assedio moral - prom de saude trabalhador

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saude e psicologia

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A ATUAO DO MP EM ASSDIO MORAL

Todo o contedo abaixo exposto foi extrado de conferncias proferidas pela Dra. Janilda Guimares de Lima, Procuradora do Trabalho em Gois, com adaptaes feitas para o servio pblico por Vilanir de Alencar Camapum Jnior, Promotor de Sade do Trabalhador do Ministrio Pblico do Estado de Gois.

Se d em razo:

a) da violao dignidade do trabalhador (art. 1, III e IV; art. 3, I e IV; art. 170, caput e III; art. 193, caput; todos da CF) e aos seus direitos de personalidade ( imagem, honra e integridade psquica art. 5, X, da CF), os quais tem natureza indisponvel (art. 11 do CC) ou coletiva (quando atinge vrios obreiros) art. 129 da CF;

b) do tratamento degradante e desumano (art. 5, III, da CF);

c) do abuso de direito e de poder (arts. 186 e 187 do CC);

d) da responsabilidade do empregador quanto ao seu ambiente de trabalho, que implica na obrigao de estabelecer uma poltica de preveno de riscos profissionais, inclusive para proteger a sade psquica de seus empregados (art. 7, XXII, da CF; arts. 154 e 156 da CLT; NR-5; NR-7; NR-9).

O objetivo da atuao do Parquet conseguir que o empregador seja condenado a estabelecer medidas que impeam novas ocorrncias de assdio moral em seu ambiente de trabalho, que de sua responsabilidade.

O Ministrio Pblico no atua em busca da reparao do dano moral sofrido pelo trabalhador que maior e capaz, e, portanto, tem condies de pleitear a indenizao por advogado dativo ou remunerado.

Da mesma forma, no caso do servio pblico, tambm no atua com o objetivo de anular ato administrativo abusivo do gestor que feriu direitos do servidor (ex: transferncia, colocar disposio etc.). Tratando-se de questo individual que por si s no configura assdio moral e sendo o servidor pessoa maior e capaz, este dever buscar a nulidade do ato pela via do mandado de segurana.

Conceito de assdio moral para o Direito do Trabalho:

Pode ser definido como qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua repetio ou sistematizao durante a jornada de trabalho, contra a dignidade ou integridade psquica de uma pessoa, expondo-a a situaes humilhantes e constrangedoras, de modo que possam afetar a sua auto-estima, causando-lhe insegurana quanto a sua capacidade e valor, ameaando o seu emprego, bem como deteriorando o ambiente de trabalho. (conceito da Dra. Janilda, Procuradora do Trabalho, construdo a partir das definies de Marie-France Hirigoyen, in Mal-Estar no Trabalho, redefinindo o assdio moral, Ed. Bertrand do Brasil, e Snia Mascaro, in O assdio moral no ambiente de trabalho, Revista LTr, 68-08/9220)

Elementos configuradores do assdio interpessoal

Manifesta-se por aes (comportamentos, atos, gestos) e omisses (arts. 186 e 187 do CC. Ex: ignorar o assediado, no falar ou olhar para ele, no dar-lhe atividades para executar, buscar orientao no chefe superior desconsiderando o imediato), materializadas atravs de humilhaes, hostilizaes, excluso e/ou constrangimentos impostos a um trabalhador;

Realizada durante a jornada ou fora dela, mas sempre em relao execuo do trabalho;

Os comportamentos (atos, gestos e omisses humilhantes ou constrangedores) do assediador devem ter a potencialidade de ocasionar sofrimento psquico na vtima, alterando-lhe a personalidade, desequilibrando-a emocionalmente, inibindo-a, tornando-a depressiva, causando-lhe desestmulo com o trabalho e com a vida, atingindo negativamente a sua auto estima, fazendo-a desenvolver bloqueios para produzir e se relacionar;

O agressor desumaniza a vtima e passa a trat-la como coisa, manipulando inclusive os demais empregados para auxili-lo no assdio;

Deve ser repetitivo caracterizando-se por uma prtica sistemtica (carter processual - importa mais os potenciais efeitos da conduta do que o tempo). Por isso, em geral no se configura quando o ato isolado, mesmo que tenha havido ofensa direito de personalidade, ou seja, violao honra, privacidade ou imagem, embora excepcionalmente possa ocorrer na hiptese em que um nico comportamento ofensivo seja suficientemente grave para, por si s, provocar os danos igualmente graves e duradouros relativos alterao da personalidade (p.ex.: colocar a vtima de castigo na frente dos demais colegas);

A responsabilidade civil e trabalhista subsiste mesmo quando os atos de assdio apenas agravam o desequilbrio emocional da vtima, ou seja, a existncia de fragilidade emocional (de carter individual) no impede a configurao desse ato ilcito;

Pode ocorrer na forma vertical (descendente e ascendente) ou na forma horizontal, entre empregados da mesma hierarquia;

O assdio pode se dar com o objetivo de levar a vtima a romper o contrato de trabalho (pedindo demisso ou exonerao), ou, no caso do servio pblico, pedir transferncia de seu local de lotao;

No h necessidade de provar a inteno (art. 186 e 187 do CC) e no precisa comprovar os danos psquicos (somente a potencialidade do ato para provocar os danos graves e duradouros de alterao da personalidade).

Elementos Configuradores do Assdio Moral Organizacional

a) o assdio moral coletivo/institucional ou organizacional se d quando a estrutura da empresa, as bases de sua poltica, as suas estratgias e mtodos de gesto esto articulados de maneira a produzir violncia psicolgica (intimidao, presso, humilhao, constrangimento, medo de perder o emprego) (Thereza Cristina Gosdal e Lis Andrea P. Soboll, in Assdio Moral Interpessoal e Organizacional, LTr, pg. 33, Assdio Moral Organizacional: Esclarecimentos conceituais e repercusses)

b) configurar-se quando h abuso do poder empregatcio (organizativo, regulamentar, fiscalizatrio e disciplinar);

c) o objetivo das polticas ou estratgias empresarial (ou Institucional, no caso do servio pblico) de alcanar, ou manter, determinados ndices de produtividade e/ou atingimento de metas, reduo de custos do trabalho ou controle dos trabalhadores, que, no caso do servio pblico, pode ser no sentido de controlar o comprometimento poltico-partidrio ou ideolgico do servidor;

d) as prticas so reiteradas ou sistematizadas;

d) o assediador ser somente o empregador e seus prepostos ou pessoas que tenham poder de gesto na empresa ou na Instituio Pblica (modelo vertical);

e) objetiva conseguir o comprometimento subjetivo dos trabalhadores s regras da administrao, forando-os a se submeter poltica da empresa ou da Instituio Pblica, ou mesmo do Gestor Pblico em atividade, excluindo aqueles que tenham perfil inadequado;

f) o assdio pode dar-se com o objetivo de levar as vtimas a romper o contrato de trabalho (esta caracterstica tambm est no assdio interpessoal, mas aqui se d com foco coletivo);

g) pode atingir:

- Todos os empregados da empresa (gesto por injria);

- Grupo especfico (mulheres casadas, gestantes, acidentados, lesionados, trabalhadores mais antigos);

- Os empregados de um determinado setor.

Exemplos de condutas: assdio moral interpessoal

Criticar ou zombar da vtima, com indiretas ou ironias ou adjetivos pejorativos, geralmente em pblico;

Murmurar ou fazer comentrios baixos com outros colegas, geralmente expressando na face um certo sarcasmo;

Agir com falsidade, falando mal da vtima para outros colegas ou clientes, no assumindo o ato, normalmente com o objetivo de provocar a reao do(a) assediado(a) para poder qualific-lo de desequilibrado(a);

Disseminar injrias, boatos e mentiras a respeito da vtima, de modo a desqualific-la;

Corrigir a vtima aos gritos ou em voz alta, com rispidez e na frente dos demais trabalhadores e/ou clientes;

Erguer os ombros;

Olhar com desprezo para a vtima;

Critic-la com indiretas ou ironias;

Fazer brincadeiras preconceituosas que ofendam a vtima, referindo-se a questes sexuais, gnero ou qualquer outro elemento discriminatrio;

Dar ordens confusas e imprecisas;

Retirar-lhe os instrumentos de trabalho (telefone, fax, computador, etc.);

No dirigir o olhar ou a palavra vitima (ignor-la);

No dar bom dia, agradecer ou pedir desculpas;

Interromper a vtima quando ela est falando, desconsiderando ou recriminando suas ideias, ou impedi-la de se expressar sem explicar o porqu;

Repassar tarefas vtima sem com ela comunicar-se, determinando que outro empregado, que no seu chefe, o faa ou, ainda, repassar os servios somente por bilhetes;

Atribuir funes vtima que a isolam ou deix-la sem funes;

Determinar que ela realize funes inferiores sua capacidade ou inferiores ao seu cargo;

Dar tarefas com grande complexidade ou para serem realizadas em curto espao de tempo, objetivando evidenciar a sua incompetncia;

Exigir tarefas alm dos seus conhecimentos;

Tratar a vtima com rigor excessivo, formulando relatrio aos superiores com o objetivo de informar erros pequenos e sem relevncia ou puni-la em desproporo diante da falta cometida;

Suspirar seguidamente quando est na presena da vtima, no objetivo de provocar-lhe a ideia de que est sendo incmoda, equivocada ou cansativa;

Transferir a vtima para outro(s) local (is) de trabalho, por motivo alheio ao servio e/ou que inviabilize ou torne muito difcil sua permanncia no emprego;

Exemplos de condutas: assdio moral organizacional

Colocar o empregado que retorna de licena mdica sentado, em local visvel aos demais empregados, e no lhe dar nenhum tipo de servio, com o objetivo de conseguir que ele pea demisso e que sirva de exemplo aos outros trabalhadores;

Estabelecer penalidades aos trabalhadores com menor produo ou que no conseguem atingir as metas, tais como pagamento de prendas (danar em cima de mesas com movimentos constrangedores, marchar no ptio, fazer flexes, vestir fantasias, receber trofu depreciativo - abacaxi, tartaruga, pig);

Expor o nome do pior vendedor ou trabalhador do setor em mural;

Estabelecer metas conjuntas, criando punies para o grupo, caso um dos empregados no consiga atingir a meta;

Estabelecer metas de trabalho sempre superiores s que so atingidas pelo obreiro, gerando uma espiral sem fim e disseminando para os empregados que o fato de no atingir as metas originar o seu rebaixamento e at a sua despedida;

Impedir os trabalhadores de irem ao banheiro ou estabelecer tempo para tal atividade.

Elementos configuradores do assdio sexual

- Conceito do cdigo penal - Art. 216-A. Constranger algum com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condio de superior hierrquico ou ascendncia inerentes ao exerccio de emprego, cargo ou funo. (Includo pela Lei n. 10.224/01)

- Conceito de Rodolfo Pamplona, aceito pela doutrina:

a) toda conduta de natureza sexual;

b) no desejada pela vtima;

c) cometida por superior hierrquico ou no (inclusive colegas e clientes);

d) embora repelida pelo destinatrio;

e) e continuamente reiterada pelo ofensor;

f) que cerceia a liberdade sexual da vtima.

Distino entre assdio moral e assdio sexual :

essencialmente o objetivo perseguido pelo conduta constrangedora:

- no assdio moral: humilhar, constranger, controlar a subjetividade ou excluir a vtima no ambiente de trabalho (atenta contra a sua dignidade como pessoa);

- no assdio sexual: conseguir uma vantagem ou favorecimento sexual (atenta contra a liberdade sexual da vtima);

Medidas de preveno

Difundir conhecimentos a respeito do assunto dentro da Instituio:

a) estabelecer um cdigo de tica declarao expressa de contrariedade da Instituio quanto ao assdio normas claras que assegurem o respeito no ambiente de trabalho fixao das responsabilidades;

b) incluir no PPRA e PCMSO a realizao de palestras e dinmicas peridicas e na semana de preveno de acidentes de trabalho, sobre tica, relaes interpessoais e sade mental no trabalho, com foco no assdio moral;

b.1) a organizao das palestras podem ficar a cargo do SESMT ou da CIPA;

b.2) qualificar a diretoria(**), os gestores e ocupantes de chefia (desenvolver gesto participativa e responsvel, identificao e soluo de conflitos e de condutas assediantes);

c) constituir um rgo ou comisso, composta de empregados eleitos e por representante(s) da Instituio, a qual ficar responsvel pela recepo e apurao das denncias sobre o tema, e ainda participar das decises a respeito das punies e soluo dos problemas, juntamente com o Recursos Humanos;

d) se for vivel, aps a soluo do assdio, promover encontro entre a vtima e o assediador, com o objetivo de conseguir a pacificao das mgoas e evitar novos conflitos.

Medidas de combate

a) criar mecanismos de oitiva da vtima;

b) contratar ou designar profissionais capacitados (psiclogos) para auxiliar na resoluo dos conflitos;

c) promover, depois de apurados os fatos e constatado o assdio, reunio da comisso e do RH com o assediador visando que ele justifique a sua conduta tal medida poder fazer com ele reflita a respeito dos seus atos;

d) punir o assediador por sua conduta desrespeitosa e ao mesmo tempo conscientiz-lo da necessidade de mudana de comportamento;

e) acompanhar a conduta do assediador, de modo a verificar se efetivamente modificou a sua postura;

f) caso o ofensor no altere sua conduta, a melhor punio despedi-lo (esse ato demonstra o comprometimento da empresa com o combate ao assdio);

g) incluir nos termos de ajustamento clusula prevendo a publicao do compromisso.

Perguntas e Respostas

Obs.: ANTES DE LER AS PERGUNTAS E RESPOSTAS, LEIA O CONCEITO E ELEMENTOS DO ASSDIO MORAL INTERPESSOAL E INSTITUCIONAL.

1- Posso fazer uma denncia annima de assdio moral ?

Resposta: Pode-se ver pelo conceito e pelos elementos caracterizadores do assdio moral, descritos neste site, que trata-se de uma situao complexa, que, para ser comprovada, necessita de uma investigao profunda, com oitiva de testemunhas e vtima(s) que possam descrever detalhes minuciosos do comportamento das pessoas envolvidas (assediador e assediado). Portanto, invivel instaurar um procedimento sem que testemunhas e/ou vtimas se disponham a prestar tais esclarecimentos. Concluso : a denncia pode at ser annima, mas deve informar quem /so a(s) pessoa(s) assediada(s) e os nomes de colegas de trabalho que possam dar detalhes sobre os fatos.

2- Se meu chefe me transferiu ou me colocou disposio, no meu entender por mera perseguio gratuita, isso assdio moral ?

Resposta: Uma transferncia, dentro do mesmo rgo e para atuar no mesmo cargo para qual o servidor foi concursado est dentro do poder discricionrio do gestor. Porm, se h provas (documentais e/ou testemunhais) de que a transferncia foi por motivos escusos, no relacionados ao interesse pblico, o ato poder ser anulado, pois foi praticado com abuso de autoridade. Se a transferncia for integrante de um conjunto de atos ou omisses que potencialmente possam causar dano personalidade do servidor, caracteriza-se o assdio moral, conforme conceitos e elementos j descritos. O assdio moral, assim caracterizado, enseja a atuao da Promotoria de Sade do Trabalhador. Contudo, para resolver sua situao decorrente de um ato isolado de transferncia, mesmo que com abuso de autoridade, o servidor dever constituir advogado.

3- Se meu chefe gritou comigo, me disse coisas horrveis, que me fizeram chorar, assdio moral ?

Resposta : Se tudo isso ocorreu num nico momento, no ir caracterizar assdio moral, pois, conforme o conceito, um de seus elementos a repetitividade da conduta de forma que se instaure um processo que potencialmente possa afetar a autoestima do trabalhador/vtima, causando-lhe insegurana no momentnea sobre sua capacidade e valor, ou seja, que possa causar-lhe um transtorno psquico, mais ou menos duradouro, com repercusses no mbito de sua personalidade. Atitudes de exploso isolada de sentimentos no ensejam assdio moral, pois no tm a capacidade potencial de minar a autoestima do trabalhador. Porm, este pode constituir advogado e protocolar ao de indenizao por danos morais, principalmente se o agravo ocorreu em pblico (na frente de colegas). Alm disso, pode registrar ocorrncia policial pelos crimes contra a honra (difamao, calnia ou injria) dependendo das palavras utilizadas pelo ofensor.

4- Ns temos um chefe imediato que est provocando o maior terror entre os servidores, praticando diversos abusos de autoridade. Isso assdio moral ? Enseja a atuao da Promotoria ?

Resposta: Enseja a atuao da Promotoria, que precisar ouvir depoimentos de diversos trabalhadores, para identificar se caso de assdio moral institucional, conforme o conceito apresentado neste site.