atlas do brasil - edusp 2005

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ArlAS Do BmstrDrsptnrDADES u DrxÂMrcAS m TuRRrroRro

LIVROS, DISCOS, CD'SE REVISTAS USADAS

COMPRA/VENDA/ÍROCA

Ruo Fernondes Tourinho 1493221-8490 - B. HorizonÌe - MG

cEP 301 ì 2-000

Direnra Edüorful

Direton CwciolDiretor AdminiÃtrativ o

Eütor6-Nshtentes

UNryERSIDADE DE SÃO PAT'T.O

Adolpho Jcé MdfHélioNoguein daCro

BDTTORA DA UNTVERSIDADE DE SÃOEÀT'T/o

Plinio Martim lÌlho

@MISSÃO EDTTORIAL

JBé Mindlin

Lam de Mello e SouBrasÍlio João Sallm JríÃioÍ

.Carl6 Alberto Bübosa DütasCâÍlG Auguto MonteiÍoFraaòo Muia lajolo

Guilhere IÉire da Sitvs Di$Plinio Mutim Elho

Silwa Biral

Ivete Silm

Silúo Porfirio CoradoMuileaa Vizenú

CaÍlâ Femda FotrtaDaMamBemdini

wÉre*$DmlÍJo.aarÍto .o. Yoct

Govemtd,or GeraldoAlckninSrretirio-dr$e da Cua Civil Analdo MadeLa

limrrcn l,.l

Dirctorprcidente

DiÉtorVqe-pwidate

Diletor IüwiiolDitaora Fwíra e Admhistrativo

Núcleo de Prcjaos Institucionait

IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAIJI]O

Hub€ÍAhuéGe

Luiz CaÍlc FÍigerioTeiji ToníotaNodette Mmed PemoVera Lucia Wey

DrsprnrDADES n DrxrurcAs m TERRrroRro

Hervé ThéryNeli Aparecida de Mello

ArrAS Do Bnrsr

CDS.UnB, CNRS-CREDAL, UMR ENS.IRD TEMPS

| "Uïl li-nr"rr""oficiat

Tiadução de Atlas du Brésil, CNRS, GDR Libergéo-La Documentation française,2004,302 pages, Collection "Dynamiques duterritoiÍe" ne Z2,diirgée par Thérèse Saint-Julien (Université Paris I, GDR Libergéo),O CNRS-GDR Libergéo et La Documentation française

UMR ESPACE-GDR Libergéo, Maison de Ia Géographie, 17 rue Abbé de I'Epée,34 090 Montpellier,tel.04 67 74 58 32,1ax04 67 72 64 04.La Documentation française,29-31 quai Voltaire,75344 Paris cedex 07, tel. 01 40 15 70 00.

O Atlas do Brasil é o fruto de uma colaboração científica franco-brasileira, não somente por conta da estreita associação dosdois autores, mas também porque as pesquisas nas quais ele se fundamenta beneficiaram-se de anos de colaboração entre asinstituições das quais ïizeramparte ou com as quais colaboraram: do lado francês, o Credal-Cnrs, o GIP Reclus, o Ministère desAffaires Éftangères, a École Normale Supérieure, o Cirad e o IRD; do lado brasileiro o Centro de Desenvolvimento Sustentável(CDS-UnB), o lbama, o ISPN, o IBGE e a USP.

A revisão da tradução em português feita pelos autores foi feita por Lucnia Garcez, com apoio da Embaixada da Françano Brasil.

A cartografia ïoi realaada em várias etapas. A primeira etapa, tanto na concepção quanto na execução, foi Íealizada pelosautores. A maioria dos mapas que supõem um tratamento estatístico se apoiou no software Philcarto (disponível na Internetno endereço http://perso.club-internet.frlphilgéo), os outros com Cartes et Données (da Arctique). Todas foram depois tratadas(ou, para as que não são o produto de um tratamento estatístico, inteiramente realizadas) com Adobe lllustrator. Os mapasforam finalmente revistos para a edição na UMR ESPACE, Maison de la Géographie de Montpellier por Guérino Sillère.

_ Ficha catalográfica elaborada pelo Departamento

Técnico do Sistema Inteerado de Bibliotecas da USP

Théry Hervé.Atlas do Brasil: Disparidades e Dinâmicas do Território /

Hervé Théry Neli Aparecida de Mello - São Paulo: Editorada Universidade de São Paulo,2005.

312 p. : il., tabs. ; 2l x 25,5 cm.

Tiadução de: Atlas du Brésil.Inclui bibliografia; lista de figuras e quadros.ISBN 85-314-0869-5 GDUSP)ISBN 85-706-0352-5 (lmprensa Oficial do Estado de São Paulo)

1. Atlas (Brasil). 2. Geogr afia (Brasil). I. Mello, Neli Aparecidade. II.Título.

cDD-912.81

Direitos em língua portuguesa reservados à

Edusp - Editora da Universidade de São Paulo

Av. Prof. Luciano Gualberto, Tlavessa I 374

05508-900 - São Paulo - SP - BrasilDiüsão Comercial: Tel (0xx11) 3091-4008 / 3091-4150

SAC (0xx11) 3091-291,'1, - Fax (0xx11) 3091-4151,

www.usp.br/edusp - e-mail: edusp@edu usp br

Printed in Brazil - 2005.Foi feito o depósito legal.

Com o apoio daEmbaixada da França.

Ji l@--Liberté . Éeatì té . Fraterni té

RÉPUBIIqUE FRANçAISE

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Rua da Mooca. 1921 - Mooca

Tel.: (0n11) 6099-9800 - Fax: (tr:.11) ffi99-9674

www.imprensaofi cial.com.br

e-mail: livros@imprensaofi cial.com.br

sAC 0800-123401

6e andar - Edif. da Antisa Reitoda - Cidade Universitrária 03103-902 - São Paúo - SP - Brasil

Prefácio à edição brasileira

Introdução

Brasil, disparidades e dinâmicas do território . . . .Agradecirnentos . . .

Capítulo 1OBrasi leamundoDimensõesComércioIntercâmbios

Capítulo 2Gênese e malhas do territórioA construção de um arquipélago continental .. ..As bases - os séculos XVI e XVIIA expansão e a consolidação -séculos XVIII e XIX . .As mutações do século XX . . .Princípio de formaçãodas unidades administrativas . . . .Toponímia. . . . . . .

Capítulo 3O meio ambiente e sua gestãoAs estruturas essenciaisdos ecossistemas brasileirosA utilização dos recursos naturaisProteção e degradação do ambiente

Capítulo 4

Dinâmicas populacionaisDistribuição e crescirnento 89As bases demográficas 93Migraçõesecontextolocal . . . . .100Democracia racial e racismo econômico? . .. . . . . 108

Capítulo 5

Dinâmicasdomundorural . . . . .115Asestruturasessenciais . . . . . . . . 115Extrativismo,agriculturaepecuária ..... I24

Apecuár ia . . . . 128

Desigualdadesetensões . . . . . . . I37

Capítulo 6

Dinâmicasindustr iaiseterciár ias . . . . . . . 145

Omundodasempresas . . . . . . . .146

Aslocal izaçõesindustr ia is . . . . . .150

Finançaseserviços . . . . . 162

Capíúulo 7Dinâmicasurbanas . . . . .170

As redes urbanas .. .. . . 170

Atraçõesurbanas . . . . . .174

Atraçõeseequipamentosculturais . . . . . . 183

Disparidades ... 191

7

11t4

I7t72022

JL

3236

3846

4654

60

6I7l80

5

Sumárìo

Capítulo IRedes. . . . . . . .196Ágou .Ferroúas . . . . . . 2MRodovias . . . . . . 2UTiansportes aéreos . .... 2I7Energia e informação

Capítulo 9Disparidadesedesigualdades . . . . . . . . . . 234Desigualdadeseconômicas ..-..235Desigualdadessociais. . . j . . . . ; . . . . . . . . 2MDesigualdades de renda . . . . . . . . 254

Capítulo 10OrdenamenÍosdoterritório ....263Subdivisõeseregional izações . . . . . . . . . . 264Ordenamentossetor iais . . . . . . . . n lEixos deintegração e desenvolvimento . . ... .... 284

Capítulo 11Ofuuroéhoje. . . . . . .295Incertezas financeiras e monetárias . . . . . 296Vantagensparaoamanhã . . . . . . . . . . . . . 299

Bibliografia .... 301Listadef iguras . . . . . . . .306Listadequadros . . . . , . . 309

Atlas do Brasil

6

Pnr ACro À

publicação brasileira deste livro-atlas de Hervé

Théry e Neli Aparecida de Mello é uma iniciati-

va que tem grande importância para os estudio-

sos e o público em geral interessados na interpretação

do Brasil contemporâneo a partir de uma abordagem ao

mesmo tempo abrangente, inovadora, e sobretudo reve-

ladora da sua complexidade enquanto rm País-baleia

que, destarte os seus imensos desafios e as suas desigual-

dades internas, assumiu inegável posição de destaque no

cenário internacional nesta virada de milênio.

Mediante uma bem estruturada seqüência de textos

claros e concisos, combinados a uma sofisticada carto-

grafia temática, este liwo expressa um original e bem-

sucedido esforço de síntese sobre o Estado da Arte do

Brasil em suas diversas perspectivas, obtida a partir de

uma exaustiva análise e representação dos diagnósticos

setoriais e dos últimos indicadores disponíveis em âmbi-

to nacional nas mais variadas fontes de informações, in-

clúndo os resultados do Censo de 2000.

Ao mesmo tempo, os autores incorporam, articu-

lam e aplicam na sua interpretação sobre o País os con-

ceitos de dinâmica, disparidade e desigualdade socioes-

pacial ou, mais precisamenÍe, territorial, uma aborda-

gem teórica que thes possibilita identificar e examinar

processos gerais e específicos hoje dominantes na

escala nacional - populacionais, sociais, econômicos,

ambientais, regionais, dentre outros. Ao lado disso, ofere-

cem o que há de mais valioso em trabalhos do gênero,

que é a tentativa de perscrutar o novo, vislumbrar os pro-

cessos que ainda se estruturam, apontar o percurso

das tendências dominantes, em suma, jogar alguma luz

sobre aqueles processos que são portadores de futuro

no País.

Fiéis à boa tradição acadêmica legada pelos clássi

cos das ciências humanas brasileiras e da geografia em

particular, optaram pelo mais diffcil dos caminhos para

uma empreitada dessa envergadura, ao posicionarem

deliberadamente a repÍesentação cafiogtíúica temáúica

e de síntese no centro da sua interpretação eminente-

mente geográfico-político-regional ou, em outros ter-

mos, socioespacial. Para muitos, pode parecer relativa-

mente simples a confecção de mapas e cartas sobre

temas variados, muitos dos quais ostentando símbolos

e cores em profusão, dadas as amplas facilidades ofe-

recidas atualmente pelos sistemas digitais. Quando, en-

tretanto, o objetivo é o de utilizar-se da caÍografia en-

quanto recurso de interpretação, pelo qual tenta-se

apreender e expressar idéias, conceitos, teorias, e a inteli-

gibilidade de processos complexos, procurando represen-

tá-los em seus significados diversos e principalmente em

suas relações, projeções, tendências e movimentos domi-

nantes, então estamos diante não de uma técnica dentÍe

tantas disponíveis, mas de um método que é certamente

o mais genuíno e sofisticado dentre os instrumentos de

Prefácio

análise de que dispõem os geógrafos parafazm a sua par-

tict:/rar leitura do mundo, das regiões e dos lugares.

HervéThéry é geógrafo,francês (brasileiro de fato),

diretor de pesquisas do CNRS-Credal que estuda siste-

maticamente o Brasil há trinta anog aluno aplicado de

Piene Monbeig - um dos pais fundadores da geografia

paulista e brasileira - especialista nos processos de colo-

nuação e com pesquisas voltadas principalmente para

as questões amazônica e regionais em geral e o meio am-

bientg tendo contribúdo com diversas pubücações em

língua francesa sobre esses temas. Hervé também notabi-

lizou-se como um dos mais importantes especialistas da

atualidade no desenvolvimento de métodos cartográficos

de interpretação geográftca, aplicados aos estudos regio-

naig socioeconômicos e amfisnlait, cujo exemplo mais

destacado é o sistema "Samba-Cabral", adotado pelo

IBGE e por diversas institúções de pesquisas do País.

Neli Aparecida de Mello é brasileira, geógrafa, ex-

diretora do Ibama, coordenadora de programas am-

bientais de âmbito nacional e pesqúsadora-associada

do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB,

tendo elaborado uma brilhante tese de doutorado so-

bre as relações entre as políticas territoriais e o meio

ambiente na Amazônia contemporânèa, em sistema de

co-tutelle,no âmbito de uma coopeÍação acadêmica entre

o Departamento de GeografialFFlCH da Universidade

de São Paulo e a Université Paris X.

Neste livro-atlas, a experiência e a familiaridade

dos autores com os temas por eles selecionados e com

essa modalidade de abordagem, além das técnicas en-

volüdas, permitem-lhes oferecer ao leitor, como resulta-

do final, uma visão ao mesmo tempo exaustiva e inte-

grada, pela qual cada tema-problema-dinâmica nacional

é examinado nos seus aspectos essenciais e, em seguida,

encadeado no "fio condutor" que dá sentido e substân-

cia à estrutura lógica que comanda o conjunto da expo-

sição-representação cartográfica. Eütam, desse modo,

as simplificações dos almanaques e manuais, as armadi-

lhas do empirismo vulgar pela mesmice e a redundância

das descrições, as pirotecnias das generalizações ligeiras

e o grafismo excessivo - ol o ilusionkmo pictórico - dos

mapas temáticos e ilustrações produzidos em série nos

computadoreq problemas cada vez mais comuns em

obras desse gênero.

Daí porque, em obra desse gênero, que pretende

uma síntese de um Pú complexo mmo o Brasil, é sem-

pre recomendável optar pela qualidade em detrimento

da quantidade. Em outros termos, apostar na criatiüdade

e nnma certa sutileza do olhar sobre o imenso conjunto

de informaçõeg fatos e processos e, com isso, lograr des-

tacar o essencial, o original e (por quê não?) o inusitado.

Essa abordagem é observável, por exemplo, no uso

adequado das relações entre história e formação territo-

nal do Brasil, pelas quais a construção do espaço nacio-

nal é interpretada a partir do avanço das políticas territo-

riais coloniaiq imperiais e repubücanas, do alargamento

das fronteiras externas e internag da expansão da apro-

priação dos recursos naturaig da economia e do povoa-

mento, com isso identificando os embriões das futuras

regiões. Avalia-se, em seguida, o seu processo de consoli-

dação e os respectivos conjuntos das coúgurações territo-

riais em cada conjuntura, sempre marcadag dentre outras

particularidadeg pelas disparidades ou desigualdades so-

ciais e regionais Prova desse olhar acurado sobre a evo-

lução da estrutura territorial-nacional é a sua original

análise do inefreável processo de criação de Estados e

municípios, um dos mais interessantes indicadores da

nossa particulaÍ e sempre movimentada geografia políti-

ca ou, ainda, a feliz idéia de destacar a distribúção dos

conselhos municipais de meio ambiente como ilustração

empÍrica do crescimento da relevância e da capilarilade

da temática ambiental para a sociedade civil do País.

Por outro lado, quem imaginaria incluir nos indica-

dores da crescente projeção externa do País o número e

Atlas do Brasil

I

a distribuição dos bolsistas brasileiros nos cursos de

pós-graduação èm instituições de pesquisa estrangei-

ras, ou a evolução do nosso desempenho nas competi-

ções internacionais de futebol, o mais universal dos

esportes e no qual o Brasil foi cinco vezes campeão

mundial? Também no que se refere à análise da dinâ-

mica populacional nas últimas décadas, merecem regis-

tro os destaques feitos aos movimentos migratórios in-

ternos e às suas novas tendências nacionais e regionais

(em geral ausentes nos estudos do gênero), ao uso de

um inusitado indicador - a iaxa de masculinidade -

para ilustrar a direção predominante no deslocamento

das fronteiras de povoamento e, além disso, a inédita e

bem sucedida abordagem de um tema ao mesmo tem-

po polêmico e fundamental para a compreensão do

Brasil contemporâneo, a distribuição (percentual e es-

pacial) da autodefinida cor da pele das diversas etnias

e mestiçagens brasileiras, e a sua relação com a repar-

tição da renda familiar.

De certo modo, portanto, é possível descobrir um

novo Brasil ou novas facetas de um velho e conhecido

Brasil em cada um dos tópicos deste liwo-atlas: a acelera-

da modernização da agricultura e as transformações do

meio rural, incluindo os conflitos agrários; a desmncentra-

ção industrial e afinanceiriTa@o dametrópole paulistana;

a espantosa concentração das universidades de ponta do

País no Estado de São Paulo, eúdenciada pela procedên-

cia dos estudantes e pelos números das publicações em

revistas especializadas e teses de mestrado e doutorado

defendidas.Tâmbém são ressaltados os grandes contrastes

atuaknente observáveis em nosso Pú: de um lado, as ino-

vações tecnológicas, o dinamismo dos novos segmentos

econômicos (muitos dos quais relacionados aos investi-

mentos internacionais e às privatizações), dos meios de

circulação (casos das comunicações por satélite, dos moú-

mentos dos aeroportos e dos fluxos de passageiros) e a ine-

gável modernização cultural dos útimos anos (verificável

na expansão das redes de informação e no crescimento daspublicações de liwos e revistas e da produgo de discos e

údeog dentre outros). De outro, o crescimento das desi-

gualdades/disparidades sociais, intra-urbanas e regionais e

da pobreza em geral, expresso principalmente nas dife-

renças de renda, do IDH (Índice de Desenvolvimento

Humano) e dos PIBs regionaigproblemas graves de âmbi-

to nacional que também são examinados mediante o exa-

me de outros indicadores relevanteg como a multiplicação

das ocupações irregulares e a conseqüente favelização dasperiferias das grandes e médias cidades do País

Com este autêntico estudo de geografia humana e

regional, ora publicado pela Editora da USP, os autores

resgatam, renovam e prestam a sua homenagem à boa

tradição de pesquisa legada pelos nossos mestres pionei-

ros que fundaram e deram o imprescindível fôlego inicial

ao curso de geografia da Faculdade de Filosofia, Ciências

e Letras da Universidade de São Paulo, todos criados em

1934 e que agora comemoram os seus setenta anos.

Dentre esses pioneiros, meÍece destaque o grupo

que integrou a famosa "Missão Francesa" e que este-

ve na liderança acadêmica da Faculdade de Filosofia,

Ciências e tetras em seus primeiros anos: Claude

Lévi-Strauss, Fernand Braudel, Roger Bastide e Pierre

Monbeig. Graças a eles e aos seus primeiros alunos, a

USP e as suas áreas de ciências humanas deram os pri-

meiros e decisivos passos.

Nesse grupo, a notável contribuição de Pierre

Monbeig tem um signifiçads especial paÍa a evolução

da geografia humana e regional em São Paulo e no País.

Em seu longo período de permanência e de trabalho

contÍnuo no que é hoje o Departamento de Geografia,

esse geógrafo francês (e brasileiro de coração), foi um

pesquisador incansável e o formador de mais de uma

geração de intelectuais, profissionais e professores. Foi,

também, um inovador nos campos da teoria e da inves-

tigação empírica. São dele os conceitos de complexo

I

Prefácio

geográfrco e franja pionelra, inspiradores do conceito de

dinâmica terütorial que seria mais tarde desenvolvido e

difundido por alguns dos seus discípulos, dentre eles

Hervé Théry. Além disso, ele legou-nos um dos mais

belos estudos sobte a colonização no Brasil e no Estado

de São Paulo em particular - Pionniers et Planteurs de

São Paulo,sua tese del949,publicada emt952.

Outros geógrafos franceses o sucederam no per-

curso desses setenta anos, compondo um longo peíodo

de profícua cooperação franco-brasileira no âmbito da

geografia uspiana e paulista em particúar: Emmanuel

De Martonne, Pierre Deffontaines, Francis Rouellan,

Anúé Libault, André Journaux e Jean Tiicart. Dentre

os que atualmente mantêm ativas essas relações, mere-

cem destaque Michel Rochefort, Paul Claval, Jacques

Lévy, Bernard Bret, Martine Droulers e Hervé Théry.

Coube a Hervé Théry com os seus estudos sobre a

colonização (agora na Amazônia), dar continúdade ao

legado de Pierre Monbeig.Também cabe a ele o mérito

de reavivar em seu País a chama da cooperação franco-

brasileira com a USP na nossa área, por meio do atual

projeto Capes-Cofecub, envolvendo grupos de pesqúsa

liderados pelo Departamento de Geografia da USP e

pelo Departement de Géographie de l' École Normale

Supérieure. É por tudo isso, portanto, que esta original

síntese do nosso País, tão bem elaborada sob a forma de

um "livro-atlas", publicado na França e agora no Brasil,

é plena de simbolismo, neste ano de 2005.

IVanderley Messias da CosÍaDepartamento de Geografia

Faculdade de Filosofia, Letrase Ciências Humanas da USP

Atlas do Brasil

10

TNTRODUÇAO

L)D

ma grande festa reuniu na Esplanada dos Minis-térios, em Brasília, no dia 1e de janeiro de 2003,dia da posse do presidente Luiz Inácio Lula da

Silva, uma multidão de mais de 100 mil pessoas. Muitostiúam passado dezenas de horas em ônibus fretadosnos cantos mais remotos do país para participar desseacontecimento, alguns anos atrás tão inconcebíveÌ comoa maré de bandeiras vermelhas cobrindo, nesse dia, apraça que tinha sido o santuário da tecnocracia, parasaudar a chegada à Presidência da República do candidato do Partido dos Tiabalhadores, um operário, líderdo sindicato dos metalúrgicos durante as greves maisduras contra a ditadura militar.

Ninguém sabe ainda quais mudanças virão com es-sa alternância política radical, porém sabe-se que ela é aprova de que o Brasil realmente deixou para trás o regi-me que dominou o País de 1964 a 1985. Durante os de-zoito anos que se seguiram ao regime de exceção, cincopresidentes se sucederam (ou quatro, caso não se conteTancredo Neves, que moÍreu antes de tomar posse).Apenas um, aquele que vestiu em Lula a faixa presiden-cial, Fernando Henrique Cardoso, exerceu plenamenteo mandato para o qual tinha sido eleito, ou melhor, doismandatos, já que uma reforma constitucional permitiu-lhe a reeleição. Durante esses oito anos a democracia foireforçada e reformas essenciais foram feitas, mesmo nãosendo as que se esperavam deste brilhante intelectual,expulso da Universidade de São Paulo pelos militares, eque foi professor da Universidade de Nanterre e daEcole des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris.Limitado em suas ambições reformadorag que proclamou

quando chegou ao poder, pela aliança dos tucanos como mais conservador dos partidos de direita, ele mal to-cou nas estruturas sociais, cujas iniqüidades denunciarana sua obra de sociólogo.

Portanto este liwo é essencialmente o retrato doBrasil que Lula encontrou quando tomou posse, do Paísque ele herdou de antecessores que eram também seusadversários, do País para cuja mudança ele foi eleito. Defato, o Brasil de 2003 ainda é o produto de um modelode desenvolvimento implementado durante os anos dechumbo da ditadura, embora alguns dos seus traços fun-damentais tivessem sido desenhados anos antes, sob oregime também autoritário de Getúlio Vargas. Esse mo-delo priülegiou a rodovia (e não a ferrovia), as grandesculturas de exportação (e não a agricultura familiar), osbens de consumo destinados às classes favorecidas (enão aqueles que seriam destinados à massa da popula-

ção) e o apoio às regiões centrais (e não a correção dasdeficiências na periferia). Essas opções aprofundaramainda mais as desigualdades, tanto espaciais como so-ciais, que marcam o País em todas as escalas: nacional,regional, local e intra-urbana. Ou melhor, que sempremarcaram, já que o Brasil, modelado pela conquistaportuguesa, nasceu desigual e globalizado.

Essas desigualdades ou, mais precisamente, as de-sigualdades espaciais que o mapa pode ressaltar, são oprimeiro dos dois temas principais deste liwo. O segun-do é o dinamismo do País, um dinamismo bem eüdente,já que há cinco séculos os brasileiros não param de des-locar suas fronteiras. Esse dinamismo se confirma nasfronteiras políticas de forma evidente, irresistivelmente

11

Brasì|, disparidades e dinâmìcas do território

deslocadas em cerca de 3 mil guilômetros para o oesteda linha fixada no Tiatado de Tordesilhas (1494), com oobjetivo de separar os domínios das coroas espanhola eportuguesa. E também nas fronteiras pioneiras, queavançaram do ütoral para o interior, do Nordeste para oSul, do Sudeste para o Centro-Oeste e a Amazônia.Além dessas, há outras fronteiras redesenhadas, comoas de regiões agrícolas, quando a principal região de cul-tura do café desloca-se em 500 quilômetros para o nor-te (de São Paulo para Minas Gerais), a da cana-de-açícar em 2 mil quilômetros para o sul (do Nordestepara São Paulo), e a da soja com a mesma distânciapara o norte (do Paraná para o Mato Grosso). Ou, ain-da, a fronteira dos centros industriais, uma vez que seviram fabricantes de automóveis implantarem-se nosEstados de Minas Gerais. do Paraná. do Rio de Janeiroe da Bahia, desbancando a primazía de São Paulo,pois, por muitos anos, todos eram instalados naquelaregião metropolitana.

Esses deslocamentos de atividades econômicassão, eúdentemente, uma das causas das migrações, dacorrida de milhares de homens - ou de milhares de fa-mÍlias - em busca de oportunidades em outros locais, fe-nômeno que aconteceu repetidamente na história brasileira. Enquanto famflias de colonos deixavam o Sul pa-ra aceder às promessas - às vezes ilusórias - da Amazô-nia, outras, bem mais numerosas, migravam de várias re-giões para as cidades do Sudeste. Esses movimentos cer-tamente afetaram, Jreqüentemente de maneira radical,a composição da sociedade, bem diferente em cada re-gião, no que se refere à relação entre o número de cita-dinos e rurais, de homens e mulheres, de jovens e velhos.

As dinâmicas territoriais e a forma como intera-gem com as disparidades sociais, das quais são ao mes-mo tempo causa e conseqüência, estão, por conseguinte,no coração deste trabalho. São medidas e demonstradaspor meio de mapas, instrumento principal do geógrafo.Esses mapas foram construídos por processamento dedados, interpretadog comentados e relacionados com asestruturas elementares do território, e sua combinaçãomanifesta as chaves da complexidade observada, O pre-sente livro prolonga, portanto, um outro ensaio [Théry,1986], que tentava definir essas estruturas elementares

em função das quais eraorganuado. Continuam as mes-mas no Brasil de hoje (Figura 00-01), porque nada émais resiliente que essas estruturas fundamentais doterritório, porém a resultante de sua composição mu-dou, à medida que cada uma delas se alterava de acor-do com a intensidade e alocaltzação das forças que thesão subjacentes, e à medida que as dinâmicas territoriaisreforçavam as disparidades.

Portanto, o que mudou neste livro em relação aoprecedente não é o espírito nem o método, mas osmeios disponíveis, principalmente os meios editoriais einformáticos. O uso da cor se generalaoq e, desta vez,os mapas são em cores e não em preto e branco, alémde serem vetoriais e não matriciais. Os softwares detratamento estatístico e de cartografia fizeram consi-deráveis progressos, e os computadores pessoais, paratratar dados e desenhar mapas, têm hoje a potênciaque era reservada aos centros de cálculo das universi-dades e centros de pesquisa. Graças a esses progressos,a maior parte dos mapas que se seguem foi realizadanos laptops dos autores, ora em Paris, ora em Brasília,ou mesmo nos aviões entre essas duas cidades, ou ain-da nas pequenas cidades ou vilas aonde seus trabalhosde campo os conduziam.

Contudo, esses meios de cálculo e de representa-ção cartográfica não serviriam de nada se não existis-sem dados disponíveis a tÍataÍ, e desse ponto de vistatambém as condições alteraram-se muito. O InstitutoBrasileiro de Geografia e de Estatística (IBGE) forne-ce (gratuita ou quase garuitamente) dados detalhadosaos quais o desenvolvimento rápido da Internet tem fa-cilitado o acesso. Boa parte dos dados está disponívelem um nível territorial filo, o dos municípios, e, mesmorecentemente, a uma escala ainda mais fina. a dos dis-tritos censitários.

Quando os censos do IBGE não são suficientes, ospesquisadores procuram fontes mais "frescas" e mais fi-nas que as oficiais - como ocorre em outros países - epodem lançar mão do que o geógrafo britânico JohnShepherd chamava data gathering e garbage recycling: agarimpagem de dados e a reciclagem do desperdício. Nes-se caso, os dados são "subprodutos" das grandes adminis-tïações e das empresas, que os produzem ineútavelmente

Atlas do Brasil

12

Modelos elementares

O caso do Nordeste

+

+

t l

\Centro / perìferia

Litoral / Ìnterior

Norte / Sul

t . ' ll . " l

O arquipélago

[-] ' lI Y* lItr' I

A frente pioneira

As regiÕes

+

+

Uma síntese gráfica:calorze regroes

Nofte/ Ocasodo Li Ìora/ Centro/ Afrente Oarquipélago

Centro / NoÍdeste interìor periÍeÍiê pionelÍa

Sul

Rêgláo

N

N

litoÍa stable - 6 Zona da Mata NE

centro I o novo centro co

12 O ant igo reino do café S

00-01. Modelos do território brasileiro

quando realizama sua atividade principal, que pode ser

cuidar da população (Sistema Único de Saúde - SUS),

oÍganizat as eleições (Superior Tiibunal Eleitoral -

STE), organizar a circulação aérea (Direção da Aviação

Civil - DAC), vender automóveis ou oferecer acesso à

Internet. Os arquivos produzidos por essas instituições e

empresas estão, muitas vezes, disponíveis e acessíveis,

gratuitamente ou quase, em CD-ROM ou na Internet.

13

Brasil. disparidades e dinâmicas do terrítÓrìo

Tiata-se de uma situação evidentemente muito favorá-vel para os pesquisadores, que apenas podem desejarque dure tanto quanto possível. Cabe aqui notar que,paradoxalmente, o acesso aos dados estatísticos locali-zados é hoje mais fácil no Brasil, país supostamente emvias de desenvolvimento, que na França, herdeira delonga e brilhante tradição estatística. Por isso muitasvezes a situação brasileira surpreende favoravelmenteos pesquisadores acostumados às reservas do InstitutNational de la Statistique et des Études Économiques(INSEE) e aos rigores da Commission Informatiqueet Libertés (CNIL).

Graças a esses dados, que, naturalmente, devem serlongamente trabalhados para que se possa extrair eaproveitar deles toda a substância informativa (ou seja,devem ser limpos, reformatados, tratados, cartografadose interpretados), os geógrafos podem produzir numero-sos mapas temáticos. Faz parte das verdades admitidasno Brasil que "Deus é brasileiro", uma afirmação queparece ser freqüentemente corroborada pelos "mila-gres" que pontuam a história do País, e pode-se acres-centar que o Brasil é também o paraíso dos cartógrafos.De fato, podem-se, a partir dos dados disponíveis noPaís, produzir bons mapas, ou seja, mapas nos quais sedestacam zonas bem distintas, contrastes muito marca-dos, revelados pela oposição entre zonas claras e zonasescuras (ou por grandes e pequenos símbolos pontuais),

Contudo, esses contrastes necessitam de melhoresexplicações, o que supõe recorrer aos processos e àsanálises históricas, econômicas e sociais. O mapa e otexto são, por conseguinte, ambos indispensáveis.Apóiam-se mutuamente, pois um revela configuraçõesterritoriais invisíveis na tabela estatística, enquanto ooutro promove a relação dessas configurações com osprocessos que lhes deram nascimento. Os processos so-ciais, seus atores e as suas lógicas não aparecem no ma-pa, mesmo se o determinam, mas geralmente esses ele-mentos têm uma dimensão espacial que o mapa revela,uma vez que o controle do território é freqüentementeum dos objetivos e uma das dimensões essenciais dasrelações sociais.

Este livro é, portanto, menos um atlas do que umensaio sobre as dinâmicas territoriais, visto que o Brasil

não é apenas o paraíso dos caÍógrafos, mas também odos geógrafos (que se expressam tanto pela imagemquanto pelo discurso), pois lhes permite, ao mesmo tem-po, produzir mapas bonitos e bem contrastados e encon-trar as chaves para explicáìos.

Agradecimentos

Os autores agradecem:r Ao Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS)

da Universidade de Brasília, e especialmente aos seussucessivos diretores, Marcel Bursztyn e Antônio Bra-sil C. Pinho Jr, por têìos associado a esse Centro, on-de encontraram não somente apoio institucional e lo-gístico, mas também, e sobretudo, um meio científicoestimulante e um calor humano incomparável.

o Ao Centre National de la Recherche Scientifique(CNRS), que, apoiando financeiramente o pesquisa-dor Hervé Théry desde 1979 (com apenas uma inter-rupção de 1998 parc2\\2,período no qual foi profes-sor na École Normale Supérieure), assegurouJhe osmeios necessários para realizar suas pesquisas sobreo BrasiÌ, e mais particularmente os colegas e diretoressucessivos do Centre de Recherche et de Documen-tation sur l'Amérique latine (Credal), o laboratórioonde começou a sua carreira.

r Ao Institut de Recherche pour le Développement(IRD), que, outorgando a Hervé Théry duas "mis-sões de longa duração", garantiu-lhe a possibilida-de de passar mais tempo no Brasil para o últimotratamento de dados e a fase final de redação.Agradecemos em especial ao seu representante noBrasil, Pierre Sabaté, pela constante ajuda e pelaattorização de reproduzir o extrato do mapa geo-lógico do Estado da Bahia (Figura 03-10) e o es-quema estrutural do crato do São Francisco, doqual é um dos autores.

o Ao Ministère des Affaires Étrangères, e especialmen-te à embaixada em Brasília que, várias vezes, nos pro-moveram os meios para montar parcerias com cole-gas brasileiros e para compartilhar, com eles, os mé-todos e instrumentos desenvolvidos para nossas pró-prias pesquisas.

Atlas do Brasil

14

60'wI I

Espírito Santo

Trópico de Caprícórnio

Florianópolis

- L imite de regiáo

-*- L imite de Estado

o Capital de Estado

@l Distrito Federal

Porto AlegÍe

60'wI I

0 500 km

@ HT2003 McM-Libergéo

I Palmas ro

Tocantinslvlato Grosso

CENTRO-OESTE

Cuiabáo

6o1r, Goiânia Mìnas Gerais

Belo Horizontea

SUDESTE

MaÌo Grossodo Sul

aCampo

Sáo,I-aulo

00-02. Estados e regiões

. À Unité Mixte de Recherche "Tenitórios e globaliza@o nos

púes do Sul", que associa o IRD e a Ecole Normale Supé-

rieure, unidade da qual os dois autores são membroq e onde

encontraram apoio material e quadros intelectuais para

colocar empenpectiva as situa@es amazônicas e brasileiras

. Aos nossos colegas da Universidade de Londrina, es-

pecialmente Omar, Mirian e Márcia, que nos deram a

oportunidade de recolher os elementos da Figura

09-12, convidando-nos a três visitas de ensino e de

pesquisa naquela cidade.

15

Brasit, disparidades e dínâmicas do território

A José Paulo Silveira, Secretário de Estado de Plane-jamento e Investimentos Estratégicos do Ministérioda Planificação, Orçamento e Gestão, por ter-nos ofe-recido, além do acesso aos documentos detalhadosque retratam a execução do programa Ávança, Brasil,a possibilidade de participar em vários colóquios ereuniões sobre o mesmo assunto.A Mário Wall, do mesmo Ministério, que nos permi-tiu acesso aos sistemas de dados lsrnidos pelo con_sórcio vencedor do edital para a determinação dos ei-xos nacionais de integração e desenvolvimento.Ao conselheiro Carlos Henrique Cardim, do Minis-tério das Relações Exteriores, pelos dados sobre adiplomacia brasileira.

A Eric Guichard e François-Michel Le Tourneau, oprimeiro autor da Figura 01-13, o segundo das Figu-ras 01-03 e 01-15. Eric Guichard é também autor dosoftware Koutosuiss, usado na anâlise dos nomes demunicípios do Capítulo 2.A Philippe Waniez e Violette Brustlein, Jean-PierreBertrand, Bernard Bret, Martin Coy, Martine Drou-lers François-Michel Le Tourneau, Richard Pasquis,Sylvain Souchaud, Sébastien Velut, pelos anos de co-laboração sobre a carto$afia e a geografia do BrasiÌ,pelas trocas múltiplas sobre as fontes de dados, as lo-calizações e os mecanismos das mutações brasileiras.Este livro, escrito a dois, deve muito às discussõesocorridas nesse grupo de "brasilianistas".

Atlas do Brasi l

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Capítulo 1.(} Brasil e o mundo01-01. Brasil, quinto país do mundo. 1801-02.Fusoshorár ios . . . . . . . . 1801-03. Um país de dimensões continentais . . . . . 1901-04.4 posição do Brasil no mundo 2001-05. Evolução do comércio exterior brasileiro ZL01-06.AsexportaçõesdoBrasi l . . . . : . . . 2201-07. Clientes e fornecedores do Brasil 2301-08.Comércioexternopornavioeporavião . . . . . . . . 2401-09. Redes aéreas internacionais . 2501-10. Diplomacia estrangeira no Brasil 2601-11. Diplomacia brasileira no exterior. 2701-12. Turistas estrangeiros no Brasil. 2801-13. O Brasil na Internet. 2901-14.Bols istasepesquisadores. . . . . . . . . . . . . . 3001-15. Os sucessos do futebol brasileiro 3I

Capítulo 2. Gênese e malhas do úerriÍório02-07. A ocupação do território brasileiro. 330z-0Z.Aeconomia e oterritório no séculoXVI. .. . .... 3502-03.Aeconomiae o território no séculoXVII. . ... .. 371z-14.Aeconomia e oterritóriono século XVIII .. . .. . 3902-05.Aeconomiae oterr i tór ionoséculoXIX.. . . . . . . 4 i ,02-06. Crescimento dapopulação 1550-1870 4202-07 .Do arquipélago ao continente. 4302-08. Gênese do território: um modelo . . -: . . .02-09.Evoluçãoeconômica . . . . . . . . . . 4502-10.4 formação dos Estados brasileiros 4702-11. A formação dos Estados brasileiros: um modelo . . . 4802-12. A forma@o dos municípios 49

02-13. Evolução da malha municipal de Rondônia. . . . . . 5102-14. Emancipação de municípios 5202-t5.Data de instalação dos municípios 5302-16.Asvi las. . . 5502-17.Epônimos.. . . . 5602-18. Pontos cardeais e identidades 5702-19.Os"novos"municípios. . . . . . . . . 58

Capítulo 3. O meio ambiente e sua gestão03-01. Distâncias de quatro algarismos03-02. Altitudes e geologia03-03. Esquema estrutural do crato do São Francisco . . . .03-04. Climas03-05. O Sol, a água e o vento.03-06.Vegetação. . . . . .03-07. Ecossistemas . . .03-08. Outras classificações .03-09. Limites e ameaças.03-10. Recwsos minerais.03-11. Madeira e carvão vegetal .03-12. Fluxo de comercializa@o das madeiras amazônicas. .uJ-rJ. Aguas.03-14. Disponibüdade de átgua. . .03-15. As fontes de energia .03-16. O potencial e a utilização das bacias.03-17. Conselhos de meio ambiente.03-18. Parques e reservas.^ôr^í , .uJ-ry. lnorce oe pressao anffoplca03-20. Indices temáticos de pressão antrópica.03-21. As modificações antrópicas . . . . .

Capítulo 4. Dinâmicas populacionais04-01. Distribuição da população em 200004-02. Crescimento da população dos Estados

oz

63646566o/68697072IJ

74757678798182848587

909t

At las do Brasi l

306

04-03. População uÍbana e rural. . gZ04-04.Densidadedepovoamento. . . . - - - - - - - - 9404-05.Nascimentoseóbi tos. - - - - - - - - - 9504-06. A transição demográfica, o passado

e o futuro previsível n04-07. Estrutura etiíria, o passado e o futurropwfoíd- - - - !B04-08. Esperança de vida ç,04-09. Ganhos e perdas de populago lryLlm- - - - - - - lü04-10.Migraçõesinternas. ___- l(E04-11.Migraçõesinternas. --- l lEO4-l2.Tiposdeemigração ------- - - -_ tW04-13.Opesodosmigrantes. - - - - - - - - - l íEU$-l4.Taxade população masculina -- - - ----- - ltb04-15. Variações da taxa de popula$o mmfn - - - _ _ - _ - IOI04-16. As seis cores da população braslein - - - - - - - - - - - lÍD04-17.Distr ibuiçãoporcordepele ------ - - - - - l fO04-18.Cordapeledominante. . . . -___ l l l04-19.Cordepeleerenda.. ____ 11204-20.Tipologiadospobreser ic6. - - - - - - - - - - lüÌ

Capítulo 5. Din cas do mrmdo rud05-01.Tiposdeusodosolo. . . . - - - - - - - 116O5-O2.Evoluçãodoespaçorural ------ 1l?05-03.Acontração do espaçoagÍíDola --.----. lft05-04.Valordaprodução ----- [Ít05-05. Grandes, médias e pequenas pnopriedrde*. - - --- - ffil05-06. Práticas agrícolas modernas - -- - - - ----- 12105-07.Difusãodesigualdamodemiza@ ----- ln"05-08.Extrat iv ismo.. . - - - - - - - l?305-09.4çaíeerva-mate ----- [2405-10.Asculturasespecializadas ------ f2505-11.As grandes culturas comerciais. - - - - - - - - lX05-12. Deslocamentos de algumas grandes otmra - - - - - IZI05-13.Estabelecimentospecuaristas --- l2905-14.Outrosanimais. . - - - - - - l . I t05-15.Trêst iposdepecuár ia . . - - - - - - - 13105-16.Bovinos e grandes estabelecimentos -- - - - l3C05-17. Estabelecimentos mistos e pecuiíria leiteira- - - - - - t3505-18. Nascimentos, abates e comércio dos bovinc. - - - - 13505-19.Bovinosehumanos .--- 13ó05-20.Diferenças deprodutividade.. . .... - - -- Í i l05-21.Estatutosdosprodutores. . . . . . . . . . . . - - ú805-22.Rentabil idade einvestimentos .......-- l.Ït05-23.Relaçõesdeempregoevalor. . . . . . . - - - l { )05-24.Tensõesagriírias .....-- 141O5-25.Assentamentos e invasões deterras .... - lQ05-26.Oryanaação do espaço rural. . . . 143

CapíÍulo 6. Dinâmicas indusÍriais e terciárias0G0l.Asempresas . . .147(F(2.Empregadosdasempresas ..... 148(b{3.Empresasepopulação. . . . . . . . .149(F&.Osassalar iadoseosoutros . . . . . 150(F05. Data de criação das empresas . . . 1510ó{6. As especialidades locais (1). . . . . 1530G0T.Asespecialidadeslocais(2). .... 155(F08.Asespecialidadeslocais(3). .... 156OG(D.AsempresasdoSudeste . . . . . . . I570Gl0.Participação das empÍesas automobilísticas... ... 158C,FlI.l-ocaltzação da indústria automobiÍstica. .. . .. . . 159OGl2.Redesdeconcessionár ias. . . . . . '1,6IOGl3.Agênciasedepósi tosbancár ios. . . . . . . . . 163(F14. Zonas de atração das

aüvidadesf inanceiras . . . . .1640G15.Comércio-atacadoevarejo. . . .165(F16.Zonas de atraçãodocomércio atacadista. .....:. 166(Fl7.Estratégiascomerciais i . . . . . . . . . . . . . . . 1670G18.Osserviços . . . .168

Capítuto 7. Dinâmicas urbanas07{ l .Asredesurbanas . . . . . .11IAn2.Ocrescimentodascapi ta is . . . . .17207{3.Asregiõesmetropol i tanas. . . . . . I i307{4.As hierarquias urbanas ... . ... . 17507{5. Áreas de atração das cidades . . . 17607{ó.Rivalidades regionais no Sudeste . .. . . .. I77(I/{7. Concorrência entre as áÍeas de atração

desgandescidades. . . . . . .17807{8. Evolução das áreas de atração das cidades

de1971.a7993. . . . L79ü/{9. Polarização das principais

cidadesbrasi le i ras . . . . . . . .180Ul-t0-Znnasde atração das administrações. . . . . . . . . . . 181ü/-11.Publ icaçõesuniversi tár ias. ; . . . . . . . . . . . 183Ul-12. A'reas de atração das universidades . . . . . . . . . . . . 184O7-13.ï ta jetór iadeescr i tores . . . . . . . . 18507- l4.Museusecinemas.. . . . . . . . . . . I87ü/- I5.Númeroderedes detelevisão. . . . . . . . . . 18807-16.Rádios. . . . . . . . 189ü/-17.Liwos,discos,vídeo . . . .19007- l8.Equipamentoscul turais . . . . . . . . 191ü/-l9.Moradiasirregulares ...192(I / -ã) .Favelas . . . . . . .193V-2I-IP-ÍUeconÍorto dosdomicfl ios ........ I9407-22. Progresso do conforto nos domicflios. . . . 195

307

Listas de figuras

Capítulo E. Redes0841. Redes de transportes . . . 197

08-02.NavegabiÌidade e profundidade dosrios . '... ' -. 199

O8-O3.Viasnavegáveis . . . . . . .200

O8-M.Portosmarí t imosef luviais . . . . .20I

08-05.Tipologiadosportos. .-- 202

08-06. Importações provenientes do BrasìÌemalgunsportosfranceses.. . . . . . ' . . . . . - . 203

08-07.Ferrovias. . . . . . . . . . . . . 205

08-08.Linhasférreaseestações. . . . . . . 206

08-0g.AsestradaseseusconstrutoÍes. . . . . . . . . 208

08- l0.Tiposderodovias . . . . . .209

08-11.Capacidadedasrodovias . . . . . - - 210

08-12.Numeração e direção das rodoúas federais. . -... 2II

08-13.Contagens.. . . . . . . . . . .212

08- l4.AcessoaBrasí l iaporônibus. . . .273

08-15.Movimentodepassageiros. . . - . . . . . - . . 214

08- I 6. Origem e destino das cem maioresl inhasinterestaduais. . . . . .2I5

08-17. Movimento de passageiros: Ligações entre

Grandes Centros Nacionais, Centros Nacionais

eCentrosRegionais . . . . . .216

08-18.Trêscapi ta isdesiguais . ' . . . . . - . 217

08-19.TráfegonosaeropoÍtos . ' . . . . - . 222

08-20.As cidades mais bem servidas por rotas aéreas . . . 223

08-21. Fluxos inter-regionais de passageiros . . - . 224

08-22. Fluxo de passageiros . - . 225

08-23.Liúasnacionaiselocais ' . . . ' . . 226

O8-24.Coneioefreteaéreo ..- 227

08-25.Asredeselétr icas . . . . . .228

08-26.Asredesdeinformação. ' . ' . . . .23008-27. Cobertura do território pelas redes de televisão . . 233

Capítulo 9. ã)isp*ridad*s e desigu:rãd*des09-01. PIB dos Estados e microrregiões . . . . . .

09-02. PIB por setoÍ econômico. . . . i . . .

09-03. Orçamentos dos Estados.09-04. As finanças municiPais.09-05. Índice de desenvolvimento econômico. .' . . .' . . .

09-06. Equipamentos dos domicílios09-07. Equipamentos dos domicílios

09-12. Alfabetizados e analfabetosemlondr ina . . . . . 248

09-13. Duração dos estudos . . . 249

09-14.Evasãoescolar. . . . . . . .250

O9-l5.Estudoscurtos,estudoslongos . . . . . . . . . Z5l

09- l6.Pesquisadoresedoutores . . . . . . . . . . . . . 253

09-17. Causa de óbitos . . . .. .. 254

O9-l8.Equipamentomédico. ' . . . - . ' - - 255

09- lg.Rendapercapi ta . . . . . - 256

09-20.Tipos de renda dos responsáveis de domicílios . . . 257

09-21.Fatoresecomponentesdarenda. . . . . . . . 258

09-22.Tiposde domicfl ios noDistrito Federal . ........ 260

09-23. Níveis de renda no Distrito Federal ' . . . . 261

09-24. Níveis de estudo no Distrito Federal . . . . 262

Capítulo 10. ÜrcÌenar*entss do üerritório1O-0l .Microemesorregiões . . .265

10-02.Setorescensi t i í r ios . . . . .266

10-03. Cômodos na cidade de São Paulo. ' . . . . . 267

10-04.Aevoluçãodas grandesregiões . . . ' . . . . 268

10-05.Programas econômicos de integração nacional '. . 269

10-06.Regiõesdeplani f icação . . . . . . - - 270

10-07. As "mesorresiões diférenciadas" do

no Estado de São Paulo .. . 242

09-08. Evolução do equipamento telefônico. . ' ' 243

09-09.Índicededesenvolvimentohumano ..... 245

09-10.EvoluçãodolDH. ' . . " 246

09-11.A1Íabet ização.. . . . . . " 247

Ministério da Integração Nacional.10-08. O dispositivo territorial do Exército.

10-09. As concessionárias da privatização. . . ' . .

10-10. Um recurso energético de futuro: o gás . .

10-11. Ritmo de equipamento elétricoI}-l2.Tenitórios legalmente protegidos .

10-13. Os corredores ecológicos.10-14. As teras e os povos indígenas10-15. A situação jurídica das terras indígenas

10-16. Vigilância transfronteiriçae territórios especiais.

10-17. Programa Brasil em Ação10-18. Principais investimentos propostos pelo

plano plurianu al 200V200310-19. Os motores do desenvolvimento. . .

10-20. Os marcadores de frente pioneira.

10-21. Brasil e Argentina: estruturasetáriascomparadas...

10-22. Corredores que ôruzam o continente10-23.O Brasil e seus viziúos.

Capítuto 11. O futuro é hoje11-01. Crescimentos . .

230

LJI

23823924024t

272ztJ

27sn6277n9280281282

283285

286288289

29029t292

297

Atlas do Brasil

308

TADEACapítulo 2. Gênese e malhas do ÍerriÍório02-01. Populaçâo, superfície e densidade dos Estartc _ - - l002-02. Dimensão média dos municípios S02-03. Maiores e menores municípios brasileirc S02-04.Ostopônimosmaisfreqüentes. . . . . . 5f02-05. Os topônimos mais freqüentes

decadacategor ia. . .__---- 5[

Capítulo 3. O meio ambiente e sua gestão03-01. Os campos petrolíferos ?l03-02. Desflorestamento total . . ffi03-03. Taxa média anual de desflorestamento . - b

Capíhrlo 4. Dinâmicas populacionais04-01.Taxas de fecundidade tb04-02.Taxas demortalidadeinfantil . _. - -__--_ !ú04-03.Cordepeleerendimentos ___-- l l3

Capítúo 6. Din cas industriais e terciárias06-01.Empresas automobi l íst icas . . . . . . . . . - -_ fg l06-02. Idade do parque automobilístico . - ... _ _ ltr

Cafro&RedesG{n-Otráfegodosportos. . . . . . . . . . 198ÍB{E-Asestradas . . . .207íH{B-As frotas de veículos . . . 207ff i {H-Osetoraéreo . . . . . . . . .2I8lB{5-Principaiscompanhias aéreasbrasileiras . .. .. ... ZZIfB{b-Osvinte maiores aeroportos brasileiros. . .. . . ... 22IfB{t7-Aspontesaéreas . . . . . .224IB{ILTaxa de cobertura de

ÍFalroredes de televisão . .. .... .. 232

Crfflo 9. Disparidu:les e desigualdadesIIHII- Nrúmero de mestrados e doutorados

ptr nota dada pela Capes . . . . . . . . . 252

Cflo 10. OrdenamenÍos do territóriolf l{ l l-Osconcessionários deferrovias ........ 274

c+ro lL o fururo é hojel l { l -Crescimento. . . . . . . . . .296

309

Listas de ouadros

e Dinâmicas do TerÍitório

Projeto Gráfica,

Edüoração

Copydesk&

Revisãa fu

Fotolito,Impressão e

( lmprensa Ofic iâl)

rsBN 8s-7060-352-5

lillr lI ll r rlilil ill llllll lll9rr798570 603523'

íEDUSP)tsBN 85-314-0869-5

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CAPÍTULO 1

A firmar que o Brasil é um país emeÍgente e que ele

pf é hoje significativa potência econômica, política eI Ì- diplomática é apenas enunciar um fato evidente,Entretanto, até recentemente não era ele, mas a Argen-tina, figurando na lista das "grandes potências" queeram objeto de estudo dos alunos franceses ao se prepa-rarem para o Baccalauréat.

Tendo um lugar significativo principalmente na ex-portação de minérios e de produtos agroalimentares, oBrasil alcançou também uma posição de destaque no ra-mo dos bens manufaturados, e seu paÍque industrial, omais completo do hemisfério Sul, atingiu um nível sufi-ciente para rival:zar com os maiores do planeta. Em umdomínio sensível como a construção aeronáutica, ele fazparte da elite mundial, rivalizando com o grupo cana-dense Bombardier na terceira colocação, superado ape-nas pela Airbus e pela Boeing. É verdade que o Estadoajudou muito, até a recente privat;aação, porque aosmotivos comerciais acrescentavam-se preocupações es-tratégicas. Mas não seria o mesmo caso de seus concor-rentes? Seja como for, o Brasil soube dominar essa tecno-

@ia complexa. Podem-se citar outros ramos, igualmentemuito presentes no mercado externo, como o da enge-úaria civil, em que o Brasil detém experiência precisa,adquirida no vasto canteiro de obras que foi e continuasendo o País.

Mas o novo papel internacional do Brasil não é so-rnente comercial e industrial, é também cultural. Gigantedo mundo lusófono, o Brasil é o único país de lÍngua por-Eguesa realmente presente no mercado mundial de co-municaSo. A sua rede de televisão Globo, participante

de um potente grupo de comunicação, está entre as pri-meiras do mundo e vende suas criações audiovisuais, es-pecialmente novelas, a numerosas televisões estrangei-ras. Pode-se ver aí o símbolo da nova postura brasileirana cena mundial, confirmada pelo seu papel diplomáti-co, demonstrado recentemente pela mediação nos gra-ves incidentes fronteiriços entre o Equador e o Peru, naserra do Condor.

Esse papel de potência emergente deve-se, em par-te, à sua dimensão, pois o Brasil é um dos grandes paísesdo mundo, mas não somente a ela. Antes de falarmos desua organização interna, é preciso avaliar primeiro suaimportância territorial, demográfica e econômica na es-cala mundial. Em seguida, é necessário medir, observan-do a composição e a orientação de suas trocas externas,até que ponto sua situação no comércio mundial se alte-rou. E pode-se analisar, por último, examinando seusoutros intercâmbios (aéreos, diplomáticos, tuísticos, ci-bernéticos e científicos), qual é o seu lugar no mundo dehoje. Isso sem esqueceÍ o futebol, em relação a que oseu lugar é naturalmente o primeiro, verdade que qual-quer brasileiro confirmará.

Dimensões

O Brasil é o quinto país do mundo em superfície(Figura 01-01). Entender como ele adquiriu esse imensoterritório será objeto do capítulo seguinte. Aqui, noscontentaremos em situá-lo em relação aos outros gigan-tes mundiais. O Brasil é superado pela Rússia, que temainda o dobro de sua superfície mesmo depois de perder

17

OBrasi l eomundo

*1-Ê3" Br*sil" qalinËc país dc nr"latndo

Superfície dos países em milhóes de km2 (proieção J. Bertin) @ HT-2003 MGM-Lìberqéo

ê'E-SZ. Fusos horérios colônias e satélites antes associados a ela na antiga URSS.

Encontra-se na mesma categoria que o Canadá, a China

e os Estados Unidos (incluindo o Alasca e o Havaí).

O território brasileiro (ao qual deve-se acrescentar

uma parte da Antártica) estende-se por quatro fusos ho-

rários (Figura 01-02). O primeiro, GMT -2, é formado

pelas ilhas Atlânticas, entre as quais a única povoada é

Fernando de Noronha; o segundo, GMT -3, hora de refe-

rência oficial do País, cobre a maior parte do território -

vinte Estados e a metade do Pará; o terceiro, GMT -4, é

formado pela outra parte do Pará e seis outros Estados

da Amazônia e do Centro-Oeste; por último, o quarto,

GMT -5, contém apenas o Estado do Acre e metade do

Amazonas. Cabe aqui notar que essas horas teóricas não

correspondem sempre à hora oficial, já que a maior parte

dos Estados do Sul e do Sudeste praticam o horário de

verão, de outubro a fevereiro, enquanto os do Nordeste e

do Norte, onde a variação da duração do dia é ínfima; não

seguem esse procedimento.

At las do Brasi l

18

Para tornar mais visível a rela-

ção entre as dimensões do Brasil eas do continente europeu, pode-se"projetar" o primeiro sobre o segun-do (utilizando-se de uma projeçãoque respeite as superfícies relativas).Assim, mede-se melhor a sua verda-deira dimensão, a de um continenteou até mais, já que a imagem mostraque, se o Norte do Brasil for coloca-do sobre a Escandinávia, sua extre-midade meridional alcançaria o Cha-de, na África, enquanto a extensãoOeste-Leste iria da Islândia ao marNegro. Em termos de distâncias, ascapitais dos Estados brasileiros situa-das nos quatro pontos cardeais doPaís são separadas em média por 4mi l qui lômetros. ou seja. mais oumenos a distância que separa Lisboade Moscou e Oslo de Tamanrasset.na Argélia.

O Brasil faz, certamente, par-te dos "grandes", como mostra a Fi-gura 01-04, que compara seu perfi lao de alguns de seus concorrentes,em vários domínios cruciais parauma grande potência. Grande ele épela superfície (5ê posição mun-dial), superado pela Rússia, maiorpaís do mundo. Igualmente grandepela dimensão de sua população(5e posição também), desta vez su-perado pela China e pela índia. Fi-nalmente, pelo volume do seu PNB(8e posição), campo em que os Es-tados Unidos não têm rivais. Nota-se contudo que, se nessas três classificações o Brasilvem abaixo da Rússia (duas vezes maior), da China(sete vezes mais populosa) e dos Estados Unidos (do-ze vezes mais rico), os 170 milhões de brasileiros dis-põem de tanto espaço quanto os 267 milhões de cida-dãos dos Estados Unidos e produzem tanto quanto os

ffi=-ffiË" fi'.irau re*n$ç q$m qdüserrystsdlç# Ë+sr4€flrwetteÊs

Boa Vista

Prcjeçáo de RabÌnson

1,2 bilhões de chineses e duas vezes mais que os 145milhões de russos.

Classificações por grandes massas só servem, evi-dentemente, para mostrar ordens de grandeza. Se foremponderadas, seja per capìta para os rendimentos, sejapor indicadores (como o Índice de Desenvolvimento

19

OBrasì l eomundo

01-04. A posiçãodo Brasil no mundo

Classif icação mundial

Rússia

B râsilChina

India

Area Populaçáo PNB Renda IDHoer caDrta

Fonte: lmages économiques du monde 2002 @ HT-2003 McM-LÌbergeo

Humano - IDH do PNUD) de desenvolvimento social(saúde, educação etc.), o Brasil aparece numa situaçãomenos favorável. Passa então à 40e e à 68a posições,distante de todos os outros grandes que se classificamentre os primeiros países pelo IDH: o Canadá,que emterritório pouco maior e com apenas trinta milhões dehabitantes produz praticamente o mesmo PNB, e aAustrália, que produz mais da metade do seu PNB com90% do seu território e 11.o/o da sua população. Emcontrapartida, situa-se bem acima da China e da Índia,que chegam apenas às 1084 e 115ê posições mundiais.No total, é com a Rússia, pela forma geral do perfil,que o Brasil se assemelha mais, comparação que teriasido muito mais gratificante quando esta era uma dasduas superpotências mundiais. Não é o caso hoje,quando ela tenta conquistar seu lugar entre países bemdotados e já bastante desenvolvidos, mas cujos índicessociais deixam muito a desejar, o que é exatamente onosso caso.

Comércio

O Brasil viveu muito tempo da exportação de mi-nerais e de produtos agrícolas. Continua sendo um dosprincipais exportadores mundiais de alguns minérios (ode ferro, em particular) e alguns produtos agrícolas: ain-da é o primeiro exportador mundial de café, de açúcar,de suco de laranja e de farelo de soja.

No entanto, essas exportações não definem mais opeso econômico do País. Primeiro porque seu comércioexterior representa apenas pouco mais de L% do totalmundial (Figura 01-05), menos da metade do que ele re-presentava nos anos de 1950. Com certeza, essa reduçãodeve-se, em boa parte, ao fato de que as trocas interna-cionais fazem-se cadavez mais entre países desenvolvi-dos. Esse dado mostra que, enquanto a balança comer-cial é importante para o Brasil, o comércio brasileiro pe-sa pouco no panorama mundial.

Além disso, o comércio internacional não é maisum bom indicador para avaliar a (in)dependência doBrasil. Por um lado, as exportações representam apenas8% de seu PNB, o que indica que a economia brasileiraé menos dependente de suas exportações e que, dora-vante, é o mercado interno que mais contará. Por outrolado, deve-se notar que mais de 40% das expoÍações deprodutos manufaturados são feitas por firmas estrangei-ras implantadas no Brasil, que acharam aí uma boa ba-se para suas estratégias mundiais: a Volkswagen do Bra-sil exporta para o mundo inteiro, em especial paÍa aAlemanha, peças oriundas de suas fábricas na regiãometropolitana de São Paulo. Quem exporta nesse caso,o Brasil ou a Volkswagen?

A balança comercial é, contudo, importante para oPaís (em especial para pagar a díüda) e sensível à con-juntura, que vê se alternarem déficit e excedente. A se-gunda curva da Figura 01-05 mostra bem que, enquantoas exportações üescem regularmente, são as importaçõesque fazem a diferença, e tanto os choques petrolíferosdos anos de L970 quanto as crises dos anos de 1990 tiveramefeitos muito significativos para o equilíbrio das contas.De pú agroexportador, dependente das exportações pa-ra financiar suas compras de produtos manufaturados, oBrasil tornou-se um país largamente autocentrado, Hoje,

Atlas do Brasi l

20

0Í-05. Evolução do comércio exterior brasileiro

ele exporta para alguns mercados bastante especializa-dos, e os excedentes são mais úteis para financiar outrosdéficits do que para satisfazer as necessidades básicas,jácobertas por seus recursos internos.

Isso não reduz o interesse de uma análise do co-mércio exterior brasileiro, porque ela diz muito sobreo peso que esses negócios passam á ter na economia doPaís e sobre a maneira como o Brasil se insere nos

mercados mundiais. À medida que sua economia setransformou, alterou-se também o comércio exterior, ouseja, a natureza de suas exportações (Figura 01-06). En-quanto o café representava 72% de suas exportaçõeseml925,e ainda27o/o emT97l,atualmente ele se escon-de num trinômio "chá,café, especiarias". Esse retroces-so do lugar relativo dos produtos básicos não é devido aum declínio das vendas, mas ao crescimento rápido das

Part icipação de Brasi l nas exportaçóes e importaçóes mundiais - 1950 a 2001 lok\' )Â2,42,22,01,81,61,41,21,00,80,60,4

1e5o 1e5s 1e6o tt*..Jï;". 'ntu j::J:::

Balança comercial brasi leira 1950 a 2001 (US$ bi lhoes FOB)OU

555U

40

302520tc

1050

-5

-15

1 950 1955 1960 1965

- Exportaçoes

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000

- lmportaçóes -

$31j6 comercial

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria ê Comércio Exterior, Secretaria de Comércio Exterior @ HT-2003 MGM:LíberSéo

1980 1985

21

OBrasi l eomundo

0X-06. As exportações do Erasil

3S8EB8E3EERÈÉRR8SSTB8$388t3ooooooooooooooooooooooooooo

Fonte: l\.4inistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,Secretaria de ComéÍcio Exterlor

exportações de produtos semi-industriais (no ramoagroalimentar em especial) e, ainda mais, dos produ-tos industriais. O Brasil superou totalmente o esque-ma de dependência clássica: as exportações industriaisrepresentam 620/o do total, e chegam a quase 80% ca-so sejam acrescentados os produtos das indústriasagroalimentares.

Pode-se ter uma idéia das trocas internacionaisdo Brasil examinando o mapa de seus principais par-ceiros (Figura 01-07). Os pontos fortes estão clara-mente na Europa ocidental, na América do Norte, em

alguns países asiáticos (Japão, China e Coréia) e nosvizinhos do Cone Sul. A África (exceto a Nigéria), aOceania, a Europa do Leste e o resto da Asia estãoausentes desse comércio.

As trocas são mais ou menos equilibradas em cadazona, exceto com os púes petroleiros (o Brasil importapouco menos de 40% do seu petróleo do Oriente Mé-dio,Z4"/o da África e37V" da América Latina). Os exce-dentes são obtidos graças à diferença entre países aosquais o Brasil vende muito e dos quais compra pouco(como os países escandinavos, a Índia, o Egito e Taiwan),ou aqueles com os quais ele tem saldo positivo, como amaior parte dos países industrializados,

As diversas regiões do Brasil não contribuemigualrnente para o comércio exterior (Figura 01-08). Nasimportações, a predominância de Santos e, secundaria-mente, do Rio de Janeiro é esmagadora. É por esser por-tos que entram todos os bens de alto valor unitário re-queridos pelas populações de renda alta e mais aindapelas indústrias, ambas concentradas no eixo Santos-São Paulo-Rio de Janeiro. Todos os portos litorâneoscontribuem para as exportações, porém com uma claraliderança dos que expoÍtam bens industriais, comoSantos, em relação aos portos agrícolas e mineiros doNorte e do Sul.

As importações por via aérea (nas quais as tonela-gens são evidentemente menores, mas os valores nãosão muito inferiores aos das importações marítimas) sãoigualmente muito concentradas no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, prolongado nesse caso até Campinas, impor-tante aeroporto de carga. Uma exceção notável é Ma-naus, cuja ZonaFranca importa componentes eletrôni-cos por avião. O pólo amazônico não aparece, contudo,nas exportações, já que sua produção é principalmentedestinada ao mercado interno. Nesse aspecto, o Rio deJaneiro se destaca claramente, superando São Paulo.

Intercâmbios

Os aviões não servem apenas ao transporte de car-gas, mas também, e principalmente, ao de passageiros.Três companhias brasileiras têm redes internacionais(Figura 01-09), cujo desenho evidencia as regiões do

Atlas do Brasil

22

01-G7. Glientes e ferneçedores do Brasil

mundo com as quais o Brasil tem seus principais inter-câmbios. A companhia mais antiga é aYarig,sendo delaa rede mais densa; a Vasp, à beira da falência, acaboupor fechar suas linhas internacionais; a TAM, mais novano ramo, tem uma rede ainda muito embrionária, à ex-ceção das cidades européias a que sua parceria com AirFrance lhe dá acesso.

As três redes privilegiam claramente três direções:os países vizinhos da América do Sul, a Europa e os Es-tados Unidos. A TAM tem apenas duas linhas fora docontinente, Paris e Miami, os dois destinos mais reque-ridos. A Varig disponibiliza também vôos para o Japão,via California. Em tempos mais prodigiosos, ela mantinhalinhas para Bangcoc via África do Sul, para Angola eNigéria. O encerramento dessas rotas confirma o pou-co interesse, pelo menos comercial, das linhas africanas.

As relações diplomáticas são outro indicador dasrelações entre o Brasil e o resto do mundo. Nossa im-portância pode ser avaliada pelo número de países quetêm embaixada no território brasileiro. Podemos nosconsiderar importantes, pois quase todos têm represen-tações diplomáticas no Brasil, exceto alguns países da

África central e oriental e da Ásia central. Pode-se ques-tionar a necessidade, por exemplo, de ter embaixada deBangladesh ou de Botsuana no Brasil, mas é evidenteque a presença de muitas representações é a marca deum grande interesse da comunidade internacional.

Abrir, além de embaixada, um consulado é umadecisão ainda mais significativa, pois supõe que cida-dãos daquele país vivem no Brasil ou visitam-no comalguma freqüência, e nada menos de 74 países toma-ram essa decisão. As Américas, a Europa, a Oceania ea maior parte da Ásia estão presentes. Faltam os paises da África, do Oriente Médio e da Ásia central, tal-vez menos por falta de interesse do que em decorrên-cia dos custos que uma segunda delegação diplomáti-ca representaria.

No sentido inverso, quais são os países onde oBrasil tem representação diplomática? Sua rede deembaixadas e consulados é densa e cobre o mundo in-teiro, à exceção de alguns países da África central eoriental. Contudo certos parceiros são obviamentemais importantes, pois dispõem de consulados gerais(em grandes cidades fora da capital), de consulados

s_

E Exportações

I lmportaçoes

Fonte: l\,4inistério do Desenvolvimento lndústria e Comércio Exterior Secretaria de Comércio Exteriot

Êscala no Equador

0 3000km

Comércio exteriorem 2001 (US$ mi lhÕes)

a-\-4.2e4.e70I aTl 1.102.580\#2 50.000

23

OBrasí l eomundo

lmportaçõespor navro

Exportaçõespor navro

Valor (US$)por tonelada

Valor (US$)por tonelada

42 253r 1969E Booffi 346Evo

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E73 0__ !E k-

lmportaçõesem 2001

(US$ milhóes)

1001 7z\

3151-z\ )1 \ \ / '

IEffi

E

42 2531 969

800346170

1673

@ HT-2003 MGM-Lìbeeéa

lmportaçoespor avrao

Valor (US$)por tonelada

r r rsgss! ggozef f i sg:zz

3 óóZ

E 24oo 0 500406 ---\10Ít/

@ HT2003 MGM-Libergéo

Fonte: lNGE0, Consórcio Brasì1iana

0- jE k.

42 253r 1969r Booffi 346Ff lo

/o

/J

üï-Õ8. Comércão exter$ïo p@r na\íiÕ e p€r aviãG

(Cidade do Cabo e Caiena) ou de delegações em orga-nismos internacionais. E o caso dos Estados Unidos,de alguns grandes países europeus, da China, do Japãoe de países vizinhos (onde existem, freqüentemente,vice-consulados, que tratam principalmente de vistos).

Como todas essas representações não têm a mes-ma importância diplomática nem o mesmo prestígio, oMinistério das Relações Exteriores as classificou emtrês categorias, para fins de gestão da carreira dos seusdiplomatas, às quais eles podem postular de acordo com

Atlas do Brasil

24

01-09. Redes aéreas EnteneÌecEeË?als

regras precisas. Os postos de tipo "1t''são os mais pres-tigiados, pois estão situados nos Estados Unidos ou naEuropa central. São aqueles apelidados, na gíria diplo-mâtica, de "circuito Elizabeth Arden", adquirido do no-me dessa sofisticada marca de cosméticos. Os postos"8" são a segunda escolha: Canadâ, Europa periférica,

Austrália, grandes países asiáticos e latino-americanos ea África do Sul. Os postos "C", aqueles de início de car-reira ou quando não se tem escolha, são os da Africa, doOriente Médio, do resto da Ásia e da América Latina.

O turismo é outro bom indicador da atração de umpaís, porque quem paga para visitá-lo testemunha

VARIGLinhas e escalas

-o- Atendidas-r- Supr imidas

VASPLinhas e escalas-e- Supr imidas

TAMLinhas e escalas

-o- Atendidaso TAM Mercosulo Code sharing

Fonte: Revistas de bordo das companhias

25

OBrasi l eomundo

+= - =* . * =s z'= -'.

==.=i = =*ãr* *t ç*i r* e** #r*eê Ë

concÍetamente o seu interesse por ele. Se os encantos

turísticos do Rio de Janeiro, da Bahia e das praias do

Sul atraem naturalmente em primeiro lugar os vizinhos

argentinos, uruguaios e paraguaios, há igualmente mui-

tos visitantes europeus e norte-americanos e até um

pequeno fluxo de japoneses. Distinguir o modo de

transporte permite fazer a diferença entre os vizinhos

imediatos, que chegam por via terrestre, e os turistas em

cruzeiro, argentinos, mas sobretudo norte-americanos e

europeus, que querem conhecer do País apenas as

"[

io

'*'

Ã.

Fonte: Minlstério das Re aÇóes Exteriores, 2002

Esca a no Equador0 3000km

@ HT2003 MGM-Libergéa

,= -

Paises com uma* embaixada no Brasi l (134)

Fonte; Minlstério das Relaçóes Exteriores, 2002

Atìas do Brasi l

26

&t-11. Dipleatrasia furesnÈeãre $* exË*sç*r

Representaçóesdiplomát icas

O Embaixada

I Consuiado-geraÌ

O Consulado

I Delegação

O Vice-consulado

Categoriasde países

.A

OB

CC

praias e paisagens costeiras, mantendo-se no conforto ena segurança de sua embarcação. Essa atividade turísticaem forma de cruzeiro constitui o setor que mais rapida-mente se desenvolve, porque seus organizadores encon-tram no Brasil uma alternativa ao Caribe, já bastante

Esca a no Equador *0 3.000 km -

*@ HT-2003 MGM Libergéa

saturado. E uma nova oportunidade de desenvolver umsetor ainda muito aquém do seu potencial, já que o Bra-sil recebe anualmente apenas 3 ou 4 milhões de turistasestrangeiros, enquanto 76 milhões visitaram a Françaem2002.

, ' . \J

'r-. r l

@ HT2A03 MGM Lìbergéo

=r:e: Ministério das Relaçóes ExterÌores, 2002

Fonte: Ministério das Relações ExterÌores, 2002

27

OBrasi l eomundo

S1-12. Turistas estrangeiros rco Brasil

Encerra-se esta revisão com três variáveis inco-muns, mas que parecem úteis para concluir a análise dasituação internacional do País e de suas relações privile-giadas. Indicador novo, o lugar do Brasil na Internetconfirma sua posição entre os grandes países emergen-tes. Sem atingir os níveis elevados da América do Norte,da Europa, do Japão, da Malásia e da Austrália (tantopela porcentagem de internautas na população quantopela relação entre esse número e o PIB), o Brasil situa-se no grupo imediatamente subseqüente. Encontra-seem companhia da Argentina, do Chile, da África do Sul,da Rússia e da Thilândia, o que oferece uma boa aproxi-mação do seu nível de desenvolvimento geral. Os países

que constituem o grupo mais atrasado são precisamen-te aqueles com os quais as relações diplomáticas com oBrasil são reduzidas ou inexistentes.

Os intercâmbios científicos funcionam nos doissentidos (Figura 01-14). Os países para os quais o Brasilenvia bolsistas não são muito numerosos: Estados Uni-dos e países da Europa, principalmente, e ainda Japão,Austrália e Nova Zelândia.AArgentina ocupa um lugarmodesto, visto que as relações mais aprofundadas noâmbito do Mercosul são recentes, e é baixo o número debolsistas que lá preparam teses. O caso da Alemanha éparecido, sem dúvida porque estes bolsistas estão maisnas cooperações técnicas do que nas universitárias. Essa

Escala no Equador

0 3000km

Viamarít ima

/--ï 16 017

T5

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio ExteÍrol Secretaria de Coméício Exterior

Atlas do Brasil

2A

WÍ-13. O Brasil nc lnternet

6,'otítica de bolsas destinadas a preparar teses no exte-Csr deverá sem dúvida declinar, já que o Brasil contacum bom número de programas de doutorado em suaspróprias universidades, nas quais formou, em 2001, mais

'Se 6 mil doutores.O progresso sensível das universidades brasileiras

erplica em parte o fato de inúmeros pesquisadores es-trangeiros se instalarem no Brasil. Vindos dos paísesrizinhos, especialmente da Argentina (cujas crises re-correntes desencorajaram bons pesquisadores e os in-citaram a cÍtJzar a fronteira). mas também dos EstadosLlrnidos, da Europa, da Índia e mesmo da Rússia (nes-te caso, por razões semelhantes às que influenciaramos pesquisadores argentinos). Certamente, o Brasilatrai porque constitui um terreno ideal para muitasdisciplinas, pela riqueza de sua geologia, de sua biodi-r,ersidade e de suas etnias, as indígenas em especial. Éclaro que muitos desses pesquisadores, geralmente ho-mens, estabeleceram aqui relações muito próximas(nem sempre só de natureza científica) com cidadãsbrasileiras. Mesmo levando em conta esse fator, o fatode escolherem instalar-se no Brasil comprova que jul-qam haver aqui condições materiais e intelectuais para

prosseguir sua carreira, o que confirma uma nova atra-

ção do País nesse campo.Finalmente, como não evocar o futebol entre os ele-

mentos que definem o peso e a atração do Brasil no mun-do? Esse jogo de origem britânica adaptou-se maravilho-samente ao País e tornou-se o esporte nacional. Ao cruzaro Atlântico, tornando-se fttebol, e o football evolúu bas-tante em relação ao que praticavant os gentlemen emformação na escola de Eton. O Brasil passou a ser um dosgrandes nesse esporte, e seus resútados nos jogos oficiarsmostram que ele não só faz parte dos países que dominamo jogo, mas também figura na pequena elite que está sis-tematicamente presente nas fases finais das competições,ganhando-as freqüentemente. A Figura 01-15 (baseadaem dados até200I) mostra que o Brasil tem um saldo po-sitivo sobre praticamente todos os países do mundo, tantoem jogos ganhos quanto em gols, com uma única exceção,a Argentina. É necessário recordar que o Brasil ganhoucinco vezes a Copa do Mundo? Sua vitória, em 2002, o"peÍrla" a que os brasileiros já aspiravam em 1998, frus-trando-se por não conqústá-lo na memorável final contraa França, deve mantê-lo, por múto tempo, na liderança dofutebol mundial.

Percentagemde internautas no país

:Ê,iÊdecimentos: J. Beigbeder, R Dì Cosmo, L WalL Ph WanÌez

Esca a no Équêdor0 3000km

,O f . G u í"huúZ OOS U e U- tib" rgéo

29

OBrasì l eomundo

*=-=4. Solsistas * p*sq*ã**d*res

No fundo, essa situação é bastante justificada, por-que no Brasil leva-se o futebol muito a sério. Ele é umdos elementos fortes da identidade nacional e continuasendo um dos poucos meios de ascensão social rápidapara os pobres, em uma sociedade muito desigual. E os

brasileiros demonstram nos campos de futebol, como na

vida cotidiana, um gênio da improvisação individual que

compensa - quase sempre - as falhas da organização co-

letiva. Sim, decididamente, faz sentido pensar que oBrasil é oor excelência o oaís do futebol.

Proporçáodos doutorandosno total de bols istasbrasi le i ros (%)

Fonier Capes, CNPq

'"',ì,ì:,.

@ HT-2003 MGM Libergéo

Pesquisadoresesrra nger rosinstalados no Brasi l(% por país)

14,5t-o

1,61,0

EFonte: Capes, CNPq

Números de pesquisadoresestrangeiros instalados no Brasi l

tÃÃ

\"+ 22

At las do Brasi l

30

01-15. Os sa=*sss*s d+ futch*E brasileËr*

@ F M LT-2 003 M G M-Lìbergéo

O Brasi l e seusadversários;ogos oÍiciais 1914-2001)

I Vitórlas€ EmpatesE€ Derrotas

-nie:

Confederaeão Brasi leira de Futebol

Gols marcadosou sofr idos pelo Brasi l(jogos oïiciais 191 4-2OO1 l

I Gols marcadosۋ Gols sofridos

Números de iogos

,,'- 85/ \ eÃ

\o- 20

Total de gols

/__290/ \oa

\ f.ir- 56

Escala no Equâdor0 3000km rt

Fonte: Confederacão Brasileira de Futebol

31

OBrasi l eomundo

CAPÍTULO 2

CÊxESE T MALHASDO TERRITORIO

ão era óbvio que o Brasil se tornasse o giganteque é hoje: a parte do continente atribuída a Por-tugal pelo Tiatado de Tordesilhas (que demar-

cou, em 1.494, possessões espanholas e portuguesas) eralimitada pelo meridiano que passa pelafozdo rio Ama-zonas. Dois séculos e meio depois, as fronteiras atuais,quase três mil quilômetros a oeste da anterior, já eramatingidas na maior parte da sua extensão, e a força dosentimento nacional, forjado nesta conquista, permitiusuperar todas as segmentações sociais e regionais.

Paradoxalmente, o Brasil deve essa imensa exten-são, em grande parte, à pressão das rivaüdades estrangei-ras, que forçaram PoÍugal a considerar mais seriamenteuma conquista começada com muita má vontade e, emseguida, a estendêla e a consolidá-la. No entanto, essavontade conquistadora não explica tudo: foi somente gra-

ças à coincidência de uma ação política deliberada e con-tínua, e de um impressionante dinamismo pioneiro, quepuderam ser obtidas a extensão e a unificação do tenitó-rio brasileiro. Esse tamaúo continental foi conquistado,construído e gradualmente consolidado passo a passo.

As malhas administrativas e políticas hoje vigenteslevam a marca dessa história. Foram capazes, mediantealguns ajustes, de acompanhar a evolução de um paíscuja população foi multiplicada por dez durante o últi-mo século (de 17 milhões em 1900 a quase 170 milhõesde habitantes em 2000). Municípios e Estados têm sidocriados até hoje nas regiões conqústadas (e outros ain-da podem vir), contudo as malhas - de tamanhos desi-guais - criadas nos primeiros séculos do Brasil colonizadopermanecem válidas.

A construção de umarquipélago continental

Quando Pedro Álvares Cabral aportou na costa daterra que se tornaria o Brasil, no dia22 de abril de 1500,seu objetivo não era conquistar novas terras - a meta es-sencial da Coroa portuguesa era, então, o controle darota das especiarias orientais. Nessa estratégia, a terradescoberta podia apenas representar, no melhor dos ca-sos, uma escala para navios extraüados, pois era umapobre conquista em relação aos tesouros que os espa-nhóis tiravam dos seus novos domínios. Para haver umacerta consolidação da implantação portuguesa foi ne-cessária a ameaça de novos rivais, os aventureiros fran-ceses, navegadores vindos principalmente da Norman-dia, que estabeleceram feitorias e concluíram aliançascom os indígenas. Essa rivalidade levou a Coroa a em-preender uma política de colonização sistemática e foiuma das razões da criação das "capitanias hereditárias",em 1532. Atribuindo a nobres portugueses vastas por-

ções da nova colônia, o rei esperava que pudessem con-firmar até 1559 a sua soberania, cujo alcance era limita-do, sobre alguns pontos de povoamento costeiro, entreItamaracá (ao norte da atual cidade de Recife) e São Vi-cente (São Paulo). Foi principalmente para proteger oseu flanco ameaçado que os portugueses avançaram parao norte, até atingir Belém, o que permitiria o controle dafoz do Amazonas em 1616.

É nesse contexto que se situam as tentativas ar-riscadas de colonização pela França e pela Holanda. AFrança Antárctica, fundada por Nicolas Durand de

Atlas do Brasil

32

)*

! Mer id ianodeTordesi lhas

I TerritóÍio ocupado no século XVI

I TerritóÍio ocupado no século XVll

I TerÍitório ocupado no século XVlll--__-] Território ocupado no século XIX-___-]

TeÍritório ainda não ocupado no século XIX

A Fortes portugueses

r r o o Fronteira fixada peloTratado de Utrecht (1703)

- - - - Fronteira fixada pelo Ìatado de Madri (1750)

- . -- ' FronteiÍa Íixada pelo Tratado de Badaioz (1801 )

-l-l]l Ganhos territoriais obtidos por arbitragemno lrnal do sêculo xlx e rnicro do xx

::-:e: Baseado paÍcialmente em Manoel Mauricio de Albuquerque, Atlas Hìstótico, e Martine Droulers

\ìllegaignon em 1555, na baía do Rio de Janeiro, foi:Èndo derrotada pelos portugueses a partir de 1560. AFrança Equinocial, colônia fundada no Maranhão emi6l2 por Daniel de la Touche, senhor de Ravardière, co-úeceu o mesmo destino. Após a sua reconquista emi613. os portugueses tiveram a elegância de rebatizar

O2-O1. A ocupação do território brasileiro

aaQaaaro

Principais bandeiras

*-È Procura de minérios

. . . . )> Exploraçáo contratada

0 500 km

@ tlF2003 MGM-Libeígéo

como São Luís a cidade que tinha sido chamada SaintLouis em homenagem a Luís XIII. As tentativas de im-plantação de colônias holandesas tiveram mais amplitu-de e mais sucesso. A primeira, na Bahia, eml624,foifa-cilmente rechaçada, mas os holandeses voltaram em 1630a Pernambuco: conquistaram, então, um vasto tenitório

a

33

Gênese e malhas do território

que se estendeu de Alagoas à Paraíba e, mais tarde, atéo Rio Grande do Norte, o Ceará e o Maranhão. Foramexpulsos somente em 1654.

Essa foi a última tentativa séria feita por europeusdo norte para fincar pé no Brasil: voltaram-se em segui-da para as Antilhas, que transformaram em "ilhas doaçúcar", provocando, assim, em grande parte, a crise daeconomia açucareira brasileira. O continente ficava, en-tão, bem menos interessante, e as novas potências colo-niais, a França, a Holanda e a Inglaterra, satisfizeram-secom as três cabeças de ponte das Guianas. É, portanto,graças mais ao desinteresse de seus rivais do que à suaprópria energia que Portugal pôde ter consolidado umvasto império continental.

Não se pode menosprezar um período famoso dahistória colonial, as bandeiras, essas expedições lança-das através do continente, com a bênção distante da Co-roa, que contribuíram fortemente para estender o domínio português. Seu foco principal foi um povoado nasci-do ao redor de um colégio fundado pelos jesuítas, SãoPaulo. Desta aldeia, onde se falava mais tupi que portu-guês, partiram expedições compostas de um punhado debrancos agrupados em volta de uma bandeira, algumasdezenas de mestiços e, principalmente, índios aliados,que conheciam melhor que os portugueses as trilhas an-tigas e os recursos naturais que podiam ser usados nocaminho. Favorecidas pela topografia,já que os afluen-tes do Paraná as conduziam para o interior, essas expe-dições duravam anos, durante os quais os bandeirantespercorriam centenas de quilômetros, parando, às vezes,para plantar milho ou mandioca... e esperar a colheita.A partir dos afluentes da margem esquerda do Paraná,essas expedições de longo curso dirigiam-se para o Sul,descendo até o Rio da Prata, para o oeste, subindo osafluentes da margem direita, ou para o norte, via redeamazônica.

O motivo dessas aventuras era evidentemente a es-perança de lucro, porque pretendiam capturar índiospara as plantações de cana-de-açúcar do litoral. Os ban-deirantes logo entraram em conflito com jesuítas portu-gueses e, sobretudo, os espanhóis, porque as aldeias demissão, onde tentavam agrupar e catequizar os índios,constituíam presas tentadoras. Mais tarde, voltaram-se

para a prospecção de metais e pedras preciosas, desco-brindo, no fim do século XVIII, as jazidas de ouro deMinas Gerais (as quais defenderam de armas na mãocontra os colonos recentemente chegados de Portugal)e, em seguìda, as de Goiás, em 7778, e as de Mato Gros-so, em L725. Outras razões devem, no entanto, ser consi-deradas, como o gosto pela guerra e pela violência. Tan-to que nos conflitos contra os índios do interior do Nor-deste, bem como na guerra contra os holandeses, os pau-listas estiveram presentes, voluntários ou convocados.Por último, o gosto pela aventura e pela exploração. Co-mo entender sem ele essas andanças intermináveis e pe-rigosas em territórios totalmente desconhecidos? Asbandeiras desempenharam um papel fundamental naexpansão do domínio português e contribuíram forte-mente para dar ao País, que nasceu em 1,822, uma ex-tensão próxima da atual. Sem elas, os sucessos dos di-plomatas portugueses que obtiveram o reconhecimen-to de jure et facto da ocupação obviamente não teriamsido possíveis.

A batalha, no entanto, ainda não estava total-mente ganha, pois esse país imenso continuava a serfrágil e corria riscos, caso a autoridade real enfraque-cesse. Napoleão I foi um dos artesãos - involuntários- da unidade brasileira, no momento em que o impé-rio espanhol se desagregava. A decisão tomada pelaCorte portuguesa de refugiar-se no Brasil para fugirda ameaça dos exércitos napoleônicos é uma dasgrandes "bifurcações" entre o destino do Brasil e o daAmérica Latina. Naquele mesmo momento, o rei daEspanha escolhia permanecer, o que contribuiu paraa divisão do seu império. Se dom João VI tivesse de-cidido diferentemente, pode-se imaginar, dada a di-versidade natural do território brasileiro e a grandevariedade das células econômicas criadas entre 1500 e1808, que este espaço poderia ter dado origem a umasérie de países lusófonos de dimensão e originalidadelargamente comparáveis às antigas subdivisões do im-pério espanhol. Em Salvador e no Recife, nas cidadesde Minas Gerais, do Rio de Janeiro, de São Paulo,grupos estavam prontos para f.azer como fizeram osseus semelhantes de Lima, da Cidade do México. deQuito ou de Boeotá.

Atlas do Brasi l

34

O Brasil que nasceu com a Independência, procla-mrda no dia 7 de setembro de 1822, tinha tudo parawrpreender um observador externo; de fato, viajantescmrangeiros expressaram sua admiração em relaçãoruesse paradoxo: um país imenso e de marcada diver-

-"tade econômica e humana, mas que mantinha, ao

O2-O2. A economia e o território no século XVI

mesmo tempo, uma profunda unidade política e cul-tural, Porém, apesar dessa unidade, e por mais maciçoe irirenso que seja, o Brasil tem funcionado há muitotempo (e ainda funciona, sob vários aspectos) comoum arquipélago.

Sua história econômica, durante mais de quatro

Cristóváo

Sáo Jorge dos llhéus

CruzSeguro

Sra da VitóÍiaEspírito Santo

Sebastião do Rio de Janeiro

Sra. da Conceição de ltanhaemCananéia

Meridiano deTordesilhas

Pau-brasil

Cana-de-açúcar

Pecuária

Limltes das capitanias heÍeditárias

Capitanias reais

Cidades e vilas

0 500 km

@ HT-2003 MGM-Libeígéo

Baseado em lvlanoeJ Mauricio de Albuauercue, Atlas HistórÌco

35

Gênese e malhas do território

séculos, consistiu, como demonstrou Celso Furtado, emuma série de ciclos econômicos, uma sucessão de gran-

des produções que formaram sucessivamente o essencialdas suas exportações: açúcar nos séculos XVII, ouro nofim do século XVII e no início do século XVIII, café nos

séculos XIX e XX, borracha no início do século XX.Deve-se a essa sucessão de especulações a formação doarquipélago brasileiro, porque cada uma delas afetouuma região diferente do País: açícar, o Nordeste; oouro, Minas Gerais; o café, o Sudeste; a borracha, aAmazônia. Cada uma imprimiu sua marca, permitindo opovoamento de regiões aÍé então quase vazias, dandoum estilo às relações sociais e à oryanaação do espaçodessas regiões.

As conseqüências da formação por ciclos nãoterminam nessa heterogeneidade, mas implicam de-terminado funcionamento do conjunto do territórionacional. O Brasil independente permaneceu, ao lon-go de todo o século'XlX e na primeira metade séculoXX, como uma coleção de células agroexportadorasjustapostas, um mosaico de regiões quase autônomasformadas no auge desses ciclos. Cada célula centradana produção de um tipo de exportação, drenado por

uma rede de vias de transporte para um porto maríti-mo, era, por sua vez, constituída de células produtivasmenores formadas por grandes fazendas ou planta-

ções. Pode-se falar literalmente de um arquipélagobrasileiro, pois essas células comunicavam-se apenaspor cabotagem, ao longo do litoral. O fato foi prova-

do quando o Brasil entrou ao lado dos Aliados na Se-gunda Guerra Mundial: alguns submarinos alemãesforam suficientes para cortar qualquer relação entreRio de Janeiro e Salvador e, por conseguinte, entre onorte e o sul do País, já que não existia nenhuma rotainterna, à exceção da precária via navegável do SãoFrancisco.

A história da formação do território não se re-duz, no entanto, a esses ciclos. Entendê-la pressupõelevar igualmente em conta diversos outros fatores,como o dinamismo dos bandeirantes, os esforços dosmissionários, a paciente expansão dos pecuaristas e atenaz vontade política e administrativa da Coroaportuguesa.

As bases -'os séculos XVI e XVll

A primeira base econômica séria do País foi a pro-

dução de açícar. Originária da Índia, a cana-de-açúcarfoi aclimatada pelos portugueses principalmente emsuas ilhas do Atlântico. O clima e os solos do Nordestese revelaram ótimos, e os portugueses encontraram, as-sim, o grande produto de exportação que justificava epermitia uma sólida ocupação. Controlando a rota daÍndia, podiam aproveitar a intensa demanda européia,produzindo eles mesmos esse produto então raro e ca-ro, leve e facilmente estocável. De fato, o Brasil tornou-se, na primeira metade do século XVII, o prirneiro pro-

dutor mundial de açúcar.As conseqüências dessa expansão e dessa especia-

luação foram, no Brasil, de várias ordens. Primeiro foinecessário, para cultivar a caïa,importar escravos afri-canos: os primeiros chegaram eml532,e o tráfico duroutrês séculos, até qlue, a partir de !842, a Grã-Bretanha fi-zesse respeitar, pela força, sua proibição. Partindo doGolfo da Guiné, inicialmente, e de Angola e Moçambi-que, em seguida, milhões de africanos foram deslocadospara trabalhar nas plantações do Brasil. Em outra esca-la, o ciclo do açúcar gerou ciclos secundários, ou induzidos, que marcaram outros espaços. Para pagar os escra-vos, os colonos portugueses instalados no Brasil tinhamnecessidade de uma mercadoria de troca. Não ocorreunesse caso a modalidade clássica do "comércio triangu-lar" com produtos da metrópole, mas troca direta, compagamento em fumo: o Recôncavo Baiano, região pró-xima de Salvador, foi especializado nessa produção. Eranecessário também produzir o alimento para os escra-vos - na região do açúcar ninguém queria perder nemtempo nem espaço para uma produção tão vulgar - ecriar os bois para impulsionar os moinhos que esmaga-vam a cana. Essas necessidades provocaram a criação dezonas especializadas: as culturas alimentares no agreste(azonade transição para o interior seco) e a criação ex-tensiva no sertão. Nessa vastazoÍa semi-árida não se po-dia pensar em produção agícola,e apecuáia permitiu

conqústáJa, subindo os rios, notadamente o São Fran-cisco. Dessa época e desse ciclo econômico data, porconseguinte, a formação de um complexo nordestino,

At las do Brasi l

36

uulos traços sobreviveram por não terem sofrido altera-,@0 por nenhum ciclo posterior.

A primeira base da economia foi, portanto, o açú-rinr. e a unidade do Brasil deveu-se muito ao controlep,nlítico do território exercido pela Coroa. Porém sua ex-Ëmnsão foi graças a seus exploradores e seus pecuaristas.

02-03. A economia e o território no século XVll

Os primeiros tinham traçado üas e inventariado recur-sos, fundando novas "ilhas", mas as ligações entre elaseram ainda precárias, ou mesmo perigosas. Os comboiosde ouro entre Minas Gerais e Rio de Janeiro eramfreqüentemente atacados, e mais ainda os que vinhamde Goiás ou de Mato Grosso. A tarefa de estender

j\ttI -

Fortaleza

ta l

Paraíba

Recife

Calvo

Cristóvão

Salvador

Sáo Jorge dos l lhéussanta cruzPorto Seguro

Sra da Vitóriacírito Santo

Sebastião do Rio de Janeiroi Meridiano de Tordesi lhas

fr ouro- l n.^^^^ !^ ^^.+:^I urvvoJ

Cana-de-açúcar

t pecuária

t-l Etxo de expansão da pecuária

- LimÌte dos Estados atuais:F Região ocupada pelos holandeses

r Cidades e v i las

:m-=: Baseado em Manoel Mauricio Albuquerque, Atlas Historico

0 500 km

@ HT-20A3 MGM Lbeígéo

37

Gênese e malhas do territorio

realmente o território, de ocupáJo, de traçar rotas cer-

tas e duradouras, foi dos pecuaristas. Assistiu-se a umaconquista fulminante, a uma verdadeira explosão terri-

torial, cuja consolidação e valorização vieram graças aseus pacientes esforços para estabelecer estradas, fazen-

das e pousadas.

Presentes desde a época do açícar, os pecuaristas

tinham ocupado a mata semi-árida do sertão, criandobois para fornecer às plantações do litoral a carne seca,o couro e os animais indispensáveis para girar os moi-

nhos dos engenhos. As minas de ouro também precisa-

ram deles, e o movimento de expansão da criação pros-

seguiu para o interior, para o norte e para o sul. Os pecua-

ristas, que já tinham ocupado o alto São Francisco antesda descoberta do ouro, reforçaram sua presença, porque

as minas constituíam novos mercados. No norte ocupa-ram, do rio em direção ao litoral, os futuros Estados doPiauí e do Ceará, e avançaram até o Maranhão, nos con-fins da Amazônia. As necessidades do transporte doouro induziram igualmente o desenvolvimento da cria-

ção das mulas, nos campos limpos, até então muito pouco

ocupados. Essa criação, apoiada nas estradas e feiras es-tabelecidas, deu impulso decisivo à extensão do domínioportuguês para o sul, frente aos espanhóis.

Foi, portanto, a pecuária, mais do que o ouro, que

contribuiu para dilatar o espaço brasileiro, tanto que eladurou após o colapso aurífero, criando estradas e ponto

de apoio estáveis: as fazendas eram estabelecimentos fi-xos, duradouros, amparos úteis nestas extensões rmen-sas. A partir delas, o gado ia para o litoral seguindo ca-minhos fixos de rio em rio, as estradas boiadeiras, com-paráveis aos trail"s do oeste americano. Ao longo dessaspistas, que fixaram o traçado das estradas de hoje, po-

voadosofereciam etapas, pastos para descanso ou en-gorda e feiras periódicas. Muitas delas tornaram-segrandes cidades, como Feira de Santana (Bahia) ouCampina Grande (Paraíba). Mundo sem escravos, vio-lento, porém mais igualitário que o universo das planta-

ções e das minas, o mundo da pecuária prolongou aszonas do açícar e do ouro - uma fronteira móvel, masorganaada, onde se manteve o espírito pioneiro dosbandeirantes, consolidando e homogeneizando o espaçoque tinham conquistado.

A expansão e a consolidação -séculos Xvlll e XIX

Faltava, contudo, conquistar a imensa bacia amazõ-nica para dar ao País a sua atual dimensão, o que foi fei-to a partir do fim do século XVI[, sem que nenhum ci-clo econômico o justificasse. A Coroa portuguesa tinhasido levada a tomar posse da foz do Amazonas para res-ponder à ameaça dos corsários estrangeiros. Em seguidaocorreu um duplo movimento, o dos militares e dos je-

suítas, ambos fixando seus estabelecimentos, fortes oumissões cadavezmais longe, rio acima. Eram ambos an-siosos de avançar o mais rapidamente possível, porque,

no mesmo momento, outros militares e outros missioná-rios progrediam também na bacia do Amazonas - osemissários do rei da Espanha. Graças a essa disputa, que

continuou mesmo quando as coroas da Espanha e dePortugal tinham se unido (1580-1640), a progressão foirâpida, apesar dos parcos recursos. O forte de Manausfoi fundado em1669, e as missões escalonaram-se aolongo de todo o rio a partir da metade do século XVII.

Quando os jesuítas foram expulsos, em 1661, a conquis-ta estava praticamente terminada. No século XVIII, omovimento ampliou-se, progredindo ao longo dosafluentes. Nos pontos-chave, os limites dos grandes

afluentes, uma série de fortes de pedra foram construí-dos, freqüentemente com pedras trazidas de Portugal.Ainda hoje, na floresta, encontram-se imensas constru-

ções no estilo de Vauban, em regiões ainda praticamen-

te desertas, apontando os seus canhões oxidados parauma fronteira vazia.E, por mais inúteis que pareçam,

esses fortes balaam a fronteira atual. Desempenharamo papel de eficazes baluartes, e as únicas mudanças quea fronteira sofreu foram conqüstas brasileiras, cujos tra-

çados desenham marcas salientes entre estes fortes.Consideráveis ganhos territoriais foram obtidos na

Amazônia com recursos muito limitados, algumas cen-tenas de soldados e algumas dezenas de religiosos.A ex-ploração econômica reduzia-se à caça e à extração de al-gumas plantas,taízes,borracha e resinas, e os sonhos deriqteza,alimentados por mitos recorrentes (o lago Pari-ma, o Eldorado), nunca se materializaram. O motor daconquista foi a vontade dos portugueses, agentes da

At las do Brasi l

38

O2-O4. A economia e o território no século Xvlll

Rio de Janeiro

I Atsodão

f, Ouro e diamantes

f - i n.^^r . .1^ cêrïã^

Gl Cana-de-açúcar

f Pecuéria

----- Eixo de transporte

- Limite dos Estados atuais

r Cidades e vilas

fure 3aseado em Manoel Mauricio de Albuquerque, Atlas Histórico

frm e da lgreja, de estender seu domínio. Dois fato-mrfavoreceram essa ambição. Por um lado, era mais fá-dl arançar rio acima, beneficiando-se da navegaçãofrmca da bacia do Amazonas, enquanto nos domínios

rynhóis a cordilheira dos Andes constituía um formi-uilryel obstáculo. Por outro lado. a resistência esoanhola

0 500 km

@ HT-2003 M6M-LibeÍgeo

foi frouxa e descontínua, porque a Amazônia pesavapouco em um império assentado principalmente so-bre as populações e as minas do Peru e do México, cu-jas linhas de comunicação passavam mais pelo Caribee pelo Rio da Prata do que por este rio remoto e pou-co cômodo.

39

Gênese e malhas do território

Descobertas de novos recursos, avanço da pecuá-ria e vontade política conjugaram-se para provocar aformidável expansão do território português. Em 1750,no Tiatado de Madri, que delimitou os impérios espa-úóis e portugueses, o Brasil quase tinha atingido seuslimites atuais.

Retificações importantes ocorreram nas fronteirasdo Brasil até o início do século XX. Quase todas a favor,porque os diplomatas brasileirog especialmente o maisfamoso deles, o barão do Rio Branco, apoiaram eficaz-mente a progressão dos pioneiros, obtendo a confirma-

ção jurídica do fato consumado pelos aventureiros na-cionais. Cada uma dessas retiÍicações de fronteiras re-presentou a aquisição de dezenas de milhares de quilô-metÍos quadrados. Quando, em 1901, a arbitragem dopresidente do Conselho Federal da Suíça deu razão aoBrasil contra a França em sua disputa sobre as frontei-ras da então Gúana Francesa, o aumento do territóriobrasileiro foi superior a 70.000 km2.

O século XIX e o início do século XX foram mar-cados pelos últimos "ciclos", sem dúvida os que maiscontribuíram para modelar o território. O último e maiscurto foi o da borracha. A demanda mundial de pneu-máticos cresceu muito rapidamente com o desenvolvi-mento do automóvel, e para satisfazê-la instaurou-se to-do um sistema. No patamar superior estavam as casasde importação e exportação de Belém e Manaus, e noinferior os seringueiros. A maior parte vinha do Nor-deste, menos atraídos pela borracha do que expulsos pe-la terrível seca que devastou o sertão a partir de 1877.Mais de um milhão de nordestinos vieram, assim, insta-lar-se na Amazônia, e mútos ficaram após o desmoro-namento do sistema da borracha. Com esse episódio, co-meçou a primeira onda de migrações internas, prova deque a população brasileira tinha atingido sua massa crí-tica e já era, então, bastante numerosa para alimentarcorrentes internas, das regiões mais consolidadas paraas terras novas, sem depender totalmente da imigração.

A partir de 19i0 - quando a Amazônia produzia807o da borracha mundial -, as plantações inglesas e ho-landesas do sudeste da Ásia chegaram à maturidade, e asua produ@q mais regular e menos dispendiosa que o ex-tratiüsmo amazônico, submergiu e deprimiu o mercado

mundial. Durante esse curto peíodo, aAmazônia brasi-leira foi percorrida, ampliada, e os avanços pioneiros fo-ram oficializados pelos tratados com a maior parte dospaíses vizinhos, como o de 1903, que permitiu anexar oAcre. Foi também povoada: sua população passou de300.000 habitantes a 1.500.000 entre 18'72 e 1920. Priva-da dos recursos da borracha, entrou em letargia, da qualsaiu apenas no início dos anos de 1970 e, assim, pôdeacordar sob firme soberania brasileira.

Nesse mesmo período, a onda do café transformouo sul do País e assegurou a sua decolagem econômica.Introduzido no Brasil no século XVI[, o café desenvol-veu-se magnificamente. No momento em que a deman-da mundial para a nova bebida aumentava, o País podiaoferecer climas e solos bem adaptados às exigênciasdessa planta delicada, encontrando, assim, o novo recur-so que lhe faltava para reimpulsionar a economia. Essanova cultura podia, além disso, servir-se dos antigos sis-temas, aqueles da cana-de-açúcar, e inicialmente nãoprovocou nenhuma mudança de estrutura. As planta-

ções de café, originalmente próximas do Rio de Janeiro,estenderam-se progressivamente para Minas Gerais e,sobretudo pelo vale do Paraíba do Sul, para São Paulo.O café encontrou nos planaltos ocidentais sua teÍra pre-ferida, onde, sob florestas intactas, estendiam-se solosférteis, a famosa terra roxa,a terra avermelhada pela de-composição do basalto,

No entanto, o ciclo do café não constituiu uma ré-plica tardia e meridional do ciclo do açúcar. O sistemaescravista da plantação, dominado pela casa-grande, jáera, no século XIX, um anacronismo insuportável. Exter-namente, a Grã-Bretanha, por razões diversas, algumasnobres e outras nem tanto, liderava a campanha pelaabolição da escravatura e impunha a proibição ao tráft-co sobre todos os mares. Era também insuportável inter-namente, para as elites intelectuaiq cujo ponto de üsta,apoiado em considerações humanitárias e práticas, aca-bou influenciando a decisão do imperador. A queda doImpério seguiu-se à abolição da escravatura,proclamadaem 1888, e essa conjunção, não fortúta, marcou em todosos planos a entrada do Brasil em uma nova era.

A cultura do café foi inicialmente desorganizadapelo fim da escravidão, mas a resposta foi rapidamente

Atlas do Brasil

40

rncontrada: substituiu-se a mão-de-obra servil, pouco

çalificada e evidentemente pouco motivada, por umamão-de-obra assalariada ou sob contrato constituídacssencialmente de europeus, cuja imigração era orga-nizada e parcialmente custeada pelos fazendeiros e pe-b qoverno de São Paulo. Esse brusco fluxo de população

02-05. A economia e o território no século XIX

permitiu estender as plantações e, em pouco tempo, to-do o sistema se organizou em torno da ferrovia, quepermitia f.azer avançar a frente de desmatamento e ex-portar o café. Sobre os espigões dos planaltos ociden-tais montou-se uma rede que ligava as cidades regular-mente espaçadas.

de Janeiro

Flor ianópol is

@ Hf-2oo3 MGM Libeeéo

z:e: Baseado em Manoel Mauricio de AlbuqueÍque, Atlas Histórico

41

Gênese e malhas do território

02-06. Crescimento da população 1550-1870

Esse novo ciclo econômico alterou profunda-mente as estruturas do País. Como os ciclos preceden-tes, dominou de maneira quase exclusiva a economianacional, modelou uma nova região, e, posteriormente,

começou a declinar. Desta vez, porém, tinham sidointroduzidos novos fatores que permitiriam continuaro processo de desenvolvimento em outras bases, e aantiga região do café é hoje notável por muitas outras

População do Brasi l (mi lhóes de hâbi tantes)

0Datas{escala

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a. Roberto C Simonsen Histórìa Econômìca do Brasil l15OO/ 1820) - (1978);

Apresenta estimativas atribuídas a Contreiras Rodrigues, Thomas Ewbank e Adriano Balbt, p 271ib. PandiáCalógeras FormaçãoHìstór icadoBrasi l (1935),p 33 CitadoigualmenteporSimonsen

{fonte a, p 88) e Marcílio (fonte j, p 119);c. Celso Furlado Formaçáo Econômica do Brasìl 11959), p 93;d. Dauril Alden.ThePopulationof Brazil ìnLateEìghteenCentury-APreliminaryStudy (1963),tabelall

e p 194-195;e. Joaquim Norberto Souza e Silva lnvestigações Sobre o Becenseamento da Populaçáo Geral do lmpério e de

Cada Província de per si, tentados desde os tempos coloníais ate hoje (18701:

f. Giorgio lVortara. Sobre a utìlização do Censo Demográfìco para a ReconstruÇáo das Estatísticas do Movimentoda População do Brasil (19411, p 4:

g. Autor Anônim o Memória Estatística do lmpério do Brasìl i'1829l, Obra oÍerecida ao lVarquês de Caravelas.Revista Trimensal do lnstituto Histótico e Geográfico do Brcsì\. Tomo LVII4 Parte 1 (1985);

h. Francisco José Oliveira Vtana. Resumo Histórico dos lnquérìtos Censìtárìos Realizados no Brasil '1920lr:i. Conselheiro Antonio Rodrigues Velloso de Oliveira Á lgreja do Brasìl (18191, citado por Joaquim Norberto de Souza

e Silva (Íonte e, p 162-163)

Atlas do Brasil

42

i1 Anos 1890

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A"" . t ,

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d rr"n,"t pìoneiras e eixos de progressáo

.:ividades, que lhe asseguram uma supremacla esma-

:Jdora na economia brasileira.Dessa longa sucessão de ciclos, o País saiu profun-

:emente marcado em sua estrutura regional e em seu

,stilo de desenvolvimento.Vestígios dos ciclos são ainda

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@ HT2OO3 MGM-Lbetgéo "

Distrito Federal

Capl ta l de Estado

Zona de inÍluência dos principais focos econômicos

Centro de gravidade econômico

Espaço realmente integrado à economìa nacional

Grande eixo rodoviárÌo

Rota marítima ou Íluviaì

Pr ncipais correntes mlgraÌor las

02-07. Do arquipélago ao continente

bem üsíveis no arquipélago brasileiro, pois o desloca-

mento do centro de gravidade deixou atrás de si três ti-

pos de regiões. Aquelas que são apenas ruínas de ciclos

anteriores, as que puderam sobreviver ao seu fim e, por úl-

timo, aquelas em que se acumulam atividades dinâmicas,

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43

Gênese e malhas do territÓno

02-08. Gênese do território: um modelo

Foco econômico Capital econômica Capital polítìcaprincipal e sua zona de atração

Avanços pioneiros Rede de transporte

Entradas eSéculo O açúcar Salvodor Salvador Bandeiras Lisboa

Século O ouro Ouro PretoMato Grosso e Llsboê e

Rio de Janeiro 1763 Amazônia o caminho novo

Interior deSão Paulo Bio de Janeiro

Bio de JaneiÍo -Parané e Amazônia Sâo Paulo

Cidade de São Paulo BrasíIa 1960Brasíl ia-Beléme BíasÍlia-Acre Litoral e Brasíl ia

Século O caÍé

recursos e poder. Os desequilíbrios regionais, tão evi-dentes no Brasil, são, em grande parte, produtos dessahistória contrastada.

Mas, como já foi dito, a história do Brasil não setednz a esses ciclos. Outros fatores devem ser levadosem consideração. A ação deliberada dos governantese o dinamismo pioneiro dos pecuaristas, dos garim-peiros e dos aventureiros de todas as espécies lhe as-seguraram uma dimensão continental, onde as "ilhas"produzidas pelos ciclos econômicos eram ainda,

cinqüenta anos atrás, separadas por vastos espaçosvazios ou quase vazios. Permanece ainda espaço paranovas corridas, quando um novo recurso apareceraqui ou acolá, o que acontece freqüentemente. E apotência dos meios modernos de transporte e decomunicação reduz todos os dias o isolamento dasterras de ninguém.

A organização atual do espaço brasileiro incorpo-ra, por conseguinte, as heranças de sua história econô-mica, da gênese de sua economia, de sua sociedade, de

Atlas do Brasi l

44

de poder, ou seja, da construção de um. Como nos outros países latino-america-

prfudo colonial deixou como herança a econo-dc grandes propriedades exportadoras Qtlanta-

edesigualdade social. O funcionamento em ar-foi progressiyamente reduzido à medida

02-09. Evolução econômica

comando do centro. O peso da história certamente nãodesapareceur ocupadas e estruturadas em.função deatividades econômicas diversas, durante "ciclosl' distin-tos, as regiões brasileiras ainda estão organizadas embacias de exportação quase autônomas. As disparida-des que existem entre elas refletem ainda, em boa par-te, o maior ou menor sucesso de sua história econômica

PIB (US$ mi lhóes)

900

800

700

600

500

400

300

200

100

01951 1960

Variação anual do PIB (%)

3U

403020100

-10-20-30

Inf lação (%l10 000

1.000

100

10

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mo

Escala semilogarítmiü: os anos de deflaçáo náo são rèpresentados

1 999

N N @ O -

sf r O O (O O) N t4 Cg = Sl È C) O (o O, N 6 co r sf r O O @ @3EEõs33EEEE383333EEEEbbãEgEgBggTl7r- rF+-NE

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I

-v̂1\^

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totegração territorial foi sendo realizada sob o

45

Gênese e malhas do território

específica. Enquanto o Nordeste nunca pôde realmen-te livrar-se do declínio das plantações de cana-de-açúcar, o Sudeste beneficiou-se, após o ciclo do café,daessência do desenvolvimento industrial, o que mudouo ritmo da história econômica brasileira. Uma econo-mia nacional nova, cuja constituição alterou em pro-fundidade a sociedade e o território do Brasil, substi-tuiu os ciclos sucessivos.

As mutações do século XX

Comparando as situações do fim do século XIX edo fim do século XX, passando pelo meio do século XX(Figura 02-08), nota-se que em 1890 existiam apenas al-guns pólos econômicos isolados, centrados em cidadesnascidas durante os ciclos do açúcar, do ouro ou do ca-fé. O espaço econômico nacional organizava-se, de fato,em dois blocos separados, Nordeste e Sudeste, ligadosentre si apenas pela navegação de cabotagem. A princi-pal corrente migratória era, então, a do Nordeste, devas-tado pelas secas, para a Amazônia, que coúecia a forteexpansão da borracha. A embrionária frente pioneirado café percorria o vale do Paraíba do Sul.

Nos anos de 1940, o espaço econômico realmenteintegrado à nação já se tinha estendido sensivelmente. Aprincipal frente pioneira não se situava rnais na Amazô-nia, mas no oeste de São Paulo e no norte do Paraná,onde progredia rapidamente a cultura do café. O princi-pal fluxo migratório levava nordestinos para o Sudeste,alimentando um enonne crescimento urbano.

Nos anos de 1990 - e a situação é hoje essencial-mente a mesma -, o espaço econômico confunde-secom o território nacional, com exceção da alta Amazô-nia. Os fluxos migratórios são mais regionais que nacio-nais, mas estes persistem e são igualmente centrípetos -mantêm a corrente tradicional do Nordeste e do Sulpara o centro - e centrífugos - migrações do Sul para aAmazônia ocidental e do Nordeste para a Amazôniaoriental. Azona de influência do principal centro eco-nômico, São Paulo, e da capital nacional, Brasília, coin-cide com o território nacional, mas em alguns lugaresaté ultrapassa a fronteira, como no Paraguai oriental ouna Guiana.

Essa mutação territorial é resultado de uma ver-dadeira revolução demográfica e econômica, que alte-rou profundamente o Brasil, como mostram as curvasdo PIB (global e em variação anual) e da inflação (Fi-,gura 02-09). A tendência foi indiscutivelmente de cres-cimento contínuo e acelerado nas últimas décadas. Ospaíses industrializados tiveram os seus "trinta anosgloriosos" entre 1945 e 1973. O caso brasileiro pareceindicar que a "década perdida" e até a desastrosa pre-sidência de Fernando Collor de Mello não consegui-ram alterar a tendência secular de crescimento. Crisesperiódicas puderam alterar as curvas e até invertêJasprovisoriamente, mas a ascensão global foi forte, so-bretudo desde o início dos anos de 1970. A inflação é,contudo, uma presença familiar no panorama econô-mico brasileiro há muito tempo, e sua espetacular re-dução pelo Plano Real, de !994, foi uma verdadeira fa-çanha, mesmo considerando que ela voltou depois,num ritmo de quase 15olo por ano, e que outros paísesdo continente conheceram sucessos comparáveis.

Essas mutações demográficas e econômicas tive-ram a sua contrapartida territorial, mas um aspecto es-pecífico merece ser tratado à parte: a criação de unida-des administrativas e políticas - os Estados, que com-põem a federação brasileira, e os municípios, que são asunidades elementares das malhas territoriais.

Princípio de formaçãodas unidades administrativas

A formação das malhas políticas e administrativasbrasileiras fez-se obedecendo a três princípios: liberda-de, desigualdade e divisão, Liberdade em primeiro lugar- à exceção do ato fundador, pelo qual a Coroa portu-guesa parceÌou a sua nova colônia em capitanias heredi-tárias perpendiculares ao litoral, o princípio sempre foio de que novas unidades podiam formar-se, a pedidodos seus habitanteg quando atingissem uma populaçãomínima, respeitadas regras legais específicas. É assimque se formam hoje ainda os municípios, e criaram-sedezenas nos anos de 1990. É assim também que novosEstados formaram-se, ao longo dos séculos, em um pro-cesso que continuou até o fim do século XX: a criação

Atlas do Brasil

46

O2-1O. A formação dos Estados brasileiros

1821Amazonas

-q l i

1817

821

to Santo1 799

O Foco de povoamento original

+ Origem de Estado (desmembramento)

Formaçáo conjunta 0 500 km

@ HT-2003 MGM-Libergéo

er, Bl=- :-rano Estàtístico 2000

Tocantins

1979Mato Grosso

rdh ffif;amo Grosso do Sul, em 1979, e de Tocantins, em

ünffil. mrrerâm em resposta à demanda insistente de

wumhmbitantes que não se sentiam com quase nada emluomüum com. respectivamente, Mato Grosso e Goiás.tffimryun regionais querem, ainda hoje, novos Estados,rmCarajásno sul do Pará (cuja capital seria Marabá),

justificando-se com argumentos a respeito do crescr-mento da população local, da distância da capital pa-

raense, da divergência entre os interesses da "velha"região central e os dessas zonas pioneiras em pleno

crescimento. Todos esses são argumentos que servirampara justificar a criação dos Estados atuais.

47

Gênese e malhas do território

Tratado deTordesi lhas século XVI

tspanha ' Portugal

Século XVll

Capitaniasheredi tár ias

Século XVll Século XVll l

Grão-Pará e Maranhão

Recife

Salvador

Rio

Sul

PE

BA

ES

Século XIX

AIVI PA MA CE RN

Século XX

AM PA IV]A CE RNPBPEALSEBA

ES

RJ

PR

òL

FS

PBPEALSEBA

ES

RJ

PR

SC

RS

t"I --T-

N/lato Grosso

^^ |òr I

lvlato Grosso

02-11. A formação dos Estados brasi le i ros: um modelo

As novas unidades formam-se pelo desmembra-mento das antigas. Em geral, aformalização jurídica ra-tifica a formação de fato de uma nova unidade dentroda antiga: um novo núcleo de povoamento forma-senuma região até então vazia (ou ocupada apenas por

grupos indígenas), núcleo centrado numa pequenaaglomeração, onde se desenvolvem comércio, ativida-des urbanas, toda uma vida econômica e social local. Àmedida que esta se desenvolve, fica insuportável paraseus habitantes ir até a sede do município para afazeres

At las do Brasi l

48

02-12. A formação dos municípios

Tempo 1 Tempo 2

Tempo 3

administrativos, e, sobretudo, eles não suportam maisficar sem a representação política de seus interesses es-pecíficos. Iniciam o processo de criação de um municí-pio, seguem os procedimentos previstos pela lei e, ge-ralmente, conseguem, apesar das reservas dos seus (an-tigos) conterrâneos.

A desigualdade nasce das iterações desse pro-cesso de cissiparidade desigual: as novas unidadestêm, em geral, uma população menor do que as anti-gas (o que é lógico, já que nascem delas por cisão deum grupo periférico), mas não necessariamente umtamanho menor, porque é freqüente que sejam talha-das em territórios com pouca densidade populacionalaos quais a unidade-mãe não dá muita importância.As primeiras divisões determinam, por conseguinte,unidades de dimensão desigual, entre as quais a me-nos povoada é também a maior. Nas divisões seguin-tes, que afetam unidades já desiguais, aumenta a di-ferenciação entre os conjuntos densos, nos quais asdivisões fazem-se entre unidades pequenas e relati-vamente iguais, e os conjuntos pouco densamente

ocupados, onde se repetem novos processos de umadivisão desigual entre um núcleo constituído e perife-rias vazias. Existe uma nzoâyel correlação entre a di-mensão e a população dos municípios, porém essacorrelação não é perfeit a, jâ qae às pequenas popula-

ções podem corresponder pequenos municípios (nasregiões antigamente povoadas) ou grandes municí-pios novos nas zonas pioneiras.

O caso de Rondônia ilustra bem esse processode divisão rápida e desigual: enquanto o território fe-deral tinha apenas dois municípios em 1970, o novoEstado já contava com 52 deles em 1,997. A divisão foimais rápida na parte oriental, crttzada pela nova es-trada BR-364, do que na parte ocidental centrada novale do Guaporé. O fluxo contínuo de migrantes aolongo da estrada conduziu, após várias repetições doprocesso, a uma pulverização maior desse lado, e es-pecialmente na paÍte central, mais procurada pelosmigrantes. O desmembramento dos municípios anti-gos do lado ocidental só começou em 1993, com achegada das estradas de penetração pa:a o vale. Asdivisões começaram pelo sul, que é, por conseguinte,mais fragmentado que o norte.

A resultante desse processo - que já dura cincoséculos e ainda não está completo - é, portanto, umagrande desigualdade entre as unidades administrativase políticas. Contrariamente à organização das capita-nias hereditárias, perpendiculares ao litoral, a divisãoconduz a uma organização grosso modo paralela ao li-toral. Como o avanço migratório principal deu-se doleste para o oeste, do litoral para o interior, as unida-des mais próximas do litoral são obviamente menoresque aquelas talhadas - em geral mais tarde - no inte-rior. Esse fato é muito visível sobre o mapa administra-tivo, não só para os municípios, como também para osEstados. O Quadro 02-01 mostra as disparidades exis-tentes entre ambos os níveis e a relação entre o maiore o menor Estado, que vai de L aL46, para as popula-

ções, e de I a267, paÍa as superfícies. As densidadesmédias diminuem, também, com forte diminuição parao oeste e para o norte.

O que é verdadeiro no primeiro nível, o dos Es-tados, repete-se com os municípios. O Quadro 02-02

49

Gênese e malhas do território

São Paulo

M nas Gerais

Rio de Jane ro

Bahra

Rio Grande do Sul

Pa ra ná

Pernambuco

Ceará

Pará

Maranhão

Santa Caïar ina

Goiás

Paraíba

Fqnir i ïô qân+Õ

Piauí

Amazonas

Alagoas

Rro Grande do Norte

Mato Grosso

Mato Grosso do Su

Distr i Ìo Federa

Serg pe

Rondônia

Tocant ins

Acre

Amapá

Rorarma

248 830 148,56

588 417 30,31

43 91 5 371,16

567.314 23,03

269 181 37,82

199 722 41,86

98 948 79,95

146 361 50,68

1 253 169 4,94

333 373 16,91

95 450 55,88

341 308 14,63

56 593 60,73

46 188 66,97

252 317 11 ,26

1577.824 1,80

21931 100,87

53 313 51 ,91

mostra que nas três regiões orientais, as de ocupaçãomais antiga (Nordeste, Sudeste e Sul), os municípiostêm dimensão média muito menor que no Centro-Oeste e no Norte. Os extremos opostos são atingidosno imenso Estado amazônico do Amazonas e no pe-queno Estado nordestino de Alagoas, cujas dimen-sões médias dos municípios estão na proporção de1 para 87.

As disparidades globais são, portanto, enormes(Quadro 02-03): entre o menor município brasileiro,Aguas de São Pedro (Estado de São Paulo,4 km2), e omaior. Altamira (Estado do Pará, 16I.446 km2), a rela-

ção é de mais de 1 para 40.000. Quatro municípios,

Brasi Ì

Nort-ô

(Amazonas)

N ordeste

Sudeste

Sul

Centro-Oeste

Sáo Gabrieì da Cachoeira

Orix iminá

Aguas de Sáo Pedro

Madre de Deus

São Caetano do Sul

Jand i ra

São Paulo

Bahia

Sao Paulo

São Paulo

161 438123 102109 669108 099

411'16

1-7

todos situados na Amazônia, excedem os 100.000 km2(quase equivalente à superfície da França metropoli-tana). Adicionando as superfícies dos dez primeiros(de mais de 5.000 no total), chega-se a 10% do terri-tório nacional, tanto quanto representam juntos os3.040 menores.

Os municípios brasileiros estendem-se sobre umterritório imenso. e se os menores são mais ou menosequivalentes aos europeus, centrados numa antiga paró-quia, encontram-se, no outro extremo, territórios da di-mensão de países do velho continente. Estes incluem,freqüentemente, além das últimas zonas povoadas, mi-lhares de quilômetros quadÍados de florestas ocupadasapenas por grupos indígenas, entre os quais alguns ain-da não contatados pela Funai.

Novos municípios têm sido criados ao longo detoda a história, mas em ritmo variável, e alguns episó-dios importantes se destacam na curva da Figura 02-14,

36 966 52717835 488t4 óo / .113

13 066 76410 179,801I 558 1267.910 9927.411.402

6 188 6855 638 3815 333 2844 994 8913 436 7183 093 1712 840 5692 840 8892 817.9032 170 1302 498 1502.075 2152 043 1691.719 5221317.7921.155 251

557.337475.843324J52

1 88012 1A524 993

1 020285Õ42

6454 245

906,817358 1 61

5 82222 050

238 51527A 4231 53.152143.455225 111

2,7567q

350,9480,70

4,153,64

1,44

Atlas do Brasi l

50

I

02-13. Evolução da malha municipal de Rondônia

,omno se a cada período forte da vida política corres-gmdesse uma onda de criação de municípios: foi ortr!.D na proclamação da Independência (1822), na

lpta.-lamação da República (1889) e no restabeleci-mto da democracia após a queda do regime autori-mimilo do Estado Novo (1945). Mas, se esse período derqgime democrático foi rico em emancipações, não foi

o caso do regime militar (1964-1985), quando poucosmunicípios foram criados, embora dezenas de milha-res de quilômetros quadrados de terras novas tives-sem sido então conquistados, especialmente na Ama-zônia. Com a volta ao poder dos civis, o impulso de in-dependência tomou novo vigor. Fortalecido pelasfrustrações acumuladas e pela Constituiçao de 1988,

1980 a7 municípios I

(-u

198515 municÍpios

1997-200052 municípios

- Malha municipal,"-==: Malha municipal anterior

\ Desmembramentos

@ HT-2003 MGM-Lìbergéo

51

Gênese e malhas do território

Número de novos municíoios{média móvel de c inco anos)

Porcentagemacumulada

500

400

300

200

100

0

100

80

60

40

20

0

2 000

1,800

1 600

1 400

1 200

1.000

800

600

400

200

0

Número de municípios ( total)

Ce n t ro- Oeste

O2-14. Emancipação de municípios

que facilitou a emancipação de novas comunidades, acurva tomou, nos anos de 1990, uma forma exponencial.

Considerando, além da curva que exprime a pas-sagem do tempo, sua representação em um mapa,que toma como referencial a data de criação do mu-nicípio (Figura 02-15), constata-se que, se a criação

de municípios tem história, tem tambémsua geografia.

Os municípios que nasceram duranteo longo período colonial (as primeiraiemancipações datam dos anos de 1530)são em geral situados perto do litoral, on-de desembarcavam os colonos, mas algunsnúcleos antigos de povoamento são visí-veis no interior, nos Estados de Minas Ge-rais e Goiás ou na Amazônia (Tefé, Obi-dos, Cametá). Neste último caso, a precoci-dade da criação municipal é notável, por-que a Coroa não dava facilmente o títulode vila ou de cidade. Essa cautela, causadapelo medo de perder o poder em proveitode elites locais nem sempre dóceis, não erasem fundamento, já que os novos municí-pios eram protegidos das interferências deLisboa pelas inúmeras semanas de nave-gação difícil necessárias a qualquer cor-respondência. Os prazos para enviar umpedido de informação e para esperar a res-posta contavam-se em meses, para não fa-lar das ordens, que não se sabia se seriamexecutadas.

Os períodos do Império (1822-1889),da República Velha (1889-1930) e do gover-no Getúlio Vargas (1930-1945) viram todo oterritório do País marcado por novas cria-

ções, incluindo o Norte, o Centro-Oeste e oNordeste, onde o controle do município eraum dos principais fundamentos do poderdos coronéis. O período democrático que seestendeu entre o fim da Segunda GuerraMundial e o golpe de 1964 é notável pelo nú-mero de criações, mas não por sua distribui-Ção, havendo continuidade de fracionamen-

to em unidades novas no País inteiro. Para o período doregime militar instalado em1964, a situação é oposta:poucas emancipações, mas de localização não aleatória,praticamente nenhuma na alta Amazônia nem nos Esta-dos do Ceará, da Bahia e de Minas Gerais fiá bem estru-turados); em contrapartida, houve algumas no interior

Atlas do Brasi l

52

I

25 13Vo

3;"-= de instalação do município*

02-15. Data de instalação dos municípios

0 500 km

@ HT2003 MGM-Libqgéo

- : ìê^, ih l i^â

:=: -e mi l i tar

l : 'nocracia=+: - : :a Velha e

i . : :do Novo

Império

>=- : :o colonial

2000r ''nn,I .,nrur

'nuoE rnouE .,rrnZ,r ,ffi- 1530 'Náo sendo conhecida a data,

ut i l izou-se a de fundaçáo

.@ \:r:-sÌe. do Sul e de São Paulo, e muitas no arco

iltrltr i L :: Rondônia ao Maranhão, onde começava en-

úürül i :,r:gredir uma frente pioneira de grande amplitu-ru. çt-i=ia pela construção das estradas que cruzavam,l l"UU:.-' ia.

Essa concentração foi consideravelmente reforça-da desde a volta da democracia e é nesse conjunto, co-

nhecido como "meialua" ou "arco do desmatatamen-to", que foi criado o maior número de unidades, e em que

se afetaram as maiores superfícies. Note, contudo, que

53

Gênese e malhas do território

os novos municípios situam-se mais a norte e a oesteque os da geração anterior, traduzindo a progressão da

frente pioneira que atinge a alta Amazônia. A instalação

de municípios nessas regiões, até então geridas pelo go-

verno federal (que instalou aí muitas reservas indígenas

e parques naturais), não deixa de provocar conflitos.Nem todas as implantações novas se tornaram,

contudo, municípios. Algumas continuaram sendo vilas,

subordinadas à sede. Estarão todas destinadas a eman-

cipar-se? Algumas, certamente, são os germes de futuros

municípios, especialmente nas regiões pioneiras. Mas

nas regiões já consolidadas a emancipação é pouco pro-

vável, mesmo em um contexto que facilita a criação de

unidades. Cabe aqui observar que a distribuição dessas

novas unidades não é homogênea: são mais numerosas

nas regiões densamente povoadas do litoral do que no

interior, e nessas regiões litorâneas aparecem concen-

trações em certos Estados, particularmente o Ceaú.

Toponímia

Um dos atos de maior importância e mais carrega-

do de símbolos na criação de um município é dar-lhe um

nome, e o estudo da toponímia (neste caso, a análise da

freqüências das palavras na lista dos municípios) revela

muito sobre a sociedade brasileira.

Os topônimos mais freqüentes são aqueles rela-

cionados com a religião e, em especial, os que se re-

ferem aos santos - nada surpreendente num país de

tradição católica. Computadas separadamente, as

519 Rel ig ião

Fo/a

i87 OuaÌf icat ìvos

69 Nomes

109 Pontos cardeais 204

67 Estado

2l Tí Ìu losFonte: Lista de nomes dos municíp os, topônimos com mais de dez ocorrénc as

Sem os determÌnantes (do, da, de)

palavras "São", "Santo" e "Santa" possuem a maior

freqüência, que pode ser explicada pela prática usual

dos primeiros ocupantes europeus de dar à nova loca-

lidade o nome do santo festejado no dia de sua funda-

ção. Registram-se mais santos do que santas, e a dis-

tribuição global no território é, em geral, similar à dapopulação. Entre os nomes que seguem a marca de

santidade (ou que são associados a patronímicos), omais freqüente é José, seguido de João, Antônio e

Francisco. Sua distribuição espacial não apresenta ne-nhum padrão notável, exceto a concentração do no-

me Sebastião nos arredores do Rio de Janeiro. cidade

da qual é santo padroeiro. Acrescentando aos santos

os outros indicadores da religião (a crluz, o Paraíso,

Maria, Jesus e Deus), esse grupo é de longe o mais nu-meroso, presente 800 vezes sobre as 3.935 ocorrências

recenseadas.

Sáo, Santa / Santo

Rio

Nova / Novo

José

Sul

Piauí

Presidente

800

590

495413

29385

Cruz 41 . loão 68 Campo/os 59 Bom / t

Maria/Senhora 35 AntônÌo 49 Serra 45 Grande

Santana 35 Francìsco 37 Barra 39 Al ta/o

ConceÌcão 24 Pedro 36 PorÌo 38 Alegre

. lesus 24 Migue 27 Lagoa 37 Vista

45 Goiás 40 Senador

2 TocantÌns 38 Dom,

Paul ista 27 Governador

Maranháo 27

5652Á1

33

18

17

Bento 16 Sebast ião 23 Monte 37 Verde

ia-a s: T5 Agua

iv l ss:es 12 Ouro

Pará '16

Pa ulo 13

Atlas do Brasi l

54

O grupo seguinte refere-se ao meio natural, o que

ôiiHualmente bastante compreensível: no momento de

uiil[m nome a um povoamento fundado nluma zona aÍé

odiilo deserta, é normal referir-se aos únicos elementos

ilüú$Eis naquele momento (campos, rio, lagoa, monte

eücl- A toponímia pode também se referir às riquezas

02-16. As vilas

recém-descobertas (em especial o ouro e os diaman-

tes) e que permitem grandes esperanças para a futurapovoaçao.

Os adjetivos qualificativos são outra fonte de ins-piração na hora do batismo. Deixando de lado, momen-

taneamente, os "ÍÌovos", constata-se que a dominante é

55

Gênese e malhas do territórìo

02-17. Epônimos otimista: bom (ou boa), grande, alto,ïeliz e até gostoso (São Miguel doGostoso, RN), o que é também bas-tante natural no momento de criaruma nova localidade. Entre as cores,o verde é a mais popular (24 ocorrên-cias), geralmente em referência à ve-getação,seguido pelo branco e o pre-to (16 e L4), relativos em geral à corde um rio ou do minério de ouroícomo em Ouro Preto).

Outro grupo merece uma aten-

ção específica, o dos pontos cardeais,que constam freqüentemente no no-me do município (204 vezes). Essesnão são igualmente freqüentes, pois osul é citado 109 vezes. o oeste e o nor-te, respectivamente,50 e 45 vezes, en-quanto o leste tem apenas duas men-

ções. Tal assimetria pode ser explica-da, porque se o leste não tem ne-nhum prestígio específico, o oeste é adireção do avanço pioneiro. O topô-nimo "do Oeste" é, às vezes, uma al-ternativa a "ÍÌovo" e constitui bom in-dicador das zonas pioneiras, seja nooeste do Paraná e de Santa Catarina,conquistados na primeira metade sé-culo XX, seja em Mato Grosso eRondônia, conquistados na segundametade do século.

O norte e o sul podem ter senti-do diferente. Localizando as ocorrên-cias no mapa, percebe-se que a refe-rência é freqüente no País inteiro. Afreqüente menção do sul é a marcados imigrantes dessa região, muitoorgulhosos de seu particularismo.Mas a menção pode também se refe-rir à posição dentro do Estado (de mo-do que pontos cardeais opostos po-dem coabitar, ou mesmo cruzar-se - osul de um Estado sendo o norte do

Santas e santosO Sáo (363)

a Santa (194)

Santo (71 )

NomesJosé (69)

O Miguel (27)

O Sebastião (23)

Atlas do Brasi l

56

seguinte). A referência a um município vizi-tem conseqüências estranhas, como "São José do

- no extremo sul do Rio Grande do Sul, "Coli-do Sul" no norte do Goiás ou mesmo "União do

02-18. Pontos cardeais e identidades

de gaúchos que desejam manter os laços com sua ter-ra natal).

A menção do nome do Estado é geralmente redun-dante ("de Minas" em Minas Gerais, "de Goiás" emGoiás, para citar apenas os Estados mais preocupadosütr-no norte do Mato Grosso (trata-se provavelmente

Gênese e malhas do território

5V

Oantigoeonovo

I Nome de origem

I Novo ou Nova

-Ìvtaiinoa Lonüg..:

a o'

0___ jEk-A HÍ2003 MGM-Lìbergéa

o*2.Êì

o; oo

Data de cr iaçáo

1 997r_I 9AU

tr ' ,nuo1 889

- 1730 0 500 km

@ HT2003 MGM Libergéo

02-19. Os "novos" municípios em marcar sua identidade). Ela pode

também servir para distinguir-se doEstado do qual sefeza secessão (co-

mo no caso do Tocantins, separadoem 1988 de Goiás) ou pode ser umindicador da origem dos migrantes, oque provavelmente explica por que

há um município adjetivado por um"Paulista" no Nordeste.

Uma última categoria de topô-nimos, a dos precedidos de "novo" ou"nova", merece especial atenção, por

seu número (187 municípios) e por-que indica uma dinâmica espacial.

Deixem-se de reserva os que se rela-cionam a uma referência religiosa("Nova Jerusalém" ou "Nova Alian-

ça") para focahzar os que unem a no-va criação a um lugar já existente. Es-se pode ser uma cidade européia, ehá no Brasil uma "Nova York", uma"Nova Orléans", uma "Nova Fribur-go' (Rio Grande do Sul), uma "Nova

Ye\eza" (Santa Catarina) e uma"Nova Odessa" (São Paulo). Reco-nhecem-se nessas escolhas, algumasvezes, as origens dos imigrantes, masa "Nova Iorque" do Maranhão é semdúvida mais inspirada pelo prestígio

do homônimo do norte que pela ori-gem dos seus habitantes.

Mais interessante ainda são ostopônimos que se referem a outromunicípio brasileiro. porque são umaindicação dos movimentos migrató-rios que conduziram às criações de"réplicas" de comunidades antigasnas frentes pioneiras, fundadas por

migrantes que mantinham boas rela-

ções com o seu ponto de partida e so-friam uma saudade suficiente da ori-gem para querer referir-se a ela como nome da povoação-filha.

At las do Brasi ì

58

C-onstruindo um mapa desses pares "Xnovo(a) X"corÍentes bem distintas, que refletem efetiva-

os eixos de progressão pioneira que marcaram odo Nordeste para a Amazônia oriental, do Sul pa-C.entro-Oeste e aAmazônia ocidentat Olinda (Per-

) tem "fi1h45" no Maranhão e no norte do To-espaço de conquista dos nordestinos, e mesmo

Amazonas. Maringá e Londrina (esta assim nomea-cn referência a Londres, porque foi criada poÍ Ìmatulade britânica de loteamento), fundados na pri-

metade século XX na frente pioneira do café, nodo Paraná, já têm as suas contrapartes mais aoe mais ao oeste. no Paraná e em Mato Grosso. Mu-

do Oeste paulista, fundados nos anos de 1930,

reproduzem-se sobre a trajetória das frentes pioneiras:Andradina tem sua Nova Andradina no Mato Grossodo Sul, Olímpia há duas, uma no norte do Paraná, outraem Mato Grosso.

O mapa da data de criação desses "novos" muni-cípios confirma aidéia de "onda", de gerações suces-sivas de fundação: raros à época colonial, fazem-semais numerosos na República Velha e vêm se multi-plicando desde os anos de 1980, por separação de co-munidades antigas na Bahia e Rio Grande do Sul e,sobretudo, no arco pioneiro que se estende de MatoGrosso ao Maranhão, onde as emancipações expandi-ram-se com a chegada maciça de migrantes vindos doNordeste e do Sul.

59

Gênese e malhas do território

CAPÍTULO 3

O MEIO AMBIEI\TEE SIJA CESTAO

or que um capítulo sobre o meio ambiente em umatlas que se esforça por integrar, tanto quantopossível, fatos da sociedade e da nalntreza? Anti-

gamente teria sido normal consagrar um capítulo aomeio natural (distinguindo relevo, geologia, hidrografia,clima, vegetação), considerado - na melhor das hipóte-ses - como um conjunto de recursos oferecidos à valori-zação econômica. Hoje, a abordagem mudou, porque otema dos recursos naturais e de sua gestão foi reconsi-derado e tem sido objeto de muitos debates.

A problemática global do meio ambiente tomouuma importância crescente ao longo de todo o séculoXX, devido à exploração freqüentemente excessiva dosrecursos disponíveis, à evidente degradação de algunsdeles, à poluição causada tanto pelos desperdícios comopelo consumo crescente induzido pelos modelos das so-ciedades industrializadas.

Ao lado de pesquisas sobre os componentes doambiente e debates sobre problemas planetários (aque-cimento global e efeito estufa, buraco na camada deozônio, perda de biodiversidade, transporte de resíduosperigosos, poluição transfronteiriça etc.), as questõesambientais começaram a ser tema de negociações inter-nacionais, elemento da Nova Ordem Internacional e depressões geopolíticas e causa defendida com paixãomundialmente. Os países em desenvolvimento integra-ram essas questões a suas políticas internacionais, vincu-lando não só os problemas ambientais à luta contra apobreza como também a exploração excessiva dos re-cursos naturais às trocas desiguais do comércio mundial.O Brasil foi incluído involuntariamente nesse debate.

primeiro porque foi apontado como um dos países cau-sadores dos problemas ambientais planetários (devidoàs emissões de gases, ao efeito de estufa e à perda debiodiversidade causada pelo desflorestamento e pelosincêndios florestais), em seguida graças a uma ativaofensiva diplomática planetária, lançada para mitigaros efeitos dessa'imagem negativa. Contudo, graves pro-cessos de degradação do meio ambiente continuamocorrendo no Brasil: o empobrecimento da fauna e daflora; a erosão dos solos ligados a um modelo agrícolaintensivo que pratica monoculturas em ecossistemasfrágeis; a expansão das infra-estruturas de transporte edas cidades, que consomem vastas superfícies de vege-tação,até então preservadas, e perturbam os escoamen-tos hidrográficos; a poluição industrial; a escassez dasinstalações de tratamento das águas residuais; e a cria-ção de microclimas artificiais nas aglomerações urba-nas ou ao redor dos reservatórios das barragens.Todosesses fenômenos constituem impactos negativos e sãofrutos de um crescimento freqüentemente desordenadoque entra em conflito com as políticas de proteção aomeio ambiente,

No entanto, apesar dessa constatação, observa-sehoje que grupos ambientalistas pedem mais estudos arespeito dos grandes projetos mais nocivos ao ambiente(que eram levados a efeito sem contestação sob o regi-me militar), a fim de conhecer os efeitos potenciais so-bre a natureza e as populações locais, e conseguem blo-queáJos eficazmente, obtendo muitas vezes sua refor-mulação, A partir de 1956, com a criação da Associaçãode Defesa da Flora e da Fauna (Adeflora) por Paulo

Atlas do Brasi l

60

\osueira Neto, com o fim de proteger os últimos resquí-;os florestais da região do Pontal do ParanapanemaEstado de São Paulo), e a partir de 1958, com a criação

:e Fundação Brasileira para a Conservação da Nature-r: (FBCN), esses problemas começaram a mobilizar arrciedade brasileira, principalmente contra a ação - our inação - do Estado. Mas foi apenas a partir dos anoss 1970, com o fim dos anos de chumbo e com a reduçãoia censura e da repressão, que as denúncias, as críticas eu. pressões feitas pelos grupos sociais organizados pro-

duziram certo efeito. Primeiro institucionalizou-se oçctor ambiental, com a críação da Secretaria Especial do\Íeio Ambiente (SEMA), em 1973, confiada precisa-vente a Paulo Nogueira Neto, e criaram-se mecanismos'crídicos e financeiros de proteção ao ambiente. Essas

rolíticas intensificaram-se após as grandes conferências;r Estocolmo (1972) e - mais ainda - do Rio de Janeiro'-992).O Brasil dispõe hoje de uma das legislações mais

ur-ançadas do mundo, e o País foi capaz de passar dasdenúncias mútuas às parcerias. O discurso oficial, por

nnseguinte, alterou-se, ainda que se possa dizer que

loÈnas os interesses políticos e econômicos integraram-.r..talmente, para além da retórica, as práticas do desen-woìrimento sustentável.

Para medir os progressos feitos - e os que per-

manecem por fazer - é necessário considerar a imen-sdão do país, o peso de suas estruturas, a diversidadelrr S€us ecossistemas. Somente a partir da observa-

+Lì desses aspectos os poderes públicos e a sociedade:rJem abordar a valorizaçã.o dos recursos naturais.l.eua. energia, minérios) e a ponderação dos proble-

r.i. ambientais.

As estruturas essenciaisdos ecossistemas brasileiros

Da dimensão continental do Brasil decorre a diver-qrÈ,le dos ecossistemas. Em um país que se estende doïrr:È do equador ao sul do trópico de Capricórnio e doj':: :.-ì -le meridiano a oeste de Greenwich, encontram-= :-sÌcmas climáticos. domínios geomorfológicos, forma-:-c vesetais e Daisagens fortemente diferenciadas.

Estes elementos integrados em grandes domíniosmorfoclimáticos, como demonstrou Aziz Ab'Saber, sãodesigualmente transformados pelos processos de ocu-pação e formação do território, dos quais decorremproblemas de degradação do ambiente, estes mesmosmarcados pelos contextos culturais de cada época, indoda destruição sem culpa à atual tomada de consciênciaecológica.

Definir esse imenso espaço por suas coordenadasgeográficas, precisas mas abstratas, não assegura umaidéia exata da dimensão do país. O único meio real pa-ra garantir a noção de sua amplitude correta é percorrê-lo e medir as distâncias em tempos de transporte. Na fal-ta disso, pode-se ter como artifício e recurso o mapea-mento de algumas das distâncias de cidade a cidade, es-tabelecidas pelo Departamento Nacional de Estradas deRodagem (DNER, recentemente substituído pelo De-partamento Nacional de Infra-estrutura de Transpor-tes - DNIT). Calculadas de centro a centro, pelas estra-das asfaltadas (Figura 03-01), essas distâncias contam-seem milhares de quilômetros, e chegar a determinadacidade pode levar de horas a dias de estrada.

A imensidão do território é acentuada para o via-jante pelo fato de ele ter à frente, geralmente, planíciese planaltos, às vezes dominados por relevos tabulares.Essa topografia deriva da estrutura geológica do País,formada essencialmente de antigos escudos (escudoBrasileiro, escudo das Guianas, escudo Uruguaio-Sul-Riograndense) e de coberturas sedimentares ou vulcâ-nicas. Entre estas últimas, o basalto do sul do país (SãoPaulo e Paranâ) teve grande importância na históriaagrária, pois de sua decomposição resultam, sob climatropical, solos férteis de terra roxa, que contribuírampara o sucesso da frente pioneira do café. A Figura 03-02mostra a relação entre essas estruturas e as altitudes,claramente mais elevadas no quadrante sudeste, onde sesituam dois dos três pontos culminantes do país, o picoda Bandeira,2.987 metros, e o pico das Agulhas Negras,2.890 metros (o terceiro, monte Roraima,3.200 m, situa-se em outra extremidade, na fronteira entre o Brasil e aVenezuela). Esse planalto central, distante de ser unifor-me, é marcado por uma série de cadeias montanhosas,escarpadas e reversas, e de chapadas (relevos tabulares),

61

O meio ambiente e sua ctestão

03-01. Distâncias de quatro algarismos

como por exemplo a serra do Espinhaço ou a serra daCanastra, em Minas Gerais. Termina, do lado oriental,pelos únicos relevos notáveis, a serra do Mar e a serra daMantiqueira, que bloquearam por muito tempo o avan-

ço dos portugueses que chegavam pelo litoral Atlântico.Outras cadeias dominam os planaltos, como a chapada

Diamantina, no Nordeste, ou a chapada dos Parecis. em

Mato Grosso. Elas tiveram importância limitada na va-

lorização do espaço, exceto quando nelas se encontra-

vam jazidas de pedras preciosas e estão. ainda hoje. en-

tre as regiões menos povoadas do País Essa apresenta-

ção é bem simplificada na Figura 03{3. que ressalta o

Distâncias de centro a centro(opçáo mais curta por estradasasfaltadas, em quilômetros)

<(-g Brasília

.($ Pelotas

€ Rio Branco

<É.ê Recife

Eorte: Dêpartareiro Nac oral de Estradas de Rodagem (DNER), AP/Divisão de Plane/amenÌo

0 l : , : , -

Atlas do Brasi l

62

rìi'rr : São Francisco, na Bahia, e dá

-Tì , -:.; da complexidade das estruturas,- ,,:: i i Ìhos escudos, mil vezes altera-. " -,: i . 'ados por falhas, balanços e in-r-,- tr: rì lcânicas.

:... essas as principais l inhas de es-.l

-:: que constituem divisores naturais

; - '.- ias hidrográficas Amazônica, do," --:!Ìe. do São Francisco, do Paraná,

r' -:-{uâi e as l itorâneas de Leste, Su-t- . . : Sul .

,t cl ichê "país tropical" pode resul-.n :. domínio desse clima sobre o País,

-jr . : larcado peÌas alternâncias de pe-" : r \ecos e úmidos do que pelas qua-

: :.:acões l igadas à rotação da Terra: f,l ,, rflo do Sol. Mas não é o único cli-::- :,-. País, e a variedade é grande entre:--:-t.rriâl úmido amazônico e o sub-:--:.rado do sul, passando pelo semi-.,-:- do nordeste. As tipologias maisÌ:: reconhecidas constroem-se como-:: ::andes tipos de precipitação anual,

rr: ;ependem da dinâmica das massas

.r: :- que se deslocam sobre o continen-Li : - lobre o oceano, e das quais as con--.:-=ts e os progressos são responsáveis

rtr :ì rariações climáticas (Figura 03-04).

-- - ':ssa Equatorial continental - mEc,

-:-.,:rda na Amazônia ocidental, é a

- -: :\erce ação mais significativa sobre:--ra do País, mas três outras massas

-,: ::. de origem marítima, têm igual---:::: a sua influência e contribuem pa--. . iormação dos subtipos climáticos.

- -.. delas são quentes e úmidas - as

r,,,...s de ar Equatorial atlântica e Tio-- - - .1:-+:^^- - : . : l lâf l l lCâ - , enqUantO a tefcel fa, a

r:... Polar atlântica, é fria. Esta últ ima:- :rande importância na região Sul e

: . :-. ÌrLì inverno, atingir a região ama-' :,:; causando o espetacular fenôme-- : . ' i r iasem".

03-02. Al t i tudes e geologia

-d^ Ào ô.. -ddd

^ã da Bandeira

Alt i tude

Ëffi Primárra

Secu ndá rra

f-l Terciária

Ouaternár ia

Rochas vulcânicasBasa to

_;L i rgneas ac oas

Lineamentos.--. " Cuestas "

- Fossa tectônica0 500 km

@ HT2003 MGM Lìbergéo

63

O meìo ambiente e sua qestão

03-03. Esquemado crato do São

estruturalFrancisco

Os contrastes climáticos. contudo. são marcadosmais pelas precipitações do que pelas temperaturas, eformam um conjunto de subtipos cujo leque vai dos ex-tremamente úmidos (sem nenhuma estação seca) ao se-mi-árido (em que onze meses do ano são secos). Grossomodo,a distribuição desses subtipos climáticos pode sercaractelzada como se segue:o Os climas superúmidos situam-se em dois conjuntos

territoriais bem diferentes. De um lado, no extremonorte do País, com máximas na fronteira da GuianaFrancesa e na "cabeça de cachorro", a noroeste doAmazonas, e de outro lado no Sul, sobre as elevadasterras do interior do Paraná, em Santa Catarina e noRio Grande do Sul.

. Os climas secos abrangem situações diferentes. Para-doxalmente, o Pantanal, a maior região de pântanos

no mundo, deve suas extensões an-fíbias mais à topografia plana e aoscontributos de água das regiões vi-zinhas do que a suas precipitações.A região mais seca, centrada no.oeste de São Paulo, não chama aatenção, contrariamente ao polígo-no das secas do Nordeste. De fato,este último é mais vasto, sua aridezmais marcada, e suas secas periódi-cas tiveram, aliadas a um fundo desubdesenvolvimento crônico, efei-tos desastrosos.

. Os climas úmidos ocupam o restodo País, grande parte da Amazônia,o Sudeste e Centro-Oeste. com. na-turalmente, matizes sensíveis entreos subtipos. A agricultura pluvialpode ser praticada em todas assub-regiões, sendo que as limita-

ções dos solos, a acessibilidade e osrecursos financeiros mostram-semuito importantes e podem expli-car as diferenças de prosperidadeentre os agricultores desse imensoconjunto.

As particularidades da região seca aparecemigualmente nos mapas de insolação e evaporação (Fi-gura 03-05). Nessas áreas, há uma vantagem para muitasatividades, como o turismo (ao contrário da Amazônia,onde os turistas devem suportar, freqüentemente, alémdo calor úmido, céus encobertos) e perspectivas para odesenvolvimento da energia solar. Mas o clima é tam-bém responsável pela evaporação, que tem o seu má-ximo na região mais seca, e desfavorece a irrigação ea hidroeletricidade: o lago de retenção da barragemde Sobradinho perde quase 200 m3/s apenas pela evapo-ração. O potencial eólico é máximo no Nordeste e apre-senta vantagens, tanto para a energia (é nessa regiãoque são desenvolvidas as experiências de geração elétri-ca auxiliada por dínamos aéreos) como para o turismocosteiro (surfe, vela e windsurfe).

Cintura de Jacobina i-.--..

-

Bloco de Serinha>/' ì39'

- ,u; PlúÌon sienítico de lt iúba

Lascamento de Mairi- / Cintura SalvadoFCuraçá

Lrneamento Plúton sienÍ{icode SantanáoolisContendas-Jacobina

Faixa de ltabeÍaba

l - . , Farxa de\- , Porto Alegre

Salvador

100 km

@ P S-JCC-2 003 M G M-Li bergéoFonte: PSabaté & JC Cunha,1998

Atlas do Brasi l

64

03-04. Climas

Como o fator principal de diferenciação é muitasvezes a vegetação (Figura 03-06), ela serve de,refe-rência, tanto quanto o mapa dos ecossistemas, parafundamentar a análise dos grandes conjuntos naturaisdo País.

o O ecossistema amazônico é constituído principal-mente pela floresta equatorial amazônica e pela flo-resta tropical, com pequenas extensões de cerradosem Roraima e Amapá, sendo que neste último Esta-do se encontra uma zona costeira de mangues e praias

65

O meio ambiente e sua gestão

03-05. O Sol, a água e o vento

lnsolação(horas/ano)

E rzoo

Evaporação(mm/ano)

Fonte: ANEEL Árbs da Energí Ete?:a.2W2

a.uuu -àp,ü,;E

2.0001.5001.000

600 60 =iÌ

E um dos ecossistemas brasileiros mais conhecidosmundialmente, devido às ameaças decorrentes dosgrandes desmatamentos e do risco de perda de biodi_versidade. Outros interesses d"conem das perspecti_vas de remuneração dos serviços ambientais e de re_cursos para as indústrias de biotecnologia, domíniosnos quais a investigação e os mecanismãs jurídicos efinanceiros são ainda embrionários

o Os ecossistemas dos cerrados e do meio_norte sãobasicamente formados pelos cerrados e cerradões,este com matas mais densas e altas, e estendem_senum eixo longitudinal nordeste_sudoeste, cobrindo oMato Grosso do Sul (menos o funtunui;, o suf O,Mato Grosso, o oeste de Minas Gerais, náiiu, Coia,e Tocantins, acompanhando a fronteira entre'o Ma_ranhão e o piauí. Os cerrados foram transformadosprofundamente pela expansão da potente frente pio_neira agrícola a partir dos anos de l970,qìuìào u,pesquisas da Empresa Brasileira a. f.rquiru Àgro_nômica (Embrapa) permitiram drr"ouoìu., uuri._dades e modos de culturas (especialmente a cor.e_ção da acidez dos solos com calcário) adaptados aoecossistema, até então visto como inutitizavet.

Os movimentos ambientalistas protestaram contra osestragos irreversíveis promoüdos sobre os cerrados eobtiveram sua inclusão na lista ao ruO,yWWfrunepentre os ecossistemas ameaçados de extinção.

VelocidadedO Vento !Lópigo_*_(m/s) caPlcóno

I >8,5I 6,0-8,s

5,0-6,0 60,.w< 5.0 a 5OO kh

e t-2:r:3 uGt*Librgéo

Atlas do Brasil

66

. C^atinga ("floresta branca" em tupi) é, ao mesmo tem-

lrr nome do ecossistema e sua vegetação dominante,mna mata espinhosa que ocupa o interior semi-árido

ò ì,Iordeste. Encontra-se em oito dos nove Estadosrt"rsa regiãq à exceção do Maranhãq já pré-amazônico.

03-06. Vegetação

. O ecossistema do Pantanal é um complexo de vege-

tação heterogênea, um mosaico de cerrados, florestas

e até mesmo caatinga. São terras baixas, alagadiças,inundadas durante uma parte do ano, e é essa inunda-

ção periódica que pÍomove o fluxo de nutrientes,

67

O meio ambiente e sua gestão

60'wI

Amazônia

l'l_l cerrados

Caat ingas

[E@ Meio-Norte

Pantanal

ffi Costas e floresta atlântica

f-__l F,orestas semicadrrc i fó l raÍ_^.I i í rnnelros

Extremo Sul

Fonte: lbama

60 "w

=.:==

03-07. Ecossistemas

responsável pela grande ríqueza de flora e fauna doPantanal. Inúmeros programas nacionais e interna-cionais de proteção ao ambiente foram instauradospara defender esse ecossistema único, a mais vastasuperfície de pântanos continentais do mundo: são

quase 140 mil quiiômetros quadrados. Esse ecossiste-ma é frágil e está ameaçado. ao mesmo tempo, pelocrescimento da pecuária extensiva nas suas partesbaixas, pela dispersão do mercúrio (utilizado pelosexploradores de ouro) e dos resíduos de pesticidas

Atlas do Brasi l

68

{núriìr'ÍrÌ{ -'--f pe los agricultores) carreados,mD'Í/r.ii[iìrr que o domina, e pela explora-Iüluni ÍÈ :--i-i matas de galeria, o que au-ÍlmErnÈ i ::rìsão e a sedimentação.

- lili :t-ì:$:ìiilemas costeiros e a mata atlân-rlirit Kilí::.ìnham o litoral de norte a sul.ïr:sn n. "profundidade" variável, que

Ë 'rrïJL: : rslreita faixa costeira ao Nor-ru : \--:Jeste. do Amapá a SalvadorllìSü{, . .:Juanto ao sul dessa cidade essasmrrmr'uur.:r- c! ampli am-se, encobrindo intei-:lt@ÊI:: ,-ìs Estados do Espírito Santo e,fim i';r: je Janeiro, alongando-se pelos

inru;lii.rr:s nais meridionais. A vegetação

ì[rlelüimi:ànte nesses ecossistemas é, res-'Fí!1{r'ÍrË-3nte. Um COmpleXO de pfaiaS,frilm'!Ì,r., : -Ìengues, e a floresta pluvial den-ruu. &s.:. resiões litorâneas foram as pri-

rnmnramis -cupadas pela colonização portu-

lÍuüiuq',n : tembém onde se desenrolaramrrrMÍirs :.rs ciclos econômicos da históriaItlui:iryilc'::. por isso a transformação darmmnÍ-::': foi mais profunda. Os remanes-,,rurrr:ei :" mata atlântica (menos de 7%,uffi :t=-oes iniciais) foram declarados

futgte:-,: da Biosfera pela Unesco, em:mrms.-:-::ncia de pressões empreendidas

nrrnm - \.-G: como a SOS Mata Atlântica.

- tr,:s i-r:sras semicaducifólias (que per-$PÍm :t: parte suas folhas na estaçãoirni =- .-rposição às florestas equato-ïiüIs : -i as perdem mas as reconstituemrfiÍirLr-:Tente) formam uma zona de

ilrunr.;i,;ãr para os climas subtropicais.

'i rr,',r-:- - ou cobriam - o centro-oeste.nrc S-l- Frulo e o norte do Paraná, antes.&ü :",i:{.l:iem da frente do café: essa den-iiiiiiü Ì:ìi:::.--,fo foi abatida a partir da pri-

rclni -=tade século XX, e atualmente

irrul ]Lú :::.lne5centes, em geral, nas mar-m-f i - , -s

-ni

- -l ::;:ss:s:.ma dos pinhais, originalmenteitmrril:,. sla mata de araucárias, associa

03-08. Outras classificações

Biomas

AmazôniaCerradoMata atlânticaPantanalCaat inga

ffi Zona costeiraí - :mnnc crr l innc

Fonte: lbama

Domíniosmorfocl imát icos

AmazôniaCerradoMar de morrosCaat ingaAra ucá riaCamposZona de transiÇão

Fonte: Aziz Ab'Saber

69

O meio ambiente e sua gestão

60 "wI

Domínio amazôr lco

Limite meÍ id ionalda floresta amazônica

: ...; ',ï - j ' ; ; :

I .'r ,'r' -'.

Arco do desmatamento

Pantanal

Domínio dos cerrados

Domínio da caatingâ

DesertificaçãoTrópico de Capricórnìo

Costas e floresta atlânticaLimite da f loresta caduci fó l ia

Desmatamento

Desabamentos

=. Domínio dos campos

1 Pinheiros

, . , " , Al t i tudes entre200 e 500 metros

Fontes: lbama, GeoBrasil 2002, pe_rspectivas do Meio AmbienÌe no Brasrl

03-09. Limites e ameaças

uma floresta subtropical misturada com vegetaçãoherbácea ou arbustiva e ocupa os planaltos basalticosocidentais da bacia do paraná. A partir do início doséculo XX, a atividade madeireira e a exportação dascascas de araucárias provocaram a substituição da

floresta por uma reglão a_dcola iniciajmente produ_tora de milho e trigo. seguida de soja. A vegetaçaoapresenta apenas cerca de 20% da onginal, e a arau_cária praticamente desapareceu, exceto em zonas dedifícil acesso.

At las do Brasi l

70

i

I

{

do ertremo sul (a campanha gaúcha)

ç'or colinas cobertas por vegetação

flsuanÌo nas vertentes mais acentuadasnnm* rsggtraçio mais densa e mais diversifica-

l[ Eno;at- de bovinos, as queimadas periódicas

r regenerÍÌÍ os pastos, o pisoteio do gado,

er srì.ia e do arroz desencadearam processos.u$ rezes catastróficos, e causaram o empo-

il solos. o que ameaça gravemente cer-

"{n'mÈnrçao desses elementos (relevo e clima) eortrn r:olos e vegetação) origina ecossistemas tãoquc aao é surpreendente a existência de diver-

mfrr: sa classificação. Aziz Ab'Saber (Figura

-*eis domínios morfoclimáticos: os originá-- amazônico, mar de morros, araucárias; e

smn predomínio de espécies vegetais herbá-a-c - cerrado, caatinga e pradarias - sepa-

li*ruai de transição. Essa classificação apresen-ute. foÍes semelhanças com a dos biomas

prirr lnstituto Brasileiro do Meio Ambiente e\arurais Renováveis (Ibama) e com a dostFisura 03-07): há consenso sobre a área

,mda um deles, mas ocorre discussão sobre osdEimo's. difíceis de traçar porque são sutis e as

a?necem insensíveis aos olhos leigos.t((fo iiin, niles importantes, portanto, não são os limites

mas mas aqueles mais fragéis e agredidos.l-ì-{-D estabelece a área-núcleo. incontestada.

domínios, os limites importantes e os prin-mas ambientais atuais do País (exceto o das

ürudhn 4uÈ tèm dificuldades específicas). Esses proble-

@, sm reocupação de ordem de prioridade, são o

rffi[Mxrffi.nto da Amazônia, as ameaças de drenagem e

ühl@Moçrrì do Pantanal, a desertificação do Nordesteil|iimnrnrrrmnrnr- !.s desabamentos na serra do Mar e o desflores-

ünmiloü itrs útimos resquícios de mata atlântica.

I uuiilização dos recursos naturais

r[ *aúorizaçao da natweza, do capital natural, cresceuLrdfrllrnnrrrmrne : sádo passado na proporção das preocupações

com sua degradação, sendo cada vez mais reconhecidacomo um bem público. Muitos grupos sociais não dis-põem de tecnologia nem de capacidade para ltilizaradequadamente os recursos naturais, especialmente asriquezas minerais, ou não têm outra opção a não servendê-los a baixos preços no mercado internacional, noconhecido sistema da troca desigual. Para oetros, emcontrapartida, esses produtos constituem apenas um doselementos - entre outros - da sua balança comercial.Certas regiões do Brasil estão no primeiro caso, outrasno segundo, mas, nos dois casos, as dinâmicas territoriaisque resultam da exploração desses recursos decorremdas escolhas econômicas, dos fluxos e dos impactos de-sencadeados pelos modos de valorização, e é sob esseângulo que a questão será analisada.

Quanto às reservas de minérios, as principais con-centrações estão associadas aos terrenos arqueozóicos eproterozóicos do escudo brasileiro ou do escudo dasGuianas. A sua exploração foi, durante séculos, uma dasbases principais da economia brasileira, mas provocou,igualmente, dramas (como, por exemplo, a invasão dasterras dos ianomâmis pelos garimpeiros, em 1990) e dei-xou marcas profundas na paisagem, como a imensa es-cavação da serra do Navio (Amapá), que foi, um dia,uma das principais jazidas de manganês do planeta.

52411610

5.178

71

O meìo ambiente e sua gestão

03-10. Recursos minerais -\ Fisura t_t,1-1í_l mostra a distribui-

ção dos pnncipais complexos mineraló-gicos í pror ave lmtnte eistem muitos ou-tros. ainda desconhecidos ): o Quadriláte-ro Ferrífero. em \Íinas Gerais. e a pro-víncia mineral da :e rra de Carajás, no Pa-rá. O pnmeuo detim. ilnda. as principais

resen'as de mneno de ferro do Brasil eé responsáreÌ Frr .irca de 160 milhõesde toneladas anuai-r- das quais 75% desti-nadas à exportação .\ prt-x-111çi3 de Cara-jás é importante F\rr sua exraordináriajazida de minéno de fe rro tmais de 18 bi-lhões de toneladas de fcrr.-r i. mas é igual-mente rica em cobre. nÍquel e ouro. e tema famosa Serra Pelada. onde se concen-traram. nos anos de i9S '. mais de 30 mil

earimpeiros. Desde r-r: kr antamentosrealizados pnor radar FE1Lì projeto Ra-dam. nos anos d3 i9- t - r e 19!0. sabe-seque os pnncipars pt-r'.ene-iai: estão naAmazônia. espe cialrn:nte no Pará (ferro,

bau-úta. cobre. mansanÈs,. e m Rondônia(cassiterita) e em \Íaio Grosso (ouro,

diamantes). Ao lado dessas wandes jazi-

das, existem. contudo. outras de dimensãomais modesta. por exemplo o ouro, osdiamantes e o cobre da Bah-ra. cuja distri-buição é representada na Fieura 03-10.

A maior parte das resen'as explora-das de petróÌeo situa-se sobre a platafor-

ma continental. As continentais (Recôn-

cavo, na Bahia, e Rio Grande do Norte)já foram largamente exploradas. Atual-mente, de acordo com a Agência Nacio-nal do Petróleo (ANP). 15.739 poços es-tão em produção em treze bacias e dãoao Brasil uma quase auto-suficiência.

Toda a exploração até agora foi efe-tuada por uma única empresa, a Petro-bras, que teve o monopólio até 1997.Em6 de agosto daquele ano, com a aprova-

ção da Lei 9.478 (Lei do Petróleo), foi

ôG

O Ferro

O Ouro

€) cobre

a Nióbio

@ Níquel

O EstanhoO Manganês

O DiamantesO Carváo6 Xisto belur roso

0 500 lmo Petróleo

@urzìosu,u-n"'"o

ProvÍncra mieera ' ,de Carajás \*,"i

"""ï!'ffia:ï':';:: E

Cidades pr incipais2 439.880

-431.458 l^ )100.000 v

'---@Ò

^/,9/

Principais jazidasdo Estado da Bahia

@ HT-2003 MG ^,4-Lìberyéo

Fonte: ICBPM, mapa gêológico digi tal do Estado da Bahia, ISPN e IBGE

Atlas do Brasr l

72

criada a Agência Nacional do Petróleo (ANP), que su-primiu o monopólio e abriu a possibilidade desse mer-cado a outras empresas, pelo procedimento dos "contra-tos de risco". A ANP é encarregada de estabelecer as re-gras da competição. Um aumento da produção deveria

03-11. Madeira e carvão vegetal

significar aumento de royalties sobre a exploração e,para os consumidores, uma melhora da qualidade e dospreços dos produtos derivados, com reflexos diretos nomercado internacional.

Ainda que o petróleo teúa, hoje, maior impoÍân-cia no balanço energético do País, a madeira nem porisso perdeu sua importância, porque pode ser útil comofonte de energia (madeira de fogo e carvão vegetal) e étambém um recurso precioso como material de constru-ção e de decoração.A Figura 03-11 mostra a distribuiçãodo extratiúsmo de madeira em três domínios: o do car-vão vegetal, que é muito ligado às principais siderúrgi-cas (além disso, alimentadas por reflorestamentos deeucaliptos e pinhos) em Minas Gerais, e ao longo da fer-rovia que liga a jazida de ferro da serra de Carajás aoporto de exportação de Itaqui, no Maraúão - ao longodessa via estabeleceram-se fundições, que produzemferro fundido utilizando a madeira como fonte de ener-gia;é o domínio da madeira de fogo, que é utilizada emtodo o Paíq com concentrações bem marcadas no Esta-do da Bahia e nas regiões de agricultura familiar do Sul.

O domÍnio da madeira em toras tem como prin-cipal região de produção, evidentemente, a Amazônia,

0 500 km@ HT-2003 MGM-Lib1rséo

Madeira em toras(1 000 reais)

/-\- 138.6m

\ /zì_l 27786

\-lZ- so 0___!E k.@ HT-2OO3 MGM-Libêtgéo

Fônt€: IBGE Produção da extração vegetal 't999

73

O meìo ambiente e sua gestão

03-12. Fluxo de comercializacão das madeiras amazônicas

Origem da madeira

- Pará

Mato Grosso

Rondônia

Amazonas

Maranhão

Acre

Roraima

+ Exponação

0,1 0,5 1 mi lháo de m3

Fonte: lmazon ê Amigos daTeÍÍa

0 500 km

@ fi-2003 McM-Libergéo

ao longo de todo o "arco do desflorestamento" e emespecial o Pará, onde centenas de serrarias seguem deperto os madeireiros, às vezes precedendo-os, visto serfreqüente que elas abram os caminhos de acesso. Nãose trata, no entanto, de uma atividade marginal, já que

o setor florestal como um todo (de acordo com GaroBatmanian, em O Estado de S. Pau1o,2I.3.2000) re-presenta 4o/o do PIB nacional e 8% das exportações,1,6 milhões de empregos diretos e um volume de ne-gócios aproximado de 20 bilhões de reais (quase sete

Atlas do Brasil

74

de acordo com o câmbio de no-

ao que se acreditou durante mui-

1núryão é destinada principaLnente ao

03-13. Aguas

que tenha chamado a atenção de grupos ambientalistas,é extremamente baixo. como mostrou o estudo efetua-do em 1999 por três ONGs do setor (Imazon,Amigos daTerra e Lnaflora). Esse estudo, com base no qual foi ela-borada a Figura 03-12, indicou que menos de t4o/o dae o volume das exportações, ainda

75

O meío ambiente e sua gestão

03-14. Disponibi l idade de água madeira amazõnica é exportada. A pró_pria Amazônia consome I0% damadeiraproduzida, o Sudeste, 37o/o, e o Sul, 19%.São Paulo e Paranâ representam, respec_tivamente. metade do consumo deìsasduas regiões.A partir desses resultados, asONGs redirecionaram a campanha qúeiriam efetuar visando às indústrias consu_midoras de madeiras no exterior, e volta_ram-se para suas equivalentes nacionais.O objetivo é incitá-las a reduzir os des_perdícios, utilizando maior número de es_pécies amazônicas, o que permitiria redu_zu a pressão sobre algumas espécies maisvalorizadas pelos mercados, assim comoevitar a queima de outras espécies porfalta de mercados. A campanha visoutambém aos consumidores brasileiros, pa_ra que dessem preferência às firmas quecomprovassem que suas madeiras provi_nham de explorações de manejo florestal,como aTok & Stok.

Os recursos hídricos foram analisa_dos sob o foco da escassez vivida por cer_tas regiões (o caso mais dramático é o po_lígono das secas do Nordeste), ou a degra_dação da quaüdade e da disponibilidadedas águas, aceleradas durante os últimostrinta anos. A tomada de consciência da li_mitação dos recursos cresceu à medidaque os problemas de qualidade e quanti-dade aumentavam, gerando crises de difí_cil gestão (Christofidis, 2002; FAO, 2000).A água, com efeito, é o único recurso na_tural insubstituível. Os seus usos múltiplosrespondem a necessidades básicas, comoalimentação e saúde humanas, e a necessi_dades econômicas de produção e de trans_porte. Sua distribuição no tempo e no es_paço é muito irregular, de modo que é fre_qüentemente objeto de agudos conÍlitos.

O Brasil figura entre os países maisbem dotados do ponto de vista dos recursos

Vazão m(Us/km'?)

Fonte: INMEI

Disponibi l idade de água\m" per capitâ e pot a ol

Muito fraca (menos 500)Fraca (de 500 paía 1 000)

FEl MéOia (de 1O0O para 2 000)f-l Normal (de 2 0OO para 10.000)[:-: Forte (de 10 000 para 100 0OO)! Muito forte (mais de 100.000)

Fonte; Agência Nacional de Águas

Atlas do Brasi l

76

03-14. Disponibi l idade de água

Vazâo m(Vslkm2)

Fonte: INMEI

madeira amazônica é exportada. A pró_pria Amazônia consome I0"/o damadliraproduzida. o Sudeste. 37o/o. e o Sul, 19%.São Paulo e paraná representam, respec_tivamente. metade do consumo dessasduas regiões A panir desses resultados. asONGs redirecionaram a campanha queiriam efetuar risando às indústrias consu_midoras de madeira,s no e-\Ìenor, e volta_ram-se para suìs equi\ alentes nacionais.O objetir-o é incirá-las a reduzir os des-perdícior uriÌizando maior número de es_pecies amazonie-ar o que permitiria redu_zu a presvo sobre algumas espécies maisvaloúada_s çrlcx mercados assim comoe\ttar a queima de outras espécies porfaÌta de mercado: -{ campanha visou

Disponibi l idade de áqualm" pet capìta e oot anol

I Muito fraca (menos 500)ft Fraca (de 5oo para 1.ooo)[lì Médiâ (de 1.ooo para 2.ooo)[--] Normat (de 2.OOO p"r" rò.ooo)L_-1 r-orte (de 10.000 para 100.000)p Muito forte (mais de 100 000)

Fonte: Agência Nacional de Águas

também aos r--onsumidores brasileiros, pa_ra que dessem preferéncia às firmas quecomprovassem que suas madeiras provi_nham de expÌorações de manejo floiestal.comoaTok&Stok.

Os recursos hídricos tbram analisa_dos sob o foco da escassez r.ir.ida por cer_tas regiões (o caso mais dramádcoé o po_lígono das secas do Nordesre,;. ou a degìa_dação da quaüdade e da disporubitiOãdedas águas, aceleradas durante os últimostrinta anos.A tomada de consciência da li_mitação dos recursos cresceu à medidaque os problemas de qualidade e quanti_dade aumentavam. gerando crises de difí_cil gesrão (Christofidis. 2002: FAO 2000).A água, com efeito. é o único recurso na_tural insubstituível. Os seus usos múltiplosrespondem a necessidades básicas, comoalimentação e saúde humanas. e a necessi-dades econômicas de produçâo e de trans_porte. Sua distribuição no tempo e no es_paço é muito irregular. de modo que é fre_qüentemenre objeto de agudos cónflitos.

o---jg k-@ HT2003 McM-Libergéo

1998

Brasil figura entre os países maisbem dotados do ponto de vista dos recursos

Atlas do Brasi l

76

Mirüi,-rasr Assunção & Bursztyn (2002) colocam-no àirmmr- ;om 5.670 km3, seguido por Rússia (3.904 km3),l lfum. t1.880 km3), Canadá (2.850 km3), Indonésia

-.*'-ì. km:). Estados Unidos (2.478 km3) e Índia (1.550

kilr Dispõe de densa rede hidrográfica, formada por

tr":rn,:,rs bacias que cobrem o essencial do território, e de

Jur'!:ras bacias costeiras. A disponibilidade de água é:nr::ramente desigual, opondo região Norte, a maisrum

-.-nida, ao Nordeste, cujo interior é marcado por

inffi -rirlâ semi-árido, ao qual se soma o solo permeável,

Íril; :ÍoÏoca a freqüente intermitência dos rios. A pre-

,iun* de grandes aqüíferos subterrâneos atenua esse

"tcú:--:. mas apenas parcialmente. Assunção & BursztynJif l i concluíram que 68,5o/o da água disponível no

4ii.r*.- situa-se na Amazônia, e 15,7% no Centro-Oeste,,ru :=giÕes menos povoadas, enquanto, das três regiões

mriu-r t\lvoadas, o Sul tem apenas 6,5o/o,o Sudeste,6%, eu \-.:nleste,3,3% dos recursos hídricos.

Outro indicador importante é a vazão média dos

;:m-:rs dÊ água, que varia entre 7,6 e 52,6 L/s/m2, respec-

T'ï i:]ente no "polígono das secas" e no extremo noroes-'c ,-razônico, fronteira com a Colômbia. No conjunto, o

mcr:i e o oeste do País dispõem de recursos bem supe-

mirrr=s aos do centro-sul, parte mais povoada, e neste in-

ctr;a,lt-rr também os mínimos situam-se no nordeste. No-ru-;e. contudo, que se for utilizada a disponibilidade em

mtr:Lìs cúbicos per capita anuais, certas regiões muitop:',..adas, como o eixo do Tietê, no Estado de São Pau-Lr. .Fìresentam situação tão crítica quanto o Nordeste

r'-i-árido, e que os piores déficits afetam as metrópo-ier lrrrdestinas Salvador e Recife. Sem dúvida, nesta

i:rr:nula. o fator população pesa tanto quanto o fator

,ruru disponível e, apesar do balanço globalmente favo-

m,=1. nos próximos anos algumas regiões urbanas no:.

-.il terão preocupações em termos de qualidade e de

;r: 'nridade de água.Essa desigualdade na distribuição dos recursos hídri-

:::s :orna ainda mais necessária a definição de regras de

lrsi que objetivem arbitrar os conflitos possíveis, tirando

r.--:dt-r das complementaridades. Os meios técnicos des-

;n ::stão - a gestão integrada - são conhecidos, estabe-*-;=-,jtr as necessidades e os usos sucessivos da água pe-

m:r,'pulações e pelas diferentes atividades econômicas.

No entanto, sendo o Brasil um país federado, háuma concorrência entre entidades públicas (federais, es-taduais, municipais) e privadas que possuem atribuiçõesna gestão, originando-se um complexo modelo, que aprogressiva implementação da Lei das Águas \1997) e ainstitucionalizaçáo d,a Agência Nacional de Águas(2000) deverão conseguir integrar.

Concretizar esse desafio é mais do que necessário,pois o modelo de desenvolvimento do País contribuiuconsideravelmente para os impactos e conflitos. O des-matamento de vastas superfícies, iniciado há cinco sécu-los, deixando freqüentemente os solos sem proteção,

acelerou a linviação e a erosão e provocou forte asso-reamento nos cursos d'água, o que perturba a navega-

ção e a produção de hidroeletricidade e agrava as inun-

dações. Essas, como assinalou Mello (1991), embora se-jam fenômeno natural, têm um custo social bem mais

elevado quando são agravadas, no meio urbano, pelos

excessos e erros da urbanização descontrolada.

Outras dificuldades graves são provocadas pelos

métodos exploratórios de garimpo, notadamente apoluição das águas pelo mercúrio, utilizado para se-parar o ouro do minério, e a extração de enormesquantidades de seixos dos leitos dos rios, para onde

retornam seguidamente sob a forma de sedimentosem suspensão, como no caso do rio Madeira, em Ron-

dônia. A extração de massas enormes de areia grossa,

necessária a todos os tipos de construção. de estradas

a barragens passando por construções industriais ealojamentos, é outra fonte de problemas. Por último,

a construção das grandes barragens tem também suasseqüelas, sobretudo pela inundação de vastas superfí-cies pelos lagos de retenção, como nos casos de Balbi-

na e Tücuruí, na Amazônia, ou de ltaipu, no Paraná.Além do impacto nas zonas inundadas e na qualidade

das águas, provocaram o desÌocamento de populações

locais e a perda de patrimônios arqueológicos ou na-

turais importantes. Pode-se, a esse respeito, citar a

submersão do sítio turístico do Salto de Sete Quedaspela construção da barragem de Itaipu, em uma épo-

ca em que a estratégia geopolítica do regime militar

não deixava aos grupos ecologistas a menor possibili-

dade de expressão.

77

O meio ambiente e sua gestão

Milhóes de tep (toneladas equivalentes de petróleo)

90

80

70

OU

50

40

30

20

'10

0

H idroeletricidade

@ r @O O - N O<t n(Or OOO - N m ç6 a \ - -

rNNroo@@@@@@@oooooc)ô- c --

o o o o) o) o o o, o o o o) ô o o o o o o ô c c c> -

Fonte: Balânço eneÍgético nacional 2000, Ministério de Minas e Energja

03-15. As fontes de energia

A predominância e a prioridade dadas à hidroele-tricidade fazem dela a primeira fonte de energia do País,representando3T% do consumo. O petróleo vem em se-gundo, com 32Yo, seguido pela utilização da biomassasob a forma de madeiras (9"/") e da cana-de-açúcar(Llo/'). Esta última permite produzir energia pela quei-ma de seus bagaços (7"/") e pelo álcool produzido nafermentação e na destilação (4%),utilizado pelos auto-móveis, puro ou misturado à gasolina. Carvão e gás têmlugar pouco significativo na matú energética, mas o se-gundo deve desempenhar um papel mais importante,com a construção dos gasodutos que permitirão a utili-zação dos abundantes recursos da Argentina e da Bolívia. As outras fontes energéticas (solares e eólicas) re-presentam, de acordo com Frota (2001) e Vianna (2001),apenas 1,57o do total.

A crise energética que viveu o país em 2001, quan-do os níveis de água dos reservatórios caíram, em muitasregiões abaixo dos mínimos de segurança, provocou a de-cisão de construir quinze centrais térmicas que utilizam ocarvão do sul e o gás boliúano,para um total de 6.423 MW.

O planejamento para os anos de 2000 a2009 pre-vê sessenta centrais, totalizando 26.256 MW, o que

aumentará significativamente a parte da eletricidadetérmica no balanço global (Capítulo 10). Mas a produ-

ção de eletricidade deve ser vista também no contex-to do problema de emissões de gases-estufa, ressaltaJannuzzi (1999). A produção em centrú térmicas re-presenta menos de 307o das emissões globais, no entan-to o tema merece atenção redobrada. sobretudo porquemais de 50o/o do incremento de emissôes de dióxido decarbono vem da produção de eletricidade. crescente so-bretudo nos países em desenvolvimento. Ainda que oBrasil, atualmente. teúa um índice três vezes menorque a média mundial na emissão de gás carbônico, podeocorrer um aumento significativo em decorrência damaior participação da termoeletricidade. sobretudo emregiões de alto consumo, como São Paulo.

A crise foi provocada, certamente, por uma reduçãomomentânea das chuvas, mas também pelo processo daprivatização da produção de energia, cujas incertezassuspenderam durante alguns anos os investimentos nes-se setor. A expansão contínua do parque é necessáriapara acompanhar o crescimento do consumo. Quemsabe se a abertura desse setor à iniciativa privada nãová permitir uma vigorosa retomada do investimento?

Atlas do Brasil

78

iri, m(Ír-:.:: 30 potenCial

'ìili lúff ÌrÈÉ--- io utiIizado

:, t r r r*rnl : " 619g1$11iço (MW)

=,- \_ 105410

-,, --_ - 60 378

3 402J'

. r r - : i , : : : : : .

- 'ergìaElétr ìca'2002

íruwilir , ,r r .:'rjnal justificativa da privaÍizaçáo' No en-

ililrllll[rii,!, lÌf, : i. . .nda há um imenso potencial a utilizar'

-* *

-s :: SuÌ e do Sudeste têm o maior número

Lilllil 'ïrd-rrLiir-'- = 3s capaÇidades residuais são fracas' O

'ÌrÌÌi]Irïri!1l1rl:irl l: São Francisco é ainda importante e foi

l l l i ir i i Ír :r :1-:-:Jtì. mas é indubitavelmente nas bacias

03-16. O potencial e a uti l ização das bacias

amazônica e Araguaia-Tocantins que se situam as prln-

Limite de bacra

Potencial estimado

Potencial registrado

I

' ' , ,

(-ìI

)

500 km

Ô HT-2003 MGM-Libergéa

79

O meio ambìente e sua gestão

processo já foi vivido pela construção de Ttrcuruí e Bal-bina, nos anos de 1980. Como os tempos mudaram e osmétodos exploratórios da época não podem mais seraceitos, os projetos em curso, sobretudo Belo Monte, so-bre o rio Xingu (cuja central teria uma potência próxima à de ltaipu, 11.182 MW, contra 12.600 MW previstosanteriormente) vêm sendo retardados seguidamente. Aretomada do projeto, depois da crise de 200L, vem sen-do cuidadosamente reexaminada para sua inserção re-gional, com inédita consulta à população.

Apesar dessa discussão participativa, as críticasnão foram desmontadas. Ecologistas, universitários epopulações locais consideram que a região recebeprincipalmente os impactos negativos, enquanto os be-nefícios são destinados às regiões para as quais a ener-gia será enviada graças à interconexão norte-sul, emimplementação. Muitas negociações e muitos ordena-mentos de interesse local são requeridos para aliviar ostemores nascidos de precedentes deploráveis Hoje es-tá fora de questão construir sem a adesão popularequipamentos dessa dimensão, mesmo que sejam deinteresse nacional.

Proteção e degradação do ambiente

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Cona-ma), formado de representantes do governo e socieda-de, foi criado em 1981, e desde então vem atuando cons-tante e metodicamente.Vota resoluções que visam a au-mentar o número e a superfície das áreas protegidas sobresponsabilidade do governo federal, reduzir a poluição,definir as nonnas ambientais e os limites máximos deemissões de efluentes.

Esse conselho é a peça central do Sistema Nacio-nal do Meio Ambiente (Sisnama). Para a constituiçãodesse sistema, conselhos de meio ambiente devem serinstalados em todos os Estados e municípios brasileiros.A partir de 1973, institucionalizou-se a questão com acriação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (Se-ma),ligada à Presidência da República. Essa primeirainstituição deu origem, agrupando outros organismosespecializados, ao Instituto Brasileiro do Meio Ambien-te e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ao

Ministério do Meio Ambiente. Seu papel é estabeleceruma política nacional do meio ambiente, integrando-secom organismos locais como a Companhia de Tecnolo-gia de Saneamento Ambiental (Cetesb). de São Paulo,criada em 1968, e a Fundação Estadual de Engeúariado Meio Ambiente (Feema). do Rio de Janeiro, criadaem1975, ambas nascidas num contexto de debate inter-nacional ligado ao relatório do Clube de Roma e à Con-ferência de Estocolmo.

As ações desses organismos públicos são apoiadase supervisionadas pelo Ministério Ptúblico, por ONGsespecializadas, pela imprensa e por conselhos munici-pais. A ação dos procwadores do meio ambiente é tam-bém muito ativa em in ímeros Estador freqüentementebaseando-se nos resultados da pesquisa universitáriapara fundamentaÍ suâs ações. As redes de ONGs man-têm mobilização e pressão constantes, e os jornalistasexploram bastante os temas vinculados à qualidade doambiente. em termos gerais ou a propósito de assuntosdo momento.

Esse processo explica poÍ que a densidade dosconselhos municipais do ambiente (Frgura 03-17) é bemmaior no sul, onde a mobiÌização tem sido mais atuante.É particularmente forte nos Estados de Minas Gerais,Espírito Santo, Rio de Janeiro. São Paulo. Paraná, SantaCatarina e Rio Grande do Sul. onde. em

-eeral, já adota-

ram regulamentos (uma etapa que distingue os conse-lhos mais ou menos fictícios daqueles que funcionamrealmente). Um segundo grupo, de menor densidade, éformado pelos Estados de Mato Grosso do Sul, MatoGrosso, Goiás, Tocantins, Pará, Maranhão e Bahia,

Freqüências mais baixas situam-se no Nordeste ena Amazônia. Embora os problemas ambientais sejammais agudos nessas duas regiões, sua institucionahza-

ção é ainda muito recente e frágil. Esse indicador refle-te, por conseguinte, tanto a gravidade dos problemasambientais quanto as desigualdades sociais e econômi-cas do País.

O gerenciamento de um fundo municipal para oambiente é a fase mais avançada, e são poucos os muni-cípios que atingiram o patamar de mobilização popularsuficiente pararealizar esse esforço. Destinado a finan-ciar ações de controle e preservação do meio ambiente

Atlas do Brasi l

80

mbiental. tal fundo é constitúdo de crédi-(am quais podem ser acÍescentadas doa-

por isenções do imposto de rendaMuitos municípios seguem a estrutura

03-17. Gonselhos de meio ambiente

Embora a Constitúção de 1988 teúa inovadomuito no seu capítulo sobre o ambiente, a estrutura fe-deral e as mudanças da distribúção das competênciasconcorrentes entre os diferentes níveis criaram vaziosadministrativos. sobretudo no âmbito dos licenciamen-tos. Os instrumentos de política púbüca nesse domínio

h um conselhoèÍÌÉbambiente

fuiselho regulamentado

-ìstahdoËriústra um Íundo o Eoo kmrniimf 7 @HT2oosMcM-Libêtséo

Ml tu Municlpios Brasileir6

Necional de Meio Ambiente, fundo federal

81

O meio ambiente e sua gestão

03-18. Parques e reservas são avançados, especialmente aquelesque mostram a necessidade de limitar ocorrsumo dos recursos naturais. Contudo,a difícil evolução do federalismo (Castro,1999) e o jogo dos ilteresses econômicosimpõem dificuldades. Há, por exemplo,divergências de interpretação sobre asresoluções do Conama. As empresas es-quivam-se pelo aumento de custos e cer-tos setores diretamente atingidos lutamabertamente contra as restrições quelhes são impostas.

Uma das medidas que mais pesamsobre os projetos que podem afetar omeio ambiente é a obrigação de efetuarestudos de impacto e de redigir o relató-rio correspondente, cumprildo a Resolu-

ção 001/86 do Conama. Esse relatóriodeve ser estabelecido quer seja para or-denamentos urbanos (trabaÌhos de urba-nismo, zonas industriais, terraplenagens)e para a construção de infra-estruturas(estradas, vias férreas, portos, aeroportos,oleodutos e gasodutos, barragens), querpara a implantação de atividades econô-micas (fábricas, exploração de minériosou de florestas). No entanto, no que con-cerne à expansão urbana em grandes emédias cidades brasileiras, a pressãoimobiliária é tão forte que transforma es-sa obrigação num simples ritual formal, emuitos loteamentos são abertos, consti-tuindo projetos oficialmente menores eparcelados, de forma a não atingir o limi-te legal de 100 hectares e evitar tais obri-gações. Tiambém quando se trata de açãodo Estado, o processo efetuado é mera-mente burocrático. A reduzida força po-lítica do setor ambiental e a baixa priori-dade dada ao meio ambiente na máquinagovernamental, combinadas com a pres-são dos interesses afetados e a modestamobilização da opinião pública, contri-

Sistema nacional deunidades de conservação

is - 32.^

í/-ì- ro -

- l

uais ^83(. i -14.

municipais ^

56 , ,Ëffi (cr"r

o-- -iE k.

@ HT-2003 MGM-LìbergéoFonte: IBGE. Perfíl dos MunìcíDios Brasìleios

Parques. < 300 000a 3oo ooo a 'l 0oo oooO >loooooo

Estaçóes ecológicase < 300 000a 300 000 a 500 000a > 5oo ooo

< 500 000500 000 a 1 000 000

Reserva

biológica gecológica €

Ílorestal

extrativista IFlorestas

r 500 000A

Superfícies das reservas (ha)

< 300 000 !300,000 ê sOO OoO I

> sooooo IFonte: IBGE, lbama

Atlas do Brasi l

a2

reles

aro

do.tro.

cosrIo.

ÍÌs

f-

Í-ne

I

LlrìÍmum :,a-r iazer com que a avançada legislação perma-riltruruu ts=: norta.

-r:rr-r-lo. certo sucesso foi obtido em outro setor, odblrrl*rr'Ì*-' de áreas protegidas, parques e reservas. O Sis-rÍlüürmli \.urrrnal de Unidades de Conservação (SNUC) e

ur @r: --:-13 indicam os diferentes tipos de unidadesümNrHmEm[Ë: = as autoridades responsáveis por sua gestão.

ïmmllÌ lnÍÌnri ',';z é no centro-sul que está a maior concen-ilüErurnL ir-,.:ã que em superfície a Amazônia se destaque

flunrurjrüi e 'r-rensão de suas reservas. É a esta região que

& ruu.rsi --,rrusição

de corredores ecológicos (Capítuloillffillill uu rrl.i:'s melhor: trata-se de integrar as diferentesrommudmro*s :c conservação vizinhas, de maneira a formarrüüm '"mr:.i.-rr- para a fauna, onde os animais possamrmnuruútm bir,;;mente em vastos espaços, o que aumentartdüm@ËÍ=.mente as possibilidades de sobreüvência e,dllllu rlryrmuu;ao. Como, de fato, são os ecossistemas flo-

íEm!üìi üÍ6 =*:-< bem preservados e a pressão antrópica érmomu!''*:í:T= ;les se esses modelos funcionarem pode-

ilffiilr'$iffim'ï',.,rr i :ìaboração de um novo modelo de ocupa-

*Frrrrrggnm-:_.{ 'ilrüuÈo dessas unidades é, contudo, diversifica-

dbl-s$WJmlë 'Enas foram criadas, sem, na verdade, sair

db6tt[wu- : :]r :enido como terreno para invasões. Ou-

lüilúltq&um st r :uperfície reduzir-se gradualmente e per-

&l rums,r;r:tntemente, sua função biológica de "cor-r@üiliimfl" ffi; '-nçrorta em que lugar, a questão fundiária

hmo- : r :r:apropriaçáo, a delimitação e a regulari-lrer

-r levadas a efeito, sob pena de inviabili-

WïruWrl.t --:nidade. Freqüentemente, a distância e o

üUh@mu ç-. ::r 3 uma certa negligência por parte dasrnrlülütlüiltrudllIs rsLÌJnsáveis. Um exemplo notável é a rc-

tml LüBi0ÌilirxJi da--. Águas Emendadas - o "encontro

eryxurf - - l: Distrito Federal, uma zona de divergên-

üdfu ,iT,ìÍnrhÌ :ü::Èm as águas que vão se juntar aos

Ütrosi o: l-.:inús (na bacia amazônica), do Paraná

ifl&fllltte J$firltrNüllmtrr:çi na bacia do rio do Prata) ou o SãorJ[rË ]-ìÍre para o Nordeste). Embora situada

Tpüuqffi roii:meuo: de Brasília e, por conseguinte, da

tèderais e distrital de gestão do am-lb rru--r:s anos objeto de disputa entre a agên-

,üllülütnumühu,mtre :rr Distrito Federal (Sematec) e seus an-

fi]l lIrmtrr::- -\ causa foi a não-regularização da

área inicialmente definida, o que resultou em significa-tiva redução da superfície protegida. Há pouco tempo, oDistrito Federal era considerado privilegiado nesse se-tor, porque 42% de sua superfície estava incluída em umou outro tipo de área protegida (Parque Nacional, Esta-

ção Ecológica, Reserva Biológica, Área de RelevanteInteresse Ecológico, Área de Proteção Ambiental), e acriação da Reserva da Biosfera do Cerrado, pela Unes-co, tinha sido vitoriosa. Porém as invasões destas áreasprotegidas, decorrentes da urbanização crescente doDistrito Federal, colocam-no na mesma condição deoutras regiões brasileiras. Os cerrados brasileiros estãoatualmente em risco de extinção, de acordo com estudosda ONG Conservation International (Pára-Raios,

2000), que os classificam eml2e lugar entre os 25 ecos-sistemas mais ameaçados no mundo.

Um dos debates recorrentes é sobre os indicadorespara estabelecer a situação do ambiente no Brasil, quepermitam medir o grau de antropização, a pressão sobreos diferentes ecossistemas e considerar as tendências eos impactos futuros. Em 1999, Donald Sawyer, do Insti-tuto Sociedade População e Natureza (ISPN), contri-buiu significativamente para o debate, elaborando umíndice de pressão antrópica, calculado à escala dos mu-nicípios e estabelecido segundo a média de quatro su-bíndices que caracterizam, respectivamente, a pressão

urbana e rural, mais especificamente a das culturas e acriação de bovinos. Cada um dos seus subíndices consi-dera, ao mesmo tempo, variáveis de estoque e de fluxos.Supõe-se que a pressão seja maior onde o estoque e ofluxo são elevados, e menor onde ambos são reduzidos,

com níveis intermediários. Cinco grupos (quintos) entãoforam definidos para os estoques e para os fluxos de ca-

da subíndice, cujo total varia de 2 a I0. Para efeito decomparabilidade com o Índice de DesenvoÌvimentoHumano (IDH), que varia de 0 a L, os valores foram di-vididos por 10, gerando quatro categorias que corres-pondem a intervalos de 0,2 (0,2 a 0,4 - baixo; 0,4 a 0,6 -

médio;0,6 a 0,8 - alto e 0,8 a 1,0 - muito alto).

O mapa resultante (Figura 03-19) opõe quatro

conjuntos: o Brasil do interior, onde dominam os índicesbaixos e médios; o Brasil do Ìitoral; a maior parte do Es-

tado de São Paulo; e algumas zonas centradas quer nas

O meio ambíente e sua oestão

83

03-19. índice de pressão antrópica

capitais (Brasília, Goiânia, Campo Grande, Cuiabá),quer em regiões agrícolas (Tiiângulo Mineiro, RioGrande do Sul, Paraná), marcadas por índices elevadose muito elevados. No total, são os níveis de pressão mé-dia e elevada que predominam, pois juntos ÍepÍesentam460lo dos municípios brasileiros. Essa espacialização do

índice é naturalmente o resultado da história da ocupa-

ção do território, e as áreas antropizadas concentram-seem uma extensa faixa litorânea, onde se desenrolaramos principais ciclos econômicos da história brasileira.Acrescentem-se as regiões das capitais amazônicas e al-gumas zonas específicas como o interior de Rondônia, a

índice de pressãoantrópica 1996

9.5I

ffi Sem informaçóes(novos municÍpìos)

Fonte: IBGE/Samba 2000 e ISPN, 1999

0 500 km

@ HT-2003 MGM-Lìbergéo

on [iiri ;,?ïxï:sociedade

Atlas do Brasil

a4

03-20. Indices temáticos de pressão antrópica

de pressão

1.0 (muito elevado)(elevado)(médio)(baixo)

S:ln inÍormaçóesbc municípios)

o.___jgk-@tlF2MMeMlihrg@

de pressão(PAL}

(muito elevado)(elevado)(médio)

lbnixo)irbrmações 0-_ s09 k

@ HF20$ McM-Liberyéohmunicíoios)

2000 a ISPN, 1999 @rsPN

Subíndice de pressãorural (POR)

I 0,8-1,0 (muito elevado)I0,G{,8 (elevado)

f 0,zl-0,6 (médio)l---l 0,2-O,4 (baixò)

I Sem informações(novos municípios)

0,8-1,0 (muito el€vado)I0,H,8 (elevadol

I0,zl-0,6 (médio)f-- 0,2-0,4 (baixo)

f Sem informações(novos municíoios)

mÍìranhense, azona Bragantina (ao suln4iões amazônicas de densidades Íelativa-

-,bem como um eixo que vai de Brasília

potente, AË izOiras de baixa pressão coÍrespondem a umgrande conjunto da Amazônia e dos cerrados, sobretu-clo o Estado do Amazonas, exceto Manaus,Tocanting ex-ç91s palmaq o Pantanal, uma vasta zona ao sú do Piaúho Grosso, onde a atiüdade agopecufuia é

85

O meio ambiente e sua qestão

o Maranhão e o vale do Jequitinhonha, em Minas Ge-rais, exceto Montes Claros. Esses índices pouco eleva-dos não devem, contudo, iludir. A situação pode degra-dar-se rapidamente caso sejam instaladas novas ativida-des, porque, como os valores são baixos, as variaçõessão, por conseguinte, brutais. São os subíndices de pe-cuarização e de lavouras que confirmam o avanço dafrente pioneira das bordas meridionais para o interiorda Amazônia, tendo já ultrapassado os cerrados do Cen-tro-Oeste. A medida que essa frente avança, consoli-dam-se os subíndices alto e muito alto de pressão antró-pica de bovinos e de lavouras.

Os subíndices temáticos confirmam o índice geral(do qual são a base), mas mostram distribuições sensi-velmente diferentes. O subíndice de pressão urbana ofe-rece um padrão regional relativamente homogêneo, osvalores máximos são mais numerosos no Sul e no Sudes-te do que no resto do País, à exceção das capitais dos Es-tados. De acordo com Donald Sawyer, "o comporta-mento desse subíndice reflete uma situação intermediá-ria entre as variáveis de estoque e fluxo, uma vez que otamanho absoluto da população urbana apresenta umpadrão de distribuição decrescente segundo um gra-diente leste-oeste, enquanto o crescimento da popula-

ção urbana apresenta um padrão mais homogêneo paratodo o País".

O subíndice de pressão rural indica uma nítida di-ferenciação entre o litoral e o interior, com valores fre-qüentemente elevados ou muito elevados nas zonas li-torâneas, enquanto no interior são médios ou baixos.Notam-se valores elevados em torno de São Paulo, de-vidos tanto às elevadas densidades rurais quanto ao

crescimento da população rural, um caso pouco fre-qüente no resto do País, sobretudo na faixa que se es-tende de Mato Grosso ao oeste de Minas Gerais, atra-vessando Goiás, onde se situa a produção intensiva desoja, bem como o oeste da Bahia, pela mesma razão. Nofuturo, pode-se esperar um aumento de pressão nâAmazônia, onde os valores existentes são baixos, mas avariação é rápida, enquanto nos Estados já consolidados,como São Paulo e Minas Gerais, as variações são baixas.O subíndice relativo à criação de bovinos, uma atividadeque foi singularizada emrazão de sua importância histó-rica e atual, caractelza particularmente o Mato Grossodo Sul, que possui o maior efetivo do País, bem comouma zona nos arredores do centro principal (de densida-de menor), à exceção do Pantanal.

Finalmente, focaliza-se o desflorestamento rápidoque o País conhece porque é um dos aspectos mais sig-nificativos e até mais criticados do meio ambiente brasi-leiro, já que a degradação é muito evidente. Convémanalisar a amplitude que mostra a Figura 03-21: as trans-formações ocorridas durante os últimos quarenta anos.As zonas ocupadas pelo homem (e, por conseguinte, nasua imensa maioria, desmatadas) entre 1960 e 1997 mos-tram a continuidade, mas também a aceleração dos pro-cessos de ocupação iniciados com a chegada dos portu-gueses ao litoral há cinco séculos. Os desmatamentosatuais tocam essencialmente os cerrados e a Amazônia,incorporados pelas frentes pioneiras ao espaço agropas-toril, e repetem a conquista incentivada, ou mesmo sus-citada, por políticas públicas indutoras (crédito, infra-es-truturas etc.) que desencadearam o afluxo de migrantese a transformação das paisagens.

Atlas do Brasi l

86

03-21. As modificações antrópicas

40"w60'w

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-- -,ria em questão lnscreve-se em um lmenso;: l-:--.-;uja base é situada no oeste do Paraná e no

r. --:--ss.-r do Sul e se estende, ao noroeste. até Ron-

- i,: : :-ì nordeste. até o Maranhão e o sul do Pará,

40'wI

0 500 km

A, HT-2003 MG M-L tbeÍqeo

deixando de lado o Pantanal. A conquista do norte deMato Grosso. incompÌeta aÍé 1991 . progrediu sensivel-mente. e pode-se esperar que continue seguindo pela re-gião sudoeste do Pará e sul do Amazonas. O movimento

87

O meio ambiente e sua gestao

de conquista,lançado no governo de Juscelino Kubitschek,promotor da "marcha para o oeste", consumiu um gran-de ecossistema a cada década: os cerrados, nos anos deL970, as áreas de transição entre cerrados e floresta, nosanos de 1980, e, nos anos de 1990, as bordas florestaisamazônicas.

As políticas governamentais brasileiras têm nessaquestão o seu maior desafio: como conciliar as políticasde conquista e crescimento da produção com a preser-vação do ambiente na Amazônia? Mais de 600 mil qui-lômetros quadrados (aproximadamente a superfície daFrança) foram desmatados na Amazônia até 2N3, deacordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(Inpe), certamente resultado de toda a história regional,mas com nítida aceleração durante as últimas décadas.É preciso ainda agregar o que o Inpe não pode ver nasimagens de satélite que analisa: os cortes seletivos quese traduzem na perda da biodivenidade e no agÍaya-mento do risco de incêndio.

Esse processo é monitorado e analisado por cien-tistas brasileiros, e, apesar da imensa extensão do terri-tório em causa, a freqüência e precisão (Krug,2000) émaior que em outros países, onde as medidas contra odesmatamento são realizadas com intervalos de cinco adez anos. Na Amazônia brasileira, o monitoramento éanual, utilizando as229 imagens de satélite que cobremas regiões de floresta primária, ou seja, quatro dos cincomilhões de quilômetros quadrados da Amazônia.

Esforços importantes têm sido empreendidos parareduzir o ritmo e os impactos do desmatamento, tantopor parte do Ministério do Meio Ambiente e do Ibamaquanto pelos segmentos acadêmicos e pelas ONGs, quetentam despertar a consciência dos setores produtivosquanto aos perigos atuais do desperdício de recursos na-turais, e convencê-los da existência de altemativas menos

depredadoras. Com o final do período autoritário, nãose podem mais conceber decisões sobre o desenvolvi-mento sem a participação dos diversos grupos sociaisexistentes na região, rejeitando-se a repetição de decisões nacionais ou regionais adotadas pelas elites políti-cas e econômicas. O processo de desenvolvimento re-gional, atualmente, envolve novos atoÍes, como asONGs, os indígenas, as comrrnidades de quilombolas eas tradicionais comunidades ribeirinhas.

Um dos temas prioriúrios desse debate - e umasolução, pelo menos parcial - é o zoteamento ecológi-co-econômico, com a definiçao das zonas a seÍem pre-servadas e as de uso. o que poderia ser um dos principaisinstrumentos de ordenamento do território. Mas as di-vergências sobre a metodologia (que mascaram, às ve-zes, oposições ao princípio da subdiüsão em zonas)retardaram ou, em muitos casos bloquearam a defini-

ção e a instauração concreta de zonas. De fato, o ma-crozoneamento real se concretiza ao identificar todasas áreas legalmente protegidas existentes e demarca-das, sejam elas terras indígenas. sejam unidades deconservação (Capítulo 10).

Na realidade, na maior parte do Brasil, exceto emuma grande parte das florestas amazônicag o meio am-biente natural foi substituído pela naturezahvmantza-da, como qualificava Milton Santos (1985). Novas trans-formações devem ser esperadaq tanto no norte da Ama-zônia (ainda largamente intacta, porque mal integradaao restante do País), à medida que novos eixos surgem,como a saída para o Caribe viaVenezuela, quanto no Sul,onde os novos vínculos ligados à integração do Brasil noMercosul transformam cidades e áreas rurais em cen-tros propulsores do desenvolvimento. Obviamente, osdebates sobre a utilização dos recursos naturais e a si-tuação do ambiente no Brasil estão longe de terminar.

Atlas do Brasil

8B

CAPITULO 4

DrxÂMrcAS PoPULACToT\Arst

pupulação brasileira é uma das mais numerosas

I do mundo, contando oficialmente com 169.544.443

- I habitantes (quinta mundial) no censo realizado

rcr: IEGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-rr;Ì :m 2000. Está estimada, hoje, pelo mesmo organis-

m; -m

aproximadamente 176 milhões de habitantes.

-\ reputação que o Brasil tem de "país de futu-

:: ' :ossibil i ta encarar com certo otimismo o seu fu-

;r- a médio e a longo prazo, porque há vantagens

rLn:,rnÌestáveis que lhe permitem ser - não apenas

riÌ-r nLìmenclaturas oficiais - um país em desenvolvi-

m:EILì. A maior de suas vantagens é, certamente,

su.: çtopulação, numerosa, majoritariamente forma-

" , le pessoas jovens, dinâmicas e com condições de

r:-bil idade, em um país que ainda dispõe de vastos

ssraços l ivres.\Ias também não deixa de ser verdade que há for-

;= disparidades, algumas das quais podem constituirFirüaças para o amanhã: os comportamentos demográ-

---:irs r ariam de região para outra, entre cidade e campo;

i ;stribuição da população é espacialmente muito irre-

c-:iar: e. sobretudo, a sociedade é compartimentada por

Frpos favorecidos e desfavorecidos, o que faz dela uma

:-r mais desiguais no mundo.

Privilegiamos aqui as mudanças, no tempo e no es-

:aço. que essa população conheceu, a análise das dinâ-

=cas demográficas e dos fatores que as estruturam a

;ada período da formação social brasileira: fatores de-

rosráficos (natalidade, mortalidade), fatores de quali-

:ede de vida (resposta à demanda social), migrações.

Destacamos um aspecto específico - e controvertido -

da composição da população: a distinção entre as dife-

rentes cores de pele reconhecidas pelas estatísticas ofi-ciais, para relacioná-las com a distribuição - extrema-mente desigual - da renda.

Distribuição e crescimento

A população brasileira está desigualmente distri-buída pelo território: ainda existe uma nítida oposição,que reflete os efeitos do processo de colonização e depovoamento do território, entre as regiões litorâneas einterioranas, as primeiras densamente povoadas, e as se-gundas de ocupação rarefeita.

Até mesmo as zonas de concentração são irregula-res: aparecem vazios importantes em Estados densa-mente povoados, como Rio Grande do Sul, Santa Cata-rina, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco. Paraíba e RioGrande do Norte. Apenas os territórios de São Paulo,Paraná.,Rio de Janeiro, Sergipe,Alagoas, Paraíba e Cea-rá são ocupados de forma equilibrada.

No restante do território, há uma estreita correla-

ção entre a distribuição da população e as redes detransporte (Capítulo 8), sejam as vias navegáveis, as an-tigas ferrovias construídas para exportar os produtos dointerior, sejam, cada vez mais na atualidade, as rodoviasde alcance regional ou nacional.

Essa distribuição significativamente irregular éfruto de um processo de crescimento desigual, comomostra a Figura 04-02,que representa a população dosEstados à época de cada um dos censos - do primeiro,en 1872, ao último, em 2000. Em 1872, o País contava

89

Di nâm ícas popu laciona is

04-01. Distribuição da população em 2000

com menos de 10 milhões de habitantes, e somente vinteprovíncias do Império computavam mais de 50 mil ha-bitantes. Minas Gerais e Búia erÍÌm as mais povoadas,següdas por Pernambuco, Ceará, São Paulo, Rio de Ja-neiro e Rio Grande do Sul. Em 1890, a população totalatingia 14 milhões de pessoas e - graças ao boom da

boracha - o patamar dos 50 mil habitantes foi atingidopelo Estado do Amazonas, "Estado" porque, de acordocom a República, proclamada no ano anterioÍ, as anti-gas Províncias foram assim tituladas, ainda que a mu-dança tenha sido oficializada apenas pela Constituiçãode 1891.

o

'o

$,iç.O

População dos municípios em 2000

10.406 200

5 850 540

2 043.110

<5000

0 500 km

@ HT-2003 MGM-Liberyéo

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2O00

Atlas do Brasil

90

O4-Oz.Crescimento da população dos Estados

1872

Toral: 17438 434

í - / \{

\_ì !-,

Populaçáo(êm milhares)

2 A4AÃr049w50

Total: I 930 478Íotal : 14 333 915

i

1970

D i nâ m í ca s Po Pul ac i ona i s

91

40

20

milhóes de habi tantes

1940 1950 1960 1970 1980 1991 r996 2000

60

40

Sudeste

0

20

1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000

Norte

0

2A

1940 1950 1960 1970 1980 '1991 1996 2000

Centro-Oeste

0

20

1940 i950 1960 1970 1980 1991 1996 2000

1940 1950 1960 r970 1980 1991 1996 2000

Fonte. IBGE, 2000

Sul

04-03. População urbana e rural

A partir de 1920, o Brasil, já com suas fronteirasatuais após a incorporação do Acre e outras retifica-

ções de limites externos (todas elas favoráveis a elenos outros Estados amazônicos), os 22 Estados e o Dis-trito Federal (a cidade de Rio de Janeiro e os seus ar-redores) tinham população superior a 50 mil habitan-tes. Mas somente a partir de 1940 São Paulo passou aser o Estado mais povoado (graças às migrações inter-nas, pois o fluxo das migrações internacionais era, en-tão, bem menor que à época da formação das suasplantações de café), e o crescimento rápido do Sudes-te começou, suplantando progressivamente o Nordes-te como principal região do país. Vale notar que

essa mudança de centro de gravidade ocorreu em umcontexto de crescimento geral da população, que con-tinuava a um ritmo vertiginoso: 30 milhões de habitan-tes em 1920 (menos que a França, que contava então39 milhões),41 milhões em 1940,51 milhões em 1950,quase 70 milhões em 1960, mais de 90 milhões em1970,L17 milhões em 1980, 145 milhões em L991, qua-

se 170 milhões em 2000. A população do Brasil foi,portanto, multiplicada por 17 em 118 anos, e por 10durante o século XX.

Esse crescimento global foi acompanhado deuma reversão da proporcionalidade entre população

rural e população urbana (na definição dada pelo

At las do Brasi l

92

IBGE), com seu ponto de inflexão nos anos de 1960.A curva da população urbana, que tinha começadoseu crescimento mais rápido na década precedente,em função do crescimento vegetativo dos citadinos edo êxodo rural, interceptou a curva da população ru-ral, que iniciava uma lenta descida. Em quatro dascinco grandes regiões, a predominância da populaçãourbana é hoje bem nítida, e mesmo no Norte, a regiãomenos urbanizada das cinco, o número de citadinosultrapassou a população rural. Mas o cruzamento dascuÍvas ocorreu em datas diferentes nas diversas re-giões: enquanto no Sudeste ela data dos anos de 1950,no Sul e no Centro-Oeste foi necessárío esperar osanos de 1960; no Nordeste, ocorreu nos anos de 1980,e no Norte data somente dos anos de 1990, levandoBertha Becker (200D a chamar essa reqião de "flo-resta urbanizada".

A distribuição da densidade populacional obedecea uma lógica claramente leste-oeste, resultado do pro-cesso de ocupação e de colonização a partir do litoral(Capítulo 3). É, por conseguinte, nas regiões mais próxi-mas do mar no Nordeste, Sudeste e Sul que se encon-tram as densidades mais elevadas, superiores a2l6habi-tantes por quilômetro quadrado, e até mais de 10 milnas capitais. Em oposição, a maior parte da Amazõria eimensas superfícies do Centro-Oeste apresentam densi-dades muito baixas, entre 0,13 e 11 habitantes por quilô-metro quadrado, destacando-se apenas as capitais e al-guns municípios com valores entre 11 e 24 habitantespor quilômetro quadrado.

A zona litorânea náo é, contudo, homogênea:quase deserta ao noÍte do Amazonas, opõe claramenteas duas regiões mais importantes do País, separadaspoÍ um espaço pouco densamente ocupado (sul da Ba-hia e do EspÍrito Santo). No Nordeste, o contraste na-cional entre litoral e interior se repete. No Sudesto eno Sul. ao contrário. a densidade continua forte emmuitas regiões próximas das fronteiras ocidentais: é orínico lugar onde o Brasil povoado adquire certa "pro-fundidade", e o mapa das densidades indica, entre aslatitudes de Vitória e de São Paulo, do mar aos confinsrfo Ìvlato Grosso, o coração agrícola, industrial e urba-no do Brasil.

As bases demográficas

Paralelamente a essas mudanças do quantitativo eda distribuição da população, outras mudanças demo-gráficas produziram-se, e explicam-nas em boa parte asmudanças das taxas de mortalidade e de natalidade, daestrutura etâna,daesperança de vida. A medida que es-sas transformações ocorrem, outras disparidades apare-cem - e freqüentemente se aprofundam - entre as dife-rentes regiões do país.

O mapa dos nascimentos em proporção a 10 milhabitantes (Figura 04-04) mostra uma útida oposiçãonorte/sul, com as taxas mais elevadas sendo atingidas naAmazônia dos rios e no Maranhão. Esse Estado é umdos mais pobres e é dirigido por uma oligarquia da qualpode-se dizer, eufemisticamente, que não tem o destinodas populações pobres como primeira de suas preocupa-

çõeq e que não se desespera ao vêlos partir. Alimenta,de fato, há anos, importantes migrações tanto para aAmazônia como para cidades do Sudeste e Centro-Oeste,especialmente Brasília. Pará, Amapát, Roraima e Acretêm taxas ligeiramente menores e são acompanhadospor Bahia, Pernambuco e pelo norte de Minas Gerais(que é ecológica e culturalmente nordestino), consti-tuindo, nesse ponto, um claro limite.

O Brasil do Sul apresenta taxas muito mais baixas,ainda que os nascimentos sejam em números absolutosmais numerosos. Tlata-se de uma marca evidente dosefeitos da estrutura etária e das taxas de urbanização,como se vê nos casos de São Paulo, Rio de Janeiro, Be-lo Horizonte e Curitiba. Ocorre uma única exceção, nocentro-sul do Paraná e no centÍo-norte de Santa Catari-na, precisamente a zona rural menos desenvolvida daregião Sul.

O número de falecimentos é muito menor (o Bra-sil é ainda um país jovem) e é também marcado pelosefeitos da idade e da urbanização. Concentram-se, por-tanto, em dois pólos de importância desigual, sendo omenor no Nordeste, em suas regiões mais consolidadas,do litoral da Paraíba até Salvador, O principal é o vastoconjunto formado pelos Estados de Minas Gerais, Goiás,Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Paranâ,Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Essas taxas são aí

93

D i nâ micas populaciona i s

04-04. Densidade de povoamento

Habitantes por km2

IIIILlT

ffi

12.908

zto

48

24

11

2

0

Sem inÍormações(novos municípios)

500 km

@ H|-2OO3 McM-Liberyéo

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000

mais elevadas, porque aurbanização é mais forte - as ci-dades destacam-se claramente -, e a idade média maiselevada. E especiatnente o caso do Rio de Janeiro, quese iguala a São Paulo em números absolutos, e o ultra-passa em proporção por 10 mil habitantes.

Como a diferença entre o número de nascimentose o de falecimentos revela, o crescirnento natural é acausa essencial do aumento da população brasileira,já que a imigração, que por algum tempo foi seu prin-cipal fator, cessou, tendo sido até substituída por um

Atlas do Brasi l

94

movimento de emigração (1,3 milhõesde brasileiros deixaram o País nos anosde 1980). Com um ritmo de crescimentoanual de I,3o/o,o Brasil ainda fazpartedos países de crescimento relativamenterápido, em oposição aos países da Euro-pa e alguns dos seus vizinhos, como a Ar-gentina e o Uruguai. Contudo, a evolu-

ção clássica da transição demográfica es-tá claramente em curso. Até 1960, a nata-lidade tinha-se reduzido pouco, ficandoestável ao redor de 45%o desde o primei-ro censo, enquanto a mortalidade tinhase reduzido de 30,2o/oo (1872-1890) a13,4%o (nos anos de 1950), e a taxa decrescimento passou então de I,630/o paÍa2.99o/o. Por volta de 1960, a tendência in-yerteu-se: a mortalidade continuou a re-duzir-se ligeiramente (atualmente é de6.77oo, mais graças à juventude da popu-lação que a suas condições de vida), masa natalidade reduziu-se ainda mais, de

-17.17m em 1980 aI9,9%' em 2000. O Bra-sil passou claramente para a segundafase da transição demográfica, na qual aqueda da natalidade segue, com atraso, ada mortalidade. E as projeções do IBGEdeiram prever que essa evolução vaiJDnlrnuar.

Essas taxas médias variam, natural-uente. de região a região, entre cidades eitrempo e de acordo com a renda dos gru-

rrs sociais, sendo as disparidades a regrae úo a exceção (Capítulo 9). Vale notar,grr eremplo, que quanto à mortalidadeffi.:ntil o Brasil classificou-se, em 2001,ma redíocre 92e posição mundial, essen-m*Ãmen1s por causa da situação de certas!rylrìes muito pobres. Mas a existêncianrqq*s populações pobres, mal alimenta-&n e de saúde precária deve-se à desi'

ry,ei distÍibuição da renda, não à explo-Éo demogrráfica. que cessou há décadas:

04-05. Nascimentos e óbitos

oa.a

aa

Nascimentos Por10.000 habitantes

o--__19 k-@ HT2003 MGM-Libergéo

óbitos por10.000 habi tantes

@ HT'2003 MGM-Lìberyéo- 0.1

Fonte: IBGE, EstatÍstica do RegistÍo Civil 1998

95

Dinâmicas populacionais

a taxa de crescimento da população, que estava próxima

de 3% entre 1950 e 1960 (duplicação da população em

27 anos), despencou para2Yo entre 1980 e 1991 (dupli-

cação em 38 anos), e atualmente é tão baixa que a du-plicação levaria 57 anos.

Os demógrafos, apoiando-se na evolução das déca-

das anteriores, consideram que o crescimento naturalcaiu, no fim dessa década, à metade do que era quaren-

ta anos atrás. No entanto, de acordo com Manoel A.

Costa (2002), esta redução deve ser relativizada. O nú-mero de nascimentos vivos passou de 20,6 milhões na

década de 1940-1950 a um máximo quase estável,ligei-ramente acima de 35 milhões, durante as duas últimasdécadas. Entre 2000 e 2010, deveria permanecer mais oumenos ao mesmo nível que entre 1990 e 2000, ou seja,

um total de pouco mais de 65 milhões de crianças nasci-das entre 1990 e 2010, cujos sobreviventes serão a popu-

lação com idade de menos de 20 anos em 2010. De acor-

do com ele, a redução da taxa de natalidade será prati-

camente sem efeito sobre a demanda de serviços para ascrianças e os jovens durante os próximos vinte anos.

Apesar das inúmeras discussões a esse respeito,principalmente por ocasião do recenseamento de 2000,

não existe estudo definitivo sobre as causas da queda da

natalidade. O seu declínio entre 1960 e 1980 é aindamais notável sabendo-se que nenhuma política pública

de planificação familiar foi implementada para incenti-

vá-lo, devido à influência forte, na época, da Igreja Ca-tólica. Admite-se, portanto, que seus fatores principais

são a urbanização e o desenvolvimento das comunica-

ções de massa, que facilitaram a adoção de novas nor-

mas e de novos compoÍtamentos demográficos. Asso-

ciam-se a esses fatores estruturais outros mais conjuntu-rais, como a divulgação da pílula anticoncepcional, a

evolução do papel das mulheres na sociedade e as mu-

danças sociais que contribuíram para quebrar os antigostabus. A esterilização e o aborto continuam, contudo, aser utilizados pelas mulheres brasileiras, por falta de ou-

tros meios ou de informação conveniente sobre outrosmétodos de planejamento familiar. Conseqüentemente,embora sejam ilegais, o Brasil situa-se entre os países

que mais usam esses métodos, e pesquisas realizadas em

meados dos anos 1980 consideravam que o número deabortos chegava a mais de 1 milhão por ano, e que umterço das mulheres vivendo em união estável tinham sesubmetido à esterilização.

Fonte: IBGE, Censos Demográfìcos 1940-2000

Atlas do Brasi l

96

Outros fatores, como a estruturauw'idades e as migrações, contribuempara e-rplicar a evolução demográfica,üü País Como as segundas pesammuco. a pirâmide etána é determina-

da essencialmente pela natalidade. Arou redução já tem tido um efeito sen-wrel diminuindo a amplitude da base..de pirâmide demográfica, sobretudoors cidades, enquanto o aumento daÈryìerança de vida tem provocado um;úmeamento da sua parte superior.l\-os anos de 1940, era muito baixa apoporção de pessoas idosas, aumen-unmdo notadamente desde então. Con-iry[ranto as mulheres idosas fossemnnnnis numerosas que os homens, essa.tesigualdade reduziu-se em seguida..ds pessoas que têm hoje mais de 60ffxls nasceram nos anos de L940, e oreu número depende mais das condi-cÕes de natalidade e mortalidade in-fantil da época que da mortalidade ul-

'.erior. Como a taxa de mortalidadecaiu de maneira significativa apósI9{0. e a mortalidade infantil maisuinda após 1965, pode-se esperar queo número de pessoas nascidas após es-çns datas e que viverão mais de 60anos aumente sensivelmente, até queas gerações nascidas entre 1955 ei965. no máximo do crescimento de-mográfico do País, atinjam a terceiraidade entre 201,5 e2025.

Em 1991, os menores de 15 anosrEpÍesentavam 34,7o/o da população, eos maiores de 65 anos menos que 1%.Costa (2002) considera que em 2010representarão, respectivamente, 25,7 o/o

e72"/". Essas percentagens devem estabilizar-se na se-gunda metade do século aproximadamente entre 21.o/oe 15%. contra 64o/o de pessoas de idade economicamen-te produtiva. O Brasil deve, por conseguinte, superar

04-06. A transição demográÍica,o passado e o futuro previsível

desafios importantes (criação de empregos, amparo àspessoas idosas) pelo menos até 2020, data a partir daqual o crescimento natural deverá cair abaixo de 0,5oloao ano.

Taxa anual em %o

0Nr@

Fonte: IBGE

OOOOOF@O$6@r@ooooooooooo

rN

Milhóes dehabitantes

300

OÈ-QOOFFoOONÉOOOr@@ooooo--!_NNoóod+

NNNNNNNNNNNN

l l Poputaçáo total -Taxa de natalidade -Taxa de mortalidade

Fonte: Projeçóes IBGE

97

D i nâ m i cas popu laciona i s

04-07. Estrutura etária, o passadoe o Íuturo previsível

Os problemas sociais ocupam um lu-gar importante no programa do presidenteda República eleito em novembro de2002,Luiz Inácio Lula da Silva. e. indubitavel-mente, encontrar os meios para atender, demaneira satisfatória, às demandas nascidasda pressão demográfica é um de seusmaiores desafios. Nesse domínio, a inérciaé tamanha que é necessário responder ho-je às conseqüências de comportamentosque datam de várias décadas atrás.

Quanto à análise da distribúção es-pacial dos fenômenos demográficos, a daesperança de vida mostra uma nítida opo-sição entre norte e sul, Os valores mais im-portantes, entre 71, e 78 anos (calculadospelo Ipea para a elaboração do Índice deDesenvolvimento Humano à escala muni-cipal - IDH-M), concentram-se principal-mente no centro-sul, ou seja, parte de Mi-nas Gerais, sul de Goiás e do Mato Grossodo Sul, os três Estados da Região Sul e oEstado de São Paulo. Aparecem igual-mente em municípios de Mato Grosso,Pará eTocantins, enquanto os valores maisbaixos, entre 50 e 65 anos, encontram-se,infelizmente, no Nordeste e na Amazônia:24 anos de vida, em resumo e em média, éa diferença entre o melhor e o pior dosmunicípios brasileiros.

A intersecção entre a análise da dis-tribuição espacial e a evolução, durante osúltimos vinte anos, permite fazer o balan-

ço dos gaúos e perdas de população des-se período, e indica situações contrastan-tes, É geral o crescimento da populaçãourbana em todo o território nacional, oque reforça o predomínio do litoral, dascapitais e das regiões metropolitanas. Osganhos de população rural são infinita-mente mais modestos e referem-se princi-palmente àAmazônia (onde oito dos noveEstados registraram ganhos superiores à

Mulheres

Mi lhóes dê habi tantes

1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050Populaçâo 122 r4B iio 1s2 21a 223 233 238idade média 20,1 22,6 25.6 29,1 32.4 34J 36,4 37.7

I6b anos e mars I SO_O+ El tS_qa E 0_14

Fonte: Projeçóes IBGE

Atlas do Brasil

98

que em númeÍos absolutos seja - parado-de São Paulo o que registrou mais

rural. com 435.708 novos habitantes(ou pelo menos de pessoas consideradas

que vivem fora do perímetro classificado

04-08.Esperança de vida

nordestinos registram ganhos notáveis, na maior partegraças à introdução da fruticultura irrigada: Pindaré, noMaranhão; Chorozinho, no Ceará; Macaíba, no RioGrande do Norte: e Petrolina, em Pernambuco.

Mais raras são as perdas de população e, portanto,múto significativas num contexto de crescimento geral.

Esperança de vida

- nascer, em 2000

|rEI

r ffi"i';'filffi:,0 500 km

@ ÍI-2003 McM-Libergéo

N2

poder municipal). Alguns municípios

99

Di nâ m ì cas popu laci on a i s

Em quatro das cinco regiões, as perdas foram muito limitadas. Apenas a região Sul teve maior amplitude, es-pecificamente nos municípios situados no centro-oestee no sudoeste do Paraná, e no norte do Rio Grande doSul, regiões que sofreram em cheio as transformaçõesda agricultura, com o deslocamento das culturas do cafée da soja (Capítulo 4). Essa hipótese é confirmada pelasperdas de população rural, particularmente fortes nessaregião, mas se referem igualmente a outros conjuntos,como o sul do Bahia, devido à crise das plantações decacau, e a vários outros Estados nordestinos, de Per-nambuco ao Maranhão. Num contexto de crescimentovegetativo, essas perdas estão, evidentemente, correla-cionadas às migrações, a respeito das quais se pode pen-sar que se dirigiram tanto para as cidades como para asfrentes pioneiras da Amazônia e do Paraguai.

Migrações e contexto local

A importância das migrações na evolução da po-pulação brasileira pode ser medida pelos saldos migra-tórios, por deslocamentos de longa distância e pela pro-porção dos migrantes na composição da população. Es-se último critério será utilizado especificamente para opeíodo recente, por falta de melhor informação, pois acontagem demográfica de1996 comportava apenas essaindicação e, até o momento, foram publicados somenteos primeiros elementos sobre migrações obtidos no re-censeamento demográfico de 2000.

Comparando os saldos migratórios dos períodos1970-1980 e 199l-1996, constata-se uma nítida reorien-tação. Durante o primeiro, dois tipos de fluxos existiam,centrípetos e centrífugos (em direção às zonas pionei-ras). Na primeira categoria, mais de 500 mil pessoas dosEstados do Paraná e de Minas Gerais e mais de 400 milda Bahia e de Pernambuco vieram em direção a SãoPaulo. Ao mesmo tempo, fluxos menores dirigiram-se,ainda que se contassem também em centenas de milha-res, tanto do Paraná para Mato Grosso e Rondônia, co-mo do Maranhão para o Pará. Det99l al996,os fluxosforam menos evidentes, pois muitas trocas fizeram-se acurta distância entre Estados vizinhos, como entre Pa-raná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Fluxos de

regresso apareceram de São Paulo para os Estados deorigem dos migrantes (Minas Gerais, Bahia, Ceará, Per-nambuco e Paraná), por inúmeras razões, principalmen-te pela dificuldade de encontrar emprego. Mas, simulta-neamente,perdurava o fluxo principal, aquele que levoumais de 250 mil pessoas da Bahia para São Paulo, signi-ficando que, apesar das dificuldades amplamente difun-didas pelos meios de comunicação, a cidade e o Estadode São Paulo continuavam a exercer uma forte atração.Fluxos do período anterior prolongam-se, embora emmenor intensidade: do Maranhão para o Pará e doPiauí, Ceará, Paraíba e Pernambuco para São Paulo.

As migrações de curta distância parecem, portan-to, dominar, como mostra a Figura 04-11, que mostra odestino das pessoas que mudaram de município. Pro-porcionalmente, os níveis mais elevados estão se diri-gindo do Pará,, do Ceará, da Bahia e de Minas Geraispara as capitais ou as grandes cidades. Em São Paulo, omovimento é diferente, alimentado pelos deslocamen-tos de saída da metrópole rumo às cidades do interior,onde o deslocamento domicílio-trabalho é menor, bemcomo são menos pesados os custos de moradia, alimen-tação e estudo.

Em números absolutos, mais de 250 mil mineirosmigraram para Belo Horizonte, e em menor escala paraoutras cidades do Estado ou de Estados próximos (Dis-trito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito San-to), É, contudo, necessário ressaltar que Minas Gerais éo Estado que tem o maior número de municípios (maisde 800) e um deslocamento a curta distância pode sercontado como migração, contudo não é o caso em ou-tras regiões onde a malha municipal é menos fina. Ospaulistas escolheram, além do seu próprio Estado, mi-grar para os Estados vizinhos (Paraná, Mato Grosso doSul, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais e Rio de Ja-neiro) ou para o Nordeste. Os baianos e cearenses opta-ram tanto por sua capital e cidades principais do Estadoquanto por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Em Rondônia, os movimentos são principalmenteinternos, dirigindo-se para novos municípios da fronteiraagrícola: aparentemente, migrações resultantes de des-membramentos administrativos, processo que foi parti-cularmente ativo neste Estado (Capítulo 2, Figura 02-13).

Atlas do Brasil

100

Selecionaram-se seis dos 27 Estados, notávets em

tennos de migração a longa distância (migrantes que

nnudaram de Estado entre 1995 e 2000), para compor a

F-igura 04-12. Entre os Estados de origem de migrantes,

Bahia mantém o esquema tradicional de migração para

Sao Paulo, onde seus migrantes são tão presentes que

04-09. Ganhos e perdas de população 1980-2000

0 500 km

@ HT2003 MGM Líbeígéo

Urbano

"baiano" passou a ser sinônimo de "nordestino". O Ma-ranhão alimenta, além do fluxo clássico para São Pauloe Rio de Janeiro (onde os maranhenses são minoria), asfrentes pioneiras do Pará, Tocantins e Roraima, e aindafornece a principal contribuição ao crescimento demo-gráfico do entorno de Brasília. Os paranaenses partem

101

D i nâ m ica s popu lacíona Ì s

04-10. Migrações internas em duas direções principais: por um lado,para os Estados vizinhos, principalmenteSão Paulo; por outro lado, alimentam oeixo do noroeste (Mato Grosso do Sul,Mato Grosso e Rondônia), onde a sua in-fluência é predominante na região de ex-pansão da soja. Nessa região, encontramos migrantes do Rio Grande do Sul quefizeram a mesma escolha (os outros fi-cam no Sul), e ambos os gupos são cha-mados de "gaúchos". A confusão é per-doável, já que os paranaenses são fre-qüentemente filhos ou netos de migran-tes gaúchos e freqüentam assiduamenteos CTGs (Centros de Tradição Gaúcha).São Paulo vê seus migrantes irem para ostrês Estados vizinhos, Minas Gerais,Mato Grosso do Sul e Paraná, mas tam-bém para o eixo pioneiro do noroeste epara o Nordeste: as idas e voltas de nor-destinos alimentam fluxos constantes nasduas direções. Alguns Estados têm liga-

ções privilegiadas com zonas de migra-

ção específicas, por exemplo a Paraíbacom Rio de Janeiro, ou o Espírito Santocom Rondônia, para onde os capixabasmigraram muito nos anos de 1970,

No total, tomando-se como critérioa proporção dos migrantes na população(Figura 04-13), ocorrem duas imagenscontrastadas. O mapa da proporção dosmigrantes na população das microrre-giões, em L996, evidencia as margens me-ridionais e orientais da Amazônia, ou se-ja, o "arco do desmatamento", aondecerca de l5o/o a 40o da população che-gou nos cinco anos que precederam o re-censeamento, Esse subliúa, da mesmamaneira, o eixo Manaus-Caracas, queatravessa Roraima, e o que atravessa oÃmapá, os dois eixos mais recentes deconquista pioneira da Amazônia. Apa-recem, igualmente, Palmas, a capital do

Número de migrantesde 1970 a 1980

E rao.egaf, zsa.zoe77- qr:taFlã sse.''ot

0 500 km

@ HT-2003 MGM Libercéo

Número de migrantesde 1991 a 1996

264.474

r-, ros zeo

+ 66119

Fonte: IBGE, Censos Demográficos

o_jq kr

@ Hf-2003 MGM Liberyéo

Atlas do Brasi l

102

04-11. Migrações internas

N úmerooe mrgrantes

Proporçáodos migrantes*

89,9

0,07

Proporçáodos migrantes*

15,34,200,600,01

de migrantes

16 350 -1m -l-r

Proven ientesdo Ceará

Proporçáodos migrantes*

88.1 0J0, /04,30a,a2

Proporçãodos m igra ntesx

91 2a ,rn

1 ,40

0.02

Provenientesdo Pará

" l oProvenientes

da Bahia

134424 v.65ooo Ta\)tm\ ' -

264 283130 000

1m

Proporçãodos migrantes"

90,554,3

1 ,400,01

: - : :cF eòn<^. naÂ^^Dí i .^<

Proporçãodos migrantes*

51,63,11,0

0 500 km

"%dotota dosmÌgrantesrnstaaclosnoEstado ourzaosn,cut i "" , . " .

N úmero

103

D i nà m icas popu lacìona is

O4-12.Tipos de emigração

Migrântes doRio Grandedo Sul

41 495

\r- 26771

Migrantesdo Paraná

_ 197519

l.- 53.766\tr 12.4€4

1

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2OO00_99q km

@ HT2003 MGM Libergéo

t?

Pessoês recenseadas em 2000 que tinham nascido em outro Estado

Atlas do Brasil

104

novo Estado de Tocantins, e o entorno deBrasília, a sua periferia popular, duas re-giões em crescimento rápido devido aoafluxo dos migrantes. As razões de serdesse afluxo são diferentes de acordocom os casos: em Roraima, explica-se pe-la consolidação da estrada BR-174, queabre uma saída para o Caribe e, no Ama-pá, o asfaltamento da estrada BR-156 fa-cilita a passagem para a Guiana Francesa.Palmas é uma capital nova, construída em1989, e que atingiu 136.554 habitantes norecenseamento de 2000. No entorno doDistrito Federal, a multiplicação dos Io-teamentos, freqüentemente gratuitos, e osnovos municípios atraíram as populaçõespobres do Distrito Federal e, simultanea-mente, migrantes vindos de longe, do Ma-ranhão em especial. Outras zonas apare-cem, ainda, com taxas menores, como aregião dos perímetros irrigados do rioSão Francisco, fronteira entre Bahia ePernambuco, ou ainda o oeste da Bahia,onde se desenvolveu a cultura da soja. Es-se indicador simples sublinha, por conse-guinte, efetivamente os "pontos quentes",aqueles onde o afluxo dos migrantes é amarca do dinamismo de conquista, paramelhor e para pior.

Mas se o interesse são os efetivosabsolutos, considerando-se a informaçãopor Estado em 2000 de que se dispõeatualmente, constata-se que o Estado queacolhe o maior número de migrantes con-tinua sendo São Paulo, onde mais de 2,5milhões de pessoas vieram estabelecer-senos últimos dez anog valor bem distantedo atingido pelo Rio de Janeiro (614.900).De fato, um bom número de migrantes láreside há mais de seis anos. mas em 1999. oano que precedeu o recenseamento, maisde 180 mil pessoas vieram ali se instalar,quase dez vezes mais que em qualquer

04-13. O peso dos migrantes

Proporçãodos migrantes*na populaçãoem 1996 (%)

40

ìc

ffi4

T-t0

'PopulaçÉo da microregrão recenseada em 1996que íesidia num outro Éstâdo em '1991

Fonte: IBGE, contagem populacional l996

o-_____Lg k*@ HT-2003 MGM-Libercéo

Fonte: IBGE, Censo Demográfico2000

*Pessoas náo nascidasno Estêdo que tinhammenos de 10 anos compl€tos

105

D inâ micas popu laciona is

O4-14.Taxa de população masculina

Estado da frente pioneira. Se, por conseguinte, os efei_tos da conquista pioneira são irnportantes localmente, énecessário lembrar que essas migrações pesam poucono balanço nacional.

Igualmente revelador é outro indicador demográ_fico simpleg a taxa de gênero, Índice que trata simples_

mente da proporção entre o número de homens e mu_lheres na população de cada lugar, Essa clássica relaçãoapresenta, no Brasil, um sentido novo, visto que é mar_cado por uma forte oposição espacial entre as regiões li_torâneas e a frente pioneira, e entre cidade e campo. Apredominância de mulheres (em verde na Figura 04_14)

Número de homenspara 100 mulheres em 2000

gffin

ffimI

117

110

103

100

98

94

89@ LI-2003 McÌ*Libergéo

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2OOO

Atlas do Brasi l

106

é nítida nas grandes cidades, em parte de-vido ao afluxo de jovens das zonas ruraisque encontram emprego de doméstica,costume ainda existente nas classes médiae superior brasileiras.

A mesma predominância encontra-se nos campos de Minas Gerais, de SãoPaulo, de toda a região Sul e, sobretudo,no Nordeste: desta vez, a diferença nãorepresenta afluxo de mulheres, mas parti-da de homens. Reencontram-se esses ho-mens em zonas bem específicas (em la-ranja e marrom no mapa): as zonas pio-neiras do Nordeste (oeste da Bahia),Centro-Oeste e Amazônia, sobretudo no"arco do desmatamento". ou melhor. umadas zonas situadas ligeiramente ao no-roeste dele, zona que as taxas máximas depopulação masculina (entre 110 e 117 ho-mens para cem mulheres) sublinham cla-ramente, bem como nos Estados de Ro-raima e Amapá. São zonas em que hánecessidade de mão-de-obra pouco qua-Iificada, mas dotada de força muscularpara abater árvores de quarenta metroscom motosserra, o que requer homens,preferencialmente j ovens. Nessas regiõesse vive distante de qualquer escola, dequalquer hospital e, por conseguinte,sem a família, que foi deixada, provisó-ria ou definitivamente, nas regiões deorigem dos migrantes.

Em dois períodos diferentes - entre1980 e 1991 e entre t996 e2000 -, a varia-

ção da taxa de população masculina mos-tra a que ponto esse indicador revela oinício de frentes pioneiras e o momentoem que começam os desmatamentos. Re-forçados pela padronização estatística(média do valor de cada unidade espacialcom a de seus vizinhos), a tendência é ní-tida: nos anos de 1980, os maiores índiceseram localizados no Mato Grosso do Sul,

04-15. Variações da taxa depopulação masculina

Variaçáo da taxa depopulação masculinaentre 1980 e 1991

Âq

Média com osviz inhos maispróxrmos

- 19,3

a taxa demascul inae 2000

107

D ì nâ m ica s popu laciona is

Mato Grosso e Goiás, regiões de cerrados. Tâmbém emRondônia ePará,em regiões de floresta, a mesma fron-teira agrícola progredia após a incorporação dos cerra-dos. A "perda" de homens marcava o Nordeste interior,sobretudo regiões próximas da frente de colonização, ea Amazônia, que, provavelmente, perdia também seushomens jovens atraídos pela fronteira.

A tendência no período 1996-2000, ainda que osdesvios fossem menores (sem dúvida relacionados àevolução da transição demográfica e à perda de vitalida-de das migrações), é de forte progresso para o noroesteda zona marcada pela predominância masculina, Destavez, forma-se um arco, de Rondônia à "cabeça do ca-chorro", no ocidente do Amazonas,incluindo todo o Es-tado de Roraima, o oeste do Pará e o noroeste do MatoGrosso, ou seja, uma boa parte da Amazônia ainda in-tacta. Pode-se interpretar esse indicador como a pontaavançada da frente pioneira, ou seja, uma tendência in-quietante para o futuro da floresta amazônica. Diantedessa evidência, as políticas de preservação e de redu-ção dos impactos são, mais do que nunca, fundamentais.Quanto às variações negativas, essas concentram-sesempre no Nordeste, tradicional reservatório de mi-grantes desde o século XIX, e correm o risco de perma-necer enquanto os problemas estruturais da região nãoforem superados.

Democracia racial eracismo econômico?

Uma das questões mais sensíveis no Brasil é a de-mocracia racial. Alguns vêem o Brasil como um país queteve êxito em sua mestiçagem, contrariamente a certospaíses onde o processo é chocante (a África do Sul, emespecial), enquanto outros denunciam um racismo insi-dioso e uma discriminação de fato, se não de direito, dosnegros. Não caberia responder a essa pergunta no con-texto deste Atlag mas pensÍÌmos poder incorporar al-guns e_lementos ao debate, considerando que os recen-seamentos brasileiros dispõem de informações sobre acor da pele da população. É importante ressaltar doisaspectos da questão: trata-se da cor declarada pelas pes-soas recenseadas. Os agentes recenseadores recebem a

instrução de anotar o que se declara, e não o que vê. Ascategorias possíveis são pouco numerosas, seis ao todo:branco, preto, mestiço, amarelo, indiano, sem declaração.

Esses dados do recenseamento demográfico per-mitem dar uma imagem da distribuição da populaçãopela cor da pele e também cruzar essa variável com ou-tras, sobretudo a distribuição dos rendimentos, pelo me-nos para o recenseamento de 1991, cujos microdados(dados individuais) foram publicados.

A primeira série de mapas (Figura 04-16) mostra adistribuição da população em função dessas categorias:a dimensão do círculo refere-se ao número de pessoaspor micronegião e a cor à sua proporção em relação àpopulação total dessa mesma microrregião. Quem co-nhece ligeiramente a história da população brasileiranão se surpreenderá muito ao constatar que os brancossão particularmente numerosos no Sul, região de imi-gração européia, e os mestiços no Nordeste e na Ama-zônia, regiões onde, há quase cinco séculos, existe umativo processo de mestiçagem.

O mapa dos negros é esclarecedor: enquanto asso-cia-se geralmente a sua presença com o Nordeste, pode-se ver que, se são certamente numerosos na Bahia, o sãoainda mais no Sudeste (em especial no Rio de Janeiro eem Minas Gerais). Esse aspecto pode ser explicado portratar-se de antigas regiões de escravidão,mas, a prioü,é surpreendente encontrar uma minoria significativa noRio Grande do Sul, e essa presença pode ser explicada,mais uma vez, pelas heranças da escravidão.

Os outros grupos são menos numerosos (nos ma-pas dessa segunda série, a dimensão do círculo mínimonão corresponde mais a 10 mil ou 15 mil pessoas, comonas três anteriores, mas a 1.000 ou 500 pessoas),'Ama-relos", essencialmente descendentes de imigrantes japo-neses, estão concentrados no Estado de São Paulo (aon-de chegaram no século XIX ou no início do século XX),com exceção de alguns que migraram para as capitais deoutros Estadoq onde são freqüentemente produtores dehortaliças ou comerciantes de fÍutas e legumes. Quantoaos indígenas, os efetivos mais numerosos situam-se naAmazônia, em especial ao norte do Amazonas e de Ro-raima, mas percebe-se que estão presentes em todo oPaís, em concentrações secundárias no Mato Grosso do

Atlas do Brasil

108

04-16. As seis Gores da população brasileira

Proporçáoda poPulaçáo

22.1 NúmeÍode pretos

Proporçãoda poPulaçáo

6,900,160,060,010.00

Númerode amarelos

IEffi@

94a.o24 -7\244.506 t-'r /

10.000 ry

236 z\u' trìl

Semdeclaração

Proporçaoda poPulaçáo

6,260,300,160,080,00

km

@ HT-20ú MGM-Libergéo

Número

D i nâmicas PoPu laci o n a i s

, =.-", iacr- uicrodados do Censo Demográfico 1991

109

04-17. Distribuição por cor de pele

24 17VoComponente It36,e%l(coordenadas * 1000)

o,- jgk'

@ HT-2003 MGM-Libergéa

% Indígenas e

%Sem declaraçáo i

-1

| % Pardos

% Pretos !

Componente l ì|1s3%l(coordenadas * 1000)

0- -iE k'

@ HT-2003 MGM Libegea

Fonte: IBGE - I\4icrodados do Censo Demográfico 1991

Atlas do Brasi l

110

Brancos

Media27,92 34,53 Brancos67,36 50,11 Pardos4,72 14,70 Outrosn

- .-:ìos, Indígenas, Amarelos)

': -::

-GE

Mìcrodados Censo Demográfìco de 1991

!--. r..r Nordeste (litoral sul da Bahia e sertão) e nos

: -irxs do Rio Grande do Sul e de Santa CaÍarina.P.rr último, os "sem-declaração" distribuem-se como

- :'.:llação brasileira em geral. São particularmente nu-

::r--!t'rS nas $andes cidades, em especial em São Paulo e- i.-r de Janeiro. Seria essa declaração, mais freqüente

04-18. Cor da pele dominante

0 500 km

@ HT-2003 MGM Lìbergéa

nos meios bem informados, uma rejeição a uma perguntajulgada imprópria pelos mais educados? Em todo caso, oefeito é fraco e não afeta o conjunto das respostas.

Aproveitando os mesmos dados para elaboraruma análise fatorial, a Figura 04-17 mostra que existe,desse ponto de vista. pelo menos três Brasis. O eixo da

! óz' ;e

,od4

*^'ú

111

D i nà m i cas pop u I aci ona i s

Renda(em número desalár io mínimo)

- Mais de 30

rDe20a30EDe15a20

-De10a15É De 5 a 10EDe3a5mDe2a3aDe1a2

-De112a1r Menos de 1/2o Sem renda

o

-Gm

oo

E

Coo

EC

Fonte: IBGE - Censo Demagráfico20OA

04-19. Cor de pele e renda

componente I (36,9% da variante) opõe o Brasil branco

do Sul ao Brasil mestiço do Norte. O eixo da componen-

teII (19,3o/o da variante) distingue as minorias, negros

de um lado (azul), indígenas e amarelos do outro. Agru-

pando-se essas três categorias sob a rubrica "outros"

(apenas devido às necessidades da constÍução do gráfi

co, mas sem nenhum sentido pejorativo) pode-se, em se-

guida, construir um diagrama triangular (Figura 04-18)

que sintetiza a distribuição das cores de pele da popula-

ção de acordo com a microrregião.

As três categorias que se destacam dessa análise

são muito diferentes, tanto pelo lugar relativo de cada

grupo, quanto pela parte do território nacional que ocu-

pam. A categoria em que os brancos predominam é

aquela em que, de fato, a parte desse grupo é mais ele-

vada (formam mais de três quartos do total) e ocupa a

região Sul do país, agregando-se São Paulo, o sul de Mi-

nas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e algumas zonas

de Mato Grosso e Rondônia, para onde as migrações

agrícolas conduziram muitos dos sulistas. A categoria

em que os mestiços predominam é menos homogênea,

porque essa categoria estatística abrange uma gama de

cores muito variada, como se pode constatar em poucos

minutos passeando nas ruas de qualquer cidade brasileira.

At las do Brasì l

112

Eles formam pouco mais de dois terçosdo total, o que deixa lugar apenas para

28olo das pessoas se decÌararem brancas.

Ocupam praticamente todo o resto doPaís, com exceção das regiões classifica-das na terceira categoria. Esta se distin-gue pelo lugar que ocupam os "outros"(negros, indígenas, amarelos), mas nota-

se que são minoritários, representandocerca de 1,5o/o da população. Esta é fre-qüente na Amazônia (devido à popula-

cão de indígenas) e nos Estados da Ba-

hia e do Rio de Janeiro (devido aos ne-gros). Em maior escala, deve-se relativi-

zar essa imagem e considerar as terrasindígenas dispersas por todo o País, bemcomo as aldeias de descendentes de es-

cravos (quilombos). mas essas são as

únicas regiões onde a presença das mi-

norias é significativa.

Ao aproximar esse tratamento doslados com o de rendimentos (Capítulo 9),.r único que permite recurso aos mlcro-

3ados, podem-se construir perfis de ren-jimento pela cor da pele, sintetizados no

Quadro 04-03 e na Figura 04-19. Ressal-

:i-se que o único grupo em que a colunalc "ricos" (mais de dez salários mínimos

:Lìr mês, ou seja, cerca de mais de 50 dó-..:es em dezembro de 2002) é mais nu-::-rosa é a dos amarelos; os rendimentos::.:dios (entre três e dez salários míni

:: -.s r predominam no grupo de brancos.

-'' pobres são majoritários entre os mes-

,:,r:- os negros e os indígenas, represen-.-;o aproximadamente dois terços do

--:.- das duas primeiras categorias, e-::: JÈ três quartos nos últimos. Há, por

: ::.:-quinte. distribuição de rendimento---- diferente, de acordo com os gru-

: , ;:jlnidos pela cor da pele.

?-.de-se tentar detalhar mais essa

- - .:::-:::Ì1. ObSerVando o que se passa

04-20.Tipologia dos pobres e ricos

Cor de pele predominante i È"

entre os mais pobres

Brancos

f:._-.l PardosOutros (pretos, amarelos, indí

Cor de pele predominanteentre os mais r icos

Fonte IBGE lvl crodados, Censo Demográfìco 1991

113

D i n à m ìca s popu lacionai s

no âmbito de cada um desses grupos. No grupo mais nu-meroso, o dos pobres (as famílias que dispõem de rendi-mentos inferiores a três salários mínimos, definição ofi-cial da pobreza no Brasil), constata-se, ao analisar suacomposição em termos de cor de pele, que esta se distri-bui mais ou menos como a população em geral, no en-tanto com algumas concentrações que não aparecemaqui: pobres brancos no litoral de Santa Catarina e nonorte do Rio Grande do Sul, pobres mestiços no Mara-nhão e no Pará, pobres amarelos no Estado de São Pau-lo. Não há, por conseguinte, bolsões de pobreza de com-ponente étnica específica, pois a sua composição refletea da população brasileira como um todo. Invertendo oponto de vista, quando se analisa a estratificação econô-mica de cada grupo étnico, pode-se chegar à mesmaconclusão: não parece haver, em cada um destes grupos,distribuição dos ricos e pobres diversa do quadro da po-pulação brasileira como um todo.A distribuição de ricose pobres entre os negros, em relação à qual se poderiaesperar diferença daquela dos brancos ou dos mestiços,dado que o seu mapa global é diferente, é, com efeito,quase a mesma, e os mais elevados rendimentos concen-tram-se ao longo do eixo Santos-Brasília.Amarelos são,por conseguinte, os únicos a terem um comportamentodiferente, primeiro porque - já se disse - os rendimen-tos elevados são mais freqüentes que nos outros grupos,e porque esses elevados rendimentos encontram-se sis-tematicamente fora das regiões de concentração origi-nal do grupo. Obviamente, os que migraram tiverammais êxito que os que permaneceram no Estado de SãoPaulo, e encontram-se em todo o País, da Amazônia àsfronteiras do Uruguai. Nota-se, do mesmo modo, umaconcentração sobre um eixo Santos-Rondônia quemostra que os japoneses seguiram, com certo sucesso, o

movimento pioneiro originado em São Paulo e alcança-ram seu lugar - e seu lucro - em especialidades negli-genciadas por outros grupos.

Por último, tentando resumir essas informaçõesconstruindo uma síntese, por mais redutor que seja oexercício, chega-se (agrupando os grupos "pequenos"sob o rótulo de "outros", de modo que tenham um pesocomparável aos dos "grandes" e entrem no diagramatriangular) às imagens da Fígura 04-20, ou seja, a uma ti-pologia de ricos e pobres: os pobres são brancos no sule mestiços no norte, com algumas exceções, como o nor-te do Mato Grosso e o sertão, onde encontram-se po-bres brancos e "outros" pobres, indígenas na Amazônia,negros na Bahia e no Rio de Janeiro. O mapa dos ricosé mais distinto ainda, a repartição norte-sudeste é amesma, mas os "outros" não aparecem mais.

Nota-se, contudo, que os limites norte-sul e mes-tiços-brancos são pouco diferentes, Esses foram des-locados sensivelmente para o norte pela frente pio-neira sobre o eixo do noroeste, que empurra o limiteaté a Amazõnia. A conquista de Mato Grosso e Ron-dônia pelos migrantes vindos do Rio Grande do Sul edo Paraná permitiu a alguns dentre eles enriquecer,ou, pelo menos, se tornarem os mais ricos habitantesdessas regiões pioneiras, os mais educados e os quetêm melhores condições de sobrevivência (Capítulo 9).Essas novas terras do eixo noroeste são, assim, econô-mica e culturalmente, o prolongamento do sul-sudes-te, a ponta avançada da sua penetração em detrimen-to do Brasil caboclo (mestiços de indígenas e negros)da velha Amazônia. Prova, se for necessário, que umindicador ambíguo como a cor de pele contribui paraevidenciar a diversidade e o dinamismo da sociedadebrasileira contemporânea.

Atlas do Brasil

114

CAPITULO 5

Brasil é um grande país agrícola, um dos primei-ros produtores e exportadores mundiais de umavasta gama de produtos (café, açúcar, soja, suco

È laranja etc.); contudo, o setor primário pesa cada vez=enos no seio de sua economia. O mundo rural (a pe-::ária. a agricultura, o extrativismo) não detém mais amportância de outrora, mesmo tendo continuado a:'!-upar a maior parte do território. o crescimento espe-=.-ular da indústria e dos serviços e o conseqüente in-::aço das cidades promoveram o esquecimento daquiloque tbi sua principal base econômica e o modo de vida= eÍande maioria dos seus habitantes.

Negar isso seria, no entanto, um grave erro para o:;--úecimento e compreensão do Brasil atual, porquei:i o mundo rural o pilar de seu crescimento hodierno:-s capitais que edificaram a indústria de São Paulo vi-.ran do café, e os trabalhadores das fábricas chegavamireto das plantações ou dos campos nordestinos.O po-:rr político e as alavancas do Estado e da União foramlmpartilhados entre os "barões" do açúcar, do café eu pecuária.

O passado não é,além disso, a únicarazão do inte-:ãse no mundo rural. O seu lugar na economia, aindal- tenha diminuído, não deve ser negligenciado, O seuì:r-:mismo remodela constantemente o espaço nacio-nn- ransformando novos espaços, alterando a vocação:n regiÕes agícolas em uma velocidade surpreendente.=,r.e-r transformações e conqústas pioneiras de grander,rnrlirude alteraram largamente, e com freqüência de-

o meio natural, e ainda hoje, na Amazônia e1r: Centro-Oeste, os desmatamentos provocados pelo

avanço da pecuária e da soja são preocupantes.A potên-cia e a flexibilidade desse setor agropecuário não de-vem, no entanto, mascarar as tensões e as profundas de-sigualdades que ocorrem e dividem o mundo rural, eque explicam, em parte, o forte processo de mudançasque continuará alterando, muito provavelmente, a fisio-nomia das paisagens no futuro próximo.

As estruturas essenciais

A Figura 05-01, que analisa os tipos de uso da ter-ra no País, mostra uma organização do espaço rural bra-sileiro bastante característica. Opõe, claramente, trêszonas de domínio: a floresta (ao norte), as pastagens (aocentro, sul e extremo norte) e a agricultura (em algumasregiões bem delimitadas, no Nordeste, no Sudeste e noSul, e ainda numa região muito pouco povoada da Ama-zônia mais setentrional). Essa tripartição corresponde,bem de perto, aos domínios respectivos de três grandessetores que compartiìham o espaço rural brasileiro: 1)vastas zonas que ainda estão cobertas por sua vegetaçãoprimária; 2) fueas onde as frentes pioneiras ocorrem; 3)áreas de extrativismo, uma forma de uso do solo aparen-temente primitiva, mas que ainda é praticada. As pasta-gens, naturais e artificiais, são ocupadas pelo potente se-tor da pecuária, principalmente bovina, que a cada anoganha em potência e extensão.A agricultura associa for-mas muito diferentes: de um lado, uma pequena agricul-tura familiar mais ou menos similar aos seus homólogoseuropeus; de outro lado, o agronegócio, que não deixanada a desejar aos seus equivalentes norte-americanos.

115

Dinâmicas do mundo rural

05-01.Tipos de uso do solo

Essa compartimentação é o resultado de uma longa his-tória de conquista, e a divisão, ainda não totalmenteconsolidada, é fruto de rivalidades agudas entre essestrês setores.

De fato, a agricultura brasileira continua a con-quistar novas terras, a fazer produzir culturas agtíco-

las em milhares de hectares de florestas e cerradosvirgens. Desse ponto de vista, o Brasil é ainda um"país novo", como se classificava até há pouco tem-po. Mas essa tendência parece alterar-se, ao seremconsiderados os resultados do recenseamento asro-pecuário de t996.

10?"

)4,-q

a50 oo

' f02030

PredominânciaNenhuma

wï27,7538,40

40 50 60oÁ de lavouras

Pecuária Mata

I14,30 9,7161,75 23,5617,95 66,73

80 90

Agricul tura

I65,56 Lavouras21,17 Pastos13,27 lvlatas

0 500 km

@ HT-2003 MGM-Libergéo

tonte: IBGE, Censo Agropecuário. 1996

50

Atlas do BrasÌ l

116

Milhóes de hectares

400

350

300

250

200

150

100

50

01940 1960 1980

ffi Área apropriada f_-] Área cultivada

sonte: IBGE, Censos Agrcpecuátíos

Mi lhares de estabelecimentos agrícolas

7000

6 000

5 000

4 000

3 000

2 000

1 000

'1985 1996

- Número de estabelecimentos

05-02. Evolução do espaço rural

O movimento de conquista de terras novas avan-çou continuamente desde a chegada dos portugueses.Entre 1970 e 1980, mais de 750.000 km2 - uma vez emeia a extensão da França - tinham sido incorporadosLs culturas agrícolas, uma média de 15.000 km2 por ano.Se a amplitude da conquista pode surpreender, esse mo-rimento que a representafaz apenas prosseguir o pro-cresso dos cinco últimos séculos, e o estilo depredador dar-alorização" colonial sobreviveu muito depois da In-dependência. A atração sempre presente da "fronteira"tirsuadiu os colonos de enraizarem-se, de estabelecerJDrn a terra-mãe que descobriam a longa familiaridadegue permite a gestão dos recursos e a manutenção doercl de produção ao longo dos séculos.

Esse comportamento tem a sua razáo de ser, por-.Toe os métodos agrícolas geralmente utilizados não dei-rer-am escolha. Fora de algumas zonas privilegiadasimarsens dos rios periodicamente fertilizados pelas:heias oásis do sertão ou alguns enclaves de colonos es-rrneeiros - alemães, italianos, japoneses), os agriculto-rcs são rinculados a métodos agrícolas muito primitivos.Ests métodos consistiam essencialmente em desmatar: ,1oeimar. seguindo-se o cultivo, sem aporte de adubos

nem rotação de culturas, até que a ferti-lidade caísse, ao final de alguns anos.Abandonavam-se, então, essas parcelaspara ocupar novas teÍras virgeng vizi-úas ou remotas. Nesse aspecto, haüapouca diferença entre grandes e peque-nas propriedadeg sendo o limite da ex-pansão a quantidade de mão-de-obradisponível, proveniente das famílias -freqüentemente numerosas - de escra-vos ou de trabalhadores sob contrato.

A redução anunciada no númerode explorações agrícolas e de terrasque exploram pode ser vista como fimprevisível da "fronteira", e isso podealterar esta tendência? Pode-se pensá-lo observando sua evolução nas re-giões mais desenvolvidas do Sul, ondea intensificação e tecnificação progri-dem rápida e simultaneamente, e onde

observa-se uma redução de terras cultivadas, sem per-das da produção, No entanto, na região Norte, ao nortedo Mato Grosso e sul do Pará, bem como em Roraimae Amapá, a progressão é contínua, principalmente devi-do à extensão das pastagens.

Além desses comportamentos geraig para avaliaro desempenho - muito diferenciado - das regiões e Es-tados em termos de quantidade produzida e valor daprodução, é necessário aprofundar a análise de detalhes,pois constatam-se fortes disparidades (mapas da Figura05-04), Enquanto o primeiro mapa mostra que em nú-mero de estabelecimentos agícolas se destacam duasregiões do sul (norte do Rio Grande do Sul, oeste deSanta Catarina e Paraná) e o interior do Nordeste, osoutros três sublinham a predominância do Sudeste e doSul quanto ao valor total da produção e quanto aos va-lores produzidos pelas culturas e pela pecuária. Os trêsmapas mostram configurações ligeiramente diferentes,mas possuem em comum a condição de singularizar oSul e o Sudeste (que possui uma extensão para o Cen-tro-Oeste) em relação ao Norte e sobretudo ao Nordes-te, apontando um risco grave para esse último, dado queas explorações ali são numerosas.

117

Dinâmicas do mundo rural

05-03. A contração do espaço agrícola

Outra clivagem importante atravessa o mundo rural importância unicamente nas regiões mais pobres dos

- a que opõe grandes e pequenas explorações. As peque- Estados de São Paulo (Vale do Ribeira) e do Rio de Janei-

nas (menos de 10 hectares) concentram-se no Nordeste e ro, enquanto as explorações médias (10 a 100 hectares)

na Amazônia setentrional; no Sul, elas têm alguma predominam nas outras localidades. O domínio das

0- j99 kr@ HT-2003 MGM Libergéa

Área daslavou ras

Área daspasÌagens

Variação da área delavouras 1985-1996 (%)

EoETo

l , . ] 0 500 km

@ HT-20A3 MGM-Libergéo

VaÍiação da áÍeade pastos 1985-1996 (%)

l - nEoEffi

0-__ jE k.@ HT-2003 MGM Lìbeígéo

Fonte: IBGE, Censos Agropecuários, 1985 - 1996

Atlas do Brasi l

118

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1996

grandes propriedades (mais de 100 hectares, freqüente-

mente vários milhares de hectares) corresponde aproxi-

madamente aos domínios dos cerrados, no centro do

País, e dos campos, no sul e no norte'

05-04. lor da produção

Essas oposições são também encontradas nas prá-

ticas agrícolas dos estabelecimentos. Os indicadores de

que se dispõe (as rubricas do último recenseamento agro-

pecuário do IBGE, de 1996) dirigem-se praticamente

119

Dinâmicas do mundo rural

05-05. Grandes, médias e pequenas propriedades

para o mesmo sentido e mostram recursos muito maisfreqüentes no Sul-Sudeste: os fatores de produção mo-dernos, a assistência técnica pública e privada, as práti-cas mais sustentáveis ambientalmente. Para quatro indi-cadores escolhidos nessa lista, a Figura 05-06 destaca oavanço do Sul, sobretudo das regiões de agricultura

familiar já citadas: nota-se que elas estão presentes nosquatro mapas. O Nordeste sobressai no mapa consagra-do ao uso dos produtos fitossanitários; aparece Ìrm pou-co menos naquele que trata do uso dos adubos (princi-palmente nas regiões produtoras de cana-de-açúcar),menos no que focaliza as práticas de conservação dos

Proporçáo média dos estabelecimentos (%)

r - . l f f i r72zó

JJ I I

54 42

<10ha

10 -100 ha

> 100 ha51347

Fonte: IBGE, Censo Agropecuárìo 1996

@ HT2O03 MGM-Lìbergéo

Atlas do Brasil

120

05-06. Práticas agrícolas modernas

Uti l izaçãode adubos

w,u @ HT2

Proporçáo dosestabelecimentosque uti l izam produtosfìtossanitários (%)

-':?:r or '^€ ; ; ;= - . -c4_ 5

Proporção dosestabelecimentosque prattcam a conseruaçãodos solos (%)

Produtosfitossa nitários

Número deestabelecimentos

31.182^6.237 &t

500

Conservaçãodos solos

Proporção dosestabelecimentosque ut i l izam adubos (%)

97,6

89,9

72,6

9,8

1,6

0,0o-----!E km

@ HT-2003 MGM-LÌbergéa

IE@t:--tflE

Assistênciatécnica

0_jE km

Proporção dosestabelecimentosque têm acesso aassistência técnica (%)

67,6

40,6

18,0

5,0

0,2o.-__jg km

rI@HE

@ Hr2003 McMlibergéo

---: IBGE, Censo Agropecuárìo 1996

@ HT2003 MGM-Líbergéa

solos (quase unicamente o Ceará) e menos ainda no querÊr'sl3 e nível de recurso à assistência técnica.

Esse atraso geográfico corresponde a um atraso:ronológico, uma dificuldade para manter-se no nível do

movimento geral de progressos que o país conheceu: oconsumo de adubos foi multiplicado por 3 entre 19g0 eL990, o de produtos fitossanitários, por 2, enquanto ode sementes selecionadas e alimentos para o sado

121

Dinâmicas do mundo rurat

05-07. Difusão desigual da modemização

Eixo 2113%1

' - l 'Uso das prát icas modernas

+1

1 +

-1

Componente | Í54,6a/ol(coordenadês * 1000)

rEtxo I154 6a/.1

ï

IForte

+2917

Média estatísticêcom os municípÌosvizrnhos

- '10 097 0.- _ jEk.@ HT2003 McM-Ltbergéo 1 NÚmero total de estabelecimentos

2 Superf íc ie total dos estabelecimentos3 Assistência tócnica4 Adubo5 Produtosf i tossani tár ios6 Conservação dos solos7 lrrigaçáoI Energia elétr ica9 Número de tratores

10 Número de semeadoras11 Número de colhei tadeiras12 Número de caminhÕes13 Número de veículos ut i l i tár ios

Dimensáo dosestabelecimentos

Componente llI13,0%l(coordenadas * 1000)

Grandeestabelecrmento

III

IIi

Agriculturaíamiliar

+3738

IVIédia estatístìcacom os municípiosviz inhos

-4380 0-_ _jE k.@ HT-20a3 MGM Libergéo

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1996

Atlas do Brasi l

122

nais rapidamente ainda. Uma xaálise fato-oom os indicadores de uso das máquinas,

& produção e as práticas modernas (FiguraEtra bem a diferença que se instalou entÍe o

05-08. Extrativismo

Sudeste (em cores fiás), é o lado "bom",caracteraadopelo uso das práticas modernas O eixo 2 (I3o/o dava-riante) tlistingue dois grupos. De um lado (em coresquentes), as regiões que disseminar?m a mecanizaçãoentre essas práticas (tratoregmáquinas e colheitadeirag

I Catanhado-pará

I láto< coagulado de hévea

O Goco de babaçu

I Cctanha de caju

I Gra de carnaúba

I hnha de licuri

f Érrs de umbu

OÈqj

OHm

I krtas aromáticas, medicinais,úiã e corantes

bdacolhei tar lSD (1.000 Íeais)

/--\-12.252í-\r 6.262

\@'1; 0 5oo km

@ rlF20&ì Mctut-LìtuÍgéo

GÊ3ìrS1999

d- O eixo 1 (54,6y" da variante), todo o Sul-

123

Dinâmicas do mundo rural

05-09. Açaí e erva-mate

Frutos de açaí('1.000 reais)

r l,,:.'L",i"".i rva - m ate

Fonte: IBGE, IPVS 1999

caìninhões e veículos utilitários): são as regiões de pe-cuária, no Centro-Oeste e no Sul, marcadas pela grandedimensão das explorações; de outro lado, acentuadospelo número de estabelecimentos (em cores frias), oNordeste e as regiões de agricultura familiar do Sul, que,quanto às práticas modernas, priülegiaram o que é útiÌ eacessível às menores propriedades: adubos, produtos fi-tossanitários, assistência técnica, conservação dos solos eirrigação, para algumas zonas onde o clima o exige.

Até o momento ficam evidentes esses contrastesmaciços em termos de valor produzido, de dimensão dasexplorações e da modernização. Analisando as culturase a pecuária praticadas, podem-se compreender outrasrazões para essas disparidades.

Extrativismo, agricultura e pecuária

Entre as produções significativas desse mundo ru-ral está em primeiro lugar o extratiüsmo, porque uma

particularidade do País é que aindanão está completamente ocupado. Umaboa parte do espaço brasileiro vive ain-da de uma economia extrativa, e a Fi-gura 05-08 destaca alguns dos produtosrecolhidos. Essa atividade evidencia-sesobretudo no Norte, na Amazônia e nointerior do Nordeste, onde se colhemborracha, ceras, fibras e castanhas. Paraalguns desses produtos, o mercado émundial, e eles são encontrados nos su-permercados e em lojas de gênerosexóticos, de maneira que são bem co-nhecidos (castanha-do-pará, castanhade caju, pinhão), enquanto para outrosa notoriedade e os mercados são locais:a castanha de babaçu, que fornece umóleo que serve sobretudo à indústriaaeronáutica; a carnaúba, uma cera ou-trora utilizada pela indústria do disco ehoje na construção; e o pequi, um con-dimento muito apreciado em Goiás.

O extrativismo é praticado tambémem certas regiões do sul do País, na pro-

dução de vários produtos, principalmente a madeira (Fi-gura 03-11), visto que o Brasil é o único país no mundoa fazer funcionar uma parte de sua grande siderurgiacom base no carvão vegetal, e apenas recentementeplantações de eucaliptos e de piúo começaram a subs-tituir a madeira do extratiüsmo,

Certos produtos possuem valor de indicador cultu-ral, como o açaí e o mate (Figura 05-09). O primeiro,fru-to de uma das inúmeras espécies de palmas amazônicas,e usado no preparo de um suco rico em ütaminas, é umadas bases da alimentação das populações da foz do rioAmazonas. Recentemente descoberto pelos nutricionis-tas, virou a coqueluche dos obcecados pela forma físicado Sul-Sudeste, onde é vendido nas academias de ginás-tica. Já o mate é a folha de um arbusto que, seca emoída, serve para fazer a infusão amarga apreciada pe-los gaúchos, os habitantes do Rio Grande do Sul. Típi-ca da civilização do Pampa (encontrado igualmente naArgentina), essa bebida é consumida por meio de uma

Atlas do Brasi l

124

&5-10. As culturas especializadas

Principais regiões produtorasíproduzindo mais que a média nacional)

I calu

! ealmito

€ Amendoim

ffi Batata

I Pêra

Trigo

€ Fumo

Eã Aveia

G Malva

f Pimenta-do+eino

JUtA-

l Guaraná

I Slsat

I Denda

FI-l Cacau

f__l coco

ìr:e: IBGE, produção agrícola municipal 1999

pipeta inserida em uma cabaça bem trabalhada, que

passa de mão em mão, para posteriormente verter-se

rreis água fervente sobre a erva. É um ritual que cadaqaúcho leva com ele aonde quer que vá, dos ministérios

de Brasília às praias do Rio de Janeiro ou às frentes pio-

neiras do Centro-Oeste e da Amazônia.

Quanto às culturas agÍícolas, encontra-se no Brasil

praticamente toda a gama dos produtos agrícolas mun-

diais, isso porque sua extensão em latitude permite cul-

tivar tanto as plantas tropicais como as do mundo de cli-

ma temperado. Não se pode dizer, no entanto, que se

produza de tudo por toda parte, nem que se produza

500 km

@ HT-2003 MGM-Lìbergéa

125

Dinâmicas do mundo rural

05-11. As grandes culturas comerciais

Produçáo em 1999(1 000 reais)

Produção em 1999(1 000 reais)

0- __q99 km

@ HT-2003 McM-Libergéo

Fonte: IBGE, produção agrícola municipal 1999

Atlas do Brasil

126

com os mesmos resultados.A geografia agrícola do Bra-sil é móvel, com algumas produções constantes e "espe-cialidades" regionais que aparecem claramente. Se portoda parte se cultivam os alimentos básicos (mandioca,

05-12. Deslocamentos de algumas grandes culturas

Evolução da produçáode arroz entre 1977 e 1999

0-__ggk

0 = €stabilidade, 1 = aparecimento, -1 = desaparecimento

milho, feijão, anoz) em proporções variáveis, as produ-

ções comerciais estão agrupadas em algumas zonas or-ganizadas em torno de uma ou várias culturas. A Figura05-10 evidencia algumas das culturas especializadas, e aFigura 05-11 as principais culturas comerciaig em valor,com os mesmos referenciais, de forma a tornar os mapascomparáveis.

As condições do meio natural, principaLmente oclima, estão entre os principais determinantes dessas es-pecializações: a pimenta, a malva, a juta, o dendê, plan-tas importadas de outros continentes que apreciam oclima quente e úmido da Amazônia. O mesmo ocorrecom uma planta endógena, o guaranâ,umarau a partirda qual se prepara um pó energético que serve tambémpara contribuir, ainda que em baixa quantidade, com orefrigerante do mesmo nome, concoÍrente brasileiro daCoca-Cola. Esta empresa boicotou o refrigerante brasi-leiro durante anos, mas acaba de lançá-lo no mercadonacional e tem interesse de exportá-lo. O sisal se adap-ta ao clima seco do sertão, como o caju, enquanto o ca-cau e os coqueirais preferem os litorais mais úmidos. Osclimas subtropicais de São Paúo e do Sul permitemtanto explorar produtos tropicais (amendoim) quanto

Evoluçáo da pÍoduçáodê soia €ntr€ 1977 e 1999

Média 1977-1999{ton6ladas)

0 500 km 1132.200 -Z\225.592 +^ )@ Hl-2003 MGM-Libqgéo

0 = estabilidade, 1 = âpaÍecimento, -1 = desapâÍecimênto

0 500 km

Média 1977-1999(toneladas)

143.302 -Z-\27.777 +^ )

ly@ HF20qì MGM-LíbotgÉo

0 = estabilidadê, 1 = aparscimênto, -1 = dosaparêcÌmento

Fonìe: IBGE, produção agrÍcola municipal 1999

127

Dinâmicas do mundo rural

frutos e legumes de climas temperados (batata, trigo,aveia, pêra e maçã).

Entre as grandes produções comerciais é a man-dioca que apÍesenta valores mais fracos e maior disper-são, embora seja uma das bases do alimento humano(mas também dos porcos, o que explica sua abundânciano sudoeste). O anoz está presente em todas as mesasbrasileiras, em todas as refeições, em associação com ofeijão vermelho. Sua produção é nacional e ocorre emduas regiões especializadas: no Rio Grande do Sul (ar-rozais irrigados) e em um arco que vai de Mato Grossoao Maraúão. Tfata-se do "arco do desmatamento", ci-tado no Capítulo 3, área em que o aÍÍoz é a primeira cul-tura plantada, servindo ao mesmo tempo para aümentaros trabalhadores que extraem a madeira e para "aman-sar" a terra antes de plantar o capim destinado à alimen-tação dos bovinos. Da mesma maneira, a laranja estápresente por toda parte paÍa o consumo local, mas doispontos de concentração aparecem, os pólos especializa-dos da Bahia e de São Paulo, graças aos quais o Brasilproduz 42% do suco concentrado de laranja comerciali-zado no mundo.

Café, cana-de-açúcar, cítricos e soja são as grandesculturas comerciais do Brasil. A produção brasileira dostrês primeiros era a maior mundial em 200IJ002,e adesoja a segunda maior (com respectivamente 31.,5o/o,28Yo,19,6"/o e 23o/o do total mundial). Em três casos, aprodução compartilha duas regiões principais, uma anti-ga e uma nova. A cana-de-açúcar foi, durante séculos,quase um monopólio do Nordeste, onde cresce sobre so-los profundos do litoral, a zorra da mata, que foi pormuito tempo desmatada para dar-lhe o lugar. Tornou-sea principal base econômica e social da região desde o sé-culo XVI, fortemente controlada pelas oligarquias lo-cais, sob forma de grandes propriedades exportadoras

Qtlantations). Essa dominação foi contestada nos anosde 1970 por novos produtores do Estado de São Pauloque, prontos a captar as subvenções oferecidas para pro-duzir o álcool combustível (após os dois choques do pe-tróleo), em alguns anos desenvolveram capacidade deprodução mais potente e mais moderna que a do Nor-deste. O café,até pouco tempo produzido principalmen-te no Estado de São Paulo e no norte do Paraná. tem.

atualmente, seu centro de gravidade no sul de MinasGerais e pólos secundários no Espírito Santo, Rondôniae Bahia. A soja, ainda há pouco plantada no Sul, vemsendo produzida principalnente em Mato Grosso, ondeprogride rapidamente para o norte.

O que mostram esses mapas não é uma imagemcongelada. Um dos exemplos mais nítidos da capacida-de de adaptação da agricultura brasileira é a sua capaci-dade de alterar de hoje para amanhã a geografia de suasproduções, como testemuúam o deslocamento das cul-turas de soja, café e de arroz nos últimos 25 anos. Essesdeslocamentos, de centenas de quilômetros, das trêsmaiores culturas comerciais podem exemplificar a mo-bilidade do mapa agrícola do Brasil, perpetuamente co-locado em questão segundo a vontade dos movimentosmigratórios e das demandas dos mercados mundiais.

Antes de I970,o Brasil praticamente não produziasoja, mas hoje é o primeiro exportador mundial de grãose um dos primeiros em óleo. Essa progressão se fez, co-mo um contrato de risco, apostando na cultura dos cer-rados de Mato Grosso, de Goiás e do oeste da Bahia, àmedida que as "velhas" regiões de produção (aquelasdos anos de 1970) eram abandonadas no sul. Paralela-mente, as geadas de t975,que destruíram as plantaçõesde café do sul, provocaram um movimento de migraçãodos cafezais para Minas Gerais, que se tornou o primei-ro Estado produtor, e em direção ao Espírito Santo,Rondônia e Bahia. O aroz, associado (fora do RioGrande do Sul) à frente pioneira, segue o café (ou a so-ja), por conseguinte em uma progressão sobre o rastroda frente pioneira, no arco do desmatamento, atrás delesendo substituído por outras culturas ou - mais freqüen-temente - por pastagens. Isso porque o grande negóciodo mundo rural brasileiro, um dos mais rentáveis e cer-tamente mais prestigiados, é a pecuária.

A pecuária

Devido ao seu peso econômico e, sobretudo, porseus efeitos estruturadores do espaço, a pecuária mere-ce uma análise mais exaustiva. Essa é, desde a chegadados portugueses, um dos principais motores da dinâmi-ca dos espaços rurais brasileiros, da ponta avançada das

Atlas do Brasi l

124

frentes pioneiras às zonas suburbanas. É,além disso, um mundo diverso, e os tipos derebanho bem diferentes aparecem clara-mente na análise. Dirige-se, então, atençãoespecífica a esses diferentes tipos (rebanhosde bovinos e de outros animais), aos produ-tos colocados no mercado (carne ou produ-tos lácteos), aos circuitos de comercializa-

ção, à dimensão das propriedades, porquesão principalmente os grandes estabeleci-mentos de criação de bovinos de corte, es-pecializados na carne, que concentram oscapitais no Sul e alimentam as frentes pio-neiras no Centro-Oeste.

As conclusões a que se pode chegarpela análise das propriedades consagradas àpecuária são, com efeito, diferentes segundoo direcionamento do interesse: o número deestabelecimentos, o valor da produção ou ovalor da produção por propriedade. Em nú-meros absolutos (Figura 05-13), essas explo-rações estão particularmente bem represen-tadas no Nordeste, sobretudo na Bahia e nazona do Agreste, a zona de transição entre olitoral úmido e o interior semi-árido, ondese concentra o pequeno campesinato. Aoconsiderar o valor da produção (Figura 05-04), o quadro se altera sensivelmente, e aconcentração mais importante situa-se noSul. Podem-se distinguir duas zonas distin-tas, uma que se estende a oeste, do MatoGrosso do Sul ao sul de Minas Gerais, e ou-tra de norte a sul, do oeste do Paraná aonorte do Rio Grande do Sul. O valor daproduçâo por propriedade (Figura 05-13)indica uma terceira distribuição: o seu índi-ce máximo quase coincide com a extensãodo Estado do Mato Grosso do Sul, incluídode forma total na classe mais elevada econstituindo-a quase que exclusivamente.Os valores imediatamente inferiores dese-nham uma vasta zona que corresponde aoscerrados, cuja conquista foi um dos maiores

05-1 3. Estabelecimentos pecuaristas

0_ ,jE kr@ HT2003 McM-Libergéo

Valor da produção deanimais de grande portepor estabelecimento{mrlhóes de reais)

0- _iEk-@ HT-2003 McM-Liberyéo

Fonte: IBGE, Censo Agtopecuéno 1996

129

Dinâmicas do mundo rural

05-14. Outros animais

% no rebanhototal

% no rebanhototal

II#tr=

42,311 ,76,04,O

'L'1 ,0

0.0

CavalosMuares

(unidade padrão

de gado)

73 493 7-\14.593 &t

I

Ovinos

(unidade padrão

de gado)

101.345 /-\20.193-+- )

Asininos

% no rebanhotoÌal

oÁ no rebanho

total

II@

1A,264,75'1,06

o,260,o70,010,00

228 23049.1 59

3

% no rebanhototal

Porcos

% no rebanhototal

(unìdade padrãode gado)

(unidade Padráode gado)

235 839

46 0313 o

Fonte: IBGE, produção pecuána munlcÌpaÌ 1999

KM

@ HT20a3 MGM-Libergéo

193.140

39.12520

Atlas do Brasil

130

l€b&&**--96,6

-po de pecuár iaOvina e Sem

l: . ^a Suína capr ina domtnante

I €re @ En,,,_-.^' ia 111 47 253 oã'.i.ior"o,o".

Composiçáo do rebanho (%)

93 43 33 74 Bovinosa 48 10 13 Suínos: 9 57 13 Ovinos e capr inos

-: - -; : l : oroducão pecLária runicrpaÌ 1999

"ür{;!irrS da ocupação agrícola do território brasileirodlt:--lire os últimos trinta anos. Nota-se que o Nordes-ir- =:!-L)ntra-se, nesse aspecto, em situação particular-

mÉr:- dÈprimida, e que o valor da produção que a es-ììl:sr.-e brasileira chama "animais de grande porte" fa-r;r-;Ì Fìarticularmente a região Centro-Oeste. Pode-

05-15.Três tipos de pecuária

0 500 km

@ Hr-2003 MGM Libergéa

se compreender melhor esse quadro analisando a com-posição do efetivo de cada uma das regiões.

Enquanto a distribuição de cavalos se aproximamuito da população humana, porque a simbiose é ain-da forte no mundo rural, a de pequenos animais (por-cos, aves, cabras, carneiros, todos distribuídos como na

Ovinos e capr inos

ão**---*--- -o 89,2

131

Dinâmicas do mundo rural

05-16. Bovinos e grandes estabelecimentos

Figura 05-14) apresenta dois tipos de distribúção bemdistintos. Para os asininos e caprinos, a região principalé o Nordeste, porque, ao mesmo tempo, se adaptam aoclima semi-árido e se integram bem na economia daspequenas propriedades, numerosas nessa região. Para os

carneiros no extremo sul, na fronteira do Uruguai, háuma região que se assemelha ao Pampa e onde a criaçãoextensiva dos carneiros encontra efetivamente o seu lu-gar, sendo a principal quanto ao valor da produção.Para os suínos e as aves (os mapas Íepetem a mesma

Número de bovínosoor estabelecimento

Rebanho bovino

IIreGEE

1312273793820

6/-T3,279.930\arl 652.ô30

'10.0000___!E k.

@ Hr-2003 McM-Libergéo

0_ 999k.@ Hr-2003 McM-Libergéo

Estabelecimentoscom mais de 500 ha

Estabelecimentoscom pastagens

/--t 2 313\cÈ 462

1

ffiI

Naturais

Plantados3 466.970 -z\

690.757 +^/2*

Fonte: IBGE, Censos AgÍopecuárÌos

0-____!E k-@ HT-2003 MGM-bbergéo

Atlas do Brasi l

132

distribuição para coelhos, codornas e outrospequenos animais) duas localidades apare-cem igualmente: alguns pontos no Nordes-te. em especial no Maraúão e no Agreste,e. sobretudo, nazona já observada do oestedo Paraná, Santa Catarina e do norte doRio Grande do Sul. Uma e outra zonas cor-respondem às regiões do Brasil onde seconcentra a pequena propriedade campesi-na. da qual o funcionamento está relativa-mente próximo ao da agricultura familiareuropéia diversificada, que associa um pou-co de pecuária à agricultura, processo quenão ocorÍe, de modo algum, nas grandespropriedades. O grupo meridional corres-ponde às regiões colonizadas por imigran-tes de origem alemã, o que não surpreendemuito, pois as heranças culturais dessa imi-eração permitem localizar uma importantesuinocultura nessa região.

A distribuição de bovinos é totalmen-te diferente daquela de pequenos animais(Figuras 05-15 e 05-16) e obviamente é aque explica a distribuição do valor da pro-dução animal mapeado na Figura 05-04. Suaprincipal concentração se situa bem no Ma-to Grosso do Sul, com prolongamentos pa-ra o Maranhão, noroeste de Mato Grosso eRondônia. A localização de bovinos apare-L-e em situação intermediária entre o litoralconsagrado à agricultura de subsistência ouà agricultura comercial (café, cana-de-açú-r-ar. laranja etc.) e o norte florestal, ondeprogride ainda a frente pioneira. Nesse ca-so. a coincidência com a região dos cerradosé bem nítida. Os mapas de bovinos por pro-

ç'rietário, ou seja, do tamanho do rebanho,Jos Eandes estabelecimentos e das pasta-sens artificiais, ressaltam ainda mais essa re-gião triangular (cujas pontas seriam Rondô-nia- Maranhão e Mato Grosso do Sul). Noaapa de bovinos por propriedade, essa re-cião está inteiramente incluída nas duas

05-17. Estabelecimentos mistose pecuária leiteira

Proporçáo dosestabelecimentosmistos no total (%)

40

3',l

21

15

I

2

-0

Produçáo de le i tepor vaca(1 000 litros por ano)

0- _jEk.@ HT-20A3 MGM-Lìberséo

Estabelecimentos mistos(agricultura e pecuária)

11 297 -7_\2.274 +^)

2-

Números de vacasordenhadas194.158,- \38.726 +ì)

1.000 *0- __jE km

@ HT-2O03 MGM-Lbergéo

Fonte: IBGE, Cen so Ag ropecuárío 1996

133

Dinâmicas do mundo rural

categorias superiores da distribuição (mais de 80 e mais170 boünos por empresário). Nesta última categoria(atingiu o máximo de 1.300 bovinos por estabelecimen-to) destacam-se particularmente o Mato Grosso do Sule o sul de Mato Grosso. As propriedades agrícolas doCentro-Oeste, consagrado à pecuária de bovinos, es-tão entre as maiores do País. No mapa que mostra os es-tabelecimentos com mais de 500 hectares, sejam ou nãoconsagrados à pecuária, destaca-se claramente o Cen-tro-Oeste, sobretudo os Estados de Mato Grosso do Sú,Goiás e Tocantins. Essa região de cerrados, conquistadanos últimos trinta anos, foi organizada em torno dagrande propriedade, justificando o fato de tratar-se damaior região voltada para a opeÍação de contra-reformaagrâría no mundo.

A mesma configuração espacial aparece quanto àspastagens, tanto naturais como plantadas. O mesmo ar-co desenhado do Mato Grosso do Sul ao Maranhãoaparece como a principal zona de plantio de pastagens,com zonas secundárias na Búia e na fronteira meridio-nal do Rio Grande do Sul. A correlação entre pastosnaturais e plantados faz surgir o Centro-Oeste como aregião onde predominam as pastagens plantadas, comexceção do Pantanal, imensa região pantanosa ondepastos naturais, periodicamente inundados, são maisnumerosos. No norte do Mato Grosso e no sul do Pará,onde a vegetação natural era a floresta amazônica, ospastos artificiais são mais consideráveis porque foramplantados em detrimento da floresta. No sul do RioGrande do Sul, outra região tradicional de pecuária,ocorrem pastos naturais. A grande região de pecuáriabovina do Brasil tem sua atividade organizada em tor-no das grandes propriedades, cada uma dispondo deum efetivo importante. É preciso entender as orienta-

ções econômicas dessa atividade.A orientação essencial desses estabelecimentos

não é, a associação da pecuária com a agricultura, nem aprodução leiteira. As propriedades mistas (ou seja,aquelas que associam agricultura e pecuária) situam-senas duas regiões já observadas no Nordeste e no Sul, on-de se concentra a pequena agricultura campesina. Mas aessas se agregam, desta vez, Minas Gerais e o oeste daBahia, No centro dessas três regiões, os estabelecimentos

mistos não são apenas numerosos (dimensão dos círcu-los), mas representam, igualmente, uma proporção im-portante do total das propriedades agrícolas (entre 30 e40o/o na categoria superior). A pecuária leiteira se loca-I:za não só em uma pequena parte do Agreste, mas es-sencialmente nas bacias leiteiras (incluindo a região deagricultura familiar do Sul) que cercam as grandes aglo-merações - Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo - e, de-vido aos constrangimentos técnicos do abastecimento, acurta distância dessas cidades. O número de vacas leitei-ras é particularmente importante no sul de Minas Ge-rais, e observa-se que a quantidade de litros por vaca émais elevada aí e no Tiiângulo Mineiro. Conjuntamentecom a região colonial do Sul, Minas Gerais representa ocoração da bacia leiteira brasileira, sendo a região doscerrados totalmente ausente desse mercado. Indubita-velmente, esta não estaria em situação de concorrênciafavorável, e, seja por escolha, seja por necessidade, elavoltou-se paÍa o mercado da carne.

O recenseamento agrícola de 1996 indica o nú-mero de bovinos nascidos, abatidos, comprados e ven-didos no ano anterior. Os mapas elaborados a partirdesses dados indicam a singularidade da região Cen-tro-Oeste em relação às outras regiões de pecuária. Adistribuição de bovinos nascidos no âno distingue cla-ramente as duas regiões de agricultura familiar doNordeste e do Sul, da mesma maneira que vários ma-pas precedentes. O mapa de bovinos abatidos duran-te o ano conduz a distinguir as duas regiões. Se, noSul, o número de bovinos abatidos é praticamenteigual ao número de bovinos nascidos, o que parece in-dicar um mercado local, na região Nordeste o númerode bovinos abatidos é muito inferior ao dos bovinosnascidos, Parte desses animais pode ser reencontradaem regiões próximas daquela de nascimento, na Bahiae no Maranhão. Contudo, permanece um déficit im-portante, que provavelmente se explica por transfe-rências para a região Centro-Oeste, onde o número debovinos transportados é demasiado fraco para expli-car a renovação da manada. Em contrapartida, essaregião distingue-se de maneira clara pelo volume dasvendas (tanto de bovinos comprados como de vendi-dos). Nota-se que para manter uma dimensão de

Atlas do Brasi l

134

05-18. Nascimentos, abates e comércio dos bovinos

Nascimento

IIffif=EE

100,060,114,24,7

0,0

Compra

Bovinos abatidosno ano

29.341 ^5.869 +^ )

2ooN

Bovinos vendidosno ano

e82 4s5 7zì

196.200 +-r--\ /2 ooo -\t'Z

:_acorcáo dos bovinos:a-orados no ano em:. :otal do rebanho 1%)

Proporção dos bovinosvendidos no ano em íelaçãoao total do rebanho (%)

30,5

i1,o

1,,1

5,4

26

l0

484 435

96 9392 000

no ano

rìru/

r:;-1-Lìs comparável entre os mapas de nascimentos e de.-.:=: de bovinos. foi necessário adotar uma escala dez::;s inlerior (o menor círculo representa 2.000 bovi-

: .: : ião 100). sem a qual o fenômeno seria menos

nítido. Esse arco da pecuária bovina, e em especial sua ex-tremidade meridional, é a principal região brasileira parao comércio, onde a principal microrregião, a de Tiês La-goas, no Mato Grosso do Sul, atingiu o impressionante

É

oí :

135

Dinâmícas do mundo rural

05-19. Bovinos e humanos total de aproximadamente um milhão debovinos vendidos no ano. A proporção dogado vendido no ano em relação ao reba-nho total permite observar que, nas regiõesmais ativas, de 30o/o a 40% do gado muda deproprietário durante o ano. Como, sem dú-vida, dados censitários não são os mais efi-cazes paÍa medir esse movimento, é muitoprovável que na realidade ele seja mais rá-pido e significativo.

Após a publicação do recenseamentoagícola e a contagem demográfica realiza-da em 1996, um estudioso do Brasil consta-tava que o número de bovinos era maiorque o de pessoas. É um fato incontestável oBrasil situa-se no segundo lugar na classifi-cação mundial relativa ao tamaúo do reba-úo bovino, depois da Índia, onde as vacastêm outro estatuto e outro papel, e é instru-tivo comparar a distribuição das duas popu-Iações e a evolução de sua correlação.

Como a população humana está con-centrada sobretudo no litoral, e a populaçãobovina, no interior, especialmente no Cen-tro-Oeste, o índice "boúno per capita" éparticularmente elevado nessa região, ondeo contorno das duas classes superiores (ver-melho na Figura 05-19) é bem definido. Par-tes das regiões Norte (sul de Rondônia e doPará), Nordeste (oeste de Bahia) e Sudeste(nordeste de Minas Gerais, oeste de SãoPaulo), que se aproximam desse indicador,possuem, certamente, um estilo de desen-volvimento bem semelhante. Nos anos de1970,refería-se a esse indicador como "de-senvolvimento pela pata do boi".

Para imaginar a tendência futura, po-de-se apoiar na observação da tendênciapassada e construir um mapa da evolução doíndice homens/bois no período 199I-1996,anos que precederam o último recensea-mento agropecuário. As cores frias indi-cam uma evolução negativa (nesse caso,

Números de bovinospor humano

0-_ jEk.@ Hf-2O03 MGM-Libeígéo

Fonte: IBGE, Censo Agrcpacuário 1996 e contagem demográfica 1996

Atlas do Brasil

136

"-n defféscimo da relação bois/homens), e.u ;ores quentes uma evoÌução positiva (au--,:nto da relação a favor dos bois). O mapar:trsftâ claramente uma marcha da pecuária

..tl'ina para o noroeste: a relação diminui-rr leste e no extremo sul, regiões de povoa--1Ènto denso, onde a agricultura pesa mais

:-ue a pecuária, e aumenta no norte do

Centro-Oeste e na maior parte da Amazõ-

:i,a. com exceção do extremo norte. Há indi-

:ações de que o processo da frente da pe-

:uária continua avançando cada vez maisea floresta amazõnica, após ter cruzado os'.imites dos cerrados.

Desigualdades e tensões

O mundo rural brasileiro é, assim, aomesmo tempo pleno de dinamismo e mar-cado por fortes disparidades em todos osdomínios: nas dimensões das propriedades,no valor da produção, nas especificidades.Desses contrastes e arranjos. surge umaoposição nítida entre sistemas econômicos eregionais muito diferentes, com desempe-nìos extremamente desiguais. Os exemplossão múltiplos e a Figura 05-20 revela doisem relação ao Nordeste: São Paulo produzhoje mais cana-de-açúcar que a tradicionalregião açucareira nordestina, com rendi-mentos por hectare bem superiores, e o RioGrande do Sul cria muito mais carneiros,aproveitando inclusive a lã, procedimentoirexistente no Nordeste.

Além dos contrastes regionais. essesantagonismos traduzem diferenças entresistemas de produção dominados por gran-des ou pequenas propriedades. O estatutodos produtores opõe claramente esses doisgrupos: enquanto nas regiões de pequenaspropriedades a mão-de-obra reduz-se aoproprietário e sua família, onde domina asrande propriedade não é rarc o recurso à

05-20. Diferenças de produtividade

\-- )--..-, o

Rendimentoda cana-de-açúcar(toneladas/ha)

o

ìè

O

Produção decana-de-açúcar

{toneladas)2 '154 3100

4 696 920

16o

I Ovelhas

a Ovelhas,tosqutaoas

Fonte: IBGE. PAM e PPM 1999

137

Dinâmicas do mundo rural

05-21. Estatutos dos produtores mão-de-obra assalariada permanente, querseja nas zonas de produção açucareira, quernas de pecuária.

A Figura 05-22 reïorça essas divergên-cias, tanto em termos de receitas e despesascomo de ilvestimentos. As regiões de con-centração de grandes propriedades se des-tacam, sobretudo o Centro-Oeste. Geral-mente se diz que a pecuária qualificada deextensiva investe pouco, mas não é o casodessa região. Ao calcular as relações entreemprego e valor produzido por estabeleci-mento e relacionar esses valores por hecta-re explorado, as disparidades evidenciam-se(Figura 05-23): as grandes propriedades in-vestem e produzem muito (em volume to-tal), mas empregam pouco, o que resulta embaixa produtividade por hectare e elevadaprodutividade por ativo - o produto no pri-meiro caso é dividido por um fator muitogrande, e no segundo por um fator muitopequeno. Os pequenos estabelecimentos in-vestem o que podem - o trabalho -, mastêm uma produtividade por ativo baixa,porque empregam muita mão-de-obra emproporção à superfície. Com grande núme-ro de pequenas propriedades, o Nordestedistingue-se nos dois mapas, nas categoriassuperiores pelo número de pessoas empre-gadas por unidade de superfície e nas cate-gorias baixas pelo valor produzido. O Cen-tro-Oeste e o extremo Sul distinguem-sepor razões opostas (fraco emprego por hec-tare e elevado valor produzido por estabe-Ìecimento), enquanto a Amazônia setentrio-nal e o Maranhão empregam muito por su-perfície explorada, mas desaparecem com-pletamente do mapa do valor produzido.

Entre grandes e pequenas proprieda-des, às vezes, aparece um grupo intermediá-rio, que representa a maior proporção depessoal empregado, de tratores e de cultu-ras temporárias e permanentes. O coração

Proporçáo dosesta belecimentosque ocupam apenaso responsávele a sua famíl ia (%)

Proporçáo deestabelecimentoscom empregadospermanentes (%)

- 1.3Eno

Números depessoas empregaoas

'160.193 ,-\

32.078 ]ã l

Números depessoas empregadas

160.193 ,- \32.078 1n.)

0 500 km

@ HT-2003 MGM Libercéo

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1996

Atlas do Brasi l

138

da agricultura produtiva brasileira é forma-do, principalmente, pelos estabelecimentosentre 10 e 100 hectares de superfície. É nes-se grupo que a proporção de proprietáriosindividuais é a mais forte, e a de ocupantes(empresários que ocupam a terra sem títulojurídico) é a mais fraca. Se deixarmos de la-do esse último grupo - aqueles para osquais se busca desenvolver as políticas agrí-colas - observa-se uma situação clássica on-de, face a face, encontram-se camponesessem-terra (ou sem bastantes terras) e pro-prietários de terras subaproveitadas. Essasituação, geradora de desemprego rural, mi-séria e êxodo, cria também tensões sociaisque vêm tomando forma violenta e podem,a qualquer momento, chegar à explosão,apesar dos paliativos. Essas tensões podemparecer estranhas em um país onde há tan-to espaço disponível e no qual a agriculturae a pecuária ocupam, em média, 41o/o doterritório nacional (dos quais menos que5% são efetivamente cultivados). Mas talmédia é pouco significativa, porque abrangesituações muito diferenciadas (Figura 05-24,primeiro mapa): fora do litoral nordestino edas regiões de agricultura intensiva do Sul-Sudeste, a taxa de ocupação humana nãoatinge l2o/o do território de cada municípioem nenhuma outra parte, e cai abaixo de7,51o em toda a Amazônia. Mas, apesar des-sa disponibilidade de terras, os conflitosexistem devido a uma situação agrária ten-sa e às terras - em especial as melhores -freqüentemente monopolizadas por pro-prietários que não as utilizam totalmente,lado a lado com camponeses sem-terra ousem terra suficiente para a produção. Esseprocesso marca em especial o Nordeste, on-de coexistem terras ociosas e camponesesque ocupam terras sem título de proprieda-de: daí decorrem o vigor dos conflitos nessaregião e a migração de nordestinos para a

05-22. Rentabilidade e investimentos

IReceitas

Despesas

0 500 km

@ HT-2003 MGM-Libergéo

Receitas e despesasdos estabelecimentos

agrícolas('l 000 reais)

643.636rzsosr â)

17-:

Investimentos porestabelecímento agrícola(1 000 reais)

0- _ iEk.@ Hf2003 MGM-Lìberyéo

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1996

139

Dinâmicas do mundo rural

05-23. Relações de emprego e valor Amazônia oriental. Quando chegam lá en-tram em conflito, freqüentemente violen-to, com os antigos ocupantes ou outros mi-grantes, pequenos camponeses ou pecua-ristas como eles, muitas vezes com méto-dos brutais. É na região do Bico do Papa-gaio. confluência dos rios Araguaia e To-cantins. no Estado de Tocantins, que seproduziram os conflitos mais violentos,com mortes.

Assim. se fortes tensões residem nasvelhas regiões, as zonas novas também co-úeceram seus conflitos, freqüentementeainda mais violentos, como a guenilha doAraguaia, sob o regime militar, quando astropas de elite foram enviadas para acabarcom a revolta dos posseiros - camponesessem título de propriedade. Após medidascorretivas limitadas sob o regime militar(como a uíação, nessa mesma região, doGetat - Grupo Executivo Araguaia-Tocan-tins -, que deúa reduzir localmente o maisagudo dos conflitos fundiários), o regresso àdemocracia deveria significar, para muitos,a hora da reforma agráia. Mas essa idéianão alcançou êxito, uma vez que se organi-zou a UDR (União Democrática Ruralis-ta), e os grandes proprietários conseguiramdominar a oposição e manter o status quo.Os projetoq iniciaÌmente audaciosog foramprogressivamente minimizadog até ficaremaquém dos textos legais em vigor sob o re-gime militar - mas nunca aplicados, Sob apressão do MST, o "movimento dos sem-terra",e graças à baixa do preço da terra (li-gado à estabiluação da moeda), uma vastacampanha de colonüação foi lançada, e mi-lhares de famílias foram instaladas em as-sentamentos, zonas de colonização, sobreterras desapropriadas ou terras públicas. In-felizmente, grande parte desses últimos as-sentamentos situa-se principalmente naAmazônia, em regiões sem infra-estrutura,

l 'V..t ' l, .. .Oo - r a o '

aa

i

Números de pessoasempregadas por 100 ha

fÌËir,.., , estabelecimentos

u,Y o soo im \..$/ 6 sso 160>/

0,1 @ HTzoos McM-Lìberseo U 1 316 830 4)

Valor da produçãopor estabelecimento(1 000 reais)

195.1

250

Número total deestabelecimentos

49 120geroã

6

E55,0

20,4

o1

3,4

1,4

o,1

o-_----ig k'@ HT2003 MGM-Libeígéo

Eoire. IBGE, Censo Agropecuano 1996

Atlas do BrasÌ l

140

agr icul tura\%)

51,3ffi .,r,0G= n.E .,,sF o.o

Proporçáo dosocupantes sem t í tu loentre os resPonsavelspelos estabelecimentost%l

:onte: IBGE, base dernÍormêÇões nurrc loals

05-24. nsões agrárias

Fonte: Comissáo Pastoral daTerra

Porém, outras inudanças que transformam pro-

fundamente a economia e, sobretudo, as Íelações so-

ciais no meio rural estão ocorrendo: a modernização

da agricultura, e sua inserção crescente num verdadei-

ro 'iomple"o agroindustrial"' A geografia agrícola

€.^"

7",0f . ,e7 o.z

de modo que as invasões ilegais continuam em regloes

mú atrativas.Ainda que tenha perdido sua força' à medi-

da que o êxodo rural completa-se, a questão da reforma

rgáti" continua e será, sem dúvida, uma das prioridades

do soverno de Luiz Inácio Lula da Silva'

Assassinatos l igados aconf l i tos rurais 1985-1991

141

Dinâmicas do mundo rural

05-25. Assentamento e invasões de terras

Limites daE Amazônia legal

Famíl ias poracampamenro

680249136

ffi

Fonte: Folha de S. Paulo

- Assentamentos cujo PerÍmetro' náo foi digìtalizado

- Estrada asfaltada

_- Estrada não asfaltada o. ______jE k.

PiStA @ HT2003 MGM-Lìbergéo

Fonter Incra,2000

*G

#.679

I - zz5

74

24

10

2

0

Capacidade dosassenÌamenlos

(númeío de ÍêmÍlias)

Famíl ias de assentadospor 1.000 habitantesna Amazônia Legal

0 500 km

@ HT-2003 MGM Libergéa

Fonte; Incra,1998

Localização dosassentamentosna Amazônia legal

Assentamentos do Incra

Atlas do Brasi l

142

altera-se, assim como o lugar da agricultura no siste-ma econômico brasileiro.

Tocadas em cheio pelo êxodo rural e pela estagna-

ção dos preços de seus produtos, negligenciadas pela ini-eìativa privada e por organismos públicos, as pequenas

05-26. Organização do espaço rural

propriedades, que forneciam o essencial da produçãoalimentar do País, alimentavam as grandes cidades epermitiam manter os salários mais baixos, atualmentecorrem o risco de não mais exercerem esse papel. É ur-gente que se beneficiem de políticas de estímulo e de

- Estradas asfaltadas

Zonas modernizadas

ffi vuito diversificadas

W Razoavelmente diversiÍicêdas

Pouco dìversificadas

ì> Fronteira de mociernização e erxos de progressão

Zonas menos modernizadas

E# vuito drversìflcadas

l - - - ] p^, ,^^ rr i r iorc i í inartac

f-_l Espaços de baixa densidade

;F*= Fronteira pioneira e eixos de progressão

Fonte: Baseado no Anuário Estatístico do Brasil, IBGE

Número de habitantes(cidades com 500,000 hab ou mâis)

9.785.640 _.5 850 540

Í- )Jvu.vvv v

0 500 km

@ Hf 2003 MGM-LtiErg@

143

Dinâmicas do mundo rural

proteção, como no modelo europeu, ao mesmo tempopor razões sociais - para evitar o agravamento dos pro-blemas das periferias urbanas - e para desenvolver no-vas formas de economia rural à base de turismo, de ate-liês industriais e de serviços ambientais.

Thês sistemas coexistem, por conseguinte, no espa-

ço rural (Figura 05-26).De um lado, há formas novas deorganização da produção agropecuária moderna, inte-gradas a um potente complexo agroindustrial, bem arti-culadas a outras formas de produção, de circulação deconsumo, mas que empregam pouca mão-de-obra emrelação à sua produção e ao seu capital investido. De ou-tro lado, mais ao norte e ao nordeste (mas também, emmenor escala, no sul), a população agrícola é numerosa,porém voltada largamente para o autoconsumo e malintegrada aos circuitos comerciais. Por último, zonaspioneiras, ainda em processo de incorporação (à econo-mia), ústo que o Brasil tem, ainda, o privilégio de ter es-paços disponíveis.

A agricultura e a pecuária guardam, por conse-guinte, um lugar importante na economia brasileira, Ge-radoras de divisas indispensáveis ao equilíbrio das con-

tas nacionais, fornecedoras de alimentos baratos e demão-de-obra ávida por trabalho, elas dão aos outros se-tores condições para manter os baixos salários. Mas oseu desenvolvimento pode ameaçar o equilíbrio do sis-tema. O excesso da aposta nas exportações pode condu-zh aum acréscimo de importações; o excesso de racio-nalizaçáo pode transformar a liberação de mão-de-obraem êxodo rural maciço, o que agrava os problemas ur-banos e exige soluções para manter os trabalhadores emsuas localidades.

Embora injusto (já que justapõe freqüentementehomens sem terra e terras subutilizadas). o mundo ruralbrasileiro é extremamente dinâmico, porque conquistamais terras novas do que em qualquer outra parte nomundo e se inova constantemente, desenvolvendo no-vas produções. Depredador e desperdiçador, é tambémrico de imensas potencialidades, naturais e humanas.Privado da sua antiga predominância, relegado à clas-se de auxiliar e de reserva, é também um excelente re-velador das forças que marcam a sociedade brasileira eos eixos do que era, até agoÍa, o modelo brasileiro dedesenvolvimento,

Atlas do Brasil

144

CAPíTULO 6

DrxÂmrcAs u\DusTRrArsr TERCIARIAS

Brasil também é hoje um grande país industrial eterciário, o primeiro do hemisfério sul e um dosprimeiros no mundo em um conjunto de ramos

industriais (cimento, aço, automóvel, aeronáutica etc.).Nguns de seus grupos econômicos (por exemplo, oBanco do Brasil ou as empresas de comunicação Globo)tnmtÉm alcançaram classificações privilegiadas na esca-h mundial. Múto tempo obrigado a se contentar com o

çrapel de fornecedor de matérias-primas agrícolas e mi-uerais, pôde ascender à condição de potência industrial ercrciária, gaças a uma conjunção de fatores favoráveis.

A intervenção do Estado foi evidentemente decisi-r:a: no Brasil, como em muitos países em desenvolü-Eento, a iniciativa pública, direta ou estimuladora, este-rre na base do crescimento industrial. Mas pouco adian-uria essa ação determinada se outros elementos não ti-sessem criado na socíedade brasileira as condições deproduzir resultados duradouros. O modeÌo argentinoprcde servir de contra-exemplo, pois a base industrialcriada de maneira voluntariosa pelo peronismo e peloregime militar não sobreviveu à abertura liberal quese seguiu.

O boom do café,no início do século XX,teve gmn-

"le influência ao promover uma rede de transportes, aopermitir a acumulação de capitaig ao induzir a imigraçãodr colonos europeus que traziam consigo savoir-faire eh,ábitos de consumo: entre eles encontravam-se traba-lhadores, empresários e clientes de que o Brasil tinhauscessidade. A crise de 1929 teve efeito determinante so-hrre a economia brasileira e sobre a atitude de seus líde-lesAo declínio das vendas do café. o Estado. controlado

pelos interesses cafeeiros, respondeu com uma políticade armazenamento e de destruição, por meio da qualmanteve os preços e uma parte da capacidade de inves-timento dos produtores. Como, ao mesmo tempo, os for-necedores habituais enÍrentavam dificuldades, os capi-tais disponíveis desúaram-se do café para arriscar-seem indústrias capazes de substitú-lo, começando pelosbens de consumo. Indústrias básicas surgiram (a partirde 1938, o Brasil cobria todas as necessidades de ferrogusa e cimento), mas â estrutura continuava tradicional:em 1940, cerca de 50 mil estabelecimentos industriaisocupavam 780 mil pessoas; os Íamos têxteis e alimenta-res representavam ainda 54o/o da produção.

Mudanças profundas germinavam com a crescenteintervenção do capital estrangeiro e do Estado. Em1940,a correlação entre bens de consumo não-duráveis,por um lado, e bens de consumo duráveis e eqúpamen-tos, por outro, era de70"/" para3}o/o;em 1960, essa cor-relação já havia se aproximado dos 50% para 50o/o.Princípios próximos aos da Comissão Econômica dasNações Unidas para a América Latina (Cepal) foramaplicados para orientar o crescimento industrial: o Esta-do deveria participar no desenvolvimento tendo a in-dústria como ponta de lança; o planejamento econômi-co deveria ser o meio para organizar os efeitos de ala-vancagem; e o capital privado seria um indispensávelaliado. Esses princípios foram aplicados no Plano deMetas de 1956-1960, o mais importante dos planos dedesenvolvimento brasileiros, que, em um momento cru-cial, fixou a estrutura setorial e espacial da indústria,cujos efeitos ainda se fazem sentir.

145

Dinâmicas industriais e terciárias

Aplicado pelo presidente Juscelino Kubitschek, es-se plano permitiu a industrialização por substituição dasimportações, o estímulo à agricultura e, especialmente, aabsorção do excedente de mão-de-obra decorrente docresdmento demográfico e da modernização do meiorural. Tiinta metas foram fixadas para serem atingidasaté 1960. O financiamento veio do orçamento público(213) e do investimento privado (1/3). A produção in-dustrial cresceu ll,3o/o ao ano entre 1956 e196l,e apar-ticipação da indústria no produto nacional alterou-se de23o/o paÍa30%.O período do "milagre econômico" quese seguiu sob o regime militar, dando ao Brasil um re-corde mundial de crescimento - l0o/o ao ano durante 10anos - tem efetivamente suas raízes na época de Jusce-lino. A crise econômica, cujos primeiros sinais agudosapareceram emI974,pôs fim a esse período e retardouo crescimento, mas a estrutura setorial e espacial não sealterou: ela tenderia mais a reforçar-se ou mesmo a ca-ricaturar-se, resistindo, apesar do momento adverso.

Embora mais de trinta anos separem a época deJuscelino Kubitschek da de Fernando Henrique Cardo-so, alguns dos aspectos da poítica empreendida entre osanos de t994 e de 2002 recordam aquelas políticas. Aidéia de planejamento espacial, retomada após um lon-go período pelos programas Brasil em Ação e Avança,Brasil, implementados, respectivamente, no primeiro eno segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, éoutra marca da proximidade dos dois presidentes:"FHC" retoma assim a tocha de "JK". Mas desta vez opapel do Estado deixou de ser central, a proporção foiinvertida, visto que assegurava apenas um terço dos in-vestimentos, e o esforço foi o de incitar o setor privadoa se responsabilizar pelos outros dois terços. O Ministé-rio do Planejamento e Orçamento elaborou um rol deprogramas prioritários, conhecidos como a "cartefua deinvestimentos", entre os quais alguns eram financiadospelo Estado e outros demandados aos investidores pri-vados. Os partidários do programa consideravam tratar-se de uma nova forma de associação entre o Estado e asempresas privadas; os críticos do programa afirmavamque a única diferença era a redução do papel do Estado,cuja dimensão e cujo papel foram minimizados pelasprivatizações.

Esses dois programas ÍepÍesentaÍam, indubita-velmente, consideráveis efeitos na reestruturação doterritório (Capítulo 10), contudo não alteraram a pai-sagem econômica, em que a concentração das ativida-des industriais e terciárias predomina em um peque-no número de grandes cidades, particularmente noSudeste e no Sul.

O mundo das empresas

A concentração da economia industrial e terciáriaé mostrada pelo mapa dos estabelecimentos recensea-dos, em 2000, pelo Cadastro das Empresas do IBGE (Fi-gura 06-01), que contabiliza todos os estabelecimentosda iniciativa privada e do setor público como "unidadeslocais". A predominância do Sul é nítida,e maior aindaquando se detalha a situação ramo por ramo (todas asindústrias modernas estão contabilizadas) e por dimen-são de empresa: os estabelecimentos são muito maioresno Sul-Sudeste, e São Paulo reúne 45o/o das empresascom mais de 100 assalariados. A imagem geral mostrauma verdadeira hegemonia:55% das empresas indus-triais (61% do PIB industrial) estão localizadas na re-gião Sudeste, das quais mais de 40o/o em um único Esta-do, São Paulo.

Isso não é motivo de surpresa, porque atê épocabem recente tudo contribuíapara a localização das in-dústrias nas regiões centÍais, no eixo São Paulo-Rio deJaneiro-Belo Horizonte. Os processos de produção aincentivavam, üa economias de escala e de aglomera-

ção, bem como a disponibilidade dos fluxos e a infra-es-trutura, quantitativa e qualitativamente superiores nasregiões centrais. As características de mercado contri-buíam igualmente para esse cenário, pela concentraçãodos consumidores com rendimentos mais elevados epela concentração do sistema comercial moderno. Con-tribuíam também o acesso aos inputs necessários (mão-de-obra qualificada e o acesso às matérias-primas, emfunção do desenho das redes de transporte), a proximi-dade dos centros de decisão e, por último, as rotinasbem enraizadas.

Percebe-se um nítido corte norte-sul: todas as gran-des concentrações de empresas estão situadas ao sul do

Atlas do Brasil

146

Números de unidades locais(por município)

465 551

94.009

250

ìrte: IBGE. Cadastro de Em1resas2000

Distrito Federal, e, sobretudo, ao sul da parte meridio-ual de Minas Gerais. Esse conjunto se destaca por umaparticularidade precisa: se todas as capitais de Estadosdestacam-se em função do vazio relativo de seu interior,nesse conjunto aparecem pólos secundários, às vezes de.fimensão notável, notadamente no Estado de São Paulo

06-01. As empresas

0 500 km

@ Hr2003 MGM-Lberyéo

e no bloco formado pelo norte do Paraná, oeste de SantaCatarina e norte do Rio Grande do Sul.

Confirma-se essa mesma organização ao utilizaro indicador relativo ao pessoal empregado poÍ essasunidades locais (Figura 06-02): concentração nas capi-tais, predominância do Sudeste-Sul e uma verdadeira

147

Dinâmicas industriais e terciárias

06-02. Empregados das empresas

nebulosa de pequenos centros que cercam as grandes ci-dades, em especial São Paulo e Rio de Janeiro. Contudo,esse mapa indica também um conjunto mais contínuono Nordeste, do Rio Grande do Norte a Alagoas, deFortaleza a Salvador. Esse indicador revela que o empre-go, em especial o emprego industrial, é mais importante

que o número de estabelecimentos permitiria supor: sa-be-se que nessa região os equipamentos são menos mo-dernos e o recurso à mão-de-obra é mais forte, porqueessa é abundante e barata. O mesmo pode ser verda-deiro também para Belém e Manaus, cujo peso é maisforte que no mapa precedente.

Empregados nas unidades locais(por municÍpio)

3127.570

558 561

7500 500 km

@ lil2003 McM-Libergéo

Fontê: IBGE. Cadastro de EmDresas2000

Atlas do Brasi l

144

Caso se observe o emprego nesses es-'srrerecimentos em relação proporcional àp;rulação da microrregião (Figura 06-03), a;unremacia do Sul-Sudeste é ainda mais ní-iuni -\s duas categorias superiores (mais de:ï- unidades locais por 10 mil habitantes)ssr.ao representadas apenas ao sul de Brasí-ru- com duas exceções, em Sergipe e Mato

-:r-so (nesse caso com efetivos reduzidos).: o índice constituído pelo número de pes-;;1-s poÍ unidade local confirma o recursom;ciço à mão-de-obra: o Nordeste e o Norte,:c.ie os estabelecimentos são pouco numero-r.5 empregam mais. Os assalariados formamr paÍte mais importante do pessoal dos esta-=lecimentos (Figura 06-04), enquanto nasirandes metrópoles do Sudeste, e mais ainda:". Sul. essa proporção é mais fraca, indican-:o que aí se encontra um número maior de=mpresários individuais e de pessoas associa-:e-. à direção do estabelecimento.

A análise da data de criação dos esta-

-''elecimentos (Figura 06-05) mostra um in-:!-Ìntestável movimento de desconcentra-:.ão: os que existiam antes de 1969 concen--Je\ am-se maciçamente no Rio de JaneiroÌ.916) e em São Paulo (15.264), e nenhuma

-'utra cidade excedia 2 mil, ou mais de 5%jr--rs estabelecimentos criados antes dessaieta. exceto Recife. Em contrapartida, uni-àdes locais constituídas após 1995 (nota-se

iue os números globais são bem mais im-lortantes) são numerosas no Nordeste, no\orte e no Centro-Oeste, se não em núme-:{-ì absoluto (de acordo com esse indicador é

-linda São Paulo que domina, seguido peloRio de Janeiro e por Belo Horizonte), pelo:renos em proporção do total. Nessas três:esiões, são numerosas as microrregiões on-iÈ as novas unidades representam mais de1r-ì9o ou 50% do total, o que indica certa

-'trneção - ainda que limitada - em relação

-. hegemonia que existia anteriormente.

06-03. Empresas e população

Unidades locaispor 10.000 habi tantes

936

447

320

200ffi*

106f . l

CU

'7 @ HT-2A

mero de unidades

534.395,-\/ \

111.383 tf-\ i19 \ \ ' / -

Números pessoaspor unidade

20

9

6

5

4

3

1

0 500 km

@ HT-2003 MGM-Lìbergéo

Número de unidades

534.395 -7--\/ \

111.383 \fì /19 " '

Fonte: I BGE, Censo Demográfìco e Cadastro de Empresas 2000

149

Dinâmícas industriaìs e terciárìas

06-04. Os assalariados e os outros

Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul eRondônia viram criarem-se estabelecimentos em gran-

de número, à medida que as frentes pioneiras progre-

diam. Ocorreu o mesmo em todo o Estado da Bahia, nosertão do Nordeste, no Espírito Santo, no interior deSão Paulo, no litoral de Santa Catarina, enfim, lugaresque conheceram fases de crescimento econômico emcontextos muito diferentes uns dos outros, e atores, pú-

blicos e privados, também muito diversos.Portanto, esse movimento de criação de estabeleci-

mentos não indicou, forçosamente, um progresso daprodução e menos ainda da produtividade durante o pe-

íodo em que tarifas alfandegárias elevadas protegeram

o mercado interno. A chegada de produtos importados

desencadeada pela supressão dessas proteções tarifáriasforçou mudanças. Os lucros de produtividade na indús-tria foram de 8% ao ano desde l992,graças a um impor-tante esforço de formação e qualificação, pois as horas

consagraoas a esse processo passaramde 84 a 339 por empregado ao ano en-tre 1997 e 2001 (Vej a n. 17 8I,2002). Aobuscar o crescimento, as indústrias ten-taram usar, ao máximo, suas vantagenscomparativas, o que significou para umbom número delas a procura de certaespecialização, e assiste-se, em muitosramos, a um reexame das escolhas deIocalização.

As localizaçõesindustriais

A concentração industrial no Su-deste é obviamente a essência da dis-tribuição desse setor no País. Mas pa-rece óbvio que isso não vai durar parasempre, por um lado porque os pode-res políticos, centrais e locais, efetuamuma política de correção desse dese-quilíbrio e, por outro lado, porque já évisível o início de uma desconcentra-

ção espontânea.De fato. os argumentos técnicos e

econômicos sobre os quais se baseiam as decisões de 1o-

calizaçáo alteram-se com a evolução da tecnologia e dos

fluxos mundiais. São reforçados por considerações eco-nômicas e financeiras e são raramente tão imperiososque não possam ser reexaminados ou discutidos se, por

exemplo, uma subvenção corrigir as desvantagens deuma cidade mal situada. Por conseguinte, qualquer nova

implantação é resultado de negociações e compromis-

sos, em que vários elementos e fatores intervêm, e nemsempre é fácil entender a inter-relação entre eles.

A decisão política do governo federal ou dos Esta-dos de favorecer a industrialização de uma ou de outraregìáo é, dessa forma, a origem de numerosos casos denovas localizações industriais, sobretudo em Estados até

então desprovidos. Nesse aspecto, a lógica disso é redu-zir as disparidades entre regiões e reforçar a unidade na-cional, com melhor distribuição das grandes atividadeseconômicas. São pontos de vista que os representantes

Proporção dos assalar iadosno oessoal das unidadeslocais (%)

Fonte: IBGE. Cadastro de Empresas2oO0

Atlas do Brasi l

150

políticos e líderes econômicos das re-giões envolvidas apóiam fortemente, ain-da que, às vezes, insistam mais incisiva-mente nos interesses específicos de seuEstado do que nos da região como umtodo. Esses interesses particulares, mui-tas vezes, conduzem-nos a rivalidades elevam a pressionar o poder central paradecidir em seu favor. Vê-se. conseqüen-temente, convergir, em especial no casode novas implantações, como as da in-dústria automobilística, as diversas lógi-cas dos vários atores, em várias escalas.Primeiro a lógica técnica, freqüentemen-te concebida em escala mundial por em-presas transnacionais; em seguida, aque-la que é concebida em escala nacionalpelo governo central quando é o respon-sável pela operação;por último, a lógicapolítica que pode se desenvolver em es-cala nacional, focalizando o ordenamen-to territorial do País, ou em escala regio-nal, priülegiando interesses específicos.

É necessário, assim, entender essecontexto para analisar a distribuição ter-ritorial das indústrias, ramo por ramo, co-mo aparece no Cadastro Nacional deEmpresas 2000 publicado pelo IBGE,que considera todos os estabelecimentosprivados e públicos, industriais ou não. Oque aparece claramente é a estrutura darede urbana e a predominância do sul,sem nenhuma surpresa - conseqüênciado modelo de desenvolvimento adotadopelos governos brasileiros desde Jusceli-no Kubitschek. Essa distribuição tem,porém, variantes em função dos recursosutilizados pelas indústrias (matéria-pri-ma, energia, bens de equipamento) oudas particularidades de seus mercados,ou ainda da utilização mais ou menos in-tensa da mão-de-obra local. No totalcontam-se numerosos estabelecimentos,

06-05. Data da criação das empresas

Parte dos estabelecimentosfundados antes de 1969 (%)

Parte dos estabelecimentosfundados após 1995 (%)

Números de unidadesfundadas antes de 1969

152642ì

1.045kì /

Número deestabeleci mentos

após 1995

í':

i , Í

Fonte; IBGE, Cadastro de Empresas2000

151

Dinâmicas industríais e terciárìas

mas que empregam pouco pessoal e pesam menos ain-da quanto ao valor produzido, como por exemplo o se-tor de madeira e móveis. Alguns representam parcelaimportante do emprego, mas a sua produção não atingeo mesmo nível, como a confecção, enquanto outros pos-suem, dentro da produção nacional, um peso superiorao que representam no total de estabelecirnentos e em-prego, como a metalurgia.

Além disso, nota-se que um mesmo setor pode es-tar constituído de estabelecinentos com característicasopostas, como as indústrias alimentares e têxteis. Nessesdois setores encontram-se, ao lado de pequenas fábricasarcaicas, muitas delas condenadas a médio prazo, unida-des modernas, voltadas para os mercados mais promis-sores, que testemunham claramente um renascimento.A indústria alimentar justapõe uma gama de pequenosestabelecimentos a fábricas mais modernas de congela-mento ou liofilização, e potentes fábricas de conservas,que constituem a parcela jusante de um vasto complexoagroindustrial: somente duas fábricas de conservas deSão Paulo e Pernambuco asseguram 70o/o da produçãode legumes em conserva e controlam diversas planta-

ções em vários Estados. A produção de café solúvel emLondrina (Paraná) é feita nas mais modernas instala-

ções do mundo, o que permitiu ao Brasil exportar tec-nologia nesse ramo atépan a Rússia, e conquistar umaquota importante do mercado americano. Esse setorestá em pleno desenvolvimento, pois cresce, atualmen-te, ao ritmo das novas_ exportações brasileiras - soja,sucos cítricos - e não apenas de acordo com o cresci-mento da população.

A distribuição dos estabelecimentos consagrados aagricultura, pecuária e floresta reflete, ao mesmo tempo,aquela das produções agrícolas - e, até certo ponto, omapa da fertilidade dos solos - e a distribuição desigualda estruturação do setor, pois apenas os maiores estabe-lecimentos têm personalidade jurídica ligada ao estatu-to de empresa.

Esse procedimento explica por que se encontram,na vanguarda das classificações da Figura 06-06, mi-crorregiões de elevada produção agrícola, como PortoAlegre (Rio Grande do Sul), Catanduva, Piracicaba eCampinas (Sao Paulo), Ponta Grossa e Lapa (Paraná),

Campo Grande e Tiês Lagoas (Mato Grosso do Sul),partes de grandes regiões, mas também cidades comoBrasflia (Distrito Federal), Cuiabá (Mato Grosso), Re-cife (Pernambuco), Belém (Pará) e Teresina (Piauí), emregiões menos prósperas, mas normalmente sedes dasempÍesas do setor agrícola. A principal concentração é,no entanto, como se podia esperar, no norte do Estadode São Paulo, coração da agricultura moderna do País.

A indústria de minérios é ainda muito dependentede suas fontes de abastecimento e do acaso da geologia,e, por esse ponto de ústa, Minas Gerais (vale aqui lem-brar o significado de seu nome) é, logicamente, o maisbem provido. A concentração de minérios no Sudeste eSul não reflete o estado atual da produção, porque asdescobertas feitas no Nordeste e mais ainda na Amazô-nia (bauxita de Oriximiná e as enormes jazidas da serrade Carajás) foram exploradas por firmas cujas sedespermaneceram no Sul.

O setor da construção civil, em contrapartida, re-flete fielmente a evolução recente das dinâmicas urba-nas brasileiras: são, mais uma vez, as capitais dos Esta-dos que se destacam, e a sua localização reflete algunsdos eixos mais ativos do País, associando a essas capitaisoutras cidades no mesmo Estado. É o caso do eixo Su-deste-Sul, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro e Vitó-ria, São Paulo ao Tkiângulo Mineiro (Uberlândia e Ube-raba) e Goiânia.Vale também para Curitiba e Florianó-polis, Londrina e Maringá (PR), Cascavel e Foz do lgua-

çu (PR). No Nordeste; apenas dois grupos aparecem,Salvador-Feira de Santana (Bahia) e João Pessoa-Campina Grande (Paraíba). Essa configuração reencon-tra-se ainda mais acentuada no caso dos estabelecimen-tos consagrados às transações imobiliárias: os eixosprincipais São Paulo-Vitória e São Paulo-Brasília sedestacam, enquanto no resto do território a predomi-nância das capitais de Estados não é contestada, excetoem Minas Gerais e o no Sul, onde se desenha um eixoque vai de Curitiba ao centro do Rio Grande do Sul, vialitoral de Santa Catarina.

A distribuição da indústria de transformação (Figu-ra 06-07) é o resútado de uma longa história, üsto que oinício da industrialização do Brasil remonta aos anos de1930. Entre as indústrias pesadag algumas conheceram

Atlas do Brasi l

152

06-06. As especialidades locais (1)

lndústr ia extrat iva

PaÍceìa da agricultura,pecuária e floresta no total

dos estabelecimentos

Construçao

Parcela de indústÍ iasmineiras no totaldos estabelecimentos

r n.oã , ,^@ o,tE^,J o,,F o,' '

Parcela das atividadesimobil iárias no totaldos estabelecimentos

r ,.,,,E ,u,uffi 6,1D 3,0E 1,5E 0,4

Atividadesimobi l iár ias

IIffiffiEú

17 ,3

1,,2

o,2

Parcela da construçaono total dosestabelecimentos

IE#=úE

47,7

6,1

2,6

1,3

0,8

o2

Número deestabelecimentos

2so2 -7-\559 1--\ /

10 \/ O HT2aa3 MGM Llbergeo

@ HT2003 MGM-Libergéa

Fonte: IBGE, Cadastro de Empresaszooa

à rápida urbanização e às obras de infra-estrutura' mas

enfrenta atualmente muitas dificuldades' O Brasil é au-

to-suficiente nesse domínio, como também na malor

oarte de suas indústrias básicas (aço' química pesada'

!

-"co:

153

Dinâmicas industriais e terciárias

papel etc.). Essas indústrias estão consolidadas e assegu-ram o abastecimento de outras indústrias. Instaladas re-centemente, são em geral mais modernas que as da Eu-ropa, e a abundância dos recursos em matérias-primasassegura-lhes um futuro provavelmente mais serenoque nos países desenvolvidos. É no domínio das indús-trias mais modernas que se apóia o futuro industrialbrasileiro. Mas, do ponto de üsta das localizações, essasúltimaq que deveriam ser mais liwes em escolhas, nãotêm mostrado configurações diferentes: salvo poucasexceções, os três pontos primordiais são nitidamenteSão Paulo, Minas Gerais e os Estados do Sul.

No primeiro, uma nítida concentração aparece aoIongo de eixos que partem do porto de Santos e seguemas antigas ferrovias do café (até o norte do Paraná). EmMinas Gerais, as indústrias se alinham de Belo Horizon-te a Vitória, ao longo da estrada de ferro que transpor-ta o minério de ferro para o mar, seguindo o Vale do RioDoce. No Sul, um eixo muito nítido (já assinalado peloseu dinamismo imobiliário) segue de Curitiba a PortoAlegre (via litoral de Santa Catarina), onde se bifurca,de um lado para Santa Maria e paÍa o centro do RioGrande do Sul, de outro ao longo da serra gaúcha, nasregiões há pouco colonizadas por imigrantes alemães eitalianoq até juntar-se de novo ao norte do Paraná. Es-ses eixos, no total pouco extensoq formam o essencialdo tecido industrial brasileiro. São locais onde aparecemconstantemente novos produtos, e as trocas e inovaçõessão mais ativas. Nesses territórios há boas possibilidadesde sucesso, e aí se atribui o futuro industrial do Brasil.No restante do País ocorre um vasto deserto industrial,à exceção das capitais e das principais cidades, onde asatividades industriais são induzidas pela presença deuma população de consumidores.

O caso dos estabelecimentos consagrados ao co-mércio e à reparação de automóveis é, obviamente, se-melhante, pois sua localuação está estreitamente rela-cionada com a população, ou pelo menos com aquelacapaz de comprÍÌr e manter um automóvel. Nesse casodestaca-se o conjunto que vai do sul de Minas Gerais aoRio Grande do Sul, a parte mais desenvolúda do País.Em contrapartida, há um pequeno número desses estabe-lecimentos nos Estados amazônicos - Amapá, Roraima,

Amazonas e Acre -, onde não somente o total popula-cional é baixo, mas sobretudo as estradas são raras e ostransportes por via fluvial predominam.

Finalmente, bons exemplos de concentração sãofornecidos pelos estabelecimentos consagrados às fun-

ções de intermediação financeira, transportes, aÍÍnaze-namento e comércio de mercadorias. Refletem a hierar-quia da rede urbana, com apenas duas exceções, dois ca-sos de concentração preferencial independente dessahierarqúa: no prineiro caso, ao longo do eixo Santos-São José do Rio Preto, no Estado de São Paulo, coraçãodo sistema agroindustrial paulista; no segundo, de PortoAlegre e Caxias do Sul (Rio Grande do Sul) até o oestede Santa Catarina e do Paraná, muito provavelmentecorrelacionado com a nova demanda induzida pelas tro-cas com os países vizinhos desde a criação do Mercosul,

Ainda servindo-se do cadastro das empresas e ten-tando uma análise global (dessa vez considerando as se-des das empresas e não as unidades locais) com apoioem uma análise fatorial (Figura 06-08), conclui-se facil-mente que certas atividades apresentam associações sig-nificativas e estruturadas, enquanto outras se dispersamem relação à população. O fator I (56,5Yo da variação)opõe, do lado negativo, as atividades banais e arepara-

ção de automóveis (à esquerda no plano fatorial, em co-res frias no primeiro mapa) e, do lado positivo, as ativi-dades mais concentradas (à direita no plano fatorial, emcores quentes), as financeiras, de transporte,de armaze-namento e de comércio. O fator 2 (20o/, da variação)opõe, no lado negativo, as atividades que são típicas daeconomia de concorrência (embaixo no plano fatorial,em cores frias no primeiro mapa) e, no extremo positi-vo, as atividades de administração, educação, construçãocivil e financeiras (na parte superior no plano fatorial,em cores quentes), preponderantes no Nordeste e noCentro-Oeste. Indubitavelmente, é o peso do Estadoque se faz sentir nos locais onde a iniciativa privada édeficitária.

A concentração na região Sudeste-Sul é tamanhaque se torna necessário empreender, o mais rápido pos-sível, sob risco de bloqueio, certa reoÍganização.Defa-to, a hiperconcentração e as desigualdades geradas pelosistema terminam por resultar em "deseconomias", ou

Atlas do Brasi l

154

06-07. As especialidades locais (2)

Comércio econserto cleautomóveis

ïra nsporte,armazenamentoe comunicação

O HTZOOS MGU-tib",geo

Intermediaçãofinanceira

: . 'cela da intermediação'-enceira no total dosis:ê belecìmentos

f , r . ,r""L---l . -,c

u,õ

- 0,5

- 02

:: -:: 3GE, Cadastro de Empresas2000

i:':. Jrn bloqueios. Parece que se assiste a um início de

r--Jrlìca. porque os inconvenientes da concentração: ,--Èam a pesar sobre as vantagens. Os industriais de-:-, doravante, enfrentar uma concorrência apertada

Indústr ia detransformação

ìL

rarcela da indústr iace transformação no total:cs estabelecimentos

I , " ,

- r , ,

É ru.o=

- nR

0 500 km

Parcela dos transpones,do armazenamento eda comunicação no totaldos estabelecimentos

- u.5

Número deestâbelêcimentos

2790 ^ìõõ s/

para ter acesso aos terrenos, aos fluxos, à infra-estrutura.Têm que enfrentar sindicatos operários, que a concen-tração reforça. E os poderes públicos, frente aos custoscrescentes da infra-estrutura necessária às metrópoles

01 6

a

155

D i nâ m icas i nd ustria ìs e te rciá rias

06-08. As especialidades locais (3)

industriais, estão inquietos pela coesão do País e malsinteressados na teoria que na práïica no ordenamentodo território. Esses fatores começam a pesar no sentidode certa desconcentração industrial. Assiste-se, por

805

255

170

85

-85

- 170

- 255

- 4930 500 km

Fonte: IBGE, Cadastro de Empresas2l}O om2ooã-eutia**o

Empresascadastradas

7.87Ass2â

gg --\t/

10'6

*9,7 Fator It56.6%l

2R

I t ' '

o7

1 lndústria extrativa2 Alojamento ê alimentação3 Administração pública, deÍesa e seguridade social4 Educação5 Transpone, armazenamento e comunicação6 Intermediação financelra7 Agricultura, pecuária e Íloresta8 Atividades imobil iáriasI ComéÍcio e Íeparação de automóveis

l0 ConstÍução11 Outros servrços coletivos

conseguinte, a uma redistribuição das atividades indus-triais dentro da região Sudeste (Figura 06-09), em espe-cial no interior do Estado de São Paulo, nos planaltos dooeste, onde outrora instalou-se a frente do café. Esta seorgantzava às margens das vias férreas; atualmente, sãoas fábricas que se alinham ao longo das estradas quelhes sucederam. Até 1975, a expansão fazia-se em umcontexto urbano, como em um processo de dilataçãoque conquista os espaços adjacentes, incorporando as ci-dades mais próximas de São Paulo. O processo conti-nuou nas décadas seguintes, mas simultaneamente fo-ram constituídos pólos independentes mais remotos, nocentro, no norte e no nordeste do Estado.

O mesmo fenômeno aparece igualmente em Mi-nas Gerais, com o desenvolvimento dos eixos para Riode Janeiro, via Juiz de Fora, e para São Paulo, via Ube-raba e Uberlândia, principais cidades do Triângulo Mi-neiro.Tiata-se de uma simples desconcentração, efetua-da pelo setor privado à procura de melhores condiçõesde lucro. O espaço e a mão-de-obra disponíveis são asmaiores atrações dessas novas localizações, além daproximidade de São Paulo. Os poderes públicos se

Fator I(coordenâdas ' 1000)

c es(_)Empresas

cadastradas7.87aeezã)

99v

0._____999 km@ HT-2003 MGM-Lìbergéo

Atlas do Brasil

156

-:ritam a fornecer a infra-estrutura que facilita a insta-=.'io das empresas, a eliminar algumas desvantagens'.s cidades interioranas, e a acompanhar o movimento

-:Lrntâneo, limitado a um raio de 500 quilômetros de

!,. -r Paulo.

06-09. As empresas do Sudeste

A indústria automobilística foi uma das primeiras aseguir esse movimento: Fiat, em Minas Gerais nos anosde 1980; Renault e outros, no Paraná; Peugeot, no Esta-do do Rio de Janeiro nos anos de 1990. Esse setor, de fa-to, alterou sua estratégia de localização.A fabricação de

a

/ . \ . - _,1 \ ,L_

.rJL

Expansáo da indústr iano Estado de Sáo Paulo

! nte rszs[-,,r,rì De 197b a 1986

- Estradas

::-:e: IBGE, Cadastro de Em1resas2O0O

\tu-"a'.

--'-- Claros

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Valadêre

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São Sebastrão' l -a - ' ^. . . . , / èanIos

'a.a. 'r'

0 250 km

@ HT-2003 MGM-Libergéa

157

Dinâmìcas ìndustriaìs e tercìárias

Construtores de automóveis{em 2000)

1.600 000

1.400 000

1.200 000

1.000 000

800.000

600 000

400 000

200 000

0

Construtores de caminhões(em 2000)

Mercedes- VolkswagenBenz do Brasi l

do Brasil

Fonïe: Anfavêa 2000

Forddo Brasi l

Scaniado Brasi l

Volvo General International Agraledo Brasi l Motors Caminhóes

do Brasil do Brasil

lìll Mercedes-Benz do Brasil S.A

I Toyota do Brasil S A

M Honda Automóveis do Brasil Ltda

I Renault do Brasil Automóveis S.A

Íì'llì Ford do Brasil Ltda

ffi General Motors do Brasil Ltda

Frat Automóveis S.A

il Volkswagen do Brasil Ltda,

lvecoMercosul

Tipos de caminhóes

I SuperpesadosPesados

ffi Semipesadosffifil vtédios

@W Leues

06-10. Participação das empresas automobilísticas

automóveis foi - a metrífora é ineútável - o verdadeiromotor do desenvolvimento industrial desses últimos trintaanos. Tem sido a fortaleza do movimento sindical e conti-nua sendo um dos pontos fortes das firmas estrangeiras.Importante no passado, mas também para o futuro, porquemantém suas capacidades inovadoras, que a transformam

em uma indústria de alta tecnologia e a colocam em con-tato com outros segmentos que têm o mesmo dinamismo.

Os primeiros automóveis produzidos no Brasil fo-ram da marca Ford, em 1919. Cinco anos depois,24 milmodelos T eram montados em São Paulo, com peças im-portadas. Em 2000, o Brasil produziu pouco menos de

Atlas do Brasi l

158

06-11. Local ização da indústr ia automobi l íst ica

0- _jE kr@ HTAPD-2003 MGM Liberyéo

Empresas instaladasapós 1996 e nãoassociadas à Anfavea

J-1

0__9E km::-ie AnÍavea, Anuário Estatístico 1998 @ HT-APD-2jj? MGM-Lìbergéo

,.-: milhão de automóveis (contra 446 mll em 1986); ex-:-rrta para toda a AméricaLaÍina e fornece motores e::ças para as fábricas de montagem das matrizes na

-uropa e Estados Unidos. Mais de 90% dos 27 milhões

:: r'eículos oue circulam no Brasil foram fabricados no

Volkswagen do Brâsi l Ltda

Fiat Automóveis S A

General Motors do Bras l Ltda

Ford Brasi l Ltda

Renault do Brasr l Automóveis S A

Honda Automóveis do Brasi l Ltda

Toyota do BrasÌl S A

Mercedes-Benz do BrasÍ l S A

Fonte: AnÍavea

431267 34

362 477 2A

289783 23

80 442 6

57383 5

20 568 2

tcr 45b I

i5 681 1

País, tanto os automóveis (68% da produção), quantoos veículos utilitários (Il'/,),ônibus e caminhões pesa-dos (6%).

Até data recente, quatro firmas compartilhavamo essencial do mercado, e três dentre elas continuam a

159

Dìnâmícas ìndustriais e terciárias

dominá-lo: Volkswagen (34%), Fiat (28%) e GeneralMotors (23%). A Ford, reduzida a 9"/o, deve disputarcom os novos concorrentes, como Renault, Honda, To-yota e Mercedes, que, juntas, já representavam9o/o domercado em 2000, e com a Peugeot, que começou a pro-duzir em 2000 de forma promissora, sobretudo graçasao sucesso do modelo 206. A Mercedes domina o setordos veículos pesados com quase 36% das vendas, nafrente dos modelos Volkswagen (2lo/o), Ford (13%),Scania (97o), Fiat (8%) e Volvo (6%), Poucas mudançashaviam ocorrido entre 1960 e 1995: Volkswagen e Fordtinham-se unido, formando, em 1986, o grupo Autolat!na, mas sua dissolução foi anunciada no fim de 1994.Apenas a Fiat teve êxito, com a ajuda do governo de Mi-nas Gerais, ao entrar nesse clube muito fechado, que-brando, ao mesmo tempo, o monopólio de São Paulo,onde se concentrava a maior parte das fábricas. Masdesde 1995 a situação tem se alterado profundamente eassiste-se a uma corrida dos fabricantes, o que fez doBrasil o segundo no mundo, após os Estados Unidos, noque se refere ao número de firmas instaladas.

Após uma série de crises nos anos de 1970 e1980, quando os veículos produzidos abarÍotavam ospátios das fábricas, as montadores instaladas no Bra-sil formaram a Anfavea, uma nova associação nacio-nal, cujo objetivo era, além de melhor representá-lose aumentar sua influência, coordenar suas ações. Aassociação agrupa atualmente 25 montadoras de au-tomóveis e de máquinas agrícolas, como Agrale,Caterpillar e New Holland,

Quanto ao aspecto da localização, antes da criseque levou a constituir essa associação a maioria das indús-trias automobilísticas concentÍava-se no Estado de SãoPaulo, principalmente no ABC - triângulo formado porSanto André, São Bernardo do Campo e São Caetano

do Sul - e no próprio município de São Paulo, com algu-mas implantações isoladas nos Estados de Minas Gerais,Paranâ e Rio Grande do Sul. Após 1996 (Figura 06-11),parte das indústrias migrou para Minas Gerais e Bahia,ao mesmo tempo em que houve aumento na região me-tropolitana de Curitiba e de Porto Alegre, em grandeparte úsando ao mercado comum do Mercosul.

Antigos e novos fabricantes não têm as mesmas es-tratégias de localização da sua rede comercial (Figura06-12). A Volkswagen, instalada no Brasil desde os anosde 1950, mantém a estratégia de localização por proxi-midade, instalando concessionárias perto dos mercadosconsumidores, mesmo os menores. Essa firma está pre-sente, tanto para os automóveis como para os cami-nhões, em todo o território nacional, até no Norte, ondeexistem poucas estradas (nesse caso, evidentemente, arede é menos densa). Em face dessa estratégia de satura-

ção, os novos fabricanteg sobretudo Toyota e Peugeot,têm um número bem menor de concessionárias, concen-trado nos mercados mais promissores. Em função do ti-po de veículo vendido (veículos urbanos para Peugeot edo tipo 4x4 paru Toyota), o primeiro escolheu concen-tÍar-se no Sudeste e no Sul, estando pouco presente aonorte da linha Campo Grande-Belo Horizonte-Vitória,enquanto o segundo posicionou-se ao longo do eixopioneiro São Paulo-Rondônia e no Nordeste.

Apesar desses recentes esforços, permanecem,contudo, margens para progressos, porque cerca da me-tade do parque automobilístico brasileiro foi construídoantes de 1990, o que se reflete no fato de existir uma fro-ta nacional relativamente antiga, embora não seja, nemde longe, o pior caso do continente sul-americano.Analisando esse dado por tipo de veículo, constata-seque apenas 43% dos ônibus foram construídos antesde 1990, mas 72o/o dos caminhões que circulam sobre

Fonte: DetÍan e Geipot 2002

Atlas do Brasi l

160

Automóveis Volkswagen

v .8.o a-t

-o*Número deconcassionáriasVolkswagen por milhão

Número dêconcesstonarlasVolkswâgen caminhôespor milhão de habitantes

Número deconcesstonanasToyota por milhãode habitantes

20.51 ,",.,r u,,r ,.,'E .,.0E o,u

Número deconcesstonanasPeugeot por milháode habitantes

u cuuKm -

@ Hf-2003 McM-Liberyèo

Fonte: Sites Internet das fiÍmâs

x25' U bUUKM '

o'8 o nr-zoos ueu-tiburséo

AutomóveisToyota

ConcessionáriosToyota

ezì1-\) /

0 50okm -I I ^-- Q't @ !-Ì-2oog McM-Libercéo

0 500 km

@ Hf-2003 MGM-LibeAéo

Caminhôes Volkswagen

ConcessionáriasVolkswagen caminhóes

2_1l l

Automóveis Peugeot

ConcessionáriasPeugeot

'' z-ì1-kr-/

as estradas brasileiras foram construídos antes dessa da-ta Essa situação é prejudicial, tanto em relação à segu-rança rodoviária quanto à poluição atmosférica, vistoque o progÍama de controle das emissões dos veículos,

06-12. Redes de concessionárias

apoiado pelo Sistema Nacional do Meio Ambiente, so-mente começou a ter um efeito mais perceptível no fi-nal dos anos de 1980. Contudo, a frota nacional renova-se gradualmente, e, comparando o número de veículos

161

Dinâmìcas industriais e terciárìas

postos sobre as estradas entre 1991 e 1995 e entre 1996e 2000, constata-se um progresso pequeno para os cami-nhões, um mais nítido para os ônibus e um considerávelpara os automóveis. Essa situação pode ser atribuída àrenovação da oferta e ao Plano Real, que em 1994 esta-bilizou a moeda e permitiu o acesso de novos consumi-dores ao mercado, seja comprando veículos novos, sejade segunda mão, liberados para o mercado pelos pro-prietários que adquiriram veículos novos.

Finanças e serviços

Outros progressos podem ser mensurados pelosavanços no setor financeiro, nas telecomunicações e nosmeios de comunicação. O setor terciário é, atualmente,o mais importante da economia brasileira, pelo menosno que diz respeito ao emprego: eml99l,já empregava55% da população ativa, após um crescimento rápido econtínuo. Mas a sua definição clássica e negativa - o quenão é nem agricultura nem indústria - é pouco satisfató-ria nos países industrializados, e menos ainda no Brasil.Setor diverso, heteróclito mesmo, o terciário associa ati-vidades econômicas de direção, de alto valor agregado,como os bancos, e o terciiírio "informal", refugio dos po-bres sem cobertura social. E formado principalmentepelos setores de comércio e de serviços, que justapõemestabelecimentos modernos (dos hipermercados Carre-four ou Pão de Açúcar, por exemplo, às butiques de al-ta costura) a uma multidão de microestabelecimentos,mais ou menos clandestinoq que exercem funções com-paráveis para públicos muito diferentes.

Em relação à situação dos anos de 1960, quandoera reservado a uma elite, o sistema bancário brasileiroprogrediu muito. Instaurado com base em um sistemacapaz de recolher a poupança e de orientála para os ra-mos carentes, de favorecer um crescimento harmoniosoe de oferecer crédito e facilidades de pagamento, ele émais que uma necessidade técnica, é uma das chaves dodesenvolvimento. Por longo tempo o Brasil necessitoude tal instrumento, e o regime militar nascido do golpede Estado de1964 tentou instaurá-lo. Os questionamen-tos ligados à mudança de regime fizeram aparecer asdistorções e os defeitos de um sistema concebido para

um tipo de desenvolvimento bem particular. O sistemafinanceiro atual tende ainda a perpetuar um desenvolvi-mento centrado no consumo e uma distribuição de ren-da e patrimônio muito desigual. O crédito é destinadoàs empresas ou à compra de bens de consumo duráveis,e os encargos do investimento a longo prazo são cobra-dos do Estado. Entretanto, falta crédito para a popula-

ção de mais baixa renda. Como o Estado já deve se en-canegar do crédito para habitação e urbanização, do cré-dito rural e do financiamento a médio e longo prazo daindústria, o endividamento interno e externo aumentou.

A presença do setor financeiro em quase todos osmunicípios brasileiros mostra como ele vem se expan-dindo constantemente (Figura 06-13) e como é bem dis-tribuído pelo território nacional, embora seja altamen-te concentrado: mais de 3 mil municípios (62%) em umtotal aproximado de 5 mil são dotados de agências ban-cárias. Essa distribuição está longe de ser homogênea ereflete, efetivamente, as hierarquias urbanas. Se umpouco mais de 1.750 municípios (35olo) têm duas agên-cias ou mais, são apenas quatrocentos (8o/o) a ter dez oumais, e pouco mais que 47 (menos de 1%) a ter cem oumais. A localízação dessas agências é muito próxima dadistribuição da população, sobretudo a urbana: correla-cionar esse número à população (agências para 100 milhabitantes) coloca as grandes cidades em um pata-mar médio e valoriza as regiões rurais prósperas doSul, do Estado de São Paulo e de Goiás, certamentegrandes consumidoras de créditos bancários para fi-nanciar sua agricultura tecnificada.

Além do número de agências, a distribuição dosdepósitos é muito esclarecedora, pela oposição entre osdepósitos públicos e privados. Os primeiros referem-se,com montantes modestos, às capitais dos Estados doNorte e Nordeste, ao Rio de Janeiro e, naturalmente, aBrasflia. Nesse caso, em contrapartida, o Sudeste e oSul aparecem fracos ou quase inexistentes. No entanto,para os depósitos privados, a situação é oposta: as capi-tais do Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste apare-cem ainda mais, embora se distingam do interior dosseus territórios respectivos. A predominância e o desta-que são para três pólos principais: Rio de Janeiro, Bra-sília e, sobretudo, São Paulo, cujos depósitos bancários

Atlas do Brasil

162

ü6-13. AgèncEas e depósi tos haneárÈos

Iil##=I

Número deagências Por100.000 habi tantes

106

21

15

9

6

3

1

':-ie: Banco Central, Registro Adminìstrativo 2000

I

É. '. r '(./

@ HT 20Ô3 MGlvl-Llbergéo

Númeroagências

Z-\+-l\r-l

IE€€=E

670 1 33

44 542

18 327

9 789

4 919

763

2

de

1 319

256

1

6 940

Depósi tos Públ icos(mi lhóes de reals)

322 -A)1y

IE#€==f

Poupança

Depósi tos Pr ivados(mi lhóes de reals,

Alegre. Na proporção com a população' o Nordeste

afrÃenta inàlc" Oistanciado (exceto Recife)' assim co-

mo o Norte, nesse caso porque sua população é reduzi-

da. Esse mapa ajuda a compreender as dificuldades en-

contradas para financiar o desenvolvimento dessas

Depósi tos Públ icos \ ! - i - ' i ì r

por 100,000 habi tantes

(mi lhóes de reats;

"uuo J-ì

861\^) /

163

Dinâmicas industriais e terciárÌas

06-14. Zonas de atracão das atividades financeiras

regiões e a necessidade de transferências financeirasimportantes, tornadas cadavez mais difíceis pela retra-

ção do Estado, ou seja, pela redução do seu papel de re-gulação e de compensação entre as distintas partes doterritório nacional.

Considerando como indicador não apenas os ban-cos, mas também o emprego no conjunto das atividadesfinanceiras, pode-se construir, aplicando algoritmos de-rivados dos modelos gravitacionais, um mapa teóricodas zonas de influência financeira (Figura 06-14).

Probabi l idades de atração

- lv lodelos deThiessen(Dirichlet -Voronoi) - Huff

- Atração: emprego financeiro

- Expoente da distância: 2

- Níveis de centralidade de 1 para I

0 500 km

@ Hr20o3 MGM-Liberyéo

Fonte: Regic e Rars

Atlas do Brasi l

164

!,ì: Paulo aparece claramente como centro:', minante, visto que sua zona de influência::.:tunde-se com o território nacional, exce-:,-e s feitas apenas aos centros de menor pe-

r-- .1ue chegam a impor-se, no Norte e Cen-:..-Oeste. Manaus, Belém, Porto Velho e,l:iabá devem a extensão do seu domínio à:r.ncoÌrência, não ao seu peso específico,;:quanto no Nordeste e no Sul as cidades-idias fazem sombra umas sobre as outras.\.. Sudeste, Belo Horizonte limita o domí---tr do Rio de Janeiro, mas enfrenta a con-:.rrrência de uma série de pequenas cida-:-'s- Apesar da pressão de São Paulo, a cida-:; conserva uma zona de atração local.

O comércio, tanto o atacado quanto

-ì \arejo, é outro bom indicador do grau

:: centralização. O número de empresas e

,- emprego que representam é natural-lente bem mais elevado no comércio de,arejo que no de atacado, isso porque o:imeiro associa a empresas formais uma

-arilidade de pequenos comércios infor--":ars e precários.

Sua proliferação, sobretudo nas peri-

:;rias das grandes cidades, assegura par-

;:aÌmente o escoamento dos produtos do.:tor industrial moderno, colocando-os ao

'l;ance da população mais pobre pelo

:arcelamento e pelo crédito. A existência:; um vasto setor de comércio e de servi-:.-rs baratos permite manter mais baixos

:s salários do setor moderno. Longe de

!.r seu parasita, como se pensou durante-uito tempo, o setor terciário informal:e é, de fato, muito úti l, sendo parte doì- i ïcma. ao qual é estrei tamente l igado. E: rneio de sobrevivência de multidões dejgrantes que se acumularam nas cidades

::asileiras e não puderam encontrar lugar-rìs circuitos econômicos clássicos. Ainda

:_ue fosse esta sua única função, já seria-uito importante.

G6-15. Comércio - atacado e vareio

Empregos porcomérciova reiista

Empregos por

comércíoatacadista

Fonte: Rais, 1995

Número decomercrosva rej istas*

*Sáo Paulo: 64 218

o.- --_ry! k.@ HT2003 MGM Lìbergéo

0 500 km

@ HT2003 MGM-Libergéo

Número decomercros

atacadistas953

t-\/ \354 t--\ /

6 \ \ , / .

165

Dinâmìcas ìndustrìais e terciárias

06-16. Zonas de atração do comércio atacadista

Caso se deixe de lado a desproporção dos efeti-vos (que levou, como mostra a Figura 06-15, a adotaruma escala diferente, de 1 para L0, para manter di-mensões dos círculos compatíveis), a imagem da dis-tribuição espacial é sensivelmente a mesma. Opõe os

vazios do Norte e Centro-Oeste às redes do Nordes-te, dominadas pelas capitais, enquanto o Sudeste e oSul têm uma constelação de pequenos centros, próxi-mos uns dos outros, onde os efetivos empregados emcada comércio são bem mais baixos. Para o comércio

Probabi l idades de atração

- Modelos deThiessen{Dirichlet -Voronoi) - Huff

-Atração: empÍegos no comércioatacadrsta

- Expoente da distâncìa: 2

- Níveis de centralidade de 1 para 8

0 500 km

@ Hl-20O3 MGM-Lìbergéo

Fonte: Regic e Bais

Atlas do Brasil

166

atacadista, nota-se o caso excepcional de Uberlândia,

no Triângulo Mineiro, que abriga várias das princi-

pais cadeias nacionais de abastecimento do pequeno

comércio.

06-17. Estratégias comerciais

Pão de Açúcar

Número desupermercadose hipermercadospor mi lhãode habitantes

E.,

Fonte: Srte Internet da firma

uu-z\''trì )r -\S/

Um mapa da zona de atração teórica do comércioatacadista (Figura 06-16), construída usando os mesmosprincípios das áreas de influência dos bancos, promoveresultados simultaneamente comparáveis e diferentes:nesse caso também São Paulo predomina e deixa as ou-tras cidades atrás. As capitais amazônicas igualmente sebeneficiam de seu isolamento e da ausência de concor-rência próxima. Mas, desta vez, Brasília, Cuiabá e Curi-tiba têm papel mais restrito, contrariamente ao de Goiâ-nia e de Uberlândia, que se beneficiam de sua posiçãocentral. O modelo teórico é, portanto, adequado à reali-dade observada, pois essas duas cidades têm realmentedesempenhado esse papel desde os anos de 1950, graçasao desenvolvimento das estradas que as colocaram emsituação ideal para distribuir os produtos da indústria deSão Paulo para o Norte e o Centro-Oeste.

Em face desse comércio tradicional, o aparecimen-to da grande distribuição moderna, sob a forma de redesde supermercados, hipermercados e shopping centers,foi, no Brasil como em outros países, uma inovação es-sencial. O mercado dos primeiros é disputado entre ogrupo Carrefour (que controla os hipermercados do

Número desupermercaoose hipermercadospor mí lháode habitantes

Carrefou r

Númerode supermercaõos

e hipermercados3iõ

Fonte: Site lnternet da Íìrma

Fonte: IBGE. Pertil dos Municíoios Brasìleiros

167

Dinâmícas industríais e terciárìas

06-18. Os serviços

mesmo nome e os supeÍmercados Champion) e o grupobrasileiro Pão de Açúcar, ambos lutando por meio deimplantações novas e de compras de concorrentes. Ogrupo francês pÍocura, visivelmente, cobrir as regiões

1 Administração ê t€cnologia2 Administração pública3 Hotelaria4 Construção5 Educação6 Instituições ílnanceiras7 Saúde8 Sêrviços de uti l idade pública9Transporte e enêrgia

mais povoadas e desenvolvidas, e também Manaus; ogrupo nacional aproveita a concentração de suas basesde origem no Rio de Janeiro e em São Paulo (na capitale no litoral balneário), e investe em Brasília e Fortaleza.

O aparecimento dos shopping centers é recente noBrasil - a partir dos anos de 1960. O primeiro, o Iguate-mi, foi inaugurado em São Paulo emI966,na ârea deuma antiga chácara, e contribuiu para a transformaçãode uma região residencial do Jardim Paulistano em umpólo de compras. À época, o comércio varejista importan-te estava localizado na rua Augusta, famosa na épocacomo a "Rua da Moda", e a conquista da clientela levoucerca de cinco anos. Somente no início dos anos de1970o shopping passou a ser conhecido como centro lança-dor de moda e, a partir de 1978, a representar para oconsumidor novas vantagens, como conforto, segurançae estacionamento. No início tinha 75 lojas, aos poucos foisendo ampliado e, atualmente, o Iguatemi conta com 388lojas. À medida que o setor varejista entendeu ser esseum novo modelo, voltado para segmentos mais favoreci-dos da população, tais centros de consumo passaram aser contemplados com grifes nacionais e internacionais,

Fator I{coordenadas * 1000)

993r 016ã 4t jn

zvaE -rouE _0.,. ,ffi _0,,0i l _903

0 500 km

@ HT'2003 MGM-Líberséo

' - , ,/ Valor total

,--/ dos seruiços(bilhóes de reais)

Fator ll(coordenadas ' 1000)

2.300r 387il 258:=ng

-/ valor total

dos seryiços(bilhóes de reais)

Fonte: Rais '1995

Atlas do Brasil

168

além de opções gastronômicas, de serviços e de lazer. Da-dos de 2001 da Iguatemi Empresa de Shopping Centersapontam que o público freqüentador é proporcionalmen-te diúdido entre homens e mulheres, sendo que a maioriatem idade entse ?5 e 44 anos (a8%) e reside (37%) nosbairros Jardins,Itaim, Piúeiros e Morumbi. Além disso,4ó7o dos freqüentadores visitarno shopping de uma a três\€zes por semana. No total, o volume de negócios desseshopping center é hoje superior ao PIB de Alagoas,

Apesar de sua recente expansão, os shoppingcenters têm ampliado também suas influências no com-portamento social urbano. É o que evidenciam recentesestudos desenvolvidos na Universidade de São Paulo,obtidos durante arcalìzação de concurso nacional con-cebido pelo Programa de Administração em Varejo(Provar-FIA) em parceria com a Fundação EducarDPaschoal, o jornal Folha de S. Paulo e a editora Atlas,visando a identificar fatores positivos e eficazes paramelhoria do desempenho do setor e criar novas estraté-gias de marketing. Ângelo & Silveira (2001) organna-Íam em um livro os estudos ganhadores do VI PrêmioExcelência em Varejo, que evidencia: a mudança do per-fil da clientela desses estabelecimentos; o jogo de podere influência que elementos instalados (luz, som, cores)no interior das lojas possuem sobre o comportamentode compra dos consumidores; o aumento do grau de exi-gência e seletividade dessa clientela; e o uso de elemen-tos sutis de sinalização e de facilidade de movimentaçãopara a indução ao consumo. Esses estudos constatamcomo o comportamento emocional impulsiona a maio-ria das decisões de compra; como o uso criativo das co-res (frias ou quentes), nos pontos-de-venda, também de-terminam diretamente a predisposição de compra doconsumidor. Abre-se, assim, um novo campo de traba-lho para os pesquisadores urbanos preocupados com assutilezas do capitalismo e com a incessante busca deinovações capzLzes de atrair consumidores.

Sem se aproximar do nível do lguatemi, outroscentros do mesmo tipo foram construídos em todo oPaís, e a sua distribuição (Figura 06-17) mostra, efetiva-mente, as regiões mais interessantes para os seus pro-motores: concentração no Sudeste e no Sul, sobretudonas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Ja-neiro, distribuição mais flexível no litoral do Nordeste eocorrências isoladas nas capitais do restante do País.Nota-se, contudo, o alinhamento de centros comerciaismodernos ao longo das estradas pioneiras que ligam aAmazônia ao Sul, pois os pioneiros não deixam de ir,pelo menos de vez em quando, buscar na cidade viziúaas comodidades (e os prazeres) aos quais estavam habi-tuados em sua região de origem.

Uma análise fatorial rcalizada sobre o valor dosdiferentes tipos de serviço (Figura 06-18) mostra que,também desse ponto de vista, distinguem-se gruposbastante nítidos. O fator I (38% da variação) opõe olado negativo (cores frias, parte direita do plano fato-rial), das regiões onde dominam os serviços privados,ao lado positivo (cores quentes, parte esquerda doplano fatorial), das regiões onde serviços públicos sãopredominantes; os primeiros destacam-se no Sudestee Sul, os outros, no Nordeste e na maior parte da Ama-zônia. O fator II (20"/o da variação) redobra largamen-te o primeiro, opondo, outra vez, o lado negativo (co-res frias, parte baixa do plano fatorial), dos serviçosprivados, ao lado positivo (cores quentes, parte eleva-da do plano fatorial), o dos serviços públicos. Destaca,de um lado, a cidade de São Paulo e os arredores (e,curiosamente, os arredores de Belém e de Macapá), e,de outro, Fortaleza. Essa cidade foi objeto de uma po-lítica social contínua durante quatro mandatos suces-sivos de prefeitos e governadores da mesma tendênciapolítica. Destaca também o interior do Estado de SãoPaulo e o norte do Paraná, onde, de fato, esses servi-

ços são de boa qualidade.

169

Dinâmicas industriais e terciárias

CAPÍTULO 7

aÍa valoÍízaÍ as principais dinâmicas urbanasatuais, privilegia-se deliberadamente nesse capítu-lo um certo número de fatores. de maneira a sa-

lientar as mudanças em curso. Essas transformações secaracterizam simultaneamente por extraordinário cres-cimento quantitativo e qualitativo das cidades e municí-pios, pela estruturação das redes onde se inscrevem epor uma redistribuição espacial que atinge regiões atéentão à margem da economia nacional, mal integradasao processo de crescimento global do País.

É fundamental,pan compreender essa evolução,reexaminar o processo de urbanização brasileiro, que setraduziu na profunda remodelagem das paisagens urba-nas e rurais e na transformação de uma sociedade atépouco tempo atrás rural, cuja inserção no mundo urbanoprovoca, entre uma e outra, nova dinâmica. A integra-

ção das regiões mais periféricas foi efetuada principal-mente pela ação dos poderes públicos e em função dosinteresses do centro-sul. As ações decorrentes dessaspolíticas serviram de alicerce à implantação e à consoli-dação de setores produtivos urbanos, a partir dos quaisa modernização rural era empreendida.

Um dos aspectos mais significativos dessa transfor-mação foi a mobilidade espacial, característica de umpaís novo, fundada sobre o sentimento compartilhadopela população e pelos poderes públicos de que o espa-

ço disponível era quase infinito. A urbanização, forte-mente estimulada por esse sonho de mobilidade espa-cial e social, foi, portanto, uma das principais vertentesde modernização. A formação de cidades, o desmembra-mento e a emancipação de municípios estiveram entre

as principais características de incorporação das novasfronteiras agrícolas e foram particularmente intensas(Capítnlo 2), embora o processo de criação de unidadespolíticas e administrativas teúa ocorrido em todo o País.

Além disso, o desenvolvimento e a consolidação decidades médias coincidiu com a gradativa redução dasmigrações que alimentavam o crescimento das metrópo-les brasileiras. Porém, tanto as migrações a curta distân-cia como as migrações remotas que as precediam apre-sentaram a mesma conseqüência: o agravamento das de-sigualdades sociais nas cidades e a exclusão de uma par-cela significativa dessa população dos benefícios da vidaurbana. Os resultados são hoje bem visíveis.As desigual-dades e disparidades socioespaciais no Brasil colocam-seentre as maiores do mundo, refletindo-se em configura-

ções territoriais contrastantes até mesmo entre os bair-ros (que apenas serão mencionados aqui, visto que estãosendo privilegiadas as escalas nacional e interurbana).

De fato, uma das transformações essenciais dessasúltimas décadas foi a profunda reestruturação das áreasde atração e influência das cidadeg que podem seÍ me-didas graças a trabalhos específicos empreendidos noBrasil, ou também pelo uso de indicadores e de algorit-mos menos pesados.

As redes urbanas

As cidades brasileiras, por muito tempo, concen-traram-se exclusivamente no litoral ou em suas proximi-dades, em particular no Sudeste e no Sul e de maneiradispersa no Centro-Oeste, Norte e interior do Nordeste.

Atlas do Brasi l

170

Essa distribuição refletia as desigualdades das densida-des demográficas e dos pesos econômicos, bem como aausência de redes urbanas, pois cada célula produtiva,centrada rìa "sua" cidade, pouco se comunicava comas outras. A primazia das metrópoles, de hierarquia

07-01. As redes urbanas

superior, e das capitais dos Estados era indiscutível, e osfluxos em direção às cidades de nível inferior, ou oriun-dos delas, eram pouco significativos.

Esses traços sobressaem no mapa das redes ur-banas brasileiras, construído a partir dos dados do

oÊ-Cidades

> 1 000 000 hab

Gffi soo ooo r,au

População urbana em 2000

São Paulo

I São Befnardo do Campo

lÈ":::ï$3'"

Rio de Janeiro

I Duque de Caxias

I Nova lguaçuI Sáo GonÇalo

500 km

@ HT2003 MGM Lìbergéo

c

Fonte: IBGE, Censo Demográfìco 2000

171

Dinâmicas urbanas

O7-O2. O crescimento das capitais

recenseamento de 2000 (Figura 07-01). Verdadeiras

redes, no sentido estrito do termo, aparecem apenas

no Sudeste e Sul, enquanto nos outros quatorze Esta-

dos as capitais não dividem sua influência com cen-

tros de menor porte, exceto raras exceções, e reinam

quase absolutas sobre o seu território.As cidades que

não são capitais e têm mais de 500 miÌ habitantes con-

centram-se no Sudeste (com exceção de Jaboatão, in-

tegrante da região metropolitana de Recife): Guaru-

thos, Santo André, São Bernardo do Campo, Osasco,

doD::ï".

1812

1 890

1900

1920

:. 1940

';ii.', t gso

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Cidade maispovoada

214 912

522 651

811 443

1 151.874

1 764 144

2 377 450

3 781 450

5 924 610

a +93 224

9 626 890

9 839 440

10 406 2002000

Fonre: IBGE

12

10

I

6

4

2

0

Rio de Janeiro

Fortaleza

População

Brasi l a

0 500 km

@ HT2003 MGM-Lìberqéo

Atlas do Brasi l

172

Campinas e Ribeirão Preto, em São Paulo;Contagem,em Minas Gerais; Duque de Caxias, Nova Iguaçu eSão Gonçalo, no Rio de Janeiro. Nas outras regiões,todas as cidades que atingem esse limiar são capitaisde Estado.

07-03. As regiões metropolitanas

Essas capitais coúeceram'um cÍescimento contí-nuo, mas não sem mudanças de ritno, como mostra omapa da Figura 07.02, elaborado de forma a reconstituiro seu crescimento desde o primeiro censo brasileiro, em1872,, até o último, datado de 2000, Algumas aparecem

GrandeVitória

de JaneiroSantista

Norte-Nordeste CatarinenseVale do ltajaÍFlorianópolis

As antigas regióesmetropolitanas (nove) estão em negrito

Fonte: IBGE

0 600 km

O ÍG20&t MGM-Lbtgh

iI

t173

Dinâmicas urbanas

tardiamente, como denota a ausência dos círculos clarosque representam a população nos primeiros censos:Belo Horizonte, fundada em 1897 para substituir OuroPreto, e Goiânia, em 1930. Porto Velho, Boa Vista, RioBranco e Macapá tornaram-se capitais somente depoisda criação dos territórios federais, em1943, e CampoGrande com a constituição do Estado do Mato Grossodo Sul, em1979. Brasília foi inaugurada em 1960, e Pal-mas, a última capital, foi construída somente após a cria-

ção do Estado de Tocantins, em 1988.

Entre as mais antigas, se opõem aquelas que ti-

nham certo avanço à época do primeiro recenseamento

e que, gradualmente, o perderam, como Salvador, Riode Janeiro e Recife, e aquelas que, partindo de um nívelmais baixo, conheceram um crescimento mais rápido.Entre essas últimas está Fortaleza, que viu a sua popu-

lação inchar com a chegada dos flagelados que fugiamda seca; e, sobretudo, São Paulo, que contava apenas30 mil habitantes em 1872 e se transformou na principal

cidade do País, com mais de 10 milhões de habitantes nomunicÍpio central e quase 18 milhões nos arredores, em2000; finalmente, outras capitais que conheceram umcrescimento regular, ou seja, as capitais regionais que

crescem com a região sobre a qual exercem atração:Manaus, Belém e, ainda, Porto Alegre.

Nesse contexto de forte crescimento das grandes

cidades, verdadeiras aglomerações urbanas criaram-seprogressivamente, mesclando espaços tradicionais comespaços de modernização. Cidades médias, no Sudeste eno Sul, transpuseram seus limites municipais e aglome-rara-se entre si ou, às vezes, com as grandes capitais. Es-se fato foi ressaltado por um estudo realizado pelo Ins-tituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) epelo IBGE, em 2000, com o objetivo de reexaminar ahierarquia das categorias urbanas. Tal estudo deu ao go-verno federal a base técnica para elevar de nove pan23o número de regiões metropolitanas (Figura 07-03).

Evidentemente não são apenas bons resultadosque se registram nessas aglomerações: ao lado do seu di-namismo econômico, da sua capacidade de atrair seto-res de tecnologias de ponta, essas aglomerações pos-suem também indicadores negativos relacionados à qua-lidade de vida urbana, às condições de habitabilidade e

de habitação e à deficiência de infra-estrutura (sobretu-

do saneamento e abastecimento) que atingem, por ve-zes, grandes efetivos populacionais. Apesar dessa face

negativa, sua atração persiste: a possibilidade (real ou

sonhada) de encontrar emprego, o acesso à educação e

à saúde e - geralmente - alojamento, são as vantagens

dessas aglomerações urbanas que explicam o contínuofluxo migratório.

O reconhecimento dessas novas regiões metropo-

litanas ratifica um momento-chave da evolução urbana

brasileira: o fim da migração maciça do meio rural e daspequenas cidades para as grandes metrópoles. O movi-mento atual se faz em benefício das cidades médias,dentro da mesma região, ao mesmo tempo devido àimagem negativa (que termina por se impor, pois é fun-

dada sobre uma dura realidade) das grandes cidades egraças a uma imagem positiva (da mesma maneira

apoiada em fatos reais) das cidades médias, onde a qua-

lidade de vida e as facilidades existentes são bem apre-ciadas. Conseqüentemente, as hierarquias urbanas já es-tabelecidas podem se alterar.

Atrações urbanas

No estudo dos sistemas urbanos, uma questão cru-cial refere-se às hierarquias e dinâmicas urbanas. Suacaracterização passa pela análise da localização dos di-ferentes nós (os pólos principais) com seus níveis de re-lacionamento e hierarquia. Essa análise permite conhe-cer o grau de maturidade e de descentralízaçãn (ou cen-tralizaçáo) do poder territorial, este último centrado emalgumas grandes metrópoles nacionais, o que é agÍava-do pela ausência de cidades médias atrativas.

No contexto brasileiro atual, outros fatores contri-buem para a dinâmica espacial que altera um pouco es-ses sistemas, como a constituição constante de novas vi-las e povoados e sua transformação em sede de novosmunicípios. Acoplados ao desenvolvimento de nova in-fra-estrutura e com a melhoria dos serviços, esses novoslocus do poder municipal reestruturam suas áreas de in-fluência, reorgan:nam suas redes de relações, tornam-sepólos mais competitivos e aumentam sua capacidade depolarização. Cerca de 1.100 municípios, distribuídos em

Atlas do Brasi l

174

todo o território nacional, estão atualmente na catego-

ria quatro (nível de centralidade 4), de acordo com o es-

tudo do Ipea (2000)'

A determinação do grau de centralidade é, de fato'

uma tarefa necessária, porque as cidades brasileiras têm

07 -O[.As hierarquias urbanas

uma radiação muito desigual. Para medilo, o IBGE rea-

lizou em 1993 umlevantamento sobre a âreadeaÏtação

de todas as cidades brasileiras: a pesquisa Regic (Região

de Influência das Cidades). Fundamentada sobre uma

bateria de indicadores (comando administrativo, átea

.i.--:' Fortaleza

é.. -Rio de Janeiro

Sao Haulo

Nível de central idade do

município dominante

7

6

5

3

az1

Fonte. IBGE, Regic 1993

0 500 km

@ HT-2003 MGM'LìbeÍgea

I tóo

175

Dínâmicas urbanas

07-05. Áreas de atração das cidades

de atração de serviços educativos e saúde, área de atra-

ção comercial etc.), essa pesquisa permitiu classificar ascidades em oito níveis de atração (miáxima, muito forte,forte, forte a média, média, média a fraca, fraca, muitofraca). Para cada uma delas, o levantamento estabelecia

igualmente para qual metrópole de nível mais elevadodirigiam-se seus habitantes quando não encontravam oque procurassem no local que habitavam. Os resultadmpublicados são de difícil leitura, essencialmente listas demunicípios dispostos em forma de árvore, de maneira a-

Central idade máxima*

# coiâniâ

- Belo Horizonte

- RiodeJaneiro

ffi sáoPaulo

- Curìtiba

- PonoAlegre

Central idademuito forte*Nordeste

- Sáo Luls

a!.; Maringá - Campinas

- Juiz de Fora

- Feira de Santana

r João Pêssoa; - . tetêstnâ

- c.Ãoin" o-"0" -

BêlémË MAnaus

ç,,dêcté

Centto-Oeste "--"",':-_,.-_UbeÍlândiâ

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- Passo Fundo ""'t Sáo José do Fio Proto

- Pêlotâs * Presidente Prudentê

É Sântâ Marìa * Ribeiráo Preto

- BrasÍlia

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* Florianópolis -

Marília

*Classifr€çáo Rêgic

Fonte: IBGE Begic 1993

0 500 km

@ ISPN PDln-2003 MGM-LibeEéo

Atlas do Brasil

176

supostamente, mostrar as hierarquias urbanas, deslocan-do os níveis sucessivos de dependência. Primeiro vem alista dos municípios que dependem diretamente de umametrópole; em seguida, aqueles que têm acesso ao servi-

ço das cidades de segunda categoria etc., até, a oitavaclassificação. Um procedimento torna a leitura mais fá-cil: traçar o mapa dessa hierarquia e de suas relações(Figura 07-04).

Para avançar além dessas dependências de primei-ro nível, cálculos foram feitos pelo ISPN: para cada ci-dade foi construído um quadro dos municípios depen-dentes, direta ou indiretamente, via cidades intermediá-rias. O mapa da Figura 07-05, produzido com base nosdados assim alterados, reúne as nove cidades classifica-das pelo IBGE como nível 1 ("centralidade máxima") eas que foram classificadas nonível2 ("centralidade mui-to forte"). Oito dessas cidades de centralidade muitoforte situam-se no Sudeste (cinco das quais no Estado de

07-06. Ri l idades regionais no Sudeste

São Paulo), seis no Sul, seis no Nordeste, apenas duas noNorte e uma, Brasília, no Centro-Oeste.

O fato mais visível é a dimensão da área de atra-

ção de São Paulo, que engloba grande parte do Centro-Oeste e da Amazônia. Nenhuma outra cidade çonse-gue rivalizar com uma metrópole que se tornou a ver-dadeira capital do País. As outras cidades dessa catego-ria são, sem surpresa, os municípios centrais das outrasregiões metropolitanas de primeira hierarquia, à exce-

ção de Belém, a menor entre elas (apenas dois municí-pios), e com o acréscimo de Goiânia, que irradia am-plamente sobre o restante do Centro-Oeste e sobre al-gumas porções da Amazônia (sul do Pará) e do Nor-deste (Maranhão). Geralmente, Goiânia drena umaárea bem mais importante que Brasília, que figura ape-nas na segunda categoria e que, decididamente, assumemuito mais o papel de capital federal que de metrópo-le regional.

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Aceano Atlântico

- - - LI I Í I ÌLU UC U5IdUU

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Sáo Paulo

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100 km

@ HT2003 McM-Libergéo

177

Dinâmicas urbanas

07-O7. Concorrência entre as áreas de atração das grandes cidades

Goiânia,Belo Hor izonte

e Brasí l ia

o_!qg k-@ HT2AA3 MGM Libergéo

Atlas do Brasi l

178

O Rio de Janeiro, claramente distan-ciado por São Paulo, mantém de seu pas-sado de capital federal algumas posiçõesnos antigos territórios federais da Ama-zônia (Roraima e Acre), mas, atualmente,a sua área específica é bem reduzida.Mesmo nas suas fronteiras, a atração deSão Paulo vem disputar a primazia doRio de Janeiro. Ela infiltra-se nos interstí-cios onde aatração das outras metrópolesé mais fraca, no Sul e no Nordeste (sul daBahia, Alagoas, Piauí e Maranhão). Ma-naus e Belém compartilham a Amazônia(no âmbito local, porque praticamente to-da a bacia amazônica está sob a influênciade São Paulo), com uma superposição noleste do Pará, uma região bem distante deBelém, onde o rio Amazonas permiteuma comunicação mais fácil com Manaus.No Nordeste, a irea de atraçáo de Forta-leza reduziu-se aproximadamente ao pró-prio Estado, e Salvador sofre a concor-rência de Recife, além da de Feira de San-tana (que abre um "buraco" bem visívelna sua área de atração). A área de Recifeultrapassa os limites de Pernambuco aolongo do rio São Francisco, onde se de-senvolveu a fruticultura irrigada. Situadaentre as influências de Belo Horizonte eGoiânia, BrasíIia tem dificuldade de en-contrar o seu espaço próprio, exceto nooeste da Bahia,talvezpor ïalta de concor-rência, üsto que o além-São Francisco, re-centemente conquistado pela cultura dasoja, era até então pouco polarizado.

Entre os centros de segunda hierar-quia, devem-se distinguir situações bem di-ferenciadas. Algumas cidades irradiam suainfluência sobre vastos espaços, como Ma-naus e Belém, na Amazônia, ou São Luís,no Nordeste. Eram, até há pouco tempo,capitais regionais de primeira classe, masperderam autonomia, sendo captadas na

07-08. Evolução das áreas de atraçãodas cidades de 1971 a 1993

Fonte: "Vìlles et organisation del'esDace au Brésil'j Michel Rocfìefort

Fonte: IBGE - Regic

179

Polar ização calcu lada pormodelo de gravitaçáo*

em função do PIB de serviços

Grau depolarização

*Massa dividida pelo quadrado da distância

Eonte: IBGt, calculo Ca'tes & Dolnées

Flor ianópol is

0 500 km

@ HT2AA3 MGM Libergéo

07-09. Polarização das principais cidades brasileiras

órbita de São Paulo. Outros concorrem com cidades denível superior, como Feira de Santana com Salvador,Caruaru com Recife, Juiz de Fora com Belo Horizonte.Por último, outros núcleos urbanos estão em concorrên-cia entre si, em regiões onde são numerosos e próximos

uns dos outros, como no Sul e, sobretudo, no Estado deSão Paulo, onde as antigas cidades do café formam umarede densa e consolidada (Figura 07-06). Em uma esca-la maior, e descendo na hierarquia das áreas de atração,surgem, nos brancos desses dois mapas, outros centros

At las do Brasi l

180

07-10. Zonas de atração das administrações

1,00

Probabi l idades de atração

- Modelos deThiessen(Dirichlet -Voronoi) - Huff

- Atração: empregos nasadministraçoes públicas

- Expoente da distância: 2

- NÍveis de centralidade de 1 para I

Fontê: IBGE - Regic

menores, que oferecem serviços mais comuns e polaúamzonas menores.

Para tornar mais visíveis as rivalidades entre asgrandes metrópoles, o mapa da Figura 07-07 mostra asáreas de atraçáo de cidades situadas na mesma região

0 500 km

@ Í{r-2003 MGM-Lìberyéo

em cores primárias (magenta, ciano e amarelo), que semisturam onde as áreas se sobrepõem, o que cria, nas in-tersecções, cores compostas (vermelho ou verde).

A pesquisa do IBGE não é a primeira desse gêne-

ro, pois outras instituições já haviam efetuado estudos

181

Dinâmicas urbanas

semelhantes nos anos de7970. O tema das áreas de atra-

ção estava muito mais em voga do que hoje, e tinham si-do aplicados métodos derivados das pesquisas Piatier.Em um dos artigos reunidos na obra Á Regionalização doEspaço no Brasil, intitulado "Cidades e organização doespaço no Brasil" (1971), Michel Rochefort publicou ummapa procedente desses levantamentog que pode servira uma comparação com o mapa tirado do Regic, dandoaos resultados deste último uma configuração e um graude generalização comparáveis aos resultados daquele.

Durante os 22 anos que separam os dois mapas, aevolução mais nítida é o alargamento da área de in-fluência de São Paulo. Se essa recua ligeiramente ao sul,onde o norte do Paranâ escapa-lhe em benefício de Cu-ritiba, e no Centro-Oeste, em proveito de Goiânia (nãodesenhado aqui porque não constava eml97l) ao nor-te, esta inclui doravante a maior parte da Amazônia eavança, via Maranhão, na paÍte do Nordeste que lhe éadjacente. Todos os espaços pioneiros do País, por con-seguinte, passaram ao controle da capital dos bandeirantes de outrora, dos colonos da fronteira do café dosanos de 1940 e dos empresários de hoje. A única áreaque parece resistir é a de Goiânia, que apaÍece aqui co-mo um "buraco" na âtea de São Paulo, delimitada pelovasto movimento rotativo que a envolve pelo norte,

Praticamente todas as outras cidades vêem suaárea de atração se contrair, à exceção de Belo Horizon-te, cuja área se estende até o litoral, incluindo o Espíri-to Santo, e progride em direção ao sul, em detrimentodo Rio de Janeiro. Belém perde a Amazônia ocidental;e Fortaleza e Recife perdem, respectivamente, o Mara-nhão e o Piaú. A contração das áreas de influência doRio de Janeiro e de Porto Alegre fazem esses centrosrestringirem-se aos limites dos Estados, ou mesmo aapenas uma parcela desse. Em síntese, o levantamento eos mapas confirmam a dissimetria entre as grandes me-trópoles do Sul-Sudeste (eficazmente interligadas comas redes de cidades de médio porte), e as cidades doNorte-Nordeste, que raramente se elevam ao nível má-ximo de atração e são desprovidas de ligações de nívelhierárqúco inferior.

A primazia indiscutível de São Paulo a üstingueentre as primeiras, pois é para essa cidade que as pessoas

se dirigem quando querem encontrar mercadorias rarase serviços de qualidade (de educação, saúde etc.) na ga-ma inteira dos serviços pessoais e coletivos, e mesmo osserviços culturais, que durante muito tempo foram pri-vilégio do Rio de Janeiro, Curitiba, Goiânia e Belo Ho-ruonte mantêm suas posições, as duas últimas em detri-mento de Brasília, que não possú uma área de influên-cia à altura de seus 2 milhões de habitantes, apesar dostatus de capital federal, ou quem sabe por causa dissomesmo, O levantamento do Regic confirma de maneiraespetacular - pelo menos a partir do tratamento gráficodos dados estatísticos - os remanejamentos em cursodentro da hierarquia urbana brasileira.

Como não se pode esperaÍ que o IBGE empreen-da tão cedo um novo estudo desse tipo, pesado e caro,pode ser útil servir-se de simulações, pois essas dãouma idéia das zonas de atração teórica, utilizando al-goritmos derivados da lei da graütação. Todos supõemque a atração de uma cidade, da mesma maneira que ade um planeta, é função de sua massa e inversamenteproporcional à distância (geraknente ao quadrado des-sa) que a separa do lugar considerado. As simulaçõesproduzem resultados próximos aos que foram obtidospelas pesquisas, o que confirma que podem servir nosintervalos entre essas, com a vantagem adicional deque, alterando a variável utilizada para representar a"massa", podem ser simulados diferentes tipo de atra-

ção. Os resultados apresentados pelas Figuras 07-09 e07-10, produzidas por dois softwares diferentes (Cartes& Données e Philcarto) convergem quanto à extensãodazor,a de atração de São Paulo e seus principais con-correntes e sobre a rede densa das cidades do Sul. Asdiferenças entÍe os dois vêm de que o primeiro é ba-seado numa variável muito geral (o PIB local) e apro-xima-se muito das conclusões do Regic, enquanto o se-gundo, fundamentado sobre uma variável mais especí-fica (os empregados nas administrações públicas), me-de uma atração específica, a das administrações. Con-trariamente ao que mostravam as imagens do Capítu-lo 6, também muito próximas do modelo geral, nestecaso Brasília e as grandes cidades amazônicas têm umaiírea de atÍação teórica mais vasta, e a de São Paulo éconfinada ao Sudeste,

Atlas do Brasi l

182

Atrações eequipamentos culturais

Entre as funções urbanas que deter-minam as áreas de atração, as atividadesculturais e educativas merecem atençãoespecial, porque podem, em certos casos,permitir que cidades especializadas te-nham áreas de atração mais vastas e me-nos previsíveis que a sua "massa" econô-mica justificaria. Em outros contextos,Cambridge e Oxford, ou Heidelberg eTübingen têm radiações muito superioresao que deixaria supor a sua população oua sua atividade econômica. Não é o casono Brasil, onde a hierarquia universitáriasegue,grosJo modo,a das massas urbanas(Figura 07-11). São Paulo, com o seu con-junto de universidades públicas (princi-palmente a USP, com mais de 40 mil estu-dantes) e privadas (católicas, como aPUC, ou empresariais, como o Mackenzie)impõe-se aqui também e domina o paísinteiro. No entanto, outras cidades têmuniversidades de boa dimensão e de boareputação. Se o modelo gravitacional (Fi-gtra07-12) premia as cidades amazônicasque a distância "protege" da influência dosul, de fato são as outras cidades do Su-deste e do Sul as rivais de São Paulo. Con-siderando como critério básico as publi-cações científicas, Rio de Janeiro "pesa" ametade de São Paulo, e Porto Alegre, umquinto. E as cidades que podem ser classi-ficadas como universitárias têm um papelde polarização regional não desprezível:Campinas, São José dos Campos e SãoCarlos, no Estado de São Paulo;Uberlân-dia, Juiz de Fora e Viçosa, em Minas Ge-rais; Londrina, Maringá e Ponta Grossa,no Paraná; e Santa Maria e Pelotas, noRio Grande do Sul. Fora do Sudeste-Sul edas capitais, aparecem apenas Campina

07 -11. Publicações u niversitárias

PÍodutos e processos

Memórias de

Fonte: Produção das Instituiçóes de P&D / D&T 1995

183

Dinâmícas urbanas

07-12. Áreas de atracão das universidades

Grande, na Paraíba, e, em menor escala, Cruz das Abnas,na Bahia.

E para essas cidades que convergem muitos estu-dantes do interior, às vezes de muito longe, dando a elasum ritmo de vida específico, pontuado pelas férias e pe-las provas. Em geral, os estudantes permanecem naquela

cidade apenas o tempo de sua formação, mas algunsconseguem, em seguida, um emprego em novos setoresnascidos da própria universidade. São Carlos é um dosexemplos mais notáveis desse processo de auto-alimen-tação: atraindo estudantes, professores e pesquisadores,a cidade criou um mercado para serviços de melhor

1,00

Probabi l idades de atração

- Modelos deThiessen(Drrichlet -Voronoi) - HufÍ

- AtraÇão: publicaçóes

- Expoente da distância: 2

- Níveis de centralidade de 1 para I

Fonte: IBGE - Regic

Atlas do Brasil

184

qualidade e empresas high-tech. Possui hoje quatrouniversidades - Universidade Federal de São Carlos(UFSCar), Universidade de São Paulo (USP), Cesusc eFadisc -, e a presença das universidades tecnológicas

07-13. Trajetória de escritores

permitiu a instalação de um parque de tecnologias deponta, composto por duas unidades de pesquisa da Em-brapa (pesqúa agronômica), pelo Centro Empresarial deAlta Tecnologia (Ceat), Centro de Inovação Têcnológica

- t / o__j99 k.@ Hl-2003 MGM-Liberyéo

Lugar de nascimentodos escritoresfalecidos em São Paulo

/-\- 6\d- 1

0__!E k.@ Hf-2003 MGM-Lìbery&

Fonie. Ouvrages brésiliens tnduits en FÊnca, Estela dos Santos Abrou, 1998

Lugar de nascimentodos escritores falecidosno Rio de Janeiro

185

Dinâmicas urbanas

(Cetesc), pela Fundação Parque de Alta Tecnologia deSão Carlos, com duas incubadoras de empresas, e peloCentro de Desenvolvimento de Indústrias Nascentes(Cedin). São Carlos transformou-se em um dos pólostecnológicos brasileiros, onde mais de sessenta empre-sas elaboram produtos de alta tecnologia,

Para as teses acadêmicas, a hierarquia é ainda maisbrutal: Campinas, vice-campeã, não produz mais do quequatro qúntos do que publica São Paulo; o Rio de Ja-neiro, dois terços; Porto Alegre, um quarto; Belo Hori-zonte, um quinto; e as outras estão muito longe. Contu-do, essa situação poderia se alterar, haja ústa que o paísconhece uma demanda forte de acesso ao ensino supe-rior. De acordo com o Ministério da Educação, em 2001,dos 6,7 milhões de alunos que saíram do ensino secun-dário, somente 2,1 milhões puderam conseguir uma va-ga no ensino superior, o que significa dizer que 4,6 mi-lhões não puderam ascender, seja por falta de vagas nasuniversidades públicas, seja pela falta de renda para es-tudar ou para manter-se numa instituição privada. Essedesvio e a forte demanda da classe média explicam ocrescimento atual das universidades privadas, nem todasde bom nível, como demonstrado pelos resultados dosexames de avaliação anuais, organizados para conhecero nível das universidades (Provão). Se alguns centros dequalidade são reconhecidos, muitos visam apenas a emi-tir diplomas de valor duvidoso a um público de rendamais modesta, pois seus professores não têm tempo depesquisar ou de publicar, de modo que a hierarquia jádetectada tem toda chance de se manter.

Uma abordagem ligeiramente diferente das áreasde influência cultural, mais qualitativa ainda, pode sertentada a partir da influência li|erárÌa. Na falta de ou-tros elementos, por exemplo das contagens confiáveissobre a produção liteúria (número de livros, de edito-res, divulgação da cultura, data de criação das academiasliterárias), decidiu-se usar como indicador o número deescritores nascidos ou falecidos em cada cidade brasiÌei-ra. Os seus nomes foram registrados em um livro sobreas obras brasileiras traduzidas na França, ou seja, umcorpus dos escritores "recoúecidos". O lugar de nasci-mento distingue-se do lugar de falecimento, e pode-seconstatar que, além do fato evidente de que os primeiros

são bem numerosos que os segundos (porque muitos es-tão ainda vivos), o segundo mapa mostra uma concen-tração bem mais forte e bem mais significativa. Se ape-nas o destino é responsável pelo lugar onde nasceram, égeralmente uma escolha pessoal que conduziu os escri-tores para a cidade onde morreram. Nesse caso, o pesodas grandes cidades é esmagador, mas dessa vez é o Riode Janeiro que domina, tendo sido, durante muito tem-po, a capital cultural do Brasil. E a análise das trajetóriasque os escritores efetuaram, do lugar de nascimento aolugar de falecimento, dá uma idéia da atração dessescentros: pode-se determinar para cada um entre eles (oupelo menos para os principais) o lugar de nascimentocorrespondente, a fim de reconstituir a área de atraçãodesses centros, elaborando a hipótese de que esses escri-tores deviam ter motivos fortes para se instalarem nes-sas cidades até o final de seus dias.Tanto o Rio de Janei-ro quanto São Paulo atraem escritores nascidos em Mi-nas Gerais e no Nordeste, as regiões de povoamentomais antigo e onde a cultura literária desenvolveu-se ce-do, mas onde, obviamente, o recoúecimento social,simbólico e financeiro não está à altura do que se podeencontrar nas grandes cidades do Sudeste.

Uma das razões da "fuga" dos escritores para asgrandes cidades, como atestam suas obrag cheias de refe-rências ao "atÍaso" da província natal, é a ausência ou aescassez dos eqúpamentos culturais em relação às regiõescentrais. Os dados do Perfil dos Municípios Brasileiros,elaborado pelo IBGE, permitem medir de maneira maisobjetiva o tipo de equipamento cultural e sua distribuição.

O déficit é moderado quanto aos museus, sendoevidente que predominam nas grandes cidades, em nú-meros absolutog mas não em relação à população, jáque certas regiões os usam visivelmente para valoraarseu patrimônio histórico (como Minas Gerais) ou suaidentidade (como o Rio Grande do Sul e a Paraíba).Quanto aos cinemas, apenas os grandes centros são bemequipados (exceto no Estado de São Paulo, cujas cidadesmédias também têm equipamenÍorazoâvel), e o Sul-Su-deste destaca-se. Em outros lugares, os cinemas sofrerama concorrência da teleüsão, hoje transmitida por satélitepara todos os cantos do território, provocando o fecha-mento de um grande número de salas (freqüentemente

Atlas do Brasil

186

tomadas pelas seitas evangélicas que as uti-lizam como templos). Nota-se, contudo, quenesse caso o Rio de Janeiro é sem dúvida acapital, mantendo a predominância do tem-po em que a Cinelândia era o ponto de en-contro da cidade inteira. Em São Paulo, oscinemas são mais dispersos, sob a forma doscomplexos delazer incorporados aos shop-pings centers, uma evolução que ocorreutambém em Brasília.

Rádio e televisão não obedecem com-pletamente às mesmas regras de distribui-

ção. Se o número de redes de TV sintoniza-das (entre as sete redes identificadas noPerfil dos Municípios) e o das estações derádio em modulação de freqüência (FM)não oferece grandes surpresas, a distribui-

ção de rádios em modulação de amplitude(AM) é surpreendente.

O número de canais de TV existentescorresponde ao nível de desenvolvimentoeconômico e cultural observado, com ummáximo no eixo São Paulo-Brasília, no Pa-raná e nas regiões de migração dos colonossulistas no Centro-Oeste. Alguns casos, ini-cialmente surpreendentes em plena Ama-zônia ou no sertão, podem se explicar porimplantações isoladas de instituições ougrandes empresas modernas, como o Jari(na fronteira entre Amapá e Pará), a Petro-bras e o Exército em Coari e Tefé (no Ama-zonas), ou o pólo de fruticultura irrigada deJuazeiro (no rio São Francisco, entre Bahiae Pernambuco). As rádios FM são particu-larmente numerosas nas duas regiões maispovoadas, o Sudeste e o Nordeste, e o seuraio de emissão limitado as leva a se con-centrar onde a densidade é mais forte. No-ta-se, contudo, como exceção, a fraqueza re-lativa da Bahia, que difere do Nordeste poruma distribuição regular, apenas menos for-te no interior que no litoral, ao contráriodos Estados vizinhos, como Pernambuco.

07-14. Museus e cinemas

Ì+

Número de museusDor 100.000 habitantes Número de

museus141

7

0

77 _-_,

25 TÔ,)

Cinemas

FoÌÍe: Perfil dos Munìcípios Brasileìros, IBGE

187

Dinâmicas urbanas

07-15. Número de redes de televisão

Sem dúvida, nesse caso, pode-se identificar a mar- telecomunicações, utilizando-as como instrumentos deca pessoal de um dos principais políticos desse Estado, conquista política. Um estudo recente mostra como eleque foi várias vezes governador, senador (reeleito no- soube utilizar a sua passagem pelo Ministério das Co-vamente em outubro de 2002) e também ministro das municações, outorgando concessões para consolidar aComunicações. De origem modesta, fez fortuna nas sua influência no interior.

Número de redesde televisão

6

IsE€4

3

2

1

0

tonle: Perfil dos Municípìos BrasÌleiros, IBGE

0 500 km

@ HT-2003 MGM-Libergéo

Atlas do Brasi l

188

Naturalmente as rádios AM são tam-bém mais numerosas nas regiões povoadas.No entanto, seus índices máximos de ocor-rência possuem uma configuração específi-ca, privilegiando, sobretudo, uma zona dosudoeste do Paraná, do oeste de Santa Ca-tarina e do norte do Rio Grande do Sul.Essa mesma zona já se destacou várias ve-zes em temas abordados em outros capítu-los: caracteriza-se como uma das principaisregiões de concentração de pequenos pro-dutores de origem européia e, simultanea-mente, como uma das que conheceram for-te migração para as zonas pioneiras doCentro-Oeste. Pode-se elaborar a hipótesede que a escolha da modulação de amplitu-de (que atinge longas distâncias, ao contrá-rio da FM) está vinculada ao mercado dosmigrantes, que procuram guardar uma re-lação com a sua região naÍal;apresença deuma outra zona de concentração no sertãodo Nordeste, igualmente uma zona de mi-gração paÍa a Amazônia oriental, parececonfirmar tal hipótese.

A distribuição das livrarias e das lojasespecializadas na venda de discos, cassetese CDs, bem como das que alugam videocas-setes e DVDs desenha mapas similares, re-fletindo fielmente a distribuição da popula-

ção nas zonas povoadas do Nordeste e Su-deste e ao longo dos eixos pioneiros. Ob-viamente, a população brasileira comparti-lha os mesmos modos de consumo dos no-vos produtos culturais vendidos ou aluga-dos pelas duas últimas categorias. Não sepode concluir, porém. que a onipresençadas livrarias demonstre que a população se-ja grande consumidora de livros. A nomen-clatura do IBGE inclui papelarias e bancasde jornal, e a imagem seria mais seletiva - ecruel - caso se limitasse às "verdadeiras" li-vrarias, as que vendem apenas livros pro-priamente ditos.

07-16. Rádios

Número de rádios FMpor 100.000 habitantes

r1:r ;wo

@ HÍ2003 MGM-Lìbergéo

Fonle: Peiil dos Municípíos Brasileiros, lgCE

Números rádios AMpor 100.000 habitantes

189

Dinâmìcas urbanas

07-17. Livros, discos, vídeo

Fonle: Perfil dos Munìcípíos Btasìleiros, IBGE

Por conseguinte, não são essas lojas que pesam nadistribuição global dos equipamentos culturais, que foiconstruída reunindo todos aqueles que figuram no Perfildos Municípios. Relacionado com a população do municí-pio, este total expõe, de maneira muito clara, o nível de

desenvolvimento cultural do Paíg tanto em suas grandes

massas quanto nos matizes regionais. Grosso modo,o con-traste litoraVinterior é evidente e constante. Mas no inte-

rior nota-se, mais uma vez, a situação diferenciada dos ei-

xos pioneiros povoados por colonos vindos do Sul-Sudes-

te, ao longo das estradas Belém-Brasília e Brasília-Acre, e

no norte do Mato Grosso, aonde os migrantes levam con-

sigo seus hábitos culturais. Por outro lado, os níveis de

eqúpamento são ainda mais notáveigporque essas regiões

foram ocupadas há apenas algumas décadas e não tiúam

neúum patrimônio acumulado nesse domínio. Nessa rela-

ção entre cultura e habitantes, salta aos olhos o contraste,

dentro das regiões povoadag entre Nordeste e o centro-

sú: o primeiro tem níveis de equipamento medíocreg fre-qüentemente melhores no interior que no litoral, deúdo à

baixa densidade da população; em todo o centro-sul, em

contrapartida, as taxas são elevadag apesar de sua popula-

ção numerosa, exceto no sul do Rio Grande do Sul, pouco

povoado, no norte de Minas Gerais e em um eixo que liga

o sul de São Paulo ao centro do Paraná, de fato a região

menos desenvolvida desse conjunto. No total, esse Índice

"cultural" revelaruzoavelmente bem o nível de desenvol-

vimento de cada um dos municípios brasileiros.

At las do Brasi l

190

Disparidades

Ainda que as cidades sejam os lugares da moderni-dade, de maneira geral o processo de urbanização acele-rado a partir dos anos de 1950 foi acompanhado de um

07-18. Equipamentos cul turais

forte desequilíbrio social no seio dos núcleos urbanos,agravado pela massa crescente de excluídos.

As cidades brasileiras são fragmentadas, e freqüente-mente coexistem nelas, a curta distância, bainos com infra-estrutura impecável, reservados aos setores produtivos de

!

>'-l{ **='.'

Número de equipamentos cul turais*por 10.000 habi tantes

91arur . , .f f i ,f f io

2

0

Número de equipamentos cul turaisx

'm ;;€

19,9%

=*ìa€ôâ

!o ï=r* u

Êt.rrrÌ

*Museu, bibl ioteca, teatro, c inema;sintonização das redes de televisão CNI Globo,

Manchête, Bandeirantes, Record, SBIrádlo Alvl , rádÌo FM; publ lcêÇão de diáf ios,

semanários, outros periódicos;presença de uma emissorô de televisão,

televlsão a cabo, provedoÍ de acesso à Internet;l ivraÍ la, lo ja de d scos, v ideolocadora, shopping center

(/0 500 km

tO HT2003 McM-Libergéa

FonÌe: Perfll das Municípios Brasìleiros, )BGE

191

Dìnâmicas urbanas

07-19. Moradias irregulares

tecnologia de ponta ou a residências de luxo, com bair-ros miseráveis, sem infra-estrutura sanitária e marcadospor problemas ambientais graves, cujas populações sãopobres e subempregadas. A ausência ou a insuficiência

Loteamentosirregulares por10.000 habitantes

83,5

1,1

01

de investimentos públicos em distribuição da água potá-vel, tratamento de águas residuais e coleta de lixo nes-ses bairros pobres gera graves problemas de saúde pú-blica. Nesses mesmos bairros também os serviços públi-cos de saúde, educação e segurança são deficientes. Emnenhum outro lugar a situação é tão grave quanto nasfavelas do Rio de Janeiro, onde as autoridades públicaspraticamente se recusam a penetrar, e cuja gestão aban-donaram aos traficantes de drogas. Contudo, outras ci-dades brasileiras conhecem, igualmente, situações quechocam o sentido de justiça e que constituem imensosdesafios - ou ameaças - para as autoridades políticas.

A marginalização das populações dos bairros po-bres não se apresenta da mesma maneira em todas as ci-dades (Figura 07-19).4 forma mais antiga são os corti-

ços, constituídos de apartamentos apinhados de genteem bairros degradados. Os de São Paulo são os mais co-nhecidos, pois eram onde os migrantes estrangeiros e nor-destinos se empilhavam em busca de emprego, quandodo boom do café e da industrialnação,período em que acidade se gabava de não ter favelas. Mas se o Rio de Ja-neiro não os tem, pois os pobres vivem em favelas, certascidades do Nordeste, e até algumas cidades amazônicas

Cortiços por100.000 habitantes

0 :ú0 km

Favelas por10 000 habitantes

IIilffiDt_l

2 462,2

658,9

196,8

88,9

40,8

8,5

0,6 0 500 km

de favelas

Z-\e/@ HT-208 MGM-Libeee

tonte. Pedìl dos Municípìos BrasileÍos. IBGE

Atlas do Brasi l

192

07-2O. Favelas

Presença de favelas

NãoSimSem informação

Número de domicí l iosem favelas ou equivalentes

378.863

72.000

500

1 oere Perf,l doç MuF;ciPios Bràsileiros IBGE

a

500 km

@ HT2003 McM'Libergéo

não são isentas deles, como Altamira' uma cidade para

ona. uinOu afluem os migrantes' Outra forma de aloja-

mento fora das normas de urbanismo' o loteamento ile-

gal, ocorre em muitas cidades, mas nesse domínio a pru-

áOncia é mais do que necessária, porque a definição do

"irregulat" é suspeita, haja vista os exemplos de inúme-

,o, ú,.ut.ntos completamente irregulares ocupados

po, p.rrou, de alto poder aquisit ivo' alguns dos quais'

em Brasília, situados a algumas centenas de metros do

palácio presidencial.

193

Dinâmicas urbanas

07-21.IPTU e conÍorto dos domicí l ios Não há discussão possível quanto àsfavelas: são irregulares e povoadas por po-bres, ainda que algumas, com o tempo, te-nham melhorado e abriguem pessoas declasse média. A palavra favela vem do Riode Janeiro, onde elas são ainda hoje nume-rosas, mas a "Cidade Maravilhosa" deixoude ter o monopólio, pois estão presentes emgrande número tanto em São Paulo, BeloHorizonte e Porto Alegre como em muitasoutras cidades.A Figura 07-20 mostra que ofenômeno existe em todas as regiões doPaís, mesmo na Amazônia, onde, d priori, oespaço abundante e os materiais de constru-

ção leves, tradicionalmente utilizados naconstrução, deveriam torná-las raras. Elasexistem mesmo no interior dos Estados doSudeste e Sul, os mais desenvolvidos.

Essas desigualdades intra-urbanas re-fletem-se naturalmente no nível global deconforto das habitações e no valor do patri-mônio imobiliário das cidades, mas não aponto de afetar as hierarquias regionais,porque as cidades onde os bairros pobressão mais numerosos são as mesmas onde sealinham edifícios e casas luxuosas em ou-tros bairros. Conseqüentemente, as hierar-quias urbanas repetem-se tanto nos níveisde conforto quanto no valor do IPTU (Im-posto Predial e Territorial Urbano). A Figu-ra 07-21 mostra as oposições já evidentesentre o coração desenvolvido do País e assuas margens e, no segundo caso, a extensãode elevados níveis de impostos para as zo-nas pioneiras do noroeste. Como o nível deconforto não os justifica, o fato leva a pen-sar que esses níveis elevados de contribui-

ção fazem também parte dos hábitos cultu-rais transferidos pelos migrantes do sul pa-ra as zonas pioneiras, o que confirmará aanálise das finanças municipais.

Essas disparidades parecem estar sereduzindo lentamente. A difusão. em vinte

Valor do IPTU porprédio (1.000 reais)

3 760,3

130,4

41,3

T]

Parcela dos domicí l iosequipados com banheiro,água encanada e esgoto

94,6

86,3

44,1

16,5

3,8

0,2

0.1

Foftet Peiil dos Municípìos Brasìleiros, IBGE

Atlas do Brasil

194

anos, da eletrificação e da água potável mos-tra progressos do centro para a periferia.Trata-se de uma propagação em auréolas, apartir das regiões ocupadas e equipadas, on-de os progressos são evidentemente mais li-mitados, para regiões periféricas, até recen-temente mal servidas (ou ainda não ocupa-das), em que os progressos são significativos.

Centros de inovação e difusão do pro-sresso, as cidades brasileiras são também oÌugar dos problemas mais agudos.A socieda-de brasileira deverá encontrar meios de inse-ri-las na competição mundial de um mundoglobalizado, em todos os seus componentes,defazer delas os nós por onde passam os ei-sos de comunicação mais eficazes, e, tam-bem, de reduzir as segregações (que amea-

çam a sua imagem e, a longo prazo, a sua pró-pria atração) e tornálas mais democráticas.

07-22. Progresso do conforto nos domicílios

Casas beneficiadaspor rede de energiaelétrica - progressáoentre 1970 e 1991 (%)

0 500 km

@ Hl-2003 MGM-Lìberg@

Casas beneficiadaspor água encanada -progressão entre1970 e 1991 (%)

o---iEk-@ HT-2003 McM-Libergéo

Porcentagem dosdomicí l ios com

eletricidade em 1970

1e,8 1zì)0.8 -:

Porcentagem dosdomicí l ios comágua encanada

em 1970qn 6?

18,02 {^ )0,01 *

Fonte: IBGE, Censos Demográfìcos 1970 e 1991

195

Dinâmicas urbanas

CAPíTULO 8

RnnEsum país tão vasto e diverso como o Brasil, ondeum dos problemas essenciais é a integração detodo o território nacional, o papel das redes de

transporte é evidentemente fundamental: transporte depessoas, de mercadorias, mas simultaneamente - e cadavez mais - de energia e de informação. Desse ponto devista, o Brasil é ao mesmo tempo desfavorecido, peloseu tamanho, e favorecido, por não ter obstáculos físicosinsuperáveis como outros países-continentes do plane-ta, obstáculos que poderiam impedi-lo de desenvolversuas redes. Não há grandes cordilheiras a crvzar, não hádesertos congelados pelo permafrosl, vulcões, inunda-

ções ou furacões que destruam periodicamente as viasde comunicação. Assim, os engenheiros brasileiros nãoenfrentam preocupações semelhantes às de seus colegasnorte-americanos, russos ou chineses.

No entanto, a situação atual apresenta particulari-dades que, do ponto de üsta da técnica e da economiados transportes, são surpreendentes. Uma delas é apre-dominância absoluta da estrada, que Íepresentava ao fi-nal dos anos de 1990 mais de 65o/o do tráfego, enquantoas estradas de ferro cobriam apenas 2l%o (confta37o/onos Estados Unidos e 57o/o no Canadá), as hidrovias,l2To,e as tubulações (gasodutos e oleodutos),4%.

Esta situação decorre de escolhas deliberadas queintegram o "modelo brasileiro", algumas delas recente-mente questionadas. Podem-se datar estas escolhas dofim dos anos de 1950 e início dos anos de 1960.Ao com-prar, em t957,18 das22 companhias privadas de estradasde ferro, o Estado brasileiro criava a rede ferroviiíria fe-deral e empreendia uma "racionalização" que se traduziu

em fechamento de linhas. Ao mesmo tempo, tudo foifeito para favorecer o desenvolvimento da indústria au-tomobilística, e a construção de Brasília foi o ponto departida para as grandes obras rodoviárias. O declínio daestrada de ferro e o desenvolvimento da estrada de ro-dagem ocorreram simultaneamente, e essa tendênciapersistiu durante mais de trinta anos.

Nos anos de 1990 algumas correções - ainda tími-das - foram realizadas. O País conheceu uma onda deprivatizações, entre as quais a das ferrovias, e os conces-sionários investiram na construção de novas vias, o quenão vinha sendo feito havia décadas. Paralelamente, a re-tomada do planejamento territorial permitiu investi-mentos nas üas navegáveis, o que também não se produ-zia havia muito tempo. Essa retomada também contri-buiu para a estruturação do território nacional atravésdas linhas de transmissão da energia elétrica e de dados,permitindo uma interconexão sem precedentes na histó-ria do Brasil. A geometria do País está, portanto, se alte-rando sob efeito da construção de redes que alteram seuespaço-tempo: precisa-se saber se elas atenuarão a con-centração de habitantes e recursos no centro-sul ou se,pelo contrário, vão favorecer a desconcentração.

As heranças das épocas anteriores continuam, em to-do casq ainda bem visíveig como mostra o mapa que reú-ne os diversos modos de transporte (Figura 08-01),no qualse vêem fortes contrastes entre situa@es bem distintas:. Zonas estruturadas como o Sudeste, o Sul e parte do

Centro-Oeste, de um lado, e o Nordeste, de outro. En-tre esses dois conjuntos nota-se ainda uma nítida descon-tinuidade no Espírito Santo e no sul da Bahia. Essa

Atlas do Brasi l

196

lacuna é antiga e separa os dois principais núcleos da for-mação histórica do País.A construção de duas estradasparalelas ao litoral (BR-101 e BR-116) atenuou os pio-res efeitos, suprindo as deficiências da via histórica doSão Francisco e de uma via férrea pouco freqüentada.

08-01. Redes de transportes

r Regiões vazias, sem nenhuma rede (ou, pelo menos,sem estradas asfaltadas ou vias navegáveis perma-nentes) persistem na Amazônia e no Centro-Oeste.No centro da Amazônia , a bacia hidrográfica consti-tui uma das maiores redes navegáveis do planeta,mas

Rodovia de pista dupla

Rodovia asfaltada

Ferrovia

Hidrovia

Gasoduto0 500 km

@ HT-2003 MGM-Libergéo

Fonte: INGEO. Consórcio Brasil iana

197

ao norte e, sobretudo, ao sul, nos planaltos de terrafirme, onde a drenagem é menos densa e cortada por

numerosas corredeiras, a navegação não é a mais ade-quada, e imensas superfícies não dispõem de nenhum

eixo de transporte de massa.. Eixos pioneiros cru;zam a Amazônia, conectando-a

ao Brasil de economia consolidada do Centro-Sul. Omais antigo e mais denso na direção sul-norte, cujavia principal é a Belém-Brasília (com eixos parale-

los duplicando-a), paralela à via navegável Ara-guaia-Tocantins, em fase de implantação. A BR-364,que liga Porto Velho a São Paulo, passando por

Cuíabâ, abre outro eixo para o Norte. As chuvasamazônicas não permitiram manter em funciona-

mento a estrada que a prolongava alé Manaus, maso rio Madeira permite a conexão, carregando os veí-

culos sobre balsas. É também de Cuiabá que parte,

para o Norte, a BR-163 (Cuiabá-Santarém), que

franqueia todo o norte do Mato Grosso, um dos ei-xos onde a progressão da frente pioneira atualmen-

te é mais forte.

Globalmente, os pontos fortes e as zonas fracaspersistem, mas a tendência é indiscutível à integração

nacional plena, para a qual os diversos modos de trans-porte contribuem de forma desigual.

Agua

Os transportes fluviais e marítimos não estão àaltura das facilidades oferecidas pela rede hidrográfi-ca (Figura 08-02) e pelo tamanho do litoral, junto aosquais concentra-se, ainda, a maioria da população. Osrios navegáveis (Figura 08-03) formam uma verdadei-ra rede na Amazônia, onde quase 25 mil quilômetrosestão abertos às navegações, visto que os navios ma-rítimos podem atravessar o País até a fronteira perua-na. A essa extensão podem se agregar os quase 900quilômetros em território peruano, até Iquitos. Paradar um único exemplo, os navios Panamax, de 55 miltoneladas (o maior tipo que tem permissão para pas-sar pelo canal de Panamá), embarcam essa tonelagemde soja no porto de ltacoatiara, a jusante de Manaus.

Fonte: lvlinistério dos Transportes

Atlas do Brasi l

198

No restante do País, apenas os afluentes do rio Para-ná e do rio Paraguai formam outra rede, desembocan-do no rio da Prata e, por conseguinte, percurso útil àstrocas internas no Mercosul. Outros trechos navegá-veis são mais desconectados, mas, da mesma maneira,oferecem várias centenas de quilômetros, como o rio

08-02. Navegabilidade e profundidade dos rios

São Francisco, entre Pirapora (Minas Gerais) e a bar-ragem de Sobradinho (Bahia), cuja construção nãopermite mais o acesso até Juazefto. A navegação decabotagem, que foi durante séculos o único meio deligação entre as "ilhas" do "arquipélago brasileiro",permite, ainda, a sobrevivência de dezenas de pequenos

,,

,)

ü

Rios- Não navegável---- Apenas em tempos de cheia

Vias navegáveis permanentes(profundidade em metros)

'**- de 0,8 até 1,3

- de 1,3 até 2,1

> 2,1

Fonte: Rede hidroviáÍia bÍasileira

500 km

@ fi-2003 MGM-Libeeéo

199

Redes

08-03. Vias navegáveis

portos, mas perdeu muito de sua importância em pro-veito da estrada, exceto para alguns produtos.

O tráfego fluvial e de cabotagem, apesar da suaimportância para a vida de pequenas comunidades, é,de fato, tão reduzido que mal apaÍece na Figura 08-04,

e significa pouco em relação aos transportes maciçosdas regiões exportadoras. Uma nítida hierarquia deportos se desenha (Quadro 08-01), desta forma, emfunção dos produtos e de sua proximidade com as ja-zidas minerais, por um lado, e as grandes metrópoles,

Belém

Vila do Condo

Maceió

Í -Bara dosCoquêkos

SalwdoÍ

Arat!

l lhéus

BêÍa do Biacho

FornoNit€íói

Rio de JaneiíoSepetiba

Angra dos BeisSáo Sebâst iáo

SantosAntontna

. FàÍanaguáSão kancisco do Sul

Itsjaí

lmbituba

Lag!nê

Esrelâ

- Çsçh6si16s e corredeiras

- Trechos navegáveis

Podo Alegre

Câchoeira do SulPelotas

Rio Grande

0 500 km

@ HT-2003 MGM Libergéo

Fonte: INGEO. Consórcio Brasil ianã

Atlas do Brasil

200

08-04. Portos marítimos e fluviais

Ba-na do Rìacho

Praia MoleTubaÍáo

PortosCabotagem

I Longocurso

Toneladas em 1998(1 000 toneladas)

---

VitóriaPonÌa do ubu

de Jane!Ío

Navegabil idade

- Permanente'* Apenas em tempos de chela

- Eclusas

Fonte: Departamento Nacionaì de Portos

@ HT-20ú McM-Libergeo

por outro' que alimentam tanto o tráfego de saída como

o de eirtrada - ---^ ^r^oA tiporogia dos portos,.*uÏiL1-1"i""*ï ï::.

, if idã ;ï''..il"'t' ï"' a' qui' u. (Fi sÌ:: l"t ilÌ; *ï

tanto na árvore quanto pelo deseml:tl: p-"-t1t^*" "t

,*i* "

adu* u' uu'iâu"is' incluindo "outros fretes

desembarcados", em que se localizam as mercadorias

ã.-""f"r. Os portos de exportação de ferro(Túarão'

Itapuí) distinguem-se peto volume a granel de minério

201

ìffiï;;;;*..p.ionut de Santos' que se distingue

Redes

08-05.Tipologia dos portos

Tipologia dos portos

! 1 PortosdoÍero

f 2 oponodesantot

E@ 3 outros portos atlânticos

4 Portos petroleiros

ffiË 5 Ponos'internos'

Granel íquido embarcado

Granel só ido desembarcêdo

Granel só ido embaÍcado

Cabotagem

OuÍos Íretes desêmbaícados

Fonte: Departamento Nacional de Portos

0 500 km

@ Hl-2003 MGM-Libeeéo

++++t+++

++++ ++

++++ +

de ferro embarcado, os portos petroleiros, pelo volu-me a granel líquido. Os outros portos atlânticos têmdesempenho mais modesto em todas as variáveis, en-quanto nos portos internos o desempenho é semprenesativo.

Um exemplo particular pode ajudar a perceber emqual ponto os portos são especializados, tanto pelos pro-dutos que transitam como pelos destinos dos navios quechegam e carregam produtos brasileiros. Os produtos quesaem para os portos franceses são claramente identificáveis:

Atlas do Brasil

202

08-06. lmportações provenientes do Brasil em alguns portos Íranceses

,'t RioGrande 0 500 km

Fonte: Données des potls fnnçais, 1998

Dunquerque e Marselha-Fos recebem, principalmente,

minério de feno para alimentar sua siderurgia, e estão cor-

relacionados com o poÍto do Espírito Santo, pelo qual

transita o ferro de Minas Gerais;Lorient recebe,oriunda do

porto de Pararaguá,principalmente soja, para alimentar as

oiaçõe,s suínas daBretanha;Le Hawe tambémimporta soja,

madeira e café,e são outros os portos fornecedores: Ma-

naus e Belérn, para a madeira, e Santos e Ilhéug para o café'

203

Ferrovias

As estradas de ferro brasileiras nunca constituíramuma rede nacional. Mesmo durante seu tempo de (mo-desto) esplendor, resumiam-se a uma coleção de linhasde exportação de minerais e produtos agrícolas, e ÍaÍa-mente tomaram a forma de uma rede regional, exceto,parcialmente, no Nordeste ou, sobretudo, no Estado deSão Paulo. Essas redes regionais tardiamente foram liga-das entre si via linhas inter-regionais, pouco freqüenta-das, muito mais por uma vontade de manifestar a unida-de nacional do que por razões econômicas Em conse-qüência, a rede ferroviítria era heterogênea, com váriaslarguras de bitola, antiga e mal mantida. A diversidadedos materiais fixos e rolantes não permitia empreenderuma reorganização séria, exceto à custa de altos investi-mentoq e as primeiras medidas consistiram em desativarliúas, resultando na redução de 39 mil km, aproximada-mente, em 1960,para pouco mais de 30 mil km em 1997.

Um caso à parte era o das linhas privadas constrú-das para exportar minériog como a que transportava omanganês doAmapá, a que levava o ferro de Minas Ge-rais e, sobretudq a via nova, da serra de Carajás ao mar,inaugurada em 1985. São as únicas dotadas de bitolaslargas (vias normais na Europa e na América do Norte),pois as outras, em sua maioria, são de bitola estreita. Fo-ra dessas linhas e das redes de subúrbio do Rio de Janei-ro e São Paulo, o transporte fenoviário, até data recente,regredia em todo o Paíg e a idéia mesmo de tomar umtrem não passa pela cabeça dos brasileiros, por ser asso-ciada a inagens arcaicas dos flagelados que fugiam daseca e não podiam pagar o preço do ônibus Um exem-plo dessa reconversão pode ser a estação rodoferroüáriade Brasília, que de fato tornou-se a estação rodoüáriainterestadual, deixando a rodoviária central aos trans-portes urbanos Sua estrutura é ainda a de uma estaçãoferroviária, e ali passam, ainda, sobre uma única üa,trens de carga. Não há mais neúum trem de passageiros,enquanto na época da construção da cidade, em 1960,ainda se pensava que o tÍem seria um dos principaismeios para integráJa ao restante do País. Em outras ci-dades brasileirag a estação (Figura 08-08) é apenas umalembrança melancolica de outra época, freqüentemente

transformada em museu, como em Londrina (Paraná),onde a "nova estação" de 1951 (que haüa substituído aantiga, de 1929,data da fundação da cidade) transfor-mou-se no museu histórico dessa cidade pioneira.

Essa história torna surpÍeendente a retomada recen-te das construções de ferroviaq e ainda mais que seja pelainiciativa privada: as üas férreas foram as primeiras a se-rem privatizadas nos anos de 1990, e se o triífego de passa-geiros parece condenado, um novo interesse surgiu parao transporte de mercadoriag sobretudo a soja, interesseque pode alterar substancialmente a configuração da rede(cf. Capítulo 10). Sem dúüda, esse fato pode explicar porque algumas cidades do Centro-Oeste já estejam cons-truindo estaçõeg ainda que as linhas estejam em projeto.

Rodovias

Apesar das vantagens dos outros meios de trans-porte, é a rodovia que domina o tráfego de passageirose de mercadorias. O crescimento do parque automobi-lístico e da rede rodoüária ocorreu simultaneamente, etanto um quanto o outro são extremamente diversos edesigualmente compartilhados entre as regiões.

Em resumo, o Brasil dispõe de mais de 1,7 milhão dequilômetros de estradas (mais de quarenta vezes a volta daTerra), mas só a rede federal, que é quase toda asfaltada,assegura a maior parte das liga@es a longa distância. Qua-se 85o/o do total é constituído pela rede municipal, fre-qüentemente deficiente e raramente asfaltada, ou mesmoausente, sobretudo no norte e ocidente daAmazônia, ondea üa aquática permanece o principal meio de transporte.

As disparidades regionais são outra característicadas redes rodoviárias: a densidade de estradas (e em es-pecial de estradas asfaltadas), a densidade das linhas deônibus, os fluxos de frete e de passageiros são muito di-ferentes de uma região para outra, uma vez mais em be-nefício do Sudeste.

A própria configuração da rede rodoviária revelaas disparidades que existem entre as regiões. No Sudes-te é densa, constituída de üas asfaltadas, algumas dasquais de pista dupla, principalmente no Estado de SãoPaulo, nos eixos que o ligam aos seus üziúos e ao redordas outras grandes capitais. No Nordeste, a malhas estão

Atlas do Brasil

204

razoavelmente completas (um progresso manifesto emrelação à situação de vinte anos atrás), mas são densasapenas nas regiões litorâneas, e muito mais dispersas emvastas zonas do sertão, como na região do além-SãoFrancisco, na Bahia. No Centro-Oeste, a situação é mais

08-07. Fenovias

contrastada entre os arredores das capitais (Brasília,Goiânia, Campo Grande e Cuiabá), cercados por redesrelativamente densas (embora compostas em parte porúas não asfaltadas), e as regiões periféricas, onde domi-nam as vias sem asfalto. Na Amazônia, por último, as redes

Bitola

- Métrica

- Larga

- Largura mista

---- Em projeto

0 500 km

@ Hl-2003 McM-Libergéo

Fonter INGEO, Consórcio Brasilìana

205

08-08. Linhas Íérreas e estações

resumem-se a alguns eixog as grandes estradas transamazô-nicag construídas nos anos de 1970. São totalmente ausentesno norte e ocidente da Amazônia, a montante de Manaus.

A qualidade das estradas (velocidade autorizada ecapacidade, Figura 08-11) reforça esse contraste, porque

as regiões onde a malha rodoviária é mais compacta sãotambém aquelas onde elas são mais largas e melhormantidas, permitindo um tráfego mais denso e mais rá-pido, especialmente nas vias de pista dupla. A maiorparte dessas já está sendo prívaïizada (cf. Capítulo 10).

Números de estações no município

/-\ 61

\.rt 1?

Cidades comtréfego de subúrbio

0 500 km

@ HT-?OO3 MGM-Líbergêo

Fonte: INGEO, Consórcio Brasiliana e Petfildos Munìcípios BrasileÌros,IBGE

Atlas do Brasil

206

3rasi l

Norte

' . : -deste

Sudeste

ì -

1.724,929

103 096

405 390

512 496

416 122

221825

70.62113 76319 83314 698

CentroOesle 113.ì0

De fato há vários tipos de redes, com finalidades di-

-:rentes. O primeiro 1ipo, mais tradicional. é o das estradas:-ue pcrmitem o escoamento dos produtos do interior pa-rJ os portos e as cidades litorâneas. São organizadas em cé-.:rlas independentes, cm grupos de vias de penetração pou-

-'tr hierarquizadas. Correspondem ao velho tipo de organi-zação espacial colonial. mas foram revaloúadas pela polí

:ir'a dos "corredores de exportação" (lançada em 19J2, e,desde então, constantemente reimplementadas sob diver-ros nomes), que organüa as relações dos grandes portoscom as regiões produtoras para favorecer as exportaçoes.

Um segundo tipo é vinculado diretamente à ação

do Estado, às suas funções de polícia, defesa e ordena-menl.o do território. O exemplo mais antigo é o do camr-nho novo aberto nas serras de Minas Gerais para con-trolar a saída do ouro, ao qual se pode associar tambémas estradas transfronteiriças. estratégicas ou comerciais,como as que permitiram "abrir" a Amazônia ou dar aoParaguai um acesso cômodo ao porto de Paranaguá,

através do Paraná. Os motivos de construção dessas es-

tradas são essencialmente polít icos, ainda que tenham

79408991YJ

õl

tõJ.õõb

2382753 4t133 31023 45049 828

1.446.289

64 714.326 275455 123436 847

1,21,60,3

0.90,1

efeitos econômicos importantes. Pertencem à mesma sé-rie as estradas construídas para l igar a nova capital, Bra-síl ia. ao resto do País. uma série dc estradas radiais cons-truídas em direção às grandes cidades do Sudeste, Nor-deste, Amazônia e Centro-Oeste (numerados de 010 a080. Figura 08-12). No entanto, é tamanha a amplitudedos fenômenos que essa rede também participa do tipodas estradas inter-regionais, o último e o mais importante.

lniciado modcstamente com a ligação Rio de Janei-ro-São Paukr. esse tipo de estrada data principalmente

dos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial.Até lá, nenhuma estrada ligava o Sudeste ao Nordeste. emenos ainda à região Norte. A construção de uma redenorte-sul (estradas numeradas dc 101 a I74,de lesl.e pa-

ra oeste) precedeu os eixos leste-oeste (210 a 290). Asmais conhecidas são a estrada Tiansamazônica e as oblí-quas (de 307 a 364), como Cuiabá-Porto Velho. Essa re-de constitui a alavanca principal da integração nacional,e pcrmitiu a unificação do mercado e a disponibilidade

do conjunto dos recursos nacionais (agrícolas. energéti-cos e minerais) para os centros econômicos do Sul.

100 10612

24 1130 1128713 9

11 017

À1

234368o4

20

Brasi l

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

23 241 966475833.

2 389 71514 111 6744 663 112

421.21316.29861.827

242 56770 32830 193

1 836 203

70.541231.984911 891465 840149 947

33147.640971.654,

3 96753919.400 973

6 811 980

2 019 99547680

1 99 3981254.727

386 106

1003

125820Õ

1002

106120l

1004to

57to

7

135025

I

1002

10Õt

19

7

:^^rô Dô+.:n â Gôi^^1

1 601 628

207

2.555

Redes

F..l

Estradas por região

+

Nordeste Centro-Oeste

Estradas por UF Disrrito FederalAmapá

AcreRoraima

AmazonasSergipeAlagoas

Rio de JaneiroRondôniaTocantins

Rro Grande do NorteEspírito Santo

ParaíbaParé)

Pernambuco

lvla ran hãoMato Grosso do Sul

PrauíSanta CataÍina

Mato GrossoGoiásBahia

Rio Grande do SulSão Paulo

Paranál\,4inas Geraìs

ffiFederais asfaltadasFederais náo asfaltadas

Iffi

100 000 150 000

Estaduais asfaltadasEstaduais nâo asfaltadas

200 000 250 000 300 000

il Municipais asfaltadasf_-l Municipais não asfaltadas

Fonter IBGE, Anuário EstatÍsÌico 2000, lvl inisténo dos Transportes ' Geipot

A predominância do transporte rodoviário sobreos outros modos de transporte explica por que a crise dopetróleo dos anos de 1970 pôde ameaçar uma parte es-sencial do modelo brasileiro. A busca da auto-suficiên-cia em combustíveis foi para o Brasil uma necessidadevital, quer pela pesquisa de novas jazidas de petróleo(mesmo em águas profundas), quer pelo investimento

08-09. As estradas e seus construtores

no álcool combustível, usado puro ou misturado à gaso-lina (plano Proálcool).

No entanto, outros perigos decorrem dessa depen-dência. Uma greve de caminhoneiros em julho de 1999,por exemplo, mostrou a fragilidade do sistema de trans-portes do Brasil: noventa barreiras, situadas em 21 Esta-dos, bloquearam as estradas principais, e em apenas

Atlas do Brasi l

204

ï ipo de estrada

- Pista dupla

- Pista dupla em construçáo

- Estrada asfaltada

--- Estrada sendo asfaltada

Éstrada não asÍaltada

Estrada não asfaltada em construção

- Trilha

- Balsa (travessia de rio)

------- Em projeto

: - - -ê Co^h.ca I ^^ i+

1qq7

: i:iro dias a economia começava a ser paralisada. Os:-:errnercados e muitas indústrias sofreram falta de

::--duios ou de peças. As políticas do just in time e do:-irr \iâ estrada" põem a economia nacional à mercê

-: :n milhão e meio de caminhoneiros que percorrem

08-10. Tipos de rodovias

0 500 km

@ HT-2003 McM-Liberyéo

as estradas brasileiras. Essa greve também foi útil pararevelar as duras condições de vida desses trabalhadores,alguns dos quais passam regularmente mais de dezesseishoras seguidas ao volante e mantêm-se acordados à basede anfetaminas, por medo de perder um frete. Deve-se

209

Redes

08-11. Gapacidade das rodovias mencionar também o medo da violência, poisem estradas freqüentemente desertas seuscarregamentos atraem a cobiça: há, em média,mais de 6 mil ataques mensais a caminhões,em quinze dos quais o motorista morre.Atual-mente, graças aos Global Positioning Systems(GPS), muitos caminhões podem ser monito-rados por satélite, mas é paradoxal usar a tec-nologia espacial para enfrentar a ameaça dosbandidos nas estradas, o que parece um res-quício de um passado distante.

Não é fácil apreender a imagem que sur-ge globalmente desses múltiplos movimentos,porque, se há disponibilidade de bons dadossobre a inÍra-estrutura, eles são múto fragmen-tários sobre os fluxos. Contagens são efetuadastrecho por trecho, mas até as mais completastêm seus limites: por definição, elas se referemapenas aos pontos onde foram realizadas. Po-de-se referir àquela que foi feita para a defini-

ção dos Eixos Nacionais de Integração e De-senvolümento (Enid), no âmbito da licitaçãodo Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social (BNDES): faltam pontos decontagem em Goiás, Roraima e Rondônia.Apesar dessa lacuna, o mapa da Figura 08-13oferece uma boa idéia dos pesos relativos dasregiões: o que salta aos olhos é o adensamentodazona que se estende, de leste a oeste, do marà extremidade ocidental do Estado de São Pau-lo. Fora ela, só há alguns pontos e eixos fortes,as capitais dos Estados e algumas estradas, emseguida o vazio dos espaços pioneiros, onde sedistinguem ainda alguns eixos, como em MatoGrosso, e depois os grandes vazios florestais. Airnagem é mais forte e mais seletiva para cami-úões e ônibus do que para automóveiq por-que nesses dois casos o tráfego é estritamentecondicionado pela demanda.

Um exemplo que ilustra bem essa de-manda de transportes rodoviários é o caso deBrasília, cidade que deveria ser, de acordo

Capacidade(veículos/dia)

- 39,600z óvv

1.800

,,--.-.. Em projeto

Fonte: INGEO, Consórcio Brasil iana

0 500 km

a Hr-z-os uawtiourgeo

Atlas do Brasi l

210

com os seus fundadores, o novo centro do

(Figura 08-14). Deste ponto de ústa o objetivo foi atingi-do,pois Brasflia está ligada à maiorparte das cidades bra-sileiras:251 cidades são acessíveis a quem embarca na es-tação rodoviária de Brasflia. À primeira ústa só metadedo território nacional é servida, já que essas cidades

08-12. Numeração e direção das rodovias Íederais

estão quase todas situadas no sudeste de uma linha Be-lém-Cuiabá. Mas sabe-se que ao noroeste dessa linhaestendem-se regiões de muito baixa densidade popula-cional que não estão fora de alcance da capital, pois sãoatinsidas via cidades intermediárias. Para ir a Ji-Paraná

211

Redes

08-13. Contagens

'u v @ HT2003 MGM Libergéa

FonÌer INGEO, ConsóÍcio Brasi l iana, contagem mecanizada volumétr ica 1996

(Rondônia), por exemplo, muda-se de ônibus em Cuiabá,enquanto AÌtamira, no Pará, está diretamente acessívelpela estrada Belém-Brasília.

No restante do País, distinguem-se claramente oseixos ao longo dos quais se concentram as destinações

mais freqüentes: Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador eBelém. Brasília é hoje uma encruzilhada das grandes es-tradas, e joga plenamente seu papel de hub de concen-tração e redistribuição de fluxos.

Uma nebulosa mais difusa (porém cobrindo regiõesmais vastas) aparece no Nordeste e no Sul. Sua concentra-

ção no sertão nordestino, no oeste do Paraná, no oeste deSanta Catarina e no norte do Rio Grande do Sul, regiõesagrícolas de forte presença da pequena agricultura fami-liar,parece menos condizente com a imagem de grande ci-dade moderna em relação com seus iguais. Mas é necessá-rio lembrar que Brasília abriga pobres, atraídos por umamiragem inacessível, e que muitos funcionários públicostêm salários baixos: ambas as categorias, quando queremvisitar a família, têm que passar dias inteiros nos ônibus.

Passando do caso específico de Brasília ao planomais geral do tráfego interestadual de ônibus, constata-se que o grosso das relações (Figura 08-15) faz-se entreas regiões mais povoadas, Sudeste e Nordeste, e secunda-riamente entre Sudeste e Centro-Oeste, evidentementeem função da presença de Brasília. Caso se sobreponhao mapa das origens e destinos das cem principais linhasinterestaduais do país (Figura 08-16) 2o-mapa das

Atlas do Brasi l

212

O8-14. Acesso a Brasília por ônibus

Número de comPanhìas que l igam

os municíPios a Brasi l ta

4/-í "\o- r

I

Éstrada asfaltada

Estrada sendo asfaltada

Estrada náo asfaltada

Brasília

500 km

O HT BAMA-2003 McM-Ltbercéa

Fonte: Pesqulsa 2002 - Empresas instaladas na rodoviáÍia de Brasíl ia

densidades populacionais' evidencia-se " q:Tt? os dois

;;;;;"r;"incidem, já que as cabeças. de linla estão

;;;,*.;"" todas situadas nas regiões densamente po-

ï"ìã"1J" tmral ou nos Estados cujo povoamento é den-

,ã "ïaU"

a sua profundidade' São Paulo ou Paranâ'

As únicas - e raras - exceções situam-se nas regìões pio-

;;o^;" lmperattu(üaranhão)' Porto velho (Ron-

ãá-ó "

t"i-otó de Azevedo (Mato Grosso)'.ou nas re-

giões de partida, como o interior do Piauí' o da Bahia' o

ï"nao a" p".nambuco e da Paraíba ou o Ceará'

213

08-15. Movimento de passageiros

0 500 km

@ HT-2oas MGM Libegéo

Fontes: ANTT Anuário 2001 - Emoresas PeÍmissionárias e Autorizâdas

Era previsívelalocalaação dos pontos focais emrs-sores e receptores, porém a dos fluxos é mais surpreen-dente (Figura 08-17). As ligações entre Grandes CentrosNacionais, Centros Nacionais e Centros Regionais, deacordo com a terminologia da Agência Nacional deTiansporte Tenestre (ANTT), deseúam uma rede cujos

pontos fortes são, por construção, os três Grandes Cen- \tros Nacionais, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, liga- /dos aos outros centros de menor importância. As trocasentre eles são intensas, como mostram o número de li-nhas, sua espessura e cor, exprimindo os números depassageiros transportados (multiplicados pela distância

Atlas do Brasil

214

08-16. Origem e destino das cem maiores l inhas interestaduais

é@'

l

l

=/tè:

e:í.:. '.._ì :

t! ongem

I destinoHabitantes Por km2

r t ' : ï :ã48

24

11

milhóes depassageiros/km

394ê zs3(a 105\4e o.------iE n-

@ HT RAMA-2Aü MGM Lìbetgéo

Fontes: IBGE, ANTT Anuário 2001 - Empresas Permìssionárias e Autorizadas

percorrida). Vale aqui distinguir as ligações dos.princi

pais centros entre si dos fluxos existentes entre eles e as

principais regiões aos quais estão ligados, como o NoÍ-

leste. o Sul e as regiões pioneiras' As redes dos três prtn-

.-ipais centros são muito diferentes, como pode ser obser-

ordo lFigu.u 08-18): a de Brasília se irradia para todo oquilômetro) é a que liga a capital ao Rio de Janeiro;ou-

tìas de menor tráfego (entre 58 milhões e 160 milhões de

215

Redes

08-17. Movimentos de passageiros: I igações entre Grandes CentrosNacionais, Centros Nacionais e Centros Regionais

passageiros por quilômetro) conduzem a São Paulo, Belo ligada por linhas de elevada densidade de fluxo a todo oHorizonte e Goiânia. Para o Rio de Janeiro, as linhas prin- país, do Nordeste às regiões pioneiras do Centro-Oeste ecipais são as que o ligam a Belo Horizonte e a São Paulo, ao Sul, o que confirma mais uma vez o seu papel de prin-seguidos por ligações fortes com o Nordeste e - em menor cipal pólo de atração e de capital econômica, para nãoescala - com o Sul. São Paulo é a única metrópole dizer capital de fato, do País.

\

Milhoes de pâssageirospor qui lômetro em 2000

527I

160

58

20

8

'l

02

{r.\\

0 500 km

@ HI RAMA-2A03 MGM-Liberséo

Fontes: ANTT Anuário 2001 - Empresas Permissionárias e Autorizadas

Atlas do Brasi l

216

TransPoÉes aéreos

Os transportes aéreos encontram condições partt-

cularmente favoráveis' De um lado' a dimensão do País

08-18. Três capitais desiguals

gaestruturadopovoamentoem..arquipélago,,criam

utnu O.**Oa de deslocamentos a longa distância'para

il"* o*avi; é mais cômodo que qualquel outro meio

de transporte' Por outro lado' a necessidade de gerir e

São Paulo

Rio de Janeiro

Milhoes de Passagetrospor qui lômetro em zuuu

5Zt

- 58

20

8

1

o,2

Fontes:ANTTAnUário2001_EmpresaSPermissionár iaseAutor izadas

217

administrar um espaço muito diferenciado suscita umimportante fiáfego de negócios, de funcionários e de po-

líticos procurando as capitais. A concentração da rendaassegura que pelo menos uma parte dos 170 milhões dehabitantes seja uma clientela capaz de pagar caro por

deslocamentos privados ou de lazer. Essa situação indu-ziu à criação de algumas companhias aéreas de boa di-mensão, que tiveram destinos diferentes, indo do suces-so à queda brutal, passando por nacionalizações, priva-tizações e fusões espetaculares.

O Departamento de Aviação Civil (DAC) publicaregularmente um anuário que permite consultar dadosrecentes e detalhados, e sua exploração e análise ofere-cem uma idéia do desempenho global da "indústria"(como o anuário a intitula) e - recorrendo a outras fon-tes complementares - da situação das companhias que aconstituem. Por último, os dados sobre o tráfego,medidopara cada aeroporto e cada linha aérea, oferecem as con-dições para traçar mapas de fluxos, que desenham, de ma-neira nítida, redes hierarquizadas. Não é surpreendente a

constatação de que refletem exatamente a estrutura cen-traluada do País, ao redor de seus principais pólos econô-micos e político-administrativos, mas evidencia-se tam-bém uma certa capilaridade nas trocas locais e regionais.

O setor dos transportes aéreos já tem um peso na-da desprezível na economia e mantém um crescimentocontínuo. Em 2001, a frota acumulada das sociedadesbrasileiras representava 366 aviões de linha de diversostipos, dos quais 163 fabricados pela Boeing,60 pela Fok-ker,60 pela Embraer e 51 pela Airbus ou a Aérospatia-le. Essa distribuição deve se alterar num futuro próxi-mo, pois a TAM, após uma série de acidentes (dois dosquais num único dia de agosto de2002),decidiu se des-fazer dos Fokker 100, provavelmente em favor da Air-bus, da qual foi um dos primeiros clientes brasileiros.

Em 2001, as companhias totalizavam uma capa-cidade global de cerca de 40 mil assentos, empregan-do um pouco mais de 38 mil pessoas, das quais 3.900pilotos e co-pilotos. Asseguraram nas linhas internasquase 700 mil horas de vôo, percorrendo 420 milhões

Anuário da Aviacão

Atlas do Brasi l

214

de quilômetros (mais de 10 mil vezes a volta da Terra).Tlansportaram, nestas mesmas linhas internas, mais de30 milhões de passageiros (em etapas médias pouco me-nores que novecentos quilômetros), e produziram umtráfego de frete aéreo de três milhões de toneladas porquilômetro de frete.

A evolução do setor na década i990-2000 foi ain-da rápida: só o correio apresenta estagnação, muito pro-vavelmente devido aos pÍogÍessos do correio eletrôni-co, ainda mais rápido que o correio aéreo. Para todos osoutros indicadores constata-se uma duplicação, e aindamais para os passageiros (+125%) e para o total das to-neladas por quilômetro (+128%),

Atualmente, quatro companhias principais com-partilham o mercado brasileiro: aVarig (com suas sucur-sais Nordeste e RioSul), a Vasp, a antiga companhia pú-blica do Estado de São Paulo, a TAM e a Gol, que en-trou mais recentemente no mercado. Seus perfis sãobem diferentes. A história da aviação brasileira refletealguns episódios felizes e outros menos felizes, como aespetacular falência da Tlansbrasil, recentemente,

A Varig (com suas sucursais) representa mais dametade do mercado e assegura o essencial do tráfego in-ternacional. Fundada em maio de IW1, foi a primeiraempÍesa de transporte aéreo do Brasil e uma das pri-meiras do mundo. O seu fundador, Otto Ernst Mayer,chegou ao Brasil em 1921, beneficiou-se do apoio doKondor Syndikat alemão, e seus primeiros aviões foramo Dornier Wal Atlântico e o Dornier Merkur Gaúcho.Nos anos de 1940, em função da evolução da conjuntu-ra geopolítica mundial, mudou de fornecedores, adqui-rindo os aüões Lockheed, Douglas e Curtiss C-46.

Seu raio de ação era limitado ao sul, criando em1942 sua primeira linha internacional para Montevidéu.Somente em 195L, com a aquisição da companhia AeroGeral, a Varig tornou-se uma companhia nacional, comvôos para o Rio de Janeiro. Também foi a primeira noBrasil a utilizar aüões a jato, Caravelle Sul Aviação, em1959; no ano seguinte, adquiriu o seu primeiro Boeing(707),marca à qual permanece fiel. Os anos de 1960 fo-ram os da expansão, nacional e internacional, sobretudoapós a compra de seus concorrentes, Consórcio RealAerovias e Panair do Brasil.

A Varig é ainda hoje a principal transportadora in-ternacional brasileira, tendo construído uma vasta redemundial (Figura 01-09) que reflete as orientações inter-nacionais do País. Mas, em 2001, perdeu o seu primeirolugar no mercado nacional para aTAM.

A TAM (Táxi Aéreo Marflia) nasceu em197! co-mo uma modesta empresa de táxi aéreo de uma cidademédia do interior de São Paulo. Logo após a sua criação,as rédeas da empresa foram confiadas ao comandanteRolim Adolfo Amaro, cuja gestão começou por um gol-pe de sorte e terminou por um golpe do destino, mas sódepois que ele levou a companhia ao primeiro lugar domercado nacional.

Convidado a juntar-se ao grupo de pilotos funda-dores da empresa, Rolim não dispunha do capital neces-sário para pagar as ações, e tencionava financiá-las "es-quecendo" de segurar seus aúões. Felizmente, foi dis-suadido e pagou as apólices de seguro às vésperas do diaem que um dos Learjets da empresa ultrapassou o finalda pista do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janei-ro, e terminou seu percurso na baía de Guanabara: oprêmio de 1,8 milhões de dólares permitiuJhe pagarsuas ações. Outro golpe de sorte: emt975 o governo fe-deral organizou o Sistema Integrado de Tlansportes Aé-reos Brasileiro (Sitar) para desenvolver a aviação regio-nal, dividindo o País em cinco zonas: a TAM recebeu en-tão a melhor zona, que integra o interior de São Paulo,norte do Paraná. e sul do Mato Grosso. Essa base deu-lhe os meios para seu crescimento, e em 1986 entrouno mercado internacional, quebrando, ao mesmo tem-po, o monopólio da Boeing ao comprar cinco aviõesA-330-200 e sessenta outros da família A-320 do con-sórcio Airbus. Infelizmente, o comandante Rolim malteve tempo de celebrar a conquista do primeiro lugarno mercado nacional, em 2001. No mesmo ano, perdeua vida em um acidente no comando de seu helicópte-ro pessoal. Permanece o questionamento se a compa-nhia continuará sua carreira ascendente sem ele.

O nascimento do Vasp vincula-se à tentativa desecessão do Estado de São Paulo, em 1932,que,apesardo seu malogro, reforçou a vontade de autonomia dospaulistas. No dia 12 de novembro de 1933, um grupo deempresários e pilotos paulistas criou a Viação Aérea

219

Redes

São Paulo;em L6 de abril de 1934, osprimeiros vôos co-merciais começavam entre São Paulo, Ribeirão Preto,Uberaba e São José do Rio Preto. Em 1935 a compa-nhia, em dificuldades financeiras, pediu a intervençãodo Estado de São Paulo, que a comprou. Permaneceuempresa pública aLé I994,data em que foi priuatízada evendida a um empresário de reputação muito contro-versa, Wagner Canhedo, que lançou uma política deexpansão e abertura de linhas internacionais para Euro-pa, Estados Unidos e Asia. Criou o Vasp Air System,pela aquisição da LAB (boliviana), da Ecuatoriana deAviación e da argentina TAN. Infelizmente, os resulta-dos não foram à altura das ambições. A companhianem sempre honrava o pagamento de seu combustível,o leasing de seus aviões, os salários e, às vezes, nem mes-mo as taxas de aterrissagem. Teve que suprimir todas aslinhas internacionais e durante meses só voou graças aautorizações arrancadas semana após semana, e pagan-do à vista o seu combustível.

A Gol é uma das mais novas companhias e a queintroduziu o conceito de low-cost/low-fare,baseado nomodelo do EasyJet britânico e do Southwest nos Esta-dos Unidos. Fazparte do grupo Áurea, um conglomera-do de empresas de ônibus urbanos e interurbanos. A au-torização da Direção daAüação Civil data de agosto de2000, e os primeiros vôos começaram em janeiro de2001, do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, comquatro Boeing 737-700.8m2002,duas dezenas de cida-des eram interligadas, e a companhia tenciona ampliar asua frota para até trinta aeronaves. As tarifas, muito bai-xas no início (pouco mais que o preço de uma passagemde ônibus), foram aumentadas e atualmente são poucoinÍeriores às de seus concorrentes.

A Tiansbrasil, que em 2001, ocupava o terceiro lu-gar e representava uma quota de 5% do mercado, abriufalência no fim do mesmo ano: não voa mais desde en-tão, e os seus aviões, ainda com as suas cores, mas semmotor (que foram vendidos), estão estacionados emuma zona periférica do aeroporto de Brasília.A compa-nhia tinha sido fundada por Omar Fontana, filho doproprietário da Sadia, uma grande empresa de embuti-dos, que alugava um DC3 para transportar carne frescae salsichas de Santa Catarina a São Paulo. Em 1956.

lançou a Sadia Tiansportes Aéreos, para fretes e passa-geiros entre Florianópolis,Videira,Joaçaba e São Paulo,que se tornou aTiansbrasil S.A. LinhasAéreas,eml973.Antes do final da década de 1980, era a terceira empre-sa no setor: voava com dez Boeing 727-700 e possuía li-úas internacionais para Miami, Nova York, Washing-ton, Viena, Buenos Aires, Amsterdã e Londres. Em1998, o fundador vendeu-a. Morreu em 2000, pouco an-tes da queda final de sua empresa. Sem crédito parapa-gar seu combustível, a Tiansbrasil anulou todos os vôosem 31 de dezembro de 2001, deixando em solo 100 milpassageiros portadores de bilhetes sem nenhum valor apartir daquele momento.

Por último, é necessário acrescentar a essas quatrograndes companhias as empresas regionais de táxi aéreo,que servem dezenas de cidades do interior com aviõesmais rústicos, como o Bandeirantes, de fabricação nacio-nal, e os jatos de cinqüenta e cem lugares.A democrati-zação dos transportes aéreos é bem visível nesses aúõesregionais, nos quais, às vezes, alguém viaja carregandouma galinha ou um cacho de bananas no colo, para aju-dar um vizinho demasiado carregado.

Embora essas companhias operem redes indepen-dentes e concorrentes, a soma de seus resultados geraum desenho que reflete efetivamente a cenfializaçáoeconômica e política do País. O tráfego dos vinte primeiros aeroportos demonstra a predominância esmaga-dora de São Paulo, com seus dois aeroportos - Guaru-lhos (o aeroporto internacional) e Congoúas (o antigoaeroporto, dentro do tecido urbano, mas ainda em ativi-dade para o tráfego interno, sobretudo de negócios) -,cujos números os distanciam bastante dos outros, com,respectivamente, 13 milhões e quase L2 milhões de pas-sageiros. Brasília aparcce em seguida, logo à frente doRio de Janeiro, caso se contem os dois aeroportos cario-cas, o Galeão (internacional, recentemente rebatizadqcom o nome de Tom Jobim) e o Santos Dumont, nacio-nal. Após esses aparecem, sem surpresa, as grandes ca-pitais regionais, prioritariamente as que se beneficiamde fluxos turísticos, como Salvador, Recife e Fortaleza,no Nordeste.A única cidade da lista que não é capital deEstado é Campinas, a cem quilômetros de São Paulo, eque funciona, de fato, como seu terceiro aeroporto.

Atlas do Brasi l

220

Fontesi Anuário da Aviação Civil, DA

Em termos de números de ligações e regiões aten-

didas, os principais aeroportos (Figuras 08-19 e 08-20)apresentam situação bem diferente. Mesmo neste indi-

cador, São Paulo se destaca, com um número de ligaçõesque é quase o dobro das do Rio de Janeiro, o que lhe dáuma influência realmente nacional. Brasília, recente-mente, conheceu um forte crescimento graças à sua po-

sição central, funcionando de fato como um hub:muiÍas

das conexões de região para região fazem escala ali, am-pliando os fluxos de trânsito, que se acrescentam aos depolíticos e requerentes indo à capital federal. Salvador,Fortaleza e Recife recebem fluxos importantes do Su-deste, devido à atração turística, enquanto as capitaisperiféricas, Manaus e Belém, na Amazônia, e Porto Ale-gre, no Sul, têm apenas as linhas que servem às relaçõesde nesócios.

Fonte: lnÍraero 2002

221

Redes

08-19. TráÍego nos aeroportos

As linhas aéreas internas que partem desses aero_portos são de dois tipos: as linhas especiais, ou seja, degrande freqüência, e as linhas normais.As primeiras são,de fato, as pontes aéreas que ligam as principais cidades.

As quatro grandes companhias trabalhavam em asso_ciação para gerir a principal ponte aérea, entre Rio deJaneiro e São Paulo, que liga as duas cidades de meia emmeia hora e utiliza os antigos aeroportos centrais, de

Número de l igaçóes

a-\ 223se7

\ /--\7 4b.863\\-Z 1

Correio{1 000 objeros)

/-ì 25ee6

\ c>L sozokm

@ HT2003 MGM Libergeo

Fonte: Anuário da Aviação Civll, 2O01

Número de passageiros

Atlas do Brasi l

222

08-20. As cidades mais bem servidas por rotas aéreas

Lioacoes mals movimentadas

d-;;. metade do total das ligaçÓes)

Llgações menos movimentadas(segunda metaoel

Fonte: Anuário da Aviação Civiì' 2001

0 500 Km

@ Hrzooí-ucu'tite,geo

Redes

223

Milhóes depassager ros

Destinos

Sudeste

NordesteSul

Centro-Oeste

Origens

Fonte: Anuário da Aviacão Civil. 200'l

I

8

7

6

5

4

3

2

I

0

08-21. Fluxos inter-regionais de passageiros

onde foram deslocados os vôos internacionais. Essaalíança foi quebrada em 1998, e cada uma procura con-quistar seu pedaço nesse mercado altamente rentável:mais de 10 mil pessoas por dia,90% voando por motivode negócios, e20Yo ttilizando a ponte aérea pelo menoscinco vezes por mês. As outras linhas especiais sãomenos freqüentadas, mas duas outras excedem um mi-thão de passageiros por ano, São Paulo-Brasília e SãoPaulo-Belo Horizonte.

As outras conexões são tambémde dois tipos, intra-regionais e inter-regionais. A dimensão das regiões bra-sileiras é tão imensa - muitas delas sãomaiores que a Europa inteira -, que sedesenvolvem fluxos aéreos internos, eo gráfico (Figura 08-21) mostra queeles são significativos, sobretudo na re-gião Sudeste. O mapa dessas redes re-gionais (Figura 08-24) confirma a den-sidade do Sudeste, mas revela, igual-mente, além de uma malha bem densano Sul e no Nordeste, que a da Amazô-nia é bem estruturada, interligando deforma regionalmente eficaz as cidades,mesmo as de médio porte. Nessa regiãoimensa, onde os transportes são lentos(fluviais) ou difíceis (pela estrada), oavião é, freqüentemente, a única solu-

ção possível.Essas redes regionais são, no en-

tanto, pouco expressivas (por isso fo-ram colocadas à parte) em face dosfluxos inter-regionais, que formam o

essencial do tráfego. Considerando todos os fluxos(Figura 08-22) ol destacando as linhas mais freqüenta-das (Figura 08-23), pode-se notar uma extraordináriadissimetria. É evidente que a imagem não reflete exata-mente a realidade, visto que as cidades estão interliga-das "a vôo de pássaro" e não pelos corredores aéreosque existem em certas regiões (em outras palavras, ospilotos têm a liberdade de procurar o caminho maiscurto), mas os fluxos principais são claros.

At las do Brasi l

224

Os que acompanham a direção do litoral, da fron-teira meridional até Recife, e principalmente aquelesque interligam as cidades do Sudeste e do Sul, são osmais importantes e aparecem como a "coluna verte-bral" do País. Caso se acrescente o eixo secundário, que

08-22. FIuxo de passageiros

segue o litoral mais ao norte e continua pelo vale doAmazonas, ele reúne o essencial das rotas aéreas.

Mas se, no conjunto, a organização espacial do trá-fego aéreo reflete a lógica da organìzação territorial bra-sileira - e conseqüentemente a reforça -, ela permite

Número de passageiros em 2001

1 584,790

81 491

6 865

863

121

Aeroportos

o categoria 1

. categoria 2

. categoria 3

. categoria 4

Fonte: Anuário da Aviação Civil, 2001

500 km

@ HT2003 MGM-Lìberyéa

225

Redes

08-23. Linhas nacionais e locais também, pela sua capacidade de livrar-separcialmente das distâncias e dos obstácu-Ìos, fazer emergir outros eixos. É o caso dosfeixes de linhas que saem de São Paulo pa-raFofia\eza, Belém (via Brasília), Manaus,Rondônia (via Cuiabá) e Acre. Esse lequede linhas que estruturam as trocas do Nortecom a verdadeira capital econômica é indu-bitavelmente um dos meios essenciais da"captura" do Centro-Oeste e da Amazônia,pelo menos da Amazônia ocidental, na zonade atração paulista. Prova isso o fato de que,enquanto o transporte do correio (Figura08-24) obedece ainda essencialmente a umalógica de serviço público e serve a todo oterritório nacional (sua rrralha é muito regu-Iar, ligando todas as regiões entre si), o fre-te aéreo obedece a uma lógica puramenteeconômica e privilegia, mais ainda que osfluxos de passageiros, as linhas de força doterritório, o eixo paralelo ao litoral e os fei-xes procedentes de São Paulo.

O setor dos transportes aéreos refleterelativamente bem a imagem do País: co-mo esta, ele é, ao mesmo tempo, maciçopela sua dimensão e impressionante peloseu desempenho, mas também concentra-do e desigual, marcado por contrastes for-tes entre regiões e setores potentes e ou-tÍos em que o espírito pioneiro, com suasqualidades e defeitos, pulsa forte ainda.Conheceu histórias de sucesso e tambémquedas espetaculares, e se pode dizer que,nesse campo. como em muitos outros, o ta-lento nacional está mais na criação, basea-da em improvisações brilhantes, do que naadministração metódica e contínua. Quin-tessência do modelo brasileiro de desen-volvimento, para o qual contribuiu de for-ma significativa, deverá provavelmente,como ele, e em um futuro próximo, comporcom forças novas, adaptar-se aos novostempos e, sem dúvida, tem mais a ganhar

Linhas com mais de50.000 passageiros/ano

-1 584 790

230 630

138 854

11',] 865

78 593

60 903

50 703

0_ jqk.@ HT2003 MGM-Libergéo

Rotas internasregronars

- Norte

---* Nordeste

- sudeste_ sul

- Centro,Oeste

Fonte: Anuário da Avraçáo Civil, 2001

Atlas do Brasi l

226

do que a perder com uma democratizaçãoque lhe garanta novas clientelas.

As perguntas centrais são evidente-mente as do acesso ao transporte aéreo dosmenos ricos e das regiões mal localizadas. Aprimeira resposta está na regulação dos pre-

ços, e a julgar pela baixa relativa das tarifasligada à chegada ao mercado das compa-nhias /ow fare, eIa tem boas perspectivas.Será necessário apenas tomar cuidado paraevitar que os ganhos de produtividade sefaçam em detrimento da segurança.

O segundo ponto depende mais deuma decisão política, pois a emergênciade novos eixos pode ser incentivada ounão, e pode-s e fazer, via transferências en-tre as linhas rentáveis e as menos rentá-veis, um verdadeiro instrumento de orde-namento do território. O Estado temmeios de pressão potentes sobre as com-panhias, por meio das autorizações deabertura de linhas, e do controle das tari-fas aeroportuárias, dos preços do querose-ne oferecidos pela Petrobras, e, mais glo-balmente, pela tutela que exerce sobre osetor a potente Direção da Aviação Civil(ainda parte do Ministério da Aeronáuti-ca). O futuro dirá se essa possibilidade se-rá aproveitada. Porém, vale notar que,mesmo na época das transmissões instan-tâneas e imateriais, ainda se deve prestarmuita atenção aos transportes, nomeada-mente aéreos, porque o controle do seuacesso, da sua fluidez e dos seus custos po-de permitir o desenvolvimento de regiõesperiféricas ou reforçar o peso do centrona naçao.

Energia e informação

Se os transportes aéreos, que dese-nham os pontos e eixos de foÍe centralida-de, são um bom indicador das dinâmicas

08-24. Correio e frete aéreo

Frete aéreo(quilogramas)

15 731 900

1762 280

111 046

1 600

Fonte: Anuário da Avraçáo Civil, 2001

227

Redes

08-25. As redes elétricas

territoriais brasileiras, que dizer da produção e circu- as regiões consumidoras, aquelas onde a concen'tra-lação de energia? Essas não são um indicador menos ção da população e da atividade econômica cria umaimportante, pois também articulam as regiões produ- forte demanda.toras (cuja localização depende dos recursos naturais O mapa da Figura 08-25 mostra a inadequação dase dos equipamentos construídos, cf. Capítulo 3) com duas geografias, o que levou à construção de linhas de

Linhas elétr icas (kW)

Existentes Em projeto*750

234138

69*programado até 2009

Usinas térmicasPotência Combustível(N/W)

QoooQ sooOoo

Usinas hidrául icas I(GWh)

O Diesel

| óeos

I carvao

I Energia nuclear

z-- 87500/ \ Sislema interconectado l--_l/ \ ^^^^^I /--\--Ì 23.U83 Subestaçáo existente

\\ )/ - Subestação em projeto

I 0 500 km

@ Htr2003 MGM-Lìbergéo

Forte: ANEË1, At las da Energê Éiei l ;ca - INGEO. Colsó'cio B'as. l ranà

Atlas do Brasi l

228

tÍansporte a grandes distâncias que estão entre as maislongas e potentes no mundo. De fato, a produção é prin-

, cipalmente hidroelétrica e, como o aproveitamento doscursos de água mais próximos das regiões consumidoras

\-já-chegou ao limite, criou-se a necessidade de buscar aexploração de recursos cadavez mais remotos. Essa é aprincipal ruzão da construção, no regime militar, da bar-ragem de Itaipu, no rio Paraná, na fronteira paraguaia;a outra era desenvolver a influência brasileira nesse paíse desbancar a da Argentina.

O processo havia começado com a assinatura, em26 de abril de !973, do tratado entre o Brasil e o Para-guai decidindo "o oÍdenamento hidroelétrico dos recur-sos hidráulicos do Paraná, pertencente aos dois países,do salto de Sete Quedas até a embocadura do rio Igua-

çu". Em 17 de maio de 7974, constituiu-se a sociedadeItaipu Binacional, com partes iguais entre a sociedadebrasileira Eletrobrás e a paraguaia Ande. O início dostrabalhos foi em Le de janeiro de 1975, e o lago de bar-ragem, que começou a se encher no dia 13 de outubrode L982, atingiu sua quota normal em27 do mesmo mês.As primeiras turbinas entraram em serviço em 5 de ou-tubro de 1984, e a última, a 18s, em 9 de abril de 1991.

Sua potência instalada faz de Itaipu a primeira usi-na hidroelétrica do mundo, posicionando-se na frentede Guri, na Venezuela (10.200 MW), do Grand Coulee,nos Estados Unidos (6.500 ÌvIW) e Sayanbo Shushens-kaya, na Rússia (6.400 IvfD. Só a barragem de TiêsGargantas, na China, deverá ter uma potência instaladamaior (18.200 MW), mas a produção anual de Itaipu po-derá continuar a ser superior, pois o rio Paraná tem umdébito mais regular, e já foi controlado pelas várias bar-ragens situadas a montante. Vale lembrar que uma fra-

ção de uma central nuclear francesa média tem a potên-cia 1.300 MW e que as 58 centrais em funcionamentotêm uma potência total62.000 MW, a produção total de2002 tendo sido de 416 TWih; sozinha, a baragem deItaipu representa?0% do potencial nuclear francês, semnecessidade de combustível, nem de reciclá-lo, nemrisco de avaria ou de acidente.

A Associação Americana de Engenheiros deObras Públicas (Asce) incluiu, em 1995, a barragem emsua lista dos grandes trabalhos deste século,junto com a

ponte de Golden Gate, em São Francisco, o canal doPanamá, o Eurotúnel (sob o Canal da Mancha), os tra-balhos de controle do mar do Norte, nos Países Baixos,o Empire State Building, em Nova York, e a torre doCanadian National, em Toronto. A Associação frisavaque,para realaá-Ia,seus colegas brasileiros tiveram quedesviar do curso o sétimo rio mundial e deslocar mais de55 milhões de metros cúbicos de terra e rochas, usandoum volume de concreto igual a quinze vezes o que foiutilizado para o túnel sob o Canal da Mancha. A saladas máquinas, que contém as dezoito turbinas, pesandocada uma 3.300 toneladas, tem 968 metros de cumprimento, e cada turbina recebe 690 m3 de água por segun-do, através de tubos de 10,5 metros de diâmetro.

O tratado de 7973 estabelecia a divisão igualitáriada energia produzida entre os dois países, cada um como direito de comprar a energia não utilizada pelo outropara o seu próprio consumo. De fato, o Paraguai utilizaapenas uma parte mínima de sua parte e vende o restoao Brasil, para reembolsar o adiantamento feito por es-te quando da construção da barragem. Thnto o financia-mento quanto a construção foram realizados pelo Brasil,que utiliza a quase totalidade da energia produzida. Ocatáter binacional da empresa é, por conseguinte, umaficção diplomática; sem dúvida, Itaipu contribuiu nota-velmente para tornar o Paraguai um satélite do Brasil.

Em2002, a barragem produziu 82 TWh, fornecen-do ao Brasil 24o/o e ao Paraguai quase 95% da energiaconsumida. Em face desse colosso, as outras centrais hi-drelétricas parecem pequenas. Contudo, algumas passamdo milhão de megawatts, como Xingó, no rio São Fran-cisco (3.000 MW),Ilha Sol[eira, no Paraná (3.440 MW),ou Tucuruí, no rio Araguaia (a.240 MW).

As centrais térmicas pesam pouco no total, quersejam situadas sobre recursos valorizados, como o car-vão do Sul, quer sejam experimentais, como a centralnuclear de Angra dos Reis ou as centrais que queimamdiversos tipos de óleos combustíveis, quer, ainda, sejampróximas dos lugares de consumo em regiões,insuficien-temente servidas pelas redes hidroelétricas. E o caso degrandes cidades litorâneas como Rio de Janeiro e Salva-dor, apesar de suas redes serem interconectadas, e so-bretudo de um grande número de pequenas cidades em

229

Redes

08-26. As redes de inÍormacão

regiões onde as redes não se interligam. Cerca da me-tade do território brasileiro está nessa situação difícil esó pode contar com a produção local de energia paracobrir suas necessidades. Na maioria dos casos, essaprovém de um gerador diesel, enquanto cidades mais

importantes têm uma central térmica ou, em cìsqs ex-cepcionais, uma central hidráulica, construída par\ assuas necessidades (Balbina para Manaus, Cacho/ftado Samuel para Porto Velho e a região central deRondônia), Existem planos para remediar essa situação,

o

I

í.J

I I,IIIIIIIrOtII

a

o

I

' roO'too'ra

a

o

a

Rede de microondas numérica

Rede de microondas analógica

Rede de microondas numéricaTD

Rede de microondas intra-estado

Estação de microondas

Rede de fibras ópticas

Rede de fibras ópticas intra-estaoo

Estaçáo de fibras ópticas

Rede backbone Internet principal

Rede backbone Intemet secundáÍia

Estação de recepção d€ satélite

Fonte: INGEO, Consórcio Brasiliana

Atlas do Brasil

230

mas as distâncias e os investimentos necessários sãotão imensos que seriam necessários anos para assegu-rar a cobertura completa do País por uma rede bem

/ distribuída,

\ Por enquanto, o feixe de linhas de alta tensão que

\a Itaipu a São Paulo é o eixo essencial das redes elé-tricas brasileiras. Interconectado com o complexo debarragens dos rios Paranâ e Tietê, ele assegura à regiãoSudeste uma boa cobertura e, a maior parte do tempo,uma alimentação suficiente, apesar do crescimentoconstante da demanda. No entanto, este complexo nãofoi suficiente para evitar o racionamento - voluntário edisciplinado - na crise de 2001 (apelidado de "apagão"),enquanto que a região Sul, graças à maior quantidadede chuvas, não foi afetada. O Nordeste é menos dotado,em conseqüência das secas que afetam a maior parte doseu território, mas é cortado pelo rio São Francisco, ali-mentado a montante pela "caixa-d'água" de Minas Ge-rais, o que permite não somente uma potente irrigação,mas também uma geração de energia quase suficientepara cobrir as necessidades regionais. A construção deuma série de usinas hidroelétricas e de barragens regu-ladoras valorizou esse potencial, mas os limites já foramatingidos e, para o futuro, será necessário recorrer a ou-tras fontes e a transferências.

Linhas de alta tensão têm sido construídas a partirda usina amazônica de Tucuruí, o que permitiu melhorara distribuição da rede nordestina. Ao mesmo tempo, ou-tra linha de alta tensão tem sido "puxada" na direção daTfansamazônica, o que permitiu estender para o oeste arede interconectada, simétrica à que avança, ano apósano, para o norte do Mato Grosso.

Na verdade, o grande desafio é,valorizar os poten-ciais do eixo do Araguaia-Tocantins, seguido grosso mo-do pelo traçado da estrada Belém-Brasília. Foi para sa-tisfazer as necessidades do Nordeste e, principalmente,as necessidades infinitamente maiores do Sudeste quefoi empreendida a construção de uma série de barra-gens e linhas de transmissão no eixo Araguaia-Tocan-tins. Utilizando os recursos desses rios e os de seusafluentes, que não são negligenciáveis, esse eixo alimen-tará linhas que partirão para o leste ($ireto para Salva-dor) e, sem dúvida, em médio prazo para o oeste, para

solucionar as necessidades das regiões pioneiras do su-deste do Pará e nordeste do Mato Grosso. Esses em-preendimentos significam oportunidade de construir li-úas de alta e muito alta tensão para o norte e o sul, eassim constituir uma rota norte-sul que articule as prin-cipais regiões brasileiras. É um desafio considerável:esse eixo poderia ür a ser a coluna vertebral da interco-nexão do País, ligando as principais regiões produtorase consumidoras entre si, e, mais ainda, com a grandefronteira energética de imensos recursos, por enquantosubutilizados, da bacia amazõnica.

Essa mesma estrutura desenha-se igualmentenoutro domínio, o das redes de informação a longadistância (redes de transmissão de dados por microon-das - analógicas e numéricas - redes de fibras ópticas,backbones da Internet, redes de transmissão por saté-lite). Essas redes possuem papel cadavez mais impor-tante na estruturação do território de todos os paísesdo mundo, pois são vitais ao funcionamento da econo-mia e tornam-se um fator de localização tão importan-te quanto os transportes físicos e a disponibilidade deenergia, e pelo menos tão necessário quanto a mão-de-obra qualificada.

E mais claro ainda que em um País onde as distân-cias são enonnes e as disparidades econômicas e sociaistão fortes, a implantação de uma sucursal nas regiõesperiféricas equivale freqüentemente a uma implanta-

ção num país estrangeiro, com os seus inconvenientes(distância) e as suas vantagens (baixos salários). Emtodos os casos, há necessidade de manter contato fácile rápido com a matriz.

Evidentemente, cada técnica requer configuraçõesdiferentes, pot razões ligadas ao funcionamento de cadaum dos sistemas, que não têm as mesmas possibilidadesnem as mesmas limitações e foram implantados em pe-ríodos diferentes: por exemplo, a difusão por satélite,muito presente na Amazônia, tem a vantagem de cobrirvastas superfícies com um mínimo de implantações nosolo. Mas, mesmo nesse domínio, onde se pode dizer queas distâncias e a noção mesmo de redes estão sendoabolidas, constata-se que existem, do mesmo modo, ei-xos fortes, favoráveis aos investimentos, e vazios onde asimplantações seriam problemáticas. Ainda nesse caso

231

Redes

enquadra-se o litoral, que permanece o eixo principaldo País, com a presença de todas as redes. Curiosamen-te, o desenho da rede de fibras ópticas, por mais moder-no que seja, reproduz o desenho do mais antigo dosmeios de transporte brasileiros, a cabotagem costeira.Os eixos nacionais são duplicados por redes internas aosEstados, e financiados por estes.

Por último, reencontra-se aqui a figura observadanos fluxos aéreos, no entanto mais forte ainda, dos fei-xes de linhas que se estendem a partir de São Paulo pa-ra cobrir o território nacional, especialmente rumo aonoroeste. O principal deles, que se reencontra igualmen-te na rede elétrica,é o eixo norte-sul que segue a estra-da Belém-Brasília, feixe que fecha o triângulo formadopelo litoral, indo direto para a Amazõnia oriental, e en-globa o principal espaço "yazio" ou mal servido, o Nor-deste interior. Mais a oeste, outras linhas asseguram asligações com a Amazônia ocidental, quer seguindo asestradas construídas nos anos de 1970, para Cuiabá ePorto Velho, quer indo direto a Manaus e Boa Vista, noextremo norte do País. A infra-estrutura dos "tubos"atinge as capitais mais afastadas. Resta saber como a in-formação que veiculam será distribuída a partir dospontos de acesso, ou seja, a capilaridade das redes locais,e a taxa de cobertura de cada região.

Este problema da cobertura vale também para asredes de televisão, que se esforçam para lidar com as ne-cessidades contraditórias de atingir o maior númeropossível de espectadores e de manter seus custos osmais baixos possíveis. De acordo com seus objetivos eos seus recursos, essas redes seguem estratégias diferen-tes: algumas procuram cobrir o máximo de território,as outras concentram-se nas zonas de maior densidade.

A Figura 08-27 mostra quatro exemplos entre as setecadeias mencionadas no Perfil dos Municípios Brasilei-ros do IBGE: a mais presente em todo o território na-cional é a Globo,5.508 municípios de um total de 5.407(98,17To) declararam recebê-la. Com essa taxa, a Glo-bo atinge 97,53"/o do território nacional e 99,387o dapopulação. As outras redes têm taxas bem menores. OSBT, fundado e dirigido por Silvio Santos (que come-

çou como camelô e está hoje à testa de um império demídia, tendo alterado muito pouco seus métodos devenda, loterias, prêmios de fidelidade) visa também àcobertura universal, e não está muito distante: 88%dos municípios,75o/" do território, mas quase 96% dapopulação, Os "vazios" da sua cobertura estão princi-palmente na Amazônia. A rede Record, comprada pe-lo "bispo" evangélico Macedo, fez a escolha de privile-giar, após as regiões povoadas do País, o Centro-Oeste.Essa decisão foi justificada em termos de rendimentosmédios e mais ainda em termos de proselitismo, já queessas regiões pioneiras oferecem um terreno fértil pa-ra as conversões religiosas. Por último, a rede públicaEducativa / Cultura, que evidentemente não tem osmesmos recursos dos seus concorrentes privados, co-bre apenas 42% dos municípios e somente 25"/o do ter-ritório, mas a escolha judiciosa das regiões mais densaslhe permitem atingir 7Lo/o da população. Alguns casosaparentemente estranhos, como a cobertura completado Ceará e as implantações em zonas amazônicas bempouco povoadas, explicam-se muito provavelmentepor ajudas públicas (Estados e municípios) à divulga-

ção dessa cadeia cultural.Com a evolução das técnicas, essas estratégias tal-

vez já sejam obsoletas, pois novos suportes de difusão

Atlas do Brasi l

232

08-27. Gobertura do território pelas redes de televisão

Educativa/Cultura 2.341

@ Zona coberta

Fonte: IBGE. Pedildos Municíoios Brcsìleios

dispensam a infra-estrutura pesada, hertziana ou desatélite, de que as redes clássicas precisam. Então, li-wando-se das limitações, elas possuem uma lógica de lo-calização diferente? Não parece ser o caso. A única

diferença sensível é que estão mais concentradas ainda,porque o seu preço (uma assinatura é necessária) as re-serva a clientelas mais reduzidas que a televisão de mas-sa, paga pela publicidade.

233

Redes

CAPÍTULO 9

DE DESIÜT]ALDAD S

esmo o mais distraído dos viajantes não podedeixar de observar: o Brasil é, para retomar umaexpressão bastante gasta (mas que era nova

quando Roger Bastide a escolheu para título de seu li-vro, em L957), um "país de contrastes". Enquanto a "sel-va de pedra" do centro de São Paulo evoca Manhattan,as aldeias miseráveis do Piaú e as imensas florestas de-sertas do Anazonas lembram mais as regiões mais po-bres do Mali ou as selvas mais inacessíveis de Bornéu.Essas comparações não se relacionam apenas às paisa-gens, são também válidas quanto aos níveis de desenvol-vimento, pois existe tal discrepância entre os níveis devida do centro-sul e as regiões periféricas do Nordeste eAmazônia que, às vezes, pode-se duvidar de que se tra-te de um único país. As diferenças são tão nítidas, e asrelações de subordinação tão fortes, que se pode dizerque o Brasil é trm dos raros países do mundo a possuircolônias dentro de suas fronteiras; outro caso compará-vel era o da URSS, que hoje perdeu essas articulaçõesinternas e não existe mais como unidade. Não se preten-de ir demasiado longe na analogia,mas é verdade que asdiferenças de nível de desenvolvimento dentro do Paíssão extremamente forteg bem maiores que na Europa ena América do Norte ou que em qualquer outro lugarnaAmérica LaÍna.

Contudo, diferença não significa necessariamentedesigualdade, e qualquer disparidade não é obrigatoria-mente uma injustiça. Bernard Bret (2000), apoiando-sesobre a Teoria da Justiça de John Rawles (transpondo opensamento desse filósofo para o terreno das desigual-dades e injustiças espaciais, o que não era o caso na obra

original), mostrou bem que no caso do Nordeste as de-sigualdades antigaq enraizadas e nunca reahnente corri-gidas, eram tão fortes e tão prejudiciais aos mais pobresque se tornavam claramente uma injustiça. Efetivamen-te, a sociedade brasileira tem consciência disso, não ape-nas na referida região, mas também no sul, onde discur-sos muito ambivalentes sobre os nordestinos recordamestraúamente aqueles que os europeus fazem sobre ospaíses ao sul do mar Mediterrâneo.A eleição de um pre-sidente da República nascido no Nordeste (que se crioue sempre trabalhou e lutou em São Paulo), LurtzInácioLula da Silva, alterará as coisas? Não se saberia dizerhoje, mas cabe notar que um de seus primeiros atos co-mo presidente foi, na segunda semana do mandato, le-var todos os seus ministros a ver de perto a situação crítica dessa região.

Para compreender essas disparidades, a primeirachave é, evidentemente, o peso da história: ocupadas eestruturadas em função de atividades econômicas di-versas, durante "ciclos" distintos, as regiões brasileirasforam, por muito tempo, organizadas em bacias de ex-portação quase autônomas. As disparidades que exis-tem entre elas refletem, portanto, o desigual sucesso desua história econômica específica, e, enquanto o Nor-deste nunca pôde realmente superar o declínio dasplantações de cana-de-açúcar, o Sudeste se beneficiou,após o ciclo do café, do essencial do desenvolümentoindustrial (Capítulo 2).

Com a indústria, a história econômica brasileiramudou de ritmo, Aos ciclos sucessivos substitui-se aconstituição de uma economia nacional nova, cujas

Atlas do Brasil

234

bases estão situadas em uma só região, o Sudeste, emais particularmente no eixo Rio de Janeiro-SãoPaulo. O grande contraste que aparece opõe um cen-tro e uma periferia, o núcleo desenvolvido e o restodo País. Ora, as relações entre o centro e a periferiatendem, no mundo inteiro, a se perpetuaÍem e seagravarem, poÍque o centro se beneficia da maiorparte dos investimentos. É onde há uma melhor ren-tabilidade, graças à melhor qualidade da infra-estru-tura, à melhor qualificação da mão-de-obra, à concen-tração de fornecedores e de clientes. Desenvolvendo-se mais rapidamente, reclama e obtém maior atençãodos poderes públicos, atrai os elementos mais dinâmi-cos das outras regiões, seus capitais e seus recursos dequalquer tipo.

Instaura-se, por conseguinte, uma série de meca-nismos auto-alimentados, sempre em benefício docentro, neste caso da região Sudeste, e em detrimentodas outras regiões. As conseqüências geográficas des=ses mecanismos econômicos são muito importantes: asdisparidades de nível de desenvolvimento mantêm-se,com efeitos significativos sobre a demografia, as for-mas das atividades rurais e urbanas, assistindo-se auma integração nacional em benefício do centro que,em vez de provocar uma diminuição dos desequilí-brios, reforça-os.

Paralelamente à expansão de uma economiarealmente nacional, e não mais de base regional, o ho-rtzonte geográfico dos atores econômicos tornou-se oconjunto do território. Os novos meios técnicos detransportes (construção de estradas e de veículos),energia (linhas de alta tensão), telecomunicações (te-lefone, transmissão de dados, internet) contribuempara diminuir os efeitos da distância. Mesmo o quepermanece ainda dependente da intervenção do Esta-do no domínio econômico (infra-estrutura, concessãode serviços aIé há pouco tempo públicos, políticasagrícolas e industriais) também participa do fenôme-no, porque permite drenar os recursos, organizar osfluxos, unificar os mercados de todo o País: o ciclo doscrescimentos regionais sucessivos encerrou-se e nãohá como a dominação do Sudeste possa ser colocadaem questão.

Desigualdades econômicas

Para mostrar em que ponto São Paulo se destacado resto do País, pode-se usar uma representação emterceira dimensão (Figura 09-01):ao tomar como base oPIB dos Estados, São Paulo constitui um caso à parte, si-tuado muito à frente dos Estados subseqüentes, Rio deJaneiro e Minas Gerais. E o decréscimo progressivo daaltura dos "degraus" para o Oeste (na parte superior daimagem) e, sobretudo, para o Norte (à direita da ima-gem), é expressivo das diferenças brutais de peso econô-mico entre essas unidades. O mesmo gradiente encon-tra-se para as microrregiões, com uma superfície global-mente inclinada do Sul para o Norte. Mas surge com cla-reza a situação privilegiada das grandes cidades, a maiorparte delas próximas do litoral, que formam picos acen-tuados, tanto no Nordeste como no centro-sul.

Analisando essas disparidades em termos de seto-res econômicos, e usando as divisões clássicas, mede-sea que ponto o País mudou em relação à época em quesua principal base era a exportação de produtos agríco-las e minérios, e mesmo em relação à época da sua de-colagem industrial. Um dos setores que mais pesam naeconomia é o de serviços, como mostra o mapa da Figu-ra 09-02, no qual se conservou a mesma escala para re-presentar de maneira comparável os PIBs dos setoresagropecuário, industrial, de comércio e serviços. No se-toÍ agropecuário, destacam-se as regiões da cana-de-açúcar do Nordeste, a do cacau, algumas regiões do Pa-rá e as regiões de agricultura famitar modernizada doSul, Porém, a principal concentração está situada nonorte do Estado de São Paulo e no Tiiângulo Mineiro,regiões onde o setor agroindustrial é mais potente eorganizado. Para os serviços, hoje o setor mais impor-tante da economia brasileira, o domínio da cidade deSão Paulo é esmagador, e é nitidamente uma das cha-ves de sua potência e de sua influência. O Rio de Janei-ro não é muito distante, seguido pelas outras capitais.E mais uma vez, é apenas no Sudeste - e em menor es-cala no Sul - que se encontra um tecido denso de pe-quenas e médias cidades, intermediárias em relação àsmetrópoles. A situação é sensivelmente a mesma na in-dústria, cujo peso econômico é hoje menor que o de

235

Disparidades e desigualdades

0S-0ï. PIE dos ËsÉadçs e c=ricrorregi6*s

Fonte: IBGE, contas r_egionais do Brasil 1985-1997 @ IíÍ2003 MGM-Líbergéo

serviços e o do comércio. A diferença principal estáapenas no setor industrial: São Paulo se distancia cla-ramente do Rio de Janeiro. Se as duas metrópoles sãomais ou menos iguais quanto ao comércio, a relaçãoentre elas é de 1,4 para L para os serviços, e de 2 paraL na indústria.

Reflexo dessas diferenças de PIB (pois sua recei-ta principal é o imposto sobre a circulação das merca-dorias e os serviços - ICMS), os orçamentos dos Esta-dos são extremamente diferentes. Analisando-os emum período de cinco anos (Figura 09-03), para distin-guir a tendência de fundo de conjunturas excepcionais,

Atlas do Brasil

236

09-02. PIB por setor econômico

PIB dos serviços(milhôes ds r6ais em 1997)

Fonte: IBGE, contas Íegionais do Brasil 1985-1997

reencontra-se uma hierarquia bem estabelecida. Navanguarda, naturalmente, está São Paulo, distante detodos os outros. Após, em ordem decrescente, os outros"gÍandes" Estados do Sudeste, Rio de Janeiro e MinasGerais. O Amazonas encontra-se logo após, graças aum ano fora dos padrões - 2000 -, seguido pelos dois

grandes Estados do Sul, pela Bahia e pelo Distrito Fe-deral. Atrás, com resultados bem menores e, por conse-guinte, com relevos menos acentuados na figura, estãoos pequenos Estados do Sul e Sudeste (Santa Catarinae Espírito Santo), e os Estados do Nordeste, Centro-Oeste e Amazônia, três desses encerrando a hierarquia.

237

Disparidades e desigualdades

S9-03. ffinçan'aee=€*s #*s ãsËados

Entre eles, os dois que tentaram experiências de desen-volvimento sustentável originais (Amapá e Acre), pre-judicadas pela fraqueza do orçamento do Estado. Serácausa ou conseqüência? Escolheram esse caminho por-que são periféricos (e dotados ainda de um ambienteflorestal quase intacto) ou fizeram da sua necessidadeuma virtude? Pode-se imaginar o que teria ocorrido seos Estados mais ricos tivessem seguido o mesmo cami-nho, com mais dificuldades, mas também maiores possi-bilidades de sucesso.

A análise das finanças dos municípios é uma ma-neira de medir sua maior ou menor independência,principaÌmente pela identificação das contribuiçõesnas receitas municipais tanto dos recursos próprios co-mo das transferências do Fundo de Participação dos

Municípios (FPM), um fundo de equalização nacionalque permite aos municípios mais pobres receber fundosretirados dos mais ricos. Confrontando esses dados comos dos municípios vizinhos (também como forma de evi-tar os casos aberrantes, desta vez no espaço e não notempo), podem-se construir duas imagens (Figura 09-04)praticamente complementares.

A primeira destaca a maior parte do Nordeste(com exceções no Ceará e no Maranhão) e o Tocantins,mais algumas regiões de Rondônia, Goiás,Acre e Ama-pá, onde os municípios dependem pesadamente dastransferências do FPM, com percentuais que se aproxi-mam, em algumas regiões, de 100% das receitas.

A outra mostra os municípios mais autônomos, on-de a participação das receitas transferidas é mais baixa,

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Fonte: Banco Central, 2002

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Atlas do Brasi l

238

e as receitas locais, mais elevadas. Distin-guem-se quase todo o centro-sul do País eas suas extensões para o Centro-Oeste,particularmente um bloco centrado nooeste do Estado de São Paulo, TiiânguloMineiro, sul de Goiás e leste de MatoGrosso e Mato Grosso do Sul. E o coraçãodo Brasil ruraÌ moderno, o principal focoda criação de gado bovino, da cana-de-açícar,do café e da soja. Sem dúvida, essacorrelação não é fortuita,um sólido desen-volvimento rural contribui mais para asaúde das finanças municipais que a po-btezadaperiferia, ou mesmo que a econo-mia industrial do centro urbanizado, ondeum pequeno número de firmas está emposição de força em relação aos poderesmunicipais. Essa correlação funciona bemem escala nacional, mas também nas re-giões Sudeste e Sul, onde as zonas maisclaras correspondem quer às grandesáreas metropolitanas, quer às regiões me-nos desenvolvidas das duas regiões (Espí-rito Santo, norte de Minas Gerais, centrodo Paraná, Sul do Rio Grande do Sul).

Essa análise, elaborada com base emum indicador aparentemente muito espe-cífico, coincide com o que se sabe dos níveis de desenvolvimento regional do País.Coincide bem com resultados obtidosusando índices sintéticos, que supõem nu-merosas medidas, ponderadas e cÍuzadas,É o caso, por exemplo, do Índice de De-senvolvimento Econômico (IDE), publi-cado pelo consórcio Brasiliana, encarre-gado pelo Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES) dedefinir os Eixos Nacionais de Integração eDesenvolvimento (Enid). A imagemproduzida mapeando os dados municipais(Figura 09-05) confirma os mesmos pon-tos fortes (um bloco situado ao sul doTiiângulo Mineiro, com prolongamentos

09-04. As finanças municipais

Receitas per capita(Reais)

1 412

Média estatística com osmunicÍpios vizinhos

00 500 km

@ Hr-2003 MGM-Libergéo

FONTE; IBGE, BIM

239

Disparidades e desigualdades

09-G5. índÊce de desergvolvirxentc econêmicc

no Centro-Oeste, em zonas valorizadas pelos colonosvindos do Sul), e as mesmas zonas fracas que aqueladefinidas pelas finanças municipais (norte de MinasGerais, centro do Paraná, sul do Rio Grande do Sul). Eas zonas onde o índice é o mais baixo são, mais umavez, o Nordeste (à exceção das capitais e alguns focos

dinâmicos como Petrolina-Juazeiro) e a Amazôma ocr-dental ou setentrional.

Outra maneira de medir o nível de riqueza dasregiões é focaluar o equipamento dos domicílios, infor-mação disponível no censo demográfico, Uma série dequatro mapas representa o nível de equipamento das

Índice de desenvolvimentoeconômico em 1996

ffi Se. infoÍmação

Fonte: INGEO, Consórcìo Brasil iana

0 500 km

@ HT-2003 MGM-Libergéo

Atlas do Brasi l

240

famflias brasileiras. Tiês elementos (telefone, automóvele televisão) mostram sensivelmente a mesma distribui-

ção geográfica, enquanto um qüarto (congelador) reve-la outra, bem diferente. A geografia do equipamentodas famílias é principaknente uma geografia econômica,

09-06. Equipamentos dos domicílios

em relação nítida com os níveis de renda; contudo, podeser também, às vezes, uma geografia cultural, cujas cau-sas determinantes são menos claras.

Esses bens foram escolhidos em uma longa lista on-de figuravam outros objetos (rádio, televisão em preto e

ïelefone

7o com uma linhaÍixa ou mais

o____j99 k.@ t+l-2003 MGM-Lìberyéo

7o com um televisoÍem cores ou mats

76,360,9,13,5

32,1tnâ

@ rz,g6.1

% com um freezer

q____gq km@ HT2o03 McM+iberyéo

IãËffiffiE

ol,o

37,715,78,3

1.20,0

0-____q99 k.@ IIr-2003 McM-Liberyéo

Fontê: IBGE Microdados, Censo Demográfìco 1991

241

Disparìdades e desigualdades

ü9-*7. Equipamentes dos donrãcíl ios no Ëstada de Sêo Fçule

% de domicíl ios equioadoscom um Íelefone ou mais

% de domicÍl ios disoondode um automóvel ou mais

58,0

33,6

22.9E .r,,E , .u

Número de domicíl ios equipadoscom um tel€fone ou mâis

62,4

44,3

35,5ã ,n,''i luo

Número de domicíl ios dispondode um automóvel ou mais

882 009 1 054 216

o-..------lgg km 220 51o

@ ttF2ols MGM-Lìbeígéo 39200 100 km

@ H12003 McM-Libergéo

263 596

% de domicí l ios equipadoscom uma televisão ou mais

% d6 domicí l ios equipadoscom um freezer ou mais

89,0

69,9

57,0n,,"" 12.1

Número de domicíl ios equipadoscom uma tel€visão ou mais

42,2

23,4

175ffi .,.,,J , . ,

Número de domicíl ios equipadoscom um congelador ou mais

o-______lq k.@ Í{f-2003 MGM-Líbeeéo

0 100 km

@ Hr-2003 MGM-Libeígéo

421 055

105 269

1471

Fontei IBGE Microdados, Censo Demográfico de 1991

branco, máquina de lavar roupa, aspirador etc.) e queÍegistrava a quantidade de equipamentos (um ou váriosautomóveis, televisões, linhas de telefone). Optou-se pornão multiplicar os mapas, seja porque para as taxas mais

elevadas de equipamentos (mais de três automóveis,por exemplo), o número de domicílios tornava-se mui-to baixo, seja porque a distribuição se repete. De fato,aparecem apenas duas. A do telefone, do automóvel e

Atlas do Brasi l

242

#5-##= ffiveÊ*açË** d* eqaeãp*reeecaË* ËeËe€#mce*

Proqressão dos telefones '

celu- iares enÌre 1997 e 2000

\vo)

II@ffiEú

278,6

137,7

97,4

63,6

31,4

30.7

, Númerode telefones

@ Hï-2003 ÌüGM-Libergéo

Fonte: Agência Naclonal deTelecomunicaçÓes - Anatel

Fonte; Anuário Estatistico do Brasil 'Telebrás 1997

da televisão (seria idêntica para outros equipamentos'1

JOt.u, dentro do conjunto Sul-Sudeste' globalmente

."ttt- equipado que o Nordeste e que o Norte'lm et-

;;;Ë;o que uai de Santos aoTÏiângulo Mineiro'

conjunto ao qual é necessário acrescentar Brasflia' Não

é surpreendente reencontrar, sublinhado e confirmado

oo, ,rr", indicadores de nível de vida' o principal eixo

ã"'ã.t.*"rvimento do Brasil' que os brasileiros'

o.--jq kt

@ HI-2003 MGM-Libergéo

celulares em2000 (milharês)

243

DisParidades e desigualdades

grandes amadores de carne e de metáforas carnívoras,chamam o "filé-mignon" do País.

A distribuição dos congeladores é diferente e so-mente se reproduz, com algumas variações, para um úni-co outro equipamento, o rádio. A região de concentraçãoprincipal desse indicador é uma zona ao noÍe do RioGrande do Sul e a oeste de Santa Catarina, cuja caracte-útica principal é a forte presença de descendentes de co-Ionos europeug chegados no século XIX. Pode-se supor,recorrendo a essa origem,hábitos de consumo diferentegdos quais fariam parte alimentos congelados na época defartura para uso futuro, seja legumes do jardim ou carnesdos pequenos animaig particúarmente numerosos nestaregião? Em todo caso, esse fator cultural parece ser con-firmado pelas zonas onde esse equipamento está presen-te com maior freqüência sem, no entanto, atingir os mes-mos níveis: desenham um eixo para o noroeste, precisa-mente aquele ao longo do qual gaúchos e paÍanaensesprogridem para as terras novas do Centro-Oeste e Ama-zônia. E o "branco" que interrompe esse eixo no norte doParaná, notoriamente sob influência paulista, pode sermais uma confirmação dessa interpretação.

Em escala regional, a distribuição dos equipamentosindica outras clivagens: no Estado de São Paulo, opõem-se claramente cidade e campo. O predomínio da capitalé esmagador, tanto em número de famílias equipadascomo em taxas de equipamento, e deixa lugar somentepara uma série de cidades médias, escalonadas ao longodas estradas de penetração no interior, sucessoras dasvias férreas construídas na época da frente do café. Acapital está atrasada em relação ao interior apenasquanto aos automóveis. Isso é compreensível quando seconhece a dificuldade de circulação em São Paulo, en-quanto os transportes coletivos, apesar de todos seus de-feitos, conduzem a cada dia milhões de pessoas, Tam-bém aqú o equipamento quanto a congeladores é a ex-ceção; o uso deles paÍece mais freqüente nas pequenascidades, onde, evidentemente, é mais fácil obter legumese carnes a serem congelados em casa.

Entre os equipamentos do domicílio, o telefonemerece uma análise mais detalhada, porque ainda hápouco tempo era relativamente raro e, em conseqüên-cia, revelador das desigualdades sociais. Em vinte anos,

de1977 a1997,o parque de linhas telefônicas instaladaspassou de 4 milhões para2O milhões,principalmente embenefício do centro-sul: São Paulo progrediu de 1,4 mi-lhões para 6,2 milhões de linhas instaladas. Desde a pri-vatização, em 1997, a difusão se acelerou mais ainda, e,atualmente, há quase 39 milhões de linhas instaladas.

As disparidades econômicas são fortes, como todosos índices provam. Resultam de uma história de desen-volvimento desigual, e, constantemente, são alimentadaspor mecanismos bem conhecidos, que não constituiriamem si injustiça se não fossem acompanhados de profun-das desigualdades sociais.

Desigualdades sociais

O Programa das Nações Unidas para o Desenvol-vimento (PNUD) publica regularmente para todos ospaíses do mundo o Índice de Desenvolvimento Huma-no (IDH), calculado de forma a levar em conta ele-mentos que o PNB não permitiria apreender, comoeducação ou saúde. Em setembro de 1998 foi publica-do (em CD-ROM) um trabalho similar, realizado pelaFundação João Pinheiro, de Belo Horizonte, paÍa to-dos os municípios brasileiros, para os anos de 1970,1980 e 1991 (data dos três últimos censos).F;m2002,omesmo trabalho foi refeito pelo Ipea, tomando comobase o ano 2000.

O mapa construído a partir do IDH , em escalamunicipal para o ano 2000 (Figura 09-09), mostra cla-ramente a predominância do centro-sul, mas, sobretu-do, as potentes dinâmicas territoriais que estão ocor-rendo no País, porque certas regiões conheceram úti-dos progressos em relação a 1998, enquanto outras es-tagnaram. Entre as que progrediÍam, o avanço maisnotável é o do Centro-Oeste, e mais particularmentedo Mato Grosso, onde a chegada de colonos vindos doSul fez progredir sensivelmente o IDH dos municípiosonde se instalaram. Alguns entre eles puderam enri-quecer, ou, pelo menos, tornaram-se os mais ricos ha-bitantes dessas regiões pioneiras, os mais educados eos que têm as melhores possibilidades de sobrevivên-cia, todos esses elementos que constituem o IDH. Defato, tudo se passa como se transportassem consigo os

Atlas do Brasi l

244

seus índices elevados, mantendo nas regiões pioneirasonde se instalam os comportamentos sanitários, esco-lares e culturais de suas regiões de origem. Ao contrá-rio. notam-se os maus resultados do centro do Paraná edo sul de São Paulo, que constituem as únicas exceções

09-G9. !ndãee de desenvolvimento humano

no bloco Sul-Sudeste. A exceção delas, as regiões de-primidas permanecem na alta Amazônia (as suas par-tes setentrional e ocidental) e no Nordeste, separadospor uma cunha que progride para o Norte, marca daprogressão dos eixos de modernização econômica e

IDH em 2000

---

Sem inÍormaçãoL--J (6sy65 municípios)

FonÌe: lpea

24,8' t to

500 km

@ HT-2003 MGM-Libêtgëo

245

Disparidades e desigualdades

*S-G#. #v*ãaxçê* d* Ë#Fã social (pelo menos os que fazem parte do

IDH), já evidente no Mato Grosso e tam-

bém bastante sensível no Pará. em Rorai-

ma e no Amapá.

Além dessa fotografia instantânea, ao

analisar a dinâmica do IDH no tempo, cons-

tatam-se movimentos diÍerentes. Entre 197 0

e 1991., as regiões que conheceram os mais

acentuados progressos do IDH são precisa-

mente aquelas marcadas pela moderniza-

ção agrícola (oeste de São Paulo,Triângulo

Mineiro, sul do Goiás) e pela progressão

das frentes pioneiras (eixo da Belém-Brasí-

lia e Rondônia). Durante esse peíodo oNordeste estagnou, com exceção de suas ca-pitais e de pequenas regiões no interior dePernambuco e o conjunto Ceará-Rio Gran-de do Norte, que se destacam bem, emboratenha sido feita uma média entre cada mu-

nicípio e seus vizinhos, para minimuar fenõ-

menos puramente locais.

Em contrapartida, no período 1991-2000, é claramente o Nordeste que progre-

diu; a ruptura de tendência é evidente e me-rece ser sublinhada. A progressão é mais fá-

cil, do ponto de vista meramente aritmético,naturalmente, a partir de níveis baixos doque se eles forem elevados, como os do Sule do Sudeste. Isso indica que se o Nordestesofre de importantes déficits sociais que jus-

tificam amplamente uma vigorosa ação go-vernamental, já existe um movimento ini-

cial de correção, engajado nos dois manda-tos de Fernando Henrique Cardoso, que fa-cilita esse investimento e deve darlhe efei-tos sensíveis a curto e médio prazo.

Como os mapas de PIB e de rendamostram que do ponto de vista econômico efinanceiro o Nordeste está ainda muitoaquém de outras regiões, a progressão doIDH no último período deve-se, provavel-

mente, a progressos obtidos no plano so-cial, sobretudo em matéria de educação, um

12,51%

Evolução do IDH1991-2000

Sem informação **u(municipios novos) :

0-_ jE k.@ HT-2003 McM-Libergéo

Fonte: PNUD, lpea2OO2

Atlas do Brasi l

246

fator que pesa fortemente na confecção do índice. Es-forços importantes foram feitos nesse campo, o que ex-plica, em parte, os progressos observados, mas permane-ce ainda muito a fazer e, por conseguinte, ìmportantesmargens de avanço.

üg-11. Al€ahetËzação

Os mapas da alfabetização e do analfabetismo (Fi-gura 09-i1) mostram algumas dessas margens e sugerempistas de ação. O nível de alfabetaação é ainda bem dife-rente entre as regiões do País e entre os homens e as mu-lheres: enquanto no centro-sul e seus prolongamentos no

0 500 km

969080

fl roE^^

OU

f f isof f i+oIss 0 500 km

96

90

80ÉroúuoEuo€oor35

DesvÌo entre

Analfabetos(v.)

o anal Íabet ismodos homens e odas mulheres

0- __jE km

f/al

-Em@II

+'12,6

+4,3

0,0

- 7t

- 10,2- 17,1- 23.4

0 500 km

@ tI-2003 McM-Libergéo @ HT-2003 MGM-Lìberyéo

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2OOO

247

Disparidades e desigualdades

m$-ïffi. Aff€*fue€ãemdms e mmeã€afuetmmex'm LwmdnEscc {Faraná}

Centro-Oeste excede sempre 70o/", otmesmo 80%, no Nordeste (fora das capi-tais) e na alta Amazônia cai abaixo de50%. Os mapas de gênero deixam cons-tataÍ que as mulheres estão sempre emníveis inferiores.

Os mapas do analfabetismo mos-tram que o conjunto do Norte-Nordesteé fortemente marcado por esse fenôme-no. Pode-se dizer que essa realidade é in-digna do nível de desenvolvimento atin-gido pelo Brasil em outros campos. E ocaso do Nordeste é ainda mais grave queo da alta Amazônia, porque os efetivoshumanos são bem mais importantes:uma boa parte da região contava aindacom 40Yo de analfabetos em 2000. Emgeral, o analfabetismo das mulheres é su-perior ao dos homeng infelizmente um fe-nômeno muito freqüente, não somente noBrasil. Mas nota-se que nas regiões maisatingidas é o inverso, uma característicaque deveria orientar a ação futura dos po-deres públicos, porque será necessárioprever nessas regiões temas e suportesque considerem essa especificidade.

O analfabetismo não se refere ape-nas às regiões menos desenvolvidas,Mesmo nas mais avançadas, como o Sul,sua distribuição não é aleatória, mas obe-dece, em outros níveis e escalaü às estru-turas centro-periferia, como mostra oexemplo de Londrina (Paraná). Os níveis de alfabetização do centro da cidadesão muito elevados (mais de 95%), en-quanto na periferia são claramente infe-riores, embora altos (entre 70% e 90%)se comparados aos do Nordeste. Os anal-fabetos não estão ausentes dessa cidade,eles vivem nos bairros periféricos donorte, constituídos de loteamentos popu-lares e invasões, mas também no sul, on-de a imbricação de setores sociais dife-

Taxa dealfabetizaçáo

,ii,-r-l*1, A7L-,, -ri

U 5KM

@ HT-2003 MGM-Libergéo

Analfabetostaa- ;ó6

1

FonÌ€: IBGE, Censo Demográfìco 2000 - Agregados por Setor Cênsitário

Atlas do Brasil

248

renciados é mais forte. Duas favelas, assi-naladas aqui pelo número de analfabetos,delimitam o eixo onde se desenvolvem lo-teamentos fechados, temáticos, que privi-legiam campos de golfe, de tênis e um par-que, próximos de shopping centersi suadistribuição é um bom indicador de umageografia social em plena evolução.

AIém da simples dicotomia entre al-fabetizados e analfabetos, o tempo de es-tudos é outro bom indicador das desigual-dades entre as pessoas, porque sabe-se quetem uma repercussão direta sobre a renda.O censo demográfico dá uma indicaçãooriginal sobre esse assunto, totalizandopara cada um dos municípios (em seguidaagregados por microrregião na Figura 09-13) o número de anos de estudo - a contarda entrada na escola elementar - que têmos seus habitantes: a distribuição desse"capital escolar" reflete - e explica emparte - a do capital econômico e financei-ro, com a mesma predominância das gran-des metrópoles e capitais dos Estados.Com exceção do Sul e Sudeste, em queuma série de cidades médias tem compor-tamento similar, o bom nível de formaçãodos seus habitantes não é a menor dasvantagens comparativas.

A distinção entre homens e mulhe-res apresentada acima para a alfabetiza-

ção funciona também, e de maneira maisdiscriminatória ainda, com relação ao pe-ríodo de estudo: um mapa construído apartir da diferença de anos de estudo en-tre os sexos corta claramente o País emdois: ao sul de uma linha Mato Grosso-Espírito Santo, os homens têm mais tempode estudo, ao norte são as mulheres quefreqüentam mais tempo os bancos da es-cola. Como essa repartição que opõe, deum lado, o sul desenvolvido e seus novosanexos do Centro-Oeste, e do outro as

CIg-13. i luraçãc dos estudçs

o

Anos de estudopor pessoa

0_ _jEk-@ HT2003 MGM-Lìbèrgéo

Fonte: IBGE, Censo Demogéfico2OO0

Diferença entre o númerode anos de estudo doshomenseodasmulheres

249

Disparidades e desigualdades

**==&. ff iç*=ê+ ese*E=r

a

ê

Proporção dosalunos do EnsinoFu ndamenta Ino total dos alunos

@

Jil

Proporção dosalunos ooEnsino Médiono total dos alunos

Relaçáo entre onúmero de alunosdosegundoeopr imeirocic lo do EnsinoFundamental (%)

98,6

11,4

44,7

24,5roo

Alunos doEnsino Médio747.129

7__\150.626 ta)/

1 500

IEffiI : : lEE

100,0e1e

/o,c

70,6

65,2

2 086 650

445169

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Alunos doFundamenta I;' \--

0- 199k- ' l

@ HT-2AA3 MGM Ltbergeo

\-r''+l\ \ - / ì

Relação entre onúmero de alunosdos EnsinosFunda mentale Médio (%)

- u, /

à.) 'È é

Fonte: Ministério da Educaçáo, Censo Escolar 2000

Sem inÍormaçáo ;--1(municípios novos) -

0- jE k.@ HT2003 MGM-Dbergéa

Sem Informação f---l(municípios novos) "

0-_ !E k-O HT 2003 MGtvl-Libergea

regiões subdesenvolvidas do Norte e Nordeste reapare-

ce muito freqüentemente, não se pode deixar de suporque a diferença de escolaridade entre os sexos seja uma

das causas ou uma das conseqüências do nível de desen-Yolvimento desisual.

Outros indicadores reforçam essa oposição, como

a evasão escolar (Figura 09-14). Pode-se ter uma idéia

aproximada dessa diferença comparando o número

efetivo de alunos presentes no Ensino Fundamental e

no Ensino Médio: enquanto no Sul e no Sudeste os

Atlas do Brasil

250

percentuais são fracos, o que indica queum bom número de alunos freqüenta o Ní-vel Médio, no Nordeste, e mais ainda noNordeste interior, os índices revelam es-magador predomínio do ciclo elementar.O mapa dos efetivos do ciclo médio con-firma a sua concentração nas capitais e nosul, e aquele que estabelece a relação en-tre o número de alunos presentes nos doisciclos mostra, pelo seu parentesco estreitocom os outros mapas de níveis de desen-volvimento, que esse critério é, efetiva-mente, um indicador relevante e um obje-tivo a atingir. Sabe-se, por outras expe-riências, que o acesso dos jovens, e sobre-tudo dos adolescentes, ao Ensino Médio éuma das chaves do desenvolvimento. A re-lação entre o número de alunos presentesnos dois níveis assinala as regiões desen-volvidas, em especial o Estado de São Pau-lo. Em outros termos, quanto maior o nú-mero de crianças que vão além dos estu-dos elementares e continuam a sua escola-ridade, maiores são as possibilidades de asregiões se desenvolverem.

A variável educativa é uma das prin-cipais chaves para explicar o subdesenvol-vimento persistente do Nordeste e doNorte. Isso apaïece ao se analisarem as res-postas dadas pelos responsáveís de domicílios à pergunta sobre o seu nível de for-mação, no censo demográfico de 2000, to-mando como referência os dois extremosda escala. O número e a proporção dosque nunca freqüentaram a escola, ou que afreqüentaram menos de um ano, destacade maneira brutal o Nordeste, tanto emnúmero absolutos (dimensão de círculos)como em proporção (cor dos círculos). Nooutro extremo, a concentração das pessoasque chegaram ao nível de mestrado e dou-torado nas grandes capitais, e particular-mente no Rio de Janeiro e em São Paulo,

&S-€5= fls€Gdos Çãii'Cms, estar#*s $*mçes

Proporção das pessoassem instruçáo oucom menos de umano de estudo (%)

Proporção das pessoascom mestrado oudoutorado (%)

E oo,E ooo

Número de pessoassem instrução ou

com menos oe umano de estudo

225.585 7-\

45.805 t7ì

'1 000 -:èó//

Número de Dessoas commestrado ou doutorado

38 009

0-_ _ !99 k-@ HT-2003 MGM-Libergéo

7.126

100

Fonte; Minrstério da Educacão. Censo Escolar 2000

251

Disparidades e desìgualdades

São Paulo

Rio de Janeiro

Rio Grande do Sul

Minas Gerais

Paraná

Pernambuco

Distr i to Federal

Santa Catar ina

Bahia

521 São Paulo

230 Rio de Janeìro

149 Minas Gerais

144 Rio Grande do Sul

90 Paraná

62 Pernambuco

48 Distr i to Federal

4l SanÍa Catar ina

43 Ceará

41 Bahia

32 Paraíba

28 Pará

Rio Grandedo Norte

Goiás

Espír i to Santo

Amazonas

Alagoas

Maranhão

l\,4ato Grossodo Sul

Mato Grosso

Serglpe

393 São Paulo158 Rio de Janeiro106 Minas Gerais1O2 Rio Grande do Sul47 Pernambuco43 Distrito Federal35 Paraná29 Santa Catarina24 Bahia20 Ceará19 Paraíba

13 Pará

Rio Grandedo NorteAmazonasEspír i to SantoMaranháo

216 Sáo Paulo

95 Rio de Janeiro

53 Minas Gerais

51 Rio Grande do Sul'19 Distr i to Federal

15 Santa Catar ina

14 Pernambuco

13 Ceará

9 Paraíba-7 Paraná

7

4

66 São Paulo 21

39 R.o de Janerro 1

16 Minas Gerais 6

9 Rio Grande do Sul 5

7 Distr i to Federal 2

5 Pernambuco 1

4 Santa Catar ina 1

1

1

1

Paraíba

Rio Grandedo Norte

Pará

Goiás

Amazonas

Espír i to Santo

Mato Grossodo Sul

Alagoas

Maranhão

Mato Grosso

PiauÍ

Rondônia

4

221

24

211313

12

6

4431

13

8

7

4

3

2

2

1

1

é, ao mesmo tempo, causa e conseqüência do seu desen-volvimento em matéria econômica e social. Além disso,nota-se que somente no Sudeste e no Sul há concentra-

ções dessas pessoas qualificadas em cidades do interior,

um fato que é, uma vez mais, causa e conseqüência do

crescimento econômico e social que o interior de São

Paulo conheceu, por exemplo. No Nordeste, essa disper-são é praticamente inexistente, à exceção de CampinaGrande, cujos sucessos recentes estão, em boa parte, Ii-gados à presença e à atividade de sua universidade.

Avançando ainda na escala de qualificações e tí

tulos universitários, pode-se verificar a distribuição

dos pesquisadores e dos centros de formação habilita-

dos a realizar mestrados e doutorados (Figura 09-16).

A primeira é baseada nos dados do Centro Nacional da

Pesquisa Científica (CNPq) e mostra o diploma mais ele-

vado obtido pelos pesquisadores, indicando que não so-

mente são muito mais numerosos, mas também muito

mais qualificados (elevada proporção de titulares de dou-

torado) no Sudeste, sobretudo no Estado de São Paulo.

A habilitação para realizar mestrados e doutora-

dos é periodicamente reexaminada pela Capes (Comis-

são de Aperfeiçoamento do Ensino Superior), do Minis-

tério da Educação, que dá a cada programa de formação

uma nota de 3 a7, com base em critérios qualitativos equantitativos do nível científico do programa. O Qua-dro 09-01 e o mapa mostram a que ponto São Paulo do-mina o panorama brasileiro: com mais de 40o/o em todas

At las do Brasi l

252

as categorias e mais da metade dos progra-mas com a nota máxima, São Paulo se des-taca em todos os indicadores, bem à frentedo Rio de Janeiro. Esse longo caminho per-corrido contou com um grupo de jovensprofessores franceses, do qual faziamparteClaude Lévi-Strauss, Fernand Braudel, Ro-ger Bastide e Pierre Monbeig, que contri-buiu, nos anos de 1930, para a criação daUniversidade de São Paulo.

Descendo das alturas da pesquisa paraanalisar indicadores menos sofisticados, emais sinistros, pode-se, para concluir a aná-lise dessa série, observar rapidamente umramo que mereceria maior aprofundamen-to: a geografia da saúde e da doença. O Bra-sil dispõe de dados de qualidade nesse cam-po, e outros cientistas os têm explorado comsucesso.Vamos nos satisfazer com um breveexame que permita reforçar a análise dasdesigualdades, ainda mais sensível porquese trata da saúde dos habitantes e, literal-mente, de questões de vida e de morte.

Como já se pressentia no mapa da es-perança de vida (Figura 04-07), a situaçãosanitária das regiões periféricas é nitida-mente pior que a do centro. Do ponto deústa sanitário e médico são dois mundos di-ferentes. O mapa de causas de falecimento(Figura 09-77), que apresenta duas causasselecionadas entre dezenas, mostra que oBrasil justapõe situações muito diferentes.As doenças do aparelho circulatório são, damesma maneira que nos países industriali-zados, uma das principais causas de faleci-mentos (pode representar até a metade) nasgrandes metrópoles e nas capitais. Em con-trapartida, as "causas mal explicadas" pÍe-dominam no Nordeste e na Amazônia. Nãoque as doenças sejam particularmente difíceis de identificar, mas porque a coberturamédica é deficiente, e os certificados de fa-lecimentos são preenchidos com menor

09-16. Fesquisadores e doutores

Fonte: CNPq 2002

Número de mestradose doutorados em cadacategoria da classificaçáoda CaDes

ff notasp@@ nota a

nota 5

nota 6

! notal

Fonte: Capes 2002

90

'I

253

Disparidades e desigualdades

ffg-ï7. Ëeaasa de obitos exatidão. É o que confirma o mapa da Figu-ra 09-18, que mostra que os leitos hospitala-res são mais numerosos, em números abso-lutos e em proporção à população, nas gran-des cidades que no campo.Ainda que certosEstados tenham feito um esforço especial,como São Paulo, Goiás e, curiosamente,Maranhão, um dos Estados mais pobres dafederação. Para os centros de saúde, meno-res e mais próximos da população, surgeclaramente a oposição norte-sul, e os trêsEstados do Sul são particularmente bemequipados, bem como o Rio de Janeiro e oEspírito Santo, São Paulo parece menosequipado, mas a rede de hospitais das cida-des médias, próxirnas umas das outras, pro-vavelmente pode suprir essas deficiências.

Como a maior parte desses serüços,tanto de saúde como de educação, é privadae paga, a sua distribuição é largamente de-terminada pela da renda, que no Brasil é so-cial e geograficamente desigual.

ffiesigac*ldades de reruda

Ainda que se saiba que valores médiosdevam ser tomados com precaução e queem relação à renda eles podem ser aindamais imprecisos (haja vista que as diferen-

ças de renda entre as pessoas podem sermuito fortes dentro de um mesmo municí-pio), a distribuição da renda per capita mé-dia em cada município opõe claramentedois Brasis. O que está situado ao sul deuma linha de Rondônia ao Espírito Santoleva uma clara vantagem.

Na escala dos valores, observa-se umavez mais a situação deprimida do Nordeste eda altaAmazônia,onde se situam os piores re-sultados. Nos níveis mais elevados da escalaaparecem municípios dos Estados de SãoPaulo,Rio deJaneiro e Minas Gerais,emboraa sua pequena superfície dificulte a percepção

Proporçáo das doançasdo aoarelho circulatór ionos óbitos

óbitos pordoenças do

0- ____999 k-@ HT-2003 MGM-Libeeéo

Óbitos ligadosa causas malexplicadas*

867rz+ G)

1-

Fonte: MinistéÍio da Saúde, Sistema Unico de Sêúde - Datasus 1988-2000

+sintomas, sinaise ânormaldadesconslalâoos nosexam6s cl tntcos

9.8 e laborâtoriais

2,4

0,3

Atlas do Brasi l

254

no mapa. Caso se considerem as três catego-rias superiores, aquelas onde se dispõe demais de 160 reais mensais per capita, todo obloco do centro-sul é incluído, excetuando-seo norte de Minas Gerais e o centro do Paraná.

Contudo, destaca-se, desta vez, umaárea Iocalizada ao norte de Mato Grosso,que se estende até Rondônia e o sul do Pa-rá, região que, apesar de situada bem aonorte, reproduz as condições do Sudeste edo Sul. Há, certamente, um elemento quefalseia, em parte, o que pode parecer um im-pressionante progresso nessas regiões atérecentemente desfavorecidas: a escassez dasua população puxa para cima a renda mé-d\a per capita,Por outro lado, essas regiões,até há pouco tempo cobertas de cerrados ede florestas, foram valorizadas pelas frentespioneiras da pecuária e da soja, com fatura-mentos elevados, que, compartilhados (desi-gualmente) entre poucas pessoas, elevam oresultado. Esse contexto poderia levar àconclusão de que os desmatamentos maci-

ços produzem vantagens, mas o curto prazonão é a única escala de tempo com a qual sedeve raciocinar, pois tanto a degradação domeio ambiente como a redução da biodiver-sidade trarão custos ulteriores.

O censo demográfico de 2000 traz ín-formações sobre a renda média dos chefesde famflias, em escala de municÍpios, calcu-lada em número de salários mínimos. Comoessas categorias são muito numerosas, fo-rem agrupadas em três conjuntos: menos detrês salários mínimos (que é a definição ofi-eìal da linha de pobreza), de três a dez salárrios mínimos, e mais de dez salários míni-mos (um nível a partir do qual uma famíliapode gozar de uma relativa prosperidade).Grosso modo, "pobres", "classe média" e-ricos". Agregando esses resultados na es-cala microrregional, podem ser produzidosuès mapas que mostram, ao mesmo tempo,

*S-ãS. EquipernenÈo médi*ç

Leìtos de hospitaloor 10.000 habitantes

Leitos de hospital

o-___gE k.@ Hf-2003 MGM-Libergéo

25.908 7z--a10385t-))

2s\ ' -

II

Wtrt

21,0

5,8

2,6

0,8

0,4

0,1 @ tfl12003 MGM-Lìbergéo

Fonte: Ministério da Saúde, Sistema Unico de Saúde - Datasus 1988-2000

Postos de saúdepor 10.000 habi tantes

255

Disparidades e desigualdades

#S-"f 9. Ëemds p+r *epíË*

os efetivos desses três grupos e a sua proporção no to-tal das famílias. Mantendo a mesma escala para os cír-culos proporcionais e, portanto, tornando suas dimen-sões comparáveis nos três mapas, constata-se, primeira-mente, que os pobres são muito mais numerosos que as

outras duas categorias. Mas, se seus efetivos maiores es-tão situados nas grandes metrópoles do Sudeste, é noNordeste e no Norte que a sua proporção é mais forte:mais de dois terços da população nas capitais e mais detrês quartos nas outras cidades.

Rendimento per capitaem 2000 (reais por mês)

aam in{nrmenãn

Ì | lnovos municípios)

20.0%

500 km

@ CDS, HI FMLT-2003 MGM-Libergéo

Fonte: lpea 2002

Atlas do Brasil

256

Gg-zú. TEpos de renda dos responséveis de dçrmieíl ios

Proporção

A classe média é bem menos numerosa e mais con-centrada em São Paulo e no Rio de Janeiro, nas capitaisdo Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste, e, também,em uma série de cidades médias do Sudeste e do Sul,

Responsáveisde domicíl ios

onde chega a representar mais de 40% das famílias.De fato, é lá que se tem a impressão de estar nummundo dominado pela sua presença, seus gostos eseus valores, que evoca paisagens sociais comparáveisna América do Norte.

O terceiro grupo, os "ricos", é mais heterogêneo.Essa categoria agrupa pessoas muito diferentes, jáque ela não tem limite superior e inclui famílias cujosrendimentos poderiam ser contados em centenas desalários mínimos. Em todo caso, sua distribuição émuito clara, calcada sobre a hierarquia urbana, a co-meçar pelas grandes metrópoles: é lá que se reprodu-zem as elites, e onde vão viver aqueles que tentam seintegrar a elas. Seus efetivos são, naturalmente, bai-xos (mesmo assim representam 700 mil pessoas na re-gião de São Paulo). Nessas grandes cidades "os ricos"constituem uma minoria significativa, entre L2o/o e24% das famílias, percentual suficiente para alimen-tar um mercado imobiliário de suntuosos apartamen-tos e fornecer clientela para as lojas de luxo. São Pau-lo reúne, no bairro dos Jardins, uma das mais densasconcentrações mundiais dessas lojas (como a LouisVuitton, a Mont Blanc, a Armani), que conseguem ali

Proporçãodos responsáveis dedomicí l ios que ganhammais de 10 saláriosmínimos*

*206 reâis, êquivâlentesUS$ 100 em 2000

0 500 km

@ ffi2003 MGM-Libergéo

Responsáveispor domicíl ios

ganhando mais de 10salár ios mínimos*

729.361

^ì55011 F^)3000 ry

Fonte: IBGE, Censo Demogéfico 2000

257

Disparidades e desigualdades

Fator I(312,30k)

1 ô5qr ;;;G 447E 223EJ -oo,I . ï

E _s55

Fator l l\74,4%l

I

EEEnreg

805

274

185

92

-92

- 185

-274

@ HT2003 MGM Libergéa

Fonte: IBGE, Censo Demográftco 2000, responsávels de domicí io

(coordenadas * 1000)

F

0_Tq km

G*-ëÊ. F*te>reç s *+rrê#@Ëtsl=qss dre vec=dre

faturamentos entre os maiores de toda a sua redemundial. Nesse bairro, algumas ruas são comparáveisao Faubourg Saint Honoré, em Paris, ou Via del Con-dotti, em Roma.

Utilizaram-se os mesmos dados para uma análisefatorial sobre o conjunto das categorias de renda que ocenso distingue, sem agrupáJas. Duas modalidades deanálise, a análise em componente principal e a análise

Atlas do Brasil

258

das correspondências (aplicadas aos efetivos brutos e àsproporções) dão resultados complementares.

De acordo com a análise em componente princi-pal, a primeira dimensão das disparidades de rendimen-tos é claramente a oposição entre as capitais e o inte-rior: a componente I explica sozinha 85% da variação. Osegundo opõe a pobreza do Nordeste ao restante doPaís, e principalmente ao eixo Santos-Rondônia, o maissignificativo eixo de desenvolvimento, e aos seus pro-longamentos pioneiros, que se estendem até o extremoNorte. Esse é apenas um effo estatístico (os efetivos emcausa são ínfimos) ou pode haver uma prefiguração dofuturo dessas regiões?

A análise das correspondências confirma essa opo-sição na sua primeira dimensão, com pontos fortes ondeera de se esperar, no Estado de São Paulo, no Sul, noDistrito Federal e no norte de Mato Grosso. As zonasdeprimidas estão no Nordeste, principalmente no Mara-úão e no Piauí. O eixo 2 refina a análise da pobreza,distinguindo um tipo nordestino (os mesmos Estados,Maranhão e Piauí, mas também, em menor proporção,as regiões de agricultura familiar do Sul) e um tipo ama-zônico, particularmente freqüente no Estado do Ama-zonas, mas também no leste de Tocantins: caracteriza-sepelo número de famílias sem rendimento algum ou, pe-lo menos, sem rendimento monetário.

Mudando de escala, pode-se analisar o caso doDistrito Federal e Brasília, cidade criada para ser nãosomente a nova capital do País, mas também um mo-delo de harmonia social. Dois mapas que espaciali-zam os dados do censo demográfico 2000 à escala dossetores censitários permitem medir a amplitude dasdisparidades sociais que marcam hoje o Distrito Fe-deral, bem distante dos sonhos de seus fundadores.Nota-se que o ganho de precisão trazido pela mudan-

ça de escala (mais de 2 mil setores censitários no lugarde vinte regiões administrativas) mostra claramentematizes novos na composição interna de certos bair-ros, mas as oposições essenciais que já se observavamà escala grosseira das regiões administrativas conti-nuam as mesmas.

O primeiro mapa (Figura 09-22) considera comoindicador o equipamento sanitário dos domicílios. Por

um lado, os domicílios com quatro banheiros ou mais,muito confortáveis: um banheiro para cada um dosquartos (ou melhor, das suítes), um para os convida-dos (banheiro social), um (ou vários) para as empre-gadas domésticas residentes. As áreas onde esse tipode alojamento é mais freqüente (entre 73o/o e 97o/odos domicílios) são os dois setores residenciais do la-go Paranoá, o lago Sul e o lago Norte. Não previstosno plano de Lúcio Costa, esses bairros de grandes lo-tes, situados na parte mais agradável do DF e próxi-mos aos ministérios e embaixadas, toÍnaram-se rapi-damente os "bairros nobres" de Brasília. Mais ao sul,o "setor de mansões" aparece menos, porque compar-tilha diversos setores censitários com estabelecimen-tos agrícolas suburbanos (chácaras), evidentementemenos equipadas.

No outro extremo, o segundo mapa mostra os alo-jamentos compostos de um único cômodo, em geralaÌugados ou cedidos gratuitamente, domicílios que ocenso separa dos outros domicílios, que são em geralapartamentos (no Plano-Piloto) ou casas (nas outras ci-dades): esse tipo de alojamento denota pobreza, são osalojamentos dos migrantes recentes que esperam umadistribuição de lotes para construir a sua casa. A suaconcentração máxima situa-se no sudoeste da cidade,em Samambaia, no Recanto das Emas e em Santa Ma-ria, e é ainda mais forte nos municípios do entorno doDistrito Federal, as zonas de sua expansão recente forados limites originais.

O mapa da Figura 09-23 se relaciona aos níveis derenda no Distrito Federal declarados no censo de 2000,expressos em número de salários mínimos. Foram agru-pados nas mesmas três classes da escala nacional. A dos"ricos" inclui aqui parcela dos políticos, pois o saláriode um deputado, por exemplo, foi recentemente au-mentado de 7.500 reais (37 salários mínimos) para 12mil reais (60 salários mínimos). Tiatados a seguir emum diagrama triangular que permite situar cada setorem função da distribuição da população entre essas trêscategorias de renda, os dados indicam uma oposiçãoentre três zonas: o Plano-Piloto; o Lago e o setor deMansões (acompanhados das extensões recentes doPlano-Piloto e das cidades-satélites mais consolidadas);

259

Disparidades e desigualdades

*g-ãã. Txpos de der:'r'rãcíEËers ma #ãstritc Federaã

Setores censitárìos urbanos

Setores censitários não-urbanos

I _ -i Parque Nacional de Brasília

e, por último, as cidades-satélites exter-nas. Nota-se que em algumas dessas, co-mo Ceilândia, Gama ou Santa Maria, cer-tos setores estão na categoria média, en-quanto outros são inteiramente povoadospor pobres.

Por último, o mapa daFigura09-24,elaborado segundo o mesmo princípio,

trata dos níveis de estudo dos chefes defamília, agrupados em três classes: me-nos de oito anos de estudos (a partir daentrada na escola elementar), de oitopara onze anos, doze anos ou mais. Acorrelação é evidente, os altos níveis derenda correspondem a mais tempo deestudo e os de baixa renda a menos tem-po de estudo (ou nenhum). Uma análisede correlação estatística confirma acoincidência e revela apenas poucas ex-ceções positivas (renda mais elevada doque deixaria supor o nível de estudos)nas cidades-satélites próximas (onde vi-vem muitos comerciantes e - provavel-mente - delinqüentes). e exceções nega-tivas no bairro da Universidade de Bra-sília, onde a renda média é inferior aoque deixaria supor o nível de estudo dosseus habitantes.

ffi&

Proporçãodos domicí l ios

com quatro'% banheiros

Ou mAtS (7ol

96.9

a1a

46,3

26,7km

U,U@ L{f-2003 M G M-Llberg éo

Proporçãodos domicí l ios

formadospor um só

cômodo100,0

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2O0O

Atlas do Brasi l

260

**-Ëã. FéËw*Ëe qée reatdm ** #cs€rÊãsç F*dereë

Parque Nacional

de Brasí l ia

e0 \ / \ . ,

x : % 3 a 10 saìâr los minlmos

0 5km

@ HT-2a03 MGM Lìbergéo

Nível de renda (em média de salártos

Áiniaoa, por setor de recenseamento)

Mais de 10

De3a10

Menos de 3

Sem ìnformação

Fonte: IBGE, Cen so Demográfico 2ooo

z: 7o menos de 3

salár ios mínìmos 1020

30

40

50

y: % maìs de 10

1 103

60

70

80

'10

90 salár ios minlmos

80

70

20

261

Disparidades e desigualdades

##-Ë€" $HãweËs #e esÉ*c## sÌ# #ã*ËrËÈ* Feder*Ë

Parque Nacionalde Brasí l ia

o 5tm

@ HT-2003 MGM-Libergéo

Nível de estudo(a part i r da entrada no Ensino Fundamental)

De 12 a 17 anos e mais

DeSal lanos

Ivlenos de 8 anos

Sem inÍormação

Fonte: IBGE, Censo Demográfìco 2Oo0

1 407

x:8-11 anos

90

)r1 ,.l,irr,':'10 20 30 40 50 60 70 80 90

Atlas do Brasi l

262

CAPíTULO 1O

A s dinâmicas demográficas, urbanas e rurais, agrí-

fl colas, industriais e terciárias, e as dinâmicas de1 I. fluxos e redes, observadas nos capítulos prece-dentes, têm obviamente efeitos múltiplos e cruzadossobre o território, e são consideradas - ou deveriamsêlo - pelo ordenamento do teÍritóÍio. Em todo caso,são portadoras das visões e propostas, explícitas ouimplícitas, que os atores têm: o Estado, certamente,mas também as autarquias locais, as empresas e os ci-dadãos, para a adaptação do território a suas finalida-des e necessidades.

As questões que derivam dessas múltiplas diligên-cias são, sem dúvida, as de sua compatibilidade e dosconflitos que podem ser produzidos entre elas. A pri-meira idéia é clr:uzar os mapas temáticos que as resu-mem, de forma a produzir matrizes de conflitos e decompatibilidades. Federico Garcia Sobreira (1998) fezum extrato bibliográfico das propostas metodológicassobre esse assunto, notadamente a de MacHarg (1969,em Farraia, 1.989), que define as alternativas de uso múl-tiplo, compatíveis entre si, utilizando a técnica de su-perposição gráúica e produzindo mapas de síntese; ou,ainda, Miíximo Falque (I972,em SEA, 1980). A integra-

ção dos fatores permite produzir mapas de uso do solo,mapas de aptidão e uma síntese de melhor uso do ter-ritório. Com base em mapas temáticos descritivos, evo-lui-se para mapas interpretativos adequados ao planeja-mento, que servirão de base a outÍos mapas, nos quaissão delimitadas as zonas que interessam a usos distintosSua aproximação permite analisar os conflitos existen-tes ou potenciais e, ao final das negociações adequadas,

desenhar finalmente os mapas de uso recomendado.Versão menos ambiciosa pode ser limitada a mapas devulnerabilidade e de riscos naturais em geral, usando aestabilidade das vertentes, os riscos de inundação oude subsidência.

Instrumentos desse tipo, sobretudo o primeiro,visam a produzir um zoneamento ecológico-econômi-co, assunto que atualmente cria conflitos agudos entreos setores sociais e as instituições em causa. Nos múl-tiplos debates em curso aparece pelo menos uma con-vergência, sobre os métodos de análise dos usos possí-veis, que deve ter em conta as vulnerabilidades ecoló-gicas da região e os usos atuais ou previsíveis a curtoe médio prazo, de forma a definir o que a região pode-rá, efetivamente, tornar-se. Esses instrumentos são in-dispensáveis ao planejamento territorial, mas supõemo respeito das classes de uso assim determinadas. Noentanto, as experiências recentes mostraÍam que oprocesso de subdivisão em zonas desembocava unica-mente na elaboração de mapas, raramente seguida deefeitos significativos.

Isto não quer dizer que não tenha havido no Bra-sil políticas de ordenamento do território: elas existem,na escala do governo federal, dos Estados e municípios,ou mesmo na escala das bacias hidrográficas, das re-giões metropolitanas, das associações de municípios,políticas globais ou setoriais, ambiciosas ou mais mo-destas. São essas múltiplas políticas, seguidas de efeitosreais, que transformam realmente o território, entÍan-do às vezes em conflito. Conflitos que as relações deforça entre os atores resolvem se a negociação clássica

263

O rdenamentos do território

falhar. Abundantes, evolutivas, às vezes contraditórias,as iniciativas produzem-se em diversas escalas, não so-mente na das unidades administrativas e políticas men-cionadas, mas também na de subdivisões e agrupamen-tos, em relação à qual a determinação e o uso definem oordenamento do território.

Subdivisões e regionalizações

A criação de municípios, mesmo sendo um bom in-dicador da vitalidade dos dinamismos territoriais (Capítulo 2), implica sérios problemas não somente aos geó-grafos, que freqüentemente sentem a necessidade detrabalhar com escalas menos finas, mas também, e so-bretudo, aos gestoÍes e planificadores do espaço brasi-leiro. De qual escala se pode dispor entre a malha gros-seira dos 27 Estados e a pulverização dos 5.561 municí-pios existentes no País em 2000?

Dois tipos de agrupamentos existem na nomencla-tura oficial, O mais grosseiro é o das mesorregiões: con-tam-se 137, cinco vezes mais numeÍosas que as "Unida-des da Federação" (os Estados, na nomenclatura doIBGE), mas essa escala é pouco utilizada. Preferem-se,em geral, as microrregiões, pois apresentam melhor re-solução geogrâfíca,tendo sido freqüentemente essa aescolha neste Atlas,

Num total de 361 (e posteriormente 369), as mi-crorregiões homogêneas foram delimitadas no final dosanos de 1960 pelo IBGE, para oferecer um úvel médiode difusão dos dados estatísticos. Eram "homogêneas"principalmente de um ponto de vista geomorfológico oubiogeográfico, na perspectiva do tempo "longo" (de1970 aos nossos dias), em conformidade com as trans-formações que se desenrolaram dentro de um quadrosupostamente natural. Mais tarde, compreendendo quea homogeneidade física não servia mais como um crité-rio satisfatório para analisar as transformações do Bra-sil de hoje, os geógrafos do IBGE realizanmum impor-tante trabalho de delimitação de "microrregiões geográ-ficas", utilizadas pela primeira vez na divulgação dos re-sultados do censo populacional de 199t. Em número de558, oferecem um bom compromisso entÍe as mesoÍïe-giões, demasiado vastas, e os municípios, às vezes dema-

siado numerosos paÍa permitir o cálculo de indicadoresestatísticos robustos, emrazão dos seus fracos efetivos.Correspondem melhor que as microrregiões homogê-neas à realidade de hoje, considerando o caráter polari-zado do espaço em inúmeras regiões do Brasil.

Em oposição a essa política de agrupamento demunicípios, o IBGE ofereceu em2002 aos pesquisado-res e aos planejadores uma escala de observação maisdetalhada ainda, a dos setores censitários. Publicou osresultados do Censo 2000 a essa escala, que é a mesmamalha que utilizou parafazer o recenseamento, sendo osetor censitário o conjunto de cerca de mil pessoas quecada agente censitário deveria interrogar. O conjuntodesses dados e a malha gráfica que permite caÍtografá,.lo são vendidos a preços baixos, em CD-ROM: a malhagrâftca para os setores urbanos e rurais (disponível emvários formatos) do Brasil inteiro ocupa dois discos, e osdados, cinco, um para cada grande região do País.

O mapa dos setores rurais (Figura I0-02),que sãoquase 200 mil, refina sensivelmente a imagem dada pe-los municípios, que são aproximadamente 5 mil. O con-traste essencial entre a ocupação densa do litoral e aocupação mais extensiva do interior persiste evidente-mente, A dimensão da malha que corresponde a milpessoas é muito menor nas regiões litorâneas, de ma-neira que os contornos confundem-se no mapa. Em re-lação ao mapa dos municípios, a diferença principalaparece no interior, onde se destacam bem os rios (so-bretudo o Amazonas e seus afluentes) e as estradas, co-mo a Belém-Brasília, que deu nascimento a uma largazona de povoamento, a BR-364, claramente visível emRondônia, e a Tiansamazônica, mais recente, cujo traçoé mais estreito.

Os setores censitários urbanos (para todas as ci-dades com mais de 25 mil habitantes) permitem, igual-mente, uma melhor abordagem dos contrastes intra-ur-banos e análises mais detalhadas das disparidades so-ciais, pelo menos daquelas que descrevem as variáveisdo censo demográfico de 2000. No caso de Brasília,por exemplo, o detalhamento passa de uma malha for-mada por 21 regiões administrativas a2.673 setores cen-sitários, dos quais 2.336 são setores urbanos. Do pontode vista de resolução é um benefício importante, pois

Atlas do Brasi l

264

10-G'8. MEeno @ rnescrregi#es

permite, por exemplo, delimitar os bairros onde predo-minam os cômodos, destinados principalmente aos imi-grantes recentes (Figura 10-03).

O acesso aos dados estatísticos localizados pareceser, paradoxalmente, mais fácil no Brasil que na França,velha terra de estatísticas públicas. A tradição estatísticaherdada do período colonial português foi mantida e,apesar das restrições comuns às instituições públicas, oIBGE é capaz de fornecer dados bem detalhados em li-vre acesso, façilitado pelo desenvolvimento rápido daInternet. O site do IBGE (www.ibge.gov.br), contraria-mente aos de certos organismos estatísticos euÍopeus,permite o acesso direto aos dados mais recentes, que po-dem ser baixados gratuitamente.

Em oposição a essa vontade de servir-se de escalasde análises cadavez mais detalhadas, as necessidades dagestão administrativa e política incitaram a criação deregiões compostas de Estados que apresentam caracte-rísticas próximas, em função da necessidade do governofederal de realizar uma gestão regional, diferente dasespecificidades dos Estados.

A diüsão regional utilizada hoje parece, paÍa amaioria dos brasileiros, sempre ter existido, porque tem

Fonte: IBGE

contribui piÌÍa a construção de mapas que podem servirà análise das dinâmicas sociais, territoriais e ambientais.Para São Paulo, o detalhe é ainda maior, visto que omunicípio é dividido em mais de 13 mil setores, o que

265

O rde n a m e ntos do território

10-02. Setores censitários

Setores censitários rurais,de acordo com o censodemográfico 2000

Fonte: IBGE

servido de base, há décadas, à regionalização de todas asagências governamentais e também às empresas, asso-ciações profissionais etc. É que, assim como em outrospaíses do mundo, se existem semelhanças evidentes, hátambém casos limítrofes, vinculações ambíguas. Não

ocorrem só porque os Estados são grandes, mas poÍ-que rerinem regiões que apresentam caracteres que asaproximam mais do conjunto vizinho que do resto doseu teÍÍitório: o noroeste do Maranhão, geralmentequalificado de "pré-Amazônia", é mais amazônico que

Atlas do Brasil

266

nordestino, ainda que o Maraúão oficialmente façaparte do Nordeste. Isso é tão evidente que a região foiincluída na Amazônia Legal, continuando ao mesmotempo, até sua Íecente supressão, na competência da

10-03. Cômodos na cidade de São Paulo

agência de desenvolvimento do Nordeste, a Sudene. Éum reconhecimento de seu caráter específico, mas, so-bretudo, uma boa ocasião para as oligarquias locais seaproveitarem das duas fontes de incentivos.

- r .

0 10km

@ Hl-2003 MGM-Libeígéo

Proporção doscômodos no total

dos domicí l ios97,5

C,Y

0.8

0,0

Número decômodos

425 7_\1j6 tZ_\ )

1-:L/

267

Ordenamentos do território

'Ë # - l* 4. SÈu f;:r'{,",' È ff 'j; # r:r u;1, *t gl 1r-3 r * +'r rÏ,* :s l: * :.;; I cl + s

NORDESTEOCIDENTAL

NORDESTEOBÌENTAL

LESTESETENTRIONAL

LESTEMERIDIONAL

0;9911km@ HT-2003 MGM-Libergeo

Fonte lBGE, Anuário Estatístico

CEN

Atlas do Brasi l

268

A regionalização atual é tão pou-co eúdente que foi necessário muitotempo para definí-la. Estados passa-ram de um grupo a outro: na regionali-zação de 1940, Minas Gerais estavaunido ao "Centro", enquanto São Pau-lo e Rio de Janeiro constituíam partesdo "Sul"; o Nordeste estava reduzido acinco Estados, e a Bahia, que parecehoje ser, sob vários aspectos, nordesti-na, formava com o Espírito Sânto a re-gião "Leste". Em 1945, levou-se maislonge a preocupação de pormenores,dividindo em dois tanto o Nordeste(onde foram incluídos o Maraúão e oPiauí) quanto o Leste, do qual o Riode Janeiro faziaparÍe - dois blocos cu-ja existência foi curta, visto que em1950 foram reunificados. Em 1970, asregiões atuais já estavam praticamenteconstitúdas: o Sudeste incluía tanto oRio de Janeiro quanto São Paulo, e oSul se reduzia a três Estados. As inter-venções posteriores foram apenas pararetoques, ligadas às mudanças do ma-pa dos Estados: subdivisão de MatoGrosso, em1979 (sem conseqüênciaspara as regiões), e de Goiás, em 1988 (que fez passaro novo Estado do Tocantins para a região Norte). Es-sas regiões serão ainda alteradas? E difícil dizêJo,mas é bem verdade que elas não têm mais grande pa-pel desde a extinção, em 2001, das duas últimas gran-des agências de desenvolvimento, a Sudene (Nordes-te) e a Sudam (Amazônia), e a instauração de um pla-nejamento territorial fundamentado em nove eixosque recortam suas fronteiras. Esse fato pode-se alte-rar com o governo instaurado após a eleição de LuizInácio Lula da Silva, que anunciou sua intenção dereconstituir a Sudene. De qualquer modo, indepen-dentemente das decisões políticas, essas regiões per-manecerão tanto como quadro estatístico cômodoquanto na percepção dos brasileiros, que se habitua-ram a elas.

10-05. Frogramas eccnôrnicosde integração naciçnal

Região geoeconômica de Brasília

0 500 km

@ Hl-2003 MGM-LibeÍgéo

Fonte: Becker e Eglet BÊsì|, um Potência Econômì@ Begional na Economìrmundq1995

Entre as políticas de ordenamento do territóno sedestacavam, até há pouco tempo, as políticas de integra-

ção nacional e de desenvolvimento regional, que visa-vam a reduzir as desigualdades entre as regiões pormeio de investimentos capazes de provocar um cresci-mento econômico e social nas áreas subdesenvolvidas.A Figura 10-05 mostra aquelas políticas que tinhamuma definição espacial, ou seja, que üsavam a uma re-gião bem definida. Datando dos anos do regime militar,especialmente entre 1970 e 1985, apoiavam-se sobre su-perintendências de desenvolvimento regional - Sudam,Sudene, Sudesul e Sudeco, respectivamente encarrega-das da Amazônia, do Nordeste, do Sul e do Centro-Oes-te, pois o Sudeste paÍece poder se desenvolver sozinho.Além disso, diversos programas especiais foram formu-lados, utilizando, em geral, créditos internacionais, mas

269

Ordena mentos do território

10-06. f,egiões de planificação

Regiõesgeopolít icas

dos mil i taresx

Regiões reservadas

- Esïrada

"""' FerÍovia

..... HÌdrovia

"de acordo com Golbery do Couto e Si lva

Agênciasregronars

Eixos nacionaisde integração e

desenvolvimento

ïubarão

de Janeiro/Sepetiba

0_ jE k.tO HT2003 MGM-Libergéo

Fonte: IBGE. lvl icrodados do Censo DemográíÌco199j

@ Zona de Íronteira

@ Amazônia Legal

ffi Polígono da seca

Atlas do Brasil

270

nem todos foram implementados. O programa Poloa-mazônia era constituído por pólos minerometalúrgicose pólos agropecuários; o progÍama Polonordeste visavaao desenvolvimento das várias sub-regiões promissoras,enquanto a Codevasf concentrava-se principalmente nairrigação do vale do São Francisco. No Centro-Oeste,três programas visavam a regiões que pareciam bem do-tadas, incluído também o desenvolvimento da bacia doParaguai e do Pantanal e os arredores de Brasflia. Porúltimo, no Sul, a tônica dirigia-se ao norte do Paraná,então em dificuldade pela crise do café, o litoral do San-ta Catarina, sobretudo Criciúma e o porto de Tübarão, ea fronteira meridional do Rio Grande do Sul, nas re-giões de Uruguaiana, Santa Maria e Pelotas.

Outros tipos de planejamento e de ordenamentoforam realizados em função de objetivos diferenteg comevidentes conseqüências nos espaços envolvidos. Os mi-litares priorizavam os objetivos geopolíticos, em espe-cial a integração nacional pelos transportes. Os planeja-dores, no âmbito das agências regionais, priorizavam asnecessidades mais urgentes de desenvolvimento. Os res-ponsáveis pelo comércio exterior focalizavam os corre-dores de exportação que ligavam as regiões produtorasaos portos: para Itaqui/Ponta da Madeira convergiamos minérios da proúncia mineral de Carajás; para Vitó-rialTtrbarão e Rio de Janeiro/Sepetiba, os minérios deMinas Gerais; para Santos e Paranaguá, a produçãoagrícola do Centro-Oeste e do Paraná. Zonas de açãoespecíficas foram desenhadas para a proteção das fron-teiras, correspondentes a uma faixa de 150 quilômetrosde profundidade;para a ocupação do território amazõ-nico, a Amazônia Legal, zona de ação da Sudam; para aluta contra a seca, no Nordeste, o poígono da seca, zo-na de ação da Sudene.

As regiões amazônica e nordestina eram conside-radas aquelas de situação mais crítica. O Centro-Oestee o Sul não foram objetos de um plano global (e as agên-cias regionais responsáveis pelo seu desenvolvimentoforam suprimidas). Contudo, ações específicas foramdestinadas às regiões mais deprimidas ou mais promis-soÍas, o que teve a vantagem de evitar vê-las como ho-mogêneas, contrariamente ao Nordeste, freqüentemen-te reduzido, de maneira abusiva, ao problema da seca.

Por último, a retomada do pensamento e da açãode planejamento territorial, nos anos de 1990, traduziu-se na definição dos Er.ros Nacionais de Integração e De-senvolvimento, que serviram de referencial à política dedesenvolvimento dos planos plurianuais t996-1999 e2000-2003.

Ordenamentos setoriais

Os ministérios, as autarquias, as empresas e outrosprotagonistas da gestão do território têm cada um suavisão própria, em função dos seus objetivos, e uma ma-neira diferente de abordálo e de transformálo.

Em princípio, o ministério responsável pelo orde-namento do território - o Ministério da Integração Na-cional (sucessor, após diversos episódios, do antigo Mi-nistério do Interior) - criou figuras novas de ordena-mento, as "mesorregiões diferenciadas" (Figura 10-07).Implantadas no âmbito do Programa de Espaços Priori-tários do Programa Plurianual (PPA) 2000-2003, üsa-vam a criar um instrumento e mecanismos para uma po-lítica nacional de apoio ao desenvolvimento, de articula-

ção das políticas setoriais, de mobilização dos agentessociais e de formação de quadros locais. Tiatava-se deprocurar um novo modelo de gestão, que desenvolveriaações, em parceria, de ordenamento do território, trans-feriria competências aos Estados e municípios e incenti-varia a participação de seus cidadãos, por meio de con-selhos estaduais e municipais. Situadas principalmenteem regiões periféricas, com exceção dos arredores deBrasília e da baía de Guanabarâ, essas regiões tinhamdimensões e problemas muito diferenciados. Por exem-plo, a região do Alto Solimões era formada de apenasnove imensos municípios, enquanto a Grande Fronteirado Mercosul contaYa com4l2.

Ao analisar o dispositivo do Exército, segundoCatherine Prost (2001), nota-se um sentido evidentedo equilíbrio e uma manifesta vontade de coberturaterritorial. As sedes das diüsões, com exceção daque-las do Recife e de Campo Grande, estão todas situadasno Sudeste e Sul; sobre um eixo que vai de Minas Ge-rais ao Rio Grande do Sul. Evidentemente, resulta deum resquício do tempo em que o inimigo potencial era

271

Ordenamentos do território

a Argentina, e sem dúvida também um reflexo do recru-tamento principal do Exército, já que rnuito oficiais sãooriginários do Sul. Mas os cornandos militares são bemdistribuídos, à :,azão de um por grande região, mais um

10-0?. Ãs "mesorregiões difereneiadas"do Ministério da lntegraçãs fl lacional

em Brasília (somente o Sudeste tem dois, no Rio de Ja-neiro e em São Paulo). As brigadas também são distri-buídas em todo o território nacional. Para as "guarni-

ções especiais", presentes em todo o interior, incluindo

Fora das mesorregióes

I Águasemendadas

f Vate do Jequitinhonha-Mucuri

Bacia do ltabapoana

Fundão da Baía da Guanabara

Vale do Ribeira-Guaraqueçaba

Grande Fronteira do Mercosul

! Metade Sul do Rio Grande do Sul

f__l Atro Sotimóes

I vate do Rio Acre

! Entornode Manaus

I ttnas do Baixo Amazonas

lïilli] glco do Papagaio

! Chapada das Mangabeiras

I Chapada doArar ipe

Cristalino

Zona da Mata Canavleira

Xingó

Fonte: Ministério da Intêgrâção Nacional

0 500 km

@ t{tr SR-2003 MGM-LÌbeeéo

Número de municípios

Atlas do Brasil

272

as regiões mais distantes e ausentes do Sul-Sudeste(com exceção das regiões pré-nordestinas de Minas

Gerais e do Espírito Santo), essa intenção é ainda mais

clara. As que estão classificadas como "primeíta cate-

goria" cobrem o Nordeste, Goiás, sul do Mato Grosso e

€#-*ff" # dispcsitËvs territçrEaE de FNéneíËe

Rondônia; as de "segunda categoria" cobrem a Amazô-

nia e as fronteiras do Mato Grosso do Sul.Além das ações setoriais dos ministérios e das

grandes autarquias, o Estado teve, nos anos recentes,

outra forma de ação, rompendo com uma tradição de

*

OoC

a

Fr=rrì

Brigada

Comando Mi l i tar

Regiáo Militar

Divisão do Exército

Guarnição especial de 1'categoria

Guarniçáo especial de 2" categoria

Zona de Íronteira

500 km

@ Hr-2003 McM-Libergéo

Fonte: De acordo com CatheÍìne prost, Orgânisation et rôle politìque de lArmée au 8rési1 tesê oriêntada porYves Lacoste, Universidade ParisVlll, Paris, jan 1999

273

O rde n a m e ntos do te rritÓrio

Companhia

Ferrovia Centro-At jânt ica S A (FCA)

Ané, ica Lat ina Log sr ica oo Brasi l S A

Companhra Ferroviár ia do Nordeste S A (CFN)

Ferrovras Banderrantes S AFerroban (ant iga Fepasa)

MRS Logist Íca S A

Ferrovia Novoeste S A

Estrada de Ferro Vi tór ia-MinasFeirâ.Jâ . lê Far.n í^arai :c

Ferrovias Norte do Brasi l (FerronorÌe)

í 'nmn:nhia Pl , l ic+r da

Trens Metropol i tanos (CPTM)

Corrpar l" 'a Brasrerra deT'ers Urbaros ÍCBTUt

Ferrovia Paraná (Ferropar) (1)

Ferrovia Norte-Sul (2)

Estrada de Ferro do Amapá

FerroviaTeresa Crist ina S A (FTC)

Companhra Fluminensede Trens Urbanos (Flumrtrens)

Estrada de Ferro do Jar i

Esraoa oe Ferro Campos do Jo'dào

Estrada de Ferro da Mineração Rio do Norte

Empresa de Trens Urbanosde Porto Alegre (Trensurb)

Estrada de Ferro Paraná Oeste S A(Ferroeste) (3)

:onÌe Corìpanr as feí 'ov ár as

Linhas(qui lômetros)

70806 5344 238

4 2351 674I ozo

90589240J

274z3l

248200194164

121684735

34

Receitas(R$ 1.000)

244 821299 30620.053

115 958594 679

51 526t79 42126418046 797

5 245

1 69528 707

510

Pessoal

2 5902 018

694

3 1742 988

6392 6911 234

290

4 518

66

92142

291 380

60

1 041

Mercador ias(mi lhóes detoneladas)

LOIU

10 280710

5 06026 830

1 59056 67043 880

580

400

340

Passageiros

1 031474

271.175

37.739

9206010

280

.:::=i

intervenção que remonta aos anos de 1930: privatizounumerosos setores sobre os quais detinha o controle.Durante os oito anos dos dois mandatos de FernandoHenrique Cardoso, foram postos no mercado (vendidos

em leilão ou cedidos por concessões de serviços públi-cos) a siderurgia, as redes de telefonia fixa e móvel, asestradas de ferro, as estradas de rodagem e vários ban-cos. O efeito dessa política, em termos espaciais, foi di-vidir o País em "blocos", leiloados separadamente, blo-cos cujas dimensões e preços de venda (e mais ainda ospreços obtidos no leilão) dão uma boa idéia dos pesos

relativos dos diferentes subconiuntos regionais.

At las do Brasi l

Para as ferrovias não menos de 21 concessioná-rios compartilham entre si as redes, até há pouco públi-

cas ou já privadas. Os concessionários iniciaram suasopeÍações em dezembro de 1996 (FTC), fevereiro de1997 (MRS), março de 1997 (ALLIFSA), julho de 1996(Novoeste), setembro de 1996 (FCA). janeiro de 1998(CFN) e janeiro de 7999 (Ferroban). O Quadro 10-01e a Figura 10-09 mostram a configuração atual e a fu-tura das diferentes redes. Essas redes, que raramentetransportam passagelros e lnteressavam aos compra-dores somente emrazão de seu potencial para o trans-porte de mercadorias, estão em expansão; novas l inhas

274

Ferrovias

- Em funcionamento. . . . . . . ' Fm.^Âc+r".ã^

rrr EmprojeÌo

As cores ident i Í icamas companhias concessionárias

Fonter Anuário Estatístico dos Tfansportes

FonÌe: Atlas dã Enetoia Elétrìcd.2002

ïf l-f l$" As *oneessionárias de prEvatleaçãe

Fonte: Anatel

estão construção, principalmente para oescoamento da produção de grãos, priori-tariamente a soja, no Centro-Oeste.

Quanto ao telefone, o território na-cional foi compartilhado em dez zonas depotenciais semelhantes, mas de extensõesextraordinariamente desiguais: a cidadede São Paulo formava rma zora, enquan-to era necessário todo o Centro-Oeste,mais Rondônia,Acre e Tocantins para for-mar outra, com número menor de consu-midores, mas com potencial de crescimen-to superior. Jápara a distribuição elétrica,nenhuma zona excedia a dimensão de umEstado, visto que era, em geral, a compa-nhia pública do Estado que era vendida,tal qual ela se encontrava. Em alguns ca-sos, contudo, apivatização fez-se em esca-la mais local, por unidades que cobriamuma parte do Estado (como nos casos doRio Grande do Sul, de Sergipe ou de SãoPaulo) ou ainda territórios menores, na es-cala das cidades, como no Paraná ou nonorte do Rio Grande do Sul.

O gás é um dos elementos damatrizenergética que tem se desenvolvido maisrápido nos últimos anos (Capítulo 3), esua disponibilidade define duas regiões

275

Ordenamentos do território

ïü-fü. Um recurse enËrgétlee de futusrs: o gás

Gasoduto

Em funciOnamento -

Fm ^^^cr i

rê i^ -

Em projeto ' . " '

500 km

Fonte: ANEEL, Atlas da Energia Elétríca do Brasil, 2OO2

@ HT-2003 MGM-Libergeo

Atlas do Brasi l

276

diferentes.A primeira, não conectada às outrag é situa-da no Nordeste, alimentada por recursos locais (Bahia,Rio Grande do Norte), distribuídos por gasodutos igual-mente regionais. A segunda, no Sudeste-Sul, é alimenta-da pelas jazidas dos países vizinhos, Bolívia e Argentina,

10-11. Ritrno de equipamento elétrico

através de gasodutos recentemente construídos ou aln-da em construção. Essa nova rede, ao longo da qual se-rão construídas centrais térmicas e fábricas que utilizamessa fonte energética abundante, flexível e limpa, pode-ria se conectar a uma terceira, que se esboça em torno

Data de construçãodas usinas hidroelétr icas

a 1986-1999

a 1969-1986

@ 1945-1969

O 1904-1945

Futuras usinas hidroelétr icas

CooO4W

de 1000 a 2000 MW

de 100 a 1000 MWde 20 a 100 MW

em construçãoem proleto

0 500 km

@ HT-2003 MGM-Lìbeígéo

Fonte: ANEEL, ÁÍlás da Energia Elética do Brasil

277

O rde n a m entos do te rritó ri o

da jazida amazônica de Urucu. Até o momento, só o pe-

tróleo chega até Coari e de lá, por via fluvial, à refinaria

de Manaus. Um vasto projeto de construção de gasodu-

tos foi elaborado, mas enfrenta resistências por parte de

ambientalistas, em função dos impactos que pode cau-

sar. Esses elementos de uma nova geografia energética,

complementar à atual, maciçamente baseada sobre a hi-

droeletricidade e o petróleo, possuem efeitos estrutu-

rantes importantes, tanto para as referidas regiões bra-sileiras como para os países vizinhos.

Essa contribuição é tão necessária quanto bem-

vinda, üsto que os recursos apropriados estão distantes

das regiões consumidoras. As primeiras centrais hidroe-

létricas foram construídas no início do século XX, nosEstados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Ca-tarina, próximas das cidades onde a energia era consu-mida, utilizando os potenciais dos rios Grande, Parana-panema, Iguaçu e Uruguai. As fases seguintes aprovei-

taram e equiparam os outros grandes rios do Sudeste,

sobretudo o sistema Tietê-Paraná e o São Francisco, e

foram construídas algumas usinas isoladas na Amazô-

nia, como a de Tucuruí. Desde a metade dos anos de1980, é nessa região e no Centro-Oeste qqe foram insta-ladas as novas centrais, apesar de grandes dificuldadespara o acesso, a construção e o escoamento da produ-

ção. Tiata-se claramente de um fenômeno de difusão do

centro para a periferia, como confirma a localização dascentrais projetadas, em especial sobre os rios Araguaia

e Tocantins. O problema essencial que cria essa novaconfiguração é que se as barragens do Norte têm poten-

ciais importantes, freqüentemente mais elevados que asdo Sul, em contrapartida o interesse em termos de mer-cado é limitado pela fraqueza do consumo local e pelas

distâncias em relação aos grandes mercados nacionais,exigindo transportes a longa distância cujas tecnologiasainda não são completamente dominadas. Todo esseprocesso torna crucial a constituição de uma intercone-xão, na qual o eixo Araguaia-Tocantins desempenha umpapel essencial (Capítulo 8, Figura 08-25).

Outro elemento importante de uma política deordenamento do território, ainda que não seja concebi-

da como tal nem tocada pelo ministério que tem a suaatribuição explícita, mas que de fato contribui para o

ordenamento,é auiagão de reservas naturais e de ter-ras indígenas (sob a responsabilidade respectiva dos Ministérios do Meio Ambiente e da Justiça, Figura 10-12),que ocorrem principalmente nas regiões periféricas.Destaca-se em primeiro lugar a Amazônia, onde as su-perfícies consagradas a esses dois tipos são muito supe-riores ao que pôde ser feito nas regiões litorâneas, por-que a pressão das atividades rurais e urbanas não liberaespaços suficientemente vastos para a criagão de novasáreas. Nessas regiões, se o número é elevado, as superfí-cies em causa são modestas, pelo menos à escala do con-tinente americano, exceto no Estado de São Paulo, ondeum esforço especial foi feito em decorrência da pressãode cientistas e ONGs.

Esses segmentos, unidos aos seus equivalentes es-trangeiros na Europa e na América do Norte, são a ori-gem da pressão que incitou os governos brasileiros apreocuparem-se mais com a preservação do ambiente,por um lado, e com 4s populações indígenas, por outro.Programas com financiamentos internacionais, como oProgramp Nacional para o Meio Ambiente (PNMA) eo programa-piloto para a proteção das florestas tropi-cais do Brasil (PPG7) eontribuíram muito para o cresci-mento das cupçrfÍçies consagradas aos dois tipos de re-ggr-\'as, Por iniçiativa da W\MF e do Bird, outro progra-ma governamental, conhecido por Arpa, está em cursopara assegurar a proteção deI0% da superfície de cadagrande ecossistema, sobretudo na floresta amazõnica.Esse programa visa não somente à criação de novas re-servaq mas também à consolidação e à manutenção dasque existem (às vezes, apenas no papel). Além disso, in-clui quatro reservas extrativistas e unidades de proteçãointegral, cujo objetivo é contribuir para a formação de"corredores ecológicos".

O PPG7, financiado na proporção de 80% pordoações do G7 e de20o/o pelo governo brasileiro, par-te do princípio de que é vilal criar vastos conjuntosprotegidos, ligando entre si as reservas existentes, ain-da que de natureza e jurisdição diferentes, em regiõesonde a preservação do ambiente é prìoritfuia. O pro-jeto definiu cinco desses corredores na Amazônia, cu-ja superfície total excede 1,5 milhão de quilômetrosquadrados (Figura 10-13) e dois na mata atlântica,

Atlas do Brasi l

278

que é um ecossistema de imensa biodiversidade par'

ticularmente ameaçado.Os corredores amazônicos, principalmente o corre-

dor central da Amazônia, o projeto mais avançado e que

serve de piloto, afetam principalmente o Amazonas, o

'EG- ï ?. Territórios legalmente protegidos

Amapá, o Maranhão e o Tocantins. Os corredores da

mata atlântica afetam superfícies bem menores e úsam

principalmente à preservação dos últimos resquícios des-

se ecossistema extremamente degradado. O projeto é

muito contestado por certos grupos políticos brasileiros,

Tipo de unidade de conservação

Uso sustentável

I Proteçáo integral (proteção e pesquisa)

f-I Proteção integral implantada projeto Arpa

@ Proteção integral criada pelo projetoArpa

Reservas extrativistas criadas pelo projeto Arpa

Terras indígenas

Ëffi Reserva delimitada ou em pÍocesso de delimitação

Sqpedíçie gm hectares(Íora de ArnpzQnia)

aÍ 1300000\d- 100.000

Fonte: IBGE, Ministér io do Meio Ambiente, Funai

0 500 km

@ Hf-2003 MGM-Libêrqéo

2t9

Ordenamentos do território

ïS-ï3. #s corred*res e*oËergtuo* pois consideram que prejudica a soberanianacional, o que pode comprometer sua im-plementação. A Câmara dos Deputados eo Senado exigiram amplas consultas públi-cas, e não somente a ONGs e a comunida-des locais.

Embora a finalidade das terras indíge-nas não seja a mesma que a das unidades deconservação, o seu papel não pode ser des-prezado no ordenamento do território, so-bretudo na Amazônia. O mapa de sua loca-lização e população (Figura 10-14) opõe, deum lado, terras muito pequenas (a tal pontoque seu contorno não é visível no mapa) emuito povoadas, no Sul e no centro-sul doPaís, e de outro, terras muito vastas e fraca-mente poyoadas, no Norte. As densidadessão, conseqüentemente, muito diferentesentre os dois conjuntos, com situações críti-cas no Nordeste e nas fronteiras ocidentais,do Mato Grosso do Sul ao Rio Grande doSul. Os Estados mais desenvolvidos e urba-nizados não contam praticamente com essasterras, tendo sido lá a "questão indígena"resolvida mais cedo, e de maneira brutal.

Em contrapartida, no Norte as terrasindígenas são numerosas e vastas. Uma con-centração particularmente forte marca asfronteiras, ao longo de um arco que vai daBolívia à Guiana Francesa, porém todos osEstados amazônicos são afetados, pois 387das 587 terras indígenas do País estão situa-das na Amazônia. Essa situação é o reflexoda evolução no tempo da concepção que asociedade brasileira tem a respeito da im-portância dos grupos indígenas. A visãoatual, baseada no respeito do direito à exis-tência dos grupos indígenas tradicionais eseus territórios, impôs-se somente após osanos de 1970, embora o princípio da delimitação das terras indígenas e de seus direitosesteja reconhecido desde a Constituição de1934. No entanto, a prioridade era dada, no

o equivalente àssuperfícies reunidasde França, Alemanha,Espanha e PortugalA do corredor central cotrespondeà do Reino Unido

ffi

I

ffi

Limlte do corredor

Uso sustentável (parque Íederal)

Uso sustentável (parque do Estado do Amazonas)

Proteção integral (parque Íederal)

PÍoteção integrêl (parque do Estado do Amazonas)

Reservas extrativas criadas pelo projeto Arpa

Reserva indígena

Fonte: Ministério do lvleio Ambiente. SCA

corredor central de Amazônia

Atlas do Brasi l

2AO

melhor dos casoS, à sua integração, e não à demarca-

ção de suas terras. Recentemente, após a Constituiçãode 1988, o direito à terra passou a ser a regra legal,

devendo a delimitação traduzir-se em demarcação fí-

sica, pois o território considerado é o que garante aos

10-14. As terras e os povos indígenas

grupos indígenas os meios de subsistência e a manu-

tenção das tradições. O reconhecimento social dos in-

dígenas passa pelo reconhecimento fundiário de seusterritórios, que desempenham um papel capital na suareprodução social.

Densidade de povoamento indígena

ffi

107,00

12,00

1,20

0,17

0,02

População indígena em 200213 6003 500

30 500 km

@ HT-2003 MGM-Libergéo

Fonte: Funai. 2003

281

O rde na m e ntos do te rritóri o

Situaçáo jurídicadas terras

[- l A Ìdentificar

-

- - l t r - i r lont i í inanãn

I ldent i f icada

ffi DelimitadaFm.lêmâr.â.á^

f Demarcada

W Homologada

! Registrada

f- 'l

Sem informação

Fonteì Funaì, matÇo 2OO2

GS-G5. A sË€ue+ã+ Ëur{dËea des Ë*rsss tru*$üguc"ttts

As terras indígenas ocupam na Amazônia Legal umasuperfície total de 97 milhões de hectares, 34,5 dos quaisno Estado do Amazonas, ou seja, quase 22o/" de sua exten-são, onde se agrupam 41% dos grupos indígenas da re-gião. Algumas terras localizam-se em lugares atravessados

ou limitados por infra-estruturas de transportes, como aBR-174, que cruza a reserva dos uaimiri-atroarig ou a hi-droüa do Madeira, que delimita cinco terras indígenas.

A situação jurídica e fundiária das terras indígenasé, nos dias de hoje, relativamente favorável, visto que a

Atlas do Brasi l

282

maior parte está registrada - última fase do processo de

demarcação. Como esse processo não conta com menos

de dezesseis fases, nem todas o completaram, e a Figura

10-15 mostra em qual das etapas cada uma delas se encon-

tra. Aquelas que estão ainda a identificar ou em curso de

r#.r f f i "VËgEËâmcãmËram*frgmteinEçaeterrãt6r imsespeeÊeis

De acordo com Lia Osório Machado' UFRJMurilo Cardoso de Castro, UFRJ

Letrcia Parente Bibeiro, Reoeca Sre nnan

tonlet Tera Limitanea, Atlas da Frontetra

ContÌne ntal do B ras i l, IBGE, Ministério

da Saúde. Receita Federal, Polícia Federal

O 500 km

@ Hí2003 MGM'Lìberqéa

identificação são normalmente aquelas onde vivem gru-

pos ainda não contatados, cujas referências se devem

unicamente aos sobrevôos de seus territórios' Em pelo

menos três Estados - Acre, Patâ e Amapá -, mais de

60% das terras estão registradas; no Maranhão e em

@

Vigi lâ ncia fronteir iça

Vigi lância sanitária

Polícla Federal

Recelta Federal

Zonas especiais

I "Portos secos"

f Zona de llvre-comércio

@ Zona Franca (Países vizinhos)

Zona oÍlcial de fronteira(150 qui lômetros)

283

Ordenamentos do território

Tocanting quase todas, à exceção das terras Javaé e BotoVelho, em Tocantins, e das terras Guajá e Amanaié, noMaranhão. No Pará restam somente duas terras em pro-cesso de delimitação (Maranduba e Pacajá) e duas emcurso de identificação, uma das quais,Tiombetas-Mapue-ra, se estende aos Estados de Amazonas e Roraima. EmRoraima, entre 31 terras indígenaq dez não estão aindadelimitadas; é nesse Estado que se localizam os conflitosmais agudos entre grupos indígenas e proprietários detenas, com títulos mais ou menos legítimos, que se opõemao recoúecimento das terras indígenas.

Assunto essencial de toda política de ordenamen-to do território, as fronteiras são objeto de vigilânciaatenta de vários serviços públicos, O Exército tem umnúmero considerável de guarnições no interior dazonaoficial de fronteira, de 150 km de profundidade (Figura10-08), mas os principais pontos de passagem são tam-bém controlados por outros serviços (Figura 10-16). APolícia Federal controla o movimento de pessoas; a Re-ceita Federal segue o fluxo de mercadorias, e a Vigilân-cia Sanitária (Ministério da Saúde) está encaffegada deproteger a saúde da população e a qualidade de seus ali-mentos. A densidade desses pontos de controle é, evi-dentemente, maior no sú, onde existem numerosos e fá-ceis pontos de acessq do que no norte, onde eles são raroge o acessq dificílimo. Nota-se, porém, que há uma boa úgi-lância sobre a rodoüa que liga Roraima à Venezuela, emais ainda nos pontos fluviais com a Colômbia, onde asameaças da guenilha e do narcotráfico são consideradascom muita seriedade. Mas as fronteiras não representamapenas ameaças,pois são também lugares de trocas,ezoniÌsespeciais (portos secos, zonas francas e zonas de liwe-co-mércio) foram criadas de um lado e de outro do limite, pe-lo Brasil e pelos países viziúos. Isso não quer dizer que elasnão sejam ügiadag e constata-se que os postos de controlecoincidem com as zonÍìs de liwe-comércio.

Ëixos de integraçãoe desenvolvirnento

O período que se segúu à restauração do regimedemocrático, em 1985, foi marcado por um quase desa-parecimento do planejamento territorial e por uma

multiplicidade de ações pontuais e meramente seto-riais, efetuadas sem coordenação pelo governo federale pelos Estados. O último plano nacional tinha sidoelaborado quando da "Nova República", logo após oretorno da democracia ao País, mas foi implantadoapenas parcialmente. A ação planificadora do governocentral que, no imaginário político-social, representa-va o símbolo do autoritarismo do regime militar nãofoi incentivada e perdeu muito de sua importância. Ospoderes locais defrontavam-se com sérias limitaçõesfinanceiras e procuÍavam principalmente resolverseus problemas sociais.

Na segunda metade dos anos de 1990, no entanto,assistiu-se a uma reabilitação do planejamento, emboraos textos constitucionais se limitassem a aspectos orça-mentários, deixando os principais instrumentos de pla-nejamento, como os planos nacionais, regionais, seto-riais e de ordenamento do território sem menção deprazos, de critérios e dos responsáveis pela sua realiza-

ção. A retomada do processo foi fundamentada sobreum discurso técnico-orçamentiírio, e o ordenamento doterritório visto como a base logística capaz de asseguraras condições de desenvolümento regional.

A Constituição de 1998 impunha, de fato, a realua-

ção dos Planos Plurianuais (PPA), que consistiam, prin-cipalnente, numa pÍogramação do orçamento nacionalpara o período de quatro anos. Essa obrigação serviupara reintroduzir um certo planejamento e substituiu areflexão sobre as políticas de desenvolümento regionale ordenamento do território.

É nesse contexto que foi lançado o programa Bra-sil em Ação,rm conjunto de sessenta prioridades gover-namentais, cujo financiamento era garantido e a execu-

ção supervisionada rigorosamente. Esse programa com-preendia principalmente ações de reforço da infra-estru-tura energética, de transportes e comunicação. Dentreelas, foi dada prioridade às rodovias amazônicas, tantopara o Sudeste como para a Venezuela e para o Merco-sul. As ferrovias e as hidrovias receberam uma novaatenção, em especial os eixos do Madeira, do Araguaia-Tocanting do Tietê-Paraná e do São Francisco. No conjun-to, esta infra-estrutura desenhou uma nova alternativa,inteiramente situada em território brasileiro, à estrada

Atlas do Brasil

244

Panamericana, o eixo essencial que percorre o continenteamericano de norte a sul.

O programa Avança, Brasil, qre deu continuidadeao Programa Brasil em Ação, estava previsto para seteanos além do mandato de Fernando Henrique Cardoso,

1G-'17. Progranra BrasEI em Ação

e seus quatro primeiros anos correspondiam aos quatÍoanos do PPA 2000-2003. O programa oferecia diretrizese orientações estratégicas em cinco domínios, os "desa-fios para o século próximo" (eixos nacionais de integra-

ção e de desenvolvimento, de gestão do Estado, do meio

- Rodovias

1- Asfaltamento da BR-1742 Recuperaçáo da BR-364/1633, Rodovia Fernáo Dias4 Rodovia do Mercosul

- Hidrovias

5 Madeira6. São Franciscot

^ ,^^, ,^ :^ T^^^^+:-^

/ , Ãroguoro- ruuor l i l rè

I Tietê-Paraná

O Portos9 Pecém

10 Suape11 Sepetiba12 Santos

- Ferrovias

13 Ligação Unaí-Pirapora14 Ferronorte

- Linhas elétr icas

'15 Llnhão deTucuruí16 Complementaçáo de Xingó

Um eixo continentalalternativo?

Xingó

Rio de Janelro

500 km

@ HT-2O03 MGM-Lìberyéo

17 Sistema de transmissáo associado a

- Gasodutos

18. Gás natural de Urucu19 Gasoduto Bolívia-Brasil

Fonle: Bnsil em Ação,1998

2A5

Orde na mentos do território

lO-18. Principais investimentos propostos pelo plano plurianual 2000-2003

Arco Norte

lnvestimentospropostos(miìhões de reais)

3 303

- 1 000300

_ 15020

- fgr9yi35

- Linhas elétr icas

- Hidrovias

- Q656irJ16s

- Rodovias

ffi SAneamento

Fontê: Minìstório do Planejamento

lnvestimentospropostos(milhóes de reais)

//-\- e.528

I /,--- 2.000\ í zs#- 700\JZZ- 20

Transnordestino

As cores de fundo d€limitam os eixos nacionaisde integraçáo e desenvolvimento (Figura 1G06)

@ ì'IAWHF2003 McM+iberqéo

I Aeroportos

I Portos

J Usinas térmicas

|l Usinashidr:oetétricas

I lnigaçao

m Obras hidráulicasY d" usot múltiplos

500 km

ambiente, do emprego e renda, de informação e coúe-

cimento), e definia prioridades Para os investinentospúblicos e eventuais investirnentos privados em todos

os domínios. Os estudos que serviram de base a esse pro-

grama concentraram-se na detecção das possibilidades

oferecidas aos investidores, numa "abordagem que dá

prioridade ao mercado e aos.negócios", possibilidades

reunidas numa "carteira de investimentos", e o orça-

mento do Estado foi reorganiz4do de forma a dar prio-

ridade às ações públicas que preparam a intervenção do

Atlas do Brasil

246

capital nesses domínios. Essa carteira de negócios atin-gia 180 bilhões de reais (90 bilhões de dólares);uma se-gunda fase, para 200Ç2007, visava a um montante de1.100 bilhões de reais (560 bilhões de dólares).

A estratégia dos "eixos nacionais de integração edesenvolvimento", incorporada ao PPA originalmentede maneira quase tímida, emergiu graças a uma conjun-

ção de fatores favoráveis. Os "eixos" reuniram o essen-cial dos projetos de investimentos em grandes obras deinfra-estrutura, destinados a recuperar os atrasos acu-mulados por causa dafraqueza das entradas fiscais dosanos precedentes, e desencadearam a imaginação dosEstados e suas diversas forças políticas. Em suma, cons-tituíram um elemento inovador das condições econômi-cas, um meio para afirmar a mudança na maneira de oEstado rcaluar suas ações de desenvolvimento.

A nova estratégia concentrou os grandes investi-mentos ao longo de eixos priülegiados. O território pas-sou a seÍ ústo como uma série de redes (energéticas, detransporte, informação etc) dimensionadas em funçãodos fluxos previsíveis, e as ações públicas úsaram atransformá-lo - ou pelo menos a transformar alguns deseus lugares mais dinâmicos - em centros competitivos,integrados aos mercados nacionais e internacionais. Es-sa estratégia orientou a ação do planejamento federal,refletiu-se em cada plano regional de desenvolvimentoe reorientou os investimentos para as redes escolhidas,Essas novas formas de ação determinaram a organiza-

ção da "fïonteira" econômica e uma nova regionaliza-

ção, estruturada e consolidada por esses investimen-tos, que se referiam a um pequeno número de setores-chave. O mais considerâvel era a construção de cen-trais hidroelétricas, principalmente ao longo do eixonorte-sul Araguaia-Tocantins, destinado a completara interconexão já iniciada pelo programa Brasil emAção.Ausina mais importante seria a de Belo Monte,sobre o rio Xingu, seguida por Serra Quebrada, Es-treito, Tupiratins, Lajeado e Peixe, todas sobre o rioTocantins, e a segunda etapa de Tucuruí. Outras usinasestão previstas na região Sul, em especial no RioGrande do Sul e em Santa Catarina (Garabi, CamposNovos e Barra Grande), como também hidrovias, es-pecialmente a do rio Tapajós.

Para selecionar esses investimentos, o consórcioresponsável pelo estudo haüa determinado antecipada-mente os fatores locais de dinamismo, os "motores dodesenvolvimento", que podem ser de vários tipos (Figu-ra 10-19). Certamente é a indústria no eixo São Paulo-Rio de Janeiro e seus prolongamentos para Belo Hori-zonte e o Tiiângulo Mineiro, bem como em pequenaszonas do Distrito Federal, Paraná e Santa Catarina, Aagricultura moderna e a agroindústria desempenham omesmo papel em dois blocos, um formado pelo oeste doEstado de São Paulo e o sudoeste do Mato Grosso doSul; o outro, por Mato Grosso e um de menor dimen-são, entre o sul do Maranhão e o oeste da Bahia (a zo-na de expansão da soja). Mas ao lado desses pólos es-senciais, outras atividades, menos maciças, sustentamo crescimento de regiões menores: a mineração, a fru-ticultura irrigada e o turismo, tanto no litoral comono interior.

Ainda que os "motores" principais sejam coúeci-doq deve-se, contudo, recordar que essa imagem instan-tânea não é definitiva, porque as dinâmicas territoriaisbrasileiras são muito fortes, e a constituição do tenitó-rio, inacabada. Uma das originalidades essenciais doBrasil é a presença de uma frente pioneira de grandeamplitude, uma das mais potentes no mundo, que conti-nua a progredir para o noroeste do País. É um sistemacomplexo, com aspectos positivos e outros ne.m tanto,que pode ser analisado em termos econômicos, demo-gráficos, sociais e ambientais. Analisáìos simultanea-mente mostra que, de fato, produz-se uma sucessão defenômenos cuja superposição é apenas parcial, de modoque a sua localização precisa é uma das chaves de análi-se da evolução em curso.

O aspecto mais visível nas paisagens, comentadonos meios de comunicação social no Brasil e no exte-rior, é o desmatamento, que se produz ao longo de umarco que vai do Maranhão a Rondônia. Mas nota-seque, na frente desse arco, situam-se as zonas de con-centração máxima de outros indicadores fiá analisadosem mapas anteriores): a presença maciça de migrantesvindos de outros Estados, as taxas de população mas-culina elevadas, as taxas de variação desse mesmo indi-cador ainda mais elevadas. Cada um desses três efeitos

287

Ordenamentos do território

try-1S. üs enrytryree de deseff\ceËvEneeeryto

destaca uma zona situada ligeiramente a noroeste daprecedente, e tudo se passa como se esses indicadoresfuncionassem como o anúncio da chegada do proces-so. A chegada de um número crescente de jovenshomens vindo de outros Estados abre o corteio de

acontecimentos bem conhecidos, que associa o desma-tamento à progressão da pecuária, da soja e dos confli-tos fundiários. Pode-se, ao analisar esse mapa, detectaruma reorientação do arco do desmatamento para o no-roeste: a sua extremidade ocidental progride pouco

ì

Fatores de dÌnamismo

l-I Mlneração

Írll Agricultura e criação modernas

W Fruticuitura

f__-l Turismo interiorano

e Turismo litoral

ffi Agroindústria

f--_l Indústria e setor terciário tradicionais

! Indústria moderna_ Rodovias

' -- Rios

- Ferrovias

- - - - Fronteiras dos Estados

. Cidades

Fonle: Brasil em Ação

0 500 km

@ HT2003 McM-Liberyéo

Atlas do Brasi l

28,8

para o Acre, enquanto a sua parte oriental avança

muito mais rapidamente, dando ao conjunto a imagem

de um imenso golpe de foice lançado sobre as partes

ainda preservadas da Amazônia. Caso se queira, real-

mente, implantar na Amazônia outro modelo de

=#-#ffi. ffim rv'n;*rs:c**r+o= ** i'rer+tm K)frffifireãtrG

desenvolvimento, conservador da biodiversidade, será

necessário propor alternativas factíveis ao modelo ma-

deira-soja-pecuária bovina, que já demonstrou sua ação

no prejuízo ambiental, cuja inexorável progressão esse

mapa deixa antecipar.

lndicadores

,7- Arco do desmatamento

Varração máxima da taxade populaçáo mascul ina 1996-2000

Taxa de população mascul inamáxima em 2000 (110-117)

Proporção máxrma de migrantes em 1996(entre 15 e 40%)

Taxa máxima da evolução darelaçáo bovinos/humanos 1 991 -1 996

Taxa máxima de progressão da produçãode sola 1977-1999 (0,76-1)

Assassinatos ligados aconfliÌos rurais 1 985-1 991

I

500 km

@ HT2003 MGM-Lìbergéo

FonÌe: IBGE, CPT

289

Ordenamentos do terrítório

ï0-2ï. Brasil e Argentina: estruturas etárias cornparadas

População de10 anos ou menos

População de60 anos ou mais

% na populaçáo

31,5

21,1

24,2

20,4

l7a -

Populaçãode 10 a 60 anos

Populaçâo totalpor mrcro-regrao

% na população

Populaçãoanalfabeta

,-- rl9l?199(a)-

5óJbz6u

ro.oo0

% na população

73,6

71,4

69,4

^^. f f i

uo,o E

ut, , E

uu, E

0 500 km

@ Hf2003 McM-Libetgéo

% na população

Fonte: ENS/CREDAL-CNRS 1999

Alguns dos fatores que influenciam as dinâmicasterritoriais brasileiras não se limitam às fronteiras na-cionais, e não é sem razão que a política externa brasi-leira tenha investido tanto no Mercosul: o ambiente

continental (dinâmicas comparadas, infra-estrutura, tro-cas comeÍciais e demográficas etc) pesa cada vez maissobre o destino do Brasil, Pode-se perceber esse proces-so servindo-se de indicadores muito simoles. como a

Atlas do Brasi l

290

composição por idade e o níyel de alfabetiza-

ção das populações argentina e brasileira (Figtxat0-21). Essa justaposição mostra em queponto os dois países são diferentes: o Brasiltem uma proporção considerável de jovens noNordeste, enquanto a Argentina distingue-sepela proporção de pessoas idosas. Efetiva-mente, o mapa mostra a desproporção entreas massas humanas em causa, sendo clara avantagem do Sudeste-Sul brasileiro, que cons-titui uma potente concentração de populaçãode idade ativa. Mas mostra igualmente as de-ficiências do País, já que o Nordeste, a princi-pal "reserva" de mão-de-obra jovem, é tam-bém o principal foco de analfabetismo - umdesafio que será necessário vencer o mais rá-pido possível, caso se espere que essa "reser-va" desempenhe plenamente o seu papel.

Após séculos de ignorância ou de des-confiança recíproca, os países da América doSul têm tomado consciência de sua proximi-dade e de suas complementaridades. Contatosforam retomados, e discussões tiveram lugarentre técnicos e entre governos (facilitadospelo fato de que atualmente todos os paísespossuem governos civis), Comparadas com asdistâncias internas (Figura 03-01), as que se-param as principais cidades brasileiras (mes-mo aquelas situadas no litoral) do litoral doPacífico não são totalmente desmedidas. E asredes de estradas e vias navegáveis, conve-nientemente arranjadas, oferecem múltiplaspossibilidades para a constituição de "corre-dores bioceânicos", sendo a maior parte rela-cionada ao Brasil (Figura 10-22).Tudo leva apensar que essas ligações irão desenvolver-senos próximos anos, e que a geografia de todoo cone sul vai se transformar. Tiata-se de umimportante objeto de cooperação entre osgeógrafos desses países, ao qual os geógrafosfranceses associam-se ativamente.

À luz destes novos desenvolvimentos, énecessário reexaminar as linhas de forca do

1A-22. Corredores quecruzam o continente

Fonte: Wandêrley Messias da Costa,com complementos do IIRSA

0 1000km

@ WMo HT-2 003 M G M-L i berg éo

291

Ordena mentos do território

continente, que se alteraram bastante em relaçlo ao Valparaíso, via São Paulo e Buenos Aires. Zonas de fra-que eram hâ cerca de vinte anos. Certamente as massas gilidade e de ameaças continuam existindo, sobretudoprincipais resistem, como a predominância do eixo ur- na Colômbia e no Nordeste. Mas mudanças produzi-

bano, em via de megalopolização, do Rio de Janeiro a ram-se, em especial no centro do continente.

At las do Brasi l

- ' : ìu

. !J:: -

Pólos e eixosTrópìco de CaprÌcórnio

il

@

agroee,l.fr'

Focos de desenvolvimento,pr incipais e secundár ios

Pólos urbanos

Zonas de fragi l idade

Eixos cont inentais,existentes e em formaçáo

Corredores bloceânicos

Espaços transf ronteir iços

Mercosul , membrosi l

e observadores

": " : '

Amazônia

Area de junção

(Juranas

Avan s pioneiros.rl brasi ros

0 1 000km

@ HT 2003 MGM-Libergéo

292

Se o Tiatado de Cooperação Amazônica ainda não

teve muitos efeitos concretos (o seu objetivo era princi-

palmente diplomático), hoje a Amazônia reencontra o

seu lugar ao centro do continente, lugar único que a to-

pografia continental sempre lhe deu, mas que não era

aparente enquanto cada país considerava apenas a

"sua"Amazônia. O eixo novo que vincula Manaus a Ca-

racas, e por conseguinte São Paulo ao Caribe, oferece

uma nova via, do norte ao sul do continente, uma alter-

nativa - em território brasileiro - à rodovia Panameri-

caÍa,a sua coluna vertebral. Os corredores bioceânicos,

em via de organização, reforçarão o papel central da

Amazônia, ainda que o mais potente deles passe ao sul,

no trecho Rio de Janeiro-Valparaíso.Os espaços transfronteiriços que se criam em tor-

no do País, o espaço amazônico, o das Guianas e aqueleque os geopolíticos militares brasileiros chamavam a

"ârea de junção" (nos confins de Brasil, Bolívia e Para-guai) têm em comum o fato de verem aproximar-se

frentes pioneiras brasileiras. Evidentemente, o tempo

das conquistas e anexações terminou, assirn como o das

retificações fronteiriças que se faziam, invariavelmente,

em benefício do Brasil, e ninguém mais fala em alterar

os traçados. Mas o afluxo de centenas de milhares de

brasileiros alterou profundamente o leste do Paraguai,

onde os "Brasiguaios" introduziram a cultura da soja e

criaram uma nova rede urbana. Fenômenos compará-

veis poderiam se produzir no nordeste da Bolívia.

A influência brasileira sobre esses dois países

acentua-se todos os dias. Na Bolíüa, mais bem colocadapara usar em seu proveito a rivalidade entre vários

grandes países, o objetivo brasileiro é a rìca região de

Santa Cruz, cujo desenvolvimento nos últimos vinte

anos foi bastante rápido, com a descoberta do petróleo

e gás, e o desenvolvimento da produção de açúcar, de

arroz e de algodão. Apoiando, às vezes, as aspirações se-

paratistas da Proúncia, os brasileiros ofereceram-lhe

mercados e meios de transporte que evitam a passagem

pelos Andes (rodoüa, estrada de ferro, zona franca em

Santos), destacando cadavez mais essa região estratégi-

ca do seu quadro nacional. No Paraguai,a construção da

"ponte da amtzade" e da estrada Assunção-Paranaguá,

bem conoo a oferta de facilidades fiscais e alfandegárias,

contribuem na mesma direção e introduzem o risco de

transferir o conjunto do comércio paraguaio do rio - e,por conseguinte, da Argentina - para a estrada e para oBrasil. Por último, mas não menos interessante, é o caso

da Guiana Francesa, onde o mesmo afluxo de brasilei-

ros desenha-se e será facilitado pela melhoria das redesrodoviárias de parte aparte da fronteira.

Assim, a influência brasileira aumenta claramente,tanto no plano diplomático como no das relações eco-nômicas. Há várias razões pa:.a isso. Por um lado, o Bra-

sil tem necessidade de matérias-primas e de mercados:interessado no petróleo venezuelano, equatoriano e pe-

ruano, no carvão colombiano e no cobre chileno, paga

esses produtos com suas vendas de veículos, eletrodo-mésticos e produtos agroindustriais, os quais são encon-

trados, agora, em todo o continente. Por outro lado,

essa expansão, sustentada pelo crescimento econômi-

co, corresponde às doutrinas geopolíticas professadas

há décadas pelos militares brasileiros, especialmente ogeneral Golbery do Couto e Silva. No seu pensamen-

to, o "destino manifesto" do Brasil era controlar todo

o continente em troca de um apoio incondicional à po-

lítica externa dos Estados Unidos e à abertura da eco-

nomia aos seus capitais. O contexto alterou-se, arela-

ção com os Estados Unidos não tem mais o mesmo

fervor, mas o Brasil continua a querer desempenharum papel de potência regional.

Já exerce uma influência particularmente sensí-

vel sobre os países vizinhos, e a Argentina encontra-se

hoje bem distanciada. Isso é muito nítido com o Para-

guai, onde numerosos brasileiros compram terras, e

cujo território aparece cadavez mais integrado ao es-paço econômico do Brasil. Um exemplo disso é a coo-peração muito desigual entre os dois parceiros para a

construção da barragem de Itaipu sobre o rio Paraná,

fronteira entre os dois: a barragem é de fato brasilei-

ra, foi o Brasil quem a financiou integralmente, é para

São Paulo que é dirigida toda a eletricidade produzi-

da, e a pafte "parcguaia" serve para reembolsar os

empréstimos concedidos pelo Brasil. A transformação

do Paraguai em satélite do Brasil estâjá bem avança-

da, o que provoca grande apreensão no rival do Brasil

nesse País, a Argentina.

293

Ordenamentos do terrìtório

Maq mesmo sobre esse ponto, as coisas mudaram.A criação do Mercosul, que associa o Brasil, a Argenti-na, o Uruguai e o Paraguai, põe essa rivalidade em ou-tra perspectiva, e a situação evolui rapidamente. No mo-mento, trata-se ainda apenas de uma união alfandegá-ria, sem as políticas comuns que fazem a força da UniãoEuropéia, mas os efeitos são já sensíveis. Para se deterem dois exemplos, os produtores de trigo brasileiros ti-veram que inclinar-se frente às importações argentinas,e os fabricantes de automóveis que se instalam no Bra-sil visam agora ao mercado dos quatro países. Obvia-mente, o Brasil torna-se a potência principal desse novo

conjunto, que se defende vigorosamente contra as tenta-tivas de dissolvê-lo dentro de uma vasta zona continentalde liwe-comércio, como os Estados Unidos desejariam.

De norte a sul, do centro à periferia, do seu anti-go eixo atlântico às fronteiras mais recuadas, a geogra-fia do Brasil está em plena mutação. Ao mesmo tem-po porque os ciclos econômicos e movimentos pionei-ros que percorrem o País há cinco séculos ainda estãoativos e porque, pela primeira vez, as interações comos seus vizinhos têm um efeito sensível que é levadoem conta: indubitavelmente, as décadas futuras verãoainda muitas mudanças.

Atlas do Brasil

294

CAPITULO 11

0m 1.941,, quando o escritor austríaco Stefan Zweigrefugiou-se no Brasil para fugir das ameaças daguera na Europa, escreveu um liwo intitulado

Brasilien, ein Land der Zukunfi (Brasil, um País de Fu-turo),livro otimista e quase lírico sobre o destino destePaís, comparado com a terrível situação da Europa.

Mas essa confiança poderia ser posta em dúvida,sabendo-se que ele se suicidou alguns meses depois, emfevereiro de 1942. No entanto, não tinha perdido a suafé no Brasil, e reafirmava que "dia a dia aprendi a gos-tar mais dele, e em nenhum outro lugar eu teria preferi-do edificar uma nova existência, quando o mundo daminha linguagem desapareceu para mim e a miúa pá-tria espiritual, a Europa, destruiu-se".

Sessenta anos depois, a Europa foi reconstruída, eo Brasil continua sendo considerado um País de futuro,um grande destino, um amanhã prometido. As más lín-guas completam a fórmula de Zweig "um País de futu-ro. . . " acrescentando ".. . e que permanecerá assim eter-namente". Estará mesmo o Brasil condenado a perma-necer indefinidamente o "País de um futuro brilhante,que nunca chega", enquanto a sua realidade diária é fei-ta de desigualdades, violências e devastação?

De fato o Brasil conheceu épocas de crescimentorápido, de "milagres", mas não se pode, contudo, reco-nhecer nesse crescimento um real desenvolúmento,porque foi obtido ao preço de uma forte concentraçãoespacial e social, provocando riscos e desperdícios ina-ceitáveis, que compÍometem o futuro.A pobreza e a de-sigualdade não são somente injustaq moralmente conde-náveis, mas tornaram-se fatores de risco e de bloqueio.

Reformas foram tentadas para alterar essa situação: osgovernos de Itamar Franco e Fernando Henrique Car-doso conseguiram, após anos de hiperinflação, estabili-zar a rnoeda e reduzir fortemente o crescimento dospreços; iniciou-se a reforma do Estado, a situação me-lhorou nos campos da educação e da saúde. O governode Luiz Inácio Lula da Silva está empenhado em reali-zar reformas sociais profundas que, se realizadas, altera-rão profundamente a situação atual. O momento é, por-tanto, oportuno para perguntar se o Brasil tem realmen-te possibilidades de conhecer o desenvolvimento pro-metido há tanto tempo, ou se os velhos demônios conti-nuarão a assombrá-lo; se os sonhos de desenvolvimentocontinuarão como o horizonte, recuando à medida quese avança em sua direção.

Mas é também possível que essa pergunta não façamais sentido, porque, na verdade, o futuro é agora,e oBrasil já mudou muito: ele é atuahnente uma das dezprimeiras potências econômicas mundiais, um País in-dustrializado e urbanizado, o principal parceiro do Mer-cosul, um expoÍador de produtos industriais cuja im-portância no mundo aumentou sensivelnente.A econo-mia brasileira transformou-se profundamente duranteas últimas décadas e continua afazê-lo.

A Figura 11-01 e o Quadro 11-01 justapõem as cur-vas de crescimento da população (total e urbana) e doseleitores a alguns indicadores de riqueza durante o sé-culo XX. A escala é logarítmica, de modo que um pro-gresso constante toma a forma de uma reta, o que mos-tra claramente que a curva da população é mais ou me-nos retilínea (a dos citadinos e a dos eleitores juntam-se

295

O futuro é hoje

(mÌ lhoes)

14

30

41

70

93

119

146

151

166

(US$milhóes)

250

índice {1 000) índice

1 8901900'1910

1920193019401 950I vco

1 9601 96619701 9761 98019861 99019951 9961997

2

319

5

7

I

10

11

12

380

IJ 4.710

120280

650

2 600

10 800

18 300

26 200

153

141600

2,3004 60011 60018 30026,500

31 600

1

4

to

33

82

130

188

224

21840

2000

rapidamente a ela), e que o PIB cresce mais rapida-mente ainda ao longo de todo o século (apesar de al-gumas sinuosidades, que refletem os atrasos impostospelas crises econômicas). Da mesma maneira, as cur-

vas dos equipamentos que alteraram a vida diária dos

brasileiros seguem de perto essa evolução. Como nos

outÍos países, a curva de difusão aproxima-se de uma

função logística, com uma inclinação forte no início(aqui nos anos de 1960 e 1970), seguida de segmentos

menos inclinados quando a saturação começa a mani-

festar-se. Esse estágio parece ter começado nos anos

de 1990 e deverá prosseguir pelo menos enquantopersistir o modelo atual de distribuição da renda. To-mando como referência, respectivamente, os anos1940 e 1956, o total de automóveis e de televisores foimultiplicado por duzentos, mas com 26 milhões e 31milhões de unidades, respectivamente, ainda está lon-ge do número total de famílias brasileiras, o que deixa

uma forte margem de progressão, se a renda for marsbem distribuída.

Infelizmente, se as bases econômicas do Brasil, fir-

memente fundadas sobre um amplo mercado interno e

sobre exportações diversificadas, são sadias, a conjuntu-

ra é difícil. Existem dois problemas essenciais e imedia-

tos. O primeiro, cuja acuidade parece ter diminuído sen-

sivelmente, é a dívida externa; o segundo, mais preocu-

pante, é a erosão constante do valor da moeda. Outrosdesequilíbrios mais graves ameaçam, a longo prazo, o

desenvolvimento, caso reformas profundas não sejam

lançadas rapidamente.

ã**er-tezes €ãatanceËn*s e íïìoneeé*flãês

O Brasil, que gosta de acumular recordes, bateu

um que não é o melhor e sem o qual poderia ter passa-

do: é um dos países mais endividados do mundo: o total

de sua dívida excedia, em 2003, 200 bilhões de dólares.

Esse único dado não é inquietante, deve ser relativizado

levando em consideração as relações dívidai PIB e ser-

viços da dívidai exportações. A primeira relaçào se

At las do Brasi l

296

mantém ao redor de 45o/o; paÍa a segunda, a situaçãomelhoÍou, já que o serviço da úvida, que absorvia em1999 1.46y' do produto das exportações, e ainda 87olo em2001, baixou pua7\o/o em 2003.

O Brasil, no entanto, passou por alguns maus mo-mentos, ao longo de todos os anos de 1980 e início dosanos de 1990. Para eütar a falência, teve, de fato, que re-negociar os prazos, de conseguir novos empréstimos pa-ra pagar os juros de suas dívidas. Várias vezes suspen-deu o pagamento dos juros e mesmo do principal, entre1982 e 1994, e as suas relações com o Fundo MonetárioInternacional foram tumultuadas. Teve que aplicar pro-gramas de austeridade, limitar o aumento dos saláriosabaixo da taxa de inflação, lançar uma série de planosde estabilização (Plano Cruzado, Plano Verão etc.).Apesar da brutalidade (como o "congelamento" detodas as contas bancárias quando Fernando Collor deMello chegou ao poder, em 1990), esses p-lanos foramaceitos, porque eram a única esperança de evitar a

11-01. Crescimentos

falência, com suas conseqüências em cadeia sobre o sis-tema financeiro internacional. Os credores do Brasil,efetivamente, compreenderÍÌÍn-no, não lhe apertaram agarganta e demonstraram muita tolerância. A dimensãode sua dívida promovia um meio de pressão do devedorsobre os banqueiros, um jogo de chantagem recíprocoentre o Brasil e os credores. O Plano Brady, de 1994,permitiu reciclar os créditos bancários em títulos aoportador, freqüentemente comprados por fundos de in-vestimento. Desde então, a questão da dívida perdeumuito de sua gravidade e é muito menos evocada queanteriormente: outras preocupações monopolizam aatenção e muitos pensam que enquanto o Brasil continuar solvente - como é, evidentemente - arranjos técni-cos podem ser encontrados.

Portanto produziu-se uma inversão de situaçãobastante surpreendente, que nem é a primeira nem será,sem dúúda, a última que o País coúece. Os brasileirosnunca se desesperaram com o futuro, porque o Brasil se

Milhões(de habitantes, US$, unidades)

1890 1910 1930 1945

ooorooe Pgpg16çfig

. . . . . . . PIB

Fonle: IBGE, STE (SuperiorTribunal EleitoÍal)

1950 1960 1970

Urbanos

Automóvêis

10an 10aa 100R

------- ElettoÍes

------- Jslsyis6lsg

297

O futuro é hoie

fez especialista em encontrar novos recursos nos pioresmomentos, e sempre pensaram - embora alguns duvi-dassem - que um milagre iria se produzir.

O sucesso do Plano Real pareceu ser esse milagre:de acordo com o BID, a taxa média de crescimento doÍndice de preços ao consumidor tinha sido de 1.008%eml992,de2.148% em 1993 e2.688% eml994,ano daentrada em úgor do Plano Real. Em 1995, caiu para84o/o,êmI996parc 18o/o, e em1997 para7,5o/o. Pareciabem-sucedido ao estancar tamanha depreciação damoeda, pois em cinqüenta anos foram retirados L8 zerosdo valor, que era, emI994,menos que o bilionésimo debilionésimo do que valia em 1942.Mas essa estabiliza-

ção tem seu preço: considerável distorção dos preços re-lativos, que se traduz numa redução da taxa de poupan-

ça, taxas de juros elevadas e relação preocupante entreo déficit corrente e as receitas em divisas. Após a criseasiática de 1997,o Brasil aparecia como um bom candi-dato à próxima crise.

Um primeiro ataque especulativo foi afastado gra-

ças às reservas de câmbio, mas as taxas de juros tiveramque ser elevadas vigorosamente, em outubro de 1997,de20o/o para 43Vo,taxas que evidentemente não poderiamser mantidas por muito tempo, porque estrangulavam oconsumo e a produção. Foram sendo reduzidas seguida-mente: no início de 2003 atingiram, outra vez, aproxima-damente 2lo/o ao ano. Mas, para isso, foi necessário des-valoúar o real, que esteve praticamente em paridadecom o dólar até 1998.4 sua quase estabilidade era ceÍ-tamente um motivo de orgulho para os brasileiros e umbom argumento eleitoral para o presidente, mas passa-va a ser difícil mantê-la contra ventos e marés. Exata-mente após a reeleição de FHC, reduziu-se o seu valorem aproximadamente 25o/o, e houve seguidos reajustesprogressivos até a paridade estabilizar-se ao redor de3,5 reais por dólar no início de 2003, após uma alta ex-cessiva a quase 4 reais durante a campanha eleitoral deoutubro de2002.

Além da pilotagem financeira, reformas de fundo,do sistema fiscal e tributário e da previdência social se-rão necessárias. Esse pode ser o mecanismo para co-meçar a atacar dois dos problemas que ameaçam ocrescimento a longo prazo: as deficiências da máquina

do Estado e as graves disparidades sociais, muito maisgÍaves que os problemas agrupados sob o termo genéri-co de "custo Brasil" e dos quais os operadores econômi-cos se queixam tanto.

Por essa expressão, freqüente no debate econômi-co, entendem-se geralmente os custos adicionais, as "ex-ternalidades" que complicam a vida dos industriais quedesejam implantar-se no Brasil, de seus executivos ex-patriados, dos próprios empresários brasileiros, custosadicionais que minam a competitiüdade brasileira e re-duzem sensivelmente as suas vantagens comparativas.A infra-estrutura deficiente (estradas malconservadas,pontes preciírias, portos onde o tempo de espera é inter-minável), uma burocracia incrivelmente minuciosa, a ri-gidez do sistema financeiro, quefazemperder tempo in-finito, tudo isso retarda, complica e aumenta o custo dastransações mais banais.

Não se poderia ampliar ainda mais essa noção: nãose poderia incluir nela um sistema político clientelista ecorrompido, que multiplica as injustiças, as vantagenspessoais, os subornos, e que a imprensa denuncia, sema-na após semana? O desperdício dos recursos naturais,em especial - mas não apenas - na Amazônia, poderiaser outÍo elemento, nunca levado em conta, do custoBrasil, cuja conta será apresentada às gerações futuras.Essa atitude inconseqüente e depredadora é uma he-rança histórica de colonos preocupados com o lucroimediato, convencidos de que os recursos são tão ilimi-tados quanto o território, uma ilusão que pode dissipar-se logo, mas cujo custo terá sido então bastante elevado.Outra herança do período colonial, mas que deveria tersido quitada há múto tempo, são as relações sociais bru-tais, mrrito desiguais, estigma ainda visível de um passa-do escravagista não tão remoto. As novas classes domi-nantes tratam os pobres com menosprezo ou com indi-ferença, da mesma maneira que as antigas, tolerando de-sigualdades que chocam todos os observadores estran-geiros, mas que nunca, exceto na retórica, foram levadasseriamente em consideração.

Não se pode, portanto, explicá-lo todo pela crise domomento, e em muitos casos o "modelo" de desenvolvi-mento paga o preço de suas próprias escolhas, das suascontradições e do encadeamento, às vezes perverso, de

Atlas do Brasil

298

causas e conseqüências. O aumento brutal dos preços dopetróleo, nos anos deI970,não teria sido também dra-mático se tamanha proporção dos transportes não se fi-zesse pela estrada. O programa de produção de álcoolcombustível, instaurado para remediar a crise do petró-leo, e a tônica colocada sobre as culturas de exportaçãoprovocaÍÍÌm uma crise da agricultura alimentar, queobrigou a importar alimentos, e, por conseguinte, custoudivisas que então faltaram para compraÍ petróleo. Co-mo era absolutamente necessário obter divisas para sal-dar as importações e tentar pagar os juros da dívida ex-terna, tentaram se desenvolver novas exportaçõeq o queexigiu investir em novas infra-estruturas e equipamen-tos. Dessa forma, houve novos empréstimos e sobrecar-ga pesada à díüda. Como para realizar esse projeto oEstado absorvia maior parte da poupança disponível,não sobravam capitais para desenvolver uma indústriavoltada para o mercado nacional, ou seja, para os 170milhões de brasileiros, mas apenas para trinta ou qua-renta miÌhões de privilegiados, o que favorecia umsistema muito desigual.

Os mecanismos que permitiram uma acumulaçãorápida - a concentração da renda na mão de poucos, adesigual distribuição dos recursos disponíveis, das ativi-dades e do poder entre regiões centrais e periféricas -hoje têm-se tornado fatores de bloqueio e de tensões: asaturação do centro e a estreiteza dos mercados solven-tes ameaçam o funcionamento da economia, as desi-gualdades regionais minam a unidade nacional, e as dis-paridades de renda e de patrimônio podem levar a ex-plosões.

A desaceleração da atividade industrial e das con-tratações, a sua repercussão sobre as atiúdades urbanas,a diminuição dos orçamentos sociais, todos esses fatoresreduziram as possibilidades de absorção das cidades, cu-ja governabilidade fica a cada dia mais problemátíca.Odesemprego e o subemprego contribuem para o desen-volvimento da delinqüência. Observadores atentos sesurpreendem de que esta não seja ainda mais numero-sa, quando observam a ostentação insolente do luxo nasproximidades imediatas da miséria. O medo das classesmédiaq todos os dias mais perceptível (as classes supe-riores têm meios para emigrar ou para proteger-se), já

tem conseqüências tangíveis, como a multiplicação dosserviços de segurança privados e dos condomínios fe-chados, onde elas se enclausuram, As tensões acumu-lam-se, e o otimismo que caracteúava os brasileiros àsvezes parece esgotar-se. O que se suportava ontem, por-que havia o sentimento de tazer parte de um grandePaís do futuro, começou a parecer insuportável à medi-da que a dúvida se infiltrava. Quando o crescimento ficoumais lento, toÍnou-se difícil convencer o último faveladoou o último dos camponeses sem terra do Nordeste deque eles teriam sua parte da epopéia amazônica, dasgrandes barragens ou da conquista dos cerrados.

Será necessário um novo milagre para que a si-tuação do Brasil melhore e que venha a ser reahnenteuma grande potência? Talvez não seja necessário, por-que ele dispõe de vantagens muito importantes, que acrise dos anos de 1980 e 1990 fez por um momento peÍ-der de vista, mas que permitem encarar o seu futurocom certo otimismo.

ntagens para o amanhã

A presença de uma das maiores frentes pioneirasdo mundo é indubitavelmente uma dessas vantagens.Imenso, o tenitório nacional foi progressivamente con-quistado e dominado, não sem muito desperdício de re-cursos naturais, nem sobretudo - o que é bem mais gra-ve - sem mortes. Esta conquista não está terminada, afrente pioneira continua a avançar hoje,porque esse ter-ritório ainda aberto contém abundantes recunos naturaigflorestas, solos férteis, minérios. Apenas se recordará umexemplo: a descoberta, nos anos de L950, de 18 bilhõesde toneladas de ferro na serra de Carajás, o que repre-senta quatro séculos de exploração ao ritmo atual. Co-mo vastas extensões (onde caberiam vários países euro-peus), são ainda largamente inexploradas, pode-se con-tar com novas descobertas de minérios.

Por mais ricos que sejam os seus recursos naturais,conhecidos ou ainda a descobrir, a mais preciosa rique-za do Brasil é outra, é a sua população: mais de 170 mi-lhões de habitantes, com uma taxa de crescimento do-minada, uma classe de idade ativa ainda largamentemajoritária, o que não é mais o caso na Europa. É uma

299

O futuro é hoie

vantagem, mas também um desafio, dado que é neces-sário alojar, alimentar, formar toda essa população. Es-se desafio pode ser vencido, porque o crescimento dasúltimas décadas viu desenvolver-se uma classe médiasólida e qualificada, por quem e para quem foi feito o"milagre", e que tem os meios, materiais, humanos e in-telectuais, os talentos de organização (com um gênioespecífico paÍa a improúsação de último minuto, querecupera os atrasos acumulados) e, sem dúvida, a von-tade de vencer e de encontrar um modelo que excluamenos, que associe mais a massa da população aosfrutos do crescimento.

Ao todo, entre as potências emergentes do iníciodo século XXI, o Brasil aparece mais sólido que outros.Uma das suas vantagens essenciais é evidentemente aimensa reserva fundiária da qual dispõe, mas talvez maisainda o fato de que controla a totalidade de espaço so-bre o qual exerce a sua soberania. O Brasil pôde ocupara quase integralidade do seu território,porque construiuos equipamentos que permitiram aos homens e às em-presas instalarem-se sobre ter.ras úrgens, firmementecontroladas antes mesmo da sua valorzação. O Brasilnão é um espaço geogriífico "cheio", mas os seus "va-zios" são utilizáveis e já dotados de infra-estrutura, mes-mo se a malha é mais larga no norte do que no sul. Es-sa vantagem o Brasil conquistou. Os recursos naturais

estavam presentes, mas era necessiírio valorizá-los: foium dos papéis do Estado, que desempenhou sua tarefade modo muito eficaz no controle e na valorização doterritório.Ainda que em outros domínios (saúde, educa-

ção) o seu balanço seja menos brilhante, pelo menos oaparelho do Estado desempenhou o seu papel nesse do-mínio que fazparte,por excelência, das suas responsabi-lidades. Para que isso ocorresse, recebeu então o neces-sário apoio do dinamismo pioneiro da sociedade.

Thdo isso está dispoúvel, e pode amaúã ser mo-bilizado a serviço de um outro modelo de desenvolú-mento, uma transição que não se fará sem perturbaçõesde grande porte.AÍinal, o Brasil tem conhecido até ago-ra três séculos e um quarto de dominação colonial, umséculo e um quarto de dominação neocolonial e poucomais de cinqüenta anos de crescimento dependente. Po-dem lhe ser dados alguns anos ainda para encontrar oseu próprio modelo de desenvolvimento, seja pela ilu-minação divina (iá que, como se sabe, "Deus é brasilei-ro") ou pela magia do "jeitinho" nacional. Continua depé, nesse País, a convicção de que um grande destinoespera o Brasil, de que ele tem ainda um futuro, ao con-trátrÌo da Europa. A mentalidade pioneira que sobrevivee sobreviverá ao fim anunciado das fronteiras é a melhorgarantia disso: desse ponto de ústa, o Brasil é ainda aAmérica, a verdadeira.

Atlas do Brasil

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