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Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional (CC BY-SA 4.0)

O presente trabalho visa ensinar crianças do ensino fundamental (5º e 6º ano) a analisar o ambiente físico da sua escola com base na técnica científica de ava-liação pós-ocupação (Rheingantz et al., 2009) a fim de aumentar o conhecimento a respeito do ambiente que pode ter efeito em um maior cuidado com o mesmo, aumentando o comportamento pró-ambiental dessas crianças (Vicente-Molina, Fernández-Sáinz, e Izagirre-Olaizola, 2013) com base no novo paradigma ambiental (Bechtel, 2000). Entende-se o ambiente físico como o invólucro onde as atividades acontecem e, generalizando para os demais ambientes que se frequenta, estamos tratando do que está à nossa volta e como nos afeta e como afetamos o ambiente. Esse é o princípio de estudo da Psicologia Ambiental (Günther e Rozestraten, 1993). Escolheu-se essa faixa etária pelo maior envolvimento em condutas ecologicamen-te responsáveis nesta idade (Pol, 2009). Durante a adolescência, este envolvimento reduz-se significativamente, retomando novamente em universitários, entretanto estes não atingem as mesmas pontuações dos alunos de até 12 anos (Pol, 2009; Pol & Castrechini, 2013). Além disso, a ideia de partilhar conhecimentos desenvolvidos no âmbito científico para outros contextos fora da academia é conhecido como “ciência cidadã” tradução do termo em inglês citizen science (Cavalier e Kennedy, 2016). A primeira vantagem do contato da população comum com o conhecimento científico é propi-ciar o avanço das descobertas científicas já que ao fazer parceria com vários habitan-tes, o cientista potencializa as chances de descobertas científicas. Mas, por outro lado, quando a população comum tem acesso aos métodos e técnicas científicos isso po-tencializa que possam entender melhor os eventos do dia-a-dia, gerando cidadãos mais capazes de exercer sua cidadania. No caso das questões ambientais, os cidadãos têm desempenhado um importante papel de monitoramento do ambiente, desco-berta de problemas ambientais e cobrança de ações por parte do poder público na mediação ou gestão da solução desses problemas. A presente cartilha segue essa proposta e apresenta algumas técnicas bem como referencial teórico que embasa a sua utilização com o objetivo que a escola seja capaz de formar alunos que possam se tornar agentes mirins no estabelecimento de uma relação de mais cuidado com o ambiente que os mesmos têm acesso.

A cartilha

Uma cartilha para professoras e professores do ensino fundamental aplicarem com os alunos entre 10 e 12 anos como tema transversal de educação ambiental.

Ela é fruto do projeto “Agente mirim de educação ambiental: um trabalho em sistema” aprovado no edital DESO/FAPITEC/SER No 14/2013.

Objetivo

Oferecer um programa de atividades voltadas para a educação ambiental como um material de apoio para auxiliar professoras e professores no cumprimento da lei bra-sileira (nº 12.608, de 10 de abril de 2012) que estabelece que os currículos do ensino fundamental e médio devem incluir a educação ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios. As crianças aprenderão a conhecer e avaliar o ambiente físi-co da sua escola, sendo um dos ambientes mais importantes da sua formação. Como consequência, aumentar sua responsabilidade pelo mesmo e torná-los agentes mi-rins de educação ambiental, ou seja, atores sociais infantis. Para isso, além do treino das técnicas científicas de avaliação do ambiente físico da escola, são trabalhadas também habilidades sociais que podem ser úteis na manutenção e partilha com os colegas, professores e familiares de comportamentos pró-ambientais.

Formato

Os conhecimentos que serão ensinados são todos transversais ao conhecimento ensinado na escola. São 10 encontros, com duração de 50 minutos a 1 hora e 30 mi-nutos dependendo da quantidade de alunos. Podem ocorrer durante duas semanas seguidas ou em um período de dias alternados aumentando o número de semanas. A gestão do tempo e das atividades pela professora ou pelo professor condutor do processo é fundamental para seu sucesso. É interessante que se defina previamente o calendário para que os alunos possam se organizar.

Pré-atividadesPreparação do ambiente físico e apresentação do projeto

Objetivos específicos1. Chamar a atenção das crianças para o ambiente da escola com uma interven-ção artística; 2. Ter uma informação inicial da relação delas com o ambiente da esco-la; 3. Convidar as alunas e os alunos do 5º e 6º ano do ensino fundamental.

MateriaisA. Barbantes e fotografias da escola; B. Questionário Inicial e Apresentação Inicial (podem ser obtidos em: nppaufs.wor-dpress.com); C. Datashow, computador e programa para apresentação de slides; D. Cronograma de atividades do projeto.

ProcedimentoA professora ou o professor deve se pre-parar com uma semana de antecedência. •Fase 1: a intervenção artística é feita com a exposição de fotos do ambiente físico uma semana antes da Fase 2;

•Fase 2: antes de apresentar o projeto às crianças, deve-se aplicar o questionário para a mensuração dos comportamentos pró--ambientais;•Fase 3: finalmente, cumpridas as Fases 1 e 2, apresenta-se o projeto em sala de aula.

1º dia de atividades do projetoDando início ao processo

Objetivos específicos• Confecção dos “óculos do saber” e reapresentação do projeto aos alunos (5º e 6º ano do ensino fundamental).

MateriaisA. Papel ofício ou A4 branco, B. Cartolina, tesourinhas sem ponta, cola ou fita adesiva ou barbante; C. Modelo de óculos para ser impresso (pode ser obtido em: nppaufs.wordpress.com).

Procedimento• Fase 1: recorte e criação de óculos a partir do desenho impresso que representam as lentes. As pernas podem ser feitas com cartolina.• Fase 2: reapresentação do projeto usando a metáfora de que irão aprender uma nova forma de ver os ambientes que elas conhecem utilizando os “óculos do saber”. • Fase 3: no encerramento solicitar que elas tragam recortes de revistas ou jornais, desenhos até mesmo fotografias impressas que representem ambientes que eles gostam de frequentar.

2º dia de atividadesUm presentinho muito útil

Objetivos específicos• Finalização e entrega de um caderninho de anotações para registrar o que for apre-sentado durante o projeto.

Materiais• A. Papel ofício ou A4 branco e colorido; B. Barbante colorido e agulha de tapeceiro, linha ou grampeador de papel com grampos; C. Ca-netinhas coloridas, lápis de cor; D. Recortes dos alunos.

Procedimento• Fase 1: confecção dos caderninhos deve ser fei-ta pela professora ou professor previamente uti-lizando agulha, linha ou grampeador (Instruções podem ser obtidas em: nppaufs.wordpress.com). • Fase 2: escolha pelos alunos do caderninho pela cor da capa e finalização da capa com personali-zação por eles utilizando barbante, canetinhas, lápis de cor, os recortes que eles providenciaram.

3º dia de atividadesApresentação do ambiente físico da escola

Objetivo específico• Conhecer a escola por meio da sua apresentação pelas crianças participantes do projeto usando as técnicas de Walkthrough e Poemas dos Desejos.

Materiais• A. Caderno de anotação para a professora ou professor; B. Máquina fotográfica ou ce-lular com recurso de foto; C. Modelo para impressão do Poema dos Desejo (pode ser obtido em: nppaufs.wordpress.com)

Procedimento• Fase 1: aplicação da técnica do Walk-through em grupo por meio do registro das informações no caderninho de anotações da professora ou professor e no caderninho dos alunos, além do registro fotográfico.• Fase 2: aplicação Poema dos Desejos em sala de aula para as crianças.

4º dia de atividadesApresentação das técnicas paraanálise do ambiente físico

Objetivos específicos• 1. Apresentação e discussão das técnicas de análise do ambiente físico; 2. Aplicação da Matriz de Descobertas nas crianças participantes.

Materiais• A. Computador, Datashow;B. Apresentação em slides (pode ser obtido em: nppaufs.wordpress.com); C. Planta bai-xa da escola em tamanho A4 fotocopiada para cada uma das crianças participantes

Procedimento• Fase 1: apresentação dos slides verificando se cada criança está entendendo o que está sendo dito.• Fase 2: explicar a Matriz de Descobertas e distri-buir as cópias da planta baixa da escola para cada uma das crianças solicitando que elas identifiquem as características físicas e dos usos feitos em cada um dos espaços da escola.

5º dia de atividadesApresentação de conceitos dapsicologia ambiental

Objetivo específico• Familiarizar as crianças com os conceitos da psicologia ambiental mostrando a inter-relação entre pessoa-ambiente.

Materiais• A. Computador, Datashow;B. Vídeo baseado no livro do José Saramago “A maior flor do mundo”: https://goo.gl/yizcGr;C. Apresentação em slides (obtido em: nppau-fs.wordpress.com);D. Caderninhos de anotação das crianças.

Procedimento• Fase 1: Exibição do vídeo “A maior flor do mun-do” com início da discussão sobre o espaço natu-ral e o espaço construído. • Fase 2: Discussão sobre espaço público e espaço privado (Moser, 2005). Para concluir fale sobre o espaço pessoal (Gilber e Chippari, 2007). Ambos conteúdos estão estrutura-dos na apresentação em slides. 6º dia de atividadesAs habilidades sociais

Objetivos específicos• 1. Apresentar e treinar as crianças para a interação social por meio dos três estilos de comunicação: passivo, agressivo e assertivo; 2. Di-ferenciar cooperação de competição e mostrar o papel da empatia.

Materiais• A. Vídeo sobre os três estilos de comunicação: https://goo.gl/D2TP7H; B. Vídeo so-bre competição e cooperação: https://goo.gl/Bti7J8; C. Vídeo sobre a empatia:https://goo.gl/ok3ZeL

Procedimento• As atividades são baseadas nos vídeos e na simulação de situações criadas pelas crianças (Del Prette e Del Prette, 1998) para identificar as diferenças entre passividade, assertividade e agressividade bem como cooperação, competição e empatia.

7º dia de atividadesOficina de Expressão Verbal

Objetivos específicos• 1. Treinar a expressão verbal das crianças; 2. Revisar os conceitos aprendidos.

Materiais• A. Computador, Datashow; B. Apresentação em slides (pode ser obtido em: nppaufs.wordpress.com); C. Imagens fotocopiadas (podem ser obtidos em: nppaufs.wordpress.com); D. Sapato velho, garrafa pet vazia, jornal velho, uma caneta sem a carga; E. Cartaz: Feirão de Vendas de Objetos Inúteis.

Procedimento• Inicialmente as crianças participa-rão de uma dinâmica que envolve vender objetos que não seriam vendáveis.• Após o término do feirão, inicia--se o quiz dos temas previamente estudados.

8º dia de atividadesParte prática: técnicas de APO

Objetivos específicos• Aplicação pelas crianças das técnicas de APO• Walkthrough; Poema dos Desejos; Matriz de Descobertas.

Materiais• A. Impressão do modelo do Poe-ma dos Desejos (pode ser obtido em: nppaufs.wordpress.com); B. Cópia da planta baixa da escola; C. Caderninho de anotações.

Procedimento• As crianças escolhem a técnica que querem aplicar com qualquer participante da escola (professo-res, técnicos e outros colegas) e implementam a atividade.

9º dia de atividadesDiscussão dos resultados da APO

Objetivos específicos• Discutir as informações coletadas pelas crianças na APO aplicada por elas e na APO feita pelas próprias crianças (3º, 4º e 8º dia de atividades) e reaplicar o Questionário Inicial.

Materiais• A. Computador, Datashow; B. Apresentação em slides com a sistematização das informações das APO’s; C. Questionário Inicial (obtido em: nppaufs.wordpress.com).

Procedimento• Previamente, a professora ou o professor deve sistematizar as informações das APO’s aplicada nos alunos e pelos alunos em formato de slides.• As crianças irão verificar se falta alguma informação na apresentação de slides, vão aprová-la e vai ser discutido como apresentar as informações para a direção, coorde-nação, técnicos e demais alunos da escola. • Ao final o Questionário Inicial é reaplicado.

10º dia de atividadesApresentação para a escola

Objetivo específico• Dar conhecimento à escola dos achados das crianças.

Materiais• A. Computador, Datashow; B. Apresentação em slides da sistematização dos resul-tados da APO aprovada pelas crianças; C. Certificado de agentes mirins de educação ambiental.

Procedimento• Apresentação e discussão dos resul-tados do projeto com a mediação da professora ou professor e com a parti-cipação ativa das crianças.• Ao final deve ser ofertado às crianças seus certificados de agentes mirins de educação ambiental.

Referências

Cavalier, D. & Kennedy, E. B. (2016). The Rightful Place of Science: Citizen Science. Tempe, AZ: Consortium for Science, Policy & Outcomes.

Del Prette, Z. A. P., & Del Prette, A. (1998). Desenvolvimento interpessoal e educação escolar: o enfoque das habilidades sociais. Temas em Psicologia, 6(3), 217-229.

Gliber, A. R., & Chippari, M. (2007). Invasão do espaço pessoal: um estudo observacional em uma biblioteca universitária. Psicologo informacao, 11(11), 9-26.

Günther, H., & Rozestraten, R. J. (1993). Psicologia ambiental: algumas considerações sobre sua área de pesquisa e ensino. Psicologia: teoria e pesquisa, 9(1), 109-124.

Moser, G. (2005). A Psicologia Ambiental: competência e contornos de uma disciplina. Comen-tários a partir das contribuições. Psicologia Usp, 16(1/2), 279-294.

Rheingantz, P. A., Azevedo, G. A., Brasileiro, A., Alcantara, D. D., & Queiroz, M. (2009). Observando a qualidade do lugar: procedimentos para a avaliação pós-ocupação. Rio de Janeiro: Proarq| FAU-UFRJ.

Pol, E., Castrechini, A. (2013) Disrupción en la educación para la sostenibilidad? Revista Latinoa-mericana de Psicologia, 45 (34), 333-347.

Pol, E. (2009). Disrupción, excepcionalidad y transvercionalidad en educación para la sosteni-bilidad. Aula Verde, 34, 8-9.

Vicente-Molina, M. A., Fernández-Sáinz, A. & Izagirre-Olaizola, J. (2013). Environmental know-ledge and other variables affecting pro-environmental behaviour: comparison of university students from emerging and advanced countries. Journal of Cleaner Production, 61, 130-138.

Apresentação

Zenith Nara Costa Delabrida é Mestre em Psicologia e Doutora em Psicologia Social do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília com Pós-doutorado na Universidade de Surrey no Centro de Pesquisa em Psicologia Ambiental. Professora Associada do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe e coordenadora do Laboratório de Avaliação e Testagem em Psicologia. É professora do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema/UFS) e membro do grupo de trabalho em Psicologia Ambiental da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP). O foco do seu trabalho, tanto de pesquisa básica quanto aplicada e intervenções, se direciona aos temas da Psicologia Ambiental e afins.

E-mail: zenith@ufs.br

Parcerias

Instituições

A Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec), a Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO), a Universidade Federal de Sergipe (UFS), o Colégio de Aplicação (CODAP) e a Secretaria de Estado da Educação de Sergipe (SEED).

Pesquisadores

A psicóloga Carla Regina Santos Almeida, a arquiteta Ariane Amador, a Mestre Leila Lopes e a Profa. Dra. Camila Bolzan de Campos

Bolsistas e alunos de pesquisa

Camila Couto, Camilla Matias, Eline dos Santos Vasconcelos, Hanna Valença Pereira Azevedo, Jessica Soares Santos, Laiane de Almeida, Luiz Augusto Santos Costa, Rose Milena dos Anjos Leal e Tayná Oliveria Gomes

Apresentação visual

Frederick O’Hara e Camilla Matias

Discussões

Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), International Association Peoplo-Environment Studies (IAPS), Asociación de Psicología Ambiental (Psicamb).