aspectos econômicos: comércio e mundança climáticas

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Comércio e Mudanças Climáticas Ronaldo Seroa da Motta [email protected] 16º Prêmio FIEB de Desempenho Ambiental Salvador, 16 de agosto 2012

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Page 1: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Comércio e Mudanças Climáticas

Ronaldo Seroa da [email protected]

 16º Prêmio FIEB de Desempenho Ambiental

Salvador, 16 de agosto 2012

Page 2: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Resumo

Baseado em: Seroa da Motta, R. Barreiras Comerciais na Regulação de Gases de Efeito Estufa in: Seroa da Motta, R. et al. (Editores) Mudança do Clima no Brasil: aspectos Mudança do Clima no Brasil: aspectos econômicos, sociais e regulatórios, IPEA, 2011

Histórico Economia do Carbono: Taxas e Mercado Barreiras Comerciais: Tipos, Objetivos e Exemplos Estudos de Casos (impactos nos BRICs e entre

setores no Brasil) Conclusões e Recomendações

Page 3: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Histórico

Convenção do Clima (UNFCCC) estabelecida na Rio 92 para coordenar ações no combate ao aquecimento global – objetivo de impedir uma interferência antrópica no equilíbrio climático.

Princípio das responsabilidades “Comuns Mas Diferenciadas” (CBD) “respeitadas as capacidades” (art. 3.1)

“Países mais desenvolvidos agem primeiro” (art. 4.2) 192 países são signatários da UNFCCC Protocolo de Quioto (PQ) – 1997 - definiu obrigações de METAS de emissão

(TETOS) para países desenvolvidos (PDs), (Anexo I da UNFCCC) PQ entrou em vigor em 2005 187 países são signatários do PQ Meta > 5,2% abaixo dos níveis de 1990, no período 2008-2012 (UE –8%,

EUA –7%, Japão – 6%, Russia 0%, Austrália +8% Em 2005: (floresta não incluída) Maiores emissores: China = 17% per capita 5,8 tCO2 e EUA = 16% per

capita 24,1 tCO2e

Page 4: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Resultados Recentes na Convenção (Copenhagem, Cancun e Durban)

Mudança climática na agenda política e no imaginário da opinião pública

Não permitir um aumento de temperatura acima de 2 graus e menor periodicidade nas comunicações nacionais definem metas e responsáveis

Esforço global será no mínimo 10 vezes maior que do Protocolo de Quioto

“Promessas” (pledges)do Acordo de Copenhagen, mesmo se realizadas, não garantem “2º C pathway, logo discussão de um novo acordo em 2015 para vigorar em 2020

Tratativas para renovação do Protocolo de Quioto

Em suma:

Sem cooperação de todos, com free riding, mesmo significativos esforços nacionais podem ser agregadamente insuficientes

Evitar vazamento = redução aqui, aumento lá Reação possível: proteger competitividade/barreiras comerciais

Page 5: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Comércio e Mudança Climática

Liberalização de bens e serviços ambientais

Harmonização international de padrões e rotulagem

Reforma nos subsídios a energia fóssil

Transferência de tecnologia e direitos de propriedade

Subsídios e barreiras por conteúdo de carbono

Page 6: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Barreiras Comerciais

Subsídios de exportação a empresas reguladas ou distribuição de licenças de emissão com objetivo protecionista

Barreiras comerciais na forma de ajustes de conteúdo carbono na fronteira (ACCF), embora equivalentes a um dado nível de mitigação, podem ser:

Fiscais quando refletem uma taxa de carbono; ou Técnicas quando exigem licenças num sistema cap&trade

Objetivos: Evitar vazamento Equalizar custos domésticos regulados com as das

importações não reguladas Mitigar efeito “caroneiro” e incentivar cooperação

Page 7: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Exemplos Subsídios

Kee, H. L., Ma, H. e Mani, M., 2010 The effects of domestic climate change measures on international competitiveness, The World Bank, Policy Research Working Paper 5309, Washington, May

Exercício econométrico com um painel de dados industrials da OECD regredindo pares de exportação bilateral em relação a existência de regulação e subsídios de carbono

Resultados Regulação afeta competitividade quando a empresa não

recebe subsídio Quando há subsídio o efeito se reverte e se observe um

aumento nas exportações dos setores regulados

Page 8: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Exemplos ACCF

Comunidade Européia - Diretivas para Aviação Civil: a partir de 2012 empresas aéreas com mais de 243 voos ou emissões acima de 10.000 t CO2, têm que compensar emissões junto ao European Union Emissions Trading System (EU ETS). Esta regra inclui as operadoras estrangeiras caso seus países não tenham uma política similar que demonstre a mitigação de vazamentos.

Lei da Energia Limpa nos EUA (Waxman-Markey Bill) aprovada na Câmara em 2009 e no seu substituto “The American Power Act “(Kerry&Lieberman Bill) enviada ao Senado em 12/05/2010: regulador terá um mandato para, a partir de 2020-23, identificar vazamentos que não foram resolvidos com licenças gratuitas (“rebates”) e obrigar que nesses casos as importações também participem do mercado de carbono (International Reserve Allowance Program, IRAP) comprando direitos de emissão. O critério para identificação de vazamentos é vago e está relacionado a setores onde mais de 30% da produção global é realizada fora dos acordos onde EUA é membro (internacionais ou não).

Page 9: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Visão da OMC

Alocação gratuita de licenças (permits; allowances) pode ser um subsídio a ser disputado?

GATT aceita barreiras incidentes domesticamente em insumos aplicados também sobre insumos importados incorporados no produto = mas seria carbono um insumo incorporado?

Artigo XX: barreiras de produto = seria o dano global do carbono um dano também doméstico?

Page 10: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Impactos das Barreiras Comerciais

Qual o nível de tarifa ótima para incentivar adesão ao esforço global?

Quão significativo é o vazamento evitado?

Ajustes na fronteira com conteúdo C de M ou da produção doméstica?

Quão assimétricos são os impactos nos países afetados ?

Qual o efeito distributivo entre os setores afetados no Brasil?

Page 11: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Estudo de Caso 1: Incentivo a Adesão

TIAN, T.;WHALLEY, J. e CAI, Y. , 2009 Trade Sanctions, financial Transfers and BRIC’s participation in global climate change negotiations, CESIFO, Working Paper 2698, category 8: trade policy, julho

Modelo numérico de teoria dos jogos com free-riding onde os BRICs comparam seus payoffs como a diferença entre VP(perdas de comércio por ACCF – custo de mitigação) versus VP(perdas de comércio por danos climáticos) .

Simulação para o período de 2006-2056 e com aumento temperatura global de 5°C em 2050

Resultados Tarifas muito altas ou sem efeito como no caso da Índia que

é um importador líquido Brasil perto da China por conta do efeito indireto das X

Chineses

Page 12: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Imposta por todos os países Imposta somente por EUA, CE e Japão

Brazil

0% -4.746 -4.74650% -3.584 -4.386

100% -2.172 -4.165240% 0.024 -3.835

6370% 5.122 0.020Russia

0% -8.436 -8.43650% -2.657 -5.68375% 0.007 -4.646

150% 7.423 -2.319270% 18.170 0.042China

0% -24.423 -24.42350% -18.357 -20.681

259.3% 0.006 -11.449900% 35.723 -0.218922% 36.720 0.004India

0% -8.955 -8.95550% -10.518 -9.571

100% -12.778 -10.203

Tarifa Limiar para Induzir Adesão que Equaliza Perdas de Comércio BTA com Perdas De Comércio Climáticas

Nota: aumento temperatura de 5% em 2050

Page 13: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Estudo Caso 2: Vazamento Evitado e Perdas de Comércio

Mattoo, A. et. al., 2009 Reconciling Climate Change and Trade Policy, Policy Research Working Paper 5123, The World Bank, Washington, novembro

WB Modelo de Equilíbrio Geral Dinâmico (ENVISAGE) com módulo climático para 113 países agregados em 15 regiões e 21 setores.

Redução unilateral dos países ricos (CE, EU e Japão) de 17% em 2020 contra 2005.

Simulação para 2020 de tarifa de US$ 60/ t CO2 sobre conteúdo direto e indireto de CO2 ou na produção doméstica ou na importação (cenários com ou sem rebate)

P.ex.: conteúdo de 10 t CO2 da produção de automóveis no EUA gera ACCF de US$ 600 nas importações ou conteúdo de 15 tCO2 na M de automóveis gera ACCF de US$ 900

Page 14: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Tabela 3 em Mattoo et. al. (2009) Vazamento (%) com ACCF US$ 60 /t CO2 para 17% redução em 2020

Page 15: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Apêndice 6 em Mattoo et. al. (2009) Impactos nas Exportações (%) com ACCF US$ 60 /t CO2 para 17% redução em 2020

Page 16: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Apêndice 5 em Mattoo et. al. (2009) Impactos no Produto (%) com ACCF US$ 60 /t CO2 para 17% redução em 2020

Page 17: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Estudo Caso 2: Vazamento Evitado e Perdas de Comércio - Resultados

Vazamento baixo em termos de emissões porque setores intensivos pequena parte de X e do PIB

Impacto nas exportações e produto por conteúdo das M: Agricultura no Brasil perde muito mais que outros BRICs,

mas ao contrário para a indústria (inclusive positivo nas não energia-intensiva) por conta menor intensidade de CO2

Impacto nas exportações por conteúdo da produção doméstica:

Para outros BRICs impacto muito menor se conteúdo por M No Brasil impacto muito menor na agricultura, mas um

pouco maior na indústria (em particular nas não energia-intensiva)

Serviços sempre aumentam Resumo: (i) impactos “assimétricos” Brasil e outros

BRICS e (ii) entre agricultura e indústria e indústria energia-intensiva e outras no Brasil

Page 18: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Estudo Caso 3: Vazamento Evitado e Perdas de Comércio - Resultados

Fischer, C. and Boehringer, C. The global effects of subglobal climate policies, Proceedings of the Fourth World Congress of Environmental and Resource Economists, Montreal, 28 June - 02 July, 2010

CGE multisetorial e regional para 2004 com cenário de regulação de 20% de redução de GEE contra níveis 2004 nos EUA e CE.CCF por conteúdo de carbono das importações.

Confirmam alguns resultados de Matto et. al. (2009) com certas diferenças: o vazamento evitado por ACCF é baixo; as perdas totais nas exportações não são elevadas, inclusive na China,

reduzindo assimetria entre os BRICs embora diferenças possam ser altas em setores intensivos em energia fóssil

(Brasil somente não-ferrosos cai 1%) não há perdas no produto nacional dos países exportadores sancionados pelo

ACCF o Brasil perde menos com as sanções impostas isoladamente pelos EUA do

que se fossem impostas em conjunto com a CE

Page 19: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Comentários Finais

Falta de acordo global e existência de iniciativas unilaterais criam incentivos a adoção de barreiras comerciais (subsídios de carbono e ajuste de carbono na fronteira - ACCF)

Objetivos : evitar free-riding e vazamento; proteger competitividade e induzir cooperação

OMC indica que subsídios podem ser sancionáveis e que ACCF climática seria possível se comprovada e precificada corretamente

ACCF só incentivaria adesão com tarifas muito altas e diferenciadas entre países. Impactos podem ser “assimétricos” nas exportações e no produto dos BRICs: Brasil perde menos por conta da baixa intensidade de CO2

ACCF por conteúdo da produção doméstica favorece outros BRICs, mas não tanto o Brasil

Há assimetria também de perdas entre setores: agricultura e indústria e indústria energia-intensiva e outras no Brasil

Page 20: Aspectos Econômicos: Comércio e Mundança Climáticas

Recomendações

Ação pró-ativa em políticas setoriais de mitigação Brasil tem metas, mas NAMAs Brasil não contemplam setor

industrial Acordos setoriais devem ser “formalizados”

Estudos gerais não capturam efeitos localizados Análise com mais detalhamento setorial para identificar

“hot spots” Usar dados mais “realistas” de intensidade de emissão e

elasticidades Inclusão do tema nas políticas nacionais

Avaliar melhor posição de atuação nas COPs Questionamento dos atuais subsídios vigentes (p.ex.:na

CE/ETS)