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» páginas 05 e 06 » páginas 12 a 15 «(...)o grupo extremista islâmico afirmou que os próximos alvos serão as cidades de Washington, Roma e Londres.» » páginas 10 e 11 ATUALIDADE: Costa põe fim a Governo de 17 dias ATUALIDADE: Atentados em Paris Direcção: Catarina Veloso e Inês Linhares Dias Edição nº25 - Novembro de 2015 «(...) Esta coligação criada pelo líder do PS, porém, só foi for- mada depois das eleições, (...).» EX- ALUNOS: Manuel Cavazza ERASMUS: Gabriela Moura OPINIãO: C’est la Vie » páginas 07 e 08 » página 26

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Page 1: ATUALIDADE: Atentados em Paris · Deste modo, contamos com um extenso artigo sobre os ataques em Paris e as suas consequências na sociedade ocidental, elaborado pelo Diogo Barreto

» páginas 05 e 06

» páginas 12 a 15

«(...)o grupo extremista islâmico

afirmou que os próximos alvos

serão as cidades de Washington, Roma

e Londres.»

» páginas 10 e 11

ATUALIDADE: Costa põe fim a

Governo de 17 dias

ATUALIDADE: Atentados

em Paris

Direcção: Catarina Veloso e Inês Linhares Dias Edição nº25 - Novembro de 2015

«(...) Esta coligação criada pelo líder do PS,

porém, só foi for-mada depois das

eleições, (...).»

E x - A LU n o s: Manuel Cavazza

E R A s M U s: Gabriela Moura

o P I n I ão: C’est la Vie

» páginas 07 e 08 » página 26

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Novembro de 2015 foi um dos meses mais desafiantes

para a Europa nos últimos anos. Criados com a convicção de que a vida é o valor sagrado mais elevado de todos, os europeus foram confrontados com o terror da guerra em pleno coração de Paris. O Daesh levou a cabo vários ataques que deixaram o mundo ocidental perplexo e com a necessidade de agir contra o terrorismo.

Nesta edição, o Pontivírgula pretende homenagear

todas as vítimas dos atentados terroristas promovidos pelo fanatismo religioso, não só em Paris, mas no mundo. Deste modo, contamos com um extenso artigo sobre os ataques em Paris e as suas consequências na sociedade ocidental, elaborado pelo Diogo Barreto. Mas contamos também com várias perspectivas dos ataques na capital francesa, em forma de reflexão, levadas a cabo pela Inês Dias, que se encontra na Hungria, e pela Susana Santos, que visitou o Bataclan duas semanas após os ataques. Por fim, a Mariana Pereira Martins abordou a queda do avião russo no Egipto e a Inês Amado não deixou passar em branco os atentados promovidos pelo Boko Haram na Nigéria.

A nível nacional, também tivemos uma estreia: um

partido que não ganhou as eleições viu o seu dirigente indigitado (ou “indicado”) primeiro-ministro. A coligação de um partido de centro com o BE e o PCP de modo a adquirir a maioria no Parlamento levaram a um resumo do último mês da vida política do nosso país, elaborado pela Madalena Gil. Uma das medidas indicadas pelo novo governo é a abolição dos exames do 4º ano, o que levou o Diogo Oliveira à Escola Básica João Gonçalves Zarco, em Algés, para saber a opinião dos alunos.

Para terminar num tom mais festivo, durante o mês de

Dezembro, a Universidade Católica está a promover uma campanha de recolha de bens, nomeadamente, mantas e cobertores. A acção solidária pretende fomentar o espírito solidário na época natalícia e ajudar várias instituições.

Ficha Técnica

Diretora: Catarina Veloso

Vice-Diretora: Inês Linhares Dias

RedaçãoAna SilvestreAndreia MonteiroCatarina FélixDina TeixeiraDiogo BarretoGuilherme TavaresInês AmadoJoana SantosMadalena GilMaria BorgesMaria Manuel de SousaMariana Pereira MartinsPatrícia FernandesSandra VasconcelosTatiana Santos

ColunistasAlexandra Antunes, LiteraturaCatarina Veloso, ModaDiogo Oliveira, DesportoFrancisco Marcelino, MúsicaInês Linhares Dias, PolíticaJoana Ferragolo, LifestyleJoão Torres, CinemaMiguel Freitas, MúsicaMitchel Molinos, VídeojogosOmar Prata, Produção EscritaPedro Pereira, CinemaSónia Araújo, SaúdeSusana Santos, Actualidade

Equipa YoutubeDuarte Sá CarvalhoInês Camilo

DesignCatarina VelosoDaniela Trony Miguel Brito Cruz

Contacto: [email protected]

EDITORIAL02

Jornal redigido com o Novo Acordo Ortográfico, salvo quando indicado.

Boas Leituras Catarina VeLoso

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

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FCHnataL Com espírito soLidário

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As Associações de Estudantes da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (AEUCP) juntaram-se para um bem maior nesta época natalícia.

Todos os anos as AEUCP fazem acções solidárias para ajudar os mais carenciados nesta altura do ano, mas cada Associação de Estudantes (AE) das diferentes faculdades opera de forma independente. As AEUCP juntaram-se nesta primeira edição e vão trabalhar conjuntamente nesta época do ano, que é caracterizada pela solidariedade.

“Irá haver uma recolha de bens entre os dias 24 de Novembro e 14

de Dezembro”

Irá haver uma recolha de bens entre os dias 24 de Novembro e 14 de Dezembro. Os donativos entregues a cada AEUCP serão encaminhados para o Instituto São João de Deus, a Paróquia de Santa Isabel e o Centro Social Paroquial de São Vicente de Paulo. Todas as AE farão uma recolha específica de bens. Podem adquirir mais informações em cada uma delas.

Este vai ser mais um ano a cumprir a tradição natalícia, mas desta vez com todas as faculdades da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa intimamente unidas para um bem maior.

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

sandra VasConCeLos

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ex-aLunos: experiênCias

manueL CaVazza

«O que é que eu vou estar a fazer daqui a um ano?». É normal ter algumas dúvidas sobre o futuro. Na minha cabeça, uma coisa era certa: ia para São Tomé e Príncipe fazer voluntariado e, depois, queria continuar os meus estudos. Só não sabia onde, e o quê - perguntas às quais, ironicamente, qualquer jornalista tem de conseguir responder.

Durante o terceiro ano da licenciatura estive a tentar perceber o que deveria fazer. Pensei em tirar um mestrado fora de Portugal. Por isso, comecei logo a ver rankings das escolas de jornalismo, para perceber para onde eu podia ir e se valia a pena. Apercebi-me logo que ir para Londres ou para os Estados Unidos seria uma boa opção. Comecei a fazer as candida-turas no começo de 2015 porque, na verdade, não existem prazos para muitos dos mestra-dos no Reino Unido. Nunca pensei bem que fosse entrar. Fui fazendo as coisas que me pediam, mas pensava sempre: «já só estou a fazer por fazer», no entanto sabia que tinha de pelo menos tentar para não me arrepender.

Depois, comecei a pensar que podia não estar pronto para estudar de novo fora. Não tinha muita vontade. Então, enquanto me can-didatava a mestrados lá fora, procurei alternati-vas para me manter ocupado no próximo ano letivo. Encontrei uma pós-graduação da Fac-uldade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da NOVA, em parceria com o Grupo Impresa. Basicamente, durante dois semestres teria aulas e estágios rotativos nas várias plataformas deste grupo. Desde cedo achei que seria uma boa oportunidade para perceber qual a área do jornalismo em que queria trabalhar, já que, durante a pós-graduação, temos oportunidade de estagiar na imprensa, na rádio e na televisão.

Tem piada porque, antes de ir para São Tomé e Príncipe, eu dizia às pessoas que tinha dois grandes medos: o primeiro, o de não saber passar os meus conhecimentos de uma maneira simples o suficiente para que eu fosse entendido pelas populações. O segundo, o de não querer voltar. Este último foi o único que acabou por se concretizar. Após os dois meses de voluntariado a dar aulas de Português; Inglês e Formações diver-sas, e de ver que estava a fazer alguma dife-rença na vida das pessoas, de me integrar tão bem naquela terra e sentir-me santola (santomense), eu sentia que não fazia sen-tido voltar para Lisboa. Então, motivado pelo facto de a pós-graduação começar apenas em Novembro, decidi ficar mais um mês e meio.

FCH

© manueL CaVazza

Futuro? É o que quiseres

Foi nesta altura que fui aceite em algumas universidades lá fora. E o «problema» agravou-se. Tinha de tomar uma decisão. Então, optei por adiar a minha candidatura para Londres e seguir para a pós-graduação. Um outro fator que me motivou a fazer precisamente isto foi o facto de, também nesta altura, saber que ia para São Tomé e Príncipe em voluntariado com a ONG AHEAD (Associação Humanitária para o Apoio à Educa-ção e ao Desenvolvimento). Chegaria a Lisboa dia 12 de setembro e tinha de estar em Londres, para a semana de introdução, dois dias depois, dia 14. Portanto, estava decidido - «vou para a Nova e depois para Londres». Mas, apesar de tudo isso, voltei para Portugal apenas dia 31 de outubro.

“E o «problema» agravou-se. Tinha de tomar uma decisão.”

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manueL CaVazza

FCHex-aLunos: experiênCias

manueL CaVazza

Em suma, o meu conselho é: não se preocupem muito, mas tenham as ideias minimamente claras. Tentem perceber o que querem fazer e apostem nisso. Aproveitem ao máximo todas as oportuni-dades que vos surgirem durante a licencia-tura, façam voluntariado, escrevam para o jornal da Faculdade, façam estágios, tudo.

Olho para os três anos e sinto que cresci. Além disso, descobri uma área de que gosto muito e para a qual acabei por ir às escu-ras. Ao fim destes anos todos, foi mesmo uma experiência que valeu muito a pena.

Obrigado aos meus colegas e à FCH.

O que acabou por acontecer foi que conse-gui entrar em contacto com uma televisão digi-tal santomense que rapidamente se ofereceu para me acolher e, deste modo, foi me pro-posto fazer um estágio lá. De imediato aceitei e foi uma experiência incrível e verdadeiramente enriquecedora. Fazia de tudo, escrevia texto para ser lido no teleponto; redigia notícias; ia ao terreno e no final, fiz de pivot, sim «um branco a fazer de pivot» Aprendi também a lidar com o mundo do trabalho. Foi a pri-meira vez que trabalhei como jornalista. Tinha momentos em que pura e simplesmente, me tinha de desenrascar. Porque o fio do micro-fone estava enrolado ou porque estávamos à espera de um ministro que podia chegar a qualquer momento. Além disso, consegui trabalhar na minha área num contexto comple-tamente diferente. Em África não se trabalha da mesma maneira como na Europa. Mas foi uma experiência fantástica. Estar à frente de uma câmara e ouvir pelo auricular: «Tuga, tu tás muito nervoso», antes de fazer de pivot, ou entrevistar o chefe de partido do governo, ADI, foi, sem dúvida, enriquecedor.

© manueL CaVazza

“Em África não se trabalha da mesma maneira como na

Europa”

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FCHerasmus: experiênCias

GaBrieLa moura

Com mais de 230 000 habitantes, Lille é a maior cidade do Norte da França. Tem uma posição geográfica privilegiada, valorizada por uma densa rede de transportes. Trocando por miúdos, Lille vai dar a todo o lado. Além da localização da cidade, não podia ter tido mais pontaria no ano e no semestre escolhido. Está a decorrer a 4ª edição do Lille3000, que tem como tema, este ano, Renaissance (Renascimento).

À imagem do Renascimento do século XVI, marcado por um renascer intelectual e artístico, vivemos, neste início do século XXI, uma época agitada donde emerge um novo mundo. E para celebrar este novo mundo, durante quatro meses, mais concretamente, de 26 de Setem-bro a 17 de Janeiro, estão a decorrer eventos de todo o tipo distribuídos pela metrópole de Lille, acerca de cinco cidades em “efervescên-cia”: Rio de Janeiro (Brasil), Detroit (EUA), Eind-hoven (Holanda), Phnom Pehn (Cambodja), Seoul (Coreia do Sul). Ou seja, todas as semanas estão recheadas de eventos. A maioria é de entrada livre, o que permite a todos conhe-cerem outras cidades sem terem de sair de Lille.

Estou a estudar na ISTC - Stratégies & Com-munications, a Faculdade de Comunicação da Universidade Católica de Lille, que tem vindo a surpreender-me desde o primeiro dia. Antes das aulas começarem os alunos internacionais fizeram parte do que eles chamam de “fim-de-semana de integração”, que é uma junção da nossa praxe com o fim-de-semana do caloiro. Foi uma ideia bem conseguida, sentimo-nos integrados como os caloiros desde o início. Sim, e fui praxada outra vez. A escolha do padrinho e madrinha é diferente da nossa. Aqui, antes partirmos em viagem, cada caloiro preenche um papel que dá a conhecer a sua person-alidade e cada aluno do 2º ano, de acordo com essa informação escolhe o seu afilhado. No início da noite são relevadas as escolhas. Cada caloiro espera ansiosamente até ouvir o seu nome e poder entregar a sua prenda ao seu padrinho ou madrinha. Ninguém fica de parte. Nestes dois dias tive a oportunidade de conviver num ambiente descontraído com o grupo de alunos internacionais, com os caloiros e com os colegas franceses dos 2º e 3º anos. Nunca me senti sozinha. E isto é importante.

direCtamente de LiLLe

© GaBrieLa moura

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A ISTC é uma faculdade pequena mas muito dinâmica. Obrigatoriamente todos os alunos do 3º ano têm de estar inscritos nal-guma associação. Há associações para todos os gostos, garanto. Existe até um dia em que é obrigatória a presença de todos os que fazem parte da ISTC, no qual são exibidos os vídeos de apresentação de cada associação, com o intuito de incitar os alunos do 1º e 2º ano a aderir e de mostrar aos professores quais são os seus objectivos para o decorrer do ano lectivo. E como bons alunos de comunica-ção, todas as associações organizam eventos. Como são tantas, todas as semanas experi-mentamos algo diferente e é motivante ver a adesão. Excepcionalmente na ISTC não há um sistema de buddies mas sim uma asso-ciação que se ocupa dos alunos internacio-nais. É através deles que somos introduzidos à sua cultura e ao seu círculo de amigos, o que nos permite conhecer a cultura francesa de dentro. E todas as tardes de 5ª são reservadas à prática de desporto. Podemos escolher entre dança, reforço muscular, futebol e jogging.

“(...) somos introduzidos à sua cultura e ao seu círculo de amigos,

o que nos permite conhecer a cultura francesa de dentro.”

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GaBrieLa moura

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

FCHerasmus: experiênCias

GaBrieLa moura

Tudo era alegria e já quase não notava o céu cinzento de Lille, até que chegou o dia 13 de Novembro. Tudo mudou. Apenas uma semana se passou. Mas tudo mudou. De Lille a Paris é um pulo. Os lilloises sentiram o terror daquela noite como parisienses. Dirigi-me à cozinha para, juntamente com os meus vizinhos, acompanhar as notícias. Roíam-se unhas. Os telemóveis não paravam de tocar. A tristeza e o pânico via-se na cara de cada um. Foi um fim-de-semana mal dormido. Mas chegada a segunda-feira, obriguei-me a voltar à normali-dade, dirigi-me à faculdade, e quando chego deparo-me com apenas uma porta aberta para quatro faculdades e com um segurança à porta. Em todas as outras lê-se um aviso “Por motivos de segurança esta porta encontra-se fechada”. No centro comercial somos revista-dos à entrada e nas ruas vêem-se militares esp-alhados por toda a parte. E todo o dinamismo desta cidade foi-se com os ataques. Por moti-vos de segurança, por luto e por respeito todos os eventos foram cancelados. Não se fala de outra coisa e as notícias não mudam de tema.

Teremos o primeiro evento da faculdade após os ataques terroristas no dia 25 de Novembro. As associações da gastronomia e internacional juntaram-se para organizar um buffet e degus-tação de vinhos tradicionalmente franceses.

Santé é o que se pede!

A quem tiver oportunidade, façam Eras-mus. A quem não tiver, saiam da vossa zona de conforto. Conheçam os estudantes Erasmus que recebemos todos os semestres, eles vão agradecer e vocês também, por terem dado a oportunidade de se darem a conhecer. Mos-trem-lhes a nossa cultura e como somos um povo acolhedor. Mostrem também interesse por conhecer a cultura deles, vão ver o mundo crescer diante dos vossos olhos. Eu sinto que conheço os países dos meus colegas de Eras-mus apenas através do contacto diário que tenho com eles, porque a partilha é constante.

E é essencial conhecer outras culturas, além de sermos cidadãos europeus somos filhos de um mundo intercultural. No futuro poderão vir a trabalhar numa empresa mul-tinacional, ou mesmo no estrangeiro e é imperativo saber como cada cultura se com-porta relativamente ao tempo e ao espaço. Poupa-se tempo e trabalha-se melhor.

Semana Internacional na ISTC © GaBrieLa moura

“Santé é o que se pede!”

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ATUALIDADEantónio Costa põe Fim a GoVerno de 17 dias

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No dia 10 de Novembro de 2015, o gov-erno da coligação PSD/CDS caiu sob a coligação de esquerda PS, BE, PCP e Os Verdes. Este novo governo tomou posse no dia 26 de Novembro, e apresentou o seu programa na manhã do dia seguinte.

Nas eleições de 4 de Outubro 55.86% das pessoas votaram, a coligação PSD/CDS ganhou com 36.86% dos votos. Estas eleições legislativas foram particularmente impor-tantes para a esfera política portuguesa uma vez que seria nestas que o povo portu-guês iria decidir se queria continuar com as políticas de austeridade, ou abandonar por completo o plano que a coligação já tinha posto em prática. Também, pela primeira vez, o partido político PAN (Pessoas-Animais-Natureza) ganhou um deputado na Assem-bleia da República, mostrando que não são só os grandes partidos que têm poder sobre o governo que os representa na Assembleia.

O presidente Cavaco Silva tinha pedido a priori um governo de maioria, porém a coliga-ção que ganhou os votos ficou aquém das suas expectativas. Foi esta a razão que guiou o líder do Partido Socialista, António Costa, para fazer um acordo com os restantes partidos de esquerda que, ao se juntarem, poderiam formar um governo com maioria absoluta. Isto porque somando a percentagem de votos ganhos pelo PS, BE, e coligação do PCP com Os Verdes – 32.31%, 10.19% e 8.25% respectiva-mente – uma coligação de esquerda seria a única forma de garantir um governo de maioria.

Esta coligação criada pelo líder do PS, porém, só foi formada depois das eleições, isto é, após a coligação de direita ter ganho, e o presidente ter aprovado o seu governo, e nomeado Passos Coelho como chefe Execu-tivo. Entretanto, após várias reuniões entre os vários líderes de partidos de esquerda foi apresentada uma moção de rejeição à Assem-bleia da República no princípio deste mês.

© miGueL manso, púBLiCo

“(...) a coligação PSD/CDS ganhou com 36,86 dos votos.“

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Devemos ter em atenção as diferentes ideo-logias destes três partidos de esquerda. Sendo que o PS é um partido mais central, acredita no socialismo democrático, na pluralidade de uma assembleia socialmente avançada; o Bloco de Esquerda é o novo partido de esquerda, que com duas líderes combate a maioria masculina presente na Assembleia da República; enquanto o Partido Comunista Português continua com matrizes de ideologias marxistas, as mesmas que estiveram em vigor logo após o 25 de Abril no que é lembrado como o Verão Quente.

Como podemos ver os partidos são realmente díspares, sendo que o BE e o PCP são os partidos mais esquerdistas da Assembleia, e o PS o mais conservador dentro dos três. Porém a verdade é que agora a Assembleia da República dividiu-se em duas, a direita e a esquerda, sendo que cada lado partidário conta com uma coligação.

O que se põe em causa não é a legalidade deste novo governo, mas sim a sua legitimi-dade. Já se ouviu Passos Coelho dizer que se trata de “um golpe político” e até de uma “fraude eleitoral”. A guerra de poder chega a ser travada não pelos eleitores, mas sim pelos políticos escolhidos para os representar.

Esta moção foi criada e votada pelos depu-tados, não pelo povo português que votou nas eleições legislativas de Outubro. Mas isso não a impediu de ter sido aprovada, e de o presi-dente Cavaco Silva apoiar institucionalmente o novo governo, e o seu primeiro-ministro, ao mesmo tempo que admitiu não prescindir dos seus poderes como Presidente da Repúbli-ca, nomeadamente o de demitir o governo.

ATUALIDADEantónio Costa põe Fim a GoVerno de 17 dias

Cavaco Silva antes de aceitar a moção da coligação de esquerda apontou seis condições ao futuro primeiro-ministro com o fim de manter “a estabilidade e a durabilidade” do próximo governo. Estas condições têm um foco importante na União Europeia, pois o presi-dente defende que agora, mais do que nunca, é necessário que Portugal tenha o apoio do resto da Europa. Assim sendo, Costa é obrigado a apoiar um novo orçamento que consiga res-peitar os pedidos da UE, os compromissos de Portugal e as exigências da própria coligação. Para além de defender moções de confiança, respeitar os Tratados europeus, como também organizações de defesa colectiva, instituir estabilidade financeira e contribuir para “a coesão social e o desenvolvimento do país”.

O líder do PS aceitou as condições por escrito e o novo governo tomou posse na última semana de Novembro. O programa do novo governo também já foi apresentado e está disponível para leitura e análise no website do parlamento, e será discutido em Assembleia nos dias 1 e 2 de Dezembro. A lista dos ministros também já foi divulgada e alguns dos nomes mais chocantes foram Francisca Van Dunem, Ministra da Justiça, por ser a primeira ministra negra, Ana Sofia Antunes, a primeira secretária de Estado com uma deficiência audiovisual, e João Soares, um estreante como ministro da Cultura.

madaLena GiL

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

“Sendo que o PS é um partido mais central, acredita no socialismo democrático,

na pluralidade de uma assembleia socialmente

avançada; o Bloco. de Esquerda é o novo partido

comunista (...)”

© Gerardo santos, oBserVador

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ATUALIDADEatentados em paris

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Os ataques em Paris provocaram 130 vítimas mortais. 90 desses mortos encontravam-se a assistir ao concerto dos Eagles of Death Metal no Bataclan. 19 encontravam-se na esplanada do restaurante La Belle Equipe. 15 pessoas mor-reram na rue Ailbert. Mais 5 mortos no La Bonn Biere e 1 morto, de origem portuguesa, no Stade de France. Mais de 350 ficaram feridas e cerca de 100 dessas encontravam-se em estado crítico.

“Vingar a Síria” é uma das mensagens que tem circulado nas redes sociais utilizadas pelos jihadistas do autoproclamado Estado Islâmico, ou Daesh. Depois de proclamar estes ataques como obra sua, o grupo extremista islâmico afirmou que os próximos alvos serão as cidades de Washington, Roma e Londres.

A situação em Paris foi reportada através das redes sociais ainda antes dos meios de comu-nicação convencionais. Vídeos da catástrofe foram captados dentro do Bataclan, nos locais dos atentados e um jornalista do Le Monde captou imagens de pessoas que tentavam fugir da sala de concertos, havendo inclusive imagens de pessoas penduradas das janelas.

No Stade de France decorria um jogo amigável entre a França e a Alemanha. Ao jogo assistia François Hollande que foi evac-uado, discretamente, depois de ser informado dos atentados. O jogo chegou ao apito final, antes de os jogadores e adeptos perceber-em o que se passava. As explosões ouvidas durante o jogo foram ignoradas por se pensar que fossem petardos. No fim do jogo, nem jogadores nem adeptos puderam evacuar o estádio, sendo concentrados no relvado. No momento da evacuação, os adeptos entoar-am “La Marseillaise”, o hino nacional francês.

Rapidamente em Paris surgiu um movi-mento nas redes sociais que ficou conhecido como “Porte Ouverte”. Através das redes soci-ais, vários cidadãos abriram as suas portas a quem se encontrava na rua, publicando um comentário com a discrição “#PorteOuverte”.

O Facebook disponibilizou também a fer-ramenta desenvolvida na altura dos sismos no Nepal que permitia que qualquer pessoa que se encontrava em Paris pudesse avisar os seus contactos de que se encontrava em segurança.

© susana santos

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ATUALIDADEatentados em paris

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Vários foram os que demonstraram a sua solidariedade para com a situação que se vivia na capital de Paris, através de frases de apoio e obras de arte que retratavam os sentimentos de tristeza, preocupação e apoio aos parisienses e à família das vítimas. Por volta da uma da manhã, “Paris” era o tópico mais utilizado no Twitter.

Este ataque fez o maior número de víti-mas na Europa desde o ataque da Al-Qaeda à estação de comboios em Madrid, que fez 191 mortos e mais de 2000 feridos, em 2004. Em 2005, na Grã-Bretanha, os atentados sui-cidas nos transportes públicos resultaram em 56 mortes e mais de 700 feridos. Já em 2011, Anders Breivik foi responsável pela morte de 77 pessoas na Noruega, quando fez explodir uma bomba em Oslo e depois disparou contra pessoas que participavam no encontro do Par-tido Trabalhista norueguês. No início do ano, ocorreu um outro atentado terrorista, levado a cabo pelo Daesh, contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo, que resultou na morte de 17 pessoas, incluindo as pessoas que mor-reram num supermercado judaico. Entre este primeiro ataque contra o Charlie Hebdo e os ataques de Paris passaram apenas 10 meses.

Operação em Saint Denis

Quarta-feira dia, dia 18, decorreu uma operação anti-terrorista em Saint-Denis, uma localidade nos arredores de Paris. A operação policial resultou na morte de três pessoas e na detenção de sete suspei-tos dos ataques que sucederam em Paris.

Entre as vítimas mortais encontrava-se o mentor dos ataques do dia 13, Abdelha-mid Abaaoud, bem como o de Hasna Ait-boulahcen, prima de Abaaoud. A terceira vítima mortal foi um bombista-suicida que se fez explodir com um cinto de explosivos. Vários outros suspeitos dos ataques foram entretanto identificados e foram lançados alertas internacionais para os encontrar.

Retaliação contra o Daesh

Dois dias após os atentados em Paris, França começou os bombardeamentos em Raqa – principal localização conhecida do Daesh. Em menos de 24 horas a Força Aérea francesa bombardeou duas vezes a cidade síria, fazendo recurso a 30 bombas lança-das por 10 aviões caça. Num comunicado do Estado-maior das forças armadas de França, os dois alvos identificados durante as missões de reconhecimento foram destruídos.

François Hollande anunciou perante o Par-lamento, no Palácio de Versalhes, o reforço dos meios anti-terroristas em França. O presi-dente francês declarou que a França não vergará independentemente dos ataques terroristas, afirmando ainda que os membros do Daesh “não representam qualquer civili-zação”. Segundo o presidente François Hol-lande a França irá triplicar a sua capacidade de ataque em terreno sírio ao longo das próximas semanas. No mesmo comunicado, Hollande sublinhou a necessidade de intensificar os ataques à base do autoproclamado Estado Islâmico, para acabar de vez com o terrorismo.

© susana santos

“Dois dias após os atentados em Paris, França começou os bombardeamento em

Raqa - principal localização conhecida do Daesh.”

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Putin ressalvou igualmente a neces-sidade de intensificar a acção militar em território sírio, após a queda de um avião comercial russo. A queda do avião terá sido provocada por uma bomba que se encon-trava dentro do aparelho. O autoproclamado Estado Islâmico já reivindicou este ataque.

Na Bélgica realizaram-se várias operações policiais em busca de radicais que pudes-sem estar ligados com os ataques a Paris. Durante as primeiras horas das operações verificaram-se três detenções, sendo um dos detidos irmão de dois suspeitos dos ataques. Mohamed Abdeslam foi libertado ao fim da tarde. Segundo a sua advogada, o jovem muçulmano não participou nos atentados com os irmãos, tendo até pedido que o irmão que ainda não foi capturado se entregasse.

Reacção Mundial

Jean Jullien, um artista francês, publi-cou no seu Instagram um desenho em que fundia a Torre Eiffel com o símbolo da paz. A imagem era acompanhada pela descrição “Peace for Paris” e foi partilhada por milhares de pessoas em poucas horas. A imagem em questão foi falsamente atribuída ao artista britânico Banksy por alguns dos que publicara a imagem, mas o artista britâni-co rapidamente veio desmentir a autoria.

Relativamente à questão dos refugiados, Fran-çois Hollande afirmou que a política de recepção de França não deverá ser alterada, salvaguar-dando que os refugiados fogem dos mesmos terroristas que a França pretende combater.

O estado de emergência em França foi decretado logo depois dos atentados em Paris. O primeiro-ministro francês Manuel Valls referiu a necessidade de segurança dentro das fronteiras para justificar a medida de pro-longar o estado de emergência por mais 3 meses. Para esta prolongação do estado de emergência foi necessário fazer uma alteração à lei francesa, que só previa a possibilidade de estar em estado de emergência durante um período máximo de 12 dias. A alteração na lei criou igualmente alterações aos poderes do Governo, chefes de departamentos, da polícia e ainda das autoridades de segurança.

ATUALIDADEatentados em paris

Em comunicado, Barack Obama prometeu a destruição do Daesh, através da coopera-ção com os estados europeus. O presiden-te americano ressalvou a necessidade de os líderes mundiais se mostrarem unidos e não sucumbirem perante o terrorismo.

Vários estados optaram por mostrar soli-dariedade para com a situação em França, iluminando com as cores da bandeira fran-cesa em edifícios e monumentos simbóli-cos. Em Portugal, a Torre de Belém ilumi-nou-se com o azul, branco e vermelho.

Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho e António Costa manifestaram apoio à capital france-sa. Os três políticos enviaram mensagens a Hollande, expressando a sua solidariedade e desagrado perante a actuação do Daesh.

Marcelo Rebelo de Sousa, António Sampaio da Nóvoa e Catarina Martins declararam igualmente o seu apoio para com a comunidade francesa.

© Jean JuLLien, instaGram

“(...) Barack Obama promoteu a destruição do Daesh,

através da cooperação com os estados europeus.”

Putin ressalvou igualmente a necessidade de intensificar a

acção militar em território sírio (...)

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ATUALIDADEatentados em paris

Cavaco Silva referiu, enquanto se encontrava na Madeira, que os Estados Europeus devem unir-se e utilizar todos os “meios que forem necessários” para lutar contra o terrorismo.

Na sequência dos ataques de Paris, Konrad Szymanski, ministro dos Assuntos Europeus do governo em formação polaco, afirmou a impos-sibilidade de acolher refugiados. Esta medida vai contra a proposta da Comissão Europeia em recolocar 160 mil refugiados em dois anos.

O semanário satírico francês Charlie Hebdo, que foi alvo de um ataque por parte do Daesh no início do ano, respondeu aos ataques feitos à capital francesa com uma edição provocadora. Na capa da publicação podia ler-se “Ils ont les armes/ On les emmerde, on a le champagne!” (“Eles têm armas/ Vão para a merda, nós temos o champanhe!”). Nas páginas interiores podem ler-se frases como “Paris, capital da perversão? – Façam a per-versão, não a guerra!” ou ainda um cartoon onde uma dançarina faz o Can-Can com tiros na saia e um título onde se lê “Paris-Kalach!”, um trocadilho com as armas Kalashnikov.

Confronto entre Anonymous e Daesh

No dia 15 de Novembro, o grupo de ativistas online Anonymous declarou guerra contra o Daesh. Os extremistas islâmicos responderam chamando ao grupo de ativistas “Idiotas”.

No dia seguinte, os Anonymous desacti-varam mais de 5000 contas de Twitter liga-das ao Daesh, após o grupo terrorista ter publicado no Telegram um vídeo a pedir aos seguidores para estarem atentos a poten-cias hacks. No fim da semana, várias contas de redes sociais e sites alegadamente liga-dos ao Daesh haviam sido desactivados.

A actuação dos Anonymous levou ao encer-ramento de algumas contas não ligadas ao Daesh o que levou a reivindicações de que o grupo está apenas a fechar, indiscrimina-damente, contas que pertencem a árabes.

Esta acção dos Anonymous surge pouco depois de há um mês terem denunciado cerca de 400 nomes de alegados mem-bros pertencentes ao Ku Klux Klan. Este ataque ao KKK surgiu depois de o grupo de supremacia branca norte-americana ter ameaçado o grupo de manifestantes que se reuniam em Ferguson, como forma de pro-testo contra a morte de um jovem negro por um polícia branco em Agosto de 2014.

dioGo Barreto

*Textos escritos com o Antigo Acordo Ortográfico

© CharLie heBdo

© Wikipedia Commons

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Caso tap: aproVação da priVatização da tap pode demorar atÉ 3 meses

A aprovação da privatização da TAP pela ANAC (Autoridade Nacional da Aviação Civil) pode demorar até 3 meses. No passado dia 19 de Novembro, a ANAC ainda não tinha sido notificada acerca da transferên-cia do controlo da TAP para o consórcio Gateway de David Neeleman e Humberto Pedrosa. Após a noti-ficação e acordo com o regulamento, o prazo para a apreciação das alterações na TAP pode demorar 3 meses.

O parecer da ANAC é a autorização que falta para o fecho da venda do capital maioritário da TAP. O gov-erno português, já em gestão, fechou a venda com a injecção de capital de 150 milhões de euros para necessidades urgentes da tesouraria, que estava em risco de não conseguir pagar salários e combustível. O consórcio já apresentou aos trabalhadores uma nova estratégia que passa pela possível aposta nos voos low-cost.

Para o fecho da venda estiveram em causa várias questões. A ANAC recomendou a definição clara do estatuto dos poderes dos dois accionistas do con-sórcio, David Neeleman e Humberto Pedrosa, uma vez que a gestão tem de ser controlada pelo último por ser o investidor europeu. O consórcio considerou estas recomendações ajustáveis e definiu Humberto Pedrosa como presidente do conselho de administ-ração e David Neeleman como vogal.

Germán Efromovich, concorrente a Gateway, denuncia incumprimento por parte do consórcio vencedor e recorre aos tribunais. Os fundamentos assentam na manutenção da garantia da Parpública (a empresa que detinha totalidade do capital da TAP e a vendeu) para a dívida da transportadora aérea portuguesa e no alegado desrespeito do consórcio de Neeleman relativamente ao controlo europeu, uma vez que Neeleman investiu 95% na empresa, tornando-o no dono efectivo do consórcio.

Com a queda do governo português e com Pedro Passos Coelho afastado do poder, a esquerda surge como um obstáculo. A coligação de direita sempre defendeu a privatização da TAP, fechando o acordo de venda de 61% a Neeleman. Porém, António Costa, reconhecendo a necessidade da empresa se capitalizar, sempre defendeu que iria renegociar a operação de forma a garantir a maioria do capital do Estado, ou seja, vender apenas 49% da TAP. Assim sendo, Costa acusa o Governo de fingir a privatização ao favorecer os priva-dos e Catarina Martins fala na geração de nova Parceria Público-Privada (PPP). O mote para esta posição foi o acordo entre a Parpública e os bancos ao estabelecer que, em caso de incumprimento por parte do compra-dor, os bancos podem obrigar o Estado a recomprar a TAP, assumindo o risco de a dívida não ser paga aos bancos. “Aquilo que este Governo fez foi fingir que privatizava a TAP toda, mas ficando o risco todo do lado de cá e toda a oportunidade do lado de lá”, afirma António Costa. O líder socialista revela preocupação com possíveis encargues futuros negativos para a eco-nomia do Estado. Catarina Martins acrescenta ainda que “A venda da TAP é uma não venda, é uma renda, é uma PPP, é um todo o risco para o público, todo o lucro para o privado e, se correr mal, no fim quem manda é a banca”.

ATUALIDADE

© pauLo Carriço, Lusa

Por outro lado, a dívida bancária teve de ser rene-gociada. Os bancos e os futuros accionistas chegaram a um entendimento na reestruturação da dívida ao prolongá-la por um período de 7 anos. Em causa estão cerca de 770 milhões de euros que compreen-dem uma dívida de 646,7 milhões e 120 milhões adi-cionais pedidos pelo consórcio para financiamento corrente.

andreia monteiro

*Textos escritos com o Antigo Acordo Ortográfico

“(...) uma nova estratégia

que passa pela possível

aposta nos voos low-cost.”

“(...) Costa acusa o Governo de

fingir a privatização ao favorecer os

privados e Catarina Martins fala na

geração de nova Parceria Público-

Privada (PPP)”

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Os alunos do 4º ano já não irão realizar provas de Português e Matemática no final deste ano lectivo.

Aprovado pelo parlamento, o projecto de lei do Bloco de Esquerda e do PCP pretende acabar com os exames no fim do primeiro ciclo e contou com os votos favoráveis de PS, PEV e PAN. PSD e CDS votaram contra uma proposta que põe fim à medida implementada pelo Ministério da Educação do anterior Governo.

Será que, para além do parlamento, também o eleitorado juvenil vota a favor desta medida? O Pontivírgula foi à Escola Básica João Gonçalves Zarco, em Algés, saber a opinião dos alunos.

ATUALIDADEparLamento aCaBa Com exames do 4º ano

Maria ainda está no terceiro ano, mas já pensa a longo prazo: “ainda bem que já não temos exames, deve ser “bué” pressão”. Rita, do 4º ano, pertence ao eleitorado indeciso: “é bom já não ter de estudar tanto, mas o de Matemática até gostava de ter”. Já Sebastião, aproveitando a presença da Professora, disparou com um sorriso: “não temos de ter medo dos exames, a nossa Professora preparou-nos bem”. Camila, Joana e Martim defendem o fim dos exames. Os três declararam “eu acho bem”. Clara fala da experiência do irmão: “tenho um irmão no 5º ano e no ano passado ele fartou-se de estudar. Ainda bem que já não vou ter exame”. Marta está indignada: “temos andado a treinar tanto para nada...já agora queria ver como é!”, enquanto Sara ainda não acredita: “mas isso é mesmo a sério?”. Apesar de algumas excepções, a tendência geral, no eleitorado juvenil, é a de votar favoravelmente no projecto de lei de BE E PCP.

dioGo oLiVeira

*Textos escritos com o Antigo Acordo Ortográfico

“Rita, do 4º ano, pertence ao eleitorado indeciso: «é bom já não ter de estudar tanto, mas o de Matemática até gostava

de ter»”

© Wikipedia Commons

© pixaBay

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ATUALIDADE

Entre 30 de Novembro e 11 de Dezembro de 2015 realizar-se-á a 21ª Cimeira do Clima, em Paris, visando estabelecer novos acordos internacionais sobre o clima. Esta cimeira con-tará com a presença de 147 chefes de Estado e de Governo. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, encorajou os líderes mundiais a terem a palavra nesta cimeira, pois “a crueldade de um punhado de assassinos não impede o mundo de tratar de questões vitais. Portugal será representado pelo pri-meiro-ministro António Costa que não terá, no entanto, oportunidade de discursar, uma vez que o país não se inscreveu para falar na COP21, muito devido à instabilidade política vivida nas últimas semanas

Após 20 anos de negociações com a ONU, a Cimeira do Clima de Paris vai tentar então um acordo universal sobre o clima, com o principal objetivo de manter o aquecimento global abaixo dos 2 graus, diminuindo ainda os gases de efeito de estufa. Este acordo é uma tentativa de substituição do Protocolo de Quioto, pois, caso não sejam tomadas medi-das, consequências perigosas e irreversíveis tornar-se-ão inevitáveis. Outro dos objetivos da Cimeira é a criação de um Fundo Verde Climático que se espera que tenha 100 mil-hões de euros por ano, a partir de 2020, de modo a ajudar os países em desenvolvimento no “combate às alterações climáticas de forma transversal a todas as políticas”, afirma Jean-François Barel, embaixador Francês.

O Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia Jorge Moreira da Silva, diz que é a Europa quem deve dar o exemplo e liderar nas políticas climáticas. Por sua vez, o embaixador francês em Lisboa, Jean-François Barel afirma que esta é “a última oportunidade para se chegar a uma decisão” em relação ao futuro do planeta antes que seja demasiado tarde.

O Governo francês não quer que os ataques de 13 de Novembro interfiram na Cimeira e, como tal, França restabeleceu durante um mês o controlo das fronteiras, das estações de transportes terrestres, aeroportos, autoestradas e mobilizou ainda milhares de agentes devido às ameaças terroristas.

Barack Obama afirmou que irem a Paris para a Conferência é uma prova de que não têm medo do terrorismo e que o meio mais poderoso de lutar contra o Estado Islâmico é dizer e mostrar “não temos medo.”, “não sucumbiremos ao medo”, como refere.

Nas redes sociais, muitos foram aqueles que se juntaram, dos vários cantos do planeta, e tiraram fotografias com uma folha branca na mão com a hashtag #EarthToParis, para sensibilizar os líderes de cada país a fazerem-se ouvir na Cimeira. É uma onda de solidariedade e sensibilização para os problemas que o planeta enfrenta e poderá vir a enfrentar no futuro, o que moveu muitas pessoas a juntarem-se a esta causa.

© nasa, reuters

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Joana pires roque

Cimeira aLterações CLimátiCas

“(...) a Cimeira de Paris vai tentar então um acordo universal sobre o clima, com o

principal objectivo de manter o aquecimento

global abaixo dos 2 graus.”

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Foi vinte minutos após a descolagem de regresso a São Petersburgo que a aeronave se despenhou numa região montanhosa em Al-Arish, na Península do Sinai, no Egito. O airbus A321 descolou de Sharm El-Sheikh, um destino muito procurado pelos russos, com 224 pessoas a bordo, sendo a grande maioria de nacionalidade russa. Todas as pessoas morreram, incluindo 17 crianças. O avião encontrava-se em boas condições e tinha um piloto com muita experiência de voo ao comando.

O investigadores russos partiram de imediato para o local, que apresentava um cenário de destruição num raio de quase cinco quilómetros, onde foi encontrada uma das caixas negras e vestígios de explosivos. As gravações do cockpit sugerem que os pilotos não conseguiram enviar sinal de socorro, sendo que o último contacto da tripulação com os controladores de tráfego aéreo se tinha realizado quatro minutos antes de a aeronave desaparecer do radar.

De acordo com um artigo publicado na revista de propaganda do autoproclamado Estado Islâmico (EI), “Dabiq”, o grupo revela que, depois de descobrir uma forma de comprometer a segurança do aeroporto de Sharm El-Sheikh, decidiu abater um aparelho pertencente às forças de coligação lideradas pelos americanos contra o grupo. No entanto, após a Rússia ter decidido atacar as posições do Estado Islâmico na Síria e no Iraque, o alvo mudou para o avião russo, como forma de represália. O grupo afirma ainda que conseguiu colocar uma bomba a bordo alegadamente dissimulada numa lata de refrigerante de uma conhecida marca, cuja imagem consta na revista.

A fotografia mostra uma lata de sumo de ananás Schweppes Gold, onde terá sido escondido o explosivo, ao lado de um detonador e do botão para o acionar.

ATUALIDADEestado isLâmiCo aFirma ter CoLoCado BomBa no aVião russo

Na revista de propaganda, o EI conclui que “isto mostrou aos russos que, independentemente de com quem se aliem, nunca estarão em segurança no terreno e no espaço aéreo de muçulmanos. Que os assassínios de dezenas de Sham com os seus ataques aéreos, não só lhes trará calamidades como, do mesmo modo que eles matam, também serão mortos, com a permissão de Alá”.

Vladimir Putin intensifica ataques às bases do EI na Síria e garante que vai encontrar os responsáveis pelo acidente, tendo dado ordens aos serviços especiais para que se foquem na busca pelos criminosos. As medidas de segurança russa ampliam-se, tendo Putin suspendido os voos das companhias aéreas russas para o Egito.

As autoridades egípcias investigam 17 pessoas que poderão estar ligadas ao acidente e detiveram 2 funcionários do aeroporto de Sharm al-Sheikh sob suspeita de terem ajudado a colocar a bomba dentro do avião. Dvort Sovaya Square, no centro de São Petersburgo, é a praça onde se homenageiam as vítimas colocando flores em sua memória.

mariana pereira martins

O avião da companhia Metrojet explodiu e caiu no final de outubro no Egito. Os serviços secretos russos confirmam ter sido um ataque terrorista.

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© expresso

“As medidas de segurança russa ampliam-se, tendo

Putin suspendido os voos das companhias aéreas

russas para o Egito”

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ATUALIDADEComemorações dos 40 anos de independênCia anGoLana

dina teixeira

© JornaL i

Os 40 anos de Independência de Angola foram celebrados com o discurso do Presi-dente José Eduardo dos Santos sobre os direitos e deveres da democracia, os jovens angolanos e a relação com Portugal.

Estas comemorações ficaram manchadas por um período em que estão detidos 15 ativistas, acusados de planearem um golpe de estado. Entre eles está o rapper luso-angolano Luaty Beirão que, revoltado pela injustiça dos 90 dias de prisão preventiva, entrou em greve de fome durante 36 dias.

Estes acontecimentos têm chamado a atenção da comunidade internacional, como a Amnistia Internacional (AI), que critica “o estrangulamen-to da liberdade de expressão (...) e as décadas de medo e de repressão” de que têm sido alvo os jovens angolanos.

O Presidente angolano, embora sem se diri-gir diretamente ao grupo dos 15, justificou-se dizendo que “os jovens querem tudo de um dia para o outro (...) Temos de continuar a transfor-mar a energia e o dinamismo da juventude em alavanca para continuarmos a construção de uma nação mais próspera, feliz e justa”.

O seu discurso serviu ainda para avisar que a política deve ser baseada no respeito pelo próximo, nos princípios éticos, morais e cívicos. Dirige-se também a Portugal, dizendo que há muito que Angola deixou de ser uma colónia portuguesa, não havendo espaço para “saudo-sismos” e “espírito de vingança de pessoas de má-fé”.

“Dirige-se também a Por-tugal, dizendo que há muito

que Angola deixou de ser uma colónia (...)”.

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No passado dia 5 de Novembro, a cidade Mariana do Estado das Minas Gerais no Brasil sofreu uma catástrofe devido à ruptura de duas barragens.

Estas barragens pertencem à Samarco, uma empresa de mineração. O colapso das barragens provocou um transbordo de lamas tóxicas que invadiram a localidade de Bento Rodrigues, causando diversos mortos e feridos. Os cidadãos que tentavam deslocar-se às suas habitações para recuperar pertences foram impedidos pela polícia e bombeiros, que bloqueavam o acesso ao distrito Bento Rodrigues.

De acordo com o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, três sismos foram sentidos na região, não se sabe se a sua origem foi natural ou se foi devido à ruptura dos reservatórios.

Tendo em conta o desastre, a Samarco informou que vai fazer um investimento em obras para oferecer mais estabilidade à mina, bem como na instalação de sismógrafos em pontos estratégicos ao longo da barragem. A Samarco revelou que existem mais duas barragens nas proximidades que não estão estáveis e existe um risco que estas cedam.

ATUALIDADE“ruptura de BarraGens no BrasiL

A lama proveniente deste incidente transporta resíduos mineiros, e esta contaminação já atingiu outras cidades do Estado de Minas Gerais, assim como o Rio Doce, inclusivé chegou ao mar.A barragem de Germano tem o índice mais baixo comparado com o resto do complexo, informação avançada pelo director de operações da Samarco. A barragem de Santarém sofreu uma intensa erosão e não disponibiliza as condições adequadas de segurança.

Foi decretado estado de emergência em mais de 200 municípios pelo Governo Federal de Minas Gerais. Este estará em vigor durante 180 dias, o que permitirá a facilitação de acessos da população aos bens essenciais, assim como, acelerar trabalhos de reconstrução e limpeza nas cidades e o reforço de infra-estruturas que estejam em risco de colapso. Este estado de emergência na cidade de Mariana foi solicitado no passado dia 11 de Novembro. A região Bento Rodrigues, que está a 2.5 quilómetros da barragem, ficou quase na sua totalidade soterrada pela lama contaminada.

A empresa mineira terá que pagar uma multa de aproximadamente 61 milhões de euros, imposta pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Devido aos resíduos perigosos que a lama transporta, um impacto ambiental é quase certo, pois irá contaminar a foz do rio, o mar e a flora da região, apresentando diversos perigos, como consta no jornal Público: “em causa está a sobrevivência de espécies de peixe na zona costeira, falta de água na região de Colatina, e danos nos reservatórios de fábricas hidroeléctricas, o que segundo a presidente (do IBAMA), pode levar a novas multas, com valor máximo de cerca de um milhão de euros”. Ainda vai ser investigado o porquê do alarme das barragens não ter funcionado a tempo.

O fundador da ONG Instituto Terra, natural das Minas Gerais, pretende realizar um projecto de recuperação de aproximadamente 300 nascentes do rio, assim como o tratamento dos esgotos e a limpeza do lixo acumulado por toda essa área.O acontecimento na barragem na Mariana matou 12 pessoas, sendo “considerado o maior desastre ambiental do Brasil”, de acordo com a Globo.

sandra VasConCeLos

© douGLas maGno, aFp

“(...) três sismos foram sentidos na região, não sabe se a sua origem

foi natural ou se foi devido à ruptura dos reservatórios.”

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*Textos escritos com o Antigo Acordo Ortográfico

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O Papa Francisco visitou, pela primeira vez, o continente africano, numa viagem com um grande peso simbólico. A viagem durou 6 dias e passou pelo Quénia, Uganda e República Centro-Africana, três países onde a Igreja católica está muito viva e onde se regista um grande aumento no número de baptizados e na prática dominical.

O mote da viagem é a paz e a reconciliação, uma vez que estes três países enfrentam fortes dificuldades. A República Central-Africana vive uma guerra civil, sendo, por isso, um dos países mais perigosos que o Papa visitou.

No Quénia, o Papa visitou a sede do Pro-grama Ambiental das Nações Unidas e no seu discurso mencionou que o resultado da falha de um acordo na Cimeira do Ambiente seria catastrófico. Na recepção com o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, o pontífice apelou aos líderes políticos para que lutem contra “a pobreza e a frustração” e apontou a distri-buição equitativa dos recursos como modo de o fazer, afirmando que o medo e o desespero promovem conflitos e terrorismo.

ATUALIDADEpapa FranCisCo Visita áFriCa

No Uganda, celebrou uma missa no San-tuário católico dos Mártires, em Kampala, e lembrou aqueles que morreram por acredi-tarem em Cristo. De passagem numa casa de caridade nos arredores da capital, o Santo Padre pediu que a Igreja Católica liderasse o combate à pobreza e ao tráfico humano e criticou a indiferença perante estes flagelos. Deixou o país com uma mensagem de espe-rança aos jovens com quem se encontrou, lembrando os mártires como heróis nacionais e celebrando uma Igreja de portas abertas, que acolhe todos.

Na República Centro-Africana, a mensa-gem deixada foi de paz, lembrando que “Nós devemos trabalhar, rezar e fazer tudo pela paz, mas paz sem amor, amizade, tolerância e perdão não é possível. Cada um de nós deve fazer alguma coisa. Dirijo-me a vocês, a todos os centro-africanos, para viverem em paz, viverem em paz seja qual for a etnia, a cultura, a religião, o estatuto social. Devemos apostar na paz, porque somos todos irmãos.”

inês Linhares dias

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

© Giampiero sposito, reuters

“O mote da viagem é a paz e a reconciliação, uma vez que estes

três países enfrentam fortes dificuldades .”

“Nós devemos trabalhar, rezar e fazer

tudo pela paz (...)”

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Nove milhões de soldados, cinco milhões de civis, sete mil soldados portugueses. Estes foram os números das mortes que datam da Primeira Grande Guerra. Uma mancha no pensamento, uma mancha que perdura e se reproduz. Uma lição de História que já passou à história.

Em 1914, e com a eclosão da Guerra, a única forma de uma pessoa comum assegurar o seu conhecimento, era com a imprensa. Contudo, a censura e a propaganda vão instaurar-se e, assim, formar a opinião pública e de certa forma moldar os pensamentos, determinan-do, consequentemente, as acções de todos. Temos, neste ano, os jornais que defendem a ida para a guerra, os intervencionistas, e aqueles que não querem por nada a nossa participação, os anti-intervencionistas. Então e o “Zé povinho”?

ana siLVestre

Se antes a imprensa moldava o pensamento da população com informação propagandista, opinativa e censurada, agora a população pensa tanto e de forma tão livre que se perdeu o fio condutor, o caminho. A culpa não é da imprensa, uma vez que o pensamento mantém-se exactamente igual, como se houvesse estagnado num ponto qualquer.

O “Zé povinho” agora é demasiado inteligente para ouvir a opinião alheia. Da falta de informação, agora achamos que há informação a mais, que afinal nem lemos. A imprensa é agora e mais do que nunca, desvalorizada. A guerra, que hoje se vislumbra nos actos terroristas, assume proporções desenfreadas, e o povo é tão ignorante como há cem anos. Enfim... – e entenda-se como um desabafo cansado e desiludido.

Hoje, afirmam-se barbaridades e tudo é uma grande confusão de noções, misturadas com preconceitos que ninguém admite ter. Quase parece que a noção de nacionalismo cruel nunca desapareceu. A enaltação patriótica de 1914 é, um século depois, disfarçada de “primeiro os nossos”, um sinónimo mais súbtil. E afinal, com tantas e tão superficiais mudanças, o verdadeiro mal permanece o mesmo.

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

OPINIÃOa imprensa, a Guerra e o “zÉ poVinho”

Numa altura mórbida e pintada de vermel-ho com o sangue derramado de uma guerra, a informação, como hoje a conhecemos, dá lugar à opinião, em tudo, de todas as formas. O leitor não sabe a verdade, sabe o que a imp-rensa quer que ele saiba. Mostram imagens que denigrem os alemães ou os franceses. Mostram imagens que dignificam Portugal. Mostram soldados felizes, quando tudo o que eles mais desejam é voltar para casa. Mostram o que querem, e todos seguem o rumo da maré.

Hoje, em pleno 2015, estamos outra vez em guerra - se algum dia realmente deixámos de estar – e o “Zé povinho” já sabe ler e escrever. Mas continua a não saber pensar. Passaram cem longos anos e a imprensa, que já não é controlada pela censura, também já não é tão opinativa e adquiriu regras éticas funda-mentais, noticiando da forma mais objectiva possível o mundo. Mudaram-se os tempos, mudou-se a imprensa, mas não se mudou o verdadeiro problema: o pensamento.

“O “Zé povinho” agora é demasiado

inteligente para ouvir a opinião alheia.”

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“Última hora” é uma expressão que carrega um valor simbólico para quem ouve diariamente as palavras “atentado”, “terrorista” e “explosão” na mesma notícia. Ouvir “última hora” e nesse mesmo pestanejo aguardar pela informação de novo atentado tornou-se um hábito; um hábito nocivo para quem elege a liberdade e a dignidade humana como valores imutáveis em qualquer comunidade. Nós elegemos, padecemos, ajudamos. Ajudamos? Em quê? E como? Sobretudo lendo e refletindo. Temos de contrariar a irresponsabilidade de “fechar os olhos” perante o que acontece a 200, 500 ou 1000 quilómetros. Desde os ataques de 13 de Novembro, muitos outros atentados sucederam noutros países. A minha opção de não referir a tragédia que se abateu sobre França prende-se, somente, com a existência de outro texto nesta edição que aborda o assunto aprofundadamente.

A Nigéria tem sido alvo de frequentes ataques pelo grupo Boko Haram, que desde 2009 controla uma parte do território e impõe o terror através de sucessivas e violentas investidas terroristas contra a população nigeriana, em confrontos que se estenderam aos países fronteiriços. Em Janeiro deste ano, cerca de 2000 nigerianos foram mortos em Baga no mais mortal massacre perpetrado pela organização fundamentalista islâmica, segundo a Amnistia Internacional.

No dia 17 de Novembro, terça-feira, novo ataque do Boko Haram no nordeste da Nigéria. Morreram 31 pessoas e 72 ficaram feridas. No dia seguinte, a Nigéria foi novamente alvo de um ataque por duas mulheres bombistas suicidas. Dezenas de mortos e de feridos a juntar a um número colossal que teima em aumentar. Os recorrentes ataques de Boko Haram à Nigéria estendem-se há mais de uma década e já provocaram milhares de mortes e afectam milhões de pessoas.

No dia 21 do mesmo mês, mais de uma dezena de pessoas morreram no norte dos Camarões, num atentado suicida do Boko Haram.

Na manhã de 22 de Novembro, sete pessoas morreram e oito ficaram feridas noutro ataque suicida em Maiduguri, na Nigéria.

Em 2015, cerca de 1100 escolas da região do Lago Chade - Nigéria, Camarões, Níger e Chade - foram destruídas pelo Boko Haram.

Para trás desta muito incompleta exposição cronológica de ataques do mês de Novembro, além do que ocorreu em Janeiro, ficam milhares de mortos, feridos e outros afectados pela vil expansão terrorista num mundo que se sonhava mais livre e pleno.

OPINIÃOataques na niGÉria

inês amado

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

© aFoLaBi sotunde, reuters

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andreia monteiro

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Era uma vez a Guerra do Iraque. Era uma vez a Primavera Árabe. Era uma vez a Guerra Civil da Síria. Era uma vez a aposta na queda de Assad. Era uma vez o apoio a Assad da Rússia, Irão e do Hezbollah. Era uma vez a ascensão do autoproclamado Estado Islâmico.

Quem são, então, as pessoas que fazem parte do Estado Islâmico? São principalmente jovens que não são integrados nas sociedades europeias, não tendo quaisquer perspectivas de futuro e habitantes das antigas colónias que foram alimentando ódios em relação aos antigos colonizadores, acabando por se entregar à violência e a radicalismos. Juntos formam um exército disposto a espalhar o caos em cidades repletas de infiéis. Este é um objectivo bem explícito em A “gestão da selvajaria” de Abu Bakr Naji, que serve de mote à ação do Estado Islâmico. Nesta obra defende-se a abolição das fronteiras do Médio Oriente e a criação de um Califado através do qual se espalharia a sharia (lei de Deus). Por outro lado, a jihad é autossustentável com uma receita de cerca de 1995 milhões de dólares anuais.

A civilização do imediato, que construímos a cada dia, ficou chocada com os atentados em Paris da passada sexta-feira 13. A incredulidade já havia sido experimentada aquando do ataque à redação do Charlie Hebdo. Desde então, dedos furiosos investem na corrida de apontar os culpados e os heróis. Neste desporto de longa data enaltece-se a pescadinha de rabo na boca. Os culpados são as vítimas de uma redação que decidiu brincar com o que não podia. Os culpados são os terroristas radicais que matam centenas de inocentes que assistem a um concerto, jantam num restaurante ou assistem a um jogo de futebol ou esses que morreram por respirarem livremente. Os culpados são apontados a medo ou esquecimento histórico.

Porém, como tudo na vida, existe um passado, existem raízes. Os atentados não nasceram em França. Séculos de história estão por detrás dos massacres. Os alvos de hoje foram os instigadores do desequilíbrio ontem. Desequilíbrios movidos por interesses políticos, económicos, sociais e geográficos. E que hoje surgem como alavancas de heroísmo que nos salvarão a todos.

Muitos dizem que este pode ser o começo da III Guerra Mundial. Prefiro dizer que esta é a primeira grande guerra multicultural. O conflito reside nas diferenças culturais. O que distingue realmente as duas frentes? A cultura, os princípios. Ambas defendem o que acreditam atentando contra o inimigo e matando centenas de civis inocentes. A guerra nunca é um acto heróico. Não existem os bons e os maus, vencedores e vencidos. Desenganem-se. A guerra, os atentados ou qualquer outra manifestação de violência são actos alimentados pelo ódio. As respostas a este são a raiva. Mas a raiva cega, levando-nos a fazer algo por ignorância. Temos o exemplo da antítese a tantos líderes mundiais no jornalista Antoine Leiris, que perdeu a mulher nos atentados de Paris, ficando com um bebé de 17 meses: “Dor, sim. Ódio, jamais”.

Aclamamos que somos diferentes, mas declarando guerra quantos inocentes não iremos matar mais em nome daquilo que acreditamos estar

certo?

Era uma vez o ódio. Era uma vez o respeito. Era uma vez a liberdade.

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

OPINIÃOera uma Vez o ódio

A oferecer resistência a este grupo temos países como os EUA, que são responsáveis pela esmagadora maioria dos bombardeamentos na Síria e no Iraque; a Rússia, que já desenvolveu inúmeras missões de bombardeamento na Síria apoiando Assad; ou a França que entrou no campo de batalha em Setembro num campo de treino do Estado Islâmico. Esta declarou guerra ao Estado Islâmico na sequência dos atentados de Paris e já conta com inúmeros apoiantes. Um dos últimos na lista de apoiantes foi o grupo Anonymous. É necessário notar que a sua colaboração representa uma grande vantagem, uma vez que o Estado Islâmico opera através de dois sistemas: o Estado físico e a Internet. É no segundo ponto que o grupo Anonymous se tem revelado numa mais-valia para a erradicação do radicalismo, já tendo conseguido desactivar 149 sites relacionados com o Daesh, apagado 5900 vídeos de propaganda e assinalado para remoção 101 000 contas de Twitter.

“Juntos formam um exército disposto a espalhar o caos em cidades repletas

de infiéis.”

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OPINIÃOsexta-Feira 13

inês Linhares dias

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

25

© independet

Sexta-feira 13 acordei cedo demais e contrafeita para, depois de uma noite mal dormida, ir para uma aula, que não aconteceu devido a problemas técnicos. Enquanto fazia tempo no bar para a próxima aula, queimei-me com o chá que, por ter decidido beber de palhinha, me foi directamente para a garganta e foi deixando um rasto de lava no rápido mas doloroso caminho até ao estômago. Fiquei de neura o dia todo.

Ainda assim, sexta-feira 13 não deixa de ser sexta-feira, por isso, decidimos fazer um jantar cá em casa. O Etienne ajudou-nos a preparar o jantar, jantou connosco e saiu para uma festa com a qual estava particularmente entusiasmado. Restamos nós, as portuguesas, as fran-cesas e o alemão (o espanhol retirou-se para o quarto pouco depois do jantar).

Fui ao quarto durante um segundo e, quando voltei, a Égline estava uma pilha de nervos. Tinha havido um atentado em Paris, junto ao Estádio de França e a irmã dela estava lá. O alívio que ela sentiu quando um amigo lhe disse que a irmã não tinha ido ao estádio, depressa se transformou em desespero, quando percebeu que ele lhe tinha mentido. Ao desespero da Égline soma-vam-se as constantes actualizações que iam dando conta de que o número de mortos ia aumentando, que os locais dos tiroteios se iam multiplicando. Nesta altura, também a Beatriz tentava contactar o namorado que vive em Paris. A cada nova actualização, uma nova preo-cupação. Com a notícia de que tinha havido também tiroteios noutros locais chegou-nos, via facebook, o receio do Etienne, que tem uma amiga que vive em République.

A irmã da Égline está bem, o namorado da Beatriz também, a amiga do Etienne idem (soube-o enquanto escrevia este texto). Neste momento ele está ao tele-fone a tentar acalmar uma outra amiga, que mora no 10º distrito e esteve escondida num armário durante os ataques.

A última coisa que ouvi da boca deles foi que estavam confirmados mais de cem mortos.

Ainda não fui ver mais notícias sobre esse assunto, nem quero. Não preciso. O desespero da Égline e do Eti-enne foi suficiente para perceber que não faz diferença nenhuma se foram 100 ou 100000. Quando este texto for publicado já todos nós fomos bombardeados com números e imagens tenebrosas. Eu não quero saber.

Correm no Facebook mensagens de empatia, men-sagens de coragem, mensagens que fazem frente ao terror e que apregoam que a nós não nos aterrorizam. A mim aterrorizam-me. Constantemente.

Fazem-no principalmente quando vejo que o alívio que a Égline e o Etienne sentem ao saber que os seus entes queridos estão bem é seguido do medo do que isto representa para o seu país. A França fechou as fronteiras, pela primeira vez desde a Primeira Guerra Mundial. A extrema-direita está cada vez mais forte. Os atentados em plena crise de refugiados vêm fortal-ecer aqueles que defendiam que entre os refugiados vinham extremistas do Estado Islâmico, atirando um país para um estado de intolerância sem precedentes no pós-guerra.

Seis atentados, numa noite, num país no centro da Europa, no país da Liberdade, Igualidade e Frater-nidade. Este toca-nos por ferir o coração da Europa, o coração dos ideais ocidentais. Mas também nos deviam tocar todos aqueles que nos passam desper-cebidos. Escrevo este texto na madrugada do dia 14 de Novembro e até à data este mês já assistiu a 19 atentados. Os meios de comunicação social falaram do ataque em Beirute que vitimou 43 pessoas e deixou feridas 239, mas todos os dias países do médio oriente são bombardeados, pessoas são mortas à porta de casa ou a caminho do supermercado. Isto só pode significar guerra. Se isso não vos aterroriza, a mim aterroriza-me e muito.

Espero estar errada. Espero nunca mais ter que ver ninguém passar por uma sexta-feira 13 em Paris, uma terça-feira 11 nos EUA, uma quinta-feira 7 em Londres ou qualquer outro dia de terrorismo na Síria, Líbano, Iraque ou Jordânia.

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OPINIÃO 26

Muito pensei antes de vir para Paris duas semanas após os atentados. Muitos foram os que me alertaram para o facto de que, talvez, o melhor seria desmar-car a viagem e marcar quando tudo “estivesse mais calmo”. Na verdade, metade de mim não queria vir de todo. Estive até à última na indecisão se vinha ou não, estava com medo e receio que algo mais ocorresse. Contudo, outra metade de mim desejava vir para com-preender e vivenciar como é a vida dos parisienses após os traumáticos atentados de 13 de novembro. Então assim foi. Vim e neste momento estou sentada no chão, tranquilamente a escrever este artigo.

O que posso dizer destes dias? Bem, mal cheguei havia um grande controlo no aeroporto e eu pensei “estou a ver que isto em França vai ser sempre assim...”. Para além disso, no caminho de autocarro até ao meu hotel, era frequente vermos a bandeira francesa exposta nas janelas das casas, lojas e autocarros. Como se não faltasse, essas bandeiras também podiam ser compradas em bancas. Com este panorama todo, era impossível não respirar “ la fraternité”, expressão esta que, cada vez mais, une os franceses. Após este cenário todo, pensei que ia sentir uma certa tensão em Paris e, sinceramente, senti um pouco nas primeiras 24 horas… Isto porque era visível verificar que, cada vez que se ouvia uma ambulância ou um carro da polícia, as pessoas ficavam um pouco “petrificadas”, seguindo com os olhos bem abertos os carros que passavam em emergência. Porém, verdade seja dita, todos os “estados de alerta” não passaram disso... A vida em Paris continua. Os parisienses continuam a sair e a ir para as suas esplanadas, continuam a falar alegremente com os turistas dizendo “Portugal?? Aaaah, Cristiano Ronaldo”, comem tranquilamente os seus crepes e vão com toda a descontração, assim como os turistas, à torre Eiffel ou outro monumento caricato de Paris. Do que vi? Vejo que para os parisienses o que se passou, por muito trágico que tenha sido, foi isso mesmo - “algo que se passou”. É a vida e temos de vivê-la sem medo do que se passou no passado. Incrivelmente, tudo o que se passou não parou Paris, os parisienses e o turismo em França. O Daesh não teve a força para destruir “la liberté” francesa.

susana santos

C’est La Vie

Um Pouco (In)Conveniente

Por outro lado, por muito que a vida continue, Paris ainda está a cicatrizar destas feridas e isso é possível observar na Place de la République, onde havia um memorial de velas, cartazes, flores e muitos mais, em homenagem às vítimas dos atentados. Mas, o memo-rial que, para mim, me tocou mais foi o do Bataclan. Aí sim, sente-se a tristeza, o pesado sofrimento de Paris. Nas ruas paralelas ao Bataclan (ruas essas onde vimos pessoas a fugir nos vídeos) começamos a ver ramos e ramos de flores mas é na entrada do Bataclan, na rua principal (que continua cortada), que vimos a repre-sentação das lágrimas de todo o mundo no conjunto de flores, bandeiras de todas nacionalidades, nos cartazes e nas filas de pessoas que ficavam ali, mudas, paradas como se fossem pedra, pura e simplesmente, a olhar em vão para o conjunto de homenagens. Eu fui uma dessas pessoas, eu parei. Deixei o que tinha a deixar em memória das vítimas, e parei. Naquele momento, as lágrimas vieram-me aos olhos e parei. Ainda mais abalada fiquei quando vi que ainda não tinham tirado o cartaz que anunciava o concerto dos Eagles of Death Metal.

Depois destes minutos que me pareceram horas, segui caminho ainda pensativa e a lembrar-me que, naquelas ruas, duas semanas atrás, pessoas correram pela vida tendo tido, ou não, um final menos feliz. Decidi parar num café ali perto para beber algo e, não só matei a sede, como a alegria do empregado e a harmonia daquelas pessoas que estavam naquele estabelecimento mataram a decepção e raiva que me assolaram minutos antes. Depois disso? Peguei nas minhas coisas e continuei, cansada mas feliz, a explorar cada rua de Paris com sorriso na cara porque, se Paris não pára, não vou ser eu a parar também.

© susana santos

“Mas, o memorial que, para mim, me tocou mais

foi o do Bataclan. Aí sente-se a tristeza, o pesado sofrimento de Paris.”

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OPINIÃO Palavras à LupaComentário às Frases do mês de noVemBro

- Aux armes citoyens (às armas, cidadãos)- Formez vos bataillons (formai vossos batalhões)- Marchons, marchons (marchemos, marchemos)Esta passagem de “La Marseillaise”, Hino Nacional de França, deve ser um alerta para que

formemos um batalhão e marchemos contra o terrorismo. Percebe-se o receio em realizar este Europeu, é um receio natural e, sobretudo, humano. No entanto, neste momento, é imperativo combater o terrorismo, zelar pela segurança de todos e, seguindo a opinião de Lambert, esforçarmo-nos para não vacilar perante estes ataques.

NOTA PONTIVíRGULA: 8/10

“A segurança é o maior desafio do Euro’2016. O nível de segurança das equipas vai ser máximo (...) É impossível ter a pretensão de impedir a 100% acções desta natureza. Suspender o Europeu? É possível, mas seria reconhecer que os que nos atacam têm razões para o fazer” - Jacques Lambert, Presidente do Comité Organizador do Campeonato da Europa de 2016 – a realizar em França.

“Repare, aquelas esganiçadas, sempre contra alguém ou contra alguma coisa (...) Aqui entre nós que ninguém nos ouve, eu não queria nenhuma daquelas mulheres, nem dada! (...) Com o tempo ia-me pôr fora de casa... E estou a imaginar o sentimento de alívio que sentiria nesse dia” – Pedro Arroja, economista e comentador do Porto Canal, referindo-se às deputadas do Bloco de Esquerda”..

O polémico economista ultrapassou, neste comentário, o limite do respeito mínimo exigível a alguém que comenta num órgão de comunicação social. O debate político, para muita gente, tornou-se num ataque às pessoas, em vez de um ataque às ideias. É lamentável que estes comentários aconteçam, qualquer que seja a facção política de quem os profere.

NOTA PONTIVíRGULA: 1/10

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“Talvez o maior desafio sejam as companhias aéreas ‘low-cost’ (…) Temos de nos tornar mais competitivos (...) Vamos ter uma tarifa de 39 euros, mas o passageiro vai sentar-se atrás e pagar pela bagagem” – David Neeleman, novo dono da TAP.

OPINIÃO Palavras à LupaComentário às Frases do mês de noVemBro

Poucos duvidarão que as companhias low-cost são um entrave à competitividade das grandes companhias. Neelman promete explorar novos mercados e, nesse sentido, esta declaração é eficaz e “acerta” em vários alvos:

1- A população gostará de saber que a maior companhia aérea nacional fará esta abertura a públicos que, tradicionalmente, preferem as companhias low-cost. Neeleman procura maior competitividade e, noutra dimensão, mostrar à população que a TAP é uma companhia para todos, e não apenas para as elites.

2- É uma declaração de intenções para os concorrentes low-cost. Algo como: “seremos concorrência feroz para chegar ao vosso target”.

3- No âmbito político, pode ser uma resposta aos que discordaram da venda da companhia. Concorde-se ou não com a venda, é inegável que quanto mais cedo Neeleman trouxesse propostas concretas, mais cedo afastaria – pelo menos temporariamente – a discórdia e o cepticismo.

Por último, admitir que “o passageiro vai sentar-se atrás e pagar pela bagagem” é uma honestidade valorizada por quem ouve. Além disto, clarifica, desde logo, as condições da oferta, não dando espaço a futuras cobranças.

NOTA PONTIVíRGULA: 8/10

“Não é bem stand up, não é um monólogo e nem sequer é teatro. É terapia de casais e para pais. O método é ligar a câmara sempre que percebo que aquilo vai dar asneira.” – António Raminhos, humorista.

Em entrevista ao Jornal Expresso, o humorista falou do nascimento do espectáculo “As Marias”. O sucesso dos vídeos de António Raminhos em situações caseiras com as duas filhas foi o ponto

de partida para o humorista correr o país com a sua “terapia para pais”. Ainda numa fase de “ressaca” pós-Gato Fedorento, o humorismo em Portugal tem feito crescer novas referências. Raminhos tem sabido explorar esse espaço e a sua criatividade é salutar. O humorista tenta aproximar-se de todos os pais e faz parecer fácil: “é ligar a câmara sempre que percebo que aquilo vai dar asneira”. Boa ideia, bom espectáculo, boa entrevista.

NOTA PONTIVíRGULA: 7/10

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OPINIÃO Palavras à LupaComentário às Frases do mês de noVemBro

“Peço desculpa por ter demorado tanto tempo” – Adele.

Na sequência do lançamento do novo disco (4 anos depois), a cantora britânica deu uma lição de humildade. “Desaparecer” durante algum tempo, criando expectativa no público, e reaparecer “em grande” é uma técnica usada por muitos artistas. Adele até pode tê-la usado, mas o texto e o pedido de desculpa indicam o contrário. Indicam que Adele preferiu a humildade de explicar a ausência, do que o clássico cultivo do vedetismo e do “grandioso regresso cintilante”. Uma estrela a não ser estrela. Muito bem, Adele!

NOTA PONTIVíRGULA: 8/10

“O 25 de Novembro foi um momento fraturante e eu entendo que não devemos comemorar. Os momentos fraturantes não se comemoram, recordam-se e recordam-se apenas para refletir sobre eles.” – Ramalho Eanes, antigo Presidente da República.

Os partidos de esquerda não participaram na sessão parlamentar de comemoração dos 40 anos do 25 de Novembro, ausência que motivou as críticas dos partidos de direita e de Ferro Rodrigues, Presidente da Assembleia. Concorde-se ou não com a comemoração desta data (há quem considere que é uma tentativa da direita de “colar” a esquerda à tentativa de golpe militar de 1975), deve elogiar-se a humildade e, sobretudo, o enorme sentido de estado do General Ramalho Eanes ao desvalorizar o valor comemorativo da cerimónia. Apesar de ter sido, em 1975, um dos responsáveis pela anulação do golpe da esquerda revolucionária, Eanes tem mantido o seu low-profile e a sua postura apaziguadora e de apelo ao consenso. O antigo Presidente da República é uma personalidade cada vez mais respeitada (ao ponto de muita gente querer vê-lo de volta à política) e tem-se mostrado um exemplo de razoabilidade e sensatez.

NOTA PONTIVíRGULA: 9/10

dioGo oLiVeira

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

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haBemus GoVerno (parte ii)

O novo governo do PS, que conta com o apoio dos partidos de esquerda, tomou posse no dia 26 de Novembro. Levou algum tempo, mas Cavaco Silva acabou por fazer o inevitável e indigitou António Costa, mas não sem lhe deixar uns avisos, primeiro.

O Presidente da República demonstrou a sua preocupação em relação à coesão deste acordo à esquerda e pediu ao Partido Socialista que esclarecesse como pretendia lidar com questões como o cumprimento das regras orçamentais aplicadas na Zona Euro, o respeito pelos compromissos de Portugal em organizações de defesa colectiva, o papel do Conselho Permanente de Concertação Social e a estabilidade do sistema financeiro. Questionou ainda se seriam aprovadas moções de confiança apresentadas pelo PS, bem como o Orçamento de Estado para 2016.

Todas estas questões (embora umas mais que outras) foram levantadas como modo de testar a estabilidade e durabilidade deste acordo à esquerda, o primeiro dos últimos 40 anos. Agora que já todos passámos a fase de analisar a legitimidade deste governo, resta-nos avaliar a sua capacidade para governar.

É importante frisar que este acordo é isso mesmo, um acordo, e não propriamente uma coligação. O governo é PS, mas conta com o apoio do BE, PCP e PEV. Em troca terá, claro está, que discutir as medidas propostas com estes partidos.

Todas estas questões demonstram que esta é uma união com algumas fragilidades. Há, de facto, divergências em temas fracturantes e não há garantias de que seja possível alcançar um acordo em todas as medidas.

Mas há, no entanto, sinais muito positivos de que a vontade de viabilizar este governo é muita. Acima de tudo, acho que é de louvar que o arco de governação tenha sido quebrado, mostrando que há espaço para a pluralidade na democracia portuguesa.

O novo governo liderado por António Costa tem, sem dúvidas, grandes desafios pela frente. Creio que não vai ser fácil, mas quero acreditar que vai correr tudo bem.

inês Linhares dias

OPINIÃO

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

Ao Rosto Vulgar dos DiaspoLítiCa

“Todas estas questões demonstram que esta é uma união com algumas fragilidades. Há, de facto, divergências em temas

fracturantes (...)”

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© aFp, Getty imaGes

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neura prÉ-nataLíCia

Podia começar a falar da azáfama familiar que se dá nas semanas antes da noite da consoada.

Desde a fábrica de doçaria que abre na cozinha de cada um, da época de caça ao peru perfeito e sem esquecer claro a pesca ao belo do bacalhau.

Mas não... como estou de dieta vamos reflectir sobre ginásios, aqueles estabelecimentos de tortura.

Normalmente o pessoal opta por pensamentos destrutivos a seguir ao Natal e Ano Novo, mas vamos mudar de perspectiva ou seja vamos seguir uma de “mais vale prevenir do que remediar”. Como alguém disse algures por aí “para comer, beber e fumar tudo aquilo que me apetece tenho de fazer desporto”, no entanto já vos tinha dito que a minha esperança média de vida num ginásio é de 1 dia e meio e isso mantém-se.

Posto isto era impensável, ainda por cima com prendas de natal para comprar, começar a pagar uma mensalidade absurda e receber telefonemas do HP a dizer “não quer trazer uma amiga? Pode vir fazer um dia de treino grátis para ver...” , por amor de Deus.... não! A gordinha não quer.

Até que algures na semana passada me desafiaram a experimentar treinos outdoor. O projecto chama-se Cheap Fit , são treinos em grupo, ao final do dia na Quinta das Conchas dados por dois rapazes com o curso de desporto. Bom e lá fui eu.

O valor que se paga é simbólico (2€) para a quantidade de suor que se gasta.

Se adorei? Não, mas a minha relação com ténis é essencialmente uma “questão de estilo” e não propriamente uma questão de esforço físico. Joana FerraGoLo

31OPINIÃOSe Houver Tempo...LiFestyLe

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

Se me fez bem e até me diverti? Por muito que me custe admitir, sim, diverti-me a fazer desporto o que é uma coisa rara.

Acho que é uma boa alternativa aos clássicos e aborrecidos ginásios.... e por 2€ temos direito a dois PT’S que levam o exercício bem a sério. Acima de tudo a preocupação deles é que nós fiquemos literalmente mais leves, pesos plumas e não as nossas carteiras.

Óbvio que ir uma vez não chega para preparar o corpinho para o esforço que a noite da consoada exige mas a ideia é repetir estes treinos outdoor 3 vezes por semana. Terças, quintas e domingos. Por isso se houver tempo, passem por lá, porque eu até estou a pensar repetir a dose.

© Cheap Fit

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Banco de Suplentesdesporto

a equipa sem CLaque

32OPINIÃO

14:15São recebidos, à vez, na cabine dos árbitros, os

Delegados das duas equipas.Na ficha de jogo da equipa visitada está inscrito,

como treinador, um elemento do qual não é apresentado o cartão que o habilita para a função. O Delegado refere que o treinador está doente e não pode comparecer. Pede ao árbitro que deixe mantê-lo inscrito, dado tratar-se de um estagiário que precisa de um determinado número de jogos para concluir o estágio. O árbitro rejeita e justifica: “Não posso permiti-lo por duas razões: em primeiro lugar, posso sofrer uma penalização inscrevendo um elemento que não está presente. Em segundo lugar, autorizar esta situação pode trazer um problema grave: imagine que esse treinador comete um crime durante a hora do jogo. Para a posterior investigação policial, esta ficha de jogo comprova que o indivíduo em causa esteve presente neste campo, ilibando-o da acusação. É evidente que é um exemplo extremo mas não posso correr este risco”. O Delegado inicia um rol de insultos inapropriados. As forças policiais, há já uns minutos junto à cabine, usam a força para tirar o Delegado daquela zona. Segundos depois, um dos polícias regressa à cabine dos árbitros: “Ouvi o Delegado dizer a outro elemento técnico que aquele estagiário com “problemas de saúde” está presente noutro jogo como treinador de uma equipa de outro escalão do mesmo clube”. (a ideia era ludibriar os árbitros para que o estagiário somasse dois jogos no currículo, apesar de só estar presente num deles).

14:25O aquecimento.“Ai tão lindos, todos coordenadinhos a fazer o

mesmo exercício. Daqui a bocado estes maricas vão dançar o tango”.

Para estas pessoas, os insultos e o gozo não são manifestações de desagrado, são um ritual de “boas-vindas”. As pessoas nutrem ódio pela figura do árbitro. Para estes adeptos, aquele indivíduo deslocou-se àquela vila de Portugal para prejudicar a sua equipa.

Antes de chegar à alta roda do futebol nacional, um árbitro ultrapassa vários níveis de experiência. Primeiro nível: futebol distrital.

Artur Soares Dias, árbitro internacional: “o mais difícil é passar pelos Campeonatos Distritais. Aí é que é feito o filtro aos mais capazes. Passamos por situações inacreditáveis e só quem passa por esta aventura é que tem noção do que é ser árbitro de futebol”.

13:50Os árbitros chegam ao campo e dirigem-se para a

sua cabine.Passando por alguns adeptos, os primeiros insultos:

“olha-me estes...um com idade para ser meu pai, outro para ser meu filho e um gordo. Com estes palhaços vai ser bonito, vai”.

14:05Dar uma volta pelo relvado e verificar as condições

do terreno de jogo.Balizas com redes furadas já não são um problema,

são uma rotina. Resolve-se com umas braçadeiras de plástico ou uns nós mais fortes. O problema é quando uma observação a olho nu permite ver que as marcações das linhas no terreno de jogo estão tortas ou desenhadas na diagonal.

“Oh Senhor Árbitro, desculpe lá mas o gajo que faz as marcações está sempre bêbado! Os seus colegas não costumam levantar problemas por causa disto...”.

© nataCha orneLas

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dioGo oLiVeira

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

14:53A identificação dos atletas.

O árbitro identifica os jogadores. Um dos treinadores chama a atenção do árbitro para um jogador adversário que reentrou na cabine depois de ser identificado (o regulamento estipula que nenhum atleta, após a identificação, pode reentrar na cabine). O árbitro olha para o jogador em causa e garante que é o mesmo que identificou há segundos, apelando ao bom senso, e escusando-se a repetir todo o processo de identificação que atrasaria o início do jogo. O treinador acusa-o de já estar a roubar. Caso o árbitro repetisse a identificação dos atletas, seria acusado de “andar com o livro dos regulamentos debaixo do braço”.

Chegado a um campo de futebol, mesmo antes de dar início ao jogo, um árbitro já está a “roubar”.

15:00O jogo.Dentro do jogo, os episódios que qualquer árbitro

tem para contar tende para infinito. Inúmeros insultos, alguns originais e com humor.

Por estranho que pareça, os jogos dos seniores não são os mais complicados. Diria que os seniores dos distritais, adultos, muitos deles mais velhos do que os próprios árbitros, têm uma característica que ajuda os “homens do apito”: treinam à noite e, para isso, abdicam de tempo em família. Fazem sacrifícios profissionais e familiares para poder jogar futebol. Este esforço faz com que, durante o jogo, estejam mais preocupados em desfrutar do futebol do que em reclamar com os árbitros. Por contraponto, no futebol de formação, os jovens estão no pico da adolescência, com “sangue na guelra”, e preferem mostrar força e virilidade. Muitos árbitros dizem expulsar mais atletas nestes escalões do que no futebol sénior e que as expulsões são mais vezes por protestos e faltas de respeito, do que por situações de jogo.

Muitos destes jovens são incitados pelos pais a insultar e provocar os adversários (para estes pais e jovens, o conceito de adversário engloba também os árbitros). São muitas as situações em que os pais, para além dos insultos em nome próprio, gritam para o relvado coisas como “O gajo deu-te uma paulada, dá-lhe também!” ou “Manda o árbitro p’ó car****, nem falta foi”.

OPINIÃO

Banco de Suplentesdesporto

16:45Termina a partida.A saída do campo torna-se complicada quando

os insultos passam a arremessos de objectos ou cuspidelas e a ida para o balneário tem de ser acompanhada pela polícia.

17:00Preenchidas as fichas de jogo, os árbitros voltam a

receber os Delegados. Nesta segunda reunião, os Delegados pedem

explicações sobre decisões dos árbitros, evocam leis de jogo inexistentes e discutem questões regulamentares acerca das quais, lamentavelmente, não têm conhecimento. Não é raro esta reunião acabar com a polícia dentro do balneário do árbitro a acalmar a agressividade física e verbal dos delegados.

17:45Regresso a casaO jogo já terminou há quase uma hora, mas

muitos atletas e adeptos ficam no campo mais uns minutos para terem a oportunidade de disparar mais três, quatro, ou vinte insultos. Por vezes, a polícia tem de escoltar os árbitros, embora seja uma situação pouco habitual.

Os árbitros ocupam o seu fim-de-semana com viagens até campos de futebol para serem gozados, insultados e, por vezes, agredidos. O que leva um árbitro a abdicar do seu tempo em família para se prestar a isto? Para além do dinheiro que recebem, muitos árbitros falam do “bichinho” da arbitragem. É uma tarefa fascinante, mas inglória.

Relatei um cenário extremo e que, felizmente, não acontece todas as semanas. Existem atletas, jovens ou adultos, que valorizam o Futebol e mostram qualidades humanas irrepreensíveis. Para estes, o Futebol é um prazer, não é uma Guerra.

“Ai tão lindos, todos coordenadinhos a fazer o mesmo exercício. Daqui a bocado estes maricas vão

dançar o tango (...)”

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maria manueL de sousa

Há imenso tempo que ando a pensar no assunto e vejo aqui a oportunidade de acabar com as ideias erradas de algumas pessoas. Sei que todos os estudantes de Psi-cologia se vão identificar com isto: quando, numa simples conversa com alguém que não vemos há algum tempo ou que acabámos de conhecer, nos perguntam o que estamos a estudar, respondemos, com orgulho, que somos estudantes de Psicologia e que esta-mos a gostar muito do que fazemos. A partir daí são imensas as respostas absurdas que recebemos, desde “vocês psicólogos lêem-nos a alma” a “consegues adivinhar o que estou a pensar?”. É ridículo! Completamente ridículo!

A maior parte das pessoas pensa que os

psicólogos são uma espécie de videntes do século XXI. Pensam que nos sentamos a falar com uma pessoa e que lhe lemos a mente e sabemos os seus segredos mais profun-dos. Não, não é verdade. Um psicólogo não faz magia, um psicólogo não lê mentes e muito menos ganha poderes extraordinários a partir do momento em que se inscreve no curso! CHEGA! Chega de pensar dessa forma!

© pixaBay

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Ao entrar em Psicologia não ganhei poderes nem aprendi a fazer magia, porque se fosse esse o meu objetivo ia para Hogwarts, a escola de magia mais famosa do mundo, e não me lembro de receber uma coruja com uma carta a dizer que esperavam por mim.

Também há sempre a ideia associada aos psicólogos de que quem os frequenta é porque está maluco e seria, por isso, vergonhoso consultá-los. Por existir esse pensamento, muitas pessoas que pre-cisam de ajuda negam-se a ir ao psicólogo porque têm medo de serem rotulados de malucos pela sociedade.

As pessoas têm de começar a mudar a sua visão do que é um psicólogo, porque, resumidamente, nós não fazemos qual-quer tipo de magia e estamos lá para ajudar todas as pessoas que necessitem da nossa ajuda, seja qual for o problema ou faixa etária.

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

OPINIÃO

PsicologiaCheGa

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Outubro foi o mês da prevenção do cancro da mama e, no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, falou-se deste tema.

No dia 26 de Outubro a comunidade académica juntou-se e, para marcar a diferença, fomos #Todosdecorderosa.

É sobre uma forma de prevenção do cancro da mama, talvez a mais importante, por não ter custos e poder ser feito por cada mulher em sua casa, que vos venho falar na edição deste mês: o auto-exame da mama.

- O auto-exame da mama deve ser realizado mensalmente, por todas as mulheres a partir dos 18 anos, 2 ou 3 dias após o fim da menstruação. Caso não se seja menstruada regularmente ou se esteja na menopausa, o auto-exame deve ser realizado sempre no mesmo dia de cada mês.

Apresento então as Diretivas da American Cancer Society para o auto-exame da mama

- Observe as suas mamas, de frente para o espelho, depois com os braços levantados e a seguir com as mãos apoiadas nas ancas, no que diz respeito ao tamanho, cor da pele e mamilos.

- Deite-se e coloque o braço direito atrás da cabeça.

- Com as pontas dos dedos da mão esquerda, palpe a mama direita e faça-o como se fossem os ponteiros de um relógio.

- Pressione suavemente, mas com firmeza, com pequenos movimentos circulares ou verticais.

todos de rosa

- Repita o mesmo procedimento na mama esquerda.

- Palpe cada mamilo e verifique se existe saída de líquido.

- Para terminar, com os braços caídos, palpe as axilas para ver se sente algum “caroço” ou inchaço.

- Poderá realizar esta palpação enquanto toma duche porque a pele molhada e ensaboada facilita o deslizamento dos dedos melhorando a sensibilidade.

- Os sinais de alerta são: um caroço indolor; uma pequena elevação, retração ou aspeto rugoso da pele; assimetria entre as mamas; corrimento do mamilo; inversão do mamilo.

Se tiveres alguma dúvida ou sentires alguma alteração recorre ao teu médico/enfermeiro de família. E já sabes, “Cuida-te!”.

35OPINIÃO

Cuida-te!instituto de CiênCias da saúde

sónia araúJoreVisão CientíFiCa: proFessora LiLiana BraGuez

© ame e ViVa a Vida

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BaLmain x h&m

No passado dia 5 de Novembro, teve lugar um dos dias mais infames na história do consumismo histérico e frenético da humanidade. A H&M voltou à carga com a sua colaboração anual e desta vez trouxe um peso pesado: a Balmain.

Para mim, estas colecções tornaram-se uma tradição desde a “Sonia Rykiel Pour H&M” em 2010. E se acompanham as minhas colunas, devem saber que no ano passado escrevi sobre a colaboração com o Alexander Wang. Na altura escrevi o seguinte: “Estamos assim tão esfomeados para deitar a mão a todas as peças de marca por um preço low cost?” – mal sabia no que me estava a meter.

O hype começou meses antes do lançamento da colecção “Balmain x H&M” e já se previa uma grande afluência nas lojas. O que não se esperava era a quantidade arrebatadora de multidões que dormiram à porta da loja, que se pisaram, acotovelaram e esmurraram para comprar uma peça.

A verdade é que tenho uma visão muito crítica do consumismo sem significado, no entanto, tenho duas teorias em desenvolvimento para explicar esta correria cega.

A primeira teoria baseia-se na aquisição de uma peça de marca por puro amor à moda (uma ideia um pouco sonhadora e irrealista, bem sei). A Balmain é tipicamente francesa: considerada alta-costura, logo, para o comum mortal, é muito complicado comprar uma peça (não é possível comprar nada por menos de mil euros). É aqui que entra a cadeia de roupa H&M, que nos dá a oportunidade de entrar no mundo de sonho do design e da moda, digno de editoriais da Vogue e por menos de metade do preço.

A verdade é que esta primeira teoria apresenta um grande problema: para quem esteve presente na loja na tal infame manhã sabe que esta se tornou numa feira da Ladra em dia de Black Friday. A maior parte das pessoas encheu sacos com metade da colecção com o intuito de vender tudo no ebay pelo dobro, triplo e quádruplo do preço. Aquilo que eu considerava um sonho tornou-se num negócio de mercado negro muito rentável.

A segunda teoria relaciona-se com o star system e a cultura das celebridades: o fenómeno das Kardashian/Jenner e as selfies de Olivier Rousteing.

O clã de irmãs de um dos reality shows mais famoso da televisão americana é conhecido por ser fã da Balmain – em todos os eventos vão vestidos pela marca, aparecem em fotografias no Instagram com roupas da Balmain e, são consideradas as melhores amigas do director criativo, Olivier Rousteing.

Este último é considerado o selfie king da indústria da moda, o que ajuda a criar um plano de marketing perfeito. Normalmente, o director criativo da marca é contratado para encarnar os valores estéticos da marca e colocar-se, assim, ao seu serviço. Neste caso, é o oposto: Olivier Rousteing tornou-se a “cara” da marca. As suas famosas selfies são o espelho da pessoalização duma marca – quando pensamos em Balmain, pensamos em Olivier. Enquanto que quando pensamos na Lanvin não pensamos na figura de Alber Elbaz, apesar de este ser o director criativo, mas sim, no design e na estética cultivada pela marca como um todo.

A Balmain apostou num plano de marketing duvidoso para os verdadeiros amantes de moda da casa de alta-costura francesa, mas rentável para os supérfluos consumistas influenciados pelo brilho das festas de Hollywood e pelas irmãs Kardashian (e também para a Balmain e a H&M).

Catarina VeLoso

o-cabide-moda.blogspot.pt

OPINIÃO

O Cabidemoda

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

“O hype começou meses antes do lançamento da

colecção Balmain x H&M (...).”

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João torres

the house oF the risinG sun

Há uma casa na cidade de Charming, Califórnia. O lar de motoqueiros renegados, profetas anarquistas, que levam a vida ao sabor da lâmina e a única força coactiva que incide sobre a sua liberdade é o martelo. Os Sons of Anarchy.

Os Filhos da Anarquia foram criados por John Teller em 1967, aquando do seu retorno da Guerra do Vietnam. John não encontra um lugar para si na sociedade americana, muita coisa mudou e o seu ideal anarca e a companhia dos seus irmãos de Harley são a única coisa que conforta uma mente que tem tanto de sábia como de perturbada.

A história a conhecer começa muitos anos depois, por volta de 2006. John Teller morreu num acidente de mota mas deixou o seu legado. Jax é o vice-presidente do clube, liderado por Clay, um dos membros mais antigos, casado agora com Gemma, viúva de John e mãe de Jax. O clube está diferente: para se tornarem auto-sustentáveis recorreram a um esquema de tráfico de armas e com a polícia na sua lista de pagamentos não se pode dizer que o negócio vá mal. O ponto de viragem acontece quando Jax vasculha uma garagem antiga e encontra um diário do pai, onde este relata os seus ideais, os planos para o clube e ainda os seus últimos dias de vida que parecem não corresponder exactamente com as histórias que ouvira da boca da mãe. Dali para a frente Jax define a sua linha de acção na dualidade entre o mundo que sempre conheceu e o futuro que o pai escreveu.

Estão reunidos os pressupostos para uma boa série, um plot interessante, motards implacáveis, violência indiscriminada e mulheres tatuadas de uma sensualidade indiscritível. Mas Kurt Sutter (criador da série) dá o passo final para a sublimidade. A narrativa está repleta de filosofias anarquistas, incluindo referências a Emma Goldman. É fascinante o modo como os Sons incorporam uma crença política sólida nas coisas mais mundanas; o espectador mergulha automaticamente num estilo de vida anárquico, menosprezando instantaneamente o facto de todas as actividades do clube serem ilegais, e ganha um sentimento de empatia e de pertença involuntário. Logo após o primeiro episódio, envolvemo-nos com personagens que protegem os seus valores, a sua integridade moral e, acima de tudo, a sua família. Não serão leis com que não concordam, escritas por um Estado que não elegeram, que os impedirão de os defender com a própria vida. É isso! A consciência que a vida humana é algo minúsculo quando comparado com a família, a honra, a incorruptibilidade e, acima de tudo, com a liberdade.

Esta série entrou na minha vida há sensivelmente quatro anos e mudou-a drasticamente: fez-me olhar para mim, enquanto indivíduo numa sociedade antagónica às minhas crenças morais, de uma maneira revolucionária e simultaneamente serena. E marquei essa mudança para sempre na pele com as últimas palavras de uma personagem antes de morrer.

OPINIÃO

Fita QueimadaCinema

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

“Logo após o primeiro episódio, envolvemo-nos com personagens que protegem os seus

valores, a sua integridade moral e, acima tudo, a

sua família.”

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não-Binário

Desde que tenho memória tenho tido uma inclinação para o lado feminino das coisas, era aquele rapaz que gostava do cor-de-rosa, dos cartoons tidos como “girly” e de passar os recreios com outras raparigas – que, sinceramente, era por que não suportava mais uma conversa sobre futebol ou qualquer outro “desporto-bola” –contudo, em vez de me sentir exilado ou de ser julgado sempre fui aceite como “único”, diferente ou verdadeiro aos meus próprios gostos. A verdade é bastante simples, os meus pais decidiram que no nosso lar não haveria definições de género propriamente ditas, i.e. ter o quarto pintado de azul, jogar futebol, gostar das figuras de acção e a solução física como resposta aos problemas que a vida me atirasse. Não, não; os meus pais ensinaram-me a ser eloquente, persuasivo e, em geral, ter uma língua de prata, isto, por sua vez, fez transposição para outras áreas da minha vida e é agora que eu vou falar de videojogos, a sério, juro. Não juro mas prometo. Isto tudo para dizer que, desde então, tendo a escolha, o meu avatar nos jogos tem sido sempre o da mulher, usernames femininos, descrições andrógenas e vagas, etc. O que faz com que cada vez que o tópico de género surja nesta área fique com imensa curiosidade sobre que se fala.

mitCheL martins moLinos

O mundo dos videojogos tem tido alguns (bastantes) momentos negativos em relação à representação da mulher, tanto como personagem, como jogador. Desde a exclusão das esferas e comunidades por parte de outros jogadores (masculinos) até à sexualização das personagens na maior parte dos jogos blockbusters. O segundo tópico não há nada a discutir, sim acontece, sim a maior parte dos guionistas para os videojogos são amadores e até quando a narrativa é reconhecida como sendo boa acaba por apresentar terríveis marcas de gasto e uso por parte dum escritor que, tristemente, não conta com o skillset necessário para fazer dum bom guião algo brilhante. Mas o primeiro tópico é interessante pois até agora as minhas relações dentro das comunidades têm, na sua maioria, acontecido dentro desta “farsa” de eu ser “mulher”, e têm sido excepcionais, com o nível necessário de respeito e amabilidade, muitas vezes com a promessa de ajuda e apoio por parte de outros jogadores. É necessário fazer notar que não é suposto fazer desta experiência uma representação exacta das comunidades dos videojogos, mas sim uma espécie de “teste” ou “mock-up”. A marginalização da mulher nestas comunidades continua a ser um problema verdadeiro e contemporâneo mas é triste que a imagem positiva destas comunidades seja eclipsada pelos pequenos soluços e problemas que vai surgindo ao longo dos anos. Eu, pelo menos, tenho o gosto e o privilégio de ter tratado com indivíduos excelentes e verdadeiros defensores dos valores que esta arte transmite.

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

OPINIÃO

Inteligência ArtificialGaminG/internet

“O mundo dos videojogos tem tido alguns (bastantes)

momentos negativos em relação à representação da mulher, tanto como

personagem, como jogador”

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Aproveito esta oportunidade para falar sobre uma nova banda nacional e, quem sabe, divulgá-la.

Falo de Pega Monstro, as irmãs Reis, ali do Saldanha. Tocam um punk rock fortíssimo, cheio de reverb e mostram que não só os meninos rockam a bom rockar.

Em 2008 criaram a sua editora discográfica, Cafetra Records e, em 2011, através desta editaram (com algum sucesso!), o seu primeiro EP: “O Juno-60 Nunca Teve Fita”.

No ano seguinte, lançaram o primeiro longa-duração, homónimo. Diziam que as pessoas que as ouviam nos concertos, ficavam espantadas por verem miúdas tão novas a destruir os seus instrumentos, numa mescla de identidade punk rock cheio de efeitos lo-fi.

Já tocaram por este país fora, foram a Inglaterra mostrar as suas músicas, visto que o seu segundo longa-duração “Alfarroba”, foi lançado em 2015, fora de Portugal, pela editora britânica Upset the Rhythm.

Apareceram no Radar da também britânica NME, como uma das novas bandas a ter em conta. Foram igualmente entrevistadas pela Tom Tom Magazine, revista que se concentra exclusivamente em mulheres bateristas, em Setembro deste ano.

Neste momento estão em tour com B Fachada, amigo e mentor de longa data, com quatro datas pelo nosso país. Com este, lançaram um split EP, chamado “B Fachada Pega Monstro / Pega Monstro B Fachada”, onde cada um toca covers do outro.

Serão em breve uma certeza nacional, tendo já conquistado o underground português com o seu novo álbum, “Alfarroba”.

Neste segundo longa-duração demonstram grande versatilidade, viajando entre músicas pesadas, curtas e diretas, de um punk rock portentoso, para baladas mais sentimentais e profundas, cheias de intenção, passando ainda por grandes jams de improvisação, onde demonstram todas as suas qualidades atrás de uma guitarra cheia de reverb e duma bateria a braços fininhos, dando ainda um último saltinho a um fado a guitarra elétrica, de sua autoria: “Fado D’Água Fria”.

Em “Alfarroba”, tratam temas como amores e desamores, monogamia, ser “aquela rapariga que não dá fio à meada”, a vida na estrada, ou o que significa ser mulher no mundo sexista e machista da música. Não têm problemas com asneiras, nem de dizer as coisas como elas são. Este mundo precisa de mais como elas.

Por fim, deixo um excerto de “Fado D’Água Fria”, que contextualiza, penso eu, a mística, a aura de “nonchalance” das irmãs Pega Monstro.

“A alegria desta línguaCabra cega quando vens?Eras festa d’água friaAgora enches só papéis”

E é isto. É isto e mais nada, enchemos só papéis.

miGueL Freitas

Cheiras a aLFarroBa

OPINIÃOMúsica nos Tempos que SoammúsiCa

“Neste segundo longa-duração demonstram grande versatilidade,

viajando entre músicas pesadas, (...) para baladas mais sentimentais

(...) “

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A questão do corpo e das descrições associadas à sensualidade tomam um papel importante na literatura. Não é em vão que Saramago apresenta Sete-Sóis e Sete-Luas como personagens que fogem à norma da sociedade da época e encontram na entrega mútua do corpo a exploração do prazer, numa união não apenas física mas também espiritual. Aqui, os jogos de sedução são preponderantes para a descoberta da sexualidade: a vertente amorosa acaba por ser substituída pelo erotismo, vivido como algo natural.

É também possível encontrar inúmeros exemplos de sensualidade nas obras de García Márquez. Os corpos são traçados com uma simplicidade absolutamente estrondosa, sem cair na banalidade: Delgadina, a jovem virgem que se torna objecto de admiração do velho jornalista, sem nunca lhe tocar para a manter pura; Juvenal Urbino que, na noite de núpcias, deixa Fermina explorar livremente o seu corpo, sem exigir nada em troca ou Rebeca e José Arcadio que se entregam a uma vivência sexual capaz de “perturbar a paz dos mortos”.

Agora, depois disto, os mais atentos bem me podiam dizer:

«- Ouve lá, mas estás a comparar o que dois prémios Nobel escreveram com as palavras de uma qualquer senhora que não tem mais nada para fazer além de mandar umas patacoadas em três ou quatro livros?!»

O meu objectivo é, precisamente, fazer ver que não existe comparação possível. Deixemos de ler só porque determinado título caiu nas boas graças dos leitorzecos que para aí andam. Aqui falou-se de sexualidade, de sensualidade, de conceitos presentes em tantos bons livros, pela mão de escritores que não se limitam ao óbvio. Por favor, vamos mudar de mentalidade. Leiam-se cenas de sexo, sim. Mas que estejam bem escritas, inseridas em qualquer história que nos mantenha colados às páginas de um livro.

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deixem-se de tretas: aqui FaLa-se de sensuaLidade

Se isto fosse uma coluna destinada à revolta contra um pormenor da educação na nossa sociedade, existiria uma passagem que condenaria os típicos diálogos da cegonha:

«- Manelinho e Mariazinha, é lógico que os bebés vêm de Paris!»

Lamento, mas não me dedico a conversas da treta. Utilizemos as palavras certas para o caso em questão: aqui fala-se de sexo e sensualidade na literatura.

Não julguem, no entanto, que venho para aqui gastar linhas com algo sobre o maravilhoso Mr. Grey que, segundo 90% da população feminina, é o maior galã das páginas modernas. Minhas queridas (e meus queridos, se porventura se dedicaram a estas andanças para agradar às namoradas ou porque têm algum fascínio por qualquer uma das duas personagens principais), poupem-me! Que raio é que andam a ler?! Porquê?! De momento, tenho quatro hipóteses para tal fenómeno: a) não sabem o que fazem e pegam no primeiro livro que os ignorantes da literatura dizem ser muito giro; b) estão absolutamente frustradas com toda a vossa vidinha amorosa; c) precisam de escrever um texto insultuoso para alguém e decidem ler algo ridículo que vos deixe suficientemente zangadas; d) querem rir durante uns bons minutos devido a toda a imbecilidade presente nuns quantos parágrafos completamente ocos.

Vamos lá ver: não tenho nada contra uma temática que pode ser um assunto tabu. Não me choca ler um livro que englobe cenas de sexo ou que tenha referências que nos façam adivinhar a sensualidade ali envolvida. Mas tenhamos calma com isto! Uma coisa são episódios bem escritos, independentemente de serem mais ou menos explícitos; outra são passagens em que só se consegue uma aproximação ao ordinário, ao reles, ao desnecessário – não pelo conteúdo em si, mas pela forma como é apresentado. Um bom escritor consegue não cair na futilidade de descrever somente o acto sexual em si: deixa o leitor expectante, quase com a sensação de luz apagada que apenas permite adivinhar os contornos da cena.

aLexandra antunes

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

OPINIÃOLiteralmente MetafóricaLiteratura

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OPINIÃOPerspectivaFotoGraFia

Lisboa “Cidade Triste e Alegre”, o livro de culto de Victor Palla e Costa Martins, é uma ode a Lisboa. A história remonta a 1957, quando Palla e Costa Martins, amigos desde os tempos de estudantes na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, decidiram elaborar um livro sobre a cidade. Numa entrevista filmada com André Príncipe, Victor Palla explicou como a ideia surgiu durante um almoço. Enquanto almoçavam, a conversa foi parar à fotografia e Martins disse: “Tenho muitas fotografias sobre Lisboa”, ao que Costa Martins respondeu: “ Também tenho muitas fotografias. Podíamos fazer um livro”.

Assim nascia Lisboa “Cidade Triste e Alegre”, ainda que num formato distante do que hoje se conhece. A colaboração entre os dois arquitectos resultou, primeiro, numa exposição patente ao público na Galeria Diário de Notícias, em meados de Outubro de 1958. E só mais tarde, em Novembro de 1958, apareceria o primeiro fascículo do livro, de um total de sete, e que lhe daria a forma final. O livro não teve grande sucesso entre o público e acabou por ser esquecido, ficando os autores com um número considerável de fascículos na sua posse.

Segunda vida

Em 1982, pela mão de António Sena, dono da Galeria Ether, em Lisboa, o livro ganhou um segundo fôlego com a exposição Lisboa e Tejo e Tudo. Um catálogo com os fascículos que não haviam sido vendidos foi elaborado, do qual resultaram cerca de 200 cópias, que foram vendidas. Assim se começava a delinear a reputação do livro que, em 2007, teria um original vendido em leilão por 14 mil euros.

LisBoa “Cidade triste e aLeGre”

Ainda assim, é a José Pedro Cortes e a André Príncipe, fundadores da editora Pierre Von Kleist, que se deve o novo impulso que o livro teve. Partilhando o gosto pelos foto-livros, surgiu a ideia de criar uma editora dedicada a esse mesmo segmento e, consequentemente, o projecto de reeditarem a obra de Victor Palla e Costa Martins. Após uma primeira reedição que esgotou as 2000 cópias disponíveis, em 2009, a Pierre Von Kleist lançou recentemente a segunda tiragem de Lisboa “Cidade Triste e Alegre”, numa edição fac-similada de 2000 exemplares.

Outra vez te revejo, Cidade triste e alegre

É assim que a primeira página do livro encanta quem lhe passa as mãos. “outra vez te sonho aqui/ outra vez te revejo – Lisboa e Tejo e tudo...”. De Álvaro de Campos, com o seu poema “Lisbon Revisited” (1926), inicia-se viagem por uma Lisboa crua, triste e alegre, carregada pelo preto e branco que acentua os gestos e os olhares das gentes de Alfama e do Bairro Alto – locais onde os autores fotografaram maioritariamente. A acompanhar as fotos há textos de autores como Alexandre O’Neill, Eugénio de Andrade, Jorge de Sena e uma introdução de José Rodrigues Miguéis.

Mostra-se uma cidade romântica, em que o quotidiano é regado por fotografias com grão e tremidas, crianças a brincar nas ruas e gatos em parapeitos. O resultado é um livro apaixonante e delicado, intrinsecamente dotado de uma modernidade que a época não lhe permitia. Agora, está novamente disponível ao público no site da Pierre Von Kleist.

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

seBastião aLmeida

“Mostra-se uma cidade romância, em que o quotidiano é regado por fotografias com grão e

tremidas (...) “

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perpÉtuo

Não seiMas tu também não sabesCreio que ninguém saibaPor que razão cá estamos.

Entre os faróis pretos e brancosTal Ruy Belo, da Terra vem água e da água alma

Nem mesmo as mãos servem para enxugar o rosto.

Veja-se quem éramosVeja-se quem somos

A incerteza cai sob forma de medoO que ela esconde?O que tu escondes?

E pensar que viviAo saber o que queria de mimO tempo parece que não passa

O corpo deixa-se levar pelo tempo

Sinto e não vejoVejo e não sinto

Palpita-se o pensamentoXeque-Mente

omar prata

42TEXTO CRIATIVOOlhar de Prataprodução esCrita

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico

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AGENDA CULTURAL 43

as esCoLhas do pontiVírGuLa

ÁLBUNS:

“All the Wars” - The Pineapple Thief

“Part IV” - Fred Falke

“Storm Corrosion” - Storm Corrosion

“Is the is are” - DIIV

“The Raincoats” - The Raincoats

LIVROS:

“Cem Anos de Solidão”, Gabriel García Márquez

“Memorial do Convento”, José Saramago

“O Amante”, Marguerite Duras

“O Vestido Cor de Fogo”, José Régio

“Sinais de Fogo”, Jorge de Sena

FILMES:

“Sons of Anarchy”, de Kurt Sutter (série)

“Limitless”, de Neil Burger

“Memento”, de Christopher Nolan

“Machete”, de Robert Rodriguez

“Crazy, Stupid Love”, de Glenn Ficarra

VíDEOJOGOS:

“Fallout 4”, PS4, XboxOne, PC

“Call of Duty: Black Ops III”, PS4, PS3, Xbox360, XboxOne

“Need for Speed (2015)”, PS4, XboxOne, PC

“ WWE 2k16”, PS4, PS3, Xbox360, XboxOne

“Rebel Galaxy”, PC

EXPOSIçÃO:

Nome: “Arno Rafael Minkkinen - Facing the camera: 1970 to Tomorrow”Data: 28 nov - 30 jan Local: Barbado Gallery, Rua Ferreira Borges, Campo de Ourique

Nome: “A Grande guerra em fotografia estereoscópica: A coleção de Sousa Guimarães”Data: até 23 janLocal: Arquivo Municipal de Lisboa, Rua B ao Bairro da Liberdade

ESPETÁCULONome: “Cheguei aos 30, mas muito contra a minha vontade”, Diogo Batáguas Data: 8 dezembroLocal: Cinema São Jorge, 22h

CONCERTOS:

Nome: Paus + Pop Dell’ArteData: 5 dezLocal: CCB, 21h

«In his silence, the storm corrodes»

STORM CORROSION

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