atençao farmaceutico para o uso racional de antimicobrianos

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PEC- CFF Apoio Conecte-se A seguir, apresenta-se o projeto de atualização do Programa de Educação Continuada Conselho Federal de Farmácia (PEC-CFF) executado por meio do sistema E-learning para estudo. Realizado pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) em parceria com a Revista K@iros e apoio da Boehringer Ingelheim, durante todo o ano de 2013. Desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP), o curso traz informações atuais e essenciais para os farmacêuticos se conectarem aos últimos acontecimentos em sua área de atuação. Será publicado mensalmente, on-line, o material sobre o tema Atenção Farmacêutica e o Uso Racional de Medicamentos que terá como finalização de cada módulo um questionário em que cada pergunta respondida corretamente contará pontos para que a certificação do Programa seja realizada na conclusão do curso. Além disso, os textos também estarão disponíveis impressos, todos os meses na Revista Farmacêutica K@iros. Participe do E-learning PEC-CFF e mantenha-se atualizado! Acesse: www.peccff.com.br PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA N º 12 3 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA 2013 3 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA INTRODUÇÃO Os primeiros antibióticos foram descobertos na metade do sé- culo XX e desde então ocorreu uma dramática queda na mortalidade causada por doenças infecciosas. Todavia, a partir de 1980, poucos antibióticos foram introduzidos na clínica, como também diminuiu muito a pesquisa de novos compostos nesta área, ocasionando um gradual aumento na mortalidade decorrente de infecções resistentes aos antibióticos em uso. A associação entre o uso de antibióticos e o desenvolvimento de resistência bacteriana tem sido observada após a introdução de várias classes farmacológicas demonstrando a enorme capacidade de adap- tação dos microrganismos a estes agentes. Estudos têm demonstrado que a ocorrência de resistência bacte- riana tem ocorrido com grande intensidade em ambientes hospitalares e também com microrganismos presentes na comunidade. Isto tem causado dificuldades no tratamento tanto de pacientes graves inter- nados como também entre pacientes acometidos por morbidades de alta prevalência comunitária como infecções urinárias, respiratórias e do trato digestório. Este fenômeno parece estar relacionado ao enorme aumento nas prescrições e no consumo de antimicrobianos utilizados para o tratamento destas morbidades nos últimos anos. USOS INCORRETOS DE ANTIBACTERIANOS De acordo com uma publicação da Organização Mundial da Saúde de 2010, mais de 50% dos medicamentos utilizados, não tem sido corretamente prescritos, dispensados e utilizados. Esta situação é ainda mais grave em países em desenvolvimento, em que menos de 40% dos pacientes atendidos no serviço público, são tratados de acordo com protocolos clínicos adequados. Vários fatores têm contribuído para a prescrição irracional de anti- bióticos e entre eles destacam-se: polifarmácia; abuso de injeções; prescrição em desacordo com protocolos clínicos adequados; automedicação. ATENÇÃO FARMACÊUTICA PARA O USO RACIONAL DE ANTIBACTERIANOS Entre alguns exemplos desta irracionalidade praticada em países em desenvolvimento destacam-se: menos de 60% das crianças com diarreia aguda recebem terapia de hidratação oral, ao passo que mais de 40% destas crianças são tratadas de forma desnecessária com antibióticos; somente 50% dos indivíduos acometidos de malária recebem medi- camentos antimaláricos recomendados; mais de 60% das pessoas com infecções virais das vias respiratórias superiores recebem inapropriadamente antibióticos. As situações mais comuns em que ocorre uso de antibióticos de forma irracional são febre, dor de garganta e diarreia, pois estas manifestações clínicas, via de regra, resultam de infecções virais, e os antibióticos não atuam na erradicação de vírus. O uso de antibió- ticos em infecções não bacterianas resulta somente na destruição de algumas bactérias sensíveis, mas por outro lado provoca uma seletiva proliferação de bactérias resistentes. As consequências deste uso irracional em cada situação particular são: - febre: é uma manifestação inespecífica de centenas de doenças infecciosas e não infecciosas, e os antibióticos não tem nenhuma utili- dade na reversão da febre decorrente de causas não bacterianas. O uso de antibióticos nesta situação pode causar além do custo desnecessário, efeitos adversos, desenvolvimento de resistência bacteriana e também mascarar os sinais da infecção prejudicando seu diagnóstico correto. O

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USO RACIONAL DE MEDICAMENTO

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  • PEC-CFFApoio

    Conecte-se

    A seguir, apresenta-se o projeto de atualizao do Programa de Educao

    Continuada Conselho Federal de Farmcia (PEC-CFF) executado por meio do

    sistema E-learning para estudo.

    Realizado pelo Conselho Federal de Farmcia (CFF) em parceria com a Revista

    K@iros e apoio da Boehringer Ingelheim, durante todo o ano de 2013.

    Desenvolvido pela Universidade de So Paulo (USP), o curso traz informaes

    atuais e essenciais para os farmacuticos se conectarem aos ltimos

    acontecimentos em sua rea de atuao.

    Ser publicado mensalmente, on-line, o material sobre o tema Ateno

    Farmacutica e o Uso Racional de Medicamentos que ter como finalizao de

    cada mdulo um questionrio em que cada pergunta respondida corretamente

    contar pontos para que a cer tificao do Programa seja realizada na

    concluso do curso.

    Alm disso, os textos tambm estaro disponveis impressos, todos os meses

    na Revista Farmacutica K@iros.

    Participe do E-learning PEC-CFF e mantenha-se atualizado!

    Acesse: www.peccff.com.br

    PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADACONSELHO FEDERAL DE FARMCIA N 12

    3 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA

    2013

    3PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA

    INTRODUO

    Os primeiros antibiticos foram descobertos na metade do s-culo XX e desde ento ocorreu uma dramtica queda na mortalidade causada por doenas infecciosas. Todavia, a partir de 1980, poucos antibiticos foram introduzidos na clnica, como tambm diminuiu muito a pesquisa de novos compostos nesta rea, ocasionando um gradual aumento na mortalidade decorrente de infeces resistentes aos antibiticos em uso.

    A associao entre o uso de antibiticos e o desenvolvimento de resistncia bacteriana tem sido observada aps a introduo de vrias classes farmacolgicas demonstrando a enorme capacidade de adap-tao dos microrganismos a estes agentes.

    Estudos tm demonstrado que a ocorrncia de resistncia bacte-

    riana tem ocorrido com grande intensidade em ambientes hospitalares e tambm com microrganismos presentes na comunidade. Isto tem causado dificuldades no tratamento tanto de pacientes graves inter-nados como tambm entre pacientes acometidos por morbidades de alta prevalncia comunitria como infeces urinrias, respiratrias e do trato digestrio. Este fenmeno parece estar relacionado ao enorme aumento nas prescries e no consumo de antimicrobianos utilizados para o tratamento destas morbidades nos ltimos anos.

    USOS INCORRETOS DE ANTIBACTERIANOS

    De acordo com uma publicao da Organizao Mundial da Sade de 2010, mais de 50% dos medicamentos utilizados, no tem sido corretamente prescritos, dispensados e utilizados. Esta situao ainda mais grave em pases em desenvolvimento, em que menos de 40% dos pacientes atendidos no servio pblico, so tratados de acordo com protocolos clnicos adequados.

    Vrios fatores tm contribudo para a prescrio irracional de anti-biticos e entre eles destacam-se: polifarmcia;abuso de injees;prescrio em desacordo com protocolos clnicos adequados;automedicao.

    ATENO FARMACUTICA PARA O USO RACIONAL DE ANTIBACTERIANOS

    Entre alguns exemplos desta irracionalidade praticada em pases em desenvolvimento destacam-se:menos de 60% das crianas com diarreia aguda recebem terapia

    de hidratao oral, ao passo que mais de 40% destas crianas so tratadas de forma desnecessria com antibiticos;

    somente 50% dos indivduos acometidos de malria recebem medi-camentos antimalricos recomendados;

    mais de 60% das pessoas com infeces virais das vias respiratrias superiores recebem inapropriadamente antibiticos.

    As situaes mais comuns em que ocorre uso de antibiticos de forma irracional so febre, dor de garganta e diarreia, pois estas manifestaes clnicas, via de regra, resultam de infeces virais, e os antibiticos no atuam na erradicao de vrus. O uso de antibi-ticos em infeces no bacterianas resulta somente na destruio de algumas bactrias sensveis, mas por outro lado provoca uma seletiva proliferao de bactrias resistentes.

    As consequncias deste uso irracional em cada situao particular so:

    - febre: uma manifestao inespecfica de centenas de doenas infecciosas e no infecciosas, e os antibiticos no tem nenhuma utili-dade na reverso da febre decorrente de causas no bacterianas. O uso de antibiticos nesta situao pode causar alm do custo desnecessrio, efeitos adversos, desenvolvimento de resistncia bacteriana e tambm mascarar os sinais da infeco prejudicando seu diagnstico correto. O

  • 4 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA4 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA4 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA4 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA

    PRINCIPAIS FATORES RESPONSVEIS PELA OCORRNCIA DE RESISTNCIA AOS ANTIBACTERIANOS

    Segundo a OMS os antibacterianos so utilizados em excesso, em indicaes equivocadas, na dosagem errada e por perodos de tempo insu-ficientes, tanto em pases em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos. O grande aumento de populaes de alto risco, como os imunodeprimidos, e o aumento na sobrevida de pacientes crnicos tm ampliado o problema.

    Principais fatores responsveis pela ocorrncia de resistncia aos

    antibacterianos.

    1- O frmaco no atinge o local de ao por:

    a) mutaes ou perda de porinas (canais proteicos) que ocorrem nas membranas de bactrias Gram-negativas impedindo a passagem do frmaco at o interior da bactria (por exemplo, alterao nas porinas especficas da membrana celular da Pseudomonas aeruginosa impede a passagem do imipenm;

    b) mutaes alterando o transportador (por exemplo, nos enterococos os aminoglicosdeos no conseguem chegar at o ribossomo bacteriano por ao das transferases bacterianas);

    c) presena de bombas de efluxo (transportadores) que levam os frmacos para fora das clulas bacterianas (por exemplo, transporte de cloranfenicol, tetraciclina, fluoroquinolonas e -lactmicos).

    2- O frmaco se tornou inativo para esta bactria por:

    a) destruio do frmaco por sntese de enzimas bacterianas (por exemplo, -lactmicos desativados por -lactamases);

    b) modificao do local de ao (por exemplo, baixa sensibilidade do receptor bacteriano codificado pelo gene mecA do estafilococos na inte-rao com meticilina e penicilinas penicilinase resistentes);

    c) mutao gnica alterando sntese proteica na linhagem bacteriana (por exemplo, mutaes no gene RRS que codifica a sntese do fragmento 16S do RNA ribossmico da M. tuberculosis altera ligao da estreptomicina neste local).

    3- O alvo foi alterado por:

    a) formao de uma protena de baixa afinidade de ligao (por exemplo, estafilococos altera seu stio de ligao com a penicilina);

    b) mutaes do alvo natural (por exemplo, alterao da DNA girase e topoisomerase IV) alvo das fluoroquinolonas).

    c) alteraes no stio receptor (alvo) da poro 50S do ribossoma (por exemplo, macroldios).

    As mutaes podem ser transferidas para as prximas geraes (des-cendentes) atravs da chamada transferncia vertical. Podem tambm se-rem transferidas horizontalmente para outras espcies (por transformao, transduo ou conjugao).

    UTILIZAO ADEQUADA DE ANTIMICROBIANOS

    Os antibiticos se constituem em uma arma poderosa para o combate de infeces e no podemos perd-la. Necessitamos, portanto restringir seu uso para as seguintes situaes clnicas.

    Terapia emprica: indicada em situaes crticas em que o tempo necessrio para isolamento e identificao do agente infectante for relativamente longo, e existir fortes indicativos da possibilidade de uma infeco bacteriana. Na presena de sepses, choque, leucocitose

    tratamento emprico com antibiticos deve ser reservado para situaes de emergncia, como veremos a seguir;

    Febre

    - dor de garganta: provavelmente a doena mais comum em que o antibitico utilizado irracionalmente, pois em noventa por cento dos casos a cura ocorre espontaneamente. Especialistas europeus consulta-dos afirmaram que a febre em pacientes com amigdalite desaparece em dois ou trs dias espontaneamente, mesmo que exames de cultura sejam capazes de detectar a presena de estreptococos em 10% dos casos;

    - diarreia: uma condio em que os antibiticos so prescritos exageradamente. Embora existam vrias razes para a ocorrncia de diarreia, tanto infecciosas como no infecciosas, o fato que a maioria autolimitada e requer somente hidratao do paciente. Em situaes duvidosas aconselha-se o exame de fezes para o diagnstico preciso antes da medicao. A presena de leuccitos polimorfos nucleares sugere infeco por Salmonella, Shigella, E. coli e E. histolytica. Pa-cientes com febre alta, diarreia sanguinolenta, toxicidade sistmica, prtese vascular ou cardaca, anemia, idosos e imunodeprimidos so candidatos a antibioticoterapia.

    Quando parece existir uma relao direta entre o uso exagerado de antimicrobianos e o aumento observado nas taxas de resistncia bacte-riana, a reduo do seu consumo deve trazer um impacto positivo sobre a diminuio da resistncia aos mais recentes antibiticos do mercado.

  • 5PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA 5PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA

    neutrfila, pacientes idosos e imunossuprimidos, justifica-se a escolha de antibiticos de largo espectro de acordo com o provvel diagnstico clnico estabelecido.

    Terapia profiltica: deve ser administrada para pacientes suscetveis na preveno de infeces especficas que possam causar efeitos de-letrios definitivos. Nestes casos se incluem profilaxia antituberculose, antirreumtica, antiendocardite, antimeningite, em procedimentos m-dicos invasivos e outras situaes de risco. Nessas situaes deve-se optar por antibiticos de espectro estreito e o mais especfico possvel.

    Terapia definitiva: deve ser utilizada para uma infeco bacteriana comprovada, aps confirmao do agente infectante por testes de co-lorao de secrees, fluidos e exsudatos, cultura e testes sorolgicos e outros testes quando necessrios. A escolha do antibacteriano deve recair sobre o de menor espectro, menor toxicidade, menor custo e de mais fcil administrao.

    Existem atualmente mais de 100 antimicrobianos disponveis, cada qual com seu espectro de atividade, forma farmacutica, perfil de efeitos adversos e custo, permitindo ao prescritor uma escolha que obtenha o melhor resultado teraputico com os menores efeitos adversos e ao menor custo. Os seguintes critrios gerais devem ser considerados na prescrio de agentes antibacterianos:

    1- tipo de infeco; 2- local da infeco;3- gravidade da infeco;4- sensibilidade bacteriana; 5- origem da infeco;6- fatores do hospedeiro;7- fatores relacionados ao frmaco;8- vias de administrao;9- dose, frequncia e durao;10- utilizao de parmetros farmacocinticos/farmacodinmicos

    (PK/PD) para a escolha da posologia adequada.

    1- Tipo de infeco: as infeces podem ser localizadas ou difusas; simples ou graves; superficiais ou profundas; agudas, subagudas ou crnicas; extracelulares ou intracelulares. Assim para infeces difusas, graves, profundas, crnicas e intracelulares, os tratamentos devem se constituir de doses maiores e mais frequentes, de longa durao, preferencialmente com associao de frmacos lipoflicos.

    2- Local da infeco: infeces do trato respiratrio superior como faringite, amigdalite, sinusite, otite, epiglotite, e infeces do trato respi-ratrio inferior como bronquite, pneumonia, abcesso pulmonar quando no virais so comumente causadas por Streptococcus pyogenes, S. pneumoniae, H. influenzae etc. e podem ser tratados com penicilinas, cefalosporinas, e macroldios.

    Infeces no trato urinrio, infeces plvicas e intra-abdominais causadas principalmente por E. coli, Klebsiella, Proteus e Pseudomo-nas so tratadas com aminoglicosdeos, quinolonas, cefalosporinas de terceira gerao e metronidazol.

    Alguns locais de difcil acesso tornam algumas infeces de difcil tratamento como meningite (presena da barreira hematoenceflica), prostatite crnica (presena de capilares no fenestrados), infeces intraoculares (presena de capilares no fenestrados) abscesso (ocor-rncia no local de pH cido e enzimas hidrolticas) e doenas cardacas

    (local de difcil acesso). Nestes casos altas doses, administraes mais frequentes, longa durao, associao de antibiticos lipoflicos devem ser utilizados.

    3- Gravidade da infeco: bacteriemia; sepses; abcesso nos pulmes, corao, fgado, plvis e abdome; meningite; endocardite; pielonefrite; pneumonia; infeces graves nos tecidos moles; gangrena e infeces hospitalares, podem ser extremamente graves e fatais.

    Nestas situaes a absoro, distribuio, metabolismo e excreo do frmaco podem estar alteradas em consequncia de hipxia tecidual, perfuso heptica e renal, absoro intestinal e fatores hemodinmi-cos. Nestes casos ocorre tambm a possibilidade de infeces por mltiplos organismos, resistentes, tornando difcil a escolha do agente anti-infeccioso. Assim, deve-se fazer um esforo para a identificao e isolamento do(s) microrganismo(s) presente(s).

    Durante o tratamento, frmacos devem ser sempre administrados por via endovenosa para garantir concentraes sanguneas adequadas. Antimicrobianos bactericidas devem ser prescritos para assegurar uma rpida eliminao da infeco. Deve-se optar por altas e frequentes doses de frmacos de amplo espectro eficazes contra Staphylococcus, Pseudomonas e anaerbicas resistentes, por exemplo, associaes entre penicilinas, cefalosporinas de terceira gerao, aminoglicosdeos e metronidazol, e tambm no caso de bactrias meticilina-resistentes optar pela vancomicina.

    SEPSE

    Bactria

    A sepse uma infeco generalizada grave

    SIRS(Sndrome de respostainflamatria sistmica)

    >38 ou 90FR >20PaCO2 10%imaturos

    4- Sensibilidade bacteriana: o tratamento ideal das infeces bacterianas requer o estudo do agente infectante por meio da cultura e testes de sensibilidade. Assim, se a situao clnica permitir, o tratamento farmacolgico s deveria se iniciar aps obteno destes resultados, optando pelo produto de espectro estreito, menos txico, fcil de administrar e de menor custo.

    Cultura e antibiograma

  • 6 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA6 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA6 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA6 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA

    5- Origem da infeco: infeces adquiridas na comunidade so pouco resistentes, enquanto que aquelas adquiridas no ambiente hos-pitalar geralmente so resistentes e de difcil tratamento.

    Infecescomunitrias

    Infeceshospitalares

    VS

    6- Fatores do hospedeiro: a idade do paciente, seu estado imunol-gico, a gestao e a lactao, assim como condies associadas como insuficincia renal, insuficincia heptica, epilepsia e outras condies devem ser consideradas quando da escolha do antibacteriano. Vejamos alguns exemplos de frmacos a serem evitados:

    Fator idade

    - Recm-nascidos e infantes: cloranfenicol e sulfas podem causar respectivamente a sndrome do beb cinzento e kernicterus.

    - Menores de 8 anos: tetraciclinas podem descolorir os dentes.

    - Menores de 18 anos: fluoroquinolonas podem lesar a cartilagem provocando artropatia.

    - Idosos: aminoglicosdeos podem causar ototoxicidade. A acloridria que ocorre no idoso pode prejudicar a absoro de alguns antibacteria-nos, e o processo de eliminao, em geral, mais lento necessitando de ajuste de dose.

    Fator gestao e amamentao

    - Frmacos com conhecida toxicidade ou segurana no estabelecida, como as tetraciclinas, quinolonas, eritromicina e estreptomicina so contraindicados durante a gestao, enquanto que sulfas, nitrofurantona e cloranfenicol so contraindicados no terceiro trimestre. As penicilinas, cefalosporinas e o etambutol so frmacos seguros durante a gestao. Em nutrizes sulfas, tetraciclina, metronidazol, nitrofurantona e quinolo-nas so contraindicadas.

    A segurana e/ou riscos na utilizao de alguns antibitico durante a gestao esto classificados na Tabela 1:

    Tabela 1- Alguns antibiticos e seus riscos de m-formao ao feto quando utilizados em gestantes. (Segundo Food and Drug Administration-USA).

    Categoria A Categoria B Categoria C Categoria D

    Nistatina-pomada AmoxicilinaTrimetoprima e

    sulfametoxazol Ampicilina Trimetoprima DoxiciclinaDicloxicilina Claritromicina MinociclinaCefalosporina Ciprofloxacino Sulfas (prximo ao termo)Clindamicina RifampicinaAzitromicinaEritromicina

    Fator imunolgico - Pacientes muito idosos, HIV positivos, diabticos, neutropnicos,

    utilizando corticosteroides ou imunossupressores devem somente utilizar antibiticos bactericidas.

    Fator insuficincia renal- As tetraciclinas so totalmente contraindicadas; aminoglicosdeos,

    cefalosporinas, fluoroquinolona e sulfas so parcialmente contraindi-cada; penicilinas, macroldios, vancomicina, metronidazol, etambutol

  • 7PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA 7PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA

    e rifampicina so relativamente seguros. Devem-se evitar associaes de cefalosporinas e aminoglicosdeos nestes pacientes, pois ambos podem causar nefrotoxicidade.

    Fator insuficincia heptica- Cloranfenicol, eritromicina, fluoroquinolonas, pirazinamida, rifampi-

    cina e metronidazol devem ser evitados, enquanto que as penicilinas, ce-falosporinas, etambutol e aminoglicosdeos so considerados seguros.

    7- Fatores relacionados ao frmaco: os principais fatores rela-cionados ao frmaco a serem considerados quando da prescrio a um determinado paciente a possibilidade de ocorrncia de reaes adversas, interaes com outros frmacos, suas propriedade farmaco-cinticas e farmacodinmicas, seu custo e facilidade na sua aplicao.

    8- Vias de administrao: dependem do local, tipo e gravidade

    da infeco e a disponibilidade de um antibitico adequado. As mais frequentes so:

    - oral: a mais fcil e de menor custo por isso a mais indicada, em-bora nem sempre possvel particularmente em pacientes com infeces graves, e na presena de vmitos e outras limitaes. Alguns antibiticos como os aminoglicosdeos e as cefalosporinas de terceira gerao no esto disponveis para esta via de administrao;

    - intramuscular: a absoro geralmente errtica devendo se res-tringir para administraes de procana e benzatina e ocasionalmente para ceftriaxona;

    - intravenosa: a mais indicada para infeces graves e profundas, pois assegura nveis sricos adequados, embora alguns frmacos no

    se apresentem disponveis, por exemplo, tetraciclinas.

    9- Dose, frequncia e durao: a dose depende de fatores como idade e peso do paciente, condies associadas como gestao, amamentao, insuficincia heptica ou renal, e gravidade e locali-zao da infeco. Superdosagem somente aumenta a probabilidade de efeitos adversos e aumenta o custo do tratamento, sem benefcios para o paciente.

    O frmaco deve ser administrado de 4 a 5 vezes a meia-vida plas-mtica, para manter concentraes adequadas durante as 24 horas. Por exemplo, as penicilinas semissintticas como a amoxicilina possuem t de 1,5 h portanto os intervalos mximos a serem utilizados na prtica clnica de 6 horas (4 x 1,5 horas). A durao do tratamento vai depender da gravidade da infeco e as caractersticas farmacocinticas e farmacodinmicas (PK/PD) do antimicrobiano.

    A utilizao adequada de antimicrobianos passa tambm pela ten-tativa de estabelecer esquemas mais curtos de tratamento. O princpio do prazo mnimo eficaz, evidencia-se ser um tratamento seguro e com eficcia comprovada.

    Estudos clnicos com pacientes adultos com pneumonia adquirida na comunidade (PAC) de leve a moderada gravidade tratados com amoxici-lina por 72 horas mostraram resultados similares quando comparados a pacientes do mesmo grupo tratados por 7 dias. Estes resultados foram confirmados quando o mesmo esquema teraputico foi utilizado em uma populao peditrica para tratamento de pneumonia.

    Da mesma forma pacientes no gestantes portadoras de cistite cau-sada por E. coli tratadas por 3 dias com antibacterianos apresentaram resultados positivos.

    10- Utilizao de parmetros farmacocinticos/farmacodinmicos (PK/PD) para a escolha da posologia adequada: a principal medida da atividade bacteriana a concentrao mnima inibitria (CMI ), que a mnima concentrao de um antibitico que inibe completamente o crescimento de um microrganismo in vitro. Embora a CMI seja um bom indicador da potncia de um antibitico, ele no fornece informaes sobre o tempo de sua atividade.

    Parmetros farmacocinticos (PK) quantificam os nveis sricos relacionados ao perodo de ao dos antibiticos. Neste sentido os trs mais importantes parmetros para avaliao da eficcia de um antibi-tico so: o pico mximo de concentrao srica (Cmx), o seu nvel mnimo (Cmin) e a rea sob a curva (ASC). Embora estes parmetros quantifiquem as concentraes plasmticas em funo do tempo, eles no descrevem a capacidade bactericida de um antibitico.

    Integrando parmetros farmacocinticos (PK) com o MIC obtemos trs parmetros da relao farmacocintica/farmacodinmica (PK/PD), que quantificam a atividade de um antibitico. So eles as relaes Cmx/MIC, T/CMI e a ASC/CMI de 24 horas. A relao Cmx/CMI o pico de concentrao mximo atingido dividido pela concentra-o mnima inibitria. O T>CMI a porcentagem do intervalo de tempo entre as doses em que as concentraes sricas do antibitico esto acima dos valores da CMI. A razo ASC/CMI de 24 horas determinada dividindo a rea sob a curva de 24 horas pela CMI.

    Os trs parmetros farmacodinmicos (PD) dos antibiticos que

    Via oral

    Via intravenosa

    Via intramuscular

  • 8 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA8 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA8 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA8 PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA CONSELHO FEDERAL DE FARMCIA

    melhor descrevem sua atividade bactericida so tempo-dependente, concentrao-dependente e manuteno dos efeitos. A extenso do efeito bactericida determinada pelo tempo necessrio para eliminar as bactrias (tempo-dependente) ou os efeitos decorrentes de um

    Tabela 2 Classificao de alguns antibiticos segundo seus padres de atividade.

    Padro de atividade Antibiticos Objetivo teraputico Parmetro PK/PDI- Concentrao-dependente e efeitos persistentes prolongados

    AminoglicosdeosFluoroquinolonas

    Maximizar a concentrao srica ASC/MIC de 24hCmx/MIC

    II- Tempo-dependente e efeitos persistentes mnimos

    CarbapenensCefalosporinasPenicilinasEritromicina

    Maximizar o tempo de exposioT > MIC

    III- Tempo-dependente e efeitos persistentes moderados

    AzitromicinaClindamicinaOxazolidinonasTetraciclinasVancomicina

    Maximizar a quantidade de frmaco

    CONCLUSES

    O uso racional de antibacterianos objetiva no somente erradicar o agente infectante como tambm evitar a ocorrncia de resistncia bacte-riana. Para tanto, foram descritos alguns procedimentos que devem ser incorporados na conduta diria dos profissionais e da populao em geral.

    Quando o tratamento de pacientes infectados agudamente no produzir melhora clnica em 48 horas, algumas avaliaes devem ser feitas para se rever a conduta adotada, por exemplo:

    reavaliar o diagnstico; reavaliar a escolha do antibacteriano;verificar a possibilidade do antibacteriano no ter atingido o local da

    infeco;verificar a possibilidade de a bactria ser resistente ao antibacteriano;verificar a possibilidade de ocorrncia simultnea de uma infeco

    secundria;verificar se o paciente esta aderindo corretamente ao tratamento.

    Para reverter a situao observada, algumas medidas devem ser tomadas, por exemplo:

    repetir a cultura com nova coleta de material;aumentar a dose do antimicrobiano; alterar a via de administrao do antimicrobiano;utilizar um antibacteriano de largo espectro ou associar dois ou mais

    antibacterianos.

    aumento na concentrao (concentrao-dependente). A manuteno dos efeitos consiste no chamado efeito persistente-prolongado ou efeito ps-antibitico (EPA) em que ocorre uma supresso do cres-cimento bacteriano mesmo aps a ausncia do antibitico (Tabela 2).

    Para os antibiticos de tipo I a posologia ideal deve maximizar a concentrao srica, pois quanto maior a concentrao, mais rpido e intenso o efeito bactericida. Assim, as relaes ASC/CMI e Cmx /CMI so importantes previsores da eficcia e do desenvolvimento de resistncia dos antibiticos. Por exemplo, para os aminoglicosdeos aconselhvel ter um valor Cmx /CMI por volta de 8-10 para obter os resultados teraputicos desejados e prevenir a ocorrncia de resistncia bacteriana. Neste caso a dose diria de gentamicina para atingir esta relao de 7 mg/kg.

    Para os antibiticos de tipo II a posologia ideal deve maximizar a durao da exposio. O T > CMI o melhor parmetro que se relaciona com a eficcia. Para os -lactmicos e para a eritromicina a melhor resposta teraputica ocorre quando o tempo de exposio estiver acima da CMI pelo ao menos durante 70% do intervalo entre as doses.

    Os antibiticos de tipo III tm propriedades mistas sendo tempo--dependentes e com efeitos persistentes moderados. Assim a melhor resposta teraputica se relaciona com a quantidade de frmaco admi-nistrado, e o parmetro ASC/CMI o que melhor se relaciona com a eficcia. Para a vancomicina, por exemplo, a relao ASC/CMI de 24 horas deve ser no mnimo de 125 para obteno dos resultados tera-puticos desejados.

    ASSOCIAO DE ANTIBITICOS OU TERAPIA COMBINADA

    A associao de antibiticos se constitui em uma prtica racional nas seguintes situaes clnicas:

    - Havendo necessidade de se ampliar a cobertura antibacteriana:-lactmico + macroldio-lactmico + glicopeptdio-lactmico + glicopeptdio + aminoglicosdeo- Havendo necessidade de uma ao sinrgica:-lactmico + aminoglicosdeo-lactmico + fluoroquinolona- Na preveno de desenvolvimento de resistncia bacteriana (por

    exemplo, para Staphylococcus aureus):rifampicina + clindamicina + fluoroquinolona

    Prof. Dr. Moacyr Luiz Aizenstein Professor Doutor do Departamento

    de Farmacologia do Instituto de Cincias Biomdicas da

    Universidade de So Paulo Campus Capital.

    Ps-Doc na Universidade da Califrnia (USA) e autor do Livro

    Fundamentos para o Uso Racional de

    Medicamentos editado em 2010 pela Editora Artmed.