aula 1 raciocínio lógico

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O que é lógica Carmen Suely Cavalcanti de Miranda Ivickson Ricardo de Miranda Cavalcanti Raciocínio Lógico

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O que é lógica

Carmen Suely Cavalcanti de MirandaIvickson Ricardo de Miranda Cavalcanti

Raciocínio Lógico

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Carmen Suely Cavalcanti de MirandaIvickson Ricardo de Miranda Cavalcanti

Raciocínio Lógico

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O que é lógica

Contextualizando

O que é? Por que a lógica integra a estrutura curricular de um curso de graduação? Seja qual for a pergunta, essas são questões que muitos estudantes fazem quando têm que cursar uma disciplina de Raciocínio Lógico.

Para que você possa entender a importância dessa disciplina, é fundamental que saiba, em primeiro lugar, o que é a lógica, conhecimento cuja aplicabilidade se faz presente desde a Grécia, quando os primeiros pensadores, os filósofos, utilizavam a lógica para distinguir o argumento correto do incorreto, até a nossa atualidade, com os computadores e toda tecnologia da informação – a base do funcionamento de um computador está na eletrônica e na lógica. E até mesmo para uma boa redação é indispensável coerência, clareza e coesão no desenvolvimento das ideias. E nisso a lógica pode e vai ajudá-lo muito.

Por outro lado, desenvolver um pensamento que se preocupa com o aspecto lógico torna-se um desafio para o aluno que está compreendendo e exercitando ope-rações mentais. Ou seja, a lógica possibilita ao aluno educar sua forma de pensar, de estruturar suas ideias e concepções.

Este primeiro capítulo tem como objetivos:

situar os mecanismos do pensamento;

definir a lógica;

explicitar o raciocínio lógico;

evidenciar a importância desse conhecimento para o ser humano.

Assim, esperamos que as pistas para a resposta do que é lógica e de sua importân-cia possam ser encontradas por você.

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Conhecendo a teoria

Os mecanismos da inteligência

Vivemos em uma realidade complexa e em constante transformação. Se olhar-mos para um passado recente veremos como ocorreram transformações na medicina, na educação, nas comunicações, nas tecnologias, enfim, nas várias áreas do conheci-mento e de sua aplicação.

Essas transformações foram possíveis porque o homem, elemento desse conjunto infinito de seres que compõem a realidade, também se transforma cotidianamente. Usa para isso sua razão e sua inteligência. Razão e inteligência são, portanto, faculdades que possibilitam ao homem construir conhecimentos que, aplicados à realidade, garantem sua vida no planeta. Razão e inteligência são conceitos fundamentais no processo de produção do conhecimento verdadeiro.

Vejamos cada um deles de forma detalhada.

a) O que é a razão?

A palavra razão no nosso cotidiano é empregada em vários sentidos. Veja alguns dos usos mais comuns:

Uma razão de ser...

Qual a razão de tudo isso?

Você tinha razão.

O homem é um animal racional.

Ele ficou revoltado, e com razão.

É uma atitude irracional.

Usamos o termo razão com o sentido de certeza, lucidez, motivo, causa. Todos esses sentidos constituem a nossa ideia de razão.

Podemos dizer que a razão “ [...] tem não só a função de perceber os fatos que provocam as sensações, como também de avaliá-los, julgá-los e organizá-los” (COTRIM, 1989, p. 20). Assim, por meio da razão, tomamos conhecimento da realidade.

Apesar de todas as funções anteriormente descritas, o dia a dia evidencia fatos que são incompreensíveis pela razão. Bem ilustrativas para o que acabamos de dizer são as palavras de Pascal (apud CHAUÍ, 2001, p. 58), filósofo francês do século XVII: O

que

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“O coração tem razões que a razão desconhece”. Essa frase traz a compreensão de que, muitas vezes, agimos motivados pelas paixões ou sentimentos, deixando de lado a nossa atividade consciente, intelectual, isto é, a razão.

Do que vimos anteriormente, existem situações que a razão não consegue com-preender. Nesse momento, ela apela para outra faculdade de nossa mente: a inteligên-cia. Diante de uma dificuldade ou problema, nossa razão aciona a inteligência.

b) O que é a inteligência?

Quando falamos em inteligência, de imediato algumas questões vêm à tona: exis-tem pessoas mais inteligentes que outras? As mulheres são mais inteligentes que os homens porque possuem maior sensibilidade e guardam, por mais tempo, informa-ções na memória? Só os homens possuem inteligência? Quem é mais inteligente: um cientista ou um índio? Um professor universitário ou um pedreiro?

Se adotarmos o conceito clássico de inteligência como a capacidade mental de raciocinar, planejar, resolver problemas e aprender, as respostas a essas questões pare-cem lógicas. Ou seja, com certeza se julga que algumas pessoas são mais inteligentes que outras e essa diferença tem um teor ideológico, ou seja, considera o modelo social, o status quo das pessoas comparadas, a classe social, entre outros.

No entanto, quando adotamos a visão de inteligência proposta pelo psicólogo norte-americano Howard Gardner, tudo depende do que estamos fazendo, onde e por que, ou seja, a simples comparação de um cientista com um índio, de um universitário com um pedreiro, não significa nada a não ser que se possa contextualizar essa abor-dagem. O que estamos dizendo, com Gardner, é que, se estamos no meio da selva e precisamos ir de um lugar a outro sem qualquer instrumento específico, o índio nos será mais útil, pelo fato de conhecer a região. Nesse caso sua inteligência será mais efetiva que a do professor universitário. Se precisamos construir ou fazer algum reparo em casa, provavelmente o pedreiro terá uma inteligência mais efetiva.

Para Gardner (apud TRAVASSOS, 2011, p. 3) “A inteligência [...] é a capacidade de solucionar problemas ou elaborar produtos que são importantes em um determinado ambiente ou comunidade cultural”.

Durante muito tempo, baseado na concepção clássica de inteligência, buscava-se mensurar a inteligência com bases em testes. Com eles obtínhamos o QI (Quociente de Inteligência). Como surgiram esses testes? Com o intuito de tentar prever o sucesso das crianças nas escolas, os liceus, as autoridades francesas, no início do século, solicitaram a Alfredo Binet que criasse um instrumento que pudesse indicar em que nível tais crianças deveriam ser inseridas. O instrumento criado por Binet buscava as respostas das crianças nas áreas de linguística e matemática, pois os currículos franceses privilegiavam tais disciplinas. Esse instrumento deu origem ao primeiro teste

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de inteligência, desenvolvido por Terman na Universidade de Stanford, na Califórnia: a Escala de Inteligência de Stanford-Binet. Vários outros testes de inteligência vieram à tona a partir de Binet, formando a ideia de inteligência como algo capaz de ser mensurado.

A partir de seus estudos sobre inteligência humana, Gardner desenvolveu a teoria das inteligências múltiplas. Nos seus estudos, concluiu que o cérebro do homem possui oito tipos de inteligência. Porém, a maioria das pessoas possui uma ou duas inteligências desenvolvidas. Isso explica por que um indivíduo é muito bom com cálculos matemáticos, porém não tem muita habilidade com expressão artística.

Segundo Gardner (apud TRAVASSOS, 2011, p. 4-5), as inteligências são:

Lógica – voltada para conclusões baseadas em dados numéricos e na razão. As pessoas com essa inteligência possuem facilidade em explicar as coisas utilizando-se de fórmulas e números. Costumam fazer contas de cabeça rapidamente.

Linguística – capacidade elevada de utilizar a língua para comunicação e expressão. Os indivíduos com essa inteligência desenvolvida são ótimos ora-dores e comunicadores, além de possuírem grande capacidade de aprendiza-do de idiomas.

Corporal – grande capacidade de utilizar o corpo para se expressar ou em atividades artísticas e esportivas. Um campeão de ginástica olímpica e um dançarino famoso, com certeza, possuem essa inteligência bem desenvolvida.

Naturalista – voltada para a análise e compreensão dos fenômenos da natu-reza (físicos, climáticos, astronômicos, químicos).

Intrapessoal – pessoas com essa inteligência possuem a capacidade de se autoconhecerem, tomando atitudes capazes de melhorar a vida com base nesses conhecimentos.

Interpessoal – facilidade em estabelecer relacionamentos com outras pessoas. Indivíduos com essa inteligência conseguem facilmente identificar a personalidade das outras pessoas. Costumam ser ótimos líderes e atuam com facilidade em trabalhos em equipe.

Espacial – habilidade na interpretação e reconhecimento de fenômenos que envolvem movimentos e posicionamento de objetos. Um jogador de futebol habilidoso possui essa inteligência, pois consegue facilmente observar, analisar e atuar com relação ao movimento da bola.

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Musical – inteligência voltada para a interpretação e produção de sons com a utilização de instrumentos musicais.

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985)

Figura 1 – A Teoria das Inteligências Múltiplas.

Como funciona a nossa inteligência no processo de apreensão da realidade? O primeiro passo da inteligência é a apreensão do fato novo; nessa etapa não chegamos a nenhuma conclusão acerca do problema que se apresenta. Logo após a apreensão, estabelecemos ideias sobre o fato apresentado. A comparação das ideias nos leva a formular juízos a respeito do problema investigado. Nesse momento, nossa inteligência ordena os juízos buscando uma conclusão final para solucionar o problema.

A operação mental que de dois ou mais juízos conclui outro juízo é o que chamamos de raciocínio. Todo profissional que possui como ferramenta de trabalho o raciocínio, seja para resolver problemas de ordem administrativa ou financeira, problemas matemáticos, de planejamento ou de estratégia, entre outros, utiliza como matéria-prima para o seu trabalho a arte de pensar.

Mas afinal o que é um juízo?

Podemos definir um juízo como um ato pelo qual o espírito afirma alguma coisa de outra, por exemplo: “Deus é bom”, ou “O homem não é imortal” são juízos, enquanto um afirma de Deus a bondade, o outro nega do homem a imortalidade.

Um juízo necessariamente apresenta três elementos:

1. Um sujeito – é o ser de que se afirma ou nega alguma coisa.

2. Um atributo ou predicado – é o que se afirma ou nega do sujeito.

3. Uma afirmação ou uma negação.

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Assim, podemos dizer que o juízo é a forma central de todo pensamento. A expressão verbal de um juízo é a proposição.

Podemos dizer que uma proposição pode ser definida como uma frase que admite dois valores lógicos: verdadeiro (V) ou falso (F).

A proposição se compõe dos seguintes termos:

1. Sujeito.

2. Predicado.

3. Verbo. Chamado cópula (isto é, elo), pois liga ou desliga os dois termos – sujeito e predicado.

Para ser uma proposição uma frase deve, necessariamente, apresentar esses termos.

Exemplo de frases que não são proposições:

Silêncio!

Quer jogar futebol?

Eu não estou bem certo se este quarto me agrada.

Exemplo de frases que são proposições:

A Lua é o único satélite do planeta Terra. (V)

A cidade de Natal é a capital do estado da Paraíba. (F)

O número 10 é ímpar. (F)

Um estudo mais aprofundado sobre proposições será feito nos próximos capítulos.

Agora vamos voltar à discussão sobre a inteligência. Como você viu anteriormen-te, o interesse para medir a inteligência determinou uma série de estudos entre psicó-logos. O resultado foi a elaboração de testes de inteligência. Veja como funciona um

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teste de inteligência a partir do exemplo a seguir (COTRIM, 1989, p. 32-34). Via de regra os testes de inteligência giram em torno de questões que devem ser respondidas em tempo estipulado e ao final somam-se os acertos para obter um resultado.

Tempo: 10 minutos1. Qual objeto não pertence a este grupo?

(a) panela.

(b) caneta.

(c) prato.

(d) faca.

(e) metal.

2. Uma caneta sempre tem:

(a) tinta.

(b) tampa.

(c) tamanho.

(d) pena.

(e) metal.

3. Que número vem a seguir nesta série?

4; 4; 8; 13; 18; 24; 30; 37; 44; 52;

4. Ordene estas palavras de modo a formar uma sentença. Se a sentença exprimir verdade escreva V e se exprimir falsidade escreva F.

Possui pessoa amor nenhuma _______________ ( )

5. O amor está para alegria assim como o ódio está para a

(a) angústia.

(b) solidão.

(c) saudade.

(d) tristeza.

(e) lágrima.

6. Qual objeto não pertence a este grupo?

(a) lápis.

(b) panela.

(c) caderno.

(d) livro.

(e) caneta.

7. Uma cadeira sempre tem

(a) quatro pés.

(b) madeira.

(c) estofamento.

(d) assento.

(e) apoio para os braços.

8. O sol está para a sensação visual assim como o alimento está para a sensação

(a) olfativa.

(b) auditiva.

(c) tátil.

(d) cinestésica.

(e) gustativa.

9. Ordene as palavras de maneira a formar uma sentença. Se a sentença exprimir verdade escreva V e se exprimir falsidade escreva F.

Pontos França Pisa. As torres são turísticos e da Eiffel. _______________________ ( )

10. Qual objeto não pertence a este grupo?

(a) pneu.

(b) volante.

(c) rédeas.

(d) faróis.

(e) para-choques.

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Tempo: 10 minutos11. Um livro sempre tem

(a) capa.

(b) ilustrações.

(c) massa.

(d) dedicatória.

(e) ensinamentos escolares.

12. Que número vem a seguir nesta série?

6; 8; 10; 12; 14; 11; 8; 5; ...

13. Sócrates está para a Filosofia assim como Freud está para a

(a) química.

(b) biologia.

(c) psiquiatria.

(d) parapsicologia.

(e) reflexologia.

14. Que número vem a seguir nesta série?

1/2; 1/4; 1/8; 1/16; ...

15. Ordene estas palavras de maneira a formar uma sentença. Se a sentença exprimir verda-de escreva V e se exprimir falsidade escreva F.

Brasil da aquarela do barroso compositor é Ari o. _____________________________ ( )

16. Na palavra involuntariamente, qual é a penúl-tima letra, imediatamente anterior ao 3.º n? ( )

17. Que número vem a seguir nesta série? 4; A; 10; B; 8; C; 14; D; ...

18. Somente os homens possuem razão. Assim sendo, qual destas alternativas logicamente encadeadas é correta?

(a) Os homens perdem a razão com a idade.

(b) A razão é uma faculdade maravilhosa.

(c) O peixe não possui razão.

19. Qual a letra errada nesta série?

B; D; L; N; P; O; Z; Q; M; ( )

20. Qual o número errado nesta série? 1; 12; 25; 33; 207.

Veja a classificação a partir dos acertos.

Classificação Número de respostas certasSuperior 20

Ótimo 15 a 19

Bom 10 a 14

Regular 5 a 9

Inferior 0 a 4

Caso você tenha curiosidade, seguem as respostas esperadas para que possa testar a sua inteligência. Vamos vê-las?!

1. d (faca) 6. b (panela) 11. c (massa) 16. M

2. c (tamanho) 7. d (assento) 12. 2 17. 12; F

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3. 60 8. e (sensação gustativa) 13. c (Psiquiatria) 18. c (O peixe não possui razão)

4. Nenhuma pessoa pos-sui amor (F)

9. As torres Eiffel e Pisa são pontos turísticos da França (F)

14. 1/32 19. O

5. d (tristeza) 10. c (rédeas)15. O compositor da Aquarela do Brasil é Ari Barroso (V)

20. 207

É como se pudéssemos, a partir desses testes, identificar nossa capacidade de inteligência. A questão a se considerar é que esses instrumentos não levam em conta nosso momento atual, nossa história. Supõem um homem universal.

Definindo a lógica

Até aqui você foi apresentado às duas faculdades da mente humana responsáveis pelo conhecimento da realidade – razão e inteligência. Uma vez que o conhecimento produzido por essas faculdades busca a verdade e tem como manifestação o pensamen-to, é preciso estabelecer algumas regras para que essa meta possa ser atingida.

Entra em cena a lógica enquanto ramo da filosofia que cuida das regras do bem pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do pensamento.

É lógico!

Quantas vezes você já utilizou essa expressão? Será que nas situações utilizadas era realmente lógico? Em que você se baseou para fazer tal afirmação?

De uma maneira geral, quando usamos a expressão é lógico, quase sempre estamos nos referindo a algo que nos parece evidente, ou quando temos uma opinião muito fácil de justificar (MACHADO, 2000).

Portanto, podemos iniciar essa tentativa de definir a lógica afirmando que ela representa o aperfeiçoamento do pensamento, a arte de pensar corretamente. O ato de pensar corretamente antes de executar qualquer ação é, comprovadamente, um ponto positivo para que tal tarefa seja executada com total sucesso. Criar estratégias, relacionar informações e levantar hipóteses são habilidades essenciais não apenas para a prática escolar, mas para diversas situações do cotidiano.

Mas afinal, o que é lógica?

Lógica, do grego λογική, logos, significa palavra, pensamento, ideia, argumento, relato. Apesar de ser um ramo da Filosofia, não é de propriedade exclusiva do filósofo. Todo aquele que deseja entender e desenvolver raciocínios matemáticos e científicos deveria estudá-la.

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Segundo o filósofo Régis Jolivet (apud COTRIM, 1989, p. 199), “[...] a lógica é a ci-ência das leis ideais do pensamento e a arte de aplicá-las corretamente na procura e demonstração da verdade”.

Não há consenso quanto à definição da lógica. Registra-se uma pluralidade de definições que evidenciam a diversidade de estudos que são abrangidos pela lógica. Destacaremos algumas definições que servem para iniciar a nossa reflexão:

Irving Coppi: “O estudo da lógica é o estudo dos métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto.”

Wesley Salmon : “A lógica trata de argumentos e inferências. Um de seus propó-sitos básicos é apresentar métodos capazes de identificar os argumentos logicamente válidos, distinguindo-os dos que não são logicamente válidos.”

Jesus Eugênio de Paula Assis : “A tarefa da lógica sempre foi a de classificar e or-ganizar as inferências válidas, separando-as daquelas que não o são. A importância desta organização não deve ser subestimada, pois usam-se as inferências (de prefe-rência válidas) tanto na vida comum como nas ciências formais, sendo um exemplo a matemática.”

Maria Lucia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires: “Para Aristóteles, a lógica é a ciência da demonstração; [...] para Lyard é a ‘ciência das regras do pensamento’. Po-deríamos ainda acrescentar: [...] é a ciência das leis ideais do pensamento e a arte de aplicá-las corretamente na procura e demonstração da verdade.”

E por que estudar lógica? Há inúmeras razões! Uma delas liga-se ao nosso tempo. Vivemos a era pós-industrial, na qual os principais produtos da mente humana são as ideias. Neste novo ambiente, terão vantagens aqueles que têm raciocínio lógico e sabem conferir concretude ao processo criativo.

Para desenvolver um raciocínio correto nos deparamos com dois problemas:

Estabelecer a forma correta do pensamento para que ele possua validade;

Estabelecer a forma correta do pensamento para que ele corresponda a algum fato da realidade (COTRIM, 1989, p. 199).

É exatamente com o objetivo de responder esses dois problemas que a lógica se divide em duas grandes partes: a lógica formal e a lógica material. A lógica formal se preocupa com os caminhos que devem ser seguidos pelo pensamento para este ser correto, ao passo que a lógica material volta-se para a garantia da correspondência verdadeira entre nosso pensamento e a realidade. Sobre essas duas grandes divisões da lógica você irá saber mais no capítulo três.

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A importância da lógica

Acreditamos que agora que você já tem uma compreensão inicial do que seja a lógica, fica mais fácil entender a sua importância para um curso de nível superior, prin-cipalmente sua importância para o exercício profissional.

Vejamos: o que mais esperamos dos alunos, profissionais, enfim, dos seres hu-manos é que possam pensar de forma cada vez mais crítica e com argumentos, com base e critérios logicamente válidos. Por outro lado, quando fazemos afirmações sem argumentos não oferecemos ao nosso interlocutor motivo para aceitar nosso ponto de vista.

Quando apresentamos argumentos, iniciamos um diálogo em que estaremos abertos a rever nossos argumentos em função de argumentos mais sólidos e válidos. Todo esse exercício de argumentação exige critérios válidos e é nesse momento que entra a lógica.

Sobre a importância da lógica Lewis Carol (apud SOARES; DORNELAS, 2011) afirma que:

[...] ela [a Lógica] lhe dará clareza de pensamento, a habilidade de ver seu caminho através de um quebra-cabeça, o hábito de arranjar suas ideias numa forma acessível e ordenada e, mais valioso que tudo, o poder de detectar falácias e despedaçar os argumentos ilógicos e inconsistentes que você encontrará tão facilmente nos livros, jornais, na linguagem cotidiana e mesmo nos sermões e que tão facilmente enganam aqueles que nunca tiveram o trabalho de se instruir nessa fascinante arte.

Como você pode observar, esse conhecimento é uma exigência cada vez maior no nosso cotidiano, no sistema escolar e na vida em sociedade, na medida em que nestes contextos é necessário o desenvolvimento da capacidade de distinguir entre um discurso correto e um incorreto, a identificação de falácias, o desenvolvimento da capacidade de argumentação, compreensão e crítica de argumentações e textos.

Ao lado de sua importância no nosso cotidiano, a lógica é hoje presença cons-tante em concursos para ingresso no mundo do trabalho. As questões de lógica se apresentam como problemas que exigem um caminho com possibilidades que levem a uma solução – até aqui estamos no campo do raciocínio. Uma vez encontrada a solu-ção é preciso que seja validada – aqui está o espaço da lógica.

Desenvolvendo o raciocínio lógico

Como você viu até aqui, ter raciocínio lógico significa raciocinar bem. Mas, o que fazer para aprender a raciocinar bem? Sabemos que algumas decisões na nossa vida são intuitivas, mas existe uma fórmula de aprimorar a nossa capacidade de raciocinar. E a lógica é essa ferramenta que o capacita a aprimorar seus argumentos, garantindo cada vez mais sua validade.

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O raciocínio lógico hoje é uma exigência em provas de concurso, bem como em psicotestes de empresas para seleção de funcionários para cargos específicos. O conhecimento de alguns mecanismos de análise das questões, bem como a realização de exercícios, é um treino efetivo para desenvolver um bom raciocínio.

Nesse sentido, vamos destacar três tópicos que vêm sempre sendo explorados nas questões apresentadas em concursos, são eles: o raciocínio verbal, o raciocínio numérico e o raciocínio visuoespacial.

Saiba que

Antes de situar esses tipos de raciocínios é importante que você saiba que, para responder qualquer tipo de questão envolvendo raciocínio lógico, é necessário ter claro que, nestas questões, o raciocínio pode seguir um caminho lógico ou um caminho ilógico (BOTELHO, 2011). O caminho lógico se efetiva no contexto da lógica matemática. Apresenta uma ordem que pode ser crescente, decrescente ou constante. O caminho ilógico envolve outros raciocínios fora da lógica matemática. São questões que utilizam os meses do ano, os dias da semana, as fases da lua, as letras do alfabeto.

Retomando a explicação anterior veja o quadro a seguir:

Raciocínio lógico Raciocínio ilógicoCrescente Semana/Meses

Descrescente Fases da lua

Constante Letras do alfabeto

Voltemos aos três tipos de raciocínio citados anteriormente: o verbal, o numérico e o visuoespacial.

Comecemos por exemplificar o raciocínio verbal.

Considere a sequência. Qual a próxima letra?

B, D, G, K, _____

O primeiro ponto a considerar é que estamos diante de um raciocínio lógico sequencial verbal crescente.

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O que é lógica

pula 1 pula 2 pula 3 pula 4

B D G K P

Vamos entender:

1) É uma sequência de letras (por isso sequencial verbal).

2) A distância entre elas é crescente.

3) Portanto o caminho é lógico.

4) Assim a próxima letra da sequência será a letra P.

Agora vejamos uma questão desenvolvida com base no raciocínio numérico.

Considere a sequência. Qual o próximo número?

77; 49; 36; 18; _______

Estamos diante de um raciocínio lógico sequencial numérico decrescente.

Saiba que

É importante lembrar que as questões envolvendo raciocínio lógico trabalham com as operações: adição, subtração, multiplicação, divisão, radiciação e potenciação.

Veja a resolução da questão:

7x7 4x9 3x6 1x8

77 49 36 18 8

Vamos traduzir:

1) É uma sequência de números (por isso sequencial numérica).

2) A sequência está em ordem decrescente.

3) Portanto, o caminho é lógico.

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4) A operação utilizada foi a multiplicação.

5) Assim, o próximo número da sequência é 8.

Quando falamos dos caminhos que um raciocínio pode seguir na resolução das questões de raciocínio lógico, destacamos o caminho lógico – exemplificado nas questões anteriores – e o caminho ilógico. Vamos agora exemplificar uma questão que seguiu o caminho ilógico.

Considere a sequência, qual a próxima letra?

JJASOND____

Veja que, diferente das questões anteriores, não há uma sequência previsível. Ora é crescente, ora decrescente – não há continuidade. Estamos diante de um caminho ilógico.

Sabendo que esse tipo de raciocínio trabalha com meses do ano, identificamos aí a resposta à nossa questão. Veja que as letras correspondem à inicial dos meses do ano começando com o mês de junho – (junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro). Nesse caso a próxima letra da sequência será a letra J, referente ao mês de Janeiro.

Vamos a um exemplo de um raciocínio numérico que seguiu o caminho ilógico:

Considere a sequência. Qual é o próximo número?

2; 12; 16; 17; 19_____

Primeiro ponto a considerar: o caminho do raciocínio é lógico ou ilógico? Vamos considerar o intervalo entre os números.

10 4 1 2

2 12 16 17 19 200

Veja que, entre os números da sequência apresentada, não há nem uma ordem crescente, nem uma ordem decrescente, nem mesmo uma constância. Nesse caso o caminho a seguir será o ilógico. E nesse caso recorremos às letras do alfabeto. Veja que a sequência de números apresentados começa com a letra D. No caso, o próximo número depois de dezenove a iniciar com a letra D será 200.

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Passemos agora a exemplos de raciocínios visuoespacial.

Questões de raciocínio visuoespacial apresentam uma quantidade de figuras em linhas e a última figura vem em branco para que você identifique o desenho.

O primeiro passo é analisar linha por linha. Cada linha segue uma lei de formação. O passo seguinte é identificar a lei de formação da primeira linha que se repete na segunda. Assim é razoável que essa mesma lei de formação se repita na terceira linha.

No caso das figuras, você identifica que existem orelhas para fora e orelhas para dentro. As orelhas para fora serão positivas e as orelhas para dentro serão negativas.

Assim vejamos, na primeira linha temos:

+2 -1 =1

Na segunda linha temos:

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-2 +3 =1

A terceira linha necessariamente seguirá a lei de formação das duas primeiras. Assim vejamos:

+1 -1 =0

Em todas as questões apresentadas é possível perceber que é necessário um cons-tante treinamento para que cada vez mais você possa se apropriar de mecanismos que lhe trarão maior capacidade de raciocínio.

Aplicando a teoria na prática

Agora é hora de articular a discussão teórica até aqui desenvolvida com a vida prática. Entre outros temas, discutimos a razão humana. Vamos pensar um pouco sobre essa faculdade que possibilita ao homem estabelecer uma articulação entre pensamento e realidade. Um olhar atento e reflexivo sobre nosso cotidiano deixa evidente como, por vezes, e sem nenhum esforço, mudamos de ideia; ao mesmo tempo, é possível, por meio desse exercício, perceber como, algumas vezes, nos apegamos a alguma ideia sem saber de onde veio, principalmente se percebemos que alguém quer se apropriar dela, assumindo sua autoria, ou mesmo querendo nos fazer mudar de ideia.

Por que isso acontece? São as ideias que nos são caras? Ou será nosso amor próprio que está em jogo? Dito de outra maneira: por que é tão difícil mudarmos nosso ponto de vista e aceitar o ponto de vista do outro?

Na verdade poucos de nós param e refletem sobre a origem das nossas convicções. Acreditamos, grande parte das vezes, naquilo que nos acostumamos a aceitar como verdade. E, nesse caso, usamos nossa razão para encontrar argumentos capazes de justificar nossas convicções. Você sabe como os cientistas modernos designam esse apego incondicional (no sentido de que muitas vezes nem sabemos a origem daquilo que defendemos) as nossas crenças e aos nossos (pré)conceitos fazendo com que busquemos razões para justificá-los?

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Saiba que esse mecanismo recebe o nome de Racionalização. Apesar de ser uma palavra pouco compreendida é um mecanismo presente na vida de cada um de nós. Apegamo-nos aos nossos (pré)conceitos, as nossas convicções e buscamos boas razões para justificá-las. Difícil é admitir a ideia de estarmos errados e reconstruir nossos conceitos e convicções.

Para saber mais

Houzel; HERCULANO, Suzana. O Cerébro Nosso de Cada Dia. Vieira e Lente, 2002.

Você pode encontrar nesse livro uma boa forma de aprofundar seus conhecimen-tos na área da neurociência. Nele, a autora fala, de maneira clara, para leigos, como funciona nosso cérebro e como tudo acontece dentro dele. Conta o fato que ocorreu quando o fantástico físico Albert Einstein faleceu. Com permissão da família, seu cé-rebro foi retirado e estudado. Conclusões: o cérebro de Einstein era do tamanho do cérebro médio das mulheres, ou seja, tinha um cérebro pequeno.

Relembrando

Neste capítulo você aprendeu que:

O homem usa suas faculdades da razão e da inteligência para construir conhe-cimentos que, aplicados à realidade, garantem sua vida no planeta.

A razão tem não só a função de perceber os fatos que provocam as sensações, mas também de avaliá-los, julgá-los e organizá-los. Por meio da razão tomamos conhecimento da realidade.

Inteligência, no seu conceito clássico, é a capacidade mental de raciocinar, planejar, resolver problemas e aprender.

Gardner amplia esse conceito no que denomina Teoria das Inteligências múltiplas. As inteligências são as seguintes: lógica, linguística, corporal, naturalista, intrapessoal, interpessoal, espacial e musical.

Um juízo é um ato pelo qual o espírito afirma alguma coisa de outra, por exem-plo: “Deus é bom”, ou “O homem não é imortal” são juízos, enquanto um afirma de Deus a bondade, o outro nega do homem a imortalidade.

Chamamos de raciocínio a operação mental que de dois ou mais juízos conclui outro juízo.

Lógica, do grego λογική, logos, significa palavra, pensamento, ideia, argumen-

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to, relato. É o ramo da filosofia que cuida das regras do bem pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do pensar.

Tópicos, dentro do conteúdo de raciocínio lógico, que vêm sempre sendo explorados nas questões apresentadas em concursos: raciocínio verbal, raciocínio numérico e raciocínio visuoespacial.

Testando seus conhecimentos

2, 4, 8,16, ... o número que vem a seguir nesta série é: 1.

20 a)

24 b)

32c)

64 d)

128 e)

A, C, F, J, ... a letra que vem a seguir série é: 2.

O a)

R b)

Sc)

M d)

U e)

É possível afirmar que os japoneses são mais inteligentes do que os africanos? 3. Responda considerando o conceito clássico de inteligência e a seguir utilize a teoria das inteligências múltiplas de Gardner.

Referências

CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2001.

COPI, I. M. Introdução à Lógica. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1978. O q

ue é

lógi

ca

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O que é lógica

COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. Para uma geração consciente. São Paulo: Saraiva, 1989.

MACHADO, N. J. Lógica? É Lógico! São Paulo: Scipione, 2000.

SCOLARI, A. T.; BERNARDI, G. O Desenvolvimento do Raciocínio Lógico atra-vés de Objetos de Aprendizagem. Disponível em: <www.cinted.ufrgs.br/ciclo10/artigos/4eGiliane.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2011.

SOARES, F.; DORNELAS, G. N. A Lógica no Cotidiano e a Lógica na Matemática. Disponível em: <www.sbem.com.br/files/viii/pdf/05/MC03526677700.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2011.

STRECKER, H. Lógica – Introdução. Uma porta ao mundo da filosofia e da ciência. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u4. jhtm>. Acesso em: 25 fev. 2011.

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