aula 09 - plantas alucinógenas

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  • Plantas Alucingenas

    Professora: Maria Carolina Anholeti

    Universidade Federal Fluminense

    Curso: Medicina

    Disciplina: Biologia Geral Botnica Aplicada

  • Plantas alucingenas

    Alucinao a percepo real de um objeto inexistente. Dizemos que a percepo real, tendo em vista a convico inabalvel que a pessoa manifesta em relao ao objeto alucinado, portanto, ser real para a pessoa que est alucinando;

    Plantas alucingenas so assim chamadas por possurem em sua composio substncias capazes de distorcer os sentidos e comumente produzir alucinaes;

    Embora a maioria dos alucingenos sejam visuais, eles tambm envolvem os sentidos de audio, toque, cheiro, ou gosto e ocasionalmente diversos sentidos esto envolvidos.

  • Substncias alucingenas

    Tambm chamadas de psicoticomimticas por mimetizar um dos mais evidentes sintomas das psicoses as alucinaes;

    Alguns autores tambm as chamam de psicodlicas. A palavra psicodlica vem do grego (psico = mente e delos = expanso) e utilizada quando a pessoa apresenta alucinaes e delrios em certas doenas mentais ou por ao de drogas;

    A alucinao e o delrio nada tm de aumento da atividade ou da capacidade mental; ao contrrio, so perturbaes do perfeito funcionamento cerebral;

    Um grande nmero de drogas alucingenas vem da natureza, principalmente de plantas. Elas foram descobertas por nossos ancestrais que, as consideravam plantas divinas, isto , que faziam com que quem as ingerisse recebesse mensagens dos deuses. At hoje em culturas indgenas de vrios pases o uso dessas plantas tem significado religioso.

  • Substncias alucingenas

    Alguns alucingenos agem em doses muito pequenas e praticamente s atingem o crebro e, portanto, quase no alteram nenhuma outra funo do corpo: so os alucingenos propriamente ditos ou alucingenos primrios. Exemplo: O THC (tetraidrocanabiol) da maconha;

    Existem outras drogas que tambm so capazes de atuar no crebro, produzindo efeitos mentais, mas somente em doses que afetam de maneira importante vrias outras funes: so os alucingenos secundrios. Exemplo: Espcies do gnero Brugmansia sp;

    No Brasil algumas plantas alucingenas, ricas em alcalides derivados da triptamina so consumidas por comunidades indgenas na forma de vinho, ch ou raps. Pode-se dizer que o consumo destas plantas deu origem a cultos e religies.

  • Jurema preta - Mimosa hostilis Benth. (Fabaceae)

    Espcie rica em N,N-dimetiltriptamina (DMT), um neurotransmissor qumico presente naturalmente no corpo humano bem como em muitas plantas;

    Pode ser consumida atravs da ingesto da bebida ou do ato de fumar o cachimbo;

    A bebida preparada pelos indgenas por macerao das razes em gua, e o material do cachimbo com as razes e folhas secas da espcie vegetal;

    Em diversas obras literrias envolvendo personagens indgenas o uso de Jurema descrito, como na obra Iracema, de Jos de Alencar.

  • Jurema preta - Mimosa hostilis Benth. (Fabaceae)

    Dentre os efeitos provocados pela Jurema podem ser citados: alteraes de humor com euforia e depresso, ansiedade, distoro de percepo de tempo, espao, forma e cores, alucinaes visuais, ideias delirantes de grandeza ou de perseguio, despersonalizao, midrase, hipertemia e aumento da presso arterial;

    Essa bebida utilizada em rituais religiosos por vrios grupos por proporcionar experincias msticas e vises extticas.

    DMT

  • Efeitos do DMT no organismo em funo do tempo

    Primeiros instantes:

    Vises e pensamentos muito rpidos;

    Objetos perdem as formas;

    Objetos se dissolvem;

    Aps os primeiros 5 minutos:

    Pupilas dilatadas;

    Batimento cardaco acelerado;

    Presso arterial aumenta;

    Aps 10 minutos:

    Alucinaes de olhos fechados e abertos;

    Grande movimentao do globo ocular

    Dificuldade nas expresses e pensamentos;

    Pressentimentos que podem levar ao medo.

    Aps 60 minutos os efeitos j no existem mais, apenas em casos raros pessoas tiveram alguns sintomas na segunda hora do uso.

    DMT

  • Outras plantas ricas em DMT

    Algumas plantas da Amaznia, ricas em DMT utilizadas como alucingenos so o cip caapi - Banisteriopsis caapi Morton (Malpighiaceae) - e as sementes modas das espcies Anadenanthera peregrina L. Spreng. (Fabaceae) e de A. colubrina (Vell.) Brenan (Fabaceae);

    O cip caapi que contm tambm os alcalides -carbolnicos: harmalina, harmina e tetraidro-harmina e as folhas de Psychotria viridis Ruiz & Pavn (Rubiaceae), conhecida como chacrona e tambm rica em DMT, so utilizados para o preparo de uma bebida chamada Ayahuasca.

    Banisteriopsis caapi

    Anadenanthera peregrina

  • Outras plantas ricas em DMT

    Sobre a Ayahuasca, h uma farta literatura botnica e antropolgica, alguns estudos especficos sobre sua farmacologia ressaltam que a psicoatividade oral do DMT depende da inibio da enzima MAO, causada pela ingesto simultnea de -carbonilas;

    Na Ayahuasca, o princpio simblico feminino constitudo pela folha da chacrona, portadora de DMT; e o princpio masculino, pelo cip caapi, que contm harmina e harmalina, inibidores que geram a psicoatividade. Porm, em teoria nem a folha nem o cip so psicoativos tomados separadamente;

    Outra descoberta notvel que consumido via oral acima de 25 mg o DMT psicoativo por si s, no precisando de inibidores, justificando o efeito da jurema.

    Psychotria viridis

  • Alcalides -carbolnicos

    harmalina harmina

    tetraidro-harmina

  • Contra-indicaes e efeitos colaterais da Ayahuasca

    Est comprovado que a dieta influencia diretamente na qualidade da experincia e, sem dvida, o maior perigo fsico ao ingerir ayahuasca est relacionado com os efeitos dos alcalides inibidores da enzima (MAO);

    A tiramina um aminocido que normalmente metabolizado pela MAO no intestino. Ao utilizar inibidores da MAO, a tiramina que se encontra em certos alimentos j no pode ser metabolizada pelo organismo, o que pode causar um acrscimo dos nveis de tiramina no sangue;

    Altos nveis de tiramina podem afetar a produo natural de noradrenalina, levando a uma crise hipertensiva que pode se complicar chegando a produzir hemorragias, infartos, problemas neurolgicos, entre outros;

    A tiramina se encontra em queijos, vinhos e geralmente em tudo o que fermentado.

  • Maconha Cannabis sativa L. (Cannabaceae)

    Devido aos seus efeitos analgsicos, antiemticos e tranquilizantes, a planta Cannabis sativa tem sido utilizada com propsitos medicinais por sculos;

    As preparaes da Cannabis sativa, tais como a marijuana, o haxixe ou o skunk, possuem um longo histrico como drogas de abuso;

    Os efeitos tpicos da planta so amnsia, sedao e sentimento de bem-estar descrito como felicidade;

    Na metade do sculo passado foi identificado o 9-tetraidrocanabinol (9-THC) como o principal ingrediente psicoativo da planta. Hoje sabe-se que a espcie contm mais de 60 substncias semelhantes, denominadas fitocanabinides.

    THC

  • Maconha Cannabis sativa L. (Cannabaceae)

    O processo neurofarmacolgico do THC ainda pouco conhecido;

    Altas densidades dos receptores de THC so encontrados no crtex cerebral; hipocampo, cerebelo e gnglios basais, o que corresponde aos efeitos clnicos do uso da maconha sobre a coordenao, memria e pensamento;

    Os receptores aos quais o THC se liga so os chamados de receptores canabinides, que parecem estar relacionados a diversos processos fisiolgicos, tais como regulao do metabolismo, dor, ansiedade, crescimento sseo e imunidade.

    Imagem: http://www.virtual.epm.br/material/depquim/10flash.htm

  • Neurnios dopaminrgicos do Sistema Lmbico

    Imagens: http://www.virtual.epm.br/material/depquim/10flash.htm

    Sistema Lmbico Emoes

  • Ao do THC

    Imagens: http://www.virtual.epm.br/material/depquim/10flash.htm

    Sabe-se que o THC age indiretamente nos neurnios dopaminrgicos do sistema lmbico atravs de uma interao entre esses neurnios e os neurnios do sistema de opiides endgenos;

    A ligao do THC aos receptores opiides transmite um sinal aos neurnios dopaminrgicos localizados no sistema de recompensa cerebral;

    H uma maior liberao de dopamina na fenda sinptica, o que responsvel pelo efeito clnico de euforia e prazer relacionados ao uso da maconha;

    Em 1992 foi descoberta a anandamida tambm conhecida como substncia da felicidade uma substncia produzida pelo organismo humano que se liga aos receptores opiides e pode ter efeitos analgsicos, ansiolticos e antidepressivos, semelhantes aos do THC.

  • Farmacologia do THC

    Biodisponibilidade: Maior por inalao do que por administrao oral;

    Os efeitos associados administrao oral demoram mais tempo para serem instalados, porm tm maior durao e envolvem efeitos psicoativos mais poderosos;

    Por inalao atravessa os alvolos pulmonares, entra na circulao e atinge o crebro em minutos. Ao chegar corrente sangunea os nveis de THC diminuem rapidamente devido ao metabolismo heptico;

    Altamente lipossolvel, o THC e seus metablitos tendem a acumular-se nas clulas adiposas e tm uma meia-vida de aproximadamente 50 horas;

    Dentre os metablitos o 11-hidrxi-THC potencialmente mais potente que o THC;

    Aproximadamente 25% dos metabolitos so eliminados na urina, porm a maioria liberada no intestino pelo fgado e pode ser reabsorvido atravs da circulao entero-heptica, prolongando a sua ao ou eliminado nas fezes. A eliminao total pode demorar at 30 dias.

  • Problemas associados ao uso da maconha

    O fumo de cigarros de Cannabis est relacionado com a dificuldades respiratrias, porm isso no est relacionado exclusivamente ao THC e deve-se principalmente presena de hidrocarbonetos txicos e carcinognicos provenientes da queima da matria orgnica;

    A dose letal em humanos no ainda conhecida e no existem relatos de morte em seres humanos por intoxicao aguda com Cannabis;

    No crebro, o consumo agudo pode desencadear efeitos passageiros psicticos, cognitivos e no controlo psicomotor. A gravidade e durao dos sintomas variam com a susceptibilidade do indivduo e com a frequncia e intensidade do consumo;

  • Problemas associados ao uso da maconha

    O uso prolongado capaz de alterar a personalidade do usurio (efeito psicolgico?), que passa a experimenta pouco prazer em atividades no relacionadas com o consumo da planta.

    Existem relatos comprovando o risco de malformaes fetais e de danos cognitivos devido ao consumo de Cannabis;

    Um estudo sobre a fisiologia reprodutiva realizado pela Universidade em Buffalo diz que homens que fumam maconha freqentemente tm menos fluido seminal, uma contagem de esperma total mais baixa, e seus espermatozides se comportam anormalmente, o que pode afetar a fertilidade adversamente.

  • Trombeta Brugmansia suaveolens Humboldt & Bonpland ex Willdenow (Solanaceae)

    Os efeitos alucingenos provocados pelo ch da planta conhecida como trombeta, deve-se presena de alcalides tropnicos como a hiosciamina e a escopolamina;

    As substncias em questo tm ao anticolinrgica e em doses elevadas so capazes de causar perturbaes psquicas intensas, principalmente alucinaes e delrios, em geral vises de bichos e pessoas, alm de sensao de perseguio. Os efeitos podem durar de dois a trs dias;

    Os sintomas psquicos so acompanhados de alteraes fsicas como dilatao das pupilas, boca seca, taquicardia, constipao intestinal, e dificuldade para urinar. Pode ocorrer ainda hipertermia, confuso mental e coma.

    (-)-hiosciamina

    (-)-escopolamina

  • Ao dos anticolinrgicos no SNC

    A acetilcolina um neurotransmissor que apresenta papel relevante em vrias funes do SNC como a memria, por sua atuao no hipocampo e outras reas de funo cognitiva, e do sistema nervoso perifrico, como a movimentao neuromuscular;

    As drogas que bloqueiam a acetilcolina podem produzir dficits de cognio, em doses txicas, alm de sintomas psicticos;

    O ch de trombeta considerado umas das drogas mais perigosas do mundo, devido aos altos teores de escopolamina... A seguir alguns relatos do uso de uma dose elevada de escopolamina por um homem de 35 anos...

  • Efeitos provocados pela ingesto de 7 g de escopolamina

    30 min: Incio dos sintomas perifricos anticolinrgicos: boca seca, viso turva, midrase, febre, rubor, sudorese na face, dificuldade de ordenao do pensamento e na construo de frases;

    1 hora: Delrio de fixao, substancial diminuio do tnus muscular, andar de zumbi, reduo brutal da lateralidade, esbarro em qualquer coisa, taquicardia;

    2 horas: Msculos quase completamente relaxados, agora impossvel andar (o sujeito apenas rasteja, com dificuldade). Hipertermia, disritmia cardaca, audio prejudicada, midrase completa, alterao na percepo das cores que so agora muito ricas e brilhantes, como na intoxicao por maconha. A percepo visual insuficiente, o texto borrado e no importa quanto o sujeito tente se concentrar, ler qualquer coisa impossvel. A percepo de profundidade fica severamente prejudicada, o que torna impossvel mensurar as distncias de modo que chegue perto de objetos sem bater ou ficar aqum do ponto determinado;

  • Efeitos provocados pela ingesto de 7 g de escopolamina

    3 horas: As paredes parecem estar respirando, os objetos so um turbilho de vida e formas, criando um cenrio assustador ao redor do indivduo. O efeito sobre a personalidade aterrador;

    4 horas e em diante: Os msculos esto to fracos que parece necessitar de uma fora sobre humana a mera ao de levantar um dedo. O sujeito sente uma fora opressora apert-lo. Como se viesse um dedo de Deus gigante e o forasse para a cama, paralizando-o. O campo visual completamente coberto por diversas formas vivas e uma espcie de espuma de embaamento que surge de modo aleatrio. A garganta est seca, a lngua parece ter areia. O sujeito j no sabe onde ele est, no no sabe quem , se est dormindo ou acordado. O Sujeito oferece a sua alma ao demnio que est sentado sobre ele em troca de um refrescante e singelo copo de gua. O demnio aceita o trato. Captura a sua alma, mas no lhe concede o desejo a gua. O sujeito aceita pacficamente que burro e que est fadado a maldio eterna;

  • Efeitos provocados pela ingesto de 7 g de escopolamina

    16 horas: O sujeito encontra-se no local de trabalho, absolutamente perplexo. Ele sabe que ele est no meio de uma conversa com algum, pede para que a pessoa a repetir aquilo que foi dito. De alguma maneira ele consegue lidar com tudo no trabalho sem dar bandeira.Vagamente ele se lembra da manh at o momento em que se deu conta de onde estava. Felizmente, no h leses, com exceo de alguns hematomas leves. Conclui que ele deve ter cado nas escadas enquanto perambulou zumbificado pelo prdio. Mais tarde, ainda no mesmo dia, o sujeito fica chocado ao descobrir que ele havia terminado uma considervel quantidade trabalho. Trabalho bem complexo, que exigiu muita atividade intelectual para fazer. Porm ele nem sequer se lembra que lhe tenha sido delegada essa tarefa. Devido a viso ainda meio borrada, a leitura um pouco difcil;

  • Efeitos provocados pela ingesto de 7 g de escopolamina

    20 horas: O sujeito vai para casa, v uma tigela de arroz cozido na geladeira. Ele no se lembra de sequer ter preparado arroz. Tambm encontra uma escova de dentes e alguns fios dentais (mais do que usa de costume) amarrado ao redor do criado-mudo. H tambm um controle remoto no banheiro. O sujeito comea a ter uma parania sobre diversas entidades que se ocultam em toda a sua casa. Ele v criaturas fugazes na sua viso perifrica;

    48 Horas: a memria e a sanidade do sujeito esto de volta ao normal, mas ele est profundamente abalado e arrependido de ter experimentado um delrio anti-colinrgico.