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----------------------- Page 1----------------------1 Aula Departamento de histria Curso: Histria medieval II Professor: Clinio Amaral Alain. Feudalismo. do In: Ocidente LE GOFF, Jacques e Vol. I 5/Unidade 1

Texto base: GUERREAU, SCHMITT, Jean-

Claude. Dicionrio temtico . Bauru/So Paulo : EDUSC/Imprensa Oficial. 2002, p. 437-455. Para Alain Guerreau, contempornea mantm ntima relao com Trata-se de uma a a

Medieval.

historiografia criada

sobre

a

idade

mdia

representao

da Europa

feudo-medieval. Por

concepo nascida do contexto da segunda metade do sculo XVIII. esse motivo, a viso

atual da idade mdia no pode ser considerada como um fruto de um processo acumulati vo de construo do conhecimento, mas sim de um momento de ruptura. Tal constatao trouxe grandes implicaes para a produo do conhecimento acerca do medievo. XVIII, uma Evidentemente, no se afirma que, do nada, tenha surgido, no sculo A transformao ocorrida d

ruptura fundamental com o passado medieval. eve ser matizada

por meio da anlise de dois desequilbrios surgidos desde meados do sculo XVII. No campo das representaes, consideram-se, o sistema feudal, os como indcios da ruptura com

pensadores como Spinoza, Locke, Montesquieu, pois os elementos principais de sua s teorias chocavam-se com a estrutura da sociedade feudal. Destaca-se que esse processo de transformao no aconteceu de forma homognea na Europa, em determinadas regies, como, por exemplo, na Inglaterra, notaram-se as r upturas

mais precocemente do que em relao s demais regies. , desde o sculo XVII, os alicerces feudais ariasse de acordo com as localidades. re e As de propostas de Russeau foram Adam Smith, de Gibbon, de ainda se mantinham, embora

No plano social isso v

Voltai

responsveis pela criao de novos paradigmas de organizao social. ava os princpios: a Em 1756, o Ensaio sobre os costumes coloc histria medieval uma ladainha de fatos insignificantes afoga imposto pelo papado; graas luta das cidades e dos bur gueses, a luz se fez ao seu presente estado pouco de a pouco, levando a Europa enfim

dos no obscurantismo

----------------------- Page 2----------------------2 civilizao. m uma longa definio da religio civil e Russeau acaba declarando: as religies que toleram as outras, na medi da em que os seus dogmas no tenham nada de contraditrio com os deveres dos cida dos. Mas aquele que ousar dizer Fora da Igreja no h salvao deve ser expulso do Estado (livro IV, cap. VIII). Voltaire, logo depois, d ava a essas idias um tom bem mais mordaz no Dicionrio filosfico e nas Questes sob re a Enciclopdia. Edward Gibbon publicava em 1776-1788 sua Histria do declnio e queda do Imprio Romano, que pela primeira vez examinava o cristianismo antigo como uma histria e no como uma revelao e pinta va a Idade Mdia como uma interminvel e tenebrosa decadncia. Isto se traduziu em breve artigo 10 da Declarao dos direitos do homem de agosto de 1789: Ningum deve ser molestado por causa de suas opinies, inclusive religiosas, contanto que sua manifestao no perturbe a ordem pblica estabelecida pela lei. Assim se instaurava, fato indito na Europa, a equivalncia fundamental religio opinio, de onde saram a Constituio civil do clero e sem seguida a Concordata de 1801, Deve-se tolerar todas Em 1762, o Contrato social terminava co

sob cujo modelo ainda vive uma grande parte da Europa. Trs pontos interli gados ao de um alcance incalculvel para a evoluo posterior da histria da Idade Mdia.1 Entre esses mo uma forma de trs pontos, o nascimento da ideia de religio co

representao das prticas sociais, colocava fim concepo de ecclesia no sentido medieval . Tal transformao foi acompanhada, ao mesmo tempo, por uma reviso histrica. Assim, a providncia divina perdia sociais, dando lugar o seu espao explicativo das relaes

ascenso da burguesia, elemento responsvel pela Por ltimo,

luta contra o obscurantismo.

vindo das discusses do iluminismo, surgia a noo de liberdade de conscincia. O seu aparecimento traz problemas para as anlises de sociedades, como, por exemplo, a m edieval. Afinal, tal tipo de categoria no existia, uma vez que havia uma instituio ligada a um credo coercivo, a qual representava o alicerce da sociedade medieval. dam A partir de 1776, Smith, entre outros, de do surgiram perceber reflexes, as relaes tenha sido influenciadas sociais assentado sob por a na A gid

sobre uma outra forma e material; trata-se liberalismo. construo,

Embora tal conceito lugar comum, de

liberdade de comrcio, Alain Guerreau estabeleceu outros caractersticas mais importan tes. Na verdade, subjacente de se criar um vasto ideia de livre comrcio, havia a inteno

mercado de mo-de-obra sem proteo e, ao mesmo tempo, havia o interesse de transforma r as terras em propriedades privadas. s. Por isso, as terras da Igreja Para Adam dependia foram to atacadas, confiscadas e vendida de transaes comerciais em que t

Smith, o enriquecimento erras e mo-de-obra

1 GUERREAU, Alain. Feudalismo. In: LE GOFF, Jacques e SCHMITT, Jean-Claude. Dici onrio temtico do

Ocidente Medieval. Vol. I. Bauru/So Paulo : EDUSC/Imprensa Oficial. 2002, pp. 437 -455, p. 438. Destaque do autor. ----------------------- Page 3----------------------3 fossem negociadas sem restries. tais tipos de aes Por esse motivo, os entraves feudais a

foram considerados empecilhos ao desenvolvimento da ordem natural das coisas. Na scia assim, a uno de tese de que a burguesia lutar contra a anarquia havia tomado para si a f

feudal, principal obstculo ao crescimento do mundo civilizado. Alain Guerreau lembrou que a abolio dos direitos duzir um movimento de feudais, em agosto de 1789, visava a pro

modificao da condio dos senhores; eles deveriam ser transformados em proprietrios. A vitria desse propsito foi responsvel por criar a concepo de economia atual , ou seja, um conjunto de relaes sociais de produo e trocas controlado por um mercado. A sua introduo representou uma ruptura capital, pois se lutava contra um outro sistema s ocial. Nesse contexto de conflituoso, tentava-se derrubar um sistema baseado n a dominao e na explorao das massas rurais presas ao solo por uma aristocracia fundiria he reditria. Alm disso, tal sistema colocava o comrcio em uma condio secundria, o que, na prtica, 2 proibia a existncia de qualquer osse altamente controlado . Segundo Alain Guerreau, esmo do sistema feudal. A vitria sobre o dominium medieval teve implicaes importantes, pois tal c onceito no foi apenas derrubado na prtica social, as suas representaes foram atacadas. Por esse tais

tipo

de

mercado

que na

no essncia

f m

caractersticas

constituam-se

motivo, abria-se uma fratura conceitual cujo resultado foi a criao de um grande pr oblema, a partir de ento, tornava-se ordagem racional sobre o perodo anterior. rmos No sculo XIX, medievais, como, embora por a Europa tenha herdado te muito complicado qualquer tipo de ab

exemplo, burgus, preo, mercado, etc. ente. Na verdade,

foram usados em um contexto difer com a forma em que e

tais termos no tinham absolutamente nada a ver ram utilizados nos sculos XI e XIII.

Criavam-se as condies para os anacronismos sobre a histria medieval. A sociedade contempornea sua origem, sociedade mergncia ou passou seja, a interpret-la a seria da uma construo marcada pela e como a representao de

contempornea e pela luta

burguesia da sua infncia at a sua libertao do obscurantismo. sociedade na qual o A fratura do liberalismo resulta em uma mercado a instituio dominante no sentido em que os mecanis social produo dominante e e

mos de mercado so tidos como a base da organizao da lgica da evoluo. No sistema anterior, a as trocas no constituam a substncia essencial da instituio e o comrcio desempenhava o fundamento 2 Ibidem, p. 440. ----------------------- Page 4----------------------4 um papel apenas marginal; as cobranas efetuadas pelo s grupos dominantes, fundadas do tinham desta forma um aspecto radicalmente extra-econmico. que a anlise do sistema de produo e de trocas anterior ao sculo XVIII exige um quadro conceitual que no corresponde ao da noo corrente de Ec onomia (a menos que se deforme implacavelmente a realidade histrica) .3 De maneira sobre estruturas exteriores ao merca

Para esse autor, a implodir a ecclesia e o dominium. eia segundo As concepes de a qual a

dupla

fatura e

do

sculo

XIX

conseguiu id As

religio mdia

de economia fora da propriedade noo

engendraram a de anarquia. o do sculo segundo

seria impossvel pensar rupturas conceituais entre ecclesia e religio XIX. No primeiro

idade

e dominium e do primeiro

marcaram

caso, o desaparecimento no deixaram rastros

e a imposio

facilmente encontrados pelos historiadores. r evidncia disso est

No caso do segundo, a maio

relacionada s discusses sobre a origem da propriedade desenvolvida a partir do scul o XIX. Nesse debate, houve uma vitria das correntes evolucionistas no final do sculo XIX. Para o autor citado anteriormente, temas que marcaram os estudos sobre a idade mdia e, em especial o feudalismo, tiveram suas origens no sculo XIX. Outro exemplo dado por ele diz respeito s concepes jurdicas sobre o direito medieval elaboradas na Alemanha. Nesse tado, caso, passou-se a definir o exclusivamente, nas feudalismo como sendo pau

relaes pessoais. A m torno partir da segunda da propriedade metade do sculo XIX, as questes e

conduziram s reflexes de Marx sobre a sociedade feudal. x tenha oferecido os

Embora Mar

elementos fundamentais da ideologia da economia poltica, as suas investigaes no fora m suficientemente aprofundadas em termos histricos. Guerreau escreveu [] Marx no construiu ao de produo 4 feudal . Como uma outra referncia sobre os estudos sobre a sociedade feudal foi a pesquisa de Marc Bloch5 cuja investigao foi associada a certa influncia do evolu cionismo do sculo nada Por isso, Alain

que poderia ser considerado uma teoria da rel

XIX. nfiana

O

seu mrito, para Alain em relao ao

Guerreau,

advm

de

sua desco

formalismo jurdico e da sua proposio de uma histria comparativa. A medievstica ocidental marcada por uma influncia do positivismo. resultados estavam muito s. impregnados de Assim, o do sculo XX foi demasiadamente estudos, os seus vises equivocada

Embora tenham proliferado estabelecia

um empirismo que autor

3 Ibidem, p. 440-441. 4 Ibidem, p. 443. 5 BLOCH, Marc. A sociedade feudal . Lisboa: Edies 70, 1979. ----------------------- Page 5----------------------5 colocou o problema acerca da dificuldade de se empreender um estudo racional e e xplicativo da idade mdia. Utilizaram-se ligio, direito, poltica, categorias, como, por exemplo, re

economia, arte, lngua, cultura, famlia etc. como se os mesmos fossem dotados de um valor intrnseco, ou seja, no importava de qual sociedade se estivesse a falar. Guerreau defende que se pense a idade mdia segundo critrios explicativos. Por essa razo, ele lembrou as seguintes colocaes. noo rvir de de feudalismo, enquadramento nisso que reside a importncia atual da noo provavelmente menos ruim para se a tal empreendimento cientfico. Se necessrio manter feudalis se todas as palavras possveis, trata de um sistema (J. Le Goff).6 crticas sobre a forma ela a que

mo, que, de melhor indica que

de

Aps idade

apresentar as mdia foram

como

os

estudos

conduzidos e optar pela noo de feudalismo como a representao de um sistema, Guerreau partiu para hipteses. anteriormente a problematizao Porm, definio de suas sobre a hipteses, construo o autor de um retoma corpo algumas de

questes-chave

que

marcaram a historiografia sobre idade mdia. A primeira delas diz respeito ao fato de que a prpria noo de Europa feudal nasceu em o um contexto mundo. em que Assim, ela era tal colocada em oposio a um outr

sociedade seria colocada parte. s pesquisas. Quanto

Isso continua sendo um problema para a

segunda, propunha-se tomar o seu estudo atravs de uma dupla ruptura, o que levou a duas consideraes equivocadas. nte pessoais, ou qualquer de distino entre senhorio fundirio e sen horio banal so contra-sensos, j que a fuso destes dois aspectos que constitua o ncleo daquela organizao social, b) qualquer quadro da sociedade medieval que coloq ue a ecclesia em outra parte que no seja o centro do dispositivo viso truncada, desequilibrada e totalmente irrealista desta socie dade, a partir da qual todas argumentaes so meras fices mais ou menos pitorescas.7 resulta em uma a a Para o autor, o necessidade de se balano historiogrfico produzido conduz par

a) a definio de relaes feudais como relaes puram

recuperar o pleno significado do uso de duas noes ocultadas pela dupla ruptura do sculo 6 GUERREAU, Alain. Feudalismo op. cit., p. 444. Destaque do autor. 7 Ibidem, p. 445. ----------------------- Page 6----------------------6 XVIII. Anlise dessas duas iso das estruturas daquela sociedade. Ns propomos chamar de dominium uma relao social origi nal constituda pela simultaneidade e unidade de dominao sobre os ho mens e suas terras. ecem reflexo e Os dois elementos-chave desta definio mer elucidao: dominao e simultaneidade. Dominao no um questes remete para uma rev

lmpido,

tambm

seu

sinnimo

cujo sentido seria evidente, como no o parcial, poder. Dominao implica uma relao desigual e assimtrica, de fora exercida em sentido nico, traduzindo-se

uma relao em uma certa vantagem Nem todas

tirada pelo dominante do dominado. as desigualdades so dominaes, nem todas subordinaes so dominaes. Dominao depende em geral de uma relao coletiva, e no mbito social um fato crucial (contrrio intuio imediata, apesar do hb ito que o faz considerar evidente) a disparidade numrica, os dominantes sendo uma nfima minoria em ralao enorme maioria de dominados. Em te rmos de analogia material, pode-se falar de um plo dominante em um a sociedade, mas no existe um plo dominado. Esta imagem pode aj udar a compreender porque intil imaginar e procurar uma fronteira entre dominantes e dominados; pode-se observar aqui e acol gradaes visveis, ou algum a barreira, mas a situao habitual a do continuum e da imbricao. necess io partir da idia bsica de que o continuum, ao invs de ser incompatvel com uma relao de dominao (ou, em certos casos concretos ou em um certo quadro terico, com a noo de classe), seu correlato obrigatri o. Simultaneidade no significa confuso. Me smo nas pocas consideradas mais obscuras da Europa medieval, existia uma diviso do trabalho e uma distino das funes desenvolvidas. A terra agrcola era e m geral objeto de formas de apropriao mais ou menos defin idas; os diversos aspectos do poder sobre os homens (manuteno da ordem e da justia, cobrana de um subproduto, exaes diversas e exercido d a fora armada, imposio de sistemas rituais e controle dos quadros ideolgicos) originavam formas variadas de repartio dos papis assim com o de cooperao (em certos casos, de concorrncia ou at de enfrenta mento). Mas o grupo dos que exerciam os poderes que acabamos de lembrar brevemente, era quase o mesmo grupo dos que detinham a terra sem trabalh-la diretamente. E as interminveis disputas dos medievalistas sobretudo germnicos) que se perguntaram doutamente se os altos digni trios francos e o eram porque

grandes proprietrios, ou se os grandes proprietrios o e ram porque altos dignitrios, so um exemplo maravilhoso de discusso to, absurda um e quebra a realidade histrica considerada.8 O autor tambm lembrou das distores propostas pela maior parte dos dicionri os das lnguas medievais. em H vrios casos em que os termos medievais traduzidos no possu que alm de no fazer avanar o conhecimen bloqueio particularmente nocivo, contribuindo a fixar uma a produz uma

lternativa que distorce

um equivalente nas lnguas europeias atuais. 8 Ibidem, pp. 446-447. Destaque do autor. ----------------------- Page 7----------------------7 sculo Tomando XVII, o Alain exemplo Guerreau da sociedade europeia do

demonstra como as relaes de produo eram basicamente agrrias. Alm disso, a riqueza estava assentada na explorao edade medieval havia sido direta dos agricultores. A soci

construda com base na ideia de se controlar e limitar a amplitude do artesanato e de diminuir o volume das trocas. A idade mdia compunha uma sociedade cujo propsito de sua aristocracia e ra o de fixar os homens ao solo. , inclusive, o da violncia. do, Alain Para tanto, lanava-se mo das mais diversas formas

Afinal, a manuteno da aristocracia dependia dessa prtica. Nesse senti segundo da a elemento instituio intrnseco dominante sociedad durante a

Guerreau apresentou o e medieval. Trata-se ecclesia, que se idade mdia.

configurou como O autor

definiu a instituio com base na ideia de que ela compunha uma organizao social estvel e perene, cujas regras de funcionamento so, pode-se dizer que ela eram explcitas. Alm dis

atribua os seus membros funes sociais especficas. Devido s suas caractersticas e sua extenso, a ecclesia identificava-se soc iedade medieval em sua totalidade, portanto, no havia a opo de no pertencer a tal grupo. Ela, como instituio, possua diversos mecanismos sociais para eliminar os seus opositores . Para isso, contava ainda com a brutal ao do brao secular para eliminar as heresias. e hierrquica io dominante da ecclesia caracterstica globalizadora, obrigatria era nica, e no h dvida: enquanto [sic.] institu a ecclesia constitua a armadura do sistema de dominao medieval, no alto clero a frao superior da classe dominante fe udal. A questo-chave, cuja soluo indispensvel para uma compreenso mnima da co erncia do sistema feudal, a seguinte: qual era a relao entre a estrutura do dominium e s acima do dominium permitiu ura (e ao mesmo tempo seu ponto fraco) era a ligao dominao de conjunto pressupondo que os homens propensos a serem ligados a uma terra por uma estrutura que, quanto possvel, mantivesse sua dominao com um mnimo de coero. Como a este papel determinante?9 s com o solo, a os homens e do mundo), a qual fosse capaz de unir esse sistema de representao a um s istema ritual pautado na atribuio efinido no decorrer do sculo . IV, de papis. forma e O definitiva seu em princpio santo e bsico Agostinho ou s foi d dos fossem tanto ecclesia exercia homen mostrar que a relao crucial desta estrut a instituio eclesistica? A descrio que demo A

e deve reconhecer

A resposta proposta tem como base a elaborao de uma sntese de representao (d

encontrando a sua A sntese dividia o

mundo em dois campos opostos eja, o bem e o mal, o

assimtricos (Deus

Sat),

9 Ibidem, p. 447-448. Destaque do autor. ----------------------- Page 8----------------------8

esprito e a carne. nho que

Em meio diviso, o homem surge como um elemento fraco e sozi

no conseguir escapar do pecado. Porm, h uma forma de romper esse destino miservel do homem. Isso seria possvel porque existe um terceiro elemento que se formava por uma unio indivisvel, a salvao. produzindo Trata-se assim e a reconciliao, portanto,

indiferentemente de Cristo ou ecclesia. A parte infalvel desse sistema de representao assentava-se justamente na c oncepo bem delimitada desse terceiro elemento Cristo-ecclesia, uma vez que a sua definio conduzia ao conjunto das estruturas de dominao e de controle da sociedade. A eccleisa permitia que houvesse a passagem de um plano abstrato para um campo prtico, atravs da unio de du as sries de objetos as hstias e as relquias. V, a eucaristia Vale destacar que desde o sculo I Esses dois

deveria ser celebrada em um altar que possusse relquias. objetos representavam a

unio feita ecclecia entre o material e o espiritual, entre Deus e os homens. aos altares, encerravam mavam o ponto de passagem obrigatrio do elo salvfico de Deus e dos homens. Est e ponto de passagem concreto e obrigatrio constitua um potente motor de polarizao do espao, ncentrao (progressiva) motor cuja eficcia foi reforada pela do conjunto dos ritos de passagem em um mesmo lugar: co Esses dois objetos, estritamente ligados todo o sagrado medieval, no sentido em que eles for

o batismo (desde a Alta Idade Mdia), a inumao, depois o casamento. comunho ligavam cada cristo a um lugar especfico, aquele em que Jesus e um ou vrios santos manifestavam-se a ele como agentes exclusivos de sua salvao. Foi inicial e principalmente desta forma que a ecclesia ligava os homens a um locus, permitindo o bom funcionamento d o dominium.10 O batismo e a Soma-se capacidade de produzir essa sntese entre dois mundos assimtricos atravs

da perfeio da associao entre Cristo e a ecclesia, o fato de que a Igreja era uma gr ande detentora de terras. Isso reforava ciava ao clero condies as estruturas fundirias e propi

para a sua reproduo do ponto de vista intelectual e material. sociedade Depois de apresentar medieval, Alain os dois elementos intrnsecos

Guerreau demonstra que a insistncia da historiografia em atribuir burguesia medie val uma funo de ter sido desenvolvimento de responsvel por diluir os entraves feudais afastou o

uma anlise da sociedade medieval com base em seus prprios elementos. Alis, isso ain da embrionrio entre os medievalistas. u No que apresenta o diz respeito perodo formao sculo IV da at sociedade meados do feudal, V Guerrea como s

compreendido entre o final do endo a poca em que o 10 Ibidem, pp. 448-449.

----------------------- Page 9----------------------9 Ocidente manteve os ltimos Ao mesmo tempo, houve a vislumbres da cidade antiga.

instalao dos elementos que serviram de alicerce da sociedade feudal. At meados do sculo IV ainda houve reconstrues circulao monetria, das villae do tipo antigo, verificou-se

inclusive, ocorreu emisso de moedas. a metade do sculo, a cunhagem caiu. ueologia. odelo

No entanto, a partir da segund

O autor sublinhou que tal processo foi corroborado pela arq mais as reconstrues urbanas no m

Em meados do sculo V, no se verificou

antigo. Apesar das polmicas, sustenta que com o passar do tempo a escravido teri a sumindo na alta idade mdia. V e V so Enfim, o sistema agrrio romano foi destrudo. Os sculos I

responsveis pela instituio das estruturas da ecclesia. Desde a eccelsia reconhecida por Constantino, Cri sto foi proclamado Deus (Nicia, 325); o monasticismo nasceu e reforou. Os defensores da doutrina anterior foram perseguidos sob o epteto de arianos. O imperador Juliano tentou uma reao que exprimia as resistncias do tradicionalismo romano; seu fracasso consu ma o triunfo do novo sistema. Em Constantinopla, em 381, foi proclamada a divind ade do Esprito Santo, o que praticamente completa a criao da Trindade. Santo Ambrsio organizou o culto dos santos e a presena de relquias nos altares tornou-se obrigatria. Teodsio proibiu os cultos pa gos (391). So Jernimo traduziu a Bblia para o latim e Santo Agostinho ela borou a suntuosa sntese dogmtica que recebeu a sano oficial em Calcednia em 451. Neste momento, na maior parte do Ocidente, a aristocraci a tinha se reestruturado inteiramente com a ajuda dos eclesisticos que a par tir de ento asseguravam o essencial da coeso aristocrtica. A organizao d e um novo sistema de produo e de trocas caminhava de forma exatamente paralela instalao da ecclesia. Esta bela convergncia raramente observ ada: todo esboo de estudo do sistema feudal que no conside rar este perodo (e Alta Idade Mdia) continua fatalmente incompleto.11 imediatamente se Alain Guerreau sublinhou ainda que os manuais no concederam espao s estrut uras da alta idade mdia. Vale destacar como Marcelo Cndido12, ao estudar as concepes polticas sobre a realeza da alta idade mdia, demonstrou como a tradio historiogrfica no vislumbrava a possibilidade de um estudo sobre a histria poltica para a alta idade mdia. Ao

discutir a oposio entre os termos cristo e pblico, define a experincia poltica des perodo. Outro difuso aspecto importante do culto aos da alta idade mdia diz respeito

santos, que, entre outros fatores, introduziu, atravs das peregrinaes, uma nova geo grafia do sagrado. Assim, o extra muros das cidades episcopais ganharam fora devido aos san

tos ali 11 Ibidem, p. 450. Destaque do autor. 12 SILVA, Marcelo Cndido. A realeza crist na Alta Idade Mdia . Os fundamentos da au toridade poltica no perodo merovngio (sculos V-VIII). So Paulo: Alameda, s.d. ----------------------- Page 10----------------------10 enterrados13. Outro aspecto dade mdia diz respeito s estruturas tantes. de parentesco. Inicialmente, a adoo, ltima O a extenso levaria dos graus pro fundamental na Com isso, houve sociedade da alta trs modificaes i impor

supresso do divrcio e da ibidos e a afirmao do parentesco espiritual14. Essa dos laos espirituais em detrimento dos laos carnais. outra forma de ampliar o

a supervalorizao era uma

parentesco

eclesistico

domnio da Igreja, simultaneamente, estendia as proibies para, com isso, evitar as p rticas endogmicas nstitussem coesos. ia Aps central, mencionar algumas Alain Guerreau caractersticas da idade md que grupos possibilita fechados que e determinados grupos co

sustentou que foi a dinmica intrnseca ao sistema feudal a verdadeira responsvel por gerar os elementos para diluir, ma. Trata-se, portanto, ao de longo uma do tempo, esse siste

contradio gerada pela prpria idade mdia. dominium e instituio eclesistic duas reivindicaes, liberdade de comrcio e liber dade de conscincia. E aqui estamos de volta ao ponto de partid a da anlise, aps ter esboado, de maneira esquemtica demais, as grandes linhas de um jogo de hiptese que permite, at certo ponto, mostrar a estreita relao en tre a estrutura profunda do sistema feudal e os reflexos de suas lentas tr ansformaes: relao bem prxima de uma identidade. No estado atual da pesquisa, a noo de feudalismo so a foram opostas as Ao

a antes de tudo como o pretender se esquivar: apelo a uma escolha da qual intil ou nos acomodamos ao esprito de sntese mais difundido, o d se refere aos efeitos da ao e dos grandes homens, q ue a respeito de tudo e a eternidade das da invoca a infinita diversidade do real psicologia humana, que acredita portanto na auto-suficincia e das pequenas construes locais; ou ento percebemos a necessidade p poder noes de c lhe so al c

o senso comum, que

narrativas

rvia de esclarecer a lgica geral de uma civilizao para o sentido de seus elementos e procuramos construir as e as hipteses que permitem, lenta e laboriosamente, apreender fragmentos oerncia nesta civilizao, evitando, desta forma, atribuir relaes que heias.15 ompreender

13 Cf. LAUWERS, Michel. Naissance du cimetire. Lieux sacrs et terres des morts da ns l'Occident mdival . Paris : Aubier, 2005.; Idem. La mort et le corps des saints. La scne de la mort d ans le Vitae du haut Moyen Age. Le Moyen Age. Revue d'Histoire et de Philologie. Paris : XCIV, pp.21-50, [s.m.]. 1988. 14 VAUCHEZ, Andr. Beata Stirps : Saintet et lignage en Occident aux IIIe et XVe sicles. In : COLE

X

FRANAISE DE ROME. Famille et parent dans l'Occident mdival. Actes d e : Colloque de Paris organis par lcole Pratiques des Hautes tudes en collaboration avec le Collge de France et lcole Franaise de Rome. Paris, 6-8 juin 1974. Paris : cole Franaise de Rome et Palais Farnse, pp. 397 -407. 15 Ibidem, p. 454.