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ATUALIZA CURSOS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENFERMAGEM EM UTI
NEONATAL E PEDIÁTRICA
LUIZA GONÇALVES CASTRO
UM OLHAR SOBRE A FAMÍLIA EM TERAPIA INTENSIVA
NEONATAL E PEDIÁTRICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Salvador 2014
LUIZA GONÇALVES CASTRO
UM OLHAR SOBRE A FAMÍLIA EM TERAPIA INTENSIVA
NEONATAL E PEDIÁTRICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Artigo apresentado à Atualiza
Associação Cultural, como requisito
parcial para obtenção do título de
Especialista em Enfermagem em UTI
Neonatal e Pediátrica, sob a orientação
do professor Fernando Reis do Espírito
Santo.
Salvador
2014
UM OLHAR SOBRE A FAMÍLIA EM TERAPIA INTENSIVA
NEONATAL E PEDIÁTRICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA
1- Luiza Gonçalves
Castro
2- Fernando Reis do
Espírito Santo
(orientador)
RESUMO: Este estudo aborda sobre a família de pacientes pediátricos e neonatais
internados em Unidades de Terapia Intensiva discutindo sobre os sentimentos que
permeiam esse momento difícil na vida dos envolvidos no processo saúde-doença, a
relação dos familiares com a equipe multidisciplinar e o desafio da equipe de
enfermagem em humanizar o cuidado. Tem como objetivo evidenciar, a partir da
literatura disponível, os desafios enfrentados pelas famílias envolvidas no processo
saúde-doença de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal e
Pediátrica. Trata-se de uma revisão bibliográfica, descritiva e com abordagem
qualitativa. Foram pesquisadas nas bases de dados SCIELO, MEDLINE e o LILACS. Os
artigos foram selecionados conforme pretensões dos objetivos propostos no estudo.
Após a análise dos conteúdos dos artigos, este estudo nos mostrou que a internação
hospitar infantil e principalmente em UTI´s traz mudanças profundas na vida dos
envolovidos no processo saúde-doença e que essas alterações podem ser menos
dolorosas se a relação familia\equipe de saúde se der de forma mais humana respeitando
o momento de vida de cada um dos envolvidos. Traz a tona também os dessafios da
equipe de enfermagem como parte crucial na busca da humanização do processo de
cuidar.
Palavras-chave: Humanização, Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica e Relação
profissional-família, Familia, Hospitalização.
1Graduada em Enfermagem pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-
Minas/Belo Horizonte-MG. E-mail: [email protected] 3Doutor em Educação pela PUC-SP. Professor da Universidade Federal da Bahia –
UFBA/Salvador-Ba. E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
Apresentação do objeto de estudo
A assistência a criança que necessita de internação hospitalar vem sofrendo mudanças
significativas a partir do século XIX, historicamente em 1930 a assistência de
enfermagem a criança hospitalizada tinha por finalidade prevenir a transmissão de
infecções através do isolamento rigoroso, desta forma a mãe e familiares eram afastados
da criança e não se envolvia com os profissionais, a partir de 1940 ocorrem mudanças
de atitudes na assistência a saúde da criança hospitalizada, essa assistência se torna mais
complexa acompanhando os avanços das práticas médicas e que envolvem as relações
sociais que surgiram no pós Segunda Guerra Mundial, acompanhando os avanços a
enfermagem também se utiliza de novos conhecimentos, que por sua vez, encaminham
para o aperfeiçoamento de diagnóstico, tratamento e profilaxia das doenças. O hospital
amplia sua complexidade e a assistência passa a levar em consideração a criança como
ser em formação em vários aspectos e surge neste sentido o relatório publicado, em
1951, pela Organização Mundial de Saúde sobre a privação materna como fator
etiológico perturbador da saúde mental. Outro marco na assistência a criança
hospitalizada foi em 1959 com o Relatório Platt (MINISTRY OF HEALTH, 1959), na
Inglaterra, este documento trouxe à tona a preocupação com o bem estar das crianças
internadas em instituições de saúde e levou pais e profissionais a discutirem sobre o
processo de hospitalização procurando formas para “humanizar” esta experiência. Uma
das estratégias lançadas foi a de e encorajar os pais ou responsáveis a permanecerem
com suas crianças durante as hospitalizações e, mais recentemente, a participarem dos
cuidados dispensados a elas. (LIMA, ROCHA, SCOCHI, 1999)
No Brasil a preocupação com as questões relacionadas ao atendimento à população nos
serviços de saúde contribuiu para o lançamento da Política Nacional de Humanização
(PNH), em 2004, esta política representou um avanço e grande desafio para os
profissionais de saúde, já que para sua implementação foi necessária uma valorização
dos envolvidos no processo saúde-doença e hospitalização; e no incentivo à autonomia
desses sujeitos. A partir dai algumas mudanças de modelos foram realizadas tendo
como foco as necessidades dos cidadãos e compromisso com o ambiente, entretanto,
mesmo com oito anos de sua publicação, ainda são claras as fragilidades observadas em
algumas instituições de saúde e persistem problemas que levaram a criação do programa
em 2004. Uns dos principais problemas que obstam a prática da humanização nos
serviços de saúde é a compreensão desta política pelos profissionais. Um estudo
realizado com técnicos em enfermagem de uma unidade de terapia intensiva (UTI)
neonatal mostrou que estes profissionais tem uma visão simplificada do processo de
humanização afetando a interação entre os trabalhadores da unidade de cuidado; outro
fator que dificulta a implantação deste novo conceito é a permanência da prática
biologicista e fragmentada de cuidado nos serviços de saúde, que ocorre tanto por parte
dos profissionais, quanto pelos próprios usuários.(REIS, SILVA, WATERKEMPER,
LORENZINI, CECCHETT0, 2013)
Segundo DARBYSHIRE (1993, 1994), citado por Lima, Rocha e
Scochi, 1999 o declínio das doenças infecciosas, a introdução do
antibiótico e tecnologias inovadoras contribuíram para uma revisão do
afastamento dos pais e familiares durante a hospitalização de seus
filhos. No entanto, a transformação no conceito de criança, agora vista
como um ser em crescimento e desenvolvimento, não só com
necessidades biológicas, mas também psicológicas, sociais e
emocionais, foi o mais efetivo catalizador para esta mudança.
Uma vez que a criança não pode ser considerada como um ser isolado, mas um
indivíduo posicionado em uma estrutura familiar, as práticas de enfermagem
relacionadas à criança hospitalizada devem ser baseadas no modelo de atenção centrado
na criança e em sua família, respeitando o meio ambiente em que ela está inserida,
como tentativa de transformação da realidade da hospitalização infantil. O enfermeiro
que trabalha em pediatria deve compreender o vinculo entre pais-filhos, entendendo que
deste relacionamento pode surgir força para manter a criança em um estado emocional
favorável ao tratamento, desenvolvendo o mínimo possível, sequelas emocionais deste
período. (OLIVEIRA, COLLET, 1999)
Assistir a família da criança hospitalizada é características do profissional que trabalha
com pediatria e incluem habilidades de reconhecer e conviver com a família na situação
de doença. Os estudos existentes na área de enfermagem da família ainda são poucos no
Brasil, mas o número de pesquisas nesta área vem aumentando e, através dos novos
conhecimentos adquiridos, determina transformações na maneira como a família é
percebida na situação hospitalar. Essas pesquisas mostram duas situações relevantes: a
necessidade manifestada pelos pais de recém-nascidos e por enfermeiras sobre a
importância de se incentivar a interação pais-criança e, em contrapartida, a existência de
barreiras a esta interação em UTIs, mostrando que o desempenho do papel da
enfermeira junto aos pais nem sempre revela ações de apoio à interação pais-recém-
nascido. (ROSSATO-ABÉDE, ANGELO, 2002)
Diante da necessidade de se implementar uma assistência de enfermagem mais
humana, no cuidado de recém-nascidos e crianças levando em consideração o momento
de formação em que eles estão vivendo, e a dificuldade de estabelecer essas práticas de
forma mais efetiva, surgiu o interesse pelo tema. Para responder a questão norteadora o
objetivo deste trabalho é evidenciar a partir da literatura os desafios enfrentados pelas
famílias envolvidas no processo saúde-doença de pacientes internados em Unidades de
Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica.
Justificativa
A escolha do tema surge da necessidade de se discutir a humanização com um foco
mais amplo que apenas o cuidado ao paciente. É necessário trazer a tona os constantes
desafios de uma equipe de Enfermagem ao lidar com a dor e o sofrimento evidente nas
unidades de terapia intensiva, com famílias inteiras emocionalmente abaladas com suas
rotinas e sentimentos alterados. Como lidar melhor com essa realidade e prestar cada
vez mais um cuidado humanizado com foco na família é o que fez despertar o interesse
em buscar informações relacionadas ao tema, ações e intervenções que podem ser
realizadas pela equipe de enfermagem, no intuito de entender e agir minimizando a dor
do paciente\cliente e famílias envolvidas no cuidado, proporcionando uma melhoria na
qualidade de enfrentamento para os envolvidos no processo de saúde-doença.
Problema
Quais as principais aflições enfrentadas pelos familiares envolvidos no processo de
saúde-doença?
Objetivo
Evidenciar, a partir da literatura disponível, os desafios enfrentados pelas famílias
envolvidas no processo saúde-doença de pacientes internados em Unidades de Terapia
Intensiva Neonatal e Pediátrica.
Metodologia
A pesquisa metodológica é a busca de respostas para inquietações que ajudam a pensar
e a instigar um novo olhar sobre o mundo de forma investigativa, indagadora e criativa.
(GIL, 2007 p.17) ressalta que:
Pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático
que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são
propostos. A pesquisa é requerida quando não se dispõe de
informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a
informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não
possa ser adequadamente relacionada ao problema.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, descritiva e com abordagem qualitativa acerca
da Humanização em Unidades de Terapia Intensivas Pediátricas e Neonatais, buscando
compreender os desafios da família e equipe que cuida de crianças internadas em
Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica.
Foram pesquisadas as bases de dados Scielo Brasil (Scientific Electronic Library On
Line), Lilacs (Literatura Latino-americana e do Caribe em Saúde), Medline (Base de
dados da literatura internacional da área médica e biomédica), BVS, utilizando os
descritores: Humanização, Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica e Relação
profissional-família, Familia, Hospitalização.
Foram realizadas 3 (três) buscas. A primeira combinando os descritores: Humanização e
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica, nesta buca foram encontrados 2
(dois) artigos e após a leitura dos resumos foi selecionado 1 (um) artigo. A segunda
busca foi combinados os descritires: Humanização e Relação Profissional-família, nesta
buscaforam utilizados os filtros: humano, rescem-nascido e criança. Nesta segunda
busca foram encontrados 47 (quarenta e sete) artigos e após a leitura dos títulos e
resumos foram selecionados 9 (nove) artigos e em uma consulta em artigos relacionados
foram encontrados mais 2 (dois) artigos nos quais foram selecionados conforme
pretenções do objetivo do estudo. Sentiu-se a nescessidade de uma terceira busca
utilizando os descritores; Familia, Hospitalização, Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal e Pediátrica, foram encontrados 2 (dois) artigos e um deles selecionado para
servir como base pra este estudo
Foram selecionados artigos disponíveis em ligua portuguesa em forma de texto
completo, que estavam disponíveis para acesso imediato.
Após a leitura dos artigos e análise de seus conteudos, buscou-se estabelecer um diálogo
sobre os temas e a questão orientadora, realizando a redação das sinteses interpretativas
da cada tema.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. A família e a hospitalização
Nos primeiros anos de vida a criança depende das relações familiares para sobreviver, a
ligação da criança com sua família, principalmente com a mãe, é imprescindível para a
formação do indivíduo, quando pensamos na complexidade das crianças pelo momento
de formação em que elas se encontram podemos perceber que as experiências
vivenciadas por elas no momento da internação podem ter reflexos futuros.
A capacidade do ser humano para estabelecer relações sociais é iniciada e adquirida na
relação mãe-filho, é desse relacionamento que se estabelece o modelo para todas as
relações humanas posteriores. É no familiar importante para a criança que a mesma
busca confiança, apoio, referencia de tempo, orientação e proteção para melhor
enfrentar as adversidades e sofrimentos provenientes da doença e da hospitalização.
(OLIVEIRA; COLLET, 1999)
Para Molina; Fonseca; Waidman; Marcon. 2009, a hospitalização de uma criança é uma
fatalidade provocando sofrimento não só pela própria doença, mas também pela
hospitalização que se torna cansativa pela alteração na rotina familiar em vários
aspectos, incluindo a separação dos pais e de outros membros da família levando ao
medo, a preocupação e o sentimento de solidão que afetam o equilíbrio e os papéis
ocupados por cada um deles dentro do seio familiar.
A criança hospitalizada é submetida a inúmeros procedimentos, vários deles invasivos e
dolorosos, que aumentam à medida que piora o estado de saúde, gerando na criança a
insegurança e angustia. Este sentimento de medo vivido pela criança também é
compartilhado com a família, e o sentimento de culpa e responsabilidade pela doença
altera ainda mais os vínculos familiares.
2.1.1. A família e a hospitalização em UTI
A internação em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) acontece quando a situação
de saúde da criança se agrava, ao receber a notícia de que ela necessita de internação em
uma UTI geralmente surge uma sensação de estranheza e impotência dentro do seio
familiar, carreada de stress, ansiedade e temor na criança e nos pais, pois a família além
de fazer uma correlação imediata entre UTI e morte, também considera a separação
temporária do filho muito dolorosa. Assim, o desequilíbrio emocional e a
desestabilização dos familiares são evidenciados. (MOLINA; FONSECA; WAIDMAN;
MARCOM. 2009).
O ambiente hospitalar e principalmente em UTI’s geralmente são desconhecidos para as
famílias, além de ser pouco acolhedor e haver o risco de perder o filho, configura-se em
medo constante que prejudica ainda mais a formação do vinculo familiar e
consequentemente afetam de maneira significativa o desenvolvimento dessa criança.
As famílias ao entrarem pela primeira vez neste ambiente e se depararem com uma
realidade nova (e muitas vezes assustadora), com muitos aparelhos e pessoas estranhas,
fica ainda mais fragilizadas com a imagem de seu filho doente. Essa experiência pode
ser menos traumática se neste momento um membro da equipe multidisciplinar estiver
junto com a família e a criança, compartilhando informações pertinentes que facilitem o
entendimento da clínica do paciente e dos aparelhos por ele utilizado.
A internação em UTI’s ocorre de maneira necessária, e em grande parte das vezes
decorrente de situação inesperada, tensa e marcante, que oferece aos pais clima de
expectativa. Nessas circunstâncias, o olhar dos profissionais deve envolver cuidados à
família, com ações de acolhimento e vínculo, de maneira se estabelecer elo entre família
e equipe de profissionais. (ROCHA, LÚCIO, LOPES, LIMA, FREITAS, 2011).
2.3. Enfermagem e a família
Com o surgimento de UTI’s Neonatais e Pediátricas reconheceu-se a importância em
atender aos aspectos psicossociais dos pais de recém nascidos (RN) internados, e neste
contexto, a Enfermagem desempenha um papel importante de além de cuidar do RN
e\ou criança também é responsável pela relação com a família.
A Enfermagem da família é uma área nova e que vem avançando em termos de
conceitos específicos a fim de permitir melhor entendimento das experiências vividas
pelos envolvidos em situações difíceis como internamento em UTI’s. Um destes
conceitos é o de Vulnerabilidade da família.
Vulnerabilidade em uma situação de doença e hospitalização de um
filho, é a família sentir-se ameaçada em sua autonomia, sob pressão da
doença, da própria família e da equipe. Os elementos desencadeadores
são as experiências vividas anteriormente, o acúmulo de demandas
que comprometem sua capacidade para lidar com a situação e o
desespero para agir.(PETTENGILL; ANGELO, 2005)
Pettengill e Angelo, 2005 ainda colocam que a família ao vivenciar uma hospitalização,
sente-se vulnerável porque são retirados o poder e as possibilidades de escolhas, tendo
que se submeter às situações. Quanto a equipe, cabe reconhecer a vulnerabilidade do
outro, entender a condição humana, e ao cuidar pode-se escolher exercer um “poder
sobre” ignorando a vulnerabilidade e cometendo atos desumanos ou “poder com”
proporcionando um cuidado autentico somando e criando, não uma hierarquia, mas algo
que fortalece os que estão vivendo a situação difícil.
Como ferramenta importante no processo de humanização temos o acolhimento:
O acolhimento é um dos conceitos-chave da PNH, é uma ferramenta
tecnológica que deve ser utilizada na ampliação e efetivação do
cuidado humanizado, pois preconiza o encontro, a escuta, o vínculo e
o respeito às diferenças entre trabalhadores da saúde e usuários.
Devemos entender o acolhimento como parte do processo de produção
de saúde, como algo que qualifica a relação entre profissional e
usuários; como uma atitude de inclusão. (COSTA, KLOCK, LOCKS,
2012).
Costa, Klock, Locks 20011 ainda discorrem dizendo que quando a equipe acolhe a
família de modo satisfatório, passa a perceber os pais como pessoas fundamentais no
cuidado em UTI’s, estabelecem aos poucos uma relação de parceria e surgem relatos
positivos sobre a inserção da família no cotidiano da unidade. Os autores ainda colocam
que profissionais que trabalham em UTI’s devem ser sensíveis o bastante para
compreender o momento em que esta família está inserida, ajudando da melhor forma
possível como mediador, e que esta mediação não deve ser algo mecânico e impessoal,
pelo contrário, deve ser algo único tentando entender as necessidades de cada família.
É importante combinar a sensibilidade ao conhecimento teórico, com a finalidade de
oferecer uma assistência de enfermagem planejada e estruturada, visando à orientação
aos familiares a respeito do que ocorre, ou seja, utilizar a comunicação como estratégia
básica para a humanização da assistência. (MARQUES, SILVA, MAIA, 2009)
Em ambientes hospitalares as Unidades de Terapia Intensiva se destacam pela utilização
de tecnologias, a incorporação destes meios altera a forma de se comunicar tornado os
profissionais cada vez mais mecanizados e o ambiente de cuidado cada vez mais frio,
porém tem se tornado comum profissionais se questionarem acerca da importância do
resgate e da promoção de atitudes reflexivas de humanização da assistência, inclusive os
da equipe de enfermagem. (ROCHA, LÚCIO, LOPES, LIMA, FREITAS, 2011).
Os mesmos autores ainda colocam que a chegada o recém-nascido (RN), diferente do
idealizado, traz desapontamento, sentimento de culpa e medo da perda, desta forma a
equipe de enfermagem se volta ao cuidado da família já que é pela enfermagem que
acontece grande parte da disseminação de conhecimento, e qualificação dos
componentes da equipe com o objetivo de atender as demandas e necessidades dos
envolvidos no processo, além de que em UTI’s Neonatais, a família tem sido cada vez
mais alvo do cuidado de enfermagem entendendo que a criança não existe sozinha e,
que ao longo do período de internação, a privação do ambiente familiar aumenta o stress
da mãe prejudicando a formação de vinculo e apego, tão importantes para a vida da
criança.
Segundo Marque, Silva e Maia, 2009 as UTI´s pediátricas e neonatais se diferem de
outras unidades de internação hospitalar pelo seu aparato tecnológico e pelo
atendimento de pacientes em estado crítico. Nestes locais as famílias experenciam
situações que aumentam suas angustias e medos como, por exemplo, o risco de morte,
número elevado de procedimentos invasivos e dolorosos, a falta de privacidade o
isolamento social, todas essas questões podem se tornar menos sofridas para os
familiares e acompanhantes se a equipe de saúde humanizar a assistência.
2.4. Os desafios enfrentados e pela equipe de enfermagem em busca da
humanização
As UTI’s são locais de cuidado especializado e paciente criticamente enfermo em
situações de risco, neste contexto o uso de tecnologias, grande número de aparelhos,
altos índices de procedimentos invasivos incentivam o cuidado biomédico, focado na
doença, a Enfermagem deve mudar esse olhar e incentivar cuidado humano centrado na
pessoa e nas necessidades biopisicosocial, tanto da criança quanto da família. Conforme
colocado pelos no trecho transcrito a seguir:
O ambiente da UTI caracteriza-se, sobremaneira, pelo aparato
tecnológico de que dispõe para cuidar dos recém-nascidos em estado
crítico. É considerado como paradigma para a ruptura do modelo
médico curativista, e inserção do modelo humanístico. Neste contexto,
ainda predomina a maneira de cuidar no domínio da técnica, no
adequado manuseio de equipamentos, o que, de alguma forma, motiva
os cuidadores de enfermagem a se distanciarem dos aspectos
expressivos do cuidado humano. (ROCHA, LÚCIO, LOPES,
LIMA E FREITAS, 2011).
Romper com esse modelo assistencial é um dos grandes desafios da Enfermagem atual,
outra grande questão a ser administrada pela Enfermagem são os conflitos entre família
e equipe.
A existência de conflitos entre profissional e familiares nas UTI´s Neonatais e
Pediátricas podem ser observados com certa frequencia, manifestados por meio de
frieza, indiferença entre outras atitudes de estranamento, e até mesmo desrespeito entre
as partes, em alguns casos, percebemos que a presença do acompanhante é vista pela
equipe como causa de dificuldades, e por sua vez, a familia se mostra resistente em
algumas rotinas e regras impostas pelo serviço. (SANTANA, MADEIRA,2013)
A mediação desses conflitos aproximando equipe e família é essencial segundo Hennig,
Gomes, Morsch, 2010. Em seus estudos afirmam que a fim de tornar possível uma
parceria colaborativa entre pais e equipe, torna-se necessária a identificação das
dificuldades mais significativas e inerentes ao envolvimento dos pais no cuidado de
seus filhos. E desta forma, desenvolveu os princípios identificados como sendo os mais
importantes para os pais e equipe de saúde: segurança, gentileza, comunicação,
informação consistente, educação, meio-ambiente, manejo da dor, participação,
proximidade e apoio.
Implantar esses princípios, fazendo com que os profissionais de saúde encarem a família
como parte integrante do cuidado é um desafio vital para que a Enfermagem traga para
dentro da UTI uma forma mais humana de cuidar.
Neste sentido, a comunicação é uma das ferramentas mais importantes, se tornando
outro grande desafio da enfermagem,como os altores evidenciam a seguir:
A comunicação é estratégia básica para a humanização da assistência,
que consiste em perceber cada ser humano como um indivíduo único,
com necessidades específicas, otimizando o exercício de sua
autonomia, facilitando a interação entre eles por meio de diálogo
aberto entre quem cuida e quem é cuidado. (MARQUES, SILVA,
MAIA 2009).
O Enfermeiro é um dos maiores disseminadores de conhecimento dentro da instituição
de saúde responsável por realizar treinamentos e por acompanhar a equipe assistencial
de perto, estimulando e possibilitando que o grupo fale a ‘mesma língua’. O Enfermeiro
também é responsável, em grande parte das instituições, em receber os familiares em
sua primeira vez nas UTI’s, os acolhendo e oferecendo explicação sobre normas, rotinas
e esclarecendo dúvidas sobre a criança hospitalizada.
(...) a enfermeira a pessoa determinada pela equipe para
receber/acolher os pais na unidade. Ela que orienta as normas e rotinas
da unidade, acompanha os pais até o bebê e fornece algumas
informações sobre o quadro clínico do recém-nascido. (...) Outro
ponto de destaque foi a necessidade de todos os funcionários
repassarem as mesmas informações, criando uma rotina de
comunicação. A importância da padronização das condutas adotadas
foi ressaltada pelos profissionais, como também a necessidade de que
eles também se sintam acolhidos para que saibam acolher. Este
acolhimento, segundo eles, deve iniciar ainda nas próprias relações de
trabalho. (COSTA, KLOCK, LOCKS, 2012)
Assim podemos perceber que a comunicação é um dos principais desafios da
Enfermagem, tanto no momento de multiplicar o conhecimento permitindo
homogeneidade entre a equipe, quanto no acolhimento dos familiares na chegada a
UTI’s, tornado este momento menos traumático aos envolvidos no processo da
hospitalização infantil.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto podemos perceber que ao longo do tempo a forma de cuidar, em
pediatria, vem se modificando e que existem esforços inclusive governamentais, com
politicas de incentivo a humanização (PNH) para modificar o foco da atenção durante
internação hospitalar.
Podemos entender que a criança e ou recém-nascido não pode ser considerado um ser
isolado, mas sim um individuo em formação, posicionado em uma estrutura familiar e
que as experiências vivenciadas por elas no momento da internação podem ter reflexos
futuros em sua personalidade. Neste sentido as práticas de enfermagem relacionadas à
criança hospitalizada devem ser baseadas no modelo de atenção centrado na criança e
na família e os profissionais de saúde devem buscar características peculiares que
incluem habilidades de reconhecer e conviver com a família na situação de doença.
Na busca pela humanização a enfermagem deve entender que hospitalização de uma
criança é uma fatalidade que provoca sofrimento não só pela própria doença, mas
também pela hospitalização e que neste momento o equilíbrio familiar está alterado
assim a enfermagem deve ser capaz de agir de forma humana respeitando a
individualidade de cada família entendendo a vulnerabilidade de cada membro com
ações que visem minimizar o sofrimento e traumas de cada um dos envolvidos no
processo.
Na busca da humanização enfermagem deve ser capaz de modificar a visão biomédica e
incentivar o cuidado humano centrado nas pessoas, estabelecendo uma relação de
parceria entre equipe e família, mediando conflitos que possam surgir em prol de uma
assistência individualizada.
ABSTRACT
This study focuses on the family of hospitalized pediatric and neonatal patients in
Intensive Care Units discussing the feelings that permeate this difficult time in the life
of those involved in the health-illness, the relationship of the family with the
multidisciplinary team and the team challenge of humanizing nursing care. Aims to
show, from the available literature, the challenges faced by families involved in the
process of inpatient health-disease Neonatal Intensive Care Unit and Pediatric. This is a
bibliographic, descriptive and qualitative approach to revision. Were searched in the
databases SciELO, MEDLINE and LILACS databases. Articles were selected according
pretensions of the objectives proposed in the study. After analyzing the content of the
articles, this study shows that infant hospitalization and hospitar mainly UTI's brings
profound changes in the lives of those involved in the health-disease process and that
these changes can be less painful if the family relationship \ team health if it gives more
time respecting the human form of life of everyone involved. Brings out well the
challenges of the nursing staff as a crucial part in the pursuit ofhumanizing the care
process.
Keywords: Humanization , Pediatric and Neonatal Intensive Care Professional -
Relationship and Family , Family, Hospitalization
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