aspectos gerais dos solos do acre com ênfase ao manejo sustentável

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 10 Capítulo 1. Aspectos Gerais dos Solos do Acre com Ênfase ao Manejo Sustentável EDSON ALVES DE ARAÚJO EUFRAN FERREIRA DO AMARAL PAULO GUILHERME SALVADOR WADT JOÃO LUIZ LANI Introdução A maior parte das terras do Acre é inexplorada. Entretanto, as perspectivas quanto a sua ocupação em curto e médio prazo vêm se constituindo uma grande preocupação, principalmente por estar sendo feita de modo desordenado, desrespeitando-se, muitas vezes, as condições ambientais. As principais atividades do setor primário da economia no Estado são o extrativismo vegetal, a agricultura de subsistência e a pecuária, sendo esta última a que mais tem crescido nos últimos anos. O solo exerce um papel muito importante na qualidade de componente chave no processo de sustentação de tais atividades. No entanto, as pesquisas sobre os solos do Acre ainda não atendem quantitativamente às necessidades, para que um número maior de respostas seja dado sobre a sua influência nos ecossistemas naturais e agropastoris em que estão inseridos. Nos últimos anos, os levantamentos e estudos de solos foram intensificados, e suas contribuições têm elevado significativamente o conhecimento atual no que concerne à gênese, morfologia, física, química, mineralogia e ao manejo. Isso tem permitido estabelecer inferências sobre a melhor utilização de alguns desses solos. ARAÚJO, E. A. ; AMARAL, Eufran Ferreira Do ; WADT, Paulo ; LANI, João Luiz . Aspectos gerais dos solos do Acre com ênfase ao manejo sustentável. In: Paulo Guilherme Salvador Wadt. (Org.). Manejo de solo e recomendação de adubação para o estado do Acre. Rio Branco: Embrapa/CPAF-Acre, 2005, v. , p. 10-38. Como citar este artigo:

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8/14/2019 Aspectos gerais dos solos do Acre com ênfase ao manejo sustentável

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Capítulo 1. Aspectos Gerais dos Solos doAcre com Ênfase ao Manejo Sustentável

EDSON ALVES DE ARAÚJO 

EUFRAN FERREIRA DO AMARAL 

PAULO GUILHERME SALVADOR WADT 

JOÃO LUIZ LANI 

Introdução

A maior parte das terras do Acre é inexplorada.Entretanto, as perspectivas quanto a sua ocupação emcurto e médio prazo vêm se constituindo uma grandepreocupação, principalmente por estar sendo feita demodo desordenado, desrespeitando-se, muitas vezes, ascondições ambientais.

As principais atividades do setor primário da economia noEstado são o extrativismo vegetal, a agricultura desubsistência e a pecuária, sendo esta última a que maistem crescido nos últimos anos.

O solo exerce um papel muito importante na qualidade decomponente chave no processo de sustentação de taisatividades. No entanto, as pesquisas sobre os solos doAcre ainda não atendem quantitativamente àsnecessidades, para que um número maior de respostasseja dado sobre a sua influência nos ecossistemasnaturais e agropastoris em que estão inseridos.

Nos últimos anos, os levantamentos e estudos de solosforam intensificados, e suas contribuições têm elevadosignificativamente o conhecimento atual no que concerneà gênese, morfologia, física, química, mineralogia e aomanejo. Isso tem permitido estabelecer inferências sobrea melhor utilização de alguns desses solos.

ARAÚJO, E. A. ; AMARAL, Eufran Ferreira Do ; WADT, Paulo ; LANI, João Luiz . Aspectos gerais dos solos do Acre com ênfase aomanejo sustentável. In: Paulo Guilherme Salvador Wadt. (Org.). Manejo de solo e recomendação de adubação para o estado do Acre.

Rio Branco: Embrapa/CPAF-Acre, 2005, v. , p. 10-38.

Como citar este artigo:

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O objetivo do presente capítulo é caracterizar o ambienteem que se insere os solos do Estado do Acre, para quesuas potencialidades e restrições sejam compreendidasde forma mais ampla, inclusive quanto às questõesligadas ao uso sustentável.

O Ambiente de Inserção dos Solos no Estado do Acre

O Estado do Acre possui 152.589 km2, o que correspondea 1,79% do território nacional. Localiza-se e ocupa 3,16%

da Região Norte, no sudoeste da Amazônia brasileira(Acre, 2000).

Os estudos referentes à caracterização e mapeamentodos solos efetuaram-se em levantamentos pedológicosrealizados a partir da década de 70. Os principaisestudos foram: a) Projeto Radambrasil (Brasil, 1976 e1977) que envolveu toda a extensão territorial do Estado,originando mapas em escala 1:1.000.000; b) Projeto deProteção do Meio Ambiente e das ComunidadesIndígenas (IBGE, 1990 e 1994), abrangendo o primeiroprojeto parte do Estado do Acre, Rondônia e Amazonas eo segundo, as bacias dos Rios Juruá e Javari, nosMunicípios de Cruzeiro do Sul, Feijó, Mâncio Lima eTarauacá; c) Projeto Acre que levantou solos da área deinfluência da BR 364, no trecho Rio Branco–Cruzeiro doSul (estudo não concluído); d) levantamentosexploratórios e detalhados em pólos de assentamento dareforma agrária e pólos agroflorestais; e) maisrecentemente, alguns levantamentos detalhadosrealizados pelo programa de Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado (Acre, 2000). Novos estudos,incluindo levantamentos de solo mais detalhados ao

longo dos principais eixos rodoviários, estão atualmentesendo realizados para a segunda etapa do programa deZoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre.

Os dados disponíveis sobre geologia, litologia,geomorfologia, clima e vegetação são basicamenteaqueles do Projeto Radambrasil, cujas informaçõesessenciais foram revistas quando da elaboração do

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Zoneamento Ecológico-Econômico para o Estado do Acre(Acre, 2000).

Geologia

No Acre, foram identificadas três regiões geologicamentedistintas:

1) Complexo Fisiográfico da Serra do Divisor (serras RioBranco, Juruá-Mirim, Moa e Jaquirana), formadoprincipalmente por sedimentos do Cretácio e pequenas

ocorrências do Pré-Cambriano e do Paleozóico, localiza-se no extremo sudoeste do Estado, na divisa entre oBrasil e o Peru.

2) Sedimentos das Formações Ramon e Solimões, estaúltima constituindo-se a deposição continentalgeologicamente mais recente (Plioceno médio aoPleistoceno) e abrangendo a maior parte do Estado.

3) Áreas aluviais, formadas pelos terraços fluviais, eáreas aluvionares (Quaternário).

Essas formações geológicas se inserem na Bacia doAcre, que localiza-se entre a Cordilheira Andina e o limiteocidental da Plataforma Continental Sul-Americana. Essabacia teve sua evolução afetada pela orogenia andina(levantamento da Cordilheira Andina Oriental), conformese descreve adiante.

As unidades litoestratigráficas que ocorrem têm idadesque vão do Proterozóico até o presente. Na região houvetambém transgressões marinhas. A primeira ocorreu noCarbonífero, período no qual os sedimentos da FormaçãoFormosa se depositaram em ambiente marinho raso.

Após a deposição da Formação Formosa, ocorrerameventos ígneos de natureza alcalina. Cessada a atividadeígnea, a Bacia do Acre entrou em subsidência com aborda leste positiva, propiciando uma sedimentaçãoclástica regressiva. É, então, depositado o Grupo Acre,inicialmente com os arenitos com estratificação cruzada

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da Formação Moa, com características típicas deambientes de deposição rápida de várias fontes nãomuito distantes.

Ao final da época Campaniana ocorreram outrastransgressões marinhas originadas a partir do Peru,proporcionando a essa formação caráter cada vez maismarinho. Ao final desse período houve movimentos dacrosta provocados pelas orogenias, afetando a Bacia doAcre. Esses movimentos resultaram em levantamentosdas áreas localizadas a leste, proporcionando uma rápidadeposição de arenitos grosseiros que constituem a

Formação Divisor, finalizando-se a deposição do GrupoAcre.

A partir do Terciário, iniciou-se um novo ciclodeposicional, predominantemente continental, comincursões marinhas, que constituem a Formação Ramon.Esses sedimentos originaram-se de rochas preexistenteslocalizadas a leste da área subsidente, que constituíamáreas emersas, fornecendo material removido pelaerosão.

Nesse período, a Bacia Subandina esteve sujeita aoseventos diastróficos, responsáveis pelo soerguimento daCordilheira Andina. Na Bacia do Acre, o Grupo Acre foisoerguido originando o Complexo Fisiográfico da Serrado Divisor; no final do Terciário Superior, foi dobrado efalhado, originando a Anticlinal do Moa.

Durante essa fase orogênica, na qual se processa osoerguimento da Cordilheira Andina, a Bacia do Acre, quedurante todo o Cretáceo e Terciário Inferior tinha sidomarginal e pericratônica, torna-se bloqueada pelosoerguimento dos Andes, transformando-se numa bacia

intracontinental. Como conseqüência disso, processa-seuma inversão no sentido da rede de drenagem, quepassa a fluir para leste, criando assim um ambientetipicamente fluvial. Isso proporcionou a deposição deespessos pacotes argilo-arenosos, que passaram aassorear a Bacia do Acre, constituindo, então, aFormação Solimões.

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Essa unidade litoestratigráfica teve sua deposiçãoiniciada provavelmente depois do Paroxismo Andino(evento que deu origem à Cordilheira Andina), daí seuposicionamento no Plioceno Médio ao Pleistoceno. Essefato tem alicerce na deposição das camadashorizontalizadas, jazendo sobre camadas dobradas,marcando o início do seu ciclo deposicional.

A ocorrência de veios de gipsita e material carbonático naFormação Solimões, depositados em ambientecontinental de água doce, indica a presença de climasemi-árido. O soerguimento da Cordilheira Oriental

Andina teria bloqueado a Bacia do Acre, transformando-ade bacia marginal e aberta durante todo o Cretáceo eTerciário Inferior em uma bacia intracontinental.Associada a esse fato, supõe-se ter havido uma inversãono sentido das correntes fluviais, originando um ambientetipicamente fluvial, com algumas influências deltaicas elacustrinas salobras. A origem do material carbonatadodeve-se ao fato de que esses sais solúveis foramcarregados pelos cursos d'água de fontes situadas àoeste da Bacia do Acre e despejados em lagosinstalados, que devem ter sido submetidos a um climaárido capaz de provocar evaporação suficiente paraformar esses evaporitos.

Após a deposição da Formação Solimões, houve umaretomada nos movimentos da crosta, porém com menor intensidade. Esses movimentos reativaram falhamentos efraturas (refletidos pelos lineamentos Nordeste-Sudoestee Noroeste-Sudeste) e condicionaram o controle nadrenagem. Em seguida, durante o Holoceno foramdepositados os aluviões dos terraços e das planíciesfluviais relacionadas à atual rede de drenagem.

A Formação Solimões, geologicamente mais recente, é amais significativa em termos de superfície ocupada,estendendo-se por mais de 80% do Estado. Cobre quasetoda a região interfluvial, com exceção do extremo oestedo Estado, onde se encontra o Complexo Fisiográfico daSerra do Divisor, geologicamente mais antigo, cujasformações ocorrem apenas dentro do Parque Nacional daSerra do Divisor e do seu entorno (Formação Ramon e

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Grupo Acre). Outras formações geologicamente recentesconstituem-se os Depósitos Aluviais Holocênicos, quetêm ampla distribuição no Estado, e a Formação Cruzeirodo Sul, formada por sedimentos mais arenosos e osaluviões da planície fluvial, que ocorre a leste da cidadedo mesmo nome.

Litologia

O Complexo Fisiográfico da Serra do Divisor nãoapresenta, atualmente, interesse do ponto de vista de uso

do solo, por situar-se no extremo oeste do Estado emáreas de difícil acesso. Ademais, sua extensão territorialé restrita.

Por outro lado, os principais solos de uso agrícola doEstado pertencem à Formação Solimões que, por ser bastante diversificada, origina uma grande variedade declasses e tipos de solos.

Na Formação Solimões predominam rochas argilosascom concreções carbonáticas (com carbonato de cálcio) egipsíferas (com gesso), ocasionalmente com material

carbonizado (turfa e linhito), concentrações esparsas depirita e grande quantidade de fósseis de vertebrados einvertebrados. Subordinadamente, ocorrem siltitos,calcáreos síltico-argilosos, arenitos ferruginosos econglomerados plomíticos.

Finalmente, os principais Aluviões Holocênicosconstituem os sedimentos das planícies fluviais,sobrepondo-se discordantemente à Formação Solimões,e caracterizam-se pelos barrancos e praias em ambas asmargens dos rios. A espessura desses depósitos podevariar de um a seis metros.

Geomorfologia

O relevo no Acre varia de plano a montanhoso. Emescala regional, as unidades morfoestruturais do Estadosão:

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1) O Planalto Rebaixado (da Amazônia Ocidental)desenvolvido sobre a Formação Solimões, em área deinterflúvios tabulares de relevo plano com altitudes de250 m. Essa unidade predomina na região de Cruzeiro doSul, no extremo oeste e no leste e sudeste do Estado doAcre, onde ocorrem principalmente os Latossolos,Argissolos e Plintossolos.

2) A Planície Amazônica é representada pelas planíciesaluviais margeando os rios e pelos níveis de terraçosdescontínuos, remanescentes de sedimentos recentes,sendo a superfície mais baixa (200 m). Nessa unidade

predominam os solos característicos das várzeas dos riosexistentes no Estado, cujas principais ocorrências são osGleissolos e Neossolos Flúvicos.

3) A Depressão Amazônica (constituída no Estado pelaDepressão Rio Acre/Javari) alcança, em geral, altitudesde no máximo 300 m, sendo representada pelas extensasplanícies de idade Terciária desenvolvidas sobre aFormação Solimões e pela área de altitudes maiselevadas (até 580 m) denominada Complexo Fisiográficoda Serra do Divisor. Essa unidade compreende a maior parte do Estado, principalmente em sua região central, naqual se encontram os solos identificados pelo ProjetoRadambrasil como Cambissolos e Argissolos. Estudosposteriores indicam que nessa região predominam soloscom argilas de alta atividade, alguns com caráter álico,devendo ocorrer além das classes já relacionadas,Vertissolos, Luvissolos, Alissolos e Plintossolos. 

Clima

O clima no Acre, segundo classificação de Thornthwaite& Mather é úmido (Acre, 2000), subdividido em quatrofaixas que se distribuem na direção dos paralelos, nosentido leste–oeste: primeiro úmido (B1); segundo úmido(B2); terceiro úmido (B3); e quarto úmido (B4), cujostotais pluviométricos são, respectivamente, de 1.600 a2.000 mm, 2.000 a 2.250 mm, 2.250 a 2.500 mm e 2.500a 2.750 mm.

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A temperatura média anual está em torno de 24,5ºC, amédia máxima próxima de 32ºC e a temperatura médiamínima em torno de 20ºC, as duas últimasaproximadamente uniformes para todo o Estado.Entretanto, a temperatura mínima varia de local paralocal em função da maior ou menor exposição aossistemas extratropicais (por exemplo, em Cruzeiro do Sul,10ºC; Brasiléia, 17,4ºC; Rio Branco, 20,2ºC  e Tarauacá,19,9ºC).

A temperatura não é considerada um fator limitante aodesenvolvimento vegetal. As temperaturas mínimas

absolutas durante as friagens, que podem atingir até 4ºC,são compensadas pelas máximas que ocorrem durante atarde, provocando a interrupção do estado de retraçãometabólica que algumas plantas poderiam sofrer.

Os totais pluviométricos variam entre 1.600 e 2.750 mmanuais e tendem a aumentar no sentido Sudeste-Noroeste. Na maior parte do Estado, as precipitações sãoabundantes sem uma nítida estação seca. Os mesesmenos chuvosos são junho, julho e agosto. A principalcaracterística da pluviosidade no Estado é a diminuiçãoprogressiva da intensidade do período seco no sentidoSudeste-Noroeste, com três meses secos no setor Sudeste e menos de um no Noroeste.

A umidade relativa apresenta-se em níveis elevadosdurante todo o ano, com médias mensais em torno de80%-90%.

Vegetação

No Acre ocorrem duas grandes regiões fitoecológicas (ousistemas ecológicos regionais) – o domínio da florestaombrófila densa (FOD) e o domínio da floresta ombrófilaaberta (FOA). Essas duas grandes regiões fitoecológicasestão geralmente associadas às principais feiçõesmorfoestruturais presentes na Bacia Amazônica –Depressão Rio Acre-Javari, Planalto Rebaixado ePlanície Amazônica (Tabela 1).

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Essas feições fitoecológicas regionais da florestaombrófila densa e da floresta ombrófila aberta estãocondicionadas a fatores climáticos, geológicos epedológicos. Dentro desses dois grandes domínioscoexiste uma grande diversidade de formações vegetais,sendo o principal fator nessa diferenciação,provavelmente, o edáfico, determinado pela qualidadedos solos.

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Tabela 1. Regiões fitoecológicas e as formações vegetais associadas, segundo as prmorfoestruturais do Estado do Acre.

Região fitoecológica Formação vegetalDepressão Rio Acre-Javari

Floresta ombrófiladensa

Floresta densa em relevo dissecado em montanha

Floresta densa em relevo dissecado em colinasFloresta densa em relevo dissecado em cristas

Floresta ombrófilaaberta

Floresta aberta de relevo ondulado de depósitos coluviais (1. de palmeiras; 2

Floresta aberta de interflúvios coluviais (1. de palmeiras; 2. de bambu domindominado)

Planalto RebaixadoFloresta ombrófiladensa

Floresta densa em interflúvios tabulares

Campinarama em áreas de acumulação inundáveis (1. arbórea densaPlanície Amazônica

Floresta ombrófilaaberta

Floresta aberta em planícies aluviais periodicamente inundáveis

Floresta aberta em planícies aluviais permanentemente inundáveisFloresta aberta da planície aluvial em terraços altos residuais

Fonte: Acre (2000). 

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Principais Ocorrências de Classes de Solos no Estadodo Acre

As principais classes de solos que ocorrem no Acre estãorepresentadas, de acordo com o atual Sistema Brasileirode Classificação de Solos, pelos Alissolos, Argissolos,Nitossolos, Luvissolos, Cambissolos, Gleissolos eLatossolos (Tabela 2). Recentemente, estudos emandamento têm indicado que outros solos, como

Plintossolos e Vertissolos podem ter uma expressãoterritorial muito superior à prevista inicialmente, junto comoutros solos de ocorrência mais localizada, como osNeossolos Flúvicos e Espodossolos.

As unidades de mapeamento definidas no ZoneamentoEcológico- Econômico foram obtidas principalmente dacompilação de dados realizados em levantamentosanteriores (Brasil, 1976 e 1977; IBGE, 1990 e 1994).Esse processo comprometeu, de certa forma, acaracterização mais precisa das principais classes desolos que ocorrem no Estado (Tabela 2), principalmente

porque cada unidade de mapeamento constitui-se pelaassociação de várias classes de solo. Entretanto, esteestudo efetuado pelo Zoneamento Ecológico e Econômicodo Acre destaca-se por ter quantificado as áreasocupadas por cada classe de solo e ter vertido as classesde solo para o atual sistema brasileiro de classificação desolos (Embrapa, 1999).

Adicionalmente, problemas na interpretação de dadoscompilados dificultaram a reclassificação precisa dasclasses de solos do Estado, o que gerou algumasdistorções:

1) Provavelmente em muitas áreas os Plintossolos forammapeados como Argissolos.

2) Muitos Argissolos não poderiam ser classificadosatualmente como tal, por apresentarem argila de altaatividade (CTC da argila > 27 cmolc kg -1 solo) (Embrapa,1999).

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3) Muitos solos classificados como Cambissolos podemtratar-se de Vertissolos ou outras classes de solos emque haja a presença marcante de argilas de altaatividade.

Considerando-se o caso dos solos com horizontediagnóstico B textural, os dados atuais permitem inferir que em aproximadamente 64% do Estado predominamsolos com argilas de baixa atividade (Argissolos) e, emapenas 1,8%, ocorrem solos com argilas de média à altaatividade (Alissolos e Luvissolos) (Tabela 2), podendo ser essa realidade senão inversa, de certa forma distinta das

indicações atuais. Essa afirmativa baseia-se naconstatação de estudos recentes não publicados nosquais se verifica que a ocorrência de solos com argilas dealta atividade é bastante ampla no Estado, especialmentequanto aos Luvissolos cujo ocorrência provavelmente ésignificativamente superior.

Estima-se também que a ocorrência de Plintossolos tenhauma expressão territorial mais ampla do que a atualmenteindicada (Tabela 2). Como os Plintossolos estãoassociados na paisagem a solos com horizonte B textural,provavelmente muitos desses solos foramequivocadamente classificados como Argissolos. Énecessário, entretanto, estar atento para essasdiferenças, já que os Plintossolos apresentam sériaslimitações de drenagem de difícil correção, o que tornaseu potencial agrícola limitado. Alissolos, Argissolos eLuvissolos podem também apresentar problemas dedrenagem, porém, de menor intensidade e correção maisfácil.

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Tabela 2. Classes de solos no 1º e 2º nível categórico epercentual da área ocupada em relação ao Estado doAcre, agrupados segundo o horizonte diagnósticoprincipal.

Classe Área do Estado ocupada com cadaclasse de solo%

Solos com B textural (Bt)Alissolo 1,4Argissolo Vermelho 19,0Argissolo Vermelho-Amarelo 3,0Argissolo Amarelo 41,9

Luvissolo 0,4Solos com horizonte plínticoPlintossolos n.d.

Solos com horizonte B incipiente (Bi)Cambissolo Háplico 24,2

Solos com horizonte gleiGleissolos Háplicos 7,4

Solos com B latossólico (Bw)Latossolo Vermelho-Amarelo 0,8Latossolo Vermelho c.s.Latossolo Amarelo 1,1

Solos com horizonte A chernozênicoChernossolos Argilúvicos c.s.

Solos com B nítico (Bt):Nitossolo 0,8Solos com seqüência de horizontes A, R; A, C; A, C, R; ou sem

horizonte diagnóstico subsuperficialNeossolos Flúvicos c.s.Neossolos Litólicos c.s.

Onde: c.s. = ocorrem somente como componentessecundários nas unidades de mapeamento; n.d. = área deocorrência não determinada em função da falta de dadosna descrição morfológica para a caracterização precisados perfis.

Fonte: Acre (2000).

Os exemplos citados indicam que no estado atual,mesmo a visão generalizada do potencial agrícola dossolos do Acre pode merecer revisão. Isto indicanecessidade urgente de levantamentos mais detalhados,principalmente em áreas de maior pressão antrópica. Sobesse aspecto, é fundamental e prioritário que os setores

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competentes se conscientizem da necessidade de umlevantamento de reconhecimento, para que se possaproceder um reordenamento territorial baseado em umaproposta de uso sustentável das terras.

Como conseqüência prática da evolução geológica epedológica dos solos do Acre, seus indicadores dequalidade necessitam ser reavaliados: os processospedogenéticos que ocorreram nessa região são muitodistintos daqueles apresentados para classes de solosequivalentes de outras regiões do País, resultando emcaracterísticas e propriedades que tornam a interpretação

do seu potencial agrícola de maior complexidade.

Indicadores de Qualidade dos Solos do Estado doAcre

Os solos dessa região da Amazônia brasileira, emborasejam desenvolvidos de material sedimentar, apresentamcamadas superpostas de composições mineralógicasdiferentes. Evidências apontam que em muitos solos doEstado o material de origem é um composto de argila ricoem montmorilonita, com presença variável de ilita e devermiculita e pouca caulinita (Volkoff et al., 1989) . Emalguns perfis foi constatado que a montmorilonitapresente no horizonte C não ocorre nos horizontes maissuperficiais. As ilitas e vermiculitas dão origem àsesmectitas, tipo beidelita (com altas cargas tetraédricas),como observado em Cambissolos do Estado (Volkoff etal., 1989). Em solos com horizonte B textural maisdesenvolvido, as esmectitas identificadas no horizonte C,provavelmente por degradação, desaparecem noshorizontes mais superficiais, restando no perfil as ilitas e

a caulinita.No conjunto, essas características conferem aos solosuma alta fertilidade natural e elevada capacidade de trocacatiônica. No entanto, as características físicas limitam aatividade agrícola, devido à elevada capacidade deexpansão e contração das esmectitas. Outrascaracterísticas importantes desses solos é a quase

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completa ausência de gibbsita e a presença de médio aalto teores de materiais amorfos de alumínio, altos teoresde potássio, de cálcio, magnésio e alumínio trocáveis. Emsolos onde o teor de silte é mais elevado, é comumencontrar teores de magnésio trocável mais elevados queos de cálcio trocável.

Esses solos, embora possuam elevada acidez ativa(baixo valores para pH em água) e elevados teores dealumínio trocável, apresentam baixa fitotoxidade mesmopara variedades de plantas sensíveis ao alumínio. Épossível, contudo, que muito desse alumínio "trocável"

origine-se da desestabilização das esmectitas(montmorilonita e beidelita). Do ponto de vista biológico,esse alumínio apresenta baixa atividade iônica nasolução do solo e, portanto, não representa umacaracterística relacionada com a sua fertilidade (Wadt,2002). Como esses solos possuem altos teores de cálcioe magnésio associados aos altos teores de alumíniotrocável, normalmente apresentam baixos valores de pHe elevada saturação de bases.

Do ponto de vista geológico, trata-se portanto de solos jovens, formados a partir de processos geológicos, queocorreram nessa região da Amazônia: diversastransgressões marinhas do último período interglacial,seguidas por períodos áridos, possibilitaram o acúmulode carbonatos e sulfatos de cálcio no solo, formando, emalgumas áreas, veios com mais de seis metros delargura, e processos erosivos associados à última fase daepirogênese andina, que transportaram para o localmateriais vulcânicos, trazidos por processos de erosãohídrica ou eólica (Gama et al., 1992).

Essas características não são observadas com a mesma

intensidade nos solos do Planalto Rebaixado, embora,também tenham sido formados sobre a FormaçãoSolimões e suas características predominantes sejamsemelhantes aos demais solos amazônicos pertencentesàs mesmas categorias taxonômicas. Embora apredominância de caulinitas seja um denominador comumpara muitos solos da Região Amazônica, é importantedestacar o baixo ou nulo conteúdo de gibbisita (óxido de

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alumínio) mesmo na fração argila de Latossolos daregião.

Essas propriedades diferenciais, ditadas principalmentepela mineralogia, sugerem que os principais indicadoresde qualidade do solo não devem ser interpretados daforma convencional, principalmente no que se refere asua fertilidade, devendo ser objeto de estudos maisabrangentes e detalhados.

Assim, além das indicações gerais referentes a cadaclasse de solo, algumas informações adicionais devem

ser verificadas para definir sua qualidade ao uso agrícola(Tabela 3). Alguns desses indicadores fazem parte dasanálises utilizadas em levantamentos de solos, porém,como dito anteriormente, necessitam ser interpretadoscom a devida cautela. Por exemplo: os parâmetros limitesutilizados para definir níveis tóxicos de alumínio trocávelem outras regiões são questionáveis para uso nos solosdo Acre. O próprio índice de pH em água pode nãosignificar problemas de fertilidade como se fosse emoutros tipos de solo. Também, a relação entre os teoresde cálcio e magnésio trocáveis deve ser interpretada comcautela.

A interpretação correta do potencial agrícola, ditado por essas propriedades, permite avaliar antecipadamente osimpactos ambientais das atividades humanas. Essamedida evita uma sucessão de erros, como os ocorridosem alguns projetos de colonização e assentamento, emque se incentivou o desmatamento de áreas imprópriaspara exploração agrícola, causando desequilíbriosambientais irremediáveis na região e importantesprejuízos socioeconômicos.

Assim é que, por exemplo, o alumínio trocável, emboraseja um indicador de acidez de solos amplamenteutilizado em outras regiões, pelas razões já expostas, écontra-indicado para os solos do Estado do Acre e,portanto, foi excluído da lista de indicadores químicosrecomendados.

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Em relação aos indicadores físicos, a granulometria dosolo (teor de argila) é fundamental para determinar aatividade das argilas do solo (CTC/teor de argila) etambém para auxiliar na interpretação do teor de fósforodisponível, caso não se disponha do índice do Premanescente.

Outros indicadores físicos (teste de infiltração, densidadeaparente e estabilidade de agregados) informam sobre ascondições físicas do solo capazes de afetar tanto asreações físico-químicas como as biológicas relacionadasà ciclagem dos nutrientes e às condições para o

crescimento do sistema radicular.

Os indicadores biológicos (atividade microbiana e faunade solo) são importantes tanto no que se refere àciclagem dos nutrientes, como também na estimativa dacapacidade do solo para o crescimento vegetal. Soloscom maior atividade microbiana são capazes depromover uma ciclagem mais rápida dos nutrientesessenciais (principalmente nitrogênio, fósforo e enxofre),enquanto que a fauna de solo têm importante papel natrituração dos restos vegetais, na infiltração de água nosolo e na formação de agregados. Vale destacar tambéma importância de cupins ou térmitas na formação do soloe como indicador de ambientes degradados,principalmente em áreas de pastagem extensiva.

Quanto aos indicadores químicos, os valores de pH emágua e pH em KCl devem ser utilizados para determinar acarga líquida dos solos, pelo valor de ∆pH. Quanto maior o valor de ∆pH, maior a CTC líquida do solo e menor adependência da CTC do solo por cargas variáveis. Amaioria dos solos do Estado apresenta valor de ∆pHnegativo, à exceção dos horizontes superficiais com

elevados teores de matéria orgânica ou de solos de baixaCTC. É importante lembrar, contudo, que devido àintensa hidrólise de alumínio nesses solos, o valor de pHem água ou do pH em KCl, por si só, não se constitui umindicador muito útil.

O valor de saturação de bases é o mais importanteindicador para determinar a necessidade de correção da

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acidez do solo, definindo a necessidade de calagem(Wadt, 2002). Os teores de cátions alcalinos e alcalinosterrosos trocáveis (soma de bases) podem também ser adotados como um parâmetro adicional para avaliar afertilidade desses solos, porém, face à adoção dasaturação de bases como referência, os teores de cátionsalcalinos e alcalinos terrosos trocáveis somente terãoimportância caso o solo apresente baixa CTC. Nessecaso, recomenda-se que o valor crítico adotado para oteor de cálcio seja de 2 a 3 cmol c kg -1 solo, dependendodas exigências culturais, sendo a acidez potencial umindicador que deve ser usado concomitantemente com a

soma de bases para determinar a CTC do solo.

A CTC da argila é outro importante indicador dadensidade de cargas no material coloidal do solo e servepara indicar os prováveis constituintes da fração argila,quando interpretada simultaneamente com informaçõessobre ∆pH, teor de carbono orgânico e granulometria.Pelo valor da CTC da argila, ao mesmo tempo com asdemais variáveis, é possível prever se há predomínio deóxidos, argilas do tipo 1:1 ou argilas do tipo 2:1.

Por sua vez, o teor de potássio trocável isoladamente éum importante indicador sobre a capacidade do solo defornecer esse nutriente para o desenvolvimento vegetal.

O teor de carbono orgânico no solo é resultante das taxasde adição e decomposição e um dos indicadoresquímicos mais sensíveis ao uso e manejo dos solos,principalmente nas frações mais lábeis e predispostas aação de microorganismos.

Deve-se salientar que a escolha de indicadores dequalidade de solo deve seguir alguns critérios, quais

sejam: correlacionar-se bem com os processos naturaisdo ecossistema; de fácil determinação e interpretaçãopara técnicos, especialistas e produtores de modo geral;ser suscetível às variações climáticas e de manejo; e sepossível componente de uma base de dados existente(Doran e Parkin, 1996)

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Finalmente, cada classe de solo apresenta,genericamente, um conjunto de propriedades quenecessita ser interpretado ao mesmo tempo com o tipo desolo onde ocorre, para que possa ser avaliadacorretamente quanto ao seu potencial agrícola.

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Tabela 3. Indicadores de qualidade do solo para o Estado do Acre

Indicador Importância para solos do Estado do AcIndicadores físicos

1. Infiltração Drenagem

2. Textura do solo (proporção deareia, silte e argila)

Retenção e transporte de água e nutrientes; erosão do solo

3. Granulometria Determinação da facilidade ou não do ajuste de partículas que processos de compactação e adensamento do solo

4. Densidade aparente Determinação do grau de compactação do solo (comportamentradicular)

5. Estabilidade dos agregados Determinação do grau de estabilidade dos agregados do solo

Indicadores biológicos1. Quociente microbiano Determinação da atividade microbiana do solo2. Fauna de solo (minhocas,formigas, cupins e outros)

Fragmentação de restos de vegetais; Modificação da estrutura escavação e produção de coprólito; indicadora de degradação a

Continua...

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Indicadores químicos1. pH em água ou em CaCl2 0,01M Estimativa do pH do solo2. pH em KCl Estimativa do pH do solo em solução salina3. Saturação de bases Estimativa da proporção de cátions alcalinos e alcalinos terroso

troca4. Teores de cátions alcalinos ealcalinos terrosos trocáveis

Determinação do teor de cálcio, potássio e magnésio trocáveis.da necessidade de determinar o teor de sódio trocável

5. Acidez potencial Determinação da acidez total do solo (H + Al+3)6. C-orgânico Determinação do teor de matéria orgânica oxidável do solo7. CTC do solo Determinação da capacidade de troca catiônica do solo8. CTC da argila Estimativa da atividade da argila e da mineralogia9. P disponível Determinação da disponibilidade de fósforo no solo10. P remanescente Determinação da capacidade de adsorção de fosfato

Indicadores morfológicos1. Profundidade do horizonte A Riqueza de matéria orgânica e fauna do solo

2. Profundidade do solum (horizonteA + B)

Capacidade produtiva para cultivo de plantas com sistema radicpedogênese do solo

3. Presença e profundidade deocorrência de plintita, mosqueado oucores acinzentadas

Condições de drenagem e propensão aos processos de enchardo solo

4. Presença de material de solofendilhado

Indicativo de solo de argila de atividade alta

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Limitações de Uso Relevantes para os Argissolos

Os Argissolos são solos que apresentam drenagemdeficiente e baixa a média fertilidade natural, em razãodo predomínio de minerais de argila de baixa atividade.Por estarem muitas vezes associados a condições derelevo mais movimentado, são também bastantesusceptíveis à erosão. Nesses solos, além dosindicadores de qualidade (Tabela 3) é conveniente avaliar o gradiente textural entre o horizonte A e o horizonte Bt,

 já que se o gradiente for muito elevado, os problemas dedrenagem poderão ser mais pronunciados. Argissoloscom horizonte A mais espesso ou estrutura maisdesenvolvida normalmente serão mais aptos ao usoagrícola.

É importante lembrar que muitos solos, classificadoscomo Argissolos no Zoneamento Ecológico-Econômico  

(Acre, 2000), podem ser provavelmente Plintossolos,Alissolos ou Luvissolos, de forma que os indicadores dequalidade devem ser avaliados à luz dessa informação. Apresença de caráter plíntico em a lguns Argissolos deve

também ser considerada como um importante indício demá drenagem.

Limitações de Uso Relevantes para os Cambissolos

Os Cambissolos do Estado são solos normalmente rasosou pouco profundos, apresentam restrição de drenagem,principalmente em função da presença de minerais deargila expansíveis (argilas 2:1). Dado a essacaracterística, esses solos costumam expandir-se quandoumedecidos e a contrair-se quando secos, ocasionando o

aparecimento de fendas que podem a vir a danificar osistema radicular de plantas. Devido a essecomportamento, tornam-se solos de difícil manejo,principalmente no tocante a mecanização agrícola,conforme enfatizado por Araújo et. al (2001). Algunssolos classificados como Cambissolos no ZoneamentoEcológico-Econômico (Acre, 2000) podem apresentar horizonte com caráter plíntico ou horizontes diagnósticos

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de Vertissolos ou Luvissolos, devendo essa possibilidadeser avaliada acuradamente, já que isso afetará seupotencial agrícola. Normalmente, ocorrem em relevo maismovimentado (ondulado a forte ondulado), o que os torna,associado às suas características físicas, altamentesusceptíveis à erosão.

Quanto à fertilidade, normalmente não possuemlimitações, principalmente quando apresentam altosteores de cálcio e magnésio trocáveis ou alta CTC.

Limitações de Uso Relevantes para os Plintossolos

Embora os Plintossolos não possuam representaçãocartográfica nos mapas de solos elaborados até apresente data no Estado  (Acre, 2000), são relevantesvisto a constatação de sua ocorrência principalmente nosMunicípios de Rio Branco, Porto Acre, Xapuri e Brasiléia.Além dessas áreas, constata-se sua presença no eixorodoviário da BR 364 entre Rio Branco–Sena Madureira eRio Branco–Porto Velho (RO).

Os Plintossolos apresentam séria restrição de drenagem,

fato agravado por estarem associados normalmente àpresença de argilas de atividade alta. Se drenadosexcessivamente, há o endurecimento do horizonteplíntico, limitando ainda mais o uso agrícola, e quandosujeitos a ciclos alternados de secagem e umedecimento,seu uso torna-se mais restrito.

Limitações de Uso Relevantes para os Gleissolos

Os Gleissolos normalmente apresentam argilas de altaatividade e elevados teores de alumínio trocável etambém demonstram elevada capacidade de fixação dofósforo, possivelmente por reações de precipitação. Nãoapresentam grandes problemas de fertilidade (sãonormalmente ricos em cálcio, magnésio e potássio),embora não existam informações confiáveis sobre adinâmica do alumínio em condições de hidromorfismoaliada às condições de elevada CTC.

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Por serem solos hidromórficos apresentam drenagemmuito deficiente, com severa deficiência de oxigênio.Possuem, portanto, uso agrícola limitado, além deocorrerem em sua maioria próximo à margem de rios eigarapés

Limitações de Uso Relevantes para os Neossolos Flúvicos

Os Neossolos Flúvicos do Estado podem estar associados também à presença de argilas de altaatividade em ambiente ácido. Nesse caso, podem

apresentar uma maior capacidade de fixação de fosfato,superior à esperada em solos dessa classe de outrasregiões. De modo geral, apresentam menores restrições àdrenagem e à fertilidade que os Gleissolos e sãonormalmente de alto potencial agrícola para culturasanuais, embora, sujeitos a inundações periódicas. Osindicadores biológicos são mais recomendados paraavaliar a qualidade desses solos.

Indicadores de Qualidade Relevantes para os Latossolos

Os Latossolos no Estado do Acre apresentam umapequena distribuição territorial e ocorrem em locais derelevo plano a suave ondulado. São solos cauliníticos,com baixos teores de óxido de ferro e ausência degibbsita, indicando que sofreram um processo depedogênese de menor intensidade do que Latossolos deoutras regiões. Esse fato é importante no tocante ao usode mecanização agrícola intensiva: a ausência degibbsita e os baixos teores de ferro, agentesconsiderados agregantes do solo, fatalmente propiciarãoa compactação e ao adensamento natural, decorrentesdo ajuste face a face da caulinita (Araújo, 2001; Araújo etal., 2001; Resende et al., 2002;). Em razão do predomíniode caulinita na fração argila, apresentam também baixacapacidade de fixação de fósforo. Assim, recomenda-se aanalisar o P remanescente na avaliação da fertilidadedesses solos, o que poderá reduzir a necessidade deadubações fosfatadas.

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São solos susceptíveis à compactação, quandoapresentam maior proporção de argila na fração terra finaseca ao ar, e à erosão quando em relevo maismovimentado (suave ondulado) ou quando apresentamtextura média. Por isso, recomenda-se atenção ao avaliar seus indicadores físicos (textura, estabilidade deagregados, densidade do solo).

Possuem acidez elevada e baixos teores de cálcio,magnésio e potássio. O alumínio nesses solos podeapresentar-se mais tóxico que nos demais grupos de solodo Estado, principalmente pelo fato de que os altos

teores de alumínio trocável estarão sempre associados abaixos teores de cálcio e magnésio trocáveis.

Limitações de Uso Relevantes para outras Classes de

Solos

Os Chernossolos do Estado normalmente estãoassociados a solos pouco desenvolvidos, à presença deargila de atividade alta e a relevos mais movimentados.Associados aos Cambissolos, são de melhor fertilidade

por apresentarem um horizonte A bem desenvolvido ricoem cátions alcalinos e alcalinos terrosos trocáveis.Devem ser testados quanto à taxa de infiltração comoforma de certificar-se de seu potencial agrícola, já que adrenagem deficiente pode comprometer seu potencial deuso.

Os Neossolos Litólicos estão associados à presença derelevo ondulado a forte ondulado, que condiciona poucaatividade pedogenética. Suas principais limitaçõesdecorrem da pequena profundidade efetiva associada aorelevo movimentado, fato pelo qual apresentam potencial

agrícola muito restrito.

Os Luvissolos no Estado estão normalmente associadosa relevo mais movimentado e a solos pouco profundos,conferindo-lhes relativo grau de susceptibilidade àerosão, o que, aliado ao fato de apresentarem drenagemdeficiente, restringe seu uso agrícola, apesar da elevadafertilidade natural.

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Considerações Finais

Para a maioria dos solos do Estado, os principaisproblemas, em termos de utilização racional, estão nabaixa drenagem e disponibilidade das reservas de fósforo(limitação comum à maioria dos solos brasileiros) e naelevada erosão.

Contudo, a utilização racional desses solos requer averificação, in loco, dos principais indicadores dequalidade, de modo que possam ser tomadas medidas

corretivas ou conservacionistas adequadas para cadasituação, permitindo seu uso de forma sustentável.

A segunda fase do Zoneamento Ecológico-Econômico noEstado do Acre estará produzindo novas informações,para uma melhor interpretação do potencial agrícoladesses solos, as quais serão de muita utilidade. A corretainterpretação do potencial agrícola desses solosdependerá, ainda, de estudos que propiciem umaavaliação mais precisa dos seus diversos indicadores dequalidade, principalmente frente as várias formas de uso(florestas manejadas, florestas plantadas, agricultura

itinerante, pastagens plantadas, agricultura comercial).

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