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14 OBRIGADO MADIBA ASSIM NASCEU A NOSSA AMIZADE Madiba, Lola e eu, depois do jantar de 12 de Agosto 2000. P odia ter sido uma simples coincidência, interpretada apenas como um dos muitos bons momentos que eu vivi no dia em que foi inaugurada, em Maputo, a nova residência do casal Graça Machel e Nelson Mandela, mas a verdade é que, olhando para trás, acho que foi nesse instante que começou a nossa amizade. Lembro- me de serem dez horas da manhã do dia 12 de Agosto de 2000, um sábado. Por essa altura, andava eu muito atarefado com alguns pormenores da festa que, nesse dia, ali se iria realizar, quando vi Madiba em frente da residência a contemplar as plantas. Passei a uns trinta metros dele. Lembro-me também de o ter cumprimentado à distância, com um aceno de mão, a que ele respondeu, levantando o braço e ostentando o sorriso franco que tão bem o caracteriza. Não trocámos uma única palavra. Eu estava lá a convite de Graça Machel para ajudar a organizar o almoço de apresentação da sua nova casa em Maputo. Mas a ocasião servia também para assinalar os oitenta e dois anos de Mandela, já completados no dia 18 de Julho daquele ano. Que motivo justificava a minha presença num momento tão festivo como solene? É fácil de explicar: Quatro meses antes, os meus primos Lena e Pedro Bule tinham sido convidados para o jantar dos oitenta anos da minha mãe Susana. Para minha surpresa, eles mostraram-se muito agradados pela maneira como o jantar foi organizado e, quando lhes disse que tudo tinha sido feito por nós, ficaram ainda mais impressionados. De forma um tanto ou quanto enigmática, comunicaram-me que muito possivelmente iriam precisar da minha ajuda. Não me deram mais pormenores e eu depressa me esqueci dessa afirmação deles. Passados alguns dias, os meus primos telefonaram-me para me per- guntar se estaria disponível para ir com eles à casa de Olívia Machel, enteada de Graça Machel e filha de Samora Moisés Machel, primeiro Presidente da República de Moçambique, tragicamente desaparecido em 1986. Claro que eu disse que sim. Quando lá chegámos e, logo de- pois das apresentações, compreendi a razão da enigmática afirmação dos meus primos poderem vir a precisar da minha ajuda. A nova casa de Nelson Mandela, em Maputo, estava para ser inaugu- rada. Isso incluiria uma festa para assinalar o evento e eles esperavam que eu aceitasse ser parte do respectivo grupo de organização. Aceitei a proposta que me apresentaram. Nesse sábado, enquanto seguia com o olhar os passos de Madiba – nome pelo qual o povo sul-africano e os seus mais íntimos tratam Nelson Mandela com muito carinho e consideração – recordei todo o processo que me tinha conduzido até àquele momento. Depois do encontro com Olívia Machel, fui convidado para participar num jantar de família em que Graça Machel estava presente. Ela é uma mulher muito inteligente e comunicativa. Reconheceu-me de 1

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OBRIGADO MADIBA

ASSIM NASCEU A NOSSA AMIZADE

Madiba, Lola e eu, depois do jantar de 12 de Agosto 2000.

Podia ter sido uma simples coincidência, interpretada apenas

como um dos muitos bons momentos que eu vivi no dia em que

foi inaugurada, em Maputo, a nova residência do casal Graça

Machel e Nelson Mandela, mas a verdade é que, olhando para trás,

acho que foi nesse instante que começou a nossa amizade. Lembro-

me de serem dez horas da manhã do dia 12 de Agosto de 2000,

um sábado. Por essa altura, andava eu muito atarefado com alguns

pormenores da festa que, nesse dia, ali se iria realizar, quando vi

Madiba em frente da residência a contemplar as plantas. Passei a

uns trinta metros dele. Lembro-me também de o ter cumprimentado

à distância, com um aceno de mão, a que ele respondeu, levantando

o braço e ostentando o sorriso franco que tão bem o caracteriza. Não

trocámos uma única palavra.

Eu estava lá a convite de Graça Machel para ajudar a organizar o

almoço de apresentação da sua nova casa em Maputo. Mas a ocasião

servia também para assinalar os oitenta e dois anos de Mandela, já

completados no dia 18 de Julho daquele ano. Que motivo justificava

a minha presença num momento tão festivo como solene? É fácil de

explicar:

Quatro meses antes, os meus primos Lena e Pedro Bule tinham sido

convidados para o jantar dos oitenta anos da minha mãe Susana. Para

minha surpresa, eles mostraram-se muito agradados pela maneira

como o jantar foi organizado e, quando lhes disse que tudo tinha sido

feito por nós, ficaram ainda mais impressionados. De forma um tanto

ou quanto enigmática, comunicaram-me que muito possivelmente

iriam precisar da minha ajuda. Não me deram mais pormenores e eu

depressa me esqueci dessa afirmação deles.

Passados alguns dias, os meus primos telefonaram-me para me per-

guntar se estaria disponível para ir com eles à casa de Olívia Machel,

enteada de Graça Machel e filha de Samora Moisés Machel, primeiro

Presidente da República de Moçambique, tragicamente desaparecido

em 1986. Claro que eu disse que sim. Quando lá chegámos e, logo de-

pois das apresentações, compreendi a razão da enigmática afirmação

dos meus primos poderem vir a precisar da minha ajuda.

A nova casa de Nelson Mandela, em Maputo, estava para ser inaugu-

rada. Isso incluiria uma festa para assinalar o evento e eles esperavam

que eu aceitasse ser parte do respectivo grupo de organização. Aceitei

a proposta que me apresentaram.

Nesse sábado, enquanto seguia com o olhar os passos de Madiba –

nome pelo qual o povo sul-africano e os seus mais íntimos tratam

Nelson Mandela com muito carinho e consideração – recordei todo o

processo que me tinha conduzido até àquele momento.

Depois do encontro com Olívia Machel, fui convidado para participar

num jantar de família em que Graça Machel estava presente. Ela é

uma mulher muito inteligente e comunicativa. Reconheceu-me de

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Festa dos oitenta anos de Susana Tavares, minha mãe.

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OBRIGADO MADIBA

imediato, mas, com certa surpresa, disse-me que me identificara

sempre pelo nome de Soeiro, enquanto as suas filhas falavam de mim

e da minha mulher, usando as expressões mais familiares de “primo

Bio e prima Lola”. Acrescentou que nunca imaginara que o Soeiro e o

“primo Bio” fossem afinal uma só pessoa.

No dia da inauguração da nova casa, recebi as primeiras tarefas.

Entre elas, fui incumbido de ir ao aeroporto receber os familiares de

Nelson Mandela que chegavam nessa manhã, vindos da África do Sul.

O avião que transportava os seus filhos e netos chegou a Maputo às 10

horas. Tratava-se de um voo especial.

Os familiares foram recebidos numa área privilegiada do aeroporto

destinada a passageiros que desejem serviços especiais de apoio e

comodidades, o Salão CIP. Aí tomaram um pequeno-almoço ligeiro.

Em seguida, foram de autocarro até à Costa do Sol, uma das mais

conhecidas e populares praias de Maputo. Dessa forma ganhava-se

tempo para os últimos arranjos na casa a inaugurar. A ida à praia

daria igualmente para se acabar de preparar o almoço para os muito

ilustres convidados que se esperavam.

Quando os familiares finalmente chegaram à nova casa, foram todos

cumprimentar Madiba. Este recebeu-os com grande afabilidade, mas

mostrou-se particularmente alegre ao ver os seus netos. Mesmo depois

de todos os outros se terem retirado e dispersado pela casa e jardim,

Madiba ficou com os mais pequenos, conversando e brincando com

eles por mais algum tempo. Ouviu com muita atenção e alegria as es-

tórias que eles traziam para lhe contar e os seus progressos escolares,

bem como a recente aventura de terem chegado a Maputo de avião e

terem ido ver o mar e as areias muito brancas da Costa do Sol.

Para que tudo corresse bem na cerimónia de inauguração da casa

e nos festejos do aniversário de Madiba, cada um de nós recebeu

uma tarefa. Eu, por exemplo, fiquei com o protocolo e a minha esposa

Lola com a decoração. A parte mais complexa, que era a logística,

ficou com o Pedro Bule, coadjuvado pelo Gentil Zimba e o António

Andrade, amigos da família, e suas esposas. Este grupo, que incluía

também a Olívia, Ornila, Yolanda, Palma Pinto, esposa Palmira e

outros membros da família Machel, ficaria, a partir daí, unido até

aos dias de hoje. Assim, sempre que acontece qualquer evento

Flagrante dos convidados fugindo da chuva durante a inauguração da casa do casal Nelson Mandela e Graça Machel em Maputo.

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1 ASSIM NASCEU A NOSSA AMIZADE

Madiba, netos, Graça Machel, Presidente Joaquim Chissano, Lola Soeiro e Pedro Bule.

comemorativo da família Machel, o referido grupo está pronto para

prestar todo o apoio necessário.

Momentos antes do almoço, choveu durante uns dez minutos. Como

não era habitual, nessa altura do ano, o facto foi interpretado como

sendo uma bênção africana. Não sei se foi ou não. A verdade é que

a chuva atrasou o início da cerimónia em cerca de meia hora, tendo

provocado alguma correria entre os convidados que procuravam

abrigar-se. Mas também é verdade que a chuva parou completamente

até ao fim da tarde.

Houve uma questão que nos preocupou, a mim e à minha mulher,

nos dias que antecederam esta cerimónia, nós íamos estar presentes

também como convidados e, portanto, o que oferecer a uma figura

tão especial como Nelson Mandela? A Lola sugeriu que se mandasse

fazer um bolo de aniversário muito simples, tendo apenas a caracte-

rística invulgar de ser ornamentado com uma garrafa de champanhe

e dois copos de cristal para serem utilizados pelo casal. Foi isso que

fizemos e foi assim que, na mesa de honra, o bolo idealizado pela

Lola, ocupou um lugar de destaque.

Antes de ser servido o almoço, Madiba cortou uma fatia de bolo

que ofereceu à sua esposa Graça Machel, brindando à felicidade de

todos os convidados presentes. Entre estes estava Joaquim Alberto

Chissano, na altura Presidente da República de Moçambique. Foi

um momento de grande emoção. Mais tarde, o casal fez questão de

agradecer, em breves, mas muito bonitas palavras, o aspecto e a

qualidade do bolo de aniversário. Naturalmente, isto nos deixou muito

satisfeitos, mas também muito aliviados, pois a nossa preocupação à

cerca do presente estava em definitivo ultrapassada.

Depois de se cortar o bolo, falaram Gabriel Simbine, irmão mais velho

de Graça Machel e o então Presidente Joaquim Chissano, bem como

Madiba. Este agradeceu não só a presença de todos, como também

ao Governo de Moçambique por ter disponibilizado o espaço para a

construção da casa num dos locais mais nobres da cidade, nas proxi-

midades da Presidência da República. Com um certo humor, afirmou

que, por isso, viria muitas vezes a Moçambique, não só devido à

casa, mas também pelo protocolo de Estado, que incluía uma viatura

e motas de escolta para serem utilizadas sempre que ele estivesse

em Maputo. Uma revelação feita, nessa intervenção de Madiba, foi

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OBRIGADO MADIBA

Graça Machel, Madiba e Lola Soeiro.

o noivado de Josina Machel, mais conhecida por Jó, filha de Graça e

Samora Machel, com o jovem Luís Florivaldo.

Durante o almoço, serviram-se vários pratos. Como era de esperar,

o que mais agradou foi o camarão e a matapa (o prato tradicional

moçambicano). Tratando-se de uma cerimónia familiar, não poderia

faltar a carne de vaca no espeto, que é uma tradição da família Machel

e a carne de cordeiro, que é uma tradição tanto da família Mandela

como da família Machel.

De repente, senti uma certa tristeza, Por duas razões: uma, por ver

aproximar-se a hora de levar ao aeroporto os familiares de Madiba

pois dizer adeus é sempre triste; a outra porque Madiba estava a tirar

fotografias com os convidados presentes na festa e eu não poderia

participar nessa sessão, visto encontrar-me a trabalhar.

Cerca de duas horas depois, já de volta à residência, quando todos os

convidados se haviam retirado e apenas a família e o grupo que orga-

nizara a festa estavam presentes, a minha esposa segredou-me, com

um grande sorriso, que tinha tido o privilégio de tirar uma fotografia

com Madiba e Graça Machel. Assolou-me um sentimento de inveja

quando me apercebi que tinha perdido essa oportunidade.

Por saber da tarefa que me tinha sido incumbida, Graça Machel fez

questão que ficássemos para o jantar, uma vez que já era noite. Isto

acabou por me proporcionar a tão almejada fotografia com Madiba.

O dia tinha sido pródigo em emoções e nós estávamos todos cansados.

Depois do jantar, limitámo-nos às despedidas.

Saímos dali cientes de termos privado com pessoas que tinham as-

sumido importantes papéis na História do meu país, de África e do

Mundo, e que, apesar disso, tinham sido capazes de se manter afáveis,

cheias de consideração e respeito pelos outros.

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1 ASSIM NASCEU A NOSSA AMIZADE

Foi isto e a recordação dos momentos vividos tão perto de Nelson

Mandela que me levaram a tentar descobrir o significado do nome

Madiba pelo qual, como digo acima, ele é tão carinhosamente tratado.

Esse é um nome reconhecido na sua terra natal, em toda a África do

Sul e pelo mundo fora.

Madiba foi o nome de um heróico chefe Tembu do século XVIII. Na

terra natal da família Mandela, em Qunu, nas montanhas do Transkei,

Madiba significa “Reconciliador”, aquele que se preocupa em juntar

as pessoas. Alguns estudiosos afirmam que Nelson Mandela passou

a ser chamado de Madiba pela sua capacidade de liderança e pelo

papel fundamental que teve não só na libertação do seu país, mas

também no processo de reconciliação nacional na África do Sul.

Nunca lhe perguntei pessoalmente o verdadeiro significado do

nome pelo qual é conhecido. Nelson, como ele próprio escreve na

sua autobiografia, foi o nome que lhe foi dado por uma professora.

Nelson Rolihlahla Mandela, ou simplesmente Madiba, sempre inspi-

rou admiração e respeito entre nós. Ele teve um papel fundamental,

talvez o papel decisivo, no complexo processo político que levou ao

fim do apartheid e à fundação da nova República da África do Sul,

afirmando-se como um dos maiores líderes africanos e do mundo.

O Prémio Nobel da Paz que lhe foi atribuído em 1993, representa

apenas uma das inúmeras distinções que tem merecido. Em 2009, as

Nações Unidas determinaram que a data de 18 de Julho, dia do seu

aniversário, passasse a ser Dia Internacional Nelson Mandela, pelo

seu papel na defesa e promoção da justiça e da dignidade humana.

Não obstante esses reconhecimentos, toda a sua popularidade e

prestígio internacional, Madiba tem uma humildade e simplicidade

de trato que surpreende e cativa todos.

No dia seguinte à inauguração da casa, o nosso grupo foi convidado

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OBRIGADO MADIBA

por Graça Machel com o intuito de se fazer um balanço geral do

acontecimento e sua organização. Não foram poupados elogios ao

nosso trabalho e, mais importante ainda, foi feita a proposta para que

daí em diante as cerimónias públicas da família Machel passassem a

ser organizadas por nós. A proposta foi aceite com entusiasmo. Tem

vindo a ser consolidada não só pelo muito trabalho e experiências em

comum, como também pelos laços de amizade que se têm vindo a

cimentar ao longo destes últimos anos.

*

Apesar de todo o calor humano que nos envolvia, eu estava muito

longe de pensar que me iria encontrar muitas mais vezes com

Madiba. Mas foi isso que aconteceu. E foi assim que nasceu uma

amizade pautada por mútua afeição. Para minha surpresa, os nossos

laços de amizade solidificaram-se de forma muito rápida e continuam

até aos dias de hoje – e isso orgulha-me muito!

Em Outubro desse mesmo ano, fui uma vez mais a Cannes, em França,

a uma feira de operadores de duty free, que incluía áreas como

cosméticos, tabaco e bebidas finas. Ao mostrar a fotografia do bolo

que havíamos oferecido a Madiba ao meu amigo Jean-Christian de la

Chevalerie, da casa de champanhe Laurent Perrier, ele fez questão de

enviar a Madiba, por meu intermédio, duas garrafas de litro e meio do

melhor champanhe da casa como presente de fim-de-ano.

Antes do final do ano, fomos convidados para um almoço privado com

Madiba e Graça Machel em Maputo. Aproveitámos o ensejo para ofe-

recer as duas garrafas de champanhe vindas de França. Madiba fez

questão de tirar uma fotografia com uma dessas garrafas, que enviei

Natal de 2000 - Graça, Madiba e Lola.

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1 ASSIM NASCEU A NOSSA AMIZADE

ao Jean-Christian como prova de que aquele presente tinha chegado

ao seu destinatário e que tinha sido muito bem recebido.

Um outro acontecimento que permitiu estreitar os laços com Madiba

resultou de uma bela história de amor que levou ao casamento de

Samora Machel Júnior, mais conhecido por Samito, com Jovita

Sumbana. Samito é filho de Samora Machel, primeiro Presidente de

Moçambique e de Josina Machel, uma figura heróica na luta pela in-

dependência de Moçambique e uma referência histórica no complexo

combate pela libertação da mulher moçambicana. Samito nasceu

durante a luta de libertação nacional, mas, tal como Jovita, cresceu

e foi educado num Moçambique independente. Quando ambos resol-

veram casar, nós estivemos envolvidos na preparação da respectiva

cerimónia desde a primeira hora.

O casamento foi celebrado em dois lugares: no Jardim dos Namorados,

em Maputo, no dia 12 de Maio de 2001, um sábado e, uma sema-

na depois, também num sábado, em Xilembene, a terra de origem

do Presidente Samora Machel, da sua família e de todos os seus

antepassados.

O Jardim dos Namorados, que se localiza na zona do palácio da Ponta

Vermelha e tem uma espectacular vista sobre a baía de Maputo, não

foi escolhido por acaso. Foi o próprio Presidente Samora Machel quem

resgatou esse belo jardim e o seu nome. Ele ia lá frequentemente

colher uma flor para, com muito amor, oferecer à sua esposa Graça.

A preparação do cerimonial exigiu um grande esforço de organização

da nossa parte. Pela primeira vez, o nosso grupo teve que fazer frente

ao autêntico desafio de atender os mais de 500 convidados vindos de

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OBRIGADO MADIBA

várias partes de Moçambique e do exterior.

Começámos por ter reuniões semanais que decorriam sempre em casa

de Graça Machel, ou Mamã Graça, como ela é de facto mais conhe-

cida. Em vez de “senhora” ou “dona”, é frequente, em Moçambique e

na maioria dos países africanos, usar o termo “mamã”. Esta forma de

tratamento marca a ternura e o respeito que o africano, em geral, tem

pelo papel social da mulher como mãe.

Muitas vezes, essas reuniões preparatórias coincidiam com as estadias

de Madiba em Maputo, o que muito contribuiu para a amizade que

se estabeleceu entre nós. Quando estávamos a discutir os planos da

festa, por vezes falávamos mais alto do que o normal. Rapidamente,

porém, controlávamos o tom de voz porque víamos que Madiba cami-

nhava pela residência e, portanto, nos podia ouvir. Mas ele nunca nos

interrompeu ou interferiu no nosso trabalho.

Por indicação da Mamã Graça, nem o Samito, nem a sua futura

esposa tiveram um papel activo na preparação da cerimónia. Com

isto ela queria preservá-los desse esforço, de modo a prepararem-se,

sem sobressaltos, para um momento importante das suas vidas. A

Mamã Graça e nós próprios estávamos empenhados em que a festa

fosse caracterizada por um grande calor e afecto, por uma atmosfera

flutuante que fizesse superar de algum modo a falta dos pais do noivo-

-Samora Moisés Machel e sua esposa Josina Machel. Fiquei contente

ao saber, mais tarde pela Mamã Graça, que o nosso objectivo tinha

sido alcançado. Foi a nossa contribuição para a felicidade de Samito e

Jovita, nesse 12 de Maio de 2001.

Na altura dos convites, o próprio Samito manifestou a Madiba, que

se encontrava em Maputo, que teria muito gosto com a sua presença.

Quando Madiba teve conhecimento de que o casamento seria no dia

12 de Maio, exclamou com alguma preocupação:

Casamento de Samora Machel Jr. e Jovita, ladeados pelos pais da noiva António e Lúcia Sumbana, Graça e Madiba.

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Casamento tradicional em Xilembene da Josina e Luís.

Madiba acompanha a Jó ao altar.

– Não poderei estar presente porque, nessa data, tenho uma

cerimónia de inauguração de um estádio com o meu nome no

Uganda!

Com muita tristeza, Samito lamentou esse impedimento e pediu

a Madiba para fazer os possíveis para estar presente. Este resol-

veu aceder ao pedido e mudou os seus planos. Tendo decidido a

favor da participação do casamento em Maputo, foi de imediato

alterada a sua deslocação ao Uganda. Pelo que sei, isto deixou

a família Machel muito feliz. Nós também ficámos satisfeitos

por tamanha consideração. No meio de tantas alegrias, nem nos

apercebíamos do que ainda estava por vir.

Na quarta-feira, dia 16, o grupo teve que se deslocar a

Xilembene, para ali organizar a outra fase da cerimónia de casa-

mento. Xilembene é uma região no interior de Moçambique que,

apesar de estar a beneficiar de considerável desenvolvimento,

carece ainda de infra-estruturas adequadas a uma cerimónia do

tipo e envergadura da que teríamos de organizar e com tantos

convidados. Perante a falta de infra-estruturas e de logística, ti-

vemos de recorrer a todos os expedientes possíveis. Muito útil foi

a experiência do António Andrade, Pedro Bule e Gentil Zimba.

Permanecemos em Xilembene até domingo. Os membros da fa-

mília Machel tinham alojamento próprio, mas nós pernoitávamos

todos os dias no Chókwè ou Bilene. Às 5 da manhã estávamos na

estrada de regresso a Xilembene para a preparação dos festejos.

No sábado, dia 19 de Maio, realizou-se a festa tradicional do

casamento de Samito e Jovita que foi honrada com a presença de

Joaquim Chissano, na altura Presidente da República, de vários

membros do governo e muitas outras individualidades.

Ainda hoje recordo um pormenor da cerimónia que me

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Entrada da Jó na igreja, de braço dado a Malenga Machel.

À esquerda - Luís e Jó à entrada na tenda.

impressionou bastante. A população, alinhada ao longo de

um percurso de quatrocentos metros em que os noivos deviam

percorrer, estendeu esteiras para os nubentes pisarem, porque

se tratava de um casamento tradicional. À excepção de Madiba,

que viajou de helicóptero para Xilembene, os restantes convida-

dos usaram viaturas privadas ou autocarros.

Muitos dos convidados chegaram quase na altura do almoço,

que começou a ser servido à uma hora da tarde, originando uma

aglomeração fora do vulgar no local onde se servia a refeição.

Mas tudo acabou por decorrer da melhor forma.

Depois das quatro horas da tarde, a maior parte dos convidados

começou a despedir-se. Madiba fez o mesmo, voltando para

Maputo. A Mamã Graça continuou em Xilembene. No domingo

à tarde, eu e os elementos do grupo organizador voltámos para as

nossas casas em Maputo. Estávamos cansados, mas satisfeitos,

porque tínhamos vivido momentos inesquecíveis e regressáva-

mos com o espírito de “missão cumprida”.

Uma vez mais, como já se estava a tornar rotina, fomos convi-

dados pela Mamã Graça para uma reunião de balanço que teve

lugar na sua residência, no domingo seguinte. Foi uma opor-

tunidade para almoçarmos e, num espírito mais descontraído,

falarmos um pouco de tudo. Foram feitos elogios e, pensando

bem, acho que merecidos, pois todos nós nos tínhamos empe-

nhado bastante para o sucesso da cerimónia de casamento. A

determinada altura, a Mamã Graça fez questão de agradecer a

nossa voluntariedade com um forte obrigado, ao mesmo tempo

que, com sentido de humor, nos disse:

– Não se esqueçam que há obrigados que valem mais do que um

milhão de dólares!

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OBRIGADO MADIBA

Madiba, Graça e o pintor Naguib. O quadro “A Luta Contra a Corrupção".

Uma outra grande festa da família Machel em que Madiba esteve

presente foi o casamento da Jó. Durante o balanço do casamento

do Samito, a Mamã Graça anunciou a intenção da Jó se casar em

Setembro do mesmo ano. Mas como as datas eram muito próximas e

os meios logísticos e os custos davam para reflectir, foi sugerido à noi-

va que adiasse o casamento para o ano seguinte. E assim aconteceu.

O registo foi feito no Hotel Cardoso, no dia 29 de Março de 2002. A

cerimónia religiosa aconteceu na Igreja Metodista, no dia seguinte.

Após o casamento, o casal foi em lua-de-mel e, por essa razão, a

cerimónia tradicional só se realizou um mês depois, em Xilembene.

Da mesma forma como aconteceu no casamento do Samito, os noivos

também caminharam sobre as esteiras estendidas no chão pela gente

da terra.

Tal como nas outras cerimónias nupciais da família, o copo de água

foi no Jardim dos Namorados, lugar de eleição para Samora Machel

pela sua beleza e encanto naturais. Aliás, nesse mesmo local, no dia

19 de Outubro de 1985, precisamente um ano antes do acidente que

vitimou Samora Machel, tinha sido celebrado o casamento de seu filho

Idelson Machel com a Yolanda Arcelina.

No casamento da Jó houve um imprevisto que ainda hoje me faz sorrir.

Tinha sido convidado um estilista sul-africano para fazer o vestido

da noiva, que, muito naturalmente, incluía um véu. Ora, no momento

em que a noiva deveria começar a entrar na Igreja ao som da marcha

nupcial, para espanto de todos a Jó não se decidia a entrar pois o

estilista não aparecia. Fui pessoalmente saber o que se passava e

então ela disse-me, com alguma angústia, que lhe faltava o véu.

Estava decidida a só entrar de véu e queria falar com a irmã Olívia.

Num momento como aquele, em que as decisões devem ser tomadas

imediatamente, a Olívia revelou o seu bom senso:

– Estás tão bonita que nem vale a pena esperar pelo véu! – garantiu-

-lhe ela.

Foi assim que a Jó fez a sua entrada triunfal acompanhada pelo seu

irmão Malenga, acabando por se casar sem o véu. O estilista, cujo

nome já não me recordo, levara o véu para a Sé Catedral porque

estava convencido que uma cerimónia dessa dimensão só poderia

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1 ASSIM NASCEU A NOSSA AMIZADE

Madiba e Graça na festa de aniversário. Acompanhando a Mamã Graça até à mesa de honra.

realizar-se ali. E enquanto ele lá esperava, a Jó estava a casar-se na

Igreja Metodista de Maputo.

*

Ainda em 2001, na sequência do casamento de Samito, registou-se

um evento no qual participei e que muito me emocionou. Foi a

homenagem prestada ao Presidente Samora Machel, em Joanesburgo,

no Gallagher State, um enorme complexo para conferências que pode

abrigar umas cinco mil pessoas. Ali se efectuou a homenagem pelos

quinze anos da sua morte em Mbuzini.

Estiveram presentes grandes nomes da música e cultura de

Moçambique e da África do Sul. O mestre de cerimónias foi o famoso

músico sul-africano Hugh Masekela. A homenagem foi organizada

pelo moçambicano Aurélio Le Bon e por sul-africanos.

Não é segredo para ninguém que Madiba sempre teve uma grande

admiração por Samora Machel. Ele comentou várias vezes o apreço

que tinha pelo espírito combativo e ideias nacionalistas do primeiro

Presidente de Moçambique. Foi por sua decisão que, logo depois da

independência, Moçambique deu abrigo a muitos refugiados sul-

-africanos. Durante anos, aqui viveram os principais dirigentes do

ANC, como é o caso de Oliver Tambo e Joe Slovo, já falecidos, e Jacob

Zuma, actual Presidente da África do Sul.

Um ano depois, uma cerimónia idêntica, em homenagem a Samora

Machel, teve lugar em Maputo. Madiba deu todo o apoio e enco-

rajamento a este novo tributo. Tivemos de percorrer toda a cidade

para encontrarmos um lugar onde se pudesse instalar uma tenda de

grandes dimensões para servir de palco à cerimónia que se estava a

planear. Depois de várias voltas por Maputo e de termos encontrado

alguns espaços disponíveis, foi decidido que se iria instalar essa tenda

num terreno baldio entre a Escola Portuguesa e o complexo desportivo

Matchiki-Tchiki.

A escolha agradou a todos porque era um espaço que dava para o

parqueamento de viaturas e para a instalação dos meios logísticos

de apoio ao evento. Tal como sucedeu na homenagem realizada na

África do Sul, artistas sul-africanos e moçambicanos estiveram

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OBRIGADO MADIBA

voluntariamente presentes. Aqui, também, um pintor reconhecido

apresentou um quadro dedicado a Samora Machel. Recordo-me

que, no caso de Maputo, o pintor Naguib concebeu um quadro a que

chamou «A luta contra a corrupção» e ofereceu-o à Mamã Graça

como recordação do momento que se estava a viver. O mérito desta

celebração em memória de Samora Machel, realizada em Maputo, foi

da sua filha Jó.

*

Todos estes eventos eram ocasiões que justificavam a presença de

Madiba e, dessa forma, acabavam por ser uma maneira de manter

o meu contacto com ele. Um desses grandes momentos, que não po-

deria deixar de recordar, foi a celebração do sexagésimo aniversário

da Mamã Graça. Os filhos e familiares mais próximos queriam que

esse aniversário fosse uma festa de grande significado. Estive desde a

primeira hora muito ligado à sua organização, como parte integrante

do grupo de trabalho que já algumas vezes mencionei.

A ideia era fazer uma festa de aniversário restrita para os filhos, família

e amigos mais próximos e uma outra de maior envergadura onde pu-

dessem participar outros convidados, incluindo figuras públicas. Não

queríamos que a Mamã Graça soubesse o que estávamos a planear

em relação à festa de maior dimensão e com muitos mais convidados.

A Jó, novamente, fez-se notar pelo seu talento organizativo e criativo,

pois foi dela a ideia de falar com Madiba para ser “cúmplice” do plano

que tínhamos traçado.

Madiba teria que dizer à sua esposa que tinha sido convidado para um

jantar no Centro de Conferências Joaquim Chissano, dois ou três dias

depois da data do aniversário. Estou convencido que a Mamã Graça não

suspeitou de nada porque, quando chegou ao Centro de Conferências,

já de noite, a sua surpresa foi genuína ao ver a quantidade de carros

ali parqueados e uma enorme tenda onde já se encontravam centenas

de convidados. Estes incluíam o Chefe de Estado Armando Emílio

Guebuza e a primeira-dama Maria da Luz Guebuza.

Assim, quando a Mamã Graça, acompanhada de Madiba, entrou na

tenda, foi acolhida por um coro enorme que cantava “Parabéns a

Você!” A emoção e surpresa eram visíveis no rosto da aniversariante,

o que nos deu alguns motivos de satisfação, porque era esse, de facto,

o nosso objectivo. O jantar correu bem, num ambiente de alegria. Mas

foi interrompido por alguns instantes devido a um episódio que, de

início, muito nos preocupou. Sucedeu que, devido à elevada tempe-

ratura no interior da tenda, Madiba se sentiu incomodado e os seus

médicos tomaram a decisão de o retirar dali, não dando qualquer

informação aos presentes.

Entoando canções de que Samora Machel gostava.Mamã Graça convida a Amélia Mingas a sentar-se na mesa de honra.

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1 ASSIM NASCEU A NOSSA AMIZADE

A Mamã Graça, o Pedro, o Andrade, o Zimba e eu acompanhámos

Madiba até à sua viatura. Depois de nos certificarmos que nada

de grave estava a acontecer, sentimo-nos mais despreocupados.

Assistimos à partida de Madiba para a sua residência, acompanhado

pela sua equipa médica e por uma enfermeira particular. Madiba

chegou à sua residência instantes depois e de lá telefonaram dizendo

que estava tudo bem. Uma vez mais pudemos respirar de alívio. O

mestre de cerimónias, Malenga Machel, anunciou aos presentes o

que tinha sucedido, informando que Madiba estava bem. Tudo não

tinha passado de um cansaço e de algum calor em excesso. Depois de

uma salva de palmas e como expressamente pediu Malenga, a festa

prosseguiu pela noite dentro.

A determinada altura, os filhos de Graça Machel pediram à mãe que

se deslocasse ao palco para receber um ramo de flores. Nesse instan-

te, a Mamã Graça fez-me um sinal para que me aproximasse dela.

Pediu-me que a acompanhasse até à mesa de honra e pelo caminho

não se cansava de repetir:

– Bio, mais uma vez vocês me surpreenderam... Sinto-me muito feliz e

agradeço este gesto da minha verdadeira família!

No palco, os filhos e familiares mais próximos da Mamã Graça impro-

visaram um coro e começaram a entoar algumas canções românticas.

Eram as canções que Samora Machel mais gostava de cantar quando

estava com a família.

A Jó foi responsável por um outro episódio que deixou a Mamã Graça

agradavelmente surpreendida. No decorrer do jantar, ela veio ter co-

migo pedindo-me para ir ao aeroporto esperar uma senhora que vinha

no voo de Joanesburgo e que era muito amiga da Mamã Graça. Fui ao

aeroporto e tratei de tudo para que essa senhora fosse bem recebida,

tendo regressado para a festa com ela. Tratava-se da senhora Amélia

Mingas, irmã do angolano Rui Mingas. Quando ela entrou na sala

e se dirigiu à Mamã Graça, foi como se um raio de invulgar fulgor

ali tivesse caído. Assisti a tudo. A Mamã Graça ficou visivelmente

emocionada, deu-lhe um efusivo e prolongado abraço e convidou-a

para tomar um dos lugares na mesa de honra.

Mais tarde, a Mamã Graça explicou-nos que aquela amiga era como se

fosse sua irmã mais velha pois fora ela que, aquando da sua chegada

a Portugal, em fins dos anos sessenta, a recebera e lhe dera toda a

ajuda e amparo na nova vida que iniciava na capital portuguesa como

estudante universitária.

Nesta festa de aniversário da Mamã Graça, que contou com muitos

convidados, tive a oportunidade de conhecer e trocar impressões com

dois nomes do mundo empresarial: Patrice Motsepe, da indústria

Jonathan Oppenheimer.Patrice Motsepe.

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OBRIGADO MADIBA

mineira, e Jonathan Oppenheimer, bisneto do fundador da grande

empresa mineira Anglo American.

*

Pela afirmação da vontade, eu ia sempre tendo notícias de Madiba

e enviando-lhe os meus cumprimentos e saudações.

Talvez por esta razão, um dia, ao regressar do restaurante Costa do

Sol, onde tinha almoçado com Sylvie Bigati, representante da casa

Chanel, uma das maiores empresas francesas de perfumes, não me

surpreendi verdadeiramente quando o meu telemóvel tocou. Do outro

lado da linha estava Madiba a desejar-me os parabéns, pois era o

dia do meu aniversário. A minha alegria foi tanta que tive de parar

o carro e não pude conter as lágrimas. É claro que fui obrigado a

explicar à minha amiga, em francês, o motivo de toda aquela emoção.

Ela só me disse:

– Abílio, você é um homem abençoado!

Porque momentos assim têm de ser partilhados com as pessoas que

mais amamos, telefonei logo aos meus filhos Rui e Hugo, que na

altura estavam a estudar em Joanesburgo, deixando-os igualmente

comovidos. Se pudesse, naquele momento, teria telefonado a toda a

gente que conheço, mas preferi apressar-me para dar pessoalmente a

notícia à Lola.

A partir do primeiro momento em que nos encontrámos, em 12 de

Agosto de 2000, quando se inaugurou a casa do casal Mandela em

Maputo, eu e a Lola passámos a ser convidados para as grandes

celebrações de aniversário de Madiba. Foi assim que participámos

nas comemorações do octogésimo quinto e nonagésimo aniversários.

A festa do octogésimo quinto aniversário aconteceu em Joanesburgo.

Sylvie Bigati, representante da casa Chanel.

O emblemático Restaurante Costa do Sol, que começou por ser um abrigo de caça da família grega Petrakakis, foi construído nos anos 50. Lá se comiam os melhores camarões grelhados do mundo. Lamentavelmente e,

com pena de muitos bons apreciadores deste marisco, o restaurante fechou no dia 30 de Setembro de 2012.

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1 ASSIM NASCEU A NOSSA AMIZADE

Eu e a Lola fomos no dia 18 de Julho de 2003, de manhã, para aquela

cidade da África do Sul, de onde regressei dois dias depois.

Logo à entrada, no voo que nos transportou até Joanesburgo, a hospe-

deira da South African Airways tinha anunciado o seguinte:

– Hoje, Nelson Mandela, o nosso Madiba, faz 85 anos e a SAA gosta-

va de agradecer tudo o que ele fez pelo nosso país, pela África e pelo

mundo...

Foi assim que, em todos os voos da SAA, se assinalou essa data

tão importante e que a mim tanto me marcou. Nunca esquecerei o

empenho das pessoas que estiveram envolvidas nas celebrações do

octogésimo quinto aniversário de Madiba.

Vivemos, uma vez mais, momentos memoráveis. Fiquei surpreendido

com todo o calor humano e afectividade que lhe foram manifestados.

Na verdade, a festa prolongou-se por dois dias cheios de eventos cul-

turais e expressões de carinho. No primeiro dia, foram divulgadas, em

telas gigantes, montadas na sala de banquetes, onde decorria o jantar,

mensagens dedicadas a Madiba, que já anteriormente lhe tinham sido

endereçadas. Eu e a Lola também tínhamos enviado a nossa men-

sagem de parabéns. Por isso, ficámos agradavelmente surpreendidos

quando a vimos ser projectada.

Este aniversário de Madiba fascinou-me pelo inédito de algumas pas-

sagens. Causou particular sensação entre os convidados o momento

em que Madiba entrou no salão e, simultaneamente se acenderam

todas as luzes para surpreender. Os mais ínfimos pormenores da pre-

paração do evento tinham estado envolvidos em segredo para evitar

que Madiba tivesse conhecimento do que se estava a organizar e, por

conseguinte, as festividades fossem uma surpresa.

Um outro aspecto que muito apreciei foi, na projecção de mensagens,

quando foi criada a impressão de que Oprah Winfrey, conhecida

apresentadora de televisão, empresária norte-americana e grande

amiga de Madiba, estava nos Estados Unidos da América lendo a sua

mensagem de felicitações via satélite. De repente, porém, ela irrom-

peu pessoalmente na sala a cantar “Parabéns a Você!”, acompanhada

por uma plêiade de figuras internacionais, como a modelo Naomi

Campbell e muitas outras. Tanto a 18 como a 19 de Julho, a festa

contou com a presença de muitas personalidades internacionais, entre

as quais a Rainha da Holanda, o casal Hillary e Bill Clinton, Bono

dos U2 e Robert de Niro.

No regresso a Maputo, na segunda-feira, dia 20 de Julho, viajei

também na SAA e, por coincidência, na companhia da Mamã Graça.

Como ocupávamos dois lugares na frente do avião, fomos trocando

algumas palavras. A determinada altura, uma das hospedeiras

de bordo interrompeu-nos pedindo para ser fotografada ao lado da

Mamã Graça. Fui eu próprio quem tirou essa fotografia, para grande

satisfação da hospedeira da SAA. Durante o voo, outros membros da

tripulação fizeram questão de cumprimentar Graça Machel e de lhe

falar acerca do aniversário de Madiba.

Cinco anos depois, participei numa outra celebração, desta vez as-

sinalando os seus 90 anos. Foi uma data festejada mundialmente. O

foco da homenagem a Madiba foi um grandioso espectáculo musical

realizado em Londres e transmitido em directo para todo o mundo, no

qual ele esteve presente na companhia de Graça Machel.

Não há palavras que possam descrever o carinho e a emoção que

as pessoas de todos os cantos do mundo sentiram nesses dias. Isto

mesmo foi sublinhado pelo conhecido artista norte-americano Will

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OBRIGADO MADIBA

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1 ASSIM NASCEU A NOSSA AMIZADE

Smith que, na qualidade de mestre de cerimónias desse espectáculo,

em Londres, subiu ao palco para felicitar Madiba.

No dia 18 de Julho de 2008, data do nonagésimo aniversário de

Madiba, eu e a Lola estávamos em Joanesburgo, preparando-nos para

participar nas celebrações, quando tivemos a agradável surpresa de

receber gratuitamente os nossos bilhetes de passagem para um voo de

duas horas com destino a Qunu, berço da família Mandela. Sentimo-

nos muito honrados por nos ter sido concedida essa distinção. Tratava-

se de mais uma prova da amizade que Madiba nutria por nós.

Chegámos a Qunu por volta das onze horas da manhã do dia 19 de Julho

de 2008, para participarmos num almoço festivo. À nossa chegada,

fomos recebidos por elementos do protocolo que nos acompanharam

à residência oficial de Madiba, para lhe apresentarmos os nossos

parabéns e cumprimentos. Esta atenção protocolar sensibilizou-nos

bastante.

Durante o almoço, servido numa tenda enorme, apercebi-me que,

na mesa de honra, estava acompanhado por sua esposa, Thabo

Mbeki, então Presidente da África do Sul, bem como Jacob Zuma,

presidente do ANC e actual Presidente da África do Sul. Entre outras

individualidades, estava também uma senhora de avançada idade, de

origem indiana, que penso ser familiar de um dos presos políticos

Oprah Winfrey, príncipes da Holanda Willem-Alexander e Máxima Zorreguieta, Tokyo Sexwale e Naomi Campbell.

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OBRIGADO MADIBA

Robert de Niro mostrando uma particular boa disposição.

Richard Branson, Olívia e Ornila Machel.

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Bill e Hillary Clinton.

Naomi Campbell e Lola.

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As danças tradicionais estiveram em destaque durante as comemorações dos 90 anos de Madiba, em Qunu.

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OBRIGADO MADIBA

sul-africanos amigos de Madiba e que preparava para ele o famoso

“arroz biryani”.

Numa outra mesa, com os seus multicolores trajes típicos ainda en-

vergados, ou até semi-nuas, sentavam-se as dançarinas que tinham

saudado os convidados à chegada. As danças tradicionais contribuí-

ram bastante para dar uma nota festiva a esta celebração.

Uma outra atenção que muito nos agradou foi o facto do protocolo

ter organizado o nosso regresso a Joanesburgo nessa mesma tarde,

utilizando um avião privado, evitando dessa forma termos de pernoitar

em Qunu, onde não havia alojamento suficiente devido aos inúmeros

convidados. A viagem de Qunu para Lanseria, nas proximidades de

Pretória, durou cerca de duas horas. Aproveitámos para visitar os

nossos filhos e dar uma volta pela cidade de Joanesburgo, que já então

se preparava para receber alguns dos jogos do Mundial de Futebol de

2010.

O motivo desta grande amizade que sinto por Madiba, é muito simples:

Experimento uma profunda admiração pela sua personalidade, pelos

seus feitos e pelo que ele representa enquanto homem e figura pública.

Por outro lado, a retribuição desta amizade e o reconhecimento que

ele sempre nos soube manifestar, enchem-me de orgulho.

Há pouco tempo veio-me à mão o livro «Mandela» de Charlene Smith.

Foi uma oferta pessoal de Madiba. Nesse exemplar, ele escreveu, pelo

seu próprio punho, a primeira dedicatória que nos endereçou:

“Os melhores votos para um casal notável que é apoiante entusiasta

de causas de mérito e ganhou o nosso respeito e a nossa admiração.

Mandela.”

Em 2004, tive a agradável surpresa de chegar a casa e deparar com

um cartão de Nelson Mandela, onde, ao agradecer um presente nosso

muito singelo, de forma pouco habitual, ele assina como Madiba. A

mensagem diz: - “Muito obrigado pelo lindo presente. Não tem preço.

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1 ASSIM NASCEU A NOSSA AMIZADE

90 anos de Madiba em Qunu. Na mesa de honra, Zanele Mbeki, esposa do antigo presidente Thabo Mbeki.

A vossa amizade e amor estão sempre nos nossos corações. Madiba.

1.8.04.”

*

Os motivos que me levaram a dar o passo de escrever este livro,

são pelo menos dois. Um deles está patente no título «Obrigado

Madiba; O outro foi surgindo quando já estava envolvido no processo

de escrita , intuindo que seria igualmente fascinante: descobrir as

minhas raízes, a história da minha família e a minha identidade de

moçambicano. Estes dois motivos estão intrinsecamente relacionados.

O segundo, não teria sido possível se eu não tivesse conhecido Nelson

Mandela e, atentamente, escutado as suas palavras, observando a sua

maneira de ser e convivido com ele ao ponto dessa convivência se ter

tornado no grande incentivo que me levou a escrever este livro.

O desafio da recolha de dados que possibilitaram desvendar alguns

dos mistérios que envolviam a história da minha família tornou-se,

rapidamente, num autêntico prazer. Contudo, a razão principal nunca

deixou de ser o obrigado que eu queria endereçar a Madiba. Obrigado,

por quê? Esta é a questão a que vou tentar responder nos próximos

capítulos.

*

O filho mais novo de Graça e Samora Machel, Malenga Machel,

acabou também por se casar em Maio de 2012. Como nas

anteriores uniões matrimoniais, também aqui, tive o privilégio de

participar neste evento muito especial. Recordo-me do comentário da

Mamã Graça numa das reuniões de preparação: “É o meu filho mais

novo que se vai casar. Sinto que estou a cumprir uma tarefa única

como mãe, abrindo caminho para as novas gerações”.

O casamento do jovem Malenga começou no dia 13 de Maio, em

Stellenbosch, nas proximidades da bela Cidade do Cabo. Tratou-se

de uma festa restrita, reunindo os familiares mais próximos e os

amigos de Malenga forjados nos bancos da escola. Seguindo a tradi-

ção, deveria realizar-se uma outra cerimónia em Maputo e depois o

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OBRIGADO MADIBA

Epifânia Costa, Mamã Graça, Malenga e Patrícia Machel, Eliasse Faquir e António Costa.

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casamento propriamente dito, em Xilembene, a terra natal de Samora

Machel. Mas a família decidiu que se deveria fazer apenas a festa em

Xilembene.

O casamento em Xilembene aconteceu no dia 26 de Maio, num sába-

do. No dia seguinte, realizou-se a cerimónia xiguiane, que consiste na

entrega dos presentes em casa do noivo, à qual os convidados já não

assistiram.

O casamento de Malenga foi uma oportunidade para o nosso grupo

de apoio e planeamento logístico trabalhar, uma vez mais, em con-

junto. Não deixa de ser emocionante, depois de tantos anos e tendo

em conta que cada um de nós tem as suas actividades profissionais,

estarmos disponíveis para ajudar sempre que a Mamã Graça nos so-

licita. Só que, desta vez, além dos integrantes iniciais do grupo, devo

mencionar o Matonga Machel e o Basílio Simbine, que se excederam,

dando-nos uma ajuda muito valiosa. Apesar de muito mais novos que

nós, mostraram grande sentido de responsabilidade e muito profissio-

nalismo. Também o Andrade, que agora está a trabalhar na província

de Inhambane, não quis perder esses momentos de alegria e emoção

que vivemos em Xilembene. Quando soube o que iria suceder, pediu

quinze dias de férias e, assim, teve também a possibilidade de desejar

os melhores votos de felicidades a Malenga e Patrícia Costa.

Encontrei-me uma vez mais com a tia Amélia, a angolana que recebeu

em Lisboa a então jovem estudante moçambicana, hoje a Mamã Graça,

quando ali iniciou os seus estudos universitários. A tia Amélia, irmã

de Rui Mingas, estava radiante e nós felizes por partilharmos esses

momentos de tanta felicidade. Os dias 26 e 27 de Maio de 2012 são

datas que ficam registadas na minha memória e na minha vida.

Este casamento teve como tema de reflexão a árvore, símbolo que aca-

bou por envolver o matrimónio de Malenga com a jovem moçambicana

Patrícia Costa. Na realidade, a árvore, com as suas raízes, sombra e

frutos, representa o presente e o futuro. Este tema sensibilizou-nos

a todos. Viveu-se mais um momento de alegria e felicidade com-

partilhado entre gerações diferentes, unidas por um ideário comum

alicerçado na solidariedade. Devido a motivos de saúde, Madiba não

esteve presente nestes festejos. Em breve completaria os seus 94 anos.

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Lola, Mamã Graça, Olívia, Madiba, Lena, Quina, Andrade, Mamã Thandi, Zimba e Ana.

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