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Aula 1 Conhecimento Específico em Serviço Social Concurso SARH 09:00 – 12:00 31 de agosto 2014 Professora: Vanessa Azevedo Assistente Social, Mestre em Serviço Social Contato: [email protected] vanessalsazevedo.tumblr.com (51) 8533-6545

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Aula 1 Conhecimento Específico

em Serviço Social

Concurso SARH 09:00 – 12:00

31 de agosto 2014

Professora: Vanessa Azevedo Assistente Social, Mestre em Serviço Social

Contato: [email protected] vanessalsazevedo.tumblr.com

(51) 8533-6545

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MONTANO, Carlos. Pobreza, "questão social" e seu enfrentamento.

OBJETIVO

• Problematizar as diferentes concepções de pobreza e “questão

social” na tradição. liberal, e suas

formas típicas de enfrentamento, no contexto do liberalismo

clássico, no século XIX, do

keynesianismo, no século XX, e do neoliberalismo, a partir da atual

crise do capital.

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I. CONCEPÇÕES SOBRE POBREZA, “QUESTÃO SOCIAL” E SEU ENFRENTAMENTO

Capitalismo concorrencial

Capitalismo monopolista

“Estado de bem estar social

Pensamento Neoliberal

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Cap

ital

ism

o c

on

corr

enci

al

separação entre o econômico e o social

desarticulado dos fundamentos econômicos e políticos da sociedade

“social” pode ser visto como “fato social”

se o problema social (a “questão social”) não tem fundamento estrutural, sua solução também não passaria pela transformação do sistema

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Começa-se a se pensar então a “questão social”, a miséria,

a pobreza, e todas as manifestações delas, não como

resultado da exploração econômica, mas como

fenômenos autônomos e de responsabilidade

individual ou coletiva dos setores por elas atingidos. A

“questão social”, portanto, passa a ser concebida como

“questões” isoladas, e ainda como fenômenos naturais ou

produzidos pelo comportamento dos sujeitos que os

padecem.

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As causas da miséria e da pobreza:

Déficit educativo Falta de conhecimento das leis “naturais”

do mercado e de como agir dentro dele.

Problema de

planejamento

Incapacidade de planejamento orçamentário

familiar

Problemas de ordem

moral-comportamental

Mal-gasto de recursos tendência ao ócio,

alcoolismo, vadiagem, etc.

SU

RG

E

A “cultura da pobreza”, onde a pobreza e as condições de vida do pobre são tidas como produto e responsabilidade do limites culturais de cada indivíduo.

Tratamento e

enfrentamento

Desenvolve-se fundamentalmente a partir da

organização de ações filantrópicas. Passa a ser

segmentado (separado por tipo de problemas,

por grupo populacional, por território),

moralizador (procurando alterar os aspectos

morais do indivíduo) e comportamental

(considerando a pobreza e as manifestações da

“questão social” como um problema que se

expressa em comportamentos, a solução passa por

alterar tais comportamentos) (cf. Netto, 1992,

p.47). A ação é então a educação e a filantropia.

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Surgem os abrigos para “pobres” e as organizações de caridade e filantropia.

O pobre, passa a ser identificado como “marginal”, passa a ser visto como ameaça à ordem.

SEPARAÇÃO ENTRE POBRE E O TRABALHADOR DIRENCIA-SE O INDIVÍDUO “INTEGRADO” DO “DESINTEGRADO” OU

“DISFUNCIONAL”.

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Capitalismo Monopolista “Estado de Bem-Estar”

QUESTÃO SOCIAL CASO DE POLÍCIA/MARGINAL

A “questão social” passa a ser como que internalizada na ordem

social.

Não mais como um problema meramente oriundo do

indivíduo, mas como consequência do ainda insuficiente

desenvolvimento social e econômico (ou do

subdesenvolvimento).

O tratamento da “questão social” e o combate à pobreza se determina como um processo de redistribuição.

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Pensamento neoliberal

Estado mínimo

Políticas: focalizadas e precárias, com programas de combate à fome e à miséria, financiados em parte por doações da “sociedade civil” e com retiros das classes trabalhadoras.

Terceiro Setor Voluntariado

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A atual estratégia neoliberal de “enfrentamento” da pobreza orienta-se

numa tripla ação. Por um lado, a ação estatal, as políticas sociais do

Estado, orientadas para a população mais pobre (cidadão usuário);

ações focalizadas, precarizadas, regionalizadas e passíveis de clientelismo.

Por outro lado, a ação mercantil, desenvolvida pela empresa capitalista,

dirigida à população consumidora, com capacidade de compra

(cidadão cliente), tornando os serviços sociais mercadorias lucrativas.

Finalmente, a ação do chamado “terceiro setor”, ou da chamada sociedade

civil (organizada ou não), orientada para a população não atendida nos

casos anteriores, desenvolvendo uma intervenção filantrópica.

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II. DESIGUALDADE SOCIAL E AS POLÍTICAS COMPENSATÓRIAS DE COMBATE À POBREZA (EXTREMA)

Avaliar os fundamentos das estratégias de enfrentamento da pobreza,

de combate à fome e à miséria (a exemplo das propostas do Banco

Mundial, do FMI, e as políticas desenvolvidas nos governos FHC e

Lula), como formas políticas compensatórias que nada alteram as

fontes e fundamentos da desigualdade social, fundada na contradição

capital-trabalho, na exploração da força de trabalho, na acumulação e

centralização de capital, que num contexto de crise se vê acirrada.

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Pobreza e “questão social”: uma análise histórico-crítica

A desigualdade, em contexto de escassez, é vista pelos liberais como

necessária ao crescimento e ao desenvolvimento das forças

produtivas. Contrariamente, em sociedades de abundância, onde a

produção é suficiente para abastecer toda a população, como é a

sociedade capitalista na era dos monopólios, a desigualdade social é

produto do próprio desenvolvimento das forças produtivas, e não o

resultado do seu insuficiente desenvolvimento, nem a condição

para o mesmo.

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Sociedades pré-capitalistas a pobreza é o resultado (para além da

desigualdade na distribuição da riqueza) do insuficiente

desenvolvimento da produção de bens de consumo, ou seja, da

escassez de produtos.

Produção capitalista a pobreza (pauperização absoluta ou relativa, é o

resultado da acumulação privada de capital, mediante a exploração (da

mais-valia), na relação entre capital e trabalho, entre donos dos meios

de produção e donos de mera força de trabalho, exploradores e

explorados, produtores diretos de riqueza e usurpadores do trabalho

alheio.

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No capitalismo, quanto mais se desenvolvem as forças

produtivas, maior acumulação ampliada de capital e maior

pobreza (absoluta ou relativa)

Quanto mais riqueza produz o trabalhador, maior é a exploração,

mais riqueza é expropriada (do trabalhador) e apropriada (pelo

capital).

Não é a escassez que gera a pobreza, mas a abundância (concentrada

a riqueza em poucas mãos) que gera desigualdade e pauperização

absoluta e relativa.

O desenvolvimento no capitalismo não promove maior distribuição

de riqueza, mas maior concentração de capital, portanto, maior

empobrecimento (absoluto e relativo), isto é, maior desigualdade.

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A caracterização histórico-crítica da pobreza e da “questão social” deve

considerar os seguintes aspectos:

a) “questão social”, como fenômeno próprio do MPC, constitui-se da relação capital-trabalho a partir do processo produtivo, suas contradições de interesses e suas formas de enfrentamento e lutas de classes. Expressa a relação entre as classes (e seu antagonismo de interesses) conformadas a partir do lugar que ocupam e o papel que desempenham os sujeitos no processo produtivo (cf. Montaño e Duriguetto, 2010, p. 82-98);

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b) a pobreza no MPC, enquanto expressão da “questão social”, é uma manifestação da relação de exploração entre capital e trabalho, tendo sua gênese nas relações de produção capitalista, onde se gestam as classes e seus interesses. Como afirmamos, se o pauperismo e a pobreza, em sociedades pré-capitalistas, é resultado da escassez de produtos, na sociedade comandada pelo capital elas são o resultado da acumulação privada de capital. No MPC, não é o precário desenvolvimento social e econômico que leva à pauperização de amplos setores sociais, mas o próprio desenvolvimento (das forças produtivas) é o responsável pelo empobrecimento (absoluto ou relativo) de segmentos da sociedade. Não é, portanto, um problema de distribuição no mercado, mas tem sua gênese na produção (no lugar que ocupam os sujeitos no processo produtivo);

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c) Desta forma todo enfrentamento da pobreza direcionado ao fornecimento de bens e serviços é meramente paliativo. Toda proposta de desenvolvimento econômico como forma de combater a pobreza (sem enfrentar a acumulação de riqueza, sem questionar a propriedade privada) não faz outra coisa senão ampliar a pauperização (absoluta e/ou relativa). Toda medida de “combate à pobreza” no capitalismo não faz mais do que reproduzi-la, desde que amplia a acumulação de capital. Quanto mais desenvolvimento das forças produtivas, maior a desigualdade e o pauperismo.

d) No entanto, no contexto da ordem do capital, o fornecimento de bens e serviços constitui, em parte, o resultado de demandas e lutas de classes sociais, caracterizando-se assim um processo contraditório entre a sua funcionalidade com a hegemonia e a acumulação capitalista (produtivo-comercial), e a representação de conquistas e direitos dos trabalhadores e cidadãos;

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e) portanto, não há novidade (a não ser nas formas e dimensões que assume) na “questão social” na atualidade. As análises que tratam de uma suposta “nova questão social”, de uma “nova pobreza”, dos “novos excluídos sociais”, constituem abordagens que se sustentam na desvinculação da “questão social” e de suas manifestações (pobreza, carências, subalternidade cultural, etc.) dos seus verdadeiros fundamentos: a exploração do trabalho pelo capital. E estes fundamentos permanecem (e permanecerão enquanto a ordem capitalista estiver de pé) inalterados;

f) só as lutas de classes, e a mudança na correlação de forças sociais, poderão reverter esse processo histórico, confirmando e ampliando conquistas e direitos trabalhistas, políticos e sociais, e superando a ordem do capital.

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2. A crise capitalista: causa da pobreza?

Na ordem do capital a crise é estrutural e intrínseca; é parte necessária do próprio desenvolvimento capitalista e não uma “doença” transitória. .A própria lógica do desenvolvimento capitalista manifesta-se ciclicamente em crises de superprodução e superacumulação, permeadas pelas lutas de classes. As crises são cíclicas, fenômeno intrínseco e estrutural ao próprio sistema capitalista. Não sendo, as crises, fases estranhas, doenças, mas períodos do próprio desenvolvimento capitalista, formas em que se manifesta a queda tendencial da taxa média de lucros.

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3. A desigualdade no MPC e as políticas sociais

a) Primeiramente, no MPC, a pobreza (pauperização absoluta ou relativa) é o par dialético da acumulação capitalista;

b) Em segundo lugar, a crise é estruturalmente o par dialético da expansão ou desenvolvimento capitalista, alternando ciclicamente entre um e outro.

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No primeiro caso, essa relação dialética pobreza/acumulação perpassa e marca todo o debate atual sobre políticas de assistência social, SUAS, Bolsa Família, dividindo as águas entre os que concebem as ações (“afirmativas”) de combate à fome e à miséria com independência da acumulação capitalista (a qual bate recordes a cada ano) e da propriedade privada — separando claramente a questão da pobreza do processo de acumulação, buscando alterar a “situação da pobreza” sem impactar a redução da acumulação — e aqueles que questionam as ações sociais que não tenham impacto na acumulação ampliada de capital e na propriedade privada — pensando articuladamente pobreza e acumulação e procurando diminuir a pobreza a partir da redução da acumulação capitalista, impactando na gênese da desigualdade social.

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No segundo caso, a relação dialética crise/expansão capitalista corta o debate (e prática) que enfrenta aqueles que visam “resolver” uma “crise” considerada como algo externo ao capital, melhorando e humanizando o capitalismo — onde desenvolvem-se ações voltadas ao “empoderamento”, à “economia solidária”, ao “participacionismo ‘da’ sociedade civil” (transmutado em “terceiro setor”), ao estímulo do “autoemprego”, o “emprendedorismo”, a “responsabilidade social” etc., sem almejar a superação da ordem —, e os que buscam enfrentar a crise como momento constitutivo e necessário do desenvolvimento capitalista, a partir da contradição capital-trabalho e a exploração da classe trabalhadora pelo capital.— aqui a luta tem por horizonte político a superação da ordem.

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III. A MODO DE CONCLUSÃO

1. Não é no mercado, mas na esfera produtiva que se são geradas as contradições fundantes entre as classes na sociedade capitalista.

2. A desigualdade no capitalismo não se resolve apenas com uma socialização parcial da riqueza, mas com a eliminação das classes e da exploração do trabalho pelo capital, ou seja, com a superação da ordem capitalista.

3. As políticas sociais e direitos sociais, políticos e trabalhistas representam também conquistas dos trabalhadores e setores subalternos, que podem diminuir, mas jamais eliminar as desigualdades. Elas são naturais ao capitalismo, produto das contradições capitalistas, e necessárias para a manutenção do MPC.

4. No entanto, a luta por mecanismos de redistribuição de renda, por controle da exploração, por melhores salários, condições de trabalho e direitos trabalhistas, é, no curto prazo, necessária e urgente para o trabalhador, para o movimento social e sindical, para o partido político e, particularmente, para o assistente social.

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5. A despeito do anterior, não observamos, nos governos do PT, um direcionamento, nas suas políticas econômica e social, para alterar ou diminuir, sequer mediante mecanismos de redistribuição de renda, a desigualdade social.

Se por um lado houve, nos governos do PT, ampliação da cobertura do Bolsa Família, por outro esta foi acompanhada de: a). Descaracterização do Fome Zero.(cf..Siqueira,.2007). b). Confirmação da assistencialização da política.social, contratando profissionais no âmbito municipal, com certa precarização das condições detrabalho. c). Particularmente, a política social perde seu papel “redistributivo” e volta a uma função “compensatória”. Que mede a distribuição da riqueza e a desigualdade social, aplicado antes e depois da “redistribuição” por via de políticas sociais, mostra o pífio impacto dessa ação no Brasil. d). Confirmação da eliminação da dimensão de “direito de cidadania” da ação social estatal. e) Desuniversalização, focalização e transitoriedade dos serviços sociais, mantendo a “seletividade por renda”.

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BONFIM, Paula. Entre o público e o privado: as estratégias atuais no enfrentamento à questão social.

OBJETIVO: refletir sobre a relação público/privado no Estado burguês e sobre a relação destas esferas no que se refere ao enfrentamento da questão social.

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Uma das peculiaridades da sociedade burguesa é o isolamento entre as esferas do público e do privado que dá ao Estado burguês um caráter diferenciado de todas as outras formas de dominação de classe.

A lógica neoliberal ao mesmo tempo em que identifica os problemas sociais como responsabilidade dos indivíduos também sugere que sejam resolvidos no âmbito privado – através de esforços próprios ou, quando isso não é possível, através de instituições privadas da sociedade civil atreladas às práticas de doações e do “trabalho” voluntário.

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O Estado burguês passa a interferir cada vez mais na economia e observa-se também uma nova forma de intervenção social, ou seja, o Estado assume a responsabilidade no enfrentamento das manifestações da questão social. Percebe-se entretanto, que, ao mesmo tempo que este enfrentamento passa a ser feito através de políticas públicas, as ações profissionais continuam enfocando o âmbito privado via moralização da questão social. Neste sentido é que muitos teóricos como Paulo Netto chamam a atenção para a psicologização das relações sociais. Pois tanto a perspectiva quanto a lógica neoliberal voltam-se para novos padrões de intervenção, corroborando e encorajando ações que se desenvolvam no âmbito privado.

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O que deve prevalecer é a fusão cada vez maior entre o público e o privado com o intuito de desconstruir o “referencial público” no caso daquelas áreas em que houve este reconhecimento (por exemplo, na educação, na saúde e na previdência social), pois, no caso da assistência este referencial não foi alcançado, o que a compromete ainda mais.

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A opção por esta fusão entre a “perspectiva pública” e a “privada”, com destaque para essa última, desconstrói a ideia de direito na garantia das políticas sociais. Sugere alternativas que “privilegiam” a “perspectiva privada” na garantia dos “mínimos sociais”, enfatizando e publicizando assim a ideia de que esta é a “única” alternativa viável na conjuntura atual. Desta forma, atua como um componente ideológico importante – nesta fase específica do capitalismo – para a manutenção das relações de exploração e desigualdade. Entretanto, como já foi sinalizado, isto não significa afirmar que o Estado deixa de assumir totalmente sua responsabilidade no enfrentamento às sequelas da questão social. Suas ações, portanto, devem ser focalizadas, atendendo àqueles que estão em situação de extrema vulnerabilidade social.

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GOMES, Romeu; DESLANDES, Suely Ferreira. Interdisciplinaridade na saúde pública: um

campo em construção.

• OBJETIVO: objetivo discutir a questão da interdisciplinaridade no Campo da Saúde Pública (sua necessidade, obstáculos a sua implementação e possibilidades).

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GUSDORF

Coloca que antes da ciência moderna, a sociedade encontrava no conjunto de seus mitos e cosmogonias os elementos de uma inteligibilidade universal. A ciência moderna, com a disciplinarização, fragmenta a percepção do humano e, distanciando-se dele, reduz a existência humana a um estatuto de perfeita objetividade. a ciência moderna, ao recortar o mundo das vivências (natureza) e o do vivido (humano) em inúmeros objetos, sob administração das diversas disciplinas, produz um conhecimento esquizofrênico. Defende que todas as ciências são as ciências do humano, portanto, a ciência que dissocia e desintegra seu objeto pode ser considerada alienada e alienante. Deste modo, interdisciplinaridade como a busca de totalidade do conhecimento, como uma crítica veemente à sua fragmentação; à institucionalização e aprisionamento do saber nas academias e à crescente valorização "per si" do saber técnico. considera a interdisciplinaridade como uma tarefa filosófica que conclamaria ao saber científico a uma conversão ética e aglutinadora em prol da integração do conhecimento, buscando os limites e os elementos gerais e comuns de cada disciplina.

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JAPIASSU

Considera que a interdisciplinaridade pode ser vista como uma necessidade interna da ciência, a fim de resgatar a unidade de seu objeto e os vínculos de significação humana. Mas coloca-se também, segundo o autor, como uma necessidade imposta pelos complexos problemas que são colocados para a ciência e que não são respondidos por enfoque unidisciplinar ou pela justa posição de várias disciplinas.

Tal proposta, embora correta em seus anseios, sofre de uma limitação de magnitude, atribuindo até certo ponto a uma disposição “voluntária” daqueles que produzem o conhecimento técnico e científico. Contudo, Gusdorf coloca em discussão aspectos de grande importância, levando-nos a reflexão que o desafio interdisciplinar deve basear-se numa perspectiva de diálogo e interação das disciplinas, para além das tentativas multidisciplinares (ainda que possam ser vistas como uma etapa para a interdisciplinaridade) que apenas produzem conhecimentos justapostos em tomo de um mesmo problema, cada qual a partir de seu próprio e inviolável ponto de vista. Com base nesta reflexão, propomos um diálogo, de tal forma que as disciplinas saiam enriquecidas em nível de método e perspectiva. (Trata-se, enfim, de uma proposta de religare, não para a dimensão divina, mas entre o conhecimento científico e a complexidade do mundo vivido, para a medida do humano na produção da ciência, visando a superação da dicotomia entre o conhecimento teórico e o prático).

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CARNEIROLEÃO

Sua crítica é centrada na ciência moderna que busca uma uniformização cada vez maior de suas estruturas. Voltada para a padronização, enquanto movimento de difusão de si mesma, atropela diferenças e oposições. Segundo Leão, o conceito central da ciência moderna é a funcionalidade. A interdisciplinaridade é vista como um processamento funcional, uma tecnologia que pode garantir a expansão de práticas operatórias comprometidas com a transformação do real em objetividade, ou seja, garantindo assim a essência da ciência e de sua lógica de funcionalidade. Sua preocupação está em questionar a ciência enquanto forma de conhecimento que, ao padronizar a verdade, afasta o ser humano de sua essencialidade, do que refletir sobre a fragmentação científica. Ele critica a importação de modelos culturais do primeiro mundo. Mostra que o poder e a dominação são acenados através das atuais retóricas "da intere da transdisciplinaridade "importadas" sob a forma de modelos econômicos, paradigmas políticos, recursos tecnológicos e matrizes de conhecimentos.

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HABERMAS

Esse posicionamento também realiza uma crítica da ciência, partindo, no entanto, de sua positividade. Aposta em uma nova racionalidade que contemplaria o encontro entre filosofia, ciência e mundo. Defendendo essa nova racionalidade, ele se contrapõe a razão instrumental. Através de sua teoria do agir comunicativo, ele desenvolve a "crítica ao estreitamento do conceito de racionalidade as suas dimensões congnitivo-instrumentais, deixando de fora os elementos ético-normativos". Em sua teoria a filosofia crítica se apóia na atividade comunicativa e na razão comunicativa. A filosofia, além de crítica, se caracterizaria por um processo de cooperação interdisciplinar, assumindo um papel mediador entre ciência e mundo da vida cotidiana.

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A INTERDISCIPLINARIDADE NO CAMPO DA SAÚDE PÚBLICA

Déc. 60 Algumas experiências como a da Medicina Comunitária, nos

EUA e a tentativa de interdisciplinaridade na área de Saúde

Mental na Europa, apontavam uma nova perspectiva de

articulação entre as disciplinas sociais e biomédicas,

embora já se constatassem obstáculos epistemológicos,

psicossociais institucionais e de linguagem. (ABEMO).

Déc. 70 Em muitos países latinos, já se colocava o estudo da produção

social das doenças, onde o adoecer era percebido através dos

condicionantes econômicos, históricos e sociais. (GARCIA).

Apesar da ampliação de perspectivas, não pode-se dizer que

houve um grande avanço para o diálogo interdisciplinar, muito

embora já se questionasse, principalmente na década de 80, a

esterilidade do enfoque unidisciplinar, por mais abrangente que

fosse sua análise

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A INTERDISCIPLINARIDADE NO CAMPO DA SAÚDE PÚBLICA

Déc. 80 Inicio do debate do conceito ampliado de saúde no Brasil e

com isso, novas abordagens para a produção do

conhecimento e para a intervenção prática. O que também se

coloca em debate é que na Saúde Pública, como campo

político, o espaço de hegemonia de uma disciplina ou de

articulação cooperativa entre disciplinas é um campo de

correlação de forças, fortemente relacionado a consciência

social e política que se engendrano confronto das práticas.

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A Saúde Pública, devido a sua natureza, se volta para uma perspectiva baseada em grupos sociais ou populações. Essa perspectiva inspira sua aplicação, seu conhecimento e seu âmbito de atuação. A partir do princípio multidisciplinar de investigação, podemos, assim, definir Saúde Pública como ampliação das ciências biológicas, sociais e da conduta ao estudo do fenômeno saúde em populações humanas. Nessa perspectiva, o processo saúde-doença, como observam Birman e Ruffino Neto, se traduz pela inter-relação entre aspectos de ordem clínica e sociológica. Assim, faz-se necessário levarmos em conta - além dos aspectos anatômicos e fisiológicos - valores, atitudes e crenças que se encontram no universo das representações dos atores sociais que vivenciam esse processo.

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Para que se avance na questão da interdisciplinaridade, é importante lembrarmos que essa não anula a disciplinaridade. Assim como não significa a justaposição de saberes, também não anula a especificidade de cada campo de saber. Ela, antes de tudo, implica numa consciência dos limites e das potencialidades de cada campo de saber para que possa haver uma abertura em direção de um fazer coletivo. Um fazer interdisciplinar, por outro lado, pode envolver recortes no conjunto do conhecimento. O problema é como recortar e para que recortar. Um recorte deve ser sempre visto como tal e não pode substituir o todo.

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Concluímos que a interdisciplinaridade no campo da Saúde Pública alcança um status de necessidade interna diante da complexidade que o problema da Saúde impõe. A situação de miséria, a alarmante concentração de bens e oportunidades e quase exclusão total de cidadania para imensa maioria da população brasileira dão maior dimensão e gravidade a necessidade de abordagens de saúde que sejam eficazes, competentes e que tenham uma face humana.