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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CENTRO DE EDUCAÇÃO DE ITAJAÍ CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA SETOR DE MONOGRAFIAS ASPECTOS DESTACADOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CONTRATOS DE SEGURO DE VIDA RAMON FERNANDES DOS SANTOS Itajaí (SC), 17 de junho de 2009.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CENTRO DE EDUCAÇÃO DE ITAJAÍ CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA SETOR DE MONOGRAFIAS

ASPECTOS DESTACADOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

NOS CONTRATOS DE SEGURO DE VIDA

RAMON FERNANDES DOS SANTOS

Itajaí (SC), 17 de junho de 2009.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CENTRO DE EDUCAÇÃO DE ITAJAÍ CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA SETOR DE MONOGRAFIAS

ASPECTOS DESTACADOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

NOS CONTRATOS DE SEGUROS DE VIDA

RAMON FERNANDES DOS SANTOS

Monografia submetida à Universidade do

Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito

parcial à obtenção do Título de Bacharel

em Direito.

Orientador: Marcelo Petermann, Doutorando.

Itajaí (SC), 17 de junho de 2009.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter sempre me acompanhado e ter

me dado força nos momentos difíceis da minha

vida;

À minha avó paterna, Maria Machado dos

Santos que muito me auxiliou durante o período

em que freqüentava o Curso de Direito; de igual

forma à minha madrasta, Lourdes Maria

Gaboardi, a quem eu carinhosamente chamo

de tia Lourdes, e que sempre me apoiou

mesmo nos momentos mais difíceis.

E ao professor e orientador, Marcelo

Petermann, que teve paciência na orientação,

principalmente com os prazos para elaboração

e entrega do trabalho, sempre na última hora.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho in memoriam, a

minha mãe que sempre me incentivou a

estudar, e que nunca deixou me abater

pelo desânimo, mostrando-me sempre o

caminho mais correto a ser seguido.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 29 de maio de 2009.

Ramon Fernandes dos Santos

Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente Monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Ramon Fernandes dos Santos, sob o

título ASPECTOS DESTACADOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL NOS

CONTRATOS DE SEGURO DE VIDA, foi submetida em 17 de junho de 2009 à

banca examinadora composta pelos seguintes professores: Msc. Marcelo

Petermann (Orientador e Presidente da Banca), e a Mestranda Anna Kleine Neves

Pereira (Membro e Examinadora) aprovado com a nota [_______].

Itajaí, 17 de junho de 2009.

Marcelo Petermann

Orientador e Presidente da Banca

Anna Kleine Neves Pereira

Membro e Examinadora

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias utilizadas no estudo e seus respectivos

conceitos operacionais:

Apólice:

É o ato comprobatório do contrato de seguro, o processo normal de sua

prova, trata-se simplesmente, do instrumento que consubstancia e descreve os

limites de incidência do seguro pactuado1.

Beneficiário:

Em geral, são beneficiados os membros mais próximos da família, como o

cônjuge ou companheiro, os filhos ou pais. A nomeação é feita na proposta e consta

da apólice2.

Capital segurado:

Valor total coberto contra riscos e explicitado na apólice contratada,

representando o limite de responsabilidade do segurador, ou seja, o valor máximo

de indenização3.

Cobertura:

Ato do segurador em conceder ao segurado, após a análise, aceitação do

risco proposto. As Coberturas dividem-se em Cobertura Básica – riscos básicos

cobertos pelo seguro, constantes das Condições Gerais da Apólice – e Coberturas

Adicionais – riscos normalmente não previstos nas Condições Gerais da Apólice,

que implicam o pagamento de um prêmio adicional4.

���������������������������������������� �������������������1 Disponível em http://www.funenseg.org.br/dicionario_seguros.php. Acesso em 03 jun. 2009. 2 Disponível em http://www.funenseg.org.br/dicionario_seguros.php. Acesso em 03 jun. 2009. 3 Disponível em http://www.funenseg.org.br/dicionario_seguros.php. Acesso em 03 jun. 2009. 4 Disponível em http://www.funenseg.org.br/dicionario_seguros.php. Acesso em 03 jun. 2009.

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Contrato de seguro de vida:

De modo geral, o seguro é o contrato pelo qual uma pessoa assume para

com outra a obrigação de indenizá-la das perdas e danos resultantes de um fato

determinado, futuro e incerto.5.

Indenização:

É a importância paga pela seguradora ao segurado, compensando-lhe o

prejuízo econômico decorrente do risco e assumido na apólice pela seguradora6.

Prêmio

É a quantia pecuniária que o segurado paga à seguradora para obter o direito

a uma indenização se ocorrer o sinistro oriundo do risco garantido e previsto no

contrato; daí ser denominado, por alguns autores ágio do seguro7.

Sinistro:

O evento funesto, ou fato danoso, que se temia, ou se receava, provocador

de danificações, de que resultam prejuízos8.

Responsabilidade civil:

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa

a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela

mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela

pertencente ou de simples imposição legal9.

Risco:

Consistirá num acontecimento futuro e incerto, que poderá prejudicar os

interesses do segurado, provocando-lhe uma diminuição patrimonial evitável pelo

seguro10.

���������������������������������������� �������������������5 KRIGER FILHO, Domingos Afonso.Seguro no código civil.Florianópolis: OAB/SC,2005,p.24. 6 Disponível em http://www.funenseg.org.br/dicionario_seguros.php. Acesso em 03 jun. 2009. 7 Disponível em http://www.funenseg.org.br/dicionario_seguros.php. Acesso em 03 jun. 2009. 8 Disponível em http://www.funenseg.org.br/dicionario_seguros.php. Acesso em 03 jun. 2009. 9 DINIZ, Maria H. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil.v.7.21.ed.São Paulo: Saraiva, 2007,p.35. 10 Disponível em http://www.funenseg.org.br/dicionario_seguros.php. Acesso em 03 jun. 2009.

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SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................... IX INTRODUÇÃO................................................................................

10

CAPÍTULO 1- RESPONSABILIDADE CIVIL................................... 12

1.1 EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL.................................... 12 1.2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL...................................... 16 1.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL .......................... 18 1.4 RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA.......................................... 22 1.5 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA............................................. 23 1.6 FUNÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL....................................... 25 1.7 FORMAS DE REPARAÇÃO DO DANO............................................... 29 CAPÍTULO 2- EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE.................. 34

2.1 ELEMENTOS E EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL... 34 2.2 ESTADO DE NECESSIDADE............................................................... 35 2.3 CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR................................................ 39 2.4 CULPA DE TERCEIRO......................................................................... 41 2.5 CULPA DA VÍTIMA, EXCLUSIVA OU CONCORRENTE..................... 45 2.6 CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR........................................................ 49 CAPÍTULO 3 - RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CONTRATOS DE SEGURO DE VIDA......................................................................

54

3.1 CONCEITO DE CONTRATO DE SEGURO.......................................... 54 3.2 NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO DE SEGURO....................... 55 3.3 SEGURADOR........................................................................................ 58 3.4 SEGURADO.......................................................................................... 60 3.5 SEGURO DE PESSOA......................................................................... 61 3.5.1 Seguro de Vida..................................................................................... 62 3.5.1.1 Seguro de Vida em Grupo................................................................... 64 3.5.1.2 Objeto do Seguro de Vida................................................................... 69 3.5.1.3 Morte Voluntária do Segurado............................................................ 72 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 76

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...................................................... 78

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RESUMO

A presente monografia teve o objetivo de examinar a legislação

que regula os contratos de seguro de vida, suas características funcionais, bem

como a relação entre segurado e segurador neste ramo de seguro. Conceitua os

principais assuntos e especifica os aspectos envolvidos no contrato de seguro,

dando entendimento ao tema abordado. Por fim, traz o entendimento doutrinário

acerca desta modalidade de seguro, oportunizando uma visão prática do

funcionamento e as implicações jurídicas do seguro de vida. Inicia-se, na presente

monografia tratando-se de responsabilidade civil, com um breve histórico a respeito

deste instituto, após conceituando-o de forma geral. Abordando ainda, as espécies

de responsabilidade civil, seus pressupostos, suas funções, e as formas de

reparação do dano. Adiante, o estudo é direcionado as causas excludentes de

responsabilidade civil, conceituando-se e estudando cada uma delas. Para finalizar

analisa-se, a responsabilidade civil concernente ao contrato de seguro de vida,

abordando-se o seguro de vida e a responsabilidade civil das partes contratantes.

Tratando do seu objetivo, características e explicando o funcionamento das suas

coberturas securitárias, trazendo posição doutrinária a respeito do tema.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo da

responsabilidade civil nos contratos de seguro de vida.

Os seus objetivos são: institucional, produzir Monografia para

obtenção do Título de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI; geral, definir o objeto e o limite da responsabilidade civil nas coberturas

securitárias de vida; específicos, analisar a aplicação da cobertura securitária e

verificar quando ocorre à responsabilidade civil, ambos relacionados ao seguro de

vida.

Com estes objetivos, inicia-se, no Capítulo 1, tratando de

responsabilidade civil, com um breve histórico a respeito deste instituto, após

conceituando-o de forma geral. Abordando ainda, as espécies de responsabilidade

civil, seus pressupostos, suas funções, e as formas de reparação do dano.

No capítulo 2, o estudo é direcionado as causas excludentes

de responsabilidade civil, conceituando-se e estudando cada uma delas.

No capítulo 3, fundamentado nos capítulos anteriores, aborda o

seguro de vida e a responsabilidade civil das partes contratantes. Tratando do seu

objetivo, características e explicando o funcionamento das suas coberturas

securitárias, trazendo posição doutrinária a respeito do tema.

A presente Monografia se encerra com as Considerações

Finais, destacando os pontos conclusivos da pesquisa.

Com base na temática do presente trabalho, foram levantadas

as seguintes formulações de problemas de pesquisa:

a) Caso ocorra o sinistro, qual a responsabilidade civil do

segurado e da seguradora?

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b) Ao contratar um seguro vida, podem as seguradoras

limitarem ou eximirem-se contratualmente das suas responsabilidades ou devem

obedecer à legislação?

c) Em caso de morte voluntária do segurado, poderá a

seguradora eximir-se da obrigação de indenizar?

Com fundamento nos problemas acima apresentados, foram

levantadas as seguintes hipóteses:

a) O segurado estando em dia com suas obrigações, e caso

ocorra o sinistro, ensejará ao beneficiário, instituído na apólice, o direito de receber a

indenização correspondente constante da apólice do seguro. Já a seguradora, caso

ocorra o sinistro, estando o segurado em dia com o pagamento do prêmio, terá o

dever de cumprir com a sua obrigação de indenizar.

b) As seguradoras podem limitar sua responsabilidade no

contrato de seguro através de cláusulas contratuais, porém não poderão eximir-se

de cumprir a obrigação de indenizar o beneficiário, designado pelo segurado, caso

ocorra o sinistro.

c) A seguradora poderá eximir-se da obrigação de indenizar,

caso ocorra à morte voluntária do segurado nos dois primeiros anos de vigência do

contrato de seguro ou na sua recondução depois de suspenso.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase de

investigação foi utilizado o Método Indutivo e no Relatório de Pesquisa foi

empregada a base indutiva.

Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as Técnicas

do referente, da categoria, dos conceitos operacionais e da pesquisa bibliográfica.

Nas considerações finais serão apresentadas breves

exposições sobre o tema objeto da pesquisa, bem como, serão retomadas as

hipóteses de pesquisa informando-se se as mesmas foram ou não confirmadas.

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CAPÍTULO 1

RESPONSABILIDADE CIVIL

1.1 EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Inicialmente, para melhor entendimento da matéria abordada

nesta monografia, apreciou-se alguns delineamentos históricos acerca da evolução

da responsabilidade civil. Começando a partir da Lei de Talião, momento em que o

ser humano começa a ter uma noção da reparação do dano, passando pelo

processo de desenvolvimento após a Segunda Grande Guerra Mundial até os dias

atuais.

Venosa, logo, observa que a Lei de Talião, apesar de ter como

objeto da reparação do dano, o pagamento do dano causado com a retribuição de

outro dano, esta já demonstrava uma forma de reparação do dano. Pois, como bem

argumenta o autor, faz parte da natureza humana, reagir a qualquer ato considerado

injusto.

Neste sentido, o autor, esclarece que:

O famoso princípio da Lei do Talião, da retribuição do mal pelo mal, “olho por olho”, já denota uma forma de reparação do dano. Na verdade, o princípio é de natureza humana, qual seja, reagir a qualquer mal injusto perpetrado contra a pessoa, a família ou grupo social. [Venosa, 2007, p.15]

Adiante, o doutrinador, observa em seus estudos que o grande

marco histórico para o instituto da responsabilidade civil foi a Lex Aquilia, a seguir

aduzida:

De qualquer forma, a Lex Aquilia é o divisor de águas da responsabilidade civil. Esse diploma, de uso restrito a princípio, atinge dimensão ampla na época de Justiniano, como remédio jurídico de caráter geral; como considera o ato ilícito uma figura

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autônoma, surge, desse modo, a moderna concepção da responsabilidade extracontratual. O sistema romano de responsabilidade extrai da interpretação da Lex Aquilia o princípio pelo qual se pune a culpa por danos injustamente provocados, independentemente de relação obrigacional preexistente. Funda-se aí a origem da responsabilidade extracontratual fundada na culpa. (...) Em princípio, a culpa é punível, traduzida pela imprudência, negligência ou imperícia, ou pelo dolo. Mais modernamente a noção de culpa sofre profunda transformação e ampliação. [Venosa, 2007, p.15-16]

Venosa, continuando seus estudos, lembra que após a

Segunda Grande Guerra Mundial, houve um crescente desenvolvimento tecnológico,

econômico e industrial, que contribuiu demasiadamente não só na área contratual,

como também para a expansão da responsabilidade extranegocial, tornando-se

constante o seu desenvolvimento e aperfeiçoamento, neste entendimento, o

doutrinador aduz que:

O desenvolvimento tecnológico, econômico e industrial enfrentado pela cultura ocidental mormente, após a Segunda Grande Guerra, denominado por muitos como processo de aceleração histórica, trouxe importantes reflexos não só no universo dos contratos, mas principalmente nos princípios acerca do dever de indenizar. Nesse diapasão, há uma constante luta pelo aperfeiçoamento dos instrumentos jurídicos de molde a não deixar o Direito alheio à realidade social. As soluções indenizatórias, dentro ou fora do processo judicial, devem ser constantemente renovadas para estarem adequadas às necessidades práticas do homem contemporâneo. Por essas razões, é no campo da responsabilidade extranegocial no qual estão sempre a surgir tentativas de novas soluções (...). Nesse sentido, observa Antônio Pinto Moreira, “só desta forma se evitará um divórcio entre o direito e a vida e se impedirá a “revolta dos fatos contra o código”, e só assim, afinal, o direito ganhará sentido e razão de ser. [Venosa, 2007, p.17]

Coelho em seus ensinamentos ressalta que para a atual

subdivisão da responsabilidade civil, em responsabilidade objetiva e subjetiva, houve

um período de transição, sendo o referido período divido em quatro teorias, quais

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sejam, responsabilidade contratual, responsabilidade com presunção de culpa,

responsabilidade por culpa administrativa e responsabilidade pela guarda da coisa.

O doutrinador, a respeito da teoria de transição nominada

responsabilidade contratual, assevera, que a consideração do acidente de pessoas

transportadas como descumprimento contratual, teve importante papel na transição

do modelo único de responsabilidade para o dúplice, explicando neste sentido que:

a) responsabilidade contratual. Uma das formulações desenvolvidas no contexto da transição do modelo único de responsabilização para o dúplice foi o de considerar o acidente uma espécie de descumprimento de obrigação contratual. Desenvolveu-se, por exemplo, na matéria relativa ao transporte de pessoas. Se o passageiro era vitimado pelo acidente no trem em que viajava, ele tinha direito de ser indenizado pela estrada de ferro porque entre eles havia um contrato de transporte não inteiramente cumprido pela transportadora. A estrada de ferro assumira, perante o passageiro, a obrigação de levá-lo incólume ao destino – a cláusula de incolumidade é ínsita ao contrato de transporte de pessoas. O acidente, assim, representava descumprimento da obrigação contratual, cabendo então à estrada de ferro responder como qualquer outro contratante inadimplente pelos danos causados. Ao se considerar o acidente nos transportes como descumprimento de cláusula contratual, dispensa-se a vítima de provar a culpa da empresa transportadora. A prova dos danos durante o transporte é suficiente à demonstração da existência do contrato entre as partes e do descumprimento da cláusula de incolumidade. [Coelho, 2005, p.264]

Adiante, o autor, enfatiza que as teorias de transição procuram

explicar o alargamento das hipóteses de responsabilização sem, no entanto

desvincular-se da idéia de responsabilidade com culpa, prescrevendo que:

As teorias de transição procuraram justificar a ampliação das hipóteses de responsabilização sem descartar o princípio “nenhuma responsabilidade sem culpa”. A primeira delas sustentava-se nas obrigações contratuais do sujeito passivo da obrigação de indenizar, como, por exemplo, nas derivadas da cláusula de incolumidade ínsita aos contratos de transporte.” [Coelho, 2005, p.265]

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O autor assevera que a teoria de transição, denominada

responsabilidade com presunção de culpa, demonstra nitidamente o apego à noção

de culpa como elemento essencial da responsabilidade civil, esclarecendo que:

b) Responsabilidade com presunção de culpa. Nada denuncia mais o apego à noção da culpa como pressuposto inafastável da responsabilidade civil como a afirmação de sua presunção com vistas a ampliar a proteção das vítimas dos acidentes da era contemporânea. [Coelho, 2005, p.265]

Mais adiante, Coelho, ainda em estudo sobre a referida

responsabilidade com presunção de culpa, afirma que esta teoria de transição

ampliou as hipóteses de responsabilidade civil, preservando a culpa como elemento

desta. Dessa forma, se a presunção da culpa fosse relativa, inexistente seria a

obrigação de reparar do dano, desde que o demandado provasse que tinha adotado

as devidas cautelas, porém se a presunção da culpa fosse absoluta, haveria

inevitavelmente a obrigação de reparar o dano.

Nesta linha de pensamento, o doutrinador explana que:

A segunda teoria de transição alargou as hipóteses de responsabilização civil preservando a culpa como seu pressuposto por meio da presunção desta. Se a presunção da culpa era relativa, a obrigação não se constituía caso o demandado provasse ter agido com a cautela exigível de alguém na mesma situação. Se absoluta a presunção, era indisputável a existência de culpa. [Coelho, 2005, p.266]

Prosseguindo, o autor, observa que a teoria de transição

nominada responsabilidade por culpa administrativa, fundamentava-se na ciência de

que a culpa do Poder Público não era igual a dos particulares, bastando a estes a

comprovação da falha no serviço público, para obterem o ressarcimento dos danos.

Neste entendimento, Coelho aduz que:

c) Responsabilidade por culpa administrativa. Esta teoria de transição tinha aplicação limitada à responsabilização do Estado. Fundava-se na noção de que a culpa do Poder Público não era igual a todos os particulares. Liberava a vítima de provar a conduta culposa do agente ou funcionário público, sendo suficiente à

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obtenção do ressarcimento a demonstração de falha no serviço. [Coelho, 2005, p.267]

O doutrinador esclarece que a teoria de transição designada

responsabilidade pela guarda da coisa, consistia na responsabilização daquele que

era proprietário da coisa, sem a qual não teria ocorrido o dano, se o referido

proprietário tivesse adotado as devidas cautelas.

Nesta linha de raciocínio, o autor explica que:

d) Responsabilidade pela guarda da coisa. (...) A derradeira teoria de transição é a doutrina, criada no direito francês, de responsabilidade pela guarda da coisa inanimada (máquinas). O proprietário do automóvel, por exemplo, responde pelos acidentes causados pelo veículo porque se considera que não teria havido o dano se a coisa tivesse sido adequadamente conservada e operada. [Coelho, 2005, p.267-269] Enfim, após termos apreciado algumas breves narrativas sobre

a evolução da responsabilidade civil, adentraremos no conceito da responsabilidade

civil, que será de suma importância para o objeto de nosso estudo em tela.

1 .2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

Contemporaneamente, pode-se observar que o nosso Poder

Judiciário, além de abarrotado, em virtude da grande demanda, vem sendo

constantemente solicitado, para dirimir os litígios que concernem à responsabilidade

civil, em outros termos o dever de indenizar.

Inicialmente, para o nosso estudo devemos destacar o

significado do vocábulo responsabilidade, que segundo a autora Diniz, preceitua

que, “O vocábulo “responsabilidade” é oriundo do verbo latino respondere,

designando o fato de ter alguém se constituído garantidor de algo.” [Diniz, 2007, p.

33].

Mais adiante, Diniz, adverte que não basta termos ciência do

responsável para lhe impor a responsabilidade sobre o fato ensejador do direito, pois

nem todo fato gerador de responsabilidade civil resultará em obrigação

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Todavia, a afirmação – de que o responsável será aquele que responde e que responsabilidade é a obrigação do responsável, ou melhor, o resultado da ação pela qual a pessoa age ante esse dever – será insuficiente para solucionar o problema e para conceituar a responsabilidade. Se ele agir de conformidade com a norma ou com o seu dever, seria supérfluo indagar da sua responsabilidade, pois ele continuará responsável pelo procedimento, mas não terá nenhuma obrigação traduzida em reparação do dano (...). [Diniz, 2007, p. 33]

Para completar, a autora afirma que, “A responsabilidade

serviria, portanto, para traduzir a posição daquele que não executou o seu dever.”

[Diniz, 2007, p.33]

Deste modo, Diniz, conceitua a responsabilidade civil,

prescrevendo que:

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal. [Diniz, 2007, p. 35] Para melhor entendimento da matéria, analisar-se-á a idéia de

responsabilidade civil no conjunto de princípios e normas que regem a obrigação de

indenizar, segundo Venosa, que observa desta maneira:

Em princípio, toda atividade que acarreta um prejuízo gera responsabilidade ou dever de indenizar. Haverá, por vezes, excludentes, que impedem a indenização, como veremos. O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as conseqüências de um ato, fato, ou negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar. Desse modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o conjunto de princípios e normas que regem a obrigação de indenizar. [Venosa. 2007, p.1]

Já Rodrigues, em sua obra, conceitua responsabilidade civil

aproveitando a definição de Savatier, prelecionando que, “A responsabilidade civil

vem definida por SAVATIER como a obrigação que pode incumbir uma pessoa a

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reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou

coisas que dela dependam.” [Rodrigues, 2007, p.6]

Mais além, Coelho define responsabilidade civil, explanando

que:

Responsabilidade civil é a obrigação em que o sujeito ativo pode exigir o pagamento de indenização do passivo por ter sofrido prejuízo imputado a este último. Constitui-se o vínculo obrigacional em decorrência de ato ilícito do devedor ou de fato jurídico que o envolva. [Coelho, 2005, p.254]

Destarte, diante dos conceitos que nos foram apresentados fica

clara a idéia de responsabilidade civil. É correto, ainda, afirmar que a

responsabilidade civil, de forma geral, será imputada a pessoa física ou jurídica que

causar dano a outrem, restando ao ofensor, o dever de indenizar a pessoa física ou

jurídica que sofreu o prejuízo. Porém, para se apurar a responsabilidade civil do

agente ofensor, se faz necessário examinar os pressupostos ou elementos da

responsabilidade civil, que serão apresentados no próximo tópico.

1.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Grande parte da doutrina11 leciona que há pelo menos três

elementos básicos para se constituir a responsabilidade civil, quais sejam, a

existência de uma ação ou omissão do agente, o dano moral ou patrimonial e o nexo

de causalidade entre essas duas.

Diniz, desta maneira, observa que a ocorrência de um dano

patrimonial ou moral, seja por dolo ou culpa do agente ou de terceiro, torna-se

imprescindível para a caracterização da responsabilidade civil, assim a autora

explana que:

Ocorrência de um dano moral ou patrimonial causado à vítima por ato comissivo ou omissivo do agente ou de terceiro por quem o imputado responde, ou por um fato de animal ou coisa a ele vinculada. Não pode haver responsabilidade civil sem dano, que

���������������������������������������� �������������������11 Grande parte da doutrina, entende-se os doutrinadores mencionados neste tópico da presente monografia, ou seja, Maria Helena Diniz, Sílvio Rodrigues, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho.

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deve ser certo, a um bem ou interesse jurídico, sendo necessária a prova real e concreta dessa lesão (...). [Diniz, 2007, p.37]

Rodrigues, neste sentido, mas dito de forma mais sucinta,

preleciona que só haverá responsabilidade civil, se ocorrer um dano a alguém,

esclarecendo que:

Dano experimentado pela vítima – Finalmente, como visto, a questão da responsabilidade não se propõe se não houver dano (...), pois o ato ilícito só repercute na órbita do direito civil se causar prejuízo a alguém. [Rodrigues, 2007, p.18] Mais adiante, Diniz, ressalta que haverá o nexo de

causalidade, ou seja, o vínculo entre o dano e a ação, sem o qual não se poderá

imputar a responsabilidade civil ao agente causador, assim esclarece que:

Nexo de causalidade entre o dano e a ação (fato gerador da responsabilidade), pois a responsabilidade civil não poderá existir sem o vínculo entre a ação e o dano. (...) Será necessária a inexistência de causa excludente de responsabilidade, como, p. ex., ausência de força maior, de caso fortuito ou de culpa exclusiva da vítima. Realmente não haverá a relação de causalidade se o evento se deu, p. ex., por culpa exclusiva da vítima (...); por culpa concorrente da vítima (CC, art. 945; RT, 477: 111, 481:211, 480: 88; AJ, caso em que a indenização é devida por metade (RT, 226:181); ou diminuída proporcionalmente (RT, 231:513); por culpa comum da vítima e do agente; por força maior ou caso fortuito (CC, art. 393), cessando, então, a responsabilidade, porque esses fatos eliminam a culpabilidade ante a sua inevitabilidade (...).[Diniz, 2007, p.38]

Neste mesmo diapasão, Rodrigues também afirma que será

imprescindível a prova da existência da relação de causalidade entre a ação ou

omissão do agente, para que se possa configurar a responsabilidade civil, assim o

autor aduz que:

Relação de causalidade – Para que surja a obrigação de reparar, mister se faz a prova de existência de uma relação de causalidade entre a ação ou omissão culposa do agente e o dano experimentado pela vítima. Se a vítima experimentar um dano, mas não se

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evidenciar que este resultou do comportamento ou atitude do réu, o pedido de indenização formulado por aquela deverá ser julgado improcedente. [Rodrigues. 2007, p.17-18] No entendimento de Gagliano e Pamplona Filho, o próprio art.

186 do Código Civil, aduz os pressupostos da responsabilidade civil, desta forma os

autores explanam que:

Ao consultarmos o art. 186 do Código Civil (...), base fundamental da responsabilidade civil, consagrada do princípio de que a ninguém é dado causar prejuízo a outrem (neminem laedere), temos que: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” Analisando este dispositivo – mais preciso do que o correspondente na lei anterior que não fazia expressa menção ao dano moral – podemos extrair os seguintes elementos ou pressupostos gerais da responsabilidade civil: a) conduta humana (positiva ou negativa);

b) dano ou prejuízo; c) o nexo de causalidade. [Gagliano e Pamplona Filho, 2003, p.27-28]

Diniz a respeito da ação do agente, como elemento constitutivo

da responsabilidade civil, afirma que está será decorrente do dolo ou da culpa do

agente ou de terceiro, da licitude ou ilicitude, da responsabilidade sobre o fato de

animal ou de coisa inanimada que resulte em dano a outrem, desta forma a autora

explica:

A Ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado. [Diniz, 2007, p.38-39] Da mesma forma, Rodrigues, versando sobre a ação ou

omissão do agente, elemento constitutivo da responsabilidade civil, assevera que

esta pode se originar de ato do próprio agente, de terceiro sob sua responsabilidade,

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ou de coisa que esteja sob sua guarda, deste modo, o autor nos dá o seu

posicionamento da seguinte forma:

Ação ou omissão do agente – A responsabilidade do agente pode defluir de ato próprio, de ato de terceiro que esteja sob a responsabilidade do agente, e ainda de danos causados por coisas que estejam sob a guarda deste. [Rodrigues, 2007, p.15]

Mais adiante, Rodrigues, amplia o conceito do elemento de

ação ou omissão do agente, pois para o autor a responsabilidade de reparar o dano

se funda no dolo ou na culpa do agente.

Neste sentido, Rodrigues explica:

Culpa do agente – O segundo elemento, diria, o segundo pressuposto para caracterizar a responsabilidade pela reparação do dano é a culpa ou dolo do agente que causou o prejuízo. A lei declara que, se alguém causou prejuízo a outrem por meio de ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, fica obrigado a reparar. De modo que, nos termos da lei, para que a responsabilidade se caracterize, mister se faz a prova de que o comportamento do agente causador do dano tenha sido doloso ou pelo menos culposo. [Rodrigues, 2007, p.16]

Rodrigues, logo ressalta que haverá casos em que a

responsabilidade independerá de culpa do agente, afirmando que, “Todavia,

excepcionalmente, e em hipóteses específicas, nosso direito positivo admite alguns

casos de responsabilidade sem culpa, ou de culpa irrefragavelmente presumida.”

[Rodrigues, 2007, p.17]

A seguir, identificado os pressupostos da responsabilidade civil,

para melhor entendimento do estudo in casu, poder-se-á analisar as espécies de

responsabilidade civil existentes em nosso ordenamento jurídico, que se subdividem

em responsabilidade civil subjetiva e responsabilidade civil objetiva.

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1.4 RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA

Neste caso, a responsabilidade civil subjetiva, como o próprio

nome se refere, terá como pressuposto a ação do agente, que poderá ser culposa

ou dolosa, diante da ilicitude do fato, que originou o dano.

Nesta linha de raciocínio, Coelho, afirma que o sujeito que

incorreu em ato ilícito será o devedor da indenização, e a vítima será o credor.

Desta maneira, a referida indenização será a entrega de pecúnia, estipulada pelo

valor correspondente aos danos patrimoniais ou extrapatrimoniais, sofridos pela

vítima. Desta forma, o autor aduz que:

A responsabilidade civil subjetiva é a obrigação derivada de ato ilícito. O sujeito que incorre na ilicitude é devedor da indenização pelos prejuízos decorrentes de sua conduta e o prejudicado, o credor. A prestação é a entrega de dinheiro em valor correspondente aos prejuízos patrimoniais e compensadores do extrapatrimoniais. [Coelho, 2005, p.297]

Diniz, explica que para a caracterização da responsabilidade

civil subjetiva, necessário farar-se-á provar a culpa do agente, desta maneira a

autora esclarece:

(...) responsabilidade subjetiva, se encontrar sua justificativa na culpa ou dolo por ação ou omissão, lesiva a determinada pessoa (...). Desse modo, a prova da culpa do agente será necessária para que surja o dever de reparar. [Diniz, 2007, p.128] Rodrigues explana em sua obra, as considerações sobre a

responsabilidade civil subjetiva, prelecionando que:

Realmente se diz ser subjetiva a responsabilidade quando se inspira na idéia de culpa (...). (...) dentro da concepção tradicional a responsabilidade do agente causador do dano só se configura se agiu culposa ou dolosamente. De modo que a prova da culpa do agente causador do dano é indispensável para que surja o dever de indenizar. A responsabilidade, no caso, é subjetiva, pois depende do comportamento do sujeito. [Rodrigues, 2007, p.11]

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Nessa linha de pensamento, acordam os doutrinadores

Gagliano e Pamplona Filho, esclarecendo que a responsabilidade civil subjetiva,

decorrerá do dano causado em razão do ato doloso ou culposo do agente causador,

que agiu com negligência ou imprudência, assim os autores explanam que:

A responsabilidade civil subjetiva é a decorrente de dano causado em função de ato doloso ou culposo. Esta culpa, por ter natureza civil, se caracterizará quando o agente causador do dano atuar com negligência ou imprudência. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. [Gagliano e Pamplona Filho, 2003, p.27-28]

Definida a responsabilidade civil subjetiva, passar-se-á ao

estudo da responsabilidade civil objetiva.

1.5 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA

Em relação à responsabilidade civil objetiva, nota-se que há

unanimidade entre os doutrinadores em afirmar que a referida responsabilidade tem

como fundamento o dano e o nexo causal, independentemente de culpa ou dolo do

agente causador do dano.

Nestes termos, Diniz preceitua que:

(...) responsabilidade objetiva, se fundada no risco, que explica essa responsabilidade no fato de haver o agente causado prejuízo à vítima ou a seus bens (...). É irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima e a ação do agente para que surja o dever de indenizar. [Diniz, 2007, p.128]

Coelho, a esse respeito distingue duas modalidades de

responsabilidade civil objetiva, quais sejam, formal e material, a formal deriva de

preceito legal, a material decorre de exploração econômica, pela qual o seus

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beneficiários respondem pelos danos causados a outrem, deste modo o doutrinador,

esclarece que:

Por duas formas, o sujeito de direito pode ser responsabilizado objetivamente, isto é, por danos causados em razão de atos lícitos. A primeira é a específica previsão legal; a segunda, exploração de atividade em posição que lhe permita socializar os custos entre os beneficiados por ela. Denomino aquela de formal, e esta, de material. Tem, assim, responsabilidade objetiva formal o sujeito de direito a quem a norma legal específica atribuiu a obrigação de indenizar danos independentemente de culpa. [Coelho, 2005, p.342]

Adiante, o autor, assevera que mesmo não havendo culpa do

agente, este terá responsabilidade objetiva material, em virtude da exploração de

atividade econômica que lhe permite socializar os custos, assim Coelho aduz que:

De outro lado, tem responsabilidade objetiva material o sujeito obrigado a indenizar, mesmo sem ser culpado pelo dano, por ocupar posição econômica que lhe permite socializar os custos de sua atividade. As duas hipóteses estão albergadas no parágrafo único do art. 927 do CC: “haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei” (responsabilidade objetiva formal) “ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem” (responsabilidade objetiva material). [Coelho, 2005, p.342] Cabe aqui transcrever o entendimento de Rodrigues, pois para

o aludido autor, a conduta culposa ou dolosa do agente é irrelevante, para a

caracterização da responsabilidade objetiva, bastando à existência do nexo causal

entre o dano sofrido pela vítima e o ato do agente causador do dano, para que surja

o dever de indenizar.

Neste entendimento, o autor esclarece que:

Na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do agente causador do dano é de menor relevância, pois, desde que exista relação de causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha este último agido o não culposamente. [Rodrigues, 2007, p.11]

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Rodrigues explana que a teoria do risco é a que explica a

responsabilidade objetiva, pois de acordo com a referida teoria, a exploração de

atividade econômica, cria um risco de dano para terceiros, devendo o agente

explorador de atividade econômica, reparar os danos causados a outrem, mesmo

que seu comportamento seja isento de culpa. E desde que esteja presente no fato

gerador da responsabilidade objetiva, o nexo causal entre a causa e o efeito da

conduta do agente e o dano experimentado pela vítima.

Assim, o autor elucida que:

A teoria do risco é a da responsabilidade objetiva. Segundo essa teoria, aquele que, através de sua atividade, cria um risco de dano para terceiros deve ser obrigado a repará-lo, ainda que sua atividade e seu comportamento sejam isentos de culpa. Examina-se a situação, e, se for verificada, objetivamente, a relação de causa e efeito entre o comportamento do agente e o dano experimentado pela vítima, esta tem direito de ser indenizada por aquele. [Rodrigues, 2007, p.11]

Nesta mesma linha de raciocínio, Gagliano e Pamplona Filho,

prelecionam que:

Segundo tal espécie de responsabilidade, o dolo ou culpa na conduta do agente causador do dano é irrelevante juridicamente, haja vista que somente será necessária a existência do elo de causalidade entre o dano e a conduta do agente responsável para que surja o dever de indenizar. [Gagliano e Pamplona Filho, 2003, p.15-16] Assim, delineada a responsabilidade civil objetiva e os seus

pressupostos, seguir-se-á adiante, discorrendo e analisando a respeito das funções

da responsabilidade civil.

1.6 FUNÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

A respeito deste assunto, nota-se que há basicamente três

funções, distinguidas pela doutrina, e imputadas à responsabilidade civil. A primeira

é a reparação do dano à vítima, com o conseqüente retorno ao status quo ante, ou a

indenização por equivalente quando esta se tornar impossível. A segunda função é a

punição do ofensor, para que este não venha novamente a cometer ato lesivo a

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outrem. E a terceira função é a preventiva, pois a punição do ofensor servirá como

exemplo para os demais membros da sociedade.

Neste sentido, Gagliano e Pamplona Filho, explicam da

seguinte maneira,“(...) três funções podem ser facilmente visualizadas no instituto da

reparação civil: compensatória do dano a vítima; punitiva do ofensor; e

desmotivação social da conduta lesiva.” [Gagliano e Pamplona Filho.2003.p.23]

A respeito da função compensatória do dano, Gagliano e

Pamplona Filho, afirmam que a referida função é à base da responsabilidade civil,

eis que a mesma pauta-se ao retorno ao status quo ante, impondo a restituição do

bem perdido, ou pagamento equivalente, quando este não for possível, do bem

material ou do direito lesado.

Nesta orientação, Gagliano e Pamplona Filho, explicam:

Na primeira função, encontra-se o objetivo básico e finalidade da reparação civil: retornar as coisas ao status quo ante. Repõe-se o bem perdido diretamente ou, quando não é mais possível tal circunstância, impõe-se o pagamento de um quantum indenizatório, em importância equivalente ao valor do bem material ou compensatório do direito não redutível pecuniariamente. [Gagliano e Pamplona Filho, 2003, p.23]

Prosseguindo, Gagliano e Pamplona Filho, explicam que a

função punitiva, embora não tenha como finalidade básica punir o ofensor, inclusive

admitindo a restituição da coisa quando possível acaba por gerar também um efeito

punitivo, em virtude da ausência de cautela do agente ofensor, desmotivando o ato

ilícito.

Assim, Gagliano e Pamplona Filho, aduzem que: Como uma função secundária em relação à reposição das coisas ao estado em que se encontravam, mas igualmente relevante, está a idéia de punição do ofensor. Embora esta não seja a finalidade básica (admitindo-se, inclusive, a sua não-incidência quando possível a restituição integral à situação jurídica anterior), a prestação imposta ao ofensor também gera um efeito punitivo pela ausência de cautela na prática de seus atos, persuadindo-o a não mais lesionar. [Gagliano e Pamplona Filho, 2003, p.23]

Gagliano e Pamplona Filho, a respeito da função de

desmotivação social da conduta lesiva, afirmam que a mencionada função tem

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finalidade socioeducativa, tornando público as condutas que não devem ser

admitidas pela sociedade, deste modo, prelecionam que:

E essa persuasão não se limita à figura do ofensor, acabando por incidir numa terceira função, de cunho socioeducativo, que é a de tornar público que condutas semelhantes não serão toleradas. Assim, alcança-se, por via indireta, a própria sociedade, restabelecendo-se o equilíbrio e a segurança desejados pelo Direito. [Gagliano e Pamplona Filho, 2003, p.2]

No entendimento de Diniz, a responsabilidade civil pressupõe a

existência de relação jurídica entre a vítima e o agente ofensor, cabendo o ônus da

prova a este último, que por lei deverá suportá-lo, visando assim, o ressarcimento

dos danos que causou, restabelecendo quando possível ao statu quo ante, desta

forma Diniz afirma que:

A responsabilidade civil pressupõe uma relação jurídica entre a pessoa que sofreu o prejuízo e a que deve repará-lo, deslocando o ônus sofrido pelo lesado para outra pessoa que, por lei, deverá suportá-lo, atendendo assim a necessidade moral, social e jurídica de garantir a segurança da vítima violada pelo autor do prejuízo. Visa, portanto, garantir o direito do lesado à segurança, mediante o pleno ressarcimento dos danos que sofreu, restabelecendo-se na medida do possível o statu quo ante. [Diniz, 2007, p.7] Adiante, a doutrinadora, explica que a responsabilidade civil

tem função essencialmente ressarcitória, porque visa garantir o direito do lesado, e

reparadora, porque serve como sanção ao agente ofensor, tendo como pressuposto

a reparação do dano a vítima como forma de punição, desestimulando a prática de

atos lesivos.

Neste linha de pensamento, a autora afirma que:

Tem uma função essencialmente indenizatória, ressarcitória ou reparadora. Portanto, dupla é a função da responsabilidade: a) garantir o direito do lesado à segurança; b) servir como sanção civil, de natureza compensatória, mediante a reparação do dano causado a vítima, punindo o lesante e desestimulando a prática de atos lesivos. [Diniz, 2007, p.8-9]

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Coelho, inicialmente, de forma mais sucinta, explana que a

principal função da responsabilidade civil, é compensar os danos causados.

Sustenta ainda, que sendo os danos de cunho patrimonial, estes serão indenizados

pelo seu valor equivalente, não ensejando causa de enriquecimento da vítima.

Porém, sendo o dano moral, este obrigatoriamente culminará no enriquecimento da

vítima.

Desta forma, o autor menciona que:

A principal função da responsabilidade civil é compensar os danos sofridos pelo sujeito ativo. Se forem eles exclusivamente patrimoniais, a indenização terá equivalência ao valor dos danos, e o credor não se enriquece com o pagamento. Se forem extrapatrimoniais, não há esta equivalência e o credor enriquece com o cumprimento da obrigação de indenizar. [Coelho, 2005, p.270]

A seguir, mas dito de maneira diferente, o doutrinador, ressalta

a função da responsabilidade subjetiva, prelecionando que, “A responsabilidade civil,

quando subjetiva cumpre também a função sancionatória. A obrigação de indenizar

representa a punição do sujeito passivo pela prática do ato ilícito.” [Coelho, 2005,

p.271]

Coelho ressalta que a função da responsabilidade civil objetiva

é a de socialização dos custos, em que os exercentes de algumas atividades,

podem distribuir entre os funcionários delas os prejuízos dos acidentes, mesmo não

havendo culpa deles

Neste sentido, o autor esclarece que:

A responsabilidade civil, quando objetiva, cumpre também a função de socialização dos custos. Os exercentes de algumas atividades, podem distribuir entre os funcionários delas as repercussões econômicas dos acidentes, mesmo que não tenham nenhuma culpa por eles. [Coelho, 2005, p.273]

O doutrinador, logo afirma que a responsabilidade civil tem

como finalidade a função preventiva, pois quando subjetiva, sanciona o agente

desestimulando a sua prática, e quando objetiva socializa as indenizações como

custo de atividade, estimulando a prevenção.

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Deste modo, Coelho, preleciona que:

A responsabilidade, por fim, cumpre função preventiva. Quando subjetiva, ao sancionar o ato ilícito desestimula a sua prática; quando objetiva, ao tratar a indenização como custo de atividade estimula a prevenção dos acidentes ou prejuízos como medida de racionalidade econômica. [Coelho, 2005, p.274] Deste modo, após averiguar-se as funções da responsabilidade

civil, avançar-se-á na pesquisa, passando-se a examinar as formas de reparação do

dano.

1.7 FORMAS DE REPARAÇÃO DO DANO

No que diz respeito às formas de reparação do dano civil,

observou-se que há basicamente dois modos de reparação do dano, ou seja, a

reparação específica e a reparação por equivalente. Consistindo a primeira, no

retorno ao status quo ante, quando se tratar de reparação patrimonial e quando

assim for possível. A segunda forma de reparação ocorrerá quando não for possível

retornar ao status quo ante ou quando o dano for extrapatrimonial, situações essas

em que há uma reparação do dano pelo equivalente em pecúnia, como forma de

amenizar o menoscabo sofrido pelo agente.

Diniz, a respeito da reparação específica, proclama que:

A reparação específica ou in natura (sanção direta), que consiste em fazer com que as coisas voltem ao estado que teriam se não houvesse ocorrido o evento danoso. É preciso, todavia, deixar bem claro que nem sempre é possível a reconstituição natural e, às vezes, mesmo sendo possível, é inconveniente ao interesse do lesado. Para levar a efeito a reparação in natura será mister verificar a natureza do dano que se pretende indenizar. [Diniz, 2007, p.131]

Diniz, logo afirma que a reparação específica em regra é

possível, tratando-se de dano patrimonial direto, pois na ocorrência deste terá

cabimento a reposição do patrimônio lesado, desta maneira aduz que:

Em regra esse tipo de reparação é possível, quando se tratar de dano patrimonial direto, por causar menoscabo a bem patrimonial da

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vítima, pois nesse caso se poderia repor no seu patrimônio o bem lesado como se o dano não tivesse produzido. [Diniz, 2007, p.131]

Neste norte, mas dito de forma diferente, colaciona-se da

doutrina de Gonçalves, que também afirma que há dois modos de reparação do

dano, quais sejam, a reparação específica e a reparação por equivalente em

dinheiro, sustentando sobre a primeira que:

Indenizar significa reparar o dano causado à vítima, integralmente. Se possível, restaurando o statu quo ante, isto é, devolvendo-o ao estado em que se encontrava antes da ocorrência do ato ilícito. Na reparação específica ocorre a entrega da própria coisa ou de objeto da mesma espécie em substituição àquele que se deteriorou ou pereceu, de modo a restaurar a situação alterada pelo dano. A reparação do dano ambiental, por exemplo, pode consistir na restauração do que poluído, destruído ou degradado. [Gonçalves, 2007, p.404]

Diniz, explica que pela forma de reparação por equivalente,

não ocorre à restituição do bem lesado, mas a indenização como forma de

compensação, restabelecendo o equilíbrio patrimonial do agente que sofreu o dano.

Afirma ainda, que tanto a determinação do conteúdo do dano como o seu alcance,

supondo a avaliação dos prejuízos, em regra será realizada pelo juiz, mas nada

impede que esta seja realizada por lei ou por contrato.

Neste entendimento, a autora, afirma que:

Reparação por equivalente, ou melhor, indenização (sanção indireta), entendida como remédio sub-rogatório, de caráter pecuniário, do interesse atingido. Tal reparação jurídica se traduz por pagamento do equivalente em dinheiro. Pela indenização, não se repõe na forma específica o bem lesado, mas se compensa o menoscabo patrimonial sofrido em razão do dano, restabelecendo o equilíbrio patrimonial em função do valor que representa o prejuízo. Tanto a determinação do conteúdo do dano como de sua medida, quando a reparação é pecuniária, supõe a avaliação dos prejuízos, que, em regra, é feita pelo juiz, embora possa ser feita por lei ou por contrato (cláusula penal). [Diniz, 2007, p.131-132]

Adiante, Gonçalves, nos dá o seu parecer sobre a reparação

por equivalente, explicando que como na maioria dos casos dificilmente poderá

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retornar-se ao status quo ante, realiza-se uma compensação indenizatória,

estipulada em pecúnia, como forma de pagamento pelo prejuízo causado.

Deste modo, Gonçalves esclarece que:

Como na maioria dos casos se torna impossível devolver a vítima ao estado em que se encontra anteriormente, busca-se uma compensação em forma de pagamento de uma indenização monetária. Desse modo, sendo impossível devolver a vida à vítima de um crime de homicídio, a lei procura remediar a situação, impondo ao homicida a obrigação de pagar uma pensão mensal às pessoas ao que o defunto sustentava. [Gonçalves, 2007, p.404-405]

Logo, o autor afirma a idéia transcrita acima, aduzindo que,

“Dispõe, assim, o art. 947 do Código Civil: Se o devedor não puder cumprir a

prestação na espécie ajustada, substituir-se-á pelo seu valor, em moeda corrente.”

[Gonçalves, 2007, p.405]

A seguir, o aludido doutrinador, recorre aos ensinamentos de

Silvio Rodrigues, que faz uma observação sobre o tema, assegurando que como na

maioria dos casos torna-se impossível retornar ao status quo ante, indeniza-se a

vítima, como forma de compensação, embora muitas vezes essa não seja a solução

ideal, assim preleciona que:

“a idéia de tornar indene a vítima se confunde com o anseio de devolvê-la ao estado em que se encontrava antes do ato ilícito. Todavia, em numerosíssimos casos é impossível obter-se tal resultado, porque do acidente resultou conseqüência irremovível. Nessa hipótese há que se recorrer a uma situação postiça, representada pelo pagamento de uma indenização em dinheiro. É um remédio nem sempre ideal, mas o único de que se pode lançar mão.” [Gonçalves, 2007, p.405]

Neste sentido, mas dito de forma diferente, Gagliano e

Pamplona Filho, recorrem aos ensinamentos de Orlando Gomes, para definir a

reparação do dano patrimonial, prelecionando que:

(...) reposição natural quando o bem é restituído ao estado em que se encontrava antes do fato danoso. Constitui a mais adequada forma de reparação, mas nem sempre é possível, e muito pelo contrário. Substitui-se por uma prestação pecuniária, de caráter compensatório. Se o autor do dano não pode restabelecer o estado

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efetivo da coisa que danificou, paga a quantia correspondente a seu valor. É rara a possibilidade da reposição natural. Ordinariamente, pois, a prestação de indenização se apresenta sob a forma de prestação pecuniária, e, às vezes, como objeto de uma dívida de valor. [Gagliano e Pamplona Filho, 2003, p.55]

Prosseguindo ainda, Gagliano e Pamplona Filho, admitem que

ao titular do direito de reparação não poderá ser imposta a reposição natural do bem

lesado, pois este poderá optar pela reparação em pecúnia. Afirmam ainda, que

estando à coisa danificada esta não voltará ao seu estado original, portanto, a

indenização pecuniária poderá ser exigida juntamente com a reposição natural se

esta não satisfizer o interesse do lesado.

Desta forma, os referidos autores, ensinam que:

Se bem que a reposição natural seja o modo próprio de reparação do dano, não pode ser imposta ao titular do direito à indenização. Admite-se que prefira receber dinheiro. Compreende-se. Uma coisa danificada, por mais perfeito que seja o concerto, dificilmente voltará ao estado primitivo. A indenização pecuniária poderá ser exigida, concomitantemente com a reposição natural, se esta não satisfizer suficientemente o interesse do credor. [Gagliano e Pamplona Filho, 2003, p.55-56]

Mais adiante, os doutrinadores, asseveram que caso o devedor

venha a reparar o bem lesado como forma de indenização, o mesmo não poderá ser

compelido a substituir o referido bem por um novo, a menos que o bem reparado

não retorne ao estado anterior. Todavia, o devedor não pode ser constrangido à

restituição in natura, caso esta restituição exija gasto desproporcional.

Neste entendimento, Gagliano e Pamplona Filho , afirmam que:

Se o devedor quer cumprir a obrigação de indenizar mediante reposição, o credor não pode exigir a substituição de coisa velha, por nova, a menos que o reparo não restabeleça efetivamente o estado anterior. Por outro lado, o devedor não pode ser compelido à restituição in natura, se só for possível mediante gasto desproporcional. [Gagliano e Pamplona Filho, 2003, p.56]

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A seguir, Gagliano e Pamplona Filho, recordam novamente os

ensinamentos de Orlando Gomes, que leciona sobre a reparação do dano

extrapatrimonial, assegurando que este dano não é propriamente indenizável, pois

não há eliminação do prejuízo causado e nem das suas conseqüências, mas apenas

a sua compensação indenizatória como forma de satisfação da vítima, desta

maneira o autor aduz que:

(...) que esse dano não é propriamente indenizável, visto como indenização significa eliminação do prejuízo e das conseqüências, o que não é possível quando se trata de dano extrapatrimonial. Prefere-se dizer que é compensável. Trata-se de compensação, e não de ressarcimento. Entendida nesses termos a obrigação de quem o produziu, afasta-se a objeção de que o dinheiro não pode ser o equivalente da dor, porque se reconhece que, no caso, exerce outra função dupla, a de expiação, em relação ao culpado, e a de satisfação, em relação à vítima. Contesta-se, porém, que tenha caráter de pena, impugnando-se, pois, sua função expiatória. Diz que sua finalidade não é acarretar perda ao patrimônio do culpado, mas sim, proporcionar vantagem ao ofendido. Admite-se, porém, sem oposição, que o pagamento da soma de dinheiro é um modo de dar satisfação à vítima, que, recebendo-a, pode destiná-la, como diz Von Tuhr, a procurar as satisfações idéias ou materiais que estime convenientes, acalmando o sentimento de vingança inato no homem. [Gagliano e Pamplona Filho, 2003, p.56-57]

Após vários estudos sobre a responsabilidade civil, e seus

principais aspectos, passar-se-á a examinar no próximo capítulo as formas de

exclusão desta responsabilidade.

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CAPÍTULO 2

EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL

2 .1 ELEMENTOS E EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Prosseguindo, foi possível analisar anteriormente que para a

configuração da responsabilidade civil, são necessários três elementos, quais sejam,

nexo de causalidade, ação ou omissão do agente ofensor e o dano patrimonial ou

extrapatrimonial. Destarte, a falta de um ou mais elementos da responsabilidade civil

acaba por fulminar a mesma.

Desta forma, Gagliano e Pamplona Filho aduzem que:

Como causas excludentes de responsabilidade civil devem ser entendidas todas as circunstâncias que, por atacar um dos elementos ou pressupostos gerais da responsabilidade civil, rompendo o nexo causal, terminam por fulminar qualquer pretensão indenizatória. [Gagliano e Pamplona Filho, 2006, p.101]

Coelho, neste mesmo sentido, mas dito de forma diferente

preleciona que:

(...) os elementos da responsabilidade civil variam segundo a espécie. Quando subjetiva, são três: a) culpa do devedor; b) dano patrimonial ou extrapatrimonial do credor; c) relação de causalidade entre a conduta culposa do devedor e o dano do credor. Já no caso da objetiva, dois; a) dano patrimonial ou extrapatrimonial do devedor; b) relação de causalidade entre o ato ou atividade do devedor e o dano do credor. [Coelho, 2005, p.383]

O autor, a respeito do ônus da prova, ressalta que esta

obrigação a princípio ficará a cargo da vítima, independentemente da

responsabilidade civil ser objetiva ou subjetiva, porém, o autor admite que haverá

exceções. Neste sentido, o doutrinador, observa que:

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O ônus de provar os elementos constitutivos da responsabilidade civil é, em princípio, da vítima (demandante). Assim é independentemente da espécie de responsabilidade, subjetiva ou objetiva. Em alguns casos particulares, com o objetivo de prestigiar o princípio da indenidade, essa regra geral é excepcionada. [Coelho, 2005, p.383]

Logo, Coelho, explica que haverá casos em que poderá ocorrer

a inversão do ônus da prova, como nas relações de consumo, em que as alegações

expostas pelo consumidor, forem as causas prováveis e presumíveis do dano.

Assim, o autor aduz que:

(...) nos acidentes de consumo, quando verossímil a alegação do consumidor lesado, a lei autoriza a inversão do ônus probatório. Neste caso, ao fornecedor demandado caberá provar a inexistência dos elementos de sua responsabilidade. Se responde subjetivamente, como os profissionais liberais, poderá exonerar-se provando inclusive a inexistência de culpa; mas, se a responsabilidade é objetiva, só será liberado da obrigação de indenizar provando a inexistência do dano ou da relação de causalidade. [Coelho, 2005, p.383]

A seguir para melhor entendimento de nossos estudos,

continuar-se-á a pesquisar e analisar as demais causas excludentes de

responsabilidade civil.

2.2 ESTADO DE NECESSIDADE

O Estado de Necessidade é um instituto do Direito Civil, que

permite ao agente deteriorar, destruir, coisa alheia ou causar lesões a outrem, com o

escopo de remover o perigo iminente. Portanto os atos praticados na iminência de

um perigo, sendo estes indispensáveis, e com o fito de remover esta ameaça, não

serão considerados atos ilícitos perante o nosso ordenamento jurídico. Porém, de

acordo com as doutrinas pesquisadas, embora o ato praticado não seja considerado

ilícito, este não exime o autor do dano, da obrigação de reparar o prejuízo que

causou. Em um segundo momento, observou-se que caberá também ao autor do

dano ação regressiva, contra terceiro se a culpa do perigo for deste, ou ainda, contra

aquele em defesa do qual se praticou o dano.

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Desta maneira, Gonçalves leciona dizendo que:

No direito brasileiro, a figura do chamado “estado de necessidade” é delineada pelas disposições dos arts. 188, II, 929 e 930 do Código Civil. Dispõe o primeiro: “Art. 188. Não constituem atos ilícitos: (...) II- a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover o perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.” [Gonçalves, 2007, p.431] O autor, logo assevera, que embora os atos cometidos pelo

agente não sejam considerados ilícitos, este não ficará isento da sua

responsabilidade civil, aduzindo que, “Entretanto, embora a lei declare que o ato

praticado em estado de necessidade não é ato ilícito, nem por isso libera quem o

pratica de reparar o prejuízo que causou.” [Gonçalves, 2007, p.431]

O doutrinador, adiante observa que, “Com efeito, o art. 929 do

Código Civil estatui que, se a pessoa lesada, ou o dono da coisa (...) destruída ou

deteriorada “não forem culpados do perigo”, terão direito de ser indenizados.”

[Gonçalves, 2007, p.432]

Nestes termos, o art. 929 do Código Civil, dispõe que, in verbis:

Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram. [Figueiredo, 2007, p.173] Adiante, o autor, explica o direito de regresso contra terceiro,

aduzindo o art. 930 do Código Civil, prescrevendo que, “No caso do inciso II do art.

188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação

regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado”. [Gonçalves,

2007, p.432]

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Neste mesmo sentido, Gagliano e Pamplona Filho, explanam

que o estado de necessidade incide a uma agressão ao direito alheio, que visem a

proteção ou a remoção do perigo iminente, desde que as circunstâncias do fato não

permitam outra conduta do gente, assim esclarecem que:

O estado de necessidade consiste na situação de agressão a um direito alheio, de valor jurídico igual ou inferior àquele que se pretende proteger, para remover perigo iminente, quando as circunstâncias do fato não autorizarem outra forma de atuação. [Gagliano e Pamplona Filho, 2006, p.102] Mais adiante, os autores, fazem uma observação sobre o

parágrafo único do art. 186 do Código Civil, reforçando a idéia de que o estado de

necessidade só será legítimo quando realmente as circunstâncias do fato, o

tornarem definitivamente imprescindível, não excedendo o agente, os limites

necessários para a remoção do perigo.

Neste enquadramento, os doutrinadores, aduzem que:

Perceba-se que o parágrafo único do referido artigo de lei prevê que o estado de necessidade “somente será considerado legítimo quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para remoção do perigo”. Com isso, quer-se dizer que o agente, atuando em estado de necessidade, não está isento do dever de atuar nos estritos limites de sua necessidade, para a remoção da situação de perigo. Será responsabilizado, pois, por qualquer excesso que venha a cometer. [Gagliano e Pamplona Filho, 2006, p.102]

A seguir, Gagliano e Pamplona Filho, esclarecem que caso o

terceiro atingido não for o causador da situação de perigo, incumbirá ao mesmo o

direito de exigir a indenização do agente que houver atuado em estado de

necessidade, cabendo a este último o direito de ação regressiva contra o verdadeiro

culpado. Nesta posição, os autores, prelecionam:

(...) se o terceiro atingido não for o causador da situação de perigo, poderá exigir indenização do agente que houvera atuado em estado de necessidade, cabendo a este a ação regressiva contra o verdadeiro culpado (...).[Gagliano e Pamplona Filho, 2006, p.103]

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Deste mesmo modo, Venosa, ao falar sobre o estado de

necessidade, preleciona que:

O indivíduo, na iminência de ver atingido direito seu, ofende direito alheio. O ato, em sua essência, seria ilícito, mas a lei reconhece que há uma excludente. No entanto a escusabilidade do estado de necessidade sofre os temperamentos dos arts. 929 (...) e 930 (...). O primeiro desses dispositivos assegura a indenização ao dono da coisa ofendida, se não for culpado pelo perigo, e o segundo dispositivo expressa que, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este deverá ser movida ação regressiva pelo autor do dano, para haver a importância, que tiver ressarcido ao dono da coisa. [Venosa, 2006, p.52] Prosseguindo, o autor, faz uma importante observação, em

relação ao estado de necessidade penal e a respectiva responsabilidade civil,

aduzindo que,“O estado de necessidade, reconhecido em processo-crime, não

autoriza isentar o réu da responsabilidade de pagar a respectiva indenização. (RT

491/74)” [Venosa, 2006, p.52]

Mais adiante, o doutrinador, assegura que o estado de

necessidade não exime o agente devedor de arcar com a responsabilidade civil,

aduzindo que:

O estado de necessidade não elide a responsabilidade civil, contrariamente ao que ocorre no criminal, autorizando o autor do dano apenas a exercitar seu direito de regresso contra o causador da situação de perigo. (RT 477/104). [Venosa, 2006, p.52]

Sustentando ainda a posição, Venosa observa que, mesmo

tendo o agente causador do dano, agido em estado de necessidade, e restar

absolvido na esfera criminal, o mesmo não se eximirá da responsabilidade civil.

Neste entendimento, Venosa afirma que:

(...) o dano causado em estado de necessidade não isenta seu causador, mesmo que tenha sido absolvido na esfera criminal

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(Stocco, 1999:91), embora parte da doutrina sustente que a legislação processual penal tenha alterado a norma civil. Não é o que sustenta a jurisprudência. [Venosa, 2006, p.53] Após o estudo do estado de necessidade, passar-se-á a

analisar o caso fortuito ou força maior, outra causa excludente de responsabilidade

civil.

2.3 CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR

Neste tópico, observou-se que o caso fortuito ou força maior,

são todos os atos ou fatos alheio a vontade das partes, imprevisível ou se previsível

inevitável. Por conseguinte, em virtude da imprevisibilidade ou inevitabilidade do

dano teremos o rompimento do nexo causal, eis que não há qualquer relação entre o

ato do agente e o dano causado.

Rodrigues, nos dá o seu entendimento sobre caso fortuito ou

força maior, esclarecendo que:

O art. 393, parágrafo único, do Código Civil, define o caso fortuito ou de força maior como o que se verifica no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. É, em rigor, o ato alheio à vontade das partes contratantes ou do agente causador do dano e que tampouco derivou da negligência, imprudência ou imperícia daquelas ou deste. É o act of God, como classificam os ingleses. E, se nos adstringirmos apenas ao campo da responsabilidade aquiliana, poderíamos afirmar que o caso fortuito ou de força maior representa uma excludente da responsabilidade em virtude de pôr termo à relação de causalidade entre o ato do agente e o dano experimentado pela vítima. [Rodrigues, 2007, p.174]

Gonçalves, a esse respeito nos explica que:

O art. 393, parágrafo único, do Código Civil, não faz distinção entre o caso fortuito e a força maior, definindo-os da seguinte forma:

O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar, ou impedir. [Gonçalves, 2007, p.446-447].

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Adiante, Gonçalves faz uma distinção entre caso fortuito e

força maior, explicando que caso fortuito decorre de fato alheio à vontade das partes

como greve, motim guerra etc. E força maior provém de eventos naturais como raio,

inundação, terremoto etc., logo o autor explana que:

O caso fortuito geralmente decorre de fato alheio à vontade das partes: greve, motim, guerra. Força maior é a derivada de acontecimentos naturais: raio, inundação, terremoto. Ambos, equiparados no dispositivo legal supratranscrito, constituem excludentes da responsabilidade porque afetam a relação de causalidade, rompendo-a, entre o ato do agente e o ato sofrido pela vítima. [Gonçalves, 2007, p.447].

Venosa, da mesma forma, mas dito de maneira divergente de

Gonçalves, leciona que:

O caso fortuito (act of God, ato de deus no direito anglo-saxão) decorreria de forças da natureza, tais como o terremoto, a inundação, o incêndio não provocado, enquanto a força maior decorreria de atos humanos inelutáveis, tais como guerras, revoluções, greves e determinação de autoridades (fato príncipe). (...) Ambas as figuras equivalem-se, na prática, para afastar o nexo causal. (...) Assim o caso fortuito seria aquela situação normalmente imprevisível, fato da natureza ou fato humano. A força maior também seria caracterizada por algo natural ou humano a que não se poderia resistir, ainda que possível prever sua ocorrência. [Venosa, 2006, p.46],

Coelho conceitua caso fortuito ou de força maior como sendo

sinônimos, pois para o autor, em ambos os casos não há ocorrência do elemento

culpa, caracterizando-se apenas pela imprevisibilidade ou inevitabilidade do dano.

Assim Coelho aduz que:

Fortuito – caso fortuito e de força maior são sinônimos (...), por isso

uso apenas a primeira expressão – é todo evento desencadeador de

danos em que não há culpa de ninguém. Caracteriza-se por sua

imprevisibilidade ou inevitabilidade. No dizer da lei argentina,

corresponde a todo fato “imprevisível ou, se previsível, inevitável”

(...). Assim, nem todo fortuito é imprevisível, mas sempre será

inevitável. A inevitabilidade do dano pode originar-se da

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impossibilidade de antecipar a ocorrência do evento desencadeador

ou da de obstar seus efeitos. [Coelho, 2005, p.387]

Coelho, logo ilustra seu parecer com um exemplo, explicando

que, “A queda de um cometa na Terra pode ser um evento previsível, mas, por

enquanto, é totalmente inevitável. E ocorrendo, os danos que provocar não serão

indenizáveis.” [Coelho, 2005, p.387]

Assim, embora ocorra divergência entre a doutrina ao

conceituar caso fortuito e força maior. Entendemos que o importante, ocorrendo um

ou outro, é a inexistência da responsabilidade civil, pois o nexo causal restaria

prejudicado, ante a inevitabilidade do dano.

No próximo tópico estudar-se-á mais uma causa de exclusão

da responsabilidade civil, a chamada culpa de terceiro.

2.4 CULPA DE TERCEIRO

Neste caso podemos averiguar, que a culpa de terceiro ou fato

de terceiro como alguns doutrinadores gostam de denominar, se reveste

basicamente de duas características, ou seja, imprevisibilidade e inevitabilidade,

assemelhando-se ao caso fortuito ou força maior. Soma-se a isso, a total falta de

culpa por parte do autor do dano.

Coelho a esse respeito explica que:

A exemplo do fortuito, o ato culposo de terceiro, para descaracterizar a relação de causa e efeito e excluir a responsabilidade do demandado, deve ser inevitável (...). A inevitabilidade pode originar-se de sua imprevisibilidade ou de obstáculos materiais. O buraco na rodovia sem a devida sinalização deve-se à culpa da concessionária. A imprevisibilidade deriva da legítima presunção do motorista de que não seria surpreendido por um defeito dessa ordem na pista. [Coelho, 2005, p.391]

Logo, o autor, nos dá o seu entendimento sobre este tema,

afirmando que caso ocorra à culpa do terceiro pelo evento danoso, desconstituir-se-

á a relação de causa e efeito entre a vítima e o demandado. Portanto, excluída a

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responsabilidade do demandado, poderá a vítima responsabilizar civilmente o

terceiro culpado pelo dano.

Desta forma, Coelho esclarece que:

Quando a culpa pelo evento danoso é de terceiro, desconstitui-se a relação de causa e efeito entre o prejuízo da vítima e o ato ou atividade do demandado. Neste caso de excludente, a vítima terá direito de promover a responsabilização do terceiro culpado. [Coelho, 2005, p.391].

Rodrigues sobre este tópico aproveita as palavras de Aguiar

Dias, que observa que a culpa de terceiro aproxima-se muito ao caso fortuito ou

força maior, pois o agente devedor que o aduzir precisará demonstrar que o fato

além de imprevisível era também inevitável, assim o referido autor elucida que:

(...) seguindo uma opinião muito difundida, depois de acentuar que o fato de terceiro figura ao lado do caso fortuito e de força maior na abrangência da expressão causa estranha, usada pelo artigo 1.382 do Código Napoleônico, ensina que ele “só exonera quando realmente constitui causa estranha ao devedor, isto é, quando elimina, totalmente, a relação de causalidade entre o dano e o desempenho do contrato”. Essa é, como disse, opinião muito difundida, e sua adoção envolve a idéia de que o fato de terceiro, como circunstância exoneradora total da responsabilidade, está em situação tão próxima ao caso fortuito ou de força maior que com ele se confunde. E o indigitado responsável, que o aduz, para ter sucesso em sua defesa, precisa demonstrar não só que o fato era imprevisível, como também que era inevitável.[Rodrigues, 2007, p.170-171]

O doutrinador, logo admite outra idéia em relação à culpa do

terceiro, arguindo que há aqueles que admitem a equivalência entre as idéias de

força maior e a ausência de culpa, assim não poderá haver qualquer vestígio de

culpa do agente devedor, pois se o agente devedor poderia prever ou evitar e não os

fez, este agiu culposamente.

Neste sentido, o autor, esclarece que:

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Ou, então, para aqueles que admitem a equivalência entre as idéias de força maior e ausência de culpa (...), é mister que não haja qualquer resquício de culpa por parte do indigitado responsável, pois, se ele podia prever o fato de terceiro e o não previu, sua atitude é culposa: como também terá culpa se, podendo evitar os efeitos danosos de fato de terceiro, não os evitou. [Rodrigues, 2007, p.171]

Gonçalves, inicialmente, é contra a idéia da responsabilização

direta do terceiro, culpado pelo dano, pois os artigos 929 e 930 do Código Civil

concedem ao autor do dano a ação regressiva contra o terceiro que criou a situação

de perigo, para pleitear o ressarcimento despendido ao dono da coisa.

Desta forma, o autor esclarece que:

Em matéria de responsabilidade civil, no entanto, predomina o princípio da obrigatoriedade do causador direto em reparar o dano. A culpa de terceiro não exonera o autor direto do dano do dever jurídico de indenizar. O assunto vem regulado nos arts. 929 e 930 do Código Civil, concedendo o (sic) último ação regressiva contra terceiro que criou a situação de perigo, para haver a importância despendida no ressarcimento ao dono da coisa.(...). [Gonçalves, 2007, p.440]

Entretanto, mais adiante, o doutrinador admite que a

responsabilidade civil, caberá somente ao terceiro, quando esta for exclusiva e

revestir-se de imprevisibilidade e inevitabilidade, explanando que:

Quando, no entanto, o ato de terceiro é a causa exclusiva do prejuízo, desaparece a relação de causalidade entre a ação ou a omissão do agente e o dano. A exclusão da responsabilidade se dará porque o fato de terceiro se reveste de características semelhantes às do caso fortuito, sendo imprevisível e inevitável. Melhor dizendo, somente quando o fato de terceiro se revestir dessas características, e, portanto, equipara-se ao caso fortuito ou força maior, é que poderá ser excluída a responsabilidade do causador direto do dano. [Gonçalves, 2007, p.440]

Gagliano e Pamplona utilizam-se da lição de Venosa, para

esclarecer que o fato de terceiro não é uma questão pacífica em nossa

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jurisprudência, como muitos poderiam pensar, logo os referidos doutrinadores

explanam que:

A questão é tormentosa na jurisprudência, e o juiz, por vezes, vê-se perante uma situação de difícil solução. Não temos um texto expresso de lei que nos conduza a um entendimento pacífico. Na maioria das vezes, os magistrados decidem por equidade, embora não o digam. [Gagliano e Pamplona, 2006, p.116]

Adiante os doutrinadores, continuam o estudo prelecionando

que:

Note-se que, a princípio, desde que haja a atuação causal de um terceiro, sem que se possa imputar participação do autor do dano, o elo de causalidade restaria rompido. Todavia a matéria não é pacífica e, de todas as excludentes, esta é a que maior resistência encontra na jurisprudência pátria. Cite-se, por exemplo, a Súmula 187 do Supremo Tribunal Federal no sentido de que: “A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é ilidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva”. [Gagliano e Pamplona, 2006, p.116]

Prosseguindo ainda neste estudo, os autores nos fornecem o

seu entendimento, explicando que caso o fato de terceiro tenha rompido o nexo

causal, este eximirá o autor do dano de qualquer responsabilidade, devendo a vítima

acionar diretamente o terceiro culpado. Porém, como esclarecem os autores, na

maior parte dos julgados tende a reconhecer a responsabilidade do autor do dano,

cabendo a este ação regressiva contra o terceiro culpado.

Nesta linha de raciocínio, Gagliano e Pamplona Filho,

explicam, que:

Em algumas hipóteses, entretanto, o fato de terceiro que haja rompido o nexo causal, sem que se possa imputar participação ao agente, exonera, em nosso entendimento, completamente a sua responsabilidade, devendo a vítima voltar-se diretamente contra o terceiro. Se, por exemplo, o sujeito estiver ultrapassando, com seu fusca, pelo lado esquerdo da pista, um caminhão, e o motorista deste, imprudentemente, arremessá-lo para fora da estrada, será obrigado

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(o agente que guiava o carro) a indenizar o pedestre que atropelou? Ou poderia alegar o fortuito, para o efeito de se eximir da obrigação de ressarcir? Em muitos julgados, tende-se a reconhecer a responsabilidade do causador do dano, a quem caberia ação regressiva contra o terceiro, mesmo em caso de abalroamento (JTACSP, 109/226, RT, 646/89, RT, 437/127). [Gagliano e Pamplona Filho, 2006, p.117]

A seguir, Gagliano e Pamplona Filho fazem uma observação,

sobre o exemplo citado anteriormente, aduzindo que não concordam com tal

posicionamento na maioria dos julgados, pois diferentemente do que ocorre no

estado de necessidade, em que o autor do dano atua para livrar-se do perigo, no

fato de terceiro o autor do dano é simplesmente um instrumento na cadeia causal

dos acontecimentos.

Assim, os autores, esclarecem que:

Não entendemos assim, pois, em tal situação, diferentemente do que ocorre no estado de necessidade, em que o sujeito causador do dano atua para livrar-se do perigo, no abalroamento do fusca, este veículo fora apenas um mero instrumento na cadeia causal dos acontecimentos. Daí porque, no caso, só restaria à vítima acionar o motorista do caminhão. [Gagliano e Pamplona Filho, 2006, p.117]

Assim, pode-se observar, que a doutrina aqui estudada é

unânime, imputando a responsabilidade civil ao terceiro, quando o fato praticado por

este for imprevisível e inevitável ao autor do dano. Todavia, como podemos notar,

segundo a doutrina, o mesmo não ocorre em nossa jurisprudência, sendo por

diversas vezes o autor do dano, que serviu de mero instrumento da ação,

responsabilizado civilmente, tendo o mesmo o direito de regresso contra o terceiro,

verdadeiro culpado pelo dano.

A seguir, passar-se-á ao estudo de outra causa excludente de

responsabilidade civil, a denominada culpa da vítima, exclusiva ou concorrente.

2.5 CULPA DA VÍTIMA, EXCLUSIVA OU CONCORRENTE

No que se refere a este tema, a culpa da vítima quando for

exclusiva, rompe totalmente o nexo de causalidade entre o ato e o fato danoso

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imputado ao autor do dano, excluindo completamente a responsabilidade civil deste.

No entanto, não é o que acontece quando a culpa é concorrente, entre a vítima e o

autor do dano, caso em que a responsabilidade civil deverá ser apurada

proporcionalmente a cada um destes.

Neste sentido, Gagliano e Pamplona ilustram o tema com um

exemplo:

A exclusiva atuação culposa da vítima tem também o condão de quebrar o nexo de causalidade, eximindo o agente da responsabilidade civil. Imagine a hipótese do sujeito que, guiando o seu veículo segundo as regras de trânsito, depara-se com alguém que, visando suicidar-se, arremessa-se sob as suas rodas. Nesse caso o evento fatídico, obviamente, não poderá ser atribuído ao motorista (agente), mas sim, e tão somente, ao suicida (vítima). [Gagliano e Pamplona Filho, 2006, p.114]

Adiante, os autores, definem a culpa exclusiva da vítima

transcrevendo as palavras de Aguiar Dias, que afirma que a ocorrência desta,

elimina a responsabilidade civil do terceiro, que interferiu no ato danoso.

Deste modo, os doutrinadores , explicam que:

Admite-se como causa de isenção de responsabilidade o que se chama de culpa exclusiva da vítima. Com isso, na realidade, se alude a ato ou fato exclusivo da vítima, pelo qual fica eliminada a causalidade em relação ao terceiro interveniente no ato danoso. [Gagliano e Pamplona Filho, 2006, p.114] Prosseguindo ainda, Gagliano e Pamplona Filho, asseveram

que somente a atuação exclusiva da vítima quebrará o nexo causal, pois havendo

concorrências de culpas, a indenização deverá ser partilhada proporcionalmente a

cada sujeito.

Logo, os autores, afirmam que:

Mas note-se que somente se houver atuação exclusiva da vítima haverá quebra do nexo causal. Como vimos linhas acima, havendo concorrência de culpas (ou causas) a indenização deverá, como

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regra, ser mitigada, na proporção da atuação de cada sujeito. [Gagliano e Pamplona Filho, 2006, p.115]

Neste mesmo sentido Rodrigues, esclarece que:

O evento danoso pode derivar de culpa exclusiva ou concorrente da vítima; no primeiro caso desaparece a relação de causa e efeito entre o ato do agente causador do dano e o prejuízo experimentado pela vítima; no segundo, sua responsabilidade se atenua, pois o evento danoso deflui tanto da sua culpa, quanto da vítima. Com efeito, no caso de culpa exclusiva da vítima, o agente que causa diretamente o dano é apenas um instrumento do acidente, não se podendo, realmente, falar em liame de causalidade entre seu ato e o prejuízo por aquela experimentado. [Rodrigues, 2007, p.165]

Logo, o autor, explica mais detalhadamente, que haverá casos

em que à culpa da vítima será concorrente com a do autor do dano, explanando que:

Casos há, entretanto, em que existe culpa da vítima, paralelamente à culpa concorrente do agente causador do dano. Nessas hipóteses o evento danoso decorreu tanto do comportamento culposo daquela, quanto do comportamento culposo deste. Por conseguinte, se houver algo a indenizar, a indenização será repartida entre os dois responsáveis, na proporção que for justa. [Rodrigues, 2007, p.166]

Adiante, Coelho, aduz que a responsabilidade exclusiva da

vítima, rompe o nexo causal entre ele e o ato ou atividade do demandado. Destarte,

não há razões para imputar a quem quer que seja a responsabilidade civil pelos

danos causados, devendo a vítima suportá-los inteiramente.

Assim, o autor explica que:

Quando o dano decorre de culpa exclusiva da vítima, também não se estabelece a relação de causalidade entre ele e o ato ou atividade do demandado. Na verdade, neste caso, é a vítima que causou o dano e não há razões para imputar-se a quem quer que seja a responsabilidade pela indenização dos prejuízos. A vítima deve suportá-los inteiramente porque foi apenas dela a culpa pelo evento danoso. Não basta que o demandado tenha-se envolvido direta ou indiretamente com o dano para que surja a sua responsabilidade. É

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necessário que seus atos ou atividades tenham sido a causa do prejuízo. A culpa exclusiva da vítima afasta esta possibilidade. [Coelho, 2005, p.393]

Mais adiante, este mesmo doutrinador, nos oferece o seu

entendimento quando há concorrência de culpa entre a vítima e o autor do dano,

afirmando que a referida concorrência terá repercussão unicamente na fixação dos

valores a serem indenizados, pois a indenização da vítima será reduzida

proporcionalmente ao grau de sua culpa, logo, Coelho esclarece que:

Quando há concorrência de culpa, ou seja, quando tanto demandante como demandado agiram culposamente e causaram o dano, verifica-se fato que, no direito brasileiro, repercute unicamente no valor da indenização (CC, art. 945). Se a vítima, portanto, teve qualquer participação culposa no evento, fará jus à indenização, mas o valor desta deve ser reduzido proporcionalmente ao grau de sua culpa (...). [Coelho, 2005, p.394]

Deste modo, o art. 945 caput do Código Civil aduz que, ipsis

litteris:

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. [Figueiredo, 2007, p.174] Nesta mesma linha de pensamento colaciona-se da doutrina de

Gonçalves, o entendimento de que a culpa exclusiva da vítima rompe a relação de

causa e efeito entre o ato do agente e o prejuízo vítima, servindo o causador do

dano como um mero instrumento do acidente danoso.

Logo, o referido autor explica que:

Quando o evento danoso acontece por culpa exclusiva da vítima, desaparece a responsabilidade do agente. Nesse caso, deixa de existir a relação de causa e efeito entre o seu ato e o prejuízo experimentado pela vítima. Pode-se afirmar que no caso de culpa exclusiva da vítima, o causador do dano não passa de um mero

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instrumento do acidente. Não há liame de causalidade entre o seu ato e o prejuízo da vítima. [Gonçalves, 2007, p.437]

Adiante, o autor, tece o seu entendimento sobre a culpa

concorrente entre a vítima e o autor do dano, expondo que:

Há casos em que a culpa da vítima é apenas parcial, ou concorrente com a do agente causador do dano. Autor e vítima contribuem, ao mesmo tempo, para a produção de um mesmo fato danoso. É a hipótese, para alguns, de “culpas comuns”, e, para outros, de “culpa concorrente”. Nesse casos, existindo uma parcela de culpa também do agente, haverá repartição de responsabilidades, de acordo com o grau de culpa. A indenização poderá ser reduzida pela metade, se a culpa da vítima corresponder a uma parcela de 50%, como também poderá ser reduzida de 1/4, 2/5, dependendo de cada caso. [Gonçalves, 2007, p.438]

Destarte, após o estudo e o entendimento sobre este assunto,

passaremos a análise de outra excludente de ilicitude, comumente denominada por

alguns doutrinadores de cláusula de irresponsabilidade ou de não de indenizar.

2.6 CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR

No caso, como podemos observar, que a doutrina é unânime,

ao salientar que a cláusula de não indenizar ou de irresponsabilidade, em razão de

sua própria natureza, se restringe ao mundo dos contratos. A aludida cláusula

dependerá, ainda, de alguns requisitos para ter validade, que serão estudados

adiante.

Coelho, neste sentido preleciona que:

Quando os sujeitos da obrigação de indenizar por responsabilidade civil estão vinculados também a negócio jurídico, a vontade das partes não é o fundamento da indenização, mas pode excluí-la ou limitá-la. A cláusula de não indenizar ou de irresponsabilidade é válida, salvo nas relações de consumo em que o consumidor é pessoa física (CDC, art. 51, I). [Coelho, 2005, p.395]

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Deste modo, o art. 51, inciso I do Código de Defesa do

Consumidor, aduz que, ipsis litteris:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I – impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; [Figueiredo, 2007, p.642]

A seguir, o autor, faz uma importante ressalva em relação à

cláusula de não indenizar, esclarecendo que aludida cláusula deverá ser expressa,

todavia, a ressalva quanto à culpa grave ou dolo poderá ser implícita. Pois, como

bem explica o autor, a cláusula de não indenizar não é uma autorização para o

contratado descuidar-se da execução do contrato, ou a agir com a intenção de lesar

a outra parte.

Deste entendimento, o dotrinador preleciona que:

A cláusula deve ser expressa, mas a ressalva quanto à culpa grave ou dolo pode ser implícita. Afinal, a cláusula de irresponsabilidade não é uma autorização para o contratante descuidar-se na execução do contrato ou, pior, para intencionalmente prejudicar a outra parte. [Coelho, 2005, p.396]

Gonçalves, neste mesmo sentido, mas dito em outras palavras,

profere que:

Cláusula de não indenizar é o acordo de vontades que objetiva afastar as conseqüências da inexecução ou da execução inadequada do contrato. Tem por função alterar, em benefício do contratante, o jogo dos riscos, pois estes são transferidos para a vítima. [Gonçalves, 2007, p.449] Adiante, o referido autor, faz uma observação, a respeito da

não utilização da cláusula de não indenizar nos contratos que envolvem relação de

consumo, aduzindo que, “O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078, de 11-9-

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1990), que se aplica a mais ou menos 80% dos contratos, não admite a sua

estipulação nas relações de consumo.” [GONÇALVES, 2007, p.450].

O doutrinador, ainda acrescenta que, para a cláusula de não

indenizar ter validade, é necessário a observância de alguns requisitos, como

bilateralidade de consentimento, não colisão com preceito de ordem pública,

igualdade de posição das partes, inexistência do escopo de eximir o dolo ou a culpa

grave do estipulante, ausência da intenção de afastar obrigação inerente à função, a

seguir explicadas:

a) Bilateralidade de consentimento – Considera-se inteiramente ineficaz declaração feita unilateralmente. (...)

b) Não colisão com preceito de ordem pública – Ainda que haja acordo de vontades, não terá validade se visa afastar uma responsabilidade imposta em atenção a interesse de ordem pública ou aos bons costumes. Somente a norma que tutela mero interesse individual pode ser arredada pela referida cláusula.

c) Igualdade de posição das partes – Tal requisito impede a sua inserção nos contratos de adesão. (...)

d) Inexistência do escopo de eximir o dolo ou a culpa grave do estipulante – Não se admite cláusula de exoneração de responsabilidade em matéria delitual, pois seu domínio se restringe à responsabilidade contratual. Mesmo nesse campo, a cláusula não abrange os casos de dolo ou culpa grave. (...)

e) Ausência da intenção de afastar obrigação inerente à função – A cláusula de não indenizar não pode ser estipulada para afastar ou transferir obrigações essenciais ao contratante. O contrato de compra e venda, por exemplo, estaria desnaturado se o vendedor pudesse convencionar a dispensa de entregar a coisa vendida. [Gonçalves, 2007, p.450]

Nessa linha de raciocínio, Rodrigues, assevera que a

estipulação da cláusula de não indenizar, com a concordância de ambas as partes,

assegura a uma das partes contratantes o direito de eximir-se da responsabilidade

pelos prejuízos causados em decorrência da inexecução do contrato ou da

execução inadequada do contrato.

Desta maneira, o mencionado autor explica que:

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A cláusula de não indenizar é aquela estipulação através da qual uma das partes contratantes declara, com a concordância da outra, que não será responsável pelo dano por esta experimentado, resultante da inexecução ou da execução inadequada de um contrato, dano este que, sem a cláusula, deveria ser ressarcido pelo estipulante. [Rodrigues, 2007, p.179]

Adiante, Rodrigues, faz uma importante observação,

lembrando que o dispositivo referente à regulação da cláusula de não indenizar, do

Anteprojeto de Obrigações, de Caio Mário da Silva Pereira, acabou sendo excluído

pelo mencionado professor mineiro, no resultado final do Projeto do Código de

Obrigações de 1965. Tal dispositivo assim mencionava que:

Art. 924. A cláusula de não indenizar somente prevalecerá se for bilateralmente ajustada, e não contrariar a lei expressa, a ordem pública e os bons costumes, e nem tiver por objeto eximir o agente dos efeitos do seu dolo. [Rodrigues, 2007, p.182]

Nesta mesma linha de raciocínio, mas em outras palavras,

Gagliano e Pamplona, explanam que:

Obviamente, pela natureza mesma do referido pacto, essa cláusula somente tem cabida na responsabilidade civil contratual. Trata-se, pois, de convenção por meio da qual as partes excluem o dever de indenizar, em caso de inadimplemento da obrigação. [Gagliano e Pamplona, 2006, p.118]

A seguir, os autores, observam que a aludida cláusula de não

indenizar dependerá de alguns requisitos, aduzindo que:

(...) a cláusula de não indenizar, posto que não seja vedada pelo Código Civil, é condicionada a alguns parâmetros como a igualdade dos estipulantes e a não-infringência de superiores preceito de ordem pública. [Gagliano e Pamplona, 2006, p.119]

Mais adiante, os aludidos autores, nos recordam da vedação

da cláusula de não indenizar, inscrita no art. 25 do Código de Defesa do

Consumidor, expondo que:

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(...) o Código de Defesa do Consumidor, a mais bela e revolucionária lei do País, em seu art. 25, veda cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a responsabilidade civil do fornecedor. [Gagliano e Pamplona, 2006, p.119]

Gagliano e Pamplona, logo chegam a um entendimento, de

que a aludida cláusula só poder ser estipulada quando haja igualdade entre as

partes contratantes, e desde que a adesão a esta cláusula, não manifeste a renúncia

da parte economicamente mais fraca, assim aduzem que:

(...) poderíamos fixar a premissa de que essa cláusula só deve ser admitida quando as partes envolvidas guardarem entre si uma relação de igualdade, de forma que a exclusão do direito à reparação não traduza renúncia da parte economicamente mais fraca. [Gagliano e Pamplona, 2006, p.120]

Assim, após o estudo e o entendimento das causas

excludentes de responsabilidade civil, passar-se-á a abordar no próximo capítulo a

responsabilidade civil nos contratos de seguro de vida.

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CAPÍTULO 3

RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CONTRATOS DE SEGURO DE

VIDA

3 .1 CONCEITO DE CONTRATO DE SEGURO

De forma geral, o contrato de seguro objetiva partilhar os riscos

entre os segurados, estes por sua vez, devem ser pertencentes a um mesmo grupo

com características semelhantes, sendo assim, a seguradora recebe de cada

segurado o prêmio, em compensação está assume o risco, caso ocorra o sinistro,

com qualquer segurado, de indenizá-los.

Diniz , neste sentido, explana que:

O contrato de seguro é aquele pelo qual uma das partes (segurador) se obriga para com outra (segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a garantir-lhe interesse legítimo relativo a pessoa ou a coisa e a indenizá-la de prejuízo decorrente de riscos futuros previsto no contrato (...).[Diniz.2006.p.525]

Kriger Filho define o seguro, aduzindo que:

De modo geral, o seguro é o contrato pelo qual uma pessoa assume para com outra a obrigação de indenizá-la das perdas e danos resultantes de um fato determinado, futuro e incerto. [Kriger Filho. 2005, p.24]

Venosa, prefere a definição do atual Código Civil, em seu art.

757, acrescentando ainda a dicção do Parágrafo único do mesmo artigo,

transcrevendo que:

Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.

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Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro,

como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada.

[Venosa, 2007, p.333-334]

Gonçalves, neste mesmo diapasão, explana que:

Considera-se contrato de seguro aquele pelo qual uma das partes, denominada segurador, se obriga, mediante o recebimento de um “prêmio”, “garantir interesse legítimo” da outra, intitulada segurado, “relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados” (CC, art. 757). [Gonçalves.2007.p.474]

Desta maneira, visto e entendido o conceito de contrato de

seguro, passar-se-á a analisar no próximo tópico a natureza jurídica do contrato de

seguro.

3.2 NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO DE SEGURO

Neste tópico, para melhor entendimento do contrato de seguro,

analisou-se individualmente cada uma das suas características jurídicas, quais

sejam, bilateral, oneroso, aleatório, formal, de execução sucessiva, adesão e boa-fé.

Diniz, neste sentido, afirma que o contrato de seguro possui

natureza bilateral, eis que o referido contrato gera obrigações para ambas as partes.

Assim sendo, o segurado deverá pagar o prêmio, sob pena de o seguro caducar, e

ao segurador restara cumprir a obrigação de indenizar, caso ocorra o sinistro, logo a

autora esclarece que:

1º) É um contrato de natureza bilateral, por gerar obrigações ao segurado e para o segurador, já que o segurador deverá pagar a indenização, se ocorrer o sinistro, e o segurado deverá continuar a pagar o prêmio, sob pena de o seguro caducar (...).[Diniz, 2006, p.530]

A autora assevera que o contrato de seguro terá como a

característica a onerosidade, pois o aludido contrato gerara prestações e

contraprestações para ambas as partes que visam auferir vantagem pecuniária.

Neste entendimento, a doutrinadora preleciona que:

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2º) É um contrato oneroso, pois traz prestações e contraprestações, uma vez que cada um dos contraentes visa obter vantagem patrimonial. [Diniz, 2006, p.530]

Prosseguindo ainda, Diniz, afirma que o contrato de seguro

será aleatório, pois o segurado não poderá prever de imediato o que receberá em

troca da sua prestação. Logo, o segurador assumirá o risco, devendo indenizar o

segurado pelos danos que vier a sofrer, caso o evento seja incerto e previsto no

contrato.

Nesta linha de raciocínio, a aludida autora preleciona que:

3º) É um contrato aleatório, por não haver equivalência entre as prestações; o segurado não poderá antever, de imediato, o que receberá em troca da sua prestação, pois o segurador assume um risco, elemento essencial desse contrato, devendo ressarcir o dano sofrido pelo segurado, se o evento incerto e previsto no contrato ocorrer. [Diniz, 2006, p.530]

Ainda, a doutrinadora, observa que a formalidade do contrato

de seguro será inerente ao mesmo, eis que a forma escrita será obrigatória,

perfectibilizando-se o contrato após o segurador remeter a apólice ao segurado, ou

após fazer nos livros usuais o lançamento da operação.

Neste sentido, Diniz, afirma que:

4º) É um contrato formal, visto ser obrigatória a forma escrita, já que não obriga antes de reduzido a escrito, considerando-se perfeito o contrato desde o momento em que o segurador remete a apólice ao segurado, ou faz nos livros o lançamento usual da operação (CC, arts. 758 e 759). A forma escrita é exigida para a substância do contrato. [Diniz, 2006, p.531]

Gonçalves, referindo-se, à característica formal ou solene dos

contratos de seguro, afirma que há divergência sobre o assunto, alegando que a

característica do contrato de seguro é consensual, podendo ser provado pelo bilhete

do seguro ou por documento comprobatório do respectivo prêmio, assim, o autor

encontrou apoio no art. 758 do Código Civil, aduzindo que:

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Há divergências sobre o caráter consensual do contrato. Afirmam alguns, com base no art. 758 do Código Civil, que ele não se aperfeiçoa com a convenção, mas somente depois de emitida a apólice. Seria, então, um contrato solene. Dispõe o mencionado dispositivo legal que “o contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do respectivo prêmio”. Tem-se entendido, no entanto, que a forma escrita é exigida apenas ad probationem, ou seja, como prova preconstituída, não sendo , porém, essencial, visto que a parte final do art. 758 também considera perfeito o contrato desde que o segurado tenha efetuado o pagamento do prêmio. A falta de apólice é portanto, suprível por outras provas, especialmente a perícia nos livros do segurador. [Gonçalves, 2007, p.477]

Mais adiante, Diniz prossegue observando que o contrato de

seguro terá como característica a execução sucessiva ou continuada, pois visa

proteger por um determinado período de tempo coisa ou pessoa, sendo necessário

que o segurado satisfaça as suas obrigações dentro dos termos estipulados no

contrato, pois o não cumprimento das respectivas obrigações acarretará a rescisão

contratual.

Assim, a aludida autora, prescreve que:

5º) É um contrato de execução sucessiva ou continuada, destinando-se a subsistir durante um período de tempo, por menor que seja, pois visa proteger o bem ou a pessoa. Sua execução se realiza escalonadamente, sendo necessário que a obrigação do segurado seja satisfeita dentro dos termos convencionados, sob pena de rescindir-se por tratar-se de obrigação de trato sucessivo. Os efeitos passados serão mantidos, cessando-se os que decorrerem dali para frente. [Diniz, 2006, p.531]

Persistindo ainda, a doutrinadora, afirma que o contrato de

seguro, será um contrato de adesão, pois a aceitação do contrato pelo segurado se

dará sem discussão das cláusulas contratuais, que serão estabelecidas pelo

segurador na apólice, e as modificações que ocorrerem serão inseridas pelo

segurador através de carimbo ou justaposição.

Desta forma, Diniz, preleciona que:

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6º) É um contrato por adesão, formando-se com a aceitação pelo segurado, sem qualquer discussão, das cláusulas impostas ou previamente estabelecidas pelo segurador na apólice impressa, e as modificações especiais que se lhe introduzirem são ressalvas que o segurador insere por carimbo ou justaposição (...). [Diniz, 2006, p.531]

Gonçalves, a respeito da característica de adesão, do contrato

de seguro, ressalta a importância do art. 47 do Código de Defesa do Consumidor,

que estabelece que na ocorrência de dúvida concernente as cláusulas contratuais,

estas deverão ser interpretadas a favor do aderente, explicando que:

O art.47 do Código de Defesa do Consumidor estatui que as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. Já de há muito tempo a jurisprudência vem proclamando que, nos contratos de adesão em geral, na dúvida, a interpretação deve favorecer ao aderente, porque quem estabelece as condições é o outro contratante, que tem a obrigação de ser claro e de evitar dúvidas. [Gonçalves, 2007, p.477]

Apresentadas as características do contrato de seguro, passar-

se-á a analisar as partes que compõe o contrato de seguro, ou seja, segurador e

segurado.

3.3 SEGURADOR

Em linhas gerais, o segurador só pode ser pessoa jurídica

devidamente constituída em lei e autorizado pelo Poder Público. O mesmo, ainda,

recebe o prêmio do segurado, assume o risco, e se obriga a indenizar o segurado

em caso de ocorrência do sinistro.

Venosa, versando sobre o tema, nos dá o seu entendimento,

esclarecendo que:

Segurador é a pessoa jurídica que recebe prêmio, assume o risco e obriga-se a efetivar a contraprestação, se ocorrer o sinistro. O Decreto nº 73/66 institui entre nós o Sistema Nacional de Seguros

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Privados, que orienta, também, a instituição de empresas seguradoras do país. Somente podem atuar no ramo de seguros as sociedades anônimas devidamente autorizadas pelo Ministério da Fazenda, ficando permanentemente sujeitas à fiscalização da Superintendência de Seguros Privados (Susep). [Venosa, 2007, p.354]

Desta maneira, Diniz, explana que:

O segurador é aquele que suporta o risco, assumido (...) mediante o recebimento do prêmio, obrigando-se a pagar uma indenização, por isso deve ter capacidade financeira e estar em funcionamento autorizado pelo Poder Público. [Diniz, 2006, p.525] Gonçalves esclarece que o segurador, deverá ser

necessariamente, uma sociedade anônima, uma sociedade mútua ou uma

cooperativa, devidamente autorizada pelo Poder Executivo, que assumirá o risco,

mediante o recebimento do prêmio, que geralmente é pago de forma sucessiva,

tendo como conseqüência à obrigação de indenizar o segurado na ocorrência do

sinistro.

Neste sentido, o autor, esclarece que:

Nele intervêm o segurado e o segurador, sendo este, necessariamente, uma sociedade anônima, uma sociedade mútua ou uma cooperativa, com autorização governamental (CC, art. 757, parágrafo único), que assume o risco, mediante o recebimento do prêmio, que é pago geralmente em prestações, obrigando-se a pagar ao primeiro a quantia estipulada como indenização para a hipótese de se concretizar o fato aleatório, denominado sinistro. [Gonçalves, 2007, p.474]

Rodrigues, neste mesmo diapasão, explana que: “O segurador

é o contratante que, assumindo o risco, propõe-se a indenizar o segurado dos danos

sofridos, na hipótese de sinistro.” [Rodrigues, 2007, p.338]

O autor, ainda faz uma observação, quanto à regulamentação

e fiscalização dos segurados privados, tendo em vista o Decreto-lei n. 2.063, de 7 de

março de 1940, aduzindo que a mesma:

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“regulamenta as operações de seguro privados e sua fiscalização”, a exploração das operações de seguros privados será exercida, no território nacional, por sociedades anônimas, mútuas e cooperativas, mediante prévia autorização do governo Federal (art. 1º). [Rodrigues, 2007, p.338]

Desta forma, verificado e analisado, o conceito de segurador,

passaremos a estudar a outra parte do contrato do seguro, o segurado.

3.4 SEGURADO

Segurado é a pessoa física ou jurídica, em nome da qual se

expede a apólice, que contrata o seguro, ou seja, transfere o risco ao segurador,

mediante a obrigação de pagar o prêmio, com o objetivo de resguardar coisa ou

pessoa de um possível sinistro.

Diniz, desta forma leciona que:

(...) segurado é o que tem interesse direto na conservação da coisa ou da pessoa, fornecendo uma contribuição periódica e moderada, isto é, o prêmio, em troca do risco que o segurador assumirá de, em caso de incêndio, abalroamento, naufrágio, furto, falência, acidente, morte, perda das faculdades humanas etc., indenizá-lo pelo danos sofridos. [Diniz, 2006, p.526]

Rodrigues, neste sentido, mas dito de forma mais sucinta, aduz

que, “(...) O segurado é o contratante que mediante o pagamento de um prêmio

obtém a transferência do risco para o segurador.” [Rodrigues, 2007, p.338]

Venosa, sobre este tema, nos oferece o conceito de segurado

e ainda faz um acréscimo, afirmando que o seguro de vida será estipulado em favor

de terceiro, ou seja, o beneficiário que será atingido pelo contrato, mas não será

parte deste.

Assim, Venosa esclarece que:

Segurado é a pessoa natural ou jurídica em nome de quem é expedida a apólice. No seguro de vida, existe contrato em favor de terceiro, o beneficiário, que é atingido pelo negócio, mas não é parte. [Venosa, 2007, p.354]

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Pesquisado o conceito de segurado, o estudo in casu, irá

limitar-se de agora em diante ao seguro de pessoa.

3.5 SEGURO DE PESSOA

O seguro de pessoas como podemos analisar, constitui-se

essencialmente em seguro de vida e seguro contra acidentes pessoais, ou seja, ele

visa assegurar a vida ou a integridade física da pessoa do segurado.

Diniz, ao falar sobre o assunto assume que:

Nosso Código Civil permite que a pessoa humana seja objeto de seguro contra os riscos de morte, sobrevida após certo prazo, comprometimento de saúde, incapacidade, invalidez ou de acidentes (...). [Diniz, 2006, p.561-562]

Gonçalves, neste sentido explica que, “O seguro de pessoa

tem por finalidade beneficiar a vida e as faculdades humanas.” [Gonçalves, 2007,

p.491-492].

O autor, logo observa que o seguro de pessoa é o gênero,

compreendendo este a outras modalidades de seguros, como o seguro de vida, o

seguro de acidentes pessoais, o de natalidade, o de aposentadoria, de invalidez e o

seguro-saúde, assim explanados pelo autor:

O seguro de pessoa compreende o de vida, o de acidentes pessoais, o de natalidade, o de pensão, o de aposentadoria e de invalidez e o seguro-saúde. Todavia, o art. 802 do novo diploma exclui expressamente este último do âmbito do Código Civil, deixando sua disciplina para a legislação especial. [Gonçalves, 2007, p.491-492].

Coelho, sobre este tema, inicialmente tem a mesma acepção

dos outros doutrinadores, porém logo diverge de Gonçalves com relação aos

seguros compreendidos, pois para o autor o seguro de pessoas limita-se ao seguro

de vida e ao seguro de acidentes pessoais, assim esclarece que:

Nos seguros de pessoa, o risco envolve a pessoa do segurado, isto é, sua vida ou integridade física. O interesse objeto de cobertura não

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integra o patrimônio do segurado ou contratante do seguro, embora o sinistro possa ter também desdobramentos econômicos (falecimento do provedor de alimentos, por exemplo). Assim, o interesse segurado no seguro de pessoas não é essencialmente material e pode até mesmo ser apenas moral (....). Os seguros de pessoas são dois: os de vida (...) e de acidentes pessoais (...). [Coelho, 2007, p.371-372].

Rodrigues, no mesmo sentido que Coelho assevera que, “O

seguro de pessoas pode ser desdobrado em seguro de vida e seguro contra

acidentes pessoais.” [Rodrigues, 2007, p.336]

Assim, pesquisado o seguro de pessoa, passar-se a estudar

somente o seguro de vida.

3.5.1 Seguro de vida

O seguro de vida é uma garantia contra evento futuro e incerto,

pois terá como parâmetro a duração da vida humana, visando ainda, o pagamento

de certa soma a uma ou mais pessoas, beneficiárias do mencionado seguro. O

seguro de vida poderá também, ser contratado por prazo determinado ou

indeterminado.

Gonçalves, neste sentido, esclarece que:

O seguro de vida é o mais importante seguro de pessoas. Na sua constituição, a duração da vida humana atua como parâmetro para o cálculo do prêmio devido ao segurador, que se obriga a pagar ao beneficiário um capital ou uma renda, por morte do segurado ou para a hipótese de sobreviver por um prazo determinado. [Gonçalves, 2007, p.492]

Coelho, nessa linha de raciocínio, mas em outras palavras,

explica que:

Os riscos garantidos pelo seguro de vida estão relacionados à duração da vida humana, sempre incerta. Pode ser o risco de ela durar menos ou mais que o prazo definido no contrato, mas o seguro será sempre um garantia contra a incerteza do momento da morte. O

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seguro de vida pode ser contratado por prazo determinado ou por toda a vida do segurado. Naquela hipótese, o prêmio será devido pelo contratante do seguro pelo prazo de duração do contrato, enquanto nessa última ele deverá ser pago enquanto viver o segurado (CC, art.796). [Coelho, 2007, p.373]

Desta forma, o seguro de vida poderá ser estipulado por prazo

determinado ou indeterminado de acordo com caput do art. 796, do Código Civil.

Acrescido ainda do Parágrafo único, do referido artigo, que afirma que

independentemente do prazo estipulado, no caso de seguro individual, o segurador

não poderá ingressar com ação para cobrar o prêmio vencido, pois a mora no

cumprimento da obrigação, conforme estiver estipulado, poderá acarretar a rescisão

contratual, com a restituição da reserva formada, ou a redução do capital garantido

proporcionalmente ao prêmio pago, assim, aduz que, in verbis:

Art. 796. O prêmio, do seguro de vida, será conveniado por prazo limitado, ou por toda a vida do segurado. Parágrafo único. Em qualquer hipótese, no seguro individual, o segurador não terá ação para cobrar o prêmio vencido, cuja falta de pagamento, nos prazos previstos, acarretará, conforme se estipular, a resolução do contrato, com a restituição da reserva já formada, ou a redução do capital garantido proporcionalmente ao prêmio pago. [Figueiredo, 2007, p.168]

Rodrigues, neste mesmo diapasão, profere que:

(...) O seguro de vida tradicional, também chamado seguro de vida propriamente dito, é aquele em que, mediante um prêmio anual, se obriga o segurador ao pagamento de certa soma, por morte do segurado, a pessoa ou pessoas por este indicadas no contrato. [Rodrigues, 2007, p.345]

Diniz, ao falar sobre o seguro de vida, acrescenta ainda, que

será lícito ao segurador estipular um prazo de carência, prazo este em que o

segurador não se responsabilizará pelo sinistro, dessa maneira Diniz afirma que:

O seguro de vida tem por fim garantir, mediante o prêmio anual que se ajustar, o pagamento de certa soma a determinada ou determinadas pessoas, por morte do segurado. No seguro de vida

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para o caso de morte será lícita a estipulação de um prazo de carência, durante o qual a seguradora não responderá pela ocorrência do sinistro; logo se ele se der durante o lapso carencial, o segurador deverá restituir ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada (CC, art. 797, parágrafo único). Somente depois do término daquele período, havendo o sinistro, o beneficiário poderá reclamar judicialmente o cumprimento da obrigação de indenizar por parte do segurador. [Diniz, 2006, p.540]

Dessa maneira, o art. 797, Parágrafo único, do Código Civil

profere que, ipsis litteris:

Art. 797. No seguro de vida para o caso de morte, é lícito estipular-se um prazo de carência, durante o qual o segurador na responde pela ocorrência do sinistro. Parágrafo único. No caso deste artigo o segurador é obrigado a devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada. [Figueiredo, 2007, p.168]

Após a pesquisa do seguro de vida, prosseguir-se-á na

pesquisa, passando-se a analisar outro instituto derivado do seguro de vida, o

denominado seguro de vida em grupo.

3.5.1.1 Seguro de vida em grupo

O seguro de vida em grupo é derivado do seguro de vida

tradicional, aquele pressupõe a existência de três partes, o segurador, o estipulante,

que pode ser pessoa natural ou jurídica, e o grupo de segurados, que devem estar

ligados ao estipulante.

Venosa, a respeito deste assunto, esclarece que:

No seguro em grupo, freqüente no seguro de vida, há um conjunto de indivíduos segurados, nominados ou somente referidos, como, por exemplo, os empregados de uma fábrica ou associados de uma entidade, os membros de uma associação, empregados de uma empresa, funcionários de uma autarquia etc. com faculdade de substituição de beneficiários. O art. 801 do atual Código, em um único dispositivo, fornece a base dessa importante contratação securitária:

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“O seguro de pessoas pode ser estipulado por pessoa natural ou jurídica em proveito de grupo que a ela, de qualquer modo, se vincule. § 1º O estipulante não representa o segurador perante o grupo segurado, e é o único responsável, para com o segurador, pelo o cumprimento de todas as obrigações contratuais. § 2º A modificação da apólice em vigor dependerá da anuência expressa de segurados que representem três quartos do grupo.” [Venosa, 2007, p.343-344]

Gonçalves, nesse mesmo sentido, afirma que:

O seguro em grupo ou coletivo é subespécie do seguro de vida. O Código Civil de 2002 autoriza a sua celebração no art. 801, verbis: “O seguro de pessoas pode ser estipulado por pessoa natural ou jurídica em proveito de grupo que a ela, de qualquer modo, se vincule”. Nessa hipótese, subsiste relação jurídica entre o estipulante, o segurador e os segurados.[Gonçalves, 2007, p.500]

Rodrigues, desta maneira, conceitua o seguro de vida em

grupo, prelecionando que:

O seguro de vida em grupo é o negócio que se estabelece entre um estipulante e a seguradora através do qual aquele se obriga ao pagamento de um prêmio global e a aquela se obriga a indenizar pessoas pertencentes a um grupo determinado, denominado grupo segurável, pessoas essas ligadas por um interesse comum e cuja relação, variável de momento a momento, é confiada a seguradora ”. [Rodrigues, 2007, p.348]

Venosa, mais adiante, faz algumas observações, a respeito da

responsabilidade do estipulante, afirmando que este será o único responsável pelo

cumprimento das obrigações, inclusive o pagamento do prêmio e demais encargos

perante o segurador. O estipulante também será o responsável por indicar os

beneficiários integrantes da apólice, bem como deverá também, informar os novos

integrantes do grupo segurado, e aqueles que dele foram excluídos. O estipulante

não representará o segurador perante o grupo segurado.

Desta forma, caberá ao grupo segurado adotar as devidas

precauções a respeito da conduta do estipulante, para que este venha a cumprir

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todas as obrigações contratuais do seguro. Assim, caso o estipulante seja

inadimplente ou haja com culpa, prejudicando os segurados, a estes incumbirá o

direito de acionar o estipulante por perdas e danos. Afirma ainda, Venosa, que a

alteração da apólice do grupo segurado, só ocorrerá com a anuência de três quartos

da universalidade dos segurados. Acrescenta ainda, que caberá ao grupo segurado

optar pela melhor forma de atuação e fiscalização do seguro. Sendo legítimo a cada

segurado, poder discutir as condições do contrato de seguro, e não somente ao

estipulante.

Deste modo, o referido doutrinador prescreve que:

Nesse seguro em grupo, o único responsável perante o segurador, pelo pagamento do prêmio e demais encargos, é o estipulante. É ele, também, responsável por indicar os beneficiários que integrarão a apólice, os novos segurados e aqueles que são excluídos. Ele não representa o segurador, o qual é o único responsável pelo pagamento do capital, nas hipóteses que ocorrerem. Desse modo, caberá ao corpo de segurados exercer vigilância sobre a conduta do estipulante quanto ao cumprimento das obrigações referentes ao seguro. Se o estipulante for inadimplente ou agir com culpa, de molde a prejudicar o segurado, caberá a este acioná-lo por perdas e danos. (...) Nem sempre será fácil a alteração da apólice, pois mostrar-se-á difícil, na prática, a aquiescência de três quartos do universo de segurados. Essa necessidade de alteração apresenta-se mais comum nos casos concretos do que à primeira vista pode parecer. Caberá a cada grupo de segurados definir a melhor forma de atuação e fiscalização desse seguro. Cada segurado terá legitimidade para discutir as condições do seguro e não somente o estipulante, como decorrência da estipulação em favor de terceiro.[Venosa, 2007, p.344]

Neste mesmo sentido, Gonçalves preleciona que:

No seguro de vida em grupo há, com efeito, três personagens: o estipulante, que pode ser pessoa natural ou jurídica e, segundo dispõe o § 1º do aludido art. 801, “não representa o segurador perante o grupo segurado”, mas “é o único responsável, para com o segurador, pelo o cumprimento de todas as obrigações contratuais”; o segurador e os segurados (grupo segurável). Se os últimos tiverem alguma pretensão contra a seguradora, deverão deduzi-la

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diretamente, e não por intermédio do estipulante, que não responde por aquela perante o aludido grupo. Todavia, o estipulante tem a responsabilidade, perante a seguradora, de fiscalizar o cumprimento de todas as obrigações pelo grupo contraídas, tendo em vista que foi sua a iniciativa de procurá-la para a celebração do ajuste. [Gonçalves, 2007, p.500-501]

Neste tópico, Rodrigues, faz uma importante observação, sobre

a Circular n. 23, de 10 de março de 1972, da Superintendência de Seguros Privados,

que define o que é grupo segurável, transcrevendo que, “todo conjunto de pessoas,

homogêneo em relação a uma ou mais características, expressas por um vínculo

concreto a um empregador ou a uma associação, passível de comprovação efetiva”.

[Rodrigues, 2007, p.348]

Prosseguindo, o autor, faz algumas observações, mencionando

que, há partes que no seguro de vida em grupo permanecerão inalteradas durante a

vigência do contrato, como o estipulante e o segurador, e outras que poderão ser

alteradas constantemente, como os segurados, atribuindo ainda ao estipulante a

responsabilidade pelas informações prestadas, desta forma, explica que:

Enquanto nesse seguro o segurador e o estipulante permanecem inalterados durante a vigência do contrato, o grupo segurado está em permanente mutação, pois durante o curso daquele há constante fluxo de ingressos e saídas de segurados. Tal fato impõe ao estipulante o dever de remeter, mensalmente, ao segurador, relação dos atuais segurados, onde constam os que saíram e os que nele ingressaram. O prêmio varia de acordo com o maior ou menor número de beneficiados. [Rodrigues, 2007, p.349]

Mais adiante, o doutrinador, lembra que neste tipo de seguro, o

exame médico é dispensável, sendo substituído por uma declaração de saúde do

segurado, porém constatada a má-fé da referida declaração, está poderá gerar

implicações ao segurado, deste modo o autor esclarece que:

Outra peculiaridade do seguro de grupo é a dispensa do prévio exame médico, indispensável no seguro de vida individual. Tratando-se de seguro que abrange dezenas, centenas e mesmo milhares de segurados, presume-se que a média destes seja a normal, o que

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divide o risco do segurador, que se baseia no quod plerumque accidit e na lei dos grandes números. Tal exame é, ordinariamente, substituído por uma declaração de saúde do segurado, declaração de considerável importância, porque, tratando-se de negócio que se inspira no princípio da boa-fé, pode gerar conseqüências sérias para o interessado, se se apurar, ao depois, a deliberada mentira daquele. [Rodrigues, 2007, p.349]

Adiante, Gonçalves, referindo-se ao § 2º, do art. 801 do Código

Civil, nos oferece o seu entendimento, sobre o quorum mínimo exigido pelo aludido

dispositivo, aduzindo que:

Proclama o § 2º do retrotranscrito art. 801 do Código Civil que “a modificação da apólice em vigor dependerá da anuência expressa de segurados que representem três quartos do grupo”. A exigência do referido quorum tem a finalidade de proteger a estabilidade nas relações contratuais, como uma forma de acautelar os interesses da maioria. Assim, qualquer alteração posterior do contrato só poderá ser feita com a expressa anuência de no mínimo três quartos dos componentes do grupo, para evitar ameaça ao equilíbrio contratual pretendido por ocasião da celebração do contrato e privilegiar a manutenção do statu quo ante.” [Gonçalves, 2007, p.501]

O mencionado autor, logo faz uma observação, a respeito da

modificação e permanência das partes, no contrato de seguro de vida em grupo,

explicando que:

Uma importante característica do seguro de vida em grupo é que, embora o estipulante e o segurador sejam fixos, ficando jungidos ao contrato até o final de sua execução, o grupo segurado esta em permanente mutação, havendo constante fluxo de ingressos e saídas de segurados. Em razão dessa circunstância, o estipulante tem a obrigação de remeter ao segurador relação mensal dos atuais segurados e das mutações ocorridas, uma vez que o prêmio varia conforme o maior ou menor número de beneficiários. [Gonçalves, 2007, p.501-502]

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Gonçalves utiliza-se das palavras de Rodrigues que, ressalta a

importância de se verificar a reais condições de saúde dos segurados, e da

veracidade das declarações prestadas pelos mesmos, explanando que:

Nessa modalidade de seguro, considerando-se a grande quantidade de segurados, o prévio exame médico é normalmente substituído por uma declaração de estado de saúde do beneficiário. Tal declaração, segundo anota Silvio Rodrigues, é de considerável importância, porque, “tratando-se de negócio que se inspira no princípio da boa-fé, poderá gerar conseqüências sérias para o interessado, se se (sic) apurar, ao depois, a deliberada mentira daquele”. [Gonçalves, 2007, p.502]

A seguir, o autor, fala sobre o risco que o segurador corre ao

dispensar o exame médico e a referida declaração de seu estado de saúde,

esclarecendo que:

Se a seguradora dispensa o exame médico para admissão do segurado e não exige a aludida declaração sobre seu estado de saúde, não se pode negar ao pagamento da indenização alegando preexistência da doença que o vitimou. O risco assumido pelo segurador, ao dispensar o mencionado exame, baseia-se no quod plerumgue accidit, ou seja, na presunção de que, na média, os segurados são pessoas normais. [Gonçalves, 2007, p.502]

3.5.1.2 Objeto do seguro de vida

No contrato de seguro de vida, o objeto do seguro é a própria

vida do segurado, que visa indenizar o beneficiário por ocasião do falecimento

daquele. Porém, de acordo com a doutrina, o aludido seguro, pode ter por objeto a

vida de outrem.

Gonçalves, sobre o objeto do seguro de vida, ensina que:

A vida e as faculdades humanas também se podem estimar como objeto segurável, e assegurar, no valor ajustado, contra os riscos possíveis, como o de morte involuntária, inabilitação para trabalhar, ou outros semelhantes. [Gonçalves, 2007, p.494)

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Lembra Gonçalves, que o seguro de vida poderá ter como

objeto do contrato, além da vida do próprio segurado a vida de outrem, neste caso o

proponente deverá justificar o seu interesse, exceto quando se tratar de cônjuge,

ascendente, descendente ou companheiro, pois nestes casos o interesse pela

preservação será presumido.

Nesse contexto o aludido autor ensina que:

Pode uma pessoa fazer o seguro sobre a própria vida ou sobre a vida de outrem. No ultimo caso, deverá justificar “o seu interesse pela preservação” daquela que segura, salvo se for cônjuge, ascendente ou descendente do proponente (CC, art. 790 e parágrafo único). Considera-se, pois, presumido o interesse, quando a pessoa segurada é cônjuge, ascendente ou descendente do proponente. Deve ser incluído nesse rol também o companheiro, não só em face do reconhecimento, em nível constitucional, da união estável como entidade familiar, como ainda do disposto no art. 793 do novo diploma, que expressamente considera válida a instituição do companheiro como beneficiário do seguro. [Gonçalves, 2007, p.494)

Rodrigues, nesta linha de pensamento, mas em outras palavras,

prescreve que:

Trata-se de negócio de previdência, em que o segurado, desejando assegurar a sobrevivência e o bem estar de sua família ou de outras pessoas que lhe são caras, estipula que por ocasião de sua morte o segurador fornecerá, a seus beneficiários, uma soma em dinheiro desde logo fixado no contrato, pagando ele, segurado, a partir de então, um prêmio periódico, anual ou mensal. [Rodrigues, 2007, p.346]

Coelho, oferecendo o seu entendimento, explica que, além da

vida do próprio segurado, poderá ser objeto do contrato de seguro de vida, a vida de

outrem. Porém, na estipulação do seguro de vida de outrem, o interesse do

proponente pela preservação daquela vida, será a condição para a validade do

contrato. Neste sentido, o autor preleciona que:

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O seguro de vida costuma ter por objeto a vida do próprio contratante. A lei autoriza a sua contratação tendo por interesse segurado a vida de outrem. Nesse caso, entretanto, é condição de validade do seguro que o proponente tenha interesse na preservação da vida do segurado. [Coelho, 2007, p.373-374]

Mais adiante, Coelho, complementa a idéia, arguindo que o

interesse pela preservação da vida de outrem, será presumida quando se tratar de

cônjuge, ascendente ou descendente do proponente. Portanto, nos demais casos o

proponente deverá declarar o seu interesse pela preservação da vida da pessoa

indicada, sob pena de incorrer em crime de falsidade.

Nesta linha de raciocínio, o doutrinador afirma que:

O interesse na preservação da vida alheia é presumido quando o proponente é cônjuge, ascendente ou descendente do segurado; nos demais casos, ele deve declarar seu interesse na sobrevivência da pessoa apontada, sob pena de incorrer em crime de falsidade (CC, art. 790 e parágrafo único). [Coelho, 2007, p.374]

Venosa, nos dá o seu entendimento, referente ao objeto do

seguro de vida, aduzindo que:

O vigente Código Civil, ao definir contrato de seguro no art. 757, menciona que seu objeto é garantir interesse legítimo do segurado relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. [Venosa, 2007, p.341]

O referido autor observa que o seguro de vida pode ter por

objeto a vida de outrem além do próprio segurado, devendo constar no contrato de

seguro a declaração do interesse na preservação da vida alheia, no entanto está

pode ser presumida quando se tratar de descendente, ascendente e cônjuge, desta

forma o autor profere que:

No seguro de vida, o interesse segurável é presumido no caso de beneficiários ascendentes, descendentes, cônjuge e irmãos (art. 1.472 do Código de 1916). No Código Civil de 2002, de forma mais restrita, o art. 790 especifica:

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“No seguro sobre a vida de outros, o proponente é obrigado a declarar, sob pena de falsidade, o seu interesse pela preservação da vida do segurado. Parágrafo único. Até prova em contrário, presume-se o interesse, quando o segurado é cônjuge, ascendente ou descendente do proponente.” [Venosa, 2007, p.341]

Venosa, ainda, ressalta que a referida declaração deverá ser

positiva no sentido de preservar a vida do segurado, de cunho econômico ou

jurídico, acrescenta ainda, que o companheiro poderá ser instituído como

beneficiário do seguro de vida, dessa forma o autor aduz que:

O interesse a ser declarado é de natureza econômica ou jurídica. Deve representar as razões sociais ponderáveis. O interesse em preservar a vida de determinada pessoa não pode ser negativo. Há de representar conduta no sentido de preservar a vida segurada (...). O art. 793 permite a instituição do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o segurado era separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato. Não resta dúvida de que o companheiro também pode ser admitido se o proponente é solteiro ou divorciado. O texto disse menos do que o legislador pretendeu. [Venosa, 2007, p.341]

3.5.1.3 Morte voluntária do segurado

Inicialmente cabe aqui relembrarmos, que o seguro de vida

pressupõe a morte involuntária do segurado, para que o beneficiário obtenha o

direito a indenização. Porém, de acordo, com as doutrinas aqui pesquisadas, o

suicídio no seguro de vida, acabou por gerar muitas controvérsias na prática jurídica,

na vigência do antigo Código Civil de 1916, sendo ainda, objeto de Súmula pelo

Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça, pois dificilmente se fazia

provar na prática se o suicídio era ou não premeditado pelo segurado.

Venosa, neste enquadramento preleciona que:

O seguro de vida tem como objeto a morte involuntária. O parágrafo único do art. 1.440 do velho Código considerava morte voluntária a

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recebida em duelo. “bem como o suicídio premeditado”. Entende-se como premeditada a auto-supressão da vida com predeterminação. [Venosa, 2007, p.359]

Nesse sentido, Venosa, transcreve o entendimento da Súmula

105, do Supremo Tribunal Federal, in verbis:

“Salvo se tiver havido premeditação, o suicídio do segurado no período contratual da carência não exime o segurador do pagamento do seguro.” Cite-se ainda a Súmula 61 do Superior Tribunal de Justiça: “O seguro de vida cobre o suicídio não premeditado. [Venosa, 2007, p.359]

Venosa, logo assinala que o novo Código Civil de 2002, em

seu artigo 798, parágrafo único, estatuiu um prazo de carência de dois anos, em

caso de suicídio, para o seguro de vida, afastando de uma vez a premeditação do

suicídio, desta forma o autor aduz que:

O atual Código procurou solucionar de forma mais prática e objetiva a questão, estatuindo que o suicídio não gerará indenização, se ocorrido nos primeiros dois anos de vigência inicial do contrato, ou de sua recondução depois de suspenso, permitida esta pelo ordenamento (art.798). Sob tal prisma, afastar-se-á a discussão acerca da premeditação. Com esse período de dois anos, afasta-se a possibilidade de eventual fraude de quem faz seguro de vida com a intenção precípua de suicidar-se. [Venosa, 2007, p.359]

Gonçalves, neste mesmo sentido explica que

O Código Civil de 1916 dispunha que somente podia ser exigida a indenização quando a morte do segurado fosse involuntária. No art. 1.440, parágrafo único, dizia o aludido diploma que se considerava morte voluntária a ocorrida em duelo, bem como o suicídio premeditado por pessoa no gozo de suas faculdades de discernimento. [Gonçalves, 2007, p.498]

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Nessa linha de raciocínio, o mesmo autor, transcreve as

Súmulas, n. 61 do Superior Tribunal de Justiça, e a Súmula n. 105 do Supremo

Tribunal Federal:

O seguro de vida cobre morte por suicídio não premeditado”. E a de n. 105 do Supremo Tribunal Federal estabelece: “Salvo se tiver havido premeditação, o suicídio do segurado no período contratual de carência não exime o segurador do pagamento do seguro. [Gonçalves, 2007, p.498]

O doutrinador adiante, afirma que o novo Código Civil de 2002,

em seu art. 798, parágrafo único, trouxe inovação no que se refere ao suicídio

premeditado, pois além de estabelecer um prazo de carência de dois para o suicídio

do segurado, também estabelece que será nula a cláusula que excluir o pagamento

da indenização por suicídio do segurado.

Assim, Gonçalves explana que:

O Código Civil de 2002 inovou nessa matéria, dispondo, no art. quando o segurado se suicida nos primeiros dois anos de vigência do contrato, ou da sua recondução depois de suspenso, observado o disposto no parágrafo único do artigo antecedente”. Aduz o parágrafo único: “Ressalvada a hipótese prevista neste artigo, é nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do capital por suicídio do segurado”. (...)

A lei agora, como observa, estabelece um limite temporal, como condição para o pagamento do capital segurado. A rigor é irrelevante, tenha sido ou não, o suicídio premeditado, pois a única restrição trazida pelo novo diploma é ter o suicídio ocorrido nos “primeiros dois anos de vigência inicial do contrato, ou de sua recondução depois de suspenso”. [Gonçalves, 2007, p.499]

Coelho, logo afirma que a lei determina de forma objetiva,

estipulando um prazo mínimo de dois anos para que não ocorra o suicídio do

segurado, pois a partir do referido prazo será devida a indenização, não podendo a

seguradora eximir-se da obrigação de indenizar, assim esclarece que:

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A lei define de forma objetiva a premeditação, fixando o prazo mínimo do contrato a partir do qual o suicídio do segurado não exonera a seguradora do pagamento do capital. Se o suicida tinha a vida segurada, o capital previsto em contrato é devido salvo se o suicídio ocorreu nos dois primeiros anos de vigência inicial do contrato ou de sua recondução após suspensão. Essa é a solução dada pelo direito positivo brasileiro a partir da entrada em vigor do Código Civil (art. 798). Antes disso, a jurisprudência já tinha pacificado no sentido de que apenas o suicídio premeditado excluía o direito à liquidação do seguro de vida (STJ, Súmula 61). Deve-se então, considerar não premeditado o suicídio quando cometido após o transcurso do biênio mencionado na lei. Se o suicídio é premeditado e o seguro de vida era individual, o espólio do segurado terá direito ao resgate da reserva matemática. [Coelho, 2007, p.379]

Após, pesquisados os aspectos concernentes ao contrato de

seguro de vida, passa-se as considerações finais da presente monografia.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente monografia teve o objetivo de investigar à luz da

legislação e da doutrina, a responsabilidade civil nos contratos de seguro de vida.

A grande procura por seguros desta natureza, despertou o

interesse na busca de melhor entendimento jurídico acerca destes assuntos, uma

vez que não raramente surgem dúvidas e discussões a respeito da responsabilidade

dos contratantes desta modalidade de seguro.

O tema responsabilidade civil sempre gerou divergências

doutrinárias e incontáveis litígios jurídicos, fazendo-se de suma importância o estudo

deste instituto pelos estudiosos do direito.

No desenvolvimento do trabalho, com lógica, foi dividido em

três capítulos, nos quais conceitua-se a responsabilidade civil, as causas

excludentes de responsabilidade civil, o contrato de seguro de vida, bem como as

características destes, destacando o entendimento doutrinário. Dentre outros

aspectos, destacou-se que o seguro é um contrato de adesão, que por sua natureza

remete ao Código de Defesa do Consumidor. O seguro, no Brasil, é regulamentado

pela Susep, Superintendência de Seguros Privados e obedece ao disposto no

Código Civil Brasileiro.

Retomando-se as hipóteses de pesquisa que foram

apresentadas na introdução deste trabalho, quais sejam: a) O segurado estando em

dia com suas obrigações, e caso ocorra o sinistro, ensejará ao beneficiário, instituído

na apólice, o direito de receber a indenização correspondente constante da apólice

do seguro. Já a seguradora, caso ocorra o sinistro, estando o segurado em dia com

o pagamento do prêmio, terá o dever de cumprir com a sua obrigação de indenizar,

b) as seguradoras podem limitar sua responsabilidade no contrato de seguro através

de cláusulas contratuais, porém não poderão eximir-se de cumprir a obrigação de

indenizar o beneficiário, designado pelo segurado, caso ocorra o sinistro, e c) a

seguradora poderá eximir-se da obrigação de indenizar, caso ocorra à morte

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voluntária do segurado nos dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro ou

na sua recondução depois de suspenso. Constatou-se com a presente monografia

que todas as hipóteses de pesquisa foram devidamente comprovadas.

Destarte, podemos concluir que o seguro de vida desempenha

papel relevante perante a sociedade, pois uma vez contratado, assegura ao

beneficiário, que em geral são pessoas próximas e dependentes do segurado, caso

ocorra o sinistro, o direito a uma indenização, que consequentemente irá suprir as

suas necessidades cotidianas.

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