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Atualidades

RELAÇÃO ENTRE ESTADOS E POVOS

A instituição fundamental das sociedades civilizadas, antigas ou modernas, é o estado. Ele está localizado no cerne tanto das duas principais instituições político-territoriais da antiguidade – a cidade-estado e o império – como nos modernos estados-nação. Existe, entretanto, grande confusão em torno da palavra ‘estado’. Para uns o estado é uma organização com poder de le-gislar e tributar, para outros é também o sistema constitucional-legal, e para outros ainda, con-funde-se com o estado-nação ou país. A primeira acepção, redutora, é aquela que faz parte da linguagem corrente; a terceira, é empregada especialmente na literatura sobre relações inter-nacionais. A segunda – o estado é o sistema constitucional-legal e a organização que o garante – é aquela que me parece mais correta. Na medida em que o estado é a principal instituição de qualquer sociedade nacional, possuindo, portanto, grande abrangência, ele compartilha as duas formas que as instituições assumem: a de sistema valorativo e normativo e a de sistema social organizado formalmente. Nesta nota, interessa-nos apenas o estado moderno que surge com a Revolução Capitalista.

Nação, estado e estado-nação

O estado-nação, que, como sua própria denominação sugere, tem o estado como seu elemen-to constituinte fundamental, é o principal resultado político da Revolução Capitalista. Esta, no plano econômico, deu origem ao capital e às demais instituições econômicas fundamentais do sistema – o mercado, o trabalho assalariado, os lucros, e o desenvolvimento econômico decor-rente da acumulação de capital combinada com o progresso. No plano social, surgem as três novas classes sociais: a burguesia, os trabalhadores assalariados, e, em uma segunda fase, a classe profissional. No plano político, além do estado, surgem a nação e a sociedade civil, e, definem-se, sucessivamente, os grandes objetivos políticos e as respectivas ideologias: a liber-dade e o liberalismo, a autonomia nacional e o nacionalismo, o desenvolvimento econômico e a racionalidade instrumental ou eficientismo, a justiça social e o socialismo, e a proteção da natureza e o ambientalismo.

A Revolução Capitalista é a transformação tectônica por que passou a história na medida em que as ações sociais deixavam de ser coordenadas pela tradição e pela religião para o serem pelo estado e pela principal instituição econômica por este regulada – o mercado; é o processo histórico que dá origem às nações e aos estados-nação, estes passando gradualmente a substi-tuir os impérios na organização político-territorial da terra; é a transformação econômica que separa os trabalhadores dos seus meios de produção e dá origem, inicialmente, à burguesia e à classe operária, e mais adiante à classe profissional ou tecnoburocrática; é a transformação cultural que torna a razão e a ciência as fontes legítimas de conhecimento em substituição à revelação e à tradição. A idéia de progresso e mais tarde a idéia correlata de desenvolvimento econômico constituem-se em realidade histórica no bojo da Revolução Capitalista.

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Os impérios egípcio, romano e chinês conheceram muitos momentos de prosperidade, mas não havia a idéia de progresso ou de desenvolvimento econômico, porque o progresso tecno-lógico era lento, e não existiam as idéias, de um lado, uma crescente racionalização e demo-cratização da vida política, e, de outro, um processo necessário de acumulação de capital e de inovação que permitiram, primeiro, aos filósofos e depois aos economistas identificar um pro-cesso contínuo e 3 relativamente auto-sustentado de realização dos grandes objetivos políticos de liberdade, bem-estar, justiça social e proteção da natureza. Dentro desse quadro amplo, é preciso definir com mais clareza alguns conceitos centrais da teoria política – em especial na-ção, sociedade civil, estado, e estado-nação. Esses conceitos são vítimas de ampla confusão se-mântica, que eu não pretendo resolver. Quero apenas deixar claro como venho entendo esses termos nos últimos anos, de forma que a eventual leitura do que escrevo fique mais clara. Em cada estado-nação ou estado nacional existe uma nação ou uma sociedade civil, um estado, e um território. Tanto a nação quanto a sociedade civil são a sociedade politicamente organizada, a sociedade enquanto agente político dotado de crenças e valores.

A nação é a sociedade que compartilha um destino comum e logra ou tem condições de dotar--se de um estado tendo como principais objetivos a segurança ou autonomia nacional e o de-senvolvimento econômico; já a sociedade civil é a sociedade politicamente organizada que se motiva principalmente pela garantia dos direitos civis e dos direitos sociais.

O estado, por sua vez, é o sistema constitucional-legal e a organização que o garante; é a orga-nização ou aparelho formado de políticos e burocratas e militares que tem o poder de legislar e tributar, e a própria ordem jurídica que é fruto dessa atividade. Finalmente, o estado-nação é a unidade político-territorial soberana formada por uma nação, um estado e um território. Dessa forma, embora seja comum falar-se em estado como sinônimo de estado-nação, esta-mos distinguindo os dois termos. O estado tem uma dupla natureza: é ao mesmo tempo uma instituição organizacional – a entidade com capacidade de legislar e tributar uma determinada sociedade –, e uma instituição normativa – a própria ordem jurídica ou o sistema constitucio-nal-legal. Podemos, entretanto, definir o estado não pelo que ele é, mas pelo que faz. Nessa perspectiva, o estado é a instituição abrangente que a nação usa para promover seus objetivos políticos, ou, em outras palavras, é o instrumento por excelência de ação coletiva da nação ou da sociedade civil.

É comum usarem as expressões ‘estado’ e ‘nação’ como sinônimas de ‘estado-nação’, mas evi-tarei essa prática. Aproximo, porém, nação de sociedade civil porque são termos muito seme-lhantes, porque indicam a sociedade politicamente organizada fora do estado. Entretanto, en-quanto pensada como ‘sociedade civil’, essa sociedade defendeu inicialmente as liberdades, depois a justiça social, e mais recentemente o ambiente, e, portanto, será, em diversos graus, liberal, socialista e ambientalista. Já quando pensada como ‘nação’, a sociedade será ciosa de sua soberania e 4 promoverá o desenvolvimento econômico – será nacionalista. Tanto no caso da nação quanto da sociedade civil, o poder dos cidadãos será ponderado por seu dinheiro, seu conhecimento e sua capacidade de organização, mas a nação tem geralmente uma conotação política mais abrangente ou mais popular do que a sociedade civil, mas, em compensação, é particularista, enquanto que a sociedade civil tem uma conotação mais universal e mais demo-crática. 1 Quando afirmo que o estado é o instrumento por excelência de ação coletiva da na-ção, surge imediatamente a questão: ao invés disso, não seria ele, conforme propuseram Marx e Engels, “comitê executivo da burguesia”? Não há, porém, conflito entre as duas definições se pensarmos a primeira como mais geral, ou então, como associada ao estado democrático. No sentido mais geral, o estado, a partir da antiguidade, foi sempre a expressão daqueles que têm

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poder na sociedade. Um poder que, dialeticamente, acaba tendo também origem no próprio estado, mas cuja origem principal deve ser pensada externamente. Na antiguidade, aqueles que na sociedade controlavam a força, a religião e a tradição constituíam uma oligarquia que dominava o estado.

Na primeira forma de estado capitalista, o Estado Liberal – o estado que Marx conheceu e viveu – o poder ainda estará nas mãos da aristocracia, mas está sendo transferido celeremente para a burguesia. Já no Estado Democrático dos nossos dias, a classe profissional e também a classe trabalhadora também partilham do poder. Podemos, assim, pensar em uma nação ou em uma sociedade civil mais ou menos democrática, e quanto mais democrática for, mais democrático será o respectivo estado. Enquanto em um estado democrático todos os cidadãos são iguais perante a lei, a sociedade civil ou a nação será tanto mais democrática quanto menores forem as diferenças de poder real dos seus membros – quanto menores forem as diferenças decor-rentes do dinheiro, do conhecimento, e mesmo da capacidade de organização ou mobilização social. O estado-nação é a unidade político-territorial própria do capitalismo. Embora tenha na-turalmente pontos de contacto com o império pré-capitalista, dele diferencia-se essencialmen-te porque a nação busca, no seu território, se constituir em uma sociedade nacional integrada e voltada para o desenvolvimento econômico, enquanto que as oligarquias dominantes nos im-périos não sabem o que seja o desenvolvimento econômico, e não buscam integrar econômi-ca e culturalmente suas colônias das quais apenas exigem o pagamento de impostos (Gellner, 1983).

Uma das razões pelas quais podemos ver a globalização como o estágio atual e, portanto, mais avançado do capitalismo, é o fato de que neste início de século XXI o globo terrestre está, pela primeira vez, totalmente coberto por estados-nação. Neste breve esforço de definir palavras, temos ainda que definir desenvolvimento econômico, mercado e dinheiro. O desenvolvimento econômico é o processo de crescimento continuado da produtividade, da renda por habitante, e dos salários dos trabalhadores que ocorre a partir da Revolução Capitalista em conseqüência do aumento do nível de educação, da acumulação de capital e do progresso técnico. Para que o desenvolvimento econômico se desencadeie, supõe-se a existência de uma acumulação origi-nal promovida pelo estado em benefício seja de uma burguesia mercantil, seja de uma burocra-cia, cujos representantes bem sucedidos se transformam em empresários capitalistas. E supõe também um razoável grau de desenvolvimento do mercado e do dinheiro nessa sociedade. O mercado é a instituição e o mecanismo que, através da competição, coordena a divisão do tra-balho e a alocação dos recursos produtivos.

Os mercados existiram antes dos estados nacionais, mas os mercados modernos são social-mente construídos: são organizados e regulados pelos estados-nação a nível nacional e inter-nacional. O dinheiro, finalmente, é a instituição que serve de meio de troca e reserva de valor para que o mercado possa funcionar. Nesse quadro, o estado é a matriz das demais instituições formais de um estado-nação, e, portanto, do sistema constitucional-legal ou da ordem jurídica, ao mesmo tempo em que se constitui nesse próprio sistema constitucional-legal. É a matriz, mas, ao contrário do que pode parecer, não é o agente principal. Este papel também não cabe ao indivíduo, como pretende um certo tipo de teoria liberal, nem cabe ao povo em que todos são iguais como a ficção democrática afirma (Rosanvallon), mas à nação ou à sociedade civil na qual os poderes são diferenciados e ponderados. Ao invés de agente, o estado é o instrumento da sociedade nacional na busca dos seus objetivos políticos. Já os mercados e o dinheiro são as duas principais instituições econômicas que viabilizam o objetivo econômico das nações – o desenvolvimento econômico – são instituições reguladas pelo estado a serviço advocacia ou

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controle político são, sem dúvida, importantes em ampliar a democratização da 6 da nação. Portanto, quando se fala em capitalismo, em nação e em estado-nação, em estado e em mer-cado, não se está falando de instituições concorrentes, mas de instituições complementares voltadas para os objetivos políticos das sociedades modernas.

As três revoluções capitalistas

Para que a Revolução Capitalista pudesse se desencadear, a partir do século XII, na Europa, foi necessário que primeiro houvesse uma transformação técnica fundamental da agricultura, que, até o século XI, estava limitada quase exclusivamente a terras de aluvião; foi o uso de ara-dos com lâminas de ferro e outras ferramentas capazes de cortar terras duras que viabilizou a exploração das terras altas e férteis da Europa (Landes, 1999: 41). Só graças a esse progresso técnico decisivo foi possível produzir o excedente econômico necessário para que trabalhado-res pudessem ser transferidos para o comércio e a indústria – e também para que pudessem ser construídas as grandes catedrais góticas, quase todas datadas do século XII. Celso Furtado (1961), usando com liberdade conceitos de Marx e de Weber, propôs que a idéia do desenvol-vimento econômico se constituiu em dois momentos históricos e está intimamente relacionada com o processo de racionalização que caracterizará o mundo moderno.

Em um primeiro momento, a racionalidade se revela pelo objetivo econômico definido com clareza (o lucro), e pela adoção da acumulação de capital como meio de atingi-lo. O excedente originado do aumento da produtividade agrícola foi inicialmente investido em catedrais, palá-cios, e no comércio de bens de luxo, que deu origem à Revolução Comercial e ao surgimento das cidades-estado burguesas do Norte da Itália, da Alemanha e dos Países Baixos.

Em um segundo momento, com a Revolução Industrial, a racionalidade se expressa em um meio mais especificamente lógico de alcançar o lucro além da acumulação de capital: a incor-poração de progresso técnico, que, devido à sua própria aceleração e à competição crescente, tornava-se condição de sobrevivência das empresas. Em outras palavras, o que hoje chamamos de desenvolvimento econômico configurava-se pela primeira vez historicamente. E definia-se a estratégia principal para alcançá-lo: o investimento inovador. Entretanto, nessa análise his-tórica faltava uma terceira transformação fundamental que ocorreu entre as duas citadas ou conjuntamente com a Revolução Nacional, ou seja, a formação dos estados nacionais. É a partir do momento em que as nações se dotam de sociedade civil. estados e formam estados-nação que o desenvolvimento econômico se viabiliza. Enquanto os impérios eram a forma por exce-lência de organização política territorial da antiguidade, os estados-nação o serão nos tempos modernos ou capitalistas. Enquanto o poder imperial limitava-se a cobrar impostos da colônia, deixando intactas sua organização econômica e sua cultura, os estados-nação estão diretamen-te envolvidos na competição internacional por maior poder e maiores taxas de crescimento. Para isso, buscam homogeneizar sua cultura, dotando-se de uma língua comum, para, através da educação pública, poder garantir que padrões crescentes de produtividade sejam compar-tilhados por toda a população (Gellner, 1993); e os respectivos governos passam a ser os con-dutores do processo de desenvolvimento econômico através da definição de instituições que estimulem o investimento, da adoção de políticas macroeconômica que garantam a estabilida-de de preços, taxas de juros moderadas e taxas de câmbio competitivas, e de políticas indus-triais que favoreçam as empresas nacionais na concorrência internacional. Através do demora-do processo de institucionalização política e econômica que é o da formação do estado-nação, empresários, burocratas do estado e políticos assumem o papel de grupos sociais chave no

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processo da definição de estratégias nacionais de desenvolvimento. Ao nível das empresas, são os empresários que irão fazer a diferença através da atividade inovadora (Schumpeter, 1911).

Empresários, políticos, classe profissional pública e privada, e trabalhadores formam a nação – a sociedade politicamente orientada que compartilha um destino comum – que, ao se dotar de um estado e de um território, forma o estado-nação. A constituição dos estados nacionais e, portanto, de mercados seguros para os empresários investirem na indústria foi, por sua vez, a condição da revolução industrial, inicialmente na Inglaterra e na França e, depois, nos Esta-dos Unidos. A industrialização se confunde então com o próprio desenvolvimento econômico na medida em que será a forma pela qual as sociedades aumentarão decisivamente seu va-lor adicionado per capita transferindo mão-de-obra da agricultura. Para que a industrialização ocorresse, não bastava que a região estivesse organizada em cidades-estado burguesas, como era próprio do comércio de longa distância que prosperou durante a revolução comercial; foi necessária a formação concomitante dos grandes estados-nação com seus grandes mercados nacionais. Formados os modernos estados-nação, seus respectivos estados ou regimes políti-cos assumiram, sucessivamente, três grandes formas históricas. Em uma primeira fase, no Es-tado Absoluto, os governos estavam formando seus estados nacionais; estavam, 8 portanto, voltados principalmente para a defesa contra o inimigo externo e a manutenção da ordem. Mas mesmo nessa época a preocupação com a economia por parte dos grandes reis mercan-tilistas foi decisiva para o desenvolvimento econômico dos seus países. Em seguida, quando aqueles objetivos começaram a ser razoavelmente assegurados nos países mais avançados em sua Revolução Capitalista, a nova classe burguesa logra que o estado deixe de ser aristocrático e absoluto, e entramos na fase do Estado Liberal que garante os direitos civis ou as liberdades; estávamos então no século XIX, quando se falava insistentemente em retirar o estado da eco-nomia, mas este continuava a ter um papel chave no desenvolvimento econômico.

No século XX, quando os pobres e as classes médias finalmente conquistam a democracia, o desenvolvimento econômico e o princípio do império da lei continuam centrais, mas agora de-fine-se uma nova forma de estado, o Estado Democrático e Social que, de um lado, garante o direito de votar e ser eleito e, de outro, passa a ter como objetivo político adicional uma dis-tribuição de renda mais eqüitativa. O estado que Marx conheceu – o Estado Liberal do século XIX – era, sob muitos aspectos, “o comitê executivo da burguesia”. No século XX já não é mais. O estado, seu aparelho e sua ordem jurídica não são mais a simples forma de exercício do po-der pelas classes dirigentes; são também instrumentos de emancipação social (Sousa Santos, 2004). Cabe ao estado e a seu governo, em cada momento, estabelecer o delicado equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a distribuição de renda, entre lucros e salários, entre in-vestimentos e despesas sociais. São alternativas não excludentes, que muitas vezes se somam, mas que, com a mesma freqüência, se opõem.

As três revoluções da Revolução Capitalista darão origem às economias capitalistas ou econo-mias de mercado. Os mercados que antes eram locais transformam-se em mercados nacionais, e pouco a pouco começam a ganhar caráter internacional. Conforme assinala Polanyi (1944), não houve nada de natural na passagem dos mercados locais para os nacionais: essa transição ocorreu como o resultado de estratégias políticas nacionais que de um lado institucionalizaram a competição, mostrando o caráter socialmente construído dos mercados, e de outro levaram à formação dos modernos estados-nação. Através da definição de fronteiras seguras, os esta-dos nacionais modernos estavam criando as condições necessárias para que uma burguesia industrial originária da burguesia comercial se constituísse a partir da revolução industrial in-glesa, e passasse a investir e incorporar progresso técnico de forma sistemática e competitiva

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ao trabalho e aos meios de produção. Os antigos comerciantes investiam no mercado de longa distância, mas a riqueza que daí provinha era eminentemente instável. Em seguida eles come-çam a investir em manufaturas, mas seu investimento era ainda limitado, continuando a produ-ção a se organizar de forma tradicional, e os mercados a serem ainda essencialmente de longa distância. Já o investimento na indústria, que ocorre a partir da revolução industrial, envolvia custos pesados que só podiam se justificar no quadro de um grande mercado assegurado pelo respectivo estado-nação. Daí o interesse das burguesias em se associar aos monarcas absolutos na constituição dos primeiros estados-nação.

O desenvolvimento econômico é assim um fenômeno histórico que ocorre no quadro da Re-volução Capitalista, relacionado, de um lado, com o surgimento das nações e a formação dos estados-nação, e, de outro, com a acumulação de capital e a incorporação de progresso técnico ao trabalho e ao próprio capital. Seus benefícios são imediatamente reconhecidos, primeiro pela própria burguesia, que é inicialmente a maior beneficiada; em um segundo momento, já no século XX, quando a produção deixa de se realizar principalmente em unidades familiares para se realizar em organizações empresariais, a importância do desenvolvimento econômico é aceita pela nova classe profissional que surge então; e finalmente, quando os regimes demo-cráticos, ainda nesse século, começam a se consolidar e ganhar substância, o desenvolvimento econômico passa a ser também um objetivo dos trabalhadores na medida em que passam tam-bém a participar do excedente econômico produzido.

Cinco ideologias

A experiência histórica demonstra, portanto, que, para que um país possa se desenvolver, para que possa haver uma estratégia nacional de desenvolvimento, é essencial que haja uma nação forte apoiada em um grande acordo entre as classes sociais quando se trata de competir inter-nacionalmente. A Revolução Capitalista deu origem a três novas classes sociais: em um primei-ro momento – aquele que Marx conheceu – deu origem à burguesia e aos trabalhadores assa-lariados, e depois, já no século XX, à classe profissional ou tecnoburocrática. De acordo com a perspectiva marxista, a burguesia torna-se a classe dominante e dirigente, em substituição à aristocracia;. Na verdade, pouco depois deste fato acontecer, a produção deixa de ser familiar para se realizar em grandes organizações burocráticas, e surge assim, ao nível do aparelho do estado e da sociedade, uma nova classe político-burocrática – a classe profissional – com a qual a burguesia terá que crescentemente dividir poder e privilégio. Essas três classes e suas elites estão engajadas 10 permanentemente dentro de cada estado-nação em um processo dialético de conflito e cooperação, no qual as ideologias desempenham papel central. O conflito se dá pela distribuição da renda nacional; já a cooperação está referida principalmente à competição internacional. O conflito de classes é inerente ao desenvolvimento econômico, como o é tam-bém a solidariedade social na construção da nação.

O conflito está limitado, de um lado, pela necessidade de uma taxa de lucro satisfatória e razo-avelmente segura para os empresários, e, de outro, pela lógica do crescimento dos salários de forma proporcional ao aumento da produtividade. Embora divididos entre direita e esquerda, entre capitalistas e socialistas, a cooperação entre os cidadãos será essencial para que possam atingir os objetivos políticos comuns de segurança, liberdade, desenvolvimento econômico, justiça social e proteção do meio-ambiente. É a cooperação ou a solidariedade que define uma nação e permite que ela seja bem sucedida na competição internacional inerente ao sistema capitalista. A Revolução Capitalista deu origem também a cinco grandes ideologias ao mesmo

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tempo complementares e contraditórias: o liberalismo – a ideologia burguesa das liberdades de comercializar e de não ser molestado em sua autonomia individual –, o nacionalismo – a ideologia também burguesa da formação do estado-nação e do desenvolvimento econômico –, o socialismo – a ideologia trabalhadora e das camadas média da justiça social –, o eficien-tismo – a ideologia tecnoburocrática da racionalidade instrumental –, e, mais recentemente, o ambientalismo. Enquanto as sociedades agrárias eram coordenadas pelas instituições e pelo poder político, as sociedades capitalistas que nascem do desenvolvimento econômico são tam-bém, e principalmente, coordenadas pelo mercado. Por isso, para os antigos a sociedade tinha precedência sobre o indivíduo, enquanto que para os modernos o indivíduo tem a precedência. Essa precedência se expressou na primeira ideologia moderna surgida, ainda no século XVII – o liberalismo –, que inicialmente é uma ideologia burguesa, mas aos poucos, através do avan-ço da democracia, ganha maior amplitude social. Ao mesmo tempo, ainda no mercantilismo e principalmente durante a Revolução Industrial, quando o fenômeno do desenvolvimento econômico realmente ganha significado histórico, surge uma segunda ideologia capitalista – o nacionalismo – para que o estado-nação pudesse definir uma estratégia nacional de desen-volvimento ou de competição. O socialismo, por sua vez, nasce também do capitalismo, já em meados do século XIX, como ideologia dos trabalhadores, indignados com a desigualdade a que estavam submetidos, e se expressa nos direitos sociais.

O eficientismo é mais recente: é uma ideologia do século XX, quando a classe profissional ga-nha força na medida em que a produção deixa de se realizar em unidades familiares para ocor-rer em grandes organizações empresariais e públicas. É nesse momento que o fator estratégico de produção começa a passar do capital para o conhecimento – e que o conhecimento ganha caráter instrumental: visa principalmente aumentar a eficiência e a produtividade. Finalmente, na segunda metade do século XX surgirá a última grande ideologia do capitalismo – o ambien-talismo – para por um freio aos excessos contra a natureza que o desenvolvimento econômi-co anterior havia causado. Todas essas ideologias estão relacionadas com o desenvolvimento econômico, mas as duas diretamente e positivamente relacionadas com ele são o eficientismo e o nacionalismo. Sobre o eficientismo – palavra que não consta da linguagem usual – não há muito o que falar. É hoje uma ideologia extremamente difundida que tem como arautos os economistas e os administradores – ou, mais amplamente, a classe profissional ou tecnoburo-crática cujo poder deriva do pressuposto de que é ela que é capaz de racionalizar os processos produtivos. O nacionalismo, embora identificado originalmente com a burguesia, porque foi essa a classe que desempenhou o papel decisivo na formação dos estados-nação, é quase por definição uma ideologia de todos os cidadãos porque cimenta, dá coesão ou solidariedade à nação. O nacionalismo, como o republicanismo, é uma manifestação da unidade da sociedade, da sua existência não como soma de partes, mas como um todo, não como mero fruto de agên-cias individuais, mas ela própria ator social; o nacionalismo ou o patriotismo é a ideologia que une as classes, que as torna solidárias na competição internacional. Das cinco ideologias, entre-tanto, é a única que não é universal; que é limitada a cada nação. A radicalização de qualquer dessas ideologias traz conseqüências terríveis, mas as mais violentas são as do nacionalismo.

Guerras, genocídios têm sempre origem no nacionalismo. Entretanto, os cidadãos de todos os grandes estados-nação mais desenvolvidos são essencialmente nacionalistas: entendem que seu governo deve defender os interesses do trabalho, do capital e do conhecimento nacional, ou, em outras palavras, estão identificados com os interesses nacionais. Esse nacionalismo, se for liberal, social, e principalmente democrático – como geralmente é nesses países – terá um papel fundamental no processo de desenvolvimento econômico, político e social, porque joga um papel central na grande competição internacional que é o desenvolvimento capitalista.

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Nações sem Estado

Uma nação sem país é um grupo, geralmente um grupo étnico minoritário no interior de um ou mais países, que almeja constituir o seu próprio Estado, especificamente um Estado-nação. Uma vez que não existem critérios objetivos para determinar se um grupo particular é uma na-ção ou se faz parte de um Estado multicultural, o uso do termo é político e controverso, sendo normalmente usado por movimentos separatistas. Muitas vezes, os defensores do separatismo veem o Estado do qual fazem parte como uma forma de Império e seu domínio como imperia-lismo. Eles geralmente rejeitam o princípio de um Estado multiétnico, especialmente nos casos em que um grupo étnico busca a soberania.

Nem todas as minorias declaram-se como "sem Estado", mesmo quando elas afirmam ser uma nacionalidade à parte. Os Estados podem reconhecer os grupos étnicos minoritários e as nacio-nalidades em diferentes graus: reconhecimento específico de direitos culturais e linguísticos, e permissão de certa autonomia político-administrativa. Por exemplo, o Conselho da Europa es-tabeleceu desde 1992 a "Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias" para proteger alguns direitos linguísticos e culturais específicos.

Entre as principais nações sem Estado estão:

Curdos:

Essa é maior nação sem Estado do mundo. A população de origem curda soma mais de 26 milhões de pessoas, que estão distribuídas nos territórios da Armênia, Azerbaijão, Irã, Iraque, Síria e Turquia, que abriga mais de 14 milhões. Os curdos reivindicam a criação de um Estado próprio (entre o norte do Iraque, oeste da Turquia e noroeste do Irã), denominado Curdistão.

Palestinos:

Os Palestinos ocupam uma área do Oriente Médio. Essa nação, formada por mais de 7 milhões de pessoas, reivindica a criação do Estado Palestino, além da reincorporação de terras ocupa-das por Israel. Os constantes conflitos envolvendo árabes e israelenses provocaram grandes fluxos migratórios de palestinos para o Líbano, Síria, Egito e Jordânia, fato que enfraqueceu a luta pela formação do Estado Palestino. No entanto, a OLP (Organização para Libertação da Pa-lestina) continua lutando pela autonomia política e territorial dessa grande nação.

Tibetanos:

Formada por aproximadamente 6 milhões de pessoas, a nação tibetana, de tradição budista, solicita a criação de um Estado próprio em uma região dominada pelos chineses. A China opri-me de forma violenta os movimentos separatistas no Tibete, além de estimular a emigração de chineses para essa região com o intuito de enfraquecer a cultura local.

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Bascos:

Com mais de 2,3 milhões de pessoas, a nação basca está presente na porção norte da Espanha e no sul da França. Esse grupo ocupa essa região há mais de seis mil anos, possuindo língua e cultura própria. O grupo ETA (Pátria Basca e Liberdade) realizou vários atentados terroristas como forma de pressão ao governo espanhol para reconhecer a autonomia do País Basco.

Chechenos:

Majoritariamente mulçumanos, o 1,2 milhão de chechenos vivem nas montanhas do Cáucaso, que é território da Federação Russa. Com a desintegração da União das Republicas Socialistas Soviéticas, a Chechênia declarou independência em 1991, entretanto, não foi reconhecida pe-los russos, que oprimiram a população local de forma violenta, realizando massacres, estupros e torturas.

Caxemires:

Habitada por 5 milhões de pessoas (4 milhões de muçulmanos e 1 milhão de hinduístas), essa região é dominada pela Índia, Paquistão e China. A maioria dos habitantes (muçulmanos) soli-cita que o território seja anexado ao Paquistão, no entanto, os hinduístas são totalmente con-trários a tal fato.

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Atualidades

POLÍTICA INTERNACIONAL

Como funciona a ONU

https://nacoesunidas.org/conheca/como-funciona/#verticalTab2

Quando a ONU foi fundada, em 24 de outubro de 1945, ficou definido, na Carta da ONU que para seu melhor funcionamento seus membros, vindos de todos os cantos do planeta se comunicariam em seis idiomas oficiais: inglês, francês, espanhol, árabe, chinês e russo.

O orçamento regular da ONU para o biênio 2012/13 é de 5,152 bilhões de dólares e é financiado por todos os Estados-membros da Organização – dependendo da riqueza e do desenvolvimento de cada país.

De acordo com a Carta, a ONU, para que pudesse atender seus múltiplos mandatos, teria seis órgãos principais, a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, a Corte Internacional de Justiça e o Secretariado.

O Conselho de Tutela

Segundo a Carta, cabia ao Conselho de Tutela a supervisão da administração dos territórios sob regime de tutela internacional. As principais metas desse regime de tutela consistiam em promover o progresso dos habitantes dos territórios e desenvolver condições para a progressiva independência e estabelecimento de um governo próprio.

Os objetivos do Conselho de Tutela foram tão amplamente atingidos que os territórios inicialmente sob esse regime – em sua maioria países da África – alcançaram, ao longo dos últimos anos, sua independência. Tanto assim que em 19 de novembro de 1994, o Conselho de Tutela suspendeu suas atividades, após quase meio século de luta em favor da autodeterminação dos povos. A decisão foi tomada após o encerramento do acordo de tutela sobre o território de Palau, no Pacífico. Palau, último território do mundo que ainda era tutelado pela ONU, tornou-se então um Estado soberano, membro das Nações Unidas.

Confira os órgãos principais da ONU em funcionamento:

O Secretariado

O Secretariado presta serviço a outros órgãos das Nações Unidas e administra os programas e políticas que elaboram. Seu chefe é o secretário-geral, que é nomeado pela Assembleia Geral,

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seguindo recomendação do Conselho de Segurança. Cerca de 16 mil pessoas trabalham para o Secretariado nos mais diversos lugares do mundo.

Principais funções

• Administrar as forças de paz;

• Analisar problemas econômicos e sociais;

• Preparar relatórios sobre meio ambiente ou direitos humanos;

• Sensibilizar a opinião pública internacional sobre o trabalho da ONU;

• Organizar conferências internacionais;

• Traduzir todos os documentos oficiais da ONU nas seis línguas oficiais da Organização.

A Corte Internacional de Justiça

A Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia (Holanda), é o principal órgão judiciário das Nações Unidas. Todos os países que fazem parte do Estatuto da Corte – que é parte da Carta das Nações Unidas – podem recorrer a ela. Somente países, nunca indivíduos, podem pedir pareceres à Corte Internacional de Justiça.

Além disso, a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança podem solicitar à Corte pareceres sobre quaisquer questões jurídicas, assim como os outros órgãos das Nações Unidas.

A Corte Internacional de Justiça se compõe de quinze juízes chamados “membros” da Corte. São eleitos pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança em escrutínios separados.

O Conselho Econômico e Social

O Conselho Econômico e Social (ECOSOC) é o órgão coordenador do trabalho econômico e social da ONU, das Agências Especializadas e das demais instituições integrantes do Sistema das Nações Unidas.

O Conselho formula recomendações e inicia atividades relacionadas com o desenvolvimento, comércio internacional, industrialização, recursos naturais, direitos humanos, condição da mulher, população, ciência e tecnologia, prevenção do crime, bem-estar social e muitas outras questões econômicas e sociais.

Principais funções

• Coordenar o trabalho econômico e social da ONU e das instituições e organismos especializados do Sistema;

• Colaborar com os programas da ONU;

• Desenvolver pesquisas e relatórios sobre questões econômicas e sociais;

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• Promover o respeito aos direitos humanos e as liberdades fundamentais.

O Conselho de Segurança

O Conselho de Segurança é o órgão da ONU responsável pela paz e segurança internacionais.

Ele é formado por 15 membros: cinco permanentes, que possuem o direito a veto – Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e China – e dez membros não-permanentes, eleitos pela Assembleia Geral por dois anos.

Este é o único órgão da ONU que tem poder decisório, isto é, todos os membros das Nações Unidas devem aceitar e cumprir as decisões do Conselho.

Principais funções

• Manter a paz e a segurança internacional;

• Determinar a criação, continuação e encerramento das Missões de Paz, de acordo com os Capítulos VI, VII e VIII da Carta;

• Investigar toda situação que possa vir a se transformar em um conflito internacional;

• Recomendar métodos de diálogo entre os países;

• Elaborar planos de regulamentação de armamentos;

• Determinar se existe uma ameaça para o paz;

• Solicitar aos países que apliquem sanções econômicas e outras medidas para impedir ou deter alguma agressão;

• Recomendar o ingresso de novos membros na ONU;

• Recomendar para a Assembleia Geral a eleição de um novo Secretário-Geral.

A Assembleia Geral

A Assembleia Geral da ONU é o principal órgão deliberativo da ONU. É lá que todos os Estados-Membros da Organização (193 países) se reúnem para discutir os assuntos que afetam a vida de todos os habitantes do planeta. Na Assembleia Geral, todos os países têm direito a um voto, ou seja, existe total igualdade entre todos seus membros.

Assuntos em pauta: paz e segurança, aprovação de novos membros, questões de orçamento, desarmamento, cooperação internacional em todas as áreas, direitos humanos, etc. As resoluções – votadas e aprovadas – da Assembleia Geral funcionam como recomendações e não são obrigatórias.

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Principais funções

• Discutir e fazer recomendações sobre todos os assuntos em pauta na ONU;

• Discutir questões ligadas a conflitos militares – com exceção daqueles na pauta do Conselho de Segurança;

• Discutir formas e meios para melhorar as condições de vida das crianças, dos jovens e das mulheres;

• Discutir assuntos ligados ao desenvolvimento sustentável, meio ambiente e direitos humanos;

• Decidir as contribuições dos Estados-Membros e como estas contribuições devem ser gastas;

• Eleger os novos Secretários-Gerais da Organização.

Agência da ONU diz que 20 milhões podem morrer de fome na Áfricahttp://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2017-04/jose-graziano-diz-que-20-milhoes-podem-morrer-

de-fome-na-africa

O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva, afirmou que "se nada for feito" pela comunidade internacional nos próximos seis meses, cerca de 20 milhões de pessoas podem morrer de fome nos próximos seis meses em quatro países africanos: Iêmen, Nigéria, Somália e Sudão do Sul. As informações são da ONU News.

Ele fez a declaração na abertura da reunião do Conselho da FAO nesta segunda-feira (24), em Roma. Segundo Graziano , é necessária uma ação urgente, pois "a fome não apenas mata pessoas, mas contribui para a instabilidade social, e perpetua um ciclo de pobreza e a dependência de ajuda que perdura décadas".

No encontro da agência da ONU, que vai durar duas semanas, os membros do Conselho da FAO serão informados sobre a extensão das crises de fome e as medidas que devem ser adotadas para prevenir essa catástrofe.

Agenda 2030

Segundo as Nações Unidas, a comida e a agricultura são pontos centrais para se alcançar a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável proposta pela ONU. O trabalho da FAO deve contribuir para se atingir 40 metas que estão em 15 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs).

Os membros do Conselho da FAO vão discutir ainda o programa de trabalho e o orçamento da agência para o biênio 2018-2019.

O orçamento vai priorizar as áreas onde a FAO pode ter maior impacto para atingir as metas da Agenda 2030, incluindo mitigação aos efeitos da mudança climática e produção agrícola

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sustentável. Ainda na lista estão a gestão para combater a escassez de água e a implementação de programas de resiliência para famílias de agricultores mais pobres.

Número de pobres no Brasil terá aumento de no mínimo 2,5 milhões em 2017

https://nacoesunidas.org/numero-de-pobres-no-brasil-tera-aumento-de-no-minimo-25-milhoes-em-2017-aponta-banco-mundial/

Até o final de 2017, o Brasil deverá testemunhar um aumento de 2,5 milhões até 3,6 milhões no número de pessoas vivendo na miséria. Resultado da prolongada crise econômica, a estimativa foi divulgada neste mês pelo Banco Mundial, que sugeriu um aumento do orçamento do Bolsa Família para atender os “novos pobres”. Em média, esses brasileiros têm menos de 40 anos, moram nas zonas urbanas, concluíram pelo menos o Ensino Médio e estavam empregados em 2015, sobretudo no setor de serviços.

Até o final de 2017, o Brasil deverá testemunhar um aumento de 2,5 milhões até 3,6 milhões no número de pessoas vivendo na miséria. Resultado da prolongada crise econômica, a estimativa foi divulgada neste mês pelo Banco Mundial.

O organismo financeiro traça um perfil desses “novos pobres” — em média, brasileiros com menos de 40 anos, moradores de zonas urbanas, que concluíram pelo menos o Ensino Médio e estavam empregados em 2015, sobretudo no setor de serviços.

Para mitigar os impactos da recessão sobre a população, o Banco Mundial recomenda a expansão do Bolsa Família, que deverá ter seu orçamento ampliado para 30,7 bilhões de reais em 2017, caso o governo queira cobrir os “novos pobres” com a proteção social.

Isso evitaria que a miséria atingisse valores acima do patamar de 2015, quando a tendência decrescente da pobreza foi revertida após uma década de queda ininterrupta. Em 2014, a pobreza e a pobreza extrema no Brasil eram estimadas em 7,4% e 2,8%, respectivamente. No ano seguinte, os valores registraram um salto para 8,7% e 3,4%.

O incremento no Bolsa Família sugerido pelo Banco Mundial representa um acréscimo de cerca de 900 milhões de reais na verba prevista para o programa pela lei orçamentária de 2017.

O aumento na pobreza para este ano foi calculado com base em variações distintas de índices macroeconômicos. No cenário mais otimista, o Banco Mundial estima uma retomada do crescimento econômico, com um modesto saldo positivo — de 0,5% — para o Produto Interno Bruto (PIB). O desemprego continuaria em ascensão, chegando aos 11,8%, valor 0,6% mais alto do que a taxa de desocupação no ano passado.

Na previsão mais pessimista, o Brasil continuará em recessão, com o PIB registrando contração de 1%. O desemprego alcançaria os 13,3%.

Nas melhores circunstâncias, o número de pessoas moderadamente pobres atingirá os 19,8 milhões (9,8% da população), incluindo os que viverão na miséria extrema — cerca de 8,5 milhões de indivíduos (4,2%) em 2017. A linha de pobreza utilizada para os cálculos foi estipulada como 140 reais per capita por mês.

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No pior cenário, a pobreza chega a 10,3% — 20,8 milhões de brasileiros — e a pobreza extrema alcançará os 4,6% — 9,3 milhões. Em 2016, a miséria extrema havia sido calculada em 3,4%.

Caso os investimentos no Bolsa Família sejam realizados, a proteção social poderia frear o crescimento da miséria extrema, que alcançaria 3,5% e 3,6% nas simulações mais otimista e mais pessimista, respectivamente. Os valores ficariam bem próximos aos verificados em 2015.

Desemprego, pobreza e redistribuição de renda

O Banco Mundial lembra que mais de 28,6 milhões de brasileiros saíram da pobreza entre 2004 e 2014. O número representa quase metade da redução da miséria na América Latina e Caribe verificada no mesmo período. Os avanços foram possíveis pelo crescimento econômico, que gerou novas oportunidades de emprego, sobretudo no setor de serviços, e também por programas como o Bolsa Família.

Segundo o organismo financeiro, o Brasil se assemelha a outros países de renda média, onde os rendimentos do trabalho representam a maior fatia da renda para os 40% mais pobres da população. Para a maior parte desse segmento, a prosperidade depende do trabalho formal. Isso significa que o aumento do desemprego por conta da recessão põe em risco as conquistas do país no combate à miséria.

Em 2015, a recessão provocou o fechamento de 1,6 milhão de postos formais, causando um aumento no nível de desemprego, que saltou de 4,3% em dezembro de 2014 para 11,8% em outubro de 2016. O Banco Mundial aponta ainda que os salários reais também vêm sofrendo contração, com queda de 4,2% em 2015. Neste ano, o PIB registrou uma contração de 5,8%.

Para a fatia da população vivendo em pobreza extrema, porém, foram os programas de transferência de renda que reduziram o nível de miséria. Cinquenta e oito por cento da queda na pobreza extrema no Brasil registrada entre 2004 e 2014 está associada a mudanças nos rendimentos de fontes que não incluíam o trabalho, como o Bolsa Família.

Quem são os ‘novos pobres’?

Mapeando o perfil dos chefes das famílias de “novos pobres”, o Banco Mundial aponta que esses brasileiros não eram miseráveis em 2015. Eles têm nível de qualificação — 38,2% concluíram pelo menos o Ensino Médio — muito próximo ao da camada de não pobres, dos quais 41,3% têm, no mínimo, escolaridade média. Os “novos pobres” tinham trabalho dois anos atrás, mas entraram para as estatísticas dos desempregados.

O nível da formação revelado pelo Banco Mundial distancia os dois segmentos dos considerados estruturalmente pobres, brasileiros que já eram pobres em 2015 e continuarão vivendo na miséria. Entre esses, apenas 17,5% terminou o Ensino Médio e 63,7% vivem no campo. Quase 90% dos “novos pobres” vivem em zonas urbanas.

Dos que chegarão à linha da pobreza em 2017, 33,5% são brancos, em comparação aos 24,2% dos brancos descritos como vítimas estruturais da desigualdade.

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Outra informação calculada pelo organismo financeiro é a faixa etária dos chefes das famílias dos “novos pobres”. Eles têm em média 37,9 anos, enquanto, entre os estruturalmente pobres, a média sobre para 41 anos. No grupo de não pobres, a idade chega a 50,4.

De acordo com o organismo financeiro, a profundidade e duração da atual crise econômica no Brasil podem ser vistos como uma oportunidade para que o governo amplie o papel do Bolsa Família — que passaria de um eficaz programa de redistribuição de renda para uma verdadeira rede de proteção, flexível o suficiente para expandir a cobertura aos domicílios dos “novos pobres”.

Donald Trump vence Hillary Clinton e é eleito presidente dos EUAhttp://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-eua/2016/noticia/2016/11/donald-trump-vence-hillary-clinton-e-e-

eleito-presidente-dos-eua.html

Quando entrou o número de delegados do estado de Wisconsin na conta da AP, Trump alcançou 276 delegados, ultrapassando o limite de 270 necessários para ser o vencedor no Colégio Eleitoral. A imprensa americana informou minutos depois que Hillary ligou para o rival e admitiu a derrota. "Eu a cumprimentei pela campanha muito disputada", disse Trump em seguida, em seu discurso da vitória.

Ao falar aos seus simpatizantes, Trump defendeu a união do país após a disputa eleitoral, ao afirmar que será presidente para "todos os americanos".

"Todos os americanos terão a oportunidade de perceber seu potencial. Os homens e mulheres esquecidos de nosso país não serão mais esquecidos", discursou. Trump disse ainda que o plano do país deve ser refeito. "Vamos sonhar com coisas para nosso país, coisas bonitas e de sucesso novamente."

Disputa

A democrata Hillary, de 69 anos, e o republicano Trump, de 70, protagonizaram uma disputada e agressiva campanha de quase dois anos, marcada por ofensas e ataques pessoais.

Durante a noite, enquanto a apuração avançava, Trump conquistou vitórias surpreendentes sobre Hillary em estados-chave para a definição, abrindo o caminho para a Casa Branca e abalando os mercados globais que contavam com uma vitória da democrata.

A maré começou a virar a favor de Trump após as vitórias na Flórida, Carolina do Norte, Ohio e Iowa. Além disso, contrariando sondagens e projeções, Michigan, Wisconsin e Pensilvânia votaram em um republicano pela primeira vez desde os anos 1980.

Os democratas contavam com votos dos estados do Centro-Oeste, por causa do tradicional apoio dos negros e dos trabalhadores brancos. Mas muitos dos brancos dessa região, especialmente sem formação universitária, decidiram votar em Trump. A importância dessa classe para os democratas tinha sido subestimada em projeções feitas antes do pleito, segundo o jornal "The New York Times". Analistas dizem o apoio desses trabalhadores a Obama já tinha sido menor em 2012, principalmente pelo receio de perder o emprego para outros países.

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Os trabalhadores rurais de estados centrais e do Norte também escolheram em peso o republicano e fizeram diferença no resultado.

A demora na definição de alguns estados, onde os números de Hillary e Trump ficaram muito próximos, fez com que a primeira projeção sobre sua vitória tenha saído apenas às 5h32, muito mais tarde do que nas eleições anteriores. Em 2012, por exemplo, o resultado já era conhecido antes das 2h30 da quarta.

Entre os estados considerados decisivos para o resultado, Trump conquistou a Flórida, onde Hillary chegou a liderar por uma pequena margem durante grande parte da apuração e onde Obama ganhou em suas duas eleições.

Segundo análise do “New York Times”, o número de votos de eleitores brancos e com maior renda foi suficiente para que ele abrisse uma margem capaz de compensar o eleitorado latino do estado, que em sua grande maioria votou em Hillary.

Já antes de sair a projeção da vitória de Trump, o chefe da campanha de Hillary, John Podesta, disse que ela não falará durante a noite. Ele pediu que os simpatizantes da candidata voltassem para casa.

Com discursos centrados nas frustrações e inseguranças dos americanos num mundo em mutação, Donald Trump tornou-se a voz da mudança para milhões deles.

Trajetória

Nascido em 14 de junho de 1946 no bairro nova-iorquino do Queens, Trump é o quarto dos cinco filhos de Fred Trump, um construtor de origem alemã, e Mary MacLeod, uma dona de casa de procedência escocesa.

Desde criança ele mostrava um comportamento rebelde, tanto que seu pai teve que tirá-lo da escola aos 13 anos, onde havia agredido um professor, e interná-lo na Academia Militar de Nova York, com a esperança de que a disciplina militar corrigisse a atitude de seu filho.

Trump graduou-se em 1964 na academia, onde alcançou a patente de capitão e vislumbrava seu destino: "Um dia, serei muito famoso", comentou então ao cadete Jeff Ortenau.

Em 1968, o hoje magnata formou-se em Economia na Escola Wharton da Universidade da Pensilvânia, e se transformou no favorito para suceder seu pai no comando da empresa familiar, Elisabeth Trump & Son, dedicada ao aluguel de imóveis de classe média nos bairros nova-iorquinos de Brooklyn, Queens e Staten Island.

Trump assumiu em 1971 as rédeas da companhia, rebatizada como The Trump Organization, e se mudou para a Manhattan. Enquanto seu pai construía casas para a classe média, ele optou pelas torres luxuosas, hotéis, casinos e campos de golfe. Trump gosta de dizer que começou seus próprios negócios modestamente, com “um pequeno empréstimo de US$ 1 milhão” de seu pai.

Já nos anos 1980, tinha em construção diversos empreendimentos na cidade, incluindo a Trump tower, o Trump Plaza, além de cassinos em Atlantic City, em Nova Jersey. Casou-se pela primeira vez em 1977, com a modelo tcheca Ivana Zelníčková, com quem tem três filhos, e pela segunda vez em 1993, com a atriz Marla Maples, com quem tem uma filha.

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Em 2011, se casou com sua atual mulher, Melania Knauss, ex-modelo eslovena de 46 anos que cria seu filho Barron, de 10 anos. Ela foi colocada longe dos holofotes durante a campanha. Já seus filhos adultos, Ivanka, Donald Jr., Eric Tiffany participam da corrida eleitoral. Trump tem sete netos.

Na começo da década de 90, três dos seus cassinos entraram em falência por causa de dívidas, na tentativa de reestruturá-las. Em 1996, comprou os direitos dos concursos Miss USA, Miss Universo e Miss Teen, tornando-se seu produtor executivo.

Oito anos mais tarde, tornaria-se figura pública ainda mais conhecida ao virar apresentador do programa “The Apprentice”, em que tinha o poder de demitir os participantes.

Apesar de afirmar ter US$ 10 bilhões, sua fortuna foi estimada em US$ 4,5 bilhões pela Forbes. Em 2014, o Partido Republicano sugeriu que concorresse ao governo de Nova York, mas Trump disse que o cargo não lhe interessava.

Trump mora em um triplex no topo da Torre Trump em Nova York, e viaja em seu Boeing 757 privado, que serve regularmente como pano de fundo para seus comícios.

Cabelo tingido de loiro, impecavelmente vestido, ele fascina e horroriza. Quando uma dúzia de mulheres o acusaram de assédio e gestos sexuais impróprios, ele tratou todas de mentirosas.

Trump não é dos mais fiéis a ideologia: foi democrata até 1987 e, em seguida, republicano (1987-1999), membro do partido da Reforma (1999-2001), democrata (2001-2009), e republicano novamente. Durante a sua carreira foi alvo de dezenas de processos civis relacionados aos seus negócios.

Recusou-se a publicar seu imposto de renda – uma tradição para os candidatos à Casa Branca – e reconheceu que não tinha pago impostos federais durante anos, depois de informar enormes perdas de US$ 916 milhões em 1995. "Isto faz de mim uma pessoa inteligente", disse ele, mais uma vez causando enorme polêmica

Por que Trump demitiu o chefe do FBI?

http://www.bbc.com/portuguese/internacional-39853647

O presidente Donald Trump surpreendeu os americanos na última terça-feira ao anunciar a demissão do chefe do FBI, James Comey.

Em uma nota, a Casa Branca diz que Comey foi afastado do cargo pela forma como lidou com o inquérito conduzido sobre e-mails de Hillary Clinton enviados por uma conta particular durante sua gestão como secretária de Estado americana.

Segundo jornais americanos, Comey, de 56 anos, que estava havia três anos e meio no cargo - em um mandato de 10 anos -, estava conversando com agentes do FBI em Los Angeles quando recebeu a notícia de sua demissão - e deu risada, por achar que fosse um trote.

A notícia também causou surpresa no Congresso, mesmo entre Republicanos, e no próprio FBI.

As justificativas para a demissão, no entanto, causaram desconfiança, em particular na oposição democrata. Muitos suspeitam de que ela poderia estaria ligada a uma investigação - em andamento - do FBI sobre possíveis ligações entre a campanha eleitoral de Trump e a Rússia.

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Enquanto analistas e políticos avaliam a decisão, eis aqui algumas das principais questões que serão possivelmente contempladas.

Seria uma tentativa de acobertar detalhes sobre a ligação de Trump com a Rússia que estaria sendo investigada pelo FBI?

O momento e a forma repentina da demissão de Comey são altamente suspeitos, para dizer o mínimo.

Apenas uma semana atrás, o chefe do FBI falou perante uma comissão do Senado sobre a investigação a respeito da suposta interferência russa na eleição americana - e sobre possíveis laços do país com a campanha de Trump.

Como Trump irá responder a pergunta-chave agora: se a demissão veio por causa do caso de Hillary, por que só agora?

Nesta quinta-feira, estava previsto seu comparecimento no Congresso para discutir "ameaças globais".

Trump tem repetido diversas vezes em sua conta no Twitter que as alegações sobre a Rússia seriam "falsas" e que as investigações seriam uma "piada bancada pelo dinheiro dos contribuintes".

E agora, o homem que comandava a investigação é mandado embora - pelo próprio Donald Trump.

Enquanto a Casa Branca diz que a demissão está ligada à forma como foi conduzida a investigação sobre o servidor dos e-mails de Hillary Clinton, não há muita gente acreditando nessa explicação - especialmente os democratas.

Muitos têm ainda fresco na memória os elogios rasgados feitos por Trump a Comey, poucos dias antes da eleição presidencial, por esta mesma investigação dos emails da candidata democrata.

"Foi preciso coragem ao diretor Comey para tomar essa atitude diante do tipo de oposição que enfrentou...que queria protegê-la (Hillary) de um processo criminal. Ele precisou ter muita coragem", disse Trump em um comício.

Recentemente, no entanto, Donald Trump passou a se incomodar com o chefe do FBI. De acordo com o jornal The New York Times, o presidente estava buscando uma razão para demiti-lo há mais de uma semana.

Se o motivo para isso foi a investigação do e-mail de Hillary Clinton, por que a demissão só veio agora? A resposta de Trump a essa questão pode ser determinante para fazer com que as alegações de acobertamento ganhem força ou - pelo contrário - desapareçam com o tempo.

Comey teria causado a própria demissão?

Pouco depois de o senador democrata Chuck Schumer pedir, em uma coletiva de imprensa convocada às pressas após a demissão de Comey, uma investigação independente sobre as ligações de Trump com a Rússia, a Casa Branca passou a circular uma frase dita pelo senador criticando o chefe do FBI por sua atuação no caso dos e-mails de Hillary Clinton.

"Não tenho mais confiança nele", disse Schumer, em novembro do ano passado.

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Muitos dos mesmos democratas que agora criticam a demissão de Comey tiveram posicionamentos parecidos no passado - que com certeza serão lembrados agora pelos simpatizantes de Trump.

Na carta para comunicar o afastamento de Comey, o procurador-geral Rod Rosenstein disse que os "erros graves" do chefe do FBI no caso de Hillary eram "uma das poucas questões que uniam pessoas de perspectivas diferentes."

De fato, Comey surpreendeu muitos quando, em julho de 2016, anunciou que o FBI não recomendaria acusações criminais contra Hillary apesar de ela ter sido "extremamente descuidada" com um material importante. Pouco mais de uma semana antes da eleição, ele enviou uma carta ao Congresso, dizendo estar reabrindo as investigações sobre os e-mails após novas descobertas.

Ao longo de 2016, Comey conseguiu enfurecer democratas, com sua condução inicial do caso, e depois, irritar republicanos, com sua decisão de não acusá-la, para, em seguida, desagradar novamente os democratas, pelo anúncio feito pouco antes da eleição.

Agora, pesam as críticas ligadas à investigação das ligações entre a campanha de Trump e a Rússia - primeiro, por ter ocultado a questão do público durante o período eleitoral, o que contrariou os democratas. Após a eleição, a continuidade dessas investigações passou a incomodar o governo.

Com tantos inimigos em Washington, a expectativa de vida de uma carreira política pode se encurtar drasticamente. Uma análise otimista seria a de que Comey navegou em águas difíceis da melhor forma que pôde em uma época em que as disputas políticas são cada vez mais criminalizadas.

Outra visão é a de que ele, talvez, tenha cavado sua própria cova.

Haverá uma investigação especial?

O senador Schumer pediu a convocação de uma investigação independente sobre a suposta interferência russa nas eleições dos Estados Unidos e sobre qualquer ligação com a campanha de Trump. E está cada vez mais difícil encontrar um democrata que não tivesse reforçado o apelo.

Mas para isso realmente acontecer, os pedidos deverão vir tanto de democratas, quanto de republicanos. Até agora, os principais nomes do Partido Republicano preferiram manter silêncio.

Chuck Grassley, líder da comissão de Justiça do Senado, disse que Comey "perdeu a confiança do povo". Já o senador Lindsey Graham, que mais cedo na terça sugeriu que os vínculos de Trump com a Rússia deveriam ser investigados, afirmou que "um novo começo" seria bom para todo o país.

Outros republicanos foram mais ríspidos. O senador Richard Burr, presidente do comitê de inteligência que investiga a interferência da Rússia nas eleições, disse estar "preocupado" com os acontecimentos, enquanto o senador John McCain pediu uma investigação independente no Congresso.

O crítico de longa data de Trump Justin Amash, deputado republicano de Michigan, disse estar analisando a legislação que autoriza uma comissão independente a avaliar a questão.

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Promotores especiais e investigações independentes são a última coisa que o governo de Trump quer neste momento, No passado, investigações desse tipo acabaram se expandindo e envolvendo vários setores do governo - como no de George W. Bush (cujo governo foi acusado de ter revelado a identidade de Valerie Plame Wilson como agente disfarçada da CIA, como vingança por declarações feitas pelo seu marido, o ex-embaixador Joseph C. Wilson, criticando a invasão do Iraque) e no de Bill Clinton (o caso Whitewater, que investigou a legalidade de uma transação imobiliária realizada pelo casal Bill e Hillary Clinton quando este era governador do Arkansas, e que evoluiu para o escândalo de Monica Lewinsky, que levou a um julgamento de impeachment do presidente Clinton).

O presidente Donald Trump pode não ter escolha, e a única saída pode ser aceitar a investigação independente.

O que é 'Brexit' - e como pode afetar o Reino Unido e a União Europeia?

http://www.bbc.com/portuguese/internacional-36555376

Os britânicos vão às urnas no próximo dia 23 de junho para votar em um plebiscito crucial para o seu futuro.

Os eleitores votarão por permanecer na União Europeia ou abandonar o bloco comum.

Nunca um país membro deixou a união política e econômica de 28 países - que desde seu início só tem se expandido.

A saída britânica seria interpretada como um duro golpe ao projeto europeu, cujas origens remontam ao pós-2ª Guerra Mundial.

Analistas dizem que esta será a decisão mais importante para os britânicos desde 1975, quando dois terços do eleitorado optaram por ingressar na então Comunidade Econômica Europeia.

Entenda os principais pontos da discussão.

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O que é 'Brexit'?

'Brexit' é a abreviação das palavras em inglês Britain (Grã-Bretanha) e exit (saída). Designa a saída do Reino Unido da União Europeia.

O termo parece remontar à discussão sobre uma possível saída da Grécia do euro, em 2012 - à época, estava em voga a palavra Grexit.

No contexto britânico, Brexit pegou e se converteu na palavra mais usada para tratar da discussão.

A alternativa Bremain (trocadilho com a palavra remain, permanecer) nunca gozou da mesma popularidade.

Brasileira grávida que pediu 'asilo' na Grã-Bretanha por medo da zika tem pedido negado e pode ser deportada

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Qual é a pergunta do referendo?

Os eleitores devem responder à seguinte pergunta na cédula eleitoral: "Deve o Reino Unido permanecer como membro da União Europeia ou sair da União Europeia?"

As duas únicas respostas possíveis são "permanecer" e "sair".

Inicialmente, o governo britânico queria uma formulação diferente, perguntando aos eleitores se queriam continuar na União Europeia. Mas as autoridades eleitorais consideraram que dessa forma a pergunta poderia induzir respostas pró-UE.

Tecnicamente, o plebiscito não é vinculante. Mas se a proposta passar, o primeiro-ministro, David Cameron, estará sobre intensa pressão para implementar a vontade da maioria.

Em tese, os parlamentares também poderiam bloquear a saída do bloco, mas analistas consideram que contrariar os eleitores seria um suicídio político para muitos conservadores - que atualmente controlam o Legislativo.

Foi uma resposta à pressão crescente, inclusive dentro do seu próprio partido, para que o projeto europeu fosse levado a voto popular. Muitos dos chamados eurocéticos argumentam que a UE cresceu demasiadamente nas últimas décadas, exercendo cada vez mais controle sobre a vida cotidiana dos britânicos.

As pressões aumentaram com o crescimento eleitoral do partido nacionalista Ukip, que defende a saída da UE.

Mas as origens da oposição à União Europeia remontam a tensões históricas entre o Reino Unido, que segundo historiadores nunca abraçou uma identidade europeia como Alemanha ou França, e seus vizinhos no continente.

Entre as novas e velhas tensões, estão, entre outras, a defesa da soberania nacional, o orgulho pela identidade britânica, desconfiança com a burocracia de Bruxelas, o controle de fronteiras e questões de segurança interna e defesa.

Qual é a situação do Reino Unido na União Europeia?

A União Europeia é uma união econômica e política de 28 países. Suas origens remontam à Comunidade Econômica Europeia (CEE), criada em 1957 por seis países que assinaram o Tratado de Roma.

O Reino Unido aderiu à CEE em 1973 e, dois anos depois, após renegociar suas condições, realizou um referendo sobre a sua permanência.

A integração foi aprovada por 67% dos eleitores. Numa época em que o Reino Unido sofria com o declínio industrial, inflação e distúrbios decorrentes de greves trabalhistas, o então premiê Harold Wilson conseguiu vender o projeto europeu como benéfico para a economia do país.

Mas quando a área de Schengen, estabelecendo uma fronteira comum, foi criada, em 1985, o Reino Unido optou por manter-se à margem.

E apesar de integrar desde 1993 o mercado único e a livre circulação de bens e pessoas, o Reino Unido optou por não adotar o euro, mantendo sua própria moeda, a libra esterlina.

Há anos, o país mantém com a UE uma relação complexa, permeada por temas como centralização versus controle nacional.

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O tema econômico também sempre foi central nessa relação. Um dos argumentos pela separação, aliás, é o de que a economia britânica de hoje é muito mais criativa e dinâmica que a dos anos 1970 e que estas duas características são prejudicadas pela burocracia de Bruxelas.

No início deste ano, o premiê David Cameron renegociou "condições especiais" para o Reino Unido dentro da união.

Entre outros privilégios, o país recebeu garantias de que não será discriminado por não integrar a zona do euro, obteve proteções para a City londrina - o mercado financeiro mais importante da Europa - frente a regulações financeiras do bloco, e ganhou o direito de limitar os benefícios que imigrantes europeus podem pedir no país.

David Cameron sustenta que as novas condições permitirão ao Reino Unido ficar na União Europeia dentro dos seus próprios termos. Mas os críticos afirmam que as condições ficaram aquém das expectativas, e que só a saída total da União Europeia permitirá aos britânicos ditar suas próprias regras.

Quem defende a permanência na UE?

Os partidos Trabalhista, Liberal Democrata, Nacionalista Escocês (SNP), e o galês Plaid Dymru também se dizem a favor da permanência na UE

David Cameron concordou com a realização do plebiscito, mas sua posição é favorável à permanência do país no bloco comum. Por outro lado, ele permitiu que integrantes do seu gabinete adotassem sua própria posição política - cinco se declararam a favor da saída.

Os partidos Trabalhista, Liberal Democrata, Nacionalista Escocês (SNP), e o galês Plaid Dymru também se dizem a favor da permanência na UE.

Entre os líderes estrangeiros, o presidente Barack Obama atraiu acusações de ingerência ao defender a permanência do Reino Unido na UE. França e Alemanha, assim como organizações multilaterais - como o Fundo Monetário Internacional (FMI) - também preferem que os britânicos permaneçam no bloco.

Quem defende a saída da UE?

Os defensores mais vocais da saída são os membros do partido nacionalista Ukip, em especial seu líder, Nigel Farage. Nas últimas eleições, o Ukip obteve 13% dos votos, embora sua representação no Parlamento seja ínfima devido ao sistema eleitoral britânico.

Cerca de metade dos parlamentares conservadores também se posicionaram contra a UE, contrariando a vontade de David Cameron.

Alguns parlamentares trabalhistas também apoiam a saída, ecoando críticas de algumas vozes da esquerda descontentes com as políticas de austeridade e liberalismo econômico promovidas pelo bloco.

O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, também já expressou a opinião de que o Reino Unido estará melhor fora da UE, e lamentou os efeitos da imigração na Europa.

Que consequências teria a Brexit para o Reino Unido?

O mercado único, sem impostos nem tarifas comerciais, é o grande pilar da economia europeia. No coração dele, está o movimento de bens, pessoas e capitais.

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Embora seja possível integrar o mercado único e não a União Europeia, como é o caso da Noruega, isto dependeria de acordos a serem assinados se for confirmada a saída do bloco.

Os partidários da campanha pela saída dizem que tal entendimento poderia ser firmado até 2020. Eles alegam que a economia britânica é forte e dela dependem muitos países da UE, incluindo a França, que exporta boa parte de sua produção agrícola para o outro lado do Canal da Mancha.

Por outro lado, muitos creem que outros países da UE seriam praticamente obrigados a "punir" o Reino Unido para evitar que outros países da união sigam exemplo semelhante.

Há ainda grandes divergências sobre os efeitos econômicos da separação. Uma análise do Tesouro britânico afirma que os prejuízos seriam "permanentes" e levariam a uma redução do PIB de 6% até 2030.

O ministro da Economia, George Osborne, disse que a saída deixaria um rombo nas contas públicas de 30 bilhões de libras (quase R$ 150 bilhões), que teria de ser coberto com aumentos de impostos, cortes na saúde, educação e defesa, e anos de políticas de austeridade.

As projeções foram duramente criticadas por parlamentares do próprio partido Conservador, que acusaram o ministro de fazer uma campanha do medo com ameaças vazias.

Que consequências teria a Brexit para a União Europeia?

Embora seja consenso que o mais afetado pela separação seria o próprio Reino Unido, também deve haver consequências em outras partes da Europa.

A consultoria britânica Global Counsel disse que a UE se tornaria um parceiro comercial menos atraente em nível mundial e perderia poder globalmente.

Porém, a consultoria observou que estes fatores poderiam ser compensados com maior coesão dos países restantes, já que o Reino Unido é um dos membros do bloco que mais se opõem ao aprofundamento da integração.

Não se sabe quanto uma saída britânica acenderia movimentos populistas e nacionalistas que já existem nos países do bloco.

Além do quê, o processo de implementação da saída estaria repleto de incertezas, o que em geral prejudica as economias nacionais. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento da Europa (OCDE) espera uma queda do Produto Interno Bruto regional se a saída do Reino Unido for aprovada.

Argentina e Itália querem acelerar conversas entre União Europeia e Mercosul

http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2017-05/argentina-e-italia-querem-acelerar-conversas-entre-uniao-europeia-e

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, e o da Itália, Sergio Mattarella, que realiza uma visita a Buenos Aires, advogaram nesta segunda-feira (8) por um pronto encerramento das conversas para alcançar um acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul. as informações são da Agência EFE.

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Durante a recepção a Mattarella na Casa Rosada, sede da Presidência argentina, Macri destacou que tanto a Argentina como o bloco que forma com Brasil, Paraguai e Uruguai (com a Venezuela suspensa) têm a determinação de acelerar "as conversas com a UE".

"Acreditamos que a integração entre ambos os blocos seria uma oportunidade maravilhosa de criação de empregos, de oportunidades para reduzir a pobreza e gerar progresso compartilhado para todos", disse o governante sul-americano.

Mattarella por sua vez destacou que a negociação Mercolul-UE é "muito importante" porque envolve um mercado de 700 milhões de pessoas. Segundo ele, a obtenção de um acordo "é um objetivo muito importante para nossos países, para as comunidades das quais fazemos parte e também para o equilíbrio da comunidade internacional", apontou.

"Seguramente (esse acrodo) vai ser alcançado e a Itália oferece todo seu esforço neste sentido. Será outro sinal da importância da abertura comercial que é do interesse de todos os países na comunidade internacional", considerou o líder italiano.

Diminuição das barreiras

O acordo UE-Mercosul, que está em negociação desde 1999, mas nos últimos anos ganhou impulso novamente, suporia uma diminuição das barreiras tarifárias e não tarifárias e um melhor acesso a mercados diversos.

Mattarella chegou ontem (7) à Argentina para realizar a primeira visita oficial de um presidente italiano ao país sul-americano em 16 anos. Durante o encontro na Casa Rosada, os governos de ambos países assinaram acordos de colaboração em distintas matérias, como educação, segurança, ciência e meio ambiente.

EUA vão fornecer armas para curdos sírios na luta contra o Estado Islâmico

http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2017-05/eua-vao-fornecer-armas-para-curdos-sirios-na-luta-contra-o-estado

Apesar de intensa oposição da Turquia, aliada dos Estados Unidos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o presidente Donald Trump aprovou o fornecimento de armas para combatentes curdos da milícia Unidades de Proteção Popular (YPG, na sigla em curdo) para apoiar a retomada da cidade síria de Raqqa do Estado Islâmico (EI), disseram ontem (10) autoridades dos EUA. As informações são da agência Reuters.

O governo de Ancara se opõe à medida porque vê o papel da milícia YPG como uma extensão síria do grupo militante curdo do proscrito Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que tem conduzido uma insurgência no sudeste da Turquia desde 1984. O PKK é considerado um grupo terrorista por EUA, Turquia e Europa.

O Pentágono imediatamente buscou destacar que vê o fornecimento de armas para as forças curdas “como necessário para garantir uma vitória clara” em Raqqa, capital de fato do Estado Islâmico na Síria e um centro para planejamento dos ataques do grupo contra o Ocidente. A YPG disse que a decisão de Washington trará resultados rápidos e irá ajudar a milícia a "desempenhar um papel mais forte, mais influente e mais decisivo no combate ao terrorismo".

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“Estamos muito cientes das preocupações de segurança da Turquia, nossa aliada da Otan. Queremos reafirmar ao povo e ao governo da Turquia que os EUA estão comprometidos em prevenir riscos adicionais de segurança e proteger o país”, disse a porta-voz do Pentágono Dana White, em comunicado, enquanto viajava na Lituânia com o secretário de Defesa de Trump, James Mattis.

Turquia alerta para resultado adverso

Apesar das ressalvas americanas, a Turquia alertou os EUA nesta quarta-feira (11) que sua decisão de armar forças curdas que combatem o EI na Síria pode acabar prejudicando Washington, e acusou seu aliado da Otan de se alinhar aos terroristas.

A reação ocorre uma semana antes de uma visita do presidente turco, Tayyip Erdogan, a Washington para seu primeiro encontro com Trump, que aprovou o envio das armas em apoio a uma campanha que visa retomar a cidade síria de Raqqa do EI.

O governo deAncara teme que os avanços das YPG no norte sírio incentivem a atuação do PKK em solo turco. “Já aconteceu de armas fornecidas às YPG irem parar nas mãos do PKK”, afirmou o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu. "Tanto o PKK quanto as YPG são organizações terroristas", disse ele em uma coletiva de imprensa.

"Queremos acreditar que nossos aliados irão preferir se alinhar a nós, não a uma organização terrorista", afirmou o presidente Erdogan em uma coletiva de imprensa em Ancara, dizendo que irá expressar a posição da Turquia a Trump na próxima semana e em uma cúpula da Otan no final deste mês.

Ele disse esperar que decisões tomadas recentemente sejam alteradas a tempo antes de sua visita a Washington. Mais cedo, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, havia dito aos repórteres que a incapacidade dos EUA de pesar as sensibilidades da Turquia "certamente terá consequências e irá produzir um resultado negativo também para os EUA".

Paquistão e Afeganistão iniciam estudo conjunto da fronteira após confrontos

http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2017-05/paquistao-e-afeganistao-iniciam-estudo-conjunto-da-fronteira-apos

O Paquistão e o Afeganistão começaram esta semana um estudo cartográfico da fronteira conjunta, após os confrontos que deixaram mortos e feridos na última sexta-feira (5). Uma fonte de segurança paquistanesa confirmou à Agência Efe o início dos trabalhos para determinar os limites da fronteira em dois povos em conflito no distrito de Chaman, no sudoeste do Paquistão.

O diretor do Centro Governamental de Informação e Imprensa do Afeganistão, Sediq Sediqqi, por sua vez, negou qualquer tipo de acordo com o país vizinho.

O pacto para revisar a fronteira, segundo a fonte consultada pela Efe, foi firmado em uma reunião de comandantes das partes em envolvidas na passagem de Chaman, uma das mais importantes entre os dois países, depois de vários dias de tensões. Os confrontos começaram após um suposto ataque contra uma equipe paquistanesa que fazia um censo na região da fronteira.

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Segundo o Paquistão, dez pessoas morreram e 42 foram feridas pelas tropas afegãs na sexta-feira, perto da passagem de Chaman. Posteriormente, em um contra-ataque, os paquistaneses teriam matado 50 soldados do Afeganistão. O governo afegão nega e só reconheceu quatro baixas - dois membros das forças de segurança e dois civis.

As autoridades do Afeganistão questionam o traçado dos 2.500 quilômetros da fronteira que separa os dois países, a chamada Linha Durand, estabelecida entre afegãos e britânicos no século XIX, e que começou a ser cercada pelo Paquistão em algumas áreas.

Recuperar a política e gerar empregos serão as primeiras tarefas de Macron

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Recuperar a política francesa, que ficou manchada nos últimos meses por escândalos de corrupção, e reformar o mercado de trabalho para gerar empregos, a principal preocupação dos franceses, são as primeiras tarefas que o novo presidente da França, Emmanuel Macron, prometeu enfrentar. A informação é da Agência EFE.

O social liberal, que substituirá o socialista François Hollande no próximo fim de semana, anunciou um plano de medidas de choque assim que chegar ao Palácio do Eliseu, que serão submetidas à aprovação nos próximos meses e, em muitos casos, por decreto, o que lhe permitirá reduzir os trâmites parlamentares.

As eleições legislativas de junho, que renovarão a Assembleia Nacional, indicarão o poder real com o qual contará o novo chefe de Estado que, caso não consiga uma maioria suficiente, terá que negociar com outros grupos.

Como disse Macron à Agência Efe em uma entrevista recente, "o primeiro texto que será apresentado tratará sobre a moralização e a renovação da vida política" na França, devido à proliferação de casos de corrupção.

O combate à corrupção foi a arma do candidato para resistir a dois de seus principais rivais, o conservador François Fillon e Marine Le Pen, da extrema direita, ambos investigados por supostos casos de má utilização de recursos públicos por meio de empregos fictícios de assistentes parlamentares.

Mas o ponto mais delicado com o qual o novo presidente terá que lidar é a reforma trabalhista. Macron disse que a reforma aprovada por seu antecessor no ano passado "segue em um bom caminho", mas "é insuficiente", o que dá a entender que seu texto não deverá agradar os sindicatos mais combativos.

Essas centrais levaram às ruas milhares de manifestantes contra o texto de Hollande, batizado como "lei El Khomri" (pelo nome da ministra do Emprego), então é esperado que as mesmas não deem trégua à reforma que será proposta pelo novo presidente.

Seu principal objetivo é permitir que as condições trabalhistas, em particular a jornada de trabalho, sejam negociadas em cada empresa ou em nível setorial para as pequenas e médias empresas, deixando assim de lado os convênios coletivos, uma ideia que os sindicatos consideram que coloca todo o poder nas mãos das entidades patronais.

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Para resistir a esse efeito, Macron prometeu um enorme incentivo à formação profissional dos desempregados e dos jovens (seu plano prevê 15 bilhões de euros) e o fortalecimento do seguro desemprego, que será ampliado também aos autônomos.

Por outro lado, o candidato assegurou que retirará esse seguro das pessoas que rejeitarem mais de duas ofertas "decentes" de emprego.

Em favor do novo presidente estará o fato de que os sindicatos mais combativos perderam força. A CGT perdeu sua posição de principal central operária do país em benefício da CFDT, mais favorável a negociar reformas com o governo e que já havia aceitado a de Hollande.

Macron prevê que a nova Assembleia Nacional que emergirá das eleições legislativas de junho comece a trabalhar já em julho para aprovar novos orçamentos e para que, em setembro, já tenha preparado um novo plano orçamentário para os cinco anos seguintes.

Na mira do novo presidente está estabelecer cortes orçamentais de 60 bilhões de euros.

Outra de suas primeiras medidas, destinada a melhorar o poder aquisitivo da população, será relativa ao imposto municipal de residência, que atualmente é pago por todas as moradias ocupadas e que o presidente eleito quer eliminar para 80% da população com menos recursos.

Essa foi a principal medida social anunciada pelo candidato social liberal, que também adiantou uma redução dos impostos patronais para favorecer a criação de emprego.

Macron também lançará no começo de seu mandato as reformas anunciadas para a educação, especialmente a primária, e para a simplificações das regras administrativas.

No âmbito internacional, está previsto que Macron efetue sua primeira viagem oficial a Berlim, para se reunir com a chanceler alemã, Angela Merkel.

O presidente eleito já anunciou que aguardará o resultado das eleições na Alemanha para relançar o projeto europeu de forma conjunta, um contraste com Hollande, que durante a campanha de 2012 tinha avisado que pressionaria Merkel para acabar com as políticas de austeridade.

Assim que assumir sua cadeira no Palácio do Eliseu, Macron reunirá o Conselho de Defesa, um assunto particularmente sensível na França, onde ainda está vigente o estado de emergência, que foi declarado em novembro de 2015 pela onda de atentados jihadistas no país.

O presidente eleito quer melhorar a coordenação dos serviços de inteligência no país e criar uma força de intervenção rápida de combate ao terrorismo que será orientada diretamente pelo Executivo francês, para agir tanto dentro como fora de França.

Macron também se comprometeu a contratar 10 mil agentes para reforçar a segurança no país.

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Atualidades

POLÍTICA BRASILEIRA

A Nova República

Sexta República Brasileira ou Nova República é o nome do período da História do Brasil que se seguiu ao fim do regime militar. É caracterizado pela ampla democratização política do Brasil e sua estabilização econômica.

Usualmente, considera-se o seu início em 1985, quando, concorrendo com o candidato situacionista Paulo Maluf, o oposicionista Tancredo Neves ganha uma eleição indireta no Colégio Eleitoral, sucedendo o último presidente militar, João Figueiredo. Tancredo não chega a tomar posse, vindo a falecer. Seu vice-presidente, José Sarney, assume a presidência em seu lugar. Sob seu governo é promulgada a Constituição de 1988, que institui um Estado Democrático de Direito e uma república presidencialista

O Brasil era governado, desde 1964, por um sistema militar, caracterizado no campo político pela repressão política, no campo econômico, pela modernização do país, pelos investimentos nas indústrias de base, da agricultura e na substituição dos produtos importados além de uma campanha nacionalista. No ápice do regime militar, no início da década de 1970, o Brasil passava por um período de milagre econômico, cobrando taxas de crescimento anual do PIB beirando 8%, comandado por um governo centralizado, repressor e desenvolvimentista.

Entretanto, por causa de crises econômicas internacionais a partir de 1973 (crise do petróleo), o forte crescimento econômico brasileiro foi interrompido, e a pressão social passou a aumentar. Demandas da classe média por maiores liberdades, pelo fim da censura, pela anistia e pelo controle da inflação, foram desestabilizando o governo brasileiro até o fim da década. O governo passou a estruturar, então, uma lenta transmissão para a democracia. Iniciada pelo presidente Ernesto Geisel, em 1976, algumas liberdades foram devolvidas ao povo brasileiro, mas vagarosamente.

O general do exército João Figueiredo foi eleito pelo Colégio eleitoral brasileiro em 1979, com a promessa de entregar a democracia de volta ao Brasil. Em seu governo, a anistia geral e irrestrita a todos os perseguidos políticos foi garantida, e algumas reformas políticas e econômicas foram praticadas, como a volta da eleição direta para governadores de estado e do pluripartidarismo. Entretanto, a inflação aumentava.

Pressões sociais lideradas pelo PMDB (partido de oposição ao regime militar) culminaram em 1984, com o movimento Diretas Já, série de manifestações populares que pediam eleições diretas para presidente da república e o fim da interferência militar no governo brasileiro. Em 1984, o Colégio Eleitoral realizou eleições para presidente e, preterindo o candidato representante da situação, Paulo Maluf, optaram pelo candidato oposicionista do PMDB,

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Tancredo Neves. Em 15 de Março de 1985, Neves seria o primeiro presidente civil a reger o país, desde João Goulart, deposto em 1964.

Transição: Governo Sarney (1985 – 1990)

Apesar de eleito, Neves não chegou a assumir o seu cargo. Devido a uma complicação de sua doença, Tancredo Neves foi internado, sendo operado no dia 14 de março de 1985 e contraindo infecção hospitalar. No dia da posse, 15 de março de 1985, assume então José Sarney de modo interino. No dia 21 de abril, o porta-voz da República anuncia o falecimento oficial do presidente Tancredo Neves. Deste dia em diante, Sarney seria reconhecido como presidente em exercício pleno.

Em 1 de março de 1986, Sarney e sua equipe econômica comandada por Dilson Funaro, ministro da Fazenda, lançam o "Plano Cruzado", conjunto de medidas para conter a inflação, entre as quais o congelamento geral de preços e a criação de uma nova moeda, o Cruzado (Cz$), valendo mil cruzeiros (Cr$) (moeda da época). Sarney apelou para a população que deu amplo apoio ao plano, inclusive com algumas pessoas se declarando "fiscais do Sarney" e denunciando violações ao congelamento de preços. O PMDB, com a popularidade do plano, vence as eleições para governador de 1986 em praticamente todos os estados (à exceção de Alagoas). Porém, após as eleições, em 21 de novembro de 1986 o governo decreta o "Plano Cruzado II", com os preços sendo liberados. Isto ocasionou um descontentamento do povo para com o governo, pois o plano cruzado foi visto por muitos como uma simples estratégia política para vencer as eleições. A inflação volta a subir, a crise se alastra e em 20 de janeiro de 1987 o governo decreta moratória, deixando de pagar a dívida externa.

Em 29 de abril de 1987, o governo substitui Funaro por Luis Carlos Bresser Pereira, que com a inflação em alta, lança o "Plano Bresser", com novo congelamento de preços, em junho de 1987 e acabando com a moratória. A inflação volta a subir e em 6 de janeiro de 1988, Bresser é substituído por Maílson da Nóbrega. A democracia foi plenamente restabelecida em 1988, quando a atual Constituição Federal foi promulgada.

Governos Collor e Itamar Franco (1990 – 1994)

Em 1989, o ex-governador do estado de Alagoas Fernando Collor, praticamente desconhecido no resto do país, por força de uma campanha agressiva baseada na promessa de combate à corrupção (combate aos marajás), da construção de uma imagem de líder jovem e dinâmico, que vendia uma imagem de político de direita progressista (seu partido era o inexpressivo Partido da Reconstrução Nacional). Contando com apoio de setores que temiam a vitória do candidato do PT, Luiz Inácio da Silva, Fernando Collor é eleito presidente, nas primeiras eleições diretas para o cargo desde 1960. Entretanto, após dois anos, o próprio irmão do presidente, Pedro Collor de Mello, faz denúncias públicas de corrupção através de um sistema de favorecimento montado pelo tesoureiro da campanha eleitoral, PC Farias. Sem qualquer resistência do Executivo, o Congresso Nacional instaura uma CPI cujas conclusões levam ao pedido de afastamento do presidente (impeachment).

Durante o processo, a Rede Globo de Televisão produz e transmite Anos rebeldes, de Gilberto Braga, uma série dramática ambientada nas manifestações de 1968, a qual serve de inspiração para o movimento dos caras-pintadas, manifestações de estudantes e intelectuais que, do alto de carros-de-som, clamavam por justiça e por um Brasil melhor. Fernando Collor de Mello

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renunciou antes de ter seu impedimento aprovado pelo Congresso, mas mesmo assim teve seus direitos políticos suspensos por oito anos, embora a lei em vigor na época previsse a suspensão do processo no caso de renúncia antes de sua conclusão. Collor mudou-se em seguida para Miami. A Justiça o absolveu de todos os processos movidos contra ele por sua gestão. PC Farias evadiu-se do país durante alguns anos e, após enviuvar, retornou a Alagoas mas, em 1996, foi encontrado em seu quarto de dormir, morto por ferimento de arma de fogo.

Collor de Mello foi sucedido na presidência pelo vice-presidente Itamar Franco em cuja administração é adotado o Plano Real, um plano econômico inédito no mundo executado pela equipe do então ministro da fazenda, Fernando Henrique Cardoso (FHC). Percebendo que a hiperinflação brasileira era também um fenômeno emocional de separação da "unidade monetária de troca" da "unidade monetária de contas", o plano concentrou todos os índices de reajuste de preços existentes em um único índice, a Unidade Real de Valor, ou URV. Esta, posteriormente, foi transformada em moeda corrente, o real, iniciando assim o controle do maior problema econômico do Brasil: a inflação. Posteriormente, inúmeras reformas econômicas de peso deram lastro à estabilidade da moeda, evitando os erros do passado.

Governo Fernando Henrique (1995 – 2002)

Com o sucesso do Plano Real, Fernando Henrique Cardoso, concorre e é eleito presidente em 1994, conseguindo a reeleição em 1998. Cardoso iniciou seu primeiro mandato em 1 de janeiro de 1995, e foi reeleito em 1998. O presidente Cardoso procurou estabelecer a base para a estabilidade a longo prazo e crescimento e para reduzir os desequilíbrios socioeconômicos extremos do Brasil. Suas propostas para o Congresso incluíram emendas constitucionais para abrir a economia brasileira a um maior investimento estrangeiro e para implementar reformas radicais – incluindo a segurança social, administração pública e tributação – para reduzir gastos excessivos do setor público e melhorar a eficiência do governo.

Seu governo é creditado com o fornecimento de estabilidade econômica de um país marcado por anos de hiperinflação. Ao mesmo tempo, as crises econômicas no México em 1997, na Ásia Oriental em 1998, na Rússia em 1998 e na Argentina em 2002 reduziram as perspectivas de crescimento econômico durante a sua presidência.

Foi também durante sua administração que muitas empresas estatais foram privatizadas e que agências reguladoras foram criadas pela primeira vez para fiscalizar e regular muitos setores da indústria (energia, petróleo, aviação, etc). A administração de Fernando Henrique Cardoso também colocou um forte foco nas relações exteriores. Além de aderir à Organização Mundial do Comércio (OMC) e participar da Rodada Uruguai, o Brasil participou da missão de paz da INTERFET no Timor-Leste.

Governo Lula (2003 – 2009)

Após os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2002 elege-se presidente da República o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), tradicional partido de esquerda brasileiro. Lula aumenta a abrangência dos projetos sociais, transformando o Bolsa-Escola em Bolsa-Família e criando novos programas, como o Prouni. Em 2006, Luiz Inácio Lula da Silva é reeleito presidente da República.

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Apesar da estabilidade macroeconômica que reduziu as taxas de inflação e de juros e aumentou a renda per capita, colocando o país em uma lista dos países mais promissores do mundo, ao lado de China, Rússia, Índia e África do Sul (chamados de BRICS) com Lula, diferenças remanescem ainda entre a população urbana e rural, os estados do norte e do sul, os pobres e os ricos.

A economia contém uma indústria e agricultura mais sofisticadas, e um setor de serviços em expansão. As recentes administrações expandiram a inserção do país no mercado mundial, com saltos de investimentos e produtividade em alguns setores, como o de telecomunicações e automobilístico, mas ainda deixando a desejar na eficiência de portos marítimos, estradas de ferro, geração de eletricidade, aeroportos e outros melhoramentos da infraestrutura, o que reduziria o chamado "custo Brasil". O país começou a se voltar para as exportações em 2004, e, mesmo com um real valorizado e a crise internacional, atingiu em 2008 exportações de US$ 197,9 bilhões, importações de 173,2 bilhões de dólares, o que coloca o país entre os 19 maiores exportadores do planeta.

Governo Dilma Rousseff (2010 – 2016)

Em outubro de 2010, em segundo turno, o Brasil elege pela primeira vez uma mulher como Chefe do poder executivo. Dilma Rousseff (mineira de Belo Horizonte) tomou posse do cargo de Presidente da República Federativa do Brasil, prestando, assim como os demais presidentes eleitos na Nova República, juramento solene perante o Congresso Nacional em 1º de janeiro de 2011. Dilma deu continuidade aos programas do governo Lula tais como. O Luz para Todos, que beneficiou mais de 3 milhões de famílias até 2013, a segunda fase do PAC que foram disponibilizados recursos na ordem de R$ 1,59 trilhão em uma série de investimentos, tais como transportes, energia, cultura, meio ambiente, saúde, área social e habitação, e do programa Minha Casa, Minha Vida que obteve investimentos na cifra de R$ 34 bilhões da qual foram construídas 1 milhão de moradias na primeira fase, e 2 milhões de moradias com investimentos de R$125,7 bilhões na segunda fase do programa.

Em junho de 2013, irromperam no país inúmeras manifestações populares, quando milhões de pessoas saíram às ruas em todos os estados para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público, a truculência das policiais militares estaduais, além de outras reivindicações. Entre os principais desafios do país para o futuro estão um salto qualitativo na educação e saúde, a desburocratização do empreendedorismo e uma resposta eficiente aos crescentes problemas de segurança pública e favelização dos centros urbanos. Tais manifestações resultaram em julho de 2013 no lançamento do programa mais médicos que teve como objetivo levar 15 mil profissionais da saúde para atender regiões carentes do Brasil. O Brasil sedia em 2014 a Copa do Mundo de futebol. No final do primeiro governo de Dilma, é deflagrada a Operação Lava Jato, do qual é apurado um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou mais de 10 bilhões de reais, sendo considerado pela polícia federal o maior esquema de corrupção da história do Brasil.

Após as polarizadas eleições presidenciais de 2014, Rousseff é reeleita com 51,64% dos votos válidos, ao derrotar em segundo turno o candidato Aécio Neves. Durante a campanha eleitoral, um acidente aéreo vitimou o candidato Eduardo Campos do PSB. Em março de 2015 novos protestos acontecem em vários estados principalmente contra a corrupção, especialmente por conta da Operação Lava Jato conduzida pela Polícia Federal. Como efeito da enorme e crescente insatisfação popular com o governo, a base política da presidente foi se deteriorando e um processo de impeachment contra a presidente é iniciado em dezembro do mesmo ano com base em várias acusações, incluindo as chamadas "pedaladas fiscais" cometidas em seu governo. O

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ato causa grande controvérsia e divide o país entre grupos antigovernistas (majoritariamente de direita) e pró-governo (majoritariamente de esquerda). Em 17 de abril de 2016, a Câmara dos Deputados aprova o início do processo, que a partir de então é encaminhado para análise no Senado.

Governo Michel Temer

Michel Temer, atual presidente do Brasil, desde 31 de agosto de 2016.

No dia 12 de maio de 2016, o Senado Federal aprova a admissibilidade do processo por 55 votos a favor, 22 contra e 2 abstenções. A Presidente Dilma Rousseff é afastada do exercício do cargo e o vice-presidente Michel Temer assume interinamente até o julgamento no Senado presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. O Brasil sedia, em agosto e setembro os Jogos Olímpicos e os Jogos Paralímpicos de Verão de 2016 respectivamente. No dia 31 de agosto de 2016, o Senado aprovou o impeachment de Dilma Rousseff com 61 votos favoráveis e 20 contrários e cassa o mandato de Dilma. O vice-presidente Michel Temer é então empossado no cargo como presidente da república em virtude da vacância do cargo.

Sendo considerado como um governo reformista, Temer encaminha ao congresso nacional reformas importantes e polêmicas da qual eram aguardadas há décadas. Reformas tais como: Ensino médio, previdência, trabalhista e tributária. Temer dá continuidade ao programa habitacional, do qual é lançado ainda no governo Dilma a terceira fase do Minha Casa, Minha Vida que serão construídas mais 2 milhões de moradias até 2018, totalizando 5 milhões de moradias nas três fases do programa.

Gravação de executivos da JBS

Em 17 de maio, os proprietários do frigorífico JBS disseram, em delação à Procuradoria-Geral da República, que gravaram o presidente Michel Temer autorizando a compra do silêncio do deputado cassado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, quando ele já estava preso pela operação Lava Jato. O empresário Joesley Batista teria entregue uma gravação feita em março de 2017, em que Temer indica o deputado Rodrigo Rocha Loures para resolver assuntos da J&F, uma holding que controla o frigorífico JBS. Posteriormente, Rocha Lourdes foi filmado recebendo uma mala com quinhentos mil reais, enviados por Joesley. Em outra gravação, também de março, o empresário teria dito a Temer que estava pagando uma "mesada" a Cunha e ao operador Lúcio Funaro, a fim de que permanecessem calados na prisão.

Em nota oficial, Temer disse que "Jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar". A Ordem dos Advogados do Brasil, em nota oficial, demandou uma "rápida investigação a respeito da suposta obstrução da Justiça praticada pelo presidente da República". De acordo com a Constituição Federal, a obstrução da Justiça é um dos crimes que podem embasar um processo de impeachment contra Temer. Por outro lado, no entanto, a imunidade conferida ao presidente da República impede a sua submissão à prisão, incluindo as modalidades em flagrante ou preventiva. No Congresso Nacional, parlamentares integrantes de partidos como REDE, PSOL e PT endossaram o afastamento de Temer, por renúncia ou impeachment. O deputado Efraim Filho, líder do DEM, partido aliado ao governo, afirmou: "A investigação dos fatos irá dizer se houve qualquer infração à Constituição. Em se configurando qualquer infração à Constituição, o rito tem que ser seguido como foi com a presidente Dilma, de impedimento".

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Em 18 de maio, o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de um inquérito para investigar o presidente Michel Temer. O pedido de investigação foi feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A partir dessa investigação, o presidente poderia ser denunciado pela PGR. Essa denúncia seria encaminhada ao STF, mas a abertura de um processo teria que ser autorizada pela Câmara dos Deputados, requerendo a aprovação de dois terços dos deputados. Se a votação fosse favorável, o Supremo poderia julgar Temer. Caso contrário, o processo seria arquivado. Se o STF aceitasse a denúncia, começaria um processo penal e o presidente ficaria afastado do cargo por até 180 dias. Uma vez condenado, Temer seria afastado definitivamente, perderia seus direitos políticos e poderia ser preso, considerando que a pena do crime fosse a de prisão. Finalmente, o Presidente da Câmara assumiria interinamente e uma eleição indireta seria convocada no prazo de trinta dias.

A decisão do ministro Fachin se fundamentou numa declaração do Pocurador-Geral da República, Rodrigo Janot, segundo a qual o presidente Michel Temer e o senador afastado Aécio Neves agiram "em articulação" para impedir o avanço da Lava Jato. Dessa forma, a abertura do inquérito deveria investigar Temer, Aécio e o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures por crimes de corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa. Nas palavras de de Janot: "Além disso, verifica-se que Aécio Neves, em articulação, dentre outros, com o presidente Michel Temer, tem buscado impedir que as investigações da Lava Jato avancem, seja por meio de medidas legislativas, seja por meio de controle de indicação de delegados de polícia que conduzirão os inquéritos"; e "Desta forma, vislumbra-se também a possível prática do crime de obstrução à Justiça". As assessorias de Temer e Aécio divulgaram notas negando todas as acusações

Denúncia de Rodrigo Janot

Em 26 de junho, o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, apresentou uma denúncia formal contra Temer, por crime de corrupção passiva. A partir dessa acusação, o presidente poderia ser processado no Supremo Tribunal Federal se houvesse a autorização do Congresso. A base do processo seria a delação de executivos da JBS. Janot considerou que Temer recebeu propina para beneficiar a empresa no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Em sua defesa, o presidente disse que "simplesmente ouviu" as reclamações do empresário, sem conceder qualquer benefício estatal para a JBS, e que não renunciaria ao mandato. Não houve denúncia de crimes de obstrução de Justiça e participação em organização criminosa. Michel Temer se tornou o primeiro presidente do Brasil a responder por crime durante mandato.

Janot acusou Temer de ser o destinatário final de uma mala que continha quinhentos mil reais e de uma promessa de outros 38 milhões em vantagens indevidas, ambas da empresa JBS. O intermediário das operações foi, segundo Janot, o ex-deputado federal e ex-assessor de Temer, Rodrigo Rocha Loures, preso desde o dia 18 de maio. Ele foi filmado pela Polícia Federal enquanto corria com a mala usada para transportar os quinhentos mil reais citados. Janot pediu que Temer fosse condenado à perda do cargo de presidente e ainda que fosse condenado a pagar dez milhões de reais por danos morais à coletividade. Já para o ex-assessor de Temer, pediu o pagamento de dois milhões de reais. Janot declarou que apresentaria outra denúncia por obstrução de justiça. Nesta, Temer teria pedido a Joesley Batista que oferecesse dinheiro ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e ao corretor Lúcio Funaro, para que permanecessem em silêncio diante da Justiça.

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Uso das Forças Armadas para conter manifestações em Brasília

No dia 24 de maio, um protesto realizado por centrais sindicais resultou em confronto entre manifestantes, que avançavam em direção ao Congresso, e a Polícia Militar, a qual tentou contê-los usando bombas de gás lacrimogêneo. A ação provocou incêndio nos edifícios dos ministérios da Cultura, do Planejamento e da Agricultura. Michel Temer decretou a ação das Forças Armadas para conter as manifestações em Brasília, prevendo a atuação dos militares entre os dias 24 e 31 de maio. O Ministro da Defesa, Raul Jungmann, informou que o presidente decretou a "ação de garantia da lei e da ordem". Nas palavras dele, "Nesse instante, tropas federais se encontram neste palácio [do Planalto], no Palácio do Itamaraty e logo mais estarão chegando tropas para assegurar que os prédios dos ministérios sejam mantidos incólumes". Houve grande tumulto na Câmara, com suspensão da sessão corrente, e manifestantes se reuniram na Esplanada dos Ministérios para pedir a saída de Temer. O ministro afirmou que o uso de tropas federais em Brasília foi solicitado pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, contudo este apresentou ofício em que negou a declaração e disse que, na realidade, solicitou o emprego da Força Nacional de Segurança Pública e não o das Forças Armadas.

No dia 25 de maio, Temer revogou o decreto do dia anterior e pôs fim ao uso das Forças Armadas para ações de garantia da lei e da ordem no Distrito Federal.

Temer está tendo baixa popularidade desde que chegou à presidência, embora com mais aceitação popular do que a presidente afastada. A tabela a seguir mostra o resultado de pesquisas de opinião feitas ao longo dos meses sobre como a população avalia o governo e como o compara ao governo anterior.

Movimentos Sociais – Jornadas de Junho de 2013

Os protestos no Brasil em 2013, também conhecidos como Manifestações dos 20 centavos, Manifestações de Junho ou Jornadas de Junho, foram várias manifestações populares por todo o país que inicialmente surgiram para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público, principalmente nas principais capitais. São as maiores mobilizações no país desde as manifestações pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello em 1992, e chegaram a contar com até 84% de simpatia da população.

Inicialmente restrito a pouco milhares de participantes, os atos pela redução das passagens nos transportes públicos ganharam grande apoio popular em meados de junho, em especial após a forte repressão policial contra os manifestantes, cujo ápice se deu no protesto do dia 13 em São Paulo. Quatro dias depois, um grande número de populares tomou parte das manifestações nas ruas em novos diversos protestos por várias cidades brasileiras e até do exterior. Em seu ápice, milhões de brasileiros estavam nas ruas protestando não apenas pela redução das tarifas e a violência policial, mas também por uma grande variedade de temas como os gastos públicos em grandes eventos esportivos internacionais, a má qualidade dos serviços públicos e a indignação com a corrupção política em geral. Os protestos geraram grande repercussão nacional e internacional.

Em resposta, o governo brasileiro anunciou várias medidas para tentar atender às reivindicações dos manifestantes e o Congresso Nacional votou uma série de concessões (a chamada "agenda

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positiva"), como ter tornado a corrupção como um crime hediondo, arquivado a chamada PEC 37, que proibiria investigações pelo Ministério Público, e proibido o voto secreto em votações para cassar o mandato de legisladores acusados de irregularidades. Houve também a revogação dos então recentes aumentos das tarifas nos transportes em várias cidades do país, com a volta aos preços anteriores ao movimento.

As manifestações no Brasil seguiram o mesmo processo de "propagação viral" de protestos em outros países, como a Primavera Árabe, no mundo árabe, Occupy Wall St, nos Estados Unidos, e Los Indignados, na Espanha.

Impeachment da Presidente Dilma Rousseff

Em 31 de agosto de 2016, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, foi destituída do cargo após a conclusão de um processo de impeachment, aberto contra ela em 12 de maio do mesmo ano. Entretanto, Dilma Rousseff não perdeu seus direitos políticos com a destituição, isto é, não ficou inabilitada para exercer cargos públicos por um período de oito anos, como prevê a Constituição Federal em seu artigo 52. Neste texto, além de explicarmos como ocorreu esse acontecimento, também indicaremos alguns temas históricos correlatos que podem ser alvos de questões de vestibulares e do Enem nos próximos anos.

Acolhimento do pedido de impeachment na Câmara dos Deputados

Ao longo do ano de 2015, a Câmara dos Deputados, então presidida pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB), recebeu 50 pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Desses pedidos, 39 foram rejeitados por não apresentarem provas e argumentos satisfatórios. Dos 11 restantes, Eduardo Cunha acolheu, em 2 de dezembro, aquele que foi protocolado em 15 de outubro. Esse pedido foi elaborado pelos juristas Miguel Reale Jr., Janaína Conceição Paschoal e Hélio Bicudo e subscrito por três líderes de movimentos populares que articularam parte da massa de pessoas que foi para as ruas em várias cidades do país em 2015, sobretudo em 15 de março. São eles: Kim Patroca Kataguiri (Movimento Brasil Livre – MBL), Rogério Chequer (Vem Pra Rua) e Carla Zambelli Salgado (Movimento Contra a Corrupção).

Abertura do processo e afastamento da presidente

O pedido foi encaminhado ao plenário da Câmara para ser votada a sua admissibilidade. A votação ocorreu no dia 17 de abril de 2016. 367 deputados federais foram favoráveis e 137 votaram contra. Aos doze dias do mês seguinte, foi a vez de o plenário do Senado Federal votar contra ou favor da abertura do processo de impeachment. 55 senadores votaram a favor e 22, contra. Sendo assim, o processo estava oficialmente em curso e, como previsto no texto constitucional, Dilma Rousseff teve que se afastar temporariamente do cargo. Seu vice, Michel Temer, assumiu interinamente o posto.

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Argumentos da acusação e da defesa

Segundo a Constituição Federal do Brasil, durante o processo de impeachment, os senadores desempenham função de juízes. Portanto, foi montada uma Comissão Especial de Impeachment para apurar as denúncias do processo, ouvir testemunhas da acusação e da defesa e debater política e juridicamente o caso.

No pedido que foi acolhido, os denunciantes formularam a acusação de crime de responsabilidade contra a presidente Dilma com base no artigo 85 da Constituição Federal e Lei 1. 079/1050. O argumento principal dizia respeito à violação, por parte da presidente, de leis relativas ao orçamento e ao controle fiscal, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Essa violação teria sido cometida com a edição de decretos de créditos suplementares sem a aprovação do Congresso Nacional e a realização de operação de crédito com instituição financeira controlada pela União.

A defesa, que foi realizada pelo advogado José Eduardo Cardozo, bem como os senadores partidários da presidente, justificou que a edição dos decretos consistia apenas em autorização de gastos, sem impacto na realização da despesa, já que esta seria “controlada pelos decretos de contingenciamento. Quanto a esse aspecto, no ano de 2015, o governo teria promovido o maior contingenciamento da história e cumprido a meta vigente ao final do exercício”. Além disso, a defesa também argumentou que toda a realização do processo de impeachment não tinha legitimidade porque não havia crime algum cometido por Dilma Rousseff. Fez parte desse argumento a narrativa de que o processo, na verdade, era um “golpe parlamentar”, orquestrado por alguns personagens da cena política, como Eduardo Cunha e Michel Temer.

Votação final

Finalizados os trâmites da Comissão Especial de Impeachment, o processo seguiu para sua fase final, que transcorreu durante os dias 29, 30 e 31 de agosto de 2016. No primeiro dia, a presidente Dilma foi ao plenário do Senado Federal fazer a sua defesa e responder aos questionamentos dos senadores. Depois, acusação e defesa fizeram seus discursos finais, seguidos pelos discursos, também finais, dos senadores contra e a favor do impeachment. No dia 31, houve a votação decisiva.

Todavia, antes que tivesse início, o primeiro-secretário do Senado, senador Vicentinho Alves, apresentou um requerimento da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) – partido da Presidente da República – que pedia o destaque do texto da votação que fala da penalidade aplicada ao presidente que sofre impeachment. O texto integral prevê a destituição do cargo e a perda dos direitos políticos, isto é, a inabilitação para o exercício de funções públicas, por oito anos. O requerimento pedia que ocorressem duas votações, uma para cada quesito da sentença. Os senadores votariam: 1) a favor ou contra a perda do mandato da presidente e 2) a favor ou contra a perda dos direitos políticos.

O requerimento foi deferido pelo presidente da mesa do julgamento, que era, na ocasião, o ministro e presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. Ocorreram, então, duas votações e a presidente foi destituída de seu posto (primeira votação), mas ficou com os seus direitos políticos preservados (segunda votação). Esse “fatiamento” do texto da pena gerou intensa discussão entre juristas, políticos e jornalistas, já que foi considerado inconstitucional por muitos.

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Operação Lava-Jato

Operação Lava Jato é um conjunto de investigações em andamento pela Polícia Federal do Brasil, cumprindo mais de mil mandados de busca e apreensão, de prisão temporária, de prisão preventiva e de condução coercitiva, visando apurar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou de 10 a 20 bilhões de reais em propina. Iniciada em 17 de março de 2014, a operação contava até fevereiro de 2016 com trinta e oito fases operacionais, durante as quais mais de cem pessoas haviam sido presas e condenadas. Investiga crimes de corrupção ativa e passiva, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, organização criminosa, obstrução da justiça, operação fraudulenta de câmbio e recebimento de vantagem indevida. De acordo com investigações e delações premiadas recebidas pela força-tarefa da Operação Lava Jato, estão envolvidos membros administrativos da empresa estatal petrolífera Petrobras, políticos dos maiores partidos do Brasil, incluindo presidentes da Câmara e do Senado e governadores de estados, além de empresários de grandes empresas brasileiras.

A origem do nome da operação foi devido ao uso de uma rede de lavanderias e postos de combustíveis para movimentar valores de origem ilícita, investigada na primeira fase da operação, na qual o doleiro Alberto Youssef foi preso. Através de Youssef, constatou-se sua ligação com Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, que foi preso preventivamente na segunda fase. Seguindo essa linha de investigação, prendeu-se Nestor Cerveró em 2015, que depois delatou. Em junho, a operação atingiu grandes empreiteiras brasileiras, como a Andrade Gutierrez e Odebrecht, cujos respectivos presidentes foram presos; depois muitas outras empresas de empresas de ramos diversos seriam investigadas. Da ligação política, José Dirceu, já condenado em 2013 pelo seu envolvimento no Mensalão, foi preso novamente em agosto, e o publicitário João Santana seria investigado em fevereiro de 2016, enquanto, em março, a condução coercitiva do ex-presidente Lula para depor à Polícia Federal em São Paulo repercutiu na imprensa internacional. No mesmo mês, aconteceu a primeira operação internacional realizada pela Operação Lava Jato, em parceria com a Polícia Judiciária portuguesa. O ex-tesoureiro do Partido Progressista, João Cláudio Genu, foi preso em maio. Dois ex-ministros da Fazenda foram presos em setembro, Guido Mantega e Antonio Palocci, aquele liberado logo depois. O primeiro membro eleito do executivo a ser preso foi o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral em novembro; no mês seguinte, foi a vez de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara de Deputados. Em janeiro de 2017, o empresário Eike Batista foi preso, e posteriormente, em março de 2017, o ex-gerente da Petrobras Roberto Gonçalves foi preso ao movimentar recursos ilícitos da Suíça para China e Bahamas. Em abril de 2017, a justiça bloqueou 470 milhões de reais do Partido Progressista (PP) e políticos da legenda, em uma ação que pede ressarcimento do partido de 2,3 bilhões de reais. A operação continua ativa.

Ao final de dezembro de 2016, a Operação Lava Jato obteve um acordo de leniência com a empreiteira Odebrecht, que proporcionou o maior ressarcimento da história mundial. O acordo previu o depoimento de 77 executivos da empreiteira, que gerou 83 inquéritos no STF, e que foram retirados o sigilo em abril de 2017, pelo ministro da Corte Edson Fachin. Em 2017, peritos da Polícia Federal levantaram que as operações financeiras investigadas na Operação Lava Jato somaram 8 trilhões de reais. A Polícia Federal considera-a a maior investigação de corrupção da história do país.

A Operação Lava Jato descobriu um quadro de corrupção sistêmica no Brasil e fez a Justiça criminal funcionar para todos, independentemente de riqueza ou poder. Uma operação desse porte, em que cada fio da meada puxado tem desdobramentos imprevisíveis, não

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será esquecida facilmente. Quebrou-se paradigmas e criou-se necessidade de se estabelecer novos padrões de comportamento na política e na economia. Na fase batizada de Catilinárias, cujo alvo foi Eduardo Cunha e outros políticos, foi necessário mergulhar na história antiga e nos discursos de Cicero no Senado romano para entender a situação do Brasil: "Até quando abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós? A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia? (...) Não te dás contas de que teus planos foram descobertos?" O sentimento era mesmo o de que zombavam de nós e abusavam de nossa paciência. A pergunta "Até quando?" continua a ecoar nos ouvidos dos brasileiros. A resposta só pode ser dada por meio do fortalecimento das instituições.

Operação Carne Fraca

Em 17 de março de 2017, a Polícia Federal deflagrou a Operação Carne Fraca, que investigou um esquema fraudulento formado por empresas frigoríficas e servidores do Ministério da Agricultura, com o propósito de adulterar a carne vendida em supermercados com aditivos químicos, particularmente com vitamina C, sendo usada para produzir uma aparência saudável em carnes estragadas. Conforme a polícia, "Os agentes públicos, utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva".

Além disso, em ligação telefônica interceptada pela PF, o ministro da Justiça Osmar Serraglio chamou o superintendente regional do Ministério da Agricultura Daniel Gonçalves Filho de "grande chefe".Daniel foi apontado pela PF como líder de uma quadrilha que facilitava a produção de carnes adulteradas e emitia certificados de inspeção falsos. A senadora Kátia Abreu afirmou que o então deputado Serraglio a procurou para tentar manter o fiscal Daniel como superintendente regional, apesar de ele enfrentar um processo administrativo disciplinar. Em 19 de março de 2017, o presidente Michel Temer jantou em uma churrascaria de Brasília com embaixadores de países importadores de carne brasileira. Temer convidou esses representantes pessoalmente após uma reunião, realizada para assegurar que a carne brasileira estava apta para o consumo. A carne do estabelecimento é importada da Argentina, como foi anunciado dias após o evento.

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Atualidades

SOCIEDADE E MOVIMENTOS SOCIAIS

O conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que tem como objetivo alcançar mudanças sociais por meio do embate político, dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específico. Fazem parte dos movimentos sociais, os movimentos populares, sindicais e a organizações não governamentais.

Segundo a psicóloga social Jaqueline Gomes de Jesus, as mobilizações sociais, expressas na forma de marchas, paradas ou ocupações, podem ser entendidas como ritos, formas de comunicação simbólica que se utilizam de metáforas para romperem temporariamente com a rotina e reconstruírem identidades e papéis sociais, sendo, desse modo, fundamentadas em aspectos psicossociais, e não apenas políticos: "as pessoas se organizam em grupos e protestam em nome de uma causa comum, muitas vezes sacrificando seu conforto pessoal, por várias razões, que podem estar fundamentadas em diferentes fatores, entre eles: sentimento de injustiça, eficácia de grupo, identidade social e afetividade. "(Jesus, 2012, p. 169).

Desde os tempos coloniais, a sociedade brasileira é marcada por lutas e movimentos sociais contra a dominação, a exploração econômica e, mais recentemente, contra a exclusão social. A memória histórica registra lutas de índios, negros, brancos e mestiços pobres que viviam nos vilarejos, e brancos pertencentes às camadas médias influenciados pelas ideologias libertárias, contra a opressão dos colonizadores europeus.

A maioria das lutas e movimentos no Brasil Colônia foi empreendida por negros escravizadoss e pelos indivíduos pobres livres. A categoria "povo" na época colonial era dada aos comerciantes e artesãos. No topo da pirâmide social estavam os senhores de engenho, os militares e funcionários graduados e o clero. Eles eram seguidos pelos lavradores, grandes mercadores e artesões. Os pobres livres eram os penúltimos, pois os últimos eram os cativos, os escravos.

Eis uma lista das lutas mais famosas no Brasil Colônia e na fase do Império: Zumbi dos Palmares (1630-1695), Inconfidência Mineira (1789), Conspiração dos Alfaiates (Bahia, 1798), Revolução Pernambucana (1817), Balaiada (Maranhão, 1830-1841), Revolta dos Malés (Bahia, 1835), Cabanagem (Pará, 1835), Revolução Praieira (Pernambuco, 1847-1849), Quebra-Quilos (Pernambuco, 1873), Revolta Muckers (Rio Grande do Sul, 1874), Revolta do Vintém (Rio deJaneiro, 1880), Canudos (Bahia, 1874-1897, massacrada pelas forças da República). Estes são alguns dos exemplos mais conhecidos até o século XX. No início deste século a questão social mudou com o advento da República e com a substituição da mão-de-obra escrava pela assalariada, composta massivamente pelos imigrantes. As classes dominantes eram as mesmas elites agrárias vinculadas à burguesia inglesa, hegemônica no período. Mas o modo de produção se altera com a incipiente industrialização e a formação de um proletariado urbano. Com ele surgem as organizações de luta e resistência dos trabalhadores expressas em ligas, uniões, associações de auxílio mútuo etc.

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Com o advento da República em 15 de novembro de 1889 a situação social não se altera. Durante quase toda a Primeira República (1889 – 1930) a questão social foi considerada no Brasil como "caso de polícia".

Nas duas primeiras décadas do século XX ocorreram revoltas da população reivindicando serviços urbanos, ou protestando contra políticas locais como a Revolta da Vacina (Rio de Janeiro, 1905), Revolta da Chibata (Rio de Janeiro, 1910), Revolta do Contestado (Paraná, 1912), ligas contra o analfabetismo (1915), ligas nacionalistas pelo voto secreto e expansão da educação (1917), revoltas contra o preço do pão, por feiras livres, contra a inspeção de bagagens nas estações de trens, contra a colocação de trilhos para os bondes (que retiravam o emprego dos carroceiros e quebravam os cascos das patas de seus cavalos), atos contra o desemprego e a carestia em São Paulo e no Rio de Janeiro etc.

Durante a Primeira Guerra Mundial a indústria brasileira registrou alto índice de expansão, fruto do declínio do comércio internacional e da consequente necessidade de substituição das importações. Com o aumento das atividades industriais, aumentou o contingente de trabalhadores organizados, o que fortaleceu o movimento operário. Entre 1917 e 1920 inúmeras greves foram decretadas nos principais centros urbanos do país. Em decorrência, o debate sobre a questão social e sobre as medidas necessárias para enfrentá-la ganhou considerável espaço no cenário político nacional. O mesmo acontecia no plano internacional, tanto que o Brasil participou da Conferência do Trabalho de Washington, em 1919. Esse foi um ano de eleições presidenciais aqui, e o tema foi bastante explorado pelo candidato de oposição Rui Barbosa. Mesmo sem apoio de uma máquina eleitoral, Rui conseguiu cerca de um terço dos votos e saiu vitorioso no Rio de Janeiro, então capital da República.

O objetivo central da classe operária era melhorar as condições de vida, de trabalho e salário. Já o empresariado considerava a possibilidade de fazer algumas concessões ao operariado para garantir o processo de produção e de acumulação de capital e, simultaneamente, fazer frente às críticas anti-industrialistas que acusavam o setor de ser o causador da alta do custo de vida além de estimulador de graves problemas sociais com sua intransigência. No início do século a classe operária morava em vilas construídas pelos donos das fábricas (uma forma de reduzir e controlar o preço da mão-de-obra) ou nos cortiços e favelas (também chamadas de cabeças de porco). As condições de moradia eram um espelho das condições de trabalho. Inúmeras greves e revoltas ocorreram, destacando-se a greve de 1917 em São Paulo e a Revolta da Chibata, da armada naval brasileira, que se iniciou no Rio de Janeiro e se espalhou para vários pontos do país. Nos anos 20 surgem várias lutas e movimentos das camadas médias da população urbana e revoltas de militares, bem como movimentos messiânicos e de cangaceiros no sertão nordestino do país, como o liderado pelo padre Cícero no Ceará (1926) e por Lampião na Bahia (1925-1938). Nas cidades destacaram-se a Revolução dos Tenentes (1922), a Coluna Prestes, as lutas pela educação desenvolvidas pelos reformadores (Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e outros).

O Poder Legislativo deu início a um debate com vistas a encaminhar a aprovação de um Código de Trabalho, o que não chegou a acontecer. Dois deputados destacaram-se na defesa das demandas da classe trabalhadora: Maurício de Lacerda e Nicanor Nascimento. É bem verdade que, para a maioria dos políticos da época, a questão social não era percebida como sendo de natureza econômica ou mesmo social, mas sim como um problema de moral e higiene. Daí, portanto, a tendência a tratá-la em conjunto com os temas de educação e saúde. Com o tempo, entretanto, a questão educacional e a questão sanitária ganharam sua área própria, e abriram-se novas discussões, sobre as reformas educacionais e o movimento sanitarista.

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Aos poucos começaram a ser tomadas algumas iniciativas para a criação de normas jurídicas de regulação e controle dos contratos de trabalho. Dava-se início à formação de uma legislação social no país. A primeira dessas leis foi a relativa a acidentes de trabalho, de 1919. Para se precaver, o patronato criou companhias seguradoras, responsáveis pelo pagamento dos benefícios, mas igualmente fontes de acumulação de capital. Em 1920 foi criada a Comissão Especial de Legislação Social da Câmara dos Deputados, com a função de analisar toda e qualquer iniciativa legislativa na área trabalhista. A lei de criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões, de 1923, é considerada a primeira lei de previdência social. Também conhecida como Lei Elói Chaves, nome do autor do projeto, ela concedia aos trabalhadores associados às Caixas ajuda médica, aposentadoria, pensões para dependentes e auxílio funerário. A Lei Elói Chaves beneficiou de início apenas os trabalhadores ferroviários. Só três anos mais tarde seus benefícios foram estendidos aos trabalhadores das empresas portuárias e marítimas.

Em 1922 inaugurou-se o governo de Artur Bernardes, que seria marcado por uma grande instabilidade política devido ao movimento tenentista, e por uma forte repressão ao movimento operário. Uma das principais correntes deste último movimento, a dos anarquistas, além de enfrentar a polícia, passou a sofrer a concorrência dos comunistas, que fundaram em 1922 o Partido Comunista do Brasil. O enfraquecimento do poder de pressão da classe trabalhadora, juntamente com a desaceleração do ritmo da produção e o aumento das importações, fez com que setores do empresariado retrocedessem em seu relativo apoio as demandas sociais e trabalhistas. Além disso, o patronato sentia-se, dia a dia, mais lesado em seus direitos e liberdades com o crescente intervencionismo do Estado no campo trabalhista.

Ainda assim, duas leis importantes foram introduzidas na segunda metade dos anos 20: a Lei de Férias (1925) e a Lei de Regulamentação do Trabalho de Menores (1926/27). A primeira visava a obrigar os empresários a concederem 15 dias de férias a seus empregados, sem prejuízo do ordenado, mas foi sistematicamente desrespeitada. Já o Código do Menor estipulava a maioridade a partir dos 18 anos e propunha uma jornada de trabalho de seis horas. Ao contrário da Lei de Férias, enfrentou uma reação apenas parcial, com relação aos limites de idade (de 14 anos) e ao horário de trabalho estipulados.

O cumprimento da legislação social, entretanto, deixava muito a desejar devido à ausência de fiscalização adequada. Apenas os trabalhadores mais organizados e de maior peso político conseguiram, assim mesmo com muita luta, garantir sua aplicação. Isso também se restringia aos grandes centros do país, São Paulo e Distrito Federal, não tendo portanto um caráter nacional. Mesmo a criação do Conselho Nacional do Trabalho em 1923, concebido como um órgão específico para tratar de questões dessa natureza, não resolveu o problema. O Conselho teve uma atuação de caráter meramente consultivo, não chegando a operar como planejador de uma legislação social. Só a partir de 1928 o órgão adquiriu poderes para atuar como árbitro de conflitos trabalhistas.

Até a inauguração da Era Vargas o direito social brasileiro só abrangia alguns poucos aspectos da questão trabalhista e menos ainda da questão previdenciária. Seja como for, a implantação de uma legislação social como um todo após a Revolução de 1930 tem suas raízes nessas iniciativas pioneiras e na luta dos trabalhadores desse período.

O movimento articulado pelas elites que ficou conhecido como Revolução de 30 demarca um novo tempo no país, em termos de consolidação de novas regras que buscavam inseri-lo no cenário internacional, não apenas como produtor de produtos agrícolas, mas também como produtor de bens de consumo industrializados (têxtil e mobiliário) e gêneros alimentícios de

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primeira necessidade. Surgem condições para o desenvolvimento de uma classe burguesa industrial. A classe operária muda de composição: de imigrantes estrangeiros para os rnigrantes nacionais, egressos do campo para a cidade. O Estado assume a liderança do processo de desenvolvimento nacional e promulga uma série de leis, destacando-se a legislação do trabalho. Ministérios e Secretarias foram criados e a questão social, até então objeto apenas da ação da polícia, passa a ter atenção de setores específicos dos governos.

Vários movimentos sociais ocorreram no período de 1930-1937, entre os quais o Movimento dos Pioneiros da Educação (1931), a Marcha Contra a Fome (1931), a Revolução Constitucionalista de São Paulo (1932), a Revolta do Caldeirão no Ceará (1935), a criação da Aliança Libertadora Nacional (1935), o Movimento Pau de Colher (ocupação de terras na Bahia, em 1935), revoltas militares etc. O golpe do Estado Novo em 1937, impetrado pejo ex-presidente Getúlio Vargas, amorteceu os conflitos sociais pelo controle via repressão. A partir de 1942 são criadas várias sociedades amigos de bairros, frutos da expansão do processo de urbanização nas principais capitais do país. O período entre 1945 e 1964 entrou para a história como a fase do regime político populista; ele foi bastante fértil em termos de lutas e movimentos sociais. A conjuntura de redemocratização do país, aliada a um cenário internacional de desenvolvimento da sociedade de consumo, e a política da Guerra Fria entre as então potências mundiais (Estados Unidos e URSS) criaram espaços favoráveis aos projetos nacionalistas de desenvolvimento nacional. O Estado altera suas politicas e passa a criar condições para a instalação de indústrias multinacionais no país. Inicialmente, desenvolve políticas para o setor de energia, cria a Petrobrás; estradas, silos, armazéns, portos e usinas hidrelétricas são patrocinados pelo Estado. Constrói-se Brasília e inauguram-se as primeiras fábricas de automóveis. Um novo setor da classe operária surge no ABCD paulista: os metalúrgicos. Setores da burguesia industrial brasileira fizeram alianças com capitalistas internacionais.

Entre 1961-1964 eclodiram centenas de greves no país. Criaramse, no campo, dois movimentos que são considerados como os antecessores dos atuais sem-terra: as Ligas Camponesas do Nordeste e o Movimento dos Agricultores Sem-Terra (MASTER), no Sul do país. Na área da educação criou-se o Movimento de Educação de Base (MEB). Setores da área da educação e da cultura aliaram-se aos grupos que lutavam por um projeto de desenvolvimento nacional autônomo e produziram vários eventos, publicações e movimentos, como os Círculos Populares de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE). O sindicalismo industrial viveu grandes conflitos, tanto internos – entre os sindicatos oficiais e o sindicalismo paralelo, de oposição – como externos, gerados nos embates com os proprietarios das empresas e o Ministérios do Trabalho.

O golpe militar de 1964 pôs fim a um ciclo de mobilização e organização popular. Entre 1964 e 1969 os movimentos de resistência foram poucos. No meio industrial ficaram famosas as greves de Contagem (MG) e Osasco (SP). Os estudantes, influenciados pela conjuntura nacional e internacional- principalmente o Maio de 68 na França e a política cultural maoÍsta na China – entraram para a história como novos atores em cena, naquele período. O Estado redefiniu suas leis e criou novos aparelhos burocráticos de controle. O Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968, cassando e punindo pessoas e estabelecendo severas restrições aos direitos sociopolíticos dos cidadãos, foi o ponto culminante de uma era de medo, repressão e violação dos direitos humanos, comandada por regimes militares que se espalhariam por toda América Latina. Com o regime militar no poder, a esquerda partiu para a luta armada e seus principais líderes foram mortos nos embates das "guerrilhas". As camadas médias da população brasileira se expandiram e se locupletaram com as benesses que o regime lhes oferecia: expansão do ensino

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superior (pago), acesso ao consumo de bens indusuializados, principalmente a linha branca doméstica, os televisores e os carros. Criou-se um banco para financiar a casa própria: o Banco Nacional da Habitação (BNH). As camadas méclias tiveram acesso ainda aos novos empregos gerados pelas multinacionais que aqui se instalaram e aos cargos na burocracia governamental. Foi a fase da tecnocracia, do planejamento centralizado. A classe operária sofreu um grande arrocho salarial. A partir de 1974, com a crise internacional do petróleo, o chamado "milagre brasileiro" entra em crise. A resistência ao regime militar começa a se articular. Os movimentos sociais emergem das cinzas. Nas cidades, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), embaladas pela Teologia da Libertação, organizaram milhares de pessoas e deram origem a movimentos populares vigorosos como Custo de Vida (depois Carestia), movimentos pelos transportes, de favelados pelo direito real de uso da terra onde estavam, pela saúde nos centros e postos comunitários de saúde, por vagas nas escolas etc. Grande parte desses movimentos serviu de base de apoio às greves que se espalharam pelo país entre 1978-1979. Eles formaram os comitês de compra de gêneros de primeira necessidade e de apoio aos operários em greve. O setor da educação também se mobilizou e surgiram várias associações e uniões de trabalhadores do ensino (tanto do antigo 1 ° e 2° graus, como do ensino universitário).

O ciclo de greves dos trabalhadores declina após a reforma que pôs fim ao bipartidarismo no país com a retomada do processo eleitoral em âmbito estadual. Os trabalhadores recriam suas centrais sindicais a partir da Associação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais (ANAMPOs). Surge a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). No campo popular foi criada a Confederação Nacional das Associações de Moradores (CONAM) e a ANAMPOS continuou a aglutinar os setores populares mais próximos das práticas sociais da CUT, do Partido dos Trabalhadores e dos setores progressistas da Igreja Católica. Posteriormente a ANAMPOS se transforma em Pró-Central dos Movimentos Populares, que deu origem à Central dos Movimentos Populares em 1993.

O ano de 1984 foi um marco na história sociopolítica do Brasil com o movimento Diretas Já, movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil. A possibilidade de eleições diretas para a Presidência da República se concretizaria com a votação da proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira pelo Congresso. Entretanto, a proposta foi rejeitada, frustrando a sociedade brasileira, Tancredo Neves (PMDB) e José Sarney (PDS) foram eleitos indiretamente. As eleições diretas para presidente da República só vieram a acontecer em 1989.

Entre 1984 e 1988 o país se mobilizou por uma nova Constituição. Os movimentos sociais que emergiram na cena política, desde o final dos anos 70, conseguiram inscrever em leis, como direitos, várias reivindicações. Foram conquistas sociais de trabalhadores, mulheres, índios, meno menores e cidadãos até então considerados como de "segunda categoria".

Mas a crise internacional do capitalismo globalizado já havia se espalhado pelo planeta e atingiu o Brasil nos anos 90. Desemprego, reformas, reestruturações no mercado de trabalho, flexibilização dos contratos etc. passaram a ser a tônica do novo cenário. Os sindicatos dos trabalhadores se enfraqueceram, o número de pessoas a atuar na economia informal multiplica-se centenas de vezes. Os sindicatos passam a lutar contra as políticas de exclusão social do governo; muda-se a pauta das reivindicações dos trabalhadores : a luta é para manter o emprego e não por melhores salários ou condições de trabalho, como na fase anterior. Os movimentos sociais populares urbanos se desarticulam. A luta social no campo recrudesce e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), criado nos anos 80, ganha as manchetes da mídia e toma-se o agente do principal conflito social no país. Os movimentos de resistência às reformas na Constituição nacional foram tímidos e não conseguiram alterar o quadro de

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correlação de forças. (Gohn, 1997b) Novamente as camadas médias tiveram um peso decisivo no apoio ao regime político prevalecente. O plano de estabilização econômica lastreado no Real e na quase paridade com o dólar americano, vigente de julho de 1994 a janeiro de 1999, fundamentou as expectativas de mudanças em direção à modemidade, um valor básico para aquelas camadas. Contudo, as alterações na política econômica ocorridas em janeiro de 1999 levaram a mudanças no estilo de vida das diferentes classes e camadas sociais brasileiras; fim da era do consumo fácil de importados pelas camadas médias, aprofundamento da recessão e recrudecimento das taxas de desemprego. As reformas administrativas do Estado agravaram a instável estabilidade dos funcionários públicos. Entretanto, o cenário político-econômico é outro. Novos atores entraram em cena; desta vez não para lutar contra a exclusão clamando por cidadania e direitos sociais, mas lutando pela inclusão, pela integração dos excluídos que o sistema gera. Trata-se do contraditório terceiro setor.

O século XXI marca o retomo dos movimentos sociais à cena política nacional. Apesar de quase uma década de desmobilização dos movimentos populares urbanos, eles iniciam lenta retomada, em outras bases, incorporando a experiência adquirida via a participação nos conselhos, fóruns e outras formas mais ou menos institucionalizadas de participação. Entretanto, outros movimentos sociais ganham as manchetes da mídia, como o dos índios. Eles se reorganizaram em função da luta peja demarcação de suas terras, realizaram marchas e caminhadas e aproveitaram a conjuntura política em torno da polêmica questão dos "500 anos de descobrimento do Brasil" para protestar e exigir seus direitos. Foram reprimido pelas forças policiais e ganharam a simpatia e o apoio de governos e organismos internacionais, que se manifestaram contra a violência cometida. O MST ganha novo fôlego e se alastra por todo Brasil. Os estudantes voltaram às ruas, não mais com as "caras pintadas". Voltaram politizados em luta contra o desemprego, a corrupção, mas novas pautas também tomaram grandes proporções como o movimento LGBT, o Feminismo, o movimento ambientalista, etc. As greves dos professores – em diversos graus do ensino – também retornam.

A Parada do Orgulho Gay tem aumentado expressivamente a cada ano, desde seu início em 1995 no Rio de Janeiro, fortalecendo-se através de redes nacionais, como a LGBTT, de grupos locais e simpatizantes.

A Marcha da Reforma Urbana, em Brasília (outubro de 2005), resultou não só da articulação de organizações de base urbana (Sem Teto e outras), mas também de uma integração mais ampla com a Plataforma Brasileira de Ação Global contra a Pobreza. A Marcha Mundial das Mulheres tem sido integrada por organizações civis de todos os continentes. A Marcha vinculada à III Cúpula dos Povos, em Mar Del Plata (novembro de 2005), “foi convocada pela Aliança Social Continental, por estudantes, trabalhadores, artistas, líderes religiosos, representantes das populações indígenas e das mulheres, juristas, defensores dos direitos humanos, parte desse movimento plural, que, pela terceira vez, celebra o encontro, após os realizados em Santiago do Chile (1998) e Québec (2001)” A Marcha Zumbi + 10 desmembrou-se em duas manifestações em Brasília (uma em 16 e outra em 22 de novembro de 2005), expressando a diversidade de posturas quanto à autonomia em relação ao Estado.

Em outras palavras, o movimento social, em sentido mais amplo, se constitui em torno de uma identidade ou identificação, da definição de adversários ou opositores e de um projeto ou programa, num contínuo processo em construção e resulta das múltiplas articulações acima mencionadas. A ideia de rede de movimento social é, portanto, um conceito de referência que busca apreender o porvir ou o rumo das ações de movimento, transcendendo as experiências empíricas, concretas, datadas, localizadas dos sujeitos/atores coletivos.

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Concluímos com as palavras do professor Mauro Luís Iasi, Professor de Serviço Social da UFRJ:

“Uma luta social é expressão de um ser social que foi subsumido à serialidade reificada e individualizante que os fez crer que nossa dor é sua dor, que nossa raiva é apenas sua raiva, que nosso destino é sua sina pessoal; e que, em certas condições, é capaz de ver seu próprio sofrimento no sofrimento do outro, sua revolta na luta de outros. Indivíduos que nunca deixaram de ser um ser social, mas que agora, diante de uma injustiça ou uma opressão particular, podem superar o campo prático inerte em que se inseriam e chamavam de realidade, por meio de uma ação conjunta que pode se converter em práxis livre.

Estamos convictos que não apenas indivíduos podem encontrar novamente seu ser social no corpo de um movimento ou luta social, mas mesmo estes movimentos particulares diante de uma ameaça universal podem encontrar seu ponto de fusão na ação de massas e, em condições muito específicas, sua fusão de classe. Jovens se levantam contra o aumento das passagens e logo enfrentam a prepotência da ordem. Prefeitos dizem que não abaixarão as tarifas, governadores mobilizam suas tropas de choque, presidentas e congressos fingem pateticamente não ser com eles e pronto, cada um vai à rua com sua própria revolta e indignação, potencializados mas não produzidos pelas redes sociais, e, de repente, somos todos jovens, todos mulheres, todos negros, todos pobres, todos trabalhadores... fusão: a rebeldia deles se tornou a minha, minha revolta tornou-se a nossa revolta.

Ainda heterogêneo, diverso, múltiplo, mas a ameaça comum aponta para alvos comuns e precisos: os governos federal, estaduais e municipais e seus personagens e símbolos, palácios, assembleias, tribunais; mas, também, os bancos, os templos do consumo, os pedágios, a polícia. Uma homogeneidade heterogênea, uma unidade na diversidade antes fragmentária... uma luta social de massas que ainda não aflorou sua fusão de classe. Para esta não basta a revolta, não basta a miséria, como diziam Marx e Engels, é necessário a miséria consciente de sua miséria e para isso o desvelar das determinações mais profundas e a intencionalidade de classe por traz das diversas formas de opressão e exploração.” (Lutas sociais e Serviço Social: sobre sementes e frutos)

Leitura complementar

Luta contra homofobia avança na última década

Há 25 anos, no dia 17 de maio, as Nações Unidas (ONU) retiravam a homossexualidade do Código Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS). Considerada histórica, a data passou a marcar as celebrações do Dia Internacional de Combate à Homofobia, inclusive no Brasil. Vítimas do preconceito e de manifestações de violência física e moral, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais ainda lutam pelo reconhecimento de direitos sociais.

Apesar das dificuldades, no entanto, o País contabilizou avanços significativos na última década, com a crescente participação da sociedade civil em fóruns de discussão e organizações não governamentais e a execução de políticas públicas voltadas para a defesa e maior representatividade da população LGBT.

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“Quando o governo coloca políticas LGBT no mesmo patamar [das outras], sem discriminação, isso é muito importante para a gente”, diz Sandra Muñoz, representante em Salvador da Rede Sapata e diretora do Movimento de Lésbicas e Mulheres Bissexuais da Bahia. Para Muñoz, a inclusão, pelo governo federal, da população LGBT na pauta dos Direitos Humanos é sinal de que há mais disposição da sociedade para dialogar sobre o assunto. “É do que precisamos: falar e ser ouvidos”, afirma a ativista, em depoimento ao Portal Brasil.

Atenta à gravidade das manifestações de caráter homofóbico, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) reforçou o atendimento pelo Disque 100 – Disque Direitos Humanos. Segundo o último balanço da secretaria, entre janeiro e abril de 2015, foram registradas 356 denúncias de violações de direitos humanos entre a população LGBT no País. Em 2014, foram registradas 1.013 denúncias.

Desde o início do ano, a secretaria promove oficinas de capacitação em parceria com Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT), órgão colegiado composto por representantes da sociedade civil e do governo federal.

Para traçar um panorama mais amplo da situação da homofobia no País, a Secretaria de Direitos Humanos passou a publicar, a partir de 2011, o Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil, um estudo pioneiro com dados sobre as violações de direitos humanos da população LGBT. O relatório cruza dados do Disque 100, do Ligue 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), e da Ouvidoria do Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde.

De acordo com a última versão da publicação, de 2013, houve um aumento do número de violações de direitos humanos entre 2011 e 2012. Em 2011, 6.809 violações de direitos foram registradas. No ano seguinte, saltaram para 9.982, um aumento de 46,6%.

Os dados da pasta confirmam que a estrada para a superação do preconceito à população LGBT é longa e sinuosa: entre os tipos de violações de direitos humanos mais comuns registrados pelo Disque 100 estão a discriminação e a violência psicológica, seguidas por denúncias de violência física.

Saiba como funciona o Disque 100

Serviço mantido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o Disque 100 recebe denúncias sobre violações de direitos humanos, em especial as que atingem populações com maior vulnerabilidade.

O Disque 100 funciona 24 horas por dia. As ligações podem ser feitas a partir de telefone fixo ou celular, de qualquer estado do país e o anonimato é garantido. Todas as denúncias recebidas são encaminhadas, no prazo máximo de 24 horas, aos órgãos competentes para apuração das responsabilidades.

Fonte: Portal Brasil, com informações da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/05/luta-contra-homofobia-avanca-na-ultima-decada)