as obras de retrofit sob a visÃo da sustentabilidade

99
Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola Politécnica Departamento de Construção Civil AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE Marianna Grosso Rio de Janeiro Agosto de 2015

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Page 1: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola Politécnica

Departamento de Construção Civil

AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO

DA SUSTENTABILIDADE

Marianna Grosso

Rio de Janeiro

Agosto de 2015

Page 2: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola Politécnica

Departamento de Construção Civil

AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO

DA SUSTENTABILIDADE

Marianna Grosso

Rio de Janeiro

Agosto de 2015

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia Civil da Escola

Politécnica, Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Jorge dos Santos

Page 3: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO

DA SUSTENTABILIDADE

Marianna Grosso

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRA CIVIL.

Examinado por:

______________________________________

Jorge dos Santos, D. Sc., EP/UFRJ (Orientador)

______________________________________

Ana Catarina Evangelista, D. Sc., EP/UFRJ

______________________________________

Wilson Wanderley da Silva, EP/UFRJ

______________________________________

Isabeth Mello, EP/UFRJ

Rio de Janeiro

Agosto de 2015

Page 4: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

III

Grosso, Marianna

As obras de retrofit sob a visão da sustentabilidade /

Marianna Grosso. - Rio de Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica,

2015.

VIII, 84 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Jorge dos Santos

Projeto de Graduação – UFRJ / Escola Politécnica / Curso

de Engenharia Civil, 2015.

Referências Bibliográficas: p. 81-84.

1. Introdução 2. Ciclo de Vida das Edificações 3.

Contextualização: Retrofit de Edificações 4. Contextualização:

Sustentabilidade na Construção Civil 5. Aplicação dos Conceitos

de Sustentabilidade em obras de Retrofit 6. Estudo de Caso 7.

Conclusões

I. Retrofit. II. Sustentabilidade. III. Resíduos.

Page 5: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

IV

DEDICATÓRIA

Em memória da minha bisavó Castorina

Torres Brum (1920 – 2010).

Page 6: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

V

AGRADECIMENTOS

Ao meu pai, Claudio e ao meu irmão Giovanni, que me acompanharam, me

apoiaram e me aturaram nesse longo e nem sempre fácil caminho e em todos

os outros.

Aos meus avós pelo carinho e atenção.

Aos meus amigos que souberam entender minhas ausências, me apoiaram,

compartilharam dos meus sofrimentos e desesperos e aproveitaram comigo os

momentos livres. Aos de infância que retomei contato ao longo da faculdade,

aos de colégio, e àqueles que chegaram à minha vida de outras maneiras,

vocês são muito importantes.

Um “obrigada” especial à Tainá, por dividir um pouquinho do seu conhecimento

comigo me ajudando nos ajustes deste trabalho e em tantos outros momentos.

Aos amigos e companheiros dessa faculdade turbulenta que só quem passa

sabe o que significa. Obrigada por todas as ajudas, todos os risos, todos os

almoços divertidos, todos os desesperos compartilhados. Sem vocês, isso não

seria possível e o caminho seria muito mais tortuoso.

Aos professores Ana Catarina e Romildo, por me darem a oportunidade de

fazer iniciação num laboratório do porte do LabEST/NUMATS, por toda

atenção, orientação e conhecimento compartilhado.

Aos técnicos e funcionários do laboratório, por tanto terem me ajudado. Em

especial ao Renan, por toda paciência e amizade.

Ao professor Jorge, por aceitar me orientar neste trabalho, pelo tempo e

dedicação ofertados.

À professora Elaine, que sempre faz de tudo para ajudar os alunos e pelas

melhorias empregadas no bloco D e no CT como um todo.

Ao professor Prodanoff pela atenção de sempre.

Aos professores e funcionários do Colégio Bahiense, de quem sinto enorme

saudade, vocês foram a base para esse momento.

Ao engenheiro Júlio Smiderle, por todo tempo, paciência e conhecimento

dedicados à minha orientação no estudo de caso.

Page 7: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

VI

À arquiteta Beti Font, pelo material e entrevista cedidos para o estudo de caso.

Meu muito obrigada a cada um de vocês!

Page 8: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

VII

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ

como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheiro

Civil.

AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA

SUSTENTABILIDADE

Marianna Grosso

Agosto de 2015

Orientador: Jorge dos Santos

Curso: Engenharia Civil

Resumo:

A construção civil no Brasil vem aderindo cada vez mais ao retrofit, prática que

surgiu e foi desenvolvida na Europa e que visa à preservação do patrimônio

histórico e adequação da edificação ao uso atual, com objetivo de melhorar a

edificação através do uso de novas tecnologias. Essa prática reaproveita

edificações existentes, gerando menos resíduos em comparação a uma obra

convencional. Nessa época em que os recursos estão cada vez mais escassos,

essa menor geração e o reaproveitamento de materiais são muito bem visto e é

uma ótima solução, pois, ao invés de depositar os resíduos num aterro, eles

viram novos materiais ou são reaproveitados na própria obra. Diante desse

“reaproveitamento” da antiga edificação, o ciclo de vida da nova construção

deve ser estudado desde a fase de projetos, para um desempenho mais

sustentável do empreendimento desde a obra até a sua demolição.

Palavras-chave: Retrofit, sustentabilidade, resíduos.

Page 9: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

VIII

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial

fulfillment of the requeriments for the degree of Engineer.

THE RETROFIT WORKS UNDER SUSTAINABILITY

VISION

Marianna Grosso

August/2015

Advisor: Jorge dos Santos

Course: Civil Engineering

Abstract:

The construction industry in Brazil has been adopting retrofit, which is a practice

that was developed in Europe. It aims to preserve the heritage and adequate

the building to current use by using new technologies to improve it.This practice

modifies existing buildings, generating less waste than conventional

construction. As nowadays resources are increasingly scarce, this benefit is

highly regarded and a great solution. It is because the construction industry

waste was reused in the construction site itself or it becomes new materials

instead of depositing waste in a landfill. Due to the reuse of the existing

building, the new building life cycle must be studied from the project phase

aiming to improve building sustainable performance from the construction to its

demolition.

Key words: retrofit, sustainability, waste.

Page 10: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------------- 1

1.1. Apresentação e importância do tema ----------------------------------------------------- 1

1.2. Objetivo do trabalho --------------------------------------------------------------------------- 1

1.3. Justificativa da escolha do tema ----------------------------------------------------------- 1

1.4. Metodologia -------------------------------------------------------------------------------------- 2

1.5. Estrutura do trabalho -------------------------------------------------------------------------- 2

2. CICLO DE VIDA DAS EDIFICAÇÕES ---------------------------------------------------------- 4

2.1. Avaliação do ciclo de vida -------------------------------------------------------------------- 5

2.2. Breve histórico sobre a avaliação do ciclo de vida ------------------------------------ 7

2.3. Ciclo de vida de uma edificação ------------------------------------------------------------ 8

2.4. Avaliação do ciclo de vida na construção civil ------------------------------------------ 9

2.5. Fases de uma edificação -------------------------------------------------------------------- 11

2.5.1. Estudo de viabilidade------------------------------------------------------------------- 12

2.5.2. Estudo preliminar ------------------------------------------------------------------------ 12

2.5.3. Anteprojeto -------------------------------------------------------------------------------- 13

2.5.4. Projeto legal ------------------------------------------------------------------------------- 13

2.5.5. Projeto executivo ------------------------------------------------------------------------ 13

2.5.6. Implantação ------------------------------------------------------------------------------- 14

2.5.7. Pós – construção ------------------------------------------------------------------------ 14

2.5.8. Demolição --------------------------------------------------------------------------------- 15

2.6. Geração de resíduos ------------------------------------------------------------------------- 15

2.7. Reutilização e reciclagem dos resíduos da construção civil ----------------------- 16

3. CONTEXTUALIZAÇÃO – RETROFIT DE EDIFICAÇÕES ------------------------------- 19

3.1. Situação do retrofit no Brasil --------------------------------------------------------------- 22

3.2. Breve histórico do retrofit no Rio de Janeiro ------------------------------------------- 23

3.3. Técnicas adotadas ---------------------------------------------------------------------------- 23

3.4. Dificuldades executivas ---------------------------------------------------------------------- 27

3.5. Legislação aplicada --------------------------------------------------------------------------- 28

Page 11: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

3.6. Experiências anteriores ---------------------------------------------------------------------- 29

3.7. Vantagens e desvantagens ----------------------------------------------------------------- 30

4. CONTEXTUALIZAÇÃO: SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL -------- 32

4.1. Breve histórico da sustentabilidade ------------------------------------------------------ 34

4.2. Certificação ambiental------------------------------------------------------------------------ 35

4.2.1. Processo AQUA (Alta Qualidade Ambiental do Empreendimento) -------- 37

4.2.2. Certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) -- 37

4.2.3. Selo Qualiverde -------------------------------------------------------------------------- 38

4.3. Empreendimentos certificados no Brasil ------------------------------------------------ 39

4.4. Boas práticas na construção civil --------------------------------------------------------- 41

4.5. Desafios da sustentabilidade na construção ------------------------------------------- 42

4.6. Legislação aplicada --------------------------------------------------------------------------- 43

5. APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE EM OBRAS DE

RETROFIT --------------------------------------------------------------------------------------------------- 45

5.1. Recursos construtivos ------------------------------------------------------------------------ 47

5.1.1. Fachadas ventiladas -------------------------------------------------------------------- 47

5.1.2. Shafts --------------------------------------------------------------------------------------- 50

5.1.3. Gesso acartonado ou drywall -------------------------------------------------------- 50

5.1.4. Piso elevado ------------------------------------------------------------------------------ 53

5.1.5. Cabeamento estruturado -------------------------------------------------------------- 53

5.1.6. Forros --------------------------------------------------------------------------------------- 54

5.1.7. Sistema PEX ------------------------------------------------------------------------------ 55

5.1.8. Retrofit de fachadas -------------------------------------------------------------------- 56

5.1.9. Análise dos recursos construtivos -------------------------------------------------- 57

5.2. Empreendimentos “retrofitados” ----------------------------------------------------------- 57

5.2.1. Empire State Building ------------------------------------------------------------------ 57

5.2.2. Hotel Glória ------------------------------------------------------------------------------- 61

6. ESTUDO DE CASO -------------------------------------------------------------------------------- 63

6.1. Rio Branco 12 ---------------------------------------------------------------------------------- 63

Page 12: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

6.1.1. Apresentação do empreendimento ------------------------------------------------- 63

6.1.2. Fase de estudos e projetos ----------------------------------------------------------- 65

6.1.3. Peculiaridades do empreendimento------------------------------------------------ 65

6.1.4. Dificuldades encontradas ------------------------------------------------------------- 67

6.1.5. Medidas sustentáveis ------------------------------------------------------------------ 69

6.1.6. Imprevistos operacionais -------------------------------------------------------------- 73

6.2. Restaurante Ibérico --------------------------------------------------------------------------- 74

6.3. Selo Qualiverde -------------------------------------------------------------------------------- 76

6.4. Considerações finais do estudo de caso------------------------------------------------ 77

7. CONCLUSÕES -------------------------------------------------------------------------------------- 79

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ------------------------------------------------------------ 81

Page 13: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ciclo de vida - Gerenciamento de projetos na construção civil predial - uma

proposta de modelo de gestão integrada ------------------------------------------------------------ 4

Figura 2– Representação esquemática da ACV --------------------------------------------------- 5

Figura 3 – Ciclo de vida das edificações ------------------------------------------------------------- 9

Figura 4 – Loja de departamentos La Samaritaine antes do retrofit ------------------------- 20

Figura 5 – Edifício multiuso La Samaritaine após retrofit --------------------------------------- 21

Figura 6 – Tripé da sustentabilidade ----------------------------------------------------------------- 33

Figura 7 – Prédio da Universidade Corporativa da Petrobrás --------------------------------- 39

Figura 8 – Posto da Polícia Civil e Ambiental ------------------------------------------------------ 40

Figura 9 – Loja da Leroy Merlin em Niterói --------------------------------------------------------- 40

Figura 10 – Fluxo de ar e calor em fachadas ventiladas --------------------------------------- 48

Figura 11 – Detalhe de uma fachada ventilada --------------------------------------------------- 49

Figura 12 – Prédio na Itália com fachada ventilada ---------------------------------------------- 49

Figura 13 – Shaft de banheiro-------------------------------------------------------------------------- 50

Figura 14 – Detalhe de parede de drywall ---------------------------------------------------------- 51

Figura 15 – Tipos de chapas de drywall ------------------------------------------------------------- 52

Figura 16 – Paredes de drywall ------------------------------------------------------------------------ 52

Figura 17 – Funcionamento de um piso elevado ------------------------------------------------- 53

Figura 18 – Cabeamento estruturado ---------------------------------------------------------------- 54

Figura 19 – Execução de forro de gesso acartonado ------------------------------------------- 55

Figura 20 – Instalação do sistema PEX ------------------------------------------------------------- 56

Figura 21 – Empire State Building -------------------------------------------------------------------- 58

Figura 22 – Emissão de gás carbônico por setor nos Estados Unidos ao longo dos

anos ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 59

Figura 23 – Janelas instaladas durante o retrofit ------------------------------------------------- 60

Figura 24 – Construção do Hotel Glória em 1919 ------------------------------------------------ 62

Figura 25 – Edificação antes do retrofit ------------------------------------------------------------- 64

Figura 26 – Fachada planejada após retrofit ------------------------------------------------------- 64

Figura 27 – Pilar “embarrigado” ----------------------------------------------------------------------- 66

Figura 28 – Planta original ------------------------------------------------------------------------------ 67

Figura 29 – Reforço em estrutura metálica --------------------------------------------------------- 68

Figura 30 – Içamento do chiller ------------------------------------------------------------------------ 68

Figura 31 – Sistema de vigas frias -------------------------------------------------------------------- 70

Figura 32 – Formato em zig-zag da fachada com caixilho de alumínio e vidros --------- 71

Page 14: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

Figura 33 – Painéis fotovoltaicos ---------------------------------------------------------------------- 71

Figura 34 – Pisos elevados e shaft ------------------------------------------------------------------- 72

Figura 35 – Cópia do manifesto de resíduos ------------------------------------------------------ 73

Figura 36 – Fachada inicial ----------------------------------------------------------------------------- 75

Figura 37 – Fachada após retrofit --------------------------------------------------------------------- 75

Page 15: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Processos de construção civil e respectivos tempos de vida útil -------------- 8

Tabela 2 – Comparativo entre obra tradicional e retrofit ---------------------------------------- 25

Page 16: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação e importância do tema

O retrofit é, em si mesmo, uma ação sustentável. Evita a construção de novas obras,

aproveitando e atualizando o velho edifício ou residência que, muitas vezes, ganha

uma nova função. Ao adotar conceitos de sustentabilidade, estará reduzindo

significativamente os custos de sua operação. (MIKAI, 2012)

A construção civil é um dos setores que mais consomem recursos naturais, afetando

todas as cadeias conexas desde o setor primário até o terciário. O caminho para um

setor mais sustentável deve prever a diminuição, reversão ou anulação de impactos

gerados em todos os âmbitos de sua atuação, segundo o Conselho Brasileiro de

Construção Sustentável. O retrofit tem função de customizar, adaptar, atualizar,

requalificar, melhorando as condições de conforto e possibilidades de uso dos

espaços trabalhados, aumentando o conforto humano com menor impacto ambiental e

custos. Para isso, técnicas de trabalho multidisciplinares envolvendo especialistas em

diversas áreas, são necessárias. Isto torna o processo mais complexo, porém com

soluções mais eficazes.

1.2. Objetivo do trabalho

No Brasil, a construção civil vem aderindo cada vez mais o retrofit nos seus processos.

Essa prática, que surgiu e foi desenvolvida na Europa, visa à preservação do

patrimônio histórico e adequação do imóvel ao uso atual.

O objetivo deste trabalho é mostrar o que tem sido estudado e implantado para que as

obras de retrofit sejam mais sustentáveis desde o projeto até o uso, passando pela

execução. Será feito um estudo de caso da edificação Rio Branco 12 e do Restaurante

Ibérico, ambos no Rio de Janeiro, para aplicar os conceitos estudados durante o

trabalho e mostrar como a sustentabilidade está presente nesse processo.

1.3. Justificativa da escolha do tema

O retrofit é uma ação sustentável, que visa reaproveitar edificações existentes,

gerando menos resíduos. Sabe-se que o volume de resíduos de construção e

demolição (RCD) equivale a mais da metade dos resíduos sólidos urbanos e a maior

parte é depositada irregularmente sem qualquer forma de segregação. (SANTIAGO,

2008)

Page 17: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

2

Diante deste fato, a autora sentiu-se motivada a fazer uma análise deste cenário e

buscar alternativas que tornem o retrofit sustentável além da diminuição da quantidade

de resíduos gerados.

1.4. Metodologia

A metodologia aplicada para elaboração desse trabalho é uma ampla pesquisa em

arquivos digitais, sites, monografias, artigos, além de ser feita uma referência

bibliográfica dos assuntos abordados relacionados ao retrofit.

Posteriormente é feito um estudo de caso envolvendo pesquisa de campo em obra de

retrofit para atingir os objetivos desse trabalho.

1.5. Estrutura do trabalho

O presente trabalho está dividido em sete capítulos. Neste primeiro capítulo está

apresentada uma introdução ao tema, onde é destacada a importância do tema,

seguida do objetivo deste trabalho, além de ter a justificativa da escolha do tema,

metodologia adotada para o desenvolvimento do trabalho e qual é a sua estrutura.

No segundo capítulo é feito um levantamento bibliográfico e explicado o que é ciclo de

vida das edificações. São apresentados e discutidos vários aspectos relacionados a

este ciclo.

O capítulo três oferece uma maior visão do tema estudado. É mostrada uma

contextualização do retrofit de edificações, como ele tem sido utilizado, suas

vantagens e desvantagens, experiências anteriores.

O quarto capítulo retrata a sustentabilidade na construção civil através da sua

definição, qual a importância dela para o meio ambiente e para o próprio ser humano,

como tem sido aplicada na indústria da construção. São abordadas também as várias

etapas da construção, desde o estudo de viabilidade até uso e disposição da

edificação, passando por legislação aplicada.

No capítulo cinco são aplicados os conceitos de sustentabilidade nas obras de retrofit

através de experiências onde ele foi executado com boas práticas de sustentabilidade,

quais foram os resultados obtidos e as dificuldades observadas.

No capítulo seis são apresentados dois estudos de caso, um de um prédio comercial

que está sofrendo retrofit e o outro de uma ex clínica de fisioterapia que já passou por

esse processo. Esse estudo mostra como era a edificação original, quais as suas

peculiaridades e sua vida útil, entre outras características. Depois é apresentado o

projeto e as técnicas executivas que estão sendo aplicados, os aspectos sustentáveis

Page 18: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

3

aplicados nas várias etapas do ciclo construtivo, além de descrever competências

utilizadas, dificuldades encontradas e resultados obtidos.

Finalmente, no sétimo capítulo são feitas considerações finais, conclusões obtidas

nesse estudo e sugestões para futuros trabalhos. Referências bibliográficas vêm em

seguida.

Page 19: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

4

2. CICLO DE VIDA DAS EDIFICAÇÕES

Segundo Polito (2013), ciclo de vida na construção civil pode ser classificado como as

fases intermediárias entre o início e o fim de um projeto. É comum dividir um projeto

em viabilidade, desenvolvimento, implantação e operação, como pode ser visto na

Figura 1.

Figura 1 – Ciclo de vida - Gerenciamento de projetos na construção civil predial - uma

proposta de modelo de gestão integrada

(Fonte: Polito, 2013)

De acordo com a NBR 14037 – Manual de operação, uso e manutenção das

edificações, publicada em 2011 pela ABNT (Associação Brasileira de Normas

Técnicas), vida útil de projeto (VUP) é o período estimado de tempo em que um

sistema é projetado para atender aos requisitos de desempenho, desde que o

programa de manutenção seja cumprido.

A vida útil não pode ser confundida com prazo de garantia legal e certificado, segundo

a publicação Manual de uso, operação e manutenção das edificações do Siduscon-

MG.

Ugaya (2011) diz que há pouco tempo não havia uma preocupação em se planejar o

ciclo de vida de uma edificação. De acordo com ela, apesar de a definição da Agenda

21 ter sido lançada na Eco – 92, conferência sobre o meio ambiente para decidir

medidas a serem tomadas para diminuir a degradação ambiental e garantir a

existência de outras gerações, foi consolidada apenas em 2002. Sustentabilidade e

impacto ambiental passaram a ter grande influência na cadeia produtiva da construção

civil.

Page 20: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

5

2.1. Avaliação do ciclo de vida

A avaliação do ciclo de vida (ACV) analisa e compara impactos ambientais causados

por diferentes sistemas que apresentam funções similares, como, por exemplo, optar

entre blocos cerâmicos ou de concreto para a construção de uma parede. Sob a ótica

ambiental, essa avaliação estabelece relatórios mais completos possíveis do possível

fluxo de matéria e energia para cada sistema e possibilita a comparação desses

balanços entre si, sob a forma de impactos ambientais de cada um, como exposto na

Figura 2.

Figura 2– Representação esquemática da ACV

(Fonte: Soares, Souza, Pereira, 2003)

Para a ACV, o local que a obra será feita tem grande importância em função do

terreno, das condições climáticas a que estará exposta e do impacto que causará no

entorno. O empreendimento deve ser projetado para ter um longo tempo de uso,

segundo Ugaya (2011), mais de cinquenta anos. Porém, ao final de sua vida útil, ele

deve possibilitar que seu material seja reciclado ou reutilizado. Por isso a necessidade

de se ter um bom projeto, emprego dos materiais e manutenção da edificação. Esses

itens são relevantes para uma boa ACV. Até o transporte dos materiais influencia no

ciclo de vida da edificação.

No Brasil, inexiste uma base de dados abrangente capaz de caracterizar o

desempenho típico de componentes do ambiente construído em qualquer uma das

três etapas (projeto, construção, uso e operação). Mas, de acordo com Ugaya (2011),

esse panorama está mudando. Há diversas iniciativas pelo país para desenvolver

informações para que possam ser feitas ACV.

Page 21: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

6

Para ser executada uma avaliação do ciclo de vida das edificações no Brasil, as

normas ISO 14.044, 14.040 e 14.049 devem ser seguidas. Elas têm como foco

principal a gestão ambiental. Elas avaliam o desempenho ambiental, rotulagem

ambiental, analisam o ciclo de vida dos produtos, entre outros fatores. É importante

ressaltar que a empresa precisa seguir a legislação ambiental do país em que está

inserida.

Já existem softwares que ajudam a definir com mais precisão o ciclo de vida do

empreendimento, como o Bees 1.0 (Building for Environmental and Economic

Sustainability). Ele implementa uma metodologia sistemática para selecionar produtos

de construção que apresentam uma relação entre performance ambiental e econômica

boa. Apesar disso, não é garantido que uma construção irá causar mais ou menos

impacto ambiental, pois é necessário levar em consideração o ambiente em que a

construção está sendo erguida.

Três tipos de análise devem ser considerados numa avaliação de ciclo de vida, ainda

de acordo com Ugaya (2011):

A) Inventário

Dados sobre entradas e saídas de cada um dos processos como de materiais,

consumo de energia, emissões de poluentes no ar, na água e no solo e geração de

resíduos são coletados.

A consistência de dados nessa fase é importantíssima para a obtenção de resultados

mais precisos, que expressem a realidade de forma confiável.

B) Avaliação social

Identifica pontos positivos e negativos ao longo do ciclo de vida do produto referentes

às questões de mão de obra envolvida no empreendimento e no que ele causará à

comunidade local, sociedade civil e trabalhadores.

C) Avaliação de impacto

Conversão dos dados de consumo de materiais, energia e emissões em categorias de

impacto. Considera-se mudanças climáticas, toxicidade humana, perda de

biodiversidade, entre outros fatores.

A ACV pode ser aplicada em qualquer produto, inclusive serviços. A ONU

(Organização das Nações Unidas) através do PNUMA (Programa das Nações Unidas

para o Meio Ambiente) tem disseminado a importância desta avaliação. O objetivo é

aplicá-la no tripé da sustentabilidade: ambiental, social, econômico.

Page 22: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

7

2.2. Breve histórico sobre a avaliação do ciclo de vida

Os primeiros estudos relacionados à questão ambiental tratavam da quantificação de

energia dos processos industriais (análises de energia – energy analyses), de acordo

com Santos (2010). Mas era necessário calcular o balanço de massa de matérias-

primas e dos recursos empregados nos processos para construir o fluxograma de

consumo de energia, daí esses estudos se tornaram análises de recursos (resource

analyses) ou análises de perfil ambiental (environmental profile analyses).

A partir do início da década de 1960, surgiram pressões ambientalistas nos EUA sobre

a indústria de embalagens, por causa do crescimento do mercado de descartáveis.

Isso levou a estudos específicos de análise de energia e de recursos aplicados ao

processo produtivo das embalagens. A Coca-Cola contratou o Midwest Research

Institute (MRI) para comparar os diferentes tipos de embalagens e selecionar qual era

o mais adequado do ponto de vista ambiental e de melhor desempenho com relação à

preservação dos recursos naturais. Este processo ficou conhecido como Resource

and Environmental Profile Analysis (REPA).

Estas análises se tornaram populares e foram utilizadas em muitos estudos em

diferentes processos produtivos.

Apesar do grande interesse nessas ferramentas de avaliação ambiental, surgiram

novos aspectos que deveriam ser contabilizados nas análises. No meado da década

de 1970, a metodologia REPA foi aprimorada pelo MRI e é considerada como a

precursora do que se conhece hoje como avaliação do ciclo de vida, de acordo com

Mourad et al. (2002).

Na década de 1980, a necessidade de contabilizar, além do consumo de recursos e

energia, as emissões para o ar, água e solo, ganharam força no cenário mundial. Essa

década foi marcada pelo início dos esforços para redução do efeito estufa e proteção à

camada de ozônio, segundo Santos (2010). As análises ambientais passaram a

quantificar esses novos fatores, passando a ser chamadas de ecobalanço

(ecobalance) ou ecoperfil (ecoprofile) ou análise de berço ao túmulo (cradle to grave).

As avaliações de ciclo de vida tornaram-se populares, com isso, inúmeros bancos de

dados foram criados para subsidiar esses estudos.

Os primeiros softwares específicos para os estudos de REPA foram desenvolvidos no

início de 1990.

Diante do potencial da ACV como estratégia de marketing, estudos tendenciosos

foram realizados, tornando público somente os resultados que interessavam. Foram

Page 23: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

8

publicados estudos sobre o mesmo produto ou serviço realizados a partir de modelos

distintos, que apresentaram resultados diferentes, ocasionando confusão nas

interpretações. A falta de metodologia padronizada levou a ao comprometimento

dessa ferramenta. Essa época é conhecida como “Guerra das ACVs”.

2.3. Ciclo de vida de uma edificação

O ciclo de vida do empreendimento inicia-se na etapa de planejamento, segundo

Degani (2010). Essa etapa é essencial para a garantia de desempenho mais

sustentável da edificação, já que é nesse momento que são definidos o local de

implantação e os objetivos funcionais, sociais e econômicos a serem atendidos pelo

edifício. Após a concepção, inicia-se o canteiro de obras. Neste momento, é realizado

o empreendimento e é quando os impactos da construção são realmente percebidos.

Apesar de estas etapas serem as menores do ciclo de vida dos edifícios, elas são

fundamentais para o nível de desempenho que ele terá na sua etapa mais longa, a de

uso e ocupação.

Outra etapa extremamente importante é representada pelas atividades de manutenção

e reforma. Elas são determinantes para o aumento da vida útil das edificações e no

aperfeiçoamento dos níveis de desempenho. Nestas atividades estão contida

reposição de componentes, conservação das superfícies, sistemas e equipamentos,

manutenção corretiva e preventiva de equipamentos e sistemas, ações de

modernização e ampliação. A Tabela 1 mostra alguns tempos de vida útil de diferentes

processos e sistemas estruturais relacionados à construção.

Tabela 1 – Processos de construção civil e respectivos tempos de vida útil

(Fonte: European Comission, 1997)

VIDA ÚTIL MÉDIA (anos)

PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO ESPECÍFICOS

Projeto e construção do edifício/obra de engenharia civil

1 a 3

Tempo de vida útil de sistemas estruturais de edificações

80 a 120

3 a 510 a 1530 a 50

150 ou mais Tempo de vida útil de monumentos

Tempo de manutenção e usoTempo médio de uso e renovação parcial

Tempo longo de uso e renovação total

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9

O ciclo de vida de uma edificação tem seu fim na demolição ou desconstrução, como

pode ser visto na Figura 3. Essa etapa representa o início do ciclo de vida de outro

empreendimento. É também uma etapa importante, pois deve ser feito um cuidadoso

planejamento de desmonte, para garantir o reaproveitamento e a reciclagem da maior

parte dos materiais e componentes existentes.

Figura 3 – Ciclo de vida das edificações

(Fonte: Tavares, 2006)

2.4. Avaliação do ciclo de vida na construção civil

A construção civil impacta significativamente sobre a economia de um país, portanto,

pequenas alterações nas diversas fases do processo construtivo podem promover

uma diminuição nos gastos operacionais de uma obra, mudanças importantes na

eficiência ambiental e grande incentivo em investimentos no setor. No ambiente de

grande competitividade e submetido a normas e legislações, a escolha de materiais de

construção tem uma importância no campo da engenharia ambientalmente

responsável. Dois materiais, que exercem a mesma função, devem ser avaliados sob

a ótica ambiental. O resultado dessa análise, quando associado aos resultados de

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10

avaliação econômica e com a preferência dos interessados, possibilitará a decisão

sobre qual material utilizar, de acordo com Pereira, Soares e Souza (2003).

A aplicação da ACV é frequentemente integrada às tomadas de decisão nos setores

empresarial e industrial. Porém, é de grande valia também para o setor de construção

civil. Essa situação ocorre devido aos expressivos impactos ambientais produzidos em

todas as etapas do processo construtivo, avaliados pelas emissões atmosféricas,

consumo de recursos naturais, demandas energéticas e geração de resíduos sólidos e

líquidos.

Deve ser ressaltado que o desenvolvimento de ACV em edificações necessita de

alterações devido, principalmente, às diferenças apresentadas em relação ao ciclo de

vida de produtos industriais que envolvem um curto espaço de tempo. Obras de

engenharia são caracterizadas por uma vida útil bem longa, de anos a séculos.

Segundo relatório do Diretório Geral para Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento da

Comissão Europeia, 1997, a análise de edificações é complexa e não consiste

somente na adaptação da análise para esse novo contexto, necessita também de

estruturação das informações coletadas em partes, que possam ser utilizadas para

várias ou uma única fase do ciclo de vida da edificação analisada.

O princípio utilizado na escolha de um material, blocos cerâmicos ou de concreto,

pode ser utilizado na concepção de um edifício composto de inúmeros materiais.

Dessa maneira é possível vislumbrar a ideia de que todas as etapas do processo

construtivo e gerencial da obra passem pela ACV para considerar o menor impacto

ambiental associado ao ciclo de vida da edificação (construção, uso e demolição).

Para isso acontecer de fato, os inventários dos diferentes fluxos de materiais utilizados

na construção civil deverão estar disponíveis em um banco de dados. Na elaboração

de um serviço, como a construção de uma parede, a simulação a partir de diferentes

cenários para uma mesma função poderá ser feita. A comparação poderá ser

realizada entre blocos cerâmicos ou de concreto, revestimento de massa corrida ou

cal fina, pintura do tipo 1 ou do tipo 2, etc.

Foram realizados estudos em vários setores da indústria de construção civil e

apontaram a variedade enorme de campos de aplicação da ACV em edificações e

sistemas e elementos construtivos. Dentre vários, pode ser citada a comparação entre

pisos cerâmicos, esmaltados e queimados, e ladrilhos de mármore, realizada por

Nicoletti, Notarnicola e Tassieli, 2002. Peuportier, 2001, fez uma análise comparativa

entre três tipos diferentes de residências: casas de referência, construídas em

concreto, casas estruturadas em madeira e pedras, com sistema integrado de

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11

aquecimento solar e casas de madeira. Para identificar e avaliar os parâmetros de

projeto que influenciam no desempenho ambiental de um edifício, Scheuer et al.,

2003, fizeram um estudo aplicando a ACV a um dos edifícios do complexo da

Universidade de Michigan (EUA). A avaliação do ciclo de vida do edifício da

Universidade de Michigan possibilitou uma melhor visualização dos possíveis impactos

ambientais resultantes de cada uma das fases do ciclo de vida da edificação e

possíveis estratégias de melhoria no desempenho do edifício. Itoh e Kitagawa (2003),

analisaram diferentes técnicas construtivas de pontes no Japão, de forma a reduzir

problemas resultantes de deficiências no projeto funcional das pontes e de danos

decorrentes da vida útil limitada das estruturas. Uma análise de impactos ambientais e

de custos mais detalhada pôde ser obtida através da ACV. Em uma análise posterior,

sistemas estruturais de pontes convencionais foram comparados a uma nova proposta

estrutural, a qual utiliza menor número de vigas.

A ACV apresenta certas limitações para a análise de impactos ambientais associados

à construção civil, principalmente se comparada ao meio industrial. É difícil obter

informações e bases de dados confiáveis e completos para os materiais empregados

no setor de construção civil. Scheuer et al. (2003) citam a dificuldade na obtenção de

informações quantitativas a respeito de impactos ambientais gerados, por exemplo,

durante as fases de construção e demolição. Esses empecilhos existem,

principalmente, devido à grande variedade e composição química de materiais

utilizados na construção civil e na própria dinâmica de alteração e renovação, à qual

estão sujeitos os espaços arquitetônicos e o meio ambiente urbano.

Apesar das limitações averiguadas, sua aplicação na avaliação ambiental de sistemas

e elementos construtivos possibilita uma análise mais detalhada e crítica da etapa de

especificação de materiais e a promoção de melhorias ambientais, e muitas vezes

econômicas, nas diversas etapas do ciclo de vida, ainda de acordo com Pereira,

Soares e Souza (2003).

2.5. Fases de uma edificação

Um projeto arquitetônico completo deve conter, de acordo com Vazquez (2012):

A) Levantamento de dados (programa de necessidade e estudo de viabilidade);

B) Estudo preliminar (configuração inicial da edificação);

C) Anteprojeto (projeto concebido);

D) Projeto legal (projeto de legalização);

E) Projetos complementares ( projetos dos subsistemas);

F) Projeto de execução (projetos para a obra);

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12

G) Detalhamentos de execução (projeto dos detalhes);

H) Levantamento “as built” (projeto pós obra).

De acordo com o PMI/PMBOK, 2004, projeto é “um empreendimento temporário, com

o objetivo de criar um produto, serviço ou resultado único.”.

2.5.1. Estudo de viabilidade

De acordo com a NBR 13531 – Elaboração de projetos de edificações – Atividades

técnicas, publicada pela ABNT em 1995, estudo de viabilidade é a etapa destinada à

elaboração de análise e avaliações para seleção e recomendação de alternativas para

a concepção de edificação e de seus elementos, instalações e componentes.

Esse estudo oferece a melhor solução entre necessidade e demanda. Ele pode propor

uma mudança na concepção do produto caso sejam detectados nichos mais atraentes

por intermédio de análise conjunta das variáveis ambientais (localização) da demanda

e oferta (concorrência).

O estudo de viabilidade visa reduzir riscos e incertezas, auxiliar o empreendedor a

conceber um projeto, atender as necessidades do público potencial definido.

Ele traz análises e avaliações do ponto de vista técnico, legal e econômico e promove

seleção e recomendação de alternativas para a concepção dos projetos, de acordo

com o Caderno 1 – Estudo de viabilidade, 2012. Além disso, permite a análise do

programa, terreno, legislação, custos e investimentos para saber se são executáveis e

compatíveis com o objetivo. É ainda nesse momento que é realizado uma estimativa

de custos, impactos ambientais do empreendimento, a relação custo benefício, o

prazo para elaboração dos projetos e para execução da obra, origem de recursos e

verificação quanto a previsão de legislações orçamentárias.

Esse estudo tem como objetivo determinar o empreendimento que melhor responda

ao programa de necessidades, sob os aspectos técnico, ambiental e socioeconômico,

daí a necessidade das questões acima citadas serem todas estudadas.

2.5.2. Estudo preliminar

Segundo a NBR 13531 – Elaboração de projetos de edificações – Atividades técnicas,

publicada pela ABNT em 1995, estudo preliminar é destinado à concepção e a

representação do conjunto de informações técnicas iniciais e aproximadas,

necessários à compreensão da configuração da edificação, podendo incluir soluções

alternativas.

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13

É um estudo utilizado para viabilizar ou visualizar a edificação antes do projeto

definitivo, de acordo com Melo (2010).

2.5.3. Anteprojeto

Etapa destinada à concepção e à representação das informações técnicas provisórias

de detalhamento da edificação e de seus elementos, instalações e componentes,

necessárias ao inter-relacionamento das atividades técnicas de projeto e suficientes à

elaboração de estimativas aproximadas de custos e de prazos dos serviços de obra

implicados, ainda de acordo com a NBR 13531 – Elaboração de projetos de

edificações – Atividades técnicas, publicada pela ABNT em 1995.

É a fase onde o projeto é concebido de fato. O projeto é iniciado com uma consulta à

Lei de Uso e Ocupação do solo e à Informação Básica fornecida pela prefeitura para

verificar as possibilidades e limitações construtivas do terreno. Essa consulta assegura

que o projeto será redigido sob as leis vigentes e que será possível no futuro a

emissão do habite-se/alvará, de acordo com Melo (2010).

2.5.4. Projeto legal

Segundo a NBR 13531 – Elaboração de projetos de edificações – Atividades técnicas,

publicada pela ABNT em 1995, esta etapa é destinada à representação das

informações técnicas necessárias à análise e aprovação, pelas autoridades

competentes, da concepção da edificação e de seus elementos e instalações, com

base nas exigências legais e à obtenção do alvará ou das licenças e demais

documentos indispensáveis para as atividades de construção.

Segundo Melo (2010), esse projeto cumpre a obrigação legal de aprovação do projeto

na prefeitura local, será formatado segundo legislação vigente e/ou exigida por cada

órgão fiscalizador. Ele deve ser composto por uma documentação técnica com o

mínimo de informações necessárias para a aprovação do projeto.

2.5.5. Projeto executivo

De acordo com a NBR 13531 – Elaboração de projetos de edificações – Atividades

técnicas, publicada pela ABNT em 1995, esse projeto é destinado à concepção e à

apresentação final das informações técnicas da edificação e de seus elementos,

instalações e componentes, completas, definitivas, necessárias e suficientes à

licitação ou contratação e à execução dos serviços de obra correspondentes.

Esse projeto, de acordo com Melo (2010), é o “manual de instruções da obra”. Ele

deve conter todas as informações necessárias para a perfeita execução da obra.

Page 29: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

14

2.5.6. Implantação

A fase de implantação do edifício é a construção propriamente dita. Ela acontece

quando o que foi planejado na fase de planejamento é posto em prática, inclusive

práticas sustentáveis, tais como as que visam redução de desperdício de materiais e

economia de energia.

A implantação de uma edificação no terreno necessariamente atende a requisitos

legais, que em geral são estabelecidos por códigos de obra e leis de zoneamento. Tais

instrumentos não contemplam aspectos relativos ao desempenho térmico, acústico,

luminoso, ou mesmo energético da edificação, segundo Alucci (2010).

2.5.7. Pós – construção

A avaliação pós-construção deve ser executada imediatamente após o início da

utilização do empreendimento, segundo o Caderno 7 – Pós ocupação, 2012, para

fazer a verificação de vícios construtivos ou não que não foram observados no

recebimento definitivo, por estarem ocultos ou por terem aparecidos com a utilização

do imóvel e que exijam que a construtora seja acionada para repará-los.

As vistorias nas edificações devem ser anuais de forma que os aspectos acima sejam

analisados, além de outros serem identificados.

A avaliação de desempenho do edifício é importante até mesmo para execução de

outras edificações. Para Ornstein (2012), "avaliação pós-ocupação é um conjunto de

métodos e técnicas aplicados em ambientes construídos e em uso que leva em

consideração tanto o ponto de vista dos especialistas quanto ao dos usuários desse

ambiente. É um procedimento de avaliação que cruza essas duas visões para definir

diagnóstico e fundamentar recomendações em dois níveis: uma para alimentar

intervenções no próprio ambiente objeto de estudo e outra para alimentar as diretrizes

de futuros projetos semelhantes, na linha da qualidade e da gestão do processo de

projeto. A ideia é fechar o ciclo, usando requisitos para a avaliação de desempenho

não só das etapas pré-projeto de construção, mas como também do uso".

A fase de uso e manutenção é a maior na vida útil do edifício. Nesta etapa algumas

mudanças podem ser realizadas de forma que, mesmo que ele não tenha sido

planejado e executado dentro da concepção sustentável, ele poderá adquirir, através

de reformas, práticas sustentáveis.

De acordo com o Andrade (2012), a obra não acaba quando termina. São necessárias

medidas para controlar a operação e manutenção do produto final ao se estabelecer

normas de boa conservação da edificação. Assim, é possível evitar prejuízos com

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15

reparos e reformas. Ele defende a criação de uma legislação que obrigue o usuário a

fazer manutenção de acordo com um manual que será oficialmente entregue ao final

da obra.

2.5.8. Demolição

Existe ainda uma última etapa da vida útil do edifício, caracterizada pela fase de

demolição, que marca o final do ciclo de vida de uma edificação e o início de outro.

Esta etapa deverá ser marcada pelo aproveitamento de materiais e, sempre que

possível, pela reciclagem e reutilização deles, segundo Cardoso e Degani (2007). É a

fase de inutilização do edifício através de um processo de desmonte.

A indústria da construção civil é responsável pela produção de bens de maiores

dimensões físicas do planeta e, por conta disso, é bem elevado o volume de recursos

consumidos. Sendo alta a quantidade de recursos aplicados, a quantidade de resíduos

gerados também será, especialmente durante as etapas de execução e demolição.

2.6. Geração de resíduos

Os Resíduos da Construção Civil (RCC), segundo a Política Nacional de Resíduos

Sólidos são: “os gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras

de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos

para obras civis”.

A construção civil representa, no Brasil, 14% do PIB (Produto Interno Bruto). O setor

também é um dos maiores consumidores de matérias-primas naturais, segundo a

publicação Análise da geração de resíduos sólidos da construção civil em Teresina,

Piauí, 2012. Do total de recursos naturais consumidos pela sociedade, estima-se que

entre 20% e 50% seja na construção. Essa indústria também gera impactos no meio

ambiente com a geração de resíduos, o que é um problema nas grandes cidades. A

produção de resíduos na construção causa impacto ao meio ambiente em toda a sua

cadeia produtiva. O entulho gerado pode representar 60% dos resíduos sólidos

urbanos produzidos.

O impacto gerado pela ocupação de terras, extração e processamento de matéria

prima, construção e uso de um edifício, afetando o ar, clima, solo, paisagem e

prejudicando o meio ambiente, são mais visíveis em áreas de baixa renda e em áreas

urbanas degradadas.

O CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) conceitua na resolução 307/2002,

resíduos da construção civil como “os provenientes de construções, reformas, reparos

e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da

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16

escavação de terrenos tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos,

rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa,

gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc.,

comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha”.

Segundo Ângulo (1998), o alto índice de perdas no processo produtivo da construção

civil é responsável pelo entulho gerado.

Pinto (1987) diz que “a quantidade de resíduos liberados pelas atividades construtivas

nas cidades é de tal porte que, se previsto uma reutilização do material gerado, as

necessidades de pavimentação de novas vias ou construção de habitações de

interesse social, seriam totalmente satisfeitas”.

A disposição irregular de entulho é comum na maior parte das cidades do país, por

isso, esses resíduos são considerados um problema de limpeza pública e geram

vários incômodos para a sociedade como, por exemplo, enchentes, assoreamento,

altos custos para a limpeza urbana.

Uma análise global do volume de resíduos sólidos gerados pela construção civil é

impossível, pois não existem estudos precisos que deduzam a exata produção dos

agentes atuantes na construção, segundo Pinto (1999).

A disposição adequada desses resíduos melhora a qualidade de vida e diminui os

impactos ambientais nos centros urbanos. Em alguns munícipios brasileiros foram

adotadas práticas de manejo e impactaram positivamente no saneamento e saúde

locais, de acordo com a publicação Resíduos da construção civil e o estado de São

Paulo, 2012.

A destinação final adequada para esse tipo de resíduo não é o aterro, ela deve incluir

reutilização, reciclagem, compostagem, recuperação e aproveitamento energético, de

acordo com normas operacionais específicas para evitar danos ou riscos à saúde

pública e à segurança e minimizar os impactos ambientais.

A gestão adequada do RCC reduz os impactos ambientais e melhora a qualidade de

vida da população já que eles geram problemas ambientais devido a grande

quantidade produzida e destinação inadequada, de acordo com Mesquita (2012).

2.7. Reutilização e reciclagem dos resíduos da construção civil

Uma solução para o problema do descarte irregular do resíduo da construção civil é a

criação de aterro de resíduos sólidos. De acordo com a Resolução 307/02 do

CONAMA, este aterro é uma área onde são empregadas técnicas de disposição de

resíduos de construção civil Classe A (resíduos reutilizáveis ou recicláveis como

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17

agregados) no solo. Esse tipo de aterro é mais barato que o sanitário e a concentração

dos resíduos em um único local facilitaria a execução de projetos que visem à

reutilização ou a reciclagem.

É necessário caracterizar o volume e a composição dos resíduos no canteiro de obras

antes de estratégias de gerenciamento serem desenvolvidas. Essas informações são

fundamentais para dimensionar os recipientes que acondicionarão esses resíduos.

Etapas a serem seguidas para um gerenciamento dos RCC, segundo o Manual sobre

os resíduos sólidos da construção civil, publicado pelo Siduscon – CE, 2011:

A) Segregação ou Triagem

Para que os resíduos sejam reciclados e reaproveitados, as características do produto

reciclado devem ser compatíveis com o uso a que ele se propõe.

A separação dos diversos tipos de resíduos é fundamental para eles poderem ser

reaproveitados. Os materiais inertes são os que possuem maior potencial de

reciclagem.

A mão-de-obra utilizada para a segregação deve ser previamente treinada e essa

etapa deve acontecer ainda no canteiro de obras logo após o resíduo ter sido gerado.

B) Acondicionamento

Os resíduos já segregados devem estar em recipientes específicos para cada tipo e

finalidade. Seja qual for o acondicionamento, é necessária sinalização do tipo de

resíduo, segundo a Resolução 275 de 2001, do CONAMA.

C) Transporte

O transporte dos resíduos dentro da obra é realizado em carrinhos-de-mão, giricas,

tubos condutores de entulho e até mesmo grua, dependendo do volume de resíduos.

O transporte externo é executado por empresas de coleta de RCC contratadas pela

construtora e devem estar cadastradas e credenciadas pelo órgão municipal

fiscalizador.

O Art. 10 da Resolução 307 do CONAMA indica que os RCC de Classe A devem ser

reutilizados ou reciclados na forma de agregados. Em último caso, podem ser

encaminhados para áreas de aterro de resíduos da construção civil. Quanto aos

resíduos das Classes B (resíduos recicláveis para destinações diferentes da Classe

A), C (resíduos sem tecnologia para reciclagem) e D (resíduos perigosos), a

Resolução não especifica formas de reciclagem ou reutilização para cada tipo de

Page 33: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

18

resíduo, apenas indica que devem ser armazenados, transportados e destinados em

conformidade com as normas técnicas específicas.

O Art. 4 da Resolução 307 do CONAMA deixa claro que os geradores devem ter como

objetivo prioritário a não geração de resíduos e, secundariamente, a redução, a

reutilização, a reciclagem e a destinação final dos RCC.

Há pouco tempo, o gerenciamento de resíduos era negligenciado. Mas o conceito de

qualidade aplicado na construção civil está provocando uma mudança de cenário. Já

existem empresas focadas na redução de perdas nos canteiros e incentivando a

reciclagem.

Pode-se dizer então que o fechamento do ciclo produtivo, gerando novos produtos, a

partir da incorporação de resíduos, é uma alternativa a ser levada em consideração,

na resolução do problema global do lixo, sendo que o setor da construção civil

apresenta grandes oportunidades em relação a este aspecto. Assim, o

desenvolvimento de tecnologias para reciclagem de resíduos ambientalmente

eficientes e seguras, que resultem em produtos com desempenho técnico adequado e

que sejam economicamente competitivas nos diferentes mercados, é um desafio

técnico importante, inclusive, do ponto de vista metodológico, de acordo com John

(2000).

“A sustentabilidade, tão almejada pela

sociedade atual, certamente só será

atingida se a construção civil, umas das

principais, se não a principal indústria

consumidora de matéria-prima e geradora

de resíduos, tornar-se sustentável. A

correta gestão dos seus resíduos já é um

importante passo para a realização disto.”

Cabral, Moreira, 2011.

Page 34: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

19

3. CONTEXTUALIZAÇÃO – RETROFIT DE EDIFICAÇÕES

Campos, 2006, cita que o termo retrofit tem sido amplamente empregado com o

sentido de renovação, atualização, mas mantendo as características intrínsecas do

bem. Com a tradução liberal de “colocar o antigo em boa forma”, percebe- se que não

se trata apenas de uma reconstrução, pois esta implicaria em uma simples

restauração. Ao invés disto, busca-se o renascimento. Esta arte está aliada ao

conceito de preservação da memória e da história.

Segundo o CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável) na publicação

Retrofit: Requalificação de edifícios e espaços construídos, retrofit é uma palavra

criada a partir da junção do termo “retro”, do latim, que significa movimentar-se para

trás e do termo “fit”, do inglês, que significa ajustar-se, que resulta no conceito, em

português: “reconversão”. Para a construção civil, retrofit é a intervenção realizada em

um edifício com o objetivo de incorporar melhorias e alterar seu estado de utilidade.

Este conceito de recuperação de um patrimônio que esteja subutilizado ou totalmente

inutilizado, não encerra na escala do edifício, mas se estende ao entorno urbano.

Croitor, 2009, diz que o retrofit não se limita somente a edificações antigas, também é

aplicável quando há interesse na substituição de sistemas prediais ineficientes ou

inadequados, pela mudança de uso do imóvel ou também quando as edificações estão

inacabadas ou abandonadas.

Esta prática surgiu e foi desenvolvida na Europa, no final da década de 1990, devido à

enorme quantidade de edifícios antigos e históricos, mas também é muito utilizada nos

Estados Unidos. Lugares onde a rígida legislação não permitiu que o rico acervo

arquitetônico fosse substituído, abrindo espaço para esta solução, que preserva o

patrimônio histórico ao mesmo tempo em que permite a utilização adequada do

imóvel.

Comum na Europa, esta modalidade construtiva chega a 50% das obras, e em países

como Itália e França, este indicador aumenta para 60%. Estes países têm intensificado

tais práticas em edificações residenciais, comerciais e industriais com o objetivo de

valorizar velhas edificações, aumentando sua vida útil através de avanços

tecnológicos e da utilização de materiais e processos de última geração, além de ser

uma prática mais econômica, sustentável e eficiente que a demolição total e nova

construção.

Em Paris, por exemplo, um marco da arquitetura da cidade acabou de passar por um

completo retrofit para se adaptar às necessidades dos tempos atuais: ser sustentável

e multiuso, como pode ser visto nas figuras 4 e 5.

Page 35: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

20

O edifício, estilo art decó, La Samaritaine, de 80 mil metros quadrados, que abrigou

uma loja de departamentos entre 1870 e 2005, abriga atualmente lojas, escritórios e

um hotel com vista para o rio Sena. As escadarias, afrescos e o teto de vidro originais

foram preservados nesse processo.

Figura 4 – Loja de departamentos La Samaritaine antes do retrofit

(Fonte: http://www.portobello.com.br/blog/design-e-inovacao/retrofit-la-samaritaine-

renascera-as-margens-do-sena/) (05/06/15)

Page 36: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

21

Figura 5 – Edifício multiuso La Samaritaine após retrofit

(Fonte:http://www.aviewoncities.com/gallery/showpicture.htm?key=svefr0393)

(05/06/15)

A motivação principal de utilizar o retrofit é revitalizar antigos edifícios, aumentando

sua vida útil, usando tecnologias avançadas em sistemas prediais e materiais

modernos, compatibilizando-os com as restrições urbanas e ocupacionais atuais,

diminuindo os gastos energéticos, reforçando as estruturas, preservando o patrimônio

histórico, principalmente o arquitetônico.

É importante ressaltar que, apesar de ser a forma ideal para lidar com patrimônios

históricos, o retrofit também pode ser aplicado em marcos de valor significativo, como

a sede de uma empresa, ou qualquer imóvel, condomínio e até bairros inteiros em que

haja o desejo de preservar a sua estética, promovendo a atualização de amplas áreas

urbanas.

Essa técnica também é considerada quando é mais rápida que uma nova construção

ou quando é necessário continuar utilizando o prédio durante a obra. (EGGER, 2015)

Imóveis desgastados pelo uso ou pelo tempo, recuperados pelo processo de retrofit,

podem chegar a uma valorização de até 100%.

De acordo com Barrientos (2004), os aspectos que devem ser considerados na

escolha pelo retrofit são vários, mas o mais importante é a idade da edificação.

Executar o retrofit num prédio com mais de trinta anos é mais fácil do que em

edificações mais novas, devido aos padrões arquitetônicos utilizados naquela época,

Page 37: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

22

com pés direitos mais altos e vãos mais largos, facilitadores na execução de pisos

elevados e forros, por exemplo.

Portanto, as intervenções a serem executadas dependem das características do

imóvel e do seu estado de conservação.

3.1. Situação do retrofit no Brasil

No Brasil, diversos fatores são citados como empecilhos para o retrofit, de acordo com

o CBCS, 2013. O retorno financeiro em comparação com empreendimentos novos; a

ausência de legislação específica, as atuais não fazem distinção entre reforma e

retrofit; escassez de recursos tecnológicos disponíveis, já que a maioria é voltada para

novas edificações; a falta de familiaridade com essa prática por parte dos projetistas e

da indústria.

A situação do retrofit no Brasil, notadamente registrado em edifícios culturais de

metrópoles do porte de São Paulo e Rio de Janeiro, é muito diferente de países da

Europa, mas o que é comum é o rigor da lei na aprovação dos projetos já que um

edifício tem um ciclo de vida extenso, tendo um efeito sobre o ambiente. (LISBOA,

2009)

Bernardes (2009) argumenta que é necessário conciliar os custos de reforma com

preços de venda convidativos, já que, em geral, os imóveis encontram-se muito

degradados e apresentam problemas estruturais. Uma solução para o sucesso do

projeto seria o investimento do poder público.

Botelha (2015) cita que finalmente o retrofit tem obtido destaque e crescido no Brasil

devido à escassez e alto custo dos terrenos, principalmente nas cidades de São Paulo

e Rio de Janeiro. Impondo ao mercado esta solução, que revitaliza importantes

edificações já existentes no centro urbano. Existem vários casos de sucesso que

fomentaram grandes investimentos no setor imobiliário e da construção civil.

Ele destaca ainda que alguns cuidados devem ser tomados, como a realização de um

estudo e memorial fiel às condições do imóvel, conjunto de projetos bem coordenados,

estudo rigoroso quanto ao emprego de materiais adequados na edificação.

Com as devidas precauções e cuidados, o retrofit tem um longo e promissor caminho

a percorrer no Brasil, sendo um modelo ideal para o desenvolvimento imobiliário nos

grandes centros urbanos brasileiros.

Page 38: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

23

3.2. Breve histórico do retrofit no Rio de Janeiro

Enquanto nas cidades estrangeiras as iniciativas de retrofit surgiram de grupos

alternativos, no Rio de Janeiro elas surgiram do próprio governo.

Os investimentos para reverter a deterioração do centro da cidade, não só de imóveis

antigos, mas também de espaços públicos começaram na década de 1980 quando o

governo detectou que a política de renovação urbana era um excelente negócio.

A política de preservação recebeu o nome de Corredor Cultural, segundo Vale (2006),

e atentou para lugares de importante acervo histórico e arquitetônico, dando início a

um programa de revitalização urbana para o centro da cidade.

Essa requalificação atraiu grandes empresas de volta para o centro da cidade além de

aumentar a procura por imóveis na região. Surgiram novos centros culturais, lojas

sofisticadas, universidades e grandes garagens subterrâneas.

A região central passou a ser um polo atrativo de grandes bancos e negócios,

segundo Barrientos (2004). E fatores como proximidade do bairro com os aeroportos

da cidade, rodoviária, metrô, cartórios e fórum foram determinantes na hora de

escolher.

A cidade do Rio de Janeiro é constituída por uma grande quantidade de edificações,

residenciais e não residenciais, com idade em torno de 50 anos de construção. A

quantidade de imóveis com mais de 20 anos é maior que a de imóveis novos ou

recém-construídos. O que demonstra a necessidade de um mercado para o setor de

reabilitação.

3.3. Técnicas adotadas

Conforme Nunes (2011), a implantação do retrofit envolve sete etapas:

A) Análise mercadológica e financeira, incluindo valores, estudo vocacional e

viabilidade comercial;

B) Definição do conceito do projeto, o que envolve análise das possibilidades de

expansão da área;

C) Legislação – plano jurídico;

D) Critérios de reaproveitamento de materiais e sistemas;

E) Diagnóstico – etapa que considera elementos como a história da edificação;

estudo de arquitetura e eficiência da laje, análise das condições de sistemas e

equipamentos;

Page 39: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

24

F) Proposta de implementação, incluindo vários cenários, entre eles, da

arquitetura, elétrica, dados, voz, elevador e fachada;

G) Comercialização.

Conhecer o estágio de degradação da construção na qual se deseja implementar o

retrofit é muito importante para que a requalificação seja capaz de suportar os

acréscimos de carga gerados por futuras mudanças no layout, de acordo com

Barrientos, 2004. Dentre as diversas etapas, o estudo de viabilidade e o diagnóstico

são destaques devido à importância.

É essencial documentar todas as modificações ocorridas, descrever a interligação dos

sistemas antigos aos novos, como segurança e incêndio, por exemplo. Mostrar

modificações e acréscimos, fornecendo dados complementares que auxiliem na

melhor solução possível de ser executada.

Como o número de imprevistos em um retrofit tende a ser maior, comparando com

uma obra convencional, a mão de obra deve ser mais qualificada e necessita de maior

supervisão, já que a estrutura existente não permite a instalação de um canteiro de

obra espaçoso, o que gera redução na produtividade e na quantidade de homens

trabalhando. Por isso é fundamental ter um levantamento fiel das condições do imóvel

além de um conjunto completo de projetos. Na Tabela 2 é possível ver o comparativo

entre o retrofit e a obra convencional mostrando essas dificuldades enfrentadas numa

obra de retrofit.

Page 40: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

25

Tabela 2 – Comparativo entre obra tradicional e retrofit

(FONTE: Revista Téchne, Ed. 37, Julho 2011)

Geralmente, a obra de retrofit é composta de sete etapas, podendo ser mais ou

menos, de acordo com a especificação e complexidade. São elas: demolição, reforço

estrutural, fechamento, acabamento, instalações prediais, ar condicionado e fachada,

de acordo com Nakamura (2011) na reportagem “Retrofit de edifícios”.

A obra normalmente começa na demolição controlada de paredes da construção

existente para aumento da área útil e adequar a edificação ao seu novo uso.

O reforço estrutural ocorre principalmente quando há aumento da capacidade de

suporte da estrutura devido à alteração de uso. Pode ser executado de diversas

maneiras, como por adição de chapas de aço e de fibras de carbono ou

encamisamento de concreto.

Menos numerosa que em obras tradicionais. Mas os trabalhadores são mais especializados e treinados para trabalhar sob condições adversas, como em edifícios ocupados.

Mão de obraQuantidade e grau de especialização variam de acordo com o estágio da obra.

Pequenas reformas podem ser feitas em poucas semanas, mas retrofits mais complexos tendem a demorar mais do que construir um edifício novo.

Tempo médio de obra

Longo, de acordo com a complexidade da obra.

FachadaVaria de acordo com o padrão e tipo da construção.

O retrofit de fachadas é um dos mais usuais. Pode prever a troca de evestimentos e a substituição de esquadrias, por exemplo.

Pode utilizar diferentes materiais de acordo com o padrão e tipo da construção.

Uma das etapas cruciais. É fundamental para da uma aparência mais atual à construção e valorizar o imóvel.

Acabamentos

Instalações (água, esgoto, energia, ar condicionado, gás e dados) são executadas para garantir o pleno funcionamento do edifício.

Instalações prediais

A modernização das instalações prediais é fundamental para adaptar a construção às novas exigências dos usuários e às normas técnicas de segurança.

O retrofit pode ser um motivo adicional para se refazer a impermeabilização. Assim evitam-se o retrabalho e gastos extras com acabamento.

ImpermeabilizaçãoNecessária para assegurar a vida útil da construção.

Fundações e estrutura

São executadas a partir do zero, seguindo orientações dos projetos de fundações e de estrutura.

Pode ser necessário adaptá-las, principalmente quando há mudança do uso da edificação.

FechamentosPode usar a tradicional alvenaria ou painés pré-fabricados de vedação.

Quando necessários, ocorre da mesma forma que em uma obra convencional.

Raramente acontece.

É montado antes do início das obras de acordo com o número de trabalhadores envolvidos.

Canteiro de obrasÉ mais limitado em função das construções existentes e da eventual ocupação do edíficio.

Ocorre apenas quando há estruturas no terreno que precisam ser removidas.

É uma atividade muito comum, principalmente quando há modificação de uso

Demolição

TerraplenagemNecessária para limpar e nivelar o terreno antes de iniciar a contrução.

OBRA TRADICIONAL SERVIÇO RETROFIT

Page 41: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

26

Não há diferenças no fechamento realizado no retrofit ou numa obra convencional.

Porém, uma prática comum na modernização de edificações antigas é o uso de

drywall para fechamentos internos. Essas chapas são mais leves e causam um

impacto menor na estrutura existente, além de gerar menos resíduos e ser uma

construção mais limpa.

Na etapa de acabamentos, deve ser estudado o uso de materiais recicláveis, que

exijam menos manutenção, como, por exemplo, a instalação de piso elevado, que

ajuda a esconder e organizar fios e cabos e evita quebradeira em caso de mudanças

de layout. Essa é uma das etapas que pode tornar o empreendimento mais

sustentável.

Muitas vezes, os sistemas prediais são os fatores cruciais para um retrofit ser

implantado. A modernização dessas instalações, que começa pela substituição de

todo cabeamento e vai até a instalação de novas caixas para suportar a maior

quantidade de cabos utilizada atualmente, por exemplo, é fundamental para a

edificação tornar-se moderna e atender as demandas de uso.

A instalação de equipamentos de ar condicionado mais eficientes é fundamental para

o prédio ser mais sustentável, reduzindo em até 40% o gasto com energia, além de

liberar área útil.

A reformulação da fachada pode incluir troca de esquadrias, tratamento de fissuras,

colocação de pingadeiras e de brises para torná-la mais adequada, de acordo com a

insolação local, mantendo a temperatura interna mais agradável e diminuindo o uso de

ar condicionado. Tornando o edifício mais sustentável.

Além dessas etapas, segundo Dorigo e Cari (2014) podem ser incluídas também

soluções como telhado verde, que aumenta o conforto térmico e diminui o gasto com

energia e manutenção de ar condicionado além de reter a água precipitada, que pode

ser tratada e reaproveitada para fins não potáveis como irrigação e descarga; parede

verde, que pode servir como isolante térmico; torneiras dosadoras, que controlam o

desperdício e reduzem o consumo de água; sensores de presença que acionam a luz

somente quando há presença de pessoa e mantém acessa por um intervalo de tempo

pré-determinado, evitando o uso desnecessário e economizando energia; vidros

térmicos, que diminuem a quantidade de raios solares transmitidos para o ambiente

sem influenciar na iluminação natural, diminuindo a necessidade de climatização

artificial; placas fotovoltaicas, que aumenta a eficiência energética da edificação,

podendo ser utilizada desde o aquecimento de água até geração de energia para a

Page 42: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

27

própria edificação. Todas essas medidas visam aumentar o conforto da construção,

reduzir o uso de água e energia, aumentando a sustentabilidade.

3.4. Dificuldades executivas

As exigências técnicas e de normatização, estabelecidas por cada prefeitura,

evoluíram com o tempo. Na década de 1920, ao se construir um prédio em estilo art

decó, no centro de São Paulo, por exemplo, não eram projetados rampas e elevadores

largos, prevendo uma demanda futura da sociedade por acessibilidade, tão pouco era

necessário ter sistemas de reaproveitamento de água de chuva. Hoje, qualquer

edificação deve cumprir uma série de normas com o objetivo de organizar e regular o

crescimento urbano, disciplinar o uso do solo, garantir que tais ocupações não

prejudiquem o meio ambiente, a segurança, a acessibilidade nem interfiram no bem

estar da população.

De acordo com Marques (2014), especialista em gerenciamento de projetos

arquitetônicos, é desejável que um estudo para verificar a viabilidade do retrofit seja

feito antes da decisão final, já que a preocupação principal do método é manter as

características originais da edificação e o processo pode sair mais caro que uma

reforma convencional e até mesmo que a construção de um novo prédio.

Os métodos de diagnóstico das condições físicas do edifício a ser “retrofitado” ainda

são precários. É inexistente metodologia de projeto focada nesse tipo de

empreendimento. Na maior parte das intervenções realizadas, as tecnologias

construtivas adotadas são as mesmas utilizadas em obras novas, o que é inadequado,

resultando em longos períodos de intervenção, importantes alterações de projetos e

em grandes alterações no custo inicial, de acordo com a reportagem “Reabilitação de

edifícios: a importância dos sistemas prediais”.

Apesar de um retrofit não gerar a mesma margem de lucro que projetos de construção

iniciados do zero, ele é uma escolha mais segura no atual cenário econômico. Ele é

geralmente menos arriscado por envolver menos despesas com materiais, uma vez

que a estrutura já está disponível.

Segundo Camargos (2013), construtor que atua na recuperação e na transformação

de prédios comerciais em residenciais na capital mineira, além de dificuldades

técnicas como estruturas com pilares e vigas muito grandes, que podem ser

empecilhos para remodelagem do espaço, inexistência de memória de cálculo e

projetos detalhados da edificação, que provocam dificuldades de execução de layout

adequado, existem ainda dificuldades logísticas, como retirada de entulho. Ele diz

ainda que cumprir a norma de desempenho, NBR 15575, principalmente na questão

Page 43: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

28

acústica, é uma dificuldade enfrentada em obras de retrofit já que são poucos os

fabricantes que produzem esquadrias fora do padrão, por exemplo.

A burocracia para viabilizar reformas em prédios antigos é incomparável. Desde a

apresentação na prefeitura do projeto e da documentação até as suas aprovações,

pode demorar alguns vários meses, chegando até um ano. Essa situação é

inadmissível sob o ponto de vista empresarial.

Ainda de acordo com Camargos (2013), outro empecilho é a aquisição de

financiamento para execução da obra de retrofit. Os bancos e o programa “Minha

Casa, Minha Vida” não possuem nenhum produto em que esse tipo de obra se

enquadre. Ele defende que esse tipo de construção tenha uma legislação municipal

específica e que sejam concedidos incentivos fiscais, como IPTU progressivo, que já

acontece em Nova York.

Croitor (2009) cita que dificuldades podem ser encontradas no planejamento do

canteiro de obras. Edifícios antigos não apresentam áreas livres suficientes para a

implantação do canteiro, o que dificulta o acesso ao interior da edificação, o

abastecimento, o armazenamento de materiais, podendo gerar retrabalho e perda

excessiva de material. Se o edifício estiver instalado em área central de cidade

grande, outro fator que dificulta o planejamento do canteiro é a restrição de tráfego de

caminhões, comprometendo a entrega de materiais e equipamentos.

O Projeto Reabilita (2007) constatou que os projetistas têm dificuldade em atender

questões de segurança contra incêndio e acessibilidade. Eles encontram dificuldade

em adaptar as condições do edifício às demandas de reserva de água para incêndio

devido ao tipo de fundação e às limitações estruturais; às exigências de acessibilidade

às áreas comuns da edificação.

3.5. Legislação aplicada

O Projeto Reabilita, 2007, alerta para um aspecto importante que deve ser

considerado no projeto: “as edificações foram construídas a partir de legislação

vigente no momento da elaboração do projeto e a execução das obras, sob um

contexto de necessidades e soluções também específicas.”.

De acordo com Camargos (2013), como não há legislação específica para retrofit, a

ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) deveria pensar numa norma

específica para o retrofit. “Nesta área, ainda há uma ausência total de especificações”,

alerta.

Page 44: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

29

Outro ponto importante, é que reforma ou retrofit não fazem parte do escopo da NBR

15575 – Edificações habitacionais – Desempenho, publicada pela ABNT em 2013.

3.6. Experiências anteriores

O retrofit sofrido pelo Empire State Building é um case importante no mercado

mundial. Esse processo envolveu as empresas Jones Lang LaSalle, Clinton Climate

Initiative, Rocky Mountain Institute e Johnson Controls. As ações realizadas visavam

melhorar a eficiência energética da edificação. Para isso, foi necessária a troca de

quatro chillers, modernização dos sistemas de controle predial existentes, instalação

de sistema de monitoramento contínuo do desempenho do ar condicionado, instalação

de sensores de gás carbônico para controle de demanda da ventilação e acesso

online do usuário ao sistema de monitoramento de consumo de energia, além de

ações para melhorar a temperatura dos ambientes internos e aumentar o

aproveitamento da iluminação natural através do uso de dimmers e dispositivos foto-

sensores para adequação da iluminação ambiente, de acordo com a reportagem “40

Perguntas – Manutenibilidade”.

O histórico prédio localizado na Cinelândia, centro no rio de Janeiro, Amarelinho, que

foi construído nos anos de 1930, tornou-se um centro empresarial. De acordo com

Vale (2006), a construção de linhas clássicas foi reformada e virou um edifício

inteligente, depois de passar uma década desocupada, com rede interna de

computadores além de outros luxos tecnológicos. Além de ter sofrido reparos no

exterior sem prejudicar o estilo arquitetônico característico da edificação.

Manter a fachada original não aconteceu no caso do retrofit do Diamond Hotel, que

segundo o arquiteto responsável, Juan Carlos Belay, a única coisa preservada foi a

vista para a Baía de Guanabara. O Hotel Excelsior, em Copacabana foi totalmente

remodelado.

Já no caso do Hotel Guanabara, no centro do Rio de Janeiro, ainda de acordo com

Vale (2006), é notável a obra de grande importância na parte de reabilitação predial.

Vidros temperados foram colocados na fachada e novas instalações foram aplicadas,

melhorando as condições do hotel e oferecendo maior conforto e comodidade aos

usuários.

O Centro Empresarial RB53, na Avenida Rio Branco, também no centro do Rio de

Janeiro, é um caso bem sucedido de retrofit. A edificação que tinha mais de 40 anos

passou por um retrofit que durou aproximadamente um ano e meio, com ótimos

resultados. A valorização é consequência das ações implantadas durante esse

processo. Além da preocupação com a arquitetura, os serviços básicos como ar

Page 45: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

30

condicionado, segurança, infraestrutura de telecomunicações e informática foram

reformulados. Com isso, a locação passou de R$13,00 por metro quadrado em 1993

para R$55,00 em 2005.

Saindo da área Zona Sul – Centro e indo para a Zona Norte, outra obra interessante

foi a adaptação e mudança de uso de uma antiga fábrica de tecidos para instalações

comerciais, o shopping Nova América.

3.7. Vantagens e desvantagens

Segundo Vale (2006), o retrofit tem cada vez mais importância devido à busca por

atualização, requalificação, readaptação e valorização do imóvel. Ele procura melhorar

não só o desempenho das edificações, mas também adequá-las a uma nova

utilização.

A relação entre o retrofit e a valorização do imóvel é direta, a princípio. Acredita-se que

o investimento de cada proprietário representa 10% na valorização total do imóvel. Por

exemplo, se uma reforma custar R$5.000 para cada condômino, o imóvel valorizará

R$50.000. Com isso, é notável que recuperar fachadas, investir em elevadores,

equipamentos e mobiliário valoriza imediatamente o imóvel.

Entre outras razões para realizar um retrofit, cita-se uma maior comodidade para os

usuários, redução de custos operacionais da edificação (gastos necessários para o

funcionamento da mesma) na ordem de 30%.

Nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, a demanda por retrofit é sentida

praticamente nos centros, aonde a infraestrutura de serviços e comércio é pouco

aproveitada por muitos edifícios terem tecnologias obsoletas para as novas

necessidades das empresas.

Vale (2006) aborda ainda que a forma de acabar com a degradação de lugares

abandonados em regiões habitáveis é fixar uma população residencial. A revitalização

de microrregiões centrais é preferível à realização de retrofit em alguns edifícios que

não resgatam a ocupação do entorno.

O retrofit tem vantagem nos edifícios antigos devido também ao tombamento de

alguns edifícios, onde não é possível demolir. E não há motivo para demolição se a

estrutura de concreto está em boa condição e o edifício pode ser reformado. Além de

vantagem de aproveitamento de uma área maior do que uma nova construção.

Um dos principais empecilhos ao investimento na recuperação de empreendimentos

antigos e abandonados é aspecto técnico. Quanto mais antiga a edificação, maior a

necessidade de adaptações para torná-la moderna, o que pode inviabilizar o projeto

Page 46: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

31

devido ao alto investimento. Por isso, de acordo com Vale (2006), em alguns lugares

onde há disponibilidade de terrenos disponíveis, a preferência é para novas

construções.

Mas isso ainda divide opiniões. Há quem diga que se a fundação e estrutura estiverem

em bom estado de conservação, a economia ao se realizar o retrofit ao invés de uma

nova construção pode ser superior a 20%. Isso em caso de edifícios comerciais, que

são fáceis de reformar. Já retrofit em hotéis, que possuem muitas divisões internas, é

mais complicado.

Ainda de acordo com Vale (2006), os bons empreendimentos para sofrerem retrofit,

em função das estruturas, são os com até 50 anos, onde pode-se aproveitar fundação,

alvenaria e estrutura. Independente do estado de conservação, instalações prediais,

elevadores e caixilharia sempre têm de ser refeitos totalmente para um bom resultado

final.

Os aspectos técnicos na viabilização do retrofit é a parte mais simples do processo. A

complicação começa na legalização do imóvel, já que não existe legislação específica

para esse tipo de obra e os códigos de obra atuais são muito rígidos em relação ao

que empregado na época da construção do imóvel. A solução é a criação de uma

legislação específica e mais flexível para a aprovação dos projetos de retrofit.

O mercado de retrofit oferece muitas oportunidades variadas, porém a viabilidade

ainda gera polêmica. As instituições acadêmicas e segmentos profissionais devem

criar condições e meios para a discussão de assuntos relacionados ao retrofit para

formar uma consciência crítica e um melhor entendimento dos aspectos técnicos,

legais e financeiros do assunto.

Page 47: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

32

4. CONTEXTUALIZAÇÃO: SUSTENTABILIDADE NA

CONSTRUÇÃO CIVIL

Uma edificação, para ser sustentável, deve ter soluções que priorizem o baixo impacto

ambiental, desde a concepção do projeto até a especificação dos materiais,

construção e operação.

Como desafio, pode-se afirmar que o setor da construção civil em todo o mundo é

responsável pelo consumo de 50% dos recursos naturais e 40% dos insumos

energéticos de todas as fontes, considerando o ciclo de vida das edificações, o que

inclui além do consumo de energia na vida útil das edificações, também a energia

gasta na fabricação dos materiais de construção, na obra propriamente dita e na

desconstrução, segundo Tavares (2006).

A Agenda 21 consolida a ideia de que o desenvolvimento e a conservação do meio

ambiente devem constituir um binômio indissolúvel, que promova a ruptura do padrão

tradicional de crescimento econômico, tornando compatíveis duas grandes aspirações

do final do século XX: o direito ao desenvolvimento, sobretudo para os países que

permanecem em patamares insatisfatórios de renda e de riqueza, e o direito ao

usufruto da vida em ambiente saudável pelas futuras gerações, de acordo com

Valente (2009).

Os aspectos sociais da sustentabilidade ligados à edificação devem fazer referência

aos cuidados em relação a todos os envolvidos no processo de construção da nova

edificação, desde o projeto, passando pela obra, vizinhança e usuário final, segundo

Pereira.

Em vários países existem conselhos para o desenvolvimento dos conceitos da

construção sustentável. Eles orientam e discutem padrões a serem seguidos. No

Brasil, foi criado em 2007 o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS),

que é composto de acadêmicos e pessoas ligadas às áreas social e financeira,

construtores e representantes de organizações não governamentais.

Segundo o próprio CBCS, seu objetivo é contribuir para a geração e difusão de

conhecimento e de boas práticas de sustentabilidade na construção civil.

De acordo com a publicação Condutas de Sustentabilidade no Setor Imobiliário

Residencial, publicada pelo CBCS, sustentabilidade em edificações deve ser a

aplicação do conceito do tripé da sustentabilidade (social, ambiental e econômica),

como pode ser visto na Figura 6, às atividades de todo o ciclo de vida do

empreendimento, incluindo a escolha do terreno, decisões de projeto, técnicas

Page 48: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

33

construtivas, atividades no uso e operação do espaço construído, hábitos dos

usuários, procedimentos de manutenção e destinação dos materiais no fim da vida útil.

Figura 6 – Tripé da sustentabilidade

(Fonte: Joal Teitelbaum - http://www.teitelbaum.com.br/consultoria/producao-

limpa.php) (20/07/15)

A concepção e todas as atividades relacionadas ao ciclo de vida do empreendimento

devem minimizar os impactos ambientais, maximizar os benefícios sociais e a

viabilidade econômica. As edificações são a unidade de composição das cidades e

devem ser consideradas como parte do espaço urbano desde a obra.

Segundo Antunes (2009), no texto Sustentabilidade na Construção Civil, um projeto

sustentável deve ir além das questões de aproveitamento de água da chuva,

ventilação natural e uso de energia solar. Ele deve ser ecologicamente correto,

economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito.

Uma das grandes dificuldades para implementar a sustentabilidade no setor da

construção no Brasil é a falta de iniciativas públicas de infraestrutura, que eleva o

custo de uma casa ou prédio sustentável, ainda de acordo com Antunes (2009).

Page 49: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

34

Segundo Pacetta (2010), ser sustentável no Brasil não é fácil. Os consumidores ainda

duvidam da qualidade e da reputação de produtos e serviços sustentáveis. Eles

confundem sustentabilidade com ecologia, baixa qualidade, rusticidade. Acabam

achando que o que é sustentável é mais caro e que o mercado não oferece oferta,

além de não conhecerem os critérios para tornarem esses produtos e serviços verdes.

Como a construção civil é um setor que consome muito recurso natural, e tem uma

importância grande no PIB, é possível perceber a magnitude dessa atividade na

economia mundial e como o impacto ambiental por ela gerado é significativo, de

acordo com Santos (2010). Uma análise feita de dados obtidos nos Estados Unidos,

mas que são considerados válidos para a construção civil dos demais países

industrializados, segundo Araújo (2002), aponta os seguintes indicadores: utilização de

30% das matérias primas, 42% do consumo de energia, 25% para o de água e 16%

para o de terra. O segmento contribui com 40% da emissão atmosférica, 20% dos

efluentes líquidos, 25% dos sólidos e 13% de outras liberações. Esses indicadores

mostram a importância do tema e a necessidade de elaboração de ações que

reduzam o impacto ao meio ambiente da construção civil.

4.1. Breve histórico da sustentabilidade

A preocupação com a preservação do meio ambiente surgiu na década de 1960, após

décadas de crescimento industrial. Época em que o uso dos recursos naturais era

praticado despreocupadamente. Diante disto, dois fatos foram constatados, é

impossível a renovação dos recursos naturais diante da intensidade da sua exploração

e é necessária a adoção de uma visão sistêmica da natureza, considerando que as

atividades praticadas em um determinado local podem afetar o meio natural de outro

lugar, de acordo com a publicação do CBCS, Condutas de Sustentabilidade no Setor

Imobiliário Residencial.

Estes fatos mostraram a necessidade das chamadas atividades humanas e sua

relação com os ecossistemas e recursos naturais.

Conferências internacionais para tratar da relação entre o ser humano e o meio

ambiente foram organizadas. Destas conferências saíram documentos importantes

como: “Nosso Futuro Comum”, conhecido como Relatório Brundtland, 1987, que

define o desenvolvimento sustentável como “o desenvolvimento que atende às

necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das futuras

gerações terem suas próprias necessidades atendidas”; a ECO – 92, onde a

interdependência entre o ambiente e o desenvolvimento foi colocada como ponto de

debate.

Page 50: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

35

A ECO – 92 fez com que os assuntos ganhassem ramificações independentes, com

desenvolvimento de atividades específicas, avanço de conhecimento e acordos entre

nações.

Nas últimas décadas houve uma mobilização de governos e organizações para

conceber, criar, organizar e implantar políticas de direcionamento das ações do

homem sobre os ecossistemas, em prol do equilíbrio natural, preservação da

biodiversidade do planeta, ainda de acordo com a publicação Condutas de

Sustentabilidade no Setor Imobiliário Residencial.

4.2. Certificação ambiental

Para dizer o quão sustentável é um empreendimento, foram criados modelos de

certificação no mundo todo. Especificamente no Brasil, são utilizados os modelos

AQUA (Alta Qualidade Ambiental) e LEED (Leadership in Energy and Environmental

Design). Cada um tem suas características e normas específicas, todas com o objetivo

de tornar o edifício mais eficiente e obedecendo a alguns critérios, como:

A) Relação do edifício com o seu entorno;

B) Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos;

C) Canteiro de obras com baixo impacto ambiental;

D) Gestão de energia e água;

E) Gestão dos resíduos;

F) Conforto acústico, visual, olfativo e higrotérmico (temperatura e umidade);

G) Qualidade sanitária dos ambientes, do ar e da água.

Segundo Fonseca no texto Sustentabilidade na Construção Civil.

O objetivo desses sistemas de certificação ambiental é a avaliação do desempenho da

edificação e seu funcionamento para fornecer indicações aos especialistas sobre as

diversas áreas analisadas, de acordo com Valente (2009).

Segundo Silva (2003), além de construir sustentavelmente, é importante comprovar

que a edificação segue tais pressupostos, principalmente após a ocupação dos

usuários.

Para minimizar os impactos gerados pelas construções, tem que repensar algumas

atividades. A fase de projetos deve contemplar soluções para os processos usuais da

construção civil. Novos materiais, menos impactantes, com origem em diferentes

matérias primas devem ser desenvolvidos com um custo aceitável para o mercado

poder utilizá-los.

Page 51: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

36

As construções certificadas tendem a serem laboratórios de soluções e ideias que

podem ser utilizadas pelas outras construções, onde elas são desenvolvidas, testadas

e aprovadas, levando sustentabilidade para as construções de um modo geral, de

acordo com Jesus (2014). Esse processo tem difundido o conceito de construção

sustentável pelo mercado e a consequência é a aceitação cada vez maior.

A primeira consequência é a redução do consumo de água e energia, reduzindo o

custo operacional das construções. Mesmo tendo um custo de construção inicial mais

caro que o convencional, pois essas soluções são mais caras, o efeito final é

vantajoso. Um aumento no custo inicial gera uma redução no custo em longo prazo,

segundo Leite (2011).

Outras consequências dos processos de certificação são a conservação dos recursos

naturais, redução da poluição, incentivo à reciclagem e reutilização de produtos e

processos mais limpos.

Os empreendimentos com selo verde tendem a ser mais caros que as construções

similares, porém sem certificação. A receptividade desse tipo de construção tem

aumentado, o que eleva ainda mais o seu valor. E a construtora responsável pela

construção também passa a ter reconhecimento no mercado pela adoção de filosofias

sustentáveis, de acordo com Valente (2009).

Na França, os bancos oferecem melhores financiamentos e as prefeituras oferecem

privilégios, como desoneração fiscal, para que esse tipo de construção seja

executado, segundo Serrador (2008). Em Nova Iorque, existe um processo de

aprovação facilitado para os empreendimentos definidos como de alto desempenho,

para aumentar o desenvolvimento de projetos que visam a eficiência do ponto de vista

ambiental. Em outros estados dos Estados Unidos, é necessário que os novos

edifícios públicos tenham certificação LEED, a fim de atestar o aspecto sustentável

das edificações, de acordo com Pinheiro (2006).

Moura e Motta (2013) mostram que um grupo de críticos alega que estes processos de

certificação não têm sido utilizados para a promoção da prática da sustentabilidade a

que eles propõem, mas como uma forma para as construtoras aumentarem seus

ganhos através da mudança de conscientização pela qual o mercado passou. Dessa

forma, eles alegam que as certificações enrijecem o desenvolvimento de soluções

sustentáveis, pois estas seguem apenas o que é previsto pela certificação desejada,

de forma a inibir soluções realmente sustentáveis, já que essas não têm contribuição

para atingir a meta. Além de também deixar em segundo plano soluções

arquitetônicas naturalmente sustentáveis, já que não contribuem para o mesmo fim.

Page 52: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

37

Outro questionamento é o fato de que as exigências feitas por alguns métodos de

certificação não possuem adaptações para outras culturas, engessando a concepção

de projetos sustentáveis.

Desse modo, alguns arquitetos têm sido contra os sistemas de certificação, pois os

definem como reducionistas e excessivamente tecnicistas, não considerando aspectos

culturais, sociais e econômicos do desenvolvimento sustentável. Dessa forma, deve

ser feita uma análise detalhada das especificidades do projeto, levando em

consideração o ambiental em que a construção está inserida e todas as suas

variáveis, analisando se a certificação possui apenas objetivos pragmáticos ou se visa

realmente disseminar a sustentabilidade. Isso determinará a real utilidade do

empreendimento para a sociedade.

4.2.1. Processo AQUA (Alta Qualidade Ambiental do

Empreendimento)

Esse processo foi adaptado do modelo HQE (Haute Qualité Environnementale), que é

um processo que se baseia nos referenciais de desempenho elaborados pelo CSTB

(Centre Scientifique et Technique du Bâtiment) em 1947 na França. Ele foi adaptado

para a versão brasileira em 2007. Foi implantado pela Fundação Vanzoline, instituição

formada e mantida por professores da Escola Politécnica da USP (Universidade de

São Paulo), de acordo com Valente (2009).

Ele atesta se o empreendimento está de acordo com as exigências através de

auditorias independentes. Durante o processo, as normas brasileiras vigentes são

utilizadas, caso não haja norma brasileira específica, podem ser utilizadas normas

internacionais. Ele se adequa ao clima da região em que o empreendimento será

implantado, exigindo desempenho de acordo com a região.

4.2.2. Certificação LEED (Leadership in Energy and

Environmental Design)

É um sistema de certificação reconhecido internacionalmente. Foi desenvolvido pelo

USGBC em 1991 nos Estados Unidos.

O LEED é um sistema voluntário que pode ser aplicado a qualquer tipo de construção

e em qualquer fase da vida do empreendimento. Inclusive durante o retrofit.

Essa certificação baseia-se em alguns critérios de avaliação e é um sistema de

pontuação cumulativa para diversos itens de projeto ou obra, segundo Valente (2009).

Page 53: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

38

4.2.3. Selo Qualiverde

Esta certificação entrou em vigor em 2012 e foi criada pela prefeitura da cidade do Rio

de Janeiro, lançada na Rio +20. O desenvolvimento começou em 2010, segundo

Barros e Bastos (2015), o foco era diminuir os impactos do setor da construção civil e

o objetivo era incentivar ações sustentáveis e não torná-las obrigatórias, visando

especificamente o Rio de Janeiro.

Esta certificação é de caráter voluntário e é aplicável a projetos de novas edificações e

às já existentes, de uso comercial, residencial, misto ou institucional.

As exigências estipuladas pelo decreto são variadas e abrangem praticamente todo o

ciclo de vida do empreendimento.

O funcionamento é através de pontuação, com isso, para novas edificações, o

projetista pode optar pelas ações sustentáveis que serão aplicadas ainda na fase de

projeto.

As principais expectativas dessa qualificação são:

A) Aumento do número de construções com certificados verdes;

B) Redução das emissões dos gases de efeito estufa;

C) Diminuição dos resíduos da construção civil;

D) Facilitação da coleta seletiva;

E) Redução do consumo de água e energia;

F) Incentivo ao uso de materiais sustentáveis;

G) Minimização dos impactos das construções no sistema de drenagem e esgoto;

H) Promoção da educação ambiental.

Para pedir a certificação, o formulário disponível no site da Prefeitura deve ser

preenchido com informações sobre a edificação e devem ser apresentados o projeto

de arquitetura e memorial descritivo do empreendimento, que serão analisados pelas

Secretarias Municipais de Urbanismo e Meio Ambiente.

Por ser um selo gratuito e desenvolvido especialmente para o Rio de Janeiro, ainda de

acordo com Barros e Bastos (2015), o acesso é facilitado a investidores de menor

porte e prioriza ações relevantes para o município, como a construção de reservatórios

de retardo e aumento da permeabilidade do solo, para reduzir as enchentes que

ocorrem na cidade.

Page 54: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

39

4.3. Empreendimentos certificados no Brasil

Com o custo elevado e tempo de retorno longo, o setor de construção sustentável já

tem grandes iniciativas, segundo Antunes (2009).

O primeiro grande prédio com certificação LEED no Brasil é o prédio da Universidade

Corporativa da Petrobrás, localizado no Rio de Janeiro.

Figura 7 – Prédio da Universidade Corporativa da Petrobrás

(Fonte: Confidere)

O primeiro prédio público sustentável de Santa Catarina foi entregue em 2008 pela

construtora Vez das Árvores. É um posto de Polícia Militar e Ambiental da Praia do

Rosa. O projeto foi focado no design para aproveitar a ventilação natural, captação e

aproveitamento de água de chuva, iluminação natural, telhado verde, painéis solares e

tratamento de esgoto anaeróbico.

Page 55: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

40

Figura 8 – Posto da Polícia Civil e Ambiental

(Fonte: Diário Catarinense)

A primeira certificação HQE – AQUA no Brasil foi a loja da Leroy Merlin em 2009 em

Niterói. Essa certificação foi a escolhida pela facilidade de adaptação à realidade

brasileira, segundo Valente (2009).

Figura 9 – Loja da Leroy Merlin em Niterói

(Fonte: Leroy Merlin)

De acordo com a publicação “Plano de Gestão da Sustentabilidade dos Jogos Rio

2016”, publicado em 2013 pela organização dos jogos olímpicos, foi estudado o

impacto dos jogos nas cidades sede e há um compromisso de deixar um legado

sustentável para elas. Foram selecionadas nove ações que devem estar presentes

nas obras, entre elas podem ser citadas tratamento e conservação da água, proteção

dos solos e ecossistemas, gestão de lixo sólido. Essas nove ações devem ser

Page 56: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

41

seguidas para ser possível a obtenção de certificação nos empreendimentos

construídos para os jogos.

4.4. Boas práticas na construção civil

De acordo com o Guia de Boas Práticas na Construção Civil, publicado em 2011 pelo

Santander, uma obra sustentável estimula iniciativas que apresentam soluções para

as interferências socioambientais da construção civil. Deve-se construir de maneira

responsável, atender às legislações trabalhistas, fiscais e ambientais e estender isso

aos fornecedores, fazer além do que a legislação obriga, reduzir os desperdícios,

reutilizar e reciclar os materiais, buscar sistemas elétricos e hidráulicos que reduzam o

consumo e evitem o desperdício, procurar materiais e processos que reduzam a

utilização de recurso naturais e contribuam para a manutenção da biodiversidade, que

não utilizem produtos tóxicos na fabricação nem liberem gases tóxicos na aplicação e

uso e que tenham uma vida útil maior. Deve-se também implantar técnicas e

equipamentos que permitam medir e monitorar o desempenho ambiental da edificação

durante a obra e na fase de uso. Além de tudo isso, durante o processo de

planejamento e construção, deve haver uma preocupação em melhorar a qualidade de

vida dos funcionários, da comunidade e do entorno do empreendimento.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, as prefeituras podem induzir boas práticas

através de legislação urbanística e código de edificações, incentivos tributários e

convênios com concessionárias de água, esgoto e energia. Ele recomenda uma série

de prescrições adequadas à realidade brasileira.

A) Implantação urbana à adaptação à topografia local, reduzindo a

movimentação de terra, preservação de espécies nativas, previsão de ruas e

caminhos que privilegiem o pedestre e o ciclista e contemplem a

acessibilidade, previsão de espaços de uso comum para integração da

comunidade, uso do solo diversificado, minimizando os deslocamentos;

B) Edificação à adequação do projeto ao clima local, minimizando consumo de

energia e otimizando as condições de ventilação, iluminação e aquecimento

naturais, previsão de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida,

atenção para a orientação solar adequada, utilização de coberturas verdes,

suspensão da construção do solo;

C) Materiais de construção à utilização de materiais disponíveis no local, pouco

processados, não tóxicos, potencialmente recicláveis, culturalmente aceitos,

propícios para autoconstrução e para construção em regime de mutirões, com

Page 57: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

42

conteúdo reciclado. Deve-se evitar o uso de materiais químicos prejudiciais à

saúde e ao meio ambiente;

D) Resíduos da construção à deve-se atentar para a redução da geração de

resíduos e disposição adequada e promover a reciclagem e reuso dos

materiais;

E) Energia à uso de coletor solar térmico para aquecimento de água, de energia

eólica para bombeamento de água e de energia solar fotovoltaica, com

possibilidade de injetar o excedente na rede pública;

F) Água e esgoto à prever coleta e utilização de águas pluviais, utilização de

dispositivos economizadores de água, reuso de águas, tratamento adequado

de esgoto no local e, quando possível, uso de banheiro seco;

G) Áreas externas à valorização dos elementos naturais no paisagismo e uso de

espécies nativas, destinação de espaços para produção de alimentos e

compostagem de resíduos orgânicos, uso de reciclados da construção na

pavimentação e pavimentação permeável, previsão de passeios sombreados

no verão e ensolarados no inverno.

4.5. Desafios da sustentabilidade na construção

Na época da Rio +20, que aconteceu em 2012 no Rio de Janeiro, a CBIC (Câmara

Brasileira da Indústria da Construção) foi uma das entidades que participou da

elaboração da publicação Desenvolvimento com Sustentabilidade. Este documento

apresenta alguns dos desafios do setor da construção, dentre eles:

A) Valorização e desenvolvimento da mão de obra à a construção civil brasileira

foi desenvolvida utilizando mão de obra pouco qualificada das camadas mais

pobres da sociedade. Atualmente, a capacitação desses profissionais é um

desafio e ocasionará um aumento da produtividade e aumento dos salários.

B) Inovação tecnológica à o desejo de uma construção mais rápida, com menor

geração de resíduos e produtos mais bonitos, confortáveis e seguros, com

maior durabilidade e menor consumo de água e energia será atingido com

essa inovação tecnológica. Ela é capaz de promover processos produtivos e

produtos mais sustentáveis através do desenvolvimento de novos sistemas

construtivos, mudanças no processo de gestão do empreendimento (com maior

ênfase à fase de projeto).

C) Desenvolvimento urbano sustentável à as cidades brasileiras necessitam de

mudanças que contribuam para uma melhor qualidade de vida da população e

mais dinamismo para a economia. O setor da construção civil é importante

nesse processo, que começa no apoio ao planejamento urbano e construção

Page 58: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

43

de planos diretores à construção de grandes empreendimentos, utilizando

princípios de sustentabilidade e retrofit de empreendimentos em áreas urbanas

consolidadas.

Para que esses desafios sejam superados, o setor não pode atuar de maneira isolada.

Esses desafios envolvem questões sociais, legais, tributárias e institucionais.

Apesar de impactar negativa e significativamente no meio ambiento, a construção civil

é o setor que mais apresenta possibilidades de incorporação de resíduos em novos

materiais, já que é o maior consumidor de recursos naturais de qualquer economia,

segundo John (2000). Ele tem um grande potencial para minimizar os problemas

devido à disposição incorreta de resíduos por causa da viabilidade oferecida para

incorporação desses rejeitos em novos materiais na construção civil.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, os desafios para o setor de construção

são vários, com ênfase em redução e otimização do consumo de materiais e energia,

redução de resíduos, preservação do meio ambiente e melhoria da qualidade do

ambiente construído. Como solução, ele indica:

A) Elaboração de projetos flexíveis, possibilitando uma readequação futura de uso

para atender novas necessidades, reduzindo as demolições;

B) Buscar soluções que potencializem o uso racional de energia ou de energias

renováveis;

C) Gestão ecológica da água;

D) Redução do uso de materiais com alto impacto ambiental;

E) Redução de resíduos adotando a modulação de componentes para diminuir

perdas e especificações que permitam reutilizar os materiais.

Os empresários têm apostado nos empreendimentos verdes, com as certificações.

Porém, várias edificações intituladas verdes apenas reduzem a energia incorporada, e

nos outros aspectos, são convencionais, tanto na aparência quanto no processo

construtivo.

4.6. Legislação aplicada

De acordo com Jesus (2014), as legislações federais e estaduais aplicadas no Rio de

Janeiro são muito amplas.

A legislação federal trata, principalmente, sobre princípios gerais de preservação

ambiental e sustentabilidade que devem ser aplicados no território nacional. Nela são

estabelecidas diretrizes e a busca de promoção de políticas sustentáveis que

contribuam para a preservação ambiental. Ela procura organizar de uma maneira geral

Page 59: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

44

as políticas de sustentabilidade e propõe a criação de órgãos responsáveis pelo

planejamento, formulação, aplicação e fiscalização destas políticas, além de

penalização, de acordo com as responsabilidades de cada um.

Essa legislação não é muito específica pelo fato de ser federal em um país de

dimensões continentais. Assim, cada localidade deve aplicar estes princípios a suas

demandas e realidades para atender as exigências locais. Este é o papel da legislação

nacional.

Page 60: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

45

5. APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE EM

OBRAS DE RETROFIT

Na busca pela sincronicidade, o retrofit tem sentido de renovação do edifício e sua

adequação às necessidades dos atuais usuários com reestruturação dos sistemas

prediais. Com isso, pode-se implantar soluções como controle do gasto energético,

segurança e conforto, introduzir sistemas de telefonia e cabeamento para informática,

instalação de sprinklers e outros itens de segurança contra incêndio, além de

substituição de todo o sistema hidráulico e elétrico. Deve-se renovar os materiais dos

revestimentos sem alterar a feição original da edificação, em caso de

empreendimentos históricos.

A busca pela reabilitação e requalificação das edificações através do retrofit, deve ser

executada de acordo com os valores ecológicos existentes na sociedade atual,

segundo Vale (2006).

Parâmetros de sustentabilidade alinhados com os processos de retrofit devem

minimizar o impacto ambiental e maximizar a utilização das edificações, aumentando

seus ciclos de vida, revitalizando áreas degradadas, preservando aspectos históricos,

conservando e recuperando o meio ambiente dos centros urbanos.

Segundo dados de 2003 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico), o

Brasil é um país essencialmente urbano, com mais de 80% da população vivendo em

cidades.

A qualidade da vida urbana ruim, a destruição do patrimônio urbano aliados à falta de

sustentabilidade nos processos decorrentes das ações urbanas, geram uma agressão

ambiental crescente na relação entre os espaços construídos e naturais existentes.

Com isso, o retrofit busca a readequação e a reinserção desses elementos à estrutura

da cidade, contribuindo para a melhoria do espaço construído, preservação dos

valores arquitetônicos e paisagístico da cidade.

Deve-se conscientizar os usuários e gestores da construção civil. Segundo Boff

(2011), o problema do tempo atual é a falta de cuidado. Descuidou-se de tudo. Com

isso, a preocupação com a sustentabilidade no retrofit vem contrapondo essa ideia de

descuido.

Braun (2001) diz que se 1% de 1% da população mundial (mais ou menos seis

milhões de pessoas) iniciasse um processo de transformação ou mudança de hábitos

socioculturais, haveria uma grande probabilidade de ocorrer um desencadeamento

geométrico, envolvendo por sintonia todas as outras pessoas restantes, até chegar ao

Page 61: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

46

ápice do movimento. Assim, utilizando parâmetros de sustentabilidade no retrofit das

edificações, contribui-se para um desenvolvimento urbano sustentável dentro dos

novos paradigmas ambientais.

De acordo com as sugestões de Adam (2001) e Araújo (2004), algumas posturas

técnicas podem ser adotadas na recuperação, manutenção e restauração de

edificações:

A) O projetista deve otimizar o uso do edifício, flexibilizando e adaptando os

espaços, minimizando a utilização de recursos naturais para racionalizar os

materiais e energia na execução do retrofit;

B) Planejar a destinação adequada dos materiais resultantes das demolições e,

sempre que possível, utilizá-los na própria obra;

C) Utilizar as características climáticas locais integradas aos condicionadores

artificiais, possibilitar a integração dos sistemas naturais aos artificiais,

adequando às funções do edifício;

D) Separar os resíduos seletivamente para poder fazer a destinação correta. São

três as destinações possíveis em uma obra:

a) Utilização na forma de reuso ou reciclagem na própria obra;

b) Envio para reciclagem ou reuso nas usinas de reciclagem, depósitos de

materiais de demolição, cemitério de azulejos;

c) Aterros sanitários legalizados.

E) Agregar valores de sustentabilidade à tecnologia voltada para a construção

civil.

O que torna uma tecnologia sustentável, de acordo com Adam (2001), é a qualificação

que ela possui de ser limpa, ecologicamente fiel e não poluir. Pode ser utilizada em

pequena ou grande escala e deve ser absorvida pela sociedade como um todo. Ainda

segundo ele, os processos de retrofit aliados à “ecotecnologia” devem possuir uns

princípios básicos, como:

A) Aproveitar recursos naturais disponíveis que normalmente não são utilizados

ou são subutilizados na edificação como captação e aproveitamento de águas

pluviais, solatub (duto para iluminação natural de áreas escuras);

B) Tratamento dos efluentes domésticos proporcionando seu reuso;

C) Gerar energia no próprio edifício através de fontes renováveis como eólica,

solar, geotérmica.

Ainda na etapa de projetos, deve ser prevenida a Síndrome do Edifício Enfermo (SEE)

que é a conjunção de poluição atmosférica, sonora e das que ocorrem dentro do

Page 62: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

47

próprio edifício para uma melhor salubridade das construções e dos seus habitantes,

segundo Vale (2011).

O processo de retrofit deve avaliar o desempenho do edifício para possibilitar que as

informações sejam sistematizadas e tenha-se um maior conhecimento para uma

interface entre o meio construído e o meio natural mais eficiente, maximizando o ciclo

de vida da edificação, adequando às necessidades dos novos usuários.

5.1. Recursos construtivos

A procura por empreendimentos que satisfaçam as novas exigências do mercado tem

como consequência um maior estudo pelos profissionais envolvidos na área sobre os

métodos construtivos nos processos de retrofit.

Para a viabilização desses métodos, é necessário que a edificação seja flexível, de

acordo com Vale (2006). Com isso, é notável que algumas soluções construtivas

venham sendo empregadas não só nas novas construções, mas também e,

principalmente, nos processos de retrofit. Assim, vários recursos construtivos estão

cada vez mais presentes nos escritórios de projetos e nas construtoras.

5.1.1. Fachadas ventiladas

Esta técnica surgiu na Europa na década de 1980. De acordo com Barrientos (2004),

esse sistema consiste de um espaço entre o revestimento e a parede que é ventilado

permanentemente no sentido vertical por convecção. Essa circulação de ar reduz a

possibilidade de formação de pontos de umidade na estrutura além de proporcionar

uma isotermia na edificação ao longo do ano.

A câmara existente entre a estrutura e o paramento externo varia entre 5 cm e 15 cm.

Há aberturas tanto no topo quanto na base da fachada.

A transferência de calor acontece por convecção e há um fluxo contínuo de

substituição do ar quente por ar frio, aspirado pelas aberturas inferiores, como pode

ser visto na Figura 10. O ar mais quente sobe e, pela diferença de pressão, suga para

dentro da cavidade o ar mais fresco. O ar da cavidade é renovado continuamente e

chega a esquentar a edificação.

Para que esse sistema funcione, é necessário um perfeito nivelamento das paredes de

vedação. É aceitável no máximo um desnível de 5 cm, já que acima desse valor o

processo é inviabilizado devido não só à descontinuidade de nivelamento das placas,

que gera uma estética indesejável, como também pelo comprometimento da

estanqueidade e circulação do ar.

Page 63: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

48

Figura 10 – Fluxo de ar e calor em fachadas ventiladas

(Fonte: Revista Téchne, Ed. 144, Março 2009)

Além das vantagens já citadas, esse tipo de fachada protege a estrutura e prolonga a

vida útil da edificação. O sistema controla a entrada de água da chuva e elimina uma

das causas mais frequentes da deterioração de fachadas, as infiltrações. A água que

consegue penetrar no interior da cavidade é extremamente pequena. Estudos

realizados na Alemanha mostraram que menos de 1% da água que penetra atinge o

paramento, e isso pode ser amenizado através de uma camada impermeabilizante, de

acordo com a publicação “Fachadas respirantes” da edição de março de 2009 da

revista Téchne.

Esse tipo de fachada ainda oferece proteção acústica devido às placas e à lâmina de

ar, e à proteção isolante caso possua, agem como uma barreira amenizando os ruídos

oriundos de fora. Esse detalhamento pode ser observado na Figura 11 e Figura 12.

Como desvantagem desse tipo de fachada, pode ser citada a impossibilidade de uso

de painéis muito finos, pois a execução segura de furos ou cortes para as ancoragens

que ligam a placa à subestrutura fica difícil.

Outra desvantagem é a falta de normas brasileiras para esse tipo de fachada. O que

deve ser feito é utilizar normas internacionais ou normas brasileiras de outros tipos de

fachada.

É exigido um reforço de tela de fibra de vidro resistente ao envelhecimento natural.

Desse modo, se houver a quebra eventual de um painel, os fragmentos não cairão e

permanecerão presos até a substituição da peça.

Page 64: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

49

Figura 11 – Detalhe de uma fachada ventilada

(Fonte: http://forumdacasa.com/discussion/25614/placas-revestimento-exterior/)

(23/07/15)

Figura 12 – Prédio na Itália com fachada ventilada

(Fonte: http://www.archiproducts.com/pt/produtos/88172/fachada-ventilada-blizzard-

sanmarco-terreal-italia.html) (23/07/15)

Page 65: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

50

5.1.2. Shafts

Shafts são passagens onde as tubulações de uma edificação devem passar, como

pode ser observado na Figura 13. O principal objetivo é que sejam de fácil acesso

para manutenção, de acordo com Vale (2006).

Nos processos de retrofit, o shaft tem sido empregado para atender as novas

necessidades de instalações elétricas e hidráulicas.

Ele pode ser instalado em fachadas ou nas laterais das edificações durante o

processo de retrofit caso não haja espaço no interior do prédio, mas deve ser feito um

tratamento arquitetônico para suavizar a aplicação para que não seja notado.

Figura 13 – Shaft de banheiro

(Fonte: http://omniapcp.com.br/site/tag/hidrossanitario/) (23/07/15)

5.1.3. Gesso acartonado ou drywall

O drywall é um sistema construtivo seco de alta tecnologia que utiliza chapas de gesso

acartonado fixadas sobre estruturas metálicas e que compõe as paredes internas das

edificações.

Segundo Barrientos (2004), esta técnica surgiu na década de 1890 nos Estados

Unidos e chegou ao Brasil junto com a abertura econômica.

A placa é composta de três camadas (cartão – gesso – cartão), e a parede é formada

normalmente por duas placas e estrutura (guias), como pode ser visto na Figura 14.

Page 66: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

51

Figura 14 – Detalhe de parede de drywall

(Fonte: http://blog.loccivi.com.br/page/9/) (23/07/15)

As placas verdes podem ser aplicadas em áreas úmidas, as rosas são mais

resistentes ao fogo e podem ser aplicadas ao redor de lareiras e bancadas de cooktop,

e as brancas são as mais básicas e são amplamente aplicadas em forros e paredes de

ambientes secos, de acordo com a reportagem “Drywall: entenda como funciona esse

sistema de construção". Esses tipos de placa podem ser vistos na Figura 15.

As chapas podem receber pintura, revestimentos e papéis de parede, por exemplo, e

podem ser utilizadas em áreas molhadas desde que sejam as específicas para esse

fim e recebam revestimento.

Por si só, o sistema oferece proteção contra barulho e calor, já que forma um colchão

de ar e, se necessário, é possível incrementar seu desempenho com enchimento de lã

mineral.

Page 67: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

52

Figura 15 – Tipos de chapas de drywall

(Fonte: http://casa.abril.com.br/materia/drywall-entenda-como-funciona-esse-sistema-

de-construcao) (24/07/15)

Outras vantagens do drywall são: otimização do ambiente, paredes mais leves sem

desperdício de materiais, facilidade na hora da montagem, não necessita de reboco ou

massa corrida, facilidade nas instalações prediais, como pode ser visto na Figura 16.

Como desvantagens do sistema, podem ser citados a necessidade de uso de peças

específicas para fixação de objetos, não sustenta cargas superiores a 18 kg e não

pode ser utilizado em áreas externas, segundo a reportagem “Drywall: o que é,

vantagens e desvantagens”.

Figura 16 – Paredes de drywall

(Fonte: www.hotfrog.com.br) (24/07/15)

Page 68: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

53

5.1.4. Piso elevado

Os pisos elevados surgiram na década de 1970, tendo sido desenvolvidos para

interligação dos equipamentos e dar vazão ao ar condicionado insuflada pelo piso em

centros de processamentos de dados (CPDs).

Seu uso foi aumentando por ser possível implantar instalações não previstas no

projeto original e hoje é indispensável no setor corporativo, por permitir mudanças de

layout, flexibilidade no acesso ao cabeamento e outras soluções arquitetônicas e

funcionais, segundo Vale (2006).

Esse sistema deve ser previsto ainda na fase de projetos para permitir a

compatibilização das saídas de elevadores e escadas e altura de janelas com o nível

do piso acabado.

A maior vantagem desse sistema é comportar o cabeamento das linhas de

comunicação, rede e dados, ar condicionado e até mesmo tubulações hidráulicas.

Esse tipo de piso pode ser observado na Figura 17.

Figura 17 – Funcionamento de um piso elevado

(Fonte: http://www.amazonoffice.com.br/category/piso-elevado/)(24/07/15)

5.1.5. Cabeamento estruturado

O cabeamento estruturado é usado para interligar sinais elétricos de baixa intensidade

como telefonia, imagens (vídeo conferências), dados e sistema de automação. Ele é

Page 69: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

54

composto por um conjunto de conectores e cabos, conforme Figura 18, reunidos de

maneira modular e baseado na padronização, tornando o cabeamento independente

da aplicação e do layout.

A maior vantagem desse tipo de cabeamento, segundo Vale (2006), é a facilidade nas

modificações de layout dos postos de trabalho, dando total flexibilidade à construção.

A desvantagem é o elevado custo de implantação. Mas antes da escolha, deve ser

pensado não só o investimento inicial, mas também a vida útil e a manutenção.

Figura 18 – Cabeamento estruturado

(Fonte: http://www.irs.com.br/empresa.html) (24/07/15)

5.1.6. Forros

Os forros são barreiras entre a estrutura e o ambiente interno, que pode ser visto na

Figura 19, com funções diversas como:

A) Conforto térmico;

B) Absorção e isolamento acústico;

C) Abrigo de instalações prediais;

D) Acabamento estético.

Deve-se analisar as exigências de projeto, propriedades dos materiais disponíveis

para a escolha do forro mais adequado para determinada atividade.

No setor comercial e industrial, de acordo com Vale (2006), os forros modulares são

os mais utilizados. Eles permitem acesso para manutenção de cabos e tubulações, de

forma rápida e limpa.

Page 70: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

55

No retrofit, o forro desempenha importante papel auxiliando o acabamento das

instalações.

Figura 19 – Execução de forro de gesso acartonado

(Fonte: http://www.sulmodulos.com.br/produto-forro-em-gesso-acartonado-drywall)

(24/07/15)

5.1.7. Sistema PEX

Sistema PEX é um sistema hidráulico flexível, formado por tubos reticulados, que pode

ser utilizado em alvenarias convencionais ou em inovações construtivas, tipo drywall,

de acordo com Vale (2006).

Seu conceito é igual ao de uma instalação elétrica (tubo guia). Os tubos são

conectados a uma prumada através de uma válvula esférica e tem um ponto central de

distribuição de ramais. O mesmo tubo pode ser utilizado para água quente, vermelho,

e água fria, azul. Essa identificação por cores fica clara na Figura 20.

A principal vantagem desse sistema é a rapidez e simplicidade das instalações. Dentre

as outras vantagens, podem ser citadas:

A) Não tóxico, livre de ferrugem e de crescimento de micro-organismos, evitando

a contaminação da água;

B) Por ser maleável, evita várias conexões reduzindo a perda de carga do

sistema;

C) Permite a inspeção, troca e manutenção sem quebras de revestimentos e

paredes;

Page 71: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

56

D) Possui baixa condutibilidade térmica e menor nível de ruído, além de grande

durabilidade.

Portanto, o sistema PEX é um importante instrumento para os processos de

reabilitação das edificações. Apesar disso, esse sistema enfrenta preconceitos na sua

utilização como falta de conhecimento, preferência por sistemas tradicionais, alto custo

inicial.

Figura 20 – Instalação do sistema PEX

(Fonte: http://plumbingcircle.com/blog/pex-tubing-bag-chips/) (30/07/15)

5.1.8. Retrofit de fachadas

As fachadas passam por várias mudanças ao longo da vida útil da edificação devido a

diversos motivos. Uma intervenção na fachada pode agregar valor às suas unidades,

mesmo que elas não sejam “retrofitadas”, segundo Vale (2006).

Além das questões estéticas, outros fatores devem ser analisados como conforto e

características climáticas, que devem ter grande peso na decisão sobre a reabilitação

ou não da fachada já que pode proporcionar maior eficiência à edificação.

Os maiores erros na fase de projeto acontecem nas especificações das fachadas.

Como exemplo pode ser citado o uso de fachadas envidraçadas no Brasil, propícias

para climas temperados, cuja característica principal é aumentar o aquecimento

interno do ambiente. Uma solução para esse problema pode ser o uso de brises ou

protetores solares. Esse sistema pode reduzir até 30% da carga térmica que incide

nos vidros, se for locado corretamente, ainda segundo Vale (2006).

Page 72: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

57

5.1.9. Análise dos recursos construtivos

Com todos esses recursos construtivos expostos, percebe-se que eles podem

contribuir para os processos de retrofit das edificações nacional e internacionalmente.

A diversificação e evolução das atividades executadas pelos habitantes têm

aumentado a complexidade e a interação dos sistemas prediais. Desse modo,

desempenho, custo e prazo tendem a determinar a otimização dos sistemas.

Assim, os sistemas prediais passam a ser sistemas físicos e independentes do edifício

que devem otimizar o aproveitamento dos recursos e atender às necessidades do

usuários.

A evolução tecnológica vai sendo incorporada gradativamente às práticas

profissionais, mas é necessário ter divulgação dos seus pontos positivos e negativos

para que o profissional seja capaz de escolher as técnicas que sejam mais

apropriadas para cada caso. Por isso, as universidades apresentam fundamental

papel na pesquisa, desenvolvimento e divulgação das novas tecnologias, recursos e

processos para o mercado da construção civil.

O mercado de retrofit é um grande setor para investimentos tecnológicos, científicos e

financeiros já que a cada dia aumenta o número de imóveis que necessitam de

reabilitação e atualização por motivos de segurança, atendimento a novas normas ou

até mesmo para satisfazer o desejo dos usuários.

5.2. Empreendimentos “retrofitados”

5.2.1. Empire State Building

Quando foi inaugurado, em 1931, esse edifício (Figura 21) não era só o maior prédio

do mundo, era também o prédio com os elevadores já criados que atingiam a maior

altura. Mas essa construção, como qualquer outra, começou a apresentar problemas

decorrentes da sua idade. Com isso, a família proprietária e responsável pelas

operações desse marco da cidade de Nova Iorque teve que decidir se venderia o

empreendimento ou se faria melhorias que poderiam custar mais de 500 milhões de

dólares. Eles decidiram arriscar na segunda alternativa e torná-lo um edifício

autossuficiente em energia. Mas eles queriam mais, queriam criar um processo que

pudesse ser repetido no mundo inteiro e em outros grandes edifícios como hospitais e

universidades para tornar o mundo um lugar melhor.

Page 73: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

58

Figura 21 – Empire State Building

(Fonte: http://www.miamibeach411.com/news/promotional-video) (11/08/15)

As pessoas tendem a achar que a principal fonte de emissão de gás carbônico é o

carro. Mas atualmente as operações envolvidas na construção correspondem a cerca

de 40% dessa emissão, como pode ser visto na Figura 22 e, em grandes cidades,

esse número pode ser maior. Tony Malkin, membro da família proprietária do edifício,

diz que 80% dos prédios existentes em Nova Iorque, ainda estarão lá daqui a três

décadas. Por conta disso, é importante cuidar dos edifícios existentes se quiserem que

a emissão de gás carbônico diminua.

Page 74: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

59

Figura 22 – Emissão de gás carbônico por setor nos Estados Unidos ao longo dos

anos

(Fonte: http://www.esbnyc.com/sites/default/files/ESBOverviewDeck.pdf) (03/08/15)

De acordo com o estudo de caso Empire State Building Case Study, produzido e

divulgado pela própria associação do Empire State, o retrofit foi motivado pela vontade

de reduzir as emissões de gases do efeito estufa e demonstrar que o retrofit aplicado

em grandes prédios comerciais pode ser viável economicamente e um bom negócio,

além de criar um modelo replicável pelo mundo.

O desenvolvimento do projeto aconteceu de forma integrada, a equipe responsável

queria desenvolver uma solução ótima para o retrofit que integrasse experiência,

energia, modelagem financeira e avaliações além de debates.

Depois de um longo estudo com quase 70 alternativas de redução de consumo de

energia apresentadas, oito foram escolhidas para reduzirem em cerca de 38% o

consumo de energia, tornando esse edifício o edifício “retrofitado” mais eficiente em

energia do mundo, além de não gerar 105.000 toneladas de gás carbônico durante 15

anos. Essas soluções são apresentadas a seguir.

A) Janelas à as janelas antigas foram substituídas por janelas duplamente

suspensas capaz de incluir um filme protetor e gás;

Page 75: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

60

Figura 23 – Janelas instaladas durante o retrofit

(Fonte: http://www.esbnyc.com/sites/default/files/ESBOverviewDeck.pdf) (03/08/15)

B) Barreira radiativa à foram instaladas mais de seis mil barreiras reflexivas no

perímetro do edifício;

C) Iluminação e tomadas à cada estação de trabalho passou a contar com uma

tomada com sensor de ocupação de carga e foram instalados foto sensores e

dimers para controlar a quantidade de iluminação emitida;

D) Chiller à quatro chillers elétricos industriais foram modernizados;

E) Unidades aéreas à foi elaborado um novo layout de manejo aéreo variável,

dois pelo piso e dois pelo teto, ao invés de manter o volume constante como

era;

F) Sistema de controle à foi feito um upgrade no sistema de controle existente no

edifício;

G) Controle de ventilação à projeto de instalação de sensores de gás carbônico,

controle de introdução de água no chiller;

H) Gestão de energia à projeto que permite aos usuários do prédio acesso online

sobre o desempenho energético da edificação e dicas e atualizações sobre

sustentabilidade.

Uma das medidas de Malkin durante a etapa de projetos foi manter os locatários de

andares inteiros e tirar os de pequenos escritórios, com isso ganharia áreas que não

eram aproveitadas, como espaços de corredor e perto de escadas e elevadores. Ao

mesmo tempo em que anteriormente nesses espaços não existiam sistemas de

aquecimento e resfriamento. Com isso, foi necessária a compra e instalação de um

novo chiller, além da substituição das 6.514 janelas já programada.

Os desafios encontrados em cada etapa do retrofit impediram a elaboração de metas

de longo prazo.

Page 76: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

61

As conclusões ao final do processo que durou cinco anos foram que é necessário ter

estratégias para maximizar economias rentáveis, equilibrar a emissão de gás

carbônico e modernizar o desenvolvimento dos projetos. Devem existir projetos com

ciclo de substituição de equipamentos, os sistemas devem ser dinâmicos e os

processos podem e devem ser modernizados.

Depois de a edificação passar pelo processo de retrofit, o pé quadrado (unidade de

área utilizada nos Estados Unidos equivalente a 0,093 metros quadrado) que era

alugado a US$26,50 passou a ser alugado entre US$40,00 e US$60,00.

A edificação ganhou o selo gold de edifícios existentes do sistema de certificação

LEED ao final do processo de retrofit.

Malkin, que sempre foi ligado a causas ambientais, diz que o retrofit além reduzir os

custos no uso da edificação, gera empregos locais e diminui os gastos com geração

de energia. Diz ainda que criar estacionamento de bicicleta é bonito, mas que o que

vai modificar o mundo é a eficiência energética.

O processo empregado no Empire State vem sendo utilizado também em várias

cidades, de Los Angeles a Melbourne.

5.2.2. Hotel Glória

A construção desse hotel teve como principal motivação a comemoração do

Centenário da Independência do Brasil, em 1922, de acordo com Rosalini (2005), já

que o Rio de Janeiro era capital da república. Situado na Rua do Russel, 632, no

bairro da Glória, próximo da sede do governo federal na época, o Palácio do Catete e

a poucos metros do mar, possuía uma bela vista da Baía de Guanabara.

O projeto foi do arquiteto francês Joseph Gire em estilo neoclássico francês e levou

em consideração fatores importantes como iluminação e ventilação natural, áreas de

circulação, tamanho de elevadores, localização de restaurantes, cozinhas, entre

outros.

Page 77: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

62

Figura 24 – Construção do Hotel Glória em 1919

(Fonte: Decourt, 2006)

De acordo com Tapajós (2009), na época da inauguração, esse era o único hotel cinco

estrelas do país e também é reconhecido como o primeiro prédio construído em

concreto armado no Brasil.

No processo de retofit, todo o interior do hotel foi demolido, ficando apenas fachada,

pilares e lajes. Internamente não há vestígios da arquitetura neoclássica, dando lugar

às novas divisões estabelecidas, segundo Brisolla (2012).

Brisolla (2013) diz que o grande desafio do retrofit nesse hotel era preservar a

fachada, que é preservada pelo patrimônio histórico municipal, enquanto o resto da

edificação não é tombado por nenhum órgão de patrimônio histórico.

Além de incluir o retrofit do prédio principal e do anexo, fazia parte do projeto a

construção de um segundo anexo, e os três prédios seriam interligados.

A ideia era resgatar a sofisticação e tradição do Rio de Janeiro em um hotel luxuoso,

devolvendo todo charme e pioneirismo tecnológico ao hotel através de um projeto

sustentável e inteligente. (EBX, 2013).

As obras, antes de serem paralisadas, seguiam modelo de certificação LEED,

utilizavam materiais sustentáveis e com certificação ambiental, além de projetos que

estabeleciam eficiência do uso da água, energia e cuidados com emissão de resíduos

na atmosfera, além de práticas sustentáveis em áreas externas próximas.

Page 78: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

63

6. ESTUDO DE CASO

São apresentados dois estudos de caso, de um prédio comercial que está passando

pelo processo de retrofit e continuará sendo um prédio comercial e de uma clínica de

fisioterapia que após o retrofit se tornou um restaurante.

Os dados apresentados foram coletados em entrevistas e materiais cedidos pelos

engenheiros e arquitetos responsáveis pelo processo de retrofit nas respectivas

edificações.

6.1. Rio Branco 12

6.1.1. Apresentação do empreendimento

Esse prédio, localizado na Av. Rio Branco, 12, no Centro da Cidade do Rio de Janeiro

está sofrendo retrofit a fim de modernizar suas instalações e continuar suas

operações.

Essa construção era originalmente um prédio comercial, de um único dono, com duas

salas alugáveis por pavimento, composto por 25 pavimentos, como pode ser visto na

Figura 25. Depois de terminado o retrofit, a edificação contará com 26 pavimentos

(Figura 26), sendo o 22º pavimento de área de vivência e continuará sendo um prédio

comercial com andares alugáveis de aproximadamente 170 m² e com área total

construída de aproximadamente 4.800m².

Page 79: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

64

Figura 25 – Edificação antes do retrofit

(Fonte: Eng. Júlio Smiderle)

Figura 26 – Fachada planejada após retrofit

(Fonte: http://rb12.com.br/pt/)

Page 80: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

65

O empreendimento tem cerca de 35 anos, foi construído entre os anos de 1979 e

1980, tendo seu habite-se concedido em 28/01/1981.

A edificação foi toda comprada pela empresa Challenger Consultoria Financeira e

Imobiliária Ltda., na qual faz parte em sua composição societária a Natekko, grupo

francês especializado em obras de retrofit, que tem à frente o arquiteto e urbanista

Marc Celaries.

Esse projeto alia modernidade, luxo e sustentabilidade e foi pensado para otimizar o

conforto dos usuários utilizando soluções tecnológicas avançadas do ponto de vista

ambiental, como produção própria de energia, otimização da luz natural e utilização de

um sistema de ar condicionado baseado em vigas frias. Esse é o primeiro prédio

comercial do país a utilizar painéis fotovoltaicos para a produção de energia elétrica,

de acordo com o site do empreendimento.

O prédio será inscrito para obtenção do selo Qualiverde.

6.1.2. Fase de estudos e projetos

A fase de projetos foi muito importante para esse empreendimento. Foram feitos vários

estudos para conseguir chegar a melhor solução possível para implementação de

medidas sustentáveis e que diminuíssem os gastos durante a operação do mesmo.

Essa fase durou aproximadamente um ano e meio, mesmo tempo previsto para a

execução da obra.

A obra de retrofit começou efetivamente em janeiro de 2014, porém o prédio só foi

totalmente esvaziado pelas empresas locatárias em junho do mesmo ano, e

encontrava-se em bom estado de conservação.

6.1.3. Peculiaridades do empreendimento

Como peculiaridade encontrada durante a obra pode ser citada a própria estrutura da

edificação, principalmente os pilares e as lajes. Foi constatado que a construção não

foi executada com boas técnicas de engenharia e não houve um controle de

qualidade. Diversos pilares apresentavam “barrigas”, característica de abertura das

formas durante as concretagens (Figura 27). Algumas lajes, que os projetos indicavam

ter espessuras de 10 cm, tinham na verdade entre 5 cm e 7 cm, com recobrimentos de

apenas 1 cm. Havia pilares e vigas fora de prumo, inclusive a fachada estava fora de

prumo. Para compensar esses defeitos, havia emboços com mais de 10 cm de

espessura. Foi constatado que a armação das lajes era feita com aços CA-25 e CA-

50.

Page 81: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

66

Figura 27 – Pilar “embarrigado”

(Fonte: Eng. Júlio Smiderle)

Um fato curioso que ocorreu foi o fornecimento das plantas originais da edificação que

estavam guardadas em ótimo estado de conservação com o porteiro chefe do prédio

(Figura 28).

Page 82: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

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Figura 28 – Planta original

(Fonte: Acervo da autora)

6.1.4. Dificuldades encontradas

A principal dificuldade enfrentada na obra foi o içamento dos novos chillers até o 24º

pavimento. O planejamento inicial para essa operação era a locação de um guindaste

que ficaria em frente ao prédio, na Avenida Rio Branco, que teria o tráfego

interrompido durante o processo em um domingo, e executaria o içamento. Porém, por

causa das obras do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) na região, duas faixas da

avenida foram fechadas e a prefeitura não autorizou a interrupção do trânsito na via

para execução do planejado.

Como solução para esse problema inesperado, foi necessário fazer um reforço em

estrutura metálica nas lajes dos 22º e 24º pavimentos (Figura 29) para que fosse

possível içar os chillers (Figura 30) pela fachada principal até o 24º andar.

Page 83: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

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Figura 29 – Reforço em estrutura metálica

(Fonte: Eng. Júlio Smiderle)

Figura 30 – Içamento do chiller

(Fonte: Eng. Júlio Smiderle)

Page 84: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

69

Outra dificuldade foi o recebimento de materiais e retirada de entulho, já que o local só

permitia que esses serviços fossem realizados a noite. Ainda por causa das obras do

VLT, depois de um tempo ficou ainda mais complicado o recebimento de materiais

para a obra, pois nem durante o período noturno era permitido estacionar na frente da

obra para a descarga desses produtos. Os veículos de carga tinham que ficar

estacionados em ruas próximas e os materiais serem transportados até a obra por

outros meios.

Por se tratar de uma obra de retrofit, o canteiro de obras é reduzido, não havendo

muito espaço para o armazenamento de materiais na obra. Com isso, a areia e a brita

tinham que ser entregues ensacadas além de serem recebidas a noite, junto com o

cimento, para o uso no dia seguinte.

Para o transporte vertical de tubos, perfis metálicos, madeiras em geral e outros

materiais com dimensão acima de dois metros de comprimento, foi necessário abrir

um alçapão no teto dos elevadores.

Também não havia local para construção de refeitórios, vestiários e banheiros. Foi

necessário montar estruturas para essas instalações nos próprios pavimentos.

6.1.5. Medidas sustentáveis

Nesse empreendimento foram adotadas várias medidas sustentáveis, que podem ser

vistas a seguir.

O resfriamento de cada pavimento é feito através de 14 vigas frias (Figura 31),

equipamento instalado na altura dos forros de gesso acartonado e alimentado por

água gelada proveniente do trocador de calor no qual o ar quente é resfriado e depois

insuflado de volta no ambiente, criando um efeito de pressão negativa que induzirá o

ar ambiente a passar pela serpentina de resfriamento, permitindo conforto térmico e

acústico.

Para complementar a capacidade das vigas frias e para o suprimento de ar exterior de

renovação, haverá um condicionador primário, montado na casa de máquinas de cada

um dos pavimentos que será responsável pelo transporte do ar tratado para cada uma

das vigas frias através de uma rede de dutos, de acordo com manual fornecido pela

empresa Thermoplan, responsável pelo projeto de ar condicionado, ventilação

mecânica e pressurização da edificação.

O ar exterior é suprimido por recuperador de calor, sendo um recuperador em cada

pavimento. Esse ar é captado pela fachada de cada um dos pavimentos e é resfriado

Page 85: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

70

e desumidificado no recuperador de calor, trocando o calor com o excesso de ar

ambiente, sendo levado para o compartimento do condicionador.

O excesso do ar ambiente é captado no teto dos sanitários e, após trocar calor com o

ar novo, é descarregado para o exterior.

Deve haver também um sistema de controle de umidade da sala para que não haja

condensação nas vigas frias.

Os sanitários e as copas são ventilados mecanicamente.

Figura 31 – Sistema de vigas frias

(Fonte: acervo da autora)

Além da instalação de vasos sanitários e torneiras de baixo consumo, também há

captação de água cinza. Essa água, após receber tratamento, é reutilizada para

irrigação dos jardins e descarga dos vasos sanitários.

A iluminação natural foi otimizada através de um cuidadoso desenho de fachada. Além

de utilizar vidros especiais que permitem a entrada de luz mas que não deixam o calor

entrar, as fachadas receberam brises de diferentes dimensões e posições (zig-zag)

para a redução da incidência de raios solares indesejados (Figura 37). Essa estratégia

de sombreamento é completada com vegetação na fachada.

Page 86: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

71

Figura 32 – Formato em zig-zag da fachada com caixilho de alumínio e vidros

(Fonte: Eng. Júlio Smiderle)

Além desse sistema empregado na fachada, foi utilizado também acabamento em aço

inox escovado, que não absorve calor.

Além de diminuir o consumo de energia através de estratégias ambientais, o edifício

irá produzir energia através de painéis fotovoltaicos (Figura 33). Foi feito um cuidadoso

estudo para saber a melhor localização para esses painéis de acordo com a radiação

solar incidente no local. Eles estão localizados na fachada norte da edificação e no 24º

pavimento.

Figura 33 – Painéis fotovoltaicos

(Fonte: Eng. Júlio Smiderle)

Page 87: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

72

Esse edifício conta ainda com piso elevado, para facilitar as instalações das

tubulações elétricas, de telefonia, de dados e de CFTV, e aumentar as possibilidades

de layouts do pavimento; uso de shafts, para passagem das tubulações (Figura 34);

sistema de irrigação automático.

Figura 34 – Pisos elevados e shaft

(Fonte: Acervo da autora)

Em todas as divisões de compartimentos criadas para o novo layout, foram utilizadas

placas de drywall.

A iluminação artificial da fachada e das áreas comuns é feita através de LEDs, que

têm um consumo de energia menor e possuem uma vida útil muito maior. Nos

sanitário e na escada, existem sensores de presença.

A automação está presente nos sistemas de ar condicionado, prevenção e combate a

incêndio, abastecimento e consumo de energia de cada pavimento, controle de

acesso. Tudo isso visando o menor gasto durante o uso e operação da edificação.

Durante a obra, foi feita uma gestão de resíduos. Estes eram separados na própria

obra e colocados em caçambas, localizadas na frente do prédio, para a transportadora

poder retirar com mais facilidade. A cada retirada era emitido um manifesto para

assegurar a destinação legal dos mesmos (Figura 35).

Page 88: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

73

Figura 35 – Cópia do manifesto de resíduos

(Fonte: Eng. Júlio Smiderle)

6.1.6. Imprevistos operacionais

Como em toda obra, os imprevistos apareceram e tiveram de ser solucionados da

melhor maneira possível para que não houvesse prejuízo à edificação nem aos

envolvidos nos processos.

Page 89: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

74

A primeira previsão era para a instalação de 100 painéis fotovoltaicos na fachada

norte, porém foram instalados 88, sendo 72 na fachada norte de 16 no 24º pavimento.

Houve problema na compatibilização e detalhamento das esquadrias de alumínio. O

projeto previa um detalhamento que não teria como ser instalado. Com isso, teve de

ser feita uma melhor compatibilização a fim de poder ser executado.

Existe uma caixa d’água para a água de reuso, porém, em projeto, essa caixa

somente seria abastecida com esse tipo de água. Os vasos sanitários e torneira de

irrigação só são ligados a essa caixa. Durante a execução do projeto, notou-se a

necessidade dessa caixa ter que receber também água da CEDAE, para no caso de

falta de água de reuso não haver interrupção de fornecimento de água para esses fins.

Durante a fase de projetos, foi estudada a implantação de células de energia

combustíveis, para a incorporação do conceito “energia positiva” ao edifício. Toda a

energia utilizada seria produzida no próprio prédio. Mas por conta da impossibilidade

de recebimento por parte da Light, na localização onde se encontra o prédio, da

energia excedente produzida, o alto investimento não valeria a pena e essa hipótese

foi descartada.

6.2. Restaurante Ibérico

Essa construção era inicialmente uma clínica de fisioterapia, com cerca de 300 m²,

como poder ser visto na Figura 36, localizada na Rua Saturnino de Brito, Jardim

Botânico, bairro nobre do Rio de Janeiro. Além da mudança de uso e adequações

espaciais, o objetivo principal do novo projeto era obter o selo Qualiverde que, como já

dito anteriormente, é um selo da Prefeitura do Rio de Janeiro que atesta construções

sustentáveis. Com isso, esse seria o primeiro restaurante da cidade maravilhosa a

obter essa certificação.

Page 90: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

75

Figura 36 – Fachada inicial

(Fonte: Arquiteta Beti Font)

A construção necessitava de várias mudanças, e a primeira era melhorar o

aproveitamento de luz natural (Figura 37). Como a construção não tinha um passado

histórico com características marcantes, foram feitas grandes aberturas no volume

existente e parte da fachada foi demolida, de acordo com a Arquiteta Beti Font,

responsável pelo projeto. O resultado foi um terraço com mais espaço e dois grandes

salões que trazem transparência e vivacidade.

Figura 37 – Fachada após retrofit

(Fonte: Arquiteta Beti Font)

Page 91: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

76

Foi construído também um terceiro pavimento em steelframe pré-fabricado e um

telhado verde, resultando em um maior conforto térmico e minimizando o impacto

deste pavimento extra no entorno.

Como “ingredientes” sustentáveis na construção, podem ser citados alguns como

água, telhado verde, materiais ecológicos.

A água ganhou atenção especial por ser um bem cada dia mais precioso. Foi criado

um sistema de captação de água pluvial nas áreas externas. Depois de filtrada, essa

água é utilizada para irrigação do jardim vertical, feito com plantas nativas, e do

telhado verde. Essa mesma água pode ser reutilizada para lavagem de pisos e áreas

externas. Foram instaladas também torneiras com dispositivos de economia e vasos

sanitários com sistema ecoflush. Além de piso drenante, para melhorar a qualidade da

terra e alívio ao sistema de esgoto da área.

O telhado verde fornece um isolamento térmico natural ao edifício além de enriquecer

visualmente a vizinhança.

Aquecimento solar de água, grandes aberturas na fachada para facilitar a entrada de

luz natural, iluminação artificial toda em LEDS, circuitos independentes e sensores de

presença, aumentam os fatores de alta eficiência energética.

Para a decoração, foram escolhidos materiais de acabamento natural e ecológico. As

tintas utilizadas são à base de terra, o isolamento acústico é feito a partir de PETs

recicladas e fibras de madeira mineralizada, as madeiras são reaproveitadas de

demolição ou certificadas.

Há também medidas sociais aplicadas no dia-a-dia da operação do restaurante. Os

ingredientes da cozinha vêm, preferencialmente, de fornecedores certificados da

região metropolitana. Há horta local para cultivo de temperos e especiarias e coleta

seletiva de sobras e resíduos.

Como diferencial, pode ser citado um inovador tratamento de água por osmose

inversa, que garante água mineral com e sem gás. A água é engarrafada no próprio

restaurante e vendida para quem quiser integrar-se a um projeto sócio-sustentável, já

que parte da arrecadação com a venda de cada garrafa é destinada a uma ONG

dedicada à formação de novos chefes.

6.3. Selo Qualiverde

Como o RB12 irá solicitar o Selo Qualiverde ao final da obra e o objetivo do Ibérico,

ainda na fase de projetos, era a obtenção desse selo, todas as medidas sustentáveis

empregadas nas edificações, agregam pontos para a obtenção da certificação.

Page 92: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

77

Ainda não há incentivos fiscais para empreendimentos com esse tipo de selo no Rio

de Janeiro.

Só pelo fato dessas obras serem de retrofit, o empreendimento já começa a contagem

com 15 pontos. Essa é a pontuação oferecida para obras desse tipo, que visam

aproveitar um imóvel antigo ao invés de construir um novo, reduzindo a quantidade de

resíduos gerados.

O Decreto número 35.745 lista todas as medidas passíveis de pontuação e seu valor

correspondente, deixando ainda um espaço para “Inovações Tecnológicas”, e cada

inovação aplicada, soma 1 ponto.

Como exemplo, pode ser citado o uso de descargas com duplo acionamento, presente

nos dois empreendimentos – 2 pontos; reuso de água – 1 ponto; aproveitamento de

águas pluviais – 1 ponto; pavimentação permeável, presente no restaurante – 2

pontos; aquecimento solar de água, também presente no Ibérico – mínimo 5 pontos;

iluminação artificial por LED – mínimo 2 pontos.

Além desses, muitos outros itens são pontuáveis nas áreas de gestão da água,

eficiência energética e projeto.

Para obter o selo, é necessário que as medidas atinjam 70 pontos, caso essa

pontuação seja 100 ou maior, a certificação passa a ser “Qualiverde Total”, conforme

informa o mesmo decreto.

6.4. Considerações finais do estudo de caso

Ao analisar os dois casos, observa-se que as soluções adotadas em cada um foram

distintas, porém todas com o mesmo intuito de tornar a construção mais sustentável,

diminuindo o consumo elétrico e de água. Até mesmo pelo fato de cada obra ter uma

finalidade diferente.

Na obra do restaurante, houve reaproveitamento de parte dos resíduos provenientes

das demolições necessárias para confecção de contra pisos e algumas outras funções

não estruturais, depois de passarem por todo o processamento necessário para

adequação para este fim. Utilizou-se também, sempre que possível, materiais

certificados e algumas vezes materiais reciclados.

No edifício comercial, essas medidas não foram implantadas. Uma das justificativas foi

o fato de ser um prédio comercial com o intuito de locação, e a utilização de materiais

reciclados poderia causar certa desconfiança quanto à qualidade destes nos

locatários.

Page 93: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

78

No edifício, a maior parte dos sistemas é automatizado, enquanto no restaurante, até

mesmo por ser um empreendimento menor, a solução aplicada foi a execução de

vários circuitos, para evitar o acendimento de luminárias desnecessariamente.

No restaurante há telhado verde para auxiliar na redução da temperatura interna e no

edifício, as soluções apresentadas para este fim foram os vidros especiais e

vegetação vertical.

Por ser uma construção própria, todas as luminárias do Ibérico são com lâmpadas

LEDs. No RB12, apenas as lâmpadas das áreas comuns são com essa mesma

tecnologia, as das salas particulares ficarão a cargo de cada empresa locatária a

decisão de qual tecnologia será utilizada. Cada uma será responsável por seu projeto

luminotécnico.

Pelo fato de não haver uma legislação específica para esse tipo de obra, foram

utilizadas normas que tratam de cada etapa de obra convencional.

Como dito anteriormente, as soluções são diferentes, mas todas com a mesma

finalidade de tornar o empreendimento mais sustentável. Além de cada uma ser mais

adequada para a edificação onde foi empregada, como foi exemplificado.

Page 94: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

79

7. CONCLUSÕES

O objetivo deste trabalho era mostrar o que está sendo estudado e empregado em

obras de retrofit para que estas sejam mais sustentáveis em todas as suas etapas,

desde o projeto até a sua demolição.

Por conta disso, este trabalho apresentou um embasamento teórico sobre as medidas

de sustentabilidade aplicadas em obras de retrofit, visando sempre uma redução do

gasto energético e economia de água, mas sem esquecer do bem estar do usuário.

Para isso, foram apresentados métodos construtivos utilizados em retrofit que visam

sempre esse resultado final além de mostrar dois casos em que foram implementados

retrofit, um nacional, que não foi concluído, e outro internacional, que é um

considerado um exemplo a ser seguido.

Ficou claro que, através das medidas apresentadas e muitas outras que estão sendo e

serão desenvolvidas, é possível sim atrelar economia, qualidade, sofisticação e bem

estar em um único projeto.

Passando pelo ciclo de vida da edificação antes e depois do retrofit, deve ser feita uma

análise do que era o edifício, se ele pode ser utilizado para o uso pretendido antes de

optar pelo retrofit, para não ser feito um alto investimento e depois concluir que não foi

uma boa ideia. Por isso as etapas de estudo e projeto são tão importantes. Se o

retrofit for bem empregado, a edificação sofrerá uma valorização altíssima além de o

investidor ter o lucro pretendido.

As empresas devem identificar e atender às necessidades do mercado, oferecendo

um produto com a qualidade desejada.

Pela análise teórica do retrofit de edificações, constatou-se a necessidade de ter uma

legislação específica para esse tipo de obra, uma vez que nas grandes cidades esse é

o futuro do mercado da construção, onde já não existem bons terrenos disponíveis

para novas construções ou estes são muito caros e as edificações estão ficando

obsoletas e subutilizadas devido à ação do tempo.

Através dos estudos de caso foi possível entender que, com um projeto bem

elaborado e estudos adequados, é possível adequar uma edificação antiga com

investimento em técnicas e materiais sustentáveis para a sua nova vida, sendo ela

similar ao antigo uso ou não, podendo até mesmo ter certificação sustentável.

Como sugestão para trabalhos futuros fica uma ação de conscientização da população

que ainda tem certo preconceito com esse tipo de empreendimento por acreditar que

este não possui qualidade se comparado a uma nova edificação, ajudar no

Page 95: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

80

desenvolvimento de uma legislação específica para retrofit, busca e análise de novos

materiais e técnicas compatíveis com a filosofia do retrofit.

Page 96: AS OBRAS DE RETROFIT SOB A VISÃO DA SUSTENTABILIDADE

81

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALUCCI, M. P. Uma Metodologia para Implantação de Edificação: Ênfase no

Desempenho Térmico, Acústico, Luminoso e Eficiência Energética. São Paulo:

Universidade de São Paulo, 2010.

ANTUNES, J. Sustentabilidade Corporativa. Sustantabilidade Corporativa, 2009.

Disponivel em: <http://www.sustentabilidadecorporativa.com/2009/11/sustentabildiade-

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