aula 2 (direito e moral)

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DIREITO E MORAL

A relao entre a sociedade e o Direito apresenta um duplo sentido de adaptao:1) de um lado, o ordenamento jurdico elaborado como processo de adaptao social e, para isto, deve ajustar-se s condies do meio; 2) de outro, o Direito estabelecido cria a necessidade de o povo adaptar o seu comportamento aos novos padres de convivncia.

Pontes de Miranda se refere ao Direito como um fenmeno de adaptao: O Direito no outra coisa que processo de adaptao; Direito processo de adaptao social, que consiste em se estabelecerem regras de conduta, cuja incidncia independente da adeso daqueles a que a incidncia da regra jurdica possa interessar.

Este processo de adaptao externa da sociedade compe-se de normas jurdicas, que so as clulas do Direito, modelos de comportamento social, que fixam limites liberdade do homem, mediante imposio de condutas.

Na sua misso de proporcionar bem-estar, a fim de que os homens possam livremente atingir os ideais de vida e desenvolver o seu potencial para o bem, o Direito no deve absorver todos os atos e manifestaes humanas, de vez que no o nico responsvel pelo sucesso das relaes sociais. A Moral, a Religio, as Regras de Trato Social, igualmente zelam pela solidariedade e benquerena entre os homens. Cada qual, porm age em sua faixa prpria.

A anlise comparativa entre a ordem moral e a jurdica importante no apenas quando indica os pontos de distino, mas tambm quando destaca os focos de convergncia. A compreenso cabal do Direito no pode prescindir do exame dos intricados problemas que esta matria apresenta.

Distines de Ordem Formal A Determinao do Direito e a Forma no Concreta da Moral Enquanto o Direito se manifesta mediante um conjunto de regras que definem a dimenso da conduta exigida, que especificam a frmula do agir, a Moral estabelece uma diretiva mais geral, sem particularizaes.

Distines de Ordem Formal A Bilateralidade do Direito e a Unilateralidade da MoralAs normas jurdicas possuem uma estrutura imperativoatributiva, isto , ao mesmo tempo em que impem um dever jurdico a algum, atribuem um poder ou direito subjetivo a outrem. Da se dizer que a cada direito corresponde um dever. A Moral possui uma estrutura mais simples, pois impe deveres apenas. Perante ela, ningum tem o poder de exigir uma conduta de outrem. Fica-se apenas na expectativa de o prximo aderir s normas. Assim, enquanto o Direito bilateral, a Moral unilateral. A esta qualidade vinculativa, que ambos possuem, utilizamos a denominao alteridade, de alter, outro.

Distines de Ordem Formal Exterioridade do Direito e Interioridade da MoralAfirma-se que o Direito se caracteriza pela exterioridade, enquanto que a Moral, pela interioridade. Enquanto a Moral se preocupa pela vida interior das pessoas, como a conscincia, julgando os atos exteriores apenas como meio de aferir a intencionalidade, o Direito cuida das aes humanas em primeiro plano e, em funo destas, quando necessrio, investiga o animus do agente.

Distines de Ordem Formal Autonomia e Heteronomia O Direito possui heteronomia, que quer dizer sujeio ao querer alheio. As regras jurdicas so impostas independentemente da vontade de seus destinatrios. O indivduo no cria o dever-ser, como acontece com a Moral autnoma.

Distines de Ordem Formal Coercibilidade do Direito e Incoercibilidade da Moral Apenas o Direito coercvel, ou seja, capaz de adicionar a fora organizada do Estado, para garantir o respeito aos seus preceitos. Quando o sujeito passivo de uma relao jurdica, portador do dever jurdico, ope resistncia ao mandamento legal, a coao se faz necessria, essencial efetividade. A coao, portanto, somente se manifesta na hiptese da no-observncia dos preceitos legais. A Moral, por seu lado, carece do elemento coativo. incoercvel. Nem por isso as normas da Moral social deixam de exercer uma certa intimidao. Consistindo em uma ordem valiosa para a sociedade, natural que a inobservncia de seus princpios provoquem uma reao por parte dos membros que integram o corpo social. Essa reao assume carter no apenas punitivo, mas exerce tambm uma funo intimidativa, desestimulante da violao das normas morais.

TEORIA DOS CRCULOS CONCNTRICOS Representao GrficaA ordem jurdica estaria includa totalmente no campo da Moral. Desta teoria infere-se:O campo da Moral mais amplo do que o do Direito; O Direito se subordina Moral; As correntes tomistas e neotomistas que condicionam a validade das leis sua adaptao aos valores morais seguem esta linha de pensamento. Tambm conhecido como Teoria do Mnimo tico.MORAL

DIREITO

A Teoria do Mnimo ticoConforme Miguel Reale A teoria do mnimo tico diz que o direito representa o mnimo da moral, ou seja, o direito uma parte da moral, ou seja, tudo o que jurdico moral, mas nem tudo o que moral jurdico. Dessa forma, o Direito no algo de diverso da Moral, mas uma parte desta, armada de garantias especficas.

Crticas sobre a Teoria do Mnimo ticoConforme Miguel Reale Ser certo dizer que todas as normas jurdicas se contm no plano moral? Ser mesmo que o bem social sempre se realiza com plena satisfao dos valores da subjetividade, do bem pessoal de cada um? Uma regra de trnsito, como, por exemplo, aquela que exige que os veculos obedeam mo direita, uma norma jurdica. Se amanh, o legislador, obedecendo a imperativos tcnicos, optar pela mo esquerda, poder essa deciso influir no campo moral? H um artigo no Cdigo de Processo Civil, segundo o qual o ru, citado para a ao, deve oferecer a sua contrariedade no prazo de 15 dias. E por que no de 10, de 20, ou de 30? Se assim fosse, porm, influiria isso na vida moral? So razes puramente tcnicas, de utilidade social, que resolvem muitos problemas de carter jurdico. No exato, portanto, dizer que tudo o que se passa no mundo jurdico seja ditado por motivos de ordem moral. Por isso, conclui-se que o direito tutela muita coisa que no moral.

TEORIA DOS CRCULOS SECANTES Representao Grfica A representao geomtrica da relao entre os dois sistemas no seria a dos crculos concntricos, mas a dos crculos secantes. Assim, Direito e Moral possuiriam uma faixa de competncia comum e, ao mesmo tempo, uma rea particular independente.

MORAL

DIREITO

TEORIA CONFORME HANS KELSEN Representao Grfica Ao desvincular o Direito da Moral, Hans Kelsen concebeu os dois sistemas como esferas independentes. Para o famoso cientista do Direito, a norma o nico elemento essencial ao Direito, cuja validade no depende de contedos morais.

DIREITO

MORAL

A MORAL A Moral o mundo da conduta espontnea, do comportamento que encontra em si prprio a sua razo de existir. O ato moral implica a adeso do esprito ao contedo da regra. S temos, na verdade, Moral autntica quando o indivduo, por um movimento espiritual espontneo realiza o ato enunciado pela norma. No possvel conceber-se o ato moral forado, fruto da fora ou da coao. Ningum pode ser bom pela violncia. S possvel praticar o bem, no sentido prprio, quando ele nos atrai por aquilo que vale por si mesmo, e no pela interferncia de terceiros, pela fora que venha consagrar a utilidade ou a convenincia de uma atitude.

A MORAL A Moral, para realizar-se autenticamente, deve contar com a adeso dos obrigados. Quem pratica um ato, consciente da sua moralidade, j aderiu ao mandamento a que obedece. Ex: Se respeito meu pai, pratico um ato na plena convico da sua intrnseca valia, coincidindo o ditame de minha conscincia com o contedo da regra moral. Acontecer o mesmo com o Direito? Haver, sempre, uma adequao entre a minha maneira de pensar e agir e o fim que, em abstrato, a regra jurdica prescreve?

Outra Diferena bsica entre Direito e Moral H que se ressaltar tambm a bilateralidade atributiva, que quando duas ou mais pessoas se relacionam segundo uma proporo objetiva que as autoriza a pretender ou a fazer garantidamente algo. Quando um fato social apresenta esse tipo de relacionamento dizemos que ele jurdico. Onde no existe proporo no pretender, no exigir ou no fazer no h Direito, como inexiste este se no houver garantia especfica para tais atos. Bilateralidade atributiva , pois, uma proporo intersubjetiva, em funo da qual os sujeitos de uma relao ficam autorizados a pretender, exigir, ou a fazer, garantidamente, algo.

O COSTUME H, na sociedade, outra categoria de regras que so seguidas por fora do costume, de hbitos consagrados, ou, como impropriamente se diz, em virtude de conveno social. So as normas de trato social, que vo desde as regras mais elementares do decoro s mais refinadas formas de etiqueta e de cortesia.

O COSTUME Esse tipo de regras ocupa uma situao intermdia entre a Moral e o Direito. Ningum pode ser coagido, por exemplo, a ser corts, pois inconcebvel a cortesia forada, como seria uma saudao feita sob ameaa de agresso. Nesse ponto, as normas convencionais compartilham da espontaneidade e da incoercibilidade prprias da Moral.

O COSTUME Quem desatende a essa categoria de regras sofre uma sano social, sem dvida, tal como a censura ou o desprezo pblico, mas no pode ser coagido a pratic-las. Por outro lado, no indispensvel que os atos de bom tom ou de cavalheirismo sejam praticados com sinceridade. Para que seja atendida uma norma de trato social basta, com efeito, a adequao exterior do ato regra, sendo dispensvel aderir a seu contedo: nesse ponto, as regras de trato social coincidem com o Direito, no que este possui de heteronomia.

O COSTUME Por outro lado, as regras costumeiras so bilaterais, tanto como as da Moral, mas no so bilateral-atributivas, razo pela qual ningum pode exigir que o sadem respeitosamente: a atributividade surge to-somente quando o costume se converte em norma jurdica consuetudinria, ou ento quando o ato de cortesia se transforma em obrigao jurdica, como se d com a saudao do militar ao superior hierrquico, que passa a ser "continncia".

vista do exposto, pode-se resumir as notas distintivas dos trs campos da tica compondo o seguinte quadro:COERCIBILIDADE HETERONOMIA BILATERALIDADE ATRIBUTIVIDADE

MORAL DIREITO COSTUME

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