atlas da exclusão social de osasco - alternativas de desenvolvimento, trabalho e inclusão

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Frente ao avanço da exclusão social e das mudanças pelasquaisvem passando o mercado de trabalho brasileiro desde a décadade90, a Prefeitura do Município de Osasco se posiciona, através de umprocesso de elaboração de estratégias envolvendo o conjunto de secretariasmunicipais, com o objetivo de utilizar melhor os recursospúblicos, tornar mais efi ciente o combate à pobreza e incentivar odesenvolvimento local.Desta maneira, apesar de a solução desses problemas passarpor modificações que nem sempre são de alcance do município, opoder público municipal possui como dever a implementação deprogramas sociais que viabilizem, não apenas o combate aos aspectosmais perversos da pobreza, mas também a construção de portasde saída e de emancipação para a população em situação de vulnerabilidadesocial, fomentando a reconstrução do tecido social eeconômico da cidade.Sendo assim, é prioridade e compromisso desta Prefeitura, aimplementação de um conjunto articulado e integrado de programassociais destinados ao combate à exclusão social em Osasco. Essasações possuem caráter inovador, uma vez que buscam articular programasde transferência de renda (permitem às famílias pobres e aostrabalhadores desempregados possuírem algum tipo de segurança financeira) com políticas de geração de trabalho e renda, que acabampor agir como portas de saída, objetivando a emancipação das famíliaspobres e dos cidadãos desempregados. Política esta que, através deuma estratégia de capacitação, desenvolvimento local e de parceria com entidades e empresas locais, visa, também, a melhor inclusão docidadão socioeconomicamente mais protegido, buscando atingir sustentabilidadeeconômica e conseqüentemente agregar valor às atividadesempresariais.Visando contribuir para as discussões sobre enfrentamentoda exclusão social e políticas públicas de geração de ocupação e renda,a Prefeitura do Município de Osasco, através da Secretaria de Desenvolvimento,Trabalho e Inclusão, apresenta o livro Atlas da Exclusão Socialde Osasco: Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão. Essa publica-ção faz um diagnóstico das complexas mudanças por que vem passandoa realidade econômica e social de Osasco e aponta soluções encontradaspelo poder público municipal para combater as diversasfaces da exclusão social.

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Page 1: Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

Atlas da Exclusão Social de Osasco

Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

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Osasco/SP, 2007

Atlas da Exclusão Social de Osasco Alternativas de Desenvolvimento,

Trabalho e Inclusão

Organizadores

Alexandre GuerraDulce CazzuniRodrigo Coelho

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SECRETARIA DO DESENVOLVIMENTO, TRABALHO E INCLUSÃO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE OSASCO

PREFEITO Emídio Pereira de Souza

SECRETÁRIA Dulce Helena Cazzuni

CHEFE DE GABINETE

Luis Mansur Szajubok

COORDENADORES (AS) Marisa Campos - Coordenadora do Programa Juventude

Paulo Gil - Coordenador do Programa Osasco IncluiRonnie Aldrin - Coordenador do Programa Osasco Digital

Rosa Maria Alves de Almeida - Coordenadora dos Programas RedistributivosSandra Fae Praxedes - Coordenadora do Programa Osasco Solidária

Sergio Donda - Coordenador do Programa de Capacitação Ocupacional

REVISÃO

Iara Heger

CAPA, PROJETO E PRODUÇÃO GRÁFICA

Caco Bisol Produção Gráfi ca Ltda.

IMPRESSÃO

nome da gráfi ca?????????

TIRAGEM

2.000 exemplares

Guerra, Alexandre Atlas da exclusão social de Osasco: alternativas de desenvolvimento, trabalho e inclusão./ Organizadores, Alexandre Guerra, Dulce Cazzuni, Rodrigo Coelho. __ Osasco, SP: SDTI/PMO, 2007.

200p.

1. Exclusão Social 2. Políticas Públicas 3. Mercado de Trabalho. I. Título II. Secretaria de Desenvolvimento Trabalho e Inclusão III. Prefeitura do Município de Osasco.

CDU 331

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Sumário

Prefácio 7

PARTE 1 - O DIAGNÓSTICO DA EXCLUSÃO SOCIAL 9

Capítulo 1 - As experiências internacionais de inclusão social 11

Capítulo 2 - O fracasso da inclusão social brasileira 27

Capítulo 3 - A dinâmica do mercado de trabalho de Osasco 43

Capítulo 4 - A exclusão social em Osasco 61

PARTE 2 - MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO À EXCLUSÃO SOCIAL: A ESTRATÉGIA DE INCLUSÃO SOCIAL DA PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE OSASCO 89

Capítulo 5 - O enfretamento da exclusão social pela SDTI/PMO 91

Capítulo 6 - Os programas redistributivos 99

Capítulo 7 - Programa Juventude 119

Capítulo 8 - Programa Osasco Solidária 131

Capítulo 9 - Programa Capacitação Ocupacional 157

Capítulo 10 - Programa Osasco Digital 171

Capítulo 11 - Programa Osasco Inclui 187

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Prefácio

Frente ao avanço da exclusão social e das mudanças pelas-quais vem passando o mercado de trabalho brasileiro desde a década-de 90, a Prefeitura do Município de Osasco se posiciona, através de um processo de elaboração de estratégias envolvendo o conjunto de se-cretarias municipais, com o objetivo de utilizar melhor os recursos públicos, tornar mais efi ciente o combate à pobreza e incentivar o desenvolvimento local.

Desta maneira, apesar de a solução desses problemas passar por modifi cações que nem sempre são de alcance do município, o poder público municipal possui como dever a implementação de programas sociais que viabilizem, não apenas o combate aos aspec-tos mais perversos da pobreza, mas também a construção de portas de saída e de emancipação para a população em situação de vulne-rabilidade social, fomentando a reconstrução do tecido social e econômico da cidade.

Sendo assim, é prioridade e compromisso desta Prefeitura, a implementação de um conjunto articulado e integrado de programas sociais destinados ao combate à exclusão social em Osasco. Essas ações possuem caráter inovador, uma vez que buscam articular pro-gramas de transferência de renda (permitem às famílias pobres e aos trabalhadores desempregados possuírem algum tipo de segurança fi -nanceira) com políticas de geração de trabalho e renda, que acabam por agir como portas de saída, objetivando a emancipação das famílias pobres e dos cidadãos desempregados. Política esta que, através de uma estratégia de capacitação, desenvolvimento local e de parceria

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com entidades e empresas locais, visa, também, a melhor inclusão do cidadão socioeconomicamente mais protegido, buscando atingir sus-tentabilidade econômica e conseqüentemente agregar valor às ativi-dades empresariais.

Visando contribuir para as discussões sobre enfrentamento da exclusão social e políticas públicas de geração de ocupação e renda, a Prefeitura do Município de Osasco, através da Secretaria de Desen-volvimento, Trabalho e Inclusão, apresenta o livro Atlas da Exclusão Social de Osasco: Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão. Essa publica-ção faz um diagnóstico das complexas mudanças por que vem passan-do a realidade econômica e social de Osasco e aponta soluções en-contradas pelo poder público municipal para combater as diversas faces da exclusão social.

Boa Leitura,

Prefeito Emídio de Souza

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Parte 1

O Diagnóstico da Exclusão Social

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Capítulo 1

As experiências internacionais de inclusão socialAlexandre Guerra – Especialista em Economia Social e Sindicalismo

O presente capítulo visa analisar o modelo de desenvolvimen-to seguido pelo capitalismo no período do segundo pós-guerra, ou melhor, busca, fundamentalmente, compreender como os países ca-pitalistas centrais puderam conhecer três décadas de crescimento econômico quase ininterruptos apoiados em mecanismos reguladores da economia e do mercado de trabalho.

Considerando a abrangência que envolve o assunto, este texto tem o intuito de analisar de forma sintética alguns dos principais as-pectos que englobam esta discussão. Sendo assim, não são aborda-dos na intensidade que merecem temas como a fi nanceirização, o crédito e a grande indústria.

Desta maneira, o capítulo está dividido em quatro seções. A primeira apresenta alguns aspectos da “Grande Depressão” capita-lista e os conceitos teóricos das políticas anticíclicas adotadas no segundo pós-guerra. A segunda seção visa contemplar a nova ordem mundial e descrever o avanço dos Estados Unidos como nação he-

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gemônica. A terceira seção pretende analisar os mecanismos de in-corporação social dos países capitalistas centrais no segundo pós-guerra. E fi nalmente, a quarta seção relaciona alguns aspectos do período posterior aos anos gloriosos do capitalismo.

A GRANDE DEPRESSÃO CAPITALISTA E O AVANÇO DAS POLÍTICAS ANTICÍCLICASAntes de analisar o desenvolvimento do capitalismo durante

os 30 anos posteriores à segunda Guerra Mundial, é bastante impor-tante resgatar os fatos que ofereceram as condições históricas para seus anos gloriosos. Neste sentido, não podemos deixar de mencionar como marco histórico inicial, a maior crise econômica mundial do sé-culo XX, iniciada em 1929 e que atingiu primeiramente a economia dos Estados Unidos e posteriormente quase todos os países do globo.

A crise encerrou um período de grande prosperidade da econo-mia norte-americana em momento de vasta especulação na Bolsa de Nova York. Em 1927, após um período de fortes investimentos estran-geiros e com uma economia crescente, os fi nancistas norte-americanos que operavam em Wall Street centraram-se no mercado interno. Quan-to mais ações e títulos compravam, maior era a subida dos preços destes ativos, em um movimento especulativo, que atraía mais investi-mentos. Em 24 de outubro de 1929, data conhecida como “quinta-fei-ra negra”, iniciou-se um forte movimento vendedor de ações, que produziu o colapso das cotações na referida bolsa. Embora muitos analistas pensassem, no princípio, que se tratava de um ajuste passa-geiro do mercado, o crack de Wall Street marcou o início da Grande Depressão.

Esta grande quantidade de títulos jogados no mercado sem encontrar uma contrapartida de demanda gerou uma desconfi ança que se propagou em outros setores de atividade econômica, atingindo também a esfera produtiva.

As crises capitalistas causam graves conseqüências sociais e seus efeitos perversos são sentidos por grande parte da população. Nas pala-vras de Marx e Engels:

“(...) As crises aniquilam regularmente grande parte não somente dos produtos existentes, mas também das forças produtivas já criadas. Nas crises eclode uma epidemia social que teria parecido um contra-senso a todas as épocas anteriores: a epidemia da superprodução. A

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sociedade vê-se bruscamente de volta a um estado de barbárie mo-mentânea: dir-se-ia que a fome ou uma guerra geral de aniquilamen-to tolheram-lhe todos os meios de subsistência: a indústria e o comér-cio parecem aniquilados(...)”1.No período da grande depressão houve diminuição da renda

nacional, redução da demanda, aumento dos estoques e intensa dimi-nuição dos preços. Diversos setores e atividades econômicas foram se retraindo, muitas empresas fecharam suas portas e milhares de traba-lhadores foram expulsos do mercado de trabalho. Para se ter uma di-mensão da intensidade da crise, basta mencionar que, entre 1929 e 1933, cerca de 5 mil bancos encerraram suas atividades, 85 mil empre-sas faliram e aproximadamente 15 milhões de pessoas estavam de-sempregadas. Do ponto de vista internacional, podemos dizer que, durante a crise, o comércio mundial fi cou reduzido a um terço de seu potencial.

O liberalismo e a teoria clássica não conseguiram responder ao agravamento dos problemas econômicos e sociais. Para a teoria clás-sica, os mercados seriam auto-reguláveis e tenderiam ao pleno empre-go dos fatores produtivos. Segundo a Lei de Say, a “oferta cria sua própria demanda”, o que impossibilitaria uma crise geral de superpro-dução2. Segundo a teoria econômica dominante da época, a poupan-ça nas mãos dos capitalistas se reverteria em investimentos que au-mentariam a produção, gerariam mais empregos e, portanto, aumen-tariam a massa de salários e garantiriam o consumo da produção. Problemas ocorreriam somente quando a poupança não fosse sufi -ciente para fi nanciar o investimento, o que seria sanado com uma re-tração no gasto público e privado (medidas como demissões, diminui-ção de salários etc). Com esta retração, a poupança aumentaria, e seria, novamente, destinada a investimentos, o que traria de volta o crescimento econômico generalizado.

No entanto, durante a Grande Depressão as mercadorias se acumulavam por falta de compradores, refl etindo uma escassez de demanda. Trabalhadores fi cavam sem empregos enquanto máquinas e fábricas inteiras estavam sem funcionar. Enfi m, algo que, segundo a teoria clássica, não poderia ocorrer. Como as depressões não eram consideradas no pensamento clássico, inexistia uma solução para elas,

1. MARX e ENGELS (2001).

2. A Lei de Say, também conhecida como “lei dos mercados”, foi elaborada pelo economista francês Jean-Baptiste Say.

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exceto esperar que o mercado fi zesse automaticamente seu ajuste e voltasse a crescer3.

Num contexto de agravamento da crise na maioria dos países capitalistas e mediante a insufi ciência de resposta dos clássicos à de-pressão, os governos passaram a adotar políticas que minorassem os impactos sociais da crise. Os Estados Unidos passam a adotar, em 1933, um conjunto de medidas conhecidas com “New Deal”, na qual a intervenção do Estado foi ampliada para combater os efeitos da crise, recuperar a economia e os níveis de emprego. Na Alemanha, a ascen-são dos nazistas foi acompanhada de um grande programa de obras públicas e direcionamento estatal de investimentos privados. Os paí-ses escandinavos iniciaram a constituição de sistemas de proteção social mais amplos.

Abre-se, então, caminho para elaboração de novas teorias que visavam a recuperação da economia através de intervenções públicas. Entre os diversos autores que tentaram abordar os motivos da crise e suas formas de superação, destaca-se John Maynard Keynes com sua obra “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”. Neste livro, ele inverte os pressupostos da teoria clássica e aponta uma nova forma de explicar a dinâmica de funcionamento da economia capitalista e a determinação do nível de produção e emprego4.

A teoria keynesiana afi rmou que a variável determinante da renda é o investimento — e não a poupança. Segundo Keynes, os capitalistas tomam suas decisões de investimento em um ambiente de incerteza e só podem contar com expectativas em relação ao futuro. Estas expectativas dizem respeito à taxa de juros e à efi ciência marginal do capital 5. Quando a expectativa em relação ao futuro é pessimista, os capitalistas preferem não investir. Quando a expectativa é positiva, a tendência é que os investimentos aumentem.

Um aumento no consumo ou nos gastos do governo tende a aumentar a expectativa de um retorno mais atrativo a um investimen-to novo. Este investimento tende a elevar o nível de produção. Com isto, aumenta a demanda por trabalhadores e por mais insumos. Os

3.GALBRAITH (1982).

4. Além de John Maynard Keynes, destaca-se entre os autores que buscavam explicar os motivos da fl utuação dos níveis de renda, produção e emprego, o polonês Michael Kalecki.

5. “A relação entre a renda esperada de um bem de capital e seu preço de oferta ou custo de reposição, isto é, a relação entre a renda esperada de uma unidade adicional daquele tipo de capital e seu custo de produção, dá-nos a efi ciência marginal do capital (...)” (KEYNES, 1982: 115).

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trabalhadores contratados neste movimento aumentam o seu consu-mo. Os fornecedores de insumos precisam ampliar sua produção. Ao ampliar a sua produção, contratam novos trabalhadores, o que de-monstra que o aumento do consumo e dos gastos tem um caráter vir-tuoso no capitalismo. Esta afi rmação contraria a tese clássica de que o consumo e o dispêndio são prejudiciais, pois diminuem a poupança.

Quanto à pressuposição de que é necessário constituir pou-pança para, posteriormente, canalizá-la ao investimento, o desenvol-vimento do mercado de crédito e de dinheiro já a tinha tornado total-mente anacrônica.

Em função de a tendência de investimento sofrer violentas fl utuações, as teorias anticíclicas keynesianas recomendam que os governos intervenham para aumentar a demanda agregada e os níveis de emprego, sobretudo em momentos recessivos. Tais políticas pro-punham-se a solucionar o problema do desemprego pela intervenção estatal, o que pode ser feito por meio da redução da taxa de juros, do incremento dos investimentos públicos, de incentivos aos investimen-tos privados e do direcionamento dos investimentos da economia.

Em suma, foi somente a partir da crise de 1929 que fi cou per-ceptível para a sociedade a incapacidade de as forças de mercado se auto-regularem, requerendo maior intervenção do Estado para conter a crise e estimular a expansão capitalista. Foi levando em conta estas possibilidades que o papel intervencionista do Estado assumiu propor-ções inimagináveis se comparado aos períodos anteriores, com capa-cidade de direcionar e impulsionar a acumulação capitalista através de parte do excedente econômico e do exercício da função reguladora do sistema econômico como um todo6.

A NOVA ORDEM INTERNACIONAL E A HEGEMONIA NORTE-AMERICANADepois de uma Guerra Mundial, da Revolução Russa, da as-

censão de governos socialistas na Europa, da Grande Depressão, do nazismo e de uma outra Guerra Mundial, os países capitalistas conse-guiram engendrar 30 anos de crescimento econômico, pleno emprego e elevada produtividade. O crescimento do PIB anual da América do Norte, entre 1950 e 1977, foi de 3,6%; na Europa Ocidental, de 4,3%;

6. POCHMANN (2001).

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e, na América Latina, de 5,5%. O PIB industrial cresceu mais nestas regiões, levando este setor — principalmente metal-mecânica (pro-dutos de consumo duráveis, bens de capitais e automóveis) e petro-químico — a assumir a liderança do crescimento global7.

É importante mencionar que, no segundo pós-guerra, surge um novo padrão monetário internacional balizado pelo acordo de Bretton Woods, em 1944. O novo padrão monetário apoiou-se em três pilares que o diferenciaram do modelo padrão-ouro, do qual os países dese-javam afastar-se por conta das instabilidades ocorridas no início do século. O primeiro pilar era o câmbio passível de ser ajustado, que possibilitaria uma forma distinta de equilibrar a balança de pagamentos que não fosse a defl ação dos preços internos. Esses ajustes cambiais eram permitidos nas situações de desequilíbrios fundamentais na ba-lança de pagamentos. Mas a correção destes desequilíbrios poderia também contar com ajuda do Fundo Monetário Internacional, institui-ção criada em Bretton Woods. O FMI constituía um segundo pilar do novo sistema monetário internacional. A instituição oferecia fi nancia-mento em situações de desequilíbrios conjunturais do balanço com o exterior e monitorava as políticas internas dos países para sugerir me-didas que sanassem o problema. Mas é claro que os dois pilares ante-riores não seriam capazes de resolver os graves problemas de instabi-lidade externa que assolou os países capitalistas nos anos 20 e 30. Para tanto, foi instituído um controle de capitais bastante amplo que evita-ria a volatilidade dos capitais que fora tão desestabilizadora no período entre-guerras.

Este novo sistema monetário permitiria aos países dedicarem suas forças para o imperativo político dominante do imediato pós-guer-ra, o alcance do pleno emprego e o crescimento da economia, sem estar refém do equilíbrio de um setor externo extremamente volátil e incerto. Mais do que fruto das crises dos anos 30 e 40, a necessidade política de se buscar o pleno emprego era conseqüência da geopolítica do período, com a explosão da guerra fria e a bipolaridade entre os EUA e a URSS8.

Os níveis de investimentos da Europa e do Japão destruídos pela Segunda Guerra Mundial foram garantidos, num primeiro momento, pelos generosos planos de reconstrução fi nanciados pelos Estados

7. FAJNZYLBER (1983).

8. MATTOSO (1995); POCHMANN (1995).

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Unidos. Estes planos emprestaram, a fundo perdido, cerca de US$ 11,5 bilhões (valores da época)9. Os Estados Unidos tornaram-se a grande potência ocidental, já que não sofreram grandes devastações decorren-tes da guerra, mantiveram uma indústria com um grande fôlego e com um padrão tecnológico estabilizado e difundido, emitiram a moeda que se tornaria a divisa padrão nas relações internacionais e passaram a ser os grandes exportadores de capitais do mundo.

Outro aspecto marcante referente à relação econômica entre os países capitalistas centrais é a difusão de um sistema de fi liais de grandes empresas oligopolísticas. Este processo inicia-se com a ida das empresas norte-americanas para a Europa, onde ajudaram a di-fundir o padrão norte-americano de industrialização. Posteriormente, tanto as empresas européias quanto as empresas dos EUA se voltam para a América Latina, em busca de novos mercados para seus pro-dutos. Não é obra do acaso que, justamente na segunda metade dos anos 50, o Brasil deu seu grande impulso para a implementação do setor automobilístico, por intermédio da atração de fi liais de empresas européias e americanas. Para Fajnzylber, o sucesso do modelo de desenvolvimento norte-americano pode ser explicado por um círculo virtuoso acumulativo, relacionando crescimento, produtividade e progresso técnico10.

Um terceiro aspecto importante de ser levado em conta é o fato de o crescimento do investimento privado ter sido estimulado pelos mecanismos de fi nanciamento que se expandiram no segundo pós-guerra. O fi nanciamento da produção teve dois efeitos favoráveis para o crescimento das economias capitalistas avançadas. Para as empresas, o crédito permitiu adquirir fundos externos para aumentar seus investi-mentos, além do permitido pela restrição dos lucros gerados interna-mente. Com isso, cada vez mais era possível investir baseado em ex-pectativas futuras de rendimentos, mesmo que não houvesse poupan-ça prévia. Este mecanismo sempre esteve presente no capitalismo, porém, com o desenvolvimento do mercado de dinheiro desde os anos 30, ele se aprofundou e se expandiu, conforme já afi rmamos. Pelo lado da demanda, a expansão do sistema de crédito permitiu aos consumi-dores um consumo superior à possibilidade de sua renda corrente. O fi nanciamento de bens duráveis (casa e carro) tornou possível a massi-

9. Estes empréstimos representam, em valores atuais, cerca de U$ 100 bilhões.

10. FAJNZYLBER (1983).

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fi cação do consumo destes bens, dado que o seu custo é muitas vezes superior à renda mensal corrente de um trabalhador, e levou também ao surgimento de “necessidades de consumo” de bens complementa-res a esses dois produtos.

No mundo capitalista, tal situação levou os Estados Unidos a uma posição de liderança inquestionável. O dólar como moeda inter-nacional, o padrão de consumo americano amplamente difundido, o modelo produtivo da grande empresa fordista igualmente difundido, as empresas multinacionais por todos os cantos do ocidente e o poder bélico do bloco capitalista na Guerra Fria são fatos que demonstram que esta liderança foi exercida de maneira plena.

OS MECANISMOS DE INCORPORAÇÃO SOCIAL NOS ANOS GLORIOSOS DO CAPITALISMOComo vimos, a maior intervenção do Estado na Economia e a

adoção de mecanismos de incorporação social surgem da incapacida-de do liberalismo e da teoria clássica em explicar a grande depressão capitalista. Na verdade, o liberalismo econômico - fundamentado no mercado auto-regulável, livre comércio internacional e Estado mínimo - não resistiu por muito tempo e viu, ainda no século XIX, alguns me-canismos de regulação social e de garantia de renda dos trabalhadores serem criados. É possível encontrar, a partir de 1870, diversos movi-mentos sociais protecionistas que foram organizados como reação aos efeitos do livre funcionamento da economia de mercado, sejam estes organizados pelos capitalistas (entre eles tarifas, subsídios públicos, cartéis, trustes etc.) ou organizados pelos trabalhadores (tais como leis fabris, seguro social, serviços de saúde etc.)11.

Mas foi no período pós-guerra, com a intervenção marcante do Estado no mercado de trabalho que se pode observar, de forma mais intensa, a imposição de controles sobre a oferta e a demanda da po-pulação ativa e também a possibilidade de garantia de renda à parcela da população que não se encontrava incorporada ao mercado de tra-balho capitalista e, por conseqüência, encontrava-se em situação de vulnerabilidade social.

Se, no início do século XIX, o crescimento da produção de manufaturas indicava elevação do número de trabalhadores (deman-dando a mão-de-obra de crianças, mulheres e longas jornadas de

11. POCHMANN (1995).

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trabalho), pode-se dizer que a apropriação do processo técnico pelo capital permitiu que as empresas passassem a comandar, realmente, a produtividade capitalista, fazendo com que a produção aumentasse mais que o número de trabalhadores. Desta maneira, o domínio da tecnologia fez com que fosse possível, para os capitalistas, aumentar a produtividade sem necessariamente elevar o número de trabalhado-res na mesma proporção. Ou, nos termos de Marx, a acumulação do capital realiza-se com contínua mudança de sua composição orgânica, com os insumos aumentando com maior intensidade que a força de trabalho. Desta forma, a acumulação capitalista produz uma popula-ção que ultrapassa as necessidades médias da expansão do capital, tornando-se, deste modo, excedente12. Esta parcela denominada “su-perpopulação relativa” ou “exército industrial de reserva” depende das fases alternadas do ciclo produtivo, podendo ser aguda em momentos de crises e crônica em momentos de paralisação13.

Na prática, a constituição desta “superpopulação relativa” ou deste “exército industrial de reserva” tende a gerar uma relação des-favorável ao trabalho perante o capital — e é neste momento que o Estado deve servir de agente regulador, possibilitando aos trabalha-dores condições mais favoráveis de venda da sua força de trabalho (tais como redução de jornada, proibição do trabalho infantil, impo-sição de salário mínimo, contratos coletivos de trabalho etc.). De acordo com Offe, a economia de mercado gera grupos mais vulnerá-veis no interior de sua população que dependem de mecanismos de proteção social e de garantia de renda - basta observar a posição desfavorável da mulher, dos jovens, dos trabalhadores mais velhos, dos defi ciêntes e dos estrangeiros no mercado de trabalho etc14.

Entre as políticas públicas que visavam a regulação do merca-do de trabalho, são identifi cadas por Offe algumas medidas constan-temente aplicadas no período abordado. Destacando os esquemas de aposentadoria antes do tempo (permitem aos empregadores dispen-sarem trabalhadores que, de outro modo, estariam desprotegidos); a proibição do trabalho infantil e do emprego de imigrantes residentes

12. De acordo com Karl Marx, esta população excedente pode ser “líquida”, quando é uma reserva móvel de trabalho disponível para as empresas em períodos de necessidade de expansão do número de trabalhadores; “latente” quando formada de habitan-tes do meio rural em vias de serem expulsos da agricultura e que pretendem migrar para cidade; ou “estagnada” com ocupação inteiramente irregular.

13. MARX (1982).

14. OFFE (1989).

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ilegais; a licença maternidade remunerada; os incentivos aos trabalha-dores imigrantes para encorajá-los a retornarem ao local de origem; os recursos para iniciar uma atividade, e outros subsídios para os autôno-mos e para as pequenas empresas; os subsídios aos gastos com salá-rio, pagos aos empregadores de trabalhadores recém contratados; as multas para os empregadores que deixam de empregar uma quota prescrita de trabalhadores defi cientes físicos; o estabelecimento da jornada de trabalho máxima; a proteção contra demissão sem justa causa; a continuação à educação dos trabalhadores; as ajudas de custo para facilitar a mobilidade etc15.

No período dos anos gloriosos, a estabilidade do trabalho e da renda foram ampliadas, o nível de emprego cresceu e os ganhos cres-centes de produtividade eram repassados aos salários. Esta nova conjuntura foi capitaneada pelos sindicatos de trabalhadores e pelos partidos trabalhistas ou social-democratas. Bihr chega a afi rmar que houve um compromisso entre a burguesia e o proletariado, cujas raízes estariam na crise dos anos 30 e 40. Por este compromisso, os ideais revolucionários eram trocados pelo reconhecimento da legitimidade dos sindicatos e por ganhos materiais imediatos, tais como a redução da jornada de trabalho, os aumentos salariais, entre outros. Assim, os trabalhadores renunciaram a parte de seus interesses de classe colo-cados, inclusive, pelas agendas da IIª e IIIª Internacional do Trabalho, e aceitaram o lucro, antes entendido como parte da mais-valia apro-priada pelos donos dos meios de produção, como direito do capitalis-ta e próprio da dinâmica de acumulação do capitalismo16.

Além do fortalecimento da capacidade de negociação dos trabalhadores e do apoio aos grupos mais vulneráveis, o Estado teve outra face importante na promoção da igualdade nos países europeus. Tendo como ponto de partida a função reguladora do Estado para conter os efeitos econômicos e sociais da Grande Depressão, assim como a numerosa população economicamente ativa excedente por ela gerada, foram adotadas, em grande parte dos países capitalistas, polí-ticas anticíclicas de caráter keynesiano que visavam a recuperação das economias. A adoção destas políticas, conhecidas como “Welfare State” ou “Estado do Bem-Estar Social”, permitiu às economias capitalistas centrais, no 2º pós-guerra, não só controlar os ciclos econômicos, mas

15. OFFE (1989).

16. BIHR (1998).

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também, regular o mercado de trabalho (destacando-se o estabeleci-mento de salário mínimo, aumentos dos níveis salariais e negociação coletiva de trabalho), oferecer uma situação de pleno emprego, am-pliação dos direitos políticos e um conjunto de benefícios sociais (tais como, educação, saúde, seguridade social e subsídios ao transporte e à moradia). O grau de universalidade de cada sistema de Welfare State, assim como os requisitos para a titularidade, é variável entre os países, constituindo tipos distintos de Estados de Bem-Estar. Entretanto, em todos eles os níveis de segurança social e econômica das classes tra-balhadoras aumentaram consideravelmente17.

Desta maneira, o Estado assumiu a função de gerador de “antivalor”, sendo capaz de fornecer bens sociais por fora dos crité-rios de mercado. Para tanto, o Estado regulou a distribuição do ex-cedente de capital (parte da mais-valia ou do lucro) e constituiu um padrão de fi nanciamento público da economia capitalista. Em outras palavras, o fundo público, em suas diversas formas, passou de um lado, a ser o pressuposto da acumulação de capital, e de outro, do fi nanciamento da reprodução da força de trabalho, atingindo a po-pulação como um todo por meio dos gastos sociais18.

Ao agir desta maneira, o Estado não representou algo estranho à evolução do capitalismo e assumiu um papel regulador que benefi -ciou tanto a acumulação de capital quanto a população de forma geral. Isto fi ca mais evidente nas palavras de Francisco de Oliveira:

“A medicina socializada, a educação universal gratuita e obrigatória, a previdência social, o seguro-desemprego, os subsídios para o transporte, os benefícios familiares (quotas para auxílio-habitação, salário família) e, no extremo desse espectro, subsídios para o lazer, favorecendo desde as classes médias até o assalariado de nível mais baixo, são seus exemplos. A descrição nas diversas formas de fi nanciamento para a acumulação de capital seria muita mais longa: inclui desde os recursos para ciência e tecnologia, passa pelos diversos subsídios para a produção, sustentando a competitividade das exportações, vai através dos juros subsidiados para setores de ponta, toma em muitos países a forma de vastos e poderosos setores estaduais produtivos, cristaliza-se numa ampla militarização (as indústrias e os gastos com armamentos), sustenta a agricultura (o fi nan-ciamento dos excedentes agrícolas dos Estados Unidos e a Chamada

17. ESPING-ANDERSEN (1990).

18. OLIVEIRA (1988).

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Europa Verde” da CEE), e o mercado fi nanceiro e de capitais através de bancos e/ou fundos estatais, pela utilização de ações de empresas estatais como blue chips, intervem na circulação monetária de exceden-tes pelo open market, mantém a valorização dos capitais pela via da dívida pública etc.”19.Além das iniciativas regulatórias promovidas pelos Estados

Nacionais, os anos do pós-guerra assistiram a uma crescente redução da desigualdade social nos países ricos. Reafi rmando o que já mencio-namos, alguns fatores destacam-se no entendimento deste processo: 1) o crescimento da economia sempre ajuda a diminuir a pobreza — o que, entretanto, não levaria, naturalmente, à redução da desigualdade; 2) a constituição de um sistema de proteção social amplo, denomina-do no caso europeu de Welfare State; 3) a regulação estatal sobre o mercado de trabalho, com legislações estatais que aumentaram a se-gurança dos trabalhadores e forte capacidade de negociação dos sin-dicatos. Ou seja, durante um período específi co, conhecido como “anos gloriosos” do capitalismo, foi possível, nos países capitalistas centrais, crescimento econômico, redistribuição de renda e homoge-neização do padrão de consumo.

APÓS OS ANOS GLORIOSOS DO CAPITALISMOO esgotamento do padrão de crescimento da economia que

vigorou no pós-guerra inicia-se no fi m da segunda metade dos anos 60 e explode em meados dos anos 70 — amplifi cado pelas crises causadas pelo aumento no preço do petróleo, a principal matéria-prima energéti-ca do período anterior20. As raízes desta crise podem ser resumidas em três pontos: 1) a queda do dinamismo econômico e da produtividade; 2) o esgotamento do modelo de Bretton Woods e a crescente fi nanceirização da economia; e 3) a “falência” do Estado, ou melhor, a crise do fi nancia-mento do fundo público.

A falência do modelo econômico do segundo pós-guerra levou ao surgimento de “um novo regime de acumulação cujo funcionamento dependeria das propriedades do capital privado altamente concentrado (...)”21. Este novo regi-me vem sendo comumentemente denominado de globalização, termo originário do mundo jornalístico que foi difundido pelas escolas de ad-

19.OLIVEIRA (1988).

20. FAJNZYLBER (1983).

21. CHESNAIS (1995: 1).

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ministração norte-americanas. O termo tem uma pesada carga político-ideológica ligada a um sentido de inevitabilidade deste processo22.

Para Martins (1996), a linha ideológica que justifi ca e legitima a globalização é o liberalismo. Para este autor, o movimento globalizan-te tem duas faces: “de um lado, liberdade signifi ca liberação; de outro, signifi ca desproteção. Para liberar é preciso desproteger” (p. 4). Portanto, o novo regime de acumulação é diretamente ligado à atualização e à retomada dos valores liberais no plano das idéias.

De uma maneira mais detalhada, este novo modo de acumu-lação pode ser defi nido como um estágio do desenvolvimento econô-mico marcado por algumas características próprias, das quais desta-camos a acentuada mudança tecnológica, a fi nanceirização, a mudan-ça no padrão de gestão e organização das empresas e o aumento da mobilidade do capital.

Porém, os efeitos negativos da globalização afetam a sociedade de maneira mais profunda do que a simplesmente econômica. Quatro grupos de impactos podem ser assim rapidamente resumidos:

1. Inserção regional seletiva: fora dos países da Tríade (EUA, Europa e Japão) e de alguns poucos New Industrialized Countries asiáticos, os demais países que conseguem algum tipo de inserção na estrutura produtiva oligopolizada em nível mundial o fazem atra-vés do fornecimento de produtos industriais padronizados com baixíssimos custos salariais (integrando de forma subordinada a es-trutura de uma empresa-rede). Isto sem falar em regiões completa-mente excluídas do circuito produtivo e comercial, como por exem-plo alguns países africanos23.

2. Exclusão social: a enorme mobilidade do capital faz com que o combate ao desemprego e à pobreza não possa mais ser feito por meio de medidas protecionistas ou da constituição de um Esta-do de Bem-Estar. Pelo contrário, “a mobilidade do capital permite que as empresas obriguem os países a padronizar suas leis trabalhistas e de proteção social de acordo com aquelas dos Estados que lhes são mais favoráveis (vale dizer, onde a proteção social é mais fraca)”24. O crescimento do desemprego somado à perda de direitos sindicais e à queda no poder aquisitivo dos salários gera uma situação de exclusão social que assume formas

22. CHESNAIS (1995); COUTINHO (1996).

23. CHESNAIS (1995); MARTINS (1996).

24. CHESNAIS (1995: 23-4).

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novas. O desmonte do Estado de Bem-Estar Social age no sentido de aprofundar esta tendência25.

3. Crise cultural: há uma crescente incapacidade das socie-dades de impor um conjunto estável e coerente de referências aos seus membros. A partir destas referências, os cidadãos conseguirão encon-trar um sentido à sua existência individual e coletiva. O misticismo, o culto ao corpo e o consumismo são faces das novas referências surgi-das/aprofundadas nos últimos 30 anos26.

4. Anulação da política: o processo de dissolução da esfe-ra pública leva a uma “falsa consciência de desnecessidade do público”27. O esvaziamento do Estado, o desmoronamento dos partidos políticos e uma sensação de obsolescência da democracia levam à descrença cada vez mais generalizada acerca das possibilidades de transforma-ção da política28.

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Capítulo 2

O fracasso da inclusão social brasileiraRodrigo Coelho – Doutorando em Economia Social e do Trabalho e pesquisador do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP/Unicamp)

O INÍCIO DE TUDO...Para entender o cerne do fracasso brasileiro em promover a

inclusão social, precisamos voltar ao período dos descobrimentos para compreender a colonização brasileira como parte integrante de um empreendimento comercial europeu29. Antes de ser um país, o Brasil era um negócio, um entreposto comercial que teve seu primeiro atra-tivo na produção de uma especiaria bastante valorizada na época: o Pau-Brasil que nos batizou.

Seguimos a nossa história oferecendo aos colonizadores uma grande quantidade de produtos agrícola-extrativos, que poderiam ser abundantemente obtidos com pouco esforço ou investimento. Nas palavras de Sérgio Buarque de Holanda, por aqui desfi lou uma “procissão de milagres”, sempre retornando a possibilidade do ganho rápido e fácil, que estava “só à espera de ser ganho”.

29. “Este início, cujo caráter se manterá dominante através dos três séculos que vão até o momento em que ora abordamos a história brasileira, se gravará profunda e totalmente nas feições e na vida do país” (PRADO JR., 2000: 20).

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Ao esgotamento da produção de Pau-Brasil, seguiu o ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste brasileiro. O ciclo perdurou até meados do século XVII, quando o mercado se desorganizou, a empresa açuca-reira perdeu credibilidade e todo o sistema social construído em sua função entrou em letargia. A economia nacional regrediu, até que o ciclo do ouro veio a devolver-lhe o fôlego na metade do século XVIII. Este ciclo também se enfraqueceu por volta de 1780. No século se-guinte, tivemos breves surtos de prosperidade ligados ao algodão e ao arroz no Maranhão (no início do século XIX) ou à borracha no Amazo-nas (no fi nal). Mas o milagre que trouxe maiores riquezas no século XIX foi a valorização do café, cultivado com grande produtividade no Rio de Janeiro e, principalmente, em São Paulo30.

Nenhuma das riquezas formadas nestes ciclos — à exceção do café — deu frutos a outros projetos econômicos. Ao fi nal de cada um destes ciclos econômicos, a economia regredia a um estágio próximo ao de subsistência. E fi cava à espera do próximo surto de prosperidade.

Neste sentido, a construção da nação nunca foi prioritária. Aqui não era lugar para cidadãos, e sim para um estoque de mão-de-obra que, é bom lembrar, era escrava. Também esta situação não tem nada de acidental. Pelo contrário, ela está totalmente articulada com a opção pela produção de produtos tropicais realizada em grandes propriedades rurais. A atração de colonos para o povoamento (como ocorreu, por exemplo, nos EUA) não atrairia migrantes para trabalhar nas plantations tropicais. Eles buscariam terras próprias para estabelecer a produção em pequenas propriedades, como se observou na coloni-zação da América do Norte e de regiões do sul do Brasil. Desta forma, o trabalho compulsório foi a única forma de conseguir braços para as lavouras brasileiras mantendo a estrutura fundiária da grande proprie-dade e da produção para exportação31.

Portanto, na colonia, tínhamos uma estrutura social bastante simples e defi nida: um reduzidíssimo grupo de proprietários de terra, uma pequena classe média urbana ligada às atividades comerciais ou à administração da colonia/corte e uma enorme massa de escravos. A chance de uma profunda inclusão social ocorre com a Abolição de 1888. Foi a primeira oportunidade de dar um status de cidadania à

30. FURTADO (1989).

31. NOVAES (1981).

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grande massa popular. Entretanto, a Abolição ocorre quando já estava em andamento o processo de importação de mão-de-obra que trouxe para o Brasil a colonização européia no fi nal do século XIX e a japone-sa no início do século XX. E havia ainda a Lei das Terras Devolutas, de 1850, que encerrou o regime jurídico de posse, estabelecendo a com-pra como única forma de acesso a um pedaço de terra próprio. Por-tanto, quando o trabalho deixou de ser escravo, as terras deixaram de ser livres. E os escravos recém-libertos encontraram a concorrência dos imigrantes para trabalhar nas lavouras cafeeiras, as mais rentáveis no período32.

A estrutura social começa a se tornar mais complexa e hetero-gênea. Além da classe média urbana e dos grandes proprietários, havia os imigrantes, havia os antigos escravos que conseguiram se inserir em tarefas secundárias da agricultura cafeeira (derrubada de matas virgens, construções e tarefas auxiliares), havia os que não conseguiam se in-serir no mercado formal e voltaram para a subsistência, entre vários outros grupos que começam paulatinamente a se diferenciar.

SÉCULO XX E O FRACASSO DA INCLUSÃO SOCIAL BRASILEIRAAssim, o Brasil chega ao século XX como um país rural, disper-

so e com uma economia agrário-exportadora baseada no café, que dava os primeiros sinais de crise. O Estado nacional agiu para garantir a rentabilidade do negócio e evitar grandes prejuízos aos cafeicultores. Foram sucessivas políticas de valorização do café, que segundo Celso Furtado transferiram o grosso das perdas para a coletividade, num processo de socialização dos prejuízos do setor.

Também para o Brasil, a crise de 1929 é um marco. O preço do café parecia não se recuperar de jeito nenhum, o que enfraqueceu politicamente seus produtores. As divisas se foram, o que nos forçou à substituição de importações — nossos primeiros passos rumo à in-dustrialização. As oligarquias paulista e mineira perderam o comando da República com o surgimento da Aliança Liberal, que levou Getúlio Vargas ao poder.

Neste novo contexto, o Brasil passa a trilhar o caminho da in-dustrialização, com uma intensa participação do Estado, seja incentivan-do os empresários nacionais e estrangeiros, seja como produtor direto,

32. HENRIQUE (1999).

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ou ainda orientando os recursos produtivos da nação. Este caminho se inicia no primeiro governo Vargas (1930-1945), se aprofunda com o Plano de Metas do governo JK (1956-1960) e continua durante o perío-do da ditadura militar (1964-1985). O canto do cisne do Estado desen-volvimentista brasileiro foi o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que terminou a tarefa de implantar no Brasil todos os setores industriais característicos da Segunda Revolução Industrial. No fi nal dos anos 70, o Brasil dispunha de siderúrgicas, petroquímicas, empresas de eletricidade, de bens de capital, fábricas de automóveis, enfi m, todo conjunto de indústrias que os países centrais dominavam desde o fi nal do século XIX.

Foi um longo período com altas taxas de crescimento econômi-co, o que permitiu a estruturação do mercado de trabalho brasileiro. Nas palavras de Pochmann,

“a presença de taxas elevadas de expansão dos empregos assalariados com registro formal em segmentos organizados e a redução da parti-cipação relativa das ocupações sem registro, sem remuneração e por conta própria, e ainda do desemprego, possibilitaram a incorporação crescente de parcelas da PEA [População Economicamente Ativa] ao estatuto de trabalhador brasileiro”33.O Estado brasileiro também se estruturou ao longo dos três

primeiros quartos do século XX, o que permitiu a expansão das políticas sociais em diversas áreas.

Portanto, tal qual a experiência dos países centrais, o Brasil experimentou no pós-guerra um forte crescimento econômico, que ajudou a estruturar o mercado de trabalho. O Estado cresceu, passou a atuar ativamente na economia e montou uma rede de proteção so-cial, também de maneira semelhante aos países centrais. Então o que deu errado no nosso caso? Por que a inclusão brasileira não teve o mesmo sucesso das experiências do capitalismo europeu?

As diferenças entre os padrões de desenvolvimento são inúme-ras, mas nos concentraremos em dois pontos mais agudos, a saber, a difi culdade de organização por parte dos trabalhadores e o caráter concentrador das políticas sociais.

Conforme já assinalado, o rápido crescimento econômico pelo qual o país passou, permitiu que no espaço de 50 anos o mercado de trabalho fosse razoavelmente estruturado. Parcela expressiva da PEA

33. POCHMANN (1999: 67).

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foi incorporada ao mercado de trabalho formal, com direitos trabalhis-tas maiores. Entretanto, este sucesso não se refl etiu em maior organi-zação dos trabalhadores. Primeiro, devemos lembrar que mais da metade do tempo desta estruturação se deu em regimes ditatoriais (Vargas entre 37 e 45; militares entre 64 e 85). Com isso, obviamente as organizações sindicais foram reprimidas ou, pelo menos, colocadas dentro de limites bastante rígidos de ação.

Outro aspecto que impediu a ação igualitária da estruturação do mercado de trabalho foi a subordinação das políticas do trabalho aos objetivos econômicos do governo. Durante a ditadura militar, por exemplo, a política salarial tinha explicitamente objetivos de conter a infl ação. Ainda sob a ditadura, ocorreu o fi m da estabilidade do em-prego e a criação do FGTS, fatos que aumentaram o despotismo dos empregadores e geraram recursos para o fi nanciamento de programas públicos sem necessidade de uma estrutura tributária que buscasse recursos nas camadas mais ricas da população. Mesmo o governo Vargas, que estimulou a organização dos trabalhadores, regulamen-tando e organizando como passariam a funcionar as estruturas sindi-cais no Brasil, promoveu uma inclusão seletiva, excluindo do acesso aos direitos, por exemplo, os trabalhadores rurais e/ou os menos or-ganizados. Weffort destaca que:

“a limitação da legislação [trabalhista] aos setores urbanos não deve passar despercebida. São os setores que possuem maior capacidade de pressão sobre o Estado e aqueles que, desde antes de 1930, possuíam alguma tradição de luta; são também os setores disponíveis para a manipulação política (...). Por outro lado, a restrição da legislação trabalhista às cidades atende às massas urbanas sem interferir com os interesses dos grandes proprietários de terras”34.Por fi m, a ausência de uma reforma agrária, para não entrar em

confl ito com os proprietários de terras, como diz Weffort, deixou um estoque de mão-de-obra pronto para ser incorporado, pressionando para baixo os salários e as demais condições de trabalho existentes. A partir da segunda metade dos anos 60, com a modernização do cam-po, a expulsão dos trabalhadores se acentuou, incrementando ainda mais a migração rural.

Apesar de mais bem estruturado, o mercado de trabalho não fomentou uma maior igualdade entre os diversos segmentos de traba-

34. WEFFORT (1977: 66).

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lhadores. A mesma conclusão pode ser aplicada à política social ado-tada neste período. Ao invés de atuar no sentido de promover a luta pela igualdade — ou pelo menos de igualdade de oportunidades — as políticas sociais implantadas fi zeram exatamente o contrário.

Senão, vejamos alguns exemplos: a diferença entre as condi-ções de vida existente entre trabalhador rural e trabalhador urbano já era dramática por si só. Mas o fato de a previdência social e mesmo de leis trabalhistas não serem extensivas ao campo (até a década de 70) agravou em muito essa diferenciação. Outro exemplo é o fato de a elegibilidade para uma grande variedade de programas sociais estar ligada à carteira de trabalho (e aqui podemos citar o caso da assistên-cia médica praticada pelo Inamps), que já faz com que os trabalhado-res registrados (leia-se os que ocupam melhores posições no mercado de trabalho) sejam os benefi ciários maiores destas políticas. Já os tra-balhadores informais ou desempregados, além da inserção mais pre-cária, teriam o acesso vetado a estas políticas sociais. E, mesmo entre os trabalhadores formais, o fato de haver diferenciações por categorias (o caso da previdência, com seus diversos Institutos de Aposentado-rias e Pensões por categoria é exemplar) fez com que os setores mais estratégicos e/ou mais mobilizados recebessem maior “atenção” na hora da elaboração dos programas sociais35.

Outra evidência da pequena capacidade redistributiva da polí-tica social está na difi culdade de acesso das camadas mais pobres aos equipamentos públicos, até fi nal dos anos 60, como educação e saú-de. As camadas ricas e médias tinham um acesso privilegiado aos aparelhos públicos de boa qualidade, que ainda não eram difundidos em larga escala. Quando há a expansão desses serviços, durante a ditadura militar, a qualidade destes equipamentos cai e as classes ricas e médias migram para o setor privado, abandonando a defesa dos serviços públicos — e recolocando em novas bases a questão dos monopólios dos acessos à saúde e educação de qualidade.

Portanto, o país viu durante os seus “Anos Gloriosos” aumentar a sua heterogeneidade social. Não se tratava mais de um país de se-nhores, escravos e classe média. Havia uma considerável diferença

35. Wanderley Guilherme dos Santos sugere que o conceito chave para entender a política econômico-social pós-30 é a cidadania regulada. “Por cidadania regulada entendo o conceito de cidadania cujas raízes encontram-se, não em um código de valores políti-cos, mas em um sistema de estratifi cação ocupacional (...). Tornam-se pré-cidadãos todos aqueles cuja ocupação a lei desconhece” (SANTOS, 1979: 68).

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entre patrões e empregados; entre os trabalhadores rurais e urbanos; os formais e os informais; entre os trabalhadores do setor privado e do setor estatal; entre as diversas categorias profi ssionais, algumas mais protegidas que outras; entre migrantes, negros e brancos; ho-mens e mulheres; que são alguns exemplos das inúmeras diferencia-ções possíveis.

Ao fi m do período do nacional-desenvolvimentismo, nos anos 70, o Brasil era um país irreconhecível para quem o visse com os olhos do início do século. Era um país urbano, industrial, integra-do, com seu território ocupado, era a 8ª economia do mundo. Mas apesar destes progressos, era certamente um país mais desigual do que antes. E este resultado desigual foi alcançado durante um perí-odo em que as taxas de crescimento econômico brasileiro estiveram entre as maiores do mundo.

FIM DE SÉCULONa virada para os anos 80, o capitalismo mundial passa por um

momento de crise. Os “Anos Gloriosos” chegam ao fi m sem conseguir debelar uma estagnação da economia conjunta a um processo infl a-cionário. Também no Brasil, o modelo nacional-desenvolvimentista dava sinais de esgotamento. A crise da dívida externa, o problema da infl ação elevada e a crise de fi nanciamento do Estado deixaram explí-cito este esgotamento.

Segundo Paulo Baltar, “houve recessão em 1981/83, recuperação em 1984/86 e oscilação mais curta e suave em 1987/89. A década, em seu conjunto, foi muito marcada pela maneira como a economia se adaptou à crise da dívida externa, defl agrada pelo aumento das taxas de juros no mercado fi nanceiro inter-nacional e agravada pela elevação, que ocorreu simultaneamente, do preço inter-nacional do petróleo36”.

Além do baixo dinamismo da economia, a conjuntura altamen-te infl acionária da época fez com que os rendimentos do trabalho ti-vessem uma participação menor na distribuição funcional da renda por conta dos altos ganhos fi nanceiros do período. A proteção do dinhei-ro contra a espiral infl acionária espalhou-se por todas as camadas da população que tinham acesso ao sistema fi nanceiro. Aos sindicatos coube a missão de “correr atrás do prejuízo” em relação aos salários.

36. BALTAR (1996: 86).

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E os governos lançaram diversos planos heterodoxos para acabar com a infl ação — todos sem sucesso duradouro.

O modelo de crescimento baseado em endividamento externo sucumbiu frente à crise da dívida externa dos países subdesenvolvidos. Em 1987, o Brasil é obrigado a declarar a moratória de sua dívida até a renegociação ocorrida já nos anos 90. E a opção por bens de consumo duráveis se esgotou dado o pequeno tamanho da classe consumidora destes bens, em virtude da alta concentração de renda37.

O resultado deste desempenho macroeconômico pífi o foi o início da desestruturação do mercado de trabalho. Nas palavras de Pochmann, “a quantidade de empregos assalariados sofreu signifi cativa altera-ção na composição dos registrados e dos sem registro em carteira. De cada cem empregos assalariados gerados entre 1980 e 1990, cerca de 99 foram sem regis-tro e apenas um tinha registro. O saldo total dos empregos assalariados represen-tou 68% do universo de ocupações criadas no mesmo período (...). Das ocupações não assalariadas, a de empregador e de conta própria foram as que mais cresceram (4,9% e 3,5% respectivamente) entre os anos 1980 e 1991”38. Portanto, ini-cia-se um processo inverso ao verifi cado entre 1940 e 1970. Esta desestruturação se agravará nos anos 90, como veremos adiante.

Nem tudo, porém foi negativo nos anos 80. A luta de movimen-tos sociais que enfrentaram a ditadura culminou com a promulgação da Constituição de 1988, que trouxe inovações quanto ao fi nancia-mento e à estrutura de diversas políticas sociais. Por exemplo, a recei-ta orçamentária vinculada à educação aumentou, no nível federal, de 13% para 18%. Para os estados e municípios, os percentuais foram mantidos em 25%. A universalização dos serviços de proteção social também foi introduzida na Carta Magna de 1988. Com isto, a diferen-ciação ocupacional deixou de ser critério para o acesso às políticas de saúde e educação. Outra inovação fundamental da Constituição foi a adoção do conceito de seguridade social. De acordo com esse concei-to, os legisladores pretenderam formar um “conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”39.

Com relação à estrutura das políticas, houve a constitucionali-zação dos direitos sociais, com capítulos específi cos para a seguridade

37. TAVARES e ASSIS (1985); MELLO e BELLUZZO (1982).

38. POCHMANN (1999; 72-3).

39. BRASIL (1988), art. 194.

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social (saúde, previdência e assistência social) e para educação. A pre-sença destes temas no corpo da Constituição difi culta muito as alte-rações que venham a ocorrer. Isto se tornou fundamental mais adian-te, quando a orientação política do Governo mudou e estas políticas passaram a ser alvo de ataques.

O problema destas políticas decorre da crise de fi nanciamento do Estado, que limita a possibilidade de ampliação das ações. Todos os níveis de governo enfrentam este problema. Para agravar a situação, as políticas sociais, apesar dos avanços gerenciais alcançados, passam a agir, nos anos 90, em um ambiente economicamente estagnado. Os efeitos nega-tivos da política econômica se refl etem em maior demanda por serviços públicos e menor verba para fi nanciamento destes serviços40.

Este ambiente recessivo fi ca evidente na evolução dos núme-ros do Produto Interno Bruto da década. Assim, nos deparamos com uma situação pior do que a observada nos anos 80. O crescimento médio (1990-98) foi de 1,6% a.a. e o per capita de 0,2% a.a.. Entre 1990 e 1992 tivemos uma forte recessão. Entre 1993 e 1995, tivemos cres-cimento do PIB. Nos demais anos da década, fi camos próximos de uma situação de estagnação.

Mais importante, porém, que as oscilações do PIB, é o fato que desde o início da década a economia brasileira vem passando por uma radical transformação, adotando uma opção de inserção internacional através de fl uxos de capitais estrangeiros e de uma abertura da econo-mia às importações como há muito não se via. Essa política levou a uma crescente desindustrialização do Brasil. Vários setores não conse-guem concorrer com seus competidores estrangeiros por uma série de razões (juros altos, câmbio sobrevalorizado etc.). Houve, então, uma “especialização produtiva regressiva com:

“ampliação da desnacionalização, dada a substituição da produção de componentes, peças e matérias primas nacionais por importados, com conseqüente redução do valor agregado no país, nas cadeias produtivas mais complexas, como a indústria automobilística e no setor eletrônico;

“ampliação da desindustrialização, com forte substituição da oferta doméstica de bens fi nais por importados, fechamento de linhas de produção e até mesmo de unidades fabris inteiras.”41

40. FAGNANI (1999).

41. MATTOSO (1999:124).

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A maior exposição à competição internacional fez com que as empresas partissem em uma busca por ganhos permanentes e eleva-dos de produtividade como forma de baixar custos de produção. Dada uma baixa taxa de formação bruta de capital e o baixo crescimento industrial, este processo refl ete-se negativamente no nível de emprego industrial. As empresas entraram, assim, em um processo de reestru-turação produtiva que tem por objetivo principal obter ganhos de produtividade para incrementar sua competitividade frente ao acirra-mento da concorrência42.

Essas mudanças econômicas acentuaram a tendência, já obser-vada na década de 80, de terciarização da força de trabalho e aumento do emprego informal (entendido como ocupação por conta própria ou assalariamento sem direitos trabalhistas ou sociais). Há, entretanto, uma mudança na relação entre o setor formal e informal de trabalhado-res. Se no passado, a ligação entre ambos se dava através da renda — como assinala Dedecca, “os salários pagos no segmento formal eram, em parte, gastos com serviços e produtos do setor informal, explicando a possibilidade de reprodução desse” (pág.7) —, nos anos 90 passa a haver uma forte relação de produção entre os setores formal e informal da economia. Essa si-tuação ajuda a desestruturar o mercado de trabalho brasileiro. Há uma “desvalorização do estatuto do trabalho” progressiva43.

E os mecanismos de transferência de renda para as classes mais abastadas continuam a todo vapor. O avanço do capital fi nancei-ro transfere uma soma de recursos públicos para os especuladores / investidores que é superior ao fi nanciamento de qualquer política so-cial imaginada. A sonegação continua com um ímpeto muito grande, assim como o consumo exacerbado — que neste fi nal de século XX e início do século XXI atingiu proporções nunca vistas. O resultado des-ta combinação perversa foi sintetizado em uma série de estudos que procuraram mapear a exclusão social no país.44

MAPA DA EXCLUSÃO SOCIAL NO BRASIL EM 2000A aplicação do Indicador Síntese de Exclusão Social a todo o

país demonstrou que “41,6% das cidades do Brasil apresentam os piores resul-

42. DEDECCA (1998).

43. DIEESE, (1994).

44. POCHMANN e AMORIM (2003a); POCHMANN, CAMPOS, AMORIM e SILVA (2003b); POCHMANN, CAMPOS, BARBOSA, AMO-RIM e SILVA (2004).

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tados deste indicador (...). Mais uma vez, isto reforça a constatação que a ‘selva’ da exclusão mostra-se aí intensa e generalizada, com poucos ‘acampamentos’ de inclu-são social, pontuando uma realidade marcada pela pobreza e pela fome (...)”45.

Entretanto, a exclusão que aparece não é homogeneamente distribuída pelas regiões. No Norte e no Nordeste do país encontra-se o maior percentual de cidades em situação de exclusão social. Mesmo assim, as áreas próximas às capitais apresentam uma situação mais favorável frente ao interior. No Centro-Oeste, as condições de inclusão são um pouco melhores do que as apresentadas mais ao norte. Ainda não há, porém, uma situação adequada. No Sul e no Sudeste está o maior percentual de cidades com bons índices de inclusão social. Nestas regiões, os estados de Minas Gerais e do Paraná aparecem como os de pior desempenho. São Paulo e Santa Catarina são os es-tados com melhores índices de inclusão social.

Esta descrição, entretanto, é bastante grosseira, pois os pró-prios autores do estudo frisam que “não se pode deixar de verifi car que existem pontos incrustados nos estados que apresentam os melhores indicadores sociais, cuja situação é tão grave quanto à das áreas localizadas em regiões onde os indicadores são mais baixos. Finalmente, tampouco deve-se ignorar que esses indicadores são incapazes de detectar a heterogeneidade existente no interior dos grandes centros urbanos, principalmente por encerrarem, dentro de seu território, enormes desigual-dades sociais (...)”46.

No segundo volume do Atlas da Exclusão Social no Brasil, os auto-res analisaram a dinâmica da exclusão desde os anos 60. Fica claro que a partir dos anos 80, há uma melhoria dos índices de escolaridade da população, o que pode ser entendido como um efeito positivo das diretrizes expostas na Constituição de 1988. Entretanto, o Índice de Exclusão Social aumentou bastante neste período. Os autores ligam esta situação a uma nova forma de exclusão social.

A velha exclusão apontava como grupos vulneráveis aquelas famílias com muitos dependentes, especialmente crianças; os negros ou migrantes; os analfabetos e/ou cidadãos com baixa escolaridade; os trabalhadores com inserção profi ssional em ocupações de baixa produtividade. Esta forma de exclusão vem sofrendo alterações ao longo do tempo, com o surgimento de novas características que vêm substituir (ou se somar a) as características já existentes. Nas palavras

45. POCHMANN e AMORIM (2003a: 25).

46. Idem, página 38-9.

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de Telles, uma nova exclusão “aparece registrada no empobrecimento dos trabalhadores urbanos integrados nos centros dinâmicos da economia do país, seja pela deterioração salarial que se aprofundou durante os últimos anos, seja pela degradação dos serviços públicos que afetam a qualidade de vida nas cidades, seja ainda pelo desemprego em larga escala que atinge o setor formal da economia”47.

Por conta disto, os autores do segundo volume do Atlas da Exclusão indicam o tipo de acesso ao mercado de trabalho (formal, informal, desemprego recorrente) e a expansão da violência como os indicadores que se destacam quando se pensa na piora do Índice entre 1980 e 2000.

Portanto, o Brasil chega ao início do século XXI tendo falhado largamente na tarefa de garantir aos seus cidadãos um padrão de in-serção social adequado. Entretanto, o enorme crescimento econômi-co experimentado entre as décadas de 30 e de 70 permitiu aos brasi-leiros, pelo menos, desfrutar da esperança de ter uma vida melhor, ou de que seus fi lhos vivessem melhor do que eles viveram. As mudanças econômicas ocorridas desde os anos 80 tornaram este quadro bastan-te complexo. Os requisitos que antes poderiam trazer ascensão social aos indivíduos (principalmente a escolaridade) foram disseminados em larga escala. Mas eles não se constituem mais em instrumentos efi cien-tes de inserção social. O desemprego e a informalidade atingem cada vez um contingente maior de cidadãos com alta escolaridade. Até a esperança vai sumindo do nosso horizonte. Para enfrentar estes desa-fi os, é necessário constituir políticas públicas distintas das que vigora-ram ao longo do século XX.

47. TELLES (2001: 16).

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MAPA 1

Índice de Exlusão Social

Fonte: SDTS/PMSP

ACRE

AMAZONAS

RONDÔNIA

RORAIMA AMAPÁ

PARÁ MARANHÃO

PIAUI

TOCANTINS

CEARÁ

BAHIA

MATO GROSSO

MATO GROSSO DO SUL

DISTRITO FEDERALGOIÁS MINAS

GERAIS

SÃO PAULO

PARANÁ

SANTA CATARINA

RIO GRANDE DO SUL

RIO DE JANEIRO

ESPÍRITO SANTO

RIO GRANDE DO NORTE

PARAÍBA

PERNAMBUCO

SERGIPE

ALAGOAS

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Capítulo 3

A dinâmica do mercado de trabalho de OsascoIvan Filippini – Graduado em Ciências Econômicas

Marcos Paulo de Oliveira – Mestrando em Economia Política

O presente capítulo visa analisar a dinâmica do mercado de trabalho osasquense a partir de meados da década de 1980, período que apresentou grandes transformações decorrentes da crise de fi -nanciamento da economia brasileira. A “década perdida”, como os anos 80 são conhecidos, é marcada por planos heterodoxos de combate à infl ação que não obtiveram o sucesso desejado; pouca capacidade de investimento estatal; por um crescimento econômico muito abaixo da média obtida entre 1930 e 1970 e pela crise da dí-vida que culminou na moratória de 1987. No campo político, temos a Constituição de 1988 que propõe mudanças econômicas e sociais de alta relevância, tais como uma descentralização tributária ou uma mudança no padrão de seguridade social. A regulamentação destes avanços se dá a passos lentos desde então, com muitas propostas ainda sem uma aplicação prática.

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A virada da década é marcada pela formulação do que fi cou conhecido como “Consenso de Washington”, em 1989, cujo objetivo era desregulamentar a economia por meio de uma maior abertura comercial e fi nanceira, uma menor participação do Estado na produ-ção via privatização das empresas estatais e fl exibilização do mercado de trabalho como forma de elevar a produtividade e de reduzir os en-cargos trabalhistas. Estes preceitos são adotados no Brasil com o Governo Collor e aprofundados nos oito anos do Governo FHC. Esta nova visão sobre a atuação do Estado trouxe uma série de alterações no mercado de trabalho, alterações estas que pretendemos analisar neste artigo.

O capítulo está dividido em quatro seções. A primeira procura identifi car as características mais gerais do mercado de trabalho com relação ao aumento/diminuição da PEA, do desemprego ou da mudan-ça do perfi l ocupacional dos trabalhadores do município. A segunda seção objetiva descrever o perfi l dos trabalhadores formais ao longo do período. A terceira faz uma rápida caracterização dos trabalhadores sem carteira assinada, enquanto a quarta seção descreve o perfi l dos desempregados da cidade.

Para analisar os dados relacionados ao desemprego e à econo-mia tida como informal, foram utilizados os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), elaborada pelo convênio Seade/Dieese. A PED é uma pesquisa realizada em amostra probabilística de domicí-lios48 que busca mensurar e caracterizar a população economicamen-te ativa e suas relações com o mercado de trabalho. Assim, além da caracterização dos desempregados, a PED dimensiona os assalariados com vínculo formalizado (que, entretanto, serão analisados neste arti-go a partir da Rais), os assalariados sem carteira de trabalho assinada, os trabalhadores por conta própria, os trabalhadores familiares sem remuneração e empregados domésticos. Os dados da PED são obtidos a partir de uma amostra defi nida com rigorosos critérios estatísticos, que garantem a representatividade de seus indicadores para o conjun-to da população. Estas informações são coletadas por pesquisadores, que visitam um número defi nido de domicílios a cada mês, e entrevis-

48. No caso das inferências realizadas a partir da PED, foi necessário agregar os dados de três anos consecutivos para que houvesse observações em quantidade sufi ciente para que as amostras fossem estatisticamente representativas. Assim, as estimativas realizadas referem-se à média dos anos 1985, 1986 e 1987 para o primeiro período; e dos anos 2002, 2003 e 2004 para o segundo período. Já as inferências realizadas a partir da Rais não apresentam este problema.

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tam, com base em um questionário, todos os moradores sobre sua relação com o mundo do trabalho, no mês anterior.

Já para analisar o mercado de trabalho formal foram utilizados os dados do Relatório Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego. A Rais é um Registro Administrativo, de âmbito nacional, com periodicidade anual, obrigatório para todos os estabele-cimentos, inclusive aqueles sem ocorrência de vínculos empregatícios no exercício. Seus dados não correspondem a uma amostra, como no caso da PED, mas à população total dos trabalhadores e estabeleci-mentos formais do município. Para efeito de comparação foram utiliza-dos os anos de 1985 e de 2003. Vale notar que a cobertura da Rais é de cerca de 97% do universo do mercado de trabalho formal brasileiro. É necessário frisar que, devido às diferenças metodológicas entre a Rais e a PED, comparações diretas entre os dados não são viáveis.

MERCADO DE TRABALHO EM OSASCOOsasco faz parte da Região Metropolitana de São Paulo que se

constituiu a partir da descentralização de atividades industriais da capi-tal. Este processo é decorrente do surgimento de vantagens locacionais e da possibilidade de alojar a população trabalhadora de baixa renda nos municípios vizinhos à capital. É uma região, portanto, altamente ligada à dinâmica econômica do município de São Paulo. Porém, a partir dos anos 70, as atividades industriais e serviços passam a rumar para o inte-rior paulista, diminuindo o impacto da indústria na região49.

Com a mudança no modelo econômico brasileiro nos anos 90, esta tendência se acentua radicalmente. Para Araújo, “a RMSP surge como ponta de lança das mudanças estruturais da economia brasileira ao se trans-formar, nos anos 90, no principal centro terciário do país. A concentração do siste-ma bancário na região potencializou e induziu a criação e o desenvolvimento de novas atividades de serviços — principalmente ligadas às tecnologias de informação e à gestão dos negócios empresariais e fi nanceiros”50.

É, portanto, dentro do contexto de grandes alterações na eco-nomia nacional e regional que devem ser analisadas as mudanças ocorridas na cidade de Osasco. A estas mudanças, somam-se as novas situações demográfi cas e sociais surgidas no período. Ao analisar a distribuição da população osasquense por faixa etária, é interessante

49. BÓGUS e MONTALLI (1993).

50. ARAÚJO (2001: 21).

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notar que, apesar de a população de Osasco ter crescido quase 30% no período analisado, o número absoluto dos menores de 10 anos de idade declinou expressivamente, apresentando um decréscimo absoluto de cerca de 12 mil indivíduos. Com isso, a População em Idade Ativa (PIA) passou de 75,5% para 82,9% da população total, entre os anos 80 (nas informações da PED utilizadas neste estudo, entende-se como anos 80, a média dos anos de 1985, 1986 e 1987) e os anos 2000 (nas informa-ções da PED utilizadas neste estudo, entende-se como anos 2000, a média dos anos 2002, 2003 e 2004). Esta alteração na estrutura popula-cional está de acordo com as mudanças ocorridas em nível nacional, conforme demonstra Eugênia Trancoso Leone51.

51. Ver LEONE (2003).

Tabela 1População de Osasco, em número absolutos

85/86/87 e 02/03/04

TOTAL DA POPULAÇÃO 523.395 677.312 29,4 153.917Menor de 10 Anos 128.089 115.626 -9,7 -12.463PIA 395.306 561.686 42,1 166.380Inativos 155.234 202.248 30,3 47.014PEA 240.072 359.438 49,7 119.366Ocupados 212.133 292.642 38,0 80.509

Fonte: Elaboração SDTI a partir da PED/ Convênio Seade – Dieese

85/86/87 Variação (%)02/03/04 B – A

Observando os dados disponíveis, a partir da PED – Seade/Dieese, percebe-se que, entre os períodos analisados, a População Economicamen-te Ativa (PEA) cresceu em maior intensidade com relação à População em

Tabela 2Situação ocupacional dos trabalhadores de Osasco

1985/86/87 e 2002/03/04

PEA (1) 45,9 53,1Taxa de participação (PEA/PIA) 60,7 64,0Desempregados (2) 11,6 18,6 Desemprego aberto (2) 7,5 12,7 Desemprego oculto pelo trabalho precário (2) 2,5 4,2 Desemprego oculto pelo desalento (2) 1,7 1,7

Fonte: Elaboração SDTI a partir da PED/ Convênio Seade – DieeseNotas: 1. Percentual em relação à população total 2. Percentual em relação à PEA

85/86/87 02/03/04Situação Ocupacional

(em %)

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Idade Ativa (PIA) - sinalizando que parte dos cidadãos que antes se en-contravam em inatividade (donas de casa, estudantes, aposentados) passam a tentar se inserir no mercado de trabalho. Este aumento da PEA (de 45,9% da população total para 53,1%) supera o número de novos postos de trabalho criados no período. Assim, há um aumento na taxa de desemprego da cidade, que passa de 11,6% nos anos 80 para 18,6% no início dos anos 2000.

Este aumento da taxa de desemprego se deu, principalmente, no Desemprego Aberto, que se refere aos indivíduos que efetivamente pro-curaram trabalho nos 30 dias anteriores ao da entrevista e que não exer-ceram nenhum trabalho nos sete dias anteriores à mesma, e que repre-sentam atualmente 12,7% da PEA. O Desemprego Oculto pelo Trabalho Precário — conceito relativo às pessoas que realizam algum trabalho re-munerado ocasional de auto-ocupação, ou não remunerado em ajuda a negócios de parentes e que procuraram mudar de trabalho nos últimos 12 meses anteriores ao dia da entrevista — também cresceu, passando de 2,5% para 4,2% da PEA. Já o Desemprego Oculto pelo Desalento, ou seja, o grupo de pessoas que não possuem trabalho e nem procuraram trabalho nos últimos 30 dias antes da entrevista devido a circunstâncias fortuitas ou por desestímulos do mercado de trabalho, mas apresentaram procura efetiva nos últimos 12 meses, permaneceu estável em 1,7% da PEA, não sendo decisivo para o aumento da taxa de desemprego geral.

Portanto, o crescimento da taxa de desemprego ocorre no gru-po que está ativamente procurando emprego. Apesar desta busca, a taxa de desemprego de longa duração – isto é, aqueles que estão há mais de um ano desempregados – cresceu, passando de aproximada-mente 21%, na década de 80, para cerca de 35% do total de desempre-gados, nos anos 2000. Esse aumento é preocupante, uma vez que a difi culdade que o indivíduo encontra para ser contratado na economia formal pode se intensifi car à medida que o tempo de desocupação se amplia. Desta forma, políticas públicas específi cas tornam-se necessá-rias para que este grupo de indivíduos possua uma melhor inserção no mercado de trabalho e maiores chances de encontrar uma ocupação.

Ao analisar o mercado de trabalho municipal pela ótica da ocupação, fi ca claro que a trajetória de Osasco se assemelha às mu-danças ocorridas em nível nacional. Para Pochmann, “na década de 90, os sinais de desestruturação do mercado de trabalho assumiram maior destaque, consolidando a tendência de redução do assalariamento com registro e de expansão

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do desemprego e de ocupações não-organizadas”52. A esta perda de importância do assalariamento, acrescenta-se outra situação degradante: a menor formalização do trabalho. Nas palavras de Baltar, “o fato é que, na década de 1990, diminuiu a capacidade da atividade econômica gerar empregos com vín-culo formalizado, mesmo em setores no qual este tipo de emprego costumava ser gerado”53. Um bom exercício para ver isso é calcular a taxa de assalaria-mento formal (relação entre trabalhadores formais com carteira assinada e a população ocupada) que em meados dos anos 1980 era, em média, de 58,9% e passou a ser de 44,7% no início dos anos 2000, ou seja, sofreu uma queda de 14,2 pontos percentuais.

A Tabela 3 deixa claro que, em Osasco, estas tendências tam-bém se realizaram. O nível de assalariamento caiu de 75,4% para 67,0% nos quase 20 anos da nossa análise. Esta queda ocorreu em favor do crescimento do trabalho autônomo e de demais posições. Dentre os assalariados, a queda não foi maior por conta do crescimento dos empregos sem registro em carteira. Estas duas situações apontam para uma precarização atual da situação dos trabalhadores de Osasco fren-te aos anos 80. Aqui, novamente, pode-se fazer outro exercício ao fazer a relação entre o total de trabalhadores sem carteira e trabalha-dores autônomos com a População em Idade Ativa (PIA), constituindo

Tabela 3 Estimativa das pessoas ocupadas, segundo posição na ocupação

Município de Osasco - 1985/86/87 e 2002/03/04

Fonte: Elaboração SDTI a partir da PED/ Convênio Seade – DieeseNota: 1. Incluem empregadores, empregados domésticos, donos de negócio familiar, trabalhadores familiares sem remuneração, profi ssionais liberais e outras posições ocupacionais

02/03/0485/86/87 Variação (%)

Posição na Ocupação

Assalariados 75,4 159.948 67,0 196.070 -11,1 Setor Privado Com carteira assinada 78,1 124.919 66,7 130.779 -14,6 Sem carteira assinada 10,6 16.955 21,3 41.763 +100,9 Setor público 11,3 18.074 12,0 23.528 +6,2Autônomos 14,4 30.547 19,8 57.943 +37,5 Trabalham para o público 65,3 19.947 58,8 34.070 -10,0 Trabalham para empresa 34,7 10.600 41,2 23.873 +18,7Demais Posições (1) 10,2 21.638 13,2 38.629 +29,4TOTAL OCUPADOS 100,0 212.133 100,0 292.642 -

% Estimativa % Estimativa

52. POCHMANN (1999: 65).

53. BALTAR (2003: 141).

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um indicador de precarização que mostra que, em meados de 1980, era de 12,0% e passou a ser, no início dos anos 2000, de 17,8%, ou seja, um aumento de 5,8 pontos percentuais.

O PERFIL DOS TRABALHADORES ASSALARIADOS COM REGISTRO EM CARTEIRAObserva-se no comportamento do mercado de trabalho formal

de Osasco, a partir dos dados disponibilizados pelo Ministério do Tra-balho através do Relatório Anual de Informações Sociais (Rais), uma elevação de 13,6% do número de empregos formais entre 1985 e 2005. Em 1985, eram 104.477 trabalhadores registrados, enquanto, em 2005 eram 118.645 empregados apenas.

Entretanto, esta evolução do emprego não ocorreu da mesma forma em todos os setores econômicos. Ao analisar os dados, nota-se, no setor de serviços, um aumento do número de trabalhadores formais de 46.848, em 1985, para 61.348, em 2005 (uma elevação de 31,0% em mais de 20 anos). O número de trabalhadores formais do setor de comércio aumentou de 11.637 para 25.268 (uma elevação de 117,1% em mais de 20 anos). Compensando a expansão do emprego formal nestes setores, observa-se uma queda signifi cativa no número de tra-balhadores industriais, que diminuiu de 43.550 para 29.113 entre 1985 e 2005 (uma retração de 33,1% em mais de 20 anos).

Esta situação vai ao encontro do comportamento da Região Metropolitana de São Paulo nos anos recentes, diminuindo a partici-pação industrial e aumentando a participação do setor terciário54. Também contribui para a diminuição do trabalho industrial, a reestru-turação produtiva e organizacional ocorrida nas grandes empresas como resposta ao acirramento da concorrência capitalista. Na busca de maior produtividade e de redução de custos operacionais, foram efetivadas mudanças de grande impacto, tais como a incorporação da informática e da robótica ao processo de produção, aumentando a efi ciência e o controle dos produtos; reorganização do processo pro-dutivo, visando maior fl exibilidade e ajuste da produção às vendas; reformulação da gestão da mão-de-obra, com redução do quadro funcional e simplifi cação das hierarquias; a terceirização de atividades de suporte e focalização da empresa em atividades essenciais55.

54. Conforme a tendência mencionada por ARAÚJO (2001).

55. POCHMANN (1999).

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O emprego formal nos estabelecimentos osasquenses vem passando por um movimento de desconcentração, em que as micro e pequenas empresas vêm absorvendo proporcionalmente mais mão-de-obra do que as médias e grandes empresas. Esta desconcentração é decorrência direta do movimento das empresas, já que as empresas com mais de 500 empregados diminuíram de 36, em 1985, para apenas 19, em 2005. Ao mesmo tempo, o total de empresas com até 19 em-pregados aumentou de 2.544 para 6.123, durante o mesmo período56. A variação do emprego seguiu, logicamente, este movimento das em-presas. As micro-empresas abriram 15.606 novos postos de trabalho, entre 1985 e 2005 (fazendo com que sua participação no total do em-prego aumentasse de 8,5% para 20,6%), enquanto as pequenas em-presas abriram 10.901 postos (fazendo com sua participação subisse de 11,4% para 19,3%) e as médias empresas geraram 3.354 postos (fazendo com que sua participação aumentasse de 9,9% para 11,5%);

Tabela 4Distribuição dos trabalhadores de Osasco por setor de atividade econômica

1985 e 2005

Fonte: Elaboração SDTI a partir de Rais/MTE

%Nº de trabalhadoresSetor de Atividade

Indústria 43.550 29.133 41,7 24,6Construção civil 1.620 2.663 1,6 2,2Comércio 11.637 25.268 11,1 21,3Serviços 46.848 61.348 44,8 51,7Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca 23 233 0,0 0,2Outros/ignorado 799 0 0,8 0,0TOTAL 104.477 118.645 100,0 100,0

1985 2005 1985 2005

56. CAZZUNI et alli (2005).

Tabela 5Distribuição dos trabalhadores e estabelecimentos de Osasco por porte do estabelecimento

1985 e 2005

Fonte: Elaboração SDTI a partir de Rais/MTE

Nº de trabalhadoresSetor de Atividade

Ate 19 empregados 8.873 24.479 2.544 6.123De 20 a 99 empregados 11.951 22.852 273 565De 100 a 249 empregados 10.369 13.723 68 88De 250 a 499 empregados 11.286 12.255 32 36Mais de 500 empregados 61.998 45.336 36 19TOTAL 104.477 118.645 2.953 6.831

1985 2005 1985 2005Nº de Estabelecimentos

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por outro lado, as médias-grandes empresas fecharam 969 postos (fazendo com que sua participação diminuísse de 10,8% para 10,3%) e as grandes empresas eliminaram nada menos que 16.662 postos entre 1985 e 2005 (o que fez com que sua participação no total do emprego diminuísse de 59,3% para apenas 38,2%).

A Tabela 6 traz informações sobre o perfi l da mão-de-obra segundo o gênero. A partir dela observa-se que, em 1985, o mercado de trabalho osasquense abrigava pouca força de trabalho do sexo fe-minino. Todavia, a queda dos rendimentos e o crescimento do desem-prego ocorridos na década de 90, fi zeram com que as mulheres se lançassem mais intensamente no mercado de trabalho, visando uma maior complementação da renda familiar.

A participação das mulheres no total da mão-de-obra subiu de 24,0%, em 1985, para 39,0%, em 2005. Ao mesmo tempo, a participa-ção dos homens caiu de 76,0% para 61,0%. Esta nova confi guração é perfeitamente compatível com a mudança da estrutura produtiva da cidade. Os setores que mais crescem, como serviços e comércio, tra-dicionalmente abrigam mais mão-de-obra feminina do que o setor industrial (que vem perdendo força em Osasco). É importante notar, contudo, que esta mudança no padrão de seletividade está longe do equilíbrio de oportunidades e que de cada dez empregos, em 2005, menos que quatro eram ocupados por mulheres.

Ao analisar as informações sobre o perfi l da mão-de-obra se-gundo a idade, percebe-se que a situação do trabalhador jovem é complicada na cidade. A primeira faixa etária descrita traz um indicador positivo, que é o grande decréscimo do emprego de crianças e adoles-centes entre 10 e 17 anos. As mudanças de legislação e constituição de políticas no sentido de proteger este segmento57 apresentam um resultado positivo, deixando o emprego desta faixa bastante reduzido. Já nas duas faixas seguintes, fi ca clara a difi culdade dos jovens no acesso ao primeiro emprego. Particularmente na faixa entre 18 e 24 anos, que em 1985 abrigava o maior percentual de trabalhadores for-mais, a queda foi bastante acentuada. Já nas faixas com maior expe riên-cia de trabalho, a situação apresenta maiores participações. Mais uma

57. A idade mínima para o trabalho é instituída por lei, desde 1998, em 16 anos. Além desta mudança, desde meados da década de 90 há a emergência de políticas de transferência de renda condicionadas ao fi m do trabalho infantil ou à freqüência das crianças na escola e em outras atividades complementares (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, Bolsa Família, Renda Cidadã, Renda Mínima Municipal). Para um panorama sobre estes programas, ver capítulo 6 deste livro.

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Tabela 6Distribuição do emprego formal de Osasco por gênero

1985 e 2005

Fonte: Elaboração SDTI a partir de Rais/MTE

Nº de trabalhadoresSexo

Masculino 79.358 71.976 76,0 61,0Feminino 25.119 46.669 24,0 39,0TOTAL 104.477 118.645 100,0 100,0

1985 2005 1985 2005%

vez, Osasco tem sua estrutura de emprego alterada no mesmo sen-tido das transformações ocorridas nacionalmente. Falando sobre o mercado de trabalho brasileiro dos anos 90, Baltar assinala que “o parco crescimento desse tipo de emprego [o trabalho assalariado], na década de 1990, abalou fortemente as condições de entrada dos jovens no mercado de trabalho”58.

Tabela 7Distribuição do emprego formal de Osasco por faixa etária

1985 e 2005

Fonte: Elaboração SDTI a partir de Rais/MTE

Nº de trabalhadoresFaixa Etária

De 10 a 17 anos 4.881 1.274 4,7 1,1De 18 a 24 anos 32.109 22.532 30,7 19,0De 25 a 29 anos 20.697 21.270 19,8 17,9De 30 a 39 anos 28.145 36.043 26,9 30,4De 40 ou mais 18.253 37.526 17,5 31,6Ignorado 392 0 0,4 0,0TOTAL 104.477 118.645 100,0 100,0

1985 2005 1985 2005%

A Tabela 8 traz informações sobre o perfi l da mão-de-obra segundo a escolaridade. E, a partir dela, vemos que em 1985, Osasco abrigava uma força de trabalho dotada de baixos índices de instrução formal. No período analisado, a participação dos trabalhadores com até 8ª série completa caiu de 65,8% para 33,2%. Ao mesmo tempo, a participação daqueles localizados nas faixas entre o 2º grau e o ensino superior subiu de 33,6% para 66,8%. Ou seja, o grau de escolaridade dos trabalhadores formais aumentou. Esta situação, entretanto, não signifi ca que o trabalho seja atualmente mais especializado do que nos anos 80. É bastante provável que esta mudança de perfi l seja decor-

58. BALTAR (2003: 147).

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rente de uma simples alteração nos procedimentos de recrutamento e seleção das empresas, em um quadro geral de aumento da escolarida-de da população como um todo59.

Segundo os dados de distribuição dos trabalhadores com em-prego formal por faixa de tempo no emprego ou por faixa de remune-ração média, fi ca claro que as mudanças, até o momento analisadas, não infl uíram nestes dois aspectos. As alterações de valores percen-tuais, entre 1985 e 2005, nestes dois quesitos foram bastante peque-nas. Portanto, a menor utilização de mão-de-obra jovem e o aumento do grau de escolaridade dos trabalhadores não se refl etiram em um aumento na estabilidade no emprego ou na renda percebida.

Tabela 8Distribuição do emprego formal de Osasco por grau de instrução

1985 e 2005

Fonte: Elaboração SDTI a partir de Rais/MTE

Nº de trabalhadoresGrau de Instrução

Analfabeto 1.469 415 1,4 0,34ª série incompleta 11.689 2.954 11,2 2,54ª série completa 26.205 6.079 25,1 5,18ª série incompleta 18.134 11.452 17,4 9,78ª série completa 11.271 18.566 10,8 15,62º grau incompleto 12.190 11.580 11,7 9,82º grau completo 11.594 40.320 11,1 34,0Superior incompleto 4.942 7.366 4,7 6,2Superior completo 6.330 19.913 6,1 16,8Ignorado 653 0 0,6 0,0TOTAL 104.477 118.645 100,0 100,0

1985 2005 1985 2005%

Tabela 9Distribuição do emprego formal de Osasco por faixa de tempo de emprego

1985 e 2005

Fonte: Elaboração SDTI a partir de Rais/MTE

Nº de trabalhadoresFaixa de Tempo de Emprego

Até 11,9 meses 34.169 37.272 32,7 31,4De 1,0 a 4,9 anos 40.979 47.894 39,2 40,4De 5,0 a 9,9 anos 17.964 15.955 17,2 13,410 anos ou mais 11.354 17.488 10,9 14,7Ignorado 11 36 0,0 0,0TOTAL 104.477 118.645 100,0 100,0

1985 2005 1985 2005%

59. BALTAR (2003); CERQUEIRA (2003).

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O PERFIL DOS TRABALHADORES ASSALARIADOS SEM REGISTRO EM CARTEIRAO perfi l dos trabalhadores assalariados sem carteira assinada

sofreu modifi cações bastante próximas das observadas para os tra-balhadores formais. A inserção da mulher neste grupo de trabalhado-res aumentou razoavelmente, apesar de ainda não podermos falar em equilíbrio de oportunidades, já que 2/3 das vagas são ocupadas por homens.

Tabela 10Distribuição do emprego formal de Osasco por faixas de remuneração média mensal

1985 e 2005

Fonte: Elaboração SDTI a partir de Rais/MTE

Nº de trabalhadoresFaixas de Remuneração Média

Até 1 Salário Mínimo 1.560 1.106 1,5 0,9De 1,01 a 2,00 salários mínimos 21.972 28.478 21 24,0De 2,01 a 3,00 salários mínimos 24.716 30.966 23,7 26,1De 3,01 a 5,00 salários mínimos 22.843 25.667 21,9 21,6De 5,01 a 10,00 salários mínimos 20.450 20.363 19,6 17,2Mais de 10 salários mínimos 10.955 10.735 10,5 9,0Ignorado 1.981 1.330 1,9 1,1TOTAL 104.477 118.645 100,0 100,0

1985 2005 1985 2005%

Tabela 11Distribuição dos assalariados sem carteira por sexo

Município de Osasco - 1985/86/87 e 2002/03/04

Fonte: Elaboração SDTI a partir da PED/ Convênio Seade - Dieese

Sexo

Masculino 70,2 66,0 - 6,0Feminino 29,8 34,0 +14,1TOTAL 100,00 100,0 -

Sexo 85/86/87 Variação02/03/04

Com relação à faixa etária, o grupo de crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos teve uma forte redução. Neste caso a redução foi menor do que a observada no setor formal. Sem dúvida tal fato é decor-rência da legislação que proíbe a contratação de trabalhadores com menos de 16 anos — que tende a ser respeitada no setor formal, mas que é relativizada quando se trata do trabalho sem registro. A segunda faixa etária, de jovens entre 18 e 24 anos, aumentou 13,1%, ao contrário do ocorrido quando os jovens conseguem ter sua carteira assinada. Isto nos leva a duas constatações: primeiro, que este índice de crescimento positivo no mercado informal e negativo no formal explicita a difi culdade

(em %)

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do jovem em conseguir seu primeiro emprego de forma totalmente le-galizada e com acesso aos direitos trabalhistas. Em segundo lugar, mes-mo este crescimento observado é pequeno se comparado ao aumento nas faixas de idade mais velhas — quer dizer, mesmo aceitando trabalhar sem carteira assinada, a difi culdade para o jovem conseguir uma vaga de trabalho é maior do que nas demais faixas etárias.

Tabela 12Distribuição dos trabalhadores assalariados sem carteira por faixa etária

Município de Osasco - 1985/86/87 e 2002/03/04

Fonte: Elaboração SDTI a partir da PED/ Convênio Seade – Dieese

de 10 a 17 anos 35,0 12,1 -65,4de 18 a 24 anos 28,9 32,7 +13,1de 25 a 39 anos 21,3 33,6 +57,740 ou mais 14,8 21,6 +45,9TOTAL 100,0 100,0 -

85/86/87 Variação02/03/04Faixa Etária

Da mesma forma, tal qual o perfi l dos trabalhadores com registro em carteira, há um aumento na escolaridade dos trabalhadores informais. Os trabalhadores classifi cados como semiqualifi cados constituem o maior contingente, mas perderam importância relativa frente aos trabalhadores qualifi cados. O grupo com menor qualifi cação foi bastante reduzido, cain-do de 25,4%, em 1985, para 7,3%, em 2003. Em compensação, o único grupo que aumentou foi o de trabalhadores com pelo menos 11 anos de estudos, aqui classifi cados como qualifi cados. Da mesma forma que na análise anterior, esta melhor qualifi cação não é diretamente relacionada com uma maior qualifi cação dos postos de trabalho, mas com uma carac-terística generalizada de aumento de escolaridade da PEA do município.

O aspecto do perfi l dos trabalhadores no qual há mudança entre os sem carteira assinada e os com carteira é a distribuição de trabalha-

(em %)

Tabela 13Distribuição dos trabalhadores assalariados sem carteira de Osasco por escolaridade

1985/86/87 e 2002/03/04

Fonte: Elaboração SDTI a partir da PED/ Convênio Seade - DieeseNota: 1. O pequeno número de observações amostrais pode comprometer a representatividade estatística da amostra

Não-qualifi cados (até 3 anos de estudo) 25,4 7,3 (1)

Semiqualifi cados (de 4 a 10 anos de Estudo) 68,0 55,5Qualifi cados (pelo menos 11 anos de estudo) 6,6 (1) 37,2TOTAL 100,0 100,0

85/86/87 02/03/04Grau de Instrução

(em %)

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dores por faixa de renda bruta. Neste caso, os trabalhadores informais que ganhavam até um salário mínimo diminuíram pela metade, en-quanto todas as faixas de renda superiores foram incrementadas — e quanto maior a faixa de rendimentos, maior foi o percentual de cresci-mento de 2003 em relação a 1985. Estes números nos permitem con-cluir que o trabalho sem carteira assinada não foi uma alternativa para empregos precários e mal remunerados. O aumento da escolaridade observada chancela esta hipótese. Porém, mesmo com esta melhoria salarial, a disparidade de rendimentos entre os trabalhadores com carteira assinada e os sem carteira assinada ainda é bastante grande em favor dos primeiros.

O PERFIL DOS TRABALHADORES DESEMPREGADOSTambém o perfi l dos desempregados de Osasco é próximo do

perfi l dos empregados. A participação feminina na procura do empre-go cresce — e neste caso se torna predominante. Confi rma-se, porém, a difi culdade maior das mulheres em conseguir uma ocupação no mercado de trabalho.

Tabela 14Distribuição dos trabalhadores assalariados sem carteira por faixas de renda bruta

no trabalho principal - Município de Osasco - 1985/86/87 e 2002/03/04

Fonte: Elaboração SDTI a partir da PED/ Convênio Seade - DieeseNota: 1. O pequeno número de observações amostrais pode comprometer a representatividade estatística da amostra.

Até 1 Salário Mínimo 46,1 21,0 (1) - 54,5De 1,01 a 2 Salários Mínimos 31,4 40,1 + 27,7De 2,01 a 3 Salários Mínimos 10,5 17,4 + 65,7Mais de 3 Salários Mínimos 12,0 (1) 21,5 + 79,2TOTAL 100,0 100,0 -

85/86/87 Variação02/03/04Renda Bruta em Salários Mínimos

(em %)

Tabela 15Distribuição dos desempregados por sexo

Município de Osasco - 1985/86/87 e 2002/03/04

Fonte: Elaboração SDTI a partir da PED/ Convênio Seade - Dieese

Masculino 52,2 45,9 -12,1Feminino 47,8 54,1 +13,2TOTAL 100,0 100,0 -

85/86/87 Variação02/03/04Sexo

(em %)

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No tocante à faixa etária, também há uma diminuição na par-ticipação das crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos. Há um au-mento generalizado das demais faixas etárias, mas merece destaque o aumento do desemprego entre os cidadãos maiores de 40 anos, que cresceu 125,0% no período. O desemprego dos jovens também cres-ceu e a faixa etária entre 18 e 24 anos permanece como maior con-tingente de desempregados, com quase o dobro de percentual dos desempregados acima de 30 anos.

Tabela 18Distribuição dos desempregados por motivo do desligamento do último emprego

Município de Osasco - 1985/86/87 e 2002/03/04

Fonte: Elaboração SDTI a partir da PED/ Convênio Seade – Dieese

Foi desligado 36,5 64,6 +77,0Desligou-se 46,5 21,3 -54,2Não se aplica 17,0 14,1 -17,1TOTAL 100,0 100,0 -

85/86/87 Variação02/03/04Motivo

(em %)

Tabela 17Distribuição dos trabalhadores desempregados de Osasco por nível de instrução

1985/86/87 e 2002/03/04

Fonte: Elaboração SDTI a partir da PED/ Convênio Seade - DieeseObs.: O pequeno número de observações amostrais pode comprometer a representatividade estatística da amostra

Não-qualifi cados (até 3 anos de estudo) 21,1 6,8Semiqualifi cados (de 4 a 10 anos de Estudo) 71,4 57,7Qualifi cados (pelo menos 11 anos de estudo) 7,5 35,5TOTAL 100,0 100,0

85/86/87 02/03/04Grau de Instrução

(em %)

Tabela 16Distribuição dos desempregados por faixa etáriaMunicípio de Osasco - 1985/86/87 e 2002/03/04

Fonte: Elaboração SDTI a partir da PED/ Convênio Seade - Dieese

de 10 a 17 anos 33,1 16,3 -50,8de 18 a 24 anos 29,4 34,7 +18,0de 25 a 29 anos 13,0 12,9 -0,8de 30 a 39 anos 16,5 18,1 +9,7Mais de 40 anos 8,0 18,0 +125,0TOTAL 100,0 100,0 -

85/86/87 Variação02/03/04Faixa Etária

(em %)

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Com relação à escolaridade, a situação também é próxima da observada junto aos assalariados sem carteira assinada. O grupo mais numeroso ainda é semiqualifi cado, que, entretanto, perde peso em favor dos trabalhadores com mais de 11 anos de estudo. Os trabalha-dores não-qualifi cados, que tinham uma participação relativa impor-tante, também diminuem em prol dos mais escolarizados. Com isso, os trabalhadores qualifi cados, que apresentavam, em 1985, uma par-ticipação irrisória, ganham importância relativa. Mesmo os índices encontrados neste grupo e no grupo de trabalhadores informais não apresentam diferenças relevantes.

Destaca-se ainda que a proporção dos desempregados que deixou o último emprego por iniciativa própria declinou cerca de 54,2% no período. Tal fato pode ser uma evidência de que os indivíduos apre-sentam atualmente maior resistência em tomar a iniciativa de deixar o emprego devido ao aumento da taxa de desemprego e à maior com-petitividade do mercado de trabalho.

BIBLIOGRAFIA

ARAUJO, M. F. I. Reestruturação produtiva e transformações econômi-cas. São Paulo em Perspectiva, Seade, São Paulo, n. 1, v. 15. 2001.

BALTAR, P. E. Estrutura econômica e emprego urbano na década de 90. In: HENRIQUE; PRONI (Orgs.). Trabalho, mercado e sociedade: o Brasil nos anos 90. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.

BÓGUS, L. M.; MONTALI, L. A reestruturação metropolitana de São Paulo. In: ENCONTRO DA ANPOCS, 17., 1993. Caxambu, Resumos... Caxambu, 1993.

CAZZUNI, D et al. A dinâmica econômica e do mercado de traba-lho formal e informal em Osasco. Osasco: PMO, 2005.

CERQUEIRA, A. C. O novo perfi l dos ocupados na indústria auto-motiva paulista na década de 90. 2003. Dissertação ( Mestrado em Economia) – Instituto de Economia, Universidade de Campinas , Cam-pinas, 2003.

LEONE, E. T. O trabalho da mulher em regiões metropolitanas brasilei-ras. In: HENRIQUE; PRONI (Orgs.). Trabalho, mercado e sociedade:

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o Brasil nos anos 90. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.

POCHMANN, M. O trabalho sob fogo cruzado. São Paulo: Contexto, 1999.

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Capítulo 4

A exclusão social em OsascoAlexandre Guerra – Especialista em Economia Social e Sindicalismo

Marcelo Benedito – Graduado em Geografi a

Ronnie Aldrin - Graduado em Geografi a

Este capítulo visa identifi car as áreas de Osasco que permane-ceram à margem do desenvolvimento econômico e social, servindo de subsídio para concepção e implementação de políticas públicas des-tinadas a reduzir os aspectos perversos da exclusão social.

Desta maneira, apoiando-se na metodologia do estudo Atlas da Exclusão Social no Brasil60, uma equipe de pesquisadores da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão (SDTI) decidiu analisar as faces da manifestação da exclusão social no interior do município de Osasco.

De forma geral, utilizou-se como fonte os dados do Censo Demográfi co 2000 (disponibilizado pelo IBGE) e os dados da Delegacia Seccional de Polícia de Osasco de 2004, para construir o Índice de Exclu-são Social capaz de sintetizar alguns dos principais atributos da exclusão social no território osasquense. Este índice, passível de detalhamento para cada área de ponderação de Osasco, procurou englobar algumas dimensões da vida econômica e social. Uma primeira dimensão, cha-mada Vida Digna, esteve preocupada em averiguar o bem-estar material

60. POCHMANN e AMORIM (2002); POCHMANN et alli (2003a).

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da população e incluiu um Indicador de Pobreza (porcentagem de famílias com insufi ciência de renda por áreas de ponderação de Osasco), um Indicador de Emprego (percentual da população em idade ativa emprega-da com carteira assinada por áreas de ponderação de Osasco) e um Indicador de Desigualdade (proporção entre famílias com renda familiar per capita acima de 10 salários mínimos e aquelas com rendimentos até este montante). Uma segunda dimensão, chamada Conhecimento, es-teve direcionada para a mensuração do acúmulo simbólico e cultural da população de Osasco e incorporou um Indicador de Alfabetização (porcentagem de pessoas com mais de 5 anos de idade que sabem ler e escrever por áreas de ponderação de Osasco) e Indicador de Esco-laridade (número médio de anos de estudo da população por áreas de ponderação de Osasco). Uma terceira dimensão, chamada de Vulne-rabilidade voltada para a avaliação da exposição da população jovem e para as situações caracterizadas pela violência, incluiu um Indicador de Juventude (percentual da população com até 24 anos de idade nas áreas de ponderação de Osasco) e outro Indicador de Violência (propor-ção de ocorrências de homicídios por 10.000 habitantes nas áreas de ponderação de Osasco)61.

A transformação dos sete indicadores dessas três dimensões em índices deu-se pela fórmula utilizada por Amartya Sen e dissemina-da pelo PNUD/ONU na construção do IDH:

Xi,p = (Xi – MIN[Xi]) / (MAX[Xi] – MIN[Xi])Onde:p: identifi ca qual indicador está em estudoi: identifi ca a unidade de análise (área de ponderação)X: valor do indicador utilizado no cálculoMIN(X): valor mínimo encontrado na distribuição do indicadorMAX (X): valor máximo encontrado na distribuição do indicador

Tal processo permitiu a apuração do Índice de Exclusão Social para as 32 áreas de ponderação de Osasco.

Finalmente, para interpretar o resultado de cada município brasi-leiro basta ter em mente duas coisas:

1. O índice varia de zero a um;2. As piores condições de vida equivalem a valores próximos a

zero, enquanto as melhores situações sociais estão próximas de um.

61. POCHMANN e AMORIM (2002); POCHMANN et alli (2003a).

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Desta maneira, tendo como objetivo mensurar as diversas es-feras da exclusão social no município de Osasco, apresenta-se a seguir os oito indicadores que revelam a desigualdade entre os “incluídos” e “excluídos” socialmente. Será feita uma comparação entre a quantida-de e a localização das áreas de ponderação que apresentam os piores e melhores índices, de forma a avaliar as diferenças entre as localidades que abrigam maior percentual de excluídos e as que abrigam maior percentual de incluídos. Iniciamos com os três índices que compõem a Vida Digna: Pobreza, Emprego e Desigualdade.

1. Quanto ao indicador que menciona a pobreza, observa-se que as áreas de ponderação de Osasco que possuem grande parte da população com rendimentos abaixo da linha de pobreza62 são Bonan-ça/Industrial Anhanguera/Platina/Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé, Padroeira, Jardim Conceição, Munhoz Júnior (Parte Sul), Setor Mili-tar/Vila Militar/Bonfi m/Piratininga, Veloso, Munhoz Júnior (Parte Norte), Castelo Branco/Iape e Baronesa/Portal D’Oeste (todos corresponden-tes à cor vermelha do mapa). Já as áreas de ponderação com menor quantidade de pobres, ou as mais “ricas” são Adalgisa/Vila Yara, Umu-arana/Cidade de Deus/Vila Campesina/Industrial Autonomistas/Parque Continental/Industrial Altino/Remédios, Km 18/Industrial Centro, Cipa-va/Bela Vista, Centro/Presidente Altino e Jardim das Flores/Vila Osasco (correspondente à cor verde do mapa).

2. No que se refere ao indicador sobre a participação dos as-salariados em ocupações formais no total da população em idade ativa, nota-se que 28,1% das áreas de ponderação possuem baixo grau de assalariamento63 com registro em carteira (cor vermelha no mapa), são elas Jardim Roberto, Rochedale, Padroeira, Quitaúna/São Pedro, Setor Militar/Vila Militar/Bonfi m/Piratininga, Ayrosa/Industrial Remé-dios, Centro/Presidente Altino, Santo Antonio, Vila Yolanda. Em con-trapartida, 9,4% das áreas de ponderação de Osasco contam com ocupação caracterizadas pelo assalariamento formal (cor verde do mapa), sendo estas Aliança/Jardim Elvira, Vila Menk e Santa Maria/Ra-poso Tavares/Metalúrgicos.

62. Considera-se linha de pobreza, neste estudo, os indivíduos que recebem até ½ salário mínimo de renda mensal per capita. Se-gundo os dados do Censo Demográfi co 2000/IBGE cerca de 64,2 mil indivíduos encontram-se abaixo abaixo da linha de pobreza no município de Osasco.

63. Entende-se neste estudo como baixo grau de assalariamento as áreas de ponderação que possuem uma taxa de assalariamento formal (assalariados formais/PIA) de até 25,94%

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Este indicador resulta num mapa distinto do mapa do Indicador de Pobreza, o que poderia causar um estranhamento à primeira vista. Entretanto, uma análise mais apurada sobre as características da ocu-pação nas diversas áreas de ponderação ajuda a entender melhor a si-tuação social local. As áreas de ponderação onde os índices de pobre-za são piores, apresentam um grau de assalariamento mais elevado do que as áreas mais ricas. Entretanto, o índice de Emprego responde apenas por empregos formais em relação à População em Idade Ativa. Um primeiro aspecto a ser percebido é que nas áreas de ponderação com melhores indicadores, o trabalho por conta própria e a incidência de empregadores é, percentualmente, bastante superior aos números existentes nas áreas mais pobres. Portanto, apesar do maior número de empregados formais nas áreas mais pobres, há um grande contingente de trabalhadores autônomos e empregadores nas áreas mais ricas, como demonstra a Tabela 19.

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Tabela 19Percentual da população do município de Osasco, segundo situações ocupacionais

selecionadas, por área de ponderação

Fonte: Censo demográfi co, 2000/IBGE

AED01 52,2 0,1 21,4AED02 57,4 0,5 14,5AED03 52,8 0,9 16,3AED04 49,2 2,1 17,5AED05 49,5 2,7 20,2AED06 55,1 0,4 18,8AED07 50,0 1,6 14,9AED08 49,4 0,3 19,8AED09 49,1 0,9 17,0AED10 49,8 3,3 15,4AED11 53,8 2,7 19,9AED12 51,2 1,9 15,2AED13 51,5 3,3 16,0AED14 52,7 3,9 17,9AED15 56,6 3,0 16,3AED16 55,6 0,8 14,4AED17 50,9 1,3 20,7AED18 52,7 0,6 18,8AED19 47,7 1,2 18,9AED20 52,7 4,0 16,7AED21 53,4 2,6 17,3AED22 52,7 7,2 17,4AED23 52,1 2,7 18,4AED24 56,3 1,2 15,2AED25 49,6 5,7 22,2AED26 47,0 2,4 20,4AED27 48,5 1,4 21,2AED28 52,4 1,9 19,4AED29 56,6 1,0 16,4AED30 56,1 0,8 16,4AED31 57,1 1,2 14,3AED32 58,5 1,5 12,8TOTAL 52,4 2,0 17,6

Empregado com carteira de trabalho

assinadaEmpregadorÁreas de

PonderaçãoConta-própria

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Além da diferença na estrutura ocupacional, há de ser entendido que os rendimentos médios nas áreas mais ricas são substantivamente maiores do que os rendimentos dos trabalhadores, nas mesmas condi-ções, nas áreas mais excluídas — tanto os que trabalham por conta própria quanto os com carteira assinada (ver Tabela 20).

Tabela 20Renda média no município de Osasco, segundo a área de ponderação, para trabalha-

dores por conta própria e para trabalhadores com carteira de trabalho assinada

Fonte: Censo demográfi co, 2000/IBGE

AED01 880,69 737,19AED02 600,97 609,42AED03 923,14 740,82AED04 1.265,10 885,10AED05 1.203,61 1.094,68AED06 671,01 692,22AED07 759,72 738,38AED08 665,65 580,14AED09 709,00 716,02AED10 1.158,84 1.086,22AED11 1.413,83 1.137,85AED12 1.110,12 806,01AED13 1.485,60 1.127,49AED14 1.892,43 1.418,25AED15 1.294,70 1.062,12AED16 614,19 595,66AED17 649,47 650,52AED18 898,31 852,03AED19 930,95 957,03AED20 1.281,40 1.204,88AED21 1.286,82 1.091,09AED22 2.105,40 2.170,10AED23 1.391,42 1.228,50AED24 649,88 749,78AED25 1.991,22 1.537,62AED26 883,61 724,36AED27 1.285,06 801,93AED28 896,01 669,00AED29 648,79 620,92AED30 1.326,30 598,92AED31 583,55 570,87AED32 649,79 563,26TOTAL 1.084,65 905,28

Trabalhador por Conta PrópriaÁreas de Ponderação Trabalhador com CTPS assinada

RENDA MÉDIA (R$)

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3. No que se refere ao indicador que mensura a desigualdade, percebe-se que 34,4% das áreas de ponderação osasquenses mostram um grande desequilíbrio entre as pessoas situadas nos extremos da dis-tribuição de renda, sendo elas Munhoz Júnior (Parte Sul), Industrial Ma-zzei/Mutinga, Aliança/Jardim Elvira, Vila Menk, Baronesa/Portal D’Oeste, Munhoz Júnior (Parte Norte), Helena Maria, Bonança/Industrial Anhan-guera/Platina/Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé, Jardim Conceição, Jardim Roberto e Padroeira (correspondente à cor vermelha no mapa).

Abaixo são analisados os índices da dimensão Conhecimento, a saber, Alfabetização e Escolaridade.

4. No que diz respeito ao indicador correspondente a existên-cia de analfabetismo, observa-se que em 25,0% das áreas de ponde-ração de Osasco grande quantidade de pessoas que não sabem ler ou escrever, correspondendo a Munhoz Júnior (Parte Sul), Bonança/Indus-trial Anhanguera/Platina/Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé, Jardim Conceição (correspondente à cor vermelha do mapa).

5. Quanto ao indicador que mede o nível de instrução das pes-soas, nota-se que por um lado, nada menos que 40,6% das áreas de ponderação osasquenses possuem grande participação das pessoas com baixa escolaridade64, sendo elas Bonança/Industrial Anhanguera/Platina/Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé, Munhoz Júnior (Parte Sul), Padroeira, Jardim Conceição, Aliança/Jardim Elvira, Vila Menk, Mu-nhoz Júnior (Parte Norte), Baronesa/Portal D’Oeste, Helena Maria, Jar-dim Roberto, Rochedale, Bandeiras e Industrial Mazzei/Mutinga.

A grande incidência de áreas com baixa escolaridade pode parecer contraditória com a constatação de aumento da escolaridade da População Economicamente Ativa feita no capítulo anterior deste livro. Entretanto, o nível de instrução é defi nido a partir dos anos de estudo dos indivíduos, e este mapa fi cou bastante próximo ao mapa de concentração de crianças e jovens defi nido pelo indicador a seguir. Portanto, é pertinente concluir que o tempo médio de estudo tende a ser maior nas áreas onde a população é mais adulta — e a população já cumpriu seu ciclo escolar — do que nas áreas com maior percentu-al de crianças e adolescentes.

Por fi m, a dimensão de Vulnerabilidade, explicitada pelos indi-cadores de Juventude e o de Violência.

64. Entende-se neste estudo como baixa escolaridade às áreas de ponderação de Osasco que possuem até 5,22 anos médios de estudo.

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6. No que se refere ao indicador que mensura a participação de pessoas com até 24 anos de idade no total da população, observa-se que 28,1% das áreas de ponderação de Osasco apresentam elevada participação de jovens65, sendo elas Bonança/Industrial Anhanguera/Platina/Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé, Munhoz Júnior (Parte Sul), Jardim Conceição, Padroeira, Bandeiras, Munhoz Júnior (Parte Nor-te), Aliança/Jardim Elvira, Baronesa/Portal D’Oeste e Helena Maria.

7. No que tange ao indicador sobre a violência, observa-se que 25,0% das áreas de ponderação osasquenses apresentam um alto ín-dice de ocorrências de homicídios por 10 mil habitantes, sendo elas Setor Militar/Vila Militar/Bonfi m/Piratininga, Rochedale, Centro/Presi-dente Altino, Vila Menk, Baronesa/Portal D’Oeste, Industrial Mazzei/Mutinga, Jardim Novo Osasco e Bussocaba/City Bussocaba (todos correspondentes à cor vermelha do mapa). No entanto, a localização delas não são coincidentes com as áreas onde a exclusão social se faz presente. Provavelmente, a violência possui uma lógica social e terri-torial diferenciada, que não obedece aos mesmos princípios de produ-ção e reprodução das formas de exclusão abordadas neste estudo.

A visualização destes sete mapas indica uma coerência em vários aspectos analisados. A região norte da cidade (APs 17, 24, 28, 29, 30, 32) e a região do Jardim Padroeira (AP 08) são os com piores indicadores de inclusão. Já a região leste (APs 23, 25, 14) é a que apre-senta os melhores indicadores. Nas demais áreas, dependendo do índice, a situação é bastante variável. Tal padrão, entretanto, não se verifi ca em dois mapas importantes para a composição fi nal do Índice de Exclusão Social de Osasco: os mapas relativos ao Índice de Empre-go e ao Índice de Violência, conforme já mencionado acima. Por fi m, há o índice que sintetiza todos os anteriores.

8. Quanto ao índice de exclusão social, que é uma síntese de todos os indicadores anteriores, cerca de ¼ das áreas de ponderação de Osasco apresentam os piores resultados sociais. São elas Munhoz Júnior (Parte Sul), Padroeira, Setor Militar/Vila Militar/Bonfi m/Piratininga, Bonan-ça/Industrial Anhanguera/Platina/Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé, Rochedale, Jardim Roberto, Baronesa/Portal D’Oeste e Jardim Conceição. Estas localidades possuem uma realidade caracterizada pela miséria e pobreza que atingem famílias extensas, jovens, população com baixa escolaridade e pouca experiência de assalariamento formal.65. Entende-se como elevada participação de jovens em Osasco, quando a relação de pessoas de até 24 anos e o total da população é de até 50,31%.

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Tabela 21Índice de Pobreza de Osasco

Fonte: SDTI/PMO a partir do Censo Demográfi co 2000/IBGE

AP 30 Bonança/Industrial Anhanguera/Platina/ Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé 0,000AP 08 Padroeira 0,003AP 02 Jardim Conceição 0,033AP 31 Munhoz Júnior (Parte Sul) 0,120AP 12 Setor Militar/Vila Militar/Bonfi m/Piratininga 0,193AP 07 Veloso 0,241AP 32 Munhoz Júnior (Parte Norte) 0,275AP 15 Castelo Branco/Iape 0,283AP 24 Baronesa/Portal D’Oeste 0,292AP 16 Aliança/Jardim Elvira 0,308AP 09 Jardim Roberto 0,331AP 06 Bandeiras 0,334AP 28 Industrial Mazzei/Mutinga 0,391AP 04 Bussocaba/City Bussocaba 0,395AP 29 Vila Menk 0,410AP 17 Helena Maria 0,471TOTAL MUNICÍPIO DE OSASCO 0,492AP 19 Santo Antonio 0,495AP 26 Rochedale 0,507AP 10 Quitaúna/São Pedro 0,590AP 20 Jaguaripe 0,632AP 03 Jardim Novo Osasco 0,653AP 18 VilaYolanda 0,712AP 27 Ayrosa/Industrial Remédios 0,717AP 05 Jardim D’Abril 0,735AP 01 Santa Maria/Raposo Tavares/Metalúrgicos 0,736AP 11 Cidade das Flores e Pestana 0,758AP 22 Adalgisa/Vila Yara 0,822AP 23 Umuarana/Cidade de Deus/Vila Campesina/ Industrial Autonomistas/Parque Continental/ Industrial Altino/Remédios 0,839AP 13 Km 18/Industrial Centro 0,867AP 21 Cipava/Bela Vista 0,953AP 25 Centro/Presidente Altino 0,982AP 14 Jardim das Flores/Vila Osasco 1,000

Nome Área de Ponderação

Código Área de Ponderação

Índice Pobreza

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Tabela 22Índice de Emprego Formal de Osasco

Fonte: SDTI/PMO a partir do Censo Demográfi co 2000/IBGE

AP 09 Jardim Roberto 0,000AP 26 Rochedale 0,055AP 08 Padroeira 0,102AP 10 Quitaúna/São Pedro 0,177AP 12 Setor Militar/Vila Militar/Bonfi m/Piratininga 0,195AP 27 Ayrosa/Industrial Remédios 0,258AP 25 Centro/Presidente Altino 0,328AP 19 Santo Antonio 0,382AP 18 Vila Yolanda 0,388AP 04 Bussocaba/City Bussocaba 0,414AP 05 Jardim D’Abril 0,452AP 07 Veloso 0,457AP 24 Baronesa/Portal D’Oeste 0,491AP 28 Industrial Mazzei/Mutinga 0,500AP 13 Km 18/Industrial Centro 0,508TOTAL MUNICÍPIO DE OSASCO 0,533AP 23 Umuarana/Cidade de Deus/Vila Campesina/ Industrial Autonomistas/Parque Continental/ Industrial Altino/Remédios 0,543AP 11 Cidade das Flores e Pestana 0,609AP 17 Helena Maria 0,645AP 20 Jaguaripe 0,657AP 21 Cipava/Bela Vista 0,658AP 14 Jardim das Flores/Vila Osasco 0,686AP 30 Bonança/Industrial Anhanguera/Platina/ Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé 0,691AP 06 Bandeiras 0,708AP 31 Munhoz Júnior (Parte Sul) 0,712AP 32 Munhoz Júnior (Parte Norte) 0,719AP 22 Adalgisa/Vila Yara 0,721AP 15 Castelo Branco/Iape 0,730AP 02 Jardim Conceição 0,734AP 03 Jardim Novo Osasco 0,762AP 01 Santa Maria/Raposo Tavares/Metalúrgicos 0,821AP 29 Vila Menk 0,923AP 16 Aliança/Jardim Elvira 1,000

Nome Área de Ponderação

Código Área de Ponderação

Índice Emprego

miolo_novo res.indd 70miolo_novo res.indd 70 07.02.07 09:38:2107.02.07 09:38:21

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Tabela 23Índice de Desigualdade de Osasco

Fonte: SDTI/PMO a partir do Censo Demográfi co 2000/IBGE

AP 31 Munhoz Júnior (Parte Sul) 0,000AP 28 Industrial Mazzei/Mutinga 0,419AP 16 Aliança/Jardim Elvira 0,453AP 29 Vila Menk 0,507AP 24 Baronesa/Portal D’Oeste 0,517AP 32 Munhoz Júnior (Parte Norte) 0,531AP 17 Helena Maria 0,571AP 30 Bonança/Industrial Anhanguera/Platina/ Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé 0,600AP 02 Jardim Conceição 0,678AP 09 Jardim Roberto 0,682AP 08 Padroeira 0,684AP 26 Rochedale 0,710AP 07 Veloso 0,755AP 06 Bandeiras 0,780AP 01 Santa Maria/Raposo Tavares/Metalúrgicos 0,806AP 03 Jardim Novo Osasco 0,821AP 18 Vila Yolanda 0,880AP 19 Santo Antonio 0,888AP 04 Bussocaba/City Bussocaba 0,913AP 27 Ayrosa/Industrial Remédios 0,916AP 12 Setor Militar/Vila Militar/Bonfi m/Piratininga 0,920TOTAL MUNICÍPIO DE OSASCO 0,924AP 05 Jardim D’Abril 0,939AP 10 Quitaúna/São Pedro 0,941AP 11 Cidade das Flores e Pestana 0,949AP 21 Cipava/Bela Vista 0,958AP 20 Jaguaripe 0,965AP 23 Umuarana/Cidade de Deus/Vila Campesina/ Industrial Autonomistas/Parque Continental/ Industrial Altino/Remédios 0,969AP 15 Castelo Branco/Iape 0,971AP 13 Km 18/Industrial Centro 0,976AP 14 Jardim das Flores/Vila Osasco 0,984AP 25 Centro/Presidente Altino 0,993AP 22 Adalgisa/Vila Yara 1,000

Nome Área de Ponderação

Código Área de Ponderação

Índice Desigualdade

miolo_novo res.indd 71miolo_novo res.indd 71 07.02.07 09:38:2207.02.07 09:38:22

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Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

Tabela 24Índice de Alfabetização de Osasco

Fonte: SDTI/PMO a partir do Censo Demográfi co 2000/IBGE

AP 31 Munhoz Júnior (Parte Sul) 0,000AP 30 Bonança/Industrial Anhanguera/Platina/ Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé 0,233AP 02 Jardim Conceição 0,238AP 12 Setor Militar/Vila Militar/Bonfi m/Piratininga 0,284AP 08 Padroeira 0,311AP 24 Baronesa/Portal D’Oeste 0,330AP 16 Aliança/Jardim Elvira 0,331AP 26 Rochedale 0,380AP 29 Vila Menk 0,422AP 06 Bandeiras 0,432AP 32 Munhoz Júnior (Parte Norte) 0,441AP 17 Helena Maria 0,448AP 28 Industrial Mazzei/Mutinga 0,460AP 10 Quitauna/São Pedro 0,482AP 09 Jardim Roberto 0,528AP 07 Veloso 0,543AP 27 Ayrosa/Industrial Remédios 0,544TOTAL MUNICÍPIO DE OSASCO 0,566AP 01 Santa Maria/Raposo Tavares/Metalúrgicos 0,569AP 04 Bussocaba/City Bussocaba 0,572AP 03 Jardim Novo Osasco 0,594AP 18 VilaYolanda 0,654AP 15 Castelo Branco/Iape 0,716AP 19 Santo Antonio 0,728AP 05 Jardim D’Abril 0,737AP 20 Jaguaripe 0,769AP 21 Cipava/Bela Vista 0,876AP 11 Cidade das Flores e Pestana 0,905AP 13 Km 18/Industrial Centro 0,908AP 22 Adalgisa/Vila Yara 0,908AP 23 Umuarana/Cidade de Deus/Vila Campesina/ Industrial Autonomistas/Parque Continental/ Industrial Altino/Remédios 0,970AP 14 Jardim das Flores/Vila Osasco 0,994AP 25 Centro/Presidente Altino 1,000

Nome Área de Ponderação

Código Área de Ponderação

Índice Alfabetização

miolo_novo res.indd 72miolo_novo res.indd 72 07.02.07 09:38:2307.02.07 09:38:23

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Tabela 25Índice de Escolaridade de Osasco

Fonte: SDTI/PMO a partir do Censo Demográfi co 2000/IBGE

AP 30 Bonança/Industrial Anhanguera/Platina/ Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé 0,000AP 31 Munhoz Júnior (Parte Sul) 0,045AP 08 Padroeira 0,079AP 02 Jardim Conceição 0,111AP 16 Aliança/Jardim Elvira 0,112AP 29 Vila Menk 0,138AP 32 Munhoz Júnior (Parte Norte) 0,163AP 24 Baronesa/Portal D’Oeste 0,163AP 17 Helena Maria 0,169AP 09 Jardim Roberto 0,179AP 26 Rochedale 0,180AP 06 Bandeiras 0,192AP 28 Industrial Mazzei/Mutinga 0,194AP 12 Setor Militar/Vila Militar/Bonfi m/Piratininga 0,238AP 07 Veloso 0,292AP 01 Santa Maria/Raposo Tavares/Metalúrgicos 0,302AP 03 Jardim Novo Osasco 0,303AP 04 Bussocaba/City Bussocaba 0,332TOTAL MUNICÍPIO DE OSASCO 0,346AP 10 Quitaúna/São Pedro 0,358AP 27 Ayrosa/Industrial Remédios 0,361AP 19 Santo Antonio 0,407AP 18 VilaYolanda 0,435AP 20 Jaguaripe 0,468AP 15 Castelo Branco/Iape 0,479AP 05 Jardim D’Abril 0,535AP 21 Cipava/Bela Vista 0,623AP 11 Cidade das Flores e Pestana 0,636AP 13 Km 18/Industrial Centro 0,678AP 23 Umuarana/Cidade de Deus/Vila Campesina/ Industrial Autonomistas/Parque Continental/ Industrial Altino/Remédios 0,727AP 14 Jardim das Flores/Vila Osasco 0,788AP 25 Centro/Presidente Altino 0,888AP 22 Adalgisa/Vila Yara 1,000

Nome Área de Ponderação

Código Área de Ponderação

Índice Escolaridade

miolo_novo res.indd 73miolo_novo res.indd 73 07.02.07 09:38:2407.02.07 09:38:24

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Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

Tabela 26Índice de Violência de Osasco

Fonte: SDTI/PMO a partir do Censo Demográfi co 2000/IBGE

AP 12 Setor Militar/Vila Militar/Bonfi m/Piratininga 0,000AP 26 Rochedale 0,358AP 25 Centro/Presidente Altino 0,409AP 29 Vila Menk 0,522AP 24 Baronesa/Portal D’Oeste 0,538AP 28 Industrial Mazzei/Mutinga 0,555AP 03 Jardim Novo Osasco 0,591AP 04 Bussocaba/City Bussocaba 0,597AP 09 Jardim Roberto 0,630AP 21 Cipava/Bela Vista 0,651AP 02 Jardim Conceição 0,662AP 30 Bonança/Industrial Anhanguera/Platina/ Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé 0,684AP 32 Munhoz Júnior (Parte Norte) 0,684AP 08 Padroeira 0,685AP 31 Munhoz Júnior (Parte Sul) 0,711TOTAL MUNICÍPIO DE OSASCO 0,719AP 10 Quitaúna/São Pedro 0,722AP 27 Ayrosa/Industrial Remédios 0,738AP 07 Veloso 0,792AP 23 Umuarana/Cidade de Deus/Vila Campesina/ Industrial Autonomistas/Parque Continental/ Industrial Altino/Remédios 0,829AP 01 Santa Maria/Raposo Tavares/Metalúrgicos 0,831AP 16 Aliança/Jardim Elvira 0,847AP 14 Jardim das Flores/Vila Osasco 0,866AP 17 Helena Maria 0,867AP 19 Santo Antonio 0,896AP 22 Adalgisa/Vila Yara 0,896AP 18 VilaYolanda 0,899AP 20 Jaguaripe 0,914AP 15 Castelo Branco/Iape 0,920AP 11 Cidade das Flores e Pestana 0,937AP 06 Bandeiras 1,000AP 05 Jardim D’Abril 1,000AP 13 Km 18/Industrial Centro 1,000

Nome Área de Ponderação

Código Área de Ponderação

Índice Violência

miolo_novo res.indd 74miolo_novo res.indd 74 07.02.07 09:38:2507.02.07 09:38:25

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Tabela 27Índice de Juventude de Osasco

Fonte: SDTI/PMO a partir do Censo Demográfi co 2000/IBGE

AP 30 Bonança/Industrial Anhanguera/Platina/ Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé 0,000AP 31 Munhoz Júnior (Parte Sul) 0,006AP 02 Jardim Conceição 0,021AP 08 Padroeira 0,074AP 06 Bandeiras 0,119AP 32 Munhoz Júnior (Parte Norte) 0,125AP 16 Aliança/Jardim Elvira 0,143AP 24 Baronesa/Portal D’Oeste 0,174AP 17 Helena Maria 0,197AP 01 Santa Maria/Raposo Tavares/Metalúrgicos 0,211AP 29 Vila Menk 0,214AP 07 Veloso 0,229AP 09 Jardim Roberto 0,254AP 26 Rochedale 0,258AP 04 Bussocaba/City Bussocaba 0,269AP 28 Industrial Mazzei/Mutinga 0,291AP 15 Castelo Branco/Iape 0,309AP 03 Jardim Novo Osasco 0,322AP 10 Quitauna/São Pedro 0,324AP 12 Setor Militar/Vila Militar/Bonfi m/Piratininga 0,326AP 19 Santo Antonio 0,403AP 27 Ayrosa/Industrial Remédios 0,454AP 20 Jaguaripe 0,456AP 18 VilaYolanda 0,509AP 11 Cidade das Flores e Pestana 0,550AP 05 Jardim D’Abril 0,584AP 21 Cipava/Bela Vista 0,697AP 22 Adalgisa/Vila Yara 0,705AP 13 Km 18/Industrial Centro 0,752AP 23 Umuarana/Cidade de Deus/Vila Campesina/ Industrial Autonomistas/Parque Continental/ Industrial Altino/Remédios 0,761AP 14 Jardim das Flores/Vila Osasco 0,761TOTAL MUNICÍPIO DE OSASCO 0,941AP 25 Centro/Presidente Altino 1,000

Nome Área de Ponderação

Código Área de Ponderação

Índice Juventude

miolo_novo res.indd 75miolo_novo res.indd 75 07.02.07 09:38:2607.02.07 09:38:26

Page 76: Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

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Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

Tabela 28Índice de Exclusão Social de Osasco

Fonte: SDTI/PMO a partir do Censo Demográfi co 2000/IBGE

AP 31 Munhoz Júnior (Parte Sul) 0,254AP 08 Padroeira 0,276AP 12 Setor Militar/Vila Militar/Bonfi m/Piratininga 0,321AP 30 Bonança/Industrial Anhanguera/Platina/ Três Montanhas/Paiva Ramos/Santa Fé 0,335AP 26 Rochedale 0,356AP 09 Jardim Roberto 0,360AP 24 Baronesa/Portal D’Oeste 0,369AP 02 Jardim Conceição 0,375AP 28 Industrial Mazzei/Mutinga 0,404AP 32 Munhoz Júnior (Parte Norte) 0,427AP 29 Vila Menk 0,467AP 07 Veloso 0,468AP 16 Aliança/Jardim Elvira 0,482AP 17 Helena Maria 0,495AP 04 Bussocaba/City Bussocaba 0,498AP 10 Quitaúna/São Pedro 0,522AP 06 Bandeiras 0,527AP 27 Ayrosa/Industrial Remédios 0,581AP 19 Santo Antonio 0,590AP 03 Jardim Novo Osasco 0,591AP 15 Castelo Branco/Iape 0,623AP 01 Santa Maria/Raposo Tavares/Metalúrgicos 0,629AP 18 VilaYolanda 0,645TOTAL MUNICÍPIO DE OSASCO 0,671AP 20 Jaguaripe 0,695AP 05 Jardim D’Abril 0,713AP 11 Cidade das Flores e Pestana 0,751AP 21 Cipava/Bela Vista 0,773AP 25 Centro/Presidente Altino 0,780AP 23 Umuarana/Cidade de Deus/Vila Campesina/ Industrial Autonomistas/Parque Continental/ Industrial Altino/Remédios 0,791AP 13 Km 18/Industrial Centro 0,806AP 22 Adalgisa/Vila Yara 0,851AP 14 Jardim das Flores/Vila Osasco 0,859

Nome Área de Ponderação

Código Área de Ponderação

Índice Exclusão

miolo_novo res.indd 76miolo_novo res.indd 76 07.02.07 09:38:2707.02.07 09:38:27

Page 77: Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

77

MAPA 2

Município de Osasco - Índice de Pobreza por Área de Ponderação

Fonte: Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão/PMO, a partir dos Microdados do Censo Demográfi co 2000/IBGE

BAIRROS QUE COMPÕEM AS ÁREAS DE PONDERAÇÃO

AP 01 - SANTA MARIA/ RAPOSO TAVARES/ METALÚRGICOSAP 02 - JARDIM CONCEIÇÃOAP 03 - JARDIM NOVO OSASCOAP 04 - BUSSOCABA/ CITY BUSSOCABA AP 05 - JARDIM D’ABRILAP 06 - BANDEIRASAP 07 - VELOSOAP 08 - PADROEIRAAP 09 - JARDIM ROBERTOAP 10 - QUITAÚNA/ SÃO PEDROAP 11 - CIDADE DAS FLORES/ PESTANAAP 12 - SETOR MILITAR/ BONFIM/ PIRATININGAAP 13 - KM 18/ INDUSTRIAL CENTROAP 14 - JARDIM DAS FLORES/ VILA OSASCOAP 15 - CASTELO BRANCO/ IAPEAP 16 - ALIANÇA/ JARDIM ELVIRA AP 17 - HELENA MARIAAP 18 - VILA YOLANDAAP 19 - SANTO ANTONIOAP 20 - JAGUARIPEAP 21 - CIPAVA/ BELA VISTAAP 22 - ADALGISA/ VILA YARAAP 23 - UMUARANA/ CIDADE DE DEUS/ VILA CAMPESINA/ INDUSTRIAL AUTONOMISTAS/ PARQUE CONTINENTAL/ INDUSTRIAL ALTINO/ REMÉDIOSAP 24 - BARONESA/ PORTAL D’OESTEAP 25 - CENTRO/ PRESIDENTE ALTINOAP 26 - ROCHEDALEAP 27 - AYROSA/ INDUSTRIAL REMÉDIOSAP 28 - INDUSTRIAL MAZZEI/ MUTINGAAP 29 - VILA MENKAP 30 - BONANÇA/ INDUSTRIAL ANHANGUERA/ PLATINA/ TRÊS MONTANHAS/ PAIVA RAMOS/ SANTA FÉAP 31 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Sul)AP 32 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Norte)

miolo_novo res.indd 77miolo_novo res.indd 77 07.02.07 09:38:2707.02.07 09:38:27

Page 78: Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

78

Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

MAPA 3

Município de Osasco - Índice de Emprego por Área de Ponderação

Fonte: Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão/PMO, a partir dos Microdados do Censo Demográfi co 2000/IBGE

BAIRROS QUE COMPÕEM AS ÁREAS DE PONDERAÇÃO

AP 01 - SANTA MARIA/ RAPOSO TAVARES/ METALÚRGICOSAP 02 - JARDIM CONCEIÇÃOAP 03 - JARDIM NOVO OSASCOAP 04 - BUSSOCABA/ CITY BUSSOCABA AP 05 - JARDIM D’ABRILAP 06 - BANDEIRASAP 07 - VELOSOAP 08 - PADROEIRAAP 09 - JARDIM ROBERTOAP 10 - QUITAÚNA/ SÃO PEDROAP 11 - CIDADE DAS FLORES/ PESTANAAP 12 - SETOR MILITAR/ BONFIM/ PIRATININGAAP 13 - KM 18/ INDUSTRIAL CENTROAP 14 - JARDIM DAS FLORES/ VILA OSASCOAP 15 - CASTELO BRANCO/ IAPEAP 16 - ALIANÇA/ JARDIM ELVIRA AP 17 - HELENA MARIAAP 18 - VILA YOLANDAAP 19 - SANTO ANTONIOAP 20 - JAGUARIPEAP 21 - CIPAVA/ BELA VISTAAP 22 - ADALGISA/ VILA YARAAP 23 - UMUARANA/ CIDADE DE DEUS/ VILA CAMPESINA/ INDUSTRIAL AUTONOMISTAS/ PARQUE CONTINENTAL/ INDUSTRIAL ALTINO/ REMÉDIOSAP 24 - BARONESA/ PORTAL D’OESTEAP 25 - CENTRO/ PRESIDENTE ALTINOAP 26 - ROCHEDALEAP 27 - AYROSA/ INDUSTRIAL REMÉDIOSAP 28 - INDUSTRIAL MAZZEI/ MUTINGAAP 29 - VILA MENKAP 30 - BONANÇA/ INDUSTRIAL ANHANGUERA/ PLATINA/ TRÊS MONTANHAS/ PAIVA RAMOS/ SANTA FÉAP 3 )

miolo_novo res.indd 78miolo_novo res.indd 78 07.02.07 09:38:3207.02.07 09:38:32

Page 79: Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

79

MAPA 4

Município de Osasco - Índice de Desigualdade por Área de Ponderação

Fonte: Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão/PMO, a partir dos Microdados do Censo Demográfi co 2000/IBGE

BAIRROS QUE COMPÕEM AS ÁREAS DE PONDERAÇÃO

AP 01 - SANTA MARIA/ RAPOSO TAVARES/ METALÚRGICOSAP 02 - JARDIM CONCEIÇÃOAP 03 - JARDIM NOVO OSASCOAP 04 - BUSSOCABA/ CITY BUSSOCABA AP 05 - JARDIM D’ABRILAP 06 - BANDEIRASAP 07 - VELOSOAP 08 - PADROEIRAAP 09 - JARDIM ROBERTOAP 10 - QUITAÚNA/ SÃO PEDROAP 11 - CIDADE DAS FLORES/ PESTANAAP 12 - SETOR MILITAR/ BONFIM/ PIRATININGAAP 13 - KM 18/ INDUSTRIAL CENTROAP 14 - JARDIM DAS FLORES/ VILA OSASCOAP 15 - CASTELO BRANCO/ IAPEAP 16 - ALIANÇA/ JARDIM ELVIRA AP 17 - HELENA MARIAAP 18 - VILA YOLANDAAP 19 - SANTO ANTONIOAP 20 - JAGUARIPEAP 21 - CIPAVA/ BELA VISTAAP 22 - ADALGISA/ VILA YARAAP 23 - UMUARANA/ CIDADE DE DEUS/ VILA CAMPESINA/ INDUSTRIAL AUTONOMISTAS/ PARQUE CONTINENTAL/ INDUSTRIAL ALTINO/ REMÉDIOSAP 24 - BARONESA/ PORTAL D’OESTEAP 25 - CENTRO/ PRESIDENTE ALTINOAP 26 - ROCHEDALEAP 27 - AYROSA/ INDUSTRIAL REMÉDIOSAP 28 - INDUSTRIAL MAZZEI/ MUTINGAAP 29 - VILA MENKAP 30 - BONANÇA/ INDUSTRIAL ANHANGUERA/ PLATINA/ TRÊS MONTANHAS/ PAIVA RAMOS/ SANTA FÉAP 31 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Sul)AP 32 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Norte)

miolo_novo res.indd 79miolo_novo res.indd 79 07.02.07 09:38:3707.02.07 09:38:37

Page 80: Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

80

Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

MAPA 5

Município de Osasco - Índice de Alfabetização por Área de Ponderação

Fonte: Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão/PMO, a partir dos Microdados do Censo Demográfi co 2000/IBGE

BAIRROS QUE COMPÕEM AS ÁREAS DE PONDERAÇÃO

AP 01 - SANTA MARIA/ RAPOSO TAVARES/ METALÚRGICOSAP 02 - JARDIM CONCEIÇÃOAP 03 - JARDIM NOVO OSASCOAP 04 - BUSSOCABA/ CITY BUSSOCABA AP 05 - JARDIM D’ABRILAP 06 - BANDEIRASAP 07 - VELOSOAP 08 - PADROEIRAAP 09 - JARDIM ROBERTOAP 10 - QUITAÚNA/ SÃO PEDROAP 11 - CIDADE DAS FLORES/ PESTANAAP 12 - SETOR MILITAR/ BONFIM/ PIRATININGAAP 13 - KM 18/ INDUSTRIAL CENTROAP 14 - JARDIM DAS FLORES/ VILA OSASCOAP 15 - CASTELO BRANCO/ IAPEAP 16 - ALIANÇA/ JARDIM ELVIRA AP 17 - HELENA MARIAAP 18 - VILA YOLANDAAP 19 - SANTO ANTONIOAP 20 - JAGUARIPEAP 21 - CIPAVA/ BELA VISTAAP 22 - ADALGISA/ VILA YARAAP 23 - UMUARANA/ CIDADE DE DEUS/ VILA CAMPESINA/ INDUSTRIAL AUTONOMISTAS/ PARQUE CONTINENTAL/ INDUSTRIAL ALTINO/ REMÉDIOSAP 24 - BARONESA/ PORTAL D’OESTEAP 25 - CENTRO/ PRESIDENTE ALTINOAP 26 - ROCHEDALEAP 27 - AYROSA/ INDUSTRIAL REMÉDIOSAP 28 - INDUSTRIAL MAZZEI/ MUTINGAAP 29 - VILA MENKAP 30 - BONANÇA/ INDUSTRIAL ANHANGUERA/ PLATINA/ TRÊS MONTANHAS/ PAIVA RAMOS/ SANTA FÉAP 31 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Sul)AP 32 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Norte)

miolo_novo res.indd 80miolo_novo res.indd 80 07.02.07 09:38:4107.02.07 09:38:41

Page 81: Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

81

MAPA 6

Município de Osasco - Índice de Escolaridade por Área de Ponderação

Fonte: Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão/PMO, a partir dos Microdados do Censo Demográfi co 2000/IBGE

BAIRROS QUE COMPÕEM AS ÁREAS DE PONDERAÇÃO

AP 01 - SANTA MARIA/ RAPOSO TAVARES/ METALÚRGICOSAP 02 - JARDIM CONCEIÇÃOAP 03 - JARDIM NOVO OSASCOAP 04 - BUSSOCABA/ CITY BUSSOCABA AP 05 - JARDIM D’ABRILAP 06 - BANDEIRASAP 07 - VELOSOAP 08 - PADROEIRAAP 09 - JARDIM ROBERTOAP 10 - QUITAÚNA/ SÃO PEDROAP 11 - CIDADE DAS FLORES/ PESTANAAP 12 - SETOR MILITAR/ BONFIM/ PIRATININGAAP 13 - KM 18/ INDUSTRIAL CENTROAP 14 - JARDIM DAS FLORES/ VILA OSASCOAP 15 - CASTELO BRANCO/ IAPEAP 16 - ALIANÇA/ JARDIM ELVIRA AP 17 - HELENA MARIAAP 18 - VILA YOLANDAAP 19 - SANTO ANTONIOAP 20 - JAGUARIPEAP 21 - CIPAVA/ BELA VISTAAP 22 - ADALGISA/ VILA YARAAP 23 - UMUARANA/ CIDADE DE DEUS/ VILA CAMPESINA/ INDUSTRIAL AUTONOMISTAS/ PARQUE CONTINENTAL/ INDUSTRIAL ALTINO/ REMÉDIOSAP 24 - BARONESA/ PORTAL D’OESTEAP 25 - CENTRO/ PRESIDENTE ALTINOAP 26 - ROCHEDALEAP 27 - AYROSA/ INDUSTRIAL REMÉDIOSAP 28 - INDUSTRIAL MAZZEI/ MUTINGAAP 29 - VILA MENKAP 30 - BONANÇA/ INDUSTRIAL ANHANGUERA/ PLATINA/ TRÊS MONTANHAS/ PAIVA RAMOS/ SANTA FÉAP 31 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Sul)AP 32 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Norte)

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Page 82: Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

82

Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

MAPA 7

Município de Osasco - Índice de Juventude por Área de Ponderação

Fonte: Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão/PMO, a partir dos Microdados do Censo Demográfi co 2000/IBGE

BAIRROS QUE COMPÕEM AS ÁREAS DE PONDERAÇÃO

AP 01 - SANTA MARIA/ RAPOSO TAVARES/ METALÚRGICOSAP 02 - JARDIM CONCEIÇÃOAP 03 - JARDIM NOVO OSASCOAP 04 - BUSSOCABA/ CITY BUSSOCABA AP 05 - JARDIM D’ABRILAP 06 - BANDEIRASAP 07 - VELOSOAP 08 - PADROEIRAAP 09 - JARDIM ROBERTOAP 10 - QUITAÚNA/ SÃO PEDROAP 11 - CIDADE DAS FLORES/ PESTANAAP 12 - SETOR MILITAR/ BONFIM/ PIRATININGAAP 13 - KM 18/ INDUSTRIAL CENTROAP 14 - JARDIM DAS FLORES/ VILA OSASCOAP 15 - CASTELO BRANCO/ IAPEAP 16 - ALIANÇA/ JARDIM ELVIRA AP 17 - HELENA MARIAAP 18 - VILA YOLANDAAP 19 - SANTO ANTONIOAP 20 - JAGUARIPEAP 21 - CIPAVA/ BELA VISTAAP 22 - ADALGISA/ VILA YARAAP 23 - UMUARANA/ CIDADE DE DEUS/ VILA CAMPESINA/ INDUSTRIAL AUTONOMISTAS/ PARQUE CONTINENTAL/ INDUSTRIAL ALTINO/ REMÉDIOSAP 24 - BARONESA/ PORTAL D’OESTEAP 25 - CENTRO/ PRESIDENTE ALTINOAP 26 - ROCHEDALEAP 27 - AYROSA/ INDUSTRIAL REMÉDIOSAP 28 - INDUSTRIAL MAZZEI/ MUTINGAAP 29 - VILA MENKAP 30 - BONANÇA/ INDUSTRIAL ANHANGUERA/ PLATINA/ TRÊS MONTANHAS/ PAIVA RAMOS/ SANTA FÉAP 31 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Sul)AP 32 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Norte)

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MAPA 8

Município de Osasco - Índice de Violência por Área de Ponderação

Fonte: Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão/PMO, a partir dos Microdados do Censo Demográfi co 2000/IBGE

BAIRROS QUE COMPÕEM AS ÁREAS DE PONDERAÇÃO

AP 01 - SANTA MARIA/ RAPOSO TAVARES/ METALÚRGICOSAP 02 - JARDIM CONCEIÇÃOAP 03 - JARDIM NOVO OSASCOAP 04 - BUSSOCABA/ CITY BUSSOCABA AP 05 - JARDIM D’ABRILAP 06 - BANDEIRASAP 07 - VELOSOAP 08 - PADROEIRAAP 09 - JARDIM ROBERTOAP 10 - QUITAÚNA/ SÃO PEDROAP 11 - CIDADE DAS FLORES/ PESTANAAP 12 - SETOR MILITAR/ BONFIM/ PIRATININGAAP 13 - KM 18/ INDUSTRIAL CENTROAP 14 - JARDIM DAS FLORES/ VILA OSASCOAP 15 - CASTELO BRANCO/ IAPEAP 16 - ALIANÇA/ JARDIM ELVIRA AP 17 - HELENA MARIAAP 18 - VILA YOLANDAAP 19 - SANTO ANTONIOAP 20 - JAGUARIPEAP 21 - CIPAVA/ BELA VISTAAP 22 - ADALGISA/ VILA YARAAP 23 - UMUARANA/ CIDADE DE DEUS/ VILA CAMPESINA/ INDUSTRIAL AUTONOMISTAS/ PARQUE CONTINENTAL/ INDUSTRIAL ALTINO/ REMÉDIOSAP 24 - BARONESA/ PORTAL D’OESTEAP 25 - CENTRO/ PRESIDENTE ALTINOAP 26 - ROCHEDALEAP 27 - AYROSA/ INDUSTRIAL REMÉDIOSAP 28 - INDUSTRIAL MAZZEI/ MUTINGAAP 29 - VILA MENKAP 30 - BONANÇA/ INDUSTRIAL ANHANGUERA/ PLATINA/ TRÊS MONTANHAS/ PAIVA RAMOS/ SANTA FÉAP 31 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Sul)AP 32 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Norte)

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MAPA 9

Município de Osasco - Índice de Exclusão Social por Área de Ponderação

Fonte: Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão/PMO, a partir dos Microdados do Censo Demográfi co 2000/IBGE

BAIRROS QUE COMPÕEM AS ÁREAS DE PONDERAÇÃO

AP 01 - SANTA MARIA/ RAPOSO TAVARES/ METALÚRGICOSAP 02 - JARDIM CONCEIÇÃOAP 03 - JARDIM NOVO OSASCOAP 04 - BUSSOCABA/ CITY BUSSOCABA AP 05 - JARDIM D’ABRILAP 06 - BANDEIRASAP 07 - VELOSOAP 08 - PADROEIRAAP 09 - JARDIM ROBERTOAP 10 - QUITAÚNA/ SÃO PEDROAP 11 - CIDADE DAS FLORES/ PESTANAAP 12 - SETOR MILITAR/ BONFIM/ PIRATININGAAP 13 - KM 18/ INDUSTRIAL CENTROAP 14 - JARDIM DAS FLORES/ VILA OSASCOAP 15 - CASTELO BRANCO/ IAPEAP 16 - ALIANÇA/ JARDIM ELVIRA AP 17 - HELENA MARIAAP 18 - VILA YOLANDAAP 19 - SANTO ANTONIOAP 20 - JAGUARIPEAP 21 - CIPAVA/ BELA VISTAAP 22 - ADALGISA/ VILA YARAAP 23 - UMUARANA/ CIDADE DE DEUS/ VILA CAMPESINA/ INDUSTRIAL AUTONOMISTAS/ PARQUE CONTINENTAL/ INDUSTRIAL ALTINO/ REMÉDIOSAP 24 - BARONESA/ PORTAL D’OESTEAP 25 - CENTRO/ PRESIDENTE ALTINOAP 26 - ROCHEDALEAP 27 - AYROSA/ INDUSTRIAL REMÉDIOSAP 28 - INDUSTRIAL MAZZEI/ MUTINGAAP 29 - VILA MENKAP 30 - BONANÇA/ INDUSTRIAL ANHANGUERA/ PLATINA/ TRÊS MONTANHAS/ PAIVA RAMOS/ SANTA FÉAP 31 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Sul)AP 32 - MUNHOZ JÚNIOR (Parte Norte)

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BIBLIOGRAFIA

IBGE. Censo demográfi co. Rio de Janeiro, 2000.

ONU/PNUD. Human development report 2002. New York: Oxford University Press, 2002.

POCHMANN, M.; AMORIM, R. (Orgs.). Atlas da exclusão social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002.

POCHMANN, M et al. (Orgs.). Atlas da exclusão social no Brasil: a dinâmica e manifestação territorial. São Paulo: Cortez, 2003a. v. 2.

POCHMANN, M. et al. (Orgs.). Atlas da exclusão social no Brasil: os ricos no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003b. v. 3.

POCHMANN, M. et al. (Orgs.). Atlas da exclusão social no Brasil: a exclusão no mundo. São Paulo: Cortez, 2004. v. 4.

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Atlas da Exclusão Social de Osasco

Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

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Parte 2

Medidas de Enfrentamento à Exclusão Social:

a Estratégia de Inclusão Social da Prefeitura do Município de Osasco

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Capítulo 5

O enfrentamento da Exclusão Social pela SDTI/PMOAlexandre Guerra – Especialista em Economia Social e Sindicalismo

Dulce Cazzuni – Graduada em Ciências Econômicas e Graduada em Administração de Empresas

Luiz Mansur – Especialista em Políticas Públicas de Trabalho, Emprego e Renda

INTRODUÇÃODurante a década de 90, o Brasil passou a conviver com baixas

taxas de crescimento econômico, em virtude da adoção de um mode-lo de inserção passiva no contexto internacional e da conversão do sistema econômico à lógica da fi nanceirização. Desemprego, informa-lidade, violência, insufi ciente universalização da saúde e da educação, insegurança alimentar e situação inadequada de moradia são alguns dos problemas herdados, que vêm contribuindo para uma maior com-plexidade das formas de manifestação da pobreza. Esta pobreza, ainda hoje, agrega cerca de 1/3 da população brasileira.

Por um outro lado, as políticas sociais e do trabalho no Brasil coordenadas pelos governos da década de 90, apresentaram três mar-cas que, além de reduzirem a efi cácia, a efi ciência e a efetividade das ações destinadas ao combate à exclusão social, denotaram o atraso das ações do poder público. A primeira marca refere-se à fragmentação das ações governamentais, com vários programas atuando de maneira

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desarticulada e sem integração entre si. A segunda diz respeito à exis-tência de diversas instituições públicas que procuram intervir sobre os mesmos problemas, não fi cando clara a direção efetiva dos organis-mos públicos, que atuam sem a integração necessária e multiplicam os custos de aplicação dos programas sociais e trabalhistas. A terceira marca deve-se à opção governamental pela focalização das ações, o que impede, em geral, a universalização e, por conseqüência, a massi-fi cação dos programas para o conjunto da população66.

Sem o crescimento econômico e sem a abertura de vagas de emprego na intensidade que o país necessita, não é possível reverter este quadro. É certo que apenas as vagas não asseguram um cresci-mento com maior eqüidade social — a própria experiência brasileira, antes dos anos 80, mostra isso. Mas o trabalho ainda é, na nossa visão, a porta de saída da condição de pobreza.

No capítulo 6, veremos, brevemente, que as políticas de trans-ferência monetária ganharam espaço no Brasil neste início de século XXI, principalmente a partir da ação do governo federal. Com o progra-ma Bolsa Família, a União articulou municípios de norte a sul do país para fazerem parte de uma ampla rede de proteção social que, no fi nal de 2006, chegou a atender mais de 11,1 milhões de famílias benefi ciá-rias. Entretanto, se o Bolsa Família é importante para garantir a sobre-vivência da população mais vulnerável do país, ainda resta o desafi o de emancipar estas famílias.

As políticas de emprego adotadas ao longo dos anos 90 não buscaram agir de forma integrada, o que acabou por diminuir a efi -ciência destas medidas. Além das insufi ciências das políticas sociais e do trabalho, o modelo econômico neoliberal teve como impacto ime-diato o aumento da polarização social nas regiões metropolitanas. Ainda que a resolução destes dilemas passe pela mudança da política econômica e pela revitalização do Estado, com ampliação do gasto social federal, os municípios têm como tarefa inadiável a implementa-ção de programas sociais que viabilizem não apenas o combate aos aspectos mais perversos da pobreza, mas também a construção de portas de saída e de emancipação para a população de baixa renda, permitindo, assim, a reconstrução paulatina do tecido social.

Para enfrentar esses problemas, que atingem uma parcela signifi cativa dos quase 700 mil habitantes osasquenses, a Prefeitura

66. POCHMANN (2002).

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Municipal de Osasco (PMO) possui uma estratégia de desenvolvi-mento socioeconômico, onde parte das ações estão sob a coorde-nação da Secretaria do Desenvolvimento Trabalho e Inclusão (SDTI/PMO), que compreende a implantação de um conjunto arti-culado e integrado de programas que buscam romper com o ciclo estrutural de pobreza. São ações direcionadas ao enfrentamento das múltiplas formas de exclusão social, procurando construir uma arti-culação entre os programas de transferência monetária (fundamen-tais para garantir algum tipo de segurança fi nanceira para os benefi -ciários) e políticas de geração de renda e trabalho (decisivas no processo de emancipação das famílias).

Antes de descrever as ações e programas que compreendem a estratégia de inclusão social de Osasco, é relevante apontar algumas diretrizes que norteiam a ação da SDTI/PMO. A primeira delas é evitar reinventar a roda, aprender com as experiências e fugir das difi culdades vividas pelos gestores que nos antecederam. Dentro desta perspectiva, a estratégia de inclusão social de Osasco se inscreve em uma tradição que busca entender que a dinâmica do mercado de trabalho capitalis-ta torna-o cada vez mais seletivo. Em 1988, na França, é implantado o programa de Renda Mínima de Inserção, que procura aliar a assistência à população mais vulnerável a políticas de capacitação e intermedia-ção de mão-de-obra. No ano seguinte, a Catalunha (Espanha) cria um programa de moldes semelhantes. No Brasil, estes programas são mais recentes, mas o programa do município de São Paulo merece o devido destaque. Grosso modo, é desta tradição que somos tributários, sem-pre procurando adaptar e aperfeiçoar os programas e as estratégias já desenvolvidas.

No município de São Paulo, na gestão Marta Suplicy (2001-2004), foi implantado um programa de transferência monetária que obteve uma enorme cobertura do seu público-alvo, trabalhou pela integração de ações com o governo federal e estadual e fazia parte de uma estratégia que visava a geração de trabalho e renda como “porta de saída” para a emancipação de seus benefi ciários. Esta experiência baseada em programas sociais redistributivos, desenvolvimentistas e emancipatórios, atenuaram os efeitos maléfi cos do desemprego e da queda nos níveis de renda na cidade de São Paulo, permitindo uma nova lógica geográfi ca do emprego (mais da metade dos empregos formais gerados entre dezembro de 2001 e junho de 2004 se concen-

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traram nos 50 primeiros distritos administrativos atendidos pelos programas sociais paulistanos, os quais correspondiam, em períodos anteriores, a apenas 30% dos empregos gerados). Além disto, o pro-grama contribuiu para diminuir a pobreza e a desigualdade da cidade em pelo menos 10%67.

A ampla cobertura do público-alvo é outra característica impor-tante da estratégia de inclusão social de Osasco, uma vez que almeja a massifi cação dos programas para o conjunto da população. Neste sentido, os programas sociais coordenados pela SDTI/PMO possuem altas taxas de cobertura da população situada abaixo da linha de po-breza, atendendo, em 2005 e 2006, apenas nos programas Bolsa Fa-mília e Renda Cidadã, cerca de 24,6 mil famílias em situação de vulne-rabilidade social68. Além disto, a SDTI/PMO, durante a gestão Emídio de Souza (2005-2008), pretende atender, através de suas ações, a to-talidade das parcelas mais vulneráveis da população, dando acesso a todos que atendam aos critérios legais de inserção em seus programas sociais e do trabalho.

Outra “obsessão” da SDTI/PMO é referente a articulação e in-tegração existente entre os programas sociais e trabalhistas sob a sua responsabilidade, procurando aumentar os seus impactos positivos e evitar desencontros de intervenções públicas sobre os mesmos pro-blemas — o que multiplica os custos de implementação de cada pro-grama. Como se poderá perceber na leitura dos textos a seguir, a descrição de um determinado programa sempre faz referência à ação conjunta com algum outro programa coordenado pela própria secre-taria. Além disto, a estratégia de inclusão social de Osasco visa a inte-gração e articulação com outras instituições (públicas, privadas e ONGs), secretarias municipais e com órgãos/programas pertencentes a outras esferas de governo, racionalizando a utilização de recursos humanos e fi nanceiros.

A estratégia de inclusão social adotada em Osasco tem uma particular preocupação com a construção e manutenção de um es-

67. Claro que a Prefeitura paulistana do período implementou diversos outros programas que ajudaram o Renda Mínima paulistano a alcançar estas metas. Houve profundas mudanças nas políticas de educação (transporte gratuito, distribuição de material escolar e uniformes, melhoria da merenda escolar, a construção de Centros Educacionais Unifi cados [CEU]), assistência social (o trabalho de apoio a moradores de rua foi o grande destaque desta área), segurança (modernização da guarda municipal, com novos servidores e equipamentos), entre outras. Para saber mais especifi camente sobre a experiência da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Soli-dariedade/PMSP ver CAMPOS e GUERRA (2002); CAMPOS (2004); POCHMANN (2004); POCHMANN (2003); POCHMANN (2002).

68. É importante mencionar que algumas famílias estão em ambos os programas.

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paço público de apoio à população mais vulnerável. A partir desta preocupação, o leitor perceberá que nos capítulos seguintes deste livro (que detalham o funcionamento de cada programa) diversas vezes será externada uma preocupação com a constituição de uma burocracia pública municipal qualifi cada e motivada, com a constru-ção de equipamentos públicos duradouros e com a criação de me-canismos de controle social dos programas e equipamentos, como no caso dos Conselhos Gestores dos Centros de Inclusão Digital. Com um serviço público efi ciente e com o engajamento da socieda-de civil organizada, acreditamos que os programas e a estratégia de inclusão como um todo serão apropriados pela sociedade, ganhan-do, assim, o caráter efetivamente público que muitas vezes falta às políticas sociais brasileiras.

Por fi m, a SDTI/PMO vem atuando sempre a partir da análise de informações a respeito do município. Este próprio livro representa um esforço de conhecimento da realidade osasquense, do perfi l dos benefi ciários, da dinâmica do mercado de trabalho. O tratamento destas informações é a base para fundamentar e justifi car a ação de-senvolvida pela Prefeitura.

Esta ação é operacionalizada por três blocos programáticos com objetivos complementares. Estes programas serão detalhados nos próximos capítulos. São eles:

1) Programas Redistributivos 1.a) Programas Redistributivos Núcleo Familiar (conjunto

de projetos de transferência monetária para famílias em situação de pobreza): Programa Bolsa Família Federal, Programa Renda Cidadã Estadual, Programa Emergencial de Auxílio Desemprego Estadual, Programa Renda Mínima Municipal, Programa Operação Trabalho Mu-nicipal e Programa Começar de Novo Municipal;

1.b) Programas Redistributivos Núcleo Juventude (conjun-to de projetos de transferência monetária e capacitação para jovens): Programa Bolsa Trabalho Municipal, Programa Jovem Cidadão Esta-dual, Programa Escola de Fábrica Federal, Programa Juventude Cidadã Federal e Programa ProJovem Federal.

2) Programas EmancipatóriosPrograma Osasco Solidária (Economia Popular e Solidária),

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Programa Capacitação Ocupacional (responsável pela capacitação oferecida aos benefi ciários dos programas sociais);

3) Programas DesenvolvimentistasPrograma Osasco Inclui (intermediação de mão-de-obra e de

negócios e apoio ao desenvolvimento local) e Programa Osasco Digital (gerenciamento de informações da SDTI/PMO e inclusão digital).

O cidadão pode se inserir nesta estratégia a partir dos programas redistributivos (tanto o destinado às famílias quanto o para jovens) e plei-tear uma capacitação dentro de sua área de interesse ou o encaminhamen-to ao programa de apoio a Economia Popular e Solidária ou, ainda, à inter-mediação de mão-de-obra. Caso o cidadão não esteja contemplado pelos programas redistributivos, também pode se cadastrar diretamente no Osasco Inclui ou no Osasco Solidária, de acordo com seus interesses.

Com isto, os programas se articulam sem uma hierarquia rígi-da, com várias “portas de entrada” que encaminham os benefi ciários para os programas de geração de trabalho e renda, que acreditamos se constituírem nas “portas de saída” mais apropriadas.

Cada família traz consigo uma história de vida, necessidades e potencialidades distintas. A SDTI/PMO busca respeitar essas diver-sas histórias de vida, oferecendo aos seus benefi ciários algumas al-ternativas de emancipação condizentes com suas expectativas. Não se trata de fórmulas padronizadas, onde os menos aptos serão con-siderados inadequados. Os diversos grupos precisam se apoio efeti-vo na difícil tarefa de superar a pobreza. O poder público municipal, aliado a parceiros do setor privado e do terceiro setor, tem a missão de oferecer o melhor apoio possível nestes casos.

Em 2005 e 2006, muitos destes programas foram criados, e outros foram adequados às novas diretrizes da SDTI/PMO. Entretanto, o início de gestão de qualquer governo, sempre traz algumas difi culda-des gerenciais específi cas. O fato de trabalhar, no primeiro ano, com um orçamento feito por uma gestão que tinha outros tipos de priori-dades levou à necessidade de fazer uma transição entre a forma de atuação da secretaria do trabalho anteriormente existente e a propos-ta da nova SDTI/PMO. Mesmo assim, no que diz respeito ao atendi-mento da população em 2005 e 2006, pode-se dizer que se destacou o crescimento do número de benefi ciários pertencentes ao eixo pro-

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gramático redistributivo, onde mais de 19,3 mil famílias foram atendi-das pelo Programa Bolsa Família Federal, 8,3 mil pelo Programa Renda Cidadã Estadual, 197 pelo Programa Começar de Novo, 289 pelo Pro-grama Operação Trabalho, 597 pelo Programa Emergencial de Auxílio Desemprego Estadual. Nos Programas relacionados à Juventude, 7,0 mil benefi ciários foram atendidos pelo Programa Juventude Cidadã, 700 benefi ciários pelo Programa ProJovem, 1,0 mil pelo Programa Jo-vem Cidadão e 20 jovens pelo Programa Escola de Fábrica.

Nos programas que procuram a emancipação das famílias, nota-se que mais de 8,5 benefi ciários passaram por ações sócio-edu-cativas dos programas Capacitação Ocupacional e foram criados pelo Programa Osasco Solidária sete grupos em atividades de pré encuba-ção, 18 empreendimentos econômicos solidários e 423 benefi ciários receberam crédito popular. Além disso, foram atendidos pelas políticas emancipatórias, 425 benefi ciários pelo Programa Osasco Digital e in-cluídos no mercado de trabalho 6,4 mil indivíduos através do Programa Osasco Inclui.

De forma conclusiva, nota-se que a implementação e a condu-ção da estratégia de desenvolvimento social adotada pela SDTI/PMO a partir da integração e articulação das mais diferentes secretarias municipais, assim como da parceria com a sociedade, conduzem a uma nova geração de políticas sociais e do trabalho, capazes de resul-tar em condições mais adequadas ao rompimento do ciclo estrutural da pobreza e da desigualdade de renda.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPOS, A.; GUERRA, A. Indicadores dos programas sociais: 2001. São Paulo: SDTS/PMSP, 2002. 1 CD Rom.

CAMPOS, A. Pobreza e direitos na cidade de São Paulo: a expe-riência da Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade. 2004. Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.

POCHMANN, M. (Org.). Políticas de inclusão social: resultados e avaliação. São Paulo: Cortez, 2004.

POCHMANN, M. (Org.). Outra cidade é possível: alternativas de in-clusão social em São Paulo. São Paulo: Cortez, 2003.

POCHMANN, M. (Org.). Desenvolvimento, trabalho e solidarieda-de: novos caminhos para a inclusão social. São Paulo: Cortez; Perseu Abramo, 2002.

Tabela 29Distribuição dos indivíduos e famílias - Benefi ciados pelos Programas Sociais

coordenados pela SDTI/PMO2006

Fonte: SDTI/PMO a partir do Cadastro dos Programas Sociais referentes a 2005 e 2006Nota: (1) O Programa Osasco Solidário possui 25 grupos, cada grupo possui em média 6 indivíduos

Número de benefi ciários atendidosProgramas

Programa Bolsa Família 19.332

Programa Renda Cidadã 8.311

Programa PEAD 597

Programa Começar de Novo 197

Programa Operação Trabalho 289

Programa Juventude Cidadã 7.000

Programa ProJovem 700

Programa Jovem Cidadão 1.024

Programa Escola de Fábrica 20

Programas Capacitação Ocupacional 8.500

Programa Osasco Solidária (1) 254

Programa Renda Mínima 100

Programa Osasco Digital 425

Programa Osasco Inclui 6.381

Benefi ciários da Estratégia SDTI/PMO 53.130

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Capítulo 6

Os programas redistributivos Julina Alves do Nascimento – Especialista em Políticas Públicas de Trabalho, Emprego e RendaRosa Almeida – Graduada em Arquitetura e especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo

INTRODUÇÃOAo assumir a gestão da Prefeitura do Município de Osasco, a

partir de 2005, o prefeito Emídio de Souza estabelece, como uma das prioridades do seu governo, o combate à pobreza e à exclusão social. Destaca-se, nessa diretriz, a implementação da SDTI/PMO, designada para estruturar uma estratégia que atendesse às demandas de parte da população osasquense que se encontra à margem do mercado de trabalho e das prerrogativas da cidadania.

Segundo os dados da estimativa populacional do IBGE para 2004, uma parcela signifi cativa da população do município de Osasco, cerca de 65.000 pessoas (o que signifi ca 9,1% do total da população), vive as mais diferentes carências sociais, destacando-se as questões relativas ao desemprego e à renda insufi ciente.

De acordo com os dados do Censo de 2000, o grupo de cida-dãos que vive abaixo da linha da pobreza é composto por 53% de

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mulheres; cerca de 45% são pretos e/ou pardos; 13% sofrem algum tipo de defi ciência; têm, em média, quatro anos de estudo e 24.6% são analfabetos. Se considerarmos a distribuição por faixa etária, 39% têm até 15 anos de idade; 18% estão na faixa dos 16 a 24 anos; 21% são pessoas com 25 a 39 anos; e 22% têm 40 anos ou mais de idade69.

Neste contexto estrutura-se o eixo dos Programas Redistributi-vos, composto de seis programas agrupados a partir de duas linhas de atuação. A primeira tem como foco as famílias com fi lhos ou dependen-tes de 0 a 15 anos de idade. A segunda é direcionada ao atendimento da população desempregada, de acordo com a faixa etária: pessoas com 25 a 29 anos e pessoas com 40 anos e mais70. Grosso modo, esses programas buscam a melhoria das condições de vida da população, na perspectiva da inclusão social, atuando de forma integrada e articulada com os diversos programas que compõem o conjunto de Redistributi-vos e com os demais programas coordenados pela SDTI/PMO.

Os benefícios garantidos por esses programas são sempre con-dicionados: as famílias devem atender a uma agenda defi nida quanto à educação e saúde (Bolsa Família, Renda Cidadã, Renda Mínima) e os ti-tulares devem freqüentar as atividades sócio-educativas (Renda Cidadã, Renda Mínima); os adultos desempregados devem atender à freqüência mínima estipulada para as atividades de formação (Operação Trabalho, Começar de Novo, Programa Emergencial de Auxílio Desemprego - Pead). O desafi o que se coloca para os programas redistributivos geridos pela SDTI, é ultrapassar o limite da simples distribuição de renda.

O município de Osasco já atendia, até março de 2005, parte das famílias em situação de pobreza através de programas geridos pela Secretaria de Assistência e Promoção Social – SAPS, como o Renda Mínima Municipal (criado pela lei N° 3.273 de julho/96) e os programas Bolsa Família e Renda Cidadã — estes implementados, respectivamen-te, a partir de parcerias com os governos federal e estadual. Entretanto, a necessidade de ampliação de medidas que tenham como objetivo a melhoria da qualidade de vida e a promoção de oportunidades de de-senvolvimento para a população osasquense levou a nova administra-ção a incorporar a experiência desenvolvida no município de São Paulo no período de 2001 a 2004.69. São consideradas famílias pobres, ou de baixa renda, aquelas que sobrevivem com uma renda per capita familiar mensal inferior a ½ salário mínimo.

70. O atendimento aos jovens com 16 a 24 anos de idades, pertencentes a famílias de baixa renda, é feito pelo Programa Juventude. Para maiores informações sobre este programa, ver capítulo 7 desta publicação.

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Essa experiência aponta para a busca de estratégias capazes de integrar e articular a estratégia desenvolvida pela SDTI/PMO com as diferentes secretarias municipais, com outras esferas de governo, e com a sociedade. Esta integração e articulação apresentam-se tanto na ação dos programas de transferência de renda entre si quanto jun-to aos demais programas geridos pela SDTI/PMO — de capacitação, de economia solidária, de intermediação de mão-de-obra e de negó-cios — visando a construção da emancipação socioeconômica e melhoria das condições de vida da parcela da população atendida.

Neste capítulo apresentam-se os programas direcionados às famílias e os direcionados aos desempregados, destacando os objeti-vos e critérios de elegibilidade dos programas Renda Mínima, Bolsa Família, Renda Cidadã, Começar de Novo, Operação Trabalho e Pro-grama Emergencial de Auxílio Desemprego71.

OBJETIVOS GERAIS DOS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDAO objetivo geral desses programas é atender aos benefi ciários

em condições de extrema pobreza excluídos do acesso a bens e servi-ços públicos ou privados e do mercado de trabalho, com uma comple-mentação de renda temporária e atividades de formação direcionadas à geração de renda e ocupação. Alguns programas têm como público-alvo a família, enquanto outros se centram no indivíduo, a partir de um corte etário.

Dentre os objetivos específi cos, e considerando o perfi l da população-alvo, destaca-se a promoção e o incentivo à alfabetização de jovens e adultos em parceria com os órgãos das esferas estadual e municipal responsáveis pela área de educação, e o acesso das famílias benefi ciárias (titular ou outro membro da família) dos programas Bolsa Família, Renda Cidadã e Renda Mínima às atividades de formação, de geração de renda e ocupação desenvolvidas pelos demais programas da Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão.

Para a consecução dos objetivos, desenvolvem-se parcerias intragovernamentais visando à melhoria da qualidade de vida, especial-mente nas áreas de habitação, saúde, educação, esporte, lazer e cultu-

71. Para maiores informações sobre o Bolsa Família, programa do governo federal, sugere-se o endereço www.mds.gov.br; para informações sobre o Renda Cidadã, programa do governo estadual, o endereço é www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br; para mais informações sobre o Programa Frente de Trabalho, o endereço sugerido é www.emprego.sp.gov.br.

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ra nas regiões de concentração de pobreza. Complementando essas ações, a operacionalização dos programas desenvolve um sistema in-terno de avaliação e monitoramento das ações direcionadas aos bene-fi ciários dos programas sociais, além de estudos e pesquisas com base em amostras domiciliares para controle das condicionalidades72 dos programas e dos dados cadastrais.

Os programas Começar de Novo e Operação Trabalho foram implantados no início de 2006, enquanto o Renda Mínima (a versão reformulada) encontra-se em fase de transição entre o modelo antigo e o aprovado no fi m de 200573.

OS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA – UM RECORTE HISTÓRICONo dia 08 de janeiro de 2004, o presidente Luis Inácio Lula da

Silva sancionou o projeto de lei que cria a Renda Básica de Cidadania. Na cerimônia no Palácio do Planalto, estava presente, entre outros, o senador Eduardo Suplicy — responsável pela apresentação do projeto e seu maior defensor no Poder Legislativo. Na sua luta de mais de 13 anos, a proposta defendida foi alterada (de um similar do Imposto Negativo, defendido por Milton Friedman, transformou-se em uma Renda Básica de Cidadania baseada na proposta de Van Parij), mas manteve-se na pauta, devido, em parte, à sua perseverança. A propos-ta prevê o pagamento, a todo brasileiro ou morador do país há pelo menos cinco anos, de um benefício monetário. Segundo a lei, “o paga-mento do benefício deverá ser de igual valor para todos e sufi ciente para atender as despesas mínimas de cada pessoa com alimentação, educação e saúde, considerando para isto o grau de desenvolvimento do país e as possibilidades orçamentárias”74.

Além da vitória do senador, o projeto coroa a trajetória da política de transferência de renda, que se iniciou há pouco mais de 10 anos no Brasil. Neste pouco tempo, as políticas de transferência de renda tornaram-se o “eixo central da Política de Assistência Social no âmbito do Sistema Brasileiro de Proteção Social neste despontar do século XXI”75.

72. Para maiores informações sobre as condicionalidades de cada programa ver a legislação pertinente.

73. Esses programas foram instituídos por legislação criada em dezembro de 2005, conforme segue: Renda Mínima, Lei Nº 3.989, de 27 de dezembro de 2005; Começar de Novo, Lei Nº 3.984, de 27 de dezembro de 2005; Operação Trabalho, Lei Nº 3.981, de 27 de dezembro de 2005. Esta legislação está disponível no endereço www.osasco.sp.gov.br/legislação/

74. PROJETO DE LEI 254/93.

75. SILVA, YAZBEK e GIOVANNI (2004: 211).

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A aceitação desta modalidade de política social deu-se no país de maneira gradual, a partir das atribuições dadas aos municípios pela Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da Criança e do Adoles-cente (ECA), de 1990. Além desses fatores, vale destacar a aprovação pelo Senado, em dezembro de 1991, do projeto de lei do Programa de Garantia de Renda Mínima (PGRM)76 apresentado pelo senador Eduar-do Suplicy (PT/SP). Essa iniciativa abriu espaço para a ação dos gover-nos locais no que diz respeito a ações afi rmativas de combate à po-breza, destacando-se aí as iniciativas-piloto de Campinas (SP) e Brasí-lia (DF), em 1995.

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), de 1996, e o Programa de Garantia de Renda Mínima (PGRM), de 199877, incluíram o tema na agenda do governo federal. E a ação do governo federal, pela sua importância e tamanho, certamente vem reorientando o modelo desta política nas demais esferas de governo. O governo Lula chega ao poder trazendo o combate à fome e à miséria para o centro da cena política. A unifi cação dos programas federais de transferência de renda, sob o nome de Bolsa Família78, e a articulação destes programas nas diferentes esferas de governo, busca romper com a pulverização dos recursos e com a sobreposição dos programas existentes até então.

A política de transferência monetária não deve ser vista, por-tanto, como uma solução mágica, que surge de repente, mas sim como uma forma de fazer política que vem sendo aprimorada a partir de avaliações políticas, acadêmicas e gerenciais das experiências concre-tas existentes tanto no Brasil quanto no exterior.

A discussão teórica sobre programas de transferência de renda tem, atualmente, como base três correntes teóricas-políticas principais, a saber, a proposta de Renda Básica, a de Imposto de Renda Negativo e a Renda Social de Inserção. Vejamos melhor cada uma delas:

A Renda Básica é a proposta seguida pelo Projeto de Lei aprovado no Brasil em 2004, segundo o qual todos os cidadãos têm

76. Embora aprovado no Senado este projeto fi ca tramitando na Câmara dos Deputados por mais de 6 anos e, no fi nal de 1997, foi aprovado um substitutivo apresentado pelo deputado Nelson Marchesan.

77. Instituído pela lei n° 9.533/97, autorizava o governo federal a conceder apoio fi nanceiro a municípios que desenvolvessem pro-gramas de garantia de renda mínima associados a ações vinculadas à educação. Lançado ofi cialmente em agosto de 1998, o PGRM só começou a ser implantado em abril de 1999.

78. A criação do Programa Bolsa Família, em 09 de janeiro de 2004, tem a fi nalidade de unifi car os procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda no âmbito do governo federal, unifi cando os programas Bolsa Escola, Cartão Alimen-tação, Bolsa Alimentação e Auxilio Gás.

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direito a uma remuneração por fazerem parte da sociedade, indepen-dente de situação ocupacional ou da renda recebida. Em outras pala-vras, o rico e o pobre ganham a mesma quantia, já que ambos são partes integrantes da mesma comunidade79;

O Imposto de Renda Negativo tem inspiração liberal, procu-rando focalizar a assistência na camada mais pobre da população, garantindo uma remuneração de subsistência (não muito alta que desestimule o trabalho ou interfi ra no livre funcionamento do merca-do) às famílias que passam por difi culdade de inserção no mercado de trabalho. O benefício é concedido por tempo determinado80.

Os programas de Renda Mínima de Inserção procuram garan-tir um suporte fi nanceiro às famílias em situação de vulnerabilidade social, ao mesmo tempo em que procuram estimular mecanismos para as famílias conseguirem se emancipar do benefício e passarem a viver por conta de seu trabalho. O modelo mais divulgado é o francês, ini-ciado em meados dos anos 80, que busca a articulação entre transfe-rência de renda e inserção profi ssional e social.81.

PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA EM OSASCO82 - PROGRAMA RENDA MÍNIMA O programa de Renda Mínima de Osasco foi criado em setem-

bro de 1996, a partir do modelo de Campinas. Ele era vinculado à Se-cretaria de Assistência e Promoção Social – SAPS e atendia uma popu-lação com alta vulnerabilidade social. Denominado Programa de Com-bate à Miséria e Garantia de Renda Familiar Mínima do Município de Osasco, tinha como público-alvo famílias com crianças até 14 anos, em situação de risco83, ou dependentes portadores de defi ciência, ou famí-lias compostas apenas de pessoas acima de 65 anos, e a família deveria ter uma renda mensal bruta igual ou inferior a dois salários mínimos.

79. VAN PARIJS (2002). Philippe Van Parijs é economista político e fi lósofo, nascido na Bélgica. Professor de Ética Econômica e Social na Universidade Católica de Louvain (Bélgica).

80. FRIEDMAN (1985). Milton Friedman é economista americano, um dos expoentes da Universidade de Chicago. Ganhou o Premio Nobel de Economia de 1976, por seus textos com forte defesa da liberdade, do liberalismo e dos mecanismos de mercado.

81. MILANO (1989). Serge Milano é economista francês.

82. Os programas estaduais (Frente de Trabalho, Renda Cidadã) e federal (Bolsa Família) operados em conjunto com o município de Osasco não terão seu desenho detalhado neste texto, apenas serão destacadas as particularidades que estes programas adquiriram em Osasco. Para maiores informações sobre estes programas, ver www.mds.gov.br e www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br .

83. A legislação referida considera em situação de risco “os menores de até 14 anos de idade que, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente não estejam sendo atendidos em seus direitos, pelas políticas sociais básicas, no que tange a integridade física, moral ou social”.

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Como contrapartida, era exigido das famílias a “matrícula escolar dos fi lhos e/ou dependentes em idade escolar bem como as respectivas carteiras de saúde”, e o titular do benefício deveria parti-cipar de atividades de orientação e acompanhamento sócioeducati-vo. O valor do benefício pago correspondia à diferença entre o total do rendimento bruto familiar e o montante resultante da multiplica-ção do número de membros da família, por um percentual estipulado do salário mínimo nacional vigente.

A ausência de um teto do valor do benefício, aliado ao reajuste do valor per capita utilizado - responsável por um crescimento exponen-cial do valor recebido por algumas famílias - e a fatores tais como o limite máximo da faixa etária (14 anos) e período indeterminado de permanência, fi zeram com que a coordenação atual do programa ela-borasse e encaminhasse para aprovação pela Câmara Municipal um projeto de lei com as mudanças necessárias.

O “novo” programa, denominado Programa Municipal de Ren-da Mínima e instituído pela Lei N° 3.989, de 27 de dezembro de 2005, que será implantado a partir de 2007, segue o modelo dos programas de Renda Mínima de Inserção — que no Brasil já serviu de base para o programa de Renda Mínima paulistano do período entre 2001 e 2004 — o que signifi cou algumas alterações importantes.

Para serem benefi ciadas e permanecerem no programa, a legis-lação estabelece como critérios o atendimento às normas estabeleci-das em Termo de Compromisso e Responsabilidade: freqüência míni-ma das crianças e adolescentes à escola, vacinação obrigatória de crianças até 5 anos e participação do responsável nas atividades so-cioeducativas e/ou de geração de ocupação e renda. O benefício84 tem como teto o valor de ½ salário mínimo e, no caso das atividades de geração de emprego e renda, o programa viabiliza o pagamento de subsídios para o deslocamento85 dos cidadãos até o local do curso.

Portanto, a nova legislação procura assistir às famílias pobres, com crianças e adolescentes, condicionando o benefício à atenção tanto à educação quanto à saúde e oferecendo simultaneamente, ao

84. O benefício previsto tem a duração de 2 (dois) anos, podendo ser prorrogado por mais 1 (um) ano.

85. O § 3º do artigo 5° da Lei n° 3.989 estabelece que, “aos membros das famílias benefi ciárias que desenvolverem atividades so-cioeducativas e/ou de geração de renda, com carga igual ou superior a 16 (dezesseis) horas mensais, poderá ser concedido subsídio para despesas de deslocamento, que importará em 2 (dois) vales-transportes, ou no valor equivalente, por dia de atividade e desde que a distância entre o local de residência e o local das atividades seja superior a 3 (três) quilômetros.”

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titular do benefício e/ou demais membros da família, atividades de geração de ocupação e renda. A possibilidade de subsidiar as despesas com transporte, que sempre aparecem como a maior difi culdade dos benefi ciários dos programas de transferência de renda para o acompa-nhamento de cursos, fi ca ali equacionada, favorecendo, em especial, a articulação com os demais programas da SDTI.

Além de estabelecer um teto para o valor do benefício, o que permitirá a expansão do número de benefi ciários no programa, a SDTI/PMO adotará a estratégia de integrar o Renda Mínima Municipal com os demais programas de transferência monetária federal (Bolsa Família) e estadual (Renda Cidadã), considerando que a SDTI é responsável pelo cadastramento e atendimento aos cidadãos em relação a esses programas. Assim, a operacionalização dos programas será executada de forma integrada e articulada, potencializando os recursos públicos destinados ao mesmo público-alvo.

Para realizar a transição entre os dois modelos de Renda Míni-ma, foi considerado o período de permanência estipulado pela legisla-ção do programa em vigor até 2005 e, após esse período, as famílias que deixaram de atender aos critérios foram desligadas. Aquelas que mantiveram as mesmas condições iniciais foram inscritas nos progra-mas Bolsa Família ou Renda Cidadã.

Além do programa de Renda Mínima Municipal, como já foi dito anteriormente, a SDTI/PMO é responsável, no município, pelos programas de transferência de renda do governo federal e estadual. A ação da SDTI/PMO, a partir de março de 2005, e com a participação de outras instâncias de governo, implementou o cadastramento da população carente no município, possibilitando que os recursos desses programas chegassem à população residente nas áreas de maior vulnerabilidade do município. Em janeiro de 2005, quando a SDTI/PMO passou a gerenciar os progra-mas, eram 5.765 benefi ciários do Bolsa Família (mais 3.524 famílias ainda benefi ciadas pelo Bolsa Escola) e 396 do Renda Cidadã. No fi nal do mes-mo ano, os números já tinham crescido para 12.671 no programa federal e 8.311 do programa estadual. Um salto de 116% no número de famílias atendidas em um ano. Até o momento, foram atendidas 27,6 mil famílias em ambos os programas.

Seguindo a estratégia desenhada para a SDTI/PMO, há uma estreita relação entre os Programas Redistributivos e os demais progra-mas da SDTI/PMO, principalmente os programas Capacitação Ocupa-

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cional, Osasco Inclui e Osasco Solidária. Estes programas buscam atender, prioritariamente, os titulares ou membros das famílias atendi-das pelos programas de transferência de renda, de acordo com o perfi l estipulado pela atividade de formação profi ssional ou de geração de renda desenvolvida por aqueles programas.

QUEM É O BENEFICIÁRIO DOS PROGRAMAS DIRECIONADOS ÀS FAMÍLIASOs perfi s destas famílias benefi ciadas são bastante parecidos.

No Bolsa Família, a maioria dos responsáveis pelas famílias é do sexo feminino (95%), mas entre os demais membros da família há um equi-líbrio entre os sexos. Entre as requerentes do Renda Cidadã, em Osas-co, 96% é do sexo feminino. E na família também se verifi ca um equi-líbrio entre os sexos.

Apenas 20% dos requerentes do Bolsa Família são naturais de Osasco. Mas os dependentes são, em sua maioria (55%), nasci-dos na cidade. O segundo local de nascimento mais freqüente dos benefi ciários do programa é São Paulo, seguido de Barueri, o que é natural haja vista a grande proximidade destas cidades. Muitas vezes a maternidade ou o posto de saúde de uma destas cidades é mais próximo dos moradores das áreas de fronteira do que os equipa-mentos osasquenses. Em média, os requerentes do benefício mo-ram há 9,6 anos no município. Já no tocante ao programa estadual, o número de requerentes nascidas em Osasco e cidades do entorno também é bastante relevante. Em média, as famílias vivem há 9 anos no município.

No Bolsa Família, o nível de escolaridade das requerentes é baixo, assim como a presença na escola (8,7%), com 6,84% de anal-fabetos e 64,32% com o ensino fundamental incompleto. Apenas 4,6% concluíram o ensino fundamental e 6,95% concluíram o ensino médio. Quando se analisa a situação dos demais integrantes da fa-mília, percebe-se que o nível de escolaridade é mais baixo (só para exemplifi car, 26% são analfabetos), mas 53% freqüentam a escola. Estes dados são compreensíveis, já que entre os demais integrantes da família há um alto contingente de crianças em idade escolar. Sob a ótica educacional, a situação do Renda Cidadã é similar. Os dados são quase idênticos quanto aos que concluíram o ensino fundamen-tal (4,2% das requerentes) ou que ainda não terminaram esta mesma

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etapa (64,9%). Já quando se analisa o percentual que terminou o ensino médio, temos um número melhor: 13,6% o concluíram.

Quanto à inserção no mercado de trabalho, 10,4% dos reque-rentes do Bolsa Família são assalariados, formais ou informais, e as famílias têm renda média de R$ 384,00. Os autônomos correspon-dem a 13,21% dos requerentes e os que não trabalham são 66,3% do total. Entre os que não trabalham, estão incluídos os inativos (donas-de-casa, estudantes etc) e os desempregados. A média mensal destas famílias é de R$ 216 — quase metade da renda dos assalariados.

Em comparação com o Bolsa Família, a situação dos bene-fi ciários do Renda Cidadã no mercado de trabalho é mais precária, tanto na inserção neste mercado quanto na renda média auferida. Os assalariados correspondem a apenas 6,1% do total de requeren-tes, e estas famílias têm renda média de R$ 343,00. Os autônomos, desempregados, inativos e outros (esta categoria é permitida no cadastro do programa, e acreditamos tentar medir trabalhadores informais, bicos etc.) correspondem a 91% do total, cujas famílias sobrevivem com R$ 201,14.

PROGRAMAS MUNICIPAIS VOLTADOS AOS DESEMPREGADOS – OPERAÇÃO TRABALHO E COMEÇAR DE NOVOOs programas que têm como alvo os desempregados do mu-

nicípio — Operação Trabalho (OT) e Começar de Novo (CN) — foram implementados ao longo de 2006, sendo que o POT teve início em fevereiro, e o PCN no segundo semestre.

O Programa Operação Trabalho foi instituído com o objetivo de conceder atenção especial ao trabalhador desempregado, prefe-rencialmente com idade entre 25 e 39 anos, residente no Município de Osasco e pertencente a família de baixa renda, visando estimulá-lo a buscar ocupação, bem como ampliar suas oportunidades de reinserção no mercado de trabalho. O Programa consiste em ativi-dades de capacitação ocupacional e de cidadania; e em ações de incentivo e orientação ao benefi ciário na busca por alternativas de geração de trabalho e renda. A operacionalização dessas atividades é garantida por órgãos municipais ou por entidades conveniadas ou parceiras.

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Os benefícios concedidos pelo OT consistem em: concessão de auxílio pecuniário correspondente a, no máximo, um e meio salário mínimo nacional vigente; garantia de seguro de vida coletivo; subsídio para despesas de alimentação; subsídio para despesas de desloca-mento para distâncias superiores a 3 km entre o local de residência e o local das atividades.

O Programa Começar de Novo, direcionado ao trabalhador desempregado com idade igual ou superior a 40 anos, tem por objeti-vo desenvolver atividades voltadas à melhoria de sua capacitação e a seu treinamento técnico-ocupacional de modo a favorecer a sua rein-serção socioeconômica. O Programa Começar de Novo prevê o aten-dimento considerando dois grupos de benefi ciários: um grupo voltado para o aprendizado de atividades que permitam ao benefi ciário auferir renda e outro voltado para a recolocação de benefi ciários em empre-sas parceiras do programa.

Para ambos os grupos são requisitos básicos: a) estar desem-pregado há mais de seis meses; b) ter idade igual ou superior a 40 anos; c) residir no Município de Osasco há mais de 2 anos; d) pertencer a família de baixa renda, cujos membros tenham rendimento bruto men-sal per capita igual ou inferior a 50% do salário mínimo nacional vigente ou não integrar família alguma; e e) não estar, ao tempo da seleção, recebendo seguro-desemprego. Para a habilitação ao programa é re-quisito específi co não ser aposentado ou integrante dos quadros da reserva das Forças Armadas ou das Polícias Militares.

Além disso, para o segundo grupo — voltado para a reinserção no mercado de trabalho formal — são requisitos específi cos: a) ter con-cluído o ensino fundamental; b) necessitar de treinamento técnico-ocu-pacional para adaptação às novas rotinas laborais no local de trabalho.

Vale destacar que para os benefi ciários do primeiro grupo será enfatizada a prática de atividades comunitárias e de capacitação profi ssio-nal em ações ocupacionais e de utilidade coletiva, na formação de em-preen dimentos populares e de grupos de Economia Popular e Solidária.

Os programas Osasco Solidária e Capacitação Ocupacional86 são responsáveis pela coordenação das atividades de qualifi cação profi ssional e de capacitação para geração de renda e ocupação de forma coletiva, direcionadas aos benefi ciários dos programas Opera-ção Trabalho e Começar de Novo.

86. Ver capítulos 8 e 9 deste livro.

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Além destes dois programas, a SDTI/PMO estabeleceu parceria com a Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo através do “Programa Emergencial de Auxílio Desemprego – Pead”. O estabelecimento desta parceria visa proporcionar aos tra-balhadores desempregados de Osasco, a possibilidade de voltar ao convívio de trabalho, aumentando sua auto-estima e motivação, ofe-recendo qualifi cação profi ssional para novas oportunidades de traba-lho, bem como, geração de renda para que possa reestruturar sua vida pessoal e profi ssional. Os benefi ciários do Pead desenvolvem suas atividades junto aos diversos órgãos da Prefeitura, conforme estabele-cem as normas que regem o programa.

A contrapartida do município refere-se à distribuição de equi-pamentos de proteção individual, uniformes e vales transporte. Assim, o programa garante os seguintes benefícios: bolsa-auxílio; auxílio des-locamento para distâncias superiores a 3,5 km. entre o local de resi-dência e o local das atividades; cartão alimentação; seguro de aciden-te pessoal e/ou trajeto; atividades de qualifi cação profi ssional, desen-volvidas uma vez por semana.

A implantação dos programas direcionados aos desemprega-dos pertencentes a famílias de baixa renda é de suma importância não só pela contribuição destes benefi ciários para a cidade — já que de-senvolvem suas atividades junto aos serviços de saúde, educação, limpeza e manutenção de parques, praças — como pelos produtos que resultam de seu aprendizado e que benefi ciam setores atendidos pela administração municipal, como é o caso dos uniformes para as crianças e adolescentes das escolas municipais87. Vale destacar que estas atividades contribuem para o resgate da auto-estima e da cida-dania dos benefi ciários, que participam também de programas educa-cionais da rede municipal.

OPERACIONALIZAÇÃO DOS PROGRAMAS

Divulgação e cadastramento dos programas redistributivosPara garantir uma ação integrada e articulada dos programas

de transferência de renda, a prefeitura de Osasco optou pela criação

87. Sobre o projeto desenvolvido, no setor têxtil, com benefi ciárias do Programa Bolsa Família em parceria com o Programa Osasco Solidária ver capítulo 8 deste livro.

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de uma Ficha Única Municipal que atendesse às exigências dos pro-gramas Bolsa Família e Renda Cidadã, mas também possibilitasse a coleta de informações de interesse de outras áreas afi ns, como edu-cação e habitação, e também de outros programas desenvolvidos pela secretaria, como Osasco Solidária, Capacitação Ocupacional e Osasco Inclui. A criação dessa ferramenta foi fundamental para o desenvolvimento de ações voltadas para a busca da emancipação dos benefi ciários dos programas de transferência de renda.

Outra determinação importante foi a descentralização do cadastramento tendo como prioridade os territórios de maior vulne-rabilidade social, conforme mapa elaborado pelo Programa Osasco Digital88. A partir dessas informações, foi elaborada uma programa-ção para atendimento, em 2005, das áreas mais vulneráveis do mu-nicípio. Defi nida a área, o reconhecimento do território é efetuado por meio de reuniões e contatos com organizações da sociedade civil do entorno, equipamentos públicos e igrejas, de modo a buscar local adequado às atividades de cadastramento e ao acesso da po-pulação. E cada posto de cadastramento se estabelece por um pe-ríodo e horários previamente estipulados.

A divulgação do cadastramento é feita no território, com a participação das entidades ali atuantes e distribuição de material com as informações sobre os programas, suas condicionalidades e documentação exigida. No local de cadastramento, os munícipes são orientados sobre procedimentos para obtenção da documentação necessária. É importante dizer que a ausência de documentação não é um impedimento para o cadastramento, mas este só será concluí-do quando as exigências estipuladas nas legislações que regem os programas forem atendidas, incluindo a apresentação de toda a do-cumentação necessária. Neste enfoque, o contato direto com a po-pulação é o ponto chave, a oportunidade que a equipe tem para tornar efetivo, a essa população carente, o acesso à rede de serviços públicos existente no município.

O cadastramento como porta de acesso à rede de serviços públicosPara garantir a efetividade do cadastramento, fundamental no

processo de inclusão, é importante o investimento feito na capacita-

88. Ver capítulo 4 deste livro.

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ção da equipe de cadastradores. Assim, nas atividades concernentes ao cadastramento destaca-se o processo de capacitação continuada da equipe de cadastradores, defl agrado para assegurar uma formação tan-to em relação à estratégia de inclusão da SDTI e aos programas Bolsa Família, Renda Cidadã e Renda Mínima, quanto a orientações adequadas e corretas para os requerentes sobre onde, quando e como obter os serviços e/ou documentação necessários para a inscrição, pois nesse momento as características e a dinâmica de cada família se apresentam com grande intensidade.

Não há, no mercado de trabalho, uma qualifi cação específi ca para cadastrador para programas sociais. Por essa razão, a ênfase dada pela SDTI na formação de sua equipe de cadastradores visa garantir não só a ação específi ca do cadastro, mas — e principalmente — a integra-ção dos programas de transferência de renda com os demais programas desenvolvidos pela secretaria.

Uma das difi culdades do cadastramento é a questão da docu-mentação: é signifi cativo o número de munícipes que não apresentam os documentos básicos, tais como Certidão de Nascimento, Carteira de Identidade, Carteira de Vacinação, Comprovante de Matrícula na Escola, além dos casos de crianças e adolescentes que não convivem com os pais. Garantir os direitos resguardados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA –, o acesso à documentação básica e aos serviços de educação e saúde tem sido um dos resultados dessa ação, destacan-do-se aí articulação desenvolvida junto aos órgãos responsáveis pela emissão de documentos e à Vara da Infância e Juventude para aferição do Termo de Guarda.

A operacionalização do cadastramento exige, também, uma articulação e integração com outras instâncias de governo e segmentos da sociedade civil, para potencializar recursos humanos e materiais, valendo destacar como exemplos, em Osasco, as ações desenvolvidas com o apoio e participação dos Centros de Referência da Assistência Social – Cras, instalados no município no fi nal de 2005 sob a coordena-ção da Secretaria de Promoção e Assistência Social; dos Conselhos de Direitos da Criança e Adolescente; do Fundo Social de Solidariedade; e a ação de cadastramento em favelas desenvolvida em conjunto com a Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano – SEHDU.

A primeira etapa de cadastramento, ocorrida em 2005, foi orga-nizada a partir da informação contida no Mapa da Exclusão Social do

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município de Osasco, incidindo sobre a dimensão Vida Digna e, mais especifi camente, sobre o Indicador de Pobreza, que indica a porcenta-gem de famílias abaixo da linha de pobreza por área de ponderação89. Assim, foram instalados postos provisórios de cadastramento nas áreas identifi cadas como mais vulneráveis, buscando local o mais próximo possível da população alvo. Concluída esta etapa, em 2006, foram efe-tivados três postos permanentes de atendimento aos cidadãos osas-quenses. Dois fi cam em Centros de Referência da Assistência Social – Cras (um na zona norte e outro na zona sul da cidade) e o terceiro fi ca no Portal do Trabalhador, gerenciado pela SDTI, no centro de Osasco.

Acompanhamento e monitoramento de benefi ciáriosComplementando as ações já descritas de cadastramento, o

acompanhamento e monitoramento dos benefi ciários são efetuados com o apoio do Programa Osasco Digital, que é responsável pela digi-tação, organização dos dados coletados e pela elaboração do perfi l dos benefi ciários dos programas de transferência de renda, e de uma Central de Atendimento ao Benefi ciário – CAB, responsável pelo aten-dimento direto ao cidadão que busca informações e orientações sobre o benefício (ou que deseje efetuar uma denúncia).

O acompanhamento dos benefi ciários também é feito por meio das reuniões sócio-educativas. Além dessas atividades, o banco de da-dos existente é utilizado de forma integrada pelos programas Osasco Inclui e Osasco Solidária para busca e identifi cação de pessoas com o perfi l adequado para as vagas de emprego (disponibilizadas pelo sistema do programa Osasco Inclui) ou para a formação de grupos de geração de renda e ocupação (pelo programa Osasco Solidária), de acordo com os segmentos defi nidos e o perfi l ocupacional dos benefi ciários.

A comprovação das informações fornecidas pelos requerentes dos programas, de acordo com a legislação vigente, é feita no momen-to do cadastramento e em qualquer momento que a SDTI defi nir. Para checagem dessas informações, a SDTI, a partir do segundo semestre de 2006, deu início à realização de pesquisas domiciliares amostrais, mantendo as visitas domiciliares para comprovação de denúncias efetuadas junto à Central de Atendimento ao Benefi ciário ou qualquer outro órgão da administração municipal.

89. A composição e as fontes deste indicador – e de outros que compõem o Mapa da Exclusão de Osasco — estão detalhadas no capítulo 4 desta publicação.

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O CONTROLE SOCIALO controle social dos programas de transferência de renda,

geridos pela SDTI e direcionados às famílias em situação de pobreza, busca garantir não só o monitoramento e fi scalização dos mesmos, mas também a integração entre os diversos programas, por meio da criação da Comissão de Assessoramento e Fiscalização Social - Cafi s, instituída pelo Decreto 9.461, de 25 de agosto de 2005, “para assessora-mento e fi scalização social das atividades do Programa Municipal de Renda Mínima, bem como da sua articulação com as ações dos demais programas municipais de transferência de renda e dos Programas Bolsa Família e Renda Cidadã”.

A Comissão é composta por 10 membros e respectivos suplen-tes, sendo cinco representantes do Poder Público Municipal e cinco representantes da sociedade civil na seguinte forma: um representante da Secretaria do Desenvolvimento Trabalho e Inclusão; um represen-tante da Secretaria de Educação; um representante da Secretaria de Assistência e Promoção Social; um representante da Secretaria de Ha-bitação e Desenvolvimento Urbano; um representante da Secretaria de Saúde; três representantes dos diversos segmentos e setores da socie-dade civil organizada; dois representantes de entidades atuantes na área da família, da criança e do adolescente.

Nessa composição destaca-se a participação da Secretaria da Habitação, o que não é usual em conselhos desse gênero, importante face às condições precárias de moradia da população-alvo. A distribui-ção das vagas para os representantes da sociedade civil entre entida-des atuantes na área da família, da criança e do adolescente e outros setores diversos originou-se do interesse em buscar a participação de outros segmentos com o objetivo de garantir e ampliar a participação desses setores na discussão e implementação de ações de enfrenta-mento da exclusão social.

A Cafi s foi organizada a partir dos moldes estabelecidos pelo MDS para as Instâncias de Controle Social (ICS), segundo constam no Decreto nº 5.209 de 17 de setembro de 2004, que defi ne o papel da Instância de Controle Social – ICS e a sua composição, e estabelece as atribuições das instâncias municipais e estaduais.

ALGUMAS REFLEXÕES, A GUISA DE CONCLUSÃOA experiência de atuar em um programa das proporções e do

alcance dos Programas Redistributivos nos leva, invariavelmente, a

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fazer uma série de refl exões a respeito da ação pública e da forma do Estado se relacionar com seus cidadãos. Dentre as refl exões possíveis, achamos pertinente trazer para a discussão90 dois aspectos que nos parecem fundamentais.

É desnecessário ressalvar a importância de se ter um conjunto de informações adequado para poder planejar, de maneira adequada, a ação a ser oferecida às famílias. Não há mais espaço para fórmulas má-gicas, que tratem as famílias todas como iguais. Como tratar da mesma forma uma família com o chefe recém desempregado e uma outra com-posta apenas pela mãe e seus vários fi lhos? Mesmo nas áreas de pouca exclusão social, em Osasco, há famílias pobres; mas como tratar estas famílias da mesma forma que outra que vive em total desamparo?

Uma vez que as características e a dinâmica de cada família devem ser levadas em consideração para que estas políticas não ter-minem falando no vazio, as oportunidades de levantar e checar as informações ganham especial relevância. E o momento do cadastra-mento das famílias aparece como a oportunidade privilegiada para tal tarefa. No início de 2005, houve a contratação de 30 trabalhadores para realizar o cadastro por tempo determinado de dois meses. Ven-cido este prazo, a Prefeitura abriu uma seleção pública para vários cargos na administração. A SDTI/PMO solicitou 30 digitadores e 30 analistas de cadastro. Mesmo com o empenho e qualidade do traba-lho destes digitadores e analistas, esse tipo de contrato de trabalho tem validade de seis meses, podendo ser renovado por outros seis. Com isso, abre-se a necessidade de formar novas equipes, treiná-las novamente e a experiência acumulada pelos antigos cadastradores se perde. Assim, certamente o desafi o que se coloca para a atual gestão municipal é constituir um corpo de servidores públicos estáveis trei-nados para tal fi m.

Esta colocação é importante, pois, no processo de enfraque-cimento do Estado comandado pela ofensiva neoliberal no Brasil desde os anos 90, os servidores públicos vêm sendo atacados pela opinião pública. O papel fundamental destes trabalhadores no proces-so de estruturação do nosso Estado e no desenvolvimento de nosso país vem sendo relegado a um segundo plano, fi cando obscurecido pela imagem do barnabé. Além de considerar a contribuição destes servidores para o avanço do país, deve-se ter em conta que a burocra-

90. Devido ao escasso espaço, não há muito mais a fazer a não ser indicar a importância de se discutir tais pontos.

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cia deve ser “entendida como categoria socialmente valorizada e distinguida em função do exercício do múnus público, regida por subcultura específi ca e constituí-da por pessoal tecnicamente qualifi cado, com formação científi ca e cultural adequa-da (as burocracias, convém lembrar, não são fruto de geração espontânea: são criações dos soberanos para efeito de validação efi caz do poder, razão pela qual dizem respeito a um fenômeno que não pode ser desconsiderado por um regime de soberania popular)”91.

Outra discussão desencadeada pelas ações desenvolvidas pelos Programas Redistributivos diz respeito ao papel da ação municipal nesta área — que já conta com atuação estadual e federal. Para evitar a super-posição de ações, a busca de uma articulação das ações é o ideal. Um primeiro aspecto desta articulação diz respeito ao valor da bolsa paga aos benefi ciários. Certamente, os recursos orçamentários não permitem ao município estabelecer uma bolsa de alto valor a todas as famílias em situação de vulnerabilidade (conforme já dissemos, o desenho herdado do Renda Mínima tinha capacidade para benefi ciar menos de 300 famí-lias). Por outro lado, os valores dos benefícios (tanto federal quanto es-tadual) não são bastante signifi cativos (o valor varia entre R$ 15 e R$ 95, dependendo do número de fi lhos, da renda familiar etc92). A opção do município de Osasco para enfrentar estes dois dilemas foi fazer uma composição de bolsas dos diversos programas para aumentar o volume de dinheiro disponibilizado a cada família (nesta composição, o valor máximo das bolsas fi caria em ½ salário mínimo — pelo menos 50% maior que o valor mais alto atualmente pago).

Desta forma, será possível conciliar uma ampla cobertura — fun-damental numa cidade com grandes áreas de exclusão — e disponibili-zar um valor maior às famílias de maior vulnerabilidade. Sabe-se, porém, que apenas o pagamento de um benefício às famílias é insufi ciente para criar oportunidades de a emancipação para estes cidadãos. Falta aquilo que nós denominamos de “portas de saída”. O cidadão entra na assis-tência estatal nos cadastramentos, permanece sem meios para conse-guir deixar a ajuda governamental e voltar a se sustentar apenas com o fruto de seu trabalho.

Dentre os modelos de renda mínima adotados no Brasil, o modelo ligado á assistência social tem bastante êxito no apoio a famí-

91. MARTINS (2005: 30-1).

92. Maiores informações sobre as regras e requisitos dos programas podem ser encontrados em www.mds.gov.br e www.desen-volvimentosocial.sp.gov.br

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lias com baixa vulnerabilidade, aquelas onde um apoio mais localizado pode permitir que se escape das armadilhas da pobreza93. Entretanto, nas situações mais críticas, apenas se consegue manter a família na atual condição de sobrevivência. Já o modelo ligado à educação relega para as futuras gerações a missão de superar a situação de vulnerabi-lidade atual das famílias. Por conta destas limitações, a Prefeitura de Osasco aposta em outro modelo, que estimula a inserção por meio da garantia de acesso dos cidadãos aos instrumentos que permitirão sua posterior emancipação.

A participação em atividades de geração de trabalho e renda é a chave desta nova alternativa. E aqui, o desafi o permanece em aliar um contingente bastante alto de benefi ciários e uma capacitação, uma intermediação de mão-de-obra, um trabalho de sensibilização para a Economia Popular e Solidária. Algumas medidas auxiliam nesta tarefa: a mudança na legislação para colocar esta participação como contra-partida ao pagamento do benefício; o estabelecimento legal de um valor para custear o transporte dos benefi ciários até as atividades de qualifi cação; a concepção de uma ação integrada com outros progra-mas da SDTI/PMO e outras secretarias municipais; a ação junto à so-ciedade civil organizada, capaz de trazer uma nova dinâmica para a ação pública.

Estas são as armas com as quais a atual administração enfren-tará a situação de vulnerabilidade social que parcela expressiva de seus cidadãos enfrenta. Elas se fundamentam na capacidade e na vontade dos munícipes de superar a situação de exclusão a que estão submeti-dos. Entendendo que estas pessoas não estão nesta condição devido a “fraquezas” pessoais — a primeira parte deste livro mostra que este fenômeno é comum ao país e, mesmo, aos países capitalistas desen-volvidos — o poder público municipal se coloca ao lado destes cida-dãos para garantir o apoio necessário para dar conta desta tarefa.

BIBLIOGRAFIA

FRIEDMAN, M. Capitalismo e liberdade. São Paulo: Nova Cultural, 1985. (Os Economistas).

93. Por exemplo, uma família estruturada, mas que foi atingida pelo desemprego. Neste caso, o apoio governamental é importante para ajudar a família a retomar sua dinâmica anterior.

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HIRATA, R. Renda mínima em São Paulo. 2006. Dissertação (Mes-trado em Economia)- Instituto de Economia, Universidade de. Campi-nas, Campinas, 2006.

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VAN PARIJ, P. Renda Básica: renda mínima garantida para o século XXI. In: SUPLICY, E. Renda de cidadania: a saída é pela porta. São Paulo: Cortez, 2002.

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Capítulo 7

Programa JuventudeMarcelo Phintener – Especialista em Sociologia Urbana

Marisa Campos – Graduada em História

POR QUE UMA POLÍTICA DE JUVENTUDE EM OSASCO? O Projeto Juventude é o único programa da SDTI/PMO especí-

fi co para pensar e agir junto a um grupo populacional razoavelmente bem determinado: a juventude. Tal opção explicita a importância dada a esta fase da vida do cidadão, fase esta que apresenta uma série de demandas e potencialidades próprias e que, como tal, deve contar com um olhar mais atento por parte do poder público municipal.

O conceito de juventude é uma construção histórica, social e cultural que, em diferentes épocas e territórios, adquire denominações e delimitações diferentes. Este conceito pode ter inúmeros pontos de partida, seja uma faixa etária, um período de vida, uma categoria social, uma geração etc94. Por conta destas múltiplas possibilidades de clas-sifi cação, o conceito não conta com uma defi nição consensual — e por isso, no parágrafo anterior, dissemos que a juventude é um grupo populacional apenas razoavelmente defi nido.

De qualquer maneira, o conceito de juventude sempre se liga à transição entre a infância e a vida adulta. Esta transição é pontuada por

94. LÉON (2005).

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mudanças biológicas e sociais. As mudanças biológicas diferenciam a juventude da infância (no sentido de afastamento); enquanto as mudan-ças sociais fazem a diferenciação com os adultos (apesar de uma cres-cente aproximação)95. A partir destas mudanças, quatro principais con-cepções sobre juventude fundamentam as ações dirigidas a este públi-co96, a saber:

A juventude como um período preparatório para a vida adulta, de onde derivam políticas fortemente ligadas à educação;

A juventude como etapa problemática (gravidez precoce, DST, violência, drogas), o que deriva para ações que atuam sobre o jovem, mas desconsideram o contexto social;

A juventude como ator estratégico do desenvolvimento, que reconhece os jovens como atores dinâmicos da sociedade, com potencialidades para enfrentar e superar os desafi os colocados pelas inovações tecnológicas e pela reestruturação produtiva ocorrida no Brasil desde os anos 90;

A juventude cidadã como sujeito das políticas, que “muda os enfoques anteriores, principalmente por superar a visão negativa sobre os jovens e gerar políticas centradas na noção de cidadania (...)97”.

Obviamente, estas quatro concepções coexistem, em maior ou menor medida, na sociedade brasileira e, por conseguinte, nas políti-cas públicas adotadas por aqui. A partir de tais possibilidades, o perfi l da juventude de Osasco torna-se determinante para entender os prin-cípios que balizam o Programa Juventude. Por Juventude, entendemos o grupo de faixa etária entre 16 e 24 anos, o que segue critérios esta-belecidos pela ONU e por instituições governamentais brasileiras98.

Em Osasco, o Censo 2000 apontou a existência de 132.225 jovens, o que corresponde a 20,26% da população total do município. A juventude de Osasco tem um grande equilíbrio na distribuição entre os sexos, com 50,7% de jovens do sexo feminino e 49,3% do sexo

95. ALLERBECK e ROSENMAYR (1979).

96. ABRAMO (2005).

97. ABRAMO (2005: 22).

98. Segundo Helena Abramo (2005), a juventude, compreendida nesta faixa etária, não é homogênea, havendo grande diferen-ciação entre os extremos etários. No extremo mais jovem, entre 15 e 17 anos, o percentual de estudantes é maior, quase metade ainda está fora do mercado de trabalho, o percentual de solteiros é maior e o percentual de paternidade/maternidade é menor. Por sua vez, o grupo mais velho, entre 21 e 24 anos é mais presente no mercado de trabalho e menos nas escolas, tem um número de casados mais expressivo e 41% dos jovens com mais de 20 anos já tem fi lhos. Apesar destas importantes diferenças de perfi l, a constituição de políticas diferenciadas para cada uma destas faixas etárias não é usual no Brasil.

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masculino. A grande maioria (65,8%) se declara branca e outro percen-tual expressivo (29,1%) se declara parda. Apenas 4,3% dos jovens de Osasco se declararam negros no último censo populacional do Brasil.

A escolaridade deste grupo populacional é alta, com 51% ten-do estudado entre 9 e 11 anos; e 30,6% tendo estudado entre 5 e 8 anos. Este dado indica que o abandono da escola é pequeno nesta faixa etária, mesmo para aqueles que já estão no mercado de trabalho. Ainda segundo os dados do Censo 2000, 52,9% dos jovens se encon-tram ocupados de alguma forma. Trinta por cento da população entre 16 e 24 anos é empregada com carteira assinada, 14% é empregada sem carteira assinada — o que denota um grau de precarização mais acentuado para estes jovens, e 4% trabalham por conta própria.

A Fundação Seade estima, para o ano de 2005, uma população maior na cidade, mas com um número menor de jovens. A estimativa indica que havia 125.283 jovens entre 15 e 24 anos, sendo 63.241 mulheres e 62.042 homens. Isto corresponde a 18,03% do total de moradores. Ainda segundo as estimativas da Fundação Seade, em torno de 7% destes jovens situam-se abaixo da linha da pobreza, vale dizer, pertencem a famílias cuja renda per capita é igual ou inferior a meio salário mínimo.

O componente juvenil do desemprego pode ser notado na cidade de Osasco, onde 47% dos jovens entre 16 e 24 anos de idade estão desempregados, e 20% estão em ocupações precárias. Desse mesmo total de desempregados, 45% são do sexo masculino e 55% do sexo feminino. No tocante à escolaridade, observa-se que 15% do total dos desempregados não concluíram o ensino fundamental, 1% são analfabetos e apenas 0,5% concluíram o ensino superior99.

O Índice de Juventude de Osasco100, que mede a concentra-ção de jovens nas regiões da cidade, mostra que esta concentração é maior nas áreas centrais da cidade — áreas estas com índice de inclusão social melhor do que os existentes nas regiões norte e sul (que conta relativamente com menor concentração de jovens). Por-tanto, apesar do elevado índice de jovens que pertencem a famílias em situação de pobreza, o contingente juvenil concentra-se em áreas de menor exclusão social do município.

99. PED, 2004.

100. Este índice de Juventude é um dos componentes do Índice de Exclusão Social de Osasco. Junto com o índice de Violência, ele compõe o Índice de Vulnerabilidade Juvenil de Osasco. Para maiores informações, ver capítulo 4.

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Esta distribuição espacial não signifi ca, entretanto, que a atenção a este grupo tenha que ser menor. Pelo contrário, há a exi-gência de uma atenção especial, já que congrega cidadãos com um grau de escolaridade bastante alto, com pouca experiência profi ssio-nal, que precisam se inserir em um ambiente econômico que não favorece o emprego regular.

Por conta destas características, o Programa Juventude, da SDTI/PMO, rejeita a visão de juventude problema e procura atuar dando suporte aos jovens para que eles desenvolvam a sua capaci-dade de participação e de cidadania. O propósito da SDTI/PMO é oferecer a este segmento populacional oportunidade de exercer ati-vidades que agreguem valores ao ensino básico, contribuindo para sua formação pessoal, social e profi ssional e criando condições para o desenvolvimento de novas habilidades e potenciais — especial-mente as voltadas para a construção de alternativas de geração de trabalho e renda.

Além de seu objetivo, há também uma inclinação a trabalhar fortemente com parcerias, seja com organizações sociais seja com outras instâncias de governo, e uma visão de formação que extrapo-le os limites da qualifi cação profi ssional. O Programa Juventude pro-cura estreitar seus laços com a sociedade civil e com outras instân-cias governamentais, abrindo parcerias e atuando de forma a com-plementar as ações estaduais e federais. Os principais programas em andamento, ou em fase de implantação, são o Jovem Cidadão (par-ceria com o governo estadual), o Juventude Cidadã e o Primeiro Emprego (parcerias com o Ministério do Trabalho e com organiza-ções sociais), a Escola de Fábrica (parceria com o Ministério da Edu-cação, empresas e organizações sociais) e o Bolsa Trabalho (progra-ma municipal onde a formação é realizada em parceria com organi-zações sociais). A seguir, serão detalhadas a concepção e a implan-tação destes programas no município de Osasco.

PROGRAMAS E PROJETOS QUE COMPÕEM O PROGRAMA JUVENTUDE

Bolsa trabalhoA SDTI/PMO parte do princípio que a falta de vagas é o principal

entrave ao primeiro emprego dos jovens, e não uma “falta de forma-

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ção” dos mesmos. Portanto, fi car restrito a apenas uma formação profi ssional, em áreas tradicionais, não é sufi ciente para assegurar uma inserção de qualidade dos jovens no mercado de trabalho. Assim, o Bolsa Trabalho visa fortalecer o vínculo dos benefi ciários com a escola e assegurar que os jovens, na ausência de vagas no mercado de traba-lho, não recorram a estratégias precárias de sobrevivência, tais como “bicos” e empregos informais.

O programa Bolsa Trabalho integra o conjunto de ações abri-gadas sob o Programa Juventude. É uma ação nova no município de Osasco, mas um programa semelhante já foi implantado e testado no município de São Paulo no governo Marta Suplicy (2001-2004)101.

O programa oferecerá formação ocupacional e formação para atividades comunitárias e coletivas. Através da qualifi cação social e profi ssional, pretende-se criar condições para o jovem ampliar as suas alternativas ocupacionais, de modo a lhe possibilitar, também, a alter-nativa do exercício do empreendedorismo e da Economia Solidária, e onde possa atuar em novos nichos de mercado, tais como áreas de tecnologia da informação e da comunicação, esportes, lazer e recrea-ção, meio ambiente, saúde, cultura, entre outras. Além da formação, o programa oferecerá uma bolsa mensal de até um salário mínimo vigen-te, auxílio-transporte e seguro de vida. O benefício é pago durante o período das atividades do bolsista no programa. O período de realiza-ção das atividades formativas tem duração de, no mínimo, seis meses e, no máximo, 24 meses.

Para participar, é necessário que o jovem atenda aos seguintes critérios: faixa etária de 16 a 24 anos de idade, estar desempregado, pertencer a famílias cuja renda per capita seja igual ou inferior a meio salário mínimo e estar matriculado ou freqüentando o ensino formal, caso não tenha concluído o ensino médio.

Com relação à formação oferecida, há a necessidade de fazer os jovens experimentarem habilidades não convencionais, cuja opor-tunidade de acesso é bastante restrita nas comunidades mais vulnerá-veis. Exemplos destas habilidades são cursos de artes plásticas, cine-ma e teatro, cultura hip-hop, fotografi a, meio ambiente, entre outros. Mais do que fornecer ferramentas para que os jovens se insiram no mercado de trabalho rapidamente, estes cursos buscam ampliar o re-

101. Para maiores informações sobre a evolução do Bolsa Trabalho paulistano, ver POCHMANN (2003). Para uma avaliação dos resultados, ver POCHMANN (2004).

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pertório cultural dos benefi ciários, dando-lhes acesso a técnicas que normalmente não estão disponíveis nos seus locais de moradia. Há possibilidade de os jovens montarem cooperativas ou seguirem carrei-ras ligadas aos cursos do Bolsa Trabalho, mas este não é necessaria-mente o objetivo a ser seguido. O fortalecimento da auto-estima, dos laços com a comunidade e a refl exão sobre a cidadania aparecem de maneira muito mais relevante dentro da proposta do programa.

Estes princípios foram trazidos para Osasco por parte da equi-pe que trabalhou em São Paulo, mas sofreram modifi cações que visa-ram aperfeiçoar o programa. Duas alterações saltam aos olhos: a idade de participação no programa e a questão da matrícula escolar. Com relação à idade, em Osasco ela foi ampliada para incluir jovens até 24 anos. Em São Paulo, a idade máxima era 21 anos, o que deixou de fora um contingente grande de jovens que necessitavam de um forte apoio à sua inserção no mercado de trabalho.

Com relação à matrícula escolar, o projeto de lei aprovado na Câmara Municipal, prevê que para participar do programa os jovens devem “estudar em escola vinculada ao sistema nacional de ensino ou, caso não esteja matriculado, matricular-se obrigatoriamente no período letivo cor-rente ou seguinte”. Esta mudança realçada em negrito torna o progra-ma um elemento de atração dos jovens de volta à escola. Na sua forma anterior, os jovens que estivessem fora da escola, teriam acesso veda-do ao programa. Na sua forma atual, espera-se que os jovens que não estejam matriculados ou freqüentando a escola sejam estimulados a retornar aos estudos.

O Projeto de Lei que institui o programa Bolsa Trabalho foi en-viado à Câmara de Vereadores em julho de 2005 e aprovado em dezem-bro do mesmo ano. Para 2006, 2007 e 2008, o planejamento é atender 6.000 jovens, sendo 2.000 em cada ano.

Juventude Cidadã / Primeiro EmpregoParceria do Município com o governo federal, via Ministério do

Trabalho e Emprego, consiste em uma vertente do Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego (PNPE/MTE). Atualmente, há 3.260 jovens participando das atividades de formação. A partir de janeiro de 2007, mais 3.740 jovens participarão do programa, o que totalizará 7.000 jovens em atividades. Este número corresponde a 80% dos jo-vens em situação de pobreza no município.

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Como ainda não se encerrou a etapa de capacitação e forma-ção, não há indicadores de aproveitamento no mercado de trabalho. Mas os convênios fi rmados com as entidades parceiras prevêem que elas ajudem na inserção de, pelo menos, 30% do total de alunos nos três meses seguintes ao fi m das atividades formativas, o que corres-ponderá a 2.100 jovens trabalhando até o fi nal de 2007.

O programa Juventude Cidadã visa “contribuir para a ampliação de oportunidades de inserção dos jovens no mercado de trabalho, dando prioridade ao acesso de jovens considerados mais vulneráveis e sujeitos à maior discriminação no mercado de trabalho”102. O Projeto adota uma estratégia de qualifi cação social e profi ssional que privilegia a aprendizagem por meio da expe-riência, sem negligenciar a preparação prévia e adequada de transfe-rência de conhecimentos teóricos. Nesse caso, a formação dos sabe-res necessários à inserção do jovem no mercado de trabalho e à vida em sociedade se dá, principalmente, por meio do seu engajamento em diversas ações comunitárias.

Essa estratégia é coerente com a concepção de qualifi cação como uma construção social relacionada ao aprendizado, que vai além da aquisição de conhecimentos técnicos e habilidades específi cas li-mitadas ao desempenho de uma ocupação. Busca-se enfatizar, tam-bém, aspectos que valorizem o crescimento dos jovens como cidadãos atuantes. Para tanto, o programa está estruturado em cinco eixos principais, a saber:

a. Formação em cidadania e direitos humanosEste eixo procura discutir os conceitos de cidadania, direitos

civis e sociais garantidos pelos instrumentos legais brasileiros (Estatuto da Criança e do Adolescente, Direitos Humanos, Legislação Trabalhista, Código de Defesa do Consumidor, Estatuto dos Idosos, entre outros).

b. Qualifi cação social e profi ssionalNeste eixo são discutidos conceitos relacionados à inserção

(mercados, desafi os, oportunidades); associativismo, cooperativismo, mercado autônomo; planejamento e gestão coletiva; desenvolvimento das habilidades específi cas (o conhecer e o saber fazer da ocupação).

c. Ação comunitáriaNeste eixo são planejadas as ações comunitárias a serem desen-

volvidas, elas são realizadas e avaliadas, de forma coletiva e contínua.

102. PNPE (2005).

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d. Estímulo e apoio efetivo à elevação da escolaridadeÉ claro que as ações de apoio à elevação de escolaridade são,

no longo prazo, fundamentais para que os jovens sejam capazes de exercer, plenamente, a sua cidadania e garantir uma inserção no mer-cado de trabalho em melhor situação. Este eixo procura garantir a continuidade dos estudos por esta parcela da população.

e. Preparação para o mercado de trabalhoO objetivo deste eixo é organizar e articular grupos que possam

criar alternativas no campo da Economia Solidária, além de estimular o associativismo, o cooperativismo e outras formas de ações de em-preendedorismo e de inserção no mercado de trabalho.

Nestas formações, os jovens são estimulados a refl etir sobre o contexto social atual, as transformações no mercado de trabalho, alter-nativas de geração de trabalho e renda (como empreendedorismo indi-vidual ou coletivo e o auto-emprego), além das aquisições dos conheci-mentos técnicos e habilidades específi cas necessárias ao desempenho de uma ocupação (informática, comunicação etc.). Desta forma, perce-be-se que a formação do Juventude Cidadã está de acordo com a pro-posta da SDTI/PMO — explicitada no Bolsa Trabalho — de formar cida-dãos, e não apenas formar mão-de-obra abundante e barata.

No caso específi co de Osasco, as entidades parceiras trabalham todos os eixos de forma integrada, sem haver uma partilha de atribuições entre duas ou mais entidades, problema que caracteriza outras experiên-cias semelhantes. Esta opção por induzir a uma entidade que abranja todos os eixos formativos exigidos pelo programa evita que haja uma ruptura na relação entre os jovens e os educadores — que são substi-tuídos quando a entidade parceira responsável por um determinado eixo termina sua tarefa. E também que se evite que visões díspares sobre o conteúdo dos eixos sejam passadas, de forma confl itante, para os jovens. Quanto às capacitações a serem oferecidas, o Programa Juventude arti-culou com outras secretarias municipais a escolha dos cursos a serem ministrados. Assim, por exemplo, a Secretaria de Educação conta com projetos como Recreio nas Férias e Escola de Vida, o que faz com que haja demanda por recreadores. Acertou-se, então, que o Juventude Cidadã formará um contingente de benefi ciários em atividades de lazer e recrea-ção — o que facilitará a absorção dos jovens nestes projetos municipais. Da mesma forma foram realizadas articulações semelhantes com as Se-cretarias Municipais de Cultura, de Esportes e de Meio Ambiente.

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Os programas Osasco Inclui e Osasco Solidária103 terão a in-cumbência de auxiliar nas ações de inserção do mercado de trabalho, tanto no tocante ao emprego formal, quanto no tocante ao auto-emprego ou o empreendedorismo individual ou coletivo.

Para participar é necessário que o jovem atenda aos seguintes critérios: faixa etária entre 16 e 24 anos, pertencer a famílias cuja renda per capita seja igual ou inferior a meio salário mínimo, sem experiência prévia no mercado de trabalho formal, que não seja benefi ciário direto do programa Bolsa Família e que tenha escolaridade inferior ao ensino médio. Para participar destas atividades, o jovem receberá cinco par-celas mensais de R$ 120,00.

Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem) O ProJovem foi lançado pelo Governo Federal, em fevereiro de

2005, e foi inicialmente implantado em todas capitais e no Distrito Federal. Em 2006, o programa foi expandido para os municípios com mais de 300 mil habitantes — categoria que inclui Osasco.

O programa atende a cidadãos com idade entre 18 e 24 anos, que tenham terminado a quarta série, mas não concluíram ainda o Ensino Fundamental e que não têm emprego com carteira profi ssional assinada.

O ProJovem dura um ano e proporciona aos jovens a conclusão do ensino fundamental, o aprendizado de uma profi ssão e o desenvol-vimento de ações comunitárias, além do incentivo mensal de R$ 100. Os alunos terão, ao longo de 12 meses, aulas com as disciplinas pró-prias do ensino fundamental, língua inglesa, informática básica e qua-lifi cação profi ssional inicial adequada às oportunidades de trabalho de sua cidade. Ao longo do curso, eles prestarão serviços comunitários e, para receber o incentivo mensal de R$ 100, terão que cumprir 75% da freqüência às aulas e demais atividades previstas.

Em Osasco, em 2006, o ProJovem atendeu a 700 jovens, que foram capacitados e tiveram a oportunidade de ampliar sua escolari-dade com o apoio do Governo Federal e do Governo Municipal.

Escola de FábricaTrata-se de uma política social do Ministério da Educação que

tem o objetivo de ampliar as possibilidades de formação profi ssional para favorecer o ingresso de jovens de baixa renda no mercado de

103. Para maiores detalhes sobre os programas, ver capítulo 8 e 11.

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trabalho, a partir de cursos de formação profi ssional no próprio am-biente de trabalho. Espera-se, assim, aproximar os processos educati-vos das necessidades práticas do setor produtivo, além de promover maior responsabilidade social das empresas.

Esta formação ocorre a partir da parceria entre o MEC (que é responsável pelas diretrizes pedagógicas, supervisiona os cursos e dis-ponibiliza recursos fi nanceiros para as demais instituições parceiras), Instituições Gestoras (que podem ser governos municipais ou estaduais ou entidades privadas), Unidades Formadoras (empresas e indústrias responsáveis pela infra-estrutura das escolas) e Unidades Certifi cadoras (instituições educacionais). O convênio entre a SDTI/PMO e o MEC tem duração de até 24 meses. Cada curso terá a duração de seis meses.

Segundo o MEC, as Unidades Gestoras têm responsabilidade por desenvolver o plano de sensibilização e difusão do projeto aos jovens e às empresas; implantar as Unidades Formadoras, inclusive com material didático e projeto pedagógico; avaliar os alunos e forne-cer certifi cação dos cursos. Às Unidades Formadoras cabe montar e mobiliar as salas de aulas; fornecer orientadores da área técnica que serão responsáveis pelas aulas práticas e oferecer alimentação, trans-porte, seguro de vida e o material escolar aos jovens. As Unidades Certifi cadoras são responsáveis por participar da elaboração do proje-to pedagógico, na formação de instrutores, monitores, orientadores e professores, além de supervisionar o processo de ensino-aprendiza-gem e certifi car os alunos.

Trata-se, portanto, de um projeto que aproxima o poder pú-blico, empresas privadas e instituições educacionais para oferecer uma formação profi ssional mais próxima da prática exercida nas em-presas. Para participar é necessário que o jovem atenda aos seguintes critérios: faixa etária de 16 a 24 anos, renda familiar mensal per capita de até um salário mínimo e meio, e que esteja matriculado na educa-ção básica regular da rede pública ou na modalidade de educação de jovens e adultos, prioritariamente no ensino de nível médio. O progra-ma oferece auxílio fi nanceiro ao jovem, no valor de R$ 150,00. O fi -nanciamento do programa é do MEC-FNDE. A Unidade Gestora rece-be o valor de R$ 30.000,00 por cada turma de 20 alunos em funciona-mento104. Além disto, o FNDE fi nancia as bolsas recebidas pelos be-

104. Caso o curso em questão já tenha sido anteriormente oferecido (e se tratar de uma réplica do curso), o valor cai para R$ 15.000,00, haja vista que uma série de custos de desenvolvimento de metodologia não ocorrerá novamente.

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nefi ciários. A Unidade Formadora não recebe verba para participar deste projeto, por estar no âmbito da responsabilidade social preco-nizada pela empresa que assume esta tarefa.

Já está em andamento a formação de mais de 350 cursos no Brasil inteiro, em áreas tão diversas quanto as tradicionais vendas, eletromecânica, processamento de couro, manutenção elétrica ou processos administrativos; e cursos mais inovadores como de forma-ção de agente ambiental, serviços de informática, agente de saúde ou agente comunitário.

No âmbito deste programa, a SDTI/PMO inscreveu-se junto ao MEC como Unidade Gestora e montou uma rede de formação na ci-dade. A Unidade Formadora é o Hospital e Maternidade Municipal Amador Aguiar; e a Unidade Certifi cadora é a Fundação Instituto Tec-nológico de Osasco (Fito). Este conjunto de parceiros trabalhou na formação de Auxiliar de Saúde, com 20 alunos, iniciado em setembro de 2005 e que se estendeu até março de 2006.

A experiência deste primeiro grupo indicou que a articulação da rede de atores sociais, com ritmos e missões institucionais diferen-tes, é uma tarefa bastante complexa e sujeita a uma série de ruídos de comunicação entre os parceiros. Esta tarefa ainda carece de um apren-dizado mais apurado para um trabalho institucional conjunto — si-tuação que tende a fi car mais complicada quando há um número maior de parceiros.

Jovem Cidadão O programa Jovem Cidadão é operado em Osasco a partir de

uma parceria entre a Prefeitura e o Governo do Estado. Na SDTI/PMO, este programa é operado pelo Osasco Inclui105. O Jovem Cidadão é um programa de estágios em empresas do setor privado que é subvencio-nado pelo Governo Estadual. O objetivo é proporcionar uma primeira chance de trabalho para jovens que não têm experiência no mercado de trabalho.

Para participar, o jovem deve ter entre 16 e 21 anos e estar no 2º ou 3º ano do ensino médio106. Os jovens se inscrevem na escola em

105. Para maiores detalhes sobre o programa, ver capítulo 11.

106. O aluno obrigatoriamente deve estar estudando. No caso de alunos do 3º ano, o estágio só é realizado se o contrato for fi rmado até 1º de julho. Após esta data, o contrato se estenderia ao ano seguinte à conclusão dos estudos pelo aluno — portanto esta situação é vetada.

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que estudam ou na SDTI/PMO. As empresas cadastram suas vagas no site do governo do estado. O Osasco Inclui faz o cruzamento das vagas oferecidas com os jovens cadastrados na escola mais próxima ao local de estágio. A seleção se dá pelo critério de renda familiar e os de menor renda familiar têm prioridade. Para um estágio de 4 horas, o jovem recebe R$ 130,00; para 5 horas, a remuneração é de R$ 167,50; e para 6 horas, o valor vai a R$ 195,00. Em todos os casos, o governo do es-tado fi nancia R$ 65,00 e a empresa complementa o valor. Além destes valores, o jovem conta com um seguro de vida (fi nanciado pelo estado) e vale-transporte (fi nanciado pelas empresas). O acompanhamento é realizado por meio de relatórios mensais encaminhados à empresa e à escola pelo governo do estado.

O programa ainda tem problemas a serem resolvidos: o progra-ma carece de uma fi scalização mais efi ciente com o objetivo de evitar a desvirtuação do estágio, já que a lei que regula o estágio indica cla-ramente o seu caráter de capacitação e formação. Quando esta situa-ção não é bem acompanhada, há o perigo de o estágio assumir o ca-ráter de trabalho precário, o que é evidente em ofertas que prevêem trabalhos na rua, ou nas vagas de balconista ou contínuo.

BIBLIOGRAFIA

ABRAMO, Helena Wendell. O uso das noções de adolescência e juven-tude no contexto brasileiro. In: FREITAS. Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais. [S.l.: s.n.], 2005.

ALLERBECK, Klaus; ROSENMAYR, Leopold. Introducción a la socio-logía de la juventud. Buenos Aires: Editorial Kapelusz, 1979.

FREITAS, Maria Virgínia; PAPA, Fernanda de Carvalho. Políticas públi-cas: juventude em pauta. São Paulo: Cortez, 2003.

IBGE. Censo demográfi co. Rio de Janeiro, 2000.

LÉON, Oscar Dávila. Adolescência e Juventude: das noções à aborda-gens. In: FREITAS. Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais. [S.l.: s.n.], 2005.

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Capítulo 8

Programa Osasco SolidáriaCaroline Maciel - Especialista em Sócio-Psicologia

Magali Honório - Pós-graduanda em Globalização e Cultura

Maria Paula Patrone - Graduada em Ciências Sociais

Sandra Faé Praxedes - Especialista em Sócio-Psicologia

Este texto tem como objetivo expor o Programa Osasco Soli-dária. Iniciaremos contextualizando o tempo e o espaço no qual apa-recem as políticas públicas de geração de trabalho e renda referencia-das na Economia Popular e Solidária. Em segundo lugar, trataremos do histórico da política pública de Economia Popular e Solidária no município de Osasco e descreveremos a estratégia, missão e objetivos do Programa. Em terceiro lugar, detalharemos, de maneira especial, a constituição de três ações fundamentais para o funcionamento do Programa: os Projetos por Segmentos Econômicos, a Incubadora Pú-blica de Economia Popular e Solidária e o Centro Público de Economia Popular e Solidária.

AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO E A ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIANão é preciso um olhar de especialista sobre a realidade social

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e econômica do Brasil para percebermos que importantes mudanças ocorreram no mundo do trabalho nos últimos 20 anos. Olhando os jornais ou simplesmente parando para pensar nos destinos profi s-sionais de parentes, amigos e vizinhos, não é difícil perceber que as formas de contratação se modifi caram, o tempo médio de desem-prego aumentou, as formas de procura por um novo posto de tra-balho se tornaram diferentes e profi ssões antes comuns deixaram de existir enquanto novas ocupações apareceram. Tais mudanças nos mostram um cenário bastante diferente daquele que, até o fi nal dos anos 80, orientava as trajetórias profi ssionais dos trabalhadores brasileiros107.

Paralelamente a este processo de transformações em nosso mercado de trabalho, importantes mudanças ocorreram no campo da política. O fi m da ditadura militar, a mobilização em torno da Consti-tuinte, a visibilidade dos movimentos sociais urbanos e rurais contri-buíram para que os cidadãos fossem experimentando, de diferentes maneiras, a participação na vida política.

Ainda decorrente da abertura democrática, apontamos um outro aspecto, que são os esforços empreendidos pelos governos pós-abertura para refundar o pacto federativo. Isto signifi cou fomen-tar e estimular a descentralização de políticas sociais para os estados e os municípios, defi nindo papéis e funções a cada um deles108. Este esforço parte do diagnóstico de que certas ações são potencializadas quando implementadas e controladas em nível local – o controle social se relaciona com o condicionamento de repasse de verbas e criação de conselhos. Isso signifi ca dizer que o município vem sendo cada vez mais demandado a construir respostas que vão além de suas experiências históricas. E isso é ainda mais verdadeiro quando se visa o contexto da região metropolitana de São Paulo, cuja com-plexidade incitou os governos locais a inserir em suas agendas polí-ticas de habitação, educação, saúde e, mais recentemente, de desen-volvimento, trabalho e geração de renda.

Dentro da discussão de geração de trabalho e renda, existem diferentes experiências que podem ser caracterizadas sob o termo Economia Popular e Solidária: associações para geração de trabalho e renda, clubes de troca, grupos solidários, fundos comuns utilizados

107. Para entender melhor como se deu este processo ver parte 1 do presente livro.

108. DRAIBE (2003).

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como micro-crédito, empresas em processo falimentar recuperadas por seus trabalhadores em forma de auto-gestão, empresas familiares articuladas em redes de cooperação, mutirões, redes solidárias, as cooperativas de produção, crédito e prestação de serviços entre tantas outras. Tenham sido iniciadas pela organização da comunidade ou fomentadas por entidades religiosas, associações ou organizações não-governamentais, tais experiências partilham princípios de justiça, eqüidade de participação, centralidade das pessoas em detrimento ao capital, entre outros.

Até aqui expusemos três processos sociais aparentemente distintos: as transformações no mundo do trabalho, a municipalização de algumas políticas sociais e as crescentes experiências de Economia Popular e Solidária. Estes processos sociais se encontram em municí-pios que se propuseram a enfrentar os desafi os gerados pelas mudan-ças no mundo do trabalho a partir da adoção de programas de geração de trabalho e renda que também consideram, em suas políticas públi-cas, a Economia Popular e Solidária.

Na região metropolitana de São Paulo podemos citar Santo André, Guarulhos e São Paulo109 como municípios que assumiram e têm assumido o desafi o de planejar e implementar políticas públicas que procuram enfrentar a pobreza e o desemprego a partir de estraté-gias referenciadas pela Economia Popular e Solidária. Desde 2005, o município de Osasco vem somar-se a tais iniciativas.

Antes de passarmos à descrição das estratégias de implemen-tação da política pública de Economia Popular e Solidária em Osasco, é interessante destacar alguns aspectos relativos às especifi cidades das políticas municipais que visam desenvolvimento, inclusão social e geração de trabalho e renda.

Da perspectiva de algumas das vantagens que tais políticas podem oferecer em relação àquelas iniciativas dos outros níveis de governo (ao menos idealmente), há que se mencionar o enraizamento no local, que aumenta o interesse e a responsabilidade dos atores sociais envolvidos sobre os resultados, permite maior controle social e possibili-ta maior agilidade para correção de rumos conforme o monitoramento de-monstre a necessidade de revisões no planejamento110.

109. Nesta discussão, destaca-se no município de São Paulo, o Programa Oportunidade Solidária coordenado pela Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura Municipal de São Paulo (Gestão 2001-2004).

110. FRANÇA (2004).

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Mas também é necessário reconhecer que os municípios po-dem encontrar alguns limites para implementar suas políticas de desen-volvimento, inclusão social e geração de trabalho e renda, uma vez que tais objetivos são, em grande medida, ou complexos demais para serem alcançados pela ação de apenas uma ou duas secretarias municipais ou dependentes de variáveis macro-estruturais, longe do alcance de ações municipais. Nesse sentido, a capacidade de intervenção em processos sociais e econômicos é limitada se não houver planejamento e articulação inter-setorial e também com outros níveis de governo. Por esta razão, o desafi o para as políticas de que aqui estamos tratando é que sejam pensadas de forma sistêmica e “... por intervenções sistêmicas estamos entenden-do, por um lado, o fato de que o local é parte de um todo e, por outro, de que apesar do elemento econômico ser fundamental neste tipo de desenvolvimento, ele não é o único. A compreensão sistêmica do desenvolvimento insere os elementos sociais, ur-banísticos, políticos, ambientais e culturais como forma de promoção da melhoria da qualidade de vida da população local”111.

A POLÍTICA PÚBLICA DE ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA NO MUNICÍPIO DE OSASCOPara além das lutas pela emancipação que marcam a história

do município, Osasco tem seu desenvolvimento intimamente ligado à dinâmica de industrialização e às lutas do movimento operário no Brasil. Desde meados dos anos 50, o município assistiu às reivindica-ções pela emancipação e também às paralisações e greves que mobi-lizaram os trabalhadores mesmo durante o período de ditadura militar. Desse modo, pode-se dizer que a organização coletiva e a mobilização em torno de necessidade e demandas são características da experiên-cia de cidadania da população de Osasco.

Estamos sublinhando este traço da identidade do município para tratar da política de Economia Popular e Solidária porque esta é resultante de movimentos sociais e de lutas de trabalhadores, pressu-pondo a organização dos indivíduos e sua mobilização em torno de uma ação comum. Nessa perspectiva (e reconhecendo a inadequação ou a insufi ciência dos instrumentos de políticas públicas que existiam no município, antes de 2005, para atender às necessidades de desen-volvimento da Economia Popular e Solidária) é que se justifi ca a imple-

111. FRANÇA (2004: 19).

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mentação do Programa, como forma de responder a estas necessida-des e induzir à melhor organização e à consolidação deste setor eco-nômico no município112.

Em Osasco, a introdução de políticas públicas de Economia Popular e Solidária se dá a partir do início da gestão do prefeito elei-to para o período de 2005 a 2008, Emídio Pereira de Souza (PT). In-tegrando as estratégias de inclusão social de seu programa de gover-no estão as ações de Economia Popular e Solidária, cujos objetivos prioritários são:

“contribuir para a erradicação da pobreza e da marginalização, redu-zindo as desigualdades sociais no município de Osasco; contribuir para o acesso dos cidadãos ao trabalho e à renda, como condição essencial para a inclusão e mobilidade sociais e para a melhoria da qualidade de vida; fomentar o desenvolvimento de novos modelos sócio-produtivos coletivos e autogestionários, bem como a sua conso-lidação, estimulando inclusive o desenvolvimento de tecnologias adequadas a esses modelos; incentivar e apoiar a criação, o desen-volvimento, a consolidação, a sustentabilidade e a expansão de em-preendimentos populares e solidários, organizados em cooperativas ou sob outras formas associativas; estimular a produção e o consumo de bens e serviços oferecidos pelo setor da Economia Popular e Solidária; fomentar a criação de redes de empreendimentos populares e solidários e de grupos sociais produtivos, assim como fortalecer as relações de intercâmbio e de cooperação entre os mesmos e os demais atores eco-nômicos e sociais do território onde estão inseridos; promover a inter-setorialidade e a integração de ações do Poder Público Municipal que possam contribuir para a difusão dos princípios e objetivos do Progra-ma e criar e dar efetividade a mecanismos institucionais que facilitem sua implementação”113.Como é possível observar a partir da leitura dos objetivos aci-

ma, o Programa Osasco Solidária vem enfrentar uma face específi ca da exclusão social: aquela ligada ao desemprego ou a precarização das

112. Um conhecido exemplo de empresa autogestionária em Osasco é o da Cooperativa de Produção de Artes Metálicas – Copram, constituída a partir da massa falida do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo que, em 1999, decidiu fechar sua planta em Osasco. Para evitar o fechamento e a demissão dos 81 funcionários que ali trabalhavam, os trabalhadores buscaram o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e, após intensas negociações, conseguiram trocar as verbas rescisórias pelas máquinas e equipamentos, passando a administrá-la de forma autogestionária (ver QUERO, 2003).

113. Lei Municipal nº 3978, de 27 de dezembro de 2005.

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atividades ocupacionais114. De fato, todas as estratégias adotadas pelo Programa visam possibilitar a geração de trabalho e renda ou a melho-ria de produtos e serviços que já estão sendo desenvolvidos de manei-ra precária pelo público-alvo. No entanto, é necessário sublinhar que a política de fomento à Economia Popular e Solidária está fundamentada em alguns princípios que norteiam a seleção das ações e empreen-dimentos apoiados.

O Programa Osasco Solidária apóia empreendimentos que vi-sam o bem-estar de seus trabalhadores e a justiça social. Estes aspectos buscam e se relacionam com a primazia do trabalho em relação ao lucro e o controle do processo produtivo pelos trabalhadores, valorizando a autogestão, a cooperação e a solidariedade e promovendo um modelo de desenvolvimento que seja social, econômica e ambientalmente sustentável115.

Na perspectiva do Programa são considerados empreendimen-tos populares e solidários aqueles organizados sob a forma de coope-rativas, associações, grupos comunitários para a geração de trabalho e renda, empresas que possam adotar o princípio da autogestão eqüi-tativa, redes solidárias e outras formas associativas. Além disso, tais empreendimentos devem possuir ou expressar a vontade de desenvol-ver as seguintes características:

“serem organizações econômicas coletivas e supra familiares perma-nentes, compostas de trabalhadores urbanos ou rurais; serem os membros do empreendimento proprietários do patrimônio, caso exis-ta; serem empreendimentos organizados sob a forma de autogestão, garantindo a administração coletiva e soberana de suas atividades e da destinação dos seus resultados líquidos a todos os seus membros; terem adesão livre e voluntária dos seus membros; desenvolverem cooperação com outros grupos e com empreendimentos da mesma natureza; buscarem a inserção comunitária, com a adoção de práticas democráticas e de cidadania; desenvolverem ações condizentes com a função social da empresa e a preservação do meio ambiente”116.Em nosso país, a Economia Popular e Solidária tem se apresen-

tado como estratégia de inclusão, tanto a partir de ações de assistên-cia social quanto de trabalho e até mesmo de desenvolvimento tecno-

114. O conceito de exclusão social tem sido utilizado para dar conta de diferentes processos de marginalização social que bloqueiam o acesso dos cidadãos àqueles direitos que deveriam ser universais (trabalho, educação, saúde). Sobre o que o conceito ajuda e o que difi culta entender, ver Martins 2002 e 2003.

115. Lei Municipal nº 3978, de 27 de dezembro de 2005.

116. Idem.

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lógico. Decorrente da opção de enfrentar o desafi o do desenvolvimen-to, do trabalho e da inclusão social pela via da Economia Popular e Solidária, o Programa está sob a coordenação da SDTI/PMO e encontra o ambiente propício para, junto às demais políticas do município, promover a integração, a transversalidade e a complementaridade das ações de inclusão social, contribuindo, assim, com as políticas de desenvolvimento local através das estratégias e ações da Economia Popular e Solidária.

Uma preocupação que marca fortemente o desenho do Pro-grama e sua implementação se refere aos esforços para assegurar a continuidade da política pública para além do período de uma gestão. Tal preocupação, que revela um amadurecimento da relação entre projetos políticos e a visão da administração pública, justifi ca-se por algumas razões.

Uma primeira razão, se refere à responsabilidade em relação ao público-alvo, aos empreendimentos criados e aos cidadãos em geral: devido à fragilidade das condições de partida que muitas vezes carac-teriza o público atendido, a necessidade de apoio, mesmo no período pós-estruturação do empreendimento, instiga ao enfrentamento do desafi o de criar instrumentos públicos permanentes que permitam aos empreendimentos se tornarem sustentáveis, até como estratégia para não por a perder os investimentos feitos durante os quatro anos de mandato. Na mesma chave da responsabilidade frente aos cidadãos, a continuidade de Programas solidifi ca a relação entre os indivíduos e o Poder Público municipal, contrariando o desgaste provocado por programas que, por vezes, são (justa ou injustamente) vistos como “eleitoreiros”.

As estratégias adotadas pelo Programa para assegurar a conti-nuidade da política pública para além da gestão Emídio de Souza po-dem ser consideradas em: 1) criação de um marco legal; 2) construção de equipamentos públicos; 3) sistematização de metodologias e mo-bilização de servidores municipais, instalando capacidades de opera-cionalização no interior do aparelho de Estado, 4) estímulo ao contro-le social e 5) monitoramento e avaliação.

No que se refere ao marco legal, a Política de Fomento à Eco-nomia Popular e Solidária do Município de Osasco, bem como o Pro-grama Osasco Solidária, foram instituídos pela Lei nº 3.978, de 27 de dezembro de 2005. Essa lei prevê e regula o auxílio à criação, ao de-

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senvolvimento, à consolidação, à sustentabilidade e à expansão de empreendimentos populares e solidários, redes e outras formas de integração e cooperação entre eles117.

Em relação à construção de equipamentos públicos, destacamos a implementação da Incubadora Pública de Empreendimentos Econômi-cos e Solidários, o Centro Público de Economia Popular e Solidária (am-bos projetos já em andamento) e a abertura, na legislação referida acima, da possibilidade de instalação de Centros de Comércio Justo e Solidário. Tanto a Incubadora quanto o Centro Público de Economia Popular Soli-dária serão descritos de forma detalhada mais à frente, na seção seguin-te deste texto. Cabe notar que não basta apenas a instalação do equipa-mento público; faz-se necessário criar mecanismos e estratégias de estí-mulo à sua apropriação pela população. É por esta razão que cada um destes projetos prevê a criação de um Comitê Gestor.

O Programa também tem como preocupação de sistematizar e publicizar as metodologias e estratégias de intervenção, traduzindo as experiências em aprendizagens que podem aperfeiçoar a gestão pública de ações de Economia Popular e Solidária bem como os dife-rentes modelos de incubação existentes.

Ainda na perspectiva de não deixar as experiências se perde-rem no fazer cotidiano, a Incubadora Pública de Economia Popular e Solidária realizou uma chamada pública aos servidores municipais que tivessem interesse em integrar sua equipe técnica ou a equipe de for-madores118. Trata-se de uma iniciativa que logra, a um só tempo, ca-pacitar os servidores municipais e garantir que tais capacidades este-jam instaladas no aparelho estatal. É, sem dúvida, um importante avanço em relação às práticas mais comuns de estabelecer parcerias com universidades, entidades e organizações não-governamentais. Ainda que tal estratégia seja efi caz do ponto de vista dos resultados – ou seja, pessoas são sensibilizadas e capacitadas, empreendimentos

117. Vale destacar que Osasco logrou instituir um marco legal para as políticas de Economia Popular e Solidária já no primeiro ano de gestão. Articulado com a mobilização da população atendida pela política e pelo Programa Osasco Solidária, esse marco legal é um mecanismo para a continuidade da política para além dessa gestão.

118. A chamada pública foi realizada por meio de um edital de seleção pública de servidores efetivos que manifestaram interesse em participar de projetos de Economia Popular e Solidária. Dentre as formações/qualifi cações dos servidores que se inscreveram estão contempladas áreas de conhecimento como economia, assistência social, comunicação, educação, saúde, entre outras. A capacitação com o grupo selecionado e formado já foi iniciada em fevereiro de 2006 e a equipe já começou a atuar em processos de sensibilização de indivíduos para que estes optem ou não por montarem empreendimentos tendo como referência a Economia Popular e Solidária. Sua integração se dará via Incubadora Pública de Economia Popular e Solidária, descrita mais detalhadamente na subseção 2.

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são incubados, acumula-se experiência -, ela pode se mostrar vulnerá-vel quando do término de uma gestão, pois os convênios e parcerias correm o risco de cessarem ou serem mantidos sem os necessários subsídios de que necessitam para funcionar.

No que se refere ao controle social, será criada a Comissão Municipal de Economia Popular e Solidária, a quem caberá as atribui-ções de:

“zelar pelo cumprimento e implementação das ações da Política e do Programa de Economia Popular e Solidária no município de Osasco; contribuir para a elaboração do plano de integração das políticas públicas municipais de Economia Popular e Solidária; encaminhar sugestões ao Programa para a implementação dos projetos, além de acompanhá-los e fi scalizá-los em sua execução e monitorar e avaliar periodicamente as ações do Programa instituído pela lei”119.A Comissão não foi pensada como sendo o único espaço de

diálogo e prestação de contas aos diversos atores que circulam pelo mundo da Economia Popular e Solidária. Ao contrário, pois, ainda que se esteja tratando aqui de uma política pública, reconhecem-se suas origens no movimento social, bem como o acúmulo das experiências de entidades de fomento. Sem dúvida nenhuma, a política se constrói, sustenta-se e se consolida sem haver a participação efetiva dos diversos atores deste campo na sua concepção, desenvolvimento e sustentabi-lidade, somando ainda com os demais entes e atores das esferas mu-nicipais, estaduais e federais. A perspectiva, portanto, é de um diálogo constante com estes atores sem que isso signifi que, no entanto, deixar de reconhecer a especifi cidade do papel do Poder Público Municipal.

Afi nal, enquanto movimento social ou política levada a cabo por entidades, a Economia Popular e Solidária encontra limites à sua consolidação e expansão, demandando, junto ao Poder Público, mais apoio e a adoção de estratégias pautadas por um outro modelo de desenvolvimento sócio-econômico. Porém, mesmo que os primeiros desenhos e propostas tenham partido de lugares específi cos da socie-dade, a política pública, quando desenhada e implementada por ges-tores públicos, não pode se ater a esta ou aquela agenda. Isso signifi ca dizer que o diálogo com a sociedade civil organizada, movimentos so-ciais ou entidades não se traduzirá em ações de governo sem debate

119. Lei Municipal nº 3978, de 27 de dezembro de 2005.

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e sem adequações à lógica da gestão pública. Afi nal, são os gestores públicos - os portadores de mandato popular - que autorizam (e se tornam responsáveis pela) implementação de políticas públicas e isto não pode de modo algum ser esquecido120.

Finalmente, haverá a construção de um sistema de monitora-mento, avaliação e criação de indicadores e metodologias de análise, visando o aperfeiçoamento da política pública e a avaliação das ações, dos projetos e das atividades a serem executadas pelo programa Osas-co Solidária.

Neste sentido, a proposta de avaliação e monitoramento da política e do programa pretende englobar os seguintes parâmetros e critérios121:

I – inclusão social e desenvolvimento cidadão, considerando o grau de:a) Melhoria da renda per capita; b) melhoria da sociabilidade; c)

retorno a alfabetização e ao ensino fundamental; d) retorno de fi lhos à escola; e) retorno à busca de trabalho e emprego; f) reinserção no mercado de trabalho; g) organização de documentos pessoais; h) me-lhoria da moradia; i) aquisição de bens de consumo duráveis; j) cuida-dos com a saúde.

II – Sustentabilidade dos empreendimentos, considerando o grau de:a) Formalização e legalização das sociedades; b) qualidade do

produto e das relações de trabalho; c) comprometimento dos associa-dos; d) condições de posse, controle e condições do equipamento e da sede; e) substituição da renda convencional pela renda recebida no empreendimento; f) quantidade de pontos de venda e quantidade de clientes; g) condições de respeito ambiental, social, educacional, e melhoria nas condições de saúde de seus membros; h) organização de eventos de caráter econômico, tais como feiras, rodadas de negó-cios, encontros e outros; i) ponto de equilíbrio fi nanceiro; j) acesso ao crédito e fi nanciamento; l) melhoria tecnológica nos produtos, méto-dos, processos e/ou técnicas, na gestão da produção e na tecnologia empregada; m) instrumentos de gestão coletiva desenvolvidos.

III – Transformação social e política dos indivíduos e do grupo, com base na ampliação de sua participação em atividades coletivas, associações,

120. Sobre as discussões sobre a crescente complexidade das relações entre sociedade civil organizada e Estado, ver SORJ (2004) e LAVALLE, HOUTZAGER e CASTELLO (2004).

121. A proposta de avaliação e monitoramento é citada na Lei Municipal nº 3978, de 27 de dezembro de 2005. Para tal, pretende-se utilizar como ferramenta auxiliar um sistema informativo desenvolvido no âmbito do Programa Oportunidade Solidária de São Paulo (gestão 2001-2004) em parceria com a ITCP/COPPE-UFRJ.

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cooperativas, orçamento participativo, instituições locais e na amplia-ção de sua participação em demandas e controle de políticas públicas para a melhoria da qualidade de vida da comunidade.

IV – Construção da autogestão e gestão coletiva e democrática dos empreen-dimentos a partir da remuneração do trabalho e não do capital, da igual-dade de direitos entre os associados, da transparência administrativa, do quantitativo das decisões tomadas de forma coletiva, da distribuição democrática dos resultados do trabalho, da igualdade de gênero, etnia, de nível de instrução, da igualdade em relação à comunidade, do respei-to à integração ao meio ambiente, do controle e gestão pelos trabalha-dores associados, do uso de mão-de-obra contratada.

V – aprimoramento da educação, formação e capacitação técnica.VI – contribuição para o desenvolvimento da Economia Popular e Solidária,

com base na participação em redes solidárias, em intercooperação de empreendimentos, clubes de troca, compras solidárias, feiras de Econo-mia Popular e Solidária, clubes de poupança, cooperativas de crédito ou fundo solidário ou em iniciativas congêneres.

PROGRAMA OSASCO SOLIDÁRIAO Programa agrupa as ações que visam concretizar a política

pública de fomento à Economia Popular e Solidária no município e foi estruturado tendo como referência às experiências acumuladas por diferentes iniciativas existentes no país. Mais especifi camente, partiu-se da experiência do Programa Oportunidade Solidária, implementado pela Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade – Pre-feitura Municipal de São Paulo (Gestão 2001/2004). Isto se deve ao fato de que o referido Programa, por ter desenvolvido um processo intenso de refl exão e de sistematização com um conjunto de instituições par-ceiras, avançou bastante tanto na concepção de uma legislação que atenda à implementação de uma política pública de Economia Popular e Solidária em todas as suas dimensões quanto no desenvolvimento de uma metodologia de incubação.

A implementação do Programa Osasco Solidária visa promover instrumentos voltados ao fortalecimento e à sustentabilidade dos empreendimentos populares e solidários, priorizando:

“educação, formação e capacitação técnica, tecnológica e profi ssional; fomento à constituição de espaços e redes solidárias de produção, consu-mo, comercialização e de conhecimento e informação; acesso a linhas de

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crédito e a políticas de investimento social; apoio à comercialização e ampliação de mercado para os bens e serviços da Economia Popular e Solidária; apoio à pesquisa, à inovação, desenvolvimento e transferência de tecnologias que atendam às necessidades dos empreendimentos popu-lares e solidários; assessoria técnica, prioritariamente, nas áreas admi-nistrativas, econômica, contábil e técnica; participação em processo de incubação voltado a criar, a consolidar e a fortalecer a organização de empreendimentos populares e solidários; apoio técnico e fi nanceiro à recuperação e à reativação de empresas em risco de processo falimentar, massas falidas e parques produtivos ociosos, desde que sob a forma de autogestão por trabalhadores e de acordo com as diretrizes jurídicas previstas na lei”122.Como primeira ação para implementação, realizou-se um diag-

nóstico sobre a situação da Economia Popular e Solidária no municí-pio, com o objetivo de mapear o ambiente no qual a proposta seria mais concretamente construída. O levantamento nos mostrou que, em Osasco, existem alguns grupos organizados, que se identifi cam com os princípios da Economia Popular e Solidária. Estes grupos são bas-tante heterogêneos no que se refere ao seu grau de organização e muitos se encontram ainda em processo de formação e capacitação, estando apoiados por entidades religiosas ou por organizações não-governamentais. O cenário encontrado, portanto, revela iniciativas que se identifi cavam com as propostas da Economia Popular e Solidária, mas não encontravam apoio de políticas públicas ou outro tipo de fomento mais institucionalizado. Foi possível observar, também, indí-cios de organização destas iniciativas, mas tal não se solidifi ca ainda como movimento organizado.

O Programa vem organizando e promovendo espaços de diá-logo (reuniões, eventos e iniciativas descentralizadas nos locais) que visam agregar, ampliar e aperfeiçoar as políticas públicas de fomento à Economia Popular e Solidária e promover o fortalecimento dos ato-res que integram este segmento econômico. Trata-se, como já foi dito anteriormente, de uma estratégia que visa garantir a efetividade e a sustentabilidade dos espaços de gestão compartilhada. Estes espaços são extremamente relevantes para construir a co-responsabilidade sobre a política pública entre a Prefeitura Municipal de Osasco, as

122. Lei Municipal nº 3978, de 27 de dezembro de 2005.

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instituições parceiras, as organizações da sociedade civil e os represen-tantes de empreendimentos e do movimento social.

Outra estratégia importante para aperfeiçoar a estruturação dos empreendimentos é a implementação de Redes - entre os próprios empreendimentos e entre estes e outras iniciativas e organizações no âmbito local, regional e até mesmo nacional. Sendo múltiplas e hete-rogêneas as iniciativas que emergem das diversas políticas promovidas por organizações governamentais e não governamentais, a organiza-ção em rede se mostra de extrema importância para a superação da situação de fragilidade dos grupos e empreendimentos gerados.

Tendo em vista que cada empreendimento, para se desenvol-ver e se estruturar, precisa de apoios em múltiplas dimensões, dife-rentes instrumentos são necessários. Por essa razão, a legislação aprovada prevê a criação de linhas de crédito destinadas a atender os benefi ciários da Política de Fomento à Economia Popular e Soli-dária, prevendo o fomento e o fi nanciamento das atividades econô-micas dos empreendimentos populares e solidários e adequando-se às especifi cidades dos novos negócios. A SDTI/PMO trabalha em parceria com o Banco do Povo do Estado. Porém, como as linhas de crédito existentes não são adequadas para atender as necessidades dos empreendimentos — principalmente porque, na maioria, são novos e ainda não regulamentados — o Programa está estruturando e planejando a articulação para o acesso a políticas de crédito que atendam a este segmento.

O público alvo do Programa Osasco Solidária é constituído, prioritariamente, de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza123 e, em decorrência disto, estão excluídas do acesso aos recursos produzidos socialmente para a promoção de uma vida digna. Tal grau de exclusão demanda da sociedade e do Estado respostas comple-xas, inventivas e criativas, num espaço de tempo por vezes exíguo para enormes adversidades que devem ser enfrentadas ao tentar transformar um conjunto de indivíduos dispersos em empreendimen-tos solidários, viáveis como geradores de ocupação, renda e de novas sociabilidades.

O Programa atende aos benefi ciários dos programas voltados à promoção do desenvolvimento econômico com inclusão social da

123. Entende-se como linha de pobreza as famílias que possuam ½ salário mínimo de renda per capita.

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Prefeitura do Município de Osasco, assim como daqueles em parceria com os governos estadual e federal; cidadãos e a grupos de cidadãos, com prioridade para aqueles que vivam em situação de vulnerabilidade social e que desejem se organizar em empreendimentos populares e solidários e/ou consolidar aqueles já constituídos, que sejam residen-tes e domiciliados ou sediados no Município de Osasco.

Passaremos agora à descrição da estrutura do Programa, que foi concebida a partir de alguns eixos estratégicos para sua imple-mentação: Desenvolvimento da Política e do Programa de Economia Popular e Solidária; Incubação de Empreendimentos Econômicos Solidários; fomento aos empreendimentos de desenvolvimento eco-nômico e fomento ao crédito e fi nanças solidárias. Como parte da estratégia de implementação, já estão sendo desenvolvidas ações como os projetos por segmento econômico; Incubadora Pública de Economia Popular e Solidária e Centro Público de Economia Popular e Solidária.

1) Projetos por segmento econômico O Programa Osasco Solidária optou por trabalhar criando, de

partida, um eixo de atividades comuns nas quais os benefi ciários pu-dessem se engajar e, assim, estabelecer seus laços grupais de confi an-ça a partir de ações concretas, focadas em resultados efetivos. Acredi-tamos que isso modifi ca as condições de escolha dos benefi ciários, tornando mais provável a constituição de empreendimentos viáveis. Estes projetos cumprem uma função estratégica e metodológica, con-tribuindo para a estruturação dos segmentos econômicos no municí-pio, e alavancando atividades econômicas por meio da capacitação via integração e articulação de atividades formativas bem como prática laboral em ofi cinas-escolas (apesar de estarem alocados no Programa Osasco Solidária refl etem a articulação da SDTI/PMO).

Os projetos, portanto, têm o objetivo de oferecer aos benefi ciá-rios um eixo comum que, ao mesmo tempo em que os capacita (daí a opção pelo formato das ofi cinas-escola), contribui na criação de condi-ções para viabilizar a constituição de laços de grupo que tornem imaginá-vel a organização coletiva voltada para atividade econômica.

Para que isso fosse possível, levantaram-se, na região, alguns segmentos econômicos que oferecem potencialidade e que são viáveis economicamente. O mapeamento foi feito a partir do cadastramento

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dos benefi ciários dos programas sociais, identifi cando os segmentos econômicos de sua trajetória ocupacional e seu interesse em novas atividades124. Inicialmente optou-se por trabalhar com as áreas têxtil (costura), alimentação (panifi cação), artesanato, reciclagem e agricul-tura urbana.

Abaixo, descreveremos os projetos já aprovados e em fase de implementação:

Reciclagem125: a proposta prevê a articulação em rede das três Centrais de Triagem a serem implementadas no município e o apoio na organização aos 15 Núcleos de Catadores na logística, infra-estru-tura e na gestão do sistema nas regiões Norte, Centro e Sul de Osasco. Atualmente, a Incubadora tem atuado com grupos de catadores já organizados, fomentando a organização destes em núcleos efetivos que possam integrar a rede local de coleta seletiva e reciclagem.

Visando a estruturação, implementação e sustentabilidade do Programa de Coleta Seletiva e Reciclagem, a Prefeitura Municipal de Osasco criou um grupo de trabalho inter-secretarial composto pelas secretarias de: Assistência e Promoção Social; De senvolvimento,Traba-lho e Inclusão; Educação; Saúde; Obras; Meio Ambiente e Habitação comprometidas com a problemática sócio ambiental de resíduos sóli-dos, em congruência com a gestão compartilhada e a democratização da gestão pública, numa atitude de parceria e co-responsabilidade entre as secretarias.

Agricultura Urbana: o projeto prevê a implantação de hortas e pomares comunitários em espaços urbanos disponíveis, com utilização de técnicas agro-ecológicas e gestão associativa dos fatores produtivos. Está em estudo uma parceria para cessão das áreas onde poderão ser implementados os projetos deste segmento que produzirão os alimen-tos que também poderão ser comercializados através do Projeto Feira Móvel e Solidária, além de outros pontos de comercialização.

Alimentação126: a proposta do “Feira Móvel Solidária” é contri-buir para a criação e aperfeiçoamento de um sistema de abastecimen-to para a cidade de Osasco, na perspectiva não só da geração de

124. O cadastramento e a elaboração de estudos sócio-econômicos é de responsabilidade do Programa Osasco Digital e está descrito de forma mais detalhada no capítulo 10.

125. Aprovado junto ao Projeto de Saneamento Ambiental em Regiões Metropolitanas 2005/2006, (Ministério das Cidades / Funda-ção Nacional de Saúde – Funasa).

126. Projeto classifi cado junto ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome/MDS.

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trabalho e renda mas também de fazer valer os direitos à terra, à água, aos serviços sociais e ao trabalho. Prevê dois ônibus itinerantes que circularão pela cidade comercializando alimentos de qualidade a um preço acessível à população. Este projeto visa alavancar os empreen-dimentos populares e solidários do segmento da alimentação em in-terface permanente com o Projeto de Agricultura Urbana.

Alimentação: o projeto “Pão Sol”127 visa a criação e estrutura-ção da Padaria Popular e Solidária e um espaço de comercialização de produtos dos empreendimentos constituídos e assessorados no âm-bito do Programa. A Padaria Popular e Solidária é um espaço para ca-pacitação de benefi ciários em técnicas relacionadas à produção e comercialização de produtos referentes à área de panifi cação, funcio-nando como ofi cina escola deste segmento. O Projeto “Pão Sol” será integrado às demais políticas de geração de trabalho e renda do seg-mento alimentação, podendo estar em interface com o Projeto Feira Móvel e Solidária que comercializará, também, parte dos produtos da Padaria Solidária.

Têxteis (costura): Osasco buscou a integração da política de distribuição de uniformes escolares aos alunos da rede municipal de ensino com a capacitação de cidadãs da cidade, fomentando o desen-volvimento local. Por meio de uma parceria, já fi rmada, entre as Secre-tarias de Educação; Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão e entidade da sociedade civil, Osasco iniciou o processo de capacitação técnica junto ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de 98 operadoras de costura visando a integração das políticas públicas de educação e inclusão social. Esta parceria prevê formações sócio-edu-cativas com o objetivo da prática cidadã solidária e da educação para o trabalho, capacitações técnicas, encaminhamento para demais po-líticas públicas como elevação de escolaridade, saúde no trabalho, organização de núcleos qualifi cados na perspectiva de organização de grupos para geração de trabalho e renda através de estratégias como as de Economia Popular e Solidária. Está em fase de implementação uma ofi cina-escola do segmento têxtil combinando teoria e prática e, em contrapartida, a entrega dos uniformes para a rede escolar.

Artesanato: a PMO realiza semanalmente o “Domingo na Bussocaba – Feira de Artes, Cultura e Lazer”, onde há um espaço per-

127. Apresentado para Finep em parceria com o Instituto de Tecnologia Social

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manente de comercialização dos produtos artesanais da Economia Popular e Solidária. Na conhecida “Tenda de EcoSol”, os artesãos, oriundos dos programas sociais da SDTI/PMO ou cadastrados pelo Programa Osasco Solidária, organizam e comercializam seus produtos conjuntamente, visando estimular a organização de uma associação cultural dos artesãos osasquenses. Os artesãos integrantes da “Tenda de Economia Popular e Solidária”, recebem capacitação específi ca, entre outras, em teoria da cor, marchetaria, reaproveitamento de ma-teriais recicláveis, dobradura, formação de preço, ofi cina de organiza-ção de feiras, gestão de feiras com sistema de caixa único, articuladas em conjunto com o Programa Capacitação Ocupacional128.

2) A Incubadora Pública de Economia Popular e Solidária Como já expusemos na seção 1, usualmente se opta por imple-

mentar políticas de Economia Popular e Solidária por meio do estabe-lecimento de parcerias temporárias com entidades não governamen-tais. Estas instituições se tornam, então, executoras da política pública, fi cando responsáveis pela realização do processo de incubação. Entre-tanto, quando conduzida desta maneira, a política pública fi ca atrelada aos convênios estabelecidos, correndo o risco de, na transição de de-terminado governo para outro, ocorrer a descontinuidade dos progra-mas ou ações de políticas em processo de desenvolvimento nos terri-tórios129. A descontinuidade das políticas produz (ou reforça) a falta de credibilidade da população quanto à seriedade e à efi cácia de políticas de geração de trabalho e renda, desgastando ainda mais a imagem do Poder Público e da política. De todo o modo, o conhecimento, a expe-riência, as metodologias desenvolvidas e agentes capacitados no pro-cesso (organizações, equipes etc.) acabam se perdendo – ou, na melhor das hipóteses, sendo transferidos e aproveitados em outros municípios. A proposição é a construção de um espaço público, composta também por uma equipe de servidores municipais.

Nesta perspectiva, a criação de espaços multifuncionais vol-tados para alternativas de geração de ocupação e renda é um instru-

128. Ver capítulo 9.

129. É pensando na possibilidade de interrupção dos investimentos na Economia Popular e Solidária que Paul Singer chama a atenção para a necessidade da população atendida pelos programas, bem como a sociedade civil organizada, expressar seus in teresse na continuidade das políticas, mostrando a efi cácia que tais ações têm tido para combater diversas formas de exclusão social (SINGER, 2004).

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mento de fundamental importância para os empreendimentos popu-lares e solidários em fase de organização. É isso que estamos cha-mando de Incubadora Pública de Empreendimentos Econômicos Solidários: um espaço público que aloja a realização de atividades que têm em comum o fato de estarem voltadas ao apoio à estrutu-ração de empreendimentos populares e solidários e ao fomento de formas alternativas de geração de trabalho e renda.

A incubação propriamente dita consiste no fomento do pro-cesso de formação dos indivíduos que compõem os empreendimen-tos, desenvolvendo e aperfeiçoando novos modelos sócio-produtivos coletivos e autogestionários, qualifi cando os trabalhadores para a gestão de seus negócios e propiciando acesso a novas tecnologias. É no processo da incubação que se estabelecem, coordenam e monito-ram todas as atividades de formação, capacitação e utilização dos instrumentos para planejamento e constituição dos empreendimentos populares solidários.

Também é da Incubadora que partem ações de identifi cação, recepção, sensibilização e inclusão do público-alvo dos programas sociais nas atividades de incubação. A partir daí, sua trajetória ao longo do desenvolvimento das atividades de incubação é acompanhada e monitorada. A Incubadora ainda comporta outras ações como o esta-belecimento de parcerias locais nas regiões onde os processos de in-cubação acontecem, buscando a articulação e disponibilização dos espaços para formação, capacitação, ofi cinas de treinamento, reuniões, encontros, realização de eventos etc.

A Incubadora Pública de Economia Popular e Solidária conta com duas importantes parcerias para sua implementação. A primeira delas se relaciona com a transferência e a consolidação de uma meto-dologia de incubação de empreendimentos populares e solidários130. O projeto foi proposto junto à Incubadora Universitária do Rio de Ja-neiro, COPPE/UFRJ e à Financiadora de Estudos e Projetos – Finep, visando uma parceria entre estas instituições e a Prefeitura Municipal de Osasco para transferência de metodologia de incubação, formação e capacitação técnica para equipe multidisciplinar que atuará na Incu-badora, não apenas no que se refere à assessoria aos empreendimen-tos incubados, mas também ao monitoramento e à avaliação do pro-

130. É importante sublinhar que essa transferência de metodologia não exclui a possibilidade de a Incubadora de Osasco desen-volver seus próprios instrumentos e metodologias, o que já vem fazendo.

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cesso de incubação. A parceria entre a COPPE/UFRJ e Finep se estende a quatro municípios, a saber: Osasco (SP), Santo André (SP), Mesquita (RJ) e Nova Iguaçu (RJ). Cabe notar que a capacitação da equipe, já iniciada, está sendo realizada em conjunto com a equipe de Santo André o que, certamente, traz bons resultados em termos de troca de experiências.

A segunda parceria é entre a Prefeitura Municipal de Osasco e o Instituto de Tecnologia Social, uma organização da sociedade civil de interesse público – Oscip, que visa desenvolver tecnologias sociais, con-gregar conhecimentos para a construção de processos coletivos efi cazes para o de-senvolvimento socioeconômico e contribuir para o desenvolvimento local. Traba-lhando a partir do olhar da tecnologia social, essa parceria visa aportar os conhecimentos técnicos, científi cos e tecnológicos de modo a permitir que uma parcela da população e de empreendimentos que, em geral, não tem acesso a eles, possa melhorar a qualidade de seus produtos e serviços.

A concepção de Tecnologia Social também reforça o caráter emancipatório da Incubação, à medida em que concebe a assessoria como um processo de capacitação e instrumentalização para que os grupos desenvolvam uma nova relação com o conhecimento, pas-sando a identifi car fontes de pesquisa e atores que podem ser pro-curados quando seus “problemas de partida” tiverem sido solucio-nados. Desse modo, não se trata de oferecer soluções técnicas e tecnológicas das quais, posteriormente, os empreendimentos fi quem reféns, mas de inseri-los numa rede de produção de conhecimentos e estimular uma cultura de constante desenvolvimento – a partir do conhecimento que a própria experiência de produção ou prestação de serviços permite131.

Ambos os projetos foram propostos com vistas a fortalecer e ampliar a capacidade de ação da Incubadora Pública, potencializando a aplicação dos recursos públicos e promovendo a integração e a colabo-ração com outras ações e políticas públicas de fomento à Economia Popular e Solidária, implementadas em âmbito estadual e federal por outros municípios ou agentes e parceiros que atuam neste campo.

A equipe multidisciplinar desempenhará o papel de mediadora dos conhecimentos presentes no grupo, mas também proporcionará

131. ITS (2004).

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a ampliação do conhecimento e horizonte de possibilidades dos par-ticipantes. Para bem desempenhar esse papel, a equipe multidiscipli-nar tem vivido um intenso e rico processo de capacitação. Já foram realizados três processos formativos: o primeiro foi focado na contex-tualização da política pública de Economia Popular e Solidária no município e nas ações do Programa e da Incubadora; o segundo, rea-lizado com a participação da equipe do ITS, priorizou os princípios, a defi nição, os parâmetros e as implicações da Tecnologia Social no âmbito geral e suas interações com a Economia Popular e Solidária. O terceiro formativo foi ministrado pela equipe da Incubadora Universi-tária da COPPE-UFRJ e, além dos gestores públicos de Osasco, dele participaram também gestores públicos de programas de geração de Trabalho e Renda de Santo André.

A Incubadora Pública trabalhará tanto com grupos em início da estruturação do empreendimento (em geral, constituídos a partir do trabalho de sensibilização feito pelo Programa Osasco Solidária com os benefi ciários de programas redistributivos) quanto com empreendi-mentos já estruturados e em funcionamento (empreendimentos popu-lares e empreendimentos constituídos a partir de massa falida).

A sensibilização se compõe por atividades de introdução aos con-teúdos da Economia Popular e Solidária e, em alguns casos, pode ser realizada em atividades sócio-educativas de sensibilização. É neste momento inicial que se espera que os indivíduos tenham condições de optar ou não pelo Programa Osasco Solidária. Os conteúdos desenvol-vidos junto aos benefi ciários, ao propiciar formação cidadã e estimular o desenvolvimento pessoal e ao fomentar a participação na promoção do desenvolvimento comunitário e local com base na cultura solidária e na sustentabilidade econômica, social e ambiental procuram motivá-los para optarem por uma forma de geração de trabalho e renda que tem como princípio a autogestão organizativa.

Os benefi ciários que optarem por se organizar em grupos po-derão então acessar a incubação. A Incubadora atuará ainda apoiando a realização de diagnóstico socioeconômico, buscando identifi car segmentos que apresentem viabilidade para a geração de ocupação e renda no município, bem como analisando os dados sobre o histórico ocupacional e o grau de interesse do grupo.

A fase I de incubação tem como objetivo específi co desenvolver atividades que possibilitem a formalização das relações entre os mem-

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bros dos empreendimentos. Isso signifi ca dizer que, ao fi nal dos seis meses da primeira fase de incubação, é esperado que os grupos/em-preendimentos tenham constituído um estatuto de funcionamento e um regimento interno; tenham defi nido suas instâncias de decisão e já tenham dividido algumas responsabilidades e papéis – tanto em rela-ção à produção quanto em relação à administração. A primeira fase de incubação é composta por duas ações complementares: capacitação (através de curso introdutório e curso de gestão de empreendimentos populares e solidários) e assessoria técnica. Os cursos serão oferecidos nas dependências da Incubadora, visando estimular a apropriação desse espaço público pela população de Osasco.

A assessoria, por sua vez, será realizada em local defi nido pelos grupos/ empreendimentos. O objetivo geral da assessoria é contribuir para a estruturação do empreendimento. Ela também cumpre o obje-tivo específi co de capacitar os grupos/empreendimentos para lidar com outras técnicas além daquelas oferecidas pela incubadora, esti-mulando uma cultura de pesquisa e inovação para o constante desen-volvimento de seus produtos e serviços.

A fase II de incubação visa atender os empreendimentos quando estes já se encontram em fase de produção. Desse modo, seu objetivo é consolidar a estrutura do empreendimento, oferecendo conhecimen-tos mais aprofundados em relação à gestão de um empreendimento, assistindo o acesso a micro-crédito ou a fi nanciamento, respondendo às demandas dos empreendimentos no que se refere à capacitação técnica e tecnológica, estimulando a criação e/ou a participação em Redes de Empreendimentos Populares e Solidários e assessorando a legalização do empreendimento.

Além da assessoria permanente disponibilizada pela Incubado-ra, é necessário criar e/ou articular instrumentos que possam apoiar os empreendimentos populares solidários constituídos. Entre eles desta-camos: o apoio ao consumo e comercialização; e apoio à pesquisa, à inovação, ao desenvolvimento e à transferência de tecnologias que atendam às necessidades dos empreendimentos.

A Incubadora Pública atua em interface, integração e comple-mentariedade com os demais programas da Secretaria do Desenvolvi-mento, Trabalho e Inclusão planejando, articulando e implementando tanto demandas por cursos profi ssionalizantes específi cos, quanto demandas pela intermediação de negócios, apoio a estratégias de

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comercialização etc., sempre procurando por respostas adequadas às necessidades dos empreendimentos que estiverem sendo apoiados. E, também, dialogando com as centrais de crédito, de modo a articular o acesso a linhas de crédito mais adequadas às necessidades dos empreendimentos em fase de estruturação.

Em relação ao Centro de Comércio Justo e Solidário, tanto a Incubadora quanto o Centro de Comércio Justo e Solidário têm como desafi o desenvolver estratégias de comercialização. Mas a Incubadora terá um papel mais centrado no desenvolvimento do produto e do serviço, cuidando de sua a qualidade e apresentação, enquanto o Centro de Comércio Justo e Solidário promoverá eventos e feiras, para além dos espaços fi xos e outras estratégias de comercialização, divul-gando os produtos dos empreendimentos e também fomentando o debate sobre o consumo socialmente responsável.

3) O Centro Público de Economia Popular e Solidária Os Centros Públicos de Economia Popular e Solidária fazem

parte de uma estratégia nacional do Ministério do Trabalho e Empre-go/Secretaria Nacional de Economia Popular e Solidária (Senaes)132, que pretende promover um processo de integração de políticas de geração de trabalho e renda e combate à pobreza, por meio do fomen-to à organização de iniciativas de Economia Popular e Solidária. Por isso, respeitando-se as especifi cidades e características locais, os Cen-tros Públicos de Economia Popular e Solidária devem expressar uma identidade comum, que permita ao povo brasileiro identifi cá-los, de norte a sul do país, como uma ferramenta de promoção da luta contra as desigualdades sociais.

Os Centros estão sendo implementados por meio de parce-rias que envolvem os vários atores que compõem o campo da Eco-nomia Popular e Solidária no Brasil, de modo a assegurar a natureza pública destes espaços. O Centro Público tem como objetivo princi-pal disponibilizar um local de integração e articulação para fortalecimento e fo-mento da Economia Popular e Solidária, contribuir para geração de ocupação e renda e para a promoção da cidadania e do desenvolvimento local do município e da região.

O Centro Público tem como objetivos, dentre outros:

132. A Senaes tem como Secretário o Prof. Paul Singer, pesquisador e militante da Economia Popular e Solidária.

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a) Estruturar e implementar um espaço público multifuncional que articule e potencialize as várias iniciativas, governamentais e não governamentais, de fomento à Economia Popular e Solidária;

b) fomentar e fortalecer a cultura e as estratégias de Economia Popular e Solidária;

c) assessorar os empreendimentos já constituídos, de acordo com suas demandas nas áreas de gestão, viabilidade, comercialização, formalização, acesso a tecnologias, créditos populares e capacitações técnicas e específi cas;

d) promover eventos e estratégias de comunicação, reuniões, ofi cinas, seminários e outras atividades culturais que objetivem o de-senvolvimento e a divulgação da Economia Popular e Solidária;

e) promover espaços de vivência e articulação entre os vários atores da Economia Popular e Solidária;

f) promover a participação, tanto entre os empreendimentos como entre outros agentes sociais, públicos ou privados; e

g) estimular núcleos de apoio em redes locais, para fortalecer o processo organizativo, econômico, técnico e cultural dos segmentos integrantes do Centro de Economia Popular e Solidária.

Referindo-se às discussões e refl exões promovidas pela Rede de Gestores Públicos de Fomento à Economia Popular e Solidária133, da qual o município de Osasco é integrante, propôs-se a implementação de um Centro Público de Economia Popular e Solidária do Município de Osasco.

Do ponto de vista educacional, o Centro Público contará com espaços de capacitação, realizada principalmente por meio de ofi cinas, e também espaços para alfabetização e elevação de escolaridade.

Em relação ao apoio aos empreendimentos populares e soli-dários, no Centro Público funcionará um posto avançado dos progra-mas de microcrédito e crédito. Também funcionará um Telecentro de Negó-cios, visando a inclusão digital e também oferecendo cursos de capa-citação em ferramentas de gestão do negócio e da informação. Um serviço de intermediação de negócios populares será, ainda, oferecido aos empreendimentos que acorrerem ao Centro, com o objetivo de su-perar a distância entre a oferta e a demanda, ponto tão crucial para a estruturação dos negócios134.

133. Termo de Referência MTE/Senaes

134. Nestas tarefas existe uma interface com os programas da SDTI/PMO, destacando-se os Programas Osasco Digital, Redistribu-tivos e o Osasco Inclui.

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Ainda do ponto de vista do apoio aos empreendimentos, mas também de fortalecimento da Economia Popular e Solidária, haverá um espaço para a constituição de Redes entre empreendimentos de mesmo segmento ou alocados em uma mesma localidade. E o Centro contará, ainda, com um espaço de vivência e articulação entre os atores da Economia Popular e Solidária. Do mesmo modo, haverá espaços de comercialização de produtos e serviços.

Da perspectiva da difusão da Economia Popular e Solidária e de seu fortalecimento, haverá uma equipe responsável pelos eventos e comunicação, organizando a estratégia de comunicação e organizando eventos, seminários, palestras etc.

Como se pode perceber, há uma estreita relação entre o Cen-tro Público e a Incubadora Pública, ambos tendo em comum o obje-tivo de se tornarem uma referência, no município, para aqueles gru-pos e empreendimentos que desejem se estruturar dentro do univer-so de valores e princípios da Economia Popular e Solidária. A idéia é que tais grupos e empreendimentos identifi quem nos espaços públi-cos o apoio do Poder Público necessário ao desenvolvimento de seus negócios, criação de novos postos de trabalho e geração de renda e melhoria de suas condições de inserção do mercado.

O Centro Público também terá interface com o Centro de Co-mércio Justo e Solidário. A especifi cidade do Centro Público, no entan-to, é que procurará acumular conhecimentos sobre estratégias de comercialização dos produtos dos empreendimentos populares e so-lidários em relação à criação de selos, marcas e formas de divulgação, enquanto o Centro de Comércio Justo e Solidário deverá principalmen-te funcionar em si mesmo como um espaço de comercialização e atuar promovendo feiras e eventos para comercializar os produtos e serviços dos empreendimentos.

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Capítulo 9

Programa Capacitação OcupacionalJuliana Zannini - Bacharel em Letras

Sergio Donda - Graduado em Psicologia

INTRODUÇÃONos anos 90 do século XX, as palavras capacitação, qualifi ca-

ção, formação e competência passaram a ter um lugar de destaque no debate sobre o mercado de trabalho no Brasil. Com a desestrutu-ração do mercado de trabalho observada e o desemprego crescendo rapidamente, a maior qualifi cação dos trabalhadores ganhou um foco por ser apresentada como a chave para a empregabilidade nos “novos tempos” que se apresentavam. Estes termos eram apresentados como sendo unívocos e politicamente neutros. Este procedimento esconde os diferentes sentidos e intenções que podem estar por trás destas palavras.

A concepção de qualifi cação, por exemplo, foi durante muito tempo associado ao conceito de “capital humano”135. Nas palavras de Frederic Harbison,

135. Os trabalhos de Theodore Schultz após a Segunda Guerra Mundial trazem maior reconhecimento e difusão destas idéias.

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“A criação de capital humano se assimila, desse modo, a uma inversão em benefício do homem e de seu desenvolvimento como um recurso criador e produtivo. Inclui a inversão por parte da sociedade na educa-ção, a inversão por parte dos empregadores no adestramento, e a inver-são de tempo e dinheiro por parte dos indivíduos para seu próprio de-senvolvimento. Tais inversões possuem elementos quantitativos e qua-litativos, isto é, a formação de capital humano implica não apenas em gastos em educação e adestramento em sentido estrito, mas também o cultivo de atitudes favoráveis à atividade produtiva”136.O foco principal desta visão é do homem como recurso produ-

tivo. A educação passa a ser concebida a partir do cálculo econômico de custos e lucros, cabendo aos aspectos sociais e emancipatórios da educação fi car em segundo plano. Durante os 35 anos que se seguiram ao segundo pós-guerra, o modo de produção fordista ajudou a fortale-cer um conceito de qualifi cação baseada no modelo emprego/habilida-de — onde a necessidade de capacitação do trabalhador era defi nida a partir do posto de trabalho que ele ocupava. Entretanto, Dedecca já ressaltou que esta premissa supõe que cada posto de trabalho conte com características inerentes. Para o autor, esta visão é incorreta, pois

“a qualifi cação da força de trabalho, de maneira inquestionável, é condicionada pela base técnica, mas seu fundamento decorre da forma como é estruturado o processo de trabalho. Isto é, como se organizam as máquinas e os homens em uma base produtiva. E essa organização é determinada pelas instituições [Estado, representação patronal (empresas) e sindicatos (trabalhadores)], pelas relações que estabele-cem entre si e pelas regras que entre elas são pactuadas”137.Nestas concepções de qualifi cação e formação profi ssional, o

trabalho fi ca, politicamente, subordinado ao capital, seja cultivando atitudes favoráveis à atividade produtiva ou defi nindo a necessidade de formação do trabalhador dentro dos limites impostos por sua in-serção profi ssional.

No Brasil, o sistema de formação profi ssional público, criado na década de 40, foi construído a partir destas concepções. Como se sabe, neste país o início dos esforços de educação e formação profi s-

136. HARBISON (1974: 153).

137. DEDECCA (1998: 271).

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sional remonta à formação de fundos compulsórios administrados somente pelos empregadores. Com isso, foi possível a montagem de grandes programas nacionais de formação profi ssional coerentes com o projeto nacional de industrialização. A captura de fundos fi scais e parafi scais, associados ao custo do trabalho, possibilitou a prolifera-ção não só de cursos de formação profi ssional de curta e média dura-ção realizados pelos serviços nacionais de aprendizagem — como Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Serviço Nacional de Aprendiza-gem do Transporte (Senat), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) —, como também de cursos técnicos de longa duração (esco-las técnicas estaduais e federais e universidades) por parte dos gover-nos estadual e federal, ambos compatíveis com o sentido do desen-volvimento da urbanização e industrialização nacional. A partir daí, o avanço dos setores produtivos secundários e terciários foi acompa-nhado da ampliação da oferta de mão-de-obra treinada segundo as novas exigências contratuais.

Nos anos 80 e 90, os sinais de esgotamento do projeto de in-dustrialização vigentes desde os anos 30 tornaram-se crescentes, restringindo as possibilidades de crescimento econômico sustentado e, por conseqüência, da expansão da ocupação. Ao mesmo tempo, a implementação do novo modelo econômico, voltado para a abertura comercial, produtiva, tecnológica e fi nanceira, não somente compro-meteu a ampliação do investimento como derrubou o nível de empre-go formal no Brasil e mudou as características das ocupações existen-tes138. Também o rígido modelo fordista de organização da produção deu lugar a modelos mais fl exíveis.

Neste contexto, ganha força o conceito de competências. A noção de qualifi cação desejada passa a dar valor à capacidade de mobi-lizar saberes para dominar situações concretas de trabalho. O exercício desta capacidade implicaria a mobilização de diversas competências ad-quiridas ou construídas tanto dentro do mundo de trabalho quanto fora dele. Segundo Manfredini, as competências reuniriam, basicamente, o “saber fazer” (dimensões práticas, técnicas e científi cas), o “saber ser” (traços de personalidade e caráter que facilitam a atividade produtiva,

138. Para aprofundar esta discussão, ver a primeira parte deste livro.

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como iniciativa, comunicabilidade, assimilação de valores de qualidade, competitividade etc.) e o “saber agir” (saber resolver problemas, trabalhar em equipe, realizar trabalhos novos e diversifi cados etc.)139.

Este novo enfoque sobre os conceitos de qualifi cação e forma-ção profi ssional, numa conjuntura de desemprego e precarização do trabalho, leva à noção de “empregabilidade” como saída para resolver individualmente os problemas nesta área. A empregabilidade é a capa-cidade do trabalhador de se manter atrativo aos empregadores, recor-rendo para isso a uma permanente atualização de seus saberes e suas habilidades. O discurso da empregabilidade transfere para cada de-sempregado, individualmente, o ônus pelo desemprego. Para sair desta situação seria necessário esforço para conseguir aumentar a sua atratividade como recurso produtivo.

Em 1997, Cláudio Salm, da UFRJ, analisou quais tipos de em-pregos eram criados e quais eram extintos durante os anos 90. Os empregos industriais foram os mais destruídos, enquanto os do co-mércio e serviços foram os mais criados — houve, portanto, uma substituição de empregos industriais por empregos no setor terciário da economia140. Entretanto, estes novos postos de trabalho criados não se caracterizavam por maiores exigências de formação. Pelo con-trário, os postos de trabalho que mais ofereceram vagas entre 1991 e 1996 foram:

1) Serviços administrativos subordinados;2) Vendedores e empregados do comércio;3) Cozinheiros, garçons e barmen;4) Administração, conservação e limpeza de edifícios; e5) Vigias, seguranças.Já os postos de trabalho que sofreram a maior perda de vagas,

e portanto foram “substituídos” pelos postos de trabalho acima lista-dos, eram: 1) técnicos, desenhistas técnicos e tecnólogos; 2) mestres e contramestres; 3) torneiros, ferramenteiros, usinagem de metais; 4) Ajustadores, montadores, mecânicos de máquinas; e 5) condutores de veículos de transporte. Nestes cinco subgrupos ocupacionais foram perdidas mais de 426 mil vagas, enquanto nos cinco subgrupos listados

139. MANFREDINI (1999: 8).

140. Esta tendência se mantém, como se pode ver na análise sobre o mercado de trabalho que consta no capítulo 3 deste livro.

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acima foram criadas mais de 730 mil vagas. Claramente, a necessidade de qualifi cação diminuiu e, assim, fi ca óbvio que prescrever mais quali-fi cação para escapar do desemprego é uma proposta simplista.

Mesmo com estas ressalvas, na segunda metade dos anos 90, o Ministério do Trabalho lançou o Plano Nacional de Formação Profi s-sional (Planfor), fi nanciado com recursos do Fundo de Amparo ao Tra-balhador, que pretende superar os limites de capacidade de atendimen-to oferecida pelo “sistema S”. O plano previa chegar a qualifi car, por ano, cerca de 20% da População Economicamente Ativa. O Planfor era imple-mentado por meio de Planos Estaduais de Qualifi cação, sob supervisão e gestão de Secretarias Estaduais de Trabalho e Comissões de Emprego, bem como por meio de parcerias diversas, com organizações governa-mentais e não governamentais.

Para Dedecca, o Planfor apresenta uma série de aspectos positivos. O Plano mobilizou a sociedade em prol da capacitação de trabalhadores, permitiu ao Ministério do Trabalho a gestão do orçamento para buscar melhorar a empregabilidade dos trabalha-dores e criou algum alento para o trabalhador desempregado ou vinculado ao mercado informal. Entretanto, as condições objetivas da sociedade levam a crer que as ações do Planfor não passam muito além disto.

Primeiramente, volta a questão levantada por Salm, de baixa necessidade de qualifi cação dos empregos criados pela economia brasileira dos anos 90 em diante. Em segundo lugar, há a falta de dina-mismo das empresas, que não criam novos empregos na intensidade que a sociedade necessita. Como afi rma Dedecca, “se mantido este com-portamento das empresas, será difícil vislumbrar um papel mais efetivo das políticas de qualifi cação e de seus efeitos sobre o desemprego e a qualidade do emprego dos trabalhadores”141. Por fi m, há uma desarticulação, em nível nacional, das políticas de emprego — o que faz com que cada uma delas consiga ter sucesso em apenas uma pequena parte de seu potencial. Novamente recorremos às palavras de Dedecca sobre este ponto:

“Conclui-se, deste modo, que as políticas de formação e treinamento da mão-de-obra se realizam sem um desempenho do mercado de trabalho que as fortaleçam, sem um sistema público de emprego que

141. DEDECCA (1998: 291).

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relacione essas políticas ao mercado de trabalho e sem uma arquite-tura institucional que possibilite uma mudança favorável e cumula-tiva da estrutura de emprego”142.Em face desta situação, o Programa Capacitação Ocupacional

do Município de Osasco não aceita a individualização do problema da pobreza e atribui ao poder público a responsabilidade primeira pela integração socioeconômica dos indivíduos. Essa nova concepção de desenvolvimento de políticas de capacitação e aprendizagem encon-tra-se distanciada das medidas em curso atualmente no Brasil.

De sua parte, a SDTI/PMO tem como propósito construção de uma nova base metodológica adequada ao enfrentamento das condi-ções de reprodução da pobreza e da desigualdade, a partir da difusão de formação cidadã associada à capacitação ocupacional e à aprendi-zagem em atividades de utilidade coletiva. É fundamental, neste caso, a articulação e integração deste programa com a atual estratégia mu-nicipal de desenvolvimento com inclusão social. As políticas de forma-ção/capacitação devem estar necessariamente articuladas às políticas de desenvolvimento econômico local e ao sistema público de emprego (via programa Osasco Inclui) e de fomento à Economia Solidária (via Osasco Solidária), sem o que não é possível oferecer aos cidadãos em situação de vulnerabilidade perspectivas de melhoria da qualidade de vida, geração de emprego, trabalho e renda.

A OPERACIONALIZAÇÃO DO PROGRAMA MUNICIPAL CAPACITAÇÃO OCUPACIONAL O presente programa tem por fi nalidade favorecer a ampla

difusão da capacitação, seja para o mercado de trabalho, seja para atividades de utilidade coletiva, especialmente para a ação comuni-tária. Para isso, procura valorizar os mais variados aspectos relacio-nados ao processo de aprendizagem para poder fazer, conhecer, conviver e ser. Mas, o estabelecimento da formação para o trabalho se insere numa concepção onde o desemprego é um problema co-letivo, não individual.

O Programa de Capacitação Ocupacional (PCO) integra o con-junto de programas da Prefeitura do Município de Osasco, que se in-

142. DEDECCA (1998: 292-3).

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sere numa estratégia de enfrentamento das múltiplas formas de mani-festação da exclusão social, sobretudo por meio da pobreza e do de-semprego na quinta maior cidade do Estado de São Paulo. Por meio da difusão de uma formação cidadã aos cidadãos mais vulneráveis, de capacitação e valorização das habilidades novas e pretéritas destes cidadãos, e da aprendizagem em atividades de utilidade coletiva para a juventude — que está em transição do sistema escolar para o mun-do do trabalho — busca-se não apenas superar as condições de re-produção da pobreza, mas alcançar um novo patamar de emancipação socioeconômica.

O Programa Capacitação Ocupacional tem uma profunda integração com os demais programas geridos pela SDTI/PMO. Ele não tem “benefi ciários próprios”, mas procura oferecer capacitação e formação para aqueles cidadãos que já participam, de alguma ma-neira, dos demais programas. Todos os benefi ciários dos programas redistributivos passarão pelos grupos sócio-educativos, sendo que algo em torno de 10% deste público-alvo deve ser encaminhado para uma ação de formação profi ssional.

O programa Juventude também cadastrará e selecionará jovens para participarem das atividades de formação defi nidas em conjunto com a equipe do PCO. Da mesma forma, os cidadãos que se inscrevem nos banco de emprego do Osasco Inclui também serão encaminhados para cursos específi cos adequados à sua área de atuação profi ssional. Já está em andamento uma parceria com empresas, sindicatos, ONGs e Governo Federal para a formação profi ssional na área de metalurgia — setor onde a cidade conta com larga tradição.

Por fi m, o trabalho do programa Osasco Solidária, no seu esfor-ço de apoio às ações voltadas à constituição de um novo modelo de gestão para micro e pequenos empreendimentos, está compatibilizado pelo Programa de Capacitação Ocupacional. Isso porque o programa não busca apenas possibilidades de ampliação do volume ocupacional e de rendimento para além das dimensões dos setores privado e públi-co, mas também a valorização de novas experiências que coloquem à disposição de diversos coletivos de mão-de-obra, uma dimensão de novas formas de trabalho, produção e distribuição solidária e coopera-tivada, bem como compreendendo um novo campo para a inatividade engajada no enfrentamento dos problemas comunitários.

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Somente no ano 2005, cerca de 8 mil pessoas pertencentes aos programas redistributivos e Frentes de Trabalho foram benefi cia-das pelo Programa Capacitação Ocupacional em Atividades Sócio-Educativas. Do conjunto de atividades desenvolvidas no âmbito do programa consta o envolvimento direto de parceria de instituições não-governamentais. Em 2006, cerca de 8.500 cidadãos participaram destas mesmas atividades.

As reuniões sócio-educativas com os benefi ciários dos progra-mas de transferência monetária de renda confi guram-se, portanto, como uma das principais atividades do Capacitação Ocupacional. Nestas reuniões são discutidos temas de interesse coletivo. Estas ati-vidades foram realizadas em parceria com o Centro de Educação, Es-tudos e Pesquisas (CEEP), que é uma entidade sem fi ns lucrativos que objetiva intervir propositivamente nas políticas públicas educacionais, atuando na área da formação profi ssional de jovens e adultos, no sen-tido de responder às múltiplas necessidades dos trabalhadores, tanto do ponto de vista do exercício profi ssional como da sua participação ativa na sociedade.

Além das atividades sócio-educativas, o Capacitação Ocupa-cional também articula o planejamento de atividades de formação profi ssional. Estas atividades são articuladas com outros programas da SDTI, e com os parceiros que atuam conjuntamente nestas tarefas. Estas atividades estão detalhadas em outros capítulos deste livro, mantendo referência aos benefi ciários atendidos, mas podemos citar as experiências com o Juventude Cidadã143, com o Planteq144 e o Plan-seq145 como referências dos princípios do Programa Capacitação Ocupacional.

A viabilidade desta proposta está levando à existência, no mu-nicípio de Osasco, de iniciativas importantes quanto à formação, à ca-pacitação e à aprendizagem, estimuladas pelo Governo Municipal e apoiadas ou geridas por instituições públicas e privadas parceiras, bem como pelo terceiro setor. A participação de um conjunto abrangente de instituições parceiras é uma referência muito importante, graças à ver-satilidade, inovação e experiência de seu corpo técnico no desenvolvi-

143. Ver capítulo 7.

144. Ver capítulo 11.

145. Ver capítulo 11.

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mento de iniciativas dessa natureza. Em 2005, além do CEEP, o Progra-ma Capacitação Ocupacional estabeleceu parcerias estratégicas com a Fundação de Apoio à Tecnologia e o Centro Paula Souza, com o Senai no ramo da metalurgia e do vestuário e com a Fundação Instituto Tec-nológico de Osasco (Fito). Em 2006, o leque de parceiros foi conside-ravelmente aumentado, chegando a 15 entidades que atuam conjunta-mente com a SDTI/PMO na formação dos cidadãos osasquenses além de parcerias com entidades da sociedade civil como igrejas, associa-ções, ongs e sindicatos.

Estas parcerias são fi rmadas a partir de alguns princípios bási-cos do programa. O primeiro é que as entidades trabalhem apenas com os benefi ciários indicados pela SDTI/PMO. Assim, evita-se a práti-ca de entidades que procuram órgãos públicos para conseguir fi nancia-mento para a capacitação dos “seus pobres”. Para participar da capa-citação promovida pela SDTI/PMO, o cidadão deve ser participante de algum dos demais programas executados pela secretaria. Ao Capacita-ção Ocupacional cabe selecioná-los e destiná-los para os cursos mais adequados ao seu perfi l ocupacional.

Também os cursos a serem ministrados são defi nidos pela SDTI/PMO, e não pela entidade parceira. Neste caso, a equipe do Ca-pacitação Ocupacional reúne-se com as equipes dos demais programas para levantar quais habilidades são mais necessárias frente às possibi-lidades do mercado de trabalho. Com isto, temos uma carga de cursos voltados ao setor terciário da economia (comércio e serviços) e de al-guns cursos para a indústria. Esta preocupação vai ao encontro das tendências recentes do mercado de trabalho de Osasco, conforme apontado no capítulo 3 deste livro.

Além destas duas condições, os cursos ministrados por parce-rias entre a SDTI/PMO e entidades sociais devem propiciar o desenvol-vimento de habilidades básicas, específi cas e de gestão. As Habilida-des Básicas são entendidas como aquelas que contribuem para o de-senvolvimento geral do indivíduo, podendo, igualmente, contribuir para sua ação transformadora na sociedade enquanto profi ssional e cidadão, bem como desenvolver competências necessárias para a elaboração de um projeto de vida profi ssional. As Habilidades Especí-fi cas são as habilidades que dizem respeito ao saber fazer específi co de uma determinada ocupação e que permitem seu exercício. Por fi m,

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as Habilidades Gestão são entendidas como aquelas que contribuem para que o educando construa (ou reconstrua) e gerencie seu projeto de vida, em particular no seu aspecto profi ssional, enfatizando a cons-ciência crítica de seu direito ao trabalho e à cidadania, do seu papel na comunidade e na sociedade, de sua capacidade de se organizar em grupo (habilidades atitudinais, que contribuam para que o individuo saiba gerenciar seus sentimentos, emoções e atitudes no trato com outros indivíduos).

Além destas habilidades, uma série de temas transversais deve ser tratada ao longo do curso, de modo que caminhem para uma re-fl exão crítica da realidade, levando em consideração:

a) O sujeito – o cidadão e suas peculiaridadesQue o cidadão enriqueça a construção de sua identidade e

aumente sua compreensão acerca das relações sociais em que se in-sere, como por exemplo, a família, a escola, a igreja e os diversos gru-pos juvenis.

b) O lugar – o bairro, a cidade, a região, o país, o mundoQue o cidadão desenvolva sua compreensão acerca de seu pró-

prio território, nas diversas dimensões aí envolvidas – a cidade, o bairro, a região, o país, o mundo.

c) O trabalho – complexidade nos novos temposQue o cidadão possa refl etir sobre o mundo do trabalho e

entender as mudanças que ocorrem na estrutura socioeconômica e na dinâmica do mercado do trabalho, identifi cando a complexidade dos novos tempos.

d) Políticas Públicas – Relação Estado e Sociedade Civil.Que o cidadão aumente sua consciência sobre a questão de

seus direitos civis, políticos e sociais, que refl ita sobre as diferentes for-mas de organização social e que entenda a mudança social que vivemos e como ele se insere numa nova dinâmica.

Apesar de as diretrizes estarem bem defi nidas, há difi culdades em se alcançar a situação ideal. A primeira delas é a falta de entidades sociais, em número sufi ciente, capacitadas para realizar estas tarefas no município de Osasco. Por conta da necessidade de um grande nú-mero de parceiras, o programa vem estabelecendo parcerias com en-tidades de outras cidades — especialmente São Paulo, dada a proxi-midade geográfi ca.

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Outro desafi o é integrar as ações de capacitação ocupacional com a educação básica, de forma a complementá-la, levando em con-ta a situação atual dos benefi ciários dos programas de transferência monetária que apresentam, em sua maioria, baixos índices de escola-ridade e desempenho escolar. O programa também trabalha para ga-rantir um sistema de certifi cação dos cursos de capacitação por meio de convênio com o Ministério do Trabalho e Emprego, de forma a garantir aos trabalhadores e às empresas privadas e demais emprega-dores sua validade e qualidade.

Ao optar por trabalhar com um amplo leque de parcerias, o PCO passou a cuidar da existência de mecanismos de garantia de uni-dade nas ações, de forma a impedir que cada organização social pro-mova uma formação sem nenhum ponto em comum com as demais formações oferecidas no município. Para tanto, a SDTI fechou um convênio com a Escola Sindical São Paulo, ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), onde a Escola Sindical terá a tarefa de construir espaços formativos que possibilitem a formação dos educadores das organizações sociais parceiras, para que estes sejam promotores de uma educação integral e de uma nova atitude política democrática popular e participativa. Para tanto, a Escola Sindical seguirá o seguinte percurso formativo:

I – Reunião de Gestores, com o objetivo de criar espaços de discussão, elaboração e sistematização com as entidades parceiras, possibilitando, entre outras ações: a troca de informações entre os participantes quanto às difi culdades encontradas no processo de execução das ações; acompanhar o processo formativo dos educa-dores; produzir material pedagógico como produto da sistematização do processo formativo.

II – Formação da Equipe de Formadores da Escola Sin-dical São Paulo, buscando criar processos e instrumentos para o desenvolvimento do tema central da formação: Educação Integral, Políticas Públicas, Cidadania e Poder Local. Esta etapa também será utilizada para planejar as atividades que compõem os espaços de for-mação dos educadores, estabelecendo uma mediação entre estes espaços e sujeitos que integram a proposta formativa.

III – Formação dos Educadores das entidades conve-niadas – Ofi cinas Pedagógicas, com o objetivo de aprofundar

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e instrumentalizar a construção do tema central da formação de formadores.

IV – Reuniões Pedagógicas Locais de Acompanhamen-to Local para aprofundar, a partir da prática cotidiana, estudos e refl exões para o desenvolvimento do eixo formativo políticas públicas, cidadania e poder local, possibilitar a troca de experiências visando a refl exão e sistematização das ações e contribuir para a construção de um ambiente educativo (condições adequadas que garantam o bom exercício e desempenho das atividades pedagógicas), a partir da refl exão conjunta dos desafi os e possibilidades do Programa em cada entidade.

V – Seminários Temáticos para aprofundar o debate sobre a elaboração das políticas públicas locais de qualifi cação profi ssional e subsidiar o desenvolvimento das temáticas abordadas no processo formativo, bem como a discussão dos fundamentos e metodologia da educação integral.

O Programa Capacitação Ocupacional sabe que os diferentes públicos que são atendidos pelos demais programas da SDTI/PMO têm interesses e necessidades bastante distintos. Procura, por conta disto, estabelecer diferentes estratégias de formação para cada pú-blico-alvo. Assim, busca-se ampliar a escolaridade das crianças, dos adolescentes e jovens, assim como atacar o analfabetismo entre os mais velhos. Com isto, diminui a pressão pela saída da inatividade e ampliam-se as atividades comunitárias de utilidade coletiva. De outro lado, busca-se revalorizar as habilidades acumuladas por trajetórias ocupacionais pregressas, bem como atender às necessidades de novas habilidades exigidas por um mercado de trabalho muito mais competitivo.

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MANFREDINI, S. M. .As metamorfoses da qualifi cação: três déca-das de um conceito. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, 23., 1999. Caxambu. Resumos..., Caxambu, 1999.

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Capítulo 10

Programa Osasco DigitalAlexandre Guerra – Especialista em Economia Social e Sindicalismo

Josué Xavier – Graduado em Telecomunicações

Leandro Santos – Graduando em Engenharia

Marcelo Benedito - Graduado em Geografi a

Marcelo Pereira – Graduado em Tecnologia em Informática

Marcos Paulo de Oliveira – Mestrando em Economia Política

Patrícia Piris – Técnica em Processamento de Dados

Rafael Barreto – Graduado em Tecnologia e Processamento de Dados e Graduado em Tecnologia em Redes de Computadores

Rodrigo Coelho – Doutorando em Economia Social e do Trabalho

e Pesquisados do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas

(Nepp/Unicamp)

Ronnie Aldrin – Graduado em Geografi a

OS DESAFIOS DO PROGRAMA OSASCO DIGITALA adoção da estratégia de inclusão coordenada pela SDTI/PMO

exige a organização e a disponibilização de uma enorme quantidade de informações sobre a população de Osasco, sobre a pobreza e a exclusão social, sobre o perfi l dos benefi ciários dos programas sociais da secretaria, sobre o funcionamento do mercado de trabalho, sobre as formas e possibilidades de inclusão digital, sobre as atividades de qualifi cação oferecidas, sobre os benefícios concedidos etc.

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Para se ter uma idéia, só para iniciar a implementação dos no-vos programas sociais da SDTI/PMO, foi necessária a montagem de uma Ficha de Cadastramento que coletou 430 diferentes tipos de infor-mações sobre cada indivíduo atendido. E isso somente para colocar os programas em andamento, pois, provavelmente vários outros tipos de informações se mostrarão necessários para viabilizar o crédito público aos benefi ciários, o controle da freqüência escolar e o aproveitamento nas atividades de qualifi cação, a concessão de seguro de vida etc.

Desta maneira, três ordens de questões foram colocadas como desafi os ao Programa Osasco Digital da SDTI/PMO e, por conseqüên-cia, foram fundamentais na sua estruturação:

Em primeiro lugar, como viabilizar de forma ágil e, ao mesmo tempo, confi ável a inserção direta e indireta de milhares de indivíduos e famílias nos programas sociais coordenados pela SDTI/PMO?

Em segundo lugar, por onde iniciar a implementação da nova estratégia proposta? Não seria necessário um diagnóstico da cidade antes de começarmos? Defi nir quais são as localidades mais vulnerá-veis e excluídas socialmente?

Por fi m, como possibilitar a toda população o acesso e apro-priação do conhecimento, da metodologia e da tecnologia da informa-ção e comunicação (TIC) que utilizamos?

As respostas para estas questões exigiram a constituição de uma estrutura racionalizada com alguns pontos de sustentação que geraram ao programa a concessão de três dimensões de intervenção: a) Dimensão Banco de Dados e Gerenciamento da Informação, b) Di-mensão Estudos e Pesquisas Socioeconômicos e c) Dimensão Inclusão Digital. Segue, adiante, a descrição de cada uma delas.

DIMENSÃO BANCO DE DADOS E GERENCIAMENTO DA INFORMAÇÃOPara fazer a gestão das informações necessárias ao planeja-

mento, implementação e acompanhamento de políticas públicas da SDTI/PMO foi idealizado um amplo sistema de dados: o Banco de Da-dos do Cidadão de Osasco (doravante BDCO)146. Este Banco de Dados,

146. Para obter maiores informações sobre o tema ver CAMPOS e GUERRA (2001); CAMPOS e GUERRA (2002); CAMPOS et alli (2004); POCHMANN (2003).

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provavelmente, se fi rmará como uma ferramenta importante para a gestão das informações desta e de outras secretarias da PMO, porque seu desenho permite que venha a contemplar uma ampla gama de relacionamentos entre o cidadão e o poder público local. Assim, ainda que esteja inicialmente voltado às políticas sob coordenação da SDTI/PMO, há espaço para o BDCO se constituir uma ferramenta relevante para as políticas das áreas de saúde, educação, transporte, habitação, abastecimento, segurança, tributação e outras mais. Vejamos isso com mais cuidado.

O BDCO tem como unidade básica o habitante da cidade (defi nido a partir de uma combinação única de nome, fi liação materna e data de nascimento). Vinculado a cada habitante há um conjunto virtualmente ilimitado de informações, relatando o histórico da famí-lia, a situação domiciliar, o deslocamento geográfi co, a condição de saúde, o percurso educacional, a trajetória no mercado de trabalho, a vida associativa etc147. Este conjunto de informações (que poderá ser continuamente ampliado e atualizado) é organizado em módulos. E estes são, ao mesmo tempo, independentes (todos possuem estru-tura e dinâmica própria) e integrados (todos se comunicam entre si, pois se remetem, no limite, às três informações básicas que identifi -cam cada cidadão).

O BDCO apresenta um módulo central de informações, em torno do qual gravitam módulos periféricos. Neste módulo central, temos informações demográfi cas148 fundamentais de cada habitan-te do município. O propósito deste módulo é garantir a própria identidade e organicidade do BDCO (como mencionado acima, a unidade básica deste banco é o indivíduo). Há também os módulos periféricos, cuja idéia é garantir as informações necessárias que não constam no módulo central. O desenho do banco, baseado em módulos, garante maleabilidade e fl exibilidade sufi ciente para a in-corporação de novas informações necessárias ao planejamento, implementação e acompanhamento de quaisquer políticas públicas no município de Osasco.

147. Por ter o desenho baseado em módulos independentes, é possível acrescentar ou suprimir um conjunto de informações (um novo módulo) sem precisar mexer na estrutura dos demais módulos já existentes.

148. As informações são nome, fi liação materna, data de nascimento e as referentes à documentação da população.

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Exemplifi cando com as políticas sob a coordenação da SDTI/PMO, já estão em funcionamento os módulos periféricos que contêm informações sobre a localização do domicílio do cidadão cadastrado; sobre as características do domicílio; sobre a composição familiar do cidadão; sobre a educação do cidadão; sobre a situação no mercado de trabalho do cidadão; sobre os rendimentos e despesas individuais e fa-miliares do cidadão; sobre o padrão de consumo individual e familiar do cidadão; sobre a participação do cidadão cadastrado nos programas; sobre os benefícios monetários recebidos pelo cidadão; e sobre as “con-trapartidas” exigidas do cidadão cadastrado.

No que se refere a estes módulos periféricos, o BDCO permi-tirá, no futuro, que se recupere cada transformação ocorrida ao longo da vida do cidadão, desde o momento em que ele entrou no BDCO até o momento em que ele consegue sua emancipação. Exem-plifi cando, com o cadastramento e os sucessivos recadastramentos, será possível traçar o deslocamento do cidadão pelos diversos bair-ros da cidade a cada mudança de domicílio; verifi car as mudanças ocorridas na estrutura familiar com nascimentos, casamentos ou falecimentos; rastrear a trajetória do mesmo no mercado de trabalho osasquense etc.

E, fi nalmente, a alimentação tanto do módulo central quanto dos módulos periféricos é realizada integralmente em formato eletrô-nico. Melhor dizendo, o BDCO possibilita um cadastramento eletrô-nico dos habitantes da cidade. Através de postos fi xos (ou mesmo volantes), compostos de microcomputadores interligados localmente (apenas com a função de entrada de dados, não armazenando ne-nhum dado) e conectados a um servidor central (onde efetivamente se dá o armazenamento), é realizado o levantamento e a inserção de todas as informações acima mencionadas na descrição dos módulos central e periférico. Além de subsidiar as políticas públicas próprias do município de Osasco, o BDCO possibilita integrá-las com as polí-ticas pertencentes às esferas estaduais e federais, através de procedi-mentos tecnológicos que permitam comunicação entre diferentes bancos de dados, notadamente o Cadastro Único Federal e o cadas-tro estadual Pró-Social.

Com este desenho, o BDCO permite o processamento de in-formações com níveis de agilidade, economia, mobilidade, qualidade,

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integração e segurança necessários para o planejamento, implemen-tação e acompanhamento das políticas públicas do município.

DIMENSÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOCIOECONÔMICOSA SDTI/PMO tem uma estratégia desenvolvida a partir das neces-

sidades e potencialidades locais. Não se trata de uma fórmula pronta — apesar de alguns conceitos serem universais — mas sim de procurar a melhor forma de intervir na realidade do município. Esta tarefa seria impossível sem um conhecimento prévio dos aspectos que caracterizam as localidades e áreas de Osasco. Assim, para melhor defi nir a estratégia de política pública a ser adotada dentro do município, sentiu-se a neces-sidade de mapear as principais áreas de vulnerabilidade do município, além de conhecer o potencial econômico da região, para estruturar li-nhas de intervenção que possam viabilizar o fortalecimento dos arranjos produtivos locais e a geração de emprego e renda.

Neste sentido, a dimensão de Estudos e Pesquisas Socioeco-nômicas possui importante papel dentro da estratégia de inclusão social da PMO, uma vez que é capaz de subsidiar e orientar por meio do conhecimento científi co (através de publicações, relatórios, mapas, indicadores, avaliações etc.), intervenções públicas junto ao tecido social e econômico de Osasco.

Com relação ao mercado de trabalho, o Programa Osasco Digital já editou, com o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos, o trabalho “Dinâ-mica Econômica e do Mercado de Trabalho Formal e Informal em Osas-co”. Neste trabalho é analisada a evolução do emprego formal e informal nos últimos 20 anos, os setores de atividade mais importantes e o perfi l dos empregados da cidade. Este trabalho inicial é complementado pelo “Periódico Mensal sobre o Mercado de Trabalho Formal de Osasco”149, que todo mês acompanha a evolução do mercado de trabalho a partir dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), disponibilizados pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Estes estudos são importantes para subsidiar o trabalho do programa Osasco Inclui, de intermediação de mão-de-obra, e também o Programa de Capacita-ção Ocupacional, de qualifi cação de trabalhadores.

149. Estes trabalhos podem ser encontrados no site www.osasco.sp.gov.br , no link sobre mercado de trabalho formal.

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Outra linha de estudos teve o objetivo de subsidiar os Progra-mas Redistributivos. Desta linha surge a análise do perfi l dos benefi -ciários — o que permite a localização dos benefi ciários com perfi l desejado para a intermediação de trabalho ou as capacitações mi-nistradas pela SDTI/PMO. O Programa Osasco Digital também foi o responsável pela análise da exclusão social no município — que consta na primeira parte deste livro. Este trabalho orientou a defi ni-ção das áreas prioritárias para os novos cadastramentos dos progra-mas redistributivos.

Por fi m, a exclusão digital também foi mapeada pelo programa, com a meta de fornecer subsídios para a estratégia de implantação da terceira dimensão das ações do programa: a Inclusão Digital.

DIMENSÃO INCLUSÃO DIGITALNos anos 90, a busca por produtividade se intensifi cou e deu

início a um cenário de inovações e lançamento de novos produtos e serviços digitais, em um ciclo schumpeteriano de inovações. Neste novo contexto, o empresário inovador é caracterizado como o agente capaz de combinar as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) com novas formas de gestão — alcançando economia de tempo pro-dutivo, melhoramentos logísticos e reorganização das cadeias produ-tivas, integrando o fornecedor de insumos ao usuário fi nal.

Este contexto ganha força após os dois choques do petróleo da década de 1970 e o fi m do modelo fordista de produção baseado no consumo intensivo de energia e materiais. Este aparece como o ponto de infl exão onde as Tecnologias da Informação (TI) ou Tecno-logias da Informação e Comunicação (TIC) passam a alimentar essa trajetória. Essa infl exão foi possível devido à invenção do micropro-cessador, em 1971, e do microcomputador, em 1975. Vale lembrar que “(...) foi em 1969 que a ARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa Norte-Americano) instalou uma nova e revolucioná-ria rede eletrônica de comunicação que se desenvolveu durante os anos 70 e veio a se tornar a internet”150.

Entende-se por TI ou TIC o desenvolvimento e manutenção de softwares, os serviços relacionados à implementação e integração de

150. CASTELLS (1999: 91).

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sistemas, processamento e armazenamento de dados, suporte e ma-nutenção de aplicativos, inteligência de negócios, administração de conteúdos, serviços de rede, soluções para compras e para segurança, entre outros produtos e serviços digitais. Emerge também o Business Process Outsourcing (BPO), ou seja, Terceirização de Processos e Negó-cios, que representa a terceirização da tecnologia e engloba os serviços de apoio a clientes como telemarketing e pesquisa, serviços de back-offi ce, como o processamento de informações fi nanceiras e processa-mento de folhas de pagamento, e outros diversos, tais como recursos humanos, planejamentos fi nanceiro e contábil, marketing, design e ou-tros. Estima-se que os serviços de TI e BPO comercializados interna-cionalmente irão girar US$ 150 bilhões e gerar 3,3 milhões postos de trabalho, até 2010.

Portanto, as TIC tornam-se um segmento estratégico dentro da lógica capitalista devido à sua capacidade de viabilizar e simplifi car complexos processos produtivos e facilitar a alocação de recursos, resultando em maior efi ciência da economia. Entretanto, há a neces-sidade de elevados gastos em infra-estrutura, principalmente em tele-comunicações, como forma de viabilizar os meios de comunicação (sendo um deles a internet) cuja tarefa é de responsabilidade do setor público devido à incapacidade de uma empresa, de forma isolada, disponibilizar recursos fi nanceiros sufi cientes para tal empreitada. Sendo assim, o Estado é fundamental para o desenvolvimento e uni-versalização dos serviços de voz e internet que constituem os produtos ligados à TIC de maior impacto econômico e social.

No entanto, mesmo com a criação da infra-estrutura por parte do Estado, não há garantia de que todos os cidadãos irão se benefi ciar de tal investimento, devido à existência de segmentos excluídos do acesso digital, como microempresas e pessoas com baixa renda e desempregadas, e ao elevado custo de implantação, manutenção e aplicação das TIC. Os elevados custos relativos dizem respeito tanto aos equipamentos (hardware) quanto aos sistemas operacionais e pro-gramas (software). Estas duas barreiras concentram o conhecimento e os benefícios das tecnologias disponíveis.

Nesta emergente sociedade informacional, para não aprofun-dar a desigualdade existente, exige-se a massifi cação do uso das TIC para todo o conjunto da sociedade. Nesta tarefa o Estado é fundamen-

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tal, ao disponibilizar recursos e locais com microcomputadores, banda larga, monitores e softwares adequados para apropriar a população da TIC. Segundo Silveira,

“Caberá ao Estado dispor recursos para universalizar uma rede de tele-centros gratuitos que mantenha orientadores, instrutores e agentes co-munitários. Também deve fi car claro que o maior custo dos programas de inclusão digital está no custeio de seu cotidiano. Sem fundo público difi cilmente ocorrerá uma inclusão maciça das camadas de baixa renda na sociedade informacional, o que não implica a execução estatal dos programas. O formato mais efi caz passa pelo envolvimento da comuni-dade no processo decisório e no planejamento das unidades de inclusão, bem como no envolvimento das ONGs no gerenciamento e na organi-zação das atividades de inclusão digital”151.Além da socialização do conhecimento, sabe-se que o seg-

mento de tecnologia da informação e comunicação é um mercado incipiente que cresce a cada ano, sendo um importante nicho de mercado para as micro e pequenas empresas e para geração de ocu-pação e renda. A utilização de softwares livres, também vem crescendo a cada ano, e a formação de mão-de-obra especializada nessa ferra-menta possibilita a produção de serviços e produtos digitais comu-nitários e corporativos, resultando no desenvolvimento local.

Portanto, dada a importância da inclusão digital para o pro-cesso de emancipação dos cidadãos e dado o alto custo de equipa-mentos e softwares, impõe-se a necessidade de estratégias estatais para diminuir estas barreiras. Os telecentros, espaços onde são dis-ponibilizados microcomputadores para cursos, ofi cinas e acesso li-vre, são o caminho mais utilizado para driblar a difi culdade de acesso a computadores e seus programas. Conforme Tigre:

“O princípio dos telecentros públicos ou comunitários interligados em rede representa uma forma de compartilhamento adotada em muitos países em desenvolvimento. O sucesso destas iniciativas depende do suporte, aplicações adequadas e disponibilidade de conexões em banda larga que permitam a comunicação de dados em alta velocidade. As soluções em redes externas permitem o compartilhamento do software e de hardware, reduzindo drasticamente os custos de investimento e licenciamento”152.

151. SILVEIRA (2003: 35-6).

152. TIGRE (2005: 481).

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Uma difi culdade para o estabelecimento dos telecentros é o custo de licenciamento de softwares. Esta difi culdade abre caminho para os softwares livres, ou não proprietários, que têm custos de licenciamen-to zero e permitem a criação e desenvolvimento de novas ferramentas conforme a necessidade dos usuários — o que também permite uma formação mais abrangente, com a possibilidade da criação de novas interfaces e soluções que potencializam a geração de ocupação e ren-da. Nas palavras de Silveira, “(...) os próximos anos apontam o Brasil como um dos possíveis compradores de TI, arrastado pela modernização administrati-va dos governos e municípios e pela incorporação da telemática nas políticas sociais e educacionais. Um programa de desenvolvimento de TI, especialmente orientado à inclusão digital, educação e capacitação técnica pode ser um ponto de partida efetivo para consolidar uma indústria de hardware e software que agregue valor à economia nacional, com base em equipamentos otimizados e softwares não proprietários”153.

Frente a estes desafi os, o município de Osasco apresenta ele-vada exclusão digital. Cerca de 80% dos domicílios não possuem um microcomputador e aproximadamente 40% não possuem uma linha telefônica — podemos deduzir, assim, que a maioria dos cidadãos osasquenses não tem acesso às Tecnologias de Informação e Comu-nicação (TIC). Não se pode negar, também, que a elevada exclusão socioeconômica no município colabora para tornar inercial a exclusão digital. Sendo assim, a inclusão digital deve ser fruto de uma política pública que promova oportunidades a todos os cidadãos, com priori-dade para crianças, jovens e adultos com baixa renda, baixa escolari-dade e portadores de defi ciência.

Temos também, no município de Osasco, aproximadamente 131.614 analfabetos funcionais com 14 anos de idade ou mais154, dado que preocupa os gestores de políticas públicas nessa região. Esta situação pode ser superada através da inclusão digital, devido ao poder desta em informar e formar, ou seja, a inclusão digital pode e deve fazer parte do processo de educação, principalmente a edu-cação continuada.

153. SILVEIRA (2003: 40)

154. Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão / PMO - 2005 - a partir de Microdados do Censo do Demográfi co 2000/IBGE e Estimativa Populacional 2004/IBGE.

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A combinação de domicílios sem microcomputadores, sem acesso à internet, de analfabetos e da presença de famílias com baixa renda, eleva a exclusão social e digital. Desta mistura explosiva surge a necessidade da implantação de Centros de Inclusão Digital (CID) pela cidade, como forma de atender à população carente e com uma de-manda reprimida por tecnologia de informação e comunicação155.

Portanto, o programa de gestão e inclusão digital da SDTI/PMO, doravante Osasco Digital, se caracteriza como uma política pública de inclusão digital, que busca garantir o acesso às TIC e à cidadania, atra-vés dos CID. Esta política pública necessita de sustentabilidade fi nan-ceira e social. A primeira dessas sustentabilidades é garantida pela rubrica “Inclusão Digital” no Orçamento da SDTI/PMO que, por sua vez, entra no planejamento do Plano Plurianual (PPA) e na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) municipais. Esta sustentação tem por objetivo não somente implantar os CID, mas também, garantir a sua manuten-ção. Já a sustentabilidade social é resultado da criação de um Conselho Gestor, que conta com a participação da comunidade local. O reco-nhecimento dos Conselhos, dos CID, da sua localização e das ativida-des de formação é dado por legislação específi ca.

Sendo assim, pretende-se promover a inclusão digital e social dos moradores do município de Osasco, por meio da implantação de Centros de Inclusão Digital\Telecentros Comunitários (CID), em parce-ria com instituições públicas, privadas e da sociedade civil organizada, como forma de prover a todos os cidadãos, principalmente àqueles pertencentes às classes de baixa renda, o acesso ao conhecimento disponível pelas novas Tecnologias de Informação e Comunicação e, assim, ampliar as possibilidades de inserção ocupacional — seja no mercado de trabalho formal, seja em atividades autônomas ou como pequenos empreendedores — e de exercício da cidadania em todas as camadas da sociedade. Os CID terão a responsabilidade de:

a) Facilitar o acesso de todos os cidadãos aos conhecimentos de informática através de computadores conectados à internet e do-tados de softwares, de forma a disponibilizar para a sociedade o acesso às tecnologias para suas tarefas cotidianas, como pesquisas e traba-lhos escolares, inscrição em oportunidades de empregos, acesso a

155. Ver OLIVEIRA e SILVA (2005).

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jornais e sites de notícias, acesso a lazer e cultura disponibilizado pela Internet e acesso ao correio eletrônico para facilitar o contato com familiares, amigos, conhecidos e empresas. Para ter acesso ao uso livre, o cidadão precisa se cadastrar junto ao CID e agendar um horário para o uso do mesmo. Caso este agendamento prévio não tenha sido feito, o acesso às máquinas estará sujeito à disponibilidade existente;

b) Empreender ao conjunto dos cidadãos do município de Osasco, atividades formativas que tenham como denominador a tec-nologia da informação e comunicação. A formação se dará através da oferta de cursos de Informática Básica, tais como Editor de Texto, Planilha de Cálculo, Banco de Dados, Editor de Apresentação, Dese-nho e Internet. Já em uma segunda etapa haverá a criação de ofi cinas de reparo, construção de rede, programação e web design. Pretende-se atender desde cidadãos interessados em aprender os novos caminhos da informática até a empreendimentos fomentados pelo Programa Osasco Solidária156, da SDTI/PMO, que necessitem destas ferramentas para alavancar seus negócios;

c) Estimular a inserção no mercado de trabalho pela via das novas tecnologias através de encaminhamento de cidadãos com interesse e aptidão para o empreendedorismo para a futura Incuba-dora Tecnológica de Osasco157, de onde devem surgir empreendi-mentos, coletivos ou não, que atuem neste nicho de mercado espe-cífi co. Trata-se, com certeza, do objetivo mais ambicioso e mais su-jeito a interferências externas, fora do controle dos envolvidos no projeto. Mas representa um grande desafi o na constituição de “por-tas de saída” que permitam aos cidadãos avançar no sentido de sua emancipação econômica.

d) Integrar e articular diversas políticas públicas de âmbito mu-nicipal entre si e em diversos níveis de governo (municipal, estadual e federal) evitando a fragmentação e a baixa qualidade das ações pro-postas. Objetiva-se estabelecer uma via de mão dupla com os demais programas da SDTI/PMO - redistributivos e também de geração de ocupação e renda - e com programas de outras secretarias municipais, como a de Educação, de Cultura, de Assistência e Promoção Social, de

156. O programa Osasco Solidária é discutido no capítulo 8.

157. Ver capítulo sobre o programa Osasco Solidária.

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Indústria, Comércio e Abastecimento, de Habitação e Desenvolvimen-to Urbano, de Saúde e do Fundo Social. De acordo com a proposta, o CID torna-se um auxílio poderoso às ações de combate à exclusão social lideradas por estes órgãos, ao mesmo tempo em que busca fa-cilitar o acesso dos seus benefi ciários e da população a outros progra-mas sociais que atuem sobre os vários aspectos da exclusão que so-frem estes cidadãos, ou seja, o CID potencializa, de forma transparen-te, todas as políticas públicas municipais, estaduais e federais, garan-tindo os direitos de todos cidadãos;

e) Criar condições para que a sociedade organizada ajude na elaboração das ações de inclusão digital e se aproprie do equipamento público em questão. O mesmo deixaria de ser tratado como uma inter-venção externa na vida cotidiana da sociedade local (mesmo que seja uma intervenção externa positiva) para se tornar um equipamento pú-blico, no sentido de pertencer à sociedade e não apenas ao Estado, que está presente para ajudar os cidadãos a atingirem objetivos defi nidos coletivamente. Para o sucesso de tal objetivo, cada CID contará com um Conselho Gestor que unirá representantes das entidades sociais locais e representantes do poder público.

Como forma de otimizar os recursos econômicos e potenciali-zar as relações sociais e políticas de todos os cidadãos osasquenses, parte-se do pressuposto da universalização dos serviços digitais ofe-recidos pelos CIDs. Para ter acesso aos CIDs, é necessário o preenchi-mento de uma fi cha por parte do usuário onde constem dados pes-soais e da família, que permitam acompanhá-lo durante todo processo. Isto permitirá organizar as turmas para os cursos de informática básica e o agendamento para o uso livre. Como se trata de uma política pú-blica de inclusão digital, caso haja excesso de demanda pelas ativida-des, dar-se-á preferência aos cidadãos benefi ciários dos programas sociais da Prefeitura do Município de Osasco.

A gestão158 dos CIDs conta com uma equipe de funcionários administrativos, ligados a SDTI/PMO, que será responsável pela organi-zação e operacionalização das atividades previstas em todo o processo. Além desta gerência, haverá um Conselho Gestor, composto por repre-sentantes da sociedade civil organizada e de representantes do poder

158. Ver “Casa Brasil – Guia de Gestão e Atendimento ao Público, versão 1, Brasília, maio de 2005”.

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público municipal. A função deste Conselho é dar diretrizes para a ação, ajudar no planejamento e fi scalização das atividades executadas. As entidades não-governamentais que fazem parte do Conselho Gestor devem ser eleitas pela comunidade, conforme defi nido pelo Regimento Interno a ser criado pelo próprio Conselho.

A SDTI/PMO parte do pressuposto que o tripé setor público, setor privado e sociedade civil podem, de forma articulada, reduzir a exclusão social e digital — conseguindo superar a limitação orçamen-tária do primeiro, a difi culdade de implantar políticas sociais do segun-do e agregar a elevada percepção dos problemas locais do terceiro. Sendo assim, os projetos dos CIDs implantados pela SDTI/PMO vêm estabelecendo parcerias públicas e/ou privadas para propiciar a implan-tação e operacionalização dos CIDs na cidade, como o caso da parceria com o Banco do Brasil/Fome Zero, com a inauguração de dois CIDs, em março de 2006; com o Banco Bradesco e a Planac Informática, com a inauguração do CID Empresas dentro da Incubadora Pública de Osasco, em novembro de 2006; com a Fundação Bradesco para a implantação de um CID, em fevereiro de 2007; a aprovação dos projetos enviados ao Serviço de Processamento de Dados (Serpro) para a implantação de cinco CIDs em 2007; e para a Petrobrás/Fome Zero para dois CIDs, também em 2007; além de outros projetos elaborados desde 2005 pelo corpo técnico da SDTI/PMO e enviados para outras instituições que fomentam as ações e atividades de inclusão digital no Brasil.

Este projeto pretende implantar, no mínimo, 10 Centros de Inclusão Digital até 2008. Dada a política de inclusão digital do governo federal, cuja previsão dentro da Lei Orçamentária Anual (LOA) é de R$ 242,24 milhões159 para elevar os pontos digitais em 2006, outros pro-jetos estão sendo enviados para o Ministério das Comunicações, para a Fundação Banco do Brasil, para o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI) e Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) que são os órgãos responsáveis pelo projeto Casa Brasil160. Além do governo federal, o programa Osasco Digital tem procurado parceiros em outras esferas públicas e instituições privadas como forma de ampliar a rede de CIDs e, também, ofertar outros cursos e ofi cinas.

159. Ver revista A REDE, ano 1, nº 9, dezembro 2005.

160. A Casa Brasil é um local com telecentro, espaço multimídia, laboratório de informática, biblioteca, auditório, ofi cina de rádio e uma unidade bancária.

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Desta maneira, pode-se perceber que o desenvolvimento tec-nológico tem um papel fundamental nas sociedades ao permitir que os sonhos e as idéias se concretizem e elevem a capacidade dos cida-dãos, principalmente em setores com grande escassez e elevadas de-mandas em educação e saúde. Sendo assim, a ação estatal de promo-ver este tipo de desenvolvimento agrega valor ao trazer novas formas de pensar e fazer, que tem uma relação direta com o conhecer, pes-quisar e a divulgação do conhecimento adquirido.

Entende-se que um microcomputador conectado à internet tem o papel de socializar as informações e ao mesmo tempo de pos-sibilitar que as pessoas melhorem suas vidas através de vários serviços, em sua grande maioria gratuitos, e consigam sair de um estado próxi-mo a barbárie para fazer parte da modernidade, um estado idealizado para tudo e todos, onde um dos meios viáveis é a inclusão digital.

BIBLIOGRAFIA

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GUIA CASA BRASIL. Guia de gestão e atendimento ao público. Brasília, maio 2005. Versão 1.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Ed. Paz e Ter-ra, 1999.

OLIVEIRA, Marcos P.; SILVA, Ronnie A. P. A inclusão digital como estratégia de combate à pobreza no município de Osasco. Osas-co: Prefeitura do Município de Osasco, mar. 2005.

POCHMANN, Márcio (Org.). Outra cidade é possível: alternativas de inclusão social em São Paulo. São Paulo: Cortez, 2003.

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SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Inclusão digital, software livre e globali-zação contra-hegemônica. In: CASSINO, João. et al. (Org.). Software livre e inclusão digital. São Paulo: Conrad, 2003.

TIGRE, Paulo Bastos. Sociedade da informação, desenvolvimento e inclusão digital. In: CASTRO, Ana Célia. et al. (Org..). Brasil em desen-volvimento: economia, tecnologia e competitividade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

REVISTA A REDE, ano 1, n. 9, dez. 2005.

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Capítulo11

Programa Osasco IncluiHumberto de Alencar – Especialista em Economia Social

e Sindicalismo

Inês Mantoani – Graduada em Psicologia

Ivan Fillipini – Graduado em Economia

Paulo Gil de Souza – Graduando em Economia

Talita Bottas de Oliveira e Souza – Graduada em Economia

POLÍTICAS DE EMPREGO NOS PAÍSES CENTRAIS E NO BRASILDurante os Anos Gloriosos do Capitalismo, nos países centrais,

as políticas de emprego se inseriram no conjunto de políticas de segu-ridade social que vigoraram no período. O Sistema Público de Empre-go (SPE) desenvolvido era composto por um conjunto de ações volta-das para o mercado de trabalho, incluindo seguro-desemprego, inter-mediação de mão-de-obra e formação profi ssional.

Estas políticas, entretanto, se encaixavam em um contexto de busca pelo pleno emprego, que tinha o objetivo de garantir traba-lho e renda para os cidadãos por meio do forte crescimento da pro-dução e da procura por mão-de-obra. Neste contexto, os SPEs

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cumpriam uma “função ‘auxiliar’ à política de pleno emprego, isto é, procura-vam atuar sobre problemas localizados, momentâneos ou residuais do mercado de trabalho”161.

O seguro-desemprego tinha o objetivo de evitar que a perda do emprego levasse a uma queda brusca da renda dos trabalhado-res. Assim, mesmo desempregado, o trabalhador continuava com uma parcela de sua renda garantida pelo governo. Além do aspecto social de manutenção do poder de compra das famílias, o seguro evitava que a queda no consumo fosse muito acentuada. Com isso, um ciclo de demissões ou a quebra de uma grande empresa não era seguido por grande retração nas compras, o que desestimularia o investimento futuro — e levaria a nova queda de produto, renda e empregos.

A formação profi ssional buscava requalifi car os trabalhadores para novas tarefas/competências que surgiam em decorrência dos avanços tecnológicos da época. Com esta requalifi cação, tornava-se mais fácil inserir o cidadão no mercado de trabalho, além de suavizar o impacto da perda de importância relativa de setores tradicionais, já que os trabalhadores destes setores eram direcionados para outros que estavam em ascensão.

A intermediação de mão-de-obra aparece com uma dupla face: por um lado ajuda o trabalhador a encontrar uma nova vaga de emprego condizente com suas qualifi cações; por outro, ajuda os empresários a encontrarem trabalhadores com o perfi l adequado para sua demanda. Além destas três principais políticas, os países desenvolvidos criaram outros programas de apoio à população mais vulnerável, tais como jovens e mulheres, além de políticas de crédito ao auto-empreendimento.

Com a crise do capitalismo ocorrida em meados dos anos 70, o desemprego emerge como um desafi o a ser enfrentado em condi-ções muito mais duras. As medidas de enfrentamento à crise passam, como vimos no primeiro capítulo deste livro, pela retração do papel do Estado. A busca pelo pleno emprego é paulatinamente abandonada e a discussão sobre política de emprego muda de foco, passando a pri-vilegiar as alternativas “de mercado”.

161. MORETTO, GIMENEZ, PRONI (2003: 237).

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A fl exibilização dos custos trabalhistas (incluindo salários e encargos sociais), a possibilidade de utilizar um trabalhador em várias tarefas e a possibilidade de demissão em momentos de crise são as medidas adotadas por vários países para “melhorar” a dinâmica do mercado de trabalho. A excessiva rigidez imposta pelo sistema de proteção social desestimularia, segundo esta visão, a contratação de funcionários por parte dos empregadores. Assim, a fl exibilização apa-rece como uma solução ideal, por apostar na via do mercado.

Com relação ao núcleo do SPE criado nos Anos Gloriosos, há mudanças importantes. O fi nanciamento do seguro-desemprego tor-na-se mais complicado (exatamente no momento em que ele é mais necessário). Surge a noção de “empregabilidade”, em que o próprio trabalhador deve ser responsável por manter-se atrativo ao mercado de trabalho. Para isso, deve buscar sempre estar atualizado, se capa-citando regularmente. A formação profi ssional ganha um novo enfo-que: de proporcionar a empregabilidade aos desempregados. Por fi m, a intermediação passa a atuar em um ambiente inóspito, com excesso de desempregados e poucas vagas disponíveis para contratação.

Porém, como a confi rmar a estratégia dos Anos Gloriosos, somente em períodos de crescimento econômico o emprego volta a crescer e a falta de trabalho dá sinais de arrefecimento. O problema do desemprego é recorrente desde então, sem que os países desenvolvi-dos tenham conseguido emplacar um novo ciclo longo de pleno em-prego como o conseguido entre 1945 e 1970.

No Brasil, durante o período de grande crescimento econômico (1930-1980) não foi montado um sistema público de emprego. A inser-ção e mobilidade profi ssional dos cidadãos eram feitas exclusivamente pela via de mercado. Na ausência de um sistema de proteção ao de-sempregado, o mercado informal se desenvolveu com força, sendo a porta de entrada para o mercado de trabalho de um grande contingen-te da população. A etapa seguinte era migrar do setor informal para o formal, com acesso à desejada carteira de trabalho assinada e às garan-tias das leis trabalhistas.

O marco da implementação do sistema público de emprego no Brasil se deu com a criação do Sistema Nacional de Emprego, o Sine, em 1975. Em uma fase de expansão da economia brasileira, ainda marcada por anos seguidos de crescimento do PIB, o Sine foi criado com o objeti-

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vo de realizar a intermediação de mão-de-obra, buscando combater o desemprego friccional162. Ou seja, a base do sistema era a ação de diminuir a assimetria de informações entre as empresas que buscam mão-de-obra e os trabalhadores em situação de desemprego que procuram uma opor-tunidade de trabalho.

Somente nos anos 80, mais precisamente em 1986, é criado o programa de seguro-desemprego brasileiro. O programa é fi nancia-do pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), fundo público vin-culado às políticas de emprego que representa a grande inovação no tocante ao fi nanciamento do programa — e que garante seu sucesso até o momento.

A qualifi cação profi ssional fi cou, por muito tempo, a cargo de entidades empresariais ligadas ao Sistema S. Entre 1990 e 1995 algu-ma precária qualifi cação foi oferecida pelo Sine. Apenas em 1995, com a criação do Plano Nacional de Qualifi cação Profi ssional (Plan-for), a situação se altera. “A ênfase do programa deixou de ser restrita ao treinamento do trabalhador para o exercício de uma determinada ocupação, vol-tando-se para oferecer recursos que possibilitem-no manter-se competitivo no mercado de trabalho”163. Em outras palavras: o Planfor buscava a empre-gabilidade de seus benefi ciários.

Este sistema, montado tardiamente ao longo dos anos 80-90, entretanto, não apresentava articulação entre os diversos programas. Assim, o seguro-desemprego atuava sem ligação com a qualifi cação profi ssional, que, por sua vez, não se articulava com a intermediação de mão-de-obra. Em busca de um verdadeiro sistema integrado, ob-serva-se um signifi cativo esforço do Ministério do Trabalho e dos gestores estaduais e municipais do Sistema Público de Emprego no sentido de melhor articular as políticas de trabalho no país.

Em 2004 e 2005, houve Congressos Nacionais e Regionais do Sistema Público de Trabalho e Renda. Nestes congressos representan-tes dos trabalhadores, dos empregadores e dos gestores públicos discutiram diretrizes para a integração das políticas, principalmente garantindo um papel mais ativo dos municípios.

162. O desemprego friccional é “relacionado ao desencontro temporário entre a oferta e a demanda de trabalho. Ou seja, este desemprego refere-se ao período entre a demissão do trabalhador (voluntária ou não) de um emprego e sua admissão em outro” (BARBOSA e MORETTO, 1998: 32-3).

163. MORETTO, GIMENEZ, PRONI (2003: 257-8).

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Este esforço, porém, surge em um contexto de desestrutura-ção do mercado de trabalho164. As ações são insufi cientes para conter o processo de informalização e desassalariamento que ocorre, man-tendo grande parte dos trabalhadores à margem do mercado formal de trabalho — e do acesso às políticas públicas de proteção ao traba-lhador. Em resumo, um dos grandes desafi os para aperfeiçoamento do Sistema Público de Emprego no Brasil está na assimilação de outros públicos-alvos, além dos tradicionalmente vinculados aos Sines. Um dos grandes gargalos da política pública social no Brasil, hoje, é esta-belecer de forma coerente e estratégica a emancipação dos benefi ciá-rios dos programas de transferência de renda – Bolsa Família e ou-tros165. Essa proposta exige, como pré-condição, a constituição de canais de articulação e integração entre as políticas de transferência de renda com as demais políticas de emprego e renda, além das polí-ticas de educação e de desenvolvimento.

POLÍTICA DE EMPREGO EM OSASCOAntes de 2005, havia dois programas de intermediação de mão-

de-obra na Secretaria de Trabalho e Emprego de Osasco (que foi subs-tituída pela SDTI/PMO): o Programa de Colocação Profi ssional, que formava um banco de currículos e os oferecia às empresas interessadas; e o Programa de Colocação Profi ssional de Defi ciente Físico, que cadas-trava e encaminhava pessoas portadoras de defi ciência para vagas no mercado de trabalho. Ambos programas foram criados em 2001.

O programa de colocação no emprego continha uma distor-ção: oferecia mais currículos para agências de empregos do que para empresas contratantes, o que facilitava sua tarefa, pois exigia que houvesse apenas uma estrutura de cadastramento de trabalhadores — a captação de vagas e a intermediação eram realizadas por estas agências privadas. Esta forma de operar reproduzia as mesmas desi-gualdades de oportunidades encontradas no livre mercado, isto é, os mais excluídos, com menor escolaridade, mais tempo de desemprego etc., não conseguiam vagas, muitas vezes nem sendo encaminhados a entrevistas de emprego.

164. Como assinalado no capítulo 2 deste livro. A situação específi ca de Osasco no tocante ao emprego é vista no capítulo 3.

165. Sobre a integração entre programas redistributivos e emancipatórios, ver um relato da experiência paulistana em POCHMANN (2003; 2004).

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Mesmo assim, na cartilha de divulgação das ações municipais do governo anterior166, não há indicações sobre o número de traba-lhadores que conseguiram emprego via a intermediação municipal, o que impede uma avaliação mais precisa sobre a efi ciência destes programas.

Com a eleição de uma nova gestão, em 2004, o programa Osasco Inclui foi criado para centralizar todas as ações de intermedia-ção, ao mesmo tempo em que promove uma integração entre a inter-mediação e os programas redistributivos, capacitação profi ssional e os demais programas da SDTI/PMO.

O Programa Osasco Inclui167 tem como objetivo identifi car oportunidades de geração de trabalho e renda para parcela da popu-lação em situação de desemprego no município de Osasco, em espe-cial os benefi ciários dos programas de transferência de renda. Com esse propósito, o Programa atua na captação de vagas no mercado de trabalho assalariado, no apoio a trabalhadores autônomos, na inter-mediação de negócios e na inclusão da pessoa com defi ciência.

Três pontos fundamentais orientam as ações do programa. O primeiro diz respeito a sua atuação dentro de uma estratégia mais ampla executada pela SDTI/PMO no combate à exclusão social e eco-nômica no município de Osasco. Assim, o programa deve ser enten-dido em sua articulação e no seu papel em relação aos demais pro-gramas. Dentro da estratégia da SDTI/PMO, o Osasco Inclui tem a função de porta de saída, ou seja, busca apoiar a emancipação da-queles cidadãos atendidos principalmente por programas de transfe-rência de renda, como é o caso do Bolsa Família, bem como dos jo-vens que estão ligados ao Programa Juventude e, após sua qualifi ca-ção, buscam uma oportunidade de trabalho. Portanto, o programa atende fortemente aos cidadãos atendidos pelos programas de trans-ferência de renda.

Mas essa ação de encaminhamento de cidadãos a oportunida-des de geração de trabalho e renda apenas é possível por meio de uma atuação conjunta com a qualifi cação profi ssional e a Economia Soli-dária. O programa identifi ca as demandas do mercado de trabalho

166. PMO (2003) Guia de programas sociais. Osasco:PMO.

167. O programa foi formalizado com a aprovação da Lei nº 3.988 de 27 de dezembro de 2005.

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assalariado ou autônomo para subsidiar o programa de Capacitação Ocupacional, e também encaminha cidadãos para serem organizados em empreendimentos de caráter solidário. Cabe também destacar a ação conjunta com o Programa Osasco Solidária, no sentido de iden-tifi car e fomentar demandas para os produtos e serviços gerados pelos empreendimentos solidários.

O segundo ponto fundamental está no entendimento de que as alternativas de geração de trabalho e renda não estão restritas ao mercado de trabalho assalariado, mas que sejam levados em conta o trabalho por conta própria e a Economia Solidária. Isso não signifi ca pactuar com a crença do fi m do trabalho assalariado, mas compreen-der a importância de absorver outras formas de geração de renda e relações de trabalho. E não apenas como forma alternativa para aque-les que não conseguem o ingresso no trabalho assalariado, mas tam-bém visando apoiar formas de relações de trabalho não subordinadas, como é o caso da Economia Solidária.

O último ponto que fundamenta o programa está na concep-ção de que toda a ação de inclusão social é estritamente relacionada com o desenvolvimento econômico. Mesmo ciente que os instrumen-tos de política econômica não estão no âmbito do município, a ins-tância local, além de acompanhar as tendências da economia regio-nal, também pode fomentar ações de desenvolvimento junto ao empresariado, buscando projetos que integrem a política de trabalho e proteção social.

Além dos benefi ciários de programas redistributivos, os demais trabalhadores interessados em conseguir uma vaga podem se cadas-trar na própria SDTI/PMO, por meio do preenchimento de uma fi cha com informações básicas sobre suas habilidades e competências. As vagas são captadas junto às empresas por três vias distintas. Um grupo de “captadores de vagas” vai às ruas, com um roteiro estabelecido a partir de dados da Rais, e divulga nas empresas e comércio local o programa, enfatizando a facilidade de recrutamento de trabalhadores com o perfi l adequado para suas demandas. A segunda via é um tra-balho de contato telefônico com empresas do município, onde o mesmo oferecimento é realizado. Por fi m, quando se trata de empresas de maior porte, o setor de Recursos Humanos do programa entra em contato direto com o setor de Recursos Humanos da empresa. O

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grande atrativo é a possibilidade de o empresário receber para entre-vistas apenas candidatos que se enquadrem no perfi l desejado.

Para se chegar aos benefi ciários encaminhados para entrevis-tas, o Osasco Inclui realiza um processo seletivo no qual os candidatos que atendam às exigências de perfi l participam de uma dinâmica que visa destacar os que tenham maior adequação ao tipo de tarefas que serão exigidas — algumas tarefas precisam de maior capacidade de concentração, para outras é desejado um perfi l mais pró-ativo, entre outras possibilidades.

A SDTI/PMO organizou as estruturas de intermediação de mão-de-obra já existentes de forma a garantir maior integração e mais efi -ciên cia ao trabalho delas. No município de Osasco já existiam, em 2005, duas estruturas de intermediação de trabalho: um posto de atendimento do Sine, sob administração da Força Sindical, gerido pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, com capacidade para cerca de 500 atendimentos/dia; e um Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT), sob cuidados da Secretaria Estadual de Trabalho, com capaci-dade para atender a 100 trabalhadores por dia. Em 2006, ambas as estruturas passaram a ser de responsabilidade da Prefeitura Municipal de Osasco, sob as regras do Convênio Único assinado entre a Prefei-tura e o Ministério do Trabalho e Emprego168.

Este convênio é o resultado de um longo processo de estrutu-ração da política nacional de trabalho, empreendido por gestores de todo o país. A resolução 466 do Codefat, de 21 de dezembro de 2005, deliberou sobre as modifi cações do Sistema Público de Emprego, Tra-balho e Renda, visando a integração do sistema. Em relação aos mu-nicípios, as capitais e municípios com mais de 300 mil habitantes tor-naram-se habilitados a realizar o Convênio Único com o Ministério do Trabalho a fi m de operar de forma integrada as ações de intermediação de mão-de-obra, qualifi cação profi ssional, orientação trabalhista, se-guro desemprego e ações complementares.

Na busca pela integração do Sistema Público de Emprego, a SDTI/PMO participou ativamente dos congressos regionais e nacionais para reformulação do Sistema, auxiliando na construção de um modelo de participação dos municípios com o objetivo de promover a integração

168. VASCONCELOS e RIBEIRO, 2006

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das vertentes da política de trabalho no âmbito do Município. Nestes congressos, a SDTI/PMO participou da relatoria da reformulação do Sistema Público de Emprego, agora denominado Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda; além de ter papel relevante na reativação do Fórum +300, um espaço de construção de propostas e conceitos para execução da política de trabalho por parte de capitais e municípios com mais de 300 mil habitantes. Portanto, buscou-se a participação em espaços nacionais de articulação de uma proposta não apenas de aces-so dos municípios aos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador, mas também na defi nição do município como local de execução de ações. No município é maior a possibilidade de integração das políticas, rompendo as sobreposições hoje existentes.

No ano 2005, a intermediação de mão-de-obra realizada pela SDTI/PMO — ainda sem controlar as estruturas de intermedia-ção de mão-de-obra existentes no nível local, apresentou os seguin-tes resultados:

Cidadãos atendidos: 20.000; Cidadãos encaminhados a entrevistas com potenciais empre-

gadores: 3.600; Cidadãos contratados: 730.

Em maio de 2006, foi fi rmado o Convênio Único entre Osasco e o MTE para a operacionalização da estrutura de intermediação no município. A proposta de integração das políticas de trabalho em um mesmo espaço procura inovar em relação à tradicional política de intermediação de mão-de-obra, desenvolvida no país desde 1975.

O Centro Público Integrado de Emprego, Trabalho e Renda – CPETR, gerenciado pela SDTI/PMO, deve contemplar as seguintes ações:

Atendimento ao trabalhador; Estrutura de suporte à intermediação de mão-de-obra; Central de serviços autônomos; Geração de trabalho e renda; Programas para a juventude; Inclusão de pessoas com defi ciência; Programas de transferência de renda e qualifi cação profi ssio-

nal para adultos em situação de desemprego de longa duração; Qualifi cação profi ssional;

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Plantão Social; Microcrédito.

Como se pode perceber, estas atividades extrapolam as com-petências e objetivos do Osasco Inclui. O CPETR denominado “Portal do Trabalhador” tende a se fi rmar, então, como o lócus privilegiado de atendimento aos cidadãos por parte dos diversos programas da SDTI. É, portanto, um espaço onde a integração dos programas, diversas vezes apregoada nos textos ofi ciais, efetivamente se concretizará.

Mas a tarefa de estruturação deste novo espaço tem se mos-trado árdua, pois como dizem Vasconcelos e Ribeiro, “o projeto inova na tentativa de construção das ‘portas de saída’ para benefi ciários dos programas públicos de transferência de renda, além de ser o primeiro convênio assinado dentro das novas diretrizes nacionais [estabelecidas pelas Resoluções do II Congresso Nacional do Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda e as últimas resoluções do Codefat a respeito do tema]”169. Por conta destes desafi os, os fl uxos de tarefas necessários ainda estão sendo elaborados, inclusive com todas as articulações necessárias para seu sucesso.

Mesmo sendo um período de transição, 2006 apresenta resul-tados melhores do que o observado no ano anterior, conforme vemos a seguir:

Cidadãos atendidos: 60.579, o que representa um crescimen-to de mais de 200% em relação ao ano anterior, contando os dois Portais de Atendimento existentes — Portal de Presidente Altino e Portal do Centro;

Cidadãos encaminhados a entrevistas com potenciais empre-gadores: 54.996;

Cidadãos contratados: 4.980, o que representa um aumento de 582% em relação a 2005. Este é, certamente, um ótimo indicador, na medida que refl ete um aumento considerável de alcance de objeti-vos do programa.

Outras duas vertentes importantes do programa devem ser mencionadas, com um destaque a parte. A primeira delas é a inclusão da pessoa com defi ciência: segundo o último Censo do IBGE, no mu-nicípio de Osasco existem 66.791 habitantes com defi ciência, fato que

169. VASCONCELOS e RIBEIRO (2006: 01).

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exige especial atenção à plena inclusão. Este processo parte do enten-dimento que são múltiplos os fatores que impedem ou difi cultam o acesso destas pessoas ao mercado de trabalho. Portanto, não é pos-sível olhar a temática do trabalho de forma isolada. De nada adianta identifi car um posto de trabalho para uma pessoa com defi ciência se essa não tem meios para sua locomoção até o local de trabalho; ou mesmo de forma ampla, buscar o aumento de postos de trabalho se esta busca não for acompanhada por uma política de universalização do acesso à educação, a cultura, ao esporte, e todas as formas de comunicação e expressão disponíveis na sociedade. Torna-se funda-mental que a política de trabalho voltada a esse importante segmento esteja articulada com outras políticas de inclusão.

Assim, a Prefeitura de Osasco e a sociedade civil organizada vêm implementando um conjunto de ações e projetos que envolvem várias secretarias de governo e constituem uma proposta de política pública para inclusão deste segmento. Nesse sentido, o primeiro pas-so para tornar Osasco uma cidade com forte tradição de respeito à diferença e na equiparação de direitos entre todos é a realização de um diagnóstico da situação atual: um levantamento que identifi que os entraves à pessoa com defi ciência no transporte público; os obs-táculos físicos em nossas ruas; o estado da acessibilidade nos equi-pamentos públicos de forma geral; quantas crianças com defi ciência estão nas nossas escolas; as condições de acesso aos bens culturais e as atividades esportivas, e de lazer e recreação; o número de pes-soas ocupantes de vagas de trabalho por meio da chamada lei de cotas; o potencial de absorção do mercado de trabalho local; o perfi l ocupacional e a condição socioeconômica das pessoas com defi ciên-cia e suas famílias. Assim o cadastramento das pessoas com defi -ciência e de suas famílias é fundamental para implementação de in-clusão social e econômica.

O cadastramento e o diagnóstico da situação atual é o primei-ro passo de um projeto mais amplo, que contempla a posterior cons-trução de um guia de serviços gratuitos à população, de um centro de referência para pessoa com defi ciência onde estarão disponíveis todas as informações sobre os serviços prestados pela municipalidade, e também o fomento à participação das pessoas com defi ciência e suas famílias na vida pública.

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Entre janeiro de 2005 e setembro de 2006, o Programa Osasco Inclui inseriu 150 pessoas com defi ciência no mercado de trabalho. Em parceria com o Espaço da Cidadania, vinculado ao Sindicato dos Me-talúrgicos de Osasco, realizou o programa de Sensibilização e Respon-sabilidade Social, ministrando palestras e seminários de conscientiza-ção da importância do tema para gestores públicos, sindicais, e em-presários e responsáveis pela área de recursos humanos.

A SDTI tem buscado ampliar o atendimento a esta parcela da população, além da operacionalização da intermediação, prestando orientação às empresas quanto à documentação e o cumprimento da legislação referente à contratação de pessoas com defi ciência exigida pela Delegacia Regional do Trabalho e às especifi cidades dos postos de trabalhos a ser disponibilizados aos defi cientes. Para exemplifi car-mos, o Osasco Inclui já recebeu demandas de grandes empresas da região, tais como Maxion, Alston e Toyota.

A segunda vertente que se confi gura como determinante para o sucesso do Osasco Inclui é a questão do desenvolvimento local. O desenvolvimento econômico com expansão do produto e da renda é uma premissa para o aumento de oportunidades de trabalho e geração de renda à população. Tal desenvolvimento depende do aumento da demanda agregada, que apenas é possível por meio das políticas monetária, fi scal e cambial e por meio de políticas comple-mentares, tais como a industrial e agrícola. Os instrumentos para o manejo de tais políticas de cunho macroeconômico são prerrogativas do governo federal.

Por outro lado, os problemas relacionados à pobreza e ao de-semprego atingem diretamente os governos municipais, pois é neles que a população busca as soluções aos seus problemas. Também cabe à administração municipal relacionar-se diretamente com os agentes econômicos locais. Assim, mesmo sem os mecanismos de alavanca-gem do desenvolvimento macroeconômico, cabe ao município cons-truir instrumentos que possibilitem a geração de trabalho e renda para sua população, buscando identifi car oportunidades de trabalho para parcela desempregada da população, estimular a expansão das ativi-dades das micro e pequenas empresas da região, identifi car fontes de fi nanciamento de projetos que agreguem tecnologia e geração de tra-balho na iniciativa privada, e atuar sobre o mercado de trabalho infor-

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mal visando combater a precariedade das ocupações. Nesse contex-to e com essa concepção, o programa Osasco Inclui atua de forma conjunta com o Programa de Economia Solidária no sentido de iden-tifi car oportunidades de negócios para os empreendimentos de ca-ráter coletivo.

Outro ponto importante para a intermediação de negócios é o desenvolvimento de projetos junto à iniciativa privada que contem-plem a inclusão social e econômica. Nesse aspecto, em conjunto com o Programa de Capacitação Ocupacional, foi desenvolvido o Plano Setorial de Qualifi cação (Planseq) do setor Metalúrgico de Osasco e Araçariguama. O projeto aprovado pelo Ministério do Trabalho e Em-prego, no fi nal do ano de 2005, benefi ciará 744 trabalhadores e traba-lhadoras da região. O projeto reúne órgãos públicos, sindicatos e empresas da região na perspectiva da qualifi cação profi ssional com base em vagas já demandadas pelas empresas do setor.

Em síntese, o enfrentamento da questão do desemprego por parte do município apenas é possível com uma política pública que integre as ações de proteção social e as políticas de trabalho e desen-volvimento econômico.

BIBLIOGRAFIA

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Atlas da Exclusão Social de Osasco - Alternativas de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão

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