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REPORTAGEM ESPECIAL
44 Revista O Papel - fevereiro/February 2015
Aspectos operacionais e tecnológicos em caldeiras de recuperação
Os avanços tecnológicos e o aumento da capaci-
dade operacional das caldeiras de recuperação
na última década trouxeram novas demandas
de aprendizado operacional dos novos equipamentos
instalados nas plantas do setor de celulose e papel. Isto
pode ser observado nos projetos de caldeiras que entra-
ram em operação, assim como reformas, nas fábricas:
Veracel (2005, 4000 tDS/d), Nueva Aldea (2006, 4400
tDS/d), UPM Uruguay (2006, 4450 tDS/d), Suzano Mu-
curi (2007, 4700/5500 tDS/d), Fibria Três Lagoas (2009,
5300 tDS/d), Eldorado (2012, 6800 tDS/d) e Suzano Ma-
ranhão (2013, 7000 tDS/d).
Para atender a essas mais recentes necessidades de
intercâmbio de experiências e constantes atualizações
técnicas entre os operadores de caldeiras, a ABTCP pro-
moveu em 26 de novembro último, na Eldorado Brasil,
em Três Lagoas (MS), o 11.º Encontro de Operadores
de Caldeiras de Recuperação, que contou com a pre-
sença de mais de 160 profissionais. “Hoje, o processo
de aprendizado operacional leva no mínimo de três a
11.º Encontro Anual de Operadores de Caldeiras de Recuperação, promovido pela ABTCP em novembro último na Eldorado Brasil, em Três Lagoas (MS), discutiu formas de transferir o aprendizado operacional de forma rápida e eficiente
Por Thais Santi
11º Encontro de Operadores de Caldeira de Recuperação reuniu profissionais do Brasil e do Uruguai na fábrica da Eldorado Brasil, em Três Lagoas (MS)
ELDO
RADO
BRA
SIL
quatro anos para acontecer desde a aquisição do equi-
pamento. O desafio é, portanto, adquirir e assimilar essa
experiência com as plantas novas existentes e transferir
para os novos projetos de forma rápida e eficiente”, afir-
mou Augusto Lovo, gerente de Serviços da Valmet, que
ministrou palestra no evento.
A segurança das caldeiras de recuperação também
foi destaque do 11.º Encontro de Operadores da ABTCP.
Ajustes no controle de ar, distribuição de licor e camada,
distribuição de gases, previsibilidade de entupimento e
otimização de campanhas estiveram entre os pontos de
atenção destacados nas apresentações dos palestrantes
das empresas presentes. Além da Valmet, a Buckman co-
mentou sobre o uso de um auxiliar de combustão para
se obter a combustão homogênea do licor preto, e a
Solenis abordou os programas de tratamento de águas
para caldeiras de alta pressão. (Saiba mais sobre como
analisar se o tratamento de água está tendo o desem-
penho adequado a partir do quadro “Time-in-box”)
A NR-13 – Norma Regulamentadora de Caldeira e
Vasos de Pressão também esteve em pauta durante o
evento. O tema estimulou debates importantes sobre
experiências dos participantes das empresas do setor
em relação às mais recentes alterações da norma que
geram impacto em novas fronteiras para a operação e a
manutenção das caldeiras. Além disso, as novas regras
também envolvem levantamento, classificação e enqua-
dramento das tubulações; compilação da documentação
exigida; elaboração de programa e planos de inspeção
de tubulações e ainda estabelecimento de prazos.
Para alguns profissionais presentes ao evento, a possi-
bilidade de operar as caldeiras de recuperação por até 15
meses sem necessidade de paradas foi um significativo
avanço que permitiu aos fabricantes de celulose maior fle-
xibilidade no planejamento de suas operações. O avançado
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A troca de experiências durante o encontro de operadores tam-bém é um momento de orientação valioso para os participantes. Na ocasião, além de apresentar os tratamentos de água para caldeiras de recuperação, Anderson José Beber, líder de Aplicações da Divisão de Águas Industriais da Solenis, falou sobre como analisar os resul-tados dentro do tratamento indicado.
Em caldeiras de alta pressão, o tratamento congruente é o mais indicado, uma vez que há alto risco de diversos tipos de contamina-ções. Nessa faixa de pressão – e também pela natureza do equipa-mento –, exige-se alto grau de pureza de água. Assim, “os desafios são manter os parâmetros físico-químicos dentro das faixas reco-mendadas. Para auxiliar nesse processo, o gráfico time-in-box, que tem dois parâmetros de controle, proporcionará maior segurança, com preservação do equipamento e melhoria da eficiência de troca térmica”, descreveu Beber.
Segundo o líder de Aplicações da Solenis, muitas fábricas não fazem uso correto desse gráfico, ao qual “não é dada a devida importância, mas se trata de um controle simples que pode pre-venir grandes prejuízos no futuro”, alertou Beber. Saiba mais nos gráficos abaixo.
Time-in-box O primeiro gráfico mostra uma caldeira com baixo controle
físico-químico da água que vai gerar o vapor. Nesta caldeira, o tempo na caixa (time-in-box) ficou em 86%, considerado baixo.
Já o segundo gráfico mostra uma caldeira com um controle físi-co-químico superior, com tempo na caixa de controle em 99%, que é considerado excepcional.
A segunda caldeira mostra que, mesmo havendo variações de produção de uma fábrica, contaminações de água e outras pertur-bações, o sistema utilizado (produtos, equipamentos de dosagem, válvulas automáticas, bombas e controladores, entre outros itens) é robusto o suficiente para dar uma resposta quase imediata de correção do parâmetro e mantê-lo dentro das faixas recomenda-das. “A literatura recomenda que o tempo mínimo dentro do box de controle seja de 90%. Com valores superiores a esse percentual, minimizam-se problemas relativos a diversos mecanismos de cor-rosão (ácida, cáustica, etc.) e também de formação de depósitos. Além disso, caso haja alguma contaminação, há capacidade de ab-sorver e minimizar os problemas associados de tal contaminação”, completou o profissional da Solenis.
estágio de maturidade atingido, tanto no projeto quanto na manutenção
e na operação das caldeiras, também garantiu um alto nível de segurança
dos equipamentos, corroborando para o aumento do intervalo entre inspe-
ções. “Por outro lado, essa nova condição operacional trouxe desafios, pois
não se trata apenas de uma simples “extensão” da campanha anual, mas
principalmente a necessidade de continuar progredindo no rigor técnico
operacional e das manutenções programadas”, evidenciou Lovo.
O gerente da Valmet complementou que, em relação a esse progres-
so normativo, a revisão dos programas de inspeção e análise crítica
da vida útil dos componentes e de partes de cada caldeira em par-
ticular devem ser realizados com especial ênfase para caldeiras que
já apresentam problemas relevantes de manutenção, tais como trincas
em tubos da fornalha. Lovo comentou ainda que o tema sobre as NRs
tem exigido das empresas, de forma geral, um trabalho consistente
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de adaptação aos requisitos e manutenção do atendimento contínuo
às regras vigentes. “A revisão da NR-13 em 1994 levou muitos anos
para ser assimilada pelas empresas, e pode-se dizer que, passados 20
anos, ainda não está totalmente implementada e mantida pelas orga-
nizações. Já a nova revisão, de 2004, despertou interesse diverso, pois
trouxe com as novas exigências, como a inclusão de tubulações, algu-
mas vantagens e flexibilizações, a exemplo da extensão do prazo de
inspeção periódica das caldeiras de recuperação, a não obrigatoriedade
do teste hidrostático periódico de vasos de pressão e a diminuição da
quantidade de itens considerados como “risco grave e iminente”, des-
tacou Milton Mentz, diretor na MKS Serviços Especiais de Engenharia.
Além disso, o interesse em beneficiar-se das vantagens dessa revisão
tem instigado as empresas a também adequarem-se aos novos requisi-
tos, gerando um movimento intenso ao redor do assunto. “Alguns requi-
sitos para tubulações têm prazo de implementação até abril de 2015 e
outros até abril de 2016, o que está requerendo extrema agilidade por
parte das empresas”, acrescentou Mentz. Atualmente, completou Lovo,
muitas caldeiras já não conseguem operar 12 meses sem paradas para
limpeza a seco e com água ou troca de bicas de smelt. “Nesses casos, a
extensão do período entre inspeções precisa ser avaliada criteriosamen-
te”, destacou o gerente da Valmet.
Lovo enfatizou ainda que não se pode adotar uma única regra para
todas as caldeiras, devendo haver uma rigorosa avalliação de seu his-
tórico operacional e de manutenção antes de se adotarem períodos
maiores entre paradas. “Não há muitas dúvidas em relação à extensão
de prazos, mas sim a preocupação de que a extensão passe a ser o pa-
drão do setor, e não a exceção, como havia sido originalmente pensado
e pleiteado”, acrescentou Mentz, fazendo referência à participação do
setor na Comissão Nacional Tripartite Paritária (CNTT) para revisão das
normas, cujo representante, Juliano Takahashi, transferiu o cargo a par-
tir de 2015 para Fabricio Luiz Stange.
Na pauta de trabalhos para o presente e os próximos exercícios da
CNTT – NR13 constam os seguintes temas:
• capacitação do profissional;
• sistemas e dispositivos de proteção;
• inspeção não intrusiva;
• recipientes móveis e transportáveis;
• projeto de alteração ou reparo;
• vasos sob condição de vácuo;
• vasos não metálicos;
• instalação dos equipamentos;
• registro de segurança;
• enquadramento da caldeira C;
• revisão da definição de pressão máxima de operação; e
• equipamentos antigos, construídos sem código.
De volta à atividade - CSCRBEm 2014, o Comitê de Segurança de Caldeiras de Recuperação
do Brasil (CSCRB) emitiu um documento com as recomendações do
ponto de vista de segurança, para que a campanha de uma caldeira
possa ser estendida. Tais orientações devem ser seguidas por todas
as fábricas. (Confira no quadro em destaque alguns casos em
que a extensão de prazo de inspeção é contraindicada) Reati-
vado desde o ano passado, o CSCRB tem participado ativamente
dos encontros do setor de celulose e papel, a fim de difundir as
boas práticas em caldeiras. Através da apresentação de cases, o
aprendizado é acelerado, ou seja, os problemas que acontecem em
determinada caldeira são apresentados e discutidos abertamente
entre os operadores com o objetivo de prevenir acidentes.
Durante o 11.º Encontro de Operadores da ABTCP, os cases apre-
sentados foram relativos às empresas Fibria, Eldorado, Lwarcel e
Veracel. Embora o número de acidentes em caldeiras tenha dimi-
nuído consideravelmente nos últimos anos, o Subcomitê de Parada
de Emergência deve ser ainda mais incisivo em relação à seguran-
ça da operação, conforme os profissionais das principais fábricas
do setor. “Ao longo do tempo, notou-se diminuição nas explosões
em tanques de dissolução e aumento no número de drenagens de
emergência. Tivemos dez drenagens desde 2008”, comentou Jonas
Pedro, da empresa Ibase e membro do CSCRB.
Por esse motivo, entre os pontos de maior atenção, o CSCRB
intensificará em 2015 as discussões sobre entupimento. “Preci-
samos trabalhar com o menor arraste possível, ter um sistema
de sopragem eficiente e adequado e também um licor de boa
qualidade, ou seja, com baixos teores de cloretos. Quanto aos
equipamentos periféricos, há necessidade de uma manutenção
preditiva e preventiva atuante que busque antecipar os proble-
mas. A inspeção operacional também é fundamental”, comple-
tou o profissional da Ibase.
Entre outros assuntos que estão entrando em pauta, ainda é
incerta a vida útil dos superaquecedores das caldeiras X-L. “Acre-
dito que as inspeções entre paradas poderão detectar eventuais
processos de trincas na região entre a passagem do teto até os
coletores dos superaquecedores”, pontuou Pedro. Já a região do
ar primário e a abertura das bicas continuam apresentando trin-
cas, disse ele, mas novos materiais estão em desenvolvimento
para eliminar esse problema. Segundo ele, a falta de experiência
do Black Liquor Recovery Boiler Advisory Comittee (BLRBAC) com
caldeiras X-L só poderá ser resolvida quando os Estados Unidos
tiverem sua primeira caldeira X-L, fato que não deve demorar tan-
to tempo, conforme Pedro, em função do retorno da competitivi-
dade americana no setor de celulose e papel. n
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Casos em que a extensão de prazo é contraindicada 1. Histórico recente de trincas localizadas em tubos cuja falha possa causar
vazamento que possibilite o contato água-smelt (principalmente na fornalha baixa, casos como trincas em tubos de aberturas de ar e/ou bicas de smelt, selagem do piso, pinagem, etc.).
2. Histórico recente de erosão/corrosão em tubos cuja falha possa causar vazamento que possibilite o contato água-smelt (principalmente na região do piso da fornalha, aberturas de ar e aberturas de bicas de smelt).
3. Caldeiras com histórico recente de relevante corrosão e/ou depósitos no lado de água, mecanismo de difícil quantificação e acompanhamento.
4. Histórico recente de erosão/trincas relevantes em bicas de fundido (especial atenção aos casos em que houve vazamento de água de refrigeração).
5. Histórico recente de vazamentos em partes de pressão cuja falha possa causar vazamento que possibilite o contato água-smelt, principalmente no caso de ESP com drenagem rápida.
6. Histórico recente de vazamentos de smelt na fornalha baixa (por aberturas/caixas de ar primário, abertura de bicas de smelt ou vedações de piso/parede).
7. Caldeiras com reparos temporários em partes de pressão cuja falha possa causar vazamento que possibilite o contato água-smelt.
8. Existência de regiões cujas espessuras tenham sido definidas como subcríticas ou marginalmente suficientes, em medições recentes. (Considerar o conceito de espessura recomendada x espessura mínima calculada – ver guia de inspeção para maiores detalhes).
9. Existência de regiões onde as medições de espessura tenham evidenciado taxa de desgaste altamente variável, inviabilizando o cálculo confiável de vida remanescente.
10. Caldeiras que passaram por recentes incidentes e/ou alterações de processo/operação, com potencial de produzir novos tipos de danos ou agravar existentes (aumento relevante de cloreto e potássio, aumento de carga, contaminação da água da caldeira, etc.).
11. Caldeiras que passaram por reformas com modificações significativas de projeto e em parâmetros de operação e processo (aumento de carga, novo sistema de ar, etc.), desenho mecânico e materiais.
12. Caldeiras novas, antes da primeira inspeção periódica.
13. Caldeiras que passaram por lavagem química no lado água/vapor na última parada de inspeção periódica.
14. Caldeiras em que houve perda parcial do histórico de manutenção/inspeção (por exemplo, mudança de profissional habilitado e/ou empresa inspetora).
A ABTCP agradece o patrocínio do 11.º Encontro de Operadores de Caldeiras de Recuperação pelas empresas Buckman e Solenis e o apoio da Eldorado Brasil, que recebeu o evento em sua fábrica em Três Lagoas (MS). O evento contou com a participação de 164 profissionais.
Fonte: GUIA PARA EXTENSÃO DE PRAZO DE INSPEÇÃO PERIÓDICA DE CALDEIRAS DE RECUPERAÇÃO