aula 31 - infinitivo pessoal e colocação pronominal

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Curso on-line PARA BEM ESCREVER NA LÍNGUA PORTUGUESA Prof. Carlos Nougué © 2014 I Todos os direitos reservados. 1 TRIGÉSIMA PRIMEIRA AULA DO CURSO “PARA BEM ESCREVER NA LÍNGUA PORTUGUESACONCORDÂNCIA VERBAL (III) [FLEXÃO DO INFINITIVO] E COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS 9. A FLEXÃO DO INFINITIVO. a. Excetuados o português e o galego, nenhuma outra língua atual flexiona o infinitivo – pelas simples razão de que, sendo o que é, ou seja, forma nominal do verbo, o infinitivo não suportaria desinências verbais. Mas nas duas referidas línguas, sim, suporta desinências número-pessoais (conquanto não, naturalmente, desinências modo-temporais). Como é possível, porém, que esta forma nominal do verbo, de caráter substantivo, suporte desinências número- pessoais é o que nunca se chegou a resolver safisfatoriamente.1 b. Entre multidão de teses quanto à origem da flexão do infinitivo, são três as mais aceitas. • O infinitivo pessoal ou flexionado ter-se-ia originado no imperfeito do subjuntivo latino, tempo que, ressalvadas as naturais alterações fonéticas, apresenta identidade morfológica com aquele. • Ou no mesmo infinitivo (impessoal) latino, que haveria terminado por flexionar-se em português por analogia com o futuro do subjuntivo da maioria de nossos verbos. • Ou na migração de povos itálicos para a zona ocidental da Península Ibérica, povos cuja língua comportaria, então, o infinitivo pessoal. c. A última tese, possível,2 peca porém por tão somente fazer recuar o problema: justamente, como teria sido possível que em tais línguas itálicas se flexionasse o infinitivo. De nossa parte, pendemos para uma mescla das duas primeiras teses, com maior peso, porém, para a segunda. Com efeito, o infinitivo pessoal emprega-se exatamente como o impessoal, isto é, nos mesmos lugares 1 Na Suma Gramatical aprofundamos grandemente o assunto, sem todavia chegar a solução definitiva. 2 A razão desta possibilidade, damo-la ainda na Suma.

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  • Curso on-line PARA BEM ESCREVER NA LNGUA PORTUGUESA Prof. Carlos Nougu

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    TRIGSIMA PRIMEIRA AULA DO CURSO

    PARA BEM ESCREVER NA LNGUA PORTUGUESA

    C ONC OR DNC IA VERBAL (I II)

    [ FL EX O DO INF INI TI VO ]

    E COL OCA O DO S P RON O MES TON OS

    9. A FLEXO DO INFINITIVO.

    a. Excetuados o portugus e o galego, nenhuma outra lngua atual flexiona o

    infinitivo pelas simples razo de que, sendo o que , ou seja, forma nominal do

    verbo, o infinitivo no suportaria desinncias verbais. Mas nas duas referidas

    lnguas, sim, suporta desinncias nmero-pessoais (conquanto no,

    naturalmente, desinncias modo-temporais). Como possvel, porm, que esta

    forma nominal do verbo, de carter substantivo, suporte desinncias nmero-

    pessoais o que nunca se chegou a resolver safisfatoriamente.1

    b. Entre multido de teses quanto origem da flexo do infinitivo, so trs

    as mais aceitas.

    O infinitivo pessoal ou flexionado ter-se-ia originado no imperfeito do

    subjuntivo latino, tempo que, ressalvadas as naturais alteraes fonticas,

    apresenta identidade morfolgica com aquele.

    Ou no mesmo infinitivo (impessoal) latino, que haveria terminado por

    flexionar-se em portugus por analogia com o futuro do subjuntivo da maioria

    de nossos verbos.

    Ou na migrao de povos itlicos para a zona ocidental da Pennsula

    Ibrica, povos cuja lngua comportaria, ento, o infinitivo pessoal.

    c. A ltima tese, possvel,2 peca porm por to somente fazer recuar o

    problema: justamente, como teria sido possvel que em tais lnguas itlicas se

    flexionasse o infinitivo. De nossa parte, pendemos para uma mescla das duas

    primeiras teses, com maior peso, porm, para a segunda. Com efeito, o infinitivo

    pessoal emprega-se exatamente como o impessoal, isto , nos mesmos lugares

    1 Na Suma Gramatical aprofundamos grandemente o assunto, sem todavia chegar a soluo

    definitiva.

    2 A razo desta possibilidade, damo-la ainda na Suma.

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    em que este pode empregar-se, o que no se d com o imperfeito do subjuntivo

    latino.

    d. A questo complica-se se se atende a que a flexo do infinitivo se usa

    diferentemente em Portugal e no Brasil. Mas dessa diferena no nos

    ocuparemos aqui, porque, a nosso ver, o mais importante quanto flexo do

    infinitivo se cifra no seguinte.

    Originria que , como tantos outros casos, de analogia popular corruptora,

    a flexo do infinitivo de todos o mais tendente deriva: ou melhor, se se lhe

    abre a porteira, estoura como se fora boiada. o que explica o que se ouve no

    Brasil (no conhecemos suficientemente a realidade coloquial lusitana):

    devemos fazermos, precisam comerem, etc.

    Da, cremos, a importncia das regras e das sugestes que se daro aqui:

    visam especialmente a fechar firmemente tal porteira. Por que porm no s

    regras, mas tambm sugestes, explica-se em parte pelo dito acima: a diferena

    entre Portugal e Brasil, diferena que se reflete na escrita mesma dos melhores

    escritores. Assim, quando h identidade entre os dois pases com respeito

    flexo culta do infinitivo, deem-se regras; quando no h tal identidade, deem-

    se sugestes sempre em ordem ao fechamento da porteira.3

    e. Antes de tudo, atenda-se a que o infinitivo pessoal no possui desinncias

    nmero-pessoais prprias to somente na 1. e na 3. pessoa do singular; e a

    que sua mesma conjugao, como dito, identifica-se na maioria dos verbos com

    a do futuro do subjuntivo:

    (eu) amar, comer, partir;

    (tu) amares, comeres, partires;

    (ele) amar, comer, partir;

    (ns) amarmos, comermos, partirmos;

    (vs) amardes, comerdes, partirdes;

    (eles) amarem, comerem, partirem.

    f. Verbos h, porm, como se acaba de dizer, em que o infinitivo pessoal e o

    futuro do subjuntivo no se identificam: fazer, poder, pr, querer, ser, etc.:

    INFINITIVO PESSOAL

    (eu) fazer, poder, pr, querer, ser;

    (tu) fazeres, poderes, pores, quereres, seres;

    3 Nem sempre distinguiremos nesta aula o que seja regra e o que seja sugesto.

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    (ele) fazer, poder, pr, querer, ser;

    (ns) fazermos, podermos, pormos, querermos, sermos;

    (vs) fazerdes, poderdes, pordes, quererdes, serdes;

    (eles) fazerem, poderem, porem, quererem, serem;

    FUTURO DO SUBJUNTIVO

    (eu) fizer, puder, puser, quiser, for;

    (tu) fizeres, puderes, puseres, quiseres, fores;

    (ele) fizer, puder, puser, quiser, for;

    (ns) fizermos, pudermos, pusermos, quisermos, formos;

    (vs) fizerdes, puderdes, puserdes, quiserdes, fordes;

    (eles) fazerem, puderem, puserem, quiserem, forem.

    OBSERVAO. Se pois se tiver dificuldade em distinguir se se trata de

    infinitivo pessoal ou de futuro do subjuntivo, bastar substituir o verbo em

    questo por alguns destes verbos irregulares:

    Para cant-lo, preciso ensaio [Para faz-lo = INFINITIVO PESSOAL];

    Quando o cantar, j estar preparado [Quando o fizer = FUTURO DO

    SUBJUNTIVO].

    g. Diz Said Ali que a escolha da forma infinitiva depende de cogitarmos

    somente da ao ou do intuito ou necessidade de pormos em evidncia o agente

    da ao. Pois bem, isto verdade nos casos com respeito aos quais no

    julgamos se deva aplicar regra nem sugesto. o que se d com a mesma orao

    de Ali:

    se se quer pr em evidncia o agente, escreva-se ento como fez o nosso

    gramtico;

    se suficiente assinalar a prpria ao, escreva-se ento: a escolha da

    forma infinitiva depende de cogitar somente da ao, ou do intuito ou

    necessidade de pr em evidncia o agente da ao.

    h. DE REGRA NO FLEXIONAR O INFINITIVO:

    quando entra na composio de grupos verbais que se comportam como

    locues:

    DEVEMOS sair cedo;

    TINHAS DE resolv-lo;

    COMEARAM A esculpi-la;

    etc.

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    (OBSERVAO: contra o que dizem as gramticas em geral, e porque a escrita

    no automtica como a fala, nem a distncia ela outra vez... nos d

    permisso para infringir esta regra: DEVERIAM, dada a gravidade do assunto,

    envidar todos os esforos para encontrar uma soluo, e no o errado

    DEVERIAM, dada a gravidade do assunto, envidarem todos os esforos para

    encontrar uma soluo);4

    quando mais propriamente impessoal, ou seja, quando no se refere a

    nenhum sujeito:

    Viver lutar;

    Trabalhar uma necessidade;

    Esculpir uma arte;

    etc.;

    quando, antecedido de de, tem sentido passivo:

    ossos difceis de roer [= de ser rodos];

    livros fceis de ler [de ser lidos];

    trabalhos rduos de fazer [= de ser feitos];

    veculos leves de conduzir [= de ser conduzidos];

    etc.

    (OBSERVAO: no se use nestas construes um desnecessrio e pernstico

    se: livros fceis de se ler, etc., at porque est errado; no estaria se se

    dissesse livros fceis de se lerem [= de ser lidos]: mas esta construo

    rebarbativa e de evitar);5

    quando, tambm antecedido de de, tem o sujeito j expresso por outro

    verbo:

    TM o dever de ensinar [e no um rebarbativo e desnecessrio Tm o

    dever de ensinarem];

    TEMOS o direito de aprender [e no um rebarbativo e desnecessrio

    Temos o direito de aprendermos];

    4 Tampouco permite infrao regra o fato de que se cale o verbo que compe grupo verbal com

    o infinitivo: Deveriam envidar todos os esforos por uma soluo, [deveriam] concentrar-se

    nisso [e no o errado Deveriam envidar todos os esforos por uma soluo, concentrarem-se

    nisso].

    5 Assim como o uso constante de porm em lugar de mas vai contra o espontneo da lngua e

    de evitar, assim tambm construes como livros difceis de se lerem: no h de haver

    lusfono que na fala seja capaz de cometer um osso difcil de se roer.

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    etc.;

    naturalmente, quando apenas especifica um substantivo:

    ferro de passar;

    sala de jantar;

    etc.;

    quando se emprega em lugar do imperativo:

    Virar esquerda!;

    NO matar;

    etc.

    quando se rege da preposio a:

    So obrigados a ensinar [e no um rebarbativo e desnecessrio So

    obrigados a ensinarem];

    Ajudou-os a cruzar o rio [e no um rebarbativo e desnecessrio Ajudou-

    os a cruzarem o rio];

    Convenceu-nos a voltar para casa [e no um rebarbativo e desnecessrio

    Convenceu-nos a voltarmos para casa];

    etc.;

    quando seu sujeito acusativo de um dos verbos CAUSATIVOS (deixar, fazer,

    mandar) ou de um dos verbos SENSITIVOS (ouvir, sentir, ver):

    . DEIXOU-os brincar;

    . DEIXOU brincar os meninos [ou Deixou brincar aos meninos; mas neste

    caso, como visto em alguma aula de nosso curso, j no se trata de sujeito

    acusativo];

    . DEIXOU os meninos brincar;

    . F-las estudar;

    . FEZ estudar as crianas [ou Fez estudar s crianas; mas neste caso,

    etc.];

    . FEZ as crianas estudar;

    . MANDOU-os descansar;

    . MANDOU descansar os filhos [ou Mandou descansar aos filhos; mas

    neste caso, etc.];

    . MANDOU os filhos descansar;

    . OUVIU-os brincar;

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    . OUVIU brincar os meninos [ou Ouviu brincar aos meninos; mas neste

    caso, etc.];

    . OUVIU os meninos brincar;

    . SENTIU-as caminhar;

    . SENTIU caminhar as crianas [ou Sentiu caminhar s crianas; mas

    neste caso, etc.];

    . SENTIU as crianas caminhar;

    . VIU-os descansar;

    . VIU descansar os filhos [ou Viu descansar aos filhos; mas neste caso,

    etc.];

    . VIU os filhos descansar

    (OBSERVAO 1: no se considera erro o flexionar o infinitivo no exemplos

    de [Fez as crianas estudarEM, etc.]; todavia, julgamo-lo no s

    desnecessrio, mas no prprio do melhor portugus);

    (OBSERVAO 2: quando se trata de indeterminar o sujeito, o infinitivo deve

    flexionar-se na terceira do plural: Ouvi falarEM do assunto, conquanto

    tampouco seja errado dizer Ouvi falar do assunto: afinal, esta como outra

    maneira de indeterminar o sujeito);6

    quando, empregado em orao adverbial (da segunda espcie) posposta,

    seu sujeito j est claro na subordinante:

    LEIAMO-lo de novo / para entend-lo bem;

    OS MOOS viram a cena / ao virar-se;

    etc.

    (OBSERVAO: esta sugesto deixar de ter validade se a no flexo do

    infinitivo implicar qualquer anfibologia).

    i. DE REGRA FLEXIONAR O INFINITIVO:

    quando o verbo de orao subordinante, desde que esteja assinalado de

    qualquer modo o sujeito:

    bom / eles serem estudiosos;

    bom /eles serem estudiosos, ainda que tenham de trabalhar;

    Eles serem estudiosos / uma obrigao, / mas tambm o / ajudarem

    aos pais;

    6 Para os sentidos em que entendemos indeterminao do sujeito, vide as aulas de Sintaxe

    Geral.

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    etc.;

    quando o verbo de orao subordinada substantiva posposta:

    Julgo / serem [= que sejam] eles os responsveis por esta situao;

    Acredito / sermos [= que sejamos] ns mesmos os responsveis por esta

    situao;

    etc.

    (OBSERVAO 1: em casos como estes, preferimos muitas vezes a forma

    desenvolvida [com elipse do conectivo ou sem ela]: Julgo / [que] sejam eles os

    responsveis, Acredito / [que] sejamos ns mesmos os responsveis);

    (OBSERVAO 2: note-se quo rebarbativo dizer Firmemente acreditamos

    sermos ns mesmos os responsveis; prefira-se: Firmemente acreditamos /

    (que) somos ns mesmos os responsveis);

    (OBSERVAO 3: se o sujeito da subordinada no est expresso, a flexo do

    infinitivo adquire carter diacrtico: com efeito, em Penso / serES capaz de tal

    empresa, s por tal flexo sabemos que se trata de segunda pessoa do singular;

    se no o flexionssemos, o sujeito do verbo da subordinada seria o mesmo que o

    da subordinante: PENSO / ser capaz de tal empresa);

    quando empregado em orao adverbial (da segunda espcie) anteposta

    subordinante:

    Para o entendermos bem, / leiamo-lo de novo;

    Ao se virarem, / os moos viram a cena;

    etc.

    (OBSERVAO: atente-se a que, se no flexionssemos a o infinitivo, no

    conheceramos o sujeito da subordinada seno aps ler a subordinante).

    * * *

    I. Se se seguissem critrios estritamente lgicos, a ordem das palavras ou

    termos na orao deveria ser fixa:

    sujeito predicado;

    substantivo adjunto adnominal, ou predicativo da segunda espcie, ou

    aposto;

    substantivo complemento nominal;

    verbo objeto direto complemento indireto dativo;

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    verbo complemento relativo;

    verbo, ou adjetivo, ou advrbio adjunto adverbial.

    Exemplo:

    A professora Joana, recm-chegada, ministrou a lio aos alunos

    maiores no perodo da tarde, onde:

    A professora Joana: sujeito, onde professora o ncleo, a adjunto

    adnominal,7 e Joana aposto individualizador;

    recm-chegada: predicativo da segunda espcie;

    ministrou: verbo (ncleo do predicado);

    a lio: objeto direto, onde a adjunto adnominal;

    aos alunos maiores: complemento indireto dativo, onde a conectivo, os

    adjunto adnominal, e maiores tambm adjunto adnominal;

    no perodo da tarde: adjunto adverbial, onde em conectivo, o adjunto

    adnominal, perodo ncleo, e da tarde adjunto adnominal (composto, por

    sua vez, de de [conectivo], a [adjunto adnominal], tarde [ncleo]).

    II. E, se dizemos que assim deveria ser se se observassem critrios

    estritamente lgicos, no seno porque ao sujeito se segue sua ao, e sua ao

    ou intransitiva ou transita a algo e/ou a algum, alm de que os acidentes

    (qualidade, quantidade, etc.) no podem seno seguir-se quilo de que o so.

    No obstante, por mltiplas razes (conveno, tradio, nfase, ritmo, eufonia,

    etc.) no raro no se obedece a tal sequncia lgica. Exemplo:

    Aos alunos maiores, a recm-chegada professora Joana ministrou-lhes

    no perodo da tarde a lio.

    OBSERVAO. Aprofundamo-lo um pouco na Suma Gramatical; mas este

    assunto requer tratado parte.

    III. Aqui s estudaremos e sobretudo do ngulo do normativo a

    COLOCAO dos chamados PRONOMES PESSOAIS TONOS (me, te, se, nos, vos,

    se, lhe, lhes, o, a, os, as). Pois bem, estes pronomes podem estar, com respeito

    ao verbo, em tripla posio.8

    7 Contra o que seria estritamente lgico, o artigo, que sempre exerce a funo de adjunto

    adnominal, sempre antecede ao substantivo.

    8 Todas as regras que se derem a seguir so atinentes ao portugus da fase que vem do

    Romantismo a nossos dias. Nas fases anteriores, a colocao do pronome era muito mais livre,

    como mostramos na Suma Gramatical.

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    1. Antes de tudo, podem estar em NCLISE, ou seja, DEPOIS do verbo, posio

    em que se ligam a este por hfen:

    CUMPRIU-se o estabelecido;

    etc.

    2. Depois, em MESCLISE, ou seja, NO MEIO do mesmo verbo, o que porm s

    pode dar-se no futuro do presente e no futuro do pretrito:

    CUMPRIR-se- o estabelecido;

    CUMPRIR-se-IA o estabelecido;

    etc.9

    3. Por fim, em PRCLISE, ou seja, ANTES do verbo:

    No se CUMPRIU o estabelecido;

    etc.

    IV. A colocao dos pronomes tonos, justamente por tonos,

    grandemente influenciada pelo fontico (ainda que no s por este), razo por

    que a diferena fontica entre o portugus lusitano e o brasileiro faz que a

    colocao destes pronomes tenda a ser diferente nos dois pases. Em Portugal,

    onde as vogais tonas tendem ao escurecimento em face das consoantes, a

    posio preferencial dos pronomes tonos a nclise; no Brasil, onde as vogais

    tonas so antes semitonas ou semitnicas, a posio preferencial de tais

    pronomes a nclise:

    Eu vi-o (Portugal);

    Eu o vi (Brasil);

    Ele viu-me (Portugal);

    Ele me viu (Brasil);

    etc.

    V. Mas tais consideraes, em que nos detemos consideravelmente na Suma

    Gramatical, so relativas antes oralidade que escrita. Quanto a esta, tambm

    aqui h de predominar o convencional fundado nos melhores escritores de

    nossa lngua, at porque, como dito e redito neste curso, a escrita no

    automtica como a fala, etc. Pois bem, com tal fundao, podem estabelecer-se

    regras que atendam tanto a lusitanos como a brasileiros, dando-lhes porm a

    9 Insista-se: as gramticas que tacham de ultrapassada a mesclise incorrem em

    descabimento e abuso. Esto norteadas unicamente pela oralidade brasileira, e com isso lanam

    ao lixo a unidade mesma da lngua portuguesa.

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    todos livre campo supranacional: assim, no seno por pura preferncia

    pessoal que ns mesmo usamos de colocao no inteiramente lusfona, mas

    mais tendente a esta que brasileira. E a razo por que a preferimos escapa ao

    mbito do estritamente gramatical para encerrar-se no campo do estilstico

    ainda que sem jamais infringir aquelas regras supranacionais.

    1. Primeira regra: NO COMEAR FRASE NEM ORAO POR PRONOME TONO:

    no Me viu ontem, mas Viu-me ontem;

    no Caminhvamos pela calada, o vimos, o cumprimentamos, mas

    Caminhvamos pela calada, vimo-lo, cumprimentamo-lo;

    etc.

    OBSERVAO. Com elegncia, esta primeira regra deve deixar de cumprir-se

    se se trata de no-lo (no-la, etc.) e vo-lo (vo-la, etc.):

    No-lo disse ontem;

    Vo-lo voltarei a perguntar amanh.

    etc.

    2. Segunda regra: NO USAR PRCLISE A NENHUMA FORMA DE IMPERATIVO,

    NEM EM ORAES DEPRECATIVAS:

    no Agora me faz isto, mas Agora FAZ-me isto;

    no Por favor, me d uma ajuda, mas Por favor, D-me uma ajuda;

    no Esta ajuda nos dai hoje, mas Esta ajuda DAI-nos hoje;

    etc.

    3. Terceira regra: USAR PRCLISE AO VERBO EM ORAES OPTATIVAS:10

    no (Que) Bons ventos levem-no, mas (Que) Bons ventos o LEVEM;

    no (Que) Deus ajude-nos, mas (Que) Deus nos AJUDE;

    etc.

    4. Quarta regra: USAR PRCLISE AO VERBO QUANDO ESTE SE ANTECEDE, A

    QUALQUER DISTNCIA OU SEJA, AINDA QUE HAJA INTERCAO ENTRE ELES , DE

    PALAVRA NEGATIVA:

    no No viu-me ontem, mas No me VIU ontem;

    no Nunca em todos esses anos disseram-me isso, mas Nunca em

    todos esses anos me DISSERAM isso;

    no Ningum, em todos esses anos, disse-me isso, mas Ningum, em

    todos esses anos, me DISSE isso;

    10 Para oraes deprecativas (e optativas), vide documento da aula 20-21.

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    etc.

    OBSERVAO 1. Gramticos h que toleram a nclise caso haja tal

    intercalao. Dizemos ns que o mais conveniente que ainda neste caso se

    mantenha a prclise: porque deste modo, com efeito, se se dominam as regras

    da colocao dos pronomes tonos, podem apreender-se imediatamente os elos

    sintticos. Valha esta observao para todos os casos a seguir em que se faa

    referncia distncia.

    OBSERVAO 2. Tanto esta como as regras que se seguiro no dizem

    respeito ao infinitivo sem flexo nem ao gerndio. Da colocao pronominal

    nestes casos, falar-se- mais adiante.

    5. Quinta regra: USAR PRCLISE AO VERBO QUANDO ESTE SE ANTECEDE, A

    QUALQUER DISTNCIA OU SEJA, AINDA QUE HAJA INTERCAO ENTRE ELES , DE

    CONECTIVO (MENOS AS CONJUNES SUBORDINATIVAS DA PRIMEIRA ESPCIE):11

    no Esperamos que digam-nos a verdade, mas Esperamos que nos

    DIGAM a verdade;

    no Se tivessem-se preparado..., mas Se se TIVESSEM preparado...;

    no Ainda que tivesse-o convidado, no teria ido, Ainda que o TIVESSE

    convidado, no teria ido;

    no Quando vimo-la, notamos sua angstia, mas Quando a VIMOS,

    notamos sua angstia;

    no Deram os prmios a quem merecia-os, mas Deram os prmios a

    quem os MERECIA;

    no Premiaram a quem, entre tantos concorrentes, merecia-o, mas

    Premiaram a quem, entre tantos concorrentes, o MERECIA;

    etc.

    6. Sexta regra: USAR PRCLISE AO VERBO QUANDO ESTE SE ANTECEDE, A

    QUALQUER DISTNCIA OU SEJA, AINDA QUE HAJA INTERCAO ENTRE ELES , DE

    PRONOME INTERROGATIVO (OU EXCLAMATIVO) OU DE ADVRBIO INTERROGATIVO (OU

    EXCLAMATIVO):

    no Que aconteceu-lhes efetivamente?, mas Que lhes ACONTECEU

    efetivamente?;

    11 Ou seja, menos as conjues aditivas, as alternativas, as adversativas, as explicativas e as

    conclusivas, com respeito s quais falaremos parte. Entre os conectivos, incluem-se aqui os

    pronomes e os advrbios que tambm se usam para ligar oraes.

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    no Quem, entre todos, disse-vos isso?, mas Quem, entre todos, vos

    DISSE isso?;

    no Como aconteceu-lhes isso?, mas Como lhes ACONTECEU isso?;

    no Perguntou-nos onde aconteceu-lhes isso, mas Perguntou-nos onde

    lhes ACONTECEU isso;

    no Como mentiram-vos!, mas Como vos MENTIRAM!;

    etc.

    7. Stima regra: USAR PRCLISE AO VERBO QUANDO ESTE SE ANTECEDE DE

    ADVRBIO:

    no Ontem premiaram-no, mas Ontem o PREMIARAM;

    no Sempre foi-lhe respeitoso, mas Sempre lhe FOI respeitoso;

    no s vezes pergunta-nos de ti, mas s vezes nos PERGUNTA de ti;

    etc.

    OBSERVAO. Basta todavia que aparea vrgula entre o advrbio e o

    pronome tono para que se d a nclise:

    no Ontem, o premiaram, mas Ontem, PREMIARAM-no;

    no s vezes, nos pergunta de ti, mas s vezes, PERGUNTA-nos de ti;

    etc.

    OBSERVAO GERAL 1. Os brasileiros tendem a usar a prclise ao verbo

    quando este se antecede de certas conjunes subordinativas da primeira

    espcie (ou seja, as alternativas, as explicativas e as conclusivas), de qualquer

    pronome indefinido ou de qualquer pronome demonstrativo, enquanto os

    portugueses tendem, nos mesmos casos, a usar a nclise ou a mesclise:

    Ou se TRABALHA, ou se DESCANSA (Brasil);

    Ou TRABALHA-se, ou DESCANSA-se (Portugal);

    Estuda muito, que te SER proveitoso (Brasil);

    Estuda muito, que SER-te- proveitoso (Portugal);12

    O estudo aproveita sempre, logo te APROVEITAR tambm (Brasil);

    O estudo aproveita sempre, logo APROVEITAR-te- tambm (Portugal);

    Tudo se TRANSFORMOU (Brasil);

    Tudo TRANSFORMOU-se (Portugal);

    Algo lhes SUCEDEU (Brasil);

    Algo SUCEDEU-lhes (Portugal);

    12 Neste caso, no to firme a tendncia dos lusitanos.

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    13

    Qualquer to DIR (Brasil);

    Qualquer DIR-to- (Portugal);

    Isso lhes SUCEDEU h j algum tempo (Brasil)

    Isso SUCEDEU-lhes h j algum tempo (Portugal);

    Aqueles to DIRO (Brasil);

    Aqueles DIR-to-O (Portugal);

    etc.

    Em todos estes casos, SEGUIMOS A TENDNCIA BRASILEIRA.

    OBSERVAO GERAL 2. Em todos os demais casos, afora os que ainda se

    trataro, em Portugal se tende nclise, enquanto no Brasil se emprega

    indiferentemente a nclise ou a prclise:13

    Ela VIU-os ontem (Portugal);

    Ela os VIU ontem ou Ela VIU-os ontem (Brasil);

    ... mas ENCONTROU-os ontem (Portugal);

    ... mas as ENCONTROU ontem ou ... mas ENCONTROU-as ontem (Brasil);

    etc.

    Nestes casos, SEGUIMOS A TENDNCIA LUSITANA.

    OBSERVAO GERAL 3. No s o infinitivo sem flexo14 e o gerndio no

    antecedido de em admitem sempre a nclise, seno que ESTA MESMA A POSIO

    QUE DEVEMOS PREFERIR NESTES CASOS:15

    Faremos de tudo para no MOLEST-los;

    Faro de tudo para no MOLESTAR-nos;

    No se cresce intelectualmente seno ESTUDANDO-o muito;

    Porque TRATANDO-se disto no h hesitar;

    etc.

    Mas:

    Disse-nos que no lhes SERMOS molestos um dever;

    Em se TRATANDO deste assunto, no possvel ter muitas certezas;

    etc.

    13 Indiferentemente, diga-se, na escrita, no na fala, em que se tende prclise.

    14 Lembre-se que a primeira e a terceira pessoa do singular do infinitivo no tm flexo: cantar,

    cantares, cantar, cantarmos, cantardes, cantarem.

    15 E devemos preferi-la firmemente.

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    14

    OBSERVAO GERAL 4. Caso especial e ltimo constitui a colocao do

    pronome tono com respeito s locues verbais ou aos grupos verbais que se

    comportam como se fossem locues. Quando disto se trata, E DESDE QUE NO SE

    INFRINJA NENHUMA DAS CLUSULAS ANTERIORES (nem A QUE INTERDITA A NCLISE A

    QUALQUER PARTICPIO), lcito empregar todas as posies:

    PRCLISE AO VERBO AUXILIAR OU AO QUE SE COMPORTE COMO TAL:

    Mrcia te HAVIA advertido...;

    Ns te QUEREMOS falar;

    Eles te ESTAVAM procurando;

    etc.

    NCLISE AO VERBO AUXILIAR OU AO QUE SE COMPORTE COMO TAL:

    Mrcia HAVIA-te advertido...;

    Ns QUEREMOS-te falar;

    Eles devem de QUERER-te falar;

    ESTAVAM-vos procurando;

    etc.;

    PRCLISE AO VERBO PRINCIPAL OU AO QUE SE COMPORTE COMO TAL:

    Ns queremos FALAR-te;

    Eles devem de querer FALAR-te;

    Estavam PROCURANDO-vos;

    etc.

    De todas estas possibilidades, preferimos e, sempre que possvel,

    empregamos a ltima: A PRCLISE AO VERBO PRINCIPAL OU AO QUE SE COMPORTE

    COMO TAL. H ainda a possibilidade (unicamente brasileira) de deixar o

    pronome solto entre as duas formas verbais, o que, sem chegar propriamente a

    constituir erro, no convm com o modelo de nossos melhores escritores e, pois,

    no de usar (ao menos) na escrita:

    Mrcia havia te advertido...;

    Ns queremos te falar;

    Eles devem de querer te falar;

    Estavam vos procurando;

    etc.

    MESCLISE AO VERBO AUXILIAR:

    TER-lhe-EMOS falado j;

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    15

    A tal hora, HAVER-se-O mudado j;

    etc.

    ATENO. Insista-se no interditado:

    no Teria falado-me, mas TER-me-IA falado, porque no possvel

    nclise a particpio;

    no Ter-me falado, mas TER-me- falado, porque no possvel

    nclise ao futuro do presente;

    no Teria-me falado, mas TER-me-IA falado, porque no possvel

    nclise ao futuro do pretrito;

    no No tinha-me falado, mas No me TINHA falado, porque no

    possvel prclise a verbo quando este se antecede de palavra negativa;16

    no Sei quando pensam-nos visitar, mas Sei quando nos PENSAM

    visitar ou, como preferimos, Sei quando pensam VISITAR-nos, porque no

    possvel prclise a verbo quando este se antecede de conectivo;

    no J ter-lhe-emos encontrado, mas TER-lhe-EMOS encontrado j,

    porque, com efeito, no possvel prclise a verbo quando este se antecede de

    advrbio no separado por vrgula;

    etc.

    16 Recorde-se que no se incluem nesta regra o infinitivo sem flexo nem o gerndio no

    antecedido de em.