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Machado de Assis A juventude do autor e suas primeiras publicações na imprensa: Machado cronista Machado de Assis em 1890, fotografado por Marc Ferrez Prof. Bruno Zeni

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Biografia e obra de Machado de Assis

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Machado de Assis

A juventude do autor e suas

primeiras publicações na imprensa:

Machado cronista

Machado de Assis em 1890, fotografado por Marc Ferrez Prof. Bruno Zeni

Atualidade de Machado de Assis

“Podemos dizer [...] que a sua vida é sem relevo comparada à grandeza da obra, e que interessa pouco, enquanto esta interessa muito. Sob o rapaz alegre e mais tarde burguês comedido que procurava ajustar-se às manifestações exteriores, que passou convencionalmente pela vida, respeitando para ser respeitado, funcionava um escritor poderoso e atormentado, que recobria os seus livros com a cutícula do respeito humano e das boas maneiras para poder, debaixo dela, desmascarar, investigar, experimentar, descobrir o mundo da alma, rir da sociedade, expor algumas das componentes mais esquisitas da personalidade. Na razão inversa de sua prosa elegante e discreta, do seu tom humorístico e ao mesmo tempo acadêmico, avultam para o leitor atento as mais desmedidas surpresas. A sua atualidade vem do encanto quase intemporal do seu estilo e desse universo oculto que sugere os abismos prezados pela literatura do século XX. E a este propósito é interessante dar um repasso nas diferentes etapas da sua glória no Brasil, para avaliar as suas muitas faces e o ritmo com que foram descobertas.”

Antonio Candido, “Esquema de Machado de Assis”, in: Vários Escritos. São

Paulo: Livraria Duas Cidades, 1995.

Sandra
Highlight

Introdução a Machado de Assis PRINCIPAIS TÓPICOS DA PROSA MACHADIANA (COMENTÁRIOS GERAIS) • A versatilidade: poeta, dramaturgo, cronista, contista,

romancista • Um realismo complexo • A interpelação ao leitor e a ironia • Temas machadianos: meandros do processo criativo (música e

literatura), a filosofia, o triângulo amoroso, o adultério e o ciúme, dissimulação, vaidade, política e escravidão

• A evolução da obra: as primeiras edições na imprensa e em livro; os gêneros da prosa machadiana: crônicas, contos, romances

• Edições das crônicas e dos contos. Sobre os projetos editoriais em torno de sua obra: livros, coletâneas, internet

• A passagem da primeira para a segunda fase, no romance e nos contos

• Narrativas em primeira e em terceira pessoa: problemas de criação e de crítica

Cronologia dos principais eventos – vida e obra de Machado de Assis

1839 – Nascimento no Morro do Livramento, Rio de Janeiro. 1850 – Proibição do tráfico negreiro. 1854 – Primeiras colaborações na Marmota Fluminense. Nos anos seguintes,

trabalha como tipógrafo e revisor de provas. 1864 – Publicado seu primeiro livro de versos, Crisálidas.

1867 – É nomeado ajudante do diretor do Diário Oficial. 1869 – Casa com Carolina Augusta Xavier de Novaes. Assina contrato com Garnier.

1864-1870 – Guerra do Paraguai. 1870 – São publicadas as obras Falenas (poesia) e Contos fluminenses.

1871 – Lei do Ventre Livre (28 de setembro). 1872 – Ressurreição, seu primeiro romance.

1873 – Publica Histórias da meia-noite (contos) e “Instinto de nacionalidade”. É nomeado primeiro-oficial do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.

1874 – Sai A mão e a luva, segundo romance. 1875 – Publica Americanas, terceiro livro de poesia.

1876 – Publica Helena. Colabora na revista Ilustração Brasileira e é promovido a chefe de seção da Secretaria de Agricultura. Saem os resultados do Censo.

Cronologia dos principais eventos – vida e obra (cont.)

1878 – Sofre com uma infecção nos olhos e tem de passar uma temporada de seis

meses, entre 78 e 79, em Nova Friburgo. Além disso, tinha seguidas crises nervosas e ataques de epilepsia. Iaiá Garcia sai em folhetim em O Cruzeiro. Faz dura crítica a O Primo Basílio, de Eça de Queirós.

1880 – Publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas em folhetim na Revista Brasileira.

1881 – Inicia colaboração como cronista da Gazeta de Notícias, onde vai publicar as crônicas de Balas de Estalo, Bons Dias! e A Semana. Memórias Póstumas de Brás Cubas sai em livro.

1888-1889 - Abolição e Proclamação da República. Machado desfila em carro aberto para comemorar a libertação dos escravos. Em 89 é promovido a Diretor da Diretoria do Comércio no Ministério da Agricultura.

1896-97 – Inauguração e Fundação da Academia Brasileira de Letras. Machado é o seu primeiro presidente

1899 – Sai Dom Casmurro. 1904 – Publicação de Esaú e Jacó. Morte de Carolina. 1908 – Memorial de Aires. Machado de Assis morre em 29 de setembro.

Principais obras em livro

POESIA • 1864 – Crisálidas • 1870 – Falenas • 1875 – Americanas • 1901 – Poesias Completas CONTOS • 1870 – Contos Fluminenses • 1873 – Histórias da meia-noite • 1882 – Papéis Avulsos • 1884 – Histórias sem data • 1896 – Várias Histórias • 1899 – Páginas recolhidas • 1906 – Relíquias de Casa Velha

ROMANCES • 1872 – Ressureição • 1874 – A mão e a luva (publicada em O

Globo) • 1876 – Helena (folhetim em O Globo) • 1878 – Iaiá Garcia (folhetim em O

Cruzeiro) • 1881 – Memórias Póstumas de Brás

Cubas (folhetim na Revista do Brasil) • 1891 – Quincas Borba (primeira versão

publicada em A Estação) • 1899 – Dom Casmurro • 1904 –Esaú e Jacó • 1908 – Memorial de Aires

Obras completas de Machado de Assis Desafios e caminhos de edição A obra completa de Machado de Assis está disponível para leitura na rede. Sua obra continua a

propor (e desafiar) olhares críticos e bibliográficos: http://machado.mec.gov.br/ Parceria entre o Portal Domínio Público (biblioteca digital do MEC) e a Universidade Federal

de Santa Catarina, o projeto teve como propósito organizar, sistematizar, complementar e revisar as edições digitais até então existentes na rede, gerando o que se pode chamar de Coleção Digital Machado de Assis.

www.machadodeassis.org.br O site da ABL (Academia Brasileira de Letras) traz informações sobre o autor e sobre o

Arquivo Machado de Assis, da própria academia. http://machadodeassis.net/ Esta base de dados desenvolvida pela pesquisadora Marta de Senna é ligada à Fundação Casa

de Ruy Barbosa, no Rio de Janeiro, e traz citações e alusões nos romances e contos de Machado de Assis, artigos sobre a obra de Machado de Assis e romances e contos de Machado com notas em hipertexto. Abriga a revista eletrônica

A juventude de Machado de Assis 1839 - Nasce em 21 de junho, Joaquim Maria Machado de Assis, filho de Francisco José de Assis e da açoriana Maria Leopoldina Machado. 1849 Após o falecimento de sua mãe e de sua única irmã, Machado é amparado por sua madrinha. Cinco anos depois, seu pai casa-se de novo, com Maria Inês da Silva, com quem Machado continuará vivendo após a morte de Francisco José. 1854 Machado publica seu primeiro poema, um soneto, num jornal chamado “Periódico dos Pobres”. No ano seguinte, já o poema “Ela” publica em A Marmota Fluminense, colaboração que vai até 1861. Nos anos seguintes, frequenta a livraria e editora de Paula Brito, que publicava A Marmota Fluminense, jornal que também adotou os nomes de A Marmota e A Marmota na Corte.

Vista do morro do Livramento, onde nasceu Machado, c. 1865. Foto: Georges Leuzinger. Fonte: A olhos vistos, uma iconografia de Machado de Assis. IMS: 2008.

A Marmota e a Petalógica

• Paula Brito foi um dos principais editores

de meados do século XIX e o primeiro editor de Machado.

• O jovem autor frequentava a Sociedade Petalógica, cujo lema era: “Contrariar os mentirosos, mentindo-lhes a fim de que eles, tomando como verdade tudo que ouviam, o fossem repetindo por toda parte e se desmoralizassem inteiramente, ou perdessem o vício”.

• Em A Marmota, sai o seu primeiro conto: “Três tesouros perdidos”.

• Em 1861, o livreiro Paula Brito publicou dois dos primeiros livros de Machado: Desencantos (uma fantasia dramática, comédia) e a tradução de Queda que as mulheres têm para os tolos (sátira em prosa).

A Marmota na Corte e a edição de A Marmota Fluminense (à esq.)

com o poema “Ella”, de Machado de Assis.

A juventude de Machado de Assis A década de 1850 Em 1856 começa a trabalhar de auxiliar de

tipógrafo na Imprensa Nacional, onde conhece Manuel Antonio de Almeida. Começa a fazer traduções do francês de libretos e de peças de teatro.

Aos 19 anos, em 1858 sai da Imprensa Nacional. Começa a trabalhar como revisor da Livraria de Paula Brito. Continua a publicar textos na Marmota, onde publicou um de seus primeiros contos: “Três tesouros perdidos”.

Trabalha como revisor de provas de Paula Brito e no Correio Mercantil, onde José de Alencar escrevia “Ao correr da pena” e Manuel Antonio de Almeida publicara “As memórias de um sargento...”, em folhetim em 52-53.

Escreve crítica teatral em O Espelho.

Em 1860, ingressa no Diário do Rio de Janeiro,

jornal de perfil liberal, dirigido por Saldanha Marinho e com direção de redação de Quintino Bocaiúva. Como diz Cristiane Costa, entrou pela “cozinha” do jornal: redigia os anúncios e as notas mais breves.

O jovem Machado de Assis Reprodução: Guimarães, Hélio de Seixas; Sacchetta, Vladimir (orgs.). A olhos vistos: uma iconografia de Machado de Assis. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2008.

Escritor em formação A década de 1860

No começo da década de 1860, trabalha como redator do Diário do Rio de Janeiro, no qual usa os pseudônimos Gil, Job e Platão; fazia a resenha dos debates do Senado e a crítica teatral.

É publicado o Teatro de Machado de Assis (1863),

composto por duas comédias, "O protocolo" e "O caminho da porta". Jean Michel Massa chama esse período “a década do teatro”. Machado é sócio do Conservatório Dramático Brasileiro (auxiliar da censura) e bibliotecário da Sociedade Arcádia Brasileira.

Colabora em O Futuro, periódico quinzenal sob a

direção de Faustino Xavier de Novais. No “Diário do Rio”, foi repórter do Senado e, a

partir de 1861, cronista. Escrevia as seções Comentários da Semana, Conversas Hebdomadárias, Ao Acaso, Cartas Fluminenses, sob os pseudônimos. Escrevia também editoriais e acumulava funções administrativas.

Publica contos no Jornal das Famílias e colabora em

A Semana Ilustrada, como um dos cronistas que assinavam Dr. Semana.

Machado aos 25 anos, em 1864, em foto de Insley Pacheco

Realismo machadiano - Instinto de nacionalidade

O realismos machadiano é complexo. O autor recusa o caráter romântico da idealização da identidade nacional. No artigo “Instinto de nacionalidade”, examina o desejo dos brasileiros de produzir uma literatura “mais independente”, condena a busca da “cor local” no romance e defende um “sentimento íntimo” de nacionalidade:

“Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço, certo instinto de nacionalidade.

Poesia, romance, todas as formas literárias do pensamento buscam vestir-se com as cores do país, e não há negar que semelhante preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro. As tradições de Gonçalves Dias, Porto-Alegre e Magalhães são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora madruga, como aqueles continuaram as de José Basílio da Gama e Santa Rita Durão. Escusado é dizer a vantagem deste universal acordo. Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas acharão ali farto manancial de inspiração e irão dando fisionomia própria ao pensamento nacional. Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem campo de Ipiranga; não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma geração nem duas; muitas trabalharão para ela até perfazê-la de todo. Sente-se aquele instinto até nas manifestações da opinião, aliás mal formada ainda, restrita em extremo, pouco solícita, e ainda menos apaixonada nestas questões de poesia e literatura. Há nela um instinto que leva a aplaudir principalmente as obras que trazem os toques nacionais. A juventude literária, sobretudo, faz deste ponto uma questão de legítimo amor-próprio. [...]

Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura nascente, deve principalmente alimentar-se dos assuntos que lhe oferece a sua região; mas não estabeleçamos doutrinas tão absolutas que a empobreçam. O que se deve exigir do escritor antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço.

ASSIS, Machado. “Notícia da atual literatura brasileira. Instinto de nacionalidade”. In: O Novo Mundo, 1873.

O cronista Crônicas machadianas escolhidas e comentadas

• Aquarelas (1859-60) Publicadas no jornal O Espelho • Histórias de 15 Dias (1876) Sob pseudônimo de Manassés publica na Ilustração Brasileira, a série de crônicas “História de 15 dias”.

• Notas Semanais (1878) Publicadas em O Cruzeiro, saem as crônicas de “Notas semanais”, sob pseudônimo de Eleazar • Bons Dias! (1888-89) Publicadas na Gazeta de Notícias, com pseudônimo Boas Noites!

• A Semana (1892-1897) “O punhal de Martinha” (A Semana, 5 ago.1894)

Principais veículos onde as crônicas foram publicadas

Fonte: GLEDSON, John (org.). Machado de Assis. Crônicas escolhidas. São Paulo: Penguin Companhia, 2013.

Edições de crônicas comentadas

Indicações bibliográficas • CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA. Machado de Assis. São Paulo: Instituto Moreira Salles, julho de 2008.

• ASSIS, Machado. “Notícia da atual literatura brasileira. Instinto de nacionalidade”. In: O Novo Mundo, 1873.

• AZEVEDO, Silvia Maria (org.). História de Quinze Dias, História de Trinta Dias. Crônicas de Machado de Assis –

Manassés. São Paulo: Editora Unesp, 2011.

• CANDIDO, Antonio. “Esquema de Machado de Assis”, in: Vários escritos. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1995.

• GLEDSON, John (org.). Machado de Assis. Crônicas escolhidas. São Paulo: Penguin Companhia, 2013.

• GLEDSON, John e GRANJA, Lucia (orgs.). Notas semanais. Machado de Assis. Campinhas: Editora Unicamp, 2008.

• GUIMARÃES, Hélio de Seixas; Sacchetta, Vladimir (orgs.). A olhos vistos: uma iconografia de Machado de Assis. São

Paulo: Instituto Moreira Salles, 2008.

• HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 2. ed. revista e ampliada. São Paulo: Edusp, 2005.

• MASSA, Jean-Michel. A juventude de Machado de Assis, 1839-1870: ensaio de biografia intelectual. Trad. de Marco

Aurélio de Moura Matos. 2.ed. revista. São Paulo: Editora Unesp, 2009.

• RAMOS Jr., José de Paula; Deaecto, Marisa Midori; Martins Filho, Plínio (orgs.). Paula Brito: editor, poeta e artífice

das letras. São Paulo: Edusp/ComArte, 2010.

• SCHWARZ, Roberto. Martinha versus Lucrécia. Ensaios e entrevistas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

• ZENI, Bruno. O petalógico Paula Brito: poeta, empresário e primeiro editor de Machado de Assis. Revista da

Biblioteca Mário de Andrade, n. 66, São Paulo: Imprensa Oficial, 2011.

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