auditoria energética

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Auditoria Energética José Autílio Silva, Ribamar Nelson Ferreira, Sérgio Martins Miranda Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal 1. Introdução A Energia deve ser encarada como um factor de produção tão importante como o trabalho, o capital e matérias-primas. Cada vez mais, a questão energética tem estado presente nas nossas decisões, não só pelo aspecto económico, mas também pelas implicações climáticas que as emissões associadas ao consumo de energia acarretam. A alta dos preços do petróleo, veio colocar na ordem do dia a questão da energia e a sua influência directa, no desempenho da economia. No entanto, uma abordagem sistemática da forma da utilização da energia, pode fazer a diferença. A auditoria energética constitui vector fundamental de todo o programa de gestão de energia das empresas visando o controlo e melhoria dos custos energéticos, uma vez que a utilização racional e eficiente deste recurso tem um impacto positivo directo no desempenho das empresas; impacto este, proporcional ao peso deste recurso na sua estrutura de custos. A forma de proceder à análise do consumo energético dum edifício ou empresa pode revestir-se de complexidade muito diversa. A informação relativa aos consumos é determinante na análise dos resultados e subsequente proposta de alteração. O grau de análise que pode ser efectuado depende do nível de informação obtida. Uma informação genérica não permite uma análise detalhada e não garante que sejam tomadas as medidas mais económico-eficientes conducentes ao consumo energético desejado. 2. Abreviaturas Utilizadas - PNALE (Plano Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão) - RGCE (Regulamento de Gestão do Consumo de Energia) - CIE (Consumidoras Intensivas de Energia) - SGCIE (Sistema de Gestão dos Consumos Intensivos) - DGEG (Direcção -Geral de Energia e Geologia) - ADENE (Agência para a Energia)

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Auditoria Energética José Autílio Silva, Ribamar Nelson Ferreira, Sérgio Martins Miranda

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal

1. Introdução

A Energia deve ser encarada como um factor de produção tão importante como o trabalho, o capital e matérias-primas. Cada vez mais, a questão energética tem estado presente nas nossas decisões, não só pelo aspecto económico, mas também pelas implicações climáticas que as emissões associadas ao consumo de energia acarretam.A alta dos preços do petróleo, veio colocar na ordem do dia a questão da energia e a sua influência directa, no desempenho da economia.No entanto, uma abordagem sistemática da forma da utilização da energia, pode fazer a diferença. A auditoria energética constitui vector fundamental de todo o programa de gestão de energia das empresas visando o controlo e melhoria dos custos energéticos, uma vez que a utilização racional e eficiente deste recurso tem um impacto positivo directo no desempenho das empresas; impacto este, proporcional ao peso deste recurso na sua estrutura de custos. A forma de proceder à análise do consumo energético dum edifício ou empresa pode revestir-se de complexidade muito diversa.A informação relativa aos consumos é determinante na análise dos resultados e subsequente proposta de alteração. O grau de análise que pode ser efectuado depende do nível de informação obtida. Uma informação genérica não permite uma análise detalhada e não garante que sejam tomadas as medidas mais económico-eficientes conducentes ao consumo energético desejado.

2. Abreviaturas Utilizadas- PNALE (Plano Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão)- RGCE (Regulamento de Gestão do Consumo de Energia)- CIE (Consumidoras Intensivas de Energia) - SGCIE (Sistema de Gestão dos Consumos Intensivos) - DGEG (Direcção -Geral de Energia e Geologia)- ADENE (Agência para a Energia) - PREn (Planos de Racionalização do Consumo de Energia)- ARCE (Acordo de Racionalização dos Consumos de Energia)- TEP (Toneladas equivalente de petróleo)- RCCTE (Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios)- RSECE (Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos Edifícios) - SCE (Sistema de Certificação Energética e Qualidade do Ar Interior dos Edifícios)-APA (Agência Portuguesa do Ambiente)-ANET (Associação Nacional dos Engenheiros Técnicos)-OA (Ordem dos Arquitectos)-OE (Ordem dos Engenheiros)

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3. Definição da Auditoria energética

A auditoria energética consiste numa abordagem transversal de todos os aspectos relacionados com a utilização de energia. Nesta linha de pensamento pode-se definir a auditoria energética como sendo um exame detalhado das condições de utilização de energia numa instalação, quer ela industrial ou doméstica.Faz parte da auditoria os seguintes pontos:

Avaliar o desempenho dos sistemas de geração, transformação e utilização de energia;

Quantificar os consumos energéticos por sector, produto ou equipamento

Relacionar o consumo de energia com a produção da mesma; Estabelecer e quantificar potenciais medidas de racionalização; Fazer uma análise técnica e económica das soluções encontradas; Propor um plano operacional

4. Objectivos gerais de uma auditoria energética

A auditoria energética tem por objectivo a caracterização energética da instalação e equipamentos instalados, assim como a identificação e estudo das medidas com viabilidade técnico-económica a introduzir, de modo a minimizar os consumos energéticos necessários à sua actividade. É preciso integrar as medidas adoptadas num plano estratégico de intervenção que definirá claramente as decisões a serem tomadas e os objectivos anuais a alcançar no que respeita à redução dos consumos energéticos e consequentemente à redução do peso da factura energética na estrutura de custos globais.Através de auditoria energética consegue-se identificar onde, quando e como a energia é utilizada, qual a eficiência dos equipamentos e onde se verificam desperdícios de energia, indicando igualmente soluções para as anomalias detectadas.

5. Quem pode realizar as auditorias energéticas

O agente responsável pelo processo de auditoria energética é o perito qualificado. Enquadrado legalmente pelo Decreto-Lei Nº78/2006, o Sistema de Certificação Energética e Qualidade do Ar Interior de Edifícios (SCE), deverá ser apoiado por uma bolsa de peritos qualificados constituída por especialistas nas várias vertentes do sistema: RCCTE, RSECE - Energia e RSECE - Qualidade do Ar Interior e Certificação. Para dar resposta às necessidades do País nesta matéria,

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nos próximos anos a referida Bolsa deve ser constituída por um número significativo de especialistas. A função de Perito Qualificado, pode ser exercida a título individual ou integrada em organismos públicos ou privados, pelas seguintes categorias profissionais:

• Arquitectos – reconhecidos pela Ordem dos Arquitectos;• Engenheiros – reconhecidos pela Ordem dos Engenheiros;• Engenheiros Técnicos – reconhecidos pela Associação Nacional dos

Engenheiros Técnicos.

O reconhecimento de um técnico como perito qualificado é feito pela respectiva Ordem ou Associação, sendo que no Protocolo do SCE, celebrado entre a DGEG (Direcção Geral de Energia e Geologia), APA (Agência Portuguesa do Ambiente), CSOPT (Conselho Superior de Obras Públicas e Transportes), OE (Ordem dos Engenheiros), OA (Ordem dos Arquitectos) e ANET (Associação Nacional dos Engenheiros Técnicos), encontra-se definido que os candidatos a peritos qualificados numa determinada área de intervenção deverão cumprir os seguintes requisitos:

• qualificações mínimas adequadas de acordo com as 3 áreas de intervenção (Anexos I a IV doProtocolo);

• mínimo de 5 anos de experiência profissional, na respectiva área de intervenção onde pretende exercer funções de perito qualificado;

• integração na Ordem dos Arquitectos, Ordem dos Engenheiros ou Associação Nacional deEngenheiros Técnicos;

• formação específica obtida em acções de formação específicas no âmbito do SCE, oficialmente reconhecidas pela Comissão de Acompanhamento do SCE compostas por pelo menos dois módulos, sendo que um deles é um módulo técnico de análise inerente as três vertentes possibilitadas ao técnico pretender e o outro é um módulo de certificação .

Para completar o processo de reconhecimento dos técnicos formandos, deverão ter aprovação quer nos módulos técnicos de análise na formação específica exigida pelo SCE e posteriormente solicitar à Ordem dos Engenheiros ou dos Arq. ou na ANET o reconhecimento como Perito Qualificado.

Relativamente à aprendizagem dos módulos técnicos de análise supra referidos, obrigatoriamente irá frequentar acções de formação, desde que estas estejam devidamente homologadas pela ADENE e reconhecidas no âmbito do SCE. Apenas podem solicitar a homologação de acções de formação para Peritos Qualificados, as seguintes entidades:

- Instituições de ensino Superior Universitário e Politécnico;- Instituições de Formação Profissional;- Laboratórios do Estado;- Laboratórios Associados;- Instituições de Investigação e Desenvolvimento, reconhecidas pelo

Ministério da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior;- Outras entidades e empresas, públicas ou privadas, com actividade nas

áreas de formação, desde que acreditadas pelo Instituto para a Qualidade na Formação.

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Analisando todos os requisitos e especificações exigidas para o reconhecimento de um técnico como perito qualificado facilmente percebemos que eles podem ser de três tipos:

• Peritos qualificados do RCCTE (Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios)

• Peritos qualificados do RSECE-Energia (Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização em Edifícios - Vertente Energia)

• Peritos qualificados do RSECE-QAI (Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização em Edifícios - Vertente Qualidade do Ar Interior)

É conveniente também referir que os peritos qualificados podem trabalhar individualmente, quer em regime parcial ou completo, ou agregados em empresas. As empresas que oferecem serviços de certificação energética são uma realidade natural e incontornável na nova dinâmica de mercado neste sector. Ainda que estejam assentes numa lógica de trabalho e responsabilidade individual dos peritos qualificados, são cada vez mais as iniciativas deste género que surgem e que geram emprego para profissionais nesta área.Com esta revolução institucional no que toca a energia e consumos foi também implementada a institucionalização de um Observatório para a Energia nos Edifícios, apoiado pela Agência para a Energia (ADENE), que tenha a missão de proceder a verificação detalhada de uma amostra de projectos submetidos a licenciamento, segundo critérios de amostragem, dando como adquirida a impossibilidade de, pelo menos num futuro próximo, se dispor dos meios humanos e materiais para fazer uma verificação sistemática detalhada de todos os projectos RCCTE submetidos a licenciamento. A verificação dos projectos incluirá ainda uma validação do que foi efectivamente construído, mediante ligação ao sistema de certificação energética, tornando obrigatória a apresentação do Certificado Energético no final da construção de edifícios novos ou reabilitações importantes de edifícios existentes antes da concessão da licença de utilização.

6. Tipos de Auditorias energéticas

O tipo de análise efectuada ao consumo energético de um determinado edifício ou empresa pode revestir-se de complexidade muito diversa. Está no entanto já instituída a distinção entre dois tipos de auditorias: as auditorias simples e as auditorias completas. Já se encontra também normalizado a divisão destes dois grupos de auditorias em dois subgrupos. Derivam então do grupo das auditorias simples os subgrupos: Auditoria sintética e Auditoria Genérica ou Deambulatória. Do grupo das auditorias completas derivam os seguintes subgrupos: Auditoria Analítica e Auditoria Tecnológica. Logicamente, como o nome sugere, as auditorias completas podem englobar um maior ou menor número de medições e respectivas análises.

A decisão relativa ao tipo de auditoria a realizar deve ser condicionada pelo grau de complexidade da instalação e também pelo objectivo que se pretende com a

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realização da auditoria. A análise dos resultados e subsequente proposta de alterações dependem da informação relativa aos consumos. O grau de análise que pode ser efectuado deriva do nível de informação obtida. Uma informação genérica não permite uma análise detalhada e não garante que sejam tomadas as medidas mais económico-eficientes para a redução de consumo energético deseja.

Auditorias simples

A auditoria simples consiste na elaboração de um diagnóstico da situação energética de uma instalação, consistindo numa simples observação visual para identificar falhas e numa recolha de dados susceptíveis de fornecer alguma informação sobre os consumos específicos de energia. Explanando o conceito de auditorias simples constatamos que utilizam normalmente como informação relativa aos consumos existentes a facturação relativa aos diferentes tipos de energia e de água. Em alguns casos de auditorias no sector dos edifícios esta informação é complementada utilizando curvas de consumo características aplicadas ao consumo global e medição pontual de condições interiores. Para os edifícios, uma auditoria simples permite estabelecer o consumo específico, que pode ser comparado com valores limites pré-estabelecidos de consumos padrão. No caso das auditorias no sector da indústria, a informação relativa aos consumos existentes é complementada com a informação relativa ao processo, como processos de fabrico ou linhas de produção, que inclui as características do equipamento principal e horas de funcionamento. Uma auditoria simples permite estabelecer os coeficientes de consumo energético que podem ser comparados com valores limites estabelecidos pelo RGCE e subsequentes publicações dos coeficientes a cumprir.Em contraposição as auditorias completas pressupõem a monitorização dos sistemas. O número e tipo de medições a efectuar é variável. A decisão sobre o tipo de medições a efectuar deve basear-se num conhecimento prévio do tipo de edifício ou indústria em análise. Uma auditoria completa pode incluir a medição das condições da envolvente, a medição das condições interiores e exteriores, a medição desagregada do consumo por equipamentos ou grupos de equipamentos, a medição do consumo por áreas. O tipo de medição também é variável dependendo do equipamento disponível e do edifício em análise (edifício de serviços climatizado, processo industrial). Excluem-se os casos em que o edifício ou indústria possua sistema de gestão com informação detalhada sobre as condições de funcionamento dos diversos equipamentos e condições do ar.

AUDITORIA SIMPLES

Genérica ou Deambulatória -

Sintética - elaboração de um relatório que mencione uma síntese dos consumos, por vectores energéticos e encargos

Genérica ou Deambulatória - realização de uma vistoria às instalações para análise das condições de funcionamentodas principais e à elaboração de um relatório com “check-list” resumida dos sistemas

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AUDITORIA COMPLEXA

A elaboração de uma auditoria simples poderá ser suficiente para que seja cumprida a legislação mas na maioria dos casos não será suficiente para se poder determinar a melhor solução técnico-económica. No entanto os custos associados e a dimensão e área de trabalho da empresa podem justificar a realização deste tipo de auditorias. As vantagens das auditorias simples são a sua curta duração e portanto a obtenção duma resposta rápida e o seu reduzido custo. Tendo em atenção a qualidade dos resultados, devem ser previamente analisadas a dimensão dos custos e a energia envolvidas antes de se proceder à escolha entre uma auditoria simples e uma auditoria completa. As auditorias simples apenas permitem uma informação a nível mensal, sendo a definição de “1 mês” aproximada devido à facturação não corresponder a medições efectuadas sempre a uma mesma hora e no mesmo dia do mês. A obtenção de valores horários ou com intervalos de tempo inferiores apenas é possível caso seja efectuada uma auditoria completa com registo dos valores através dum sistema de aquisição de dados.

7. Equipamentos de aquisição e monitorização de dados nas auditorias Instrumentação Geral

Para a realização da auditoria são necessários os seguintes equipamentos: os amperímetros registadores, wattímetros, medidores de ponta, medidores de factor de potência, pinças amperimétricas, audímetros, termómetros, registadores de diagramas de carga, anemómetros, analisadores de gás de exaustão (CO2), medidores de eficiência de combustão (temperatura dos gases de exaustão e conteúdo de oxigénio.

Analítica – para além da realização das acções previstas para uma auditoria simples, esta serácomplementada com uma análise dos consumos por equipamento e que constituirá uma “check-list” exaustiva

Tecnológica - para além de contemplar todas as fases mencionadas, nos tipos de auditorias anteriormente referidas, prevê ainda alterações aos processos

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Figura 1 – Instrumentos de medição utilizados nas auditorias

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Figura 2 - Instrumentos de medição utilizados nas auditorias

Monitorização de consumosRecolha de diagramas de cargas parciais e total

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Figura 3 – Monotorizador de consumo

8. Metodologias da Auditoria Energética

O sucesso de uma Auditoria Energética depende da metodologia seguida para a realização da mesma. Uma boa prática consiste na elaboração de um bom Planeamento, Trabalho de campo, uma boa Análise e tratamento de dados e um bom Relatório final.O diagrama seguinte ilustra as principais fases que compõe uma auditoria energética:

Figura 4 – Fases constituintes de uma Auditoria

PlaneamentoO planeamento consiste na:

Definição de objectivos;

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Selecção da equipa de auditores; Recolha de dados históricos; Contabilidade energética

Trabalho de campoA realização do trabalho de campo ter como fim obter os seguintes dados:

Recolha de informação;

Descrição das instalações, complementada com plantas, dos processos de fabrico e respectivos regimes de funcionamento;

Consumos de energia eléctrica, térmica e outras formas de energia: consumos de cada instalação, diagramas de consumos, consumos específicos, facturas;

Principais infra-estruturas energéticas existentes; Geradores de energia existentes: capacidade, pressões, temperaturas,

eficiências, consumos de combustíveis no período da auditoria Análise de equipamentos; Análise do processo produtivo Descrição dos principais sectores, com indicação do tipo de energias

utilizadas e os principais equipamentos nesses sectores; Detecção de economias de energia

Análise e tratamento de dadosCom base na informação recolhida no trabalho de campo realizar-se-ão as seguintes actividades:

Análise das condições de funcionamento dos equipamentos de conversão e de utilização de energia.

Tratamento de informação recolhida; Definição de indicadores energéticos; Cálculo do consumo específico; Análise das economias de energia

Relatório

O relatório de uma auditoria deve ser claro e conter toda a informação e documentação produzida nesta fase.  

Índice do relatório Introdução Síntese e Resumo de Medidas Utilização de Energia Dados de Produção Calculo dos Consumos Específicos

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Análise da Estrutura Produtiva Análise dos Serviços Auxiliares Gestão de Energia

9. Enquadramento legal

Decreto-Lei nº71/2008

Vamos agora abordar o enquadramento legal das auditorias energéticas. Nesta abordagem é imprescindível a referência ao decreto-lei nº71/2008, datado de 15 de Abril de 2008, que rege as condições gerais de aplicação das auditorias. Este decreto redefine um conjunto de regras que actualizam a disciplina de gestão do consumo de energia do regulamento para a eficiência energética na indústria, estabelecido no decreto-lei nº 58/82, de 26 de Fevereiro. O decreto-lei supra referido define quais as instalações consideradas como consumidor intensivo de energia (CIE), estendendo a sua aplicação a um conjunto mais abrangente de empresas e instalações com vista ao aumento da sua da sua eficiência energética tendo em atenção a necessidade de salvaguardar a respectiva base competitiva no quadro da economia global.

O decreto-lei regula o sistema de gestão dos consumos intensivos de energia, abreviadas por SGCIE, instituído com o objectivo de promover a eficiência energética e monitorizar os consumos energéticos de instalações consumidoras intensivas de energia.

Constatamos então que é obrigatória a realização das auditorias energéticas:a) Nas instalações com consumo de energia igual ou superior a 1000 tep/ano, com uma periodicidade de seis anos, sendo que a primeira destas auditorias deve ser realizada no prazo de quatro meses após o registo.b) Nas instalações com consumo de energia igual ou superior a 500 tep/ano mas inferior a 1000 tep/ano, com uma periodicidade de oito anos, sendo que a primeira destas auditorias deve ser realizada no ano seguinte ao do registo.2- As auditorias incidem sobre as condições de utilização da energia, devendo ainda ser colhidos os elementos necessários á elaboração do plano de racionalização do consumo de energia (PREn) e á verificação do seu subsequente cumprimento.3- Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, o operador pode realizar as auditorias que considerar necessárias a promoção da eficiência energética da instalação consumidora intensiva de energia.

É também de capital importância a referencia aos três regulamentos técnicos que regem todas as acções e medidas tomadas quer na área de incidência do nosso trabalho, as auditorias, quer em todas as outras vertentes relacionadas com a energia em Portugal.

RCCTE: Regulamento das Características do Comportamento Térmico dos Edifícios (Decreto-Lei n.º80/2006)

RSECE: Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização nos Edifícios (Decreto-Lei n.º79/2006)

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SCE: Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios(Decreto-Lei n.º78/2006)

Portaria N.º 461/2007

Esta portaria define a calendarização da aplicação SCE aos vários tipos de edifícios. Esta calendarização tem como pressuposto permitir a aplicação plena do sistema de certificação a edifícios das diferentes tipologias, dimensões e fins, o que deve acontecer no máximo até 1 de Janeiro de 2009, data definida pelo Estado Português.

Portaria N.º 835/2007

Esta é a portaria que designa as taxas correspondentes ao registo dos certificados na ADENE

O montante da taxa correspondente ao registo do certificado previsto no SCE, relativo a edifícios destinados à habitação, é de € 45 por fracção, acrescida da taxa do IVA em vigor. O montante da taxa correspondente ao registo do certificado previsto no SCE, relativo a edifícios destinados a serviços, é de € 250 por fracção, acrescida da taxa do IVA em vigor.

Despacho N.º 11020/2009

O referido despacho é responsável pela definição do Método de Cálculo Simplificado para a Certificação Energética de Edifícios Existentes no âmbito do RCCTE, formalizando assim a Nota Técnica NT -SCE -01 prevista no despacho n.º 10 250/2008, de 8 de Abril, publicado pelo Presidente da ADENE e Director -Geral da DGEG.

Enunciamos também as normas comunitárias que serviram de base para a elaboração da legislação nacional.

Projecto de Norma prEN 15217:2005 Directiva Comunitária 2002/91/CE

9.1 Incentivos

O agente responsável pelas suas instalações, caso as mesmas estejam abrangidas por um ARCE beneficia dos seguintes estímulos e incentivos à promoção da eficiência energética:

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a) No caso de consumos inferiores a 1000 tep/ano, ao ressarcimento de 50 % do custo das auditorias energéticas obrigatórias, até ao limite de € 750 e na medida das disponibilidadesdo fundo de eficiência energética existentes para o efeito, recuperáveis a partir do relatório de execução e progresso que verifique o cumprimento de pelo menos50 % das medidas previstas no ARCE;b) Ao ressarcimento de 25 % dos investimentos realizados em equipamentos e sistemas de gestão e monitorização dos consumos de energia até ao limite de € 10 000 e na medida das disponibilidades do fundo de eficiência energética existentes para o efeito.

9.2 Penalidades

Este item define as penalidades a que um agente responsável por determinadas instalações munidas de um ARCE no caso de incumprimento das metas ou a não implementaçãodas medidas definidas no mesmo.a) Quando o desvio a apurar no final do período de vigência do ARCE for igual ou superior a 25 %, o pagamento pelo operador do montante de € 50 por tep/ano não evitado,o qual é agravado em 100 % em caso de reincidência;b) Quando o desvio a apurar no final do período de vigência do ARCE for igual ou superior a 50 %, para além do pagamento previsto na alínea anterior, o pagamento do valor recebido em virtude da concessão dos incentivos previamente definidos, e do valor proporcional correspondente aos benefícios decorrentes do facto da instalação se encontrar abrangida pelo ARCE.Os montantes pagos por incumprimentos, mediante despacho do director -geral da DGEG, são reembolsáveis em 75 %, desde que o operador recupere no ano subsequente à aplicação da penalidade os desvios ao cumprimento do ARCE que determinaram a aplicação da penalidade.Os montantes recebidos em virtude da cobrança pela DGEG dos montantes referidos no n.º 1 revertem integralmente para o Fundo de Eficiência Energética.

9.3 Contra -ordenações e coimas

A definição das contra -ordenações, puníveis com coima:a) A violação da obrigação quer do registo da instalação na ADENE, quer da realização da auditoria energética ou ainda a elaboração do PREn prevêem uma punição com coima cujo montante mínimo é de € 250 e máximo de € 3500;b) A violação de qualquer das premissas definidas no ARCE e ainda a cooperação com um técnico indevidamente credenciado está sujeita a uma punição com coima cujo montante mínimo é de € 150 e máximo de € 300.É de mencionar ainda que tratando-se de pessoas colectivas os montantes mínimo e máximo das coimas previstas no número anterior são elevadas ao dobro.

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10. Vantagens da Auditoria Energética

A auditoria permite conhecer onde, quando e como a energia é utilizada, qual a eficiência dos equipamentos e onde se verificam desperdícios de energia, indicando igualmente soluções para as anomalias detectadas. Permitem, assim, caracterizar os consumos de energia, nas suas vertentes quantitativa e qualitativa, e a partir dos dados obtidos, tomar decisões vantajosas para as organizações/empresas.Eis as grandes vantagens de uma auditoria energética:A redução da factura energética; caracterizar e quantificar as formas de energia utilizada; avaliar o desempenho dos sistemas de geração, transformação e utilização de energia; quantificar os consumos energéticos por sector, produto ou equipamento; menores impactos no ambiente (quer associados á produção de energia, quer no consumo); maior controlo dos consumos de energia; melhoria da eficiência dos equipamentos; identificação rápida da necessidade de manutenção de equipamentos; menores custos associados a manutenção; adaptabilidade do sistema de tarifário às condições requeridas de funcionamento; contribuir para a redução da dependência energética nacional.

Quanto às desvantagens, a auditoria energética e a implementação do respectivo plano de racionalização de energia, pode ter um custo relativamente elevado. Uma vez cumpridas todas as recomendações, o retorno será garantido num prazo relativamente reduzido

Quantificar os consumos energéticos (por instalação global e principais secções e/ou equipamentos) e a sua importância no custo final do(s) produto(s)Efectuar uma inspecção visual dos equipamentos e/ou sistemas consumidores de energia, complementada pelas medições necessáriasEsclarecer como é transformada a energia e quais os seus custosEfectuar um levantamento e caracterização detalhados dos principais equipamentos consumidores de energia, sobretudo com maior peso em termos de potência instalada, quer eléctrica, quer térmicaObter diagramas de carga (DDC) eléctricos dos sistemas considerados grandes consumidores de electricidadeDeterminar a eficiência energética de geradores de energia térmica eventualmente existentes, pelos métodos das perdas ou directoVerificar o estado das instalações de transporte e distribuição de energiaVerificar a existência do bom funcionamento dos aparelhos de controlo e regulação do equipamento de conversão e utilização de energiaRealizar balanços de massa e energia aos principais equipamentos consumidores de energia térmicaDeterminar consumos específicos de energia durante o período de realização da auditoria, para posterior comparação com os valores médios mensais e anuais e detecção de eventuais variações sazonaisDeterminar o quociente entre o consumo energético total e o valor acrescentado bruto (kgep/VAB) da actividade empresarial directamente

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ligada à instalação consumidora intensiva de energia, bem como, o consumo específico de energia (kgep/unidade de produção)Identificar e quantificar as possíveis áreas onde as economias de energia são viáveis, como resultado das situações encontradas/anomalias detectadas e medições efectuadasDefinir intervenções com viabilidade técnico-económica, conducentes ao aumento da eficiência energética e/ou à redução da factura energéticaDefinir as linhas orientadoras para a implementação ou melhoria de um esquema operacional de Gestão de EnergiaIdentificar as medidas com período de retorno do investimento inferior ou igual a 5 anos (Empresas CIE com consumo de energia> = 1000 tep/ano)Identificar as medidas com período de retorno do investimento inferior ou igual a 3 anos (Empresas CIE com consumo de energia <1000 tep/ano)

Tabela 1 – Check-list Auditoria energética

11. Plano de racionalização de consumo de energia

A auditoria energética, o desenvolvimento e a implementação de plano de racionalização, constituem um serviço que visa reduzir a facturação energética, através da identificação e apresentação de medidas com viabilidade técnico-económico, que possibilitem a efectiva redução de consumo.Este plano é elaborado com base nos relatórios das auditorias energéticas obrigatórias, devendo prever a implementação, nos primeiros três anos, de todas as medidas identificadas com um período de retorno do investimento inferior ou igual a cinco anos, no caso das instalações com consumo de energia igual ou superior a 1000 tep/ano, ou com um período de retorno do investimento inferior ou igual a três anos no caso das restantes instalações.O PREn deve ainda estabelecer metas relativa á intensidade energética e carbónica com base nas medidas previstas, tendo em conta os seguintes indicadores:a) Intensidade energética, medida pelo quociente entre o consumo total de energia (considerando apenas 50% da energia resultante de resíduos endógenos e de outros combustíveis renováveis) e o valor acrescentado bruto das actividades empresariais directamente ligadas a essas instalações industriais e, sempre que aplicável, pelo quociente entre o consumo total de energia (considerando apenas 50% da energia resultante de resíduos endógenos e de outros combustíveis renováveis) e o volume de produção;b) Intensidade carbónica, medida pelo quociente entre o valor das emissões de gases de efeito de estufa resultantes da utilização das várias formas de energia no processo produtivo e o respectivo consumo total de energia.As metas supramencionadas estão sujeitas aos seguintes valores:a) No mínimo, uma melhoria de 6% dos indicadores referidos na alínea a) anterior em seis anos, quando se trate de instalações com consumo intensivo de energia igual ou superior a 1000 tep/ano, ou melhoria de 4% em oito anos para as restantes instalações; e b) No mínimo, a manutenção dos valores históricos de intensidade carbónica.

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O PREn quando aprovado pela DGEG designa-se por Acordo de Racionalização dos consumos de Energia (ARCE)

Carregamento online do relatório de auditoria energética

Cálculo da Intensidade energética, medida pelo quociente entre o consumo total de energia (considerando apenas 50% da energia resultante de resíduos endógenos e de outros combustíveis renováveis) e o valor acrescentado bruto (kgep/€) das actividades empresariais directamente ligadas a essas instalações industriaisCálculo do consumo específico de energia medida pelo quociente entre o consumo total de energia (considerando apenas 50% da energia resultante de resíduos endógenos e de outros combustíveis renováveis) e o volume de produção (kgep/unidade de produção)Cálculo da Intensidade carbónica, medida pelo quociente entre o valor das emissões de gases com efeito de estufa, referidos a quilogramas de CO2 equivalente, e o consumo total de energia(kgCO2e/tep ou GJ)Identificação das medidas que visem a racionalização do consumo de energiaQuantificação das reduções de consumo das medidas identificadas

Programa de implementação das medidas no período do PREN

Quantificação do impacto das medidas nos indicadores de eficiência energética para o período do PREnUtilizado o valor do VAB a preços constantes relativos ao ano de referência e os valores de produção expectáveis.Identificadas as medidas com período de retorno do investimento inferior ou igual a 5 anos (Consumo de energia> = 1000 tep/ano) e implementação nos primeiros 3 anos do PREnIdentificadas as medidas com período de retorno do investimento inferior ou igual a 3 anos (Consumo de energia <1000 tep/ano) e implementação nos primeiros 3 anos do PREnPREn quantifica a melhoria de 6% dos indicadores em 6 anos (Consumo de energia> = 1000 tep/ano)PREn quantifica a melhoria de 4% dos indicadores em 8 anos (Consumo de energia <1000 tep/ano)PREn quantifica a manutenção dos valores históricos de intensidade carbónicaVAB = Vendas (POC 71) + Prestações de serviços (POC 72) + Proveitos suplementares (POC 73) + Trabalhos para a própria empresa (POC 75) – Custo das mercadorias vendidas e das matérias consumidas (POC 61) – Fornecimentos e serviços externos (POC 62) – Outros custos e perdas operacionais (POC 65)

Tabela 2 – Check-list PREn

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12. Exemplo da Auditoria Energética

O exemplo por nós escolhido é um extracto do relatório da Auditoria ao Palácio de Belém.

Auditoria Energética ao Palácio de Belém - Janeiro de 2008O Relatório da Auditoria Energética ao Palácio de Belém, solicitado pelo Presidente da República ao INETI, EDP e GALP. Equipa de Trabalho do INETI• Caracterização Térmica dos Edifícios (Palácio e Residência, Casa Civil e Militar, Centro de Documentação e Informação)• Avaliação do Comportamento Térmico do Edifício e respectivas condições de Conforto Térmico.• Caracterização dos sistemas de energias renováveis existentes.• Caracterização dos equipamentos consumidores de Gás natural e Gasóleo e determinação de emissões.• Identificação de oportunidades de integração de energias renováveis (Solar Térmico e Solar Foto voltaico).• Simulação térmica para prever futura certificação energética do edifício.Equipa de Trabalho da EDP• Caracterização dos consumos de energia eléctrica dos edifícios.• Análise das condições ambientais de funcionamento do edifício.• Identificação de oportunidades de intervenção para racionalização dos consumos de energia eléctrica;• Análise às condições de segurança das instalações eléctricas.Equipa de Trabalho da GALP• Caracterização dos consumos de gás natural e gasóleo.• Identificação de oportunidades de intervenção para racionalização dos consumos de gás natural e gasóleo.• Análise às condições de segurança das instalações de gás.Esta Auditoria caracterizou, quanto ao desempenho energético, os diversos edifícios do Palácio de Belém e identificou medidas de eficiência energética que serão integralmente aplicadas, no Palácio de Belém, durante o corrente ano de 2008.A Auditoria realizada permitiu concluir que, em termos globais, o Palácio de Belém, com os seus 18 000 m2 repartidos por vários edifícios, consome, anualmente, 471 tep (toneladas equivalentes de petróleo) de energia térmica e eléctrica, emitindo 771 toneladas de CO2, resultando numa factura anual de energia de 156 924 €.Com as medidas de eficiência energética identificadas no Relatório e que serão integralmente aplicadas, no Palácio de Belém, durante o corrente ano de 2008, será possível:- Reduzir a factura energética em 62 000€, isto é, menos 40% face a 2007;

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- Reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 228 toneladas de CO2,isto é, menos 30% face a 2007.

Figura 5 – Exemplo de benefícios económico resultantes de uma auditoria

13. Conclusão

A realização deste trabalho permitiu-nos aprofundar o conhecimento no domínio da auditoria energética. A investigação efectuada, centrou-nos na importância da supramencionada auditoria, enquanto elemento primeiro de toda a concepção de um plano aturado de racionalização de consumos. No mundo globalizado em que vivemos é fundamental uma estratégia no plano energético, pois só assim conseguiremos diminuir a emissão de gases com efeito de estufa. Num país, como o nosso, esta temática ganha ainda maior relevo derivado à elevada dependência energética. Concluímos também que a auditoria, obviamente acompanhada por um plano de racionalização de consumos, pode tornar-se num factor de diferenciação em termos competitivos entre empresas. Foi para nós muito proveitosa a realização deste trabalho, já que nos facultou

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uma nova visão transversal dos mecanismos de promoção da eficiência energética. Por último, referimos que este trabalho consubstanciou um factor de motivação acrescido resultante do investimento numa área em exponencial expansão e de promissora empregabilidade no futuro.

14. Referências

http://www.dgge.pt

http://www.adene.pt/ADENE

Portaria nº 835/2007 Portaria nº 461/2007 Despacho nº 11020/2009 Despacho nº 10250/2008 Decreto-Lei nº 71/2008