas e geologia do rs - escola politécnica · 2014-09-13 · disciplina de geologia...

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DISCIPLINA DE GEOLOGIA APLICADA AULA 7 MAPAS E GEOLOGIA DO RS ENG. EDUARDO AZAMBUJA/ENG. CLEBER FLORIANO 1. Mapas A Cartografia apresenta-se como um conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas ou análise de documentação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como a sua utilização (definição dada em 1966 pela Associação Cartográfica Internaciona - ACI). Nesta disciplina não temos o intuito de criar cartas e mapas, mas devemos sim ter a sabedoria de interpretá-los, avaliá-los e utilizá-los para os diversos fins. Não há qualquer projeto geológico ou geotécnico que não mereça a simples consulta de mapas. Essencialmente para ser um mapa este deve nos fornecer, em projeção, a possibilidade de identificar através deste as posições reais do que esta sendo representado. Portanto, primeiramente um mapa de apresentar um referencial. Quando este referencial é através de um objeto físico materializado, podemos denominá-lo de mapa, mas conceitualmente seria chamados de croquis. Como exemplo, podemos citar o mapa ou croqui de localização dos prédios da Universidade. Neste caso, apenas numeração de ruas, dos prédios as formas geométricas representadas, são suficientes para a localização física. Quando qualquer mapa apresenta uma orientação magnética (direção do Norte magnético) ou mesmo a direção do norte verdadeiro, já apresenta a conceituação mínima para ser de fato um mapa. Pois com isso, não depende somente de referenciais físicos, mais inclui um atributo de direção. Quando a projeção apresenta um sistema de coordenadas conhecidas, como por exemplo, coordenadas geográficas ou UTM, torna-se completo o sistema referencial do mapa. O mapa se tornará completo, quando neste está identificado a escala o tipo de projeção, uma vez que o nosso planeta pode ser aproximado como um elipsóide (na verdade é um geóide) e que ocorrem distorções dependendo do tipo de projeção adotada. You created this PDF from an application that is not licensed to print to novaPDF printer (http://www.novapdf.com)

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DISCIPLINA DE GEOLOGIA APLICADA

AULA 7 –MAPAS E GEOLOGIA DO RS ENG. EDUARDO AZAMBUJA/ENG. CLEBER FLORIANO

1. Mapas

A Cartografia apresenta-se como um conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas ou análise de documentação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como a sua utilização (definição dada em 1966 pela Associação Cartográfica Internaciona - ACI).

Nesta disciplina não temos o intuito de criar cartas e mapas, mas devemos sim ter a sabedoria de interpretá-los, avaliá-los e utilizá-los para os diversos fins. Não há qualquer projeto geológico ou geotécnico que não mereça a simples consulta de mapas.

Essencialmente para ser um mapa este deve nos fornecer, em projeção, a possibilidade de identificar através deste as posições reais do que esta sendo representado. Portanto, primeiramente um mapa de apresentar um referencial.

Quando este referencial é através de um objeto físico materializado, podemos denominá-lo de mapa, mas conceitualmente seria chamados de croquis. Como exemplo, podemos citar o mapa ou croqui de localização dos prédios da Universidade. Neste caso, apenas numeração de ruas, dos prédios as formas geométricas representadas, são suficientes para a localização física.

Quando qualquer mapa apresenta uma orientação magnética (direção do Norte magnético) ou mesmo a direção do norte verdadeiro, já apresenta a conceituação mínima para ser de fato um mapa. Pois com isso, não depende somente de referenciais físicos, mais inclui um atributo de direção.

Quando a projeção apresenta um sistema de coordenadas conhecidas, como por exemplo, coordenadas geográficas ou UTM, torna-se completo o sistema referencial do mapa.

O mapa se tornará completo, quando neste está identificado a escala o tipo de projeção, uma vez que o nosso planeta pode ser aproximado como um elipsóide (na verdade é um geóide) e que ocorrem distorções dependendo do tipo de projeção adotada.

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Figura 1 - Exemplos de mapas. O mapa da esquerda é aquilo que teríamos de maior simplicidade em termos de mapa. No mapa da direita a representação de um mapa com nível de detalhamento e com todas a informações necessários de posicionamento: norte magnético, escala, referências coordenadas, legenda e localização.

Se por base de resultados de observações são obtidos os mapas, estes podem ser sim uma fonte de consulta e confirmação daquilo que foi observado em campo pelo profissional.

O produto cartográfico é de grande importância, pois é o primeiro material a ser usado antes que outras ferramentas possam ser postas em prática. Serve de base para:

Localização e Orientação espacial Obtenção de informações Georreferenciadas Modelagem digital de Terreno e Ortoretificação Mapeamento Temático Projetos Aplicados e Integrados por Sistema de informações Geográficas

(SIGs).

Inúmeros tipos de mapas o profissional pode consultar. Por exemplo, o engenheiro que fará um projeto de contenção em um determinado local, deve consultar diversos mapas antes de dar início aos seus trabalhos de desenho e proposição das soluções definitivas. Portanto, o projetista deverá identificar a geologia local, os tipos de solo e realizar e tomar algumas hipóteses referente a possíveis interferências que o ambiente desafia.

Na figura 2 pode-se observar exemplos de alguns mapas.

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Figura 2 - Da esquerda para a direita: mapa político do Brasil (divisão dos estados). Mapa de relevo do Rio Grande do Sul em escala de cores. E mapa de hidrologia do Rio Grande do Sul com suas principais bacias hidrográficas.

Sendo assim, os mapas e cartas existentes são as melhores fontes de consultas iniciais que temos em mãos. Associado a tais informações, sempre devem existir a visita de campo, e na maioria dos casos a comprovação final através de ensaios de campo e/ou laboratório.

A diversidade de mapas é muito grande. Podemos ter do mais simples ao mais complexo mapeamento. Isto é atribuído ao número de informações a que deve ser pretendido. Evidentemente que associado a necessidade de informações está a escala, que nos proporciona o nível de detalhamento necessário a representação gráfica.

A ordenação tipológica dos mapas seria basicamente a seguinte:

Atlas: os mais conhecidos são os mapas mundi que apresentam escalas menores que 1:5.000.000

Cartas geográficas: apresentam escala variando de 1:100.000 à 1:5.000.000 Cartas Corográficas: representam regiões menores como estados e

municípios. Variam a escala entre 1:25.000 e 1:100.000. Plantas cadastrais: apresentam nível de detalhe necessário a materialização de

um projeto. Apresentam escalas variando de 1:200 à 1:10.000 ou maiores ainda.

É importante frisar que o termo escala grande, numericamente são representados por valores pequenos, uma vez que a escala é a razão entre o numerador (unidade no papel) e o denominador (unidade no espaço em verdadeira grandeza). Sendo assim, a escala 1:10.000.000 é bem menor que a escala 1:250.000. Portanto, espera-se que o nível de detalhamento de escalas maiores, também deva ser maior.

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Figura 3 – Esquematização do conceito de tamanho das representações gráficas em projeção.

Nota-se ainda que as cartas são dividas em folhas e estas ainda são subdivididas em quadrículas (articulação). Assim está representado todo o mapeamento geológico do Brasil. Sendo que quem centraliza e organiza tais informações é o CPRM - Serviço Geológico do Brasil. São nestas quadrículas é que encontramos o maior nível informações desta organização cadastral.

Figura 4 – Divisões e subdivisões para níveis de detalhamento melhorado dos mapas

geológicos do Brasil disponibilizados pelo CPRM.

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Figura 5 – Exemplo de quadrícula (articulação) de uma carta geológica do Brasil. Neste caso

a carta de Curitiba.

Os sites principais de consulta pública a mapas são: http://www.cprm.gov.br/ e http://www.ibge.gov.br/.

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1. Geologia do Rio Grande do Sul

A Geologia guarda relação direta com o relevo. Por essa razão, é esperado que em um determinado ambiente de relevo uniforme, as rochas tenham afloramentos uniformes também.

No Rio Grande do Sul, existem quatro ambientes típicos: os altiplanos no norte do Estado; as coxilhas mais íngremes do sul; a região de coxilhas suaves na região central e a região plana e costeira.

Esses ambientes geomorfológicos costumam apresentar ocorrências semelhantes de rochas, delineando o que se define por “região” ou “província” geológica.

No Estado do RS são quatro províncias:

Planalto de derrames; Escudo riograndense; Depressão periférica; Planície costeira.

É importante destacar que nessas províncias há uma predominância de determinados tipos de rochas, o que não significa que existam exclusivamente esses afloramentos. Há sempre ocorrências assistemáticas de outras rochas, como será discutido a seguir.

2. Províncias geológicas

As quatro províncias geológicas do Rio Grande do Sul podem ser especializadas na Figura 1. A seção geológica que aparece na Figura 1 desenvolve-se do noroeste para o sudeste do Estado, cortando todas as regiões geológicas, e está representada esquematicamente na Figura 2.

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Figura 1 – Mapa de regiões geológicas do Rio Grande do Sul e indicação da seção geológica

simplificada.

Figura 2 – Seção geológica simplificada com orientação NO-SE: a escala vertical está

simplificada.

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2.1. Escudo Riograndense

No Escudo Riograndense estão as rochas mais antigas do Estado, com predomínio de rochas magmáticas intrusivas abissais e metamórficas de alto grau de metamorfismo que correspondem ao período Pré-Cambriano (mais do que 550 milhões de anos).

Como a maioria dessas manifestações ígneas são de magma ácido, predominam rochas dos grupos dos granitos e granodioritos (félsicas), sendo mais rara a presença de dioritos e outras rochas ígneas intrusivas que se formaram por mistura magmática.

Também é pertinente lembrar que o Escudo já foi muito mais alto e irregular do que é hoje. Na sua origem, movimentos orogênicos geraram cadeias montanhosas que já foram removidas por intemperismo e erosão. Entretanto, as rochas geradas por metamorfismo regional ainda estão muito presentes em meio aos batólitos. Existem muitos afloramentos de migmatitos, gnaisses (que são predominantes), xistos e quartzitos, quase sempre muito dobrados. No entorno dos batólitos existem também auréolas de metamorfismo de contato, locais onde são encontrados, entre outras rochas metamórficas, os mármores.

Por serem formações geológicas muito antigas, a região é entrecortada por falhas. Algumas falhas formaram fossas tectônicas onde existem rochas sedimentares preenchendo-as. Nesses depósitos são encontrados conglomerados e arenitos conhecidos como “Formação Santa Tecla”. Outras falhas são preenchidas por diques de riolitos ou de diabásios.

A seção a seguir mostra como a geologia do Escudo é complexa, alternado os tipos de rochas ígneas plutônicas e metamórficas em função das falhas tectônicas.

Figura 3 – Seção detalhada da geologia no escudo rio-grandense entre São Gabriel (à

esquerda) e Bagé (à direita): as rochas ígneas e metamórficas estão entrecortadas por falhas, algumas conformando fossas preenchidas por rochas sedimentares antigas.

(a) (b) Figura 4 – Imagens de afloramentos rochosos na região do escudo: (a) pedreira de granito em Capão do Leão; (b) arenitos e conglomerados em fossas tectônicas ao sul de Lavras do

Sul.

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(a) (b)

(c) (d) Figura 5 – Imagens de afloramentos rochosos na região do escudo: (a) dique de diabásio em meio a um gnaisse; (b) batólito de rochas ígneas félsicas em Caçapava do Sul; (c) extração

de blocos de mármore; (d) afloramento de xisto em Arroio do Padre.

2.2. Depressão Periférica

A Depressão periférica contorna o escudo e é essencialmente formada por rochas sedimentares que ocuparam uma grande bacia conhecida como “Bacia do Paraná”.

A história geológica dessa bacia começa há cerca de 400 milhões de anos (período Devoniano que é anterior à formação do Pangeia) com o contínuo depósito de sedimentos que foram removidos do escudo por intemperismo e erosão. Devido aos movimentos de soerguimento e depressão continental, depósitos com diferentes condições foram se formando e que podem ser agrupados por idades e características estruturais conforme aparece na tabela 1, onde as camadas de rochas estão em ordem de idade (a mais nova no topo e a mais antiga na base).

Tabela 1 – Rochas sedimentares da depressão periférica. Formação Idade (em Ma) Ambiente de deposição Tipos de rochas

Botucatu 135 a 200 (Cretáceo a Jurássico) Eólico de deserto Arcoses eólicas

Rosário do Sul 200 a 250 (Jurássico) Fluvial e lacustre Arenitos finos, arcoses e lamitos

Rio do Rasto 250 a 260 (Triássico) Deltaico e litorâneo Arenitos finos e lamitos Estrada Nova 260 a 270 (Triássico) Deltaico e litorâneo Arenitos finos e lamitos

Irati 270 a 280 (Triássico) Mar raso de enseada Arenitos finos, lamitos e calcários

Palermo 280 a 290 (Permiano) Lacustre e marinho Lamitos e calcários

Rio Bonito 290 a 300 (Permiano) Fluvial, lacustre e marinho

Arenitos, folhelhos, carvão e conglomerados

Rio do Sul (Itararé) 300 a 350 (Permiano a Carbonífero) Lacustre glacial Conglomerados, carvão e

folhelhos

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As camadas mais recentes (mais superficiais) são de arenitos eólicos da Formação Botucatu que, quando apresentam cimentação silicosa, mostram-se muito resistentes. Abaixo dessas rochas eólicas aparecem sequência de lamitos e arenitos de origem deltaica e de mar raso e, mais abaixo, argilitos, calcários e folhelhos carbonosos. Os conglomerados só aparecem nas formações mais antigas e em ambientes localizados.

Cabe destacar que as rochas sedimentares, que originalmente haviam sido formadas em camadas horizontalizadas, foram curvadas pela ação combinada do peso dos derrames sobre elas e da subida do escudo à medida que a erosão foi desgastando as montanhas. Essa curvatura fez com que, atualmente, as rochas mais antigas aflorem nas proximidades do Escudo enquanto que as mais recentes aflorem nas proximidades dos derrames. Então, a cronologia estratigráfica dessas rochas pode ser identificada na superfície para quem transita do escudo em direção ao pé do planalto.

Essa organização das rochas sedimentares da depressão periférica se repete no extremo sul do estado, entre os municípios de Candiota e Livramento, pois essa bacia avança pelo território uruguaio.

Especialmente nas proximidades com os derrames, existem muitas manifestações de diques de diabásio, soleiras e, mais raramente, lacólitos. Essas rochas são contemporâneas dos derrames, pois se constituem nos caminhos de lava que se cristalizaram com o cessar das erupções.

Também é importante ilustrar que as rochas mais antigas que aparecem aflorantes na Depressão Periférica são ainda do período Permiano. As rochas mais antigas que são do período Devoniano só ocorrem em profundidade e fora do Rio Grande do Sul.

Figura 6 – Seção geológica detalhada da Depressão periférica entre Santa Maria (à esquerda)

e São Gabriel (à direita): as rochas sedimentares possuem as camadas mergulhando em direção ao norte devido ao efeito de basculamento que o peso dos derrames provocou.

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(a) (b)

(c) (d)

(e) (f) Figura 7: Afloramentos da Depressão Periférica: (a) arcose(Botucatu) em Novo Hamburgo; (b) arenito fino (Rosário do Sul) em Portão; (c) calcário e marga (Palermo) em São Gabriel;

(d) lamito(Rio Bonito) em Butiá; (e,f) folhelhos e carvão( Rio Bonito) em Candiota.

(a) (b)

(c) (d) Figura 8: Afloramentos de rochas intrusivas hipoabissais na Depressão Periférica: (a) Soleira

em Triunfo; (b) Soleira em Santo Antônio da Patrulha; (c) Chaminé vulcânica em Livramento; (d) Dique de diabásio cortando arenitoa finos da Formação Rosário do Sul.

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2.3. Planalto de Derrames

O Planalto é uma região em que uma sucessão de derrames recobriram as rochas sedimentares da Bacia do Paraná. Esses eventos extrusivos iniciaram há aproximadamente 140 milhões de anos e encerraram há cerca de 120 milhões de anos, compreendendo mais de vinte camadas.

Na extensão do Planalto, apenas no nordeste do Estado é encontrado esse número elevado de camadas. À medida que se avança para oeste no Estado, o número de derrames diminui, sendo que na fronteira oeste podem ser identificados até três ocorrências.

Os primeiros derrames foram constituídos por magma basáltico e fluido. Essa fluidez fez com que esses primeiros derrames fossem de pequena espessura, com intenso faturamento, textura afanítica, por vezes com níveis vítreos. Também essas lavas distribuíram-se por um terreno irregular e isso resultou em espessuras igualmente variáveis, com muitas estruturas de fluxo (quando o derrame verte em plano muito inclinado). Enfim, além de se constituir em rocha de menor resistência, a estrutura é desorganizada, muitas vezes não se identificando o padrão colunar no meio do derrame, como seria esperado.

Esses derrames iniciais ocorreram sobre as areias de dunas que, posteriormente, dariam origem aos arenitos arcoseanos da Formação Botucatu. Contudo, devido à mobilidade peculiar das dunas, muitas areias que não haviam sido cobertas por lavas migraram, conquistando espaço sobre os derrames já vertidos. Com a ocorrência de novos derrames, essas dunas móveis acabaram presas entre as rochas basálticas, dando origem a outro tipo de arenito, conhecido como arenito intertrápico.Os arenitos itertrápicos são muito semelhantes aos arenitos da FormaçãoBotucatu, porém aparecem em cotas mais altas e são mais afetados pelo intemperismo de contato.

Quando um derrame se espalha sobre dunas, mistura-se com torrões de areia, deixando a rocha resultante muito heterogênea. Esse material misturado ocorre no contato com os arenitos e é denominado de “brecha vulcânica”, não podendo ser aproveitado na produção de brita e produção de concreto.

Os derrames intermediários são os mais organizados, possuindo uma zona de disjunção vertical mais expressiva e menor ocorrência de brechas e vidros. Como o fenômeno perdurou por cerca de 20 milhões de anos, alguns derrames sofreram intemperismo e foram parcialmente transformados em solos residuais. Também parte desses solos foi erodido, produzindo depósitos sedimentares. Quando um novo evento de derrame veio a se estabelecer, cobriu esses solos, aprisionando-os entre dois derrames. Essas anomalias aparecem como camadas de menor resistência entre as rochas e são conhecidos como “paleossolos”.

Os últimos derrames são constituídos por magma intermediário, por vezes riolítico. As rochas formadas possuem textura microgranular (não são exatamente afaníticas), pois os derrames ficam muito espessos em virtude da maior viscosidade do material. Em alguns casos essas espessuras podem chegar a 100 metros. Também em virtude dessa maior viscosidade, a estrutura dos derrames privilegia a zona de disjunção horizontal (ou tabular). Com composição variável, às vezes tratam-se de riolitos, às vezes de dacitos, convencionou-se de designar essas rochas mais claras como “riodacitos”.

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Figura 9 –Organização simplificada das rochas no Planalto de derrames: basaltos escuros

com brechas vulcânicas próximas aos arenitos intertrápicos, riodacitos mais claros no topo, por vezes com camadas de paleossolos entre derrames.

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f) Figura 10 – Imagens das principais rochas relacionadas com o Planalto de Derrames: (a)

extração de pedras de cantaria do arenito Botucatu em Taquara; (b) Pedreira para extração e britagem de basaltos; (c) contato do arenito Botucatu com os primeiros derrames basálticos;

(d) detalhe do arenito intertrápico mais claro sobre o basalto mais escuro; (e) basaltos fraturados próximos a Uruguaiana; (f) mina de exploração de geodos com ametista no topo

de derrames ácidos em Ametista do Sul.

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(a) (b)

(c) (d) Figura 11 – Imagens de rochas típicas do Planalto de Derrames: (a) Paleossolo transportado

aprisionado entre derrames (destacado com linha vermelha); (b) Paleossolo residual aprisionado entre derrames; (c) Vista do Aparados da Serra com os derrames ácidos

expostos; (d) Contato de um derrame basáltico e brechas vulcânicas em Torres.

Os basaltos são rochas potencialmente aproveitáveis como pedra britada para as mais variadas aplicações na engenharia. Quanto menos espesso for o derrame, pior a qualidade da rocha, uma vez que,quanto mais rápido é o resfriamento, mais fracos e de menor dimensão são seus minerais.

Os derrames ácidos (riodacitos) são igualmente aproveitáveis para a mineração de pedra britada e costumam produzir rochas com maior resistência, se comparadas com os basaltos. Alguns desses derrames possuem zona de disjunção horizontal muito pronunciada e proporcionam a extração de placas e blocos com custo baixo.

Nos derrames mais espessos os geodos (vesículas preenchidas com minerais secundários) podem se apresentar muito grandes. Isso faz com que ocasionamente se constituam em potenciais produtores de pedras semipreciosas como a ametista, por exemplo.

Em vários locais os derrames encontram-se destruídos, abrindo janelas onde aflora o arenito Botucatu, de forma que essa rocha aparece também nessa região geológica.

Os derrames não são as rochas mais jovens do Planalto. Existem algumas rochas sedimentares clásticas irregulares muito recentes (são do período Cenozóico) que não possuem aproveitamento como material de construção, pois possuem fraca cimentação. São conhecidas como “Formação Tupanciretã" e afloram de forma descontínua em Cruz Alta, Carazinho, Passo Fundo e Santiago.

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2.4. Planície Costeira

A Planície Costeira é a região mais recente. Formada basicamente por sedimentos marinhos, eólicos e lacustres, não possui afloramentos de rochas, pelo menos do ponto de vista estrito da engenharia.

Geologicamente, reconhece-se que alguns sedimentos já possuem uma evolução de resistência devido à cimentação discreta, mas não são caracterizados como rocha, pois são muito friáveis. Essas formações pertencem ao Grupo Patos (Formações Chuí, Itapuã e Graxaim) e são areias contaminadas com argilas e cimentos, geralmente de cor amarelo parda ou avermelhada.

As areias do Grupo Patos aparecem nas barreiras de dunas mostradas na seção esquemática (que existe apenas no litoral sul). Geralmente são paleodunas representadas nas elevações I e II. As dunas III e IV são recentes e não são cimentadas.

Figura 12 – Representação esquemática da geologia da planície costeira no litoral sul.

A Formação Graxaim ocorre à oeste da Lagoa dos Patos, desde Barra do Ribeiro até Pedro Osório. São depósitos de enxurrada (leques aluviais) que formaram arcoses ou conglomerados muito mal cimentados. Esses materiais têm sido lavados para produzir areia para a construção, especialmente nas imediações do município de Pelotas.

A Formação Chuí apresenta ampla distribuição ao longo das Lagoas Mirim e dos Patos, com maior expressão na restinga que separa tais lagunas do oceano. Tratam-se de areias quartzosas médias a finas, algumas ferruginosas, geralmente com coloração amarelada a laranja. Sua deposição deu-se em ambientes marinho de águas rasas e lacustre. As areias dessa formação têm sido utilizadas como material de aterro e, ocasionalmente, têm sido lavadas para a produção de areia para a construção, como ocorre no Município de Viamão atualmente.

A Formação Itapuã ocorre em um ambiente muito semelhante ao da Formação Chuí. Com cimentação mais marcante de óxidos, essas areias quartzosas tiveram origem eólica. Essas dunas antigas e cimentadas têm sido utilizadas para aterros, especialemente nas estradas do litoral norte.

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(a) (b)

(c) (d) Figura 13 – Formações de areias cimentadas do Grupo Patos: (a) Paleoduna da Formação

Itapuã em Itapeva; (b) Depósito da Formação Chuí em Mostardas; (c) Aterro construído com areias da Formação Itapuã; (d) Mineração para lavagem de areias da Formação Chuí em

Águas Claras.

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3. Geologia do Brasil

A geologia do Rio Grande do Sul é representativa dos ambientes geológicos que existem no território brasileiro. Essa comparação pode ser realizada, a partir do mapa geológico simplificado que aparece na figura 14.

Figura 14 – Mapa simplificado da geologia brasileira

3.1. Escudos de rochas ígneas e metamórficas

O Escudo Riograndense, que já foi discutido em maior detalhe, é a representação do que ocorre nos demais escudos do território. A maior diferença que existe está no grau de metamorfismo das rochas metamórficas. Enquanto que o escudo riograndense possui praticamente apenas rochas de alto grau metamórfico, a Serra do Mar ainda apresenta uma fração razoável de rochas de grau intermediário como os xistos. O grau metamórfico é menor nos cordões que se desenvolvem a oeste, como na Serra do Espinhaço e na Serra Geral de Goiás. Na região da Borborema, as rochas são mais antigas do que a Serra do Mar, com presença de rochas metamórficas muito dobradas e rochas ígneas. Esse conjunto de escudo constitui-se em um grupo de formações semelhantes que se constituem no Bloco Atlântico.

No norte brasileiro e nas Guianas, outro grupo de escudos se estrutura, este formado em período anterior, em um evento orogênico (formação de cordilheira) com regime de compressão em direção diferente daquele que produziu o bloco atlântico. Trata-se do bloco das Guianas

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O grupo de escudos que se estruturam ao sul da bacia amazônica é, na verdade, resultante de uma separação por sistemas de falhas de tração que rebaixou o que hoje é a Bacia Amazônica. Então, o que se chama de escudo do Brasil Central, seria um destacamento do Escudo das Guianas.

3.2. Bacias sedimentares

As formações da depressão periférica no Rio Grande do Sul são representativas de todas as bacias sedimentares no restante do território.

Embora a Bacia do Paraná seja extensa e significativa no território, a Bacia Amazônica, por exemplo, possui as mesmas características, embora tenha rochas mais antigas na sua base, porque iniciou seus depósitos de solos em um período anterior (Siluriano).

As bacias do São Francisco e do oeste brasileiro são igualmente muito semelhantes. A diferença importante talvez resida no fato de que apenas no sul do Brasil (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) existam exposições de rochas do período carbonífero e, assim, estão aqui as únicas jazidas viáveis desse minério.

3.3. Planalto de Derrames

O planalto de derrames no Rio Grande do Sul possui continuidade pelo oeste de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Praticamente todos os aspectos estruturais a respeito dessa região no Estado se repetem na sua área de exposição.

4. Geologia da América do Sul

De forma análoga, as informações sobre as regiões geológicas do Rio Grande do Sul podem ser extrapoladas para todo o território sulamericano. Os principais escudos são aqueles que estão no Brasil e estão destacados na Figura 15 com coloração violeta e roxa.

As bacias sedimentares que contornam os escudos são semelhantes à Depressão periférica, variando a espessura, a idade, os ambientes deposicionais, mas essencialmente com a mesma organização.

O que existe de diferente é o evento orogênico atual que estrutura as cadeias andinas. Ali, existem rochas muito novas sendo formadas por metamorfismo regional, com novos batólitos em ascensão, com rochas sedimentares sendo soerguidas, mas também existem rochas antigas que estavam há muito tempo na crosta americana que agora estão sendo confundidas e expostas com as novas rochas em meio à cordilheira.

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DISCIPLINA DE GEOLOGIA APLICADA

AULA 7 –MAPAS E GEOLOGIA DO RS ENG. EDUARDO AZAMBUJA/ENG. CLEBER FLORIANO

Figura 16 – Mapa simplificado da geologia da América do Sul.

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