aula 19 - grandes vultos do espiritismo no brasil

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FEESP – Federação Espírita do Estado de São Paulo 2º ano do curso básico de espiritismo 4ª. feira – 19h30 Expositor: Gregório. Data: 21/09/2011 Aula 19 Grandes vultos do Espiritismo no Brasil Anália Franco Nascida na cidade de Resende, Estado do Rio de Janeiro, no dia 1o. de fevereiro de 1856, e desencarnada em S. Paulo, no dia 13 de janeiro de 1919. Seu nome de solteira era Anália Emília Franco. Após consorciar- se em matrimônio com Francisco Antônio Bastos, seu nome passou a ser Anália Franco Bastos, entretanto, é mais conhecida por Anália Franco. Com 16 anos de idade entrou num Concurso de Câmara dessa cidade e logrou aprovação para exercer o cargo de professora primária. Trabalhou como assistente de sua própria mãe durante algum tempo. Anteriormente a 1875 diplomou- se Normalista, em S. Paulo. Foi após a Lei do Ventre Livre que sua verdadeira vocação se exteriorizou: a vocação literária. Já era por esse tempo notável como literata, jornalista e poetisa, entretanto, chegou ao seu conhecimento que os nascituros de escravas estavam previamente destinados à "Roda" da Santa Casa de Misericórdia. Já perambulavam, mendicantes, pelas estradas e pelas ruas, os negrinhos expulsos das fazendas por impróprios para o trabalho. Não eram, como até então "negociáveis", com seus pais e os adquirentes de cativos davam preferência às escravas que não tinham filhos no ventre. Anália escreveu, apelando para as mulheres fazendeiras. Trocou seu cargo na Capital de São Paulo por outro no Interior, a fim de socorrer as criancinhas necessitadas. Num bairro duma cidade do norte do Estado de S. Paulo conseguiu uma casa para instalar uma escola primária. Uma fazendeira rica lhe cedeu a casa escolar com uma condição, que foi frontalmente repelida por Anália: não deveria haver promiscuidade de crianças brancas e negras. Diante dessa condição humilhante foi recusada a gratuidade do uso da casa, passando a pagar um aluguel. A fazendeira guardou ressentimento à altivez da professora, porém, naquele local Anália inaugurou a sua primeira e original "Casa Maternal". Começou a receber todas as crianças que lhe batiam à porta, levadas por parentes ou apanhadas nas moitas e desvios dos caminhos. A fazendeira, abusando do prestígio político do marido, vendo que a sua casa, embora alugada, se transformara num albergue de negrinhos, resolveu acabar com aquele "escândalo" em sua fazenda. Promoveu diligências junto ao coronel e este conseguiu facilmente a remoção da professora. Anália foi para a cidade e alugou uma casa velha, pagando de seu bolso o aluguel correspondente à metade do seu ordenado. Como o restante era insuficiente para a alimentação das crianças, não trepidou em ir, pessoalmente, pedir esmolas para a meninada. Partiu de

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Aula 19 ministrada pelo expositor Gregório dia 21/09/2011.

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Page 1: Aula 19 - Grandes vultos do espiritismo no Brasil

FEESP – Federação Espírita do Estado de São Paulo 2º ano do curso básico de espiritismo

4ª. feira – 19h30

Expositor: Gregório. Data: 21/09/2011

Aula 19

Grandes vultos do Espiritismo no Brasil

Anália Franco

Nascida na cidade de Resende, Estado do Rio de Janeiro, no dia 1o. de fevereiro de 1856, e desencarnada em S. Paulo, no dia 13 de janeiro de 1919. Seu nome de solteira era Anália Emília Franco. Após consorciar- se em matrimônio com Francisco Antônio Bastos, seu nome passou a ser Anália Franco Bastos, entretanto, é mais conhecida por Anália Franco. Com 16 anos de idade entrou num Concurso de Câmara dessa cidade e logrou aprovação para exercer o cargo de professora primária. Trabalhou como assistente de sua própria mãe durante algum tempo. Anteriormente a 1875 diplomou- se Normalista, em S. Paulo. Foi após a Lei do Ventre Livre que sua verdadeira vocação se exteriorizou: a vocação literária. Já era por esse tempo notável como literata, jornalista e poetisa, entretanto, chegou ao seu conhecimento que os nascituros de escravas estavam previamente destinados à "Roda" da Santa Casa de Misericórdia. Já perambulavam, mendicantes, pelas estradas e pelas ruas, os negrinhos expulsos das fazendas por impróprios para o trabalho. Não eram, como até então "negociáveis", com seus pais e os adquirentes de cativos davam preferência às escravas que não tinham filhos no ventre. Anália escreveu, apelando para as mulheres fazendeiras. Trocou seu cargo na Capital de São Paulo por outro no Interior, a fim de socorrer as criancinhas necessitadas. Num bairro duma cidade do norte do Estado de S. Paulo conseguiu uma casa para instalar uma escola primária. Uma fazendeira rica lhe cedeu a casa escolar com uma condição, que foi frontalmente repelida por Anália: não deveria haver promiscuidade de crianças brancas e negras. Diante dessa condição humilhante foi recusada a gratuidade do uso da casa, passando a pagar um aluguel. A fazendeira guardou ressentimento à altivez da professora, porém, naquele local Anália inaugurou a sua primeira e original "Casa Maternal". Começou a receber todas as crianças que lhe batiam à porta, levadas por parentes ou apanhadas nas moitas e desvios dos caminhos. A fazendeira, abusando do prestígio político do marido, vendo que a sua casa, embora alugada, se transformara num albergue de negrinhos, resolveu acabar com aquele "escândalo" em sua fazenda. Promoveu diligências junto ao coronel e este conseguiu facilmente a remoção da professora. Anália foi para a cidade e alugou uma casa velha, pagando de seu bolso o aluguel correspondente à metade do seu ordenado. Como o restante era insuficiente para a alimentação das crianças, não trepidou em ir, pessoalmente, pedir esmolas para a meninada. Partiu de

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manhã, à pé, levando consigo o grupinho escuro que ela chamava, em seus escritos, de "meus alunos sem mães". Numa folha local anunciou que, ao lado da escola pública, havia um pequeno "abrigo" para as crianças desamparadas. A fama, nem sempre favorável da novel professora, encheu a cidade. A curiosidade popular tomou- se de espanto, num domingo de festa religiosa. Ela apareceu nas ruas com seus "alunos sem mães", em bando precatório. Moça e magra, modesta e altiva, aquela impressionante figura de mulher, que mendigava para filhos de escravas, tornou- se o escândalo do dia. Era uma mulher perigosa, na opinião de muitos. Seu afastamento da cidade principiou a ser objeto de consideração em rodas políticas, nas farmácias. Mas rugiu a seu favor um grupo de abolicionistas e republicanos, contra o grande grupo de católicos, escravocratas e monarquistas. Com o decorrer do tempo, deixando algumas escolas maternais no Interior, veio para S. Paulo. Aqui entrou brilhantemente para o grupo abolicionista e republicano. Sua missão, porém, não era política. Sua preocupação maior era com as crianças desamparadas, o que a levou a fundar uma revista própria, intitulada "Álbum das Meninas", cujo primeiro número veio a lume a 30 de abril de 1898. O artigo de fundo tinha o título "Às mães e educadoras". Seu prestígio no seio do professorado já era grande quando surgiram a abolição da escravatura e a República. O advento dessa nova era encontrou Anália com dois grandes colégios gratuitos para meninas e meninos. E logo que as leis o permitiram, ela, secundada por vinte senhoras amigas, fundou o instituto educacional que se denominou "Associação Feminina Beneficente e Instrutiva", no dia 17 de novembro de 1901, com sede no Largo do Arouche, em S. Paulo. Em seguida criou várias "Escolas Maternais" e "Escolas Elementares", instalando, com inauguração solene a 25 de janeiro de 1902, o "Liceu Feminino", que tinha por finalidade instruir e preparar professoras para a direção daquelas escolas, com o curso de dois anos para as professoras de "Escolas Maternais" e de três anos para as "Escolas Elementares". Anália Franco publicou numerosos folhetos e opúsculos referentes aos cursos ministrados em suas escolas, tratados especiais sobre a infância, nos quais as professoras encontraram meios de desenvolver as faculdades afetivas e morais das crianças, instruindo- as ao mesmo tempo. O seu opúsculo "O Novo Manual Educativo", era dividido em três partes: Infância, Adolescência e Juventude. Em 1o. de dezembro de 1903, passou a publicar "A Voz Maternal", revista mensal com a apreciável tiragem de 6.000 exemplares, impressos em oficinas próprias. A Associação Feminina mantinha um Bazar na rua do Rosário n.o. 18, em S. Paulo, para a venda dos artefatos das suas oficinas, e uma sucursal desse estabelecimento na Ladeira do Piques n.o. 23. Anália Franco mantinha Escolas Reunidas na Capital e Escolas Isoladas no Interior, Escolas Maternais, Creches na Capital e no Interior do Estado, Bibliotecas anexas às escolas, Escolas Profissionais, Arte Tipográfica, Curso de Escrituração Mercantil, Prática de Enfermagem e Arte Dentária, Línguas (francês, italiano, inglês e alemão); Música, Desenho, Pintura, Pedagogia, Costura, Bordados, Flores artificiais e Chapéus, num total de 37 instituições. Era romancista, escritora, teatróloga e poetisa. Escreveu uma infinidade de livretos para a educação das crianças e para as Escolas, os quais são dignos de serem adotados nas Escolas públicas. Era espírita fervorosa, revelando sempre inusitado interesse pelas coisas atinentes à Doutrina Espírita. Produziu a sua vasta cultura três ótimos romances: "A Égide Materna", "A Filha do Artista", e "A Filha Adotiva". Foi autora de numerosas peças teatrais, de diálogos e de várias estrofes, destacando- se "Hino a Deus", "Hino a Ana Nery", "Minha Terra", "Hino a Jesus" e outros. Em 1911 conseguiu, sem qualquer recurso financeiro, adquirir a "Chácara Paraíso". Eram 75 alqueires de terra, parte em matas e capoeiras e o restante ocupado com benfeitorias diversas, entre as quais um velho solar, ocupado durante longos anos por uma das mais notáveis figuras da História do Brasil: Diogo Antônio Feijó. Nessa chácara fundou Anália Franco a "Colônia Regeneradora D. Romualdo", aproveitando o casarão, a estrebaria e a antiga senzala, internando ali sob direção feminina, os garotos mais aptos para a Lavoura, a horticultura e outras atividades agropastoris, recolhendo ainda moças desviadas, conseguindo assim regenerar centenas de mulheres. A vasta sementeira de Anália Franco consistiu em 71 Escolas, 2 albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, 1 Banda Musical Feminina, 1 orquestra, 1 Grupo

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Dramático, além de oficinas para manufatura de chapéus, flores artificiais, etc., em 24 cidades do Interior e da Capital. Sua desencarnação ocorreu precisamente quando havia tomado a deliberação de ir ao Rio de Janeiro fundar mais uma instituição, idéia essa concretizada posteriormente pelo seu esposo, que ali fundou o "Asilo Anália Franco". A obra de Anália Franco foi, incontestavelmente, uma das mais salientes e meritórias da História do Espiritismo.

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Auta de Souza

do livro Auta de Souza Nasceu em Macaíba, então Arraial, depois cidade do Rio Grande do Norte a 12 de setembro de 1876, era magrinha, calada, de pele clara, um moreno doce à vista como veludo ao tato. Era filha de ELOI CASTRICIANO DE SOUZA, desencarnado aos 38 anos de idade e de Dona HENRIQUETA RODRIGUES DE SOUZA, desencarnada aos 27 anos, ambos tuberculosos. Antes dela ter completado 3 anos ficou órfã de mãe e aos 4 anos de pai. A sua existência, na terra foi assinalada por sofrimentos acerbos. Muito cedo conheceu a orfandade e ainda menina, aos dez anos, assistiu a morte de seu querido irmão IRINEU LEÃO RODRIGUES DE SOUZA, vitimado pelo fogo produzido pela explosão de um lampião de querosene, na noite de 16 de fevereiro de 1887. Auta de Souza e seus quatro irmãos foram criados em Recife no velho sobrado do Arraial, na grande chácara, pela avó materna Dona SILVINA MARIA DA CONCEIÇÃO DE PAULA RODRIGUES, vulgarmente chamada Dindinha e seu esposo FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES, que desencarnou quando Auta tinha 6 anos. Antes dos 12 anos, foi matriculada no Colégio São Vicente de Paulo, no bairro da Estância, onde recebeu carinhosa acolhida por parte das religiosas francesas que o dirigiam e lhe ofereceram primorosa educação: Literatura, Inglês, Música, Desenho e aprendeu a dominar também o Francês, o que lhe permitiu ler no original: Lamartine, Victor Hugo, chateubriand, Fénelon. De 1888 a 1890, a jovem Auta estuda, recita, verseja, ajuda as irmãs do Colégio, aprimora a beleza de sua fé, na leitura constante do Evangelho. Aos 14 anos, ainda no Educandário Estância, em 1890, manifestaram-se os primeiros sintomas da enfermidade que lhe roubou, em plena juventude, o viço e foi a causa de sua morte, ocorrida na madrugada de 7 de fevereiro de 1901 - Quinta-feira à uma hora e quinze minutos, na cidade de Natal, exatamente com 24 anos, 4 meses e 26 dias de idade. Os médicos nada puderam fazer e Dindinha retornou com todos para a terra Norte-Rio Grandense. Ei-los todos em Macaíba. Foi sepultada no cemitério do Alecrim e em 1906, seus restos mortais foram transladados para o jazigo da família, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Macaíba, sua terra natal. O forte sentimento religioso e mesmo a doença não impediram de ter uma vida absolutamente normal em sociedade. Era católica, mas não submissa ao clero. Ela não se macerou, não sarjou de cilícios a pele, não jejuou e jamais se enclastou. Era comunicativa, alegre, social. A religiosidade dela era profunda, sincera, medular, mas não ascética, mortificante, mística. Seu amor por Jesus Cristo, ao Anjo da Guarda, não a distanciaram de todos os sonhos das donzelas: Amor, lar, missão maternal. Com 16 anos, ao revelar o seu invulgar talento poético, enamorou-se do jovem Promotor Público de Macaíba, João Leopoldo da Silva Loureiro, com a duração apenas de um ano e poucos meses. Dotada de aguda sensibilidade e imaginação ardente dedicava ao namorado amor profundo, mas a tuberculose progredia e seus irmãos convenceram-na a renunciar. A separação foi cruel, mas apenas para Auta. O Promotor não

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demonstrou a menor reação.... É verdade que gostava de ouvi-la nas festas caseiras a declamar com sua belíssima voz envolvente, aveludada e com ela dançar quadrilhas, polcas e valsas, mas não era o homem indicado para amar uma alma tão delicada e sonhadora como Auta de Souza. Faltava-lhe o refinamento espiritual para perceber o sentimento que extravasava através dos olhos meigos da grande Poetisa. Essa sucessão de golpes dolorosos, marcou profundamente sua alma de mulher, caracterizada por uma pureza cristalina, uma fé ardente e um profundo sentimento de compaixão pelos humildes, cuja miséria tanto a comovia. Era vista lendo para as crianças pobres, para humildes mulheres do povo ou velhos escravos, as páginas simples e ingênuas da "História de Carlos Mágno", brochura que corria os sertões, escrita ao gosto popular da época. A orfandade da Poetisa ainda criança, o desencarne trágico de seu irmão, a moléstia contagiosa e a frustração no amor, esses quatro fatores amalgamados à forte religiosidade de Auta, levaram-na a compor uma obra poética singular na História da Literatura Brasileira "Horto", seu único livro, é um cântico de dor, mas, também, de fé cristã. A primeira edição do Horto saiu do prelo em 20 de Junho de 1900. O sofrimento veio burilar a sua inata sensibilidade, que transbordou em versos comovidos e ternos, ora ardentes, ora tristes, lavrados à sombra da enfermidade, no cenário desolador do sertão de sua terra. Em 14 de novembro de 1936, houve a instalação da Academia Norte-Rio Grandense de Letras, com a poltrona XX, dedicada a Auta de Souza. Livre do corpo, totalmente desgastado pela enfermidade, Auta de Souza, irradiando luz própria, lúcida e gloriosa alçou vôo em direção à Espiritualidade Maior. Mas a compaixão que sempre sentira pêlos sofredores fez com que a poetisa em companhia de outros Espíritos caridosos, visitasse, constantemente a crosta da terra. Foi através de Chico Xavier, que ela, pela primeira vez revelou sua identidade, transmitindo suas poesias enfeixadas em 1932, na primeira edição do "PARNASO DE ALÉM TÚMULO", lançado pela Federação Espírita Brasileira. Em sua existência física, Auta de Souza foi a AVE CATIVA que cantou seu anseio de liberdade; o coração resignado que buscou no Cristo o consolo das bem-aventuranças prometidas aos aflitos da terra. Além do túmulo, é o pássaro liberto e feliz que, tornado ao ninho dos antigos infortúnios, vem trazer aos homens a mensagem de bondade e esperança, o apelo à FÉ e a CARIDADE, indicando o rumo certo para a conquista da verdadeira vida. A Campanha de Fraternidade Auta de Souza, idealizada pelo companheiro Nympho de Paula Corrêa e aprovada em 3 de fevereiro de 1953, pelo Departamento de Assistência Social da Federação Espírita do Estado de São Paulo, então dirigido pelo saudoso confrade José Gonçalves Pereira, é uma bela homenagem à nossa querida Poetisa, AUTA DE SOUZA.

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Batuíra

Nasceu Batuíra aos 19 de Março de 1839, em Portugal, na freguesia de Águas Santas, hoje integrada no conselho de Maia. Filho de humildes camponeses, tendo apenas completado a instrução primária, veio, com cerca de 11 anos de idade, para o Brasil, aportando na Guanabara a 3 de Janeiro de 1.850. Durante três anos trabalhou no comércio da Corte. Daí passou para Campinas-SP, onde ficou por algum tempo até que se transferiu definitivamente para a capital paulista, que na ocasião deveria possuir menos de 30.000 habitantes. Aí, nos primeiros anos, foi distribuidor do "Correio Paulistano". Naquele tempo, não havia bancas de jornais nos lugares públicos. A entrega se fazia à tarde, de casa em casa, e tão somente aos assinantes. Diligente, honesto e espírito dócil, Batuíra, como entregador de jornais, ia formando amigos e admiradores em toda parte. Parece que neste período que aprendeu a arte tipográfica, certamente nas próprias oficinas do "Correio Paulistano". Batuíra, muito ativo, correndo daqui para acolá, foi apelidado "o batuíra", nome que o povo dava à narceja, ave pernalta, muito ligeira, de vôo rápido, que freqüentava os charcos na várzea formada, no atual Parque D. Pedro II, pelos transbordamentos do Rio Tamanduateí. O nome do rapazinho era ANTONIO GONÇALVES DA SILVA, mas, de então em diante, tomou para si o apelido de BATUÍRA. Dentro de pouco tempo, com as economias que reuniu, e naturalmente com o auxilio de pessoas amigas, montou um teatrinho nos fundos de uma taverna da rua Cruz Preta. Naquela modesta casa de espetáculos, muitos amadores fizeram sua estréia, inclusive Batuíra. Perseverando na sua faina, dedicou-se depois à fabricação de charutos. Assim, com bastante trabalho e economia, Batuíra fazia crescer suas modestas finanças, o que lhe permitiu esposar a Srta. BRANDINA MARIA DE JESUS, de quem teve um filho, JOAQUIM GONÇALVES BATUÍRA, que veio a falecer depois de homem feito e casado. Audaz como os grandes empreendedores o são, investiu seu dinheiro na compra de áreas desvalorizadas, iniciando a construção de pequenas casas para alugar, tornando-se assim um abastado proprietário, cujos haveres traduziam o fruto de muitos anos de trabalho árduo e honrado, unido a uma perseverança inquebrantável. Na ocasião em que tudo parecia correr bem, falece, quase repentinamente, o filho único de sua Segunda esposa, D. MARIA DA DORES COUTINHO E SILVA. Era uma criança de doze anos, por quem o casal se extremava em dedicação e carinho. Este golpe feriu profundamente aquele lar, que só pode encontrar lenitivo à dor na consoladora Doutrina dos Espíritos. Tão grande foi a paz que o Espiritismo lhes infundiu, que Batuíra imediatamente pôs mãos à obra, no desejo ardente de que outros companheiros de labutas terrenas tivessem conhecimento daquela abençoada fonte de esperanças novas. E dentro daquele corpo baixo e de compleição robusta, um coração de ouro iria dar mais larga expansão aos seus nobres sentimentos de amor ao próximo. No ano de 1.889, Batuíra passou a ser, na cidade de S. Paulo, o agente exclusivo do "Reformador", função de que se encarregou até 1.899 ou 1.900. No dia 6 de Abril de 1.890, restabeleceu o Grupo Espírita Verdade e luz que havia muito "se achava adormecido".

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Adquiriu então uma pequena tipografia, destinada a divulgação e propagação do Espiritismo, editando a publicação quinzenal chamada "Verdade e Luz", que atingiu no ano de l.897, a marca de 15.000 exemplares. Batuíra era também médium curador, sendo centenas as curas de caráter físico e espiritual que obtinha ministrando água efluviada ou aplicando "passes magnéticos". Em virtude de todos esses fatos, o povo, o mais beneficiado por Batuíra, passou a denominá-lo "Médico dos Pobres", cognome que igualmente aureolou o nome de Adolfo Bezerra de Menezes. A ação benemérita de Batuíra não se circunscrevia, entretanto a estas manifestações da caridade cristã. Foi muito mais além. Criou ele Grupos e Centros espíritas em S. Paulo, Minas Gerais, Estado do Rio, os quais animava e assistia; realizou conferências sobre diversos temas doutrinários, em inúmeras cidades de vários Estados, ocasião em que também visitava e curava irmãos sofredores; espalhou gratuitamente prospectos e folhetos de propaganda do Espiritismo, por ele próprio impressos, e distribuiu milhares de livros pelo interior do País. Batuíra, unido a outros confrades ilustres, constituiu na capital paulista, a 24 de Maio de 1.908, a "União Espírita do Estado de S. Paulo", que federaria todos os Centros e Grupos existentes no Estado. Assim era o valoroso obreiro da Terceira Revelação, o incansável lidador que nunca se deixou abater pelas asperezas da jornada, tendo sido incontestavelmente um dos maiores propagandistas do Espiritismo no Brasil. Carregando sobre os ombros muitas responsabilidades, não sentiu, tão preso se achava ao cumprimento dos seus deveres, que suas forças vitais se esgotavam rapidamente. Súbita enfermidade assalta-lhe o corpo e zombando de todos os recursos médicos, em poucos dias obriga-o a transpor as aduanas do além. Aos 22 de Janeiro de 1.909, Sexta-feira, cerca de uma hora da madrugada, faleceu Sr. ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA BATUÍRA.

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Caírbar Schutel

No dia 22 de setembro de 1868, filho do casal Anthero de Souza Schutel e Rita Tavares Schutel, nasceu Caírbar de Souza Schutel, no Rio de Janeiro, então sede da Corte Imperial do Brasil, onde praticou em diversas farmácias e aos 17 anos de idade foi para o Estado de São Paulo, trabalhando como farmacêutico em Piracicaba, Araraquara e depois em Matão, cidade em que viveu durante 42 anos. Possuidor de brilhante cultura, de grande prestígio social e sobretudo de notória autoridade moral, acabou sendo escolhido para o honroso e histórico cargo de primeiro Prefeito da cidade de Matão, cargo que ocupou por duas vezes, a primeira de 28 de março a 07 de outubro de 1899, voltando a exercê-lo de 18 de agosto a 15 de outubro de 1900, conforme consta das atas e dos registros históricos da municipalidade matonense. Nascido em família católica, batizado aos 7 anos de idade, Caírbar Schutel cumpria suas obrigações perante a Igreja de Roma. Entretanto, já adulto e vivendo em Matão, passou a receber, em sonhos, a visita constante de seus falecidos pais, porque ele ficara órfão de ambos com menos de 10 anos de idade. Insatisfeito com as explicações de um padre para o fenômeno, Schutel procurou Quintiliano José Alves e Calixto Prado, que realizavam reuniões de práticas espíritas domésticas, logrando então entender a realidade do mundo extrafísico. Convertido ao Espiritismo, cuidou logo de legalizar o Grupo (hoje Centro) Espírita Amantes da Pobreza, cuja ata de instalação foi lavrada no dia 15 de julho de 1905. Resolvido a difundir a Doutrina Espírita pelos quatro cantos do mundo - e mesmo vivendo em uma pequena e modesta cidade no interior do Brasil -, o "Bandeirante do Espiritismo", como ficou conhecido Caírbar Schutel, fundou o jornal "O Clarim" no dia 15 de agosto de 1905, e a RIE - Revista Internacional de Espiritismo no dia 15 de fevereiro de 1925, ambos circulando até hoje. Além disso, o incansável arauto da Boa Nova, com todas as dificuldades da época e da região, viajava semanalmente até a cidade de Araraquara para proferir, aos domingos, as suas famosas 15 "Conferências Radiofônicas", pela Rádio Cultura de Araraquara (PRD - 4), no período de 19 de agosto de 1936 a 02 de maio de 1937. Escritor fértil, entre 1911 e 1937 escreveu os livros O batismo, Cartas a esmo, Conferências radiofônicas, Histeria e fenômenos psíquicos, O diabo e a igreja, Espiritismo e protestantismo, O espírito do cristianismo, Os fatos espíritas e as forças X..., Gênese da alma, Interpretação sintética do apocalipse, Médiuns e mediunidades, Espiritismo e materialismo, Parábolas e ensinos de Jesus, Preces espíritas, Vida e atos dos apóstolos, A questão religiosa, Liberdade e progresso, Pureza doutrinária, A vida no outro mundo e Espiritismo para crianças. Para publicá-los, Schutel não mediu esforços: adquiriu máquinas, papel, tinta, cola e outros insumos para impressão, procurando escolher sempre material de primeira categoria. Desse esforço surgiu a Casa Editora O Clarim, que hoje emprega inúmeros funcionários em Matão, tendo publicado mais de cem títulos de obras de renomados autores, encarnados e desencarnados. Consciente de sua responsabilidade como cidadão, cuidou de regularizar a sua união com Dª. Maria Elvira da Silva e Lima, com ela se casando no dia 31 de agosto de 1905; o casal Schutel não teve filhos carnais, porém sua dedicação aos semelhantes ficou indelevelmente marcada na história de Matão, uma vez que ambos jamais deixaram de atender aqueles que os procuravam.

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Depois de curta enfermidade, Caírbar Schutel faleceu em Matão, no dia 30 de janeiro de 1938. Durante e após suas exéquias, inúmeras pessoas de Matão, das cercanias, do Estado de São Paulo e de diversas regiões do Brasil prestaram-lhe comovente tributo de gratidão e reconhecimento pelo trabalho desenvolvido, tendo certamente cumprido a sua missão. Aliás, o prestigioso jornal 'A Comarca', de Matão, em sua edição de 6 de fevereiro de 1938, consignou o seguinte: "É absolutamente impossível em Matão falar-se quer da nossa história passada, quer da nossa história hodierna sem mencionar Caírbar Schutel. Caírbar Schutel foi, para Matão, um dínamo propulsor do seu progresso, um arauto dedicado e eloqüente das suas aspirações de cidade nascente. Mais do que isso foi o homem que, como farmacêutico, acorria com o seu saber e com a sua caridade à cabeceira dos doentes, naqueles tempos em que o médico era ainda nos sertões que beiravam o 'Rumo', uma autêntica 'avis rara'. "Militando na política por algum tempo, a sua atuação pode ser traduzida no curto parágrafo que abaixo transcrevemos, fragmento de um discurso pronunciado em 1923, na Câmara Estadual, pelo Deputado Dr. Hilário Freire, quando aquele ilustre parlamentar apresentou o projeto da criação da Comarca de Matão. Ei-lo: 'Em 1898, o operoso, humanitário e patriótico cidadão Sr. Caírbar de Souza Schutel, empregando todo o largo prestígio político de que gozava, e comprando com os seus próprios recursos o prédio para instalação da Câmara, conseguiu, por intermédio de um projeto apresentado e defendido pelo Dr. Francisco de Toledo Malta, de saudosa memória, a criação do município de Matão'. Dizem algumas comunicações mediúnicas que o Espírito Caírbar Schutel está, no mundo espiritual, encarregado pela divulgação do Espiritismo na Terra; sendo confirmada tal informação, essa nobre tarefa está muito dirigida, porque o movimento espírita deve muito ao querido "Bandeirante do Espiritismo", assim como à sua digníssima esposa Dª. Maria Elvira da Silva Schutel, pois, como diz a sabedoria popular, ao lado de um grande homem há sempre uma grande mulher! Eliseu da Motta Júnior é escritor, orador e diretor da Revista Internacional de Espiritismo - RIE, de Matão-SP.

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Dr. Augusto Militão Pacheco

Nascido no dia 13 de junho de 1866 e desencarnado em São Paulo, a 7 de julho de 1954. Muito deve o Espiritismo ao Dr. Augusto Militão Pacheco, pelo testemunho que deu da Doutrina dos Espíritos. Animado de uma fé imorredoura na vida espiritual conseguiu prelibar, através da existência transitória do corpo, a vida imortal do Espírito imperecível. Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, no ano de 1904, Militão Pacheco foi nesse mesmo ano convidado a ir ao Estado do Maranhão a fim de ajudar a debelar um surto de peste bubônica que grassava naquela região do norte do Brasil. Apesar de não contar com qualquer espécie de hospital de isolamento nem com condições adequadas para o combate àquela enfermidade contagiosa, dirigiu- se para lá em companhia do diretor do Hospital de Isolamento de S. Paulo, dois médicos mineiros e mais um outro, conseguindo marcante sucesso na tarefa. Nessa altura foi convidado para ser diretor do Serviço Sanitário do Estado do Maranhão pelo período de dois anos. Para lá transferiu- se com sua esposa e três filhos, porém, renunciou após oito meses de atividades intensas, por não ver atendidas as suas reivindicações, imprescindíveis para o bom andamento dos serviços. Nos primeiros anos do presente século (não nos foi possível comprovar se em 1901 ou 1902), comparecendo a uma sessão espírita, ali lembrou- se de sua filhinha desencarnada com apenas 52 dias de vida e formulou ardente solicitação mental para que ela viesse beijá-lo. Sem que tivesse qualquer conhecimento do desejo que alimentava, os médiuns videntes que ali estavam presentes, decorridos alguns minutos descreveram que o Espírito da menina havia se dirigido ao pai e ali estava cobrindo- o de beijos. Esse testemunho foi o suficiente para que Militão Pacheco se convertesse ao Espiritismo. Um outro fato veio mudar o rumo de sua vida, Sua esposa sofria, há alguns anos, de pertinaz enfermidade e, para curá-la havia ele esgotado todos os recursos que a medicina alopática lhe havia proporcionado. Visitando a família do Juiz de Direito, de Campinas, ela teve ali uma das suas crises. A esposa do juiz pediu permissão para recomendar- lhe um remédio homeopático. O remédio foi comprado e o tratamento iniciado. Após essa ocorrência ela teve apenas duas ameaças de crise e o mal desapareceu por completo. O Dr. Pacheco, que vinha exercendo a medicina alopática há cinco anos, procurou o único médico homeopata existente em Campinas, iniciando assim um estudo profundo sobre a homeopatia, para o que conseguiu alguns livros a título de empréstimo. Dali por diante deixou por completo de praticar a medicina alopática. No dia 23 de julho de 1896, através de decreto assinado pelo então presidente do Estado de S. Paulo, Jorge Tibiriçá e por Gustavo de Oliveira Godoy, Militão Pacheco foi nomeado, em comissão, para exercer o cargo de inspetor sanitário do Estado, cargo no qual foi efetivado a 26 de setembro do mesmo ano, exercendo- o até 1920, quando se aposentou. Durante mais de meio século, o Dr. Pacheco exerceu na capital paulista o apostolado da Medicina. E dlizemos apostolado porque foi notável médico no sentido cordial, humanitário, prestativo, dedicando- se inteiramente à tarefa de auxiliar o seu próximo, conseguindo desta forma realizar gigantesco trabalho de assistência individual e coletiva como poucos conseguiram realizar na Terra. O prestigioso jornal "Diário de S. Paulo", em sua edição de 27 de junho de 1944, publicou extensa reportagem sobre as festividades comemorativas do cinqüentenário de formatura e de exercício de

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profissão do Dr. Augusto Militão Pacheco. Através de numerosos discursos proferidos na oportunidade, pudemos conhecer verdadeiros rasgos de generosidade e de amor, partidos da figura inconfundível daquele que tinha em alta conta a dignidade humana e o sacerdócio da Medicina. Foi sempre de incomparável bondade no tratamento de todos os seus incontáveis clientes, retornando ao mundo espiritual abençoado por milhares de corações, legando aos homens uma vida que se constituiu em verdadeiro modelo de virtude, um exemplo incomparável de beleza moral, emanada de um caráter reto e de uma decisão inquebrantável. Muitas pessoas que não podiam pagar consultas, eram atendidas com igual dedicação e não raras voltavam com o auxílio financeiro para a aquisição dos remédios prescritos por aquelas mãos abençoadas. No terreno filosófico, conquanto fosse grande admirador de geniais pensadores de várias escolas, pois era um cidadão independente e portador de invejável cultura intelectual e científica, nunca negou a sua incondicional dedicação à Doutrina Espírita, tornando- se um dos espíritas mais respeitáveis e dignos em nosso Estado e mesmo no Brasil. Médico essencialmente homeopata, honrou e dignificou a medicina hahnemaniana, tendo consagrado ao Espiritismo o melhor de sua nobilitante e proveitosa existência. Era na realidade autêntica fonte inexgotável destinada a suavizar as dores do corpo e minorar os sofrimentos da alma. Em julho de 1936, quando se cogitou da fundação da Federação Espírita do Estado de S. Paulo, foi um dos elementos que mais propugnaram para essa realização. A reunião convocada para apreciar a redação final dos estatutos sociais e proceder à eleição da primeira diretoria, foi por ele presidida, passando a figurar como um dos seus sócios fundadores e sido eleito vice- presidente da primeira diretoria constituída. Durante muitos anos foi presidente da Associação Espírita São Pedro e São Paulo, uma das mais prestigiosas instituições espíritas de seu tempo, a qual posteriormente veio se integrar a Federação Espírita do Estado de São Paulo

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Edgard Armond

No dia 29 de novembro, às 4h30, no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, o comandante Edgard Armond retornou à pátria espiritual. Estava com 88 anos completos. Seu corpo foi sepultado no Cemitério de Vila Mariana. Foi, pioneiro do movimento de unificação, tendo lançado a idéia de criação da USE — União das Sociedades Espíritas. A Federação Espírita do Estado de São Paulo ganhou vida em suas mãos e, por 30 anos, cresceu sob seus cuidados; em 1973, a Aliança Espírita Evangélica nasceu sob sua inspiração. Edgard Armond foi, sem dúvida nenhuma, o continuador da obra de Bezerra de Menezes, no tocante à difusão e vivência do Espiritismo em seu aspecto religioso Filho de Henrique Ferreira Armond (de Barbacena) e de Leonor Pereira de Souza Armond (de Formiga), ambos de Minas Gerais. Nasceu a 14 de junho de 1894, em Guaratinguetá, Estado de São Paulo. Em Guaratinguetá fez os cursos primário e secundário, transferindo-se para São Paulo em 1912, e no mesmo ano, para o Rio de Janeiro, ingressando no comércio e, ao mesmo tempo, prosseguindo seus estudos. Em 1914, ao romper a Grande Guerra, voltou para São Paulo e alistou-se na Força Pública do Estado, como praça de pré e, dois anos depois, ingressou na Escola de Oficiais, como1º sargento, saindo aspirante em 1918, casando-se no ano seguinte com Nancy de Menezes, filha do Marechal do Exército Manoel Felix de Menezes. Em 1923 matriculou-se na Escola de Farmácia e Odontologia do Estado, diplomando-se em 1926. Na Revolução de 1930, como capitão, serviu no Estado Maior, voltando em seguida ao magistério militar na Escola de Oficiais e no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, lecionando administração e legislação militar. Em 1931 fez estudos e apresentou projeto de construção de uma estrada de rodagem, de Paraibuna a São Sebastião, visando ligar o litoral norte, abandonado e deserto, ao Planalto e ao sul de Minas; não havendo recursos disponíveis, utilizou praças da própria Força, prestes a serem desincorporados; como não se tratava de serviço próprio da corporação, o projeto sofreu grandes embaraços, mas foi, afinal, aprovado, cabendo-lhe a direção pessoal desse empreendimento, sem contar, entretanto, com os indispensáveis recursos materiais. Regressando em 1934, assumiu o subcomando da Escola de Oficiais; em seguida organizou a Inspetoria Administrativa da Força e, por conveniência organizativa, fez concurso para o quadro de Administração da Força Pública, sendo classificado como tenente-coronel, na chefia do Serviço de Intendência e Transporte, onde permaneceu até 1938, quando sofreu acidente grave, permanecendo, porém, nessa chefia até 1939, quando foi transferido para o Q.G.; solicitando reforma. Foi julgado inválido para o serviço militar, abandonando o serviço em princípios de 1940. Nesse último período escreveu: “Tratado de Topografia Ligeira” (dois volumes) e “Guerra Cisplatina” (Discursos). Em abril de 1938, passando pela praça João Mendes, foi abordado por um negro pedreiro, que lhe fizera, há tempos, um pequeno serviço em casa e que se apresentou dizendo ser freqüentador de um Centro Espírita de Vila Mariana e recebera a incumbência de procurá-lo e transmitir-lhe um recado, segundo o qual, em junho do referido ano, seria vítima de um sério acidente.

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Não deu importância ao aviso, mas nesse período de tempo, sofreu dois acidentes de carro, ligeiros, dos quais se livrou sem maiores conseqüências, até que, no dia 28 de junho, dirigindo seu carro oficial, teve um encontro com um caminhão de água da Prefeitura, no Parque D. Pedro II, quebrando os dois joelhos, além de outros ferimentos de menor importância. No dia seguinte, hospitalizado e ainda em estado de choque, foi procurado por duas pessoas: o motorista do caminhão que vinha pedir sua proteção para não perder o emprego e a sua carta (de habilitação), pedido esse que atendeu; e o pedreiro negro que informava que o que aconteceu fora para poder trabalhar para o Espiritismo. Após várias cirurgias e tratamentos custosos, ficou quase sem poder andar durante seis meses, passando, em seguida, a usar muletas, com grande redução de movimentos. Conhecia bem o espiritualismo em geral. Em 1910, na cidade natal, iniciou estudos sobre religiões e filosofias, demorando-se mais nos conhecimentos orientais, mais ricos de ensinamentos e de tradições. Em 1921, comandando na cidade de Amparo, entrou para a Maçonaria, para conhecimento desse setor tradicional, deixando de freqüentá-la alguns anos depois, no grau de mestre. Regressando à capital, fez contatos pessoais com líderes esoteristas, ocultistas e espíritas, entre outros Krishnamurti, Krum Heler, Jenerajadasa, Raul Silva (sobrinho de Batuíra) e o famoso médium Mirabelli, então em franco destaque no setor de efeitos físicos. Em 1936 concorreu a formar, a convite de Canuto Abreu, um grupo de estudos e praticas espirituais, que funcionava na residência do referido Canuto. Nessa época visitou vários Centros Espíritas particulares, que se dedicavam exclusivamente a trabalhos de efeitos físicos nos arrabaldes da capital, todos animados pelos resultados notáveis obtidos pela família Prado, em Belém do Pará. Lera, a essa altura, grande parte da literatura espírita e, um domingo à tarde, anos mais tarde (1939), passando pela rua do Carmo, notou aglomeração à porta da Associação das Classes Laboriosas; indagando, soube que ali estava se realizando uma comemoração de Kardec. Entrou e assistiu parte dela, ali vendo e ouvindo alguns líderes espíritas antigos, como, por exemplo, João Batista Pereira, Lameira de Andrade, Américo Montagnini, estando também presente o médium Chico Xavier, que apenas iniciava sua tarefa mediúnica. Nessa reunião recebeu um livreto intitulado Palavras do Infinito, de Humberto de Campos, contendo mensagens avulsas de entidades desencarnadas, distribuído pela recém-formada Federação Espírita do Estado de São Paulo. Esse opúsculo aumentou fortemente seu interesse pela Doutrina. Desde o ano anterior, convalescendo do grave acidente, já estava sendo levado a trabalhos de cooperação espírita, ajudando pessoas a preparar palestras e conferências, que o procuravam em casa, na recém-fundada Federação e em outras casas espíritas. Em 1939, já estando licenciado para reforma do serviço ativo, passou pela rua Maria Paula, para onde a Federação havia se mudado há poucos dias e, vendo à porta uma placa com o letreiro "Casa dos Espíritas do Brasil", entrou, sendo muito bem recebido, no corredor, pelo confrade João dos Santos, e por este apresentado a outros que ali se encontravam, com os quais palestrou algum tempo, sendo em seguida, convidado a colaborar, convite que aceitou. Dias depois, recebeu um memorando assinado por Américo Montagnini, presidente recém-eleito, comunicando haver sido eleito para o cargo de secretário-geral da Federação. Retirou-se da Administração da Casa em 1967. Aprendizes do Evangelho Para situar o Espiritismo à vontade em relação aos conhecimentos e tradições religiosas da humanidade, duas coisas foram também realizadas com desassombro: uma, no campo externo — a publicação de vários livros de formação cultural-doutrinária, como Os Exilados da Capela (1949) e Na Cortina do Tempo (1962), mostrando os albores das civilizações primitivas, seu intercâmbio com outros orbes, assuntos estes que, atualmente, estão sendo afoitamente tratados em obras “best-sellers” por escritores estrangeiros de nomeada; e no campo interno, no cumprimento do programa do Alto, se criou a Escola de Aprendizes do Evangelho (1950), órgão primeiro de uma Iniciação Espírita de larga esfera de ação, com base no Evangelho Cristão; e uma série de 21 livros didáticos, parte deles para uso na referida Escola e parte para a Fraternidade dos Discípulos de Jesus, termo global da Iniciação referida.

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Nessa Iniciação foram oferecidos conhecimentos espirituais mais amplos, com predominância do que foi estabelecido para a reforma íntima dos adeptos, base insubstituível da evangelização, a seu turno condição fundamental da redenção espiritual do homem encarnado. Ao adoecer, em fins de 1965, o Comandante, mesmo assim, prosseguiu colaborando oficialmente.

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Eurípedes Barsanulfo

Nascido em 1º de maio de 1880, na pequena cidade de Sacramento, Estado de Minas Gerais, e desencarnado na mesmo cidade, aos 38 anos de idade, em 1o. de novembro de 1918. Logo cedo manifestou- se nele profunda inteligência e senso de responsabilidade, acervo conquistado naturalmente nas experiências de vidas pretéritas. Era ainda bem moço, porém muito estudioso e com tendências para o ensino, por isso foi incumbido pelo seu mestre- escola de ensinar aos próprios companheiros de aula. Respeitável representante político de sua comunidade, tornou- se secretário da Irmandade de São Vicente de Paula, tendo participado ativamente da fundação do jornal "Gazeta de Sacramento" e do "Liceu Sacramentano". Logo viu- se guindado à posição natural de líder, por sua segura orientação quanto aos verdadeiros valores da vida. Através de informações prestadas por um dos seus tios, tomou conhecimento da existência dos fenômenos espíritas e das obras da Codificação Kardequiana. Diante dos fatos voltou totalmente suas atividades para a nova Doutrina, pesquisando por todos os meios e maneiras, até desfazer totalmente suas dúvidas. Despertado e convicto, converteu- se sem delongas e sem esmorecimentos, identificando-se plenamente com os novos ideais, numa atitude sincera e própria de sua personalidade, procurou o vigário da Igreja matriz onde prestava sua colaboração, colocando à disposição do mesmo o cargo de secretário da Irmandade. Repercutiu estrondosamente tal acontecimento entre os habitantes da cidade e entre membros de sua própria família. Em poucos dias começou a sofrer as conseqüências de sua atitude incompreendida. Persistiu lecionando e entre as matérias incluiu o ensino do Espiritismo, provocando reação em muitas pessoas da cidade, sendo procurado pelos pais dos alunos, que chegaram a oferecer- lhe dinheiro para que voltasse atrás quanto à nova matéria e, ante sua recusa, os alunos foram retirados um a um. Sob pressões de toda ordem e impiedosas perseguições, Eurípedes sofreu forte traumatismo, retirando- se para tratamento e recuperação em uma cidade vizinha, época em que nele desabrocharam várias faculdades mediúnicas, em especial a de cura, despertando- o para a vida missionária. Um dos primeiros casos de cura ocorreu justamente com sua própria mãe que, restabelecida, se tornou valiosa assessora em seus trabalhos. A produção de vários fenômenos fez com que fossem atraídas para Sacramento centenas de pessoas de outras paragens, abrigando- se nos hotéis e pensões, e até mesmo em casas de famílias, pois a todos Barsanulfo atendia e ninguém saía sem algum proveito, no mínimo o lenitivo da fé e a esperança renovada e, quando merecido, o benefício da cura, através de bondosos Benfeitores Espirituais. Auxiliava a todos, sem distinção de classe, credo ou cor e, onde se fizesse necessária a sua presença, lá estava ele, houvesse ou não condições materiais.

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Jamais esmorecia e, humildemente, seguia seu caminho cheio de percalços, porém animado do mais vivo idealismo. Logo sentiu a necessidade de divulgar o Espiritismo, aumentando o número dos seus seguidores. Para isso fundou o "Grupo Espírita Esperança e Caridade", no ano de 1905, tarefa na qual foi apoiado pelos seus irmãos e alguns amigos, passando a desenvolver trabalhos interessantes, tanto no campo doutrinário, como nas atividades de assistência social. Certa ocasião caiu em transe em meio dos alunos, no decorrer de uma aula. Voltando a si, descreveu a reunião havida em Versailles, França, logo após a I Guerra Mundial, dando os nomes dos participantes e a hora exata da reunião quando foi assinado o célebre tratado. Em 1o. de abril de 1907, fundou o Colégio Allan Kardec, que se tornou verdadeiro marco no campo do ensino. Esse instituto de ensino passou a ser conhecido em todo o Brasil, tendo funcionado ininterruptamente desde a sua inauguração, com a média de 100 a 200 alunos, até o dia 18 de outubro, quando foi obrigado a cerrar suas portas por algum tempo, devido à grande epidemia de gripe espanhola que assolou nosso país. Seu trabalho ficou tão conhecido que, ao abrirem- se as inscrições para matrículas, as mesmas se encerravam no mesmo dia, tal a procura de alunos, obrigando um colégio da mesma região, dirigido por freiras da Ordem de S. Francisco, a encerrar suas atividades por falta de freqüentadores. Liderado a pulso forte, com diretriz segura, robustecia- se o movimento espírita na região e esse fato incomodava sobremaneira o clero católico, passando este, inicialmente de forma velada e logo após, declaradamente, a desenvolver uma campanha difamatória envolvendo o digno missionário e a doutrina de libertação, que foi galhardamente defendida por Eurípedes, através das colunas do jornal "Alavanca", discorrendo principalmente sobre o tema: "Deus não é Jesus e Jesus não é Deus", com argumentação abalizada e incontestável, determinando fragorosa derrota dos seus opositores que, diante de um gigante que não conhecia esmorecimento na luta, mandaram vir de Campinas, Estado de S. Paulo, o reverendo Feliciano Yague, famoso por suas pregações e conhecimentos, convencidos de que com suas argumentações e convicções infringiriam o golpe derradeiro no Espiritismo. Foi assim que o referido padre desafiou Eurípedes para uma polêmica em praça pública, aceita e combinada em termos que foi respeitada pelo conhecido apóstolo do bem. No dia marcado o padre iniciou suas observações, insultando o Espiritismo e os espíritas, "doutrina do demônio e seus adeptos, loucos passíveis das penas eternas", numa demonstração de falso zelo religioso, dando assim testemunho público do ódio, mostrando sua alma repleta de intolerância e de sectarismo. A multidão que se mantinha respeitosa e confiante na réplica do defensor do Espiritismo, antevia a derrota dos ofensores, pela própria fragilidade dos seus argumentos vazios e inconsistentes. O missionário sublime, aguardou serenamente sua oportunidade, iniciando sua parte com uma prece sincera, humilde e bela, implorando paz e tranqüilidade para uns e luz para outros, tornando o ambiente propício para inspiração e assistência do plano maior e em seguida iniciou a defesa dos princípios nos quais se alicerçavam seus ensinamentos. Com delicadeza, com lógica, dando vazão à sua inteligência, descortinou os desvirtuamentos doutrinários apregoados pelo Reverendo, reduzindo- o à insignificância dos seus parcos conhecimentos, corroborado pela manifestação alegre e ruidosa da multidão que desde o princípio confiou naquele que facilmente demonstrava a lógica dos ensinos apregoados pelo Espiritismo. Ao terminar a famosa polêmica e reconhecendo o estado de alma do Reverendo, Eurípedes aproximou- se dele e abraçou- o fraterna e sinceramente, como sinceros eram seus pensamentos e suas atitudes. Barsanulfo seguiu com dedicação as máximas de Jesus Cristo até o último instante de sua vida terrena, por ocasião da pavorosa epidemia de gripe que assolou o mundo em 1918, ceifando vidas, espalhando lágrimas e aflição, redobrando o trabalho do grande missionário, que a previra muito antes de invadir o continente americano, sempre falando na gravidade da situação que ela acarretaria. Manifestada em nosso continente, veio encontrá-lo à cabeceira de seus enfermos, auxiliando centenas de famílias pobres. Havia chegado ao término de sua missão terrena. Esgotado pelo esforço despendido, desencarnou no dia 1o. de novembro de 1918, às 18 horas, rodeado de parentes, amigos e discípulos.

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Sacramento em peso, em verdadeira romaria, acompanhou- lhe o corpo material até a sepultura, sentindo que ele ressurgia para uma vida mais elevada e mais sublime.

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José Gonçalves Pereira

José Gonçalves Pereira nasceu em São José do Barreiro, Vale do Paraíba (São Paulo - Brasil) em 14 de junho de 1906, filho de Horácio Gonçalves Pereira e Alvina Rodrigues Gonçalves Pereira. Em 1927, já na cidade de São Paulo, capital do Estado de São Paulo (Brasil), casa-se com Luíza Miranda (nascida em 18/05/1911, no bairro do Cambuci) e começa a trabalhar como vendedor na empresa multinacional de origem inglesa "Gessy Lever". A empresa nesta época tentava introduzir um novo produto no mercado, sem muito sucesso - era um novo sabão em barras - e o Sr. Gonçalves teve a idéia de fazer uma campanha mostrando a lavagem de roupa em público, onde se demonstrava a superioridade do produto sobre os concorrentes. O sucesso da campanha, inédita na época, levou rapidamente o Sr. Gonçalves a posição de Diretor Comercial, na qual permaneceu até sua aposentadoria em 1964. A aposentaria foi solicitada para que pudesse dedicar-se a Casa Transitória Fabiano de Cristo, da qual falaremos adiante. Foi levado a Federação Espírita do Estado de São Paulo por um amigo. O objetivo era conversar com o Comandante Edgard Armond, autor do livro "Mediunidade", que o interessará bastante. Por convite de Edgard Armond, passou a participar das reuniões e a integrar-se nas tarefas do grupo. As atividades de Assistência Social, o auxílio aos mais necessitados, sempre tiveram grande importância no movimento espírita paulista, desde os tempos de Batuíra, e naturalmente constituíam um das áreas de atuação da FEESP. Em 1937 surgiu o "Departamento Damas da Caridade" para prestar assistência à infância desvalidas, as gestantes carentes e socorrer os pobres em suas penúrias. Em 1938 surge o "Setor de Assistência Social" ligado ao "Departamento das Damas de Caridade", com o auxílio de médicos voluntários prestando assistência médica, odontológica e farmácia. Em 1940 o "Setor de Assistência Social" ganhou autonomia e seu primeiro diretor foi o médico paulista Dr. Militão Pacheco. Participando ativamente da FEESP, o Sr. Gonçalves foi nomeado em 1949 - pelo Secretário Geral, o Cte Edgard Armond - Diretor do Departamento de Assistência Social. Durante os anos em que dirigiu este departamento, desenvolveu diversas atividades novas e estendeu grandemente o número de benefícios prestados a sociedade. O trabalho iniciou-se em um terreno atrás da sede da Federação (Rua Maria Paula), onde havia um galinheiro desativado, estendeu-se no casarão posteriormente adquirido na rua Santo Amaro e em 1960 culminou com a inauguração da "Casa Transitória Fabiano de Cristo" na Marginal do Tietê. Outra das iniciativas do Sr. Gonçalves na FEESP foi a "Campanha da Fraternidade Auta de Souza" (03/02/1953). Esta campanha surgiu da necessidade de arrecadar-se mantimentos para as famílias assistidas pelo Departamento de Assistência Social e inicialmente se chamaria "Campanha do Quilo" (idéia apresentada por Ninpho Correa). O nome e a forma definitiva surgiram após visita a Chico Xavier em Pedro Leopoldo. No encontro com Chico Xavier este lhe informou que "está aqui presente uma jovem desencarnada, irradiando intensa luminosidade, dizendo-nos ser participante das tarefas

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do atendimento aos necessitados do Departamento de Assistência Social, junto aos seus voluntários". Esta jovem era Auta de Souza. Em uma da visitas que fez a Francisco Cândido Xavier, o Sr. Gonçalves notou que um grupo de jovens copiava, em cadernos escolares, as mensagens psicografadas e trechos dos livros de Allan Kardec. O motivo era a dificuldade de terem acesso aos livros impressos, então caros e raros. Para amenizar esta situação o Sr. Gonçalves criou, em 18 de abril de 1953, o grupo "Os Mensageiros" com a finalidade de distribuir mensagens espíritas impressas. A impressão e distribuição foi inicialmente custeada pelo próprio Sr. Gonçalves, mas aos poucos se juntaram outros colaboradores e o grupo existe até hoje (sua página na internet é http://www.mensageiros.org.br), tendo já atingido a marca de 1 Bilhão de mensagens distribuídas para o mundo todo. Já a Casa Transitória surgiu da necessidade de um espaço mais adequado para as atividades assistenciais da FEESP e foi construída em terreno cedido pelo governador Jânio Quadros as margens do rio Tietê. O terreno era um verdadeiro charco e foi um trabalho imenso transformá-lo nos pavilhões rodeados de jardins que lá se encontram agora. A participação do plano espiritual na sua criação foi grande, inclusive durante grave enfermidade enfrentada pelo Sr. Gonçalves ele foi levado espiritualmente a visitar a instituição do plano espiritual da qual a Casa emprestou o nome, e dali trouxe também a inspiração para sua arquitetura. A Casa foi fundada em 25 de janeiro de 1960, com duas linhas principais de trabalho: - O objetivo de "amparar a criança reajustando-lhe a família"; - O trabalho voluntário em todos os setores possíveis (uma das poucas exceções foi o abrigo de idosas, que necessita de presença permanente de enfermeiros e médicos); Assim o socorro às gestantes carentes é apenas a linha de frente de um grande trabalho de reajuste, complementado por cursos de higiene e cuidados básicos com os nenês, assistência médica e cursos profissionalizantes. Colaboradores diversos ao longo dos anos, entre eles esportistas famosos como o lutador Éder Jofre, criaram cursos de futebol (para manter afastadas as crianças da rua), horta (para suprir o refeitório), atividades diversas para as crianças e adultos no intuito de renovar-lhes os valores e esperanças. Na direção da Casa, a qual dedicou-se integralmente após aposentar-se, o Sr. Gonçalves contou com o apoio de sua esposa. A presença e atividade de ambos orientou o trabalho dos voluntários e serviu de inspiração e de ponto de agregação durante os anos de consolidação da instituição. Pelo testemunho dos voluntários que o conheceram, sua personalidade marcou a vida de todos que com ele tiveram contato. Outras instituições, como a Casa Transitória Fabiano de Cristo foram ao longo dos anos, criadas e se pautaram pelos idéias do Sr. Gonçalves. Em 25 de agosto de 1989, após uma vida repleta de ações em prol do próximo, desencarna José Gonçalves Pereira. Seu corpo foi velado em um dos pavilhões da Casa Transitória, enquanto que seu espírito certamente despertava para a vida verdadeira. No dia seguinte ao de sua desencarnação, em reunião publica no "Grupo Espírita da Prece" de Uberaba, o espírito Maria Dolores envia através da mediunidade de Chico Xavier uma mensagem em que o denomina "Apóstolo do Bem e Herói da Caridade": Dádivas de Amor Uma carta... um olhar, uma palavra boa; Uma frase de paz que asserena e abençoa; Leve prato de sopa ou um simples pão Podem livrar alguém de cair na exaustão; Antigo cobertor, atirado ao vazio, Aquece o enfermo pobre esquecido ao frio; Uma peça de roupa remendada, Talvez seja o agasalho ao viajor da estrada; Meio litro de leite à viúva sem nome Amapara-lhe o filhinho, a esmorecer de fome; Todas essas doações supostas pequeninas São serviços do Bem, nas paragens divinas; São flores da fé viva, a derramarem luz,

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Revelando o fulgor do Reino de Jesus; Aqui, saudamos nós, Gonçalves, nosso irmão, Que ontem foi conduzido à Celeste Mansão; Que o Céu do Amor o guarde, ante a nossa saudade, Do Apóstolo do Bem e Herói da Caridade; Maria Dolores Mensagem psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier Só como observação final, "Os Mensageiros" é o título de um dos livros de André Luiz, psicografados por Francisco Cândido Xavier, e a "Casa Transitória Fabiano de Cristo" é uma instituição no plano espiritual dedicada ao atendimento aos espíritos sofredores, descrita no livro "Obreiros da Vida Eterna", também de André Luiz.

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Pedro de Camargo Vinícius

Nascido no dia 7 de maio de 1878, na cidade de Piracicaba, Estado de S. Paulo, e desencarnado no dia 11 de outubro de 1966, na cidade de São Paulo. Não se pode fazer o esboço histórico do Espiritismo no Estado de S. Paulo, na primeira metade do presente século, sem levar em consideração a personalidade inconfundível de Pedro de Camargo, mais conhecido pelo pseudônimo de Vinícius. Os seus primeiros anos de escolaridade foram feitos no Colégio Piracicabano, educandário de orientação metodista, de fundação norte- americana. A diretora do estabelecimento era então a missionária Martha H. Watts, de quem Pedro de Camargo guardou sempre as mais caras recordações e grande admiração. São dele as seguintes palavras extraídas de um artigo que escreveu por ocasião da desencarnação daquela missionária, ocorrida nos Estados Unidos: "Sempre que se oferecia ensejo de inocular princípios de virtude e regras de moral, era quando se mostrava admirável, comprovando a rara e excepcional competência de que fora dotada para exercer tão sublime missão. Eu bem me lembro que perto de Miss Watts ninguém era capaz de mentir ou dissimular; as traquinadas e travessuras, escondidas cautelosamente, eram- lhe fielmente narradas quando nos interpelava, tal o império que sobre nós sabia exercer, sem jamais usar para isso de outro meio que não a força do bem e o devotamento com que praticava seu sagrado sacerdócio. Muito lhe deve a sociedade piracicabana; muito lhe devem seus ex- alunos; muito lhe devo eu. Os princípios salutares de moral que me ministrou, assim como os conselhos elevados que me dispensou com tanto carinho e solicitude durante minha infância, repercutem- me ainda na alma como uma voz amiga que me dirige os passos, e por isso, ao saber que ela já não mais vive na Terra, rendo- lhe este preito de homenagem, simples e singelo, porém sincero e verdadeiro, como que desfolhando sobre a campa da querida mestra umas pétalas humildes que em seguida o vento arrebatará, mas cujo tênue perfume chegará até ela, levando- lhe o penhor de minha gratidão pelo muito que de suas benfazejas mãos recebi." Durante muitos anos, Pedro de Camargo presidiu a Sociedade de Cultura Artística, de Piracicaba, tendo a oportunidade de levar para lá famosos artistas. Jamais teve tendência para a política. Chegou a assumir uma cadeira de Vereador, na Câmara Municipal de Piracicaba, eleito por indicação do extinto Partido Republicano. Como não quisesse "seguir outra disciplina que não fosse a do dever, e ouvir outra voz que não a da razão e da consciência", dizia ele mais tarde -- esse critério não serviu ao Partido, por isso não o quiseram mais. Os estudos bíblicos eram metódicos no Colégio Piracicabano, de maneira que Pedro de Camargo se tornou um dos maiores entusiastas dessa matéria, tornando- se mais tarde uma das maiores autoridades no trato da exegese evangélica. No ano de 1904, foi fundada em Piracicaba a primeira instituição espírita da cidade, com o nome de Igreja Espírita Fora da Caridade não há Salvação. Dentre os seus fundadores salientava- se a figura

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veneranda de João Leão Pitta. O funcionamento dessa tradicional instituição acarretou a esse pioneiro uma série de perseguições movidas por inspiração de outras entidades religiosas, chegando ao ponto de não conseguir nem mesmo um emprego, tão necessário para o amparo de sua família, a qual ficou mais de um ano na eminência de completo desamparo. Um ano mais tarde, em 1905, Pedro de Camargo interessou- se pelo Espiritismo, uma vez que nele encontrou a solução para tudo aquilo que constituía incógnitas em seu Espírito. Tomando conhecimento do que sucedia com Leão Pitta, prontamente o empregou em sua loja de ferragens e, como segundo passo, desfez a secção de armas de fogo que representava apreciável fonte de renda em seu estabelecimento comercial. Durante cerca de trinta anos, Pedro de Camargo desenvolveu, em sua cidade natal, profícuo e intenso trabalho de divulgação das verdades evangélicas à luz da Doutrina Espírita. Nessa época passou a adotar o pseudônimo de Vinícius; suas preleções eram estenografadas e logo em seguida largamente difundidas, fazendo com que sua fama se propagasse por toda a circunvizinhança. No ano de 1938, transferiu seu domicílio para a cidade de S. Paulo. Ali substituiu o confrade Moreira Machado na presidência da União Federativa Espírita Paulista e, juntamente com Thietre Diniz Cintra, fundou uma escola para evangelização da infância e juventude, tendo para tanto elaborado normas e diretrizes para esse gênero de educação. Em 1939 tornou- se um dos diretores do Programa Radiofônico Espírita Evangélico do Brasil, levado ao ar, diariamente, através da Rádio Educadora de S. Paulo. Em 31 de março de 1940, quando a União Federativa Espírita Paulista fundou a Rádio Piratininga, emissora de cunho nitidamente espírita, Vinícius foi eleito seu diretor- superintendente e, em companhia de outros valores do Espiritismo paulista, orientou aquela emissora e seu programa espírita diário até o ano de 1942. Nessa época Vinícius já havia se integrado na Federação Espírita do Estado de S. Paulo, tornando- se um dos seus conselheiros e ali introduzindo as suas "Tertúlias Evangélicas", realizadas todos os domingos de manhã, com apreciável assistência que invariavelmente superlotava o seu salão. Durante muitos anos, foi delegado da Federação Espírita Brasileira, em S. Paulo, representando- a em todas as solenidades onde a sua presença se fazia necessária. Quando a Federação Espírita do Estado de S. Paulo, em março de 1944, lançou o seu órgão "O Semeador", Vinícius foi designado seu diretor- gerente, cargo que desempenhou durante mais de uma década, emprestando àquele jornal a sua costumada cooperação. Em outubro de 1949, em companhia de Carlos Jordão da Silva, integrou a representação do Estado de S. Paulo junto ao II Congresso Espírita Pan- americano, conclave de grande repercussão que se realizou no Rio de Janeiro. No ensejo desse acontecimento, reuniram- se na antiga Capital Federal várias representações de entidades espíritas de âmbito estadual, as quais, numa feliz gestão, conseguiram materializar o sonho de muitos seareiros espíritas, criando o Conselho Federativo Nacional e assinando o célebre Pacto Áureo de Unificação. Pedro de Camargo foi um dos signatários desse importante instrumento de pacificação espírita nacional, no dia 5 de outubro de 1949. Vinícius foi assíduo colaborador de numerosos órgãos espíritas. De sua bibliografia destacamos os livros: "Em torno do Mestre", "Na Seara do Mestre", "Nas Pegadas do Mestre", "Na Escola do Mestre, "O Mestre na Educação", e "Em Busca do Mestre", obras de marcante relevância no campo da divulgação evangélico- doutrinária. A sua ação se fez sentir vigorosamente quando se cogitou da fundação de uma instituição educacional espírita. Lutou durante muitos anos por esse ideal. Exultou- se com a fundação do Educandário Pestalozzi, na cidade de França, entretanto, o seu sonho concretizou- se quando da fundação do "Instituto Espírita de Educação", do qual foi presidente. No âmbito desse instituto foi fundado o "Externato Hilário Ribeiro", em cuja direção permaneceu até o ano de 1962. A par de todas essas atividades, Pedro de Camargo ocupava assiduamente as tribunas das instituições espíritas, principalmente as da Capital do Estado, tornando- se um dos oradores mais requisitados e o que sempre conseguia atrair maior assistência. Homem dotado de ilibado caráter, comedido em suas atitudes e de moral inatacável, tornou- se, de direito e de fato, verdadeira bandeira do movimento espírita. Quando seu nome figurava à testa de qualquer realização, esta infundia confiança e respeito, dada a indiscutível projeção do seu nome e a sua qualidade de paladino das causas boas e nobres.

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Vinícius também teve notória atuação no campo da assistência social espírita, situando, entretanto, em primeiro plano o trabalho em prol do esclarecimento evangélico- doutrinário, imprescindível à iluminação interior dos homens.

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Prof. Américo Montagnini

Nascido na cidade de São João da Boa Vista, Estado de S. Paulo, no dia 1.o. de maio de 1897, e desencarnado em S. Paulo, no dia 29 de novembro de 1966. Na história do Espiritismo paulista um lugar de destaque é reservado ao Prof. Américo Montagnini, quer seja pela sua atuação incessante, quer pelo seu grande esforço em favor do engrandecimento da causa comum que esposamos. Montagnini foi presidente da tradicional Associação Espírita São Pedro e São Paulo, uma instituição que prestou inestimáveis serviços ao Espiritismo, numa época quando ele era mal compreendido e olhado por muitos com reservas. Essa associação teve a sua sede na rua Barão de Paranapiacaba no. 7, na capital do Estado de S. Paulo, tendo passado por ela grandes vultos espíritas, dentre eles os Drs. Augusto Militão Pacheco e Pedro Lameira de Andrade. Pertencendo ao quadro diretivo dessa famosa entidade espírita, o Prof. Montagnini foi um dos elementos que mais propugnaram para que tanto a Associação Espírita S. Pedro e S. Paulo como a Sociedade Metapsíquica de S. Paulo se extinguissem, fundindo- se numa nova instituição: a Federação Espírita do Estado de S. Paulo, com um programa muito mais vasto e arrojado. Desta forma, no dia 12 de julho de 1936, com a fundação da Federação, Montagnini passou a lhe dar todo o concurso possível. Com a renúncia, em 10 de dezembro de 1939, do então presidente da instituição, Dr. João Batista Pereira, Américo Montagnini assumiu a sua presidência, cargo que exerceu com raro descortino até a data da sua desencarnação. O trabalho do Prof. Montagnini no campo da divulgação do Espiritismo foi dos mais salientes, entretanto, ele trabalhava em silêncio, sem alardes. Médium de apreciáveis recursos foi companheiro do Dr. Augusto Militão Pacheco nas tarefas de esclarecimento daqueles que necessitavam tomar conhecimento dos consoladores ensinamentos dessa Doutrina. Desta forma, além de propiciar novas luzes àqueles que dela necessitavam ele procurava minorar os sofrimentos daqueles que buscavam lenitivo para o corpo alquebrantado. Homem dotado de notável senso de responsabilidade, comedido em suas atitudes, leal, de invejável integridade moral, o Prof. Montagnini tornou- se de direito e de fato um dos baluartes no campo da divulgação do Espiritismo no Estado de São Paulo.