audiodescricao transformando imagens em palavras

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Figura 1 - CapaDescrio da capa: a capa, criada pela designer Aracy Bernardes, com fundo ocre e tons que vo do vinho ao marrom, ilustrada por metade de um rosto com destaque para olho e parte da boca no lado direito, trs imagens desfocadas, sobrepostas e transparentes do meio para o lado esquerdo superior, um fluxo de letras saindo da boca da pessoa sobre fotos descoloridas de praia e flor na parte inferior. O ttulo: Audiodescrio: Transformando Imagens em Palavras e os nomes dos organizadores: Lvia Maria Villela de Mello Motta e Paulo Romeu Filho, esto escritos com letras pretas sobre fundo ocre na parte superior e inferior da capa.AudiodescrioTransformando Imagens em Palavras

Lvia Maria Villela de Mello MottaPaulo Romeu FilhoOrganizadores

2010

Logo da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficincia do Estado de So Paulo Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)Audiodescrio : transformando imagens empalavras / Lvia Maria Villela de Mello Motta,Paulo Romeu Filho , organizadores. -- So Paulo :Secretaria dos Direitos da Pessoa comDeficincia do Estado de So Paulo, 2010.Vrios autores.BibliografiaISBN 978-85-4047-00-61. Acessibilidade cultural 2. Audiodescrio3. Deficientes visuais 4. Deficientes visuais -Servios de acessibilidade 5. Direito informao6. Incluso social 7. Meios de comunicao8. Polticas pblicas 9. Tecnologia I. Motta, LviaMaria Villela de Mello. II. Romeu Filho, Paulo.10-12127 CDD-303.32ndices para catlogo sistemtico:1. Deficincia visual e a audiodescrio :Sociologia da acessibilidade cultural e comunicacional 303.32

AGRADECIMENTOS

Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficincia do Estado de So Paulo, pelo apoio na publicao deste livro.Aos autores dos artigos e depoimentos, por participarem da construo da histria da audiodescrio brasileira.Ao Marco Antonio de Queiroz, MAQ, autor do prefcio e nosso interlocutor na organizao deste livro, pelas contribuies e discusses. Fernanda Cardoso, pela reviso competente e pelo envolvimento com o tema. Aracy Bernardes, designer da capa, pela criao e pacincia para entender e traduzir o conceito.

SUMRIOApresentao: Lvia Maria Villela de Mello Motta e Paulo Romeu Filho Prefcio: Marco Antonio de Queiroz - MAQPARTE I ARTIGOS1. Audiodescrio: Breve Passeio Histrico: Eliana Paes Cardoso Franco e Manoela Cristina Correia Carvalho da Silva2. Polticas pblicas de acessibilidade para pessoas com deficincia: Paulo Romeu Filho3. A Audiodescrio vai pera: Lvia Maria Villela de Mello Motta4. Audiodescrio e Voice Over no Festival Assim Vivemos: Graciela Pozzobon5. A Formao de Audiodescritores no Cear e em Minas Gerais: uma proposta baseada em pesquisa acadmica: Vera Lcia Santiago Arajo 6. Blind Tube: conceito, audiodescrio e perspectivas: Lara Pozzobon 7. A Primeira Audiodescrio na Propaganda da TV Brasileira: Natura Natur um banho de acessibilidade: Maurcio Santana8. O Signo da Cidade: Rodrigo Campos 9. Ponto de Cultura Cinema em Palavras a filosofia no projeto de incluso social e digital: Bell Machado10. A Importncia da Audiodescrio na Comunicao das Pessoas com Deficincia: Laercio SantAnna11. Olhares Cegos: A Audiodescrio e a Formao de Pessoas com Deficincia Visual: Iracema Vilaronga12. A pessoa com Deficincia Visual e a Audiodescrio relato pessoal de uma trajetria de luta por incluso: Naziberto Lopes de Oliveira 13. A Experincia da Vivo: Pioneirismo e Multiplicao: Luis Fernando Guggenberger e Eduardo Valente 14. Vida em Movimento primeiro documentrio brasileiro com audiodescrio: Marta Gil

PARTE II A PRIMEIRA AUDIODESCRIO A GENTE NUNCA ESQUECE1. Audiodescrio: poucas e precisas palavras: Sidney Tobias de Souza2. Em algum lugar do passado: Joana Belarmino3. A Incompletude do Olhar: Elizabet Dias de S4. Por mares nunca dantes navegados: Cristiana Mello Cerchiari5. Um Caminho sem Volta: Lothar Antenor Bazanella6. Eu ouo, eu vejo, eu sinto as mesmas emoes: Antonio Carlos Barqueiro7. Vendo o que a outra pessoa v: Marcos Andr Leandro8. Fechamento de um Processo: Roger Martins Marques9. Enxergar sem Ver: Jucilene Braga

PARTE III OLHOS QUE FALAM1. O Outro Lado da Moeda: Letcia Schwartz2. A Grande Histria da gua: Leonardo Rossi Lazzari3. E com a palavra os audiodescritores do Teatro Vivo: Carlos Eduardo Maral da Silva, Marli Fernanda Nunes, Milena de Oliveira Leite, Pilar Garcia Alava, Rosilene Cortes Almeida4. Emprestar o Olhar: Rosngela Barqueiro5. A Audiodescrio no Centro Cultural So Paulo: Ana Maria Campanh, Ana Maria Rebouas, Camila Feltre, Carmita Muylaert Moreira, Iris Fernandes, Lizette T. Negreiros, Maria Adelaide Pontes

APRESENTAO

com muito prazer que apresentamos aos caros leitores o primeiro livro brasileiro sobre audiodescrio, uma mostra significativa da produo intelectual brasileira sobre o tema, que rene trabalhos de professores e profissionais da rea, alm de artigos e depoimentos de pessoas cegas e videntes engajadas na luta pela implementao do recurso no Brasil, mais especificamente na TV brasileira.

A audiodescrio um recurso de acessibilidade que amplia o entendimento das pessoas com deficincia visual em eventos culturais, gravados ou ao vivo, como: peas de teatro, programas de TV, exposies, mostras, musicais, peras, desfiles e espetculos de dana; eventos tursticos, esportivos, pedaggicos e cientficos tais como aulas, seminrios, congressos, palestras, feiras e outros, por meio de informao sonora. uma atividade de mediao lingustica, uma modalidade de traduo intersemitica, que transforma o visual em verbal, abrindo possibilidades maiores de acesso cultura e informao, contribuindo para a incluso cultural, social e escolar. Alm das pessoas com deficincia visual, a audiodescrio amplia tambm o entendimento de pessoas com deficincia intelectual, idosos e dislxicos.

O livro objetiva informar profissionais de TV, cinema, teatro, museus e outras artes visuais, assim como professores e alunos de cursos de audiodescrio, profissionais da rea de Letras, Traduo, Comunicao e Artes, Educao e outras ligadas a questes de acessibilidade. Alm disso, servir como material de referncia e apoio tcnico-terico para pessoas que buscam conhecer a tcnica, que frequentam os cursos de formao de audiodescritores e que j trabalham com pessoas com deficincia visual. Para isso, discute o conceito, o panorama mundial e brasileiro, o histrico, a experincia brasileira em teatro, TV, festivais de cinema, peras, filmes, exposies, comerciais, animaes e documentrios.

Divide-se em trs partes: a primeira composta de artigos que apresentam e discutem leis e decretos, prticas e aspectos tericos; a segunda, entitulada: A Primeira Audiodescrio a Gente Nunca Esquece, apresenta depoimentos de pessoas com deficincia visual sobre suas experincias com audiodescrio, enfatizando a relevncia do recurso. Na terceira parte, Olhos que Falam, esto os depoimentos de audiodescritores, os quais relatam suas prticas com diversos gneros de espetculos como: comerciais, animao, peas de teatro, exposies, cinema, com destaque para o quanto a atividade contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional de cada um. O prefcio, escrito por Marco Antonio de Queiroz, certamente, motivar os caros leitores a empreenderem uma viagem estimulante e inusitada aos caminhos j percorridos pela audiodescrio no Brasil. Aproveitem!!!

Lvia Maria Villela de Mello Motta e Paulo Romeu Filho

PrefcioMarco Antonio de Queiroz MAQ[footnoteRef:2] [2: Marco Antonio de Queiroz consultor em Acessibilidade Web, criador dos sites Bengala Legal e Acessibilidade Legal e autor do livro Sopro no Corpo: Vive-se de Sonhos, Rima Editora 2005. Foi o primeiro jurado cego de um festival de cinema internacional: Festival de Filmes sobre Deficincia Assim Vivemos. ]

Ao ser convidado para prefaciar este livro senti-me duplamente entusiasmado. Em primeiro lugar, porque a audiodescrio tem sido muito debatida entre ns, pessoas com deficincia visual e audiodescritores, como um dos recursos de tecnologia assistiva nos meios de comunicao que mais traz autonomia s pessoas com deficincia que dela necessitam. Discutimos quais os melhores caminhos para a produo de uma audiodescrio de qualidade; quais tcnicas devem ser levadas em conta para que ela seja o mais informativa possvel; quem realmente gabaritado para ministrar cursos de capacitao para futuros profissionais; quais metodologias devem ser utilizadas nesses cursos; qual o papel das pessoas com deficincia na produo da audiodescrio; quem e quantos so os reais usurios dessa acessibilidade; a posio insustentvel da Associao Brasileira das Emissoras de Rdio e Televiso ABERT e, finalmente, as polticas pblicas dos governos para garantir sua obrigatoriedade. Essas discusses esto neste livro e o leitor conhecer muito de audiodescrio ao tomar contato com elas.Fiquei entusiasmado tambm, em segundo lugar, devido forma como entrei nesse barco, como essa "praia" me invadiu, como vim parar aqui para escreversobre este livro para seus leitores, no final, todos ns. O que me deixa arrepiado at hoje foi a emoo que senti ao vivenciar, pela primeira vez, a audiodescrio.Temos, com este livro, a oportunidade de mostrar ao leitor a experincia de cada um, seja como usurio, seja como produtor, seja como pessoa com deficincia e/ouaudiodescritor, deixando ao leitor um leque de experincias prticas e tericas, que podero contribuir para a divulgao e o crescimento da audiodescrio no Brasil,um dos objetivos desta publicao.Minha experincia com a audiodescrio comeou certo dia, no incio de agosto de 2007. Estava em frente ao meu computador fazendo algum trabalho quando recebi um telefonema. Meu telefone fixo tem bina falante, acessvel e, mesmo no reconhecendo o nmero que tocava, atendi. Era Lara Pozzobon, curadora do, na poca, 3 Festival Internacional de Filmes sobre Deficincia. Ela me convidava para ser jurado do festival. Aquela desconhecida estava propondo que eu fosse jurado de um festival internacional de cinema?Tudo bem, algumas pessoas no entendem como posso desenvolver acessibilidade em sites na web, criar cdigos, dar consultoria e, para quem enxerga e no convive com pessoas cegas como eu, acham que o que fao algo impensvel para uma pessoa com a minha deficincia. Mas, se pessoas com deficincia visual podem fazer o que fao, por que no outras coisas que no se conhece? Da a achar que eu poderia encontrar um jeito alternativo de enxergar a tela do cinema e julgar filmes internacionais, mesmo sendo sobre deficincias, era uma coisa que at eu duvidava. Voc sabe que eu sou cego? Fui logo direto, sem expresses como "pessoa com deficincia visual" ou qualquer outra, para no restar nenhuma dvida. Eu estou te convidando justamente porque voc cego. Chamei o Paulo Romeu Filho, ele no pde vir e indicou voc. Pensei logo... bem, o Paulo Romeu cego, se ela o chamou e depois a mim porque ela quer um jurado cego mesmo... e adicionando ao meu pensamento: corajosa essa mulher! (complementei ainda: "Que doida"!) E como eu, cego, poderei avaliar um filme? A palavra audiodescrio estava na ponta da minha lngua, mas como nunca tinha assistido nada com essa tcnica, ser que Lara sabia que s assim eu poderia exercer o que ela estava propondo? Por coincidncia, conheci a audiodescrio atravs de um depoimento de Paulo Romeu sobre o primeiro filme com audiodescrio produzido no Brasil em DVD e existente nas locadoras. Era um texto entusiasmado sobre acessibilidade e cidadania. Alm disso, sobre essa tcnica, apenas tinha lido alguns escritos e colocava a audiodescrio como um item da lista de acessibilidades para pessoas com deficincia...Lara explicou: So 34 filmes e todos com audiodescrio, que a descrio em palavras das imagens dos filmes que no so mencionadas pelo udio original. Ah, sei... (dei uma de entendido para no declarar a minha quase total ignorncia sobre o assunto). Eu topo! respondi j no disfarando minha alegria, preocupao e arrepio na espinha...No poderia deixar de contar para os leitores, mesmo sendo este texto o prefcio, a forte emoo de quando assisti ao primeiro filme com audiodescrio. Eu tinha de prestar ateno absoluta aos filmes do Festival e julg-los durante 12 dias. Iria assistir a 34 curtas, mdias e longas metragens depois de quase 30 anos sem assistir a um filme sozinho, pois perdi a viso aos 21 anos e gostava muito de ir ao cinema. O primeiro filme do festival era um curta de 13 minutos com uma msica norte-americana de fundo. Depois de uns 5 minutos escutando a audiodescrio e voice over feita por Graciela Pozzobon, e percebendo que, sem ela, aquele filme seria totalmente inacessvel para mim, pois no havia dilogos, s a msica, entrei em um estado de surpresa e de letargia... E, por mais que quisesse assistir somente ao filme, fiquei imaginando simultaneamente o futuro das pessoas com a minha deficincia: poderamos ir aos cinemas com autonomia, como eu j estava fazendo naquele momento; a teatros, como o da Vivo, que j com contava com a audiodescrio feita por Lvia Motta;assistir a vdeos de toda a ordem, como os j existentes na poca, da srie "Vida em Movimento", propostos por Marta Gil, que corri atrs para conhecer e divulgar; assistir aos programas das TVs entendendo tudo, como os posteriores programas da TV Brasil e Cultura; a vdeos como o filme do artigo do Paulo Romeu, nico que conhecia naquelemomento e que, atualmente, esto aumentando em nmero; os comerciais da Natura, marca de cosmticos, realizados por Maurcio Santana e Leonardo Rossi mostrando-nos de forma acessvel produtos que j poderamos ser consumidores a mais tempo,enfim... estampei um sorriso bobo no rosto, um ar areo, um "mundo da lua" nessa imaginao futura, demorada e feliz que, hoje, como mostrei rapidamente acima e conheceremos atravs de seus prprios autores, j se tornou passado realizado e comea a crescer em qualidade e quantidade. Quem me visse naquele instante poderia me confundir com um drogado. Na verdade, eu estava mesmo era embasbacado com aquele recurso que nasceu com a cegueira, utilizado por nossos familiares com boa vontade e habilidades pessoaise no por profissionais atentos, estudiosos, como naquele momento. A descrio domstica de cenas, roupas, expresses estava no lugar certo e na hora certa, feita agora por especialistas de forma nada caseira. Tive de assistir novamente a esse filme para poder julg-lo, pois a emoo no me deixava faz-lo naquele momento. Apesar de ter conscincia de que aquela tcnica no me substituiria a viso perdida, decididamente ela estava permitindo que eu visse. Dali em diante estou junto audiodescrio. Emocionei-me com essa nossa sensao, como escreveu Jucilene Braga: "a audiodescrio totalmente indispensvel. Por meio dela como se eu enxergasse sem ver".A questo bsica a de acesso informao, assim como explicita Rosngela Barqueiro: "nem sempre a informao est disponvel e/ou acessvel. Uma simples informao pode interferir na vida de forma positiva ou negativa em menor ou maior grau de importncia. Mas o fato que interfere". Os leitores tero a oportunidade de ler depoimentos como esse, cada qual com a sua peculiaridade, no decorrer deste livro. Amigos com a minha deficincia contam para todos a sua primeira vez e em todos percebemos com emoo a importncia da audiodescrio. Antes dela, como Lothar Antenor Basanela escreve "gostava mais de ouvir o relato sobre filmes do que propriamente assisti-los". Muitos de ns deixamos de assistir a produtos audiovisuais porque a falta de informaes os deixa vazios. Identificamo-nos com a citao de Sidnei Tobias quando, emprestada de Nietzsche, nos diz: "A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a vida". E isso que definitivamente queremos: a beleza da arte em sua totalidade ou, ao menos, ao mximo que ela possa nos dar.A descrio de imagens apesar de parecer para ns "coisa antiga", como revela Marcos Andr Leandro em seu depoimento, j feita "por minha av", profissionalmente mais que nova, o que faz resultar no que Cristiana Ceschiari de modo muito objetivo afirma: "Como estamos navegando 'por mares nunca dantes navegados', como escreveu Cames, no sei exatamente onde vamos aportar, mas sei que quero estar neste barco".Lendo sobre os diversos gneros deespetculos j produzidos com audiodescrio, surpreendemo-nos com a audiodescrio em peras... quem diria que poderamos assistir a uma com independncia? Lvia Motta, audiodescritora que comeou esse trabalho, nos revela como foi realizado e Antonio Carlos Barqueiro nos mostra o resultado em seu depoimento: "Uma grande experincia para mim foi assistir pera Cavalleria Rusticana, no Teatro So Pedro em So Paulo, julho de 2009. Atravs da audiodescrio, pude entender a mensagem, acompanhar as aes e, ao final do espetculo, me emocionar como em poucas ocasies. E, principalmente: podendo comentar com qualquer pessoa e at mesmo com qualquer crtico. Elizabet Dias de S nos revela a importncia da audiodescrio em sua vida no texto "A Incompletude do Olhar".Mas a audiodescrio no significa s pessoas com deficincia apaixonadas por sua liberdade e autonomia, ela , em si, um conjunto de tcnicas e estratgias, o trabalho de um grupo, experincia e arte. Tenho certeza de que os leitores interessados no tema ficaro fascinados ao conhecerem o que h por trs de cada palavra ou frase audiodescritiva, nas aulas verdadeiramente didticas que nossos audiodescritores, como Vera Santiago, Maurcio Santana, Graciela e Lara Pozzobon, ministram escrevendo sobre o assunto; e, tambm, como coordenadores de projetos comeama inserir a audiodescrio em seus trabalhos. Muito importante ainda ela no ser apenas aceita, como impulsionada por empresas.Ficamos felizes lendo Letcia Schwartz ao dizer: "Audiodescrever me deixa feliz. Simples assim. Discutir metodologias e sistemticas, assistir a um mesmo filme at quase conhec-lo de cor, estudar e me informar sobre assuntos que no domino para melhor compreender as imagens. Garimpar palavras que correspondam exatamente quilo que quero descrever, cortar-ajustar-encaixar narraes nos espaos disponveis como quem monta um quebra-cabeas. Ouvir o filme de olhos fechados e perceber que ele se torna compreensvel". Mesmo assim, com toda essa arte e desejo, percebemos, atravs dos pontos que Iracema Vilaronga e Larcio Santana destacam em seus artigos, a complementaridade de motivos para que a audiodescrio ainda seja uma tcnica pouco conhecida, apesar de ser uma acessibilidade to importante para inmeros meios de comunicao. Segundo Iracema, "Os autores de produtos audiovisuais, enquanto arte visuocntrica, ainda no se deram conta de que pessoas com deficincia visual tambm gostam, vivenciam e precisam de tais experincias. Grande parte desse pblico fica privada do lazer e da expresso cultural atravs de tais produtos, por estar socialmente vinculado experincia esttica o sentido da viso". E para Larcio, "a est, certamente, o maior desafio da audiodescrio. Devido ao pouco estmulo oferecido aos produtos audiovisuais graas falta de acessibilidade, as pessoas com deficincia, em sua grande maioria, no desenvolveram uma cultura para o teatro, cinema ou televiso. Despert-las para estes novos canais de comunicao preponderante para torn-las consumidoras de produtos audiodescritos.Atravs de iniciativas como a de Rodrigo Campos, audiodescritor totalmente alinhado s nossas perspectivas, podemos conhecer "de camarote", como surgiu, como foi feita passo a passo, a audiodescrio e closed caption do O Signo da Cidade, 1 sesso da histria do cinema nacional em que surdos e cegos vivenciaram a estreia de um filme do circuito comercial. Por outro lado, eu diria, do mesmo lado, Naziberto Lopes, nos narra sua experincia na Espanha, qualificada por ele como marcante, ao presenciar a estreia do filme Quem quer ser um milionrio, lanado em circuito comercial na cidade de Madri. Naziberto nos conta: Foi extremamente gratificante estar naquela sala de cinema junto com tantas outras pessoas com e sem deficincia, todas assistindo o mesmo filme e no mesmo momento, cada uma tendo sua especificidade atendida e podendo desfrutar do prazer e da emoo daquele entretenimento. Confesso que mesmo com a barreira do idioma, dublado e audiodescrito em espanhol, consegui ter uma compreenso ampla da trama podendo discuti-la com meu colega que no possui deficincia. Joana Belarmino destaca a questo do consumo de produtos audiovisuais por pessoas cegas: "Quando reflito sobre a realidade da cegueira, associando-a ao desenvolvimento histrico e sociocultural, percebo o grande salto dado com a era tecnolgica, no sentido da sua potencialidade para a democratizao da comunicao,trazendo tona inmeras perspectivas para a ampliao do consumo adequado de inmeros produtos da cultura, sobretudo os produtos audiovisuais". E parece que a VIVO penetrou em sua reflexo ao escrever sobre essa ampliao no teatro, atravs de seus representantes Luis Fernando Guggenberger e Eduardo Valente: "O Teatro Vivo, endereo do circuito cultural de So Paulo que integra as instalaes do prdio sede da Vivo na capital paulista, foi o primeiro da Amrica Latina a oferecer audiodescrio para pessoas com deficincia visual. A novidade, que seria incorporada definitivamente rotina da casa, estreou em julho de 2006, na pea O Santo e a Porca. (...) A aceitao do pblico e a repercusso na imprensa no deixavam dvidas: ali estava uma semente a ser cultivada". E foi: o Teatro Vivo possui audiodescrio uma vez por semana em todas as suas peas realizada atravs de seus voluntrios capacitados pela audiodescritora Lvia Motta.Tenho certeza tambm de que, mesmo que voc pouco ou nunca tenha ouvido falar sobre audiodescrio, seja voc pessoa com deficincia, candidato a audiodescritor, coordenador de projetos que atendam acessibilidade universal, gestor do governo ou de empresas particulares, responsvel por polticas pblicas ou um mero e distrado leitor que no tem ideia de como esse livro caiu em suas mos, a audiodescrio e tudo que a envolve vai te pegar em cada linha pela sua importncia, pela emoo, pela arte diria Bell Machado pela filosofia e voc, sem perceber, ao final, pode querer ir alm, estar mais perto e entre ns tambm expressando sua experincia.Eliana Franco e Manuela Carvalho nos oferecem um histrico interessantssimo sobre a audiodescrio no mundo e aqui entre ns. Nesse sentido, este livro vir adicionar pouca literatura brasileira sobre o assunto, uma contribuio importante para o conhecimento das vrias experincias existentes no mercado e na academia. Estas, no Brasil, se fundindo cada vez mais.Os vrios enfoques abordados pelos que aqui escrevem, como j disse, abrem um leque imenso de caminhos para todos ns. Entretanto, sabemos que a audiodescrio ainda uma acessibilidade pontual nos produtos audiovisuais e cnicos, mas todos so unnimes em dizer que ela uma necessidade fundamental e que deve ser introjetada na cultura social e, especialmente, no cotidiano das pessoas com deficincia. A maioria de ns ainda a desconhece e, se ns a desconhecemos, no sentimos falta consciente dela. A maior parte dos trabalhos de audiodescrio sofrem de descontinuidade e acabam por no atingir o grande pblico de seus usurios.Pelo censo IBGE de 2000, prestes a ser refeito, ramos 16,5 milhes de pessoas com deficincia visual no Brasil, 2,8 milhes de pessoas com deficincia intelectual, entre autistas, sndrome de Down e outras, alm das pessoas com transtorno de aprendizagem como os dislxicos, que podem se beneficiar tambm com a audiodescrio, por ser um segundo canal sensorial a ser aproveitado para uma compreenso mais rpida das informaes visuais. Assim, este livro tambm cumpre a funo de divulgador desse recurso de tecnologia assistiva.Ningum sabe to bem quanto Paulo Romeu sobre a luta pelo direito audiodescrio. Como ele mesmo vai nos revelar, h muito tempo que estamos batalhando pela regulamentao de leis j existentes, logo, por direitos j adquiridos. Por vezes, temos de relaxar para podermos recobrar foras, por outras lutar por esses direitos judicialmente e mostrar que somos cidados, assim como consumidores de informao, cultura, produtos e servios como todo mundo. Finalmente, para deixar aqui algo alm do conhecimento que cada um de vocs poder desfrutar neste livro, deixo tambm a receita de um bolo:Meu bolo de massa comum, bem gostosa, daquela que a vov fazia para tomarmos o caf com po da tarde. O mais importante desse bolo caseiro, so os sonhos, no os de Valsa, mas os que surgem a cada mordida. Sonhos grandes, aucarados, confortantes, aguados de simples desejos. No so sonhos impossveis, apenas sonhados enquanto mordemos, sonhos de algum, de um beijo quase esquecido, da viso do amor que um dia existiu ou mesmo do amor latente e estocado que s percebemos quando aparece para nos deixar felizes. Sonhos de mes e pais para seus filhos, sonhos de filhos com suas namoradas e namorados, sonhos de v para neto que nunca crescer, mas que j um homem. A cada mordida uma viagem, a cada viagem inmeras dores esquecidas, mgoas lavadas, boca salivada. Um bolo que, como tudo, acaba e que pode ser refeito. Entretanto, l no fundo, onde o bolo se apoiou para que o pudssemos partir e saborear, o maior dos sonhos possveis escrito com chocolate, relevo, luta, amor e liberdade...um sonho audvel: AUDIODESCRIO J!Aos organizadores dessa obra conjunta, Lvia Maria Villela de Mello Motta e Paulo Romeu Filho, meus sinceros agradecimentos pela oportunidade de estar nela, presente, e parabns por essa feliz iniciativa. Aos autores destes significativos artigos e depoimentos, gostaria de lhes declarar minha imensa felicidade por terem compartilhado suas experincias.Aos leitores, desejo o melhor proveito de suas informaes, inspirao para o surgimento de outrasobras e, o que mais importante, a curtio de tudo de bom e de novo que possam conhecer com ela.Vero, incio de 2010.

PARTE I

ARTIGOS

AUDIODESCRIO: BREVE PASSEIO HISTRICO[footnoteRef:3] [3: Eliana Paes Cardoso Franco Ps-Doutora em Traduo Audiovisual pela Universidade Autnoma de Barcelona (2007) e Doutora em Letras pela Universidade Catlica de Leuven, Blgica (2000). Desde 2002 docente da Universidade Federal da Bahia, onde coordena o grupo de pesquisa TRAMAD (Traduo, Mdia e Audiodescrio). J orientou dissertaes e teses em traduo audiovisual, literria, intersemitica, automtica e interpretao. Publicou inmeros trabalhos no Brasil e no exterior e lanar em 2010 um livro sobre a traduo em voice-over pela editora Peter Lang (Bern). Nos ltimos anos, tem desenvolvido diversos trabalhos de audiodescrio para o cinema, o teatro e a dana. Manoela Cristina Correia Carvalho da Silva: integrante do grupo de pesquisa TRAMAD desde sua implantao. Mestre em Letras e Lingstica pela UFBA (2009), com dissertao sobre a AD de desenhos animados para o pblico infantil, graduada em Lngua Estrangeira(UFBA, 2005) e em Comunicao Social pela UCSAL (1996). Atualmente professora substituta do Instituto de Letras da UFBA e leciona em cursos livres de ingls.Alm da AD, a dana e o cinema so outras duas paixes. Texto baseado em um dos captulos da primeira dissertao de mestrado sobre audiodescrio no pas: Com os olhos do corao: estudo acerca da audiodescrio de desenhos animados para o pblico infantil (SILVA, 2009), orientada e desenvolvida pelas autoras do presente captulo, respectivamente.]

Eliana Paes Cardoso Franco[footnoteRef:4] [4: ]

Manoela Cristina Correia Carvalho da Silva

A audiodescrio[footnoteRef:5] consiste na transformao de imagens em palavras para que informaes-chave transmitidas visualmente no passem despercebidas e possam tambm ser acessadas por pessoas cegas ou com baixa viso. O recurso, cujo objetivo tornar os mais variados tipos de materiais audiovisuais (peas de teatro, filmes, programas de TV, espetculos de dana, etc.) acessveis a pessoas no-videntes, conta com pouco mais de trinta anos de existncia. Uma realidade em pases da Europa e nos Estados Unidos, a AD vem paulatinamente ganhando maior visibilidade e projeo tambm em outros locais, medida que o direito da pessoa com deficincia visual informao e ao lazer reconhecido e garantido. [5: Neste trabalho, tambm nomeada AD.]

O objetivo deste texto oferecer um breve panorama histrico da AD em nvel nacional e internacional. Como a promoo da acessibilidade encontra-se em estgios diferentes em diferentes pases, h locais, como no caso do Brasil, onde a AD ainda d seus primeiros passos. Esperamos com este texto, portanto, contribuir para gerar maior interesse sobre o tema e informar o pblico em geral sobre suas origens. Para tanto, apresentamos algumas das pesquisas, publicaes e opes em termos de formao em AD hoje disponveis.1. Breve panorama da AD no mundo1.1 As origens[footnoteRef:6] [6: As informaes exibidas nessa seo foram obtidas junto s seguintes pginas da Web:,,,, .]

A prtica de se descrever o mundo visual para pessoas no-videntes imemorial. No entanto, enquanto atividade tcnica e profissional, a AD nasceu em meados da dcada de 70 nos Estados Unidos, a partir das ideias desenvolvidas por Gregory Frazier em sua dissertao de mestrado.Apesar de esse trabalho datar do ano de 1975, a AD teve seu debut somente na dcada seguinte graas ao trabalho do casal Margaret e Cody Pfanstiehl. Margaret Rockwell, portadora de deficincia visual e fundadora do servio de ledores via rdio The Metropolitan Washington Ear, e seu futuro marido, o voluntrio Cody Pfanstiehl, foram responsveis pela audiodescrio de Major Barbara, pea exibida no Arena Stage Theater em Washington DC em 1981. Na poca, o Arena Stage Theater havia recebido recursos pblicos para tornar suas produes mais acessveis e Margaret Rockwell foi contatada para ajudar nessa empreitada. Ela, por sua vez, buscou o auxlio de Cody Pfanstiehl e o casal, ento, passou a audiodescrever as produes teatrais. Eles tambm foram responsveis pelas primeiras audiodescries em fita cassete usadas em visitas a museus, parques e monumentos nos EUA, alm de contribuir de maneira significativa para levar a AD televiso.Em 1982, eles audiodescreveram a srie de TV American Playhouse, transmitida pela Public Broadcasting Service (PBS). Enquanto o programa era exibido, a audiodescrio era transmitida simultaneamente via rdio. Os primeiros testes para transmitir programas televisivos com AD pr-gravada em rede nacional comearam quatro anos depois. A estao de TV WGBH, afiliada da PBS em Boston, anteviu a possibilidade de usar o recm-criado Programa de udio Secundrio (SAP) para esse fim. A partir de 1986 e com o auxlio do Metropolitan Washington Ear, a WGBH comeou a realizar vrios testes de recepo com espectadores com deficincia visual. Esses testes culminaram na criao do Descriptive Vdeo Services (DVS), o primeiro provedor de material audiodescrito pr-gravado para televiso dos EUA. O DVS foi oficialmente lanado em 1990.[footnoteRef:7] [7: Vale salientar que a primeira transmisso de TV com AD pr-gravada no ocorreu nos EUA, mas no Japo em 1983 pela NTV. Como a rede no contava com a tecnologia SAP a AD foi transmitida pelo canal aberto e ouvida por todos os espectadores. A iniciativa, no entanto, no se mostrou a mais apropriada e as transmisses com AD foram descontinuadas, passando a ocorrer apenas ocasionalmente.]

Ainda em 1990, quatro organizaes foram premiadas pela National Academy of Television Arts and Sciences por suas importantes contribuies para levar a AD televiso: o AudioVision Institute, criado pelos Drs. Gregory Frazier e August Coppola em 1987 na San Francisco State University; a Narrative Television Network (NTN), fundada por James Stovall em 1989; o Metropolitan Washington Ear; e a WGBH. O AudioVision Institute, alm de promover cursos em audiodescrio e pesquisar diversas aplicaes para a tcnica, foi responsvel pela exibio do primeiro filme com AD nos EUA, Tucker de Francis Ford Coppola, irmo de August Coppola. James Stovall havia comeado a audiodescrever filmes em vdeo em 1988 e, em seguida, fundado a NTN para audiodescrever filmes para a TV a cabo, inicialmente sem a tecnologia SAP. J a parceria entre o Metropolitan Washington Ear e a WGBH havia resultado na criao do DVS.Aps sua estreia na televiso, a AD passou tambm a ser oferecida em peras e no cinema. Em 1994, o Metropolitan Washington Ear audiodescreveu Madame Butterfly para a companhia Washington Opera. J em 1992, a WGBH deu incio ao projeto Motion Picture Access (MoPix) para levar a AD ao cinema em escala comercial. Vrios testes foram feitos at que, em 1999, a primeira sala de cinema a contar com a tecnologia desenvolvida pelo grupo exibiu o filme O Chacal. Hoje, centenas de salas dispem dos equipamentos e podem exibir filmes com audiodescrio nos EUA. Uma dcada aps seu nascimento, a AD foi gradativamente ganhando espao tambm fora do territrio americano. A Europa foi apresentada tcnica em meados da dcada de 80, mais precisamente em 1985. As produes amadoras do pequeno teatro Robin Hood em Averham, na Inglaterra, foram as primeiras a contar com o recurso. Exibies de carter profissional e em larga escala passaram a ser oferecidas no Theatre Royal em Windsor a partir de 1988, sendo a primeira delas a pea Stepping Out. Na televiso e no DVD, o RNIB (Royal National Institute of Blind People), a maior instituio de cegos do pas, tem sido responsvel pela promoo da audiodescrio em larga escala, elevando o pas ao primeiro posto em volume de audiodescrio oferecida ao cidado com deficincia visual. Aps a Inglaterra, a AD, na forma pela qual a conhecemos hoje, chega Espanha.[footnoteRef:8] Em 1987, a Organizacin Nacional de Ciegos Espaoles (ONCE) audiodescreve o filme O ltimo Tango em Paris. Em seguida, a vez da Frana. O pas apresentado tcnica durante o Festival de Cannes de 1989. Dois extratos de filmes com AD, resultado de um curso de formao em audiodescrio realizado por estudantes franceses junto ao AudioVision Institute nos EUA, so exibidos na ocasio. Ainda em 1989, os franceses audiodescrevem seu primeiro filme, Indiana Jones e a ltima Cruzada. Nesse mesmo ano, as primeiras sesses especiais de cinema com AD so organizadas na Alemanha, fruto dos relatos ouvidos sobre a exibio dos filmes em Cannes. Na televiso, a rede de TV bvara Bayerishes Rundfunk, de Munique, foi pioneira em oferecer alguns itens de sua programao audiodescritos e por fazer uso sistemtico de um consultor com deficincia visual durante o processo de audiodescrio desses itens. E assim, de pas em pas, a AD vai gradativamente ganhando espao dentro e fora da Europa. [8: Do incio da dcada de 40 at meados da dcada de 50, diversas peras e filmes foram retransmitidos por rdio na Espanha. Para que os ouvintes pudessem acompanhar melhor essas retransmisses, os elementos visuais das obras tambm eram descritos (ORERO; PEREIRA; UTRAY, 2007). No entanto, essas produes no tinham como objetivo tornar os materiais acessveis a pessoas com deficincia visual. Apesar de tambm serem consumidas por pessoas cegas, o objetivo dessas retransmisses era atender o pblico vidente que no queria ou no podia ir at o local das apresentaes (DAZ CINTAS, 2007).]

Hoje, alm dos Estados Unidos, os pases que mais investem na audiodescrio, tanto na televiso como no cinema e no teatro so Inglaterra, Frana, Espanha, Alemanha, Blgica, Canad, Austrlia e Argentina.

1.2 Pesquisas e publicaesApesar de ter sua origem no contexto acadmico, a AD logo adquiriu um carter mais prtico-tcnico e utilitrio. No causa surpresa, portanto, o fato de que pesquisas sobre o tema s tenham comeado a ser relatadas na dcada de 90, quase vinte anos aps o seu surgimento.Os primeiros estudos foram conduzidos nos EUA e Inglaterra, naes com maior tradio em AD, e surgiram no contexto da implantao do recurso na TV. Nos EUA, muitas dessas pesquisas contaram com o apoio da American Foundation for the Blind (AFB) e envolveram o DVS. Na Inglaterra, a maioria dos estudos contou com o apoio do Royal National Institute of Blind People (RNIB) e aconteceu como parte integrante do projeto Audio Described Television (AUDETEL), um consrcio multinacional formado para investigar os diversos aspectos (tcnicos, logsticos, artsticos, etc.) envolvidos na transmisso de programas audiodescritos pela TV na Europa. Muitos desses estudos deram origem a artigos publicados em peridicos especializados ligados questo da deficincia visual como o Journal of Visual Impairment & Blindness (EUA) e o British Journal of Visual Impairment (Inglaterra). So exemplos dessa primeira fase, os trabalhos de Kuhn (1992 apud SCHMEIDLER & KIRCHNER, 2001)[footnoteRef:9]; Kuhn e Kirchner (1992 apud SCHMEIDLER & KIRCHNER, 2001)[footnoteRef:10]; Katz e Turcotte (1993 apud SCHMEIDLER & KIRCHNER, 2001)[footnoteRef:11]; Frazier e Coutinho-Johnson (1995 apud SCHMEIDLER & KIRCHNER, 2001)[footnoteRef:12]; Packer (1996); Pettitt, Sharpe e Cooper (1996); Peli, Fine e Labianca (1996); Packer e Kirchner (1997); e Schmeidler e Kirchner (2001). [9: KUHN, David. The use of descriptive video in science programming study. Boston: WGBH Educational Foundation, 1992. Research report.] [10: KUHN, David; KIRCHNER, Corinne. Viewing habits and interests in science programming of the blind and visually impaired television audience. Arlington, VA: National Science Foundation, 1992. Research report.] [11: KATZ, A.; TURCOTTE, J. Measurement of comprehension changes in television viewing of visually impaired persons using descriptive video study. Boston: New England College of Optometry, 1993. Research report.] [12: FRAZIER, G.; COUTINHO-JOHNSON, I. The effectiveness of audio description in providing access to educational AV media for blind and visually impaired students in high school. San Francisco: Audio Vision, 1995.]

Nessa fase inicial, as pesquisas procuravam traar um perfil da populao com deficincia visual e seus hbitos televisivos, estabelecer se a audiodescrio seria um recurso apreciado por seu pblico alvo, e determinar se o seu uso contribuiria para que esse pblico compreendesse materiais audiovisuais mais facilmente. Essas pesquisas foram de fundamental importncia, pois, alm de tornarem mais clara a relao das pessoas com deficincia visual com a televiso e o vdeo, suas necessidades e preferncias, elas tambm demonstraram a validade da AD para seus usurios.De acordo com esses trabalhos, a AD no s aumentaria a compreenso dos programas, como traria uma srie de outros benefcios. Segundo Packer (1996), por exemplo, a AD auxiliaria a aquisio de conhecimentos sobre o mundo visual, especialmente aqueles ligados a normas de interao social (linguagem corporal, estilos de roupa, etc.); tornaria a experincia com a TV mais agradvel e educativa; proporcionaria um sentimento de maior independncia, igualdade e incluso; e desobrigaria familiares e amigos da tarefa de descrever os programas. Segundo Schmeidler e Kirchner (2001), a AD traria ainda o benefcio de deixar o pblico com deficincia visual mais confortvel para conversar com pessoas videntes sobre os programas a que assistiam.Os resultados desses primeiros estudos, portanto, foram bastante positivos e abriram caminho para novas linhas de investigao sobre o tema. Pesquisas que aproximaram a audiodescrio da Cincia da Computao, especialmente das reas de multimdia e inteligncia artificial, por exemplo, foram empreendidas pelo Departamento de Computao da University of Surrey (2002-2005) durante o perodo de vigncia do projeto Television in Words (TIWO)[footnoteRef:13]; Piety (2003) dedicou sua dissertao de mestrado investigao da audiodescrio enquanto sistema de comunicao; o Royal National Institute of Blind People e a Vocaleyes (2003) realizaram pesquisas sobre o uso da audiodescrio em museus, galerias e sites histricos e culturais; e o Alliance Library System empreendeu projeto de pesquisa para estudar a aplicao da tcnica a acervos digitais (PETERS; BELL, 2006). [13: A anlise do modo como imagens poderiam ser verbalizadas, um dos objetivos do projeto TIWO, motivou a construo de um corpus de 500.000 palavras, extradas de roteiros de audiodescrio de 60 filmes de longa metragem e alguns programas de TV britnicos. Anlises feitas a partir deste corpus apontaram a existncia de uma linguagem prpria audiodescrio.]

Foi, entretanto, a rea de Estudos da Traduo aquela que mais produziu material acerca da AD a partir do incio dos anos 2000. Como o recurso comeou a ser entendido como um exemplo de traduo intersemitica e um modo de traduo audiovisual, muitas publicaes especializadas na rea passaram a tratar do assunto. As primeiras referncias podem ser encontradas em uma edio especial da revista The Translator. Em sua introduo, Gambier (2003) discorre sobre as 12 diferentes modalidades que compem o gnero Traduo Audiovisual, citando entre elas a audiodescrio. A partir da, artigos sobre AD comearam a ser publicados em revistas como META, Quaderns, Translation Watch Quarterly, Translating Today, TRANS. Revista de Traductologa e Linguistica Antverpiensia. Podem ser citados, entre esses trabalhos, os de Benecke (2004); Hernndez-Bartolom e Mendiluce-Cabrera (2004); Orero (2005a, 2005b, 2005c); Snyder (2005); Daz Cintas (2005); Daz Cintas, Orero e Remael (2007); Matamala (2005, 2007); Pujol e Orero (2007); Orero, Pereira e Utray (2007); Fuertes e Martinez (2007); Badia e Matamala (2007); Matamala e Orero (2007 apud REMAEL & NEVES, 2007)[footnoteRef:14]; Remael e Vercauteren (2007); Remael e Neves (2007); Hurtado (2007b apud REMAEL & NEVES, 2007)[footnoteRef:15]; e Braun (2007 apud REMAEL & NEVES, 2007)[footnoteRef:16]. [14: MATAMALA, Anna; ORERO, Pilar. Designing a course on audio description and defining the main competences of the future professional. Linguistica Antverpiensia, Antwerpen, NS6, 2007, p.329-344.] [15: HURTADO, Catalina J. La audiodescripcin desde la representacin del conocimiento general. Configuracin semntica de una gramtica local del texto audiodescrito. Linguistica Antverpiensia, Antwerpen, NS6, p.345-356, 2007b.] [16: BRAUN, Sabine. Audio description from a discourse perspective: a socially relevant framework for research and training. In: Linguistica Antverpiensia, NS6, p.357-372, 2007.]

Em geral, esses trabalhos se ocuparam em traar um breve histrico da AD; detalhar as etapas do processo de audiodescrio; apresentar as especificidades da AD para o cinema, TV, teatro ou pera e os modelos e normas adotados em diferentes pases; delinear as competncias necessrias aos profissionais; e discutir questes ligadas formao de audiodescritores.Durante esse perodo, vrios trabalhos sobre audiodescrio tambm foram apresentados em seminrios e congressos, entre eles Languages and the Media (2002, 2004, 2006, 2008) em Berlim; In So Many Words (2004) em Londres; Media For All em Barcelona (2005) e Leiria (2007); MuTra: Multidimensional Translation em Saarbrcken (2005), Copenhagen (2006) e Viena (2007); Audio Description for Visually Impaired People (2007) em Guildford; e Congreso de Accesibilidad a los Medios para Personas con Discapacidad, AMADIS em Madri (2006), Granada (2007) e Barcelona (2008). Alguns desses encontros, inclusive, deram origem a livros sobre o assunto. Em 2007, lanado o livro Accesibilidad a los Medios Audiovisuales para Personas con Discapacidad - AMADIS 06 (MEZCUA; DELGADO, 2007), reunindo trabalhos sobre legendagem para pessoas com deficincia auditiva, AD e acessibilidade Web. Os textos abordam questes as mais variadas como a formao, a normatizao, a pesquisa e os aspectos tcnicos envolvidos no processo de se tornar materiais audiovisuais acessveis a diferentes pblicos.Nesse mesmo ano, tambm lanado o livro Media for All: Subtitling for the Deaf, Audio Description and Sign Language (DAZ CINTAS; ORERO; REMAEL, 2007). Nove dos trabalhos includos na publicao versam sobre audiodescrio. Os textos tratam de assuntos os mais diversos, desde trabalhos baseados na Lingustica de Corpus at a anlise contrastiva da AD de um mesmo filme em duas lnguas diferentes, passando por trabalhos dedicados AD de obras de arte e espetculos de bal, e um primeiro esboo do que poderia ser um guia nico internacional para a criao de roteiros de AD.Ainda em 2007, publicado o livro Traduccin y Accesibilidad: subtitulacin para sordos y audiodescripcin para ciegos: nuevas modalidades de Traduccin Audiovisual (HURTADO, 2007a). Apesar de seu ttulo sugerir a presena de textos tanto sobre a traduo para cegos quanto para surdos, a publicao dedica-se quase que exclusivamente AD.Quatorze dos dezesseis trabalhos includos na publicao versam sobre audiodescrio. Tal como no livro Media for All mencionado anteriormente, podem ser encontrados textos sobre temas bastante variados como, por exemplo, a relao entre a linguagem cinematogrfica e a AD ou entre a AD e a linguagem literria, a chuchotagem audiodescritiva (audiodescrio sussurrada), a audiodescrio com apoio tctil, a caracterizao dos personagens nos roteiros audiodescritos, e o uso da AD como ferramenta didtica de ensino do processo de traduo.

J em 2008, lanado o livro Accesibilidad a los Medios Audiovisuales para Personas con Discapacidad - AMADIS 07 (HURTADO & DOMNGUEZ, 2008). No que tange AD, so apresentados os resultados de uma pesquisa sobre as preferncias de videntes e no-videntes quanto audiodescrio[footnoteRef:17]; e o embrio de um sistema de audiodescrio baseado em entornos virtuais de trabalho colaborativo, uma alternativa para tornar o processo mais gil e econmico. Tambm discutida a questo da formao de audiodescritores, tema de nossa prxima seo. [17: Fels et al (2006) e Konstantinidis et al (2008) apresentam duas outras pesquisas que trazem revelaesinteressantes quanto aos potenciais benefcios da audiodescrio para os videntes e as preferncias dessepblico em relao tcnica.]

1.3 FormaoTrs tm sido os modelos utilizados para a formao em AD: o treinamento atravs de cursos de curta durao ministrados por audiodescritores com experincia de mercado; o treinamento em servio promovido por empresas que trabalham com AD; e a formao acadmica, em geral na forma de mdulos em cursos de mestrado em Traduo Audiovisual, ou cursos certificados em nvel de extenso. Os EUA tm dado preferncia pelos dois primeiros modelos, enquanto a Europa tem adotado os dois ltimos. No entanto, cresce entre os europeus o movimento por uma maior normatizao e profissionalizao na rea. Cresce tambm a crena na necessidade de uma formao slida para que se possa projetar, de forma eficaz, o resultado da percepo visual sobre o discurso. Por isso, a formao universitria pode eventualmente vir a ser privilegiada. Hoje, so exemplos de instituies de ensino superior que oferecem formao em AD o The Open College Network West and North Yorkshire (curso certificado) e a University of Surrey (mestrado) na Inglaterra, a Universitat Autnoma de Barcelona (mestrado) na Espanha e a University College Antwerp (mestrado) na Blgica. Aps esse breve passeio pela AD em nvel internacional, hora de descrevermos o cenrio brasileiro.2. Breve panorama da AD no Brasil2.1 As origensNo Brasil, a AD foi utilizada em pblico, pela primeira vez, em 2003, durante o festival temtico Assim Vivemos: Festival Internacional de Filmes sobre Deficincia, que reproduz a ideia do festival Wie Wir Leben (Como Ns Vivemos) de Munique, na Alemanha, e que acontece a cada dois anos. Dois anos mais tarde, em 2005, foi lanado em DVD o primeiro filme audiodescrito do pas, Irmos de F, seguido de Ensaio sobre a Cegueira em 2008, que constituem at o momento os nicos filmes audiodescritos que foram lanados em circuito comercial. Em 2008 surgiu tambm na televiso a primeira propaganda acessvel para pessoas com deficincia, promovida pela marca Natura. O Festival de Cinema de Gramado, em sua edio de 2007, e o Festival Internacional de Curtas-metragens de So Paulo, nas edies de 2006 e 2007, foram as primeiras mostras no-temticas a exibirem filmes audiodescritos. No teatro, a pea Andaime, exibida em So Paulo em 2007, foi o primeiro espetculo teatral a contar com o recurso. J a montagem Os Trs Audveis foi o primeiro espetculo de dana audiodescrito, que aconteceu em Salvador (maio de 2008) e em Curitiba (junho de 2009). E em maio de 2009, em Manaus, o pblico com deficincia visual pde apreciar a primeira pera audiodescrita do pas, Sanso e Dalila, atrao do XIII Festival Amazonas de pera.Num outro mbito, a audiodescrio tambm comeou a ser promovida para um pblico com deficincia visual mais restrito, com as sesses mensais de filmes audiodescritos ao vivo na Associao Laramara, em So Paulo, e atravs do projeto do Ponto de Cultura Cinema em Palavras promovido pelo Centro Cultural Louis Braille, em Campinas. Com o intuito de fortalecer e promover a audiodescrio no pas, foi formada a primeira associao de audiodescritores do Brasil, a MIDIACE Associao Mdia Acessvel, em setembro de 2008, formada basicamente por integrantes das universidades federais de Minas Gerais, Bahia e da universidade estadual do Cear. Em outubro do mesmo ano, aconteceu o 1. Encontro Nacional de Audiodescritores realizado em So Paulo.[footnoteRef:18] E, no final de 2008, as pessoas com deficincia visual tambm ganharam seu primeiro site de filmes acessveis, o , uma iniciativa da Lavoro Produes, Educs e Cinema Falado. [18: O referido encontro, idealizado por Paulo Romeu Filho, reuniu audiodescritores de diferentes estados (Bahia, Cear, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e So Paulo) para discutir a situao da AD no Brasil.]

Todas essas aes pioneiras foram amplamente bem recebidas. Contudo, sua continuidade tem dependido muito mais de iniciativas privadas do que do apoio das autoridades dos meios de comunicao no que diz respeito ao cumprimento da lei que garante o acesso da populao brasileira com deficincia visual aos meios audiovisuais. Desde a promulgao da lei 10.098 (BRASIL, 2000), regulamentada pelo Decreto 5.296 (BRASIL, 2004), alterado pelo Decreto 5.645 (BRASIL, 2005) e pelo Decreto 5.762 (BRASIL, 2006b), o recurso da audiodescrio tornou-se um direito garantido pela legislao brasileira. Aps consulta e audincia pblicas e a oficializao da Norma Complementar n1 (BRASIL, 2006a), as emissoras de TV foram obrigadas a oferecer, num prazo mximo de dois anos, duas horas dirias de sua programao com audiodescrio. A quantidade de horas dirias deveria aumentar gradativamente para que, num prazo mximo de dez anos, ou seja, 2016, toda a programao estivesse acessvel. No entanto, desde que o referido prazo foi vencido, em 27 de junho de 2008, trs portarias j foram publicadas, numa clara demonstrao de que os interesses das emissoras de TV ainda falam mais alto.A Portaria 403 (BRASIL, 2008c) suspendeu a obrigatoriedade do recurso da audiodescrio por 30 dias. A Portaria 466 (BRASIL, 2008b), de 30 de julho de 2008, restabeleceu a obrigatoriedade do recurso e concedeu prazo de 90 dias para que as emissoras iniciassem a transmisso de programas com audiodescrio. A Portaria 661 (BRASIL, 2008a), de 14 de outubro do mesmo ano, suspendeu novamente a aplicao do recurso para realizao de uma nova consulta pblica sobre a questo, com prazo at 30 de janeiro de 2009, sendo possvel sua prorrogao sine die e a convocao de mais uma audincia pblica (ROMEU FILHO, 2008). Em novembro de 2009, o Ministrio das Comunicaes lana a Portaria 985, que abre uma nova consulta pblica para propor alteraes na Norma Complementar no 1/2006. A questo est, agora, nas mos dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, que devem julgar uma ao movida pelo Conselho Nacional dos Centros de Vida independente (CVI - Brasil) e pela Federao Brasileira das Associaes de Sndrome de Down (FBASD) com vistas a suspender a Portaria 661. Enquanto o entrave legal no se resolve, o direito de acesso aos meios para os no-videntes continua em suspenso. No Brasil, portanto, diferentemente da realidade das naes europeias e dos EUA descritas anteriormente, a luta para que o direito AD saia do papel e que cidados brasileiros com deficincia visual tambm possam ter acesso s produes culturais exibidas em territrio nacional.

2.2 Pesquisas e publicaesA pesquisa em AD no pas, ainda que escassa, est sendo liderada pelas universidades federais da Bahia, de Pernambuco, Minas Gerais e pela universidade estadual do Cear. A bibliografia especfica ainda muito restrita e resume-se a um artigo de autoria de Franco (2006b) na revista Cincia e Cultura da Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC), e a outros trs artigos: de Orero (2007), Casado (2007) e Franco (2007a) num nmero especial da TradTerm: Revista do Centro Interdepartamental de Traduo e Terminologia da Universidade de So Paulo (USP), organizado pelas Profas. Dras. Eliana Paes Cardoso Franco (UFBa) e Vera Lcia Santiago Arajo (UECE). O primeiro artigo (FRANCO, 2006b) trata da questo da acessibilidade aos meios e traz referncias legenda fechada e audiodescrio. Os trs ltimos discutem a audiolegendagem[footnoteRef:19] para a pera (ORERO, 2007), a audiodescrio sob um ponto de vista histrico e tcnico (CASADO, 2007), e os primeiros resultados de uma pesquisa de recepo em audiodescrio realizada na cidade de Salvador pelo grupo TRAMAD (Traduo, Mdia e Audiodescrio) (FRANCO, 2007a). [19: Recurso atravs do qual as legendas em lngua verncula de materiais audiovisuais em lngua estrangeira so verbalizadas para torn-las acessveis a pessoas com deficincia visual.]

O TRAMAD um grupo de pesquisa certificado pelo CNPq e pioneiro no Brasil, tendo iniciado suas atividades no ano de 2004. Coordenado pela Dra. Eliana Franco (UFBA), o TRAMAD rene pesquisadores voluntrios graduados e ps-graduados, dentre eles, uma consultora com deficincia visual. O grupo realiza estudos com vistas a elaborar um modelo de audiodescrio que v ao encontro das necessidades e preferncias do pblico brasileiro com deficincia visual. de autoria do grupo o artigo Confronting amateur and academic audiodescription: a case study (FRANCO et al, 2008) a ser publicado nos anais do seminrio Audio Description for Visually Impaired People, realizado na University of Surrey, em Guildord, Inglaterra, em julho de 2007.Alm do referido artigo, o TRAMAD vem representando o Brasil na pesquisa sobre audiodescrio, em encontros internacionais, em pases tais como a Espanha (FRANCO; ARAJO, 2005); Dinamarca (FRANCO, 2006a); Inglaterra (FRANCO, 2007b); e Frana (FRANCO, 2008). No mbito nacional, o grupo tem promovido parcerias com outras reas do conhecimento, como o projeto TRAMADAN (Traduo, Mdia, Audiodescrio e Dana), que resultou na audiodescrio do primeiro espetculo de dana do Brasil mencionado anteriormente. tambm de autoria de um dos integrantes do grupo a primeira dissertao de mestrado em AD do pas (SILVA, 2009), fruto de pesquisa intensiva com o pblico infanto-juvenil com deficincia visual.[footnoteRef:20] A partir do incio de 2008, o grupo tem desenvolvido trabalhos para o cinema, o teatro e a dana. [20: Trs outros integrantes do grupo esto desenvolvendo trabalhos de ps-graduao sobre AD. Dois desenvolvem teses de doutoramento junto UFBA e um terceiro realiza mestrado junto Universidade do Estado da Bahia (UNEB).]

Outro grupo de pesquisa que vem se dedicando ao assunto o LEAD (Legendagem e Audiodescrio), coordenado pela Dra.Vera Lcia Santiago Arajo, da Universidade Estadual do Cear (UECE). O LEAD tem como objeto de pesquisa a acessibilidade audiovisual para cegos e surdos. O grupo vem apresentando trabalhos sobre AD em eventos e desenvolvendo iniciativas, como a audiodescrio de filmes e peas, a promoo de festivais de cinema acessveis, alm de visitas guiadas a teatros, no prprio estado do Cear. Mais recentemente, o grupo LEAD tem desenvolvido o importante projeto DVD Acessvel, que busca promover a audiodescrio de filmes em DVD junto a seus produtores.Alm da UFBA e UECE, outras duas unidades de ensino contam com pesquisadores interessados no tema da AD, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Podem ser citados entre esses pesquisadores a Dra. Clia Magalhes e a Dra. Adriana Pagano da UFMG, e o Dr. Francisco Lima da UFPE. No entanto, como a promoo da acessibilidade um tema que vem ganhando cada vez mais adeptos, a tendncia a de que a AD venha a conquistar maior visibilidade e a atrair um maior nmero de pesquisadores em territrio nacional.

2.3 FormaoNo Brasil, dois tm sido os modelos utilizados para a formao em AD: o treinamento atravs de cursos informais promovidos pela iniciativa privada e a formao universitria certificada no nvel de especializao ou extenso. No primeiro caso, destacam-se os trabalhos da Dra. Lvia Motta, responsvel pela preparao dos audiodescritores do Teatro Vivo em So Paulo, e de Graciela Pozzobon, audiodescritora do festival Assim Vivemos e treinadora de audiodescritores no Rio de Janeiro.No contexto universitrio, os Professores Eliana Franco, Vera Santiago Arajo e Francisco Lima vm ministrando cursos de extenso e especializao para a formao de audiodescritores, a primeira em Salvador (UFBa) e Maranho (UFMA), a segunda em Fortaleza (UECE), Belo Horizonte (UFMG e PUC-MINAS) e Natal (UERN), e o terceiro em Recife (UFPE). Juntos, j introduziram a audiodescrio para cerca de 200 alunos.Sejam certificados ou no, formal ou informalmente, mais e mais audiodescritores esto sendo treinados para suprir o mercado que inevitavelmente se abrir com a devida implementao da lei de acessibilidade.

3 ConclusoDesde seu nascimento at aqui, a AD j percorreu um longo caminho, cruzando continentes e levando a diferentes pases a perspectiva de se oferecer maior acesso informao, cultura e ao lazer. Apesar dessa trajetria promissora, importante frisar que a AD no se encontra no mesmo estgio de desenvolvimento em todas as partes do mundo. Em pases como o Brasil, por exemplo, o recurso ainda d seus primeiros passos. vital, portanto, que pesquisas na rea sejam estimuladas e que o recurso ganhe maior visibilidade entre o pblico em geral, inclusive o vidente. Quanto mais pesquisas, mais publicaes e mais cursos formais na rea, maior ser a consolidao do direito acessibilidade audiovisual pelas pessoas com deficincia visual, direito esse materializado atravs da audiodescrio.Enquanto isso, os nomes que comearam a construir a histria da AD no Brasil e que batalham incansavelmente para sua implementao, tais como Lara e Graciela Pozzobon, Lvia Motta, Eliana Franco, Vera Santiago Arajo, Francisco Lima, Bell Machado, Maurcio Santana, alm, claro, de seus maiores apoiadores, como Paulo Romeu Filho, Marco Antonio Queiroz e Iracema Vilaronga, comeam a ganhar seguidores cada vez mais entusiasmados que esto dispostos a fazer com que a AD saia do papel e ganhe os teatros, salas de cinema, museus e telas de computador e TV do Brasil afora. E que assim seja.

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Polticas Pblicas de Acessibilidade para Pessoas com Deficincia Audiodescrio na Televiso Brasileira Paulo Romeu Filho[footnoteRef:21]* [21: * Analista de sistemas, graduado em Administrao de Empresas com especializao em Gesto de Sistemas de Informao, militante pelas causas das pessoas com deficincia e criador do Blog da Audiodescrio.]

Inicialmente, quero agradecer a Lvia Motta pelo convite para ajud-la a organizar este livro, que conta com a participao de tantos amigos com quem compartilhamos as alegrias e angstias no processo de difuso e implementao da audiodescrio em nosso pas.Neste artigo, pretendo demonstrar como conheci e me envolvi com as questes de acessibilidade para pessoas com deficincia, em geral, e com a audiodescrio, em particular, bem como apresentar, seguindo uma linha do tempo, a sucesso de eventos transcorridos desde 2000, sobre a regulamentao do recurso da audiodescrio, para sua implementao na televiso brasileira.

Como me envolvi com a audiodescrioPerdi a viso em 1980 devido a um acidente de carro. Estava com 22 anos e cursava o penltimo ano de engenharia qumica. Depois de muitos meses nos quais minha vida se resumiu a entrar e sair de hospitais e consultrios mdicos, iniciei o processo de reabilitao na Fundao Dorina Nowil Para Cegos, onde aprendi a usar a bengala-guia, ler e escrever em braille e a realizar diversas atividades de vida diria.J estava com 25 anos quando, com o apoio de meus pais e de minha namorada, com quem me casei em 1985, voltei a me sentir fsica e emocionalmente apto a retomar minha vida normalmente. Foi ento que conheci Domingos Sessa Neto, presidente do Instituto Brasileiro de Incentivos Sociais IBIS, onde iniciei minha formao em informtica, rea ainda relativamente recente no Brasil e na qual as pessoas cegas vinham conseguindo demonstrar seu potencial apesar da pouca tecnologia adaptada existente naquela poca. J possua alguns conhecimentos de processamento de dados porque era uma das disciplinas do currculo da faculdade de engenharia, mas foi no IBIS que realmente me interessei pela rea e decidi ento dedicar-me a ela profissionalmente.

Em 2003, a empresa em que trabalho, que contrata pessoas com deficincia desde 1973, havia criado uma Equipe de Acessibilidade com o objetivo de identificar e propor solues para as situaes que constituam barreiras para o desempenho de atividades desses funcionrios. Fui convocado a participar dessa equipe e, como parte do trabalho de pesquisa de casos de sucesso de outras empresas, descobrimos que a Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT havia recentemente criado o Comit Brasileiro de Acessibilidade (CB40), especfico para a elaborao de normas de acessibilidade para pessoas com deficincia. Esse comit estava organizado em trs comisses distintas para o estudo e elaborao de normas tcnicas nas reas de: barreiras arquitetnicas, barreiras nos transportes) e barreiras na comunicao. Posteriormente, foi criada uma nova comisso de estudos para a acessibilidade digital.A empresa me indicou para represent-la junto ao CB40, por isso comecei a participar das reunies da Comisso de Estudos de Acessibilidade na Comunicao. Havia interesse, tanto da empresa em que trabalho quanto da comisso de estudos da ABNT, na criao de uma norma brasileira que tratasse do estabelecimento de diretrizes para a construo de sites na internet acessveis para pessoas com deficincias. A CE03 criou um grupo de trabalho para a elaborao dessa norma e fui indicado para coorden-lo, mas logo nas primeiras reunies percebemos que, em 1999, o World Wide Web Consortium - W3C, organismo normatizador mundial da internet, tinha publicado o documento intitulado Recomendaes de Acessibilidade para os Contedos da WEB, que praticamente esgotava o assunto e j havia se transformado em referncia internacional. Portanto, conclumos que melhor seria os desenvolvedores brasileiros de sites seguirem aquelas recomendaes, ao invs de tentarmos criar padres prprios para o Brasil; por isso o grupo de trabalho foi desfeito.Pouco tempo depois, a Equipe de Acessibilidade tambm foi desfeita em virtude de uma grande reestruturao da empresa em que trabalho, mas eu j havia sido infectado pelo vrus da acessibilidade, ento continuei participando das reunies da ABNT por iniciativa prpria.A comisso de estudos de acessibilidade na comunicao j havia criado um grupo de trabalho que estava discutindo a elaborao de uma norma sobre o estabelecimento de diretrizes para a produo de legendas para pessoas surdas nos programas de televiso. Ainda no conhecia a audiodescrio. Assim, devido a minha formao na rea de engenharia e a meus conhecimentos de informtica, passei a coordenar um outro grupo de trabalho, que foi responsvel pela elaborao da NBR 15250: Acessibilidade em Caixa de Auto-Atendimento Bancrio.Fazia alguns anos que a Rede SACI Solidariedade, Apoio, Comunicao e Informao distribua um boletim dirio por e-mail com notcias do interesse de pessoas com deficincia. Foi por intermdio daquele boletim que, durante a elaborao da NBR 15250, tomei conhecimento da audiodescrio ao ler a divulgao do lanamento do DVD do filme Irmos de F, o primeiro a ser lanado no Brasil com o recurso.Fui a uma vdeolocadora, trouxe o DVD para casa e, logo de incio, me surpreendi ao perceber que o menu de abertura do DVD era acessvel, pois conforme pressionava as teclas direcionais do controle remoto, uma locuo me indicava as opes pelas quais eu estava navegando. Gostei da sensao de autonomia e liberdade porque, at aquele dia, precisava que algum vidente me ajudasse a selecionar as opes como idioma, qualidade do udio, assistir os extras, etc.. Mas a surpresa foi ainda maior quando o filme comeou, e aquela mesma voz dos menus aparecia em momentos chave, explicando e informando o que se passava nas cenas que eu no conseguiria entender pela falta da viso.Imediatamente compreendi o que era a audiodescrio e sua importncia como um recurso capaz de promover a incluso dos cegos em um mundo predominantemente visual. Na primeira reunio da CE03 aps ter assistido quele filme, cheguei a propor a elaborao de uma norma para a audiodescrio, a exemplo do que j se estava fazendo com as legendas para as pessoas surdas, mas a falta de maiores informaes a respeito do assunto inviabilizou a proposta naquele momento. Alguns meses depois, em outra reunio da CE03, o Laramara Associao de Assistncia ao Deficiente Visual fez a apresentao de um trabalho que vinha desenvolvendo, e que consistia da exibio de filmes com audiodescrio feita ao vivo para pessoas cegas. Com base nessa apresentao, a coordenadora da CE03 decidiu incluir a audiodescrio como um novo captulo a ser discutido pelo grupo de trabalho que estava elaborando a minuta da norma de legendas para surdos, aumentando assim o escopo da norma, que foi publicada pela ABNT como NBR 15290: Acessibilidade em Comunicao na Televiso.Algumas semanas aps a publicao da NBR 15290, Genzio Fernandes Vieira, pessoa cega que trabalha como Procurador da Fazenda Nacional e, na poca, tambm atuava como conselheiro do Conselho Nacional de direitos dos Portadores de Deficincia CONADE, passou meus contatos para a Dra. Denise Costa Granja, coordenadora de assuntos judiciais do Ministrio das Comunicaes e tambm conselheira do CONADE. Em nosso primeiro contato, a Dra. Denise me informou que estava encarregada de elaborar um documento a ser publicado pelo Minicom para regulamentar os artigos do Decreto 5.296 que tratam da acessibilidade na televiso. Disse que o Genzio havia comentado sobre minha participao na elaborao da NBR 15290, e me perguntou se poderia ajud-la na tarefa de que havia sido incumbida.Foram algumas semanas de inmeros telefonemas e intensa troca de e-mails dirios com a Dra. Denise at que, em novembro de 2005, havamos concludo a redao de uma minuta de Norma Complementar, que foi submetida a consulta pblica pela Portaria 476/2005 do Ministrio das Comunicaes, e ainda estabeleceu data para a realizao de uma audincia pblica.Este foi o incio de uma sucesso de cartas, ofcios, reunies tcnicas, portarias, consultas e audincias pblicas a respeito da audiodescrio, uma verdadeira Via Crucis para a implementao do recurso na televiso brasileira, que passo a descrever.

A Saga da Audiodescrio no BrasilDezembro de 2000Foi sancionada a Lei 10.098, que ficou conhecida como Lei da Acessibilidade, por estabelecer normas gerais e critrios bsicos para a promoo da acessibilidade das pessoas portadoras de deficincia ou com mobilidade reduzida, alm de outras providncias. Os artigos 2 (inciso II, alnea D), e 17 desta lei merecem ser aqui destacados, por serem aqueles mais diretamente relacionados audiodescrio:Art. 2o Para os fins desta Lei so estabelecidas as seguintes definies:...II barreiras: qualquer entrave ou obstculo que limite ou impea o acesso, a liberdade de movimento e a circulao com segurana das pessoas, classificadas em:...d) barreiras nas comunicaes: qualquer entrave ou obstculo que dificulte ou impossibilite a expresso ou o recebimento de mensagens por intermdio dos meios ou sistemas de comunicao, sejam ou no de massa;...Art. 17. O Poder Pblico promover a eliminao de barreiras na comunicao e estabelecer mecanismos e alternativas tcnicas que tornem acessveis os sistemas de comunicao e sinalizao s pessoas portadoras de deficincia sensorial e com dificuldade de comunicao, para garantir-lhes o direito de acesso informao, comunicao, ao trabalho, educao, ao transporte, cultura, ao esporte e ao lazer.A ntegra desta lei pode ser obtida em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm

Dezembro de 2004Foram necessrios quatro anos para que fosse publicado o Decreto 5.296, que regulamenta a Lei da Acessibilidade, inclusive no que se refere acessibilidade na comunicao, de modo geral, e, na televiso, em particular:Regulamenta as leis n 10.048, de 8 de novembro de 2000, que d prioridade de atendimento s pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critrios bsicos para a promoo da acessibilidade das pessoas portadoras de deficincia ou com mobilidade reduzida, e d outras providncias. O artigo 52 deste decreto determinou a adaptao dos aparelhos televisores de modo a poderem ser usados por pessoas com deficincia, e o artigo 53 originalmente atribuiu Anatel a competncia para regulamentar as questes referentes acessibilidade na programao veiculada pelas emissoras de televiso, entre elas: closed caption ou legenda oculta, audiodescrio e janela para intrprete de LIBRAS.A ntegra deste decreto pode ser obtida em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm.

Fevereiro de 2005Foi assinado o Decreto 5.371, que reformulou e estabeleceu as competncias do Ministrio das Comunicaes e da Anatel, no que se refere aos servios de transmisso e retransmisso da programao de televiso. A reformulao nas competncias do Ministrio das Comunicaes e da Anatel estabelecida por este decreto exigiu, em consequncia, que o artigo 53 do Decreto 5.296 tambm fosse reformulado, conforme se ver mais adiante.A ntegra deste decreto, j com as alteraes posteriores a sua publicao, pode ser obtida em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5371.htm.

Junho de 2005A Rede Globo de Televiso apresenta a novela Amrica, que tem em sua trama dois personagens cegos. Para auxiliar a autora da novela na construo desses personagens, uma de suas assessoras cria um grupo de discusso na internet do qual participam aproximadamente cinquenta pessoas cegas.Durante essas discusses, surge a solicitao para que a TV Globo inclua a audiodescrio na produo e veiculao da novela, que foi formalizada para a diretoria da emissora como carta aberta, que est disponvel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/carta-aberta-rede-globo-de-televisao.html.

Outubro de 2005O Comit Brasileiro de Acessibilidade da Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT publicou a Norma Brasileira NBR 15290: Acessibilidade em Comunicao na Televiso. Texto disponvel em http://www.mj.gov.br/corde/arquivos/ABNT/NBR15290.pdf.

Novembro de 2005O Ministro das Comunicaes assinou a Portaria 476, submetendo a consulta pblica uma minuta de Norma Complementar, destinada a regulamentar o artigo 53 do Decreto 5.296; e agendou data para a realizao de audincia pblica.A ntegra desta, assim como de outras portarias que tratam da audiodescrio, no esto disponveis no site do Ministrio das Comunicaes, mas podem ser encontradas em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=17757.Dentre as manifestaes recebidas nessa consulta pblica, destacam-se o ofcio n 90 da Associao Brasileira de Emissoras de Rdio e Televiso ABERT, e a anlise desse ofcio, elaborada pela Coordenadoria Geral de Assuntos Judiciais do Ministrio das Comunicaes.A ntegra destes documentos, que se transformaram na primeira discusso sobre a acessibilidade na programao das emissoras brasileiras de televiso pode ser obtida em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/oficio-abert-902005.html e http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2009/10/coordenadoria-geral-de-assuntos.html.Dezembro de 2005Foi assinado o Decreto 5.645, que deu nova redao ao Artigo 53 do Decreto 5.296, atribuindo ao Ministrio das Comunicaes a responsabilidade pela regulamentao das diretrizes de acessibilidade na programao das emissoras de televiso, bem como estabeleceu prazo de 120 dias para a publicao dessas diretrizes, ficando assim compatvel com as novas determinaes estabelecidas pelo Decreto 5.371.Deste modo, no que se refere audiodescrio, entendida como descrio e narrao, em voz, de cenas e imagens, os artigos do Decreto 5.296 passaram a vigorar com a seguinte redao: Art.52.Caber ao Poder Pblico incentivar a oferta de aparelhos de televiso equipados com recursos tecnolgicos que permitam sua utilizao de modo a garantir o direito de acesso informao s pessoas portadoras de deficincia auditiva ou visual. Pargrafonico.Incluem-se entre os recursos referidos no caput: I-circuito de decodificao de legenda oculta; II-recurso para Programa Secundrio de udio (SAP); e III-entradas para fones de ouvido com ou sem fio. Art.53.Os procedimentos a serem observados para implementao do plano de medidas tcnicas, previstos no art. 19 da Lei no 10.098, de 2000, sero regulamentados, em norma complementar, pelo Ministrio das Comunicaes. 1oO processo de regulamentao de que trata o caput dever atender ao disposto no art. 31 da Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999. 2oA regulamentao de que trata o caput dever prever a utilizao, entre outros, dos seguintes sistemas de reproduo das mensagens veiculadas para as pessoas portadoras de deficincia auditiva e visual: I-a subtitulao por meio de legenda oculta; II-a janela com intrprete de LIBRAS; e III-a descrio e narrao em voz de cenas e imagens. 3oA Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia - CORDE da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidncia da Repblica assistir o Ministrio das Comunicaes no procedimento de que trata o 1o.Janeiro de 2006O Ministrio das Comunicaes publicou a Portaria n 1/2006 e realizou audincia pblica para discusso dos comentrios recebidos na consulta pblica instituda pela Portaria MC 476/2005, da qual participaram representantes da ABRA - Associao Brasileira de Radiodifusores, ABERT - Associao Brasileira de Emissoras de Rdio e Televiso, Fundao Roquete Pinto representando as emissoras pblicas, a CORDE - Coordenadoria Nacional para Integrao das Pessoas Portadoras de Deficincia, o CONADE - Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficincia e a UBC Unio Brasileira de Cegos. Participei dessa audincia pblica acompanhando o presidente da Unio Brasileira de Cegos, Volmir Raimondi.

Maro de 2006Realizada reunio no Ministrio Pblico Federal, a redao original do Decreto 5.296 remetia para a Anatel a competncia para regulamentar a questo da aplicao de recursos de acessibilidade na televiso para pessoas com deficincia. Esse decreto, depois, foi alterado e a responsabilidade passou a ser do Ministrio das Comunicaes, cuja competncia restringe-se televiso aberta, de recepo livre e gratuita para o pblico em geral.Deste modo, acabou sendo criado um vcuo legislativo sobre a obrigatoriedade tambm para as TVs por assinatura veicularem sua programao com os mesmos recursos de acessibilidade exigidos para as emissoras de televiso aberta.Para discutir essa questo, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidado convocou o Ministrio das Comunicaes, a Anatel e a CORDE para uma reunio, na qual foi acordado que o Poder Executivo faria uma nova alterao no Decreto 5.296 para corrigir a falha, o que no aconteceu at este momento.A ata dessa reunio pode ser obtida em http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/01/pfdc-e-acessibilidade-na-televisao.html.

Abril de 2006Foi assinado o Decreto 5.762, que prorrogou por 60 dias o prazo para o cumprimento do que determina o Decreto 5.645, ou seja, ampliou o prazo para o Ministrio das Comunicaes publicar a regulamentao do artigo 53 do Decreto 5.296. ntegra disponvel em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5762.htm

Junho de 2006Em 27 de junho de 2006, depois de ter ouvido e analisado toda a argumentao tcnica, econmica e jurdica apresentadas na consulta e na audincia pblica citadas, o Ministrio das Comunicaes publicou a Portaria 310, oficializando a Norma Complementar n 1 que estabeleceu o cronograma de implantao e os requisitos tcnicos para tornar a programao das TVs abertas acessvel para pessoas com deficincia.A Norma Complementar n 1 definiu carncia de dois anos para que as emissoras de televiso tivessem tempo para promover as adequaes necessrias em sua programao e, ainda, escalonamento progressivo da quantidade diria de programao que deveria ser transmitida com os recursos de acessibilidade previstos. De acordo com o documento, somente a partir de 27 de junho de 2008, as emissoras estariam obrigadas a produzir duas horas dirias de programao acessvel, aumentando a carga diria um pouco a cada ano at que, somente depois de passados 10 anos, atingssemos a totalidade da programao sendo gerada com os recursos de acessibilidade.Esta portaria, que tambm traz o texto da Norma Complementar n 1 est disponvel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/audiodescricao-portaria-310-do.html.Dois dias aps o Ministrio das Comunicaes ter publicado a Portaria 310, o Presidente da Repblica assinou o Decreto 5.820, que dispe sobre a implantao do SBTVD-T Sistema Brasileiro de Televiso Digital Terrestre ; estabelece diretrizes para a transio do sistema de transmisso analgica para o sistema de transmisso digital do servio de radiodifuso de sons e imagens e do servio de retransmisso de televiso; e d outras providncias.Este decreto, alm de estabelecer o modelo japons de televiso digital para o Brasil, tambm determinou que os padres analgico e digital de televiso devessem conviver por dez anos, contados a partir da publicao do decreto.A ntegra deste decreto pode ser acessada em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5820.htm.

Neste ponto, para melhor entendimento do leitor, importante salientar que a Norma Complementar n 1, assim como a NBR 15290 da ABNT, foram elaboradas tendo como base os recursos de acessibilidade existentes no padro de televiso analgico, visto que, at o momento da publicao dessas normas, ainda no havia definio sobre o sistema de televiso digital a ser adotado no Brasil.A definio do padro de televiso digital brasileiro, publicada apenas dois dias aps a definio das obrigaes das emissoras de televiso veicularem sua programao com recursos de acessibilidade, viria a se transformar em um dos principais argumentos dos radiodifusores para as sucessivas postergaes na implementao desse direito das pessoas com deficincia, conforme discutido em documentao que referencio mais adiante.

Outubro de 2006O Ministrio das Comunicaes publicou a Portaria 652, que estabeleceu critrios, procedimentos e prazos para a consignao de canais de radiofrequncia destinados transmisso digital do servio de radiodifuso de sons e imagens e do servio de retransmisso de televiso, no mbito do Sistema Brasileiro de Televiso Digital Terrestre SBTVD-T.Esta portaria pode ser encontrada em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/portaria-652-do-ministerio-das.htmlDentre outras providncias, esta portaria criou o Frum do Sistema Brasileiro de Televiso Digital, composto por especialistas de diversas reas para estudar e assessorar o Ministrio das Comunicaes no estabelecimento de diretrizes tcnicas do sistema digital.

Dezembro de 2006A Assembleia Geral da Organizao das Naes Unidas aprovou a Conveno Sobre Direitos das Pessoas com Deficincia, que trata especificamente sobre a acessibilidade na televiso em seu arti