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Curso de Direito Constitucional - Curso Regular 2020 Prof. Dr. Flávio Monteiro de Barros Prof. Nilo Marinho Neto Profs. Dr. FMB e NMN www.3dconcursos.com.br 1 de 76 AULA 00: Conceito e Classificação da Constituição. SUMÁRIO PÁGINA Apresentação 1 Cronograma 3 Introdução 4 1. O Direito e o Direito Constitucional 6 2. Sistemas jurídicos e ramos do direito 6 3. Direito Constitucional 7 4. Concepções das constituições 11 5. Acepções de constitucionalismo 13 6. Constitucionalismo contemporâneo 14 7. Conceito de Constituição 16 8. Elementos da Constituição 21 9. Estrutura da Constituição de 1988 23 10. Classificação da Constituição 25 11. Histórico das Constituições do Brasil 39 Questões sem gabarito 45 Questões com comentários 55 APRESENTAÇÃO Prof. Flávio Monteiro de Barros (Prof. FMB) foi procurador do Estado de São Paulo, Promotor de Justiça e Juiz de Direito do mesmo Estado. Sempre lecionou desde a graduação (1987). Em 1988, quando era Procurador do Estado na cidade Marilia, foi solicitado por alguns alunos, que estavam em recuperação, a ministrar aulas particulares de Direito Penal. Os próprios alunos, que ficaram encantados com as aulas, montaram o primeiro cursinho preparatório para concursos, sendo que Professor Flávio ministrava todas as matérias. Os alunos não conseguiam anotar as aulas e então pediram que o Professor Flávio passasse a ditá-las. Mas o ditado tornava a aula enfadonha e por isso o Professor Flávio passou a falar de um jeito que ao mesmo tempo era uma explicação e permitia ainda a anotação. Assim, nasceu a didática que lhe é própria. Aqueles primeiros alunos hoje são juízes, promotores de justiça, procuradores do estado e delegados de polícia. Eram 17 alunos e praticamente todos foram aprovados.

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    Prof. Nilo Marinho Neto

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    AULA 00: Conceito e Classificação da Constituição.

    SUMÁRIO PÁGINA

    Apresentação 1

    Cronograma 3

    Introdução 4

    1. O Direito e o Direito Constitucional 6

    2. Sistemas jurídicos e ramos do direito 6

    3. Direito Constitucional 7

    4. Concepções das constituições 11

    5. Acepções de constitucionalismo 13

    6. Constitucionalismo contemporâneo 14

    7. Conceito de Constituição 16

    8. Elementos da Constituição 21

    9. Estrutura da Constituição de 1988 23

    10. Classificação da Constituição 25

    11. Histórico das Constituições do Brasil 39

    Questões sem gabarito 45

    Questões com comentários 55

    APRESENTAÇÃO

    Prof. Flávio Monteiro de Barros (Prof. FMB) foi procurador do

    Estado de São Paulo, Promotor de Justiça e Juiz de Direito do mesmo

    Estado. Sempre lecionou desde a graduação (1987).

    Em 1988, quando era Procurador do Estado na cidade Marilia, foi

    solicitado por alguns alunos, que estavam em recuperação, a ministrar

    aulas particulares de Direito Penal. Os próprios alunos, que ficaram

    encantados com as aulas, montaram o primeiro cursinho preparatório

    para concursos, sendo que Professor Flávio ministrava todas as matérias.

    Os alunos não conseguiam anotar as aulas e então pediram que o

    Professor Flávio passasse a ditá-las. Mas o ditado tornava a aula

    enfadonha e por isso o Professor Flávio passou a falar de um jeito que ao

    mesmo tempo era uma explicação e permitia ainda a anotação. Assim,

    nasceu a didática que lhe é própria. Aqueles primeiros alunos hoje são

    juízes, promotores de justiça, procuradores do estado e delegados de

    polícia. Eram 17 alunos e praticamente todos foram aprovados.

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    De 1988 a 1993, o Professor Flávio teve cursinho preparatório para

    concursos públicos, nas cidades de Marilia (1988 e 1989) e Presidente

    Prudente (1990 a 1993). Em agosto de 1993, o Professor Flávio passou a

    ministrar aulas no extinto Curso Êxito, na cidade de São Paulo,

    coordenado pelo Procurador de Justiça Carlos Frederico Coelho Nogueira,

    que tinha ainda como sócios os saudosos penalistas Julio Fabbrini

    Mirabete e José Henrique Pierangeli.

    Em 1995, tornou-se professor do Curso CPC, coordenado pelo

    jurista Antonio Carlos Marcato, que tinha como sócio Flávio Toledo.

    Em julho de 2003, deixou o Curso CPC para fundar o Curso FMB,

    que iniciou suas atividades em dezembro de 2003, num ciclo de palestra

    sobre o novo Código Civil, figurando como palestrantes juristas do

    primeiro escalão, dentre eles Fábio Ulhoa Coelho e Vicente Greco Filho.

    De 2003 a 2004, lecionou no Curso IELFE, hoje chamado Curso LFG, a

    convite do Professor Luiz Flávio Gomes.

    Atualmente, além de professor, é advogado renomado no Estado de

    São Paulo.

    Nilo Marinho Neto foi advogado, depois de passar na OAB ainda

    na graduação, e logo cedo foi aprovado e hoje é Analista Judiciário do

    TJPI, onde assessorou juízes, Corregedor, Vice-Presidente,

    Desembargadores, e participou de inúmeros projetos inovadores no

    Tribunal. Aprovado para Promotor do Amapá e Juiz de Direito do

    Amazonas; e até a prova oral de Promotor da Paraíba. É pós-graduado

    em Direito Público, em Direito Tributário e possui MBA em Gestão

    Judiciária pela FGV-RIO. Mestrando em Direito pelo IDP.

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    CRONOGRAMA DAS AULAS

    A seguir apresentamos o cronograma das aulas que se fundamenta

    nos principais editais de Administração Financeira e Orçamentária

    (conhecida também como Orçamento Público):

    Aula Tema Data Limite

    00 Conceito e Classificação da Constituição 15/06/2020

    01 Poder Constituinte 15/06/2020

    02 Norma Constitucional e Sua Validade 15/06/2020

    03 Direitos Fundamentais 15/06/2020

    04 Controle de Constitucionalidade I 15/06/2020

    05 Controle de Constitucionalidade II 15/06/2020

    06 Organização do Estado 15/06/2020

    07 Repartição de Competências, Defesa e Sítio 15/06/2020

    08 Organização dos Poderes – Legislativo 15/06/2020

    09 Organização dos Poderes – Processo Legislativo 15/06/2020

    10 Organização dos Poderes – Executivo 15/06/2020

    11 Organização dos Poderes – Judiciário 15/06/2020

    12 Ordem Econômica e Ordem Social 15/06/2020

    Observação importante: este curso é protegido por direitos autorais

    (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida

    a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências.

    Grupos de rateio e pirataria são ilegais e prejudicam os professores

    que elaboram os cursos. Valorize nosso trabalho e adquira nossos cursos

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    INTRODUÇÃO

    Alguns não arriscam afirmar quem veio primeiro: a sociedade ou o

    Estado.

    Mas, em determinado momento da História, é certo que o Direito

    passou a estudar o Estado de forma organizada e com foco. Surgiu,

    então, o Direito Constitucional, que é considerado, atualmente, o ramo

    jurídico mais importante, porque dele nascem todos os demais.

    Todas as leis brasileiras devem se submeter à Constituição. Caso

    contrário, elas “não valem”. Por isso estudar Direito Constitucional é

    muito importante. E essa disciplina encontra-se, praticamente, em todos

    os concursos públicos.

    Para entendê-la bem, basta seguir um fio de raciocínio muito lógico.

    Primeiro, precisamos saber o que é o Direito. Depois, sabendo que

    hoje em dia o Direito, em geral, surge com o Estado, passamos a estudar

    os movimentos da sociedade que pregavam limites para o Poder desse

    Estado.

    Daí percebemos que esses movimentos queriam, no fim, que todo

    mundo se sujeitasse a uma Lei Maior, que garantisse as regras do jogo –

    a Constituição. O que exige, então, saber qual origem do poder que a

    escreve e quem é o titular desse poder.

    Feita a Constituição, é passa-se a estudar como ela pode ser

    classificada, como se pode interpretá-la, qual o seu conteúdo essencial.

    Conhecendo esse panorama geral, então é possível estudar a

    Constituição de 1988, que é a que atualmente nos direciona.

    Esse processo é simples. Não exige muito além de atenção e

    esforço. Com certeza é um estudo melhor que Direito Internacional, ou

    Direito do Trabalho (risos).

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    Esperamos que uma abordagem direta e com esforço de atualização

    contínua permitam a você avançar na disciplina, tendo base para

    enfrentar o máximo de questões possíveis.

    Assim, além de exposição focada, a seleção de assuntos que

    realmente possam ser cobrados, para que você não perca tempo, será

    nosso grande motor.

    Assim, vamos começar.

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    1.O DIREITO E O DIREITO CONSTITUCIONAL

    As relações sociais são regidas por um conjunto de normas de

    várias espécies: as normas sociais, que são um conjunto de dever-ser,

    padrões de conduta a cumprir ou evitar, de alguma forma adotados pelo

    grupo social, e que se espera que sejam adotadas. Uma de suas espécies

    mais importantes é o direito.

    Dentre tudo que se espera do próximo, o direito escolhe aquilo que

    é mais importante, e prevê, a quem não cumprir, uma sanção que pode

    ser imposta contra a vontade da pessoa.

    As origens das normas jurídicas são muitas: algumas já são

    adotadas, de algum modo, pela sociedade (norma social); outras são

    construídas de forma inédita pelo Estado.

    Essa correlação entre norma social e norma jurídica, e a seleção do

    que pode vir a ser norma jurídica, é tema do Direito Constitucional, que

    estuda a Constituição, norma fundante (i) do Estado, (ii) dos valores mais

    caros da sociedade e (iii) das entidades responsáveis por elaborar e

    aplicar essas normas.

    2.SISTEMAS JURÍDICOS E RAMOS DO DIREITO

    O Direito possui uma forma e conteúdo diferente conforme o país,

    pois depende de muitos fatores culturais e de tradições históricas. Nesse

    sentido, costuma-se falar em dois grandes modelos do Direito.

    O Brasil adota a tradição romano-germânica (que se originou na

    Europa Continental), que dá especial importância à lei, elaborada pela

    autoridade competente, que, no nosso exemplo, é o Poder Legislativo.

    Por outro lado, outros países adotam o sistema da common law

    (tradição inglesa), em que o direito não é propriamente criado por uma

    autoridade competente, mas revelado pelos costumes, pela tradição ou

    pelos Tribunais, que solucionam os problemas que são trazidos nos

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    processos. Nesse caso, não se dá tanta importância à lei editada pelo

    Poder Legislativo.

    Apesar dessa distinção, atualmente é difícil encontrar um sistema

    puro, pois os países passaram a adotar práticas de um e de outro:

    (i) países de tradição da common law utilizam cada vez mais leis

    elaboradas pelo Legislativo ou atos normativos do Executivo;

    (ii) países de tradição de civil law (romano-germânicos) dão cada

    vez mais importância à jurisprudência, inclusive com a introdução de

    sistema de precedentes.

    Assim, em geral, o princípio da isonomia é assegurado:

    (i) na common law: pelo comando das decisões dos tribunais

    superiores que vinculam os demais órgãos jurisdicionais (o que o Tribunal

    Superior decide tem que ser obedecido por todos, sem distinção);

    (ii) nos sistemas romano-germânicos: pelo comando da lei,

    cabendo ao Judiciário interpretá-la e aplicá-la (todos são iguais perante a

    lei). Todavia, como cada vez mais a força criativa e a subjetividade dos

    juízes geram decisões diferentes, adota-se o sistema de precedentes (ou

    seja, o que o Supremo decide, todos devem cumprir).

    Segundo a tradição do civil law, os ramos do Direito são:

    (i) Direito Público, dedicado aos interesses do Estado, a exemplo do

    Direito Constitucional;

    (ii) Direito Privado, destinado aos interesses privados.

    Atualmente, essa distinção entre o Direito Público e o Direito

    Privado está atenuada ou mitigada, servindo apenas academicamente,

    pois se considera o direito como um só.

    3.DIREITO CONSTITUCIONAL

    Como todo ramo do Direito, o Direito Constitucional é fruto da

    História do pensamento humano, e do movimento social contínuo até o

    status de hoje em que se considera que o indivíduo é dono de si mesmo.

    Em geral, pelo menos em nossa sociedade Ocidental:

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    (i) inicialmente o homem vivia sob a Teocracia (governo de Deus);

    (ii) passando para Sistemas Absolutistas (governo de um homem

    supostamente enviado por Deus);

    (iii) aos sistemas monarquistas (em que o Parlamento surge como

    força pujante);

    (iv) até paulatinamente chegarmos à Democracia (governo do

    povo).

    Esse processo histórico deu-se também por meio dos debates sobre

    a origem do Poder e da Lei, sendo pano de fundo para o que se

    denominou de Constitucionalismo.

    Essencialmente, constitucionalismo pode ser considerado como

    proposta teórica, ideológica ou metodológica de limitação dos poderes do

    governo, de modo a resguardar as pessoas das arbitrariedades.

    Em primeira acepção, é uma teoria criada no século XVII e XVIII

    que propugnava pela limitação do poder político para conseguir o

    fortalecimento dos direitos individuais.

    Em segunda acepção, constitucionalismo é o próprio movimento

    que reagia ao Estado Absolutista e defendia que cada Estado deveria ter

    uma constituição escrita que fosse superior a todo o ordenamento jurídico

    do país. Para tanto, seria necessário criação de mecanismos que dessem

    estabilidade ao sistema constitucional, cujas regras só poderiam ser

    modificadas por um processo mais rigoroso que o processo das demais

    leis inferiores.

    Assim, constitucionalismo é termo controverso em função de suas

    diversas acepções históricas:

    (i) Primeiro: movimento político-social com origens históricas

    bastante remotas que pretende, em especial, limitar o poder arbitrário

    com a imposição de que haja cartas constitucionais escritas.

    (ii) Segundo: imposição de que haja cartas constitucionais

    escritas.

    (iii) Terceiro: os propósitos mais latentes e atuais da função e

    posição das constituições nas diversas sociedades.

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    (iv) Quarto: evolução histórico-constitucional de um determinado

    Estado.

    Dentro do quadro dessa evolução histórica, é importante lembrar

    dos seguintes pontos:

    a) Antiguidade:

    É possível estudar o caso de Israel, cuja “Lei de Moisés” (lei

    mosaica) revelava uma teocracia, em que o Poder originava-se de Deus e

    os Profetas promoviam uma espécie de fiscalização.

    Na Grécia Antiga, Aristóteles já diferenciava leis constitucionais das

    demais leis; aquelas determinando (i) como as cidades eram constituídas

    politicamente e (ii) os órgãos que exerciam o poder.

    Com as suas cidades-Estados, os gregos são considerados

    precursores da limitação do Poder Político, através da noção de

    democracia direta, havendo certa identidade entre governantes e

    governados.

    A liberdade era compreendida pela participação na vida política

    (liberdade política).

    b) Na Idade Média:

    Surgiram os forais e cartas de franquias que eram redigidas pelos

    governantes e expressavam normas sobre limitação do poder, e até

    mesmo reconhecendo direitos dos indivíduos, reconhecendo-se, inclusive,

    em alguns lugares, a participação dos indivíduos nos governos de

    diversas cidades.

    Em todo caso, essas Cartas eram redigidas pelos governantes.

    Também havia acordos entre governantes, monarcas e grupos com

    parcelas de poder, estabelecendo limitações de certos poderes dos

    governantes.

    Surgiram, portanto, várias experiências constitucionalistas,

    predominando as Monarquias Absolutistas.

    A Magna Carta, firmada entre o Rei João Sem Terra e barões

    ingleses em 1215, torna-se exemplo do início dos questionamentos contra

    a figura do Rei Absoluto.

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    Era clara a semente das Constituições, que seriam normas sobre

    poder, organização do poder e alguns direitos individuais garantidos.

    c) Na Idade Moderna:

    Também se encontram outros projetos de Constituições, como os

    Estados Nacionais, estruturados no sistema absolutista.

    Mesmo nesse período foi possível encontrar, por exemplo, as leis

    fundamentais do reino da França e de outras nações, que, de certa forma,

    impunham limitações de poder aos monarcas, e eram hierarquicamente

    superiores, mesmo governantes, pois inspiradas por um direito universal.

    Em contraposição ao Estado Absolutista, veio o Iluminismo, através

    da teoria do Constitucionalismo, justificando as chamadas revoluções

    liberais, que têm seu marco inicial com a Revolução Gloriosa inglesa de

    1688, da qual se originaram limites permanentes à monarquia, o

    parlamentarismo e se asseguraram garantias aos parlamentares e

    proteção a direitos individuais por meio da Bill of Rights.

    A revolução de independência norte-americana consagrou-se pela

    Constituição Americana em 1787 que rejeitou a monarquia, criando uma

    república, a separação rígida de poderes e o Estado federal.

    A Revolução Francesa de 1789 acabou se transformando no símbolo

    do movimento em seu esforço de extinguir o absolutismo e garantir,

    sobretudo, a primazia da legalidade e da igualdade formal, sob a

    Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.

    d) Constitucionalismo recente:

    Mais recentemente, surgiram as Constituições Sociais,

    principalmente em razão dos movimentos socialistas e comunistas que

    trouxeram à discussão direitos trabalhistas e sociais.

    Exemplos clássicos são a Constituição Mexicana de 1917 e a

    Constituição de Weimar de 1919.

    e) Constitucionalismo contemporâneo:

    Flexibilização ou mitigação dos conceitos de soberania e nação,

    surgindo blocos supranacionais.

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    4.CONCEPÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

    Dentro desse extenso processo histórico, a doutrina aponta que a

    Constituição pode ser entendida sob quatro perspectivas:

    a) Perspectiva jurídica pura (Hans Kelsen):

    A Constituição seria uma norma jurídica dotada de superioridade

    hierárquica em relação às demais.

    Para Hans Kelsen, a Constituição define quem elabora as normas e

    como elas vão ser elaboradas, o ponto de partida e de validade de todo o

    sistema jurídico.

    Confere-se especial valor, de certo modo, ao papel das Cortes

    Constitucionais Supremas.

    A principal crítica a essa perspectiva é sua ênfase à natureza

    puramente formal (positivismo jurídico), ao tentar se desvencilhar do

    conteúdo das normas constitucionais, nem lhes impõe limites. E por se

    importar muito com a forma, e menos com o conteúdo, pode resultar em

    normas extremamente injustas.

    Essa concepção foi fortemente redimensionada, especialmente em

    razão da crueldade que ocorreu na 2ª Guerra Mundial, voltando-se o foco

    para a aceitação de valores.

    b) Perspectiva natureza filosófica ou material:

    Identifica como conteúdo da Constituição aqueles temas que são

    valiosos, considerados mínimo ético-moral: direitos fundamentais,

    separação de Poderes e organização/limitação do exercício do poder

    político.

    Qualquer outro assunto diferente desses citados não teria a

    natureza de norma de Constituição, podendo, por outro modo, ser

    disposto por leis infraconstitucionais.

    Todavia, é difícil estabelecer os limites desse conteúdo, e, ainda

    mais, um consenso sobre esse conteúdo.

    c) Perspectiva sociológica (Ferdinand Lassalle):

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    A Constituição, enquanto documento escrito, é apenas uma folha de

    papel.

    As relações reais de poder existentes na sociedade são

    determinantes de que direitos são garantidos e como o poder é exercido.

    A Constituição-documento, se não vinculada a essa realidade, será

    apenas uma folha de papel sem eficácia na prática.

    d) Perspectiva política (Carl Schmitt):

    A substância da Constituição não são as normas constantes de um

    documento, mas as decisões políticas fundamentais tomadas pelo

    governo em dado momento histórico.

    Nesse sentido, a Constituição seria também um pedaço de papel

    que, se não compatível com as aspirações do poder político, o grupo

    controlador promoveria alterações.

    Ou seja, quem está no poder tomará as decisões sobre do que é a

    Constituição realmente (decisões do poder político tomadas no presente,

    e não no passado).

    Valoriza-se, de certo modo, o papel do Poder Executivo.

    e) Perspectiva da força normativa da Constituição (Konrad

    Hesse):

    Com base em críticas sociológicas, afirmam-se os limites da

    Constituição, os quais, entretanto, não anulam as forças constitucionais

    de promover transformações.

    Há mútua intercorrências entre a realidade e a Constituição, mas

    esta possui certa capacidade de produzir efeitos e alterar o mundo real, o

    que resulta em uma concepção normativa que absorve a complexidade

    das relações sociais e políticas.

    Cada uma dessas concepções surgiu conforme o contexto histórico

    em que seus autores viveram. Mas, tomadas conjuntamente, apontam

    aspectos importantes da realidade, distintos entre si. Com isso, de certo

    modo, elas se completam.

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    5.ACEPÇÕES TRADICIONAIS DA PALAVRA CONSTITUCIONALISMO

    Constitucionalismo, como teoria normativa da política, é a limitação

    do poder político com o propósito de fortalecer os direitos fundamentais

    da pessoa.

    Por outro lado, o constitucionalismo, como uma das vertentes do

    iluminismo, designa também o movimento político e cultural que apregoa

    a limitação do poder através de uma constituição escrita, de origem

    popular e hierarquicamente superior a todo ordenamento jurídico e ao

    próprio Estado, de observância obrigatória aos governados e governantes.

    O iluminismo, surgido nos séculos XVII e XVIII, desenvolveu-se na

    América do Norte e Europa Ocidental, caracterizou-se como sendo o

    movimento político e cultural de oposição ao Estado Absolutista, que

    dentre outros benefícios, acabou também por permitir a instituição da

    figura da Constituição.

    As primeiras constituições escritas inspiradas nesse movimento

    surgiram na América do Norte, com as ex-colônias inglesas que

    conquistaram a independência, e, depois, já como Estados soberanos,

    elas se uniram para formar os Estados Unidos da América, que, em

    1.787, promulgou sua Constituição, em vigor até hoje. Em seguida, como

    consequência da Revolução Francesa, a França promulgaria também a

    sua Constituição inspirada no movimento iluminista.

    Na verdade, a teoria normativa da política era um dos pilares do

    movimento iluminista e propulsionou a ideia de Constituição com sendo a

    limitação do poder estatal.

    Mais recentemente, o constitucionalismo também se referiu ao

    garantismo, que ensina que os direitos fundamentais incorporados pelas

    Constituições devem ser garantidos e satisfeitos concretamente.

    Pretende estabelecer as técnicas de garantias idôneas e assegurar o

    máximo grau de efetividade aos direitos reconhecidos pela democracia

    constitucional, que pode e deve ser estendida em três direções: (i)

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    garantia de todos os direitos fundamentais, (iii) frente a todos os poderes

    e (iii) em todos os níveis, não somente no Direito interno, mas também

    no Direito internacional.

    6.CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO

    Constitucionalismo contemporâneo é a expressão usada para indicar

    as novas fases do significado do seu desenvolvimento histórico.

    Abrange o neoconstitucionalismo e o transconstitucionalismo.

    6.1.NEOCONSTITUCIONALISMO

    Neoconstitucionalismo é a possibilidade conferida ao juiz de aplicar

    diretamente a Constituição, na solução do caso concreto, sem ter a lei

    como intermediária.

    Trata-se de uma nova dimensão da função jurisdicional, que se

    opõe ao modelo jurisdicional clássico em que o juiz era mero aplicador da

    lei aos casos concretos.

    O neoconstitucionalismo, que é enaltecido na Europa e por alguns

    juristas brasileiros, proporciona uma verdadeira produção normativa pelo

    Poder Judiciário. É, pois, a consagração do chamado ativismo judiciário,

    isto é, a produção de normas jurídicas através do Estado-Juiz.

    Em sistemas normativos abertos, que contém mais princípios que

    regras, o neoconstitucionalismo costuma se desenvolver com mais

    frequência.

    Enfim, como o jusnaturalismo e juspositivismo são insuficientes,

    apregoou-se novo paradigma jurídico, definido como movimento de

    superação das diferenças entre o naturalismo e o positivismo jurídicos, a

    partir de dois pilares de sustentação:

    (i) relacionamento entre Filosofia do Direito e a Filosofia da Política

    => orientado ao estabelecimento de uma nova grade de percepção e

    raciocínio para a relação entre o direito, a moral e a política,

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    harmonizando esses espaços dentro do arcabouço da ordem jurídica

    legítima;

    (ii) análise da importância da principiologia constitucional,

    racionalidade do processo argumentativo no discurso filosófico e

    hermenêutica jurídica na compreensão do funcionamento do direito nas

    sociedades democráticas.

    Quais os marcos fundamentais do neoconstitucionalismo?

    a) Histórico:

    (i) estado constitucional de direito;

    (ii) documentos a partir da 2ª guerra mundial;

    (iii) redemocratização.

    b) Filosófico:

    (i) pós-positivismo;

    (ii) direitos fundamentais;

    (iii) direito-ética.

    c) Teórico:

    (i) força normativa (Konrad Hesse);

    (ii) supremacia da constituição (constitucionalização dos direitos

    fundamentais);

    (iii) nova dogmática da interpretação constitucional.

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    6.2.TRANSCONSTITUCIONALISMO

    (INTERCONSTITUCIONALISMO, FECUNDAÇÃO CRUZADA OU

    CROSS-CONSTITUCIONALISMO)

    Transconstitucionalismo é a necessidade de a Corte Constitucional

    de um Estado resolver as questões constitucionais em harmonia com a

    interpretação dada pelas Cortes Internacionais e Tribunais Constitucionais

    de outros Estados estrangeiros.

    Diante da globalização, que marca o mundo contemporâneo, os

    Estados não podem resolver as questões constitucionais isoladamente,

    voltados exclusivamente para o direito interno, e sim buscar um diálogo

    com os demais Estados antes de tomar uma decisão.

    No Brasil, o STF no julgamento do Recurso Extraordinário 511.961

    decidiu que não há necessidade de diploma para exercer a profissão de

    jornalista, porquanto essa exigência, além de representar censura prévia,

    ainda violaria a liberdade de expressão e, por consequência, a própria

    liberdade de imprensa. Na fundamentação central dessa decisão, o STF

    utilizou também a jurisprudência da Corte Internacional de Direitos

    Humanos.

    7.CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

    7.1.INTRODUÇÃO

    Tradicionalmente, Constituição é o conjunto de normas jurídicas

    supralegais e rígidas que disciplinam o poder do Estado e os direitos

    fundamentais da pessoa.

    A supralegalidade é a superioridade sobre as demais normas

    jurídicas (leis, atos administrativos e costumes) e a rigidez é a dificuldade

    maior de alterar essas normas.

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    No Brasil, entretanto, qualquer norma inserida no texto

    constitucional é dotada de superioridade hierárquica e rigidez e, por isso,

    caracteriza-se formalmente como sendo norma constitucional, estando,

    pois, no topo da pirâmide jurídica. Todavia, em sentido estrito, isto é, da

    matéria, as normas constitucionais são apenas aquelas relacionadas ao

    poder (elemento orgânico) ou aos direitos humanos fundamentais

    (elementos limitativos).

    O conceito de constituição varia conforme o modelo de Estado e sua

    respectiva evolução histórica. De um lado, encontra-se a constituição

    liberal e de outro a constituição social.

    7.2.CONSTITUIÇÃO LIBERAL (CONSTITUIÇÃO CLÁSSICA,

    CONSTITUIÇÃO GARANTIA E CONSTITUIÇÃO DEFENSIVA)

    Estado liberal é o não intervencionista, que não se intromete em

    áreas como saúde, educação, previdência e trabalho, relegando esses

    assuntos à iniciativa privada. É, pois, o Estado mínimo, que avoca para si

    apenas a manutenção da ordem pública.

    Este modelo de Estado liberal foi implementado no final do século

    XVIII, a partir das revoluções liberais (Revolução Americana de

    Independência das Colônias Inglesas e Revolução Francesa). As primeiras

    constituições, segundo a acepção do constitucionalismo (as anteriores

    eram apenas sementes de constituição), surgiram para retratar esse

    modelo de Estado Liberal, disciplinando apenas a organização do Estado,

    a organização do poder e os direitos individuais da pessoa, isto é, a

    primeira dimensão de direitos fundamentais.

    Os objetivos das constituições liberais eram limitar o poder político

    dos governantes e fortalecer os direitos individuais do homem.

    Do exposto dessume-se que constituição liberal é o conjunto de

    normas superiores que dispõe sobre a organização do Estado, a

    organização do poder e os direitos individuais da pessoa. Restringe-se,

    pois, a esse trio temático de matérias.

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    A organização do Estado abrange:

    a) Forma de governo (república ou monarquia);

    b) Sistema de governo (presidencialismo, parlamentarismo ou

    semipresidencialismo).

    c) Forma de Estado (federal ou unitário);

    d) Órgãos do Estado, suas competências, servidores públicos e

    princípios da administração pública.

    e) Forças armadas, segurança pública, orçamento público e

    tributação

    A organização do poder, por sua vez, compreende:

    a) A titularidade do poder;

    b) Exercício e limitação do poder;

    c) Órgãos do poder, formas de composição desses órgãos;

    d) Sistema partidário, sistema eleitoral e direitos políticos.

    Finalmente, os direitos e garantias individuais são os que protegem

    o homem enquanto pessoa humana. Exemplos: direito à vida, à

    igualdade, à liberdade, etc. Representam a primeira dimensão dos direitos

    fundamentais.

    7.3.CONSTITUIÇÃO SOCIAL

    Estado Social ou Estado Providência (Welfare State) é o

    intervencionista, que disciplina a ordem econômica e social e ainda presta

    serviços nas áreas dos direitos sociais (saúde, educação, previdência,

    trabalho, etc). É, pois, o Estado que visa proporcionar o bem estar social,

    por isso, avoca para si atividades que antes cabiam à iniciativa privada,

    não se limitando apenas às atividades do Estado Liberal, de mero fiscal da

    manutenção da ordem pública.

    No final do século XIX, mais precisamente no início do século XX,

    surge o Estado Social, impulsionado por crises econômicas instauradas

    pela forte industrialização, pela economia de guerra, sobretudo, primeira

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    guerra mundial, pelo surgimento dos sindicatos e fortalecimento de

    partidos políticos.

    Por consequência, começam a aparecer as Constituições Sociais,

    que disciplinam a ordem econômica e social. A primeira delas foi a

    constituição mexicana de 1.917, seguida pela constituição Alemã, de

    Weimar, em 1.919. No Brasil, em 1.934, foi promulgada a primeira

    constituição social, que revogou a de 1.890.

    Ao lado dos fins típicos das constituições liberais, isto é, limitação

    do poder político e fortalecimento dos direitos individuais, as constituições

    sociais objetivam também uma atuação positiva do Estado

    intervencionista consistente na prestação de serviços nas áreas dos

    direitos sociais, econômicos e culturais.

    Do exposto conclui-se que Constituição Social é o conjunto de

    normas superiores que, além da organização do Estado, organização do

    poder e direitos individuais, ainda disciplinam a ordem econômica, a

    ordem social e os direitos sociais, econômicos e culturais.

    7.3.1.PRINCÍPIO DA RESERVA DO POSSÍVEL

    De acordo com o princípio da reserva do possível, a concretização

    dos direitos sociais, econômicos e culturais estabelecidos pelas

    Constituições Sociais depende da disponibilidade financeira e

    orçamentária, salvo quanto ao mínimo existencial das pessoas.

    Portanto, no que tange aos serviços relacionados ao mínimo

    existencial das pessoas, o Estado tem o dever de prestá-los,

    independentemente da disponibilidade financeira, enquanto os demais

    serviços prometidos pela Constituição estariam condicionados à

    disponibilidade financeira e orçamentária.

    A identificação do mínimo existencial é definida pelo próprio Poder

    Judiciário no julgamento das ações judiciais em que esse assunto é

    discutido.

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    7.3.2.MODALIDADES DE CONSTITUIÇÕES SOCIAIS

    A doutrina apresenta as seguintes modalidades de Constituições

    Sociais:

    a) Constituição Programática:

    É a que traça diretrizes para que o Poder Público implemente

    programas sociais e econômicos. Referidas constituições preveem

    normas-tarefas ou normas-fins, que estabelecem essas diretrizes.

    b) Constituição dirigente:

    É que especifica determinados programas sociais e econômicos. Não

    se limita, portanto, a traçar as diretrizes para a implementação desses

    programas. É o caso da Constituição de Portugal, de 1.976, que,

    inclusive, influenciou a elaboração da Constituição brasileira de 1.988.

    A Constituição brasileira é simultaneamente programática e

    dirigente. Segundo Canotilho, o ideal é que as constituições sejam mais

    programáticas que dirigentes.

    c) Constituição Balanço:

    É a elaborada após o Estado atingir determinada etapa. Vigorou na

    antiga União Soviética, cujo objetivo máximo era alcançar o socialismo

    pleno, que, no entanto, dependia do atingimento de determinadas metas,

    e, a cada etapa concluída, elaborava-se uma nova constituição, dando-se

    um passo adiante ao fim último do Estado.

    Foram as características das constituições soviéticas de 1.920,

    1.930 e 1.970.

    d) Constituição Cultural:

    É a expressão empregada por Canotilho para designar as

    constituições sociais que não se limitam a disciplinar a ordem econômica,

    cuidando também da educação, cultura e desporto, como é o caso da

    constituição brasileira.

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    8.ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

    8.1.CLASSIFICAÇÃO DE JOSÉ AFONSO DA SILVA

    a) Elementos Orgânicos:

    São as normas que tem relação direta com a organização do Estado

    em sentido amplo, abrangendo, destarte, as que disciplinam a

    organização do poder, sistema tributário, orçamento público, forças

    armadas e segurança pública.

    Desde as sociedades políticas primitivas, o Estado exerce funções

    militar e policial, daí a relação direta entre os temas segurança pública e

    forças armadas com a organização do Estado.

    b) Elementos Limitativos:

    São as normas que restringem o poder estatal com o fulcro de

    fortalecer os direitos fundamentais. Referidas normas são as que tratam

    dos direitos fundamentais, com exceção das que versam sobre os direitos

    sociais.

    Assim, as normas constitucionais sobre direitos individuais e

    coletivos, direitos à nacionalidade, direitos políticos e atuação partidária

    compõem esses elementos limitativos. Exemplos: a liberdade de reunião

    e associação é exercida independentemente da autorização estatal.

    Quanto aos direitos sociais, conquanto sejam também direitos

    fundamentais, não se prestam a limitar o poder do Estado, pelo contrário,

    eles visam estimular a atuação do Estado a prestar os serviços nessas

    áreas.

    c) Elementos Socioideológicos:

    São as normas que retratam as influências ideológicas e

    doutrinárias da Constituição. Exemplos: as normas sobre direitos sociais,

    ordem social, ordem econômica e sistema financeiro.

    A Constituição brasileira contém normas inspiradas no liberalismo

    como, por exemplo, o art. 170 que, ao cuidar da ordem econômica,

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    consagra o tripé do liberalismo (propriedade privada, livre iniciativa e livre

    concorrência), bem como normas da ideologia socialista, ao disciplinar a

    reforma agrária (arts. 184 e 186), aliás, o próprio art. 170 também faz

    referência expressa à função social da propriedade, à ideia de que a

    ordem econômica visa o bem estar social.

    O modelo econômico brasileiro não é um liberalismo ou socialismo

    puros, mas um modelo misto, um capitalismo social, conforme

    denominação empregada por José Afonso da Silva. Há, pois, mais de uma

    ideologia no texto constitucional.

    d) Elementos de Estabilidade Constitucional:

    São as normas que visam assegurar a supremacia e estabilidade da

    Constituição. Ingressam nesse rol as normas sobre a rigidez da reforma

    constitucional, as que versam sobre controle de constitucionalidade,

    intervenção federal, intervenção estadual, estado de sítio e estado de

    defesa.

    Referidas normas têm o objetivo assegurar a estabilidade da própria

    Constituição, isto é, evitar que ela seja violada, bem como solucionar os

    conflitos constitucionais e garantir a defesa das instituições democráticas

    do próprio Estado de Direito. Em suma, são as normas que visam

    defender a própria constituição.

    e) Elementos Formais de Aplicabilidade:

    São as normas que visam favorecer a efetiva interpretação e

    aplicação das normas constitucionais.

    Exemplos: o §1º do art. 5 da CF estabelece a aplicação imediata

    das normas sobre direitos fundamentais. Outro exemplo: ADCT (atos das

    disposições constitucionais transitórias).

    8.2.CLASSIFICAÇÃO DE PAULO BONAVIDES

    O autor toma por base a doutrina espanhola.

    (i) preâmbulo: que exprime os sentimentos do constituinte;

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    (ii) parte introdutória: contém disposições preliminares como forma

    de governo, regime político, modelo de organização do estado,

    organização do poder (separação dos poderes), objetivos fundamentais

    da República Federativa do Brasil, princípios que pautam as relações

    internacionais do estado brasileiro;

    (iii) parte dogmática: reúne as normas sobre direitos fundamentais,

    que permitem identificar os modelos de orientação ideológica da CF;

    (iv) parte orgânica: trata dos órgãos do estado e do poder;

    (v) disposições gerais;

    (vi) disposições transitórias.

    9.ESTRUTURA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO DE 1.988

    A Constituição de 1.988 tem a seguinte estrutura:

    a) Preâmbulo;

    b) Disposições permanentes (art. 1º ao 250);

    c) ADCT;

    d) Emendas Constitucionais;

    e) Tratados Internacionais de Direitos Humanos.

    Sobre as emendas constitucionais e tratados internacionais de

    direitos humanos, serão tratados mais adiante.

    9.1.PREÂMBULO

    O preâmbulo é a introdução da Constituição. Expressa a ideologia

    do Poder Constituinte que a elaborou. Foi ele votado pela Assembleia

    Constituinte, que aprovou a sua redação. Integra, pois, a Constituição

    Federal.

    O que consta no preâmbulo serve para embasamento da

    interpretação e aplicação das normas constitucionais. É assim um

    elemento formal de aplicabilidade da Constituição.

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    O STF decidiu que o preâmbulo não tem força normativa, uma lei

    que o afronta não pode ser considerada inconstitucional, para o STF o

    preâmbulo é apenas um enunciado principiológico de conotação política

    sem conteúdo jurídico.

    Outra corrente sustenta que o preâmbulo tem força normativa, pois

    ele se localiza na Constituição, que é também um instrumento de

    conteúdo jurídico. Em matéria de concurso público o candidato deve

    seguir a orientação do STF e, portanto, as Constituições Estaduais não

    precisam reproduzir o preâmbulo da Constituição Federal, nem fazer

    menção à Deus, pois o preâmbulo não é norma jurídica e sim um

    instrumento de divulgação de princípios políticos.

    O preâmbulo faz menção à proteção de Deus, mas oficialmente não

    adota nenhuma religião. O Brasil é um Estado laico, pois não tem religião

    oficial. Ao tempo do Império, o Brasil era um Estado confessional, havia

    uma religião oficial, que era a Católica Apostólica Romana.

    Desde a Constituição de 1.890, adota-se uma posição neutra em

    matéria religiosa. O fato de o preâmbulo pedir a proteção de Deus, não

    torna o Brasil um estado confessional à medida que não se filiou a

    qualquer tipo de religião.

    Persiste, portanto, a neutralidade religiosa, o Estado laico é uma

    característica do Brasil, que se filia, no entanto, ao teísmo, isto é, admite

    a existência de um ser superior, que é Deus, contrapondo-se ao ateísmo,

    que é o Estado materialista em matéria de fé religiosa.

    Referentemente aos feriados religiosos, adotados por lei, revestem-

    se de flagrante inconstitucionalidade, pois a veneração a um determinado

    santo ou santa não é comum a todas as religiões.

    Essas leis violam o princípio constitucional do Estado laico, afrontam

    a neutralidade que deve existir em matéria religiosa. Quanto ao Natal não

    é apenas um feriado religioso, trata-se de uma tradição mundial, adotada

    na Europa e em quase todo o mundo há séculos e, portanto, não viola o

    princípio do Estado laico.

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    9.2.DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS PERMANENTES E

    TRANSITÓRIAS

    As disposições permanentes da Constituição Federal,

    compreendidas entre os artigos 1º a 250, regulam situações que não se

    exaurem pelo decurso do tempo.

    Em contrapartida, o Ato das Disposições Constitucionais

    Transitórias, que é composto por 96 artigos, trata de situações

    passageiras, grosso modo regulamenta a transição entre a Constituição

    de 1.969 e a de 1.988. Definiu, por exemplo, que o mandato do então

    Presidente Sarney, eleito sob a Constituição anterior, seria de seis anos.

    Justamente por regular situações transitórias suas normas foram

    separadas das demais normas constitucionais permanentes.

    Todavia, as normas do ADCT são de índole constitucional, figuram

    no mesmo patamar hierárquico das normas constitucionais permanentes

    e por isso só podem ser alteradas através de Emendas Constitucionais.

    Não se pode estabelecer hierarquia entre uma e outra norma à medida

    que ambas emanaram do mesmo Poder, que é o Poder Constituinte

    Originário.

    10.CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

    10.1.Quanto ao conteúdo: formal e material

    a) Constituição Formal:

    Abrange todas as normas inseridas na Constituição,

    independentemente do seu conteúdo, à medida que gozam de supremacia

    hierárquica em relação às normas infraconstitucionais. Subdivide-se em

    constituição formal nuclear e constituição formal complementar.

    A nuclear abrange as normas que estão no texto da constituição. A

    complementar compreende as normas que não estão no texto

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    constitucional, mas que gozam da supremacia hierárquica de norma

    constitucional, o exemplo é o tratado de direitos humanos aprovado pelo

    Congresso Nacional através do procedimento das emendas

    constitucionais, pois seu ingresso no ordenamento jurídico se dá com

    força de norma constitucional, nos termos do §3º do art. 5º da CF.

    b) Constituição Material:

    Abrange as normas previstas na Constituição que dispõem sobre

    organização do Estado, organização do poder e direitos individuais, que

    são as três matérias típicas da Constituição. Alguns autores incluem todos

    os direitos fundamentais e não apenas os direitos individuais.

    Normas que versam sobre esses três temas, mas que se encontram

    na legislação infraconstitucional, como o Código Eleitoral, são

    enquadradas, para a doutrina minoritária, como constituição material,

    mas, diante da ausência da supremacia hierárquica, esse ponto de vista

    não é aceito.

    Todas as normas previstas na Constituição são formalmente

    constitucionais (Exemplo: art. 242, §2º, que cuida do Colégio Pedro II do

    Rio de Janeiro), mas nem todas são materialmente constitucionais.

    Não há hierarquia entre as normas materialmente e as formalmente

    constitucionais.

    A maioria dos autores entende que nesta divisão não há utilidade

    prática, mas apenas didática. Outros autores entendem que constituem

    matéria constitucional não somente direitos individuais, mas todos os

    direitos fundamentais, afinal houve uma evolução histórica dos direitos

    fundamentais.

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    Dessa distinção, é possível concluir:

    (i) não há hierarquia entre as normas

    materialmente e as formalmente

    constitucionais;

    (ii) o sentido formal de constituição só é

    possível se ela for escrita ou organizada

    tem muito documento;

    (iii) formalmente, todas as demais

    normas, independentemente do conteúdo,

    serão infraconstitucionais.

    10.2.Quanto à extensão: sintética e analítica

    a) Constituição Sintética (breve ou curta):

    São as constituições com poucos dispositivos, curtas, breves, que

    traçam apenas normas gerais, cujo detalhamento é relegado à legislação

    infraconstitucional. Exemplo: Constituição dos EUA.

    O Poder Judiciário possui especial papel na sua conformação com os

    conflitos e sua adaptação às novas questões sociais.

    b) Constituição Analítica (Prolixa, longa ou expansiva):

    São as constituições que, além das normas gerais, cuidam de

    matérias que, a rigor, poderiam ser disciplinadas pela lei ordinária. É o

    caso da Constituição brasileira.

    Naturalmente, são Constituições mais emendadas ao longo do

    tempo, já que tratam de mais assuntos.

    10.3.Quanto à forma: escrita e não escrita

    a) Constituição escrita ou codificada:

    Quando todas as normas constitucionais encontram-se

    concentradas num documento único. Exemplo: Constituição Brasileira.

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    Bloco de constitucionalidade é o fato de a constituição atribuir força

    constitucional a atos e documentos que estão fora do texto codificado.

    No Brasil, há esse bloco de constitucionalidade em relação aos

    tratados de direitos humanos aprovados pelo Congresso Nacional pelo

    procedimento das Emendas Constitucionais, pois eles têm o status de

    norma constitucional, nos termos do §3º do art. 5º da CF.

    Alguns autores estabelecem uma divisão destas constituições,

    embora haja divergências:

    (i) orgânica: compreende o próprio texto codificado em si mesmo;

    (ii) inorgânica: compreende modelos constitucionais que admitem

    outros documentos que estão fora do texto codificado, mas com mesmo

    valor de norma constitucional. Trata-se do fenômeno do bloco de

    constitucionalidade, quando uma constituição escrita atribui valor de

    norma constitucional a atos ou documentos fora do texto codificado. O

    Brasil passou a adotar esta figura com o artigo 5º, § 3º, CF.

    b) Constituição não escrita:

    Quando as normas constitucionais não se encontram codificados

    num único documento. Nesse sistema, que é adotado pela Inglaterra, as

    normas constitucionais surgem com base nos costumes, decisões dos

    tribunais, e em normas escritas esparsas. Portanto, parte dessa

    constituição é sim escrita.

    10.4.Quanto ao modo de elaboração: histórica e não

    dogmática

    Alguns examinadores procuram confundir a classificação quanto a

    forma com a classificação quanto ao modo de elaboração.

    Embora haja relações entre elas, são estudadas sob focos

    diferentes.

    Quanto à forma, observa-se o modo como se apresenta a

    Constituição, se codificada ou não.

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    Quanto ao modo de elaboração, observa-se como a Constituição foi

    elaborada.

    a) Constituição Histórica ou Costumeira:

    É a que não é escrita, surge com a evolução gradativa das

    instituições políticas. Toda constituição não escrita é histórica. Exemplo:

    Constituição da Inglaterra.

    b) Constituição Dogmática:

    É a que é escrita e preparada por uma Assembleia Constituinte,

    convocada especialmente para esse fim, para que a elabore com base nos

    ideais que, naquele momento, prevalecem na sociedade.

    Toda constituição escrita é dogmática; vez que o grupo constituinte

    se reúne para criação das normas e é influenciado pelo status histórico.

    Exemplo: Constituição Brasileira.

    Em termos de estabilidade, é possível afirmar que a histórica é mais

    duradoura e sólida, ao passo que a dogmática apresenta tendência a

    instabilidade, pois, enquanto aquela é resultado de paulatina maturação,

    esta sedimenta valores contingenciais passageiros.

    10.5.Quanto à ideologia: ortodoxa e eclética

    a) Constituição Ortodoxa ou Dogmática:

    É a elaborada para seguir uma única ideologia. Exemplo:

    Constituição de Cuba. Outro exemplo: as Constituições liberais dos

    séculos XVIII e XIX.

    b) Constituição Eclética ou Compromissória ou Utilitária ou

    Pragmática:

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    É a elaborada para seguir mais de uma ideologia. É o caso da

    Constituição Brasileira. Evidentemente que o grupo de integrantes da

    Assembleia Constituinte que sustentam ideologias diversas devem firmar

    um compromisso, chegar a um consenso para que o texto constitucional

    seja aprovado.

    10.6.Quanto à origem: outorgada, promulgada e cesarista

    a) Constituição Outorgada:

    É a imposta unilateralmente pelo governante ou grupo que detém o

    poder. A expressão Carta Magna ou Magna Carta ou Carta Constitucional

    deve ser empregada para designar essas constituições outorgadas, e não

    as democráticas, pois carta é um ato unilateral de vontade.

    No Brasil, foram outorgadas: a Constituição do Império (1.824), a

    Constituição “Polaca” (1.937), imposta por Getúlio Vargas que inspirou-se

    na Constituição da Polônia, promulgada dois anos antes, outrossim, a

    Constituição Militar (1.967).

    A Emenda nº 1 de 1.969 também foi outorgada, mas, a rigor, não

    foi uma nova Constituição, mas apenas uma Emenda Constitucional

    abrangente, tanto é que a Constituição de 1.988, no art. 34 das

    Disposições Transitórias, trata como constituição anterior a de 1.967.

    b) Constituição Promulgada ou Democrática ou Votada ou Popular:

    É a que é livremente discutida, votada e aprovada por

    representantes eleitos pelo povo. Às vezes uma constituição votada não é

    democrática, mas outorgada, como aconteceu com a Constituição de

    1.967, o governo militar, num Congresso Nacional praticamente sem

    oposição, encaminhou-lhe o texto constitucional para a aprovação.

    No Brasil, foram democráticas as Constituições de 1.891, de 1.934

    (que decorreu inclusive de uma revolução constitucional), de 1.946 e a

    Constituição Cidadã de 1.988.

    c) Constituição Cesarista ou Napoleônica:

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    é a imposta unilateralmente pelo governante e referendada pelo

    povo, que é consultado a manifestar-se. Os césares de Roma e Napoleão

    usavam desse artifício para dar ao texto constitucional uma aparência de

    legitimidade democrática.

    d) Pactuada ou dualista:

    Decorre de acordo entre governante e grupos políticos que

    partilham do poder.

    10.7.Quanto à estabilidade ou reforma (alterabilidade,

    mutabilidade ou consistência): imutável, rígida, flexível,

    semirrígida, super-rígida, plástica e aberta.

    a) Constituição Imutável:

    Quando o texto constitucional proíbe a sua própria reforma.

    Exemplo: Constituição da Finlândia.

    b) Constituição Rígida:

    Quando a sua reforma exige um procedimento mais solene e

    dificultoso que o exigido para a aprovação de leis.

    É, pois, a rigidez que assegura a supremacia, isto é, a superioridade

    das normas constitucionais à medida que elas não poderão ser alteradas

    pelas leis ordinárias.

    As constituições brasileiras, à exceção da Constituição do Império

    de 1.824, foram rígidas, mas, modernamente, classificam-se, conforme

    veremos, como super-rígidas.

    A Constituição para ser rígida não precisa contar com cláusulas

    pétreas. A rigidez está no procedimento mais complexo do que o ordinário

    para alteração.

    c) Constituição Superrígida:

    É a rígida que possui cláusulas pétreas, isto é, matérias que não

    podem ser alteradas por Emendas Constitucionais. É o caso da

    Constituição Brasileira de 1.988.

    d) Constituição Flexível:

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    A que pode ser alterada facilmente, pois adota o mesmo

    procedimento de reforma exigido para a aprovação das leis ordinárias.

    São, pois, reformadas por leis ordinárias.

    Assim, nessas constituições, não há hierarquia entre norma

    constitucional e legislação ordinária, sendo distinguidas as normas

    constitucionais apenas pelo conteúdo da matéria.

    e) Constituição Semirrígida:

    Quando algumas normas são rígidas e outras flexíveis. Foi o caso da

    Constituição do Império de 1.824 em que a maioria dos dispositivos eram

    flexíveis, alteráveis por lei ordinária, mas alguns, como os que versavam

    sobre os poderes públicos e direitos do cidadão, exigiam um

    procedimento dificultoso, que incluía a participação de uma assembleia

    popular, sanção do imperador e referendo popular.

    f) Constituição Plástica:

    Aquela que, por possuir várias cláusulas gerais, permite que o

    legislador atualize o significado desses conceitos sem a necessidade de

    Emenda Constitucional.

    É, pois, a Constituição que pode ser moldada pelo legislador

    infraconstitucional. Alguns autores, como Pinto Ferreira, usa o termo

    constituição plástica como sinônimo de constituição flexível.

    g) Constituição Aberta:

    Aquela que contém muitas normas principiológicas (conceitos

    indeterminados, genéricos), e, por isso, confere maior liberdade

    interpretativa, facilitando a sua atualização e reforma,

    independentemente de Emenda Constitucional ou de leis.

    Nessas constituições, como é o caso da Constituição de 1.988,

    encontra-se implicitamente autorizada, segundo jurisprudência do STF, a

    figura da mutação constitucional, que é a reforma da constituição através

    de instrumentos informais, não oficiais, como a consolidação de um

    costume e a fixação de uma nova interpretação jurisprudencial.

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    Além dessas classificações, parte da

    doutrina ainda menciona o seguinte:

    (i) transitoriamente imutável: para

    preservar a redação original do texto nos

    primeiros anos de vigência, impede-se a

    reforma por determinado tempo (o que

    revelaria, na prática, relativa e temporária

    imutabilidade como limitação temporal);

    (ii) fixa ou silenciosa: não há previsão no

    texto do procedimento de modificação,

    permitindo-se modificar-se apenas pelo

    órgão que a criou;

    (iii) transitoriamente flexível: autoriza, por

    certo tempo, alteração de seu texto por

    procedimento mais simples; passado o

    qual, a modificação dar-se-á por

    mecanismo diferenciado.

    10.8.Quanto à relação entre a efetividade constitucional e o

    exercício do poder político (karl lowenstein): normativa,

    semântica e nominal

    a) Constituição Normativa:

    Quando os poderes políticos cumprem à risca os mandamentos

    constitucionais.

    b) Constituição Semântica ou Disfarce:

    A que contém instrumentos que favoreçam a perpetuação do

    governante no poder. Exemplo: a Constituição Brasileira de 1.937

    autorizava, em certos casos, o Presidente da República a dissolver o

    parlamento.

    c) Constituição Nominal:

    A que é reiteradamente descumprida pelo poder político.

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    10.9.Quanto à concretização ou concepção: jurídica, real e

    política

    a) Constituição Jurídica ou em sentido jurídico:

    A constituição regularmente aprovada pelo poder competente e,

    portanto, dotada de eficácia jurídica.

    b) Constituição Real ou em sentido sociológico:

    A composta por aquilo que, de fato, determina a atuação dos

    órgãos do Estado. Esta ideia foi construída pelo publicista prussiano do

    século XIX Ferdinand Lassalle.

    Segundo ele, o que verdadeiramente direciona a atuação do Estado

    é a realidade social e não a constituição jurídica. Enquanto Kelsen prioriza

    a constituição jurídica em detrimento da realidade social, dizendo que o

    que importa é o texto constitucional, Lassalle sustenta que a constituição

    jurídica é uma mera folha de papel que só terá valor quando retratar

    fielmente a constituição real e, no conflito entre elas, prevalecerá a

    constituição real, que é a única que verdadeiramente retrata os fatores

    reais do poder, isto é, o poder de fato que, amiúde, concentra-se nas

    instituições financeiras, militares, etc.

    c) Constituição em sentido político:

    A parte da constituição que expressa a decisão política fundamental.

    A constituição política abrange as normas constitucionais sobre forma de

    Estado, organização do poder e direitos fundamentais.

    Quanto às demais normas constitucionais, seriam apenas leis

    constitucionais, que foram inseridas na Constituição para gozar do

    benefício da supremacia hierárquica.

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    10.10.Quanto à relação entre o estado e a religião: laica e

    teocrática

    a) Constituição Laica:

    A que impõe a separação entre o Estado e a religião, vedando-se a

    religião oficial e qualquer outra discriminação religiosa. Exemplos: as

    constituições brasileiras republicanas, inclusive a de 1.988.

    b) Constituição Teocrática ou Confessional:

    A que promove a união entre o Estado e a igreja, instituindo-lhe

    uma religião oficial, ainda que se garanta a liberdade religiosa aos demais

    credos. Exemplo: Constituição Brasileira de 1.824 (adotava a religião

    católica). Outro exemplo: Constituição da Inglaterra (adota a religião

    anglicana).

    10.11.Quanto à originalidade: original e reproduzida

    a) Constituição original:

    A que contém um princípio político inédito, sem similar em

    constituições anteriores do próprio Estado ou de Estados estrangeiros.

    Exemplo: Constituição dos EUA (foi a primeira a criar a forma

    federativa de Estado e o sistema presidencialista). Outro exemplo:

    Constituição Brasileira de 1.988 (foi a primeira e única a considerar o

    município como ente da federação).

    b) Constituição Reproduzida:

    É a que não inova nos princípios políticos. A Constituição brasileira

    de 1.988 é preponderantemente reproduzida, embora tenha alguns

    pontos originais.

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    10.12.Quanto à unidade do texto constitucional: unitextuais

    e pluritextuais

    a) Constituições Unitextuais:

    Quando as emendas constitucionais são incorporadas no texto

    constitucional, sem figurarem como normas apensas. Exemplo: a

    Constituição de Portugal.

    b) Constituições Pluritextuais:

    Quando as emendas constitucionais podem se incorporar no texto,

    para substituir o dispositivo alterado, ou permanecer anexa, apensa, com

    valor de norma constitucional. É o caso da constituição brasileira.

    10.13.Quanto ao sistema: principiológica e preceitual

    a) Constituição Principiológica:

    É a que reúne mais princípios que regras. Os princípios são normas

    de elevado grau de abstração, que contém as diretrizes do sistema

    jurídico, enquanto as regras regulam apenas uma situação específica.

    b) Constituição Preceitual:

    É a que contém mais regras que princípios. Regras são normas que

    disciplinam uma situação específica e, por isso, contém um grau menor

    de abstração.

    10.14.Quanto à fase política em que foi elaborada: definitiva

    e de transição

    a) Constituição Definitiva:

    Quando as instituições disciplinadas no texto constitucional já eram

    consagradas pela sociedade. Exemplo: a Constituição dos EUA, quando foi

    promulgada, já contava com a sociedade americana habituada à

    separação dos poderes e outros institutos.

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    b) Constituição de Transição:

    Quando a sociedade ainda não se encontra adaptada às instituições

    trazidas pelo texto constitucional. É o caso da Constituição Brasileira de

    1.988 que, quando foi promulgada, a sociedade ainda se adaptava ao

    regime democrático.

    10.15.Quanto à finalidade: liberal e social

    a) Constituição Liberal ou Garantia ou Defensiva:

    A que tem a finalidade de limitar o poder político e fortalecer os

    direitos fundamentais.

    b) Constituição Social:

    A que, além das finalidades acima, ainda visa disciplinar a ordem

    social e econômica e promover a efetividade dos direitos sociais.

    10.16.Quanto a fidelidade e coerência do texto a uma única

    concepção ideológica:

    a) Ideológicas:

    Elaboradas num contexto em que o órgão elaborador é socialmente

    ideologicamente homogêneo (exemplo: regimes autoritários, como os

    países socialistas e comunistas).

    b) Compromissórias:

    Elaboradas em sociedades plurais nas quais há liberdade de

    expressão e o órgão que as elabora absorve a diversidade, notadamente

    em sociedades democráticas, quando os diferentes grupos estão

    representados na assembleia nacional constituinte, e promovem

    compromissos.

    Esse caráter compromissório influencia a interpretação

    constitucional, ao exigir do intérprete a garantia da unidade da

    Constituição e a concordância prática entre suas várias normas,

    utilizando-se a técnica da ponderação.

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    10.17.Documentos únicos ou Vários documentos:

    Consideradas as Constituições escritas, há algumas que são

    compostas por apenas um documento (norte-americana) ou por vários

    documentos.

    Na história inglesa, por exemplo, vários documentos, editados ao

    longo do tempo e independentes entre si, são considerados normas de

    natureza constitucionais (exemplos: Bill of Rights e Bill of Parliament).

    Com a EC nº 45/04, tratados internacionais aprovados pelo mesmo

    procedimento das emendas constitucionais passaram a ter o status de

    norma constitucional.

    A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi

    internalizada no Brasil em 2009 de acordo com essa nova regra, de modo

    que é, hoje, norma constitucional, mas não consta do mesmo documento

    que a Constituição de 1988.

    10.18.Constituição-moldura

    Uma das classificações das constituições diz respeito à liberdade

    dada (ou não) pela Constituição ao legislador ordinário:

    (i) Constituição-lei: o legislador ordinário tem ampla liberdade para

    legislar, já que a Constituição tem o mesmo status das demais leis, sendo

    tratada como conjunto de recomendações e orientações indicativas, que

    não necessariamente serão cumpridas.

    (ii) Constituição-fundamento: o legislador ordinário tem

    pouquíssima liberdade, já que a Constituição tentou disciplinar em

    detalhes inúmeras relações sociais (daí o nome ubiquidade constitucional

    – estar em vários lugares e querer disciplinar várias situações).

    (iii) Constituição-moldura (constituição-quadro): posição

    intermediária, entre as duas anteriores.

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    Nessa classificação, como uma moldura, a Constituição fixa os

    limites de atuação do legislador ordinário.

    Dentro dos limites fixados por essa “moldura constitucional”, poderá

    ele legislar.

    Virgílio Afonso da Silva: a metáfora da moldura, no campo da teoria

    constitucional, é usada para designar uma Constituição que apenas sirva

    de limites para a atividade legislativa; à jurisdição constitucional (ao

    Poder Judiciário) cabe apenas a tarefa de controlar se o legislador age

    dentro da moldura.

    Prevalece o entendimento de que essa definição aplica-se à

    Constituição Brasileira.

    11.HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES DO BRASIL

    11.1.IMPÉRIO

    A primeira Constituição do Brasil foi outorgada pelo imperador em

    1824.

    Estado unitário

    Monarquia constitucional, com um Legislativo nacional bicameral,

    sendo o Senado escolhido pelo Imperador.

    Poder moderador, exercido pelo próprio Imperador de forma direta,

    com a atribuição, por exemplo, de poder de veto, suspensão de

    magistrados e a interferência na administração das províncias.

    Garantiam-se genericamente os direitos civis e políticos, a

    liberdade, a legalidade, a irretroatividade das leis, a segurança individual

    e a propriedade.

    O voto indireto e censitário.

    Catolicismo romano como religião oficial do império, além de

    conviver com a escravidão.

    É considerada uma Constituição semirrígida, já que parte do seu

    texto poderia ser alterado por meio de leis ordinárias, e apenas as

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    disposições sobre os poderes políticos, direitos políticos e individuais dos

    cidadãos é que estariam submetidas às regras mais rígidas de alteração

    previstas na Carta.

    Toda e qualquer alteração, porém, apenas poderia ocorrer 4 anos

    depois de outorgada a Carta.

    Apesar da rigidez parcial, a Carta de 1824 vedava o controle judicial

    de constitucionalidade, sob a influência clara do modelo francês de

    separação de Poderes.

    O equilíbrio dos Poderes estava a cargo do poder moderador, e não

    do Judiciário.

    11.2.CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

    Promulgada em 1891, influenciada pelo constitucionalismo norte-

    americano.

    Consagrou a república, separação de Poderes rígida, em sistema

    presidencialista.

    Previu a forma federativa de Estado, conferindo ampla autonomia

    aos Estados-membros.

    Garantiu, de forma geral, os direitos individuais de liberdade e

    propriedade clássicos, bem como os direitos políticos.

    O voto não é mais censitário, embora com determinadas limitações

    (como, por exemplo, a necessidade de demonstrar alfabetização), e as

    eleições passassem a ser diretas.

    Previu a separação entre Estado e Igreja (católica romana.

    A Constituição continha, ainda, previsões programáticas no sentido

    de que o Estado deveria animar o desenvolvimento das letras, artes e

    ciências.

    Desenvolveu-se a chamada “doutrina brasileira do habeas corpus”,

    que e destinava a todos os direitos.

    A Constituição de 1891 era rígida, exigindo, portanto, um

    procedimento mais complexo para sua alteração, além de prever como

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    cláusulas pétreas a república, a federação e a igualdade de representação

    dos Estados no Senado.

    Pela primeira vez no Brasil, a Constituição previu a possibilidade de

    o Poder Judiciário promover controle de constitucionalidade das leis e atos

    dos Poderes Públicos de acordo com o modelo de controle difuso e

    incidental, conforme sistema adotado nos Estados Unidos.

    11.3.CONSTITUIÇÃO DE 1934

    Promulgada, é contemporânea de um período conturbado, quando

    se consagraram, por exemplo, o voto secreto e feminino e a legislação

    trabalhista.

    Conservou a república federativa, embora a União tenha passado a

    concentrar maiores competências.

    A Constituição de 1934 era rígida, mas admitia dois níveis distintos

    de rigidez, identificados como revisão e emenda: revisão para assuntos

    materialmente constitucionais (mais complexo); e emenda para outros

    assuntos (menos complexo).

    A cláusula pétrea constante da Constituição de 1934 era a república

    federativa.

    O controle difuso de constitucionalidade pelo Judiciário continuou a

    ser previsto, e o Senado passou a poder suspender a lei declarada

    inconstitucional pelo Judiciário com efeitos gerais.

    Previu pela primeira vez um mecanismo concentrado de controle de

    constitucionalidade, que foi a ação direta interventiva.

    A Constituição de 1934 instituiu a Justiça Eleitoral e a Justiça

    Militar.

    Previu o mandado de segurança e a ação popular, e se ocupa, pela

    primeira vez de forma analítica, dos direitos trabalhistas e sociais.

    Tratou, também, da ordem econômica e social, para possibilitar a

    todos existência digna, assegurou como direitos sociais.

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    11.4.CONSTITUIÇÃO DE 1937

    A Constituição de 1937 foi outorgada por Getúlio Vargas e, a rigor,

    é possível dizer que ela é a Constituição que nunca existiu na realidade.

    Getúlio Vargas governou até 1945, concentrando Poderes

    Executivo, Legislativo e também o poder de reformar a Constituição.

    A Constituição era rígida, sem previsão de cláusulas pétreas.

    A Constituição de 1937 criou a figura do Decreto-lei, por meio do

    qual o Executivo podia expedir norma com força de lei.

    Quanto ao Poder Judiciário, foi vedada a apreciação de questões

    políticas (vagamente definidas) e previu-se a possibilidade de superação

    pelo Legislativo (e na sua ausência pelo Executivo) de decisões judiciais

    que declarassem leis inconstitucionais.

    Notabilizou-se por prever a pena de morte para várias hipóteses de

    crimes relacionados com a realidade política, bem como para o homicídio

    por motivo fútil, entre outros tipos penais.

    11.5.CONSTITUIÇÃO DE 1946

    A Constituição promulgada em 1946 reorganizou o Estado brasileiro

    sob a perspectiva da separação de Poderes e da federação.

    O Presidente deixou de ter iniciativa em matéria de emenda à

    Constituição.

    A ação direta interventiva voltou a ser prevista.

    Assegurou a inafastabilidade do controle judicial como um direito. E

    a Justiça do Trabalho foi incorporada ao Judiciário.

    Era rígida e tinha duas cláusulas pétreas: federação e república.

    Retomou o catálogo clássico de direitos individuais e políticos,

    trouxe uma lista importante de direitos trabalhistas, prevendo pela

    primeira vez, por exemplo, o direito de greve e de participação nos

    lucros.

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    Os direitos sociais não foram particularmente desenvolvidos na

    Constituição, embora houvesse previsão acerca do direito à educação.

    11.6.CONSTITUIÇÃO DE 1967/69

    O Ato Institucional nº 4/1966, expedido pelo Presidente eleito

    indiretamente convocou extraordinariamente o Congresso Nacional com

    funções constituintes para elaborar uma nova Constituição, que veio a ser

    a Constituição de 1967.

    A EC nº 1/1969 alterou e reorganizou substancialmente a

    Constituição de 1967, daí porque esse documento é identificado como a

    Constituição de 1967/69, designando o texto já consolidado com as

    modificações.

    Concentrou amplamente os poderes no Presidente da República,

    conferindo-lhe iniciativa ao Presidente para emendas à Constituição, além

    de ter criado a figura da lei delegada.

    Do ponto de vista federativo, concentrou competências na União,

    previu uma série de regras obrigatórias para Estados e Municípios,

    ampliou as hipóteses de intervenção federal e a dependência financeira

    dos Estados em relação à União, concentrando recursos no ente central.

    A Constituição era rígida e trazia duas cláusulas pétreas: federação

    e república.

    O controle de constitucionalidade difuso e incidental prosseguiu,

    com a possibilidade de suspensão pelo Senado introduzida pela

    Constituição de 1934, convivendo, agora, com a representação de

    inconstitucionalidade.

    Sob a perspectiva dos direitos, a Constituição de 1967/69 previu os

    direitos individuais e políticos clássicos, mas havia um claro descompasso

    entre as previsões constitucionais e a ação estatal relativa a eles.

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    11.7.CONSTITUIÇÃO DE 1988

    Uma vez pronto, o novo texto trouxe inovações em numerosos

    aspectos. Vale deixar registrado o progresso em sede dos Direitos Sociais

    (direito à greve, à livre sindicalização, à educação etc.), os novos

    remédios constitucionais para a proteção de direitos individuais (mandado

    de segurança coletivo, habeas data), o passo dado em direção a um

    federalismo mais descentralizado, com o aumento das fontes de receita e

    das competências de Estados e Municípios etc. Apesar das críticas que

    muitas vezes cabem ao texto, não há como negar a importância da nova

    Constituição, especialmente como uma valiosa Carta de Direitos.

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    LISTA DAS QUESTÕES APRESENTADAS

    Nada como fazer umas questões enquanto se espera a próxima

    aula.

    BATERIA CESPE

    1.CESPE - TJ-SC - Juiz Substituto

    A respeito das constituições classificadas como semânticas, assinale a

    opção correta.

    A) São aquelas que se estruturam a partir da generalização congruente

    de expectativas de comportamento.

    B) São aquelas cujas normas dominam o processo político; e nelas

    ocorrem adaptação e submissão do poder político à constituição escrita.

    C) Funcionam como pressupostos da autonomia do direito; e nelas a

    normatividade serve essencialmente à formação da constituição como

    instância reflexiva do sistema jurídico.

    D) São aquelas cujas normas são instrumentos para a estabilização e

    perpetuação do controle do poder político pelos detentores do poder

    fático.

    E) São aquelas cujo sentido das normas se reflete na realidade

    constitucional.

    2.CESPE - MPE-PI - Promotor

    De acordo com a doutrina, o documento escrito estabelecido de forma

    solene pelo poder constituinte eleito pelo voto popular, modificável

    somente por processos e formalidades especiais nele mesmo contidos, e

    que contém o modo de existir do Estado é classificado como constituição

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    A) formal.

    B) material.

    C) outorgada.

    D) histórica.

    E) flexível.

    3.CESPE - MPE-CE - Promotor

    Ao tratar dos princípios fundamentais, a CF estabelece, em seu art. 1.º,

    A) a forma republicana de Estado, cláusula pétrea expressa, caracterizada

    pela eletividade, temporariedade e responsabilidade do governante.

    B) a forma republicana de governo, caracterizada pela eletividade,

    temporariedade e responsabilidade do governante.

    C) a forma federativa de Estado, cláusula pétrea implícita, caracterizada

    pela tripartição dos poderes da União.

    D) a forma federativa de Estado e o sistema presidencialista de governo.

    E) a forma republicana de governo e a forma