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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH REPORT / ARTÍCULO 20 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 20-25 Aspectos filosóficos da reabilitação Philosophical aspects of Rehabilitation Aspectos filosóficos de la rehabilitación RESUMO: A Reabilitação é uma nova possibilidade da ciência para devolver o indivíduo ao seio da comunidade ou ao nós. Ao termo reabilitação estão ligados inclusão/exclusão, normal/anormal, produtivo/não-produtivo. A produtividade implicaria numa força e o seu resultado seria a Obra. Isto é o que se pode perceber a partir da filosofia Marxista. Obra, aqui, seria sinônimo de ação e os que estivessem distanciados da força de produção por qualquer anomalia, estariam, por conseguinte, excluídos da comunidade, alienados, por que não dizer, de sua condição humana. Propomos neste estudo repensar a Obra como uma passividade que é o oferecimento de Si, significado mais originário do termo Liturgia. A Reabilitação é, dentro desta proposta, um Testemunho de Si: responder de si e por si no Tribunal da Vida significa responder ao Outro pelo Outro, devolver a habilidade ao que é diferente de nós, respeitando sua diferença. O respeito e a responsabilidade dependem do reconhecimento da diferença. DESCRITORES: Reabilitação-filosofia,Inclusão social,Ética ABSTRACT: Rehabilitation is a new possibility science has to reintegrate individuals in the community. To the expression “rehabilitation” are linked opposites like inclusion/exclusion, normal/abnormal, productive/not-productive. Productivity would imply power and its re- sult would be the product. That is what we can perceive from the Marxist philosophy. Product here he would be synonymous to action and people distanced from the production forces because of any anomaly would therefore be, excluded from the community, alienated, why not say, from their condition of human beings. We aim in this study to rethink Product as a passivity that means giving our own Self, a meaning more near the origin of the expression “Liturgy”. Rehabilitation is, according to this proposal, a Witnessing of Oneself: to answer for oneself and by oneself in Life’s Court means to answer to the Other for the Other, give back ability to the one who is different from us, respecting their difference. Respect and responsibility depend on the recognition of differences. KEYWORDS: Rehabilitation-philosophy,Social Inclusion,Ethics RESUMEN: La rehabilitación es una nueva posibilidad de ciencia para devolver el individuo al seno de la comunidad o al “nosotros”. Al término rehabilitación están ligados inclusión/exclusión, persona normal/anormal, productivo/no-productivo. La productividad implicaría en una fuerza y su resultado sería la ejecución. Eso es lo que se puede percibir en la filosofía marxista. Ejecución, aquí, sería sinónimo de la acción y los que se han distanciado de la fuerza de la producción por cualquier anomalía, serían, por lo tanto, excluidos de la comunidad, mentalmente enfermos, alienados, porqué no decir, de su condición humana. Consideramos en este estudio un repensar la ejecución como pasividad o sea el ofrecimi- ento de sí mismo, el significado mas original del término liturgia. La rehabilitación es, dentro de este enfoque, un Testimonio de sí mismo: respuesta de sí mismo y para sí mismo en la Corte de la vida, significa contestar al Otro por el otro, devolver la capacidad a lo que es diferente de nosotros, respetar su diferencia. El respecto y la responsabilidad dependen del reconocimiento de la diferencia. PALABRAS LLAVE: Rehabilitación-filosofia,Inclusión social,Ética * Filósofa. Doutora em Filosofia pela Universidade Gregoriana, Roma. Coordenadora do Curso de Filosofia do Centro Universitário São Camilo. Docente da disciplina Seminário e Tópicos especiais de História da Filosofia Antiga do Centro Universitário São Camilo. [email protected] Gláucia Rita Tittanegro * Introdução No início do século XX, precisa- mente durante a Primeira Grande Guerra, surgem as Ciências da Rea- bilitação como possibilidade da ciência para devolver o indivíduo ao seio da comunidade. O foco de tais ciências se volta não só para o restabelecimento físico, mas para a reintegração do indivíduo como um todo. Tal reintegração suben- tende o afastamento desse mesmo indivíduo da comunidade pelos mais variados motivos, a saber, dis- funções ou anormalidades nas di- ferentes modalidades da existência psíquica (barreiras de comporta- mento, obstáculos sociais e cultu- rais), física (incapacidade motora, anormalidades), social (impossibi- lidade de integração), cultural etc. A reabilitação é, assim, estreita- mente ligada à noção de normali- dade e ao seu contrário, a anorma- lidade. Fazem parte desse mesmo contexto as idéias de função e dis- função, as quais deveriam nortear o estudo e a concepção das Ciências da Reabilitação. Da mesma forma, a noção de inclusão social poderia aparecer como o eixo central de todo um trabalho de reabilitação.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH REPORT / ARTÍCULO

20 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 20-25

Aspectos filosóficos da reabilitaçãoPhilosophical aspects of RehabilitationAspectos filosóficos de la rehabilitación

RESUMO: A Reabilitação é uma nova possibilidade da ciência para devolver o indivíduo ao seio da comunidade ou ao nós. Ao termoreabilitação estão ligados inclusão/exclusão, normal/anormal, produtivo/não-produtivo. A produtividade implicaria numa força e o seuresultado seria a Obra. Isto é o que se pode perceber a partir da filosofia Marxista. Obra, aqui, seria sinônimo de ação e os que estivessemdistanciados da força de produção por qualquer anomalia, estariam, por conseguinte, excluídos da comunidade, alienados, por que nãodizer, de sua condição humana. Propomos neste estudo repensar a Obra como uma passividade que é o oferecimento de Si, significadomais originário do termo Liturgia. A Reabilitação é, dentro desta proposta, um Testemunho de Si: responder de si e por si no Tribunal daVida significa responder ao Outro pelo Outro, devolver a habilidade ao que é diferente de nós, respeitando sua diferença. O respeito e aresponsabilidade dependem do reconhecimento da diferença.DESCRITORES: Reabilitação-filosofia,Inclusão social,ÉticaABSTRACT: Rehabilitation is a new possibility science has to reintegrate individuals in the community. To the expression “rehabilitation”are linked opposites like inclusion/exclusion, normal/abnormal, productive/not-productive. Productivity would imply power and its re-sult would be the product. That is what we can perceive from the Marxist philosophy. Product here he would be synonymous to actionand people distanced from the production forces because of any anomaly would therefore be, excluded from the community, alienated,why not say, from their condition of human beings. We aim in this study to rethink Product as a passivity that means giving our own Self,a meaning more near the origin of the expression “Liturgy”. Rehabilitation is, according to this proposal, a Witnessing of Oneself: toanswer for oneself and by oneself in Life’s Court means to answer to the Other for the Other, give back ability to the one who is differentfrom us, respecting their difference. Respect and responsibility depend on the recognition of differences.KEYWORDS: Rehabilitation-philosophy,Social Inclusion,EthicsRESUMEN: La rehabilitación es una nueva posibilidad de ciencia para devolver el individuo al seno de la comunidad o al “nosotros”. Al términorehabilitación están ligados inclusión/exclusión, persona normal/anormal, productivo/no-productivo. La productividad implicaría en una fuerzay su resultado sería la ejecución. Eso es lo que se puede percibir en la filosofía marxista. Ejecución, aquí, sería sinónimo de la acción y los que sehan distanciado de la fuerza de la producción por cualquier anomalía, serían, por lo tanto, excluidos de la comunidad, mentalmente enfermos,alienados, porqué no decir, de su condición humana. Consideramos en este estudio un repensar la ejecución como pasividad o sea el ofrecimi-ento de sí mismo, el significado mas original del término liturgia. La rehabilitación es, dentro de este enfoque, un Testimonio de sí mismo:respuesta de sí mismo y para sí mismo en la Corte de la vida, significa contestar al Otro por el otro, devolver la capacidad a lo que es diferentede nosotros, respetar su diferencia. El respecto y la responsabilidad dependen del reconocimiento de la diferencia.PALABRAS LLAVE: Rehabilitación-filosofia,Inclusión social,Ética

* Filósofa. Doutora em Filosofia pela Universidade Gregoriana, Roma. Coordenadora do Curso de Filosofia do Centro Universitário São Camilo.Docente da disciplina Seminário e Tópicos especiais de História da Filosofia Antiga do Centro Universitário São Camilo. [email protected]

Gláucia Rita Tittanegro*

Introdução

No início do século XX, precisa-mente durante a Primeira GrandeGuerra, surgem as Ciências da Rea-bilitação como possibilidade daciência para devolver o indivíduoao seio da comunidade. O foco detais ciências se volta não só para orestabelecimento físico, mas paraa reintegração do indivíduo como

um todo. Tal reintegração suben-tende o afastamento desse mesmoindivíduo da comunidade pelosmais variados motivos, a saber, dis-funções ou anormalidades nas di-ferentes modalidades da existênciapsíquica (barreiras de comporta-mento, obstáculos sociais e cultu-rais), física (incapacidade motora,anormalidades), social (impossibi-lidade de integração), cultural etc.

A reabilitação é, assim, estreita-mente ligada à noção de normali-dade e ao seu contrário, a anorma-lidade. Fazem parte desse mesmocontexto as idéias de função e dis-função, as quais deveriam nortearo estudo e a concepção das Ciênciasda Reabilitação. Da mesma forma,a noção de inclusão social poderiaaparecer como o eixo central detodo um trabalho de reabilitação.

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ASPECTOS FILOSÓFICOS DA REABILITAÇÃO

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Entretanto, a formação dos pro-fissionais da reabilitação, tanto noscursos de graduação, como naque-les de pós-graduação, parece fugirdesse foco. A idéia de reabilitaçãovoltada completamente à recupe-ração de um membro, ou de umadeterminada função física, parececontinuar a forma “cartesiana” deabordagem do humano pelas ciên-cias. Assim, a reabilitação pode serentendida como o conserto da par-te que necessita de reparação.

Nossa proposta neste artigo é deoutra natureza. Entendemos que areabilitação é um processo de res-socialização, e por isso procuramosprescindir das concepções apre-sentadas acima e repensar a reabili-tação a partir da noção de Obra ouLiturgia. Com este propósito, intro-duzimos o discurso com uma abor-dagem etimológica da palavra, paraentão passar ao breve percurso fi-losófico que deve nos orientar nacompreensão dos fundamentos daconcepção da reabilitação como de-volução à “força de produção”. Estaexpressão deve-se, como se verá, àfilosofia de Karl Marx e FriedrichEngels, que entendiam o homemcomo um indivíduo que busca a sa-tisfação de suas necessidades. ParaMarx e Engels os seres humanos sãoseres capazes de produzir as condi-ções de sua existência material e in-telectual. Isto significa dizer que osseres humanos são produtores: sãoos que produzem e são como pro-duzem. Os seres se reproduzem. As-sim, a produção e a reprodução dascondições da existência se realizamatravés do trabalho, da divisão so-cial do trabalho, da procriação e domodo de apropriação da natureza.

Da produção de ser passamos àquestão da Obra na reflexão de ÉricWeil, itinerário obrigatório para acompreensão da revolta contra odiscurso absolutamente coerente,ou filosofia. Para Weil, a Obra é orecusar-se ao discurso ou à lingua-gem coerente e, por isso, é violência.Na Obra “os homens só são meios

(aqueles que se recusam só são obs-táculos, e isso não muda em nada)”.A linguagem da Obra não tem sen-tido em si mesma, mas só é útil naprópria Obra. Poder-se-ia dizer quena Obra os homens não falam comos outros, mas fazem um discursosobre, ou seja, falam para os outros.O “homem da Obra” de Weil se servedas categorias do discurso que maislhe apetecem para impor algo pró-prio. O discurso da obra é um meiopara o criador se tornar imperativo.

Esta visão peculiar e negativa daObra é criticada por um outro filóso-fo da atualidade: Emmanuel Lévi-nas. É nele que encontramos a ins-piração necessária para repropor anoção de reabilitação como umaObra que, diferente daquela apre-sentada por Éric Weil, surge comoa oferta de si mesmo, ou o auxílio, queé, ao mesmo tempo, acolhida da di-ferença. A reabilitação surge, em talcontexto, como a busca de sentidono encontro com outrem.

Etimologia

O termo reabilitação vem de de-volver a habilidade, tornar hábil. Apalavra latina habilis significa aquiloque se pode carregar, o manejável,o flexível e, portanto, o apto, o capaz,o conveniente. Habilitatis é então ahabilidade ou a faculdade de fazeralgo comodamente, facilmente.

No dicionário, o termo reabilita-ção é sinônimo de recapacitação, esignifica ação ou efeito de reabilitar(-se) [física, intelectual, moral, so-cial, profissional, psicológica e ma-terialmente]. Mas é também a recu-peração da estima (própria ou deoutrem) por meio de regeneração,ou o recobro do reconhecimentopúblico por meio da qualidade oudo sucesso. Em termos jurídicos, areabilitação é a extinção de punibili-dade que consiste no cancelamentoda pena de interdição de direitos,assim como o retorno de uma pes-soa à condição de que desfrutavaanteriormente, a recuperação do

crédito (por parte de quem logra sa-tisfazer seus débitos). Enfim, emtermos médicos, a reabilitação é arecuperação da forma ou funçãonormais, após doença ou lesão, oua devolução do paciente, após lesãoou enfermidade, a suas atividadesfísicas e/ou mentais anteriores.

A habilidade nos remete ao hábi-to. Em latim, habitus significa tantoaquele que é robusto, ou seja, o as-pecto exterior, a postura, a posição,como o modo de ser. Assim, o habitusé a maneira, a condição, o estado, aqualidade individual ou a disposição.

Reabilitar seria, então, devolverao habitual? E o que seria este habi-tual? Habitual é aquilo que se trans-formou em hábito, é o usual, o cos-tumeiro, o rotineiro, o comum. O ha-bitual é do âmbito do nós e não doeu. Reabilitar alguém significaria,assim, reintroduzir ao nós, devolvê-lo ao seio da comunidade, reincorpo-rá-lo, retomá-lo, incluí-lo. A reabili-tação seria definida, a partir disso,como ciência da reintegração ou dainclusão social.

A filosofia

A Filosofia, em seus vinte e cin-co séculos de existência, representao anseio humano de se debruçar so-bre o real e se questionar sobre opor quê? Por que existe alguma coi-sa e não o nada? O que é a existên-cia? Qual a sua finalidade? Qual é osignificado da vida? Como ela se dá?

Na história da filosofia, cada fi-lósofo procurou definir a filosofia aseu modo. Platão (428 ou 427 a.C.a 348 ou 347 a.C.), o fundador daAcademia, dizia que a filosofia éum saber verdadeiro que deve serutilizado para o bem de todos osseres humanos.

Na idade moderna, o grande fi-lósofo e matemático René Descar-tes (1596-1650) entendia a filosofiacomo o estudo da sabedoria, ou se-ja, como aquele conhecimento per-feito de todas as coisas que os sereshumanos podem alcançar para o

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uso da vida, para a conservação desua saúde e para a invenção das téc-nicas e das artes. Inspirando-se namatemática, propôs um método dereflexão que buscava inicialmenteseparar as partes para que se pudes-se evoluir no conhecimento do to-do. Esta ousadia da separação cus-tou-lhe, no decorrer da história, aidentificação com o saber fragmen-tado, a ponto de se entender comocartesiano a todo tipo de conheci-mento que separa o ser humano empequenas partes que serão analisa-das pelos especialistas. Daí, então,a concepção das especialidades ouespecializações. O saber da ciênciaatual, se diz comumente, é um sa-ber cartesiano porque perdeu o focoda totalidade do humano, conside-rando-o como uma peça da engre-nagem. Mas Descartes jamais per-deu o foco no sujeito, e a separaçãoproposta pelo método cartesiano éaquela que facilita a análise do todosem, portanto, perder esta dimensão.

Emmanuel Kant (1724-1804),um dos filósofos mais importantesda Alemanha, mostrava a filosofiacomo o conhecimento que a razãohumana adquire de si mesma parasaber o que pode conhecer e o quedeve fazer, com a finalidade de seatingir a felicidade mais completa.

Mas uma das maiores revoluçõesdo pensamento ocidental acontececom outro filósofo alemão: KarlMarx (1818-1883). Para ele a filo-sofia dedicou demasiado tempo àcontemplação do mundo. A propos-ta de Marx é agora de conhecer omundo para transformá-lo, transfor-mação esta que traria justiça, abun-dância e felicidade para todos.

A crítica de Marx é dirigida, so-bretudo, a Georg Wilhelm FriedrichHegel (1770-1831). Para o pai doidealismo alemão a filosofia é opensamento do Absoluto. Em umade suas maiores obras – A fenomeno-logia do espírito – Hegel mostra queo objeto do saber não é outra coisasenão a substância espiritual, poisé o espírito que conhece a si pró-

prio no universo e é o próprio espí-rito que se apresenta à consciênciacomo seu objeto. Percebe-se daí aevolução do espírito humano comoobra de compreensão de sua reali-dade, uma compreensão que surgedo questionamento da própria rea-lidade. A obra é já a atividade decompreender, ou seja, resultado dotrabalho da compreensão.

Mas o que é o trabalho propria-mente dito? Para Hegel, o trabalho“pertence à atividade prática davontade”. A dialética do trabalho“serve para dar conta da lógica daevolução social a partir do desen-volvimento das forças de produçãoligadas ao progresso das técnicas eà acumulação de um saber científi-co tecnicamente explorável”. Estadialética é apresentada pelo filóso-fo numa seção da Fenomenologia queos editores chamaram de “o espíritoem seu conceito”, quer dizer, segun-do o eixo da inteligência e da vonta-de. O trabalho é um dos momentosdo aprimoramento do espírito ou o“espírito efetivo”. O espírito efetivoé a realização efetiva do universo na“inteligência que quer” e na “vonta-de que sabe”. O primeiro nível do es-pírito efetivo é a tendência à satisfa-ção e o trabalho produtor de utensí-lios e máquinas. Este primeiro nívelestá sob a figura do desejo espiritualpela mediação do reconhecimentoe do trabalho social. O segundo ní-vel do espírito efetivo é a próprialinguagem na forma do contrato, ouseja, a própria atividade comunicati-va ou o reconhecimento dos sujeitosfalantes, segundo um filósofo daatualidade — Jürgen Habermas(1929). É preciso, segundo ele, quehaja “significações que, extraídas detradições comuns, gozem de umaconstância e de uma validade in-tersubjetivas, para que orientaçõesverso a reciprocidade, relações decooperação e de empreendimento,possam se desenvolver”.

Se entendermos o trabalho co-mo a interação dos sujeitos entre sipróprios e com a natureza, esta inte-

ração implicará, então, a mediaçãoda linguagem. Mesmo nas situaçõessolitárias do manuseio de um obje-to, como, por exemplo, do tecladode meu computador, do pincel peloartista, do martelo ou da pá pelooperário, o uso de tais utensílios seinsere no universo intricado das re-lações simbólicas. Assim, o trabalhoé um processo de socialização e os“processos técnicos são sempre in-seridos em redes de interações”.

Esta idéia do manuseio de uten-sílios como possibilidade de referên-cias é encontrada em Ser e tempo,obra fundamental do filósofo alemãoMartin Heidegger (1889-1976).

Em primeiro lugar Heidegger dizo seguinte: “Chamamos de signifi-cância o todo das remissões dessaação de significar. A significância éo que constitui a estrutura do mun-do em que a presença já é semprecomo é”. E o que está no mundo éo que está à mão ou o manual. Oque está à mão serve para algumacoisa e a serventia é sua referência.Assim, o martelo serve para o prego,que serve para a parede, que servepara o quadro, que serve para em-belezar a casa e dar um colorido àvida. “O ser do manual tem a estru-tura da referência. Isso significa: elepossui, em si mesmo, o caráter deestar referido a. O ente se descobrena medida em que está referido auma coisa como o ente que ele mes-mo é. O ente tem com o ser que eleé algo junto. O caráter ontológicodo manual é a conjuntura”.

A filosofia de Martin Heideggernos mostra a existência humanacomo ser-no-mundo, ou seja, serque possui uma casa, uma morada,um lugar que o abriga, entendendoque este abrigo não é algo do qualse possa prescindir, mas que fazparte da essência humana.

Nas relações sociais das institui-ções, este ser forma uma comunida-de de seres, isto é, o lugar comumem que cada um tem o seu papel adesempenhar. Contudo, no próprioHeidegger a noção de ser é sinônimo

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de produção, já que ser significa pro-duzir-se sendo e, portanto, a noçãode criação está muito presente nes-te discurso.

Assim, já que tanto as redes deinteração de Habermas quanto aconjuntura de Heidegger apontampara o caráter social do trabalho,poder-se-ia dizer que a obra é fru-to do trabalho?

O pensador que nos trouxe aquestão da Obra é Éric Weil, umdos filósofos hegelianos mais im-portantes do século passado.

Éric Weil: Discurso da ação,discurso do sentido.

Éric Weil (1904-1977) nasceuna Alemanha em uma família deorigem judaica e alemã. Imigroupara a França em 1932 e tornou-se cidadão francês em 1938.

Sua principal obra é a Logique dela philosophie, na qual o autor vai embusca do discurso absolutamentecoerente, isto é, aquele discurso quepode dizer a realidade como um todoconceitualmente. O filósofo quer en-tender o sentido da realidade e paraisto ele deve se confrontar consigomesmo e com seu agir.

Para Weil a filosofia é, por con-seguinte, “ação, práxis, pois a com-preensão do outro e de si mesmonão é separada da transformação deseu outro e de si; ela é realização deum mundo e de uma comunidade razoáveis. Mas ela é e permanececompreensão, e mesmo compreen-são da compreensão”. Em outraspalavras, a filosofia é reflexão sobreseu próprio estatuto, sobre o sentidoe as condições de possibilidade desua realização como obra de razão.

Ao considerar a filosofia comoAção, o filósofo abre espaço para apolítica. Por isso, “a história hu-mana não é senão a história dotrabalho humano no seu desen-volvimento da parcialidade à uni-versalidade, e a Ação enquantocategoria do político não é senãoa tentativa de continuar conscien-

temente aquilo que os homensempreenderam desde sempre semo compreender, ou seja, a tarefade suprimir a condição levando-aao seu acabamento”.

Qual seria então a atitude daAção? Em seu comentário, Perine(2004) afirma que “a atitude da Açãoquer o contentamento do homemreal, a realização de um mundo noqual a revolta não só não seja razoá-vel, mas até mesmo impossível; ummundo no qual a dose de violênciaque entra necessariamente nas rela-ções humanas seja progressivamen-te eliminada. A Ação quer encontrarum sentido para a realidade, um sen-tido que não seja só alcançado nodiscurso e pelo discurso, mas realiza-do na condição e pela condição, poisé a condição que se trata de dominarde maneira sensata. Não basta queo homem domine a sua condição etorne-se escravo dela. É preciso quea realidade esteja a seu serviço, aserviço não só de si, mas de todo osi”, e, citando Weil, o autor completa:“de todos os homens que não se sen-tem senhores do mundo”.

Portanto, as palavras Trabalhoe Ação parecem formar um todona Obra, quase como se esta fossefruto do primeiro. Mas a Obra nãopode ser considerada, segundo ÉricWeil, como “um objeto a ser fabri-cado pelo trabalho”. Pois “a criaçãoda Obra exige um mundo organi-zado em vista da Obra”, e esta seriaum verdadeiro projeto para o ho-mem, como se ele realmente pu-desse atingir esta meta. Mas se ohomem sabe que isso não é a reali-dade, assim como sabe que umaobra jamais é acabada, “a obra nãotem sentido no mundo; ela doa so-mente um sentido ao mundo”.

Na Lógica da filosofia, Weil apre-senta a Obra como uma categoriado discurso que exprime a revoltacontra o discurso absolutamentecoerente. A Obra é violência justa-mente por estar fora do discurso.Ela “é a atitude muda do homemque faz algo simplesmente por

fazer”. Então, a Obra não tem sen-tido, é sem sentido, sem razão, des-razão ou arazoável e, por conse-guinte, fora da coerência ou forada linguagem.

O percurso filosófico efetuadoaté aqui nos possibilita colocar aquestão: Reabilitar seria devolvero indivíduo ao trabalho ou à obra?

A busca de sentidoe a reabilitação

A busca de sentido, própria docaminho filosófico, não pode deixarde confrontar-se com a crítica severae a proposta de inversão de caminhorealizada por Emmanuel Lévinas.

Nascido na Lituânia, mas natu-ralizado francês no período imedia-tamente sucessivo à Segunda Gran-de Guerra, Lévinas é comumenteconhecido como filósofo da Alteri-dade ou da Filosofia do Outro.

E é a partir dessa filosofia quegostaríamos de repropor a questãoda reabilitação. Para isto devemosretomar a noção de filosofia.

Concebida como o anseio maisprofundo do humano, ou seja, odesejo de sabedoria, a filosofia éum movimento para o alto outrans-ascendência — Transcendên-cia. Este o grande paradoxo do ter-mo grego filosofia: para se atingira profundidade, ou a humanidadedo humano, é preciso lançar-se pa-ra o alto, num movimento que nãobusca as estrelas, mas o bem, ou osol que ilumina todas as coisas. Ailuminação não é o conhecimento,mas a sabedoria, uma forma de en-tendimento que não se baseia nacompreensão das coisas, visto quea compreensão está ligada ao gestoda mão que atravessa o espaço paraagarrar o objeto.

O desejo de sabedoria é de ou-tra ordem. É o bem ou a positivi-dade que permite que as coisas se-jam. O bem parece estar ligado àprodução de ser, enquanto auxílioou socorro. As coisas não se fazemsozinhas, por conta própria, mas

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dependem de um gesto de criação,de autoria ou de autoridade.

O próprio ser humano é criatu-ra, ou seja, “um ser capaz de rece-ber uma revelação”. Ser criaturadenota uma extrema passividadee vulnerabilidade. Ser criatura é serseparado ou no exílio. Por conse-guinte, Criação é um outro modode dizer a “de-portação do huma-no”. Mas o que significa isso?

Dissemos anteriormente que areabilitação comumente entendidaé a reintegração do eu na comunida-de do nós. Porém, isso estaria a indi-car o desfalecimento da singularida-de em prol do comum ou do lugar-comum, ou seja, a absorção do umno todo. A possibilidade de se formarcomunidade depende do acordo daspalavras, e é por isso que a comuni-dade do nós é institucional e se ba-seia na racionalidade pura da justiça.Entretanto, a justiça está além do lu-gar comum e depende, conseqüen-temente, da separação. A comuni-dade do nós favorece a deportação,a extradição, a desolação e aponta pa-ra a condição humana mais originá-ria: ser separado, ser único. A singu-laridade do indivíduo está ligada aotestemunho de si: responder de si epor si no tribunal da vida significaresponder ao outro pelo outro.

Se de um lado a comunidade donós favorece a exclusão dos quenão são como nós, por outro ladoela exalta a diferença. Reabilitar se-ria então devolver a habilidade aoque é diferente do nós, respeitandosua diferença. O respeito e a res-ponsabilidade dependem do reco-nhecimento da diferença.

A condição humana é condiçãode criatura ou condição de estran-geiro: em condição da não-condi-ção. Em outras palavras, significaviver numa terra que não é sua ouser desenraizado, viver sem lugarpróprio, viver em qualquer lugar:“a separação se produz positiva-mente na localização”. Tudo istoquer indicar uma existência semraízes no ser, e a falta de chão da

criatura descreve o trauma originalda separação.

O estrangeiro, o diferente, aque-le que necessita ser reabilitado é,na linguagem de Lévinas, outrem,e outrem é outrem, isto é, significajá em si, significado que abre asportas do mundo. Outrem entra nomundo, quer dizer entra em relaçãocom o mundo na face, pois a facefala. A face é exposição de uma nu-dez, de um despojamento, de umamiséria, de uma súplica. E é aquique nos deparamos novamentecom o conceito de Justiça: a súplicada Face é um apelo, uma ordempara que Eu saia do lugar de honraou do primeiro lugar e coloque ospróprios recursos à disposição.

De repente, o eu se vê expulsode seu paraíso, da proteção de suacasa, do aconchego de sua intimi-dade. O eu, que diante da diferençaabsoluta se vê expulso do repousoda consciência tranqüila, debruça-se sobre a própria crise e se colocaem questão. E o questionamentode si já é, na linguagem de Lévinas,o acolhimento do absolutamenteoutro, daquele que não faz comu-nidade comigo, do estrangeiro, doincapaz, do excluído. A crise do eunão se reduz assim a um movi-mento negativo, mas é diaconia,isto é, serviço, assistência, socorro,hospitalidade – gestação do outro.

Reabilitação e obra

Vimos anteriormente que, pa-ra Éric Weil a Obra é violência por-que está fora do discurso.

Entretanto, o objetivo das análi-ses de Lévinas é “conceber no seruma orientação – um sentido – quereunisse univocidade e liberdade”.Essa orientação é um “movimentoque sai para fora do idêntico na di-reção de um Outro que é absoluta-mente outro. O começo do movi-mento é o Mesmo que livrementese move. Uma orientação livre nadamais é do que a Obra. Mas não sedeve pensar que a Obra é uma agita-

ção ou uma energia que permaneceigual a si mesma, numa espécie demotor imóvel aristotélico. Tambémnão se deve concebê-la como atécnica em sua negatividade, a qualtransforma o mundo e as coisas.

Assim, para o filósofo Lévinas,“a Obra pensada radicalmente é ummovimento do Mesmo em direçãoao Outro que não volta jamais aoMesmo”. Em outras palavras, aObra é uma saída radical sem volta,sem esperança para si, pura genero-sidade que tem como resposta aingratidão. Ingratidão não significavazio, ou movimento que cai nonada, mas paciência ou renúncia desi, traduzindo-se como renunciar aser o fim a que tudo converge, como“agir sem entrar na Terra Prometi-da”. A Obra é uma “escatologia semesperança para si ou libertação emrelação a meu tempo”.

Para significar esta generosidadee entrega total por parte daqueleque exerce um ofício, Lévinas esco-lheu o termo grego liturgia. A supe-ração do meu tempo na liturgia soli-cita a epifania do Outro. Epifaniasignifica visita do Outro em minhacasa, em meu mundo. Por isso naLiturgia temos aqueles dois movi-mentos que já mencionamos comosendo o paradoxo da filosofia: oabaixar-se na própria intimidade eo elevar-se ao Outro. Abaixar-se pa-ra o eu ou para o tempo presente de-nota uma certa vulgaridade porqueé a ação que se dirige ao imediatode nossa vida. Desse mergulho nasentranhas do presente o Mesmo seeleva ao Outro porque continuaatuando indiferentemente ao seu fu-turo: ação no presente aqui e agora.

A liturgia da Obra é um desejoque eleva o Mesmo ao Outro eque, portanto, não tem fundamen-to na necessidade ou na falta. Umdesejo que revela a independênciado Mesmo e que já não deseja nadapara si. O destino do desejo é oOutro e o Outro levinasiano não éo “meu inimigo (como em Hobbes

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ASPECTOS FILOSÓFICOS DA REABILITAÇÃO

O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006; jan/mar 30 (1): 20-25 25

e Hegel) nem meu complemento(como na República de Platão)”,mas socialidade ou relação social.“A relação com Outrem coloca-meem questão, esvazia-me de mimmesmo e não cessa de esvaziar-me,descobrindo em mim recursos ain-da novos”. Essa novidade dos re-cursos é novidade para mim que“não me sabia tão rico”. E nestanova descoberta já não tenho di-reito de guardar absolutamentenada ou de reservar o que quer queseja para mim — abolição da pro-priedade privada.

Assim, a reabilitação como Obraé oferenda do Mesmo ao Outro,acolhida do estrangeiro, reconhe-cimento do excluído, devoluçãoda forma ao deformado. Eis aquio Outro como sentido primordialou a “condição de possibilidade”de toda significação.

Reabilitação e vida

À guisa de conclusão podería-mos ainda retomar a questão daviolência da obra.

Vimos que a obra “é a atitudemuda do homem que faz algo sim-plesmente por fazer”. E o fazer, ain-da que seja para nada, parece mos-

trar a utilidade ou a serventia dohumano, como se o significado dehumanidade dependesse obrigato-riamente da ação de fazer algo. Oresultado desta ação, o produto,seria tão importante quanto a pró-pria existência daquele que faz.

Reabilitar seria então devolvera habilidade do trabalho, da forçade produção, da violência de ser.Isto porque na força vital ou na“tentativa” de ser o que se é estáimbuída a noção de violência. Eaqui vale apresentar as noções devida e violência.

A etimologia do termo violênciadenota a sua derivação da no-ção de vida e a sua ligação coma noção de força. Da palavra gre-ga bia, derivada de bios – vida, aviolência assume o seu significa-do de força vital. Da mesma for-ma, em língua latina a palavravis – força, tem a sua raiz na pa-lavra vida. A etimologia do ter-mo exprime uma conexão inse-parável entre a vida e uma forçasuperabundante e impetuosa.Assim, o termo violência colocaem destaque, por um lado, a vi-da, o ato de ser, e, por outro, aforça com a qual a vida se afir-ma. A força vital vem neste âm-

bito designada como luta peloser e conservação do próprio ser,como transgressão, excesso noafirmar-se desta vontade deexistir. [...] O termo revela entãoum trauma no próprio seio doser: a vida que vai contra a vida,o ser que vai contra o ser; deum lado, o desejo da vida, a ade-rência ao ser, e do outro, a pró-pria natureza do ser contingentee mergulhado em uma multi-dão de existentes. Eis o significa-do ambíguo da força vital.Reabilitar no sentido da força

de produção, da força de ser, da for-ça vital, seria a atitude muda do serhumano na Obra, como pudemosentender em Éric Weil.

Mas a reabilitação que se en-tende na Obra como oferenda desi próprio é uma volta à vida navisita de outrem. Reabilitação é,assim, humilhação ou descida,atenção extrema ao sofrimento deoutrem. Reabilitação é um impul-so do finito ao Infinito. Retidão narelação entre Um e Outro. E nestesentido significa devolver a vida,recapacitar, acolher.

Reabilitar é devolver os hábitosde outrem, dar-lhe uma postura, umadisposição, uma posição, uma Terra.

Recebido em 6 de dezembro de 2005Aprovado em 03 de janeiro de 2006

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