atitude preventiva do enfermeiro na...
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ATUALIZA ASSOCIAÇÃO CULTURAL
PÓS - GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ENFERMAGEM DO TRABALHO
FERNANDA MARIA GALVÃO DE SOUZA SANTOS
ATITUDE PREVENTIVA DO ENFERMEIRO NA SISTEMATIZAÇÃO
DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE OCUPACIONAL
SALVADOR
2011
FERNANDA MARIA GALVÃO DE SOUZA SANTOS
ATITUDE PREVENTIVA DO ENFERMEIRO NA SISTEMATIZAÇÃO
DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE OCUPACIONAL
Monografia apresentada à Atualiza
Associação Cultural como requisito
parcial para a obtenção do título de Especialista em Enfermagem do
Trabalho, sob a orientação do
professor Dr. Fernando Reis do Espírito Santo.
SALVADOR
2011
FERNANDA MARIA GALVÃO DE SOUZA SANTOS
ATITUDE PREVENTIVA DO ENFERMEIRO NA SISTEMATIZAÇÃO
DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE OCUPACIONAL
Monografia para a obtenção do grau de Pós - Graduado em Enfermagem do Trabalho.
Salvador, 09 de Maio de 2011.
EXAMINADOR
Nome: Fernando Reis do Espírito Santo
Titulação: Doutor em educação pela PUC/ São Paulo. Mestre em educação pela Universidade
Federal da Bahia. Especialização em educação pela FAEBa. Graduado em Educação física
pela UCSAL.
PARECER FINAL
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AGRADECIMENTOS
Aos docentes da Atualiza Associação Cultural, pelos conhecimentos que me ajudaram a
construir nas diversas disciplinas cursadas.
Em especial, ao Professor Dr. Fernando Reis do Espírito Santo, por sua paciência, incentivo e
apoio, durante os meses que trabalhamos juntos em todo o processo de elaboração desta
monografia.
A todos, os meus sinceros agradecimentos!
RESUMO
A presente pesquisa trata da sistematização da assistência de enfermagem em saúde
ocupacional. Define que a sistematização da assistência de enfermagem, como atividade
exclusiva do enfermeiro, é uma metodologia científica que se caracteriza por atos e operações
de natureza predominantemente preventiva, no sentido de evitar danos à saúde e à vida dos
trabalhadores. Aborda o processo de enfermagem como método utilizado para planejar,
organizar, coordenar, supervisionar e registrar a assistência de enfermagem. Insere-se na
discussão desse estudo, a descrição das Teorias de Enfermagem que oferecem estrutura e
organização do conhecimento e servem de subsídio para promover o planejamento da
assistência coordenada, holística e racional, direcionada por metas e resultados. Há uma
ênfase na descrição das etapas do processo de enfermagem e no procedimento para aplicação
desse processo a grupo de trabalhadores. Este estudo tem como objetivo identificar a
importância da implementação do processo de enfermagem na prevenção de doenças e
acidentes ocupacionais e promoção da saúde do trabalhador. Trata-se de uma pesquisa
bibliográfica de caráter qualitativo. Os resultados dessa pesquisa nos mostram que o processo
de enfermagem, por ser um método holístico, pode ser aplicado individualmente ou a grupo
de trabalhadores, e é uma forma eficaz de promover a saúde e prevenir acidentes e doenças
ocupacionais.
Palavras chave: Assistência; Sistematização; Teorias; Processo de enfermagem.
ABSTRACT
This research deals with the systematization of nursing care in occupational health. Defines
that the systematization of nursing care, as an exclusive activity of the nurse, is a scientific
methodology that is characterized by acts or transactions which are largely preventive, to
avoid damage to life and health of workers. Covers the nursing process as the method used to
plan, organize, coordinate, supervise and record nursing care. Falls under the discussion of
this study, the description of Nursing Theories that provide structure and organization of
knowledge and serve as a subsidy to promote coordinated care planning, rational and holistic,
guided by goals and results. There is an emphasis on describing the steps of the nursing
process and procedure for application of this process the group of workers. This study aims to
identify the importance of implementing the nurse process in the prevention of occupational
accidents and diseases and health promotion worker. This is a qualitative literature. These
survey results show us that the nursing process, as a holistic approach, can be applied
individually or group of employees, and are an effective way to promote health and prevent
accidents and occupational diseases.
Keywords: Health; Systematization; Theories; Nursing process.
SUMÁRIO
1. Introdução_________________________________________________________ 7
2. Revisão da literatura_________________________________________________ 11
2.1 Papel do enfermeiro em saúde ocupacional____________________________ 11
2.2 Sistematização da assistência de enfermagem em saúde ocupacional_______ 14
2.3 Teorias de enfermagem e suas implicações para a saúde do trabalhador____ 16
2.3.1 Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Horta_______________ 17
2.3.2Teoria do Autocuidado de Orem________________________________ 18
2.3.3Teoria Holística de Levine_____________________________________ 18
2.3.4Trabalho de Florence Nightingale________________________________ 19
2.3.5 Modelo de adaptação de Roy____________________________________ 19
2.4 Processo de enfermagem em saúde ocupacional_________________________ 20
2.4.1 Histórico de enfermagem_______________________________________ 21
2.4.2 Diagnóstico de enfermagem____________________________________ 24
2.4.3 Intervenção de enfermagem_____________________________________ 26
2.4.4 Evolução de enfermagem________________________________________ 28
2.5 Aplicação do processo de enfermagem a grupo de trabalhadores____________ 29
Considerações Finais___________________________________________________ 31
Referências______________________________________________________________32
1. INTRODUÇÃO
Apresentação do objeto de estudo
A Enfermagem do Trabalho é um ramo da Enfermagem em Saúde Pública que presta serviços
a trabalhadores nas diversas organizações, com o objetivo de interferir no processo trabalho-
saúde-adoecimento no sentido de promover, proteger e recuperar a saúde do trabalhador, por
meio de conhecimentos específicos. Segundo Lucas (2004, p. 17) a enfermagem do trabalho é
concebida como “a ciência e prática especializada que providencia e presta serviços de saúde
a trabalhadores e populações ativas”.
A enfermagem do trabalho teve origem na Inglaterra, em 1828, a partir da implementação dos
serviços de saúde, mais especificamente com a contratação de um médico que,
periodicamente visitava os locais de trabalho e apresentava propostas de medidas preventivas
quando enfrentava ameaças à saúde dos trabalhadores (MORAES, 2008). No Brasil, em 1890,
foi criada a primeira escola de enfermagem, no Hospício de Pedro II, no Rio de Janeiro.
Apenas em 1931 foi regulamentado o exercício de enfermagem no Brasil, segundo Carvalho
(2001).
De acordo com Nakatani (2002), na evolução da enfermagem no Brasil observou-se a
utilização de diversas formas de organizar o cuidado e a assistência prestada ao cliente, dentre
as quais se encontra o processo de enfermagem, considerado um instrumento de trabalho
fundamental para o enfermeiro no desempenho de suas atividades profissionais. O processo
de enfermagem consiste na aplicação dos fundamentos teóricos, de forma planejada e
personalizada com o objetivo de garantir o atendimento contínuo e de qualidade ao paciente.
Em saúde ocupacional, o processo de enfermagem compreende o conjunto de ações
sistematizadas, organizadas com intenções específicas, a fim de garantir ao trabalhador um
atendimento global, dinâmico, adequado às suas necessidades biopsicossociais e espirituais.
O enfermeiro do trabalho ou enfermeiro que atua em saúde ocupacional é o profissional que
planeja, organiza, dirige, coordena, controla e avalia toda a assistência de enfermagem,
visando à promoção da saúde dos trabalhadores e a manutenção de um ambiente seguro e
saudável. Esse profissional, segundo Leavell e Clark (1976), deve nortear a sua prática através
de ações nos níveis: primário, secundário e terciário de prevenção. A atitude do enfermeiro no
nível de prevenção primária tem como base fundamental a promoção, proteção e prevenção
específica, principalmente por meio da educação. No nível secundário o enfermeiro tem a
possibilidade de fazer o diagnóstico precoce, prestar o pronto atendimento e limitar danos. Já
no nível terciário a atitude profissional pode ser caracterizada pela assistência aos portadores
de sequelas produzidas pelas condições de trabalho. É importante ressaltar que nesse nível de
prevenção há uma preocupação com a recuperação, a reabilitação e a readaptação do
trabalhador.
Considerando esse contexto, o objeto de estudo da presente pesquisa consubstancia-se no
papel preventivo do enfermeiro através da sistematização da assistência de enfermagem em
saúde ocupacional. Essa é uma temática que continua despertando o interesse de muitos dos
profissionais ligados, principalmente, à área da Saúde.
Justificativa
Desde a revolução industrial as empresas buscam a melhoria contínua não só na produção,
mas nos recursos humanos e ambientais. É possível perceber que ocorreram mudanças
significativas, tanto na natureza quanto nos postos de trabalho, bem como na economia das
organizações e na prestação da assistência de enfermagem. Tais mudanças priorizam o ser
humano como trabalhador, a qualidade de vida, a saúde e a segurança no ambiente laboral.
Diante dessas transformações que vem ocorrendo no mundo acredita-se ser relevante estudar
o papel do enfermeiro do trabalho na prevenção de doenças ocupacionais.
Na delimitação do que pesquisar em relação à assistência de enfermagem do trabalho apoei-
me na minha prática profissional em hospitais e posto de saúde, como enfermeira. Nesse
período começaram a surgir as minhas inquietações e reflexões sobre a atitude preventiva do
enfermeiro do trabalho e a necessidade de uma sistematização da assistência de enfermagem
em saúde ocupacional. Observei durante a minha vivência nesses ambientes laborais que as
ações mais rotineiras dos enfermeiros estavam voltadas mais para a cura do que para a
prevenção de doenças e acidentes ocupacionais. Muitas vezes o trabalho do enfermeiro era
executado sem o devido planejamento, gerando equívocos e pondo em risco a saúde dos
trabalhadores. Percebi também o absenteísmo dos profissionais de enfermagem, decorrente de
doenças relacionadas ao trabalho. Essas experiências despertaram o meu interesse em
aprofundar o conhecimento sobre a importância do papel do enfermeiro nas ações preventivas
relacionadas à saúde do trabalhador, por entre os caminhos da literatura. Assim, focalizar os
aspectos mais significativos da ação preventiva do enfermeiro através da sistematização da
assistência de enfermagem, por meio do processo de enfermagem em saúde ocupacional é um
grande desafio.
A revisão de literatura tem indicado que os programas de saúde e segurança no trabalho
contribuem significativamente para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. Nessa
perspectiva, imagina-se que sistematizar a assistência de enfermagem no ambiente
ocupacional é uma forma eficiente de prevenir doenças e garantir a qualidade e continuidade
do trabalho do enfermeiro na atenção à saúde.
Problema
O que diz a literatura sobre a aplicação do processo de enfermagem na prevenção de doenças
e acidentes no ambiente de saúde ocupacional?
Objetivo
Constitui-se objetivo deste trabalho: Identificar, a partir da literatura, a importância da
implementação do processo de enfermagem na prevenção de doenças e acidentes
ocupacionais e promoção da saúde do trabalhador.
Abordagem metodológica
A escolha da modalidade metodológica recaiu sobre a abordagem bibliográfica, exploratória e
qualitativa. Quanto aos objetivos a pesquisa é exploratória. De acordo com Ludke e André
(1986), a pesquisa exploratória visa proporcionar uma visão geral de determinado fato, de
forma que o pesquisador, numa pesquisa subsequente, possa apreender o objeto de estudo em
profundidade. Quanto ao procedimento metodológico, a pesquisa é bibliográfica qualitativa,
pois focaliza o levantamento bibliográfico, leitura atenta e sistemática, análise e interpretação
das diferentes contribuições específicas disponíveis sobre a atitude preventiva do enfermeiro
na sistematização da assistência de enfermagem em saúde ocupacional.
No desenvolvimento deste estudo várias etapas de trabalho foram desencadeadas: busca de
fontes bibliográficas; revisão bibliográfica; análise dos dados coletados e a sua interpretação.
Estrutura do trabalho
Pretendendo uma organização clara e objetiva do tema, estruturei o presente trabalho em
quatro momentos. No primeiro, apresento o papel do enfermeiro do trabalho na saúde
ocupacional. A sistematização da assistência de enfermagem é discutida no segundo
momento. Em seguida, explicito o processo de enfermagem e suas etapas, enfatizando o
processo de enfermagem em saúde ocupacional. No quarto momento analiso a aplicação do
processo de enfermagem a grupo de trabalhadores. Finalmente, na última parte, apresento os
resultados desta pesquisa e as considerações finais, evidenciando os principais pontos
discutidos ao longo do texto.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Papel do enfermeiro do trabalho na saúde ocupacional
Segundo Moraes (2008), o primeiro serviço de saúde do trabalho surgiu na Inglaterra, em
1828, com a contratação de um médico que, periodicamente, visitava os locais de trabalho e
propunha medidas preventivas nos casos em que encontrava ameaça à saúde dos
trabalhadores. Em 1959, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) determinou a todos
os países membro a Recomendação 112, tornando obrigatória a existência de serviços de
saúde nos locais de trabalho.
No Brasil, o curso de especialização para enfermeiro do trabalho começou no Rio de Janeiro,
em 1974, na Escola Ana Néri, e a especialização em medicina do trabalho por volta de 1950.
Com a Constituição Federal de 1988, a assistência à saúde, inclusive assistência ao
trabalhador, passa a ser responsabilidade do Ministério da Saúde. Em 1990, foi criado o
Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, mediante a fusão do Instituto de Administração
Financeira da Previdência e Assistência Social – IAPAS com o Instituto Nacional de
Previdência Social – INPS (Decreto nº 99.350, de 27 de junho), vinculado ao Ministério do
Trabalho e Previdência Social. Posteriormente, em 1993, (Lei nº 8.689, de 27 de julho), o
INAMPS foi extinto, sendo suas unidades e serviços absorvidos pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) nas três esferas do governo.
Segundo Ribeiro (2008), o SUS passou então a responsabilizar-se pelo atendimento do
trabalhador vítima de acidente de trabalho ou de doenças relacionadas ao exercício do
trabalho, bem como o atendimento de patologias comuns que também acometem os
trabalhadores. Passou também a responsabilizar-se pela vigilância à saúde do trabalhador, que
pode ser entendida como um conjunto de ações que englobam aspectos da vigilância
epidemiológica, sanitária e ambiental. Dessa forma, a Constituição Federal determina que o
SUS execute ações de saúde do trabalhador e colabore com a proteção do ambiente de
trabalho.
A saúde ocupacional ou saúde do trabalho, de acordo com Leitão, Fernandes e Ramos (2008),
refere-se à promoção e à preservação da integridade física do trabalhador durante o exercício
de sua função, por meio da identificação de fatores que interfiram na sua saúde. Essa
identificação possui abordagem de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce de agravos
à saúde relacionados ao trabalho, além da constatação da existência de casos de doenças
profissionais ou danos irreversíveis à saúde do trabalhador.
A Enfermagem do Trabalho está ligada à área de saúde pública por direcionar seu cuidado à
promoção da saúde e a prevenção de doenças ocupacionais entre os trabalhadores. O
enfermeiro que atua sobre o binômio saúde e trabalho, deve ter uma formação geral no
próprio campo da enfermagem e amplo conhecimento em várias outras áreas, já que esse
profissional tem um papel relevante na melhoria da qualidade de vida e da performance
profissional do trabalhador nos aspectos físicos, instrumentais, técnicos, sociais e
ocupacionais.
O enfermeiro do trabalho tem um amplo campo de atuação no mercado de trabalho. Pode
desenvolver suas atividades em empresas, em instituições de ensino, de pesquisa, na rede
pública e privada de serviços de saúde, em organizações sindicais de empregadores e
trabalhadores, em órgãos do Estado no âmbito do Trabalho, da Saúde e da Previdência Social,
em instituições públicas e privadas de seguro, dentre outras. Esse profissional executa
atividades referentes ao serviço de higiene e segurança do trabalho, integrando equipes de
estudos no campo da saúde ocupacional, com vistas a propiciar a preservação da saúde e a
valorização do trabalhador.
Também denominado enfermeiro ocupacional, esse profissional é portador de certificado de
conclusão do curso de especialização em enfermagem do trabalho em nível de pós-graduação,
classificado pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) no Quadro III - Lei 7.498/86.
Enquadrado nos serviços especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho, através da Portaria nº 06 do DSST, de 12/06/90, Art. 1º, subitem 4.4.1, alínea d. Ele
tem como função prestar serviços relacionados à higiene, medicina e segurança aos
trabalhadores, assistindo-os e zelando pela sua saúde. Cabe ao referido profissional a
execução e a avaliação de programas de prevenção de acidentes de trabalho e de doenças
profissionais ou não-profissionais, por meio da análise da fadiga, dos fatores de insalubridade,
dos riscos e das condições de trabalho do menor e da mulher, para preservar a integridade
física e mental do trabalhador.
Além de responsabiliza-se pelo estudo e observação das condições de higiene, periculosidade
e segurança no ambiente de trabalho, compete ao enfermeiro do trabalho planejar, organizar,
dirigir, coordenar, controlar e avaliar toda a assistência de enfermagem. Entretanto, para a
execução dessas ações é de fundamental importância conhecer o ambiente de trabalho, o
clima organizacional e os recursos físicos e humanos. Nesse sentido, Carvalho (2001, p.27)
afirma:
Visando o planejamento adequado de sua asssitência, este
profissional deve ter um bom conhecimento sobre a empresa,
incluindoa atividade principal, a planta física, o esquema de todas as
seções, o processo de trabalho, os equipamentos e as substâncias
utilizadas. São também importantes outras informações como o número de empregados, a proporção de homens e mulheres, a média
de idade, a etnia, turnos de trabalho, níveis salariais, entre outros.
De acordo com Carvalho(2001), são funções do enfermeiro do trabalho: assistencial,
administrativa, educativa, de integração e de pesquisa. Lucas (2004), acrescenta a essa relação
de funções mais duas: consultoria e integração.
Para Carvalho (2001), a função assistencial compreende os cuidados e as medidas que buscam
atender às necessidades de promoção, proteção e recuperação da saúde do trabalhador. Já a
função administrativa é o conjunto de tarefas concernentes à previsão, organização, direção e
controle das atividades da área. A função educativa se refere às ações atreladas à educação
dos trabalhadores relativas à promoção, proteção, manutenção e recuperação da saúde,
prevenção de acidentes e doenças ocupacionais. Essa função também envolve a educação
continuada dos trabalhadores. A função de integração compreende as ações que propiciam o
apoio aos trabalhadores, aos orgãos da instituição, às entidades de classe, às organizações da
comunidade vinculadas à empresa a melhorarem a participação conjunta, a parceria em busca
do alcance de objetivos comuns a todos. A pesquisa é uma função que abrange estudos e
investigação permanente na prática do enfermeiro do trabalho, com a adoção de
procedimentos metodológicos adequados que assegurem a satisfação dos resultados. É
importante ressaltar que os novos horizontes da enfermagem exigem do enfermeiro do
trabalho a responsabilidade de reflexão das bases científicas das suas ações. Dessa forma,
esse profissional deve estar motivado para acompanhar os conhecimentos e para aplicá-los,
bem como para realizar investigações.
Especificando as funções arroladas, Lucas (2004), destaca como atribuições do enfermeiro do
trabalho: i) o estudo sobre as condições de saúde, segurança e periculosidade da instituição; ii)
o levantamento de dados estatísticos acerca da “morbimortalidade” dos trabalhadores; iii) a
operacionalização e a avaliação de programas de prevenção de acidentes e doenças
profissionais e não profissionais; iv) a concepção, a execução e a avaliação de ações voltadas
para a assistência de enfermagem aos trabalhadores - atendimento no local de trabalho,
vacinações, controle de sinais vitais etc.; v) a prestação de primeiros socorros no local de
trabalho, quando necessário; vi) a organização e a administração do setor de enfermagem na
empresa; vii) o registro de dados estatísticos referentes aos acidentes e doenças profissionais;
viii) a auditoria, assessoria e consultoria em saúde ocupacional; e ix) a elaboração e a
execução de programas de educação sanitária como forma de prevenir doenças profissionais e
melhorar as condições de saúde do trabalhador.
Assim, a prática da enfermagem do trabalho está baseada em conceitos e referenciais
postulados na prevenção, promoção e proteção à saúde dos trabalhadores, bem como no
controle dos agravos e riscos à saúde, provenientes da atividade laboral. Entretanto, é
imprescindível questionar: quais as ferramentas poderão ser adotadas pelo enfermeiro do
trabalho no exercício da sua profissão?
2.2 . Sistematização da assistência de enfermagem em saúde ocupacional
As tentativas de organizar o conhecimento na enfermagem datam da década de 1950, quando
houve um considerável avanço na construção e na organização dos modelos teóricos de
enfermagem. No entanto, foi a partir dos estudos de Horta (1979), que a atenção dos
enfermeiros brasileiros começou a ser direcionada para a sistematização da assistência de
enfermagem (SAE). Com os trabalhos de Horta, enfatizou-se o planejamento da assistência,
na tentativa de tornar autônoma a profissão e de caracterizá-la como ciência, por meio da
implementação da SAE. Assim, a SAE é uma atividade exclusiva do enfermeiro e a utilização
dessa ferramenta proporciona um instrumento prático para prestar uma assistência de
qualidade ao cliente.
A evolução tecnológica, a globalização e as constantes demandas das instituições de saúde
para maximizar recursos, reduzir custos e oferecer assistência de enfermagem de qualidade,
têm exigido da enfermagem o aprimoramento das suas atividades. Dessa forma, o Conselho
Federal de Enfermagem (COFEN), por meio da Resolução 272/2002, artigo 2º, incumbe ao
enfermeiro a implementação da sistematização que deve ocorrer em toda instituição de saúde
pública e privada. O artigo 3º dispõe que a implementação deve ser registrada formalmente no
prontuário do paciente. A Resolução 358/2009 tem preconizado que a assistência de
enfermagem deve ser sistematizada implantando-se o processo de enfermagem (PE).
De acordo com Pinheiro (2010), a sistematização da assistência de enfermagem (SAE) como
metodologia científica vem sendo implementada na prática assistencial, para tornar mais
operacionalizáveis os resultados da assistência prestada aos pacientes, por meio do processo
de enfermagem que deve ser guiado por uma teoria de enfermagem. Segundo essa autora, a
sistematização da assistência de enfermagem tem como objetivos: garantir ao cliente/paciente
assistência com qualidade e responsabilidade determinada em lei, conferir maior autonomia
aos profissionais de enfermagem, assegurar continuidade do trabalho do enfermeiro na
atenção à saúde propiciando, dessa forma, maior segurança aos pacientes. A SAE confere
segurança aos pacientes, uma vez que para ser aplicada, requer que o enfermeiro realize o
julgamento clínico. Esta é uma ferramenta que favorece a melhoria da prática assistencial com
base no conhecimento, na reflexão e na tomada de decisão clínica com suporte de evidências
científicas, obtidas a partir da avaliação dos dados subjetivos e objetivos do indivíduo, família
e comunidade.
Assim, os enfermeiros precisam, cada vez mais, de conhecimentos acerca das teorias de
enfermagem, do PE, de semiologia, de fisiologia, de patologia, além das habilidades
necessárias para gerenciarem as unidades efetivamente. Tannure (2010) afirma que os
enfermeiros necessitam de instrumentos que favoreçam a implantação das etapas do PE na
prática, tais como impressos para auxiliar na coleta e no registro dos dados do indivíduo e/ou
softwares que os auxiliem na execução das etapas do método científico. Além disso, essa
autora ressalta a importância da educação permanente de todos os profissionais envolvidos no
processo.
A sistematização da assistência de enfermagem (SAE) é o meio pelo qual o enfermeiro do
trabalho aplica seus conhecimentos técnico-científicos, caracterizando sua prática
profissional. São fundamentais nesse processo: observação, comunicação, aplicação do
método científico, aplicação de princípios científicos, destreza manual, planejamento,
avaliação, criatividade, trabalho em equipe e utilização dos recursos da comunidade.
A sistematização da assistência é implementada pelo enfermeiro do trabalho para o
trabalhador e/ou grupo de trabalhadores, participantes dos processos de produção de bens e
serviços das empresas ou organizações. Caracteriza-se por meio de atos e operações de
natureza predominantemente preventiva, no sentido de se evitar danos à saúde e à vida dos
trabalhadores, decorrentes de fatores ambientais, da natureza da própria atividade e dos
comportamentos, hábitos e estilo de vida do trabalhador.
Dessa forma, é essencial a adoção de estratégias que possibilitem a educação permanente,
continuada e, em serviço, sobre riscos a que estão expostos os profissionais, para que eles
possam adotar medidas de proteção adequadas no ambiente laboral. Nesse sentido, surge uma
questão: quais as teorias de enfermagem que embasam a adoção dessas estratégias de ação e
quais as implicações para a saúde do trabalhador?
2.3 Teorias de enfermagem e suas implicações para a saúde do trabalhador
Segundo Tannure e Pinheiro (2009), a preocupação da enfermagem com a questão teórica
nasce com Florence Nightingale, que afirmava que a enfermagem requeria conhecimentos
distintos daqueles da medicina. Ela definiu as premissas em que a profissão deveria basear-se,
estabelecendo um conhecimento de enfermagem direcionado às pessoas, às condições em que
viviam e em como o ambiente poderia atuar, positivamente ou não sobre a saúde delas.
A enfermagem acabou por assumir uma orientação profissional dirigida para o imediatismo,
baseando-se em ações práticas, de modo intuitivo e não sistematizado, apesar da forte
influência de Nightingale. Alguns profissionais de enfermagem, por décadas, atuavam sob a
mesma perspectiva de profissionais médicos, focando suas ações mais na doença do que no
paciente. Por conta disso, os enfermeiros dependiam de conhecimentos e conceitos
preexistentes que lhe ditassem o que fazer e como fazer, e na maioria das vezes não refletia
sobre por que fazer e quando fazer.
Entretanto, sob a influência de vários fatores, tais como guerras mundiais, movimentos
femininos de reivindicação, desenvolvimento das ciências e da educação, modificações
socioeconômicas e políticas, as enfermeiras começaram a questionar o status quo da prática
de enfermagem e refletir sobre ela. Assim, percebeu-se a necessidade de se desenvolver um
corpo específico e organizado de conhecimentos sobre a profissão, difundindo-se a
preocupação com o significado da enfermagem e com o seu papel social.
Na década de 1960, Wanda de Aguiar Horta, primeira enfermeira brasileira a abordar teoria
no campo profissional, embasou-se na teoria da motivação humana de Abraham Maslow e na
teoria de João Mohana para elaborar a teoria das Necessidades Humanas Básicas (NHB).
Entre 1980 a 1990, aumentaram as pesquisas que expandiram o conhecimento da
enfermagem, e muitas teorias passaram a subsidiar a assistência de enfermagem em
instituições de saúde. Atualmente, os enfermeiros assistem as pessoas que demandam seus
serviços com foco não apenas na esfera biológica, mas também nas dimensões social, psíquica
e espiritual. Além disso, as teorias vêm sendo cada vez mais implementadas na prática, o que
tem aumentado a possibilidade de melhora na qualidade da assistência, já que uma teoria de
enfermagem relaciona conceitos e utiliza-se de definições para desenvolvimento da prática
que nada mais é do que a aplicação do processo de enfermagem.
Portanto, segundo Pinheiro (2009), o uso de teorias de enfermagem oferece estrutura e
organização ao conhecimento de enfermagem, promove a prática racional e sistemática, torna
a prática direcionada por metas e resultados, pois proporciona um meio sistemático de coletar
dados para descrever, explicar e prever a prática e determina a finalidade da prática de
enfermagem promovendo um cuidado coordenado e holístico.
2.3.1Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Horta
A teoria de Wanda Horta foi desenvolvida com base na Teoria da Motivação Humana, de
Maslow, que se fundamenta nas necessidades humanas básicas, como as fisiológicas, de
segurança, de amor próprio, de estima, de mérito e de auto-realização.
Para Wanda Horta, as necessidades humanas básicas são estados de tensão, conscientes ou
inconscientes, resultantes dos desequilíbrios hemodinâmicos dos fenômenos vitais. Quando o
indivíduo está em estado de equilíbrio dinâmico, as necessidades não se manifestam, porém
estão latentes e surgem com mais ou menos intensidade, dependendo do desequilíbrio
instalado.
Assim, as necessidades podem ser classificadas como: psicobiológicas, psicossociais e
psicoespirituais. Essas necessidades estão sempre interrelacionadas e quando uma se
manifesta, faz com que as demais sofram alguma alteração, sendo o indivíduo visto como um
todo indivisível.
O objetivo dessa teoria é assistir o ser humano, atendendo suas necessidades básicas afetadas,
a fim de torná-lo independente da assistência de enfermagem, quando possível, por meio da
promoção, manutenção e recuperação da saúde e do ensino do autocuidado.
Segundo Lucas (2008), a teoria de Wanda Horta pode ser empregada no processo de
enfermagem do trabalho por diversos fatores, entre eles: ser uma teoria amplamente difundida
entre os enfermeiros brasileiros, possuir uma visão holística do cliente e por ser dinâmica,
cíclica, e com linguagem de fácil entendimento.
2.3.2 Teoria do Autocuidado de Orem
Para Dorothéia Orem, o autocuidado pode ser entendido como ações empreendidas pelos
clientes com a finalidade de manter o seu bem-estar. O enfermeiro realiza o cuidado do outro
apenas quando sua avaliação determina que o indivíduo necessita dos cuidados de
enfermagem. Essa teoria baseia-se na premissa de que os pacientes podem cuidar de si
próprios.
Segundo essa teoria, as práticas de autocuidado dependem em grande parte, de aspectos
culturais, educacionais, relativos a habilidades e limitações pessoais, experiência de vida,
estado de saúde e recursos disponíveis.
Sendo assim, na interação enfermeiro e trabalhador, este último participa ativamente da
escolha e realização das intervenções necessárias à atenção e manutenção de sua saúde.
2.3.3Teoria Holística de Levine
Para Myra E. Levine, as intervenções de enfermagem são atividades de conservação da
energia, da integridade estrutural, pessoal e social do paciente/cliente.
De acordo com Levine (1967), a natureza holística da resposta humana ao meio, permite a
relação dos princípios da enfermagem. Esse modelo é focalizado na pessoa, descrita como ser
holístico. Nesta teoria são identificados os meios externos, internos e o processo saúde/doença
caracterizado como uma mudança adaptativa.
Para Lucas (2008), a importância dessa teoria para a enfermagem do trabalho está inserida no
fato de que o trabalhador se adapta às condições adversas do trabalho que realiza, e também
ao utilizar os equipamentos de proteção individual e coletiva, e quando sua recuperação e
reabilitação após o afastamento por doença e/ou por acidente no retorno ao trabalho e no
convívio social.
2.3.4 Trabalho de Florence Nightingale
Florence Nightingale foi a precursora da enfermagem, nascida em 1820, em Florença, na
Itália. Foi conhecida como a Dama da Lâmpada, porque de lanterna nas mãos percorria as
enfermarias, atendendo os soldados doentes e feridos, durante a Guerra da Criméia. Florence
atuou efetivamente nos fatores ambientais: iluminação, aeração, higienização e organização
ambiental, com isso conseguiu reduzir de 40% para 2% a mortalidade entre os soldados.
Fundou, em 1859, a primeira escola de enfermagem, a qual foi modelo para as demais escolas
que surgiram, promovendo, assim, toda a conquista que foi alcançada pelos enfermeiros com
atitudes de promoção à saúde e melhoria da qualidade de vida dos clientes assistidos.
Dessa maneira, essa teoria é fundamental para a enfermagem do trabalho, pois norteia as
visitas aos locais de trabalho e a investigação dos agravos à saúde do trabalhador
.
2.3.5 Modelo de adaptação de Roy
Sister Calista Roy, em 1970, desenvolveu um modelo conceitual para a enfermagem, a partir
de suas experiências como enfermeira, admitindo que o conceito de adaptação pudesse se
constituir como um eixo orientador para a prática de enfermagem.
Segundo Lucas (2008), considerando que o homem está em contínua interação com o meio, a
adaptação pode ser definida como um processo de mudanças no ser humano, necessárias á
manutenção de sua integridade.
O foco do modelo de Roy é a pessoa, receptora de cuidados, que deve ser percebida como ser
biopsicossocial, cuja capacidade de adaptação depende dos estímulos aos quais está exposta:
internos e externos.
Lucas (2008) aponta quatro modalidades de adaptação no ser humano: fisiológicas, de
autoconceito, da função e papel e das relações de interdependência. Esse autor diz que no
continuum saúde-doença, a enfermagem promove a adaptação do indivíduo nas quatro
modalidades supracitadas, valorizando a participação ativa dos pacientes/clientes quando
possível.
De acordo com o modelo de Roy, o processo de enfermagem pode ser realizado com as
seguintes etapas: determinação do comportamento, determinação dos fatores influentes
(estímulos), diagnóstico de enfermagem, objetivos, seleção de intervenções apropriadas e
avaliação. Assim, Lucas (2008) afirma que o processo de enfermagem pode ser compreendido
como um procedimento de solução de problemas. Afirma ainda que, no que diz respeito à
saúde ocupacional, a partir dessa teoria e com a implementação do processo de enfermagem, é
possível promover ações de educação em saúde para que os trabalhadores tenham a
possibilidade de se adaptar ao meio e aos agravos aos quais estão expostos. Mas, o que é o
processo de enfermagem em saúde ocupacional?
2.4 Processo de enfermagem em saúde ocupacional
De acordo com Pinheiro (2009), o processo de enfermagem é o método utilizado pelo
enfermeiro para planejar, organizar, coordenar, supervisionar e registrar a assistência de
enfermagem.
Segundo Lucas (2008), em enfermagem do trabalho, a sistematização da assistência segue a
mesma base conceitual desenvolvida nas demais áreas de enfermagem, sendo que a única
diferença está no foco da atenção: o trabalhador em seu ambiente laboral e a abordagem do
processo sob a forma de consulta de enfermagem, acrescida da identificação dos agravos à
saúde do trabalhador.
Considerando que a metade da vida do ser humano se passa no ambiente de trabalho, e que
esse ambiente pode apresentar características peculiares, como riscos e condições inseguras,
que podem conduzir o trabalhador à doença, o processo de enfermagem do trabalho, que
compreende um conjunto de ações de enfermagem sistematizadas, tem como objetivo manter
o bem estar do trabalhador por meio de ações planejadas pelo enfermeiro nos níveis primário
de saúde (promoção, proteção e prevenção), secundário (manutenção) e terciário
(recuperação, reabilitação e readaptação), sendo o primário de maior destaque. Assim, é
fundamental para a implantação do processo o planejamento, em que a proteção e a prevenção
da saúde, priorizadas pelo enfermeiro, são as medidas preconizadas e indicadas contra o
surgimento de doenças e acidentes relacionados ao trabalho.
A visão holística deve acompanhar o enfermeiro na sistematização da assistência em saúde
ocupacional, visto que é a base para o desenvolvimento do processo. Assim, o processo de
enfermagem deve ser holístico e não fragmentado, pois o processo de enfermagem pode ser
aplicado individualmente ou em grupo, no meio em que estão inseridos, seja ele familiar, na
empresa ou na comunidade. É válido ressaltar que, o enfermeiro deve considerar cada
trabalhador como um indivíduo único, a fim de identificar suas necessidades biopsicossociais
e espirituais.
De acordo com Lucas (2008), é importante que o enfermeiro conheça a empresa, os locais de
trabalho, sua história, e em caso de doença instalada, as suas características e, com esses
dados, sistematizar a assistência. Esse autor diz que a sistematização de enfermagem do
trabalho pode ser efetuada sob duas condições: realizada periodicamente pela procura
espontânea do trabalhador ao ambulatório ou pelos programas de saúde desenvolvidos pelo
enfermeiro. Dessa forma, aponta que todas as etapas do processo de enfermagem devem ser
documentadas no prontuário pelo enfermeiro, visto que além de metodologia, o processo de
enfermagem do trabalho é um registro legal para a empresa e para os profissionais de
enfermagem responsáveis pelo atendimento aos clientes/trabalhadores, pois fornece dados
para o planejamento da assistência a curto, médio e longo prazos, e pode ser utilizado como
fonte de pesquisas e avaliação do atendimento prestado. É válido ressaltar que quando
documentado, o processo de enfermagem é a única prova de que o cliente/trabalhador foi
monitorado e assistido pela enfermagem.
2.4.1 Histórico de enfermagem
Segundo Carvalho (2001), o histórico é um instrumento de levantamento sistemático de dados
sobre o cliente, família e comunidade. Possibilita a identificação dos ricos aos quais os
trabalhadores estão expostos, suas necessidades, problemas e preocupações a fim de
direcionar as ações de enfermagem. A realização do histórico acontece em três etapas:
identificação, anamnese e exame físico. Nele são registrados resultados de exames
laboratoriais e exames complementares.
Lucas (2008) aponta o histórico de enfermagem como um roteiro sistematizado de dados
sobre a situação de saúde do ser humano, que torna possível a identificação de seus
problemas. O histórico é a reunião de dados do trabalhador que, além de conter informações
sobre sua saúde deve estar direcionado aos dados referentes à sua ocupação ou profissão,
posto de trabalho, às condições de saúde e higiene e aos riscos ou fatores que interferem na
saúde dos trabalhadores. Carpenito (2008) que a investigação empregada pelos enfermeiros
deve ser capaz de direcionar a coleta de dados para as respostas humanas, que variam de
condição de pele e da função urinária até a saúde espiritual e a capacidade de autocuidado.
Na via de raciocínio de Moraes (2008), coletar dados é um processo dinâmico e o enfermeiro
do trabalho dever fazer uma avaliação constante do modelo utilizado pela empresa. Os dados
obtidos na formulação do histórico devem ser registrados em formulários, a fim de
documentar as informações obtidas. Lucas (2008), diz que é possível a utilização do histórico
de enfermagem auto-administrado, em que o próprio trabalhador preenche as respostas às
questões formuladas. Para isso cabe ao enfermeiro conhecer o grau de escolaridade dos
trabalhadores submetidos ao questionário. Além disso, o enfermeiro é o profissional
responsável por acompanhar o preenchimento do questionário, pois o trabalhador pode referir
dúvidas ou preencher de modo errôneo, podendo comprometer as intervenções de
enfermagem.
O enfermeiro deve manter com o empregado uma relação dinâmica e de confiança mútua
desde o primeiro contato. Cabe ao enfermeiro identificar-se e explicar a que se destina a
coleta de dados.
Pinheiro (2010), afirma que os dados referentes ao estado de saúde do trabalhador podem ser
investigados de forma direta ou indireta. Os dados diretos são aqueles coletados diretamente
do paciente, por meio da anamnese e do exame físico. Os dados indiretos são aqueles obtidos
por meio de outras fontes como, prontuário, registro de outros profissionais da equipe,
resultado de exames laboratoriais. Além disso, os dados podem ser classificados em duas
categorias: objetivos, que podem ser observados e subjetivos, aqueles que a pessoa, no caso
específico, o trabalhador afirma. Separar as informações em dados objetivos e subjetivos pode
auxiliar no raciocínio clínico, porque um tipo complementa e esclarece o outro.
O enfermeiro deverá comprovar se os dados coletados estão corretos, comparando-os com os
valores normais, ou com valores padrões, ou seja, é indispensável averiguar se o dado
coletado é factual e completo, a fim de evitar erros na identificação dos problemas, ou deixar
de coletar dados importantes.
A capacidade do enfermeiro para detectar os indicadores significativos, que são os dados
objetivos e subjetivos identificados, e para fazer inferências corretas é influenciada por sua
capacidade de observação, conhecimentos de enfermagem adquiridos e experiência clínica. É
válido ressaltar que os valores e crenças do enfermeiro, também afeta o modo como ele
interpreta alguns indicadores. Além disso, o profissional de enfermagem deve compreender
que organizar os dados é essencial para sua interpretação e para o processamento apto e
crítico de inferências e julgamentos. Dessa forma, o enfermeiro será capaz de determinar o
diagnóstico de enfermagem, o que constitui a etapa seguinte do processo.
No que diz respeito à realização do histórico de enfermagem em saúde ocupacional, para
Moraes (2008), a etapa de identificação tem como objetivo registrar dados gerais do
trabalhador. A entrevista ocupacional é a etapa seguinte, que permite a identificação de
antecedentes familiares, doenças preexistentes, assim como dados específicos, uma vez que
essa etapa corresponde ao exame admissional, em cumprimento à Norma Regulamentadora
do Ministério do Trabalho e Emprego NR7. Em seguida, o enfermeiro do trabalho deve
coletar os dados acerca dos aspectos relacionados à vida psicobiológica do trabalhador tais
como: hábitos, em consonância com a Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Horta, e
dados sobre a imunização, principalmente se o trabalhador está exposto aos riscos biológicos.
Após esse momento, o enfermeiro deve conhecer e registrar dados relacionados aos agentes
ambientais a que o trabalhador fica ou ficará exposto. A partir daí esse profissional deverá
buscar resultados ou realizar provas funcionais no trabalhador, seguindo o que ficou
determinado no Programa de Controle Médico em Saúde Ocupacional (PCMSO) da empresa
para cada função. Quanto aos exames laboratoriais colhidos, o enfermeiro deverá registrar os
resultados, tanto dos exames obrigatórios previstos na NR7, quanto àqueles propostos nos
programas preventivos existentes na empresa. No momento final, realiza-se o exame físico.
Nessa etapa é importante constatar sinais e sintomas presentes no trabalhador ou relatados por
ele, que possam identificar precocemente o desenvolvimento de doenças ocupacionais.
2.4.2 Diagnóstico de enfermagem
No Brasil, a expressão diagnóstico de enfermagem foi apresentada por Wanda de Aguiar
Horta nos anos 1960, e constituiu uma das etapas do processo de enfermagem propostas por
essa teórica ( HORTA 1979).
O diagnóstico de enfermagem constitui a segunda etapa do processo de enfermagem. Durante
essa etapa, os dados coletados na investigação são analisados e interpretados criteriosamente.
Para realizar o diagnóstico de enfermagem o enfermeiro deverá ter capacidade de analisar,
julgar e sintetizar, a fim de tornar possível a interpretação eficaz dos dados coletados na etapa
anterior.
De acordo com Tannure (2010), os diagnósticos de enfermagem baseiam-se tanto nos
problemas reais quanto nos problemas potenciais, ou seja, que podem acontecer no futuro.
Esses problemas podem ser sintomas de disfunções fisiológicas, comportamentais,
psicossociais ou espirituais. Assim, essa autora ressalta que os diagnósticos devem ser
identificados e listados em ordem de prioridade, com base no grau de ameaça ao nível de bem
– estar do paciente, proporcionando, assim, um foco central para as etapas subseqüentes.
Carvalho (2009) define diagnóstico de enfermagem como uma declaração da existência de um
estado de saúde indesejável. Esse autor ressalta que nessa fase os enfermeiros analisam os
dados colhidos e fazem o julgamento clínico sobre a saúde do cliente. Os problemas de saúde
do trabalhador devem ser avaliados de maneira individualizada e de acordo com o ambiente
de trabalho e não de maneira absoluta.
Segundo Lucas (2008), os diagnósticos de enfermagem proporcionam a base para a seleção de
intervenções de enfermagem, visando obter resultados pelos quais o enfermeiro é o
responsável. Assim, o diagnóstico é um julgamento clínico sobre o indivíduo, família ou
comunidade, realizado por um processo sistemático e deliberado de coleta de dados,
fornecendo a base para a prescrição de enfermagem. Esse pesquisador ressalta que a diferença
entre o diagnóstico médico e de enfermagem é que o médico determina a doença, ao passo
que o diagnóstico de enfermagem determina as necessidades humanas afetadas, a fim de
planejar as ações de enfermagem.
Segundo Pinheiro (2010) em 1973, um grupo de enfermeiras norte-americanas reconheceu a
necessidade de se desenvolver uma terminologia para descrever os problemas de saúde
diagnosticados e tratados com maior freqüência por profissionais de enfermagem. Foi
realizada então, na Saint- Louis University School of Nursing, a I Conferência Nacional sobre
Classificação de Diagnóstico de Enfermagem. Em 1982, uma listagem alfabética de 50
diagnósticos havia sido desenvolvida e aceita, foi criada a NANDA (North American Nursing
Diagnosis Association). Nessa conferência, foi proposta a primeira classificação de
diagnósticos de enfermagem, denominada Taxonomia I.
Carpenito (1997) afirma que os princípios de organização da primeira classificação de
diagnósticos de enfermagem, fundamentavam-se nos nove padrões de resposta da pessoa
humana: trocar, comunicar, relacionar, valorizar, escolher, mover, perceber, conhecer, sentir.
Esse autor menciona que um sistema unificado de termos estabelece uma linguagem comum
que auxilia os enfermeiros na avaliação dos dados selecionados, na identificação e descrição
dos problemas potenciais e reais dos pacientes.
Moraes (2008) acredita que o enfermeiro, após analisar dados coletados no histórico de
enfermagem, deverá identificar os problemas que o trabalhador apresenta ou poderá
apresentar em virtude da exposição ao agente no ambiente de trabalho. Faz-se então um
levantamento das necessidades básicas desse trabalhador em relação ao desenvolvimento de
suas atividades para prevenir as doenças ocupacionais ou os acidentes de trabalho. A referida
autora afirma que existem quatro tipos de diagnóstico de enfermagem: o diagnóstico de
enfermagem real, de risco, de promoção da saúde e coletivo.
O diagnóstico de enfermagem real é aquele que descreve a avaliação do enfermeiro em que há
presença de fatores relacionados e de características definidoras principais. Ou seja, é aquele
em que o enfermeiro do trabalho detecta sinais, sintomas e fatores relacionados a esses sinais
e sintomas claramente. Já no diagnóstico de enfermagem de risco, na avaliação do enfermeiro
é verificado o indivíduo ou grupo que está mais vulnerável ao desenvolvimento de problemas
se comparado a outros na mesma situação. Esse tipo de diagnóstico tem como base a
exposição aos fatores de risco que contribuem para o aumento da vulnerabilidade, mas sem a
evidência de sinais e sintomas. O diagnóstico de promoção da saúde é um julgamento clínico
da motivação e do desejo de aumentar o bem estar, conforme o paciente manifesta a
disposição de melhorar comportamentos específicos de saúde como a alimentação e prática de
exercícios. Esse diagnóstico pode ser utilizado em qualquer condição de saúde, não
necessitando de níveis de bem estar atuais. As intervenções são escolhidas em conjunto com o
indivíduo/grupo, a fim de que os objetivos sejam alcançados. Por outro lado, o diagnóstico de
enfermagem coletivo, que também é um diagnóstico de risco, deve ser aplicado a grupo de
trabalhadores relacionados à exposição aos agentes ambientais (físico, químico, biológico,
ergonômico e acidentes), estabelecendo as metas e intervenções de enfermagem coletivas
específicas.
Portanto, cabe ressaltar que essa etapa do processo de enfermagem representa um desafio para
o enfermeiro, pois requer que esse profissional se aproprie de conhecimentos técnico-
científicos atualizados, que os possibilite interpretar corretamente os dados coletados no
histórico de enfermagem para que possa assumir a responsabilidade pelo cuidado que está
propondo por meio da prescrição de enfermagem ou intervenções de enfermagem.
2.4.3 Intervenção de enfermagem
Para Moraes (2008), a intervenção de enfermagem pode ser compreendida como ações
resultantes da análise do diagnóstico de enfermagem. Ou seja, são ações prescritas pelo
enfermeiro de forma clara e formal com o objetivo de direcionar a assistência, intervenções
necessárias para a obtenção dos resultados esperados.
De acordo com Lucas (2008), intervenção de enfermagem é a intervenção global da
assistência de enfermagem, a partir dos problemas detectados na ocasião do diagnóstico. Os
cuidados de enfermagem devem ser prescritos pelo enfermeiro de maneira clara, precisa e
completa para que causem impactos na assistência prestada e despertem o interesse da equipe
de enfermagem por lê-los e por realizá-los. Cabe ressaltar que o enfermeiro não se deve
prescrever um cuidado para um problema/ necessidade que não tenha sido descrito no
diagnóstico de enfermagem, ou seja, para toda prescrição deve haver um diagnóstico prévio.
Da mesma forma que os diagnósticos de enfermagem, as prescrições devem ser redigidas em
ordem de prioridades, não é aconselhável a elaboração de prescrições pré- formatadas para
serem completadas, uma vez que deve haver a individualização do cuidado de acordo com as
demandas dos pacientes.
No que diz respeito à saúde ocupacional, a intervenção de enfermagem consiste em um
conjunto de medidas decididas pelo enfermeiro do trabalho, que planeja, coordena e atua na
assistência de enfermagem ao trabalhador de forma individualizada ou coletiva. Assim, o
enfermeiro do trabalho é responsável pela assistência direta aos trabalhadores em caso de
doença e acidentes, aconselhamento, educação, encaminhamento aos demais serviços de
saúde, se necessário, e produção de relatórios.
Lucas (2008) afirma que o enfermeiro ocupacional deverá discutir com o trabalhador ou
grupo de trabalhadores, o plano elaborado e as ações que serão implementadas, a fim de que o
trabalhador tenha a possibilidade de participar desse processo, visto que cabe a ele aceitar ou
recusar as intervenções de enfermagem. Esse autor ressalta que em saúde ocupacional as
intervenções de enfermagem visam atividades necessárias à promoção, manutenção e
restauração da saúde, e diz que as prescrições de enfermagem podem sofrer alterações de
acordo com as respostas do trabalhador. As intervenções de enfermagem podem ser
classificadas como independentes, dependentes e interdependentes. Intervenções
independentes são atividades de cuidados prescritas pelo enfermeiro com base em seu
conhecimento científico, experiência profissional. As dependentes são intervenções que
seguem uma recomendação médica com a indicação de como serem executadas. Por fim, as
interdependentes são aquelas nas quais a intervenção de enfermagem é feita com a
colaboração dos demais membros da equipe de saúde e segurança.
O autor supracitado aponta que é importante registrar no prontuário do trabalhador as
prescrições/intervenções e orientações, bem como todo o processo de enfermagem para que
toda equipe de saúde ocupacional tenha acesso. Documentar o que foi feito é importante,
inclusive, para fins de auditoria. Além disso, o registro serve como meio de comunicação
entre a equipe, bem como de continuidade da assistência prestada, servindo de objeto de
estudo/pesquisa, quando devidamente autorizado pelo cliente/trabalhador e empresa.
Considerando que as prescrições de enfermagem têm como objetivo monitorar o estado de
saúde do paciente, a fim de minimizar riscos, resolver ou controlar um problema, auxiliar nas
atividades da vida diária e promover a saúde, ao prescrever um cuidado de enfermagem o
enfermeiro deve estar seguro de que sua prescrição é correta, completa, aplicável e capaz de
conferir segurança ao paciente. Portanto, as prescrições devem ser fundamentadas nas
melhores evidências disponíveis na literatura científica.
2.4.4 Evolução de enfermagem
A avaliação ou evolução de enfermagem consiste em acompanhar as respostas dos clientes
aos cuidados prescritos e implementados, através de anotações em prontuários ou locais
apropriados. Assim, é possível avaliar o progresso do cliente/trabalhador, a fim de instituir
medidas corretivas e, se necessário, rever a prescrição de enfermagem.
Segundo Pinheiro (2010), essa etapa do processo é feita durante a execução do exame físico,
que pode ser diário, ou a cada novo contato com o cliente. Os dados são registrados no
prontuário, e após a coleta das novas informações, o diagnóstico prévio deverá ser reavaliado
e, se necessário, atualizado. Assim, a evolução fornece subsídios para o enfermeiro avaliar se
suas ações e prescrições estão sendo positivas ou negativas, no restabelecimento do equilíbrio
das necessidades afetadas no cliente.
De acordo com Moraes (2008), o enfermeiro do trabalho avalia o estado geral do trabalhador
no ambulatório de saúde ocupacional, durante os exames ocupacionais que podem ser
realizados semestralmente, ou até anualmente na ocasião do exame periódico, caso o
trabalhador não tenha se afastado de suas atividades. A evolução de enfermagem deve ser
feita com base nos seguintes critérios: clareza, objetividade, coerência e coesão. As
informações devem ser registradas em ordem cronológica, sendo assim, se faz necessário o
registro de datas e horários.
No momento dos exames periódicos o enfermeiro deverá identificar os cuidados que podem
ser mantidos, os que precisam ser modificados e os que já têm a possibilidade de ser
finalizados, ou seja, aqueles que já supriram as necessidades do trabalhador. Isto porque a
finalidade do processo de enfermagem é desenvolver a independência do cliente/trabalhador
com relação às ações de enfermagem, diminuindo ou anulando as necessidades afetadas.
Lucas (2008) afirma que ao fazer a evolução, o enfermeiro do trabalho deverá fazer o
prognóstico de enfermagem, que é a capacidade do ser humano em atender às suas
necessidades básicas. Esse autor afirma que se o enfermeiro tiver a necessidade de
encaminhar o trabalhador para outro profissional ou para os recursos disponíveis na
comunidade, deverá continuar acompanhando e monitorando o trabalhador frente à
terapêutica indicada.
2.5 Aplicação do processo de enfermagem a grupo de trabalhadores
Lucas (2008) diz que, de acordo com a legislação de Segurança e Medicina do Trabalho, toda
empresa, inclusive o Governo Federal, Estadual ou Municipal e demais órgãos de
administração, e profissionais habilitados estão sujeitos às responsabilidades legais com
relação aos acidentes acorridos durante a jornada de trabalho. Atualmente, os trabalhadores
estão esclarecidos quanto aos seus direitos e não aceitam de forma resignada e passiva
ocorrências que lhes causem danos físicos ou morais. Sendo assim, o enfermeiro, como
profissional especializado, deve ter consciência de que quando cumpre efetivamente o
processo de enfermagem e documenta suas ações, tem respaldo ético, técnico e legal para
exercer sua profissão com segurança.
O processo de enfermagem do trabalho aplicado a um grupo de trabalhadores se inicia com as
visitas ocupacionais. A partir desse momento, é possível realizar as demais etapas do
processo: identificação de trabalhadores e riscos inerentes ao trabalho através da coleta de
dados, diagnóstico dos agravos à saúde do grupo, planejamento, implementação das
intervenções de enfermagem e desenvolvimento de programas de saúde com o objetivo de
reduzir riscos e acidentes.
No ambiente de trabalho o cliente/trabalhador pode estar exposto a riscos físicos, químicos,
biológicos ou ergonômicos, que podem ocasionar danos à sua saúde. Assim, não basta que o
enfermeiro conheça apenas o trabalhador, a filosofia da empresa e suas características, é
necessário o conhecimento acerca do ambiente em que o trabalhador se encontra inserido, do
processo de trabalho e da matéria prima utilizada pelo grupo de trabalhadores. Neste
contexto, a visita aos locais de trabalho é importante, pois através da observação é possível
coletar dados relevantes.
Segundo Lucas (2008), por meio da análise dos dados coletados, o diagnóstico é realizado e
através do diagnóstico, o enfermeiro identifica as origens do problema e seus impactos, os
pontos em que cada intervenção pode ser empreendida. A partir daí é possível planejar as
ações estabelecendo metas e objetivos. É válido ressaltar que para que metas e objetivos
sejam atingidos, é preciso que haja colaboração e envolvimento entre a equipe profissional e
os trabalhadores. O conhecimento e a dedicação do enfermeiro o faz agente de transformação,
enquanto que os trabalhadores são os parceiros nesse processo de mudança.
Os programas de saúde desenvolvidos pela equipe tem como objetivo a educação em saúde,
ou seja, educar e treinar os trabalhadores para melhorar as condições de saúde e segurança no
ambiente de trabalho. O enfermeiro deve participar da elaboração e execução dos programas e
treinamentos que podem variar de acordo as características das empresas e dos trabalhadores.
Pesquisas realizadas nas empresas com os trabalhadores ajudam o enfermeiro a determinar
que programas devem ser implementados. Podem ser fomentados temas como prevenção de
doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, hipercolesterolemia, neoplasias, distúrbios
auditivos, visuais, imunização, saneamento básico, doenças sexualmente transmissíveis,
noções de primeiros socorros, saúde e qualidade de vida. Também é importante que os
dirigentes das empresas participem desses programas, afim de perceberem a importância e
necessidade dos mesmos. O enfermeiro do trabalho pode contar ainda com a participação de
outros profissionais como dentistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e médicos,
que podem abordar diversos temas.
Portanto, a prevenção de doenças, o controle do absenteísmo, a proteção contra acidentes de
trabalho e a diminuição do número de afastamentos por doença são apontados como
resultados positivos da aplicação do processo de enfermagem a grupo de trabalhadores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo conclui que, por meio da implementação da SAE, é possível perceber o caráter
científico e autônomo da enfermagem como profissão. Como atividade privativa do
enfermeiro, o processo de enfermagem deve ser pensado de forma racional e tendo como base
as Teorias de Enfermagem, a fim de que seja possível oferecer uma assistência holística,
integral e de qualidade aos trabalhadores. Dessa forma, percebe-se que o processo de
enfermagem em saúde ocupacional é complexo e que a implementação desse modelo
metodológico é um desafio, pois exige conhecimento científico específico acerca do cuidar
em enfermagem.
É possível afirmar após esta pesquisa que, como especialidade, a enfermagem ocupacional
busca aprofundar, desenvolver e ampliar conhecimentos junto à área de saúde do trabalhador.
Neste contexto, o processo de enfermagem é um instrumento eficaz no sentido de organizar a
assistência e documentar a prática.
A literatura consultada e analisada mostra que é necessário registrar as etapas do processo de
enfermagem em prontuário, visto que é a única prova de que o trabalhador foi monitorado e
assistido pela enfermagem. Além disso, fornece dados para o planejamento da assistência de
enfermagem a curto, médio e longo prazos e pode ser utilizado como fonte de pesquisa e
avaliação do atendimento prestado ao trabalhador.
Por fim, este estudo conclui que o processo de enfermagem, por ser um método holístico,
pode ser aplicado individualmente ou a grupo de trabalhadores, e é uma forma eficaz de
promover a saúde e prevenir acidentes e doenças ocupacionais. Assim, é necessário que as
organizações nas quais o enfermeiro do trabalho atua continuem investindo na formação
continuada desse profissional.
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