atendimento pré-hospitalar - apmpiracicaba.com.br · gama de equipamentos que podem ser usados...

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16 ARTIGO APM - Regional Piracicaba - Abril 2016 Com certeza grande parte dos pacientes, principalmente os que “nasceram há mais tempo”, entre os quais me incluo, se lembra daquele profissional que há qualquer hora do dia ou da noite, vinha com a sua maleta, ge- ralmente com formato meio arredondado, que tinha o material necessário para uma consul- ta médica, a saber o esfigmomanômetro, es- tetoscópio, termômetro, abaixador de língua etc. Geralmente tinha até tempo, para além da consulta propriamente dita, tomar um cafezi- nho que habitualmente a família até deixava preparado para o Dr. O médico fazia a recei- ta e nos casos em que havia necessidade de medicação injetável, a família acionava o far- macêutico para aviar a receita e muitas vezes medicar o paciente em casa. Esta situação, com o avanço da vida moderna, foi se tor- nando cada vez mais rara, principalmente nas maiores cidades, pois freqüentemente o tem- po dispendido para deslocamento no trânsito ficou muito maior, tornando esta prática que era tão salutar na relação médico-paciente, cada vez mais difícil. Além disto em algumas situações esta ida do médico à casa do pacien- te acabava exteriorizando outra questão muito séria, por exemplo nas situações em que ha- via necessidade urgente de levar o paciente ao hospital.Como transportar o mesmo? A cada caso que ocorria, se adotavam soluções diferentes, sempre sendo situações extrema- mente estressantes para todos os envolvidos, e muitas vezes o médico se via obrigado a transportar o paciente em situação grave no seu próprio automóvel. Para suprir esta lacu- na foram surgindo ao longo do tempo, tanto no Brasil como fora, serviços de ambulâncias tanto públicos como privados exclusivamente “para transporte dos paciente”, algumas vezes somente com motorista, o que gerava trans- torno para a família, médico e motorista. Em 2002, o Ministério da Saúde publicou a Portaria 2048, que regulamentava e hierar- quizava, o atendimento ás urgências e emer- gências no país, organizando assim tanto o serviço de atendimento médico de urgência fixo como móvel, público e privado. Como dissemos acima o serviço móvel de atendi- mento móvel tanto público como privados já existia, e seguindo o exemplo dos países mais desenvolvidos, ganhou no Brasil um impulso maior. O importante é de que o conceito passou gradativamente a mudar, e no lugar da palavra TRANSPORTAR passou a se usar a palavra ATENDER, isto é as pessoas passaram a en- tender que a ambulância não trata, e que mui- tas vezes era necessário estabilizar o paciente em casa para poder levar ao Hospital e que existiam várias situações em que o paciente que necessitava atendimento em casa pode- ria eventualmente resolver o evento agudo à nível domiciliar, evitando-se assim a ida ao Atendimento pré-hospitalar - avanços tecnológicos Pronto Atendimento por exemplo no caso de uma cólica renal e outras situações em que a situação ás vezes poderia ser resolvida em casa, e posteriormente o paciente poderia pro- curar o seu médico para confirmação diagnós- tica e terapêutica definitiva. Para que o atendimento pré-hospitalar seja realmente efetivo necessita de um trabalho em equipe, mas uma equipe habitualmente composta de 2 ou 3 profissionais necessitando uma interação e treinamento adequados para que se consiga agilidade e resolutividade. Logicamente o avanço tecnológico colabo- rou muito com os resultados principalmente a partir do desenvolvimento dos protoco- los do Advanced Cardiology Life Support (ACLS®), que além de terem sido úteis para uniformizar as condutas, estimularam o aper- feiçoamento dos desfibriladores que quando permitiram a monitorização pelas pás sig- nificaram já um grande avanço, permitindo rapidamente sabermos se o paciente tinha um ritmo chocável, até os dias atuais quando te- mos os modernos desfibriladores externos au- tomáticos (DEA) bifásicos e já cardioversores manuais que fazem leitura da resistência da parede torácica, liberando para o miocárdio a carga exata de energia gerada no aparelho. Em relação ao tratamento da vias aéreas e ventilação, o aparecimento das máscaras de nebulização com reservatório de oxigênio, propiciam uma fração de oxigênio inspirado de quase 100%, além dos dispositivos bolsa- -máscara-válvula, também com reservatório de oxigênio, propiciando a administração de altas frações de oxigênio, e as vias aéreas su- pra glóticas( para os casos de intubação mais difícil) aumentando a segurança do atendi- mento. Em relação ao transporte propriamente dito, há os respiradores de transporte atuais, que tem turbina interna, permitindo que se ventile o paciente com ar ambiente, e que associados a misturadores de oxigênio con- fiáveis, permitem que se faça um transporte mais seguro, mesmo nos pacientes mais gra- ves, pois havendo baixo consumo de oxigênio a autonomia passa a ser maior, o que não era possível há até poucos anos atrás, além de respiradores homologados ao mesmo tempo para uso em pacientes adultos, pediátricos e neonatos. A oximetria de pulso se tornou realmente o quinto sinal vital, e a diminuição do tamanho dos oxímetros facilitou o seu uso. Além do oxímetro, o capnógrafo passou a fazer parte do protocolo principalmente para pacientes intubados, com lesões neurológicas agudas graves. Além disto os inversores de bateria mais modernos, aumentam muito a gama de equipamentos que podem ser usados numa ambulância. Mas a tecnologia veio para ajudar e não para substituir os profissionais, tanto da equi- pe do atendimento pré-hospitalar, intra hospi- talar e muito menos o médico do paciente no seu consultório ou em consultas eletivas na casa do paciente. O atendimento pré-hospitalar é conside- rado “um dos elos” na cadeia de sobrevivên- cia. Os colegas cardiologistas e neurologistas principalmente, desde o advento do tratamen- to trombolítico e mais atualmente fibrinolíti- co, para os infartos agudos do miocárdio ou cerebrais, orientam seus pacientes a ligar para o serviço de atendimento pré-hospitalar, aos primeiros sinais destas emergências, ao invés de ligarem para eles mesmos, com intuito de se ganhar tempo. Freqüentemente e cada vez mais o serviço de atendimento pré-hospitalar, é corretamente acionado para dar suporte a colegas que, estando no seu consultório, aten- dem a pacientes que apresentam alterações agudas que demandarão uso de medicação injetável e posterior encaminhamento para unidade hospitalar para continuidade do aten- dimento. Em resumo, o atendimento pré-hospitalar graça à revolução tecnológica, que está em franca ebulição, conseguiu aumentar muito a sua efetividade para estabilização princi- palmente dos pacientes com urgências clíni- cas, pois no trauma principalmente, o lema é ainda imobilização adequada e transporte rápido. Como já foi acima colocado o serviço pré-hospitalar, é só um dos elos da cadeia de sobrevivência e como conclusão final gos- taria de enfatizar que não há tecnologia que possa substituir o carinho e a confiança que só o médico do paciente pode transmitir para este e sua família. Dr. Cesar Vanderlei Carmona Especialista em Cirurgia Geral – CBC Especialista em Medicina Intensiva- AMIB CRM 33028 Foto Arquivo Pessoal

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ARTIGO

APM - Regional Piracicaba - Abril 2016

Com certeza grande parte dos pacientes, principalmente os que “nasceram há mais tempo”, entre os quais me incluo, se lembra daquele profissional que há qualquer hora do dia ou da noite, vinha com a sua maleta, ge-ralmente com formato meio arredondado, que tinha o material necessário para uma consul-ta médica, a saber o esfigmomanômetro, es-tetoscópio, termômetro, abaixador de língua etc. Geralmente tinha até tempo, para além da consulta propriamente dita, tomar um cafezi-nho que habitualmente a família até deixava preparado para o Dr. O médico fazia a recei-ta e nos casos em que havia necessidade de medicação injetável, a família acionava o far-macêutico para aviar a receita e muitas vezes medicar o paciente em casa. Esta situação, com o avanço da vida moderna, foi se tor-nando cada vez mais rara, principalmente nas maiores cidades, pois freqüentemente o tem-po dispendido para deslocamento no trânsito ficou muito maior, tornando esta prática que era tão salutar na relação médico-paciente, cada vez mais difícil. Além disto em algumas situações esta ida do médico à casa do pacien-te acabava exteriorizando outra questão muito séria, por exemplo nas situações em que ha-via necessidade urgente de levar o paciente ao hospital.Como transportar o mesmo? A cada caso que ocorria, se adotavam soluções diferentes, sempre sendo situações extrema-mente estressantes para todos os envolvidos, e muitas vezes o médico se via obrigado a transportar o paciente em situação grave no seu próprio automóvel. Para suprir esta lacu-na foram surgindo ao longo do tempo, tanto no Brasil como fora, serviços de ambulâncias tanto públicos como privados exclusivamente “para transporte dos paciente”, algumas vezes somente com motorista, o que gerava trans-torno para a família, médico e motorista.

Em 2002, o Ministério da Saúde publicou a Portaria 2048, que regulamentava e hierar-quizava, o atendimento ás urgências e emer-gências no país, organizando assim tanto o serviço de atendimento médico de urgência fixo como móvel, público e privado. Como dissemos acima o serviço móvel de atendi-mento móvel tanto público como privados já existia, e seguindo o exemplo dos países mais desenvolvidos, ganhou no Brasil um impulso maior.

O importante é de que o conceito passou gradativamente a mudar, e no lugar da palavra TRANSPORTAR passou a se usar a palavra ATENDER, isto é as pessoas passaram a en-tender que a ambulância não trata, e que mui-tas vezes era necessário estabilizar o paciente em casa para poder levar ao Hospital e que existiam várias situações em que o paciente que necessitava atendimento em casa pode-ria eventualmente resolver o evento agudo à nível domiciliar, evitando-se assim a ida ao

Atendimento pré-hospitalar - avanços tecnológicos

Pronto Atendimento por exemplo no caso de uma cólica renal e outras situações em que a situação ás vezes poderia ser resolvida em casa, e posteriormente o paciente poderia pro-curar o seu médico para confirmação diagnós-tica e terapêutica definitiva.

Para que o atendimento pré-hospitalar seja realmente efetivo necessita de um trabalho em equipe, mas uma equipe habitualmente composta de 2 ou 3 profissionais necessitando uma interação e treinamento adequados para que se consiga agilidade e resolutividade. Logicamente o avanço tecnológico colabo-rou muito com os resultados principalmente a partir do desenvolvimento dos protoco-los do Advanced Cardiology Life Support (ACLS®), que além de terem sido úteis para uniformizar as condutas, estimularam o aper-feiçoamento dos desfibriladores que quando permitiram a monitorização pelas pás sig-nificaram já um grande avanço, permitindo rapidamente sabermos se o paciente tinha um ritmo chocável, até os dias atuais quando te-mos os modernos desfibriladores externos au-tomáticos (DEA) bifásicos e já cardioversores manuais que fazem leitura da resistência da parede torácica, liberando para o miocárdio a carga exata de energia gerada no aparelho. Em relação ao tratamento da vias aéreas e ventilação, o aparecimento das máscaras de nebulização com reservatório de oxigênio, propiciam uma fração de oxigênio inspirado de quase 100%, além dos dispositivos bolsa--máscara-válvula, também com reservatório de oxigênio, propiciando a administração de altas frações de oxigênio, e as vias aéreas su-pra glóticas( para os casos de intubação mais difícil) aumentando a segurança do atendi-mento.

Em relação ao transporte propriamente dito, há os respiradores de transporte atuais, que tem turbina interna, permitindo que se ventile o paciente com ar ambiente, e que associados a misturadores de oxigênio con-fiáveis, permitem que se faça um transporte mais seguro, mesmo nos pacientes mais gra-ves, pois havendo baixo consumo de oxigênio a autonomia passa a ser maior, o que não era possível há até poucos anos atrás, além de respiradores homologados ao mesmo tempo para uso em pacientes adultos, pediátricos e neonatos. A oximetria de pulso se tornou realmente o quinto sinal vital, e a diminuição do tamanho dos oxímetros facilitou o seu uso. Além do oxímetro, o capnógrafo passou a fazer parte do protocolo principalmente para pacientes intubados, com lesões neurológicas agudas graves. Além disto os inversores de bateria mais modernos, aumentam muito a gama de equipamentos que podem ser usados numa ambulância.

Mas a tecnologia veio para ajudar e não para substituir os profissionais, tanto da equi-

pe do atendimento pré-hospitalar, intra hospi-talar e muito menos o médico do paciente no seu consultório ou em consultas eletivas na casa do paciente.

O atendimento pré-hospitalar é conside-rado “um dos elos” na cadeia de sobrevivên-cia. Os colegas cardiologistas e neurologistas principalmente, desde o advento do tratamen-to trombolítico e mais atualmente fibrinolíti-co, para os infartos agudos do miocárdio ou cerebrais, orientam seus pacientes a ligar para o serviço de atendimento pré-hospitalar, aos primeiros sinais destas emergências, ao invés de ligarem para eles mesmos, com intuito de se ganhar tempo. Freqüentemente e cada vez mais o serviço de atendimento pré-hospitalar, é corretamente acionado para dar suporte a colegas que, estando no seu consultório, aten-dem a pacientes que apresentam alterações agudas que demandarão uso de medicação injetável e posterior encaminhamento para unidade hospitalar para continuidade do aten-dimento.

Em resumo, o atendimento pré-hospitalar graça à revolução tecnológica, que está em franca ebulição, conseguiu aumentar muito a sua efetividade para estabilização princi-palmente dos pacientes com urgências clíni-cas, pois no trauma principalmente, o lema é ainda imobilização adequada e transporte rápido. Como já foi acima colocado o serviço pré-hospitalar, é só um dos elos da cadeia de sobrevivência e como conclusão final gos-taria de enfatizar que não há tecnologia que possa substituir o carinho e a confiança que só o médico do paciente pode transmitir para este e sua família.

Dr. Cesar Vanderlei CarmonaEspecialista em Cirurgia Geral – CBCEspecialista em Medicina Intensiva-

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