aula 00: assunto da aula...de 1988 a 1993, o professor flávio teve cursinho preparatório para...
TRANSCRIPT
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 1 de 76
AULA 00: Conceito e Classificação da Constituição.
SUMÁRIO PÁGINA
Apresentação 1
Cronograma 3
Introdução 4
1. O Direito e o Direito Constitucional 6
2. Sistemas jurídicos e ramos do direito 6
3. Direito Constitucional 7
4. Concepções das constituições 11
5. Acepções de constitucionalismo 13
6. Constitucionalismo contemporâneo 14
7. Conceito de Constituição 16
8. Elementos da Constituição 21
9. Estrutura da Constituição de 1988 23
10. Classificação da Constituição 25
11. Histórico das Constituições do Brasil 39
Questões sem gabarito 45
Questões com comentários 55
APRESENTAÇÃO
Prof. Flávio Monteiro de Barros (Prof. FMB) foi procurador do
Estado de São Paulo, Promotor de Justiça e Juiz de Direito do mesmo
Estado. Sempre lecionou desde a graduação (1987).
Em 1988, quando era Procurador do Estado na cidade Marilia, foi
solicitado por alguns alunos, que estavam em recuperação, a ministrar
aulas particulares de Direito Penal. Os próprios alunos, que ficaram
encantados com as aulas, montaram o primeiro cursinho preparatório
para concursos, sendo que Professor Flávio ministrava todas as matérias.
Os alunos não conseguiam anotar as aulas e então pediram que o
Professor Flávio passasse a ditá-las. Mas o ditado tornava a aula
enfadonha e por isso o Professor Flávio passou a falar de um jeito que ao
mesmo tempo era uma explicação e permitia ainda a anotação. Assim,
nasceu a didática que lhe é própria. Aqueles primeiros alunos hoje são
juízes, promotores de justiça, procuradores do estado e delegados de
polícia. Eram 17 alunos e praticamente todos foram aprovados.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 2 de 76
De 1988 a 1993, o Professor Flávio teve cursinho preparatório para
concursos públicos, nas cidades de Marilia (1988 e 1989) e Presidente
Prudente (1990 a 1993). Em agosto de 1993, o Professor Flávio passou a
ministrar aulas no extinto Curso Êxito, na cidade de São Paulo,
coordenado pelo Procurador de Justiça Carlos Frederico Coelho Nogueira,
que tinha ainda como sócios os saudosos penalistas Julio Fabbrini
Mirabete e José Henrique Pierangeli.
Em 1995, tornou-se professor do Curso CPC, coordenado pelo
jurista Antonio Carlos Marcato, que tinha como sócio Flávio Toledo.
Em julho de 2003, deixou o Curso CPC para fundar o Curso FMB,
que iniciou suas atividades em dezembro de 2003, num ciclo de palestra
sobre o novo Código Civil, figurando como palestrantes juristas do
primeiro escalão, dentre eles Fábio Ulhoa Coelho e Vicente Greco Filho.
De 2003 a 2004, lecionou no Curso IELFE, hoje chamado Curso LFG, a
convite do Professor Luiz Flávio Gomes.
Atualmente, além de professor, é advogado renomado no Estado de
São Paulo.
Nilo Marinho Neto foi advogado, depois de passar na OAB ainda
na graduação, e logo cedo foi aprovado e hoje é Analista Judiciário do
TJPI, onde assessorou juízes, Corregedor, Vice-Presidente,
Desembargadores, e participou de inúmeros projetos inovadores no
Tribunal. Aprovado para Promotor do Amapá e Juiz de Direito do
Amazonas; e até a prova oral de Promotor da Paraíba. É pós-graduado
em Direito Público, em Direito Tributário e possui MBA em Gestão
Judiciária pela FGV-RIO. Mestrando em Direito pelo IDP.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 3 de 76
CRONOGRAMA DAS AULAS
A seguir apresentamos o cronograma das aulas que se fundamenta
nos principais editais de Administração Financeira e Orçamentária
(conhecida também como Orçamento Público):
Aula Tema Data Limite
00 Conceito e Classificação da Constituição 15/06/2020
01 Poder Constituinte 15/06/2020
02 Norma Constitucional e Sua Validade 15/06/2020
03 Direitos Fundamentais 15/06/2020
04 Controle de Constitucionalidade I 15/06/2020
05 Controle de Constitucionalidade II 15/06/2020
06 Organização do Estado 15/06/2020
07 Repartição de Competências, Defesa e Sítio 15/06/2020
08 Organização dos Poderes – Legislativo 15/06/2020
09 Organização dos Poderes – Processo Legislativo 15/06/2020
10 Organização dos Poderes – Executivo 15/06/2020
11 Organização dos Poderes – Judiciário 15/06/2020
12 Ordem Econômica e Ordem Social 15/06/2020
Observação importante: este curso é protegido por direitos autorais
(copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida
a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências.
Grupos de rateio e pirataria são ilegais e prejudicam os professores
que elaboram os cursos. Valorize nosso trabalho e adquira nossos cursos
apenas pelo site do 3D CONCURSOS!
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 4 de 76
INTRODUÇÃO
Alguns não arriscam afirmar quem veio primeiro: a sociedade ou o
Estado.
Mas, em determinado momento da História, é certo que o Direito
passou a estudar o Estado de forma organizada e com foco. Surgiu,
então, o Direito Constitucional, que é considerado, atualmente, o ramo
jurídico mais importante, porque dele nascem todos os demais.
Todas as leis brasileiras devem se submeter à Constituição. Caso
contrário, elas “não valem”. Por isso estudar Direito Constitucional é
muito importante. E essa disciplina encontra-se, praticamente, em todos
os concursos públicos.
Para entendê-la bem, basta seguir um fio de raciocínio muito lógico.
Primeiro, precisamos saber o que é o Direito. Depois, sabendo que
hoje em dia o Direito, em geral, surge com o Estado, passamos a estudar
os movimentos da sociedade que pregavam limites para o Poder desse
Estado.
Daí percebemos que esses movimentos queriam, no fim, que todo
mundo se sujeitasse a uma Lei Maior, que garantisse as regras do jogo –
a Constituição. O que exige, então, saber qual origem do poder que a
escreve e quem é o titular desse poder.
Feita a Constituição, é passa-se a estudar como ela pode ser
classificada, como se pode interpretá-la, qual o seu conteúdo essencial.
Conhecendo esse panorama geral, então é possível estudar a
Constituição de 1988, que é a que atualmente nos direciona.
Esse processo é simples. Não exige muito além de atenção e
esforço. Com certeza é um estudo melhor que Direito Internacional, ou
Direito do Trabalho (risos).
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 5 de 76
Esperamos que uma abordagem direta e com esforço de atualização
contínua permitam a você avançar na disciplina, tendo base para
enfrentar o máximo de questões possíveis.
Assim, além de exposição focada, a seleção de assuntos que
realmente possam ser cobrados, para que você não perca tempo, será
nosso grande motor.
Assim, vamos começar.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 6 de 76
1.O DIREITO E O DIREITO CONSTITUCIONAL
As relações sociais são regidas por um conjunto de normas de
várias espécies: as normas sociais, que são um conjunto de dever-ser,
padrões de conduta a cumprir ou evitar, de alguma forma adotados pelo
grupo social, e que se espera que sejam adotadas. Uma de suas espécies
mais importantes é o direito.
Dentre tudo que se espera do próximo, o direito escolhe aquilo que
é mais importante, e prevê, a quem não cumprir, uma sanção que pode
ser imposta contra a vontade da pessoa.
As origens das normas jurídicas são muitas: algumas já são
adotadas, de algum modo, pela sociedade (norma social); outras são
construídas de forma inédita pelo Estado.
Essa correlação entre norma social e norma jurídica, e a seleção do
que pode vir a ser norma jurídica, é tema do Direito Constitucional, que
estuda a Constituição, norma fundante (i) do Estado, (ii) dos valores mais
caros da sociedade e (iii) das entidades responsáveis por elaborar e
aplicar essas normas.
2.SISTEMAS JURÍDICOS E RAMOS DO DIREITO
O Direito possui uma forma e conteúdo diferente conforme o país,
pois depende de muitos fatores culturais e de tradições históricas. Nesse
sentido, costuma-se falar em dois grandes modelos do Direito.
O Brasil adota a tradição romano-germânica (que se originou na
Europa Continental), que dá especial importância à lei, elaborada pela
autoridade competente, que, no nosso exemplo, é o Poder Legislativo.
Por outro lado, outros países adotam o sistema da common law
(tradição inglesa), em que o direito não é propriamente criado por uma
autoridade competente, mas revelado pelos costumes, pela tradição ou
pelos Tribunais, que solucionam os problemas que são trazidos nos
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 7 de 76
processos. Nesse caso, não se dá tanta importância à lei editada pelo
Poder Legislativo.
Apesar dessa distinção, atualmente é difícil encontrar um sistema
puro, pois os países passaram a adotar práticas de um e de outro:
(i) países de tradição da common law utilizam cada vez mais leis
elaboradas pelo Legislativo ou atos normativos do Executivo;
(ii) países de tradição de civil law (romano-germânicos) dão cada
vez mais importância à jurisprudência, inclusive com a introdução de
sistema de precedentes.
Assim, em geral, o princípio da isonomia é assegurado:
(i) na common law: pelo comando das decisões dos tribunais
superiores que vinculam os demais órgãos jurisdicionais (o que o Tribunal
Superior decide tem que ser obedecido por todos, sem distinção);
(ii) nos sistemas romano-germânicos: pelo comando da lei,
cabendo ao Judiciário interpretá-la e aplicá-la (todos são iguais perante a
lei). Todavia, como cada vez mais a força criativa e a subjetividade dos
juízes geram decisões diferentes, adota-se o sistema de precedentes (ou
seja, o que o Supremo decide, todos devem cumprir).
Segundo a tradição do civil law, os ramos do Direito são:
(i) Direito Público, dedicado aos interesses do Estado, a exemplo do
Direito Constitucional;
(ii) Direito Privado, destinado aos interesses privados.
Atualmente, essa distinção entre o Direito Público e o Direito
Privado está atenuada ou mitigada, servindo apenas academicamente,
pois se considera o direito como um só.
3.DIREITO CONSTITUCIONAL
Como todo ramo do Direito, o Direito Constitucional é fruto da
História do pensamento humano, e do movimento social contínuo até o
status de hoje em que se considera que o indivíduo é dono de si mesmo.
Em geral, pelo menos em nossa sociedade Ocidental:
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 8 de 76
(i) inicialmente o homem vivia sob a Teocracia (governo de Deus);
(ii) passando para Sistemas Absolutistas (governo de um homem
supostamente enviado por Deus);
(iii) aos sistemas monarquistas (em que o Parlamento surge como
força pujante);
(iv) até paulatinamente chegarmos à Democracia (governo do
povo).
Esse processo histórico deu-se também por meio dos debates sobre
a origem do Poder e da Lei, sendo pano de fundo para o que se
denominou de Constitucionalismo.
Essencialmente, constitucionalismo pode ser considerado como
proposta teórica, ideológica ou metodológica de limitação dos poderes do
governo, de modo a resguardar as pessoas das arbitrariedades.
Em primeira acepção, é uma teoria criada no século XVII e XVIII
que propugnava pela limitação do poder político para conseguir o
fortalecimento dos direitos individuais.
Em segunda acepção, constitucionalismo é o próprio movimento
que reagia ao Estado Absolutista e defendia que cada Estado deveria ter
uma constituição escrita que fosse superior a todo o ordenamento jurídico
do país. Para tanto, seria necessário criação de mecanismos que dessem
estabilidade ao sistema constitucional, cujas regras só poderiam ser
modificadas por um processo mais rigoroso que o processo das demais
leis inferiores.
Assim, constitucionalismo é termo controverso em função de suas
diversas acepções históricas:
(i) Primeiro: movimento político-social com origens históricas
bastante remotas que pretende, em especial, limitar o poder arbitrário
com a imposição de que haja cartas constitucionais escritas.
(ii) Segundo: imposição de que haja cartas constitucionais
escritas.
(iii) Terceiro: os propósitos mais latentes e atuais da função e
posição das constituições nas diversas sociedades.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 9 de 76
(iv) Quarto: evolução histórico-constitucional de um determinado
Estado.
Dentro do quadro dessa evolução histórica, é importante lembrar
dos seguintes pontos:
a) Antiguidade:
É possível estudar o caso de Israel, cuja “Lei de Moisés” (lei
mosaica) revelava uma teocracia, em que o Poder originava-se de Deus e
os Profetas promoviam uma espécie de fiscalização.
Na Grécia Antiga, Aristóteles já diferenciava leis constitucionais das
demais leis; aquelas determinando (i) como as cidades eram constituídas
politicamente e (ii) os órgãos que exerciam o poder.
Com as suas cidades-Estados, os gregos são considerados
precursores da limitação do Poder Político, através da noção de
democracia direta, havendo certa identidade entre governantes e
governados.
A liberdade era compreendida pela participação na vida política
(liberdade política).
b) Na Idade Média:
Surgiram os forais e cartas de franquias que eram redigidas pelos
governantes e expressavam normas sobre limitação do poder, e até
mesmo reconhecendo direitos dos indivíduos, reconhecendo-se, inclusive,
em alguns lugares, a participação dos indivíduos nos governos de
diversas cidades.
Em todo caso, essas Cartas eram redigidas pelos governantes.
Também havia acordos entre governantes, monarcas e grupos com
parcelas de poder, estabelecendo limitações de certos poderes dos
governantes.
Surgiram, portanto, várias experiências constitucionalistas,
predominando as Monarquias Absolutistas.
A Magna Carta, firmada entre o Rei João Sem Terra e barões
ingleses em 1215, torna-se exemplo do início dos questionamentos contra
a figura do Rei Absoluto.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 10 de 76
Era clara a semente das Constituições, que seriam normas sobre
poder, organização do poder e alguns direitos individuais garantidos.
c) Na Idade Moderna:
Também se encontram outros projetos de Constituições, como os
Estados Nacionais, estruturados no sistema absolutista.
Mesmo nesse período foi possível encontrar, por exemplo, as leis
fundamentais do reino da França e de outras nações, que, de certa forma,
impunham limitações de poder aos monarcas, e eram hierarquicamente
superiores, mesmo governantes, pois inspiradas por um direito universal.
Em contraposição ao Estado Absolutista, veio o Iluminismo, através
da teoria do Constitucionalismo, justificando as chamadas revoluções
liberais, que têm seu marco inicial com a Revolução Gloriosa inglesa de
1688, da qual se originaram limites permanentes à monarquia, o
parlamentarismo e se asseguraram garantias aos parlamentares e
proteção a direitos individuais por meio da Bill of Rights.
A revolução de independência norte-americana consagrou-se pela
Constituição Americana em 1787 que rejeitou a monarquia, criando uma
república, a separação rígida de poderes e o Estado federal.
A Revolução Francesa de 1789 acabou se transformando no símbolo
do movimento em seu esforço de extinguir o absolutismo e garantir,
sobretudo, a primazia da legalidade e da igualdade formal, sob a
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.
d) Constitucionalismo recente:
Mais recentemente, surgiram as Constituições Sociais,
principalmente em razão dos movimentos socialistas e comunistas que
trouxeram à discussão direitos trabalhistas e sociais.
Exemplos clássicos são a Constituição Mexicana de 1917 e a
Constituição de Weimar de 1919.
e) Constitucionalismo contemporâneo:
Flexibilização ou mitigação dos conceitos de soberania e nação,
surgindo blocos supranacionais.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 11 de 76
4.CONCEPÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
Dentro desse extenso processo histórico, a doutrina aponta que a
Constituição pode ser entendida sob quatro perspectivas:
a) Perspectiva jurídica pura (Hans Kelsen):
A Constituição seria uma norma jurídica dotada de superioridade
hierárquica em relação às demais.
Para Hans Kelsen, a Constituição define quem elabora as normas e
como elas vão ser elaboradas, o ponto de partida e de validade de todo o
sistema jurídico.
Confere-se especial valor, de certo modo, ao papel das Cortes
Constitucionais Supremas.
A principal crítica a essa perspectiva é sua ênfase à natureza
puramente formal (positivismo jurídico), ao tentar se desvencilhar do
conteúdo das normas constitucionais, nem lhes impõe limites. E por se
importar muito com a forma, e menos com o conteúdo, pode resultar em
normas extremamente injustas.
Essa concepção foi fortemente redimensionada, especialmente em
razão da crueldade que ocorreu na 2ª Guerra Mundial, voltando-se o foco
para a aceitação de valores.
b) Perspectiva natureza filosófica ou material:
Identifica como conteúdo da Constituição aqueles temas que são
valiosos, considerados mínimo ético-moral: direitos fundamentais,
separação de Poderes e organização/limitação do exercício do poder
político.
Qualquer outro assunto diferente desses citados não teria a
natureza de norma de Constituição, podendo, por outro modo, ser
disposto por leis infraconstitucionais.
Todavia, é difícil estabelecer os limites desse conteúdo, e, ainda
mais, um consenso sobre esse conteúdo.
c) Perspectiva sociológica (Ferdinand Lassalle):
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 12 de 76
A Constituição, enquanto documento escrito, é apenas uma folha de
papel.
As relações reais de poder existentes na sociedade são
determinantes de que direitos são garantidos e como o poder é exercido.
A Constituição-documento, se não vinculada a essa realidade, será
apenas uma folha de papel sem eficácia na prática.
d) Perspectiva política (Carl Schmitt):
A substância da Constituição não são as normas constantes de um
documento, mas as decisões políticas fundamentais tomadas pelo
governo em dado momento histórico.
Nesse sentido, a Constituição seria também um pedaço de papel
que, se não compatível com as aspirações do poder político, o grupo
controlador promoveria alterações.
Ou seja, quem está no poder tomará as decisões sobre do que é a
Constituição realmente (decisões do poder político tomadas no presente,
e não no passado).
Valoriza-se, de certo modo, o papel do Poder Executivo.
e) Perspectiva da força normativa da Constituição (Konrad
Hesse):
Com base em críticas sociológicas, afirmam-se os limites da
Constituição, os quais, entretanto, não anulam as forças constitucionais
de promover transformações.
Há mútua intercorrências entre a realidade e a Constituição, mas
esta possui certa capacidade de produzir efeitos e alterar o mundo real, o
que resulta em uma concepção normativa que absorve a complexidade
das relações sociais e políticas.
Cada uma dessas concepções surgiu conforme o contexto histórico
em que seus autores viveram. Mas, tomadas conjuntamente, apontam
aspectos importantes da realidade, distintos entre si. Com isso, de certo
modo, elas se completam.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 13 de 76
5.ACEPÇÕES TRADICIONAIS DA PALAVRA CONSTITUCIONALISMO
Constitucionalismo, como teoria normativa da política, é a limitação
do poder político com o propósito de fortalecer os direitos fundamentais
da pessoa.
Por outro lado, o constitucionalismo, como uma das vertentes do
iluminismo, designa também o movimento político e cultural que apregoa
a limitação do poder através de uma constituição escrita, de origem
popular e hierarquicamente superior a todo ordenamento jurídico e ao
próprio Estado, de observância obrigatória aos governados e governantes.
O iluminismo, surgido nos séculos XVII e XVIII, desenvolveu-se na
América do Norte e Europa Ocidental, caracterizou-se como sendo o
movimento político e cultural de oposição ao Estado Absolutista, que
dentre outros benefícios, acabou também por permitir a instituição da
figura da Constituição.
As primeiras constituições escritas inspiradas nesse movimento
surgiram na América do Norte, com as ex-colônias inglesas que
conquistaram a independência, e, depois, já como Estados soberanos,
elas se uniram para formar os Estados Unidos da América, que, em
1.787, promulgou sua Constituição, em vigor até hoje. Em seguida, como
consequência da Revolução Francesa, a França promulgaria também a
sua Constituição inspirada no movimento iluminista.
Na verdade, a teoria normativa da política era um dos pilares do
movimento iluminista e propulsionou a ideia de Constituição com sendo a
limitação do poder estatal.
Mais recentemente, o constitucionalismo também se referiu ao
garantismo, que ensina que os direitos fundamentais incorporados pelas
Constituições devem ser garantidos e satisfeitos concretamente.
Pretende estabelecer as técnicas de garantias idôneas e assegurar o
máximo grau de efetividade aos direitos reconhecidos pela democracia
constitucional, que pode e deve ser estendida em três direções: (i)
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 14 de 76
garantia de todos os direitos fundamentais, (iii) frente a todos os poderes
e (iii) em todos os níveis, não somente no Direito interno, mas também
no Direito internacional.
6.CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO
Constitucionalismo contemporâneo é a expressão usada para indicar
as novas fases do significado do seu desenvolvimento histórico.
Abrange o neoconstitucionalismo e o transconstitucionalismo.
6.1.NEOCONSTITUCIONALISMO
Neoconstitucionalismo é a possibilidade conferida ao juiz de aplicar
diretamente a Constituição, na solução do caso concreto, sem ter a lei
como intermediária.
Trata-se de uma nova dimensão da função jurisdicional, que se
opõe ao modelo jurisdicional clássico em que o juiz era mero aplicador da
lei aos casos concretos.
O neoconstitucionalismo, que é enaltecido na Europa e por alguns
juristas brasileiros, proporciona uma verdadeira produção normativa pelo
Poder Judiciário. É, pois, a consagração do chamado ativismo judiciário,
isto é, a produção de normas jurídicas através do Estado-Juiz.
Em sistemas normativos abertos, que contém mais princípios que
regras, o neoconstitucionalismo costuma se desenvolver com mais
frequência.
Enfim, como o jusnaturalismo e juspositivismo são insuficientes,
apregoou-se novo paradigma jurídico, definido como movimento de
superação das diferenças entre o naturalismo e o positivismo jurídicos, a
partir de dois pilares de sustentação:
(i) relacionamento entre Filosofia do Direito e a Filosofia da Política
=> orientado ao estabelecimento de uma nova grade de percepção e
raciocínio para a relação entre o direito, a moral e a política,
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 15 de 76
harmonizando esses espaços dentro do arcabouço da ordem jurídica
legítima;
(ii) análise da importância da principiologia constitucional,
racionalidade do processo argumentativo no discurso filosófico e
hermenêutica jurídica na compreensão do funcionamento do direito nas
sociedades democráticas.
Quais os marcos fundamentais do neoconstitucionalismo?
a) Histórico:
(i) estado constitucional de direito;
(ii) documentos a partir da 2ª guerra mundial;
(iii) redemocratização.
b) Filosófico:
(i) pós-positivismo;
(ii) direitos fundamentais;
(iii) direito-ética.
c) Teórico:
(i) força normativa (Konrad Hesse);
(ii) supremacia da constituição (constitucionalização dos direitos
fundamentais);
(iii) nova dogmática da interpretação constitucional.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 16 de 76
6.2.TRANSCONSTITUCIONALISMO
(INTERCONSTITUCIONALISMO, FECUNDAÇÃO CRUZADA OU
CROSS-CONSTITUCIONALISMO)
Transconstitucionalismo é a necessidade de a Corte Constitucional
de um Estado resolver as questões constitucionais em harmonia com a
interpretação dada pelas Cortes Internacionais e Tribunais Constitucionais
de outros Estados estrangeiros.
Diante da globalização, que marca o mundo contemporâneo, os
Estados não podem resolver as questões constitucionais isoladamente,
voltados exclusivamente para o direito interno, e sim buscar um diálogo
com os demais Estados antes de tomar uma decisão.
No Brasil, o STF no julgamento do Recurso Extraordinário 511.961
decidiu que não há necessidade de diploma para exercer a profissão de
jornalista, porquanto essa exigência, além de representar censura prévia,
ainda violaria a liberdade de expressão e, por consequência, a própria
liberdade de imprensa. Na fundamentação central dessa decisão, o STF
utilizou também a jurisprudência da Corte Internacional de Direitos
Humanos.
7.CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO
7.1.INTRODUÇÃO
Tradicionalmente, Constituição é o conjunto de normas jurídicas
supralegais e rígidas que disciplinam o poder do Estado e os direitos
fundamentais da pessoa.
A supralegalidade é a superioridade sobre as demais normas
jurídicas (leis, atos administrativos e costumes) e a rigidez é a dificuldade
maior de alterar essas normas.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 17 de 76
No Brasil, entretanto, qualquer norma inserida no texto
constitucional é dotada de superioridade hierárquica e rigidez e, por isso,
caracteriza-se formalmente como sendo norma constitucional, estando,
pois, no topo da pirâmide jurídica. Todavia, em sentido estrito, isto é, da
matéria, as normas constitucionais são apenas aquelas relacionadas ao
poder (elemento orgânico) ou aos direitos humanos fundamentais
(elementos limitativos).
O conceito de constituição varia conforme o modelo de Estado e sua
respectiva evolução histórica. De um lado, encontra-se a constituição
liberal e de outro a constituição social.
7.2.CONSTITUIÇÃO LIBERAL (CONSTITUIÇÃO CLÁSSICA,
CONSTITUIÇÃO GARANTIA E CONSTITUIÇÃO DEFENSIVA)
Estado liberal é o não intervencionista, que não se intromete em
áreas como saúde, educação, previdência e trabalho, relegando esses
assuntos à iniciativa privada. É, pois, o Estado mínimo, que avoca para si
apenas a manutenção da ordem pública.
Este modelo de Estado liberal foi implementado no final do século
XVIII, a partir das revoluções liberais (Revolução Americana de
Independência das Colônias Inglesas e Revolução Francesa). As primeiras
constituições, segundo a acepção do constitucionalismo (as anteriores
eram apenas sementes de constituição), surgiram para retratar esse
modelo de Estado Liberal, disciplinando apenas a organização do Estado,
a organização do poder e os direitos individuais da pessoa, isto é, a
primeira dimensão de direitos fundamentais.
Os objetivos das constituições liberais eram limitar o poder político
dos governantes e fortalecer os direitos individuais do homem.
Do exposto dessume-se que constituição liberal é o conjunto de
normas superiores que dispõe sobre a organização do Estado, a
organização do poder e os direitos individuais da pessoa. Restringe-se,
pois, a esse trio temático de matérias.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 18 de 76
A organização do Estado abrange:
a) Forma de governo (república ou monarquia);
b) Sistema de governo (presidencialismo, parlamentarismo ou
semipresidencialismo).
c) Forma de Estado (federal ou unitário);
d) Órgãos do Estado, suas competências, servidores públicos e
princípios da administração pública.
e) Forças armadas, segurança pública, orçamento público e
tributação
A organização do poder, por sua vez, compreende:
a) A titularidade do poder;
b) Exercício e limitação do poder;
c) Órgãos do poder, formas de composição desses órgãos;
d) Sistema partidário, sistema eleitoral e direitos políticos.
Finalmente, os direitos e garantias individuais são os que protegem
o homem enquanto pessoa humana. Exemplos: direito à vida, à
igualdade, à liberdade, etc. Representam a primeira dimensão dos direitos
fundamentais.
7.3.CONSTITUIÇÃO SOCIAL
Estado Social ou Estado Providência (Welfare State) é o
intervencionista, que disciplina a ordem econômica e social e ainda presta
serviços nas áreas dos direitos sociais (saúde, educação, previdência,
trabalho, etc). É, pois, o Estado que visa proporcionar o bem estar social,
por isso, avoca para si atividades que antes cabiam à iniciativa privada,
não se limitando apenas às atividades do Estado Liberal, de mero fiscal da
manutenção da ordem pública.
No final do século XIX, mais precisamente no início do século XX,
surge o Estado Social, impulsionado por crises econômicas instauradas
pela forte industrialização, pela economia de guerra, sobretudo, primeira
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 19 de 76
guerra mundial, pelo surgimento dos sindicatos e fortalecimento de
partidos políticos.
Por consequência, começam a aparecer as Constituições Sociais,
que disciplinam a ordem econômica e social. A primeira delas foi a
constituição mexicana de 1.917, seguida pela constituição Alemã, de
Weimar, em 1.919. No Brasil, em 1.934, foi promulgada a primeira
constituição social, que revogou a de 1.890.
Ao lado dos fins típicos das constituições liberais, isto é, limitação
do poder político e fortalecimento dos direitos individuais, as constituições
sociais objetivam também uma atuação positiva do Estado
intervencionista consistente na prestação de serviços nas áreas dos
direitos sociais, econômicos e culturais.
Do exposto conclui-se que Constituição Social é o conjunto de
normas superiores que, além da organização do Estado, organização do
poder e direitos individuais, ainda disciplinam a ordem econômica, a
ordem social e os direitos sociais, econômicos e culturais.
7.3.1.PRINCÍPIO DA RESERVA DO POSSÍVEL
De acordo com o princípio da reserva do possível, a concretização
dos direitos sociais, econômicos e culturais estabelecidos pelas
Constituições Sociais depende da disponibilidade financeira e
orçamentária, salvo quanto ao mínimo existencial das pessoas.
Portanto, no que tange aos serviços relacionados ao mínimo
existencial das pessoas, o Estado tem o dever de prestá-los,
independentemente da disponibilidade financeira, enquanto os demais
serviços prometidos pela Constituição estariam condicionados à
disponibilidade financeira e orçamentária.
A identificação do mínimo existencial é definida pelo próprio Poder
Judiciário no julgamento das ações judiciais em que esse assunto é
discutido.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 20 de 76
7.3.2.MODALIDADES DE CONSTITUIÇÕES SOCIAIS
A doutrina apresenta as seguintes modalidades de Constituições
Sociais:
a) Constituição Programática:
É a que traça diretrizes para que o Poder Público implemente
programas sociais e econômicos. Referidas constituições preveem
normas-tarefas ou normas-fins, que estabelecem essas diretrizes.
b) Constituição dirigente:
É que especifica determinados programas sociais e econômicos. Não
se limita, portanto, a traçar as diretrizes para a implementação desses
programas. É o caso da Constituição de Portugal, de 1.976, que,
inclusive, influenciou a elaboração da Constituição brasileira de 1.988.
A Constituição brasileira é simultaneamente programática e
dirigente. Segundo Canotilho, o ideal é que as constituições sejam mais
programáticas que dirigentes.
c) Constituição Balanço:
É a elaborada após o Estado atingir determinada etapa. Vigorou na
antiga União Soviética, cujo objetivo máximo era alcançar o socialismo
pleno, que, no entanto, dependia do atingimento de determinadas metas,
e, a cada etapa concluída, elaborava-se uma nova constituição, dando-se
um passo adiante ao fim último do Estado.
Foram as características das constituições soviéticas de 1.920,
1.930 e 1.970.
d) Constituição Cultural:
É a expressão empregada por Canotilho para designar as
constituições sociais que não se limitam a disciplinar a ordem econômica,
cuidando também da educação, cultura e desporto, como é o caso da
constituição brasileira.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 21 de 76
8.ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA
8.1.CLASSIFICAÇÃO DE JOSÉ AFONSO DA SILVA
a) Elementos Orgânicos:
São as normas que tem relação direta com a organização do Estado
em sentido amplo, abrangendo, destarte, as que disciplinam a
organização do poder, sistema tributário, orçamento público, forças
armadas e segurança pública.
Desde as sociedades políticas primitivas, o Estado exerce funções
militar e policial, daí a relação direta entre os temas segurança pública e
forças armadas com a organização do Estado.
b) Elementos Limitativos:
São as normas que restringem o poder estatal com o fulcro de
fortalecer os direitos fundamentais. Referidas normas são as que tratam
dos direitos fundamentais, com exceção das que versam sobre os direitos
sociais.
Assim, as normas constitucionais sobre direitos individuais e
coletivos, direitos à nacionalidade, direitos políticos e atuação partidária
compõem esses elementos limitativos. Exemplos: a liberdade de reunião
e associação é exercida independentemente da autorização estatal.
Quanto aos direitos sociais, conquanto sejam também direitos
fundamentais, não se prestam a limitar o poder do Estado, pelo contrário,
eles visam estimular a atuação do Estado a prestar os serviços nessas
áreas.
c) Elementos Socioideológicos:
São as normas que retratam as influências ideológicas e
doutrinárias da Constituição. Exemplos: as normas sobre direitos sociais,
ordem social, ordem econômica e sistema financeiro.
A Constituição brasileira contém normas inspiradas no liberalismo
como, por exemplo, o art. 170 que, ao cuidar da ordem econômica,
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 22 de 76
consagra o tripé do liberalismo (propriedade privada, livre iniciativa e livre
concorrência), bem como normas da ideologia socialista, ao disciplinar a
reforma agrária (arts. 184 e 186), aliás, o próprio art. 170 também faz
referência expressa à função social da propriedade, à ideia de que a
ordem econômica visa o bem estar social.
O modelo econômico brasileiro não é um liberalismo ou socialismo
puros, mas um modelo misto, um capitalismo social, conforme
denominação empregada por José Afonso da Silva. Há, pois, mais de uma
ideologia no texto constitucional.
d) Elementos de Estabilidade Constitucional:
São as normas que visam assegurar a supremacia e estabilidade da
Constituição. Ingressam nesse rol as normas sobre a rigidez da reforma
constitucional, as que versam sobre controle de constitucionalidade,
intervenção federal, intervenção estadual, estado de sítio e estado de
defesa.
Referidas normas têm o objetivo assegurar a estabilidade da própria
Constituição, isto é, evitar que ela seja violada, bem como solucionar os
conflitos constitucionais e garantir a defesa das instituições democráticas
do próprio Estado de Direito. Em suma, são as normas que visam
defender a própria constituição.
e) Elementos Formais de Aplicabilidade:
São as normas que visam favorecer a efetiva interpretação e
aplicação das normas constitucionais.
Exemplos: o §1º do art. 5 da CF estabelece a aplicação imediata
das normas sobre direitos fundamentais. Outro exemplo: ADCT (atos das
disposições constitucionais transitórias).
8.2.CLASSIFICAÇÃO DE PAULO BONAVIDES
O autor toma por base a doutrina espanhola.
(i) preâmbulo: que exprime os sentimentos do constituinte;
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 23 de 76
(ii) parte introdutória: contém disposições preliminares como forma
de governo, regime político, modelo de organização do estado,
organização do poder (separação dos poderes), objetivos fundamentais
da República Federativa do Brasil, princípios que pautam as relações
internacionais do estado brasileiro;
(iii) parte dogmática: reúne as normas sobre direitos fundamentais,
que permitem identificar os modelos de orientação ideológica da CF;
(iv) parte orgânica: trata dos órgãos do estado e do poder;
(v) disposições gerais;
(vi) disposições transitórias.
9.ESTRUTURA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO DE 1.988
A Constituição de 1.988 tem a seguinte estrutura:
a) Preâmbulo;
b) Disposições permanentes (art. 1º ao 250);
c) ADCT;
d) Emendas Constitucionais;
e) Tratados Internacionais de Direitos Humanos.
Sobre as emendas constitucionais e tratados internacionais de
direitos humanos, serão tratados mais adiante.
9.1.PREÂMBULO
O preâmbulo é a introdução da Constituição. Expressa a ideologia
do Poder Constituinte que a elaborou. Foi ele votado pela Assembleia
Constituinte, que aprovou a sua redação. Integra, pois, a Constituição
Federal.
O que consta no preâmbulo serve para embasamento da
interpretação e aplicação das normas constitucionais. É assim um
elemento formal de aplicabilidade da Constituição.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 24 de 76
O STF decidiu que o preâmbulo não tem força normativa, uma lei
que o afronta não pode ser considerada inconstitucional, para o STF o
preâmbulo é apenas um enunciado principiológico de conotação política
sem conteúdo jurídico.
Outra corrente sustenta que o preâmbulo tem força normativa, pois
ele se localiza na Constituição, que é também um instrumento de
conteúdo jurídico. Em matéria de concurso público o candidato deve
seguir a orientação do STF e, portanto, as Constituições Estaduais não
precisam reproduzir o preâmbulo da Constituição Federal, nem fazer
menção à Deus, pois o preâmbulo não é norma jurídica e sim um
instrumento de divulgação de princípios políticos.
O preâmbulo faz menção à proteção de Deus, mas oficialmente não
adota nenhuma religião. O Brasil é um Estado laico, pois não tem religião
oficial. Ao tempo do Império, o Brasil era um Estado confessional, havia
uma religião oficial, que era a Católica Apostólica Romana.
Desde a Constituição de 1.890, adota-se uma posição neutra em
matéria religiosa. O fato de o preâmbulo pedir a proteção de Deus, não
torna o Brasil um estado confessional à medida que não se filiou a
qualquer tipo de religião.
Persiste, portanto, a neutralidade religiosa, o Estado laico é uma
característica do Brasil, que se filia, no entanto, ao teísmo, isto é, admite
a existência de um ser superior, que é Deus, contrapondo-se ao ateísmo,
que é o Estado materialista em matéria de fé religiosa.
Referentemente aos feriados religiosos, adotados por lei, revestem-
se de flagrante inconstitucionalidade, pois a veneração a um determinado
santo ou santa não é comum a todas as religiões.
Essas leis violam o princípio constitucional do Estado laico, afrontam
a neutralidade que deve existir em matéria religiosa. Quanto ao Natal não
é apenas um feriado religioso, trata-se de uma tradição mundial, adotada
na Europa e em quase todo o mundo há séculos e, portanto, não viola o
princípio do Estado laico.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 25 de 76
9.2.DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS PERMANENTES E
TRANSITÓRIAS
As disposições permanentes da Constituição Federal,
compreendidas entre os artigos 1º a 250, regulam situações que não se
exaurem pelo decurso do tempo.
Em contrapartida, o Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, que é composto por 96 artigos, trata de situações
passageiras, grosso modo regulamenta a transição entre a Constituição
de 1.969 e a de 1.988. Definiu, por exemplo, que o mandato do então
Presidente Sarney, eleito sob a Constituição anterior, seria de seis anos.
Justamente por regular situações transitórias suas normas foram
separadas das demais normas constitucionais permanentes.
Todavia, as normas do ADCT são de índole constitucional, figuram
no mesmo patamar hierárquico das normas constitucionais permanentes
e por isso só podem ser alteradas através de Emendas Constitucionais.
Não se pode estabelecer hierarquia entre uma e outra norma à medida
que ambas emanaram do mesmo Poder, que é o Poder Constituinte
Originário.
10.CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
10.1.Quanto ao conteúdo: formal e material
a) Constituição Formal:
Abrange todas as normas inseridas na Constituição,
independentemente do seu conteúdo, à medida que gozam de supremacia
hierárquica em relação às normas infraconstitucionais. Subdivide-se em
constituição formal nuclear e constituição formal complementar.
A nuclear abrange as normas que estão no texto da constituição. A
complementar compreende as normas que não estão no texto
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 26 de 76
constitucional, mas que gozam da supremacia hierárquica de norma
constitucional, o exemplo é o tratado de direitos humanos aprovado pelo
Congresso Nacional através do procedimento das emendas
constitucionais, pois seu ingresso no ordenamento jurídico se dá com
força de norma constitucional, nos termos do §3º do art. 5º da CF.
b) Constituição Material:
Abrange as normas previstas na Constituição que dispõem sobre
organização do Estado, organização do poder e direitos individuais, que
são as três matérias típicas da Constituição. Alguns autores incluem todos
os direitos fundamentais e não apenas os direitos individuais.
Normas que versam sobre esses três temas, mas que se encontram
na legislação infraconstitucional, como o Código Eleitoral, são
enquadradas, para a doutrina minoritária, como constituição material,
mas, diante da ausência da supremacia hierárquica, esse ponto de vista
não é aceito.
Todas as normas previstas na Constituição são formalmente
constitucionais (Exemplo: art. 242, §2º, que cuida do Colégio Pedro II do
Rio de Janeiro), mas nem todas são materialmente constitucionais.
Não há hierarquia entre as normas materialmente e as formalmente
constitucionais.
A maioria dos autores entende que nesta divisão não há utilidade
prática, mas apenas didática. Outros autores entendem que constituem
matéria constitucional não somente direitos individuais, mas todos os
direitos fundamentais, afinal houve uma evolução histórica dos direitos
fundamentais.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 27 de 76
Dessa distinção, é possível concluir:
(i) não há hierarquia entre as normas
materialmente e as formalmente
constitucionais;
(ii) o sentido formal de constituição só é
possível se ela for escrita ou organizada
tem muito documento;
(iii) formalmente, todas as demais
normas, independentemente do conteúdo,
serão infraconstitucionais.
10.2.Quanto à extensão: sintética e analítica
a) Constituição Sintética (breve ou curta):
São as constituições com poucos dispositivos, curtas, breves, que
traçam apenas normas gerais, cujo detalhamento é relegado à legislação
infraconstitucional. Exemplo: Constituição dos EUA.
O Poder Judiciário possui especial papel na sua conformação com os
conflitos e sua adaptação às novas questões sociais.
b) Constituição Analítica (Prolixa, longa ou expansiva):
São as constituições que, além das normas gerais, cuidam de
matérias que, a rigor, poderiam ser disciplinadas pela lei ordinária. É o
caso da Constituição brasileira.
Naturalmente, são Constituições mais emendadas ao longo do
tempo, já que tratam de mais assuntos.
10.3.Quanto à forma: escrita e não escrita
a) Constituição escrita ou codificada:
Quando todas as normas constitucionais encontram-se
concentradas num documento único. Exemplo: Constituição Brasileira.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 28 de 76
Bloco de constitucionalidade é o fato de a constituição atribuir força
constitucional a atos e documentos que estão fora do texto codificado.
No Brasil, há esse bloco de constitucionalidade em relação aos
tratados de direitos humanos aprovados pelo Congresso Nacional pelo
procedimento das Emendas Constitucionais, pois eles têm o status de
norma constitucional, nos termos do §3º do art. 5º da CF.
Alguns autores estabelecem uma divisão destas constituições,
embora haja divergências:
(i) orgânica: compreende o próprio texto codificado em si mesmo;
(ii) inorgânica: compreende modelos constitucionais que admitem
outros documentos que estão fora do texto codificado, mas com mesmo
valor de norma constitucional. Trata-se do fenômeno do bloco de
constitucionalidade, quando uma constituição escrita atribui valor de
norma constitucional a atos ou documentos fora do texto codificado. O
Brasil passou a adotar esta figura com o artigo 5º, § 3º, CF.
b) Constituição não escrita:
Quando as normas constitucionais não se encontram codificados
num único documento. Nesse sistema, que é adotado pela Inglaterra, as
normas constitucionais surgem com base nos costumes, decisões dos
tribunais, e em normas escritas esparsas. Portanto, parte dessa
constituição é sim escrita.
10.4.Quanto ao modo de elaboração: histórica e não
dogmática
Alguns examinadores procuram confundir a classificação quanto a
forma com a classificação quanto ao modo de elaboração.
Embora haja relações entre elas, são estudadas sob focos
diferentes.
Quanto à forma, observa-se o modo como se apresenta a
Constituição, se codificada ou não.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 29 de 76
Quanto ao modo de elaboração, observa-se como a Constituição foi
elaborada.
a) Constituição Histórica ou Costumeira:
É a que não é escrita, surge com a evolução gradativa das
instituições políticas. Toda constituição não escrita é histórica. Exemplo:
Constituição da Inglaterra.
b) Constituição Dogmática:
É a que é escrita e preparada por uma Assembleia Constituinte,
convocada especialmente para esse fim, para que a elabore com base nos
ideais que, naquele momento, prevalecem na sociedade.
Toda constituição escrita é dogmática; vez que o grupo constituinte
se reúne para criação das normas e é influenciado pelo status histórico.
Exemplo: Constituição Brasileira.
Em termos de estabilidade, é possível afirmar que a histórica é mais
duradoura e sólida, ao passo que a dogmática apresenta tendência a
instabilidade, pois, enquanto aquela é resultado de paulatina maturação,
esta sedimenta valores contingenciais passageiros.
10.5.Quanto à ideologia: ortodoxa e eclética
a) Constituição Ortodoxa ou Dogmática:
É a elaborada para seguir uma única ideologia. Exemplo:
Constituição de Cuba. Outro exemplo: as Constituições liberais dos
séculos XVIII e XIX.
b) Constituição Eclética ou Compromissória ou Utilitária ou
Pragmática:
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 30 de 76
É a elaborada para seguir mais de uma ideologia. É o caso da
Constituição Brasileira. Evidentemente que o grupo de integrantes da
Assembleia Constituinte que sustentam ideologias diversas devem firmar
um compromisso, chegar a um consenso para que o texto constitucional
seja aprovado.
10.6.Quanto à origem: outorgada, promulgada e cesarista
a) Constituição Outorgada:
É a imposta unilateralmente pelo governante ou grupo que detém o
poder. A expressão Carta Magna ou Magna Carta ou Carta Constitucional
deve ser empregada para designar essas constituições outorgadas, e não
as democráticas, pois carta é um ato unilateral de vontade.
No Brasil, foram outorgadas: a Constituição do Império (1.824), a
Constituição “Polaca” (1.937), imposta por Getúlio Vargas que inspirou-se
na Constituição da Polônia, promulgada dois anos antes, outrossim, a
Constituição Militar (1.967).
A Emenda nº 1 de 1.969 também foi outorgada, mas, a rigor, não
foi uma nova Constituição, mas apenas uma Emenda Constitucional
abrangente, tanto é que a Constituição de 1.988, no art. 34 das
Disposições Transitórias, trata como constituição anterior a de 1.967.
b) Constituição Promulgada ou Democrática ou Votada ou Popular:
É a que é livremente discutida, votada e aprovada por
representantes eleitos pelo povo. Às vezes uma constituição votada não é
democrática, mas outorgada, como aconteceu com a Constituição de
1.967, o governo militar, num Congresso Nacional praticamente sem
oposição, encaminhou-lhe o texto constitucional para a aprovação.
No Brasil, foram democráticas as Constituições de 1.891, de 1.934
(que decorreu inclusive de uma revolução constitucional), de 1.946 e a
Constituição Cidadã de 1.988.
c) Constituição Cesarista ou Napoleônica:
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 31 de 76
é a imposta unilateralmente pelo governante e referendada pelo
povo, que é consultado a manifestar-se. Os césares de Roma e Napoleão
usavam desse artifício para dar ao texto constitucional uma aparência de
legitimidade democrática.
d) Pactuada ou dualista:
Decorre de acordo entre governante e grupos políticos que
partilham do poder.
10.7.Quanto à estabilidade ou reforma (alterabilidade,
mutabilidade ou consistência): imutável, rígida, flexível,
semirrígida, super-rígida, plástica e aberta.
a) Constituição Imutável:
Quando o texto constitucional proíbe a sua própria reforma.
Exemplo: Constituição da Finlândia.
b) Constituição Rígida:
Quando a sua reforma exige um procedimento mais solene e
dificultoso que o exigido para a aprovação de leis.
É, pois, a rigidez que assegura a supremacia, isto é, a superioridade
das normas constitucionais à medida que elas não poderão ser alteradas
pelas leis ordinárias.
As constituições brasileiras, à exceção da Constituição do Império
de 1.824, foram rígidas, mas, modernamente, classificam-se, conforme
veremos, como super-rígidas.
A Constituição para ser rígida não precisa contar com cláusulas
pétreas. A rigidez está no procedimento mais complexo do que o ordinário
para alteração.
c) Constituição Superrígida:
É a rígida que possui cláusulas pétreas, isto é, matérias que não
podem ser alteradas por Emendas Constitucionais. É o caso da
Constituição Brasileira de 1.988.
d) Constituição Flexível:
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 32 de 76
A que pode ser alterada facilmente, pois adota o mesmo
procedimento de reforma exigido para a aprovação das leis ordinárias.
São, pois, reformadas por leis ordinárias.
Assim, nessas constituições, não há hierarquia entre norma
constitucional e legislação ordinária, sendo distinguidas as normas
constitucionais apenas pelo conteúdo da matéria.
e) Constituição Semirrígida:
Quando algumas normas são rígidas e outras flexíveis. Foi o caso da
Constituição do Império de 1.824 em que a maioria dos dispositivos eram
flexíveis, alteráveis por lei ordinária, mas alguns, como os que versavam
sobre os poderes públicos e direitos do cidadão, exigiam um
procedimento dificultoso, que incluía a participação de uma assembleia
popular, sanção do imperador e referendo popular.
f) Constituição Plástica:
Aquela que, por possuir várias cláusulas gerais, permite que o
legislador atualize o significado desses conceitos sem a necessidade de
Emenda Constitucional.
É, pois, a Constituição que pode ser moldada pelo legislador
infraconstitucional. Alguns autores, como Pinto Ferreira, usa o termo
constituição plástica como sinônimo de constituição flexível.
g) Constituição Aberta:
Aquela que contém muitas normas principiológicas (conceitos
indeterminados, genéricos), e, por isso, confere maior liberdade
interpretativa, facilitando a sua atualização e reforma,
independentemente de Emenda Constitucional ou de leis.
Nessas constituições, como é o caso da Constituição de 1.988,
encontra-se implicitamente autorizada, segundo jurisprudência do STF, a
figura da mutação constitucional, que é a reforma da constituição através
de instrumentos informais, não oficiais, como a consolidação de um
costume e a fixação de uma nova interpretação jurisprudencial.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 33 de 76
Além dessas classificações, parte da
doutrina ainda menciona o seguinte:
(i) transitoriamente imutável: para
preservar a redação original do texto nos
primeiros anos de vigência, impede-se a
reforma por determinado tempo (o que
revelaria, na prática, relativa e temporária
imutabilidade como limitação temporal);
(ii) fixa ou silenciosa: não há previsão no
texto do procedimento de modificação,
permitindo-se modificar-se apenas pelo
órgão que a criou;
(iii) transitoriamente flexível: autoriza, por
certo tempo, alteração de seu texto por
procedimento mais simples; passado o
qual, a modificação dar-se-á por
mecanismo diferenciado.
10.8.Quanto à relação entre a efetividade constitucional e o
exercício do poder político (karl lowenstein): normativa,
semântica e nominal
a) Constituição Normativa:
Quando os poderes políticos cumprem à risca os mandamentos
constitucionais.
b) Constituição Semântica ou Disfarce:
A que contém instrumentos que favoreçam a perpetuação do
governante no poder. Exemplo: a Constituição Brasileira de 1.937
autorizava, em certos casos, o Presidente da República a dissolver o
parlamento.
c) Constituição Nominal:
A que é reiteradamente descumprida pelo poder político.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 34 de 76
10.9.Quanto à concretização ou concepção: jurídica, real e
política
a) Constituição Jurídica ou em sentido jurídico:
A constituição regularmente aprovada pelo poder competente e,
portanto, dotada de eficácia jurídica.
b) Constituição Real ou em sentido sociológico:
A composta por aquilo que, de fato, determina a atuação dos
órgãos do Estado. Esta ideia foi construída pelo publicista prussiano do
século XIX Ferdinand Lassalle.
Segundo ele, o que verdadeiramente direciona a atuação do Estado
é a realidade social e não a constituição jurídica. Enquanto Kelsen prioriza
a constituição jurídica em detrimento da realidade social, dizendo que o
que importa é o texto constitucional, Lassalle sustenta que a constituição
jurídica é uma mera folha de papel que só terá valor quando retratar
fielmente a constituição real e, no conflito entre elas, prevalecerá a
constituição real, que é a única que verdadeiramente retrata os fatores
reais do poder, isto é, o poder de fato que, amiúde, concentra-se nas
instituições financeiras, militares, etc.
c) Constituição em sentido político:
A parte da constituição que expressa a decisão política fundamental.
A constituição política abrange as normas constitucionais sobre forma de
Estado, organização do poder e direitos fundamentais.
Quanto às demais normas constitucionais, seriam apenas leis
constitucionais, que foram inseridas na Constituição para gozar do
benefício da supremacia hierárquica.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 35 de 76
10.10.Quanto à relação entre o estado e a religião: laica e
teocrática
a) Constituição Laica:
A que impõe a separação entre o Estado e a religião, vedando-se a
religião oficial e qualquer outra discriminação religiosa. Exemplos: as
constituições brasileiras republicanas, inclusive a de 1.988.
b) Constituição Teocrática ou Confessional:
A que promove a união entre o Estado e a igreja, instituindo-lhe
uma religião oficial, ainda que se garanta a liberdade religiosa aos demais
credos. Exemplo: Constituição Brasileira de 1.824 (adotava a religião
católica). Outro exemplo: Constituição da Inglaterra (adota a religião
anglicana).
10.11.Quanto à originalidade: original e reproduzida
a) Constituição original:
A que contém um princípio político inédito, sem similar em
constituições anteriores do próprio Estado ou de Estados estrangeiros.
Exemplo: Constituição dos EUA (foi a primeira a criar a forma
federativa de Estado e o sistema presidencialista). Outro exemplo:
Constituição Brasileira de 1.988 (foi a primeira e única a considerar o
município como ente da federação).
b) Constituição Reproduzida:
É a que não inova nos princípios políticos. A Constituição brasileira
de 1.988 é preponderantemente reproduzida, embora tenha alguns
pontos originais.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 36 de 76
10.12.Quanto à unidade do texto constitucional: unitextuais
e pluritextuais
a) Constituições Unitextuais:
Quando as emendas constitucionais são incorporadas no texto
constitucional, sem figurarem como normas apensas. Exemplo: a
Constituição de Portugal.
b) Constituições Pluritextuais:
Quando as emendas constitucionais podem se incorporar no texto,
para substituir o dispositivo alterado, ou permanecer anexa, apensa, com
valor de norma constitucional. É o caso da constituição brasileira.
10.13.Quanto ao sistema: principiológica e preceitual
a) Constituição Principiológica:
É a que reúne mais princípios que regras. Os princípios são normas
de elevado grau de abstração, que contém as diretrizes do sistema
jurídico, enquanto as regras regulam apenas uma situação específica.
b) Constituição Preceitual:
É a que contém mais regras que princípios. Regras são normas que
disciplinam uma situação específica e, por isso, contém um grau menor
de abstração.
10.14.Quanto à fase política em que foi elaborada: definitiva
e de transição
a) Constituição Definitiva:
Quando as instituições disciplinadas no texto constitucional já eram
consagradas pela sociedade. Exemplo: a Constituição dos EUA, quando foi
promulgada, já contava com a sociedade americana habituada à
separação dos poderes e outros institutos.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 37 de 76
b) Constituição de Transição:
Quando a sociedade ainda não se encontra adaptada às instituições
trazidas pelo texto constitucional. É o caso da Constituição Brasileira de
1.988 que, quando foi promulgada, a sociedade ainda se adaptava ao
regime democrático.
10.15.Quanto à finalidade: liberal e social
a) Constituição Liberal ou Garantia ou Defensiva:
A que tem a finalidade de limitar o poder político e fortalecer os
direitos fundamentais.
b) Constituição Social:
A que, além das finalidades acima, ainda visa disciplinar a ordem
social e econômica e promover a efetividade dos direitos sociais.
10.16.Quanto a fidelidade e coerência do texto a uma única
concepção ideológica:
a) Ideológicas:
Elaboradas num contexto em que o órgão elaborador é socialmente
ideologicamente homogêneo (exemplo: regimes autoritários, como os
países socialistas e comunistas).
b) Compromissórias:
Elaboradas em sociedades plurais nas quais há liberdade de
expressão e o órgão que as elabora absorve a diversidade, notadamente
em sociedades democráticas, quando os diferentes grupos estão
representados na assembleia nacional constituinte, e promovem
compromissos.
Esse caráter compromissório influencia a interpretação
constitucional, ao exigir do intérprete a garantia da unidade da
Constituição e a concordância prática entre suas várias normas,
utilizando-se a técnica da ponderação.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 38 de 76
10.17.Documentos únicos ou Vários documentos:
Consideradas as Constituições escritas, há algumas que são
compostas por apenas um documento (norte-americana) ou por vários
documentos.
Na história inglesa, por exemplo, vários documentos, editados ao
longo do tempo e independentes entre si, são considerados normas de
natureza constitucionais (exemplos: Bill of Rights e Bill of Parliament).
Com a EC nº 45/04, tratados internacionais aprovados pelo mesmo
procedimento das emendas constitucionais passaram a ter o status de
norma constitucional.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi
internalizada no Brasil em 2009 de acordo com essa nova regra, de modo
que é, hoje, norma constitucional, mas não consta do mesmo documento
que a Constituição de 1988.
10.18.Constituição-moldura
Uma das classificações das constituições diz respeito à liberdade
dada (ou não) pela Constituição ao legislador ordinário:
(i) Constituição-lei: o legislador ordinário tem ampla liberdade para
legislar, já que a Constituição tem o mesmo status das demais leis, sendo
tratada como conjunto de recomendações e orientações indicativas, que
não necessariamente serão cumpridas.
(ii) Constituição-fundamento: o legislador ordinário tem
pouquíssima liberdade, já que a Constituição tentou disciplinar em
detalhes inúmeras relações sociais (daí o nome ubiquidade constitucional
– estar em vários lugares e querer disciplinar várias situações).
(iii) Constituição-moldura (constituição-quadro): posição
intermediária, entre as duas anteriores.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 39 de 76
Nessa classificação, como uma moldura, a Constituição fixa os
limites de atuação do legislador ordinário.
Dentro dos limites fixados por essa “moldura constitucional”, poderá
ele legislar.
Virgílio Afonso da Silva: a metáfora da moldura, no campo da teoria
constitucional, é usada para designar uma Constituição que apenas sirva
de limites para a atividade legislativa; à jurisdição constitucional (ao
Poder Judiciário) cabe apenas a tarefa de controlar se o legislador age
dentro da moldura.
Prevalece o entendimento de que essa definição aplica-se à
Constituição Brasileira.
11.HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES DO BRASIL
11.1.IMPÉRIO
A primeira Constituição do Brasil foi outorgada pelo imperador em
1824.
Estado unitário
Monarquia constitucional, com um Legislativo nacional bicameral,
sendo o Senado escolhido pelo Imperador.
Poder moderador, exercido pelo próprio Imperador de forma direta,
com a atribuição, por exemplo, de poder de veto, suspensão de
magistrados e a interferência na administração das províncias.
Garantiam-se genericamente os direitos civis e políticos, a
liberdade, a legalidade, a irretroatividade das leis, a segurança individual
e a propriedade.
O voto indireto e censitário.
Catolicismo romano como religião oficial do império, além de
conviver com a escravidão.
É considerada uma Constituição semirrígida, já que parte do seu
texto poderia ser alterado por meio de leis ordinárias, e apenas as
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 40 de 76
disposições sobre os poderes políticos, direitos políticos e individuais dos
cidadãos é que estariam submetidas às regras mais rígidas de alteração
previstas na Carta.
Toda e qualquer alteração, porém, apenas poderia ocorrer 4 anos
depois de outorgada a Carta.
Apesar da rigidez parcial, a Carta de 1824 vedava o controle judicial
de constitucionalidade, sob a influência clara do modelo francês de
separação de Poderes.
O equilíbrio dos Poderes estava a cargo do poder moderador, e não
do Judiciário.
11.2.CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
Promulgada em 1891, influenciada pelo constitucionalismo norte-
americano.
Consagrou a república, separação de Poderes rígida, em sistema
presidencialista.
Previu a forma federativa de Estado, conferindo ampla autonomia
aos Estados-membros.
Garantiu, de forma geral, os direitos individuais de liberdade e
propriedade clássicos, bem como os direitos políticos.
O voto não é mais censitário, embora com determinadas limitações
(como, por exemplo, a necessidade de demonstrar alfabetização), e as
eleições passassem a ser diretas.
Previu a separação entre Estado e Igreja (católica romana.
A Constituição continha, ainda, previsões programáticas no sentido
de que o Estado deveria animar o desenvolvimento das letras, artes e
ciências.
Desenvolveu-se a chamada “doutrina brasileira do habeas corpus”,
que e destinava a todos os direitos.
A Constituição de 1891 era rígida, exigindo, portanto, um
procedimento mais complexo para sua alteração, além de prever como
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 41 de 76
cláusulas pétreas a república, a federação e a igualdade de representação
dos Estados no Senado.
Pela primeira vez no Brasil, a Constituição previu a possibilidade de
o Poder Judiciário promover controle de constitucionalidade das leis e atos
dos Poderes Públicos de acordo com o modelo de controle difuso e
incidental, conforme sistema adotado nos Estados Unidos.
11.3.CONSTITUIÇÃO DE 1934
Promulgada, é contemporânea de um período conturbado, quando
se consagraram, por exemplo, o voto secreto e feminino e a legislação
trabalhista.
Conservou a república federativa, embora a União tenha passado a
concentrar maiores competências.
A Constituição de 1934 era rígida, mas admitia dois níveis distintos
de rigidez, identificados como revisão e emenda: revisão para assuntos
materialmente constitucionais (mais complexo); e emenda para outros
assuntos (menos complexo).
A cláusula pétrea constante da Constituição de 1934 era a república
federativa.
O controle difuso de constitucionalidade pelo Judiciário continuou a
ser previsto, e o Senado passou a poder suspender a lei declarada
inconstitucional pelo Judiciário com efeitos gerais.
Previu pela primeira vez um mecanismo concentrado de controle de
constitucionalidade, que foi a ação direta interventiva.
A Constituição de 1934 instituiu a Justiça Eleitoral e a Justiça
Militar.
Previu o mandado de segurança e a ação popular, e se ocupa, pela
primeira vez de forma analítica, dos direitos trabalhistas e sociais.
Tratou, também, da ordem econômica e social, para possibilitar a
todos existência digna, assegurou como direitos sociais.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 42 de 76
11.4.CONSTITUIÇÃO DE 1937
A Constituição de 1937 foi outorgada por Getúlio Vargas e, a rigor,
é possível dizer que ela é a Constituição que nunca existiu na realidade.
Getúlio Vargas governou até 1945, concentrando Poderes
Executivo, Legislativo e também o poder de reformar a Constituição.
A Constituição era rígida, sem previsão de cláusulas pétreas.
A Constituição de 1937 criou a figura do Decreto-lei, por meio do
qual o Executivo podia expedir norma com força de lei.
Quanto ao Poder Judiciário, foi vedada a apreciação de questões
políticas (vagamente definidas) e previu-se a possibilidade de superação
pelo Legislativo (e na sua ausência pelo Executivo) de decisões judiciais
que declarassem leis inconstitucionais.
Notabilizou-se por prever a pena de morte para várias hipóteses de
crimes relacionados com a realidade política, bem como para o homicídio
por motivo fútil, entre outros tipos penais.
11.5.CONSTITUIÇÃO DE 1946
A Constituição promulgada em 1946 reorganizou o Estado brasileiro
sob a perspectiva da separação de Poderes e da federação.
O Presidente deixou de ter iniciativa em matéria de emenda à
Constituição.
A ação direta interventiva voltou a ser prevista.
Assegurou a inafastabilidade do controle judicial como um direito. E
a Justiça do Trabalho foi incorporada ao Judiciário.
Era rígida e tinha duas cláusulas pétreas: federação e república.
Retomou o catálogo clássico de direitos individuais e políticos,
trouxe uma lista importante de direitos trabalhistas, prevendo pela
primeira vez, por exemplo, o direito de greve e de participação nos
lucros.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 43 de 76
Os direitos sociais não foram particularmente desenvolvidos na
Constituição, embora houvesse previsão acerca do direito à educação.
11.6.CONSTITUIÇÃO DE 1967/69
O Ato Institucional nº 4/1966, expedido pelo Presidente eleito
indiretamente convocou extraordinariamente o Congresso Nacional com
funções constituintes para elaborar uma nova Constituição, que veio a ser
a Constituição de 1967.
A EC nº 1/1969 alterou e reorganizou substancialmente a
Constituição de 1967, daí porque esse documento é identificado como a
Constituição de 1967/69, designando o texto já consolidado com as
modificações.
Concentrou amplamente os poderes no Presidente da República,
conferindo-lhe iniciativa ao Presidente para emendas à Constituição, além
de ter criado a figura da lei delegada.
Do ponto de vista federativo, concentrou competências na União,
previu uma série de regras obrigatórias para Estados e Municípios,
ampliou as hipóteses de intervenção federal e a dependência financeira
dos Estados em relação à União, concentrando recursos no ente central.
A Constituição era rígida e trazia duas cláusulas pétreas: federação
e república.
O controle de constitucionalidade difuso e incidental prosseguiu,
com a possibilidade de suspensão pelo Senado introduzida pela
Constituição de 1934, convivendo, agora, com a representação de
inconstitucionalidade.
Sob a perspectiva dos direitos, a Constituição de 1967/69 previu os
direitos individuais e políticos clássicos, mas havia um claro descompasso
entre as previsões constitucionais e a ação estatal relativa a eles.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 44 de 76
11.7.CONSTITUIÇÃO DE 1988
Uma vez pronto, o novo texto trouxe inovações em numerosos
aspectos. Vale deixar registrado o progresso em sede dos Direitos Sociais
(direito à greve, à livre sindicalização, à educação etc.), os novos
remédios constitucionais para a proteção de direitos individuais (mandado
de segurança coletivo, habeas data), o passo dado em direção a um
federalismo mais descentralizado, com o aumento das fontes de receita e
das competências de Estados e Municípios etc. Apesar das críticas que
muitas vezes cabem ao texto, não há como negar a importância da nova
Constituição, especialmente como uma valiosa Carta de Direitos.
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 45 de 76
LISTA DAS QUESTÕES APRESENTADAS
Nada como fazer umas questões enquanto se espera a próxima
aula.
BATERIA CESPE
1.CESPE - TJ-SC - Juiz Substituto
A respeito das constituições classificadas como semânticas, assinale a
opção correta.
A) São aquelas que se estruturam a partir da generalização congruente
de expectativas de comportamento.
B) São aquelas cujas normas dominam o processo político; e nelas
ocorrem adaptação e submissão do poder político à constituição escrita.
C) Funcionam como pressupostos da autonomia do direito; e nelas a
normatividade serve essencialmente à formação da constituição como
instância reflexiva do sistema jurídico.
D) São aquelas cujas normas são instrumentos para a estabilização e
perpetuação do controle do poder político pelos detentores do poder
fático.
E) São aquelas cujo sentido das normas se reflete na realidade
constitucional.
2.CESPE - MPE-PI - Promotor
De acordo com a doutrina, o documento escrito estabelecido de forma
solene pelo poder constituinte eleito pelo voto popular, modificável
somente por processos e formalidades especiais nele mesmo contidos, e
que contém o modo de existir do Estado é classificado como constituição
-
Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros
Prof. Nilo Marinho Neto
Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 46 de 76
A) formal.
B) material.
C) outorgada.
D) histórica.
E) flexível.
3.CESPE - MPE-CE - Promotor
Ao tratar dos princípios fundamentais, a CF estabelece, em seu art. 1.º,
A) a forma republicana de Estado, cláusula pétrea expressa, caracterizada
pela eletividade, temporariedade e responsabilidade do governante.
B) a forma republicana de governo, caracterizada pela eletividade,
temporariedade e responsabilidade do governante.
C) a forma federativa de Estado, cláusula pétrea implícita, caracterizada
pela tripartição dos poderes da União.
D) a forma federativa de Estado e o sistema presidencialista de governo.
E) a forma republicana de governo e a forma