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CURSO DE EXTENSÃO ELABORAÇÃO DE PROJETOS E INTERVENÇÃO SOCIAL PROFA. DRA CLEIDE MAGÁLI, 2017.1 INTRODUÇÃO ESTADO E TERCEIRO SETOR, INTERVENÇÕES E INTERVENÇÕES 1

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CURSO DE EXTENSÃO

ELABORAÇÃO DE PROJETOS E INTERVENÇÃO SOCIAL

PROFA. DRA CLEIDE MAGÁLI, 2017.1

INTRODUÇÃO

ESTADO E TERCEIRO SETOR, INTERVENÇÕES E INTERVENÇÕES

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ESTADO

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O ESTADO

“...a intervenção estatal via políticas sociais, regulando e/ou propiciando condições

de manutenção e reprodução de uma parcela da população, é considerada uma

função intrínseca ao Estado moderno, configurando padrões de direitos sociais

próprios a cada nação”. (FLEURY, 2016, p.9)

A compreensão do Estado moderno passa pela definição dos elementos que o

diferenciam das formas anteriormente existentes de poder político. Segundo Gruppi

(1980:7), poderíamos caracterizar o Estado moderno como o poder político que se

exerce sobre um território e um conjunto demográfico. Este Estado, que supõe um

governo unitário e cujo poder se exerce em nome de uma nação (um povo e um

território), tem na sua soberania plena e em sua separação da sociedade civil, os

principais elementos diferenciadores das formas que o precederam. (FLEURY, 2016,

p.12)

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Teorias sobre Estado (FLEURY, 2016) no debate contemporâneo:

O ESTADO COMO INSTRUMENTO (ver Miliband e seus críticos)

O ESTADO COMO DERIVAÇÃO (ver O'Donnell)

O ESTADO COMO SELETIVIDADE ESTRUTURAL (ver Claus Offe)

O ESTADO AMPLIADO (ver Gramsci, Anderson, 1986; Bobbio: 1987)

O ESTADO COMO RELAÇÃO (ver Poulantzas)

O ESTADO CONSENSUAL (Habermas e Przeworski)

ENFIM,

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“...a POLÍTICA SOCIAL encontra-se inscrita quer como possibilidade quer como

necessidade no interior do Estado capitalista. Em outras palavras, a política social seria

a resultante possível e necessária das relações que historicamente se estabeleceram no

desenvolvimento das contradições entre capital e trabalho, mediadas pela intervenção

do Estado, e envolvendo pelo menos três atores principais: a burocracia estatal, a

burguesia industrial e os trabalhadores urbanos”. (FLEURY, 2016)

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Foucault (1979:12) identifica a política como o campo de enfrentamento científico e

ideológico de diferentes propostas de ordem social, ou diferentes regimes de verdade:

"cada sociedade tem seu regime de verdade, sua 'política geral' de verdade: isto é, os

tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as

instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como

se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a

obtenção, da verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona

como verdadeiro“

Neste sentido, a construção do status de cidadão é parte intrínseca e fundamental na

consolidação de um regime de verdade, com sua pauta de direitos e deveres; suas téc-

nicas, saberes e especializações; suas regras de inclusão e exclusão; constituindo-se em

um dispositivo de verdade sobre o qual se fundamenta o poder.

É através da operação deste dispositivo que as políticas sociais reproduzem a estrutura de

dominação e subalternização, como chamou atenção Sposati (1988:48) analisando as

políticas assistenciais, ao identificar seu efeito político, de institucionalização da

discriminação, contraditoriamente aos ideais igualitários (FLEURY, 2016, p 52)

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como afirma Gomes (1979:31)"... a chamada "Questão Social", nos termos do

reconhecimento de um conjunto de novos problemas vinculados às modernas

condições de trabalho urbano e dos direitos sociais que daí adviriam originou-

se na Europa do século XIX, a partir das grandes transformações sociais,

políticas e econômicas trazidas pela revolução industrial. Portanto, o

"problema da pobreza" nem sempre fora considerado um "problema", ou um

fenômeno disfuncional para a vida das sociedades, devendo, por esta razão,

ser enfrentado e resolvido para sua segurança e progresso material". (FLEURY,

2016, p 60)

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"Só um parênteses (para a sociedade que pode, não foi nosso caso)

Um Welfare State pode ser definido como uma política na qual as responsabilidades

estatais vão além da mera manutenção da ordem interna e externa e da segurança, em

direção a uma responsabilidade pública pelo bem-estar dos cidadãos" (Alber, 1988:451

In FLEURY, 2016, p110)

Mas ainda

Esping-Andersen (1980:258) propõe-se a pensá-lo como intervenção na esfera do

consumo, na esfera da distribuição e na esfera das relações de produção. Tal análise

encaminha-o a enquadrar o Welfare State como um produto da luta de classes ou, mais

amplamente, uma articulação do conflito distributivo: "O Welfare State é um produto

particular da demanda que logicamente emerge da posição em que se encontram os

assalariados; isto é, o mais provável produto onde as demandas as- salariadas ganham

uma expressão política" (1985:227). Ou ainda: "O Welfare State é visto como uma

articulação de conflitos distributivos, em particular, um conflito entre princípios de

mercado e princípios de alocação política, centra- dos em torno dos arranjos

institucionais das políticas sociais“ (FLEURY, 2016, p110)

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ECONOMIA/POLÍTICA/ESTADO

NAÇÃO/CLASSES/HEGEMONIA

CAPITALISMO Ε DEMOCRACIA

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ALGUMAS INDICAÇÕES PARA ANÁLISE DO ESTADO LATINO-AMERICANO

ESTADO, NAÇÃO Ε CIDADÃO

No caso dos países pioneiros - Chile, Uruguai, Argentina e Brasil -, que iniciaram

seus sistemas de SEGURIDADE SOCIAL no primeiro quartil deste século, em tomo da

década de 20, podemos encontrar um rol de identidades que nos permitem tratá-los

de uma maneira conjunta, tais como: a transição do modelo de dominação

oligárquico: a industrialização substitutiva de importações; a influência europeia na

composição da classe trabalhadora; a emergência de múltiplas instituições

fragmentadas; os governos populistas; as ditaduras militares; a crise financeira da

Seguridade; o envelhecimento dos sistemas e a transição demográfica; as tentativas

de reforma. (FLEURY, 2016, p164)

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BRASIL: QUESTÕES SOCIAIS E SEGURIDADE SOCIAL

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SEGURIDADE SOCIAL no BRASIL

A seguridade social é definida na Constituição Federal, no artigo 194, caput, como um

“conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade,

destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência

social”.

É, portanto, um sistema de proteção social que abrange os três programas sociais de maior

relevância: a previdência social, a assistência social e a saúde.

1 - SAÚDE (CF, artigos, 196 e seguintes):

A saúde é segmento autônomo da Seguridade Social e se diz que ela tem a finalidade mais

ampla de todos os ramos protetivos porque não possui restrição de beneficiários e o seu

acesso também não exige contribuição dos beneficiários.

A SAÚDE É DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO (CF, art. 196).

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SEGURIDADE SOCIAL no BRASIL (cont.)

A seguridade social é definida na Constituição Federal, no artigo 194, caput, como um

“conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade,

destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência

social”.

É, portanto, um sistema de proteção social que abrange os três programas sociais de maior

relevância: a previdência social, a assistência social e a saúde.

1 - SAÚDE (CF, artigos, 196 e seguintes):

A saúde é segmento autônomo da Seguridade Social e se diz que ela tem a finalidade mais

ampla de todos os ramos protetivos porque não possui restrição de beneficiários e o seu

acesso também não exige contribuição dos beneficiários.

A SAÚDE É DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO (CF, art. 196).

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SEGURIDADE SOCIAL no BRASIL (cont.)

2 – ASSISTÊNCIA SOCIAL (Constituição Federal, artigos 203 e 204)

A Constituição Federal, no artigo 203, caput estabelece que :

“A ASSISTÊNCIA SOCIAL SERÁ PRESTADA A QUEM DELA NECESSITAR, INDEPENDENTEMENTE DE

CONTRIBUIÇÃO À SEGURIDADE SOCIAL, E TEM POR OBJETIVOS (...) ” .

A assistência social é o segmento autônomo da seguridade social que tratar dos hipossuficientes, ou

seja, daqueles que não possuem condições de prover sua própria manutenção.

Cuidará daqueles que têm maiores necessidades, sem exigir deles (seus beneficiários) qualquer

contribuição à seguridade social.

A atuação protetiva fornecerá aquilo que for absolutamente indispensável para cessar o atual estado de

necessidade do assistido (Exs.: alimentos, roupas, abrigos e até mesmo pequenos benefícios em

dinheiro).

A assistência social serve para cobrir as lacunas deixadas pela previdência social que, devido a sua

natureza contributiva, acaba por excluir os necessitados.

São objetivos da assistência social (CF, art. 203, incisos):

I - proteção da família, da maternidade, infância, adolescência e velhice;

II - amparo às crianças e adolescentes carentes;

III - promoção da integração ao mercado de trabalho;

IV - habilitação e reabilitação de pessoas portadoras de deficiência e a promoção da sua integração à

vida comunitária;

V - garantia de 1 salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que

comprovem não possuir meios de prover a sua própria subsistência, nem de tê-la provida por sua família

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SEGURIDADE SOCIAL no BRASIL (cont.)

3 – PREVIDÊNCIA SOCIAL (arts. 201 e 202 CF)

Este segmento autônomo da seguridade social vai se preocupar exclusivamente com

os trabalhadores e com os seus dependentes econômicos.

A previdência social é a técnica de proteção social destinada a afastar necessidades sociais

decorrentes de contingências sociais que reduzem ou eliminam a capacidade de auto

sustento dos trabalhadores e/ou de seus dependentes.

Contingência social são fatos e/ou acontecimentos que, uma vez ocorridos, tem a força de

colocar uma pessoa e/ou seus dependentes em estado de necessidade, como por exemplos

invalidez (incapacidade), óbito, idade avançada, ...

A Previdência Social, como visto, tem em mira contingências bem específicas: aquelas que

atingem o trabalhador e, via reflexa, seus dependentes, pessoas consideradas

economicamente dependentes do segurado. Essa dependência pode ser presumida por lei (no

caso de cônjuges, filhos menores e/ou incapazes) ou comprovada no caso concreto (no caso

de pais que dependiam economicamente do filho que veio a óbito).

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TERCEIRO SETOR

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DEFINIÇÃO de TERCEIRO SETOR

A denominação “terceiro setor” se explicaria, para diferenciá-lo do Estado

(Primeiro Setor) e do setor privado (Segundo Setor). Ambos não estariam

conseguindo responder às demandas sociais: o primeiro, pela ineficiência; o

segundo, porque faz parte da sua natureza visar o lucro. Essa lacuna seria

assim ocupada por um “terceiro setor” supostamente acima da sagacidade do

setor privado e da incompetência e ineficiência do Estado. É comum na

literatura sobre o tema classificá-lo como “sem fins lucrativos”1

1 Ver entre outros, FERNANDES, Rubens César (1994).Privado porém público: o terceiro setor na América Latina. Rio de Janeiro:

Relume-Dumará; COELHO, Simone de Castro T. (2000). Terceiro setor: um estudo comparado entre Brasil e Estados Unidos. São Paulo:

SENAC.

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DEFINIÇÃO de TERCEIRO SETOR (cont.)

O Terceiro Setor é constituído por organizações criadas por iniciativas privadas que geram

bens e serviços de caráter público. Essa característica marcante do Terceiro Setor é que o

distingue dos outros dois setores tradicionais: o Estado e o mercado. Essa distinção baseia-se em

uma visão conceitual da sociedade em que se dá relevância às possíveis formas de se constituir

organizações.

Assim o Terceiro Setor é constituído a partir de uma iniciativa privada, isto é, qualquer

pessoa pode criar uma organização do setor, mas que a finalidade dessa organização, em última

instância, é o atendimento da população. Tal qual o Estado, o Terceiro Setor tem uma finalidade

pública

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DEFINIÇÃO de TERCEIRO SETOR (cont.)

A definição do Terceiro Setor tem gerado muita controvérsia, dentro e fora do mundo

acadêmico. Por questões práticas, o que significa ter em vista a dimensão econômica

do setor, a definição tem hoje duas correntes predominantes que procuram

estabelecer as fronteiras entre o Terceiro Setor, o setor privado e o Estado.

1) A corrente europeia identifica o Terceiro Setor com a economia social. A economia social

engloba os seguintes setores:

Cooperativismo (onde se identifica a figura do trabalhador com a do empresário);

Mutualismo (onde se identifica o uso de serviços com a adesão à organização);

Associativismo (onde predomina a forma livre de associação dos cidadãos).

2) A linha de pensamento norte-americana, identificada com o Center for Policy Studies, da

Johns Hopkins University, define o Terceiro Setor como sendo constituído de:

a. Organizações estruturadas;

b. Localizadas fora do aparato formal do Estado;

c. Que não são destinadas a distribuir lucros auferidos com suas atividades entre os

seus Diretores ou entre um conjunto de acionistas;

d. Autogovernadas;

e. Envolvem indivíduos num significativo esforço voluntário.

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Os principais personagens do terceiro setor são:

Fundações : São as instituições que financiam o terceiro setor, fazendo doações às

entidades beneficentes. No Brasil, temos também as fundações mistas que doam para

terceiros e ao mesmo tempo executam projetos próprios.

Entidades Beneficentes: São as operadoras de fato, cuidam dos carentes, idosos,

meninos de rua, drogados e alcoólatras, órfãos e mães solteiras; protegem

testemunhas; ajudam a preservar o meio ambiente; educam jovens, velhos e adultos;

profissionalizam; doam sangue, merenda, livros, sopão; atendem suicidas às quatro

horas da manhã; dão suporte aos desamparados; cuidam de filhos de mães que

trabalham; ensinam esportes; combatem a violência; promovem os direitos humanos e

a cidadania; reabilitam vítimas de poliomielite; cuidam de cegos, surdos-mudos;

enfim, fazem tudo

Fundos Comunitários : Community Chests são muito comuns nos Estados Unidos. Em

vez de cada empresa doar para uma entidade, todas as empresas doam para um

Fundo Comunitário, sendo que os empresários avaliam, estabelecem prioridades, e

administram efetivamente a distribuição do dinheiro

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Os principais personagens do terceiro setor são (cont.):

Entidades Sem Fins Lucrativos: Infelizmente, muitas entidades sem fins

lucrativos são, na realidade, lucrativas ou atendem os interesses dos próprios

usuários. Um clube esportivo, por exemplo, é sem fins lucrativos, mas beneficia

somente os seus respectivos sócios. Muitas escolas, universidades e hospitais

eram no passado, sem fins lucrativos, somente no nome. O importante é

diferenciar uma associação de bairro ou um clube que ajuda os próprios

associados de uma entidade beneficente, que ajuda os carentes do bairro.

ONGs Organizações Não Governamentais: Nem toda entidade beneficente

ajuda prestando serviços a pessoas diretamente. Uma ONG que defenda os

direitos da mulher, fazendo pressão sobre deputados, está ajudando

indiretamente todas as mulheres. Nos Estados Unidos, esta categoria é chamada

também de Advocacy Groups, isto é, organizações que lutam por uma causa. Lá,

como aqui, elas são muito poderosas politicamente.

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Empresas com Responsabilidade Social: A Responsabilidade Social, no

fundo, é sempre do indivíduo, nunca de uma empresa jurídica, nem de um

Estado impessoal. Caso contrário, as pessoas repassariam as suas

responsabilidades às empresas e ao governo, ao invés de assumirem para si.

Mesmo conscientes disso, vivem reclamando que os "outros" não resolvem os

problemas sociais do Brasil. Porém, algumas empresas vão além da sua

verdadeira responsabilidade principal, que é fazer produtos seguros,

acessíveis, produzidos sem danos ambientais, e de estimular seus

funcionários a serem mais responsáveis

Mais: Empresas Doadoras; Pessoas Físicas21

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CRITICAS AO TERCEIRO SETOR (MONTAÑO, 2016)

1- O Terceiro Setor é um apêndice das políticas neoliberais - Montãno deixa claro a importância do papelideológico que o "terceiro setor" cumpre na implementação das políticas neoliberais e a sua sintonia como processo de reestruturação do capital pós 70. Ou seja, flexibilização das relações de trabalho,afastamento do Estado das responsabilidades sociais e da regulação social entre capital e trabalho. Noentanto, o Estado, permanece como instrumento de consolidação “hegemônica do capital mediante seupapel central no processo de desregulação e (contra) reforma estatal, na reestruturação produtiva, naflexibilização produtiva e comercial, no financiamento ao capital, particularmente financeiro”(2002,p.17). O “terceiro setor” que, aparentemente, pode parecer um espaço de participação dasociedade, representa a fragmentação das políticas sociais e, por conseguinte, das lutas dos movimentossociais.

2- A descentralização administrativa e a privatização e a transferência para o “terceiro setor” dasrespostas às sequelas da “questão social” repercutem negativamente no aumento tendencial do nível dedesemprego profissional, na precarização das condições de trabalho, nas condições de emprego deassistentes sociais, professores, enfermeiros, médicos, entre outros profissionais. O conhecimento críticodeste processo e seu enfrentamento é o único caminho a seguir.” (MONTAÑO, 2016, p. 255-256)

3- “o antagonismo continua a luta entre capitalismo e socialismo, entre capital e trabalho, entre trabalhoabstrato, alienado e trabalho emancipado, entre sociedade de classes e exploração do trabalho alheio esociedade de livres produtores associados” (MONTAÑO, 2016, p. 280)

O autor toma o cuidado de separar as ONGs que buscam suas parcerias com os movimentos sociaisdas que, pelas suas práticas, procuram substituí-los. Remonta, historicamente, ao seu surgimentonos anos 70 quando “assumiam um papel articulador do lado dos movimentos sociais. Essas ONGsmudam de lugar nos anos 90: passaram a ocupar paulatinamente, o lugar dos movimentos sociaisdeslocando-os de seu espaço de luta e da preferência na adesão popular” (MONTAÑO, 2016, p.271). 22

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O TERCEIRO SETOR NO BRASIL

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O Terceiro Setor no Brasil

a Constituição de 1988 institucionaliza diretrizes que marcam a

ascensão de um novo modelo de gestão das políticas públicas baseado na

descentralização política e administrativa da União para as demais unidades

federadas, na responsabilidade do Estado, na participação da população, na

formulação e controle em todos os níveis de governo. Nas décadas seguintes foi

possível perceber, então, o conflito entre a expectativa da implementação de

políticas públicas que concretizassem os direitos conquistados, assegurados em

Lei, e as restrições políticas e econômicas para sua implementação (tendo por

exemplo, a construção do Sistema Único de Saúde – SUS).

ROCHA (2003) define descentralização como um processo político em

que o poder se desloca no interior do Estado e deste para a sociedade.

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O Terceiro Setor no Brasil (cont.)

Para ALMEIDA (2005) o termo descentralização pode ter uma gama

variada de significados, e tem sido utilizado na descrição de modificações

ocorridas na estrutura e papéis do Estado brasileiro. Tais modificações têm

atingido graus e formas variadas, através de: transferência de capacidades

fiscais e de decisão sobre políticas para autoridades subnacionais; transferência

para outras esferas de governo de responsabilidades pela implementação e

gestão de políticas e programas definidos no nível federal; e deslocamento de

atribuições do governo nacional para os setores privado e não-governamental.

Na área de políticas sociais, a descentralização significou transferência de

autonomia decisória e de recursos para os governos subnacionais e a

transferência para outras esferas de governo de responsabilidades pela

implementação e gestão de políticas e programas definidos no nível federal.

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Continua...

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REFERENCIAS

ALMEIDA, M. H. Recentralizando a federação?. Revista de Sociologia e Política n.24 Curitiba jun. 2005.

FLEURY, S. Estado sem cidadãos: seguridade social na América Latina [online]. Rio de Janeiro: Editora

FIOCRUZ,1994. 252 p. Disponível em

https://drive.google.com/drive/folders/0B9s9a0AM9AI9SDBrNGt6UWdET28. Acesso em nov. 2016

MAIA, Marilene. Gestão Social – Reconhecendo e construindo referenciais In Revista Virtual Textos &

Contextos, nº 4, dez. 2005 Disponível em

http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/1010/790

MONTAÑO. Carlos. Terceiro Setor e Questão Social: Crítica ao Padrão Emergente de Intervenção Social. São

Paulo: Cortez,2003. Disponível em

file:///D:/DOC/downloads/Terceiro%20Setor%20e%20Quest%C3%A3o%20Social%20Cr%C3%ADtica%20ao%20Padr

%C3%A3o%20Emergente%20de%20Interven%C3%A7%C3%A3o%20Social-Carlos%20Monta%C3%B1o%20.pdf Acesso

em nov. 2016

ROCHA, C. V. Anatomia de uma reforma: descentralização da educação publica de Minas Gerais em mudança

institucional: in DADOS - Revista de Ciências Sociais. v. 46 nº 3. pp. 557 a 592. Rio de Janeiro, 2003.