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Atividade prática Métodos de separação: destilação fracionada Parte 5 9º ano do Ensino Fundamental / 1º ano do Ensino Médio Objetivo Vivenciar os principais métodos de separação de misturas, de modo a compreender os seus princípios e técnicas, os tipos de misturas a que cada método é indicado, bem como as limitações de cada um. Introdução Os cuidados com a destilação fracionada. Sabe-se que a “destilação simples” se destina a separar misturas homogêneas do tipo S-L, enquanto a “destilação fracionada” é para misturas L-L. Mas, não são apenas essas as diferenças entre os dois métodos. Na destilação simples, os componentes possuem pontos de ebulição bastante distantes, dispensando o uso de termômetros; e o laboratorista não precisa fazer nenhum tipo de controle de temperatura. Ele sabe que, para uma mistura de um sólido dissolvido em um líquido, dificilmente há o risco de o sólido passar para o estado gasoso junto com o líquido, voltando a se misturarem. Para uma mistura de água e sal de cozinha, por exemplo, basta deixar a mistura em ebulição: com certeza, a água é vaporizada em torno de 100ºC, sofre resfriamento no condensador, e cai no frasco final no estado líquido, sem vestígios do sólido. O sal de cozinha, por sua vez, cristaliza no frasco que sofreu aquecimento devido à ausência do solvente. Mas, ao contrário, quando a mistura é do tipo L-L, o risco de acontecer vaporização simultânea dos componentes é bastante grande. Isso porque os pontos de ebulição podem ser bastante próximos, com diferenças apenas de algumas dezenas de graus, ou até menos. Quanto menor a distância entre os pontos de ebulição entre os líquidos misturados, menor será a eficiência do método. Frequentemente, os procedimentos precisam ser repetidos várias vezes, até que o percentual de um dos componentes possa se elevar até o nível desejado. Para isso, é indispensável um controle rigoroso da temperatura dos gases produzidos, para garantir que a temperatura permaneça próxima do ponto de ebulição do líquido mais volátil e, ao mesmo tempo, o mais distante possível do ponto de ebulição do líquido menos volátil, diminuindo as chances de vaporização deste último. Mas, esse controle não é possível sem um termômetro de confiança, instalado corretamente na montagem do sistema de destilação. Ainda assim, o termômetro não é a única peça fundamental. A instalação de uma “coluna de fracionamento” é, muitas vezes, indispensável. Essa coluna é constituída geralmente de pequenas bolinhas de vidro porosas, chamadas “pérolas de vidro”, que funcionam como um obstáculo a mais para as moléculas de vapor produzidas.

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Atividade prática – Métodos de separação: destilação fracionada

Parte 5

9º ano do Ensino Fundamental / 1º ano do Ensino Médio

Objetivo Vivenciar os principais métodos de separação de misturas, de modo a compreender os seus princípios e técnicas, os tipos de misturas a que cada método é indicado, bem como as limitações de cada um.

Introdução – Os cuidados com a destilação fracionada. Sabe-se que a “destilação simples” se destina a separar misturas homogêneas do tipo S-L, enquanto a “destilação fracionada” é para misturas L-L. Mas, não são apenas essas as diferenças entre os dois métodos. Na destilação simples, os componentes possuem pontos de ebulição bastante distantes, dispensando o uso de termômetros; e o laboratorista não precisa fazer nenhum tipo de controle de temperatura. Ele sabe que, para uma mistura de um sólido dissolvido em um líquido, dificilmente há o risco de o sólido passar para o estado gasoso junto com o líquido, voltando a se misturarem. Para uma mistura de água e sal de cozinha, por exemplo, basta deixar a mistura em ebulição: com certeza, a água é vaporizada em torno de 100ºC, sofre resfriamento no condensador, e cai no frasco final no estado líquido, sem vestígios do sólido. O sal de cozinha, por sua vez, cristaliza no frasco que sofreu aquecimento devido à ausência do solvente. Mas, ao contrário, quando a mistura é do tipo L-L, o risco de acontecer vaporização simultânea dos componentes é bastante grande. Isso porque os pontos de ebulição podem ser bastante próximos, com diferenças apenas de algumas dezenas de graus, ou até menos. Quanto menor a distância entre os pontos de ebulição entre os líquidos misturados, menor será a eficiência do método. Frequentemente, os procedimentos precisam ser repetidos várias vezes, até que o percentual de um dos componentes possa se elevar até o nível desejado. Para isso, é indispensável um controle rigoroso da temperatura dos gases produzidos, para garantir que a temperatura permaneça próxima do ponto de ebulição do líquido mais volátil e, ao mesmo tempo, o mais distante possível do ponto de ebulição do líquido menos volátil, diminuindo as chances de vaporização deste último. Mas, esse controle não é possível sem um termômetro de confiança, instalado corretamente na montagem do sistema de destilação. Ainda assim, o termômetro não é a única peça fundamental. A instalação de uma “coluna de fracionamento” é, muitas vezes, indispensável. Essa coluna é constituída geralmente de pequenas bolinhas de vidro porosas, chamadas “pérolas de vidro”, que funcionam como um obstáculo a mais para as moléculas de vapor produzidas.

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A coluna de fracionamento funciona como um obstáculo, diminuindo a chegada de vapores indesejáveis ao condensador, promovendo a condensação prévia dos vapores e retorno dessas substâncias ao balão de destilação (refluxo). Disponível (acesso: 19.09.2014): http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vigreux_column.jpg http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fractional_distillation_lab_apparatus.png

Quando o líquido é aquecido, as moléculas dos dois líquidos recebem energia, podendo passar para o estado gasoso, mesmo as do líquido menos volátil. É como acontece com a água, que pode ser vaporizada até na temperatura ambiente (evaporação). No entanto, quando entram na coluna de fracionamento, as moléculas vão perdendo energia, dando “voltas” e vão se chocando, tendendo a passar novamente para o estado líquido, antes mesmo de chegarem ao condensador.

Observe na ilustração que, em algumas montagens, o caminho que as moléculas de vapor precisam fazer até o condensador é longo,

principalmente considerando as “voltas” que precisam dar dentro da coluna de fracionamento.

Disponível (acesso: 11.11.2014):

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Distillatore.gif

O caso água-álcool Industrialmente, a destilação fracionada é importante pois é usada na fabricação de bebidas destiladas (a cachaça, por exemplo) e também na fabricação do álcool etílico (etanol, álcool comum de uso doméstico). No caso da separação da mistura água (100ºC) e acetona (56ºC) o método é mais eficiente, devido à grande diferença de pontos de ebulição dos dois líquidos, em torno de 44ºC. No caso da mistura de água com etanol (78,5ºC), essa diferença é bem menor, em torno de 22ºC; sendo, então, mais difícil obter álcool com maior grau de pureza, sendo necessárias redestilações do produto obtido. E, mesmo assim, não se obtém o etanol totalmente puro.

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O caso etanol-água é bastante específico, estando na categoria das misturas azeotrópicas. Existem misturas que não podem ser separadas por processos de destilação, uma vez que a mistura apresenta um ponto de ebulição constante, que é menor que o ponto de ebulição de cada um dos componentes da mistura. Essas misturas são chamadas de misturas azeotrópicas ou simplesmente azeótropos. Um exemplo clássico é a mistura contendo 95,6% de etanol e 4,4% de água. Essa mistura é destilada como se fosse uma substância pura, a 78,2oC, temperatura inferior ao ponto de ebulição do álcool etílico puro (78,5oC) e da água pura (100oC). Esse fato torna difícil a obtenção de álcool anidro (isento de água). Alambique para destilação de conhaque. A fabricação de bebidas não objetiva a obtenção de etanol puro. Disponível (acesso: 11.11.2014): http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Brennerei.jpg

Esquema de alambique para destilação de bebidas como cachaça, vodka, rum, uísque, conhaque,

tequila etc. Disponível (acesso: 11.11.2014):

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Alembic_for_distillation.png

Para a retirada dos 4,4% restantes de água, são necessários outros processos complementares. Pode-se, por exemplo, adicionar cal virgem (oxido de cálcio) à mistura azeotrópica. Nesse caso, a água reage com a cal, formando hidróxido de cálcio sólido, que pode ser retirado por filtração. Outra forma é adicionar benzeno (C6H6), que forma com a água um azeótropo com ponto de ebulição igual a 69,4oC, inferior portanto ao ponto de ebulição do azeótropo álcool-água. Assim, ao se destilar a mistura, destila-se em primeiro lugar o azeótropo benzeno-água. O álcool anidro é destilado em seguida.

Experimento: Separação de uma mistura do tipo líquido-líquido homogênea Material (por turma*) A) Solução aquosa de propanona (C3H6O) ou “acetona” comum, disponível em farmácias. B) Água destilada ou de torneira. C) Manta elétrica para aquecimento**. D) Balão de destilação com duas bocas (uma para o termômetro). E) Condensador de cano reto ou de espiral. F) Erlenmeyer de 250mL. G) Duas mangueiras finas de borracha tipo “garrote” para circulação de água de torneira. H) Pia com torneira e ralo para circulação de água, próxima da montagem. I) Graxa de silicone ou vaselina. J) Dois ou três suportes universais.

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K) Garras para montagem com suporte universal. L) “Pérolas” de vidro. M) Coluna de fracionamento. N) Termômetro de laboratório. O) Rolha com um furo de diâmetro justo para encaixe do termômetro. *Obs.: Desaconselhamos a montagem por grupo de alunos, uma vez que a acetona e combustível será aquecida. Mesmo misturada em água, há certo risco de acidentes com a acetona aquecida ou seus vapores, sendo necessários controle e intervenção constantes de pessoa habilitada. Os riscos são mínimos, se as orientações forem seguidas com rigor. **Obs.: Para essa prática, desaconselhamos o uso o bico de Bunsen. A manta elétrica permite regular a intensidade do calor, permitindo aquecimentos leves e diminuindo os riscos de acidentes.

Procedimento – Preparação O professor pode pedir aos alunos que leiam em voz alta, um aluno por vez, cada item do procedimento. Enquanto isso, o professor vai executando a montagem e fazendo os comentários apropriados.

1. Monte o balão de destilação de forma que fique dentro da manta elétrica desligada. Passe um pouco de graxa de silicone no vidro esmerilhado do balão.

2. Insira o termômetro na rolha furada e coloque-a tampando uma das saídas do balão. A ponta do termômetro deve ficar “alta”, acima do líquido para medir a temperatura do vapor.

3. Monte a coluna de fracionamento em um dos suportes universais, de forma que ela fique na posição vertical logo acima da outra boca do balão, pronta para ser encaixada nele.

4. Prenda o condensador no outro suporte universal com o auxilio de garras, de forma a dar altura para que ele possa ser encaixado no alto da coluna de fracionamento. O condensador deverá ficar quase na horizontal, mas com a parte a ser conectada à coluna de fracionamento um pouco mais elevada.

Balão de três saídas (uma tampada) adaptado em manta elétrica. A saída da direita está com uma rolha preta furada com termômetro (direita) e a saída do centro tem uma coluna de fracionamento curta inserida. As mangueiras do condensador ainda não foram instaladas. Disponível (acesso: 11.11.2014):

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Complete_distillation_set_up.jpg

5. Conecte uma ponta da mangueira de borracha na torneira da pia e a outra ponta na entrada inferior do condensador. Conecte uma ponta da outra mangueira de borracha na saída superior do condensador e coloque a outra ponta próxima ao ralo da pia.

6. Coloque o erlenmeyer abaixo da saída do condensador, onde será recolhida a água destilada. Talvez seja necessário colocá-lo fixo em um terceiro suporte universal, para ajustá-lo à altura do condensador.

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Procedimento – Separação 7. A mistura a ser separada pelo professor deve ser constituída por 900mL de água e 100mL de acetona comercial de farmácia. Essa dissolução produz uma solução aquosa de cerca de 6% de propanona (C3H6O).

Obs.: Normalmente, as acetonas para remover esmaltes de unha contêm cerca de 60% de propanona e o restante pode conter álcool comum, vitaminas, perfumes, óleos de mamona, de girassol e vários outros componentes em menor quantidade. Algumas são constituídas de propanona pura.

8. Coloque a mistura no balão de destilação e adicione também algumas “pérolas” de vidro.

Obs.: As “pérolas” têm a função de permitirem uma ebulição mais constante, sem pequenos “estouros”. Quando a água forma “tensão superficial” (uma película de moléculas de água muito atraídas na superfície) a ebulição pode acontecer de modo brusco, com pequenos estouros.

9. Faça a conexão do balão com a coluna de fracionamento e desta com o condensador, conferindo se estão bem encaixados, sem possibilidade de vazamento de vapores.

10. Abra a torneira com cuidado, dosando a quantidade de água. A água de resfriamento deve encher o tubo externo do condensador e sair pela outra mangueira até o ralo da pia, circulando constantemente pelo condensador.

11. Ligue o aquecimento na potência mínima e acompanhe a evolução da temperatura. A temperatura não deve passar de 60ºC. Logo após obter as primeiras gotas de destilado, desligar o aquecimento.

Observações e questões

1) Na sua opinião, a mistura entrou em ebulição? Houve produção de bolhas? Descreva.

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2) Quanto tempo levou até que a mistura chegasse a 56ºC? Quanto tempo levou até que as primeiras gotas de acetona destilada pingassem no erlenmeyer?

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3) Houve sensação do cheiro característico da acetona no ambiente? Cheirando o líquido destilado com cuidado e à distância de segurança, há sensação de cheiro característico da acetona? Comente.

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4) Por que a propanona é solúvel em água? Desenhe as estruturas de uma molécula de propanona e uma de água, e faça uma linha pontilhada representando as forças intermoleculares presentes, ligando as partes corretas de cada molécula.