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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE EDUCAÇÃO – CE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO, LINGUAGEM E FORMAÇÃO DO LEITOR AS MÚLTIPLAS FACES DA EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA: A EXPERIÊNCIA DO CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO AMBIENTAL DO IFRN EM DOIS POLOS DE APOIO PRESENCIAL ALEKSANDRE SARAIVA DANTAS NATAL 2011

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Page 1: AS MÚLTIPLAS FACES DA EVASÃO NA EDUCAÇÃO … · UNED – Universidad Nacional de Educación a Distancia UNEMAT – Universidade Estadual do Mato Grosso UNESCO – United Nations

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE EDUCAÇÃO – CE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED

LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO, LINGUAGEM E FORMAÇÃO DO LEITOR

AS MÚLTIPLAS FACES DA EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A

DISTÂNCIA: A EXPERIÊNCIA DO CURSO DE TECNOLOGIA EM

GESTÃO AMBIENTAL DO IFRN EM DOIS POLOS DE APOIO

PRESENCIAL

ALEKSANDRE SARAIVA DANTAS

NATAL

2011

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ALEKSANDRE SARAIVA DANTAS

AS MÚLTIPLIAS FACES DA EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A

DISTÂNCIA: A EXPERIÊNCIA DO CURSO DE TECNOLOGIA EM

GESTÃO AMBIENTAL DO IFRN EM DOIS POLOS DE APOIO

PRESENCIAL

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação do Centro de

Educação da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como requisito parcial para

obtenção do título de Doutor em Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Maria das Graças

Pinto Coelho

NATAL

2011

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ALEKSANDRE SARAIVA DANTAS

AS MÚLTIPLIAS FACES DA EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A

DISTÂNCIA: A EXPERIÊNCIA DO CURSO DE TECNOLOGIA EM

GESTÃO AMBIENTAL DO IFRN EM DOIS POLOS DE APOIO

PRESENCIAL

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação do Centro de Educação da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título

de Doutor em Educação, para a comissão formada pelos professores:

_______________________________________________________________

Profa. Dra. Maria das Graças Pinto Coelho – Orientadora – PPGED/UFRN

_______________________________________________________________

Profa. Dra. Adir Luiz Ferreira – PPGED/UFRN

_______________________________________________________________

Profa. Dra. Maria Antônia Teixeira da Costa – UERN

_______________________________________________________________

Prof. Dr. Dante Henrique Moura – IFRN

_______________________________________________________________

Profa. Dra. Edna Gusmão de Góes Brennand – UFPB

________________________________________________________________

Prof. Dra. Marli Amarilha – PPGED/UFRN

________________________________________________________________

Profa. Dra. Emília Maria da Trindade Prestes – UFPB

Aprovado em _____/_____/2011

Natal, 2011

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AGRADECIMENTOS

À minha esposa, Socorro Feitosa, que, com companheirismo, incentivo, carinho e

compreensão, esteve sempre ao meu lado ao longo de toda essa jornada.

À Professora Maria das Graças Pinto, pela sua generosidade e confiança em me receber como

orientando e pelo apoio, incentivo e sugestões que contribuíram para que as reflexões

desenvolvidas neste trabalho adquirissem significado.

Aos professores Dante Henrique Moura e Adir Luiz Ferreira e às professoras Alda Maria

Duarte Araújo Castro, Apuena Vieira Gomes e Maria Antônia Teixeira da Costa, pelas

preciosas sugestões oferecidas e que foram fundamentais para a conclusão desse trabalho.

À minha mãe, Geiza, e à minha irmã, Elizângela, pelo incentivo ao longo de toda a minha

vida.

Aos servidores do PPGED, Letissandra, Milton e Edenise, que, com seu trabalho e dedicação,

oferecem uma contribuição fundamental para que alunos e professores do PPGED possam

desenvolver suas atividades com tranquilidade.

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, pelo

incentivo à minha qualificação.

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DANTAS, Aleksandre Saraiva. As múltiplas faces da evasão na educação superior a

distância: a experiência do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do IFRN em dois

polos de apoio presencial. Natal, Tese de Doutorado: Programa de Pós-Graduação em

Educação/UFRN, 2011.

RESUMO

Este trabalho apresenta uma reflexão sobre a evasão em cursos superiores oferecidos

através da educação a distância em um contexto marcado por profundas mudanças nas mais

diversas esferas da sociedade e pelo crescimento desordenado dessa modalidade educativa.

Para isso, toma como objeto de análise a realidade dos alunos do curso de Tecnologia em

Gestão Ambiental oferecido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio

Grande do Norte através da educação a distância nos polos de apoio presencial localizados

nas cidades de Mossoró e Martins. No desenvolvimento desta pesquisa de campo, faz uso de

estratégias de coleta de dados variadas, como: a observação participante da realidade; a

análise dos documentos referentes à educação a distância e ao curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental; e a aplicação de questionários com os alunos evadidos. Os resultados dessa

pesquisa nos permitem afirmar que a evasão em cursos superiores a distância é,

predominantemente, fruto de uma combinação de aspectos inerentes ao desenvolvimento do

curso, dificuldades de ordem pessoal enfrentadas pelos alunos durante o período em que

frequentam o curso e elementos inerentes ao contexto em que o curso e os alunos estão

inseridos, podendo haver situações específicas em que o aluno evade devido à influência de

um único aspecto, seja ele inerente ao desenvolvimento do curso, de ordem pessoal, ou ainda,

um fator determinado pelo contexto em que o curso ou o aluno está inserido.

Palavras-chave: percepções, dificuldades, motivações, evasão, educação a distância

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The multiple faces of the dropout in distance higher education: the experience of the course

Technology in Environmental Management at IFRN in two presence support poles

ABSTRACT

This research presents a reflection on the dropout rates in higher education courses

available through distance education in a context marked by deep changes in various spheres

of society and by the uncontrolled growth of this educational method. For this, the object of

analysis is related to the reality of students of Technology in Environmental Management

offered by the Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Norte

(RN), Brazil, through the distance education in presence support poles located in Mossoró

(RN) and Martins (RN). In this field research development several strategies of data

collection are used, such as participant observation of reality; analysis of documents related to

distance education and to the classes in Technology in Environmental Management;

questionnaires answered by students who dropped the course. The results of such research

enable us to say that the dropout rates in distance higher education is mainly referred to the

consequences of a combination of aspects involved in the course development, personal

difficulties faced by students during the period they attend the lessons and elements inherent

in the context in which the course and students are inserted. Nevertheless there are specific

situations in which the student may drop the program due to the influence of a single aspect,

whether it is inherent in the development of the course, a personal situation, or even a factor

determined by the context in which the course or the student belongs to.

Key-words: perceptions, difficulties, motivations, dropout, distance education

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: As macrouniversidades do mundo………………….……………………………...52

Tabela 2: Evolução do ensino superior através da EaD – Brasil: 2000-2009……………..….65

Tabela 3: Evolução percentual das IES credenciadas para a oferta de EaD, cursos superiores e

matrículas segundo a categoria administrativa – Brasil: 2000-2009.....……………………...66

Tabela 4: Definição de evasão e amplitude do conceito…………………………………..….68

Tabela 5: Número de alunos matriculados no curso de Tecnologia em Gestão Ambiental em

cada semestre…………………………………………………………………………...…….78

Tabela 6: Número de alunos que deixaram de frequentar o curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental em cada semestre...……………………………………………………………..…79

Tabela 7: Relação entre gênero, estado civil e exercício de atividade remunerada dos alunos

evadidos do polo de Mossoró………………………………………………………………...86

Tabela 8: Instituição de origem dos alunos evadidos do polo de Mossoró por dependência

administrativa............................................................................................................................87

Tabela 9: Nível de escolaridade dos alunos evadidos do polo de Mossoró quando iniciaram o

curso..........................................................................................................................................88

Tabela 10: Horário em que os alunos evadidos do polo de Mossoró estudavam com maior

frequência..................................................................................................................................89

Tabela 11: Relação entre gênero, estado civil e exercício de atividade remunerada dos alunos

evadidos do polo de Martins.....................................................................................................90

Tabela 12: Instituição de origem dos alunos evadidos do polo de Martins por dependência

administrativa............................................................................................................................91

Tabela 13: Nível de escolaridade dos alunos evadidos do polo de Martins quando iniciaram o

curso..........................................................................................................................................91

Tabela 14: Horário em que os alunos evadidos do polo de Martins estudavam com maior

frequência……………………………………………………………………………………..92

Tabela 15: Motivações dos alunos evadidos do polo de Mossoró para prestar vestibular......93

Tabela 16: Motivações dos alunos evadidos do polo de Martins para prestar vestibular…....93

Tabela 17: Expectativas dos alunos evadidos do polo de Mossoró com relação ao curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental............................................................................................96

Tabela 18: Expectativas dos alunos evadidos do polo de Martins com relação ao curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental............................................................................................98

Tabela 19: Atendimento às expectativas dos alunos evadidos do polo de Mossoró...............98

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Tabela 20: Justificativas dos alunos evadidos do polo de Mossoró que afirmam que suas

expectativas com relação ao curso não foram totalmente atendidas.........................................99

Tabela 21: Atendimento às expectativas dos alunos evadidos do polo de Martins................103

Tabela 22: Percepções dos alunos evadidos do polo de Martins acerca da EaD....................109

Tabela 23: Fatores inerentes ao desenvolvimento do curso apresentados como motivadores da

evasão pelos alunos evadidos do polo de Mossoró.................................................................113

Tabela 24: Local onde os alunos evadidos do polo de Mossoró acessavam a Internet..........126

Tabela 25: Fatores inerentes ao desenvolvimento do curso apresentados como motivadores da

evasão pelos alunos evadidos do polo de Martins..................................................................130

Tabela 26: Local onde os alunos evadidos do polo de Martins acessavam a Internet............132

Tabela 27: Fatores de ordem pessoal apresentados como motivadores da evasão pelos alunos

evadidos do polo de Mossoró..................................................................................................137

Tabela 28: Fatores de ordem pessoal apresentados como motivadores da evasão pelos alunos

evadidos do polo de Martins...................................................................................................139

Tabela 29: Fatores inerentes ao contexto apresentados como motivadores da evasão pelos

alunos evadidos do polo de Martins........................................................................................143

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LISTA DE SIGLAS

BM – Banco Mundial

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEFET-RN – Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte

CD-ROM – Compact Disk Read Only Memory (Disco compacto com memória para leitura)

CEAD – Coordenação de Educação a Distância

CES – Centros de Estudos Supletivos

CNED – Centre National d’Enseigment à Distance

CTC – Conselho Técnico-Científico da Educação Básica

CTVU – China TV University Sistem

DEB – Diretoria de Educação Básica Presencial

DED – Diretoria de Educação a Distância

DETED – Departamento de Gestão em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância

EaD – Educação a Distância

E-TEC – Escola Técnica Aberta do Brasil

ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio

ETFRN – Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte

FACENE – Faculdade de Enfermagem e Medicina Nova Esperança

FRM – Fundação Roberto Marinho

FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização

dos Profissionais da Educação

FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério

IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do

Norte

IES – Instituições de Ensino Superior

IFRN – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

IGNOU – Indira Gandhi National Open University

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

IPES - Instituições Públicas de Ensino Superior

IUB – Instituto Universal Brasileiro

KNOU – Korea National Open University

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MC – Ministério das Comunicações

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MEB – Movimento de Educação de Base

MEC – Ministério da Educação

MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização

OU – Anadolu University

PNE – Plano Nacional de Educação

PNU – Payame Noor University

PROCEFET – Programa de Iniciação Tecnológica e Cidadania

PROITEC – Programa de Iniciação Tecnológica e Cidadania

PROUNI – Programa Universidade para Todos

REUNI - Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades

Federais

RN – Rio Grande do Norte

SACI – Sistema Avançado de Comunicações Interdisciplinares

SAEB – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica

SEDUC – Secretaria de Estado de Educação

SEED – Secretaria de Educação a Distância

STOU – Sukhothai Thammathirat Open University

TCI – Tecnologias de Comunicação e Informação

TVE – Televisão Educativa

UAB – Universidade Aberta do Brasil

UERN – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

UFERSA – Universidade Federal Rural do Semi-Árido

UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

UKOU – The Open University

UNED – Universidad Nacional de Educación a Distancia

UNEMAT – Universidade Estadual do Mato Grosso

UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

UNICEF – United Nations Children's Fund (Fundo das nações Unidas para a Infância)

UniRede – Universidade Virtual Pública do Brasil

UNISA – University of South Africa

UnP – Universidade Potiguar

UT – Universitas Terbuka

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................12

1.1 Objetivos.............................................................................................................................19

1.2 Elementos teórico-metodológicos.......................................................................................19

1.3 Estrutura do trabalho...........................................................................................................25

2 UM NOVO CENÁRIO, NOVAS DEMANDAS EDUCACIONAIS E A VALORIZAÇÃO

DA EAD NO BRASIL..............................................................................................................27

2.1 O desenvolvimento das Tecnologias de Comunicação e Informação e a EaD...................28

2.2 A globalização, as mudanças no sistema produtivo e as novas demandas educacionais....32

2.3 A agenda neoliberal, a influência dos organismos internacionais na política educacional

brasileira na década de 1990 e a valorização da EaD...............................................................40

2.4 As mudanças na educação e a regulamentação da EaD no Brasil.....................................47

3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E EVASÃO..........................................................................51

3.1 Educação a distância no mundo.........................................................................................51

3.2 Educação a distância no Brasil: um pouco da história........................................................53

3.2.1 Formação de professores..................................................................................................54

3.2.2 Educação popular.............................................................................................................55

3.2.3 Televisão escolar substitutiva..........................................................................................56

3.2.4 Formação continuada ou educação ao longo da vida.......................................................57

3.3 A Universidade Aberta do Brasil como estratégia de expansão da educação superior......58

3.4 A evasão na EaD.................................................................................................................68

3.5 A EaD no IFRN e a concepção do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental na

modalidade de EaD...................................................................................................................73

3.6 A evasão no curso de Tecnologia em Gestão Ambiental oferecido através da modalidade

de EaD no IFRN........................................................................................................................78

4 O ALUNO EVADIDO DA EAD NO IFRN: PERFIL, EXPECTATIVAS, PERCEPÇÕES E

DIFICULDADES ENFRENTADAS NO DESENVOLVIMENTO DO CURSO...................81

4.1 A cidade de Mossoró...........................................................................................................81

4.2 A cidade de Martins e a importância da EaD para essa região...........................................83

4.3 O perfil do aluno evadido do polo de Mossoró...................................................................85

4.4 O perfil do aluno evadido do polo de Martins....................................................................89

4.5 Motivações dos alunos evadidos do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental nos polos

de Mossoró e Martins para prestar vestibular.........................................................................92

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4.6 Expectativas dos alunos evadidos do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental nos polos

de Mossoró e Martins...............................................................................................................95

4.7 Atendimento às expectativas dos alunos evadidos do curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental nos polos de Mossoró e Martins.............................................................................98

4.8 Percepções dos alunos evadidos do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental nos polos

de Mossoró e Martins com relação à EaD..............................................................................107

5 AS MOTIVAÇÕES PARA A EVASÃO NO CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO

AMBIENTAL ATRAVÉS DA EAD NO IFRN: UM INTENTO DE COMPREENSÃO A

PARTIR DAS PERCEPÇÕES DOS ALUNOS EVADIDOS DOS POLOS DE APOIO

PRESENCIAL DE MOSSORÓ E MARTINS.......................................................................112

5.1 Fatores inerentes ao desenvolvimento do curso que motivaram a evasão nos polos de

Mossoró e Martins..................................................................................................................112

5.2 Fatores de ordem pessoal que influenciaram os alunos dos polos de Mossoró e Martins na

decisão de evadir.....................................................................................................................137

5.3 Fatores inerentes ao contexto apresentados como motivadores da evasão pelos alunos

evadidos dos polos de Mossoró e Martins..............................................................................142

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................149

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................155

APÊNDICE A.........................................................................................................................165

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12

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas a articulação de fatores políticos, econômicos, sociais,

tecnológicos e pedagógicos está estimulando o desenvolvimento de atividades educacionais

através da Educação a Distância (EaD) em diversos países desenvolvidos ou em

desenvolvimento.

Organismos internacionais como o Banco Mundial (BM) têm recomendado a

utilização da EaD como estratégia para a expansão da educação superior, afirmando que a

EaD é uma modalidade educativa adequada ao atual contexto socioeconômico, devido a sua

capacidade de reduzir investimentos na área educacional, atendendo, com qualidade1 e

rapidez, a amplos segmentos da população.

Ao analisar as condições em que está ocorrendo o processo de rápida expansão da

EaD, Belloni (2003) ressalta que

É importante lembrar que a expansão da EaD e de AAD na última década representa muito menos o “triunfo da ideologia do acesso aberto” à educação e muito mais o impacto das forças do mercado e da situação de recessão econômica e conseqüentes políticas governamentais de restrição de recursos aplicados à educação. Observa-se na década de 90, em muitos países industrializados, uma rápida expansão do ensino superior não acompanhado de uma expansão proporcional de recursos de ensino. (BELLONI, 2003, p. 99)

Assim, apesar de toda desconfiança que envolve essa modalidade educativa2, a EaD

tem se consolidado como uma estratégia de expansão da oferta educacional voltada para o

atendimento às novas demandas por educação apresentadas por uma sociedade que se

caracteriza por aspectos como: acelerado processo de mudança, maior complexidade, grande

avanço tecnológico e pela compressão das relações de espaço e tempo.

Essas características da sociedade atual estão influenciando profundamente o mundo

do trabalho, pois a transição do paradigma econômico taylorista/fordista para o modelo de

acumulação flexível vem fazendo com que o trabalho se torne mais precário, mais

responsabilizado e com maior mobilidade.

Essa mudança de paradigma econômico também modifica as funções dos

trabalhadores, exigindo o desenvolvimento de novas habilidades e competências por parte

1 Entendemos que a qualidade na educação está diretamente ligada à capacitação de todos, mulheres e homens, para participarem plenamente da vida comunitária e para serem também cidadãos do mundo. 2 Vejamos, por exemplo, a resolução no 151/2008, do Conselho Federal de Biologia que, desde junho de 2008, proibia a concessão de registro profissional perante os Conselhos Regionais de Biologia para alunos formados nos cursos de Ciências Biológicas, Biologia e no Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes através da EaD. Somente em fevereiro de 2010, após o MEC entrar com uma medida judicial, a Justiça Federal assegurou aos alunos desses cursos a distância o direito de terem seus diplomas registrados.

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13

desses trabalhadores que, para se inserir em um mercado de trabalho cada vez mais restrito e

competitivo, devem apresentar características como: flexibilidade, eficiência, produtividade,

interação, aprimoramento, participação, interesse, envolvimento, competência, qualificação,

capacidade de gerir situações de grupo e estar sempre pronto para aprender.

O desenvolvimento de novas habilidades e competências aliado à necessidade de

aprendizado ao longo de toda a vida ampliam o leque de reivindicações feitas à educação

escolar que, mais que oferecer educação a todos os cidadãos, tem que assegurar a qualidade

dessa educação.

Quando observamos a realidade brasileira, também podemos perceber que, ao longo

das duas últimas décadas, a EaD tem sido foco de diversas ações objetivando o seu

fortalecimento, em sintonia com as recomendações do Banco Mundial.

Além da influência do BM, uma série de fatores conjunturais como a globalização, a

reestruturação produtiva e a redefinição do papel do Estado, fortemente influenciados por um

discurso de inspiração neoliberal, aliados à necessidade de formação ao longo da vida, à

expansão da oferta de educação básica e ao desenvolvimento de tecnologias de comunicação e

informação (TCI), contribuiu decisivamente para que o Brasil reconhecesse as possibilidades

oferecidas pela EaD como estratégia para diversificar, interiorizar e democratizar a oferta de

formação inicial e continuada para a população brasileira.

Para atender às novas e diversificadas demandas por formação apresentadas pela

população brasileira, o Ministério da Educação (MEC) tem desenvolvido diversas ações com

o objetivo de fortalecer o papel da EaD, com ênfase na oferta de educação superior. Entre

essas ações, gostaríamos de destacar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB

9.394/96), que apresenta a EaD como modalidade educacional regular e, mais recentemente, a

criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB).

Durante a primeira década do século XXI a EaD tem apresentado um crescimento

vertiginoso no que diz respeito à oferta de educação superior no Brasil, não apenas devido ao

papel desenvolvido pela UAB, mas, principalmente, devido ao forte investimento do setor

privado neste nível de ensino.

Apesar da ampliação significativa da oferta de cursos através da EaD e da difusão de

um discurso que argumenta que essa modalidade educativa pode oferecer uma contribuição

significativa no processo de saneamento do grande déficit educacional em nosso país,

atendendo tanto a necessidades de formação inicial, quanto de formação continuada e de

atualização profissional, a EaD não está isenta e problemas.

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14

Entre os diversos problemas enfrentados pela EaD, (O desenvolvimento da autonomia

do aluno, a interação entre professores e alunos, o trabalho dos professores, o uso das

tecnologias etc.) gostaríamos de destacar a questão da evasão discente, tendo em vista que

esse é um problema que atinge uma grande quantidade de cursos oferecidos através dessa

modalidade educativa.

De acordo com Loyolla (2011), o índice de evasão dos cursos é um indicador decisivo

na avaliação da instituição. Nesse sentido, o autor considera que, tanto na EaD quanto em

cursos presenciais, as taxas de 10% a 20% de evasão são aceitáveis, sendo desejáveis índices

abaixo de 10%. Porém, é comum encontramos cursos oferecidos através da EaD onde os

índices de evasão apresentados estão bem acima desse percentual.

Apenas a título de exemplo, gostaríamos de destacar a pesquisa desenvolvida por Maia

(2003), onde a autora constatou que os índices de evasão ainda são muito altos em alguns

cursos a distância, algo em torno de 68,0%. Com base nos resultados da pesquisa a autora

considera que isso poderia ser explicado pelo fato de que os cursos a distância são todos

muito novos para a maioria das Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras, uma vez que

quase todos os cursos estão na segunda ou terceira turma.

A autora ressalta ainda a necessidade de estudos que procurem analisar os níveis e

causas das altas taxas de evasão apresentadas por alguns cursos a distância e se esta evasão

está relacionada com a qualidade do curso.

De acordo com Palloff e Pratt (2004), os altos índices de evasão em cursos a distância

são apontados pelos críticos da EaD como uma medida de sua má qualidade. Esses autores

ressaltam que administradores passaram a se preocupar com a evasão nos cursos através da

EaD devido aos elevados custos para criar e manter cursos através dessa modalidade de

ensino.

Almeida (2007) considera que ensinar e estudar a distância, com a mediação das

modernas tecnologias de comunicação e informação, não são tarefas fáceis e que professor e

alunos precisam passar por uma mudança cultural. Para a autora, essa mudança cultural (ou a

falta dela) tem produzido alguns insucessos com relação ao uso da EaD, dentre eles a evasão

discente.

A análise dos resultados de algumas pesquisas3 acerca do fenômeno da evasão na EaD

aponta para a existência de um amplo repertório de elementos motivadores da evasão, tais

como: falta de tempo, falta de condições de estudo em casa ou no local de trabalho, falta de

3 Coelho (2000), Maia (2003), Favero (2006), Almeida (2007), Santos et al (2008), Freitas (2009) etc.

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15

organização pessoal, não atendimento às expectativas pessoais por parte do curso, frequência

de uso dos recursos eletrônicos de interação, características individuais dos alunos (idade,

gênero, escolaridade anterior, autonomia, motivação, domínio da tecnologia, habilidades de

estudo etc.), distância entre o local de trabalho e o local onde o curso era oferecido, falta de

equipamento adequado, problemas com a velocidade da Internet, falta de informações acerca

da importância do curso, problemas no desempenho do tutor, problemas de saúde pessoais ou

de familiares, o modelo de ensino, as tecnologias utilizadas, o ambiente de aprendizagem, o

desenho do curso etc.

Em cada pesquisa são apontados diversos fatores motivadores da evasão. Algumas

dessas pesquisas4 enfatizam aspectos intrínsecos ao curso como principais motivadores da

evasão, outras pesquisas destacam aspectos inerentes ao aluno5, existindo ainda pesquisas que

apontam para existência conjunta de fatores inerentes ao curso e aos alunos6, de modo que

fatores apontados com ênfase em algumas pesquisas são completamente esquecidos em outras

pesquisas.

Os resultados apresentados por essas pesquisas nos levam a acreditar que a evasão na

EaD é um fenômeno motivado por diversos fatores intrínsecos e extrínsecos ao curso e que

esses fatores aparecem com maior ou menor frequência de acordo com as condições inerentes

ao contexto em que o curso e os alunos estão inseridos, o perfil desses alunos, o modelo do

curso e a maneira como esse curso se desenvolve.

Almeida (2007, p. 19) afirma que

Há um consenso entre vários autores de que a evasão é um fenômeno multidimensional e que ainda precisa ser mais bem explorado. Saber quais os motivos que levam os alunos a não completarem o curso pode fornecer subsídios importantes para as instituições de ensino, que passariam a fazer um trabalho preventivo para reduzir os níveis de evasão.

Quando observamos especificamente a realidade do curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental, oferecido através da EaD pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), constatamos que, em alguns polos, a evasão

ultrapassava os 50,0% após apenas um ano de funcionamento do curso.

4 Maia (2003), Maia et al (2004), Coelho (2000) etc. 5 Santos et al (2008), Nascimento e Esper (2009) etc. 6 Almeida (2007), Favero (2006) etc.

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Diante dessa realidade, surgem os seguintes questionamentos:

a) Quais os fatores de ordem interna ou externa ao curso que têm influenciado o processo

de evasão discente no curso de graduação em Tecnologia em Gestão Ambiental

oferecido através da EaD?

b) Qual a influência do contexto em que o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental

está inserido na evasão discente?

c) Como o IFRN tem procedido para reduzir os índices de evasão nos polos de apoio

presencial?

Sem querer esgotar essa discussão, mas objetivando oferecer uma contribuição para o

debate acerca da evasão discente dentro do processo educativo através da EaD,

desenvolvemos esta pesquisa, tomando como objeto de análise o curso de Tecnologia em

Gestão Ambiental, oferecido pelo IFRN através da modalidade da EaD.

Nossa pesquisa parte da premissa de que múltiplos fatores podem influenciar na

decisão pela evasão por parte de aluno, de modo que características específicas do curso (se é

totalmente a distância ou semipresencial), o contexto em que esse curso é implantado, as

metodologias de trabalho desenvolvidas, as formas de interação entre professores, tutores,

alunos e coordenadores dos cursos, os recursos tecnológicos utilizados e o perfil dos alunos,

entre outros elementos, podem exercer ou não influência na decisão pela evasão, dependendo

da maneira como cada um desses aspectos se apresente ao longo do curso.

Dessa maneira, esperamos não apenas identificar as causas da evasão discente no

curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do IFRN, como também, conhecer de que modo

cada aspecto identificado como motivador da evasão se desenvolveu para que possamos

entender porque ele motivou a evasão e, principalmente, como ele poderia se desenvolver

adequadamente para que a evasão possa ser evitada.

Além disso, consideramos necessário ressaltar que, tão importante quanto identificar

possíveis causas da evasão discente, é fundamental conhecer o aluno da EaD, suas

expectativas ao optar por essa modalidade educativa, suas percepções acerca do curso que

escolheu e da própria EaD e as dificuldades enfrentadas durante o tempo em que permaneceu

no curso, pois essas informações podem nos ajudar a compreender com maior clareza porque

se deu a evasão no curso analisado.

É importante ressaltar que a realização de pesquisas que procurem identificar as causas

da evasão em cursos oferecidos através da EaD se justifica pelo fato de que

A produção científica que trata da evasão em cursos a distância ainda é escassa tanto na literatura nacional como estrangeira. Esta escassez pode ser justificada em função

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do pouco lastro histórico que a Educação a Distância apresenta dentro dessa nova perspectiva tecnológica. Há indícios de que uma série de fatores pode dar origem a não conclusão de cursos a distância, entre eles os relacionados à vida pessoal e profissional do aluno; às características do desenho instrucional do curso; sistema de tutoria; falta de suporte administrativo e outros. (ALMEIDA, 2007, p. 19)

Além disso, se considerarmos o investimento público em cursos através da EaD, fica

evidente que cada aluno evadido representa um prejuízo para a instituição promotora do

curso, que investe na organização de uma infraestrutura capaz de atender a um determinado

número de alunos e vê essa infraestrutura e seus profissionais serem subutilizados devido a

evasão.

Assim, através desta pesquisa esperamos estar contribuindo para uma melhor

compreensão dos fatores que influenciam na evasão discente do curso de Tecnologia em

Gestão Ambiental oferecido através da EaD, bem como para a ampliação do debate sobre a

evasão na EaD. Além disso, esperamos poder apontar ações que possam contribuir para

diminuir os índices de evasão discente, favorecendo o fortalecimento e a ampliação dos

cursos oferecidos através da EaD no IFRN.

Nosso interesse pela questão da evasão na EaD não se deve apenas à relevância da

temática em uma conjuntura de expansão desordenada dessa modalidade educativa, mas

também ao fato de que acreditamos que a EaD pode oferecer uma contribuição importante

para a ampliação do acesso à educação superior, especialmente para aquelas populações que

residem em regiões afastadas das Instituições de Ensino Superior (IES) presenciais.

A nossa crença nas possibilidades oferecidas pela EaD se deve ao fato de já havermos

frequentado um curso de Mestrado, oferecido pela Universidade Federal de Santa Catarina

(UFSC), através dessa modalidade educativa, onde pudemos constatar que, quando

desenvolvida adequadamente, contando com a participação de alunos e professores

comprometidos com o processo educativo, a EaD é capaz de proporcionar aprendizagens

significativas.

Nesse caso específico, a EaD oportunizou a alunos localizados no Rio Grande do

Norte, a possibilidade de participar de um curso de pós-graduação oferecido na região Sul do

País, sem a necessidade de se deslocar para aquela região.

É importante ressaltar que, quando afirmamos nossa crença nas possibilidades

oferecidas pela EaD, não estamos falando da EaD como estratégia para expansão desordenada

da oferta de educação, sem nenhuma preocupação com a qualidade do funcionamento dos

cursos oferecidos, dos materiais produzidos e do acompanhamento dos alunos. Também não

estamos falando do uso da EaD como estratégia para a oferta de cursos por determinadas

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instituições de ensino privadas, preocupadas unicamente com o aumento de seus lucros, para

alunos que só querem adquirir um diploma de graduação ou de pós-graduação.

Acreditamos em um modelo de EaD como estratégia para a oferta de cursos onde seja

evidente a preocupação com a qualidade das atividades desenvolvidas e não com a quantidade

de alunos atendidos. Cursos estes que atendam às necessidades educacionais de populações

que, por questões geográficas ou por dificuldades para frequentar uma instituição onde as

atividades ocorrem em horários regulares, foram excluídas das atividades educacionais

presenciais e não puderam dar continuidade à sua formação.

Desejamos enfatizar a nossa crença na importância da ampliação da oferta de

educação superior presencial. Porém, a defesa da expansão da oferta de educação superior

presencial não nos faz considerar a EaD uma modalidade educativa de segunda categoria,

destinada à formação de profissionais de segunda categoria. Temos clareza de que, quando

desenvolvida por instituições preparadas e profissionais qualificados, a EaD permite a pessoas

excluídas dos processos presenciais de ensino, o acesso a uma formação, inicial ou

continuada, dentro de padrões de qualidade desejáveis para qualquer curso, seja ele oferecido

através da EaD ou de forma presencial.

Nesse sentido, muitas críticas apresentadas ao longo deste trabalho não são críticas à

EaD em si, mas à forma como diversos elementos inerentes ao funcionamento do curso

analisado foram desenvolvidos pelo IFRN.

É importante ressaltar que esse trabalho não busca apresentar a EaD e a educação

presencial como processos educativos antagônicos. Compartilhamos com Belloni (2003) a

crença de que, cada vez mais, essas modalidades educativas podem ser integradas e já é

possível perceber que isso está acontecendo quando constatamos que os alunos dos cursos a

distância são obrigados a participar de uma quantidade significativa de atividades presenciais.

Por outro lado, constatamos que professores que atuam na educação presencial estão fazendo

uso de estratégias de ensino típicas dos cursos a distância como, por exemplo, o uso de blogs

com o objetivo de estimular o estudo colaborativo e estender as discussões feitas em sala de

aula para o ambiente virtual.

Com base na literatura que aborda a problemática da evasão na EaD e pelo fato de já

estarmos em contato com a realidade da instituição analisada, defendemos a seguinte tese:

A evasão em cursos a distância é fruto de uma combinação de dificuldades de ordem

pessoal com aspectos inerentes ao funcionamento do curso que foram desenvolvidos de forma

inadequada e elementos específicos apresentados pelo contexto em que o curso e os alunos

estão inseridos. Além disso, podem existir situações em que o aluno decide evadir devido à

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influência de um único aspecto, seja ele inerente ao desenvolvimento do curso, de ordem

pessoal, ou ainda, um fator determinado pelo contexto em que o curso ou o aluno está

inserido.

1.1 Objetivos

Para que possamos verificar a validade dessa tese, o desenvolvimento deste trabalho

busca identificar os fatores que influenciaram na evasão dos alunos do curso superior de

Tecnologia em Gestão Ambiental oferecido através da EaD pelo IFRN, vinculados aos polos

de Mossoró e Martins, procurando conhecer como esses fatores foram desenvolvidos dentro

do curso e porque se tornaram motivadores de evasão, em um contexto marcado por

profundas mudanças nas mais diversas esferas da sociedade e pelo crescimento desordenado

dessa modalidade educativa.

Com o objetivo de validar ou refutar a tese apresentada buscaremos enfatizar aspectos

como: o perfil do aluno, as suas expectativas com relação ao curso e a EaD, os fatores de

ordem pessoal, o trabalho dos professores e tutores, os processos de interação entre

professores, tutores e alunos, bom como os processos de integração entre os próprios alunos,

as estratégias utilizadas para desenvolver a autonomia do aluno, o nível de dificuldade das

tarefas desenvolvidas ao longo do curso, a possibilidade de cursar uma faculdade presencial, o

acompanhamento promovido pela coordenação do curso, os aspectos inerentes ao contexto

em que o curso e os alunos estão inseridos, bem como o contexto em que as políticas

objetivando a expansão da EaD estão ocorrendo.

1.2 Elementos teórico-metodológicos

De acordo com Triviños (1987) a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como

fonte direta dos dados, buscando descrever a essência do fenômeno, identificar as causas da

sua existência, explicando sua origem, relações, mudanças e consequências para os sujeitos

envolvidos.

Além disso, a pesquisa qualitativa “[…] envolve a obtenção de dados descritivos,

obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do

que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes”. (LÜDKE, ANDRÉ,

1986, p. 07)

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Por apresentar essas características, consideramos que a pesquisa qualitativa nos

fornece o enfoque adequado para a análise do fenômeno da evasão discente no curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental, oferecido através da EaD pelo IFRN, o que nos permite

afirmar que o método de abordagem deste trabalho é um estudo exploratório sob o enfoque da

pesquisa qualitativa.

Coincidentemente, Lüdke e André (1986), ao justificarem a importância da abordagem

qualitativa na pesquisa educacional, reforçam o acerto da nossa opção por essa abordagem na

análise da questão da evasão na EaD, ao afirmar que

Por exemplo, se quisermos estudar o problema da evasão e da repetência no 1° grau a nível estadual, não há melhor meio de se conseguir uma visão geral do problema do que efetuando um levantamento junto aos estabelecimentos da rede escolar. Porém, se quisermos saber o que se passa dentro da sala de aula, que acaba contribuindo para aumentar a evasão e a repetência, não é exatamente o levantamento que irá nos ajudar, mas um outro tipo de estudo, que permita compreender a trama intricada do que ocorre numa situação microssocial. (LÜDKE, ANDRÉ, 1986, p. 07)

Por não se contentar com visões panorâmicas do fenômeno analisado, pela

preocupação em ir ver mais de perto, consideramos que a metodologia adotada nesta pesquisa

apresenta elementos da pesquisa etnográfica, pois a etnografia [...] procura, antes de tudo

compreender, aproximando o que está distante, tornado familiar o que é estranho (BEAUD,

WEBER, 2007, p. 10).

De acordo com Lüdke e André (1986), a pesquisa etnográfica adota como referência

duas hipóteses acerca do comportamento humano:

A hipótese qualitativo-fenomenológica, que considera ser quase impossível

compreender o comportamento humano sem que se busque entender o quadro referencial

dentro do qual os indivíduos interpretam seus sentimentos, pensamentos e ações, de modo que

o pesquisador deve possuir a habilidade de exercer o papel subjetivo de participante e o papel

objetivo de observador, colocando-se numa condição singular para compreender e explicar o

comportamento humano;

A hipótese naturalista-ecológica, que considera que o comportamento humano é

profundamente influenciado pelo contexto em que o indivíduo está situado.

Nesse sentido, consideramos importante situar o problema da evasão discente no curso

de tecnologia em Gestão Ambiental oferecido pelo IFRN através da EaD, no contexto mais

amplo em que essa instituição, o curso e seus alunos, estão inseridos, pois reconhecemos a

influência do ambiente (social, econômico, cultural etc.) sobre os seus atores.

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Ao reconhecermos a influência do contexto sobre os seus atores, concordamos com

Triviños (1987), quando esse autor afirma que

Se estes são retirados de seu meio habitual é muito difícil chegar a conclusões verdadeiras sobre seu comportamento. O ambiente, o contexto no qual os indivíduos realizam suas ações e desenvolvem seus modos de vida fundamentais tem um valor essencial para alcançar das pessoas uma compreensão mais clara de suas atividades. O meio, com suas características físicas e sociais, imprime aos sujeitos traços peculiares que são desvendados à luz do entendimento dos significados que ele estabelece. Por isso, as tentativas de compreender a conduta humana isolada do contexto no qual se manifesta criam situações artificiais que falsificam a realidade, levam ao engano, a elaborar postulados não adequados, a interpretações equivocadas. (TRIVIÑOS, 1987, p. 122)

Para conseguirmos atingir os objetivos propostos, tomamos como objeto de análise o

curso de Tecnologia em Gestão Ambiental oferecido pelo IFRN nas cidades de Mossoró,

Martins, Currais Novos e Luiz Gomes.

Por estarmos interessados em conhecer a influência do contexto em que o curso e os

alunos estão inseridos na decisão de evadir, decidimos analisar o fenômeno da evasão

discente em mais de uma realidade. Assim, adotamos a estratégia de realizar nossa pesquisa

nos polos de EaD do IFRN situados nas cidades de Mossoró e Martins.

No início do terceiro período letivo7, o polo de Mossoró apresentava o maior índice de

evasão (55,0%), enquanto que o polo de Currais Novos apresentava um índice de evasão de

51,85%. O menor índice de evasão era apresentado pelo polo de Martins (21,15%), enquanto

que o polo de Luiz Gomes apresentava uma evasão de 29,09%.

Se os polos de Mossoró e Currais Novos contam com toda a infraestrutura dos campi

do IFRN onde estão situados, porque nesses locais a evasão é maior que nos polos que

contam apenas com a infraestrutura oferecida pelas prefeituras municipais?

Assim, escolhemos os polos de Mossoró e Martins como locais para a realização da

nossa análise por entendermos que esses polos representam as realidades citadas

anteriormente, além de estarem situados em contextos bastante distintos, no que diz respeito

aos aspectos sociais, econômicos, geográficos etc.

Para atingir os objetivos propostos nessa pesquisa fizemos uso de técnicas de coleta de

dados variadas, que são:

a) Análise dos documentos referentes à EaD no IFRN e ao curso de Tecnologia em

Gestão Ambiental oferecido pelo IFRN através da EaD;

7 A ênfase dada às taxas de evasão no início do terceiro semestre letivo se deve ao fato de que foi nesse período que fizemos a escolha dos polos que seriam analisados ao longo da pesquisa.

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Macedo (2000) considera que os documentos oficiais são fontes importantes para as

pesquisas educacionais, pois fixam experiências, revelam inspirações, sentidos, normas e

conteúdos valorizados, tornando-se fundamental para a compreensão da instituição educativa.

De acordo com esse autor, “[...] podemos comprovar que a própria vida escolar e seus

rituais é muito feita a partir de orientações contidas em documentos. Isto é, sua burocracia

aparece com todas as suas inspirações em meio à prática de uma cultura gráfica.” (MACEDO,

2000, p. 171). Além disso, por serem fontes estáveis de pesquisa, os documentos facilitam

sobremaneira o entendimento da qualidade das práticas humanas.

Nesse sentido, a análise do Projeto do Curso Superior de Tecnologia em Gestão

Ambiental na modalidade de EaD e do Manual do aluno Tecnólogo em Gestão Ambiental na

modalidade de EaD, entre outros documentos que surgiram ao longo da pesquisa, foi

fundamental para o entendimento de como o IFRN compreende as práticas educativas através

da EaD, de sua proposta de trabalho com essa modalidade educativa, do papel a ser

desenvolvido pelos profissionais envolvidos nas atividades do curso analisado, da efetividade

das atividades desenvolvidas e do comportamento a ser apresentado pelos alunos do curso.

b) Observação participante da realidade, onde buscamos conhecer as atividades

desenvolvidas nos momentos presenciais do curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental do IFRN;

O interesse em observar os alunos no momento em que desenvolviam suas atividades,

permanecendo com eles por um longo período de tempo, deveu-se a necessidade de conhecer

intimamente aspectos do seu comportamento relevantes para o desenvolvimento da pesquisa,

bem como o contexto em que se deram essas ações.

A necessidade de conhecer de forma minuciosa os alunos e o contexto em que esses

alunos desenvolviam suas atividades se deve ao fato de que

[...] se é correto supor que pessoas, na sua vida cotidiana, ordenam seu meio, atribuem significados e relevância a objetos, fundamentam suas ações sociais em racionalidades de senso-comum, não se pode fazer pesquisa de campo ou usar qualquer outro método de pesquisa nas ciências antropossociais sem levar em consideração o princípio da interpretação contextualizada. (MACEDO, 2000, p. 148)

Considerando especificamente a observação participante, poderíamos entendê-la como

o processo no qual um investigador estabelece um relacionamento multilateral e de prazo

relativamente longo com uma associação humana, na sua situação natural, com o propósito de

desenvolver um entendimento científico daquela associação.

Entre as vantagens desse método, podemos citar:

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Primeiro, é menos provável que ele leve os pesquisadores a impor a sua própria realidade sobre o mundo social que eles buscam entender. Segundo, o processo de entendimento da ação é omitido em outras formas de pesquisa, e como e por que as pessoas mudam não é entendido. Terceiro, durante as entrevistas, podem se expressar diferenças culturais ou de linguagem. Nesse caso, os observadores podem registrar as suas próprias experiências para entenderem o universo cultural que as pessoas ocupam (experiências subjetivas) e transmitir essas observações para um público maior (a partir das anotações de campo) ao explicar os seus dados (estrutura teórica). (MAY, 2004, p. 180)

A nossa atuação na observação participante ocorreu no período de dezembro de 2008 a

abril de 2010 e se deu na condição de participante como observador. A observação da

realidade no polo de Mossoró ocorreu entre os meses de dezembro de 2008 e novembro de

2009. Já a observação das atividades no polo de Martins teve início em setembro de 2009 e

terminou em abril de 2010.

De acordo com May (2004), o participante como observador adota um papel público,

tornando sua presença e suas intenções conhecidas para o grupo onde se dá a observação, sem

tentar agir como alguém do grupo analisado. Assim, o observador torna-se um “fã” que deseja

conhecer e entender melhor as pessoas envolvidas no processo analisado, desenvolvendo uma

série de relacionamentos com os sujeitos para que eles sirvam tanto como respondentes

quanto como informantes.

Macedo (2000) apresenta três tipos de implicação do pesquisador em relação ao

campo de pesquisa que emergem da prática da observação participante: a participação

periférica (quando o pesquisador prefere não ser admitido no âmago das atividades); a

participação ativa (quando o pesquisador procura desempenhar um papel no interior do grupo)

e a participação completa (quando o pesquisador faz parte do quadro da instituição onde se

desenvolve a pesquisa).

Se considerarmos os tipos de implicação em relação ao campo de pesquisa,

acreditamos ter desenvolvido um papel que se enquadra na participação periférica, pois,

apesar de trabalharmos na instituição analisada, optamos por não assumir nenhum papel

importante na situação estudada, para não corrermos o risco de perder o distanciamento

necessário à análise da realidade.

Através da observação participante buscamos conhecer como se desenvolviam os

momentos presenciais, as atividades desenvolvidas pelos alunos nesses momentos e o

contexto em que os alunos desenvolviam essas atividades. Além disso, a observação dessas

atividades no próprio polo nos mostrou a importância de desenvolvermos outras técnicas de

coleta de dados com os alunos evadidos, para que pudéssemos conhecer com maior

profundidade a realidade observada nos momentos presenciais, bem como aspectos do

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desenvolvimento do curso que não ocorrem nos momentos presenciais, compreendendo mais

adequadamente a realidade analisada e comprovando a validade das informações obtidas

através da observação dessa realidade, pois, por se tratar de um curso oferecido através da

EaD, a observação dos momentos presenciais não possibilita a apreensão de toda a realidade a

ser analisada.

Desse modo, consideramos necessário adotar outra técnica de coleta de dados, que foi:

c) Aplicação de questionários abertos com os alunos evadidos do curso de Tecnologia em

Gestão Ambiental do IFRN.

Apesar de reconhecer a importância da entrevista como instrumento de coleta de dados

na pesquisa qualitativa, a opção pelo questionário aberto se deve ao fato de que alguns alunos

evadidos não residiam nas cidades em que os polos estão localizados, havendo casos em que o

aluno passou a residir fora do Brasil após a decisão de abandonar o curso. Além disso, a

maioria dos alunos evadidos exerce alguma atividade educativa ou profissional, de modo que

se tornou difícil agendar entrevistas com muitos desses alunos.

Além disso, como estávamos interessados em traçar um perfil dos alunos identificando

aspectos como: idade, sexo, local de moradia, exercício de atividade remunerada etc.,

consideramos que a aplicação do questionário seria mais oportuna para a obtenção dessas

informações.

Nesse sentido, concordamos com a ideia de que

[...] na medida em que elaboram-se questões abertas no questionário e tem-se o cuidado para que estas questões sejam indexadas ao contexto do estudo, o questionário pode ser útil às etnopesquisas, porquanto em alguns momentos a entrevista em profundidade torna-se um instrumento de difícil realização por vários motivos, verbi gratia, uma indisponibilidade do informante que, por motivos vários, não pode ou se recusa a ser entrevistado. Em outros momentos, a aplicação de um questionário se dá porque o pesquisador está interessado em alguns dados pessoais dos sujeitos que participam da pesquisa, como nome, data de nascimento, local de moradia, profissão etc. (MACEDO, 2000, p. 169)

Através da aplicação dos questionários buscamos obter um registro mais sistematizado

do perfil dos alunos evadidos, das suas expectativas e percepções acerca do curso e da EaD,

das suas dificuldades no desenvolvimento de um curso oferecido através da EaD e dos

motivos que levaram esses alunos a optar pela evasão do curso.

De acordo com Maroy (1997), a técnica de triangulação dos dados pode ser utilizada

para que possamos minimizar os efeitos do campo sobre o investigador, assegurando a

validade dos dados recolhidos.

Para esse autor

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A triangulação é um modus operandi para obter a confirmação de um dado que consiste em multiplicar as fontes e métodos de escolha (por exemplo, cruzar testemunhos sobre os mesmos factos, ou melhor, testemunhos e dados factuais). É particularmente útil quando se visa obter informações factuais sobre uma realidade, e não apenas representações construídas de um ou de outro actor. (MAROY, 1997, p. 151)

Desse modo, a opção pela adoção de procedimentos variados de coleta de dados

objetiva a triangulação das informações obtidas, ou seja, a realização de uma análise

comparativa das informações obtidas durante a observação da realidade com as informações

obtidas através dos questionários respondidos pelos alunos evadidos dos polos de Mossoró e

Martins, considerando ainda as ideias apresentadas pelos documentos que orientam o

funcionamento do curso analisado.

Por considerarmos que “A técnica da triangulação tem por objetivo básico abranger a

máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco em estudo.” (TRIVIÑOS,

1987, p. 138), acreditamos que a triangulação dos dados obtidos possibilitará uma

compreensão mais adequada das realidades analisadas, diminuindo os riscos de eventuais

equívocos na interpretação dessas realidades.

1.3 Estrutura do trabalho

Para que pudéssemos promover um entendimento adequado das ideias apresentadas,

buscamos organizar este texto, produto da pesquisa, a partir da seguinte estrutura:

Tomando como referência as ideias de autores como: Castells (2008), Schaff (2007),

Harvey (1993), Pereira (1998), Braverman (1987), Castro e Cabral Neto (2009), Giddens

(1991; 2000), Hall (2006), Farah (1995), Frigotto (1996), Torres (1996), Giolo (2008), entre

outros autores que surgiram ao longo da pesquisa, iremos, no primeiro capítulo, apresentar as

mudanças no contexto nacional e global, com a emergência das tecnologias de comunicação e

informação, o aprofundamento da globalização, a hegemonia do discurso neoliberal no Brasil

na década de 1990, a redefinição do papel do Estado, as novas demandas por formação e as

implicações desses elementos para a educação brasileira e, em especial, para a EaD.

No segundo capítulo, apresentaremos um pouco da história da EaD, destacando

algumas das principais experiências desenvolvidas ao longo do século XX. Evidenciaremos as

ações desenvolvidas a partir da década de 1990 voltadas para o fortalecimento da EaD no

Brasil e que culminaram com a criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Além disso,

buscaremos apresentar o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, bem como a

problemática da evasão discente na EaD, enfatizando a realidade do curso de Tecnologia em

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Gestão Ambiental e a consequente necessidade de pesquisas que procurem identificar as

causas dessa evasão.

Para isso, tomamos como referência as ideias de autores como: Preti (1996; 2000),

Saraiva (1996), Belloni (1998; 2002; 2003), Giolo (2008), Balmant (2006), Dourado (2008),

Palloff e Pratt (2002), Biazus (2004), Favero (2006), Abbad, Carvalho e Zerbini (2006),

Nascimento e Esper (2009), Maia et al (2004), Coelho (2000), Santos et al (2008) entre outros

autores. Também utilizaremos documentos do Banco Mundial, documentos oficiais e o Plano

do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental (2006).

Com base nas ideias apresentadas nos dois primeiros capítulos, utilizamos o terceiro

capítulo para apresentar o contexto em que os polos de apoio presencial de Mossoró e Martins

estão inseridos, bem como uma análise das percepções, expectativas e dificuldades

apresentadas pelos alunos evadidos desses polos.

Ainda com base na literatura apresentada nos dois capítulos iniciais, procuramos, no

quarto capítulo, apresentar uma análise dos principais fatores que, segundo os alunos evadidos

dos polos de Mossoró e Martins, influenciaram na decisão pela evasão, ressaltando o porquê

de esses elementos haverem se tornado causas da evasão.

Por último, apresentaremos as considerações finais, onde procuraremos sintetizar as

principais ideias apresentadas durante a pesquisa, identificando as principais causas da evasão

discente e apontando algumas estratégias que poderiam ser desenvolvidas objetivando evitar

essa evasão.

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2 UM NOVO CENÁRIO, NOVAS DEMANDAS EDUCACIONAIS E A

VALORIZAÇÃO DA EAD NO BRASIL

Neste capítulo apresentaremos uma breve análise das mudanças tecnológicas, sociais,

econômicas, políticas e culturais que estão ocorrendo no contexto nacional e global, com a

emergência das tecnologias de comunicação e informação, o aprofundamento da globalização,

a hegemonia do discurso neoliberal no Brasil na década de 1990, as iniciativas objetivando a

redefinição do papel do Estado brasileiro, as novas demandas por formação e as implicações

desses elementos para a educação brasileira e, em especial, para o fortalecimento da EaD.

Embora essa análise trate da problemática da evasão dos alunos do curso superior de

Tecnologia em Gestão Ambiental oferecido através da EaD pelo IFRN, consideramos

necessário situar essa questão em relação ao contexto mais amplo em que a EaD está inserida,

pois concordamos com a ideia de que

Pensar a EAD, implica pensar a educação, situando-a num contexto socioeconômico-político-cultural, buscando compreender a relação entre o processo de escolarização e a reprodução de economias de poder e privilégio na sociedade mais ampla. Significa, ainda, perspectivar a educação em termos de alcance de objetivos que deixem claras as posições político-metodológicas da proposta educativa que se quer desenvolver (NEDER, 2000a, p. 107).

Como veremos posteriormente, diversas ações foram e vêm sendo desenvolvidas ao

longo das duas últimas décadas objetivando promover a expansão da EaD no Brasil,

utilizando o argumento de que essa modalidade educativa pode oferecer uma grande

contribuição no que diz respeito à solução para o déficit educacional do país.

No caso específico da educação superior pública, o governo federal usou esse

argumento para justificar a criação da UAB, afirmando que através desta instituição o Brasil

poderia ampliar, diversificar e interiorizar a oferta desse nível de ensino.

Nesse sentido, concordamos com Castro e Cabral Neto (2009), quando esses autores

afirmam que

A ampliação da oferta educacional por meio da EAD coaduna-se tanto com os princípios do atual modelo de administração pública que busca construir alternativas de políticas com fulcro na eficácia e na eficiência, no aumento da produtividade e na redução do custo aluno, quanto com o redimensionamento do papel do Estado na oferta da educação superior. Essas diretrizes são disseminadas como pressupostos da reforma educacional defendida pelos organismos internacionais, que apresentam a EAD como estratégia ideal para atingir um grande contingente de pessoas dentro e fora do sistema educacional. (p. 86)

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Tendo em vista que aspectos mais abrangentes como o desenvolvimento de novas

TCI, a globalização, a emergência do ideário neoliberal, as iniciativas voltadas para a

promoção da reforma do Estado, a reestruturação produtiva e as novas demandas por

formação influenciam a agenda educacional brasileira, estimulando o desenvolvimento de

atividades educativas através da EaD, procuraremos evidenciar que a expansão da EaD no

Brasil não se deve apenas à necessidade de elevação dos índices de formação da população,

mas também ao seu caráter econômico, que tem determinado muitas atividades através de

EaD.

2.1 O desenvolvimento das Tecnologias de Comunicação e Informação e a EaD

A partir da década de 1970, um novo paradigma tecnológico, organizado com base na

tecnologia da informação, veio a ser constituído, passando a remodelar a base material da

sociedade em ritmo acelerado através da indução de um padrão de descontinuidade nas bases

materiais da economia, sociedade e cultura, de modo que, por todo o mundo, as economias

passaram a manter uma interdependência global, caracterizada por uma nova forma de

relacionamento entre economia, Estado e sociedade.

Essas tecnologias têm grande penetrabilidade nas mais diversas esferas da atividade

humana, passando a ser apropriadas pelas mais diversas instituições, com os mais diferentes

objetivos e usos, possibilitando a ampliação do escopo das transformações tecnológicas.

Essa relação dialética entre base (técnica, ciência, produção e serviços/economia) e

superestrutura (sociedade, política e cultura) evidencia as conexões entre o desenvolvimento

tecnológico ocorrido a partir da década de 1970 e as relações sociais.

De acordo com Castells (2008), o agrupamento dessas tecnologias em torno de redes

de empresas, organizações e instituições formaram um novo paradigma sociotécnico, cujas

principais características são: a centralidade da informação (são tecnologias para agir sobre a

informação); a penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias; a lógica de redes em

qualquer conjunto de relações, usando essas tecnologias; a flexibilidade; e a convergência de

tecnologias específicas para um sistema altamente integrado.

De acordo com esse autor, a atual revolução tecnológica originou-se e se difundiu em

um contexto de reestruturação global do capitalismo, atuando como uma ferramenta

fundamental nesse processo a partir da década de 1980. Desse modo, a sociedade emergente

desse processo de reestruturação é capitalista (modo de produção) e informacional (modo de

desenvolvimento).

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Nesse sentido, a reestruturação do capitalismo8 e a difusão do informacionismo são

processos inseparáveis em escala global, pois

[...] o fator histórico mais decisivo para a aceleração, encaminhamento e formação do paradigma da tecnologia da informação e para a indução de suas conseqüentes formas sociais foi/é o processo de reestruturação capitalista, empreendido desde os anos 80, de modo que o novo sistema econômico e tecnológico pode ser adequadamente caracterizado como capitalismo informacional. (CASTELLS, 2008, p. 55)

Além disso, sem o desenvolvimento das novas tecnologias da informação, a

reestruturação do capitalismo em sua fase global teria sérias limitações (no gerenciamento

flexível, na produção, na integração dos mercados etc.), de maneira que o modo de

desenvolvimento informacional está vinculado à expansão e ao rejuvenescimento do

capitalismo, como o modo de desenvolvimento industrial estava ligado a sua constituição

como modo de produção.

É importante ressaltar que esse processo de reestruturação do capitalismo tem

consequências diretas sobre as condições em que os trabalhadores realizam suas atividades,

pois estimula o desemprego através da substituição de trabalhadores por máquinas, favorece a

precarização das condições de trabalho de grande parte dos trabalhadores e estimula a

competição entre os próprios trabalhadores por um lugar em um mercado de trabalho cada vez

mais restrito.

Além das consequências para o mundo do trabalho, as iniciativas objetivando a atual

reestruturação do capitalismo têm como principais consequências: a integração global dos

mercados financeiros; a acentuação das desigualdades entre regiões dinâmicas da sociedade e

regiões não pertinentes sob a perspectiva da lógica do sistema; a transformação da condição

feminina; o enfraquecimento do patriarcalismo; a entrada de consciência ambiental na ordem

do dia; a crise de legitimidade dos sistemas políticos; a fragmentação dos movimentos sociais;

e o retorno a identidades primárias (religiosas, étnicas, territoriais e nacionais).

Diante desse cenário, fica evidente que as mudanças que estão ocorrendo em nossa

sociedade não são apenas de ordem tecnológica ou econômica, mas contemplam todas as

esferas da vida social. Se, por um lado, essas mudanças nos permitem identificar aspectos

positivos, como a transformação da condição feminina ou o enfraquecimento do

8 De acordo com Castells (2008), o processo de reestruturação do capitalismo tem como principais características: a maior flexibilidade de gerenciamento; a descentralização das empresas e sua organização em redes; o fortalecimento do papel do capital em relação ao trabalho; a individualização e a diversificação das relações de trabalho; a incorporação maciça das mulheres na força de trabalho remunerada; a intervenção estatal com o objetivo de desregular os mercados de forma seletiva e desfazer o estado de bem-estar social; e o aumento da concorrência econômica global.

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patriarcalismo, por outro lado, fica evidente a acentuação das desigualdades entre regiões do

planeta, ou ainda a fragmentação e o enfraquecimento dos movimentos sociais, com destaque

para o movimento sindical.

Nesse sentido, concordamos com Schaff (2007) quando esse autor afirma que as

transformações científicas e tecnológicas estão estimulando uma profunda mudança na

produção e nos serviços, mas também estão produzindo mudanças nas relações sociais,

econômicas, políticas e culturais.

Para esse autor, se a primeira revolução industrial, situada entre o final do século

XVIII e o início do século XIX, teve o mérito de substituir a força física do homem pela

energia das máquinas no processo produtivo, a segunda revolução industrial, que estamos

vivenciando nas últimas décadas, amplia a capacidade intelectual do homem, reduzindo a

necessidade de trabalho humano na produção e nos serviços.

Desse modo, estamos diante de um processo em que as inovações tecnológicas

impulsionam a globalização da economia, contribuindo para a transformação das formas de

produção de bens e serviços, das formas de organização dos trabalhadores, do mundo do

trabalho e das funções dos trabalhadores, originando novas necessidades de formação de mão

de obra qualificada.

Para nossa análise, interessa especificamente o conjunto de tecnologias da informação

baseadas em microeletrônica, computação, optoeletrônica e telecomunicações, pois a

convergência entre essas tecnologias, seu crescente desenvolvimento e suas aplicações nos

mais diversos campos da atividade humana está possibilitando a criação de ferramentas

comunicacionais revolucionárias como, por exemplo, a Internet, que tem possibilitado o

desenvolvimento de novas e variadas formas de interação entre os atores da EaD.

Nesse sentido, consideramos que a mesma tecnologia que impulsionou a globalização

e se inseriu no sistema produtivo, provocando mudanças nas funções dos trabalhadores e

trazendo à tona a necessidade de uma maior qualificação, apresenta-se à educação como um

meio capaz de ajudá-la a atender às novas demandas que lhe são apresentadas, tanto através

da educação presencial, quanto através da EaD.

Apesar de ser um dos elementos que mais elevam os custos iniciais em muitos cursos

a distância, as novas tecnologias postas à disposição da EaD oferecem uma gama de

possibilidades, seja no tratamento da informação, seja para a motivação, a interação, ou ainda

para o estabelecimento de relações. Porém, não podemos esquecer que, na construção de um

modelo de EaD que forneça maior acesso e melhor qualidade, faz-se necessário o diálogo

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permanente com estas tecnologias, com o objetivo de definir adequadamente qual a tecnologia

a ser utilizada, para quê, quando e a quem se destina essa utilização.

São várias as definições de EaD que evidenciam a importância das tecnologias para o

desenvolvimento dessa modalidade educativa. O decreto no 2.494, de 10 de fevereiro de 1998,

ao regulamentar o artigo 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394,

de 20 de dezembro de 1996), em seu art. 1o, afirma que

Educação a Distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação (BRASIL, 1998, p. 01).

Preti (1996) considera que, em sua essência, a EaD é uma relação educativa entre o

estudante e o professor que não se realiza de forma direta, sendo uma prática educativa

mediadora e mediatizada, pelo fato de fazer uso de meios diversos de explicação. Desse

modo, a relação cara a cara se realiza em momentos e locais diferentes da aula presencial,

fazendo uso de uma organização de apoio.

Essas definições evidenciam que a EaD é uma estratégia educativa baseada na

aplicação de tecnologia à aprendizagem. Nesse sentido, as tecnologias de comunicação e

informação desenvolvidas nas últimas décadas possibilitam o aperfeiçoamento das formas de

interação síncronas e assíncronas entre alunos e professores na EaD, quando comparadas com

as possibilidades oferecidas por tecnologias utilizadas anteriormente.

A importância das TCI para a EaD também fica evidente, quando se busca classificar

os diferentes períodos (gerações) vivenciados por essa modalidade educativa, pois o que

diferencia uma geração de outra é, justamente, o conjunto de TCI utilizadas para a interação

entre os atores dessa modalidade educativa durante determinada época.

Alonso (2000) considera que existem três gerações distintas de interlocução entre

alunos e professores, interdependentes entre si, de modo que, “A primeira delas diz respeito

ao uso dos textos escritos enviados pelo correio. A segunda tem suas raízes tecnológicas nos

anos 60, com o uso do rádio e da televisão.” (p. 90)

Para esta autora, a terceira geração da EaD tem como base a difusão dos computadores

pessoais e as primeiras tentativas de criação de redes de pesquisa, aliados aos avanços das

telecomunicações, permitindo, entre outras conquistas, o rompimento das barreiras espaço-

temporais características da educação presencial.

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É importante ressaltar que a passagem de uma geração para a outra não significou a

eliminação do uso da mídia mais antiga. Ao contrário, houve a integração das mídias mais

antigas às mídias mais modernas.

Além do desenvolvimento das TCI, aspectos políticos, sociais e econômicos como a

crise fiscal do Estado, a reorganização do capitalismo e a hegemonia do discurso neoliberal

colocaram em questionamento o padrão de relacionamento entre o Estado e a sociedade,

característico do período compreendido entre a década de 1940 e o início da década de 1970,

com implicações para o setor educacional. Esses elementos também estão ajudando a

construir um cenário que vem favorecendo o desenvolvimento de atividades educativas

através da EaD, como veremos a seguir.

2.2 A globalização, as mudanças no sistema produtivo e as novas demandas educacionais

Durante as três primeiras décadas do pós-guerra a economia mundial viveu um

período de relativa estabilidade, combinando altas taxas de crescimento com a extensão dos

benefícios da produção e do consumo de massa, elevando os padrões materiais de vida para a

massa da população dos países capitalistas avançados.

Harvey (1993) considera que

[...] o longo período de expansão de pós-guerra, que se estendeu de 1945 a 1973, teve como base um conjunto de práticas de controle do trabalho, tecnologias, hábitos de consumo e configurações de poder político-econômico, e de que esse conjunto pode com razão ser chamado de fordista-keynesiano. O colapso desse sistema a partir de 1973 iniciou um período de rápida mudança, fluidez e de incerteza. (HARVEY, 1993, p. 119)

Castells (2008) considera que a crise da década de 1970 ocorreu devido à incapacidade

do setor público em dar continuidade a expansão de seus mercados. Em um primeiro

momento, a redução da mão-de-obra e o desgaste salarial foram as alternativas encontradas

para tentar superar essa crise de lucratividade.

Esse autor considera que a busca por lucratividade e competitividade tem estimulado a

inovação tecnológica e o crescimento da produtividade. Assim, para aumentar os lucros as

instituições dispõem de quatro opções principais: reduzir os custos de produção, aumentar a

produtividade, ampliar o mercado e acelerar o giro de capital.

Nesse sentido, foi através da expansão do comércio em relação à produção e do

investimento estrangeiro direto, que as empresas e o capitalismo conseguiram promover o

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crescimento econômico e encontrar novos mercados para absorver a crescente capacidade de

produção de bens e serviços.

A estreita interação entre a desregulamentação dos mercados e as tecnologias da

informação proporcionou as condições para a abertura dos mercados, conectando importantes

segmentos de mercado de cada país em uma rede global. Através da integração dos mercados

e da maximização das vantagens comparativas de localização as empresas conseguiram

aumentar sua lucratividade nos anos de 1990. Além disso, a expansão dos mercados tem

estimulado o crescimento da produtividade, pois, na disputa por setores do mercado, empresas

e países precisam aumentar sua competitividade.

Além da crise do modelo fordista-keynesiano, o acelerado desenvolvimento

tecnológico ocorrido a partir da segunda metade do século XX transformou profundamente o

sistema econômico mundial, haja vista que a redução dos custos com transporte e

comunicação tornou a economia muito mais integrada e competitiva.

O novo paradigma tecnológico foi fundamental para a criação de uma economia

global9, promovendo uma nova concorrência entre os agentes econômicos que provocou

transformações tecnológicas de processos e produtos que, por um lado, tornaram algumas

empresas e setores mais produtivos e, por outro lado, promoveram a destruição criativa de

empresas, setores e regiões.

Assim, a economia global se distingue da economia industrial sem se opor a lógica

dessa última. Ao invés disso, incorpora-a através do aprofundamento tecnológico.

Nesse contexto, a inserção das novas tecnologias de comunicação nos mais variados

setores da atividade humana, aliada à ofensiva neoliberal nos campos da economia e da

política, deram impulso à globalização, que, mais do que uma estratégia de integração

econômica, pode ser entendida como sendo “[...] a intensificação das relações sociais em

escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são

modelados por eventos ocorrendo a milhas de distância e vice-versa.” (GIDDENS, 1991,

p.69).

Para esse autor, a globalização tem sido conduzida pelo Ocidente, carregando a forte

marca do poder político e econômico americano e sendo extremamente desigual em suas

consequências. Além disso, ela influencia eventos em escala global, tanto quanto os eventos

9 De acordo com Castells (2008), a nova economia global tem como principais características: a interdependência global dos mercados de capitais, o crescimento e a transformação do comércio internacional através da globalização dos mercados de bens e serviços e uma geometria constituída por segmentos e redes.

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em nossa vida cotidiana, tais como o casamento, a sexualidade e a família, reestruturando

profundamente a maneira como vivemos.

É errado pensar que a globalização afeta unicamente os grandes sistemas, como a ordem financeira mundial. A globalização não diz respeito apenas ao que está ‘lá fora’, afastado e muito distante do indivíduo. É também um fenômeno que se dá ‘aqui dentro’, influenciando aspectos íntimos e pessoais de nossas vidas. (GIDDENS, 2000, p. 22).

Nesse sentido, consideramos importante destacar o debate sobre o novo interesse pelo

local e a nova articulação entre o global e o local, em uma relação dialética entre novas

identidades globais e novas identidades locais.

Hall (2006) considera que a globalização tem um efeito contestador e deslocador das

identidades centradas e fechadas de uma cultura nacional. Esse efeito verdadeiramente

pluralizante altera as identidades fixas, tornando-as menos fixas, mais plurais, mais políticas e

mais diversas.

Para este autor, esse movimento pode produzir dois efeitos: a “tradição”, quando as

nações tentam recuperar sua pureza anterior, ou a “tradução”, quando as nações aceitam que

as identidades estão sujeitas ao plano da história, da política, da representação e da diferença.

Assim, as nações estariam gravitando entre manter (a tradição) e transformar (a tradução), o

que afeta diretamente as diversas formas de identidade cultural.

É nesse movimento que emerge a concepção de culturas híbridas (entre a tradição e a

tradução) como um dos diversos tipos de identidades destes tempos de modernidade tardia.

O que podemos perceber até o momento é que a globalização não parece estar

produzindo nem o triunfo do global nem a persistência, em sua velha forma nacionalista, do

local. Os deslocamentos ou os desvios da globalização se mostram, afinal, mais variados e

mais contraditórios do que sugerem seus protagonistas ou seus oponentes.

Se, por um lado, a globalização pode ser vista como a principal razão para a

revitalização das identidades culturais locais em diversos lugares do mundo, por outro lado, a

globalização faz com que as nações percam parte do poder econômico que possuíam, além de

aprofundar as desigualdades econômicas e sociais, favorecendo países com maior poder

econômico.

Nesse novo cenário, ganha força a argumentação em torno da ideia de que

Contrariamente às interpretações convencionais, os agentes mais dinâmicos da globalização não são os governos nem os representantes parlamentares dos países que formaram mercados comuns à procura de integração econômica. As forças mais ativas e poderosas no processo de globalização são os conglomerados e empresas transnacionais que dominam e controlam efetivamente a maior parte da produção, do comércio, da tecnologia e das finanças internacionais. (RATTNER, 1995, p. 24)

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Apesar de reconhecermos o poder das empresas transnacionais, a perda de autonomia

dos Estados nacionais e a redução da efetividade das suas políticas econômicas, consideramos

que os Estados nacionais ainda são poderosos e os líderes políticos ainda têm um papel

importante a desempenhar.

No cenário político brasileiro que se constitui a partir da década de 1990, a

globalização ajuda a consolidar a argumentação de que seria necessário redefinir o padrão das

relações entre o Estado e a sociedade, já que a crise do sistema capitalista foi acompanhada,

tanto por uma crise do modelo de Estado interventor, quanto por uma crise da concepção do

papel do Estado.

De acordo com Pereira (1998), Ministro da Administração e Reforma do Estado no

primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, a reforma/reconstrução do Estado seria a

grande tarefa política dos anos 90. Para esse autor

Aos poucos foi se tornando claro que o objetivo da intervenção deixara de ser a proteção contra a concorrência, para se transformar na política deliberada de estimular e preparar as empresas e o país para a competição generalizada. Estado e mercado não mais podiam ser vistos como alternativas polares para se transformarem em fatores complementares de coordenação econômica. (PEREIRA, 1998, p. 53)

Desse modo, a recente história política do Brasil tem se caracterizado pelo debate

acerca da necessidade de redefinição do papel do Estado e pelas inúmeras tentativas de

implementação de ações objetivando a sua reforma/reconstrução.

Expressões como: reforma administrativa, reforma da previdência, reforma tributária,

entre outras, passaram a fazer parte do discurso dos mais diversos analistas políticos e

econômicos e da agenda política nacional.

Nesse contexto,

O debate sobre o papel do Estado que então se configurou foi acompanhado pela formulação de propostas de Reforma do Estado, tanto no que se refere à sua relação com a economia e à intervenção nas áreas sociais, como no que diz respeito ao próprio funcionamento da máquina estatal, isto é, ao “Estado por dentro”. (FARAH, 1995, p. 20)

De acordo com Silva Júnior (2003), a reforma do Estado está inserida em um ajuste

econômico mundial decorrente da universalização do capitalismo. Além disso,

[...] o compromisso assumido pelo Brasil em sua agenda econômica e política foi seguido de outros numerosos compromissos na esfera social, particularmente na esfera educacional, tais como os que se fizeram por meio de documentos políticos: Declaração Mundial de Educação para Todos, de Jomtien (UNESCO, 1990), e Declaração de Nova Delhi (UNESCO, 1993), que tiveram sua primeira expressão orgânica do movimento reformista mundial, na esfera da educação, no Brasil, com o

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Plano Decenal de Educação para Todos e, na esfera executiva, no Planejamento Político-Estratégico do Ministério da Educação 1995/1998, tornado público em 1995. (SILVA JÚNIOR, 2003, p. 80)

No Brasil, além da necessidade de reforma do Estado, a tentativa de incorporar as

inovações tecnológicas e de gestão ao sistema produtivo, a abertura econômica proporcionada

pela tentativa de inserção no mundo globalizado e a hegemonia do discurso neoliberal vêm

marcando esse período de transição do modelo taylorista/fordista para o modelo de

acumulação flexível, com implicações para o mundo do trabalho, as funções dos

trabalhadores e, consequentemente, para a educação escolar.

Quando observamos o processo de inovações no sistema produtivo e de gestão das

empresas brasileiras, constatamos que essas empresas reagem de forma diversificada diante

de tais mudanças.

De acordo com Fleury (1996), existem empresas brasileiras que:

a) Praticamente não introduziram mudanças no sistema produtivo e de gestão, ocupando

nichos de mercado onde as exigências de qualidade são menores;

b) Introduziram algumas mudanças e que, em função de problemas diversos, caminham

entre avanços e retrocessos por conta das crises externas e internas;

c) Apresentam as mudanças mais consolidadas, tanto no sistema de gestão quanto no de

produção, ocupando uma posição mais estável em relação às demais.

As afirmações da autora evidenciam que o movimento das empresas brasileiras na

busca das inovações no sistema produtivo e de gestão ocorre de modo bastante diversificado.

Além disso, esses elementos demonstram que, apesar do conservadorismo apresentado por

parte do empresariado nacional, as mudanças no sistema produtivo estão ocorrendo, de modo

que é cada vez mais notório que uma nova modalidade de trabalho, marcada pela integração e

pela flexibilidade, está substituindo o trabalho fragmentado, padronizado e simplificado,

característico do padrão tecnológico taylorista e fordista.

De um modo geral, os investimentos em tecnologia da informação têm correlação com

o aumento da produtividade, porém, empresas que simplesmente incorporam as tecnologias

em estruturas antigas costumam ter produtividade menor que empresas que aliam as

tecnologias da informação a uma estratégia empresarial centrada no cliente e a uma estrutura

organizacional descentralizada.

Assim, podemos considerar que índices mais elevados de produtividade e

lucratividade podem surgir a partir da integração das tecnologias da informação ao processo

produtivo, principalmente quando ocorre uma mudança organizacional e institucional na

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empresa e quando a mão-de-obra é capaz de se adaptar aos novos processos produtivos, o

que, de certa forma, acaba sendo uma imposição da concorrência, local ou global, pois essa

concorrência costuma eliminar os agentes econômicos incapazes de se adequar às regras da

nova economia.

Apesar de conhecimento e informação sempre serem elementos importantes no

crescimento da economia, no atual paradigma tecnológico o conhecimento e a informação se

tornam produtos do processo produtivo, pois os produtos das indústrias de tecnologia da

informação são dispositivos de processamento da informação ou o próprio processamento da

informação.

Ao transformarem as formas de processamento da informação, as tecnologias da

informação possibilitam o desenvolvimento de uma economia em rede capaz de aplicar seu

progresso em tecnologia, conhecimentos e administração na própria tecnologia,

conhecimentos e administração.

Porém, para que essas tecnologias possam difundir-se pela economia e intensificar a

produtividade e a lucratividade dentro de padrões desejáveis, torna-se necessário que a

cultura, as instituições sociais, as empresas e os fatores que interagem com o processo

produtivo, tais como a educação, passem por mudanças substanciais.

No período em que o fordismo vivenciou sua plenitude os princípios da “gerência

científica” de Taylor10 ajudaram a promover a separação entre concepção e execução do

trabalho, a fragmentação do trabalho em atividades elementares e a separação do trabalhador

do conhecimento técnico do seu ofício.

Enquanto a gerência mantinha o monopólio do conhecimento e da organização de

todas as etapas do processo produtivo, a fragmentação do trabalho maximizou a divisão das

atividades em parcelas e a especialização das funções, com o objetivo de promover a

intensificação do trabalho na produção em série.

Como consequência da aplicação das ideias de Taylor ao mundo da produção, o

trabalho se tornou precarizado, degradado e simplificado. Desse modo, o trabalhador que

executava as atividades no chão da fábrica precisava apenas demonstrar habilidade no

desenvolvimento de tarefas padronizadas e mecânicas, onde a habilidade era entendida como

a repetição rápida e com o mínimo de erros de um reduzido número de gestos

predeterminados e fixos.

10 De acordo com Braverman (1987), os princípios da “gerência científica” de Taylor defendem: a dissociação do processo de trabalho das especialidades dos trabalhadores; a separação entre concepção e execução do trabalho; e a utilização do monopólio do conhecimento do processo de trabalho para controlar cada fase desse processo, bem como o seu modo de execução.

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De acordo com Braverman (1987), muitas das atividades em que o trabalhador era

visto como um profissional semiqualificado exigiam apenas as características físicas de um

indivíduo em bom estado de saúde e adaptabilidade. Eram atividades onde o trabalhador

aprendia as suas funções em um curto período de tempo, que variava de um dia a poucos

meses, e onde se dizia ao trabalhador o que fazer e como fazê-lo, de modo que o trabalhador

era acompanhado de perto pelos supervisores e repetia os mesmos movimentos e as mesmas

funções ao longo de todo o dia de trabalho. Nesse sentido, o autor questiona se não seria mais

adequado considerar que essas atividades eram exercidas por profissionais não qualificados.

Ao analisar os efeitos da mecanização sobre a qualificação do trabalhador esse autor

afirma que

A massa de trabalhadores nada ganha com o fato de que o declínio de seu comando sobre o processo de trabalho está mais que compensado pelo comando crescente por parte dos gerentes e engenheiros. Pelo contrário, não apenas sua qualificação, não apenas sua qualificação cai em sentido absoluto (naquilo que perdem o ofício e as capacitações tradicionais sem ganhar novas capacidades adequadas para compensar a perda), como cai ainda mais em um sentido relativo. Quanto mais a ciência é incorporada no processo de trabalho, tanto menos o trabalhador compreende esse processo; quanto mais um complicado produto intelectual se torne máquina, tanto menos controle e compreensão da máquina tem o trabalhador. Em outras palavras, quanto mais o trabalhador precisa de saber a fim de continuar sendo um ser humano no trabalho, menos ele ou ela conhece. (BRAVERMAN, 1987, p. 360)

Para desenvolver essas atividades, os trabalhadores não necessitavam de níveis

elevados de formação, mas apenas de um mínimo de qualificação geral, ou seja, o mínimo de

instrução necessário para a sua integração ao sistema produtivo e para o aumento da

produtividade do seu trabalho.

Porém, no novo mundo do trabalho que começa a se desenhar a partir da crise do

fordismo, consolida-se um discurso que argumenta que flexibilidade, eficiência,

produtividade, interação, aprimoramento, participação, interesse, competência e qualificação,

tornam-se características que devem ser apresentadas por qualquer trabalhador que queira

lutar por um espaço dentro de um mercado de trabalho cada vez mais restrito e competitivo.

É importante ressaltar que a automação das funções no processo produtivo tem levado

a uma diminuição no número de postos de trabalho no setor industrial. O desemprego

crescente evidencia uma disputa cada ver maior por um lugar no mercado de trabalho,

fortalecendo um discurso que argumenta que o trabalhador necessita, cada vez mais, de

qualificação para que possa vencer essa disputa.

Como consequência dessas novas demandas por qualificação, o mundo do trabalho

passa a exigir que ocorram mudanças na educação, haja vista que o espaço educacional é visto

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como o local onde os trabalhadores podem desenvolver as características citadas

anteriormente.

Nesse sentido, é possível constatar o fortalecimento de um discurso em defesa de

reformas educacionais com o objetivo de atender às novas demandas do mundo do trabalho,

como fica evidenciado na afirmação abaixo.

Não sem motivo, torna-se absolutamente fundamental proceder a um conjunto de alterações no atual sistema educacional e de formação profissional. Justamente porque a fase de transição da economia tradicional para uma nova economia exige uma educação geral ampliada e formação continuada ao longo do ciclo de vida ativa das classes trabalhadoras condizente com o estágio de desenvolvimento econômico e o avanço da expectativa média de vida da população. (POCHMANN, 2004, p. 391)

Essa necessidade de qualificação permanente aponta para uma demanda por educação

continuada e a EaD tem sido apontada como a modalidade adequada para atender a essas

novas demandas por formação.

Porém, é necessário que se tenha cuidado ao se apresentar a EaD como a modalidade

que irá solucionar todas as demandas por formação no Brasil, pois, sem os devidos cuidados,

essa modalidade educativa não atenderá a essas demandas dentro dos padrões de qualidade

desejados, convertendo-se apenas em uma estratégia de certificação em massa de

profissionais com qualificação duvidosa.

Além disso, é importante ressaltar que, mesmo possuindo níveis elevados de

qualificação, o trabalhador não tem a garantia do emprego. Ao se qualificar, o trabalhador

adquire apenas condições de empregabilidade, ou seja, ele possui condições de desenvolver as

atividades profissionais que o mundo do trabalho necessita. Porém, para ser empregado,

torna-se necessária toda uma conjuntura econômica favorável.

Desse modo, a possibilidade de estar empregado escapa ao controle do trabalhador,

que pode apenas se qualificar para atender as demandas do mercado de trabalho e esperar que

fatores externos a sua vontade se desenvolvam favoravelmente.

Infelizmente, todo o discurso acerca da necessidade de níveis mais elevados de

formação da classe trabalhadora está intimamente vinculado às necessidades de mão-de-obra

qualificada para atender às demandas do setor produtivo, fato que denuncia um grave

reducionismo nos objetivos da educação que, ao invés de formar o cidadão em uma

perspectiva integral, forma o indivíduo apenas para o que se convencionou chamar de

empregabilidade e para a gestão da pobreza.

Passa a ser um imperativo dos sistemas escolares formar os indivíduos para a empregabilidade, já que a educação geral é tomada como requisito indispensável ao

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emprego formal e regulamentado, ao mesmo tempo em que deveria desempenhar papel preponderante na condução de políticas socais de cunho compensatório, que visem à contenção da pobreza. (OLIVEIRA, 2004, p. 1129)

Esse alinhamento entre as ações educacionais e as necessidades do mercado nos leva a

concordar com Belloni (1998), quando essa autora afirma que a escola no Brasil ainda não

conseguiu concretizar os ideais do projeto iluminista de emancipação através do saber,

abrindo mão dos ideais modernos, tornando-se apenas um instrumento a serviço do mercado,

tendendo a perder terreno para diferentes mídias, seja na disseminação da cultura, seja na

socialização das novas gerações.

Nesse sentido, consideramos oportuno salientar que as iniciativas de reforma da

educação brasileira, realizadas a partir da década de 1990, caracterizam-se pela implantação

de algumas medidas de inspiração neoliberal, fortemente influenciadas por organismos

internacionais, com ênfase para a descentralização, as prioridades de ação, as novas formas de

articulação com o setor privado, a qualidade, a eficiência e a eficácia dos gastos públicos.

Vejamos agora como alguns organismos internacionais diagnosticam uma crise

educacional e apresentam sugestões para a solução dessa crise, e como esses diagnósticos e

sugestões passaram a influenciar o papel assumido pelo Estado no que se refere à gestão da

educação, bem como as políticas educacionais brasileiras a partir da década de 1990,

favorecendo a expansão da EaD.

2.3 A agenda neoliberal, a influência dos organismos internacionais na política

educacional brasileira na década de 1990 e a valorização da EaD

De um modo geral, o neoliberalismo defende a transferência de elementos como

saúde, previdência e educação, da esfera dos direitos sociais para a esfera do livre mercado,

afirmando que esses elementos só funcionarão bem em uma sociedade que valorize a

competência individual e a competição entre pessoas e instituições.

Ao ressaltar a importância da organização da sociedade com base nos princípios da

economia livre da empresa privada (capitalismo competitivo) e do mercado livre como

elemento capaz de garantir a liberdade econômica, Friedman (1988) ressalta que,

A existência de um mercado livre não elimina, evidentemente, a necessidade de um governo. Ao contrário, um governo é essencial para a determinação das “regras do jogo” e um árbitro para interpretar e pôr em vigor as regras estabelecidas. O que o mercado faz é reduzir sensivelmente o número de questões que devem ser decididas por meios políticos – e, por isso, minimizar a extensão em que o governo tem que participar diretamente do jogo. (FRIEDMAN, 1988, p. 23)

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Assim, caberiam ao Estado funções como: manter a lei e a ordem; definir os direitos

de propriedades; servir de meio para a modificação dos direitos de propriedade e de outras

regras do jogo econômico e julgar disputas sobre a interpretação dessas regras, entre outras

ações que promovam o desenvolvimento dos mercados competitivos.

Durante a década de 1990, no Brasil, surgiram propostas que enfatizavam a eficiência

e a eficácia do gasto estatal e a qualidade dos serviços, apontando para a necessidade de ações

voltadas para a privatização, a focalização, a descentralização e a reformulação do padrão de

gestão das instituições estatais.

Analisando o discurso hegemônico acerca da questão educacional, percebemos que a

argumentação em defesa da ideia de uma crise educacional busca relacioná-la com uma crise

de eficiência, eficácia e produtividade, fruto de uma desordenada expansão do sistema

educacional ocorrida nos últimos anos, da interferência do Estado, de instituições sociais

(sindicatos) e dos indivíduos envolvidos no processo educativo (professores, alunos etc.).

A necessidade de adequação da gestão da educação a um modelo gerencial, em

sintonia com as recomendações dos organismos internacionais, fica evidente nos próprios

documentos oficiais, conforme podemos perceber na afirmação abaixo:

Na educação, a reforma do Estado, entre outros aspectos, traduz-se no entendimento de que é preciso ajustar a gestão dos sistemas de ensino e das escolas ao modelo gerencial, conforme divulgado pelo poder central, em consonância com o discurso das agências externas de cooperação e financiamento. Segundo tal entendimento, esse é o modo de garantir a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos, com base no princípio da eficiência e na busca da relação ótima entre a qualidade e os seus custos. (BRASIL, 1995, p. 10)

Silva (1996) ressalta que a proposta neoliberal para resolver os problemas da educação

parte da premissa de que tais problemas se devem essencialmente a má administração dos

recursos e a ausência de um mercado educacional que incentive a competição, não só entre

instituições de ensino, como também no seu interior. Desse modo, somente a criação de um

mercado educacional que incentive a competição e valorize o esforço individual poderia

tornar essa administração mais eficiente e produzir uma educação de maior qualidade.

Na verdade, essa reforma da educação está inserida em uma estratégia global que

busca modificar o papel do Estado com relação à educação, fortalecer a participação do setor

privado, bem como adequá-la às necessidades do mercado, deixando de lado elementos

essenciais para a formação integral do indivíduo e minimizando o papel da educação escolar.

Nessa reforma,

O Estado não se retira da educação. Ele adopta um novo papel, o do Estado regulador e avaliador que define as grandes orientações e os alvos a atingir, ao

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mesmo tempo que monta um sistema de monitoração e de avaliação para saber se os resultados desejados foram, ou não, alcançados. Se, por um lado, ele continua a investir uma parte considerável do seu orçamento em educação, por outro, ele abandona parcialmente a organização e a gestão quotidiana, funções que transfere para os níveis intermediários e locais, em parceria e concorrência com actores privados desejosos de assumirem uma parte significativa do “mercado” educativo. (LESSARD, BRASSARD, LUSIGNAN, 2002, p. 35)

É importante salientar que os órgãos multilaterais de financiamento, como o Banco

Mundial (BM), e de cooperação técnica (UNICEF e UNESCO) exercem grande influência no

financiamento e na definição das diretrizes que orientam as políticas educacionais brasileiras.

A análise das propostas do Banco Mundial para a educação ajuda a entender como se

deu a transmissão do discurso neoliberal para o contexto educacional brasileiro, pois

O Banco Mundial constitui-se no grande definidor da filosofia, dos valores, das políticas educacionais e das concepções de conhecimento, não só para o Brasil, mas para o conjunto de nações que devem se ajustar ao rolo compressor da globalização. (FRIGOTTO, 1996, p. 89)

Segundo Torres (1996), a atuação do BM no âmbito educacional se dá a partir da

elaboração de um pacote de medidas que, segundo o próprio Banco, visam melhorar o acesso,

a equidade e a qualidade das escolas, e que o BM vê a reforma no sistema educacional como

uma ação que trará, não só benefícios sociais e econômicos, como também um

desenvolvimento sustentável e a redução dos índices de pobreza.

Para explicar a dinâmica do desenvolvimento impulsionada pelo conhecimento, o BM

identifica quatro fatores favoráveis, que são: o incentivo macroeconômico e o regime

institucional; a infraestrutura de informação e telecomunicações; o sistema nacional de

inovação e a qualidade dos recursos humanos.

O BM evidencia a importância da educação superior para a elevação da qualidade dos

recursos humanos e considera que o melhoramento da qualidade desse nível de ensino pode

contribuir para a redução da pobreza através do crescimento econômico ao afirmar que

En este contexto, la contribución de la educación terciaria se revela como vital ya que ejerce una influencia directa en la productividad nacional, la cual determina en gran medida el nivel de vida y la capacidad de un país para competir y participar plenamente en el proceso de globalización. En forma más específica las instituciones de educación terciaria apoyan las estrategias de crecimiento económico sustentado por el conocimiento y la reducción de la pobreza gracias a: i) la capacitación de una fuerza laboral calificada y adaptable, de alto nivel, que incluye a científicos, profesionales, técnicos, profesores de educación básica y secundaria y futuros dirigentes gubernamentales, empresariales y de la sociedad civil; ii) la generación de nuevos conocimientos; y (iii) la construcción de la capacidad de acceder al conocimiento global y de adaptarlo al uso local. Las instituciones de educación terciaria son únicas encuanto a su capacidad para integrar y crear sinergia entre las tres dimensiones citadas. Las transformaciones y el crecimiento sostenibles en el plano económico general no son posibles sin la contribución a la creación de capacidades que un sistema educativo terciario e innovador es capaz de hacer. Este

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corolario resulta particularmente cierto em los países de bajos ingresos cuya capacidad institucional es débil y su capital humano limitado. (BANCO MUNDIAL, 2003, p. 05)

Dentre os princípios que fundamentam a reforma educacional nos países latino-

americanos, Cabral Neto e Castro (2004) destacam a focalização11, a descentralização12, a

privatização13 e desregulamentação14.

Assim, a análise das propostas do Banco Mundial para a educação dos países da

América Latina, permite identificar que “A perspectiva do custo-benefício, a consideração das

leis do mercado, a aproximação entre as imagens da escola e da empresa são traços comuns

daquele discurso.” (LÜDKE, MOREIRA, CUNHA, 1999, p. 283)

No caso específico da educação superior, ainda na década de 1990, o BM aponta para

a importância deste nível de ensino para o desenvolvimento econômico e social através da

formação de profissionais para atuar no serviço público ou na iniciativa privada, na produção

e divulgação do conhecimento produzido e na consolidação da identidade nacional.

Além disso,

El desarrollo de la enseñanza superior se relaciona con el desarrollo económico: las tasas de matrícula tienen un promedio de 51% en los países que pertenecen a la Organización de Cooperación y Desarrollo Económicos (OCDE), em comparación con el 21% en los países de ingreso mediano y 6% en los de ingreso bajo. Las tasas de rentabilidad social estimadas en 10% o más em muchos países en desarrollo también indican que las inversiones en este nivel de la educación contribuyen a aumentar la productividad laboral y a producir un crecimiento económico más alto a largo plazo, elementos que son fundamentales para el alivio de la pobreza. (BANCO MUNDIAL, 1995, p. 01)15

Diante da necessidade de ampliar a oferta de vagas, melhorar a qualidade da educação

superior e do argumento em defesa de uma maior capacidade de resposta por parte das

instituições de educação com relação aos investimentos feitos por parte do Estado, ao mesmo

tempo em que enfrenta um período de restrições fiscais, o BM aponta para o fortalecimento

do ensino superior privado e para a EaD como estratégias de expansão deste nível de ensino,

com qualidade, eficiência e equidade, sem onerar os cofres públicos.

Assim, baseados na ideia de que o crescimento econômico e a competitividade no

cenário econômico internacional dependem da capacidade de inovação nos produtos e nos

processos e de que essa capacidade depende diretamente do nível de conhecimentos dos

11 Ênfase sobre o ensino básico, com destaque para o ensino fundamental. 12 Democratização do Estado e a busca de maior justiça social. 13 Transferência de responsabilidades públicas para entidades privadas. 14 Criação de um novo quadro legal diminuindo a interferência do poder público sobre os empreendimentos privados. 15 A primeira versão deste documento foi publicada em inglês, no ano de 1994.

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trabalhadores, diversos governos têm buscado na EaD a solução para seus problemas de

formação, por entender que essa modalidade educativa pode atender às demandas de grandes

contingentes populacionais de maneira rápida e a um custo inferior à educação presencial.

É importante ressaltar que, quase uma década depois, o Banco Mundial (BM) continua

defendendo as virtudes econômicas dos cursos oferecidos através da EaD ao afirmar que

Al propio tiempo, el uso sensato de nuevas tecnologías puede ser uma fuente de ahorro importante. En el Reino Unido, el costo de producir un egresado de la Open University (universidad abierta) es cerca de un tercio del correspondiente a una universidad tradicional. BANCO MUNDIAL, 2003, p. 46)

Além da influência dos organismos internacionais na orientação da política

educacional brasileira, a emergência de um novo modelo de produção caracterizado por

processos produtivos flexíveis, voltado para a produção em pequena escala, para a qualidade e

para um mercado segmentado e instável, redefinem as demandas de mão-de-obra,

evidenciando a necessidade de trabalhadores dotados de autonomia e pensamento analítico,

capacidade de tomar decisões, adaptarem-se a mudanças e aprenderem continuamente.

Essas demandas são apresentadas à educação dentro de uma perspectiva errônea, que

limita a formação escolar ao desenvolvimento de habilidades e competências voltadas para o

atendimento às demandas do mundo do trabalho, deixando de lado a necessária formação

integral do aluno.

Além disso, é possível constatar que a educação presencial tem enfrentado

dificuldades para atender a todas as exigências que estão sendo apresentadas, fortalecendo o

discurso do BM e do próprio MEC em defesa do desenvolvimento de atividades educacionais

através da EaD no Brasil.

O que não se pode esquecer é que muitos dos problemas apresentados pelas

instituições de ensino presencial são frutos da falta de investimentos nessas instituições, nos

salários e na formação dos profissionais que nelas atuam.

Quando se observa o ensino público presencial, percebe-se que, na realidade,

[...] as escolas estão abandonadas, os professores sem condições de trabalho, salário e formação; estão, portanto, em condições frágeis para responderem criticamente à forte pressão, por um lado, das indústrias de equipamentos e cultura e, por outro, dos próprios estudantes, no sentido de incorporarem os novos recursos do mundo da comunicação e informação. Em função dessa fragilidade, essa incorporação dá-se, na maioria das vezes, sem uma reflexão crítica sobre as suas reais necessidades, objetivos e possibilidades. (PRETTO, 1996, p. 221)

Diante de todas essas mudanças e com tantos interesses em jogo, percebemos que a

escola pública presencial tem se mostrado incapaz de atender a tais demandas por educação.

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Além das limitações estruturais, sentimos a falta de uma política pública que procure ir além

da tentativa de adequar as escolas brasileiras à realidade e aos interesses do ideário neoliberal.

As reformas na educação brasileira buscam, prioritariamente, inseri-la em uma lógica

do mercado, acreditando que critérios de eficiência, eficácia e produtividade que obtiveram

sucesso na economia podem ser igualmente aplicados na escola.

É importante ressaltar que, mesmo possuindo limitações físicas, geográficas e

temporais, não se pode negar que, no Brasil, o ensino presencial tem um papel importante a

desempenhar no que diz respeito à formação dos cidadãos e sua preparação profissional, visto

que a maioria das instituições de ensino brasileiras atua presencialmente. Em outras palavras,

não se pode menosprezar o grande aparato estrutural que é disponibilizado pelo ensino

presencial.

Porém, em razão do processo de sucateamento a que o ensino presencial foi submetido

e do interesse apresentado pelo Estado brasileiro em ampliar a oferta de educação a um custo

inferior ao que resultaria de uma possível expansão da educação presencial, a EaD se fortalece

como uma modalidade de ensino capaz de atender às necessidades educacionais e de

qualificação da mão-de-obra de amplos setores da população, especialmente no que diz

respeito à educação superior.

Como afirma Belloni (2002)

A educação a distância surge neste quadro de mudanças como mais um modo regular de oferta de ensino, perdendo seu caráter supletivo, paliativo ou emergencial, e assumindo funções de crescente importância, principalmente no ensino pós-secundário, seja na formação inicial (ensino superior regular), seja na formação continuada, cuja demanda tende a crescer de modo exponencial, em virtude da obsolescência acelerada da tecnologia e do conhecimento. Nas sociedades contemporâneas, “do conhecimento” ou “da informação”, a formação inicial torna-se rapidamente insuficiente e as tendências mais fortes apontam para uma “educação ao longo da vida” (lifelong education) mais integrada aos locais de trabalho e às necessidades e expectativas dos indivíduos. São estes dois grandes desafios que os sistemas de ensino superior enfrentam agora e para os quais a educação a distância pode contribuir: expansão significativa e diversificação da oferta de formação inicial, para atender à demanda decorrente da expansão do ensino secundário; criação de novos modos de formação continuada adequada às demandas do mercado de trabalho “pós-fordista”. (BELLONI, 2002, p. 139)

Todos os elementos apresentados até o momento nos ajudam a concordar com Preti

(2000), quando esse autor afirma que as transformações ocorridas no contexto da globalização

e a hegemonia do discurso neoliberal criaram um ambiente propício ao desenvolvimento da

EaD em diversos países do mundo, inclusive no Brasil, e que pode ser justificado a partir de

fatores político-sociais16, econômicos17, pedagógicos18 e tecnológicos19.

16 Desemprego crescente, contenção de despesas por parte do Estado, desqualificação dos trabalhadores etc.

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Não há dúvidas de que, nesse cenário, ganha força o discurso de que a EaD é uma

modalidade educativa capaz de atender, tanto às necessidades educacionais de pessoas que,

estando fora do mercado de trabalho, desejam ocupar um lugar nesse mercado, quanto

daqueles que, já estando no mercado de trabalho, necessitam de novas qualificações para

poder manter seus empregos, além daqueles que, por dificuldades geográficas ou temporais,

não possuem condições de frequentar instituições de ensino presencial.

O que não podemos esquecer é que os cursos oferecidos através da EaD devem

objetivar a formação integral dos alunos e não apenas a sua qualificação profissional e o

fortalecimento da sua empregabilidade, atendendo apenas aos interesses do mercado.

Além disso, é preciso ter cautela com relação à questão da qualidade dos cursos

oferecidos através da EaD, seja devido ao modelo de EaD adotado, organizado a partir de um

modelo fordista de produção, ou ainda pela expansão desordenada de cursos oferecidos por

instituições privadas que, em muitos casos, configuram-se como cursos de certificação de

baixo custo para quem necessita de um diploma.

Ao tomar como referência o modelo fordista de produção, a EaD passa a enfrentar

problemas como: a centralização das atividades de concepção e distribuição dos materiais de

ensino, o desconhecimento das necessidades dos alunos e do contexto em que os polos estão

inseridos e a precarização do trabalho docente, seja devido à fragmentação das atividades

desenvolvidas20, ou ainda devido à precariedade em que se realiza a atividade docente na

perspectiva das relações de trabalho21.

A oferta de EaD no Brasil tem se caracterizado pela ênfase nos processos de ensino

(estrutura organizacional, planejamento, concepção, produção e distribuição de materiais

etc.), e não nos processos de aprendizagem (características e necessidades dos estudantes,

modos e condições de estudo, níveis de motivação etc.), comprometendo a aprendizagem e a

própria permanência do aluno no curso. 17 Necessidade de fornecer formação sem retirar o trabalhador do seu ambiente de trabalho nem onerar os cofres públicos ou das empresas. 18 Necessidade de desenvolvimento de uma modalidade educativa mais leve, flexível e que corresponda à realidade do trabalhador. 19 Os atuais recursos tecnológicos permitem pensar em novas formas de aprendizagem onde o professor pode interagir com um número maior de alunos do que nas atividades presenciais e, em muitos casos, a presença do professor em tempo real pode ser dispensada na maior parte do tempo. 20 Existem profissionais que elaboram o projeto do curso e coordenam o desenvolvimento das atividades, profissionais que elaboram apenas os conteúdos que serão abordados nas disciplinas (professor conteudista), profissionais que trabalham esses conteúdos nas disciplinas (professor formador), profissionais que auxiliam os professores formadores a distância (tutor a distância) e ainda os profissionais que atuam nos polos onde ocorrem os momentos presenciais (tutor presencial). 21 Os professores e tutores recebem bolsas de trabalho para atuar na EaD. Em alguns casos, esses profissionais não têm nenhum vínculo efetivo com a instituição que oferece o curso, trabalhando apenas durante o período de vigência da bolsa.

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Se considerarmos que, em muitos casos, os polos de apoio presencial estão localizados

em cidades que não dispõem de universidades, é possível concluir que os alunos desses polos

poderão ter dificuldades de acesso a bibliotecas, laboratórios, oportunidades de estágio e

atividades de iniciação científica, pesquisa e extensão.

Sem os devidos cuidados, o distanciamento com relação a esses aspectos da vida

universitária pode comprometer a qualidade da educação oferecida pela EaD, já que esse

acesso poderá se dar em condições precárias, quando comparadas com as condições em que

ocorre o ensino em instituições de ensino superior presenciais com melhor infraestrutura.

Apesar do definhamento sofrido pelo discurso neoliberal no Brasil nos últimos anos,

agravado pela crise econômica global que “sacudiu” os mercados em 2008, vários elementos

da política educacional planejada durante a década de 1990 estão tendo continuidade e, em

alguns casos, estão sendo aprofundados.

Essa realidade fica evidenciada nas políticas de avaliação da educação, nos fundos

criados para o desenvolvimento da educação (FUNDEF e FUNDEB), na privatização da

educação básica e da educação superior (seja ela a distância ou presencial), nas políticas de

desenvolvimento da educação a distância etc.

Assim, desde a década de 1990 estamos vivenciando o desenvolvimento de diversas

ações voltadas para o fortalecimento da EaD no Brasil, dentre as quais podemos destacar a

criação de um Sistema Nacional de Educação a Distância, substituído pela Secretaria de

Educação a Distância (SEED) em 1996, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDB 9.394/96), que apresenta a EaD como modalidade educacional regular.

Em perfeita sintonia com o discurso neoliberal, a utilização da EaD faz com que o

indivíduo passe a ser responsável pela sua formação, pois o Estado cumpriu sua função, as

oportunidades estão dadas para todos aqueles que necessitam de qualificação.

Vejamos agora como as mudanças tecnológicas, econômicas e políticas se

materializam na legislação educacional brasileira a partir da década de 1990, fornecendo a

base legal para a expansão da EaD.

2.4 As mudanças na educação e a regulamentação da EaD no Brasil

Para atender às demandas do setor produtivo e adequar-se às recomendações dos

organismos internacionais, desde a década de 1990 o Ministério da Educação (MEC) vem

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implementando um conjunto de ações22 que está condicionando o debate acerca das políticas

educacionais há mais de uma década e continuará fazendo isso nos próximos anos.

Através dessa legislação o MEC busca estabelecer as bases de um sistema nacional de

avaliação, do ensino fundamental à pós-graduação, seja através do fortalecimento de

mecanismos de avaliação já existentes, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação

Básica (SAEB) e a avaliação da CAPES para a pós-graduação, seja introduzindo inovações,

como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Provão. Assim, a avaliação do

sistema educacional se torna o principal mecanismo de gestão utilizado pelo Governo Federal,

conferindo-lhe poder de regulação e controle inédito em nossa história educacional.

Para Dourado (2002), a proposta de Plano Nacional de Educação (PNE) do

MEC/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), revela alguns

indicativos das políticas para a educação superior, com destaque para: a diversificação do

sistema através de políticas de expansão da educação superior; o desinteresse em ampliar os

recursos vinculados ao Governo Federal para esse nível de ensino; a aferição da qualidade do

ensino por meio de um sistema de avaliação; a ampliação do crédito educativo envolvendo

recursos estaduais e a ênfase no papel da educação a distância.

É importante ressaltar que as ações visando o fortalecimento da EaD não se

originaram com a aprovação do Plano Nacional da Educação. Segundo Saraiva (1996), a

partir de 1993, o governo brasileiro, em uma ação conjunta envolvendo o MEC e do

Ministério das Comunicações (MC), deu início à construção de uma política educacional de

EaD, procurando criar o Sistema Nacional de Educação a Distância através do Decreto no

1.237, de 6 de setembro de 1994.

A autora cita ainda diversas outras ações desenvolvidas com o objetivo de fortalecer a

EaD no Brasil, tais como:

a) Protocolo de Cooperação no 3/93, visando o desenvolvimento de um sistema nacional

de EaD;

b) Convênio no 6/93, com a função de garantir a viabilidade da EaD;

c) Acordo de Cooperação Técnica 4/93, com o objetivo de fornecer suporte científico e

técnico para a educação básica através dos recursos da educação continuada e da EaD;

22 O Plano Decenal de Educação (1993), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), o Plano Nacional de Educação (2001), os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (1996), o Sistema de Avaliação da Educação Básica (1988), o Exame Nacional de Cursos (1995), o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (2004), as mudanças na Educação Profissional (1997/2004), o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (2006) entre outras.

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d) Decreto criando a Televia para a Educação, objetivando a redução do valor das tarifas

para programas de EaD;

e) Criação da Coordenadoria Nacional de EaD;

f) Criação de uma Coordenadoria de Educação a Distância em cada unidade federada;

g) Criação da Subsecretaria de EaD, responsável pelo Programa Nacional de EaD, em

1995, e que foi extinta em 1996, com a criação da Secretaria de EaD; e

h) Lançamento da TV Escola, em 1995, seguida de várias outras medidas objetivando a

sua viabilidade.

Entre todas as ações desenvolvidas nesse período objetivando a consolidação da EaD

como estratégia para o oferta de cursos regulares, gostaríamos de destacar a Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996), pois consideramos

que, com essa lei, a EaD ganha o status de modalidade plenamente integrada ao sistema de

ensino, sendo, às vezes, vista como um novo meio de fazer educação (GARCIA, 2000).

De acordo com o Art. 80 da LDB 9.394/96 “O Poder Público incentivará o

desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e

modalidades de ensino, e de educação continuada.” (BRASIL, 1996, p. 28)

Além da garantia de incentivo do poder público e da possibilidade de amplo espaço de

atuação (todos os níveis e modalidades de ensino), a LDB garantiu tratamento privilegiado à

EaD, no que diz respeito ao uso de canais de radiodifusão, quando afirma que:

§ 4º A educação a distância gozará de tratamento diferenciado, que incluirá:

I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão sonora e de

sons e imagens;

II - concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas;

III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos concessionários

de canais comerciais.

Com o objetivo de regulamentar o artigo 80 da LDB, o MEC tomou a iniciativa de

baixar o Decreto no 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, que determinou as diretrizes para a

autorização e o reconhecimento de cursos e o credenciamento de instituições, abordou

questões referentes a matrículas, aproveitamento de estudos, transferências, avaliação de

rendimento, diplomas e certificados, distribuiu de competências, definiu penalidades e

garantiu a participação da iniciativa privada na oferta de ensino fundamental para jovens e

adultos, do ensino médio, da educação profissional, e de graduação.

De acordo com Giolo (2008), o Decreto no 2.494 não regulamenta aspectos

importantes da EaD, tais como: a oferta de programas de pós-graduação stricto sensu

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(mestrado e doutorado), o credenciamento de instituições, a autorização e o reconhecimento

de cursos de educação profissional e de graduação e os procedimentos, critérios e indicadores

da avaliação.

O Decreto no 2.561, de 27 de abril de 1998, corrige os artigos 11 e 12 do Decreto no

2.494, que trata das competências dos sistemas estaduais e municipais. Enquanto o Decreto no

2.494 determina que esses sistemas poderiam regular a oferta de EaD para o ensino

fundamental de jovens e adultos e para o ensino médio, o Decreto no 2.561 amplia essa

competência, acrescentando o ensino profissional de nível técnico.

Assim, enquanto os Estados e Municípios organizam a regulamentação de EaD para a

oferta da Educação Básica, o Governo Federal se encarrega desta regulamentação para a

oferta de cursos de nível superior.

Um exemplo que ilustra esta perspectiva é a Portaria no 301, de 7 de abril de 1998,

onde o MEC procura normatizar os procedimentos de credenciamento de instituições para a

oferta de cursos de graduação e educação profissional tecnológica a distância.

É importante destacar ainda o Decreto no 5.622, de 19 de dezembro de 2005, pois esse

decreto determina que: as instituições devem obedecer às diretrizes curriculares; a duração

mínima de um curso oferecido através da EaD não pode ser inferior à duração do mesmo

curso na modalidade presencial; o controle de frequência deve ser definido no projeto

pedagógico do curso; as equivalências e os aproveitamentos estão garantidos; os diplomas de

cursos oferecidos através da EaD têm validade nacional; os resultados dos exames presenciais

prevalecem sobre os demais resultados obtidos em outras formas de avaliação a distância; os

alunos devem participar das avaliações do Sistema Nacional de Avaliação da Educação

Superior e deve-se garantir condições análogas às da sede para o atendimento dos alunos

matriculados em polos de apoio presencial.

Depois de analisarmos como as mudanças no contexto nacional e global trouxeram à

tona novas necessidades educacionais, modificando as demandas até então apresentadas à

educação brasileira e contribuindo para a revitalização das atividades educativas através da

EaD, iremos agora, apresentar um pouco da história da EaD no Brasil, sua utilização como

estratégia para resolver as enormes carências educacionais do país, destacando o Programa

Universidade Aberta do Brasil (UAB), bem como a presença constante daquele que pode ser

considerado o maior desafio da EaD: a problemática da evasão discente.

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3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E EVASÃO

Neste capítulo, apresentaremos um pouco da história da EaD no Brasil e no mundo,

destacando algumas das principais experiências desenvolvidas ao longo do século XX.

Evidenciaremos as ações desenvolvidas a partir da década de 1990 voltadas para o

fortalecimento da EaD no Brasil (com destaque para o artigo 80 da LDB 9.394/96 e os

decretos e portarias que o regulamentam) e que culminaram com a criação da UAB. Além

disso, buscaremos apresentar mais detalhadamente a problemática da evasão discente na EaD,

enfatizando a realidade do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental oferecido através dessa

modalidade pelo IFRN e a consequente necessidade de pesquisas que procurem identificar as

causas dessa evasão.

3.1 Educação a distância no mundo

A educação a distância (EaD) não é uma modalidade educativa nova, sendo

comumente utilizada, tanto em países desenvolvidos, quanto em países em desenvolvimento.

Quando analisamos a evolução da EaD ao longo da história, constatamos que não

existe um consenso acerca do período em que ocorreram as primeiras experiências com o uso

dessa modalidade de ensino.

De acordo com Fontana e Rampelotto (2008), a ideia de EaD surgiu na Europa, por

volta de 1850, através do ensino por correspondência.

Para Saraiva (1996), o marco inicial da EaD aconteceu nos Estados Unidos da

América, no ano de 1728, quando o professor de taquigrafia Cauleb Phillips anunciou na

Gazeta de Boston que todas as pessoas que desejassem aprender essa arte poderiam receber,

em sua casa, lições semanais através do correio.

Desde as primeiras experiências de EaD, através do ensino por correspondência, até o

atual cenário, caracterizado pelo uso integrado das mais diversas tecnologias de comunicação

e informação (material impresso, áudio, vídeo, rádio, televisão, Internet, videoconferência,

teleconferência etc.), a EaD vem se consolidando como uma modalidade educativa capaz de

atender às novas e diversificadas demandas educacionais, sendo utilizada por vários países

por todo o planeta.

Ainda na década de 1990, já era possível identificar diversas instituições, em vários

países, desenvolvendo experiências educacionais através da EaD e atendendo a um elevado

número de alunos.

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52

Ao apresentar um panorama internacional da EaD, com base em dados de 1995, Sousa

(1996) afirma que existiam dez megauniversidades23 trabalhando com EaD no mundo.

Com base em dados do mesmo período, Preti (2000) aponta para a existência de 11

macrouniversidades no mundo. Além das dez instituições apresentadas por Sousa (1996),

Preti (2000) acrescenta a Payame Noor University / PNU, localizada no Irã.

As principais informações destacadas por este autor acerca dessas macrouniversidades

são apresentadas na tabela abaixo:

TABELA 1 – AS MACROUNIVERSIDADES DO MUNDO

País Nome da Instituição Ano de Fundação

Número de Alunos24

China China TV University Sistem/CTVU 1979 530.000 França Centre National d’Enseigment à Distance /

CNED 1939 184.614

Índia Indira Gandhi National Open University / IGNOU

1985 242.000

Indonésia Universitas Terbuka / UT 1984 353.000 Irã Payame Noor University / PNU 1987 117.000

Coréia Korea National Open University / KNOU 1982 210.578 Sud-África University of South África / UNISA 1973 130.000

Espanha Universidad Nacional de Educación a Distancia / UNED

1972 110.000

Tailândia Sukhothai Thammathirat Open University / STOU

1978 216.800

Turquia Anadolu University / OU 1982 577.804 Grã-

Bretanha The Open University / UKOU 1969 157.450

Fonte: PRETI (2000)

Além das instituições citadas pelo autor, gostaríamos de destacar: a Fern Universidad

alemã, a Universidade Aberta de Portugal e a Open Universität da Holanda.

Nesses países, há décadas a EaD se desenvolve com o incentivo do poder público,

promovendo o aumento nos índices de acesso ao ensino superior, bem como uma interessante

integração entre políticas governamentais e políticas educacionais.

Essa integração faz com que a maioria dessas instituições obtenha facilidades na

utilização de redes de comunicação em seus países, desde o uso de serviços postais, até canais

exclusivos de satélites e tarifas especiais de Internet.

23 Eram experiências de grande porte, todas elas atendendo a mais de 100 mil alunos, destinadas, à exceção talvez da The Open University, a impactar fortemente no destino educacional de seus países, abrindo, às massas populares, oportunidades que seriam impensáveis sem essa estratégia. (GIOLO, 2008, p. 1216-1217) 24 Em todas as instituições apresentadas, os dados acerca do número de alunos têm como referência o ano de 1995, com exceção de China (1994), França (1994) e Coréia (1996).

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Ao longo do Século XX o Brasil também passou a desenvolver diversas experiências

educacionais através da EaD, com o objetivo de ampliar a oferta de educação e minimizar a

exclusão educacional característica do nosso país.

Vejamos agora um pouco da história da EaD no Brasil, algumas das principais

experiências desenvolvidas através dessa modalidade educativa, seus objetivos e os públicos a

quem se destinavam.

3.2 Educação a distância no Brasil: um pouco da história

Assim como em outros países, ao longo do século XX e início do século XXI o Brasil

tem feito uso da EaD como estratégia para atender às demandas por formação inerentes à cada

momento histórico.

Quando observamos a forma como vem ocorrendo a oferta de formação através da

EaD no Brasil ao longo dos anos, constatamos que as instituições responsáveis por essa oferta

sempre procuraram fazer uso das tecnologias disponíveis em cada momento histórico. Assim,

em um primeiro momento a EaD fez uso do ensino por correspondência (material impresso) e

das transmissões radiofônicas, passando pelas transmissões televisivas, até chegar ao uso da

informática, fazendo ainda um uso combinado dessas tecnologias das mais diversas formas.

De acordo com Saraiva (1996), o marco inicial da EaD no Brasil foi a criação de um

plano de utilização educacional da radiodifusão pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, entre

os anos de 1922 e 1925.

É nesse contexto que surge o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, defendendo

a necessidade de democratização da educação, a ampliação do ingresso de pessoas sem

distinção de classe social e a articulação das reformas econômicas às reformas educacionais.

De acordo com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova

Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade o da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional. Pois, se a evolução orgânica do sistema cultural de um país depende de suas condições econômicas, é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção, sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa que são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade. (BRASIL, 2010a, p. 33)

Com a publicação desse manifesto, ganha força o Movimento da Escola Nova, que

começou a se desenvolver no Brasil ainda na década de 1920.

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Através da Escola Nova começa-se a notar, ainda de forma incipiente, os primeiros

indícios do uso de uma tecnologia aplicada ao processo educativo. Nessa época, a tecnologia

educacional podia ser entendida como uma conjugação de esforços entre alunos, professores e

meios tecnológicos em busca de maior eficácia, de modo que, ganham destaque o

planejamento organizado, os métodos de ensino e a implementação de sistemas de

aprendizagem que faziam uso dos meios de comunicação e dos recursos audiovisuais.

Diversas outras ações objetivando elevar os níveis de formação da população através

da EaD foram desenvolvidas no Brasil. Para que possamos destacar algumas dessas

experiências, faremos uso de uma classificação apresentada por Belloni (2002), que divide as

experiências envolvendo EaD em quatro grupos, de acordo com dois critérios essenciais:

objetivos pedagógicos e públicos prioritários.

3.2.1 Formação de professores

Nesse grupo incluímos os programas elaborados, tanto pelo governo federal, quanto

por governos estaduais, voltados para a formação inicial ou continuada de professores, com

destaque para:

a) Um salto para o futuro – Programa criado pela TVE do Rio de Janeiro no início da

década de 90, iniciou suas atividades em 1992, com o objetivo de contribuir para a

formação continuada de professores do ensino fundamental. O programa promove a

difusão televisual ao vivo, com uma apresentadora acompanhada por especialistas que

apresentam o assunto do dia e respondem às questões dos telespectadores que

participam do programa através de telefone ou fax;

b) TV Escola – De acordo com Belloni (2002), a TV Escola é um programa de grande

porte do Ministério da Educação, desenvolvido pela Secretaria de Educação a

Distância (SEED), cujo objetivo é oferecer aos professores da educação básica,

oportunidades de formação continuada através da EaD, buscando contribuir, de forma

aberta, flexível e informal (não-regular, sem avaliação ou certificação), para a

melhoria desta formação.

A TV Escola tem uma programação diária que é transmitida três vezes ao longo do

dia. A estratégia de trabalho com a programação da TV Escola se dá através da gravação dos

programas para utilização com os professores em um momento posterior, de acordo com o

planejamento da instituição de ensino e a disponibilidade dos professores, bem como, através

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da utilização direta dos programas por parte dos professores em suas atividades com os

alunos;

c) Licenciatura Plena em Educação Básica: 1a a 4a série do 1o grau – De acordo com

Neder (2000b), esta experiência de formação inicial de professores do ensino básico

através da EaD faz parte do Programa Interinstitucional de Qualificação Docente em

Mato Grosso, envolvendo a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC), secretarias

municipais de educação, a Universidade Estadual do Mato Grosso (UNEMAT) e a

Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).

Esse programa objetiva profissionalizar todos os professores dos sistemas estadual e

municipal do estado do Mato Grosso até o ano de 2011. Ultrapassando a simples perspectiva

da obtenção de um título acadêmico, esse programa destaca: a profissionalização do

magistério (com revisão do estatuto, plano de carreira e política de remuneração); a

organização do Sistema Único de Ensino; o fortalecimento da escola e a proposta de avaliação

do sistema educacional do estado.

Com relação ao uso da EaD, esse programa apresentava um caráter inovador para a

época por combinar técnicas de educação a distância com atividades presenciais e um sistema

de acompanhamento do estudante individual e coletivo, feito de forma presencial e também a

distância.

3.2.2 Educação popular

Nesse grupo estão incluídas as experiências de uso da EaD voltadas para a educação

popular, tanto no sentido de informação, divulgação do conhecimento e de formação da

cidadania, quanto no sentido de educação supletiva, com destaque para:

a) O Movimento de Educação de Base (MEB) – Experiência com a educação a distância

diretamente ligada à utilização das Escolas Radiofônicas que, de acordo com a

publicação Cadernos MEB (1994), tinha como metas universais: a transmissão de

educação de base às regiões subdesenvolvidas do país, a criação da vida comunitária

em torno de cada escola, procurando fazer nascer em cada aluno o espírito da

iniciativa e da responsabilidade social e o zelo pelo desenvolvimento social,

econômico e espiritual da população de cada região, buscando preparar as

comunidades para as reformas de base;

b) O Projeto Minerva – Esse projeto utilizava uma cadeia nacional de rádio para

promover cursos de capacitação ginasial, madureza ginasial e supletivo de 1o grau;

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c) O Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) – As atividades do MOBRAL

tiveram inicio em 1979, utilizando, em caráter experimental, “[...] os recursos da TVE

para emitir 60 programas em forma de teleaula dramatizada, com duração de 20

minutos cada um e eram apoiados em material impresso." (PRETI, 1996, p. 22);

d) Os Centros de Estudos Supletivos (CES) – De acordo com Mafra (1999), a

implantação do primeiro CES ocorreu no estado do Rio Grande do Norte, na cidade do

Natal, entre os anos de 1974/1975, através de uma ação conjunta do MEC, com a

Secretaria e o Conselho de Educação;

e) A Fundação Roberto Marinho (FRM) desenvolveu o Telecurso 2o Grau, o Supletivo

do 1o Grau e o Telecurso 2000, que eram ofertados através da televisão e do material

impresso adquirido em bancas de jornal;

f) O Instituto Universal Brasileiro (IUB) – fundado em 1941, o IUB oferece ensino por

correspondência para todo o país.

3.2.3 Televisão escolar substitutiva

Essas experiências de utilização da EaD têm um caráter compensatório, objetivando o

saneamento de carências no ensino básico regular, a expansão rápida da oferta de ensino

básico e o atendimento a demandas decorrentes de reformas educacionais, através do uso

intensivo da televisão.

a) O Sistema Avançado de Comunicações Interdisciplinares (Projeto SACI) – Este

projeto objetivava utilizar um satélite para transmitir programas de rádio e televisão

para todo o Brasil, atingindo toda a população escolarizável do país e assegurando a

formação permanente dos adultos, haja vista que o sistema educacional brasileiro

apresentava deficiências qualitativas e quantitativas, sendo inadequado para o

desenvolvimento nacional. O Rio Grande do Norte foi escolhido como local para o

desenvolvimento de uma experiência-piloto, de modo que “[...] se queria fazer no Rio

Grande do Norte uma experiência que fosse, de certo modo, um minissistema

nacional, um ensaio geral em tamanho reduzido antes de se passar a operar no país

inteiro.” (SANTOS, 1981, p. 102)

Apesar das imensas possibilidades apresentadas pelo projeto SACI, este projeto, como

diversos outros que envolveram a EaD em nosso país, foi extinto prematuramente, sem que se

pudesse avaliar as suas contribuições para a educação brasileira;

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b) Projeto Viva Educação – Projeto criado em 2002, através de um convênio entre o

governo do estado do Maranhão e a Fundação Roberto Marinho, objetivando oferecer

ensino médio a distância com materiais do Telecurso 2000 para alunos distribuídos em

mais de 3.000 salas de aula equipadas com aparelhos de televisão. Assim, esperava-se

que ocorresse uma expansão rápida desse nível de ensino, incluindo os jovens que não

tinham acesso ao ensino médio ou aqueles que estavam com a escolaridade atrasada;

c) A Televisão Educativa do Maranhão - Criada no ano de 1969, a televisão educativa no

Maranhão se apresentou como uma resposta diante do quadro insustentável da

educação no Estado, que deixava a quase totalidade da população escolarizável de 1º

grau à margem dos processos educativos.

A falta de professores habilitados, aliada à pressa no campo político, levou à

implementação do projeto, que tentava resolver os graves problemas diagnosticados buscando

estender a escolarização pública da 5ª à 8ª série do 1o grau.

3.2.4 Formação continuada ou educação ao longo da vida

Nesta categoria se enquadra um conjunto de experiências educacionais muito variadas,

voltadas para a formação continuada, principalmente em nível de pós-graduação.

São experiências desenvolvidas por empresas privadas das áreas de educação e/ou

comunicação, bem como por universidades públicas, contemplando uma variedade muito

grande de cursos de atualização profissional e de pós-graduação, reconversão e outros tipos,

dirigindo-se a um mercado consumidor muito amplo, seguindo a lógica do mercado, com

tendência a gerar cursos de qualidade duvidosa.

Cursos de pós-graduação nesses moldes se espalharam rapidamente pelo país,

atendendo a necessidades muito variadas de formação e, em alguns casos, configurando-se

como uma alternativa adequada para todos aqueles que desejam simplesmente obter um título

acadêmico para fins de progressão funcional ou aprovação em concursos públicos, sem os

desgastes comuns aos cursos de pós-graduação oferecidos por instituições que tratam esse

nível de ensino com a devida seriedade.

Nesse sentido, convém ressaltar a importância do papel exercido pelos órgãos

responsáveis pelo credenciamento de instituições que desejam oferecer cursos a distância. É

necessário que se impeça a criação e a oferta de cursos por parte de instituições que, sem o

devido cuidado, buscam apenas utilizar a EaD como mais uma fonte de recursos, sem se

preocupar com a qualidade da formação oferecida.

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Tão importante quanto impedir a oferta de cursos que não estejam dentro dos padrões

de qualidade desejados é estimular o desenvolvimento de projetos sérios, de instituições

interessadas no desenvolvimento da EaD e na sua correta utilização como instrumento capaz

de oferecer educação de qualidade para todos aqueles que desejam e necessitam.

Além das experiências citadas nesses grupos, consideramos importante destacar a

criação do consórcio Universidade Virtual Pública do Brasil (UniRede), em 2000, onde 74

Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES) estabeleceram uma parceria com o objetivo

de oferecer educação superior através da EaD.

Apesar das inúmeras iniciativas voltadas para o desenvolvimento da EaD no Brasil,

essa modalidade educativa sempre enfrentou muitas resistências e ainda busca conquistar um

papel de grande relevância, devido a fatores como: a falta de continuidade dos programas

desenvolvidos; o desconhecimento das possibilidades oferecidas pela EaD; uma visão elitista

da educação; ou até pelo medo de que a EaD ponha em risco o ofício do professor.

Além disso,

Existe também uma não credibilidade quanto ao produto desta modalidade, quanto a sua seriedade, a sua eficiência e eficácia, diante do entendimento de que nos países do terceiro mundo não existe uma ‘cultura de autodidatismo’. Há um certo ‘pré-conceito’ difuso em relação a EAD. Resistências e não compreensão clara e exata do que seja Educação a Distância são encontradas no seio das próprias universidades. (PRETI, 1996, p. 23)

Para Belloni (2003), a EaD tem sido considerada uma solução paliativa, emergencial

ou marginal, quando comparada com o sistema educacional presencial, sendo vista como uma

segunda oportunidade para os indivíduos que não obtiveram sucesso no ensino convencional.

Apesar disso, a articulação de fatores políticos, econômicos, sociais, tecnológicos e

pedagógicos está estimulando o desenvolvimento de atividades educacionais através da EaD

em grande parte do mundo. Esses fatores também exercem influência sobre o Brasil, que,

como vimos, vem promovendo diversas ações com o objetivo de fortalecer o

desenvolvimento de atividades educativas através da EaD.

Esse conjunto de ações voltadas para o desenvolvimento da EaD no Brasil culminou

com a criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB).

3.3 A Universidade Aberta do Brasil como estratégia de expansão da educação superior

Diante das possibilidades oferecidas pela EaD, percebemos hoje, em diversos países

do mundo e, com um pouco de atraso, no Brasil, um aumento significativo nas

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atividades/pesquisas que buscam aliar educação e comunicação procurando criar melhores

ambientes de aprendizagem, seja à distância ou presencial, e transgredir os limites de tempo e

espaço característicos da escola da modernidade, o que não é simples, pois, historicamente, a

educação tem se realizado, predominantemente, dentro do espaço físico específico da escola.

Em um cenário marcado pela crescente demanda por formação, o Brasil tem

conseguido, a partir da década de 1990, elevar o número de matrículas na educação básica,

com ênfase no ensino fundamental. Porém, de acordo com os dados apresentados no Plano

Nacional de Educação (PNE), de 2001, o Brasil chegou ao século XXI apresentando um dos

índices mais baixos de acesso à educação superior na América Latina (a porcentagem de

matriculados na educação superior brasileira em relação à população de 18 a 24 anos era

inferior a 12%). Esse índice é inferior aos índices apresentados, na mesma época, por países

vizinhos, como: Argentina (40%), Venezuela (26%), Bolívia e Chile (ambos com 20,6%).

No Brasil, a maioria das IES está instalada nas regiões Sul e Sudeste, ou ainda na

região litorânea. Pelo interior do país existe um grande número de cidadãos que não têm

acesso à educação superior devido ao fato de residirem em lugares distantes das instituições

responsáveis pela oferta desse nível de ensino.

Balmant (2006) considera que a avaliação do nosso mapa da educação superior reflete

perfeitamente a geografia social brasileira, pois a maioria das cerca de 2.300 IES está

localizada nas regiões Sul e Sudeste e na costa do país, de modo que cerca de 70% dos

municípios brasileiros dispõem somente de ensino básico (ensino fundamental e ensino

médio).

De acordo com a autora, o Brasil tem 3.941 cidades onde não há como continuar os

estudos após a conclusão desses níveis de ensino, fazendo com que uma grande parcela da

população deixe de ter acesso ao ensino superior.

Esses números evidenciam a dimensão da exclusão e da desigualdade educacional no

Brasil. Para tentar reverter esse quadro, o Governo Federal, através do Plano Nacional de

Educação (2001), estabeleceu como meta a inclusão de, pelo menos, 30% dos jovens entre 18

e 24 anos no ensino superior até o final da década.

A expansão na oferta de ensino superior presencial vem ocorrendo, tanto na esfera

pública, quanto na esfera privada. Porém, essa expansão tem uma presença hegemônica da

iniciativa privada, principalmente após o ano de 1995.

Dourado (2008) considera que os indicadores relativos a matrículas e vagas nos cursos

de graduação presenciais, no ano de 2006, evidenciam a intensificação da privatização da

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educação superior, como resultado de uma política que procurou aliar a expansão deste nível

de ensino ao setor privado, sobretudo, a partir da segunda metade da década de 1990.

Confirmando essa tendência, o Censo da Educação Superior de 2009 (2010b) mostra

que, naquele ano, o setor privado contava com 2069 IES (89,41%) e respondia por 73,59%

das 5.115.896 matrículas nos cursos de graduação presenciais.

Apesar das ações desenvolvidas pelo MEC nos últimos anos, objetivando a ampliação

da oferta de vagas em cursos superiores presenciais, com destaque para a criação de novas

Universidades e Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e a implantação de

novos cursos e campi, o caráter privatista da educação superior ainda é evidente.

Diante das dificuldades encontradas para realizar os vultosos investimentos

necessários à interiorização e à expansão da oferta de educação superior pública através do

ensino presencial e da necessidade de racionalizar os gastos nas áreas sociais, o Estado

brasileiro se rende às recomendações do BM e opta pela adoção da EaD, acreditando que essa

modalidade educativa é a estratégia mais eficaz para ampliar e interiorizar a oferta de ensino

superior gratuito.

Além disso, a expansão significativa da educação básica ao longo da década de 1990 e

a consequente pressão por educação superior oriunda dessa expansão, a partir de 2004,

também estimularam o Governo Federal a desenvolver algumas ações objetivando ampliar a

oferta de educação superior no Brasil e atender a essa demanda por formação, com destaque

para: o Programa Universidade para Todos (PROUNI)25, a Universidade Aberta do Brasil

(UAB)26 e o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades

Federais (REUNI)27.

Essas iniciativas objetivando a expansão da oferta de educação superior estão em

sintonia com as orientações do BM, que aponta para a importância desse nível de ensino para

o progresso social e econômico, além de atuar como elemento formador de capital humano de

alta qualidade em uma sociedade onde o conhecimento é visto como o principal motor do

desenvolvimento econômico.

En efecto, los países que se han beneficiado en mayor medida de la integración a la economía mundial han logrado un aumento más significativo de sus niveles educativos. De otra parte, existe una evidencia cada vez mayor que la educación terciaria es vital para los esfuerzos de una nación, con el fin de aumentar su capital y promover la cohesión social, puesto que tiene un rol de empoderamiento al constituyente primario, fortalecimiento institucional, brinda elementos de regulación

25 Criado pela Medida Provisória no 213, de 10 de setembro de 2004 e transformado em lei – Lei no 11.096, de 13 de janeiro de 2005. 26 Instituída pelo Decreto no 5.800, de 08 de junho de 2006. 27 Instituído pelo Decreto no 6.096, de 24 de abril de 2007).

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y consolida estructuras de gobierno favorables, factores de crecimiento económico y desarrollo. (BANCO MUNDIAL, 2003, p. x)

É importante ressaltar que a sintonia entre as políticas de expansão da educação

superior no Brasil e as recomendações do BM não se limita ao reconhecimento da

importância da expansão deste nível de ensino, mas a forma como essa expansão ocorre.

As políticas de expansão da educação superior no Brasil têm se caracterizado pela

diversificação institucional, pela desregulamentação, pela liberalização e pelo

aprofundamento da privatização.

Nesse sentido, políticas de expansão da oferta de educação superior como o PROUNI

e o REUNI se alinham com as recomendações do BM, pois, enquanto que o PROUNI

fortalece as IES privadas, através da troca de vagas ociosas pela isenção de impostos, o

REUNI introduz um novo modelo de gestão nas universidades públicas, fundamentado na

racionalização dos recursos e na introdução de uma lógica gerencial através de contratos de

gestão que objetivam ajustar as ações desenvolvidas por essas instituições ao modelo

produtivista de privatização e mercantilização de bens serviços acadêmicos.

Dentre as ações objetivando a democratização do acesso à educação superior no

Brasil, o PROUNI e a UAB se apresentam como políticas que fazem uso da EaD para

promover a expansão da educação superior. Porém, enquanto que, no PROUNI, instituições

privadas oferecem vagas em cursos presenciais ou a distância, a UAB se destaca por ser a

única ação desenvolvida por IES públicas, que tem a EaD como fundamento para o

desenvolvimento de suas atividades, objetivando promover a interiorização da educação

superior.

Com a criação da Secretaria Especial de Educação a Distância (SEED), em 1996, e da

Universidade Aberta do Brasil (UAB), a EaD se converte em política pública nacional.

Assim, através da UAB o MEC se propõe a ampliar, diversificar, democratizar e interiorizar a

oferta de educação superior pública e gratuita, dentro dos padrões de qualidade apresentados

pelas IES públicas federais (Universidades Federais e Institutos Federais de Educação,

Ciência e Tecnologia), oferecendo educação superior para populações que estariam

impossibilitadas de estudar devido à falta de tempo para frequentar uma instituição de ensino

presencial, ou ainda pela inexistência de uma instituição de ensino presencial que lhes

oferecesse possibilidades de acesso.

A UAB foi instituída pelo Decreto no 5.800, de 08 de junho de 2006. De acordo com

Art. 1o desse Decreto, são objetivos do Sistema UAB:

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I - oferecer, prioritariamente, cursos de licenciatura e de formação inicial e continuada

de professores da educação básica;

II - oferecer cursos superiores para capacitação de dirigentes, gestores e trabalhadores

em educação básica dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

III - oferecer cursos superiores nas diferentes áreas do conhecimento;

IV - ampliar o acesso à educação superior pública;

V - reduzir as desigualdades de oferta de ensino superior entre as diferentes regiões do

País;

VI - estabelecer amplo sistema nacional de educação superior a distância; e

VII - fomentar o desenvolvimento institucional para a modalidade de educação a

distância, bem como a pesquisa em metodologias inovadoras de ensino superior apoiadas em

tecnologias de informação e comunicação.

Através da UAB, os Municípios, Estados ou Distrito Federal, individualmente ou

organizados em associações/consórcios, podem organizar projetos de polos municipais de

apoio presencial para receberem cursos superiores de instituições públicas federais.

Enquanto os governos estaduais e municipais fornecem a infraestrutura física para a

parte presencial dos cursos (laboratórios, bibliotecas, salas para aplicação das provas etc.), as

instituições federais fornecem o corpo docente, materiais de ensino (CD-ROM, módulos

impressos etc.) e o projeto político-pedagógico dos cursos.

Como a UAB adota um modelo de formação que combina atividades desenvolvidas a

distância com atividades desenvolvidas em momentos presenciais, para que esse modelo

funcione é fundamental a adesão de Estados e Municípios, que serão responsáveis por manter

polos de apoio presencial, de onde partirá a organização didático-administrativa dos cursos a

distância.

É importante ressaltar que esse modelo de formação oferecido pela UAB está em

perfeita sintonia com as orientações do BM, quando este recomenda que

No parece conveniente enseñar todo un programa de pregrado exclusivamente mediante clases en línea, si lo que se pretende es que los estudiantes aprendan a pensar de manera crítica y a interactuar socialmente como preparación para la vida profesional. La combinación de cursos en línea y cursos en aulas corrientes les da a los alumnos más oportunidades de interacción humana y desarrollo de los aspectos sociales del aprendizaje por medio de la comunicación directa, el debate, el intercambio de ideas y la construcción de consensos. Estas pautas pedagógicas también se aplican al diseño y a la provisión de programas de educación a distancia, que requieren combinar los objetivos de aprendizaje con el apoyo técnico apropiado. (BANCO MUNDIAL, 2003, p. 47)

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Os polos são locais que devem oferecer uma estrutura de apoio pedagógico e

tecnológico, objetivando atender adequadamente aos estudantes que necessitem da orientação

de professores e tutores para desenvolver atividades individuais ou em conjunto com outros

alunos e ainda realizar provas.

Espera-se ainda que, nos polos, os alunos tenham acesso à biblioteca e ao laboratório

de informática, contando com atendimento de tutores, assistindo às aulas e realizando

trabalhos práticos.

Se é verdade que a criação da UAB pode ser considerada como o grande marco para a

EaD no Brasil, também é verdade que essa instituição já nasce cercada por grandes desafios e

expectativas.

De acordo com Mota e Chaves Filho (2006, p. 19), Secretário de educação a distância

e Diretor de políticas em educação a distância do MEC, respectivamente, no período em que a

UAB foi regulamentada,

A Universidade Aberta do Brasil é um projeto que propiciará revisão de nosso paradigma educacional, em termos da modernização, gestão democrática e financiamento, e provocará importantes desdobramentos para a melhoria da qualidade da educação, tanto na incorporação de tecnologias e metodologias inovadoras ao ensino presencial quanto nos possíveis caminhos de promovermos educação superior a distância com liberdade e flexibilidade. Importante indicar também as perspectivas futuras e sua relevância para a ampliação da oferta do número de vagas no ensino superior público e gratuito e expansão geográfica da oferta no combate ao histórico desafio da exclusão dos cidadãos brasileiros aos níveis mais elevados da educação.

Assim, através da UAB, busca-se ampliar, diversificar, democratizar e interiorizar a

oferta de educação superior pública, gratuita e de qualidade, contribuindo para o cumprimento

da meta do Plano Nacional de Educação de termos 30% da população na faixa etária de 18 a

24 anos de idade frequentando a educação superior, até o ano de 2010.

Além da criação da UAB, consideramos importante destacar o Art. 2o do Decreto

5.622, de 19 de dezembro de 2005, que afirma que a educação a distância poderá ser ofertada

na modalidade da educação profissional, abrangendo os cursos técnicos de nível médio e

tecnológicos de nível superior.

Além de garantir a possibilidade da oferta de educação profissional através da EaD,

esse Decreto regulamenta aspectos importantes para o desenvolvimento da EaD no Brasil,

como: o credenciamento institucional, a supervisão, o acompanhamento e a avaliação.

Mais recentemente, o MEC promoveu a redefinição das ações da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ampliando o seu espaço de atuação

no campo da formação docente, articulando essa iniciativa com a consolidação da UAB,

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buscando uma expansão na oferta de cursos através da EaD, bem como uma maior integração

entre os programas de formação inicial e continuada de professores.

Se considerarmos que uma das principais metas da UAB é a expansão da oferta de

cursos de licenciatura, objetivando suprir a deficiência de profissionais para atuarem na

educação básica, fica evidente a influência que a CAPES passa a exercer sobre os rumos da

UAB.

Erroneamente, o MEC procura resolver o problema da falta de professores para atuar

na educação básica através da ampliação da oferta de cursos de licenciatura, esquecendo que o

crescente desinteresse por esses cursos se deve, entre outras coisas, aos baixos salários

recebidos pelos professores, bem como às péssimas condições em que esses profissionais

desenvolvem suas atividades.

Através da Lei 11.502, de 11 de julho de 2007, o MEC fortaleceu o papel da CAPES

no que concerne ao desenvolvimento de políticas públicas orientadas para a formação inicial e

continuada de professores da educação básica, bem como a sua influência sobre as ações da

UAB, ao afirmar, em seu Art. 1o, que,

No âmbito da educação básica, a Capes terá como finalidade induzir e fomentar, inclusive em regime de colaboração com os Estados, os Municípios e o Distrito Federal e exclusivamente mediante convênios com instituições de ensino superior públicas ou privadas, a formação inicial e continuada de profissionais de magistério, respeitada a liberdade acadêmica das instituições conveniadas, observado, ainda, o seguinte: I - na formação inicial de profissionais do magistério, dar-se-á preferência ao ensino presencial, conjugado com o uso de recursos e tecnologias de educação a distância; II - na formação continuada de profissionais do magistério, utilizar-se-ão, especialmente, recursos e tecnologias de educação a distância. (BRASIL, 2007, p. 01)

A nova estrutura da CAPES passou a contar com a Diretoria de Educação Básica

Presencial (DEB), a Diretoria de Educação a Distância (DED) e o Conselho Técnico-

Científico (CTC) da Educação Básica.

De acordo com Dourado (2008), a CAPES passou a coordenar o Plano do Sistema

Nacional de Formação, objetivando a promoção da organicidade das políticas voltadas para a

formação e para a expansão da formação inicial e continuada de profissionais do magistério,

por meio, entre outras, da UAB.

Uma análise das Sinopses Estatísticas da Educação Superior dos anos de 2000 e 2001,

em conjunto com o censo da educação superior dos anos de 2008 e 2009, evidencia o

crescimento da EaD no Brasil nos últimos anos.

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Em 2000, o Brasil apresentava sete IES que ofereciam dez cursos e um total de 6.430

vagas. Em 2008, o Brasil já possuía 115 IES (aumento de 1.542,86%) que ofereciam 647

cursos (aumento de 6.370,0%) e um total de 1.699.489 vagas (aumento de 26.330,62%).

Além disso, em 2000, 5.387 novos alunos ingressaram em cursos superiores

oferecidos através da EaD e 1.682 alunos realizaram matriculas em cursos superiores a

distância no Brasil. Já em 2008, 430.259 novos alunos ingressaram nesses cursos superiores

(aumento de 7.886,99%) e 727.961 alunos realizaram matriculas (aumento de 43.179,49%)

em cursos superiores a distância no Brasil.

O censo da educação superior não informa o número de alunos que concluíram cursos

de graduação através da EaD no ano de 2000, mas, se levarmos em conta que 131 alunos

concluíram cursos superiores oferecidos a distância em 2001 e que 70.068 alunos concluíram

cursos através dessa modalidade educativa em 2008, constatamos que ocorreu um aumento de

53.387,02% no número de concluintes de graduação a distância no período de 2001 a 2008.

O censo da educação superior de 2009 (2010b) e a Sinopse Estatística da Educação

Superior de 2009 (2011) mostram que ocorreu um aumento no número de cursos a distância e

IES credenciadas para a oferta de EaD, bem como no número de matrículas e de concluintes

em cursos através da EaD, com relação ao ano de 2008. Por outro lado, é possível constatar

que ocorreu uma redução no número de vagas, de inscritos e de ingressos nos cursos a

distância nesse mesmo período.

Apesar da redução no número de ingressos em cursos a distância entre os anos de

2008 e 2009, o percentual de alunos da educação superior que estudam através da EaD passou

de 7,0%, em 2007, para 14,1%, em 2009, ou seja, dobrou em apenas dois anos.

A tabela abaixo descreve a evolução do ensino superior oferecido através da EaD no

Brasil no período de 2000 a 2009.

TABELA 2 – EVOLUÇÃO DO ENSINO SUPERIOR ATRAVÉS DA EAD – BRASIL: 2000-2009

Ano IES Cursos Vagas Inscritos Ingressos Matrículas Concluintes 2000 07 10 6.430 8.002 5.387 1.682 - 2001 10 16 6.859 13.967 6.618 5.359 131 2002 25 46 24.389 29.702 20.685 40.714 1.712 2003 38 52 24.025 21.873 14.233 49.911 4.005 2004 47 107 113.079 50.706 25.006 59.611 6.746 2005 73 189 423.411 233.626 127.014 114.642 12.626 2006 77 349 813.550 430.229 212.465 207.206 25.804 2007 97 408 1.541.070 537.959 302.525 369.766 29.812 2008 115 647 1.699.489 708.784 430.259 727.961 70.068 2009 129 844 1.561.715 665.839 332.469 838.125 132.269

Fonte: MEC/INEP

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Quando observamos que a relação entre o número de inscritos em cursos a distância e

o número de vagas oferecidas no ano de 2006 foi de 0,53 candidatos para cada vaga, e que,

em 2009, essa relação foi de 0,43 candidatos para cada vaga, constatamos que a expansão da

oferta de vagas em cursos a distância não está sendo acompanhada por uma expansão

equivalente da procura por esses cursos, apesar da redução na oferta de vagas ocorrida no ano

de 2009.

É importante ressaltar que a maioria das vagas ociosas nos cursos a distância é

oferecida por instituições de ensino privadas que viram na EaD uma oportunidade de

aumentar seus lucros, contemplando um público com menor poder aquisitivo, já que a EaD

possibilita a oferta de cursos a um valor mais baixo do que o valor cobrado pelos mesmos

cursos, quando são oferecidos através da educação presencial.

Porém, mesmo custando menos que os cursos presenciais, os cursos a distância

oferecidos por essas instituições ainda precisam ser pagos, e uma parcela significativa da

população brasileira ainda não é capaz de arcar com esses custos.

Apesar dos esforços do MEC objetivando oferecer oportunidades de acesso ao ensino

superior público através da EaD, quando analisamos a evolução da educação superior no

Brasil na última década, é possível perceber que a grande expansão da EaD nesse nível de

ensino se deve, predominantemente, ao forte investimento privado no desenvolvimento de

cursos superiores através dessa modalidade educativa, com uma participação menor do poder

público, apesar da criação da Universidade Aberta do Brasil.

TABELA 3 – EVOLUÇÃO PERCENTUAL DAS IES CREDENCIADAS PARA A OFERTA DE EAD, CURSOS SUPERIORES E MATRÍCULAS SEGUNDO A

CATEGORIA ADMINISTRATIVA – BRASIL: 2000-2009 IES credenciadas Cursos Superiores Matrículas

Ano/ Categoria administrativa

Pública Privada Pública Privada Pública Privada

2000 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0

2001 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0

2002 64,0 36,0 80,4 19,6 84,3 15,7

2003 58,3 41,7 69,2 30,8 79,7 20,3

2004 53,3 46,7 36,4 63,6 60,4 39,6

2005 39,3 60,7 38,6 61,4 47,6 52,4

2006 42,9 57,1 35,8 64,2 20,3 79,7

2007 - - 31,0 69,0 25,5 74,5

2008 51,3 48,7 43,4 56,6 38,3 61,7

2009 53,5 46,5 47,4 52,6 20,6 79,4 Fonte:MEC/INEP

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A tabela acima ilustra a evolução no número de IES credenciadas para a oferta de

cursos através da EaD, bem como a evolução no número de cursos e de matrículas, segundo a

categoria administrativa, no período de 2000 até 2009, bem como o desequilíbrio na

participação de instituições públicas e privadas na oferta de educação superior através de EaD

no Brasil.

De acordo com Giolo (2008) a oferta de cursos regulares através da EaD foi

desencadeada pela LDB 9.394/96, porém, apenas a partir do ano 2000 essa oferta se

estruturou, inicialmente conduzida por instituições públicas e, a partir de 2002, com uma

agressiva participação do setor privado, transformando a EaD em um importante objeto de

disputa no mercado educacional.

Ao contrário do que previa a legislação, a iniciativa privada não direcionou sua

atenção para todos os níveis e modalidades de ensino e de educação continuada, investindo,

prioritariamente, no ensino de graduação, com foco nos cursos de mais fácil oferta: Pedagogia

e Normal Superior, em primeiro lugar; Administração e cursos superiores de Tecnologia em

Gestão, em segundo lugar.

Consideramos que, sem um planejamento adequado, as políticas de expansão da oferta

de cursos de graduação, como o PROUNI e o REUNI, aliadas à significativa expansão da

oferta de cursos de graduação através da EaD, podem provocar um excesso de oferta em

algumas regiões do país e esse excesso de oferta pode influenciar na evasão de cursos através

da EaD, já que os alunos podem optar pelos cursos presenciais, ou ainda por um outro curso a

distância.

Mesmo estando diante de um novo cenário caracterizado por diversos fatores que

desafiam os sistemas educacionais presenciais e apontam para a necessidade do

desenvolvimento de atividades através da EaD, bem como pelas iniciativas oficiais

objetivando torná-la uma modalidade educativa capaz de atender às novas e crescentes

demandas por formação inicial e continuada no Brasil, é importante ressaltar que essa

modalidade educativa não está isenta de problemas.

Dentre os diversos problemas enfrentados pela EaD, gostaríamos de destacar a

problemática da evasão discente, haja vista que esta questão se revela como um problema

crônico para a maioria das atividades educativas desenvolvidas através da EaD.

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3.4 A evasão na EaD

Ao tratarmos da evasão na EaD, é importante considerar a definição de evasão adotada

no momento em que se analisa as taxas de evasão em um curso a distância, pois essas taxas

podem variar de acordo com o critério adotado nessa análise.

A análise de pesquisas acerca da evasão nos mostra uma grande variedade de

definições desse fenômeno, com uma amplitude que pode variar em razão dos critérios

escolhidos pelo pesquisador para categorizar os processos de saída dos alunos de cursos

oferecidos através da EaD.

A tabela abaixo apresenta uma breve análise de algumas definições de evasão

encontradas na literatura:

TABELA 4 – DEFINIÇÃO DE EVASÃO E AMPLITUDE DO CONCEITO

Autor/Data Definição Amplitude do Conceito Biazus (2004) Evasão é a saída do aluno da

universidade ou de um de seus cursos, definitiva ou temporariamente, por qualquer motivo, exceto a diplomação.

Não especifica se o aluno que se matriculou e nunca participou das atividades do curso deve ser considerado como evadido.

Favero (2006) Evasão é o ato de desistência, incluindo os que nunca se apresentaram ou se manifestaram de alguma forma para os colegas e mediadores do curso, em qualquer momento.

Deixa claro que a evasão se aplica tanto aos alunos que chegaram a iniciar o curso, quanto aos alunos que apenas se matricularam e nunca participaram das atividades do curso.

Abbad, Carvalho e Zerbini (2006)

Evasão se refere ao percentual de alunos que se matricularam no curso, mas nunca o iniciaram, ou que o começaram, mas interromperam sua participação.

Deixa claro que a evasão se aplica tanto aos alunos que chegaram a iniciar o curso, quanto aos alunos que apenas se matricularam e nunca participaram das atividades do curso.

Nascimento e Esper (2009) Evasão é a desistência do participante em concluir o curso, após o primeiro acesso ao ambiente virtual de aprendizagem, em um momento qualquer.

São considerados evadidos apenas os alunos que desenvolveram atividades e, posteriormente, desistiram de concluir o curso.

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As várias definições de evasão demonstram que, enquanto alguns pesquisadores

consideram que os alunos que se matricularam e nunca frequentaram o curso devem ser

contabilizados como alunos evadidos, outros pesquisadores consideram que os alunos

evadidos são apenas aqueles que iniciaram as atividades e, posteriormente, abandonaram o

curso, existindo ainda pesquisadores que não abordam essa questão com a devida clareza.

Nesta pesquisa, tomaremos como referência o conceito de evasão apresentado por

Favero (2006), onde consideramos como evasão discente a desistência definitiva do curso por

parte do aluno, em qualquer etapa do curso, incluindo, tanto os alunos que participaram

efetivamente das atividades do curso e decidiram evadir, quanto os alunos que, após

efetuarem sua matrícula, decidiram evadir sem jamais terem participado das atividades

desenvolvidas ao longo do curso.

Ao considerarmos, em nossa definição de evasão, que “o aluno decide evadir”,

desejamos ressaltar que entendemos como aluno evadido aquele que reflete sobre sua

permanência ou não em um curso e, após analisar os aspectos positivos e negativos de sua

permanência e da evasão, opta por não mais participar das atividades desse curso, em caráter

definitivo.

Nesse sentido, não consideramos evadidos, alunos que frequentavam regularmente as

atividades de um curso e que, por exemplo, faleceram durante o período em que as atividades

do curso aconteciam, pois esses alunos não decidiram evadir.

Mesmo considerando como evadidos os alunos que apenas se matricularam e nunca

frequentaram as atividades do curso, consideramos que, com o acompanhamento adequado,

os profissionais responsáveis pelo desenvolvimento do curso poderiam perceber

prematuramente a ausência desses alunos e substituí-los por outros alunos interessados em

participar do curso. Apesar de os alunos evadidos continuarem fazendo parte das estatísticas

de evasão, os prejuízos econômicos ocasionados por essa ausência seriam minimizados, já

que a instituição responsável pela oferta do curso continuaria atendendo a quantidade de

alunos prevista inicialmente.

As pesquisas apresentadas a seguir nos permitem afirmar que a evasão discente em

cursos superiores oferecidos através da EaD é uma realidade cada vez mais evidente.

Ao analisar a problemática da evasão em um curso desenvolvido através da web com

professores da Educação Profissional das Escolas Técnicas do Rio Grande do Sul, Favero

(2006) aponta para a importância do diálogo para a permanência do aluno em um curso

desenvolvido através da EaD.

De acordo com esta autora

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70

Desde que os alunos sejam instigados, eles respondem ativamente e passam a participar efetivamente, cooperando com os colegas, incentivando-os e, também, desenvolvendo-se intelectualmente. Ao se sentirem parte do processo, ao perceberem que não estão sozinhos e que estão adquirindo aprendizagem, os educandos permanecem fazendo parte do mesmo até o final. Eles se motivam e continuam, não evadindo. (FAVERO, 2006, p. 154-155)

Além da falta de diálogo como elemento capaz de motivar a evasão, a autora ressalta

que, pelo fato de o aluno da EaD ser majoritariamente adulto e já exercer atividades

profissionais, fatores como cansaço após um dia de trabalho e falta de interesse em dar

continuidade aos estudos também influenciam na decisão de evadir.

Além da importância da interação como elemento capaz de diminuir a sensação de

abandono e reduzir os índices de evasão, Maia et al (2004) afirmam que o êxito de um curso a

distância pode ser influenciado por fatores como: uma definição clara do programa, a

utilização correta do material didático, a capacitação dos professores e o uso correto de meios

apropriados que facilitem a interatividade entre professores e alunos e entre os alunos. Além

disso, a evasão pode ser motivada por fatores de ordem individual ou regional e ainda pela

avaliação do curso.

Através da pesquisa realizada com 22 IES brasileiras (55% públicas e 45% privadas)

os autores constataram que:

a) cursos oferecidos por instituições privadas têm maior evasão (23%) do que cursos

oferecidos por instituições públicas (11%); e

b) cursos totalmente à distância têm maior evasão do que cursos semipresenciais. Os

cursos totalmente à distância apresentam evasão média de 30%, enquanto que os

cursos semipresenciais apresentam uma evasão média de 8%.

Esses dados permitem concluir que, na amostra analisada, os cursos em que a

interação entre professores e alunos ocorre apenas pela Internet têm maior evasão do que

cursos com momentos presenciais. Cursos totalmente a distância podem gerar nos alunos a

sensação de isolamento, desestimulando a continuidade no curso, enquanto que os alunos que

participam dos momentos presenciais têm uma maior possibilidade de se sentir incluídos em

uma turma, tornando-se mais motivados a aprender e a interagir.

Ao analisar os resultados da pesquisa, Maia (2005) ressalta que

As variáveis mais representativas para este resultado são o modelo de ensino e a interação entre aluno e professor. Também foi conclusivo que os cursos que mais incentivam algum tipo de interação entre professores e alunos – por meio de chats, fóruns, videoconferência, teleconferência, ou mesmo os encontros pessoais – apresentam um nível menor de evasão. (MAIA, 2005, p. 01)

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Nesse sentido, como justificar os elevados índices de evasão apresentados pelos polos

do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental oferecido pelo IFRN nos polos de Mossoró e

Currais Novos?28

Trata-se de um curso a distância que disponibiliza momentos para encontros

presenciais entre alunos, professores e tutores, cuja presença dos alunos é obrigatória, sendo

oferecido por uma instituição pública (IFRN) e com certificação do MEC.

As afirmações feitas por Coelho (2000), acerca dos principais fatores que influenciam

na evasão, reforçam esse questionamento acerca dos índices de evasão apresentados pelos

polos de EaD do IFRN, pois, para a autora, a evasão na EaD ocorre devido a fatores como:

a) a ausência da relação face-a-face entre professores e alunos, capaz de proporcionar

maior interação e respostas afetivas entre os atores do processo educativo;

b) a inabilidade no uso das novas tecnologias, dificultando o acompanhamento das

atividades propostas nos cursos a distância;

c) a dificuldade em expor ideias através de uma comunicação escrita a distância,

inviabilizando a interatividade; e

d) a falta de um agrupamento de pessoas em uma instituição física, como ocorre no

ensino presencial, fazendo com que o aluno da EaD se sinta excluído do sistema

educacional.

Em pesquisa que procurou identificar as causas da evasão em um curso de Ciências

Biológicas a distância, bem como propor estratégias de prevenção, Santos et al (2008)

identificaram um conjunto de fatores determinantes para a evasão, em sua maioria ligados aos

aspectos pessoais e poucos relacionados ao funcionamento do curso.

Para esses autores, a maioria das causas da evasão é de origem extrínseca ao curso, ou

seja, a evasão é motivada, principalmente, por razões pessoais, com destaque para: a falta de

tempo para dedicar-se ao curso; a priorização de outras atividades em detrimento do curso; a

falta de habilidade para as exigências da EaD; a falta de autonomia; problemas de saúde e

não-adequação ao modelo de aprendizagem da EaD.

As causas intrínsecas ao curso surgem em menor número e estão relacionadas à falta

de acompanhamento dos professores/tutores, a necessidade de maior contato com esses

profissionais e a falta de apoio/incentivo institucional, o que, novamente, evidencia a

necessidade de interação com os professores e tutores, apesar de o curso analisado já oferecer

momentos presenciais.

28 Após um ano de efetivo funcionamento o polo de Mossoró apresentava um índice de evasão de 55,0%, enquanto que o polo de Currais Novos apresentava um índice de evasão de 51,85%.

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São várias as características do aluno que podem intervir na sua decisão de

permanecer ou evadir de um curso através da EaD, com destaque para a motivação, o desejo

de aprender, a idade, suas perspectivas com relação ao curso e à própria EaD, sua dedicação

ao curso etc.

Os professores e tutores também desempenham um papel importante no

desenvolvimento da aprendizagem do aluno e na decisão pela evasão ou permanência no

curso, seja pela sua postura (conselheiro, autoritário, pesquisador, controlador, conhecedor,

negociador etc.), pela forma com que se envolve com as atividades desenvolvidas através da

EaD, pela forma como interage com os alunos, pela rapidez nas respostas às dúvidas dos

alunos, ou ainda pelas estratégias que utiliza para desenvolver a autonomia do aluno.

A qualidade e as formas de uso das tecnologias e dos materiais utilizados por alunos e

professores também podem favorecer ou dificultar a permanência dos alunos na EaD.

Tecnologias inadequadas às necessidades do curso podem dificultar a interação entre

professores, tutores e alunos, podendo provocar lentidão nas respostas de professores e tutores

ás dúvidas dos alunos.

O adequado desenvolvimento desses e de outros fatores pode favorecer o

desenvolvimento do curso, a aprendizagem dos alunos e a sua permanência no referido curso.

Por outro lado, o desenvolvimento inadequado desses aspectos pode trazer dificuldades para o

desenvolvimento de cursos através da EaD, dificultando a aprendizagem dos alunos e

contribuindo para a evasão discente, que tem se apresentado como um problema crônico para

muitos cursos oferecidos através dessa modalidade educativa.

Reconhecemos que os índices elevados de evasão discente não são apresentados

exclusivamente por cursos oferecidos através da EaD. Porém, essa constatação não diminui a

importância de se identificar as causas desse fenômeno, sejam elas intrínsecas ou extrínsecas

aos cursos oferecidos através dessa modalidade educativa.

Ao identificarmos as causas da evasão, bem como o porquê de alguns elementos

atuarem como motivadores dessa evasão, poderemos desenvolver ações preventivas

contribuindo para que os reduzidos recursos públicos destinados à educação sejam mais bem

aproveitados29, haja vista que, quanto maior for o número de pessoas atendidas pela EaD que

conseguirem se beneficiar dessa modalidade educativa, obtendo êxito no desenvolvimento do

curso, menor será a necessidade de novos investimentos na formação dessas pessoas.

29 As iniciativas objetivando a redução dos índices de evasão nos cursos oferecidos através da EaD e a consequente otimização dos recursos destinados à essa modalidade educativa não diminuem a importância da luta pela ampliação dos recursos públicos destinados à educação, seja ela a distância ou presencial.

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Além disso, ao identificar os fatores motivadores da evasão e desenvolver estratégias

de prevenção que poderão reduzi-la, estamos contribuindo para o sucesso do curso no que diz

respeito à aprendizagem dos alunos, pois diversos fatores apresentados anteriormente como

motivadores da evasão também têm relação com a aprendizagem dos alunos.

Para que possamos compreender adequadamente a questão da evasão no curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental oferecido através da EaD pelo IFRN, consideramos

necessário compreender quais as atividades relacionadas à EaD no IFRN e a concepção do

curso de Tecnologia em Gestão Ambiental oferecido por essa instituição, que aproveitou a

oportunidade oferecida pelo Decreto no 5.622, de 19 de dezembro de 2005, e pela UAB e

passou a ofertar esse curso tecnológico de nível superior voltado para a formação profissional.

3.5 A EaD no IFRN e a concepção do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental na

modalidade de EaD

Nos últimos anos, as IES brasileiras têm se sujeitado a acordos de metas e

compromissos como forma de garantir o recebimento de recursos financeiros e a ampliação

do seu quadro de servidores.

Seguindo essa tendência, no ano de 2010, o IFRN assinou um acordo de metas e

compromissos com o MEC, considerando, entre outras coisas, o compromisso com a

implantação de sistemas de gestão objetivando a racionalização, a eficiência, a eficácia, a

economicidade e a efetividade dos recursos investidos.

Entre os vários compromissos assumidos, o IFRN se compromete com a implantação

da modalidade da EaD como uma atividade regular na instituição.

Em sintonia com esse compromisso, o IFRN implantou o Campus EaD, um campus

criado exclusivamente para a oferta de cursos através da EaD. Porém, a relação entre o IFRN

e a EaD não se inicia com a criação do Campus EaD ou com a oferta do curso de Tecnologia

em Gestão Ambiental através dessa modalidade educativa.

De acordo com Brandão (2008), O IFRN iniciou suas atividades através da EaD no

ano de 1994, através do curso Pró-técnico, oferecendo teleaulas produzidas pelo Setor de

Multimídia da instituição.

Com a transformação da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN)

em Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte (CEFET-RN), o curso

Pró-técnico passou a se chamar Programa de Iniciação Tecnológica e Cidadania

(PROCEFET), no ano de 1999.

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Em 2000, foi criada a Coordenação de Educação a Distância (CEAD), atualmente

chamada de Departamento de Gestão em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância

(DETED), que é responsável pela produção de todo o material do Programa de Iniciação

Tecnológica e Cidadania (PROITEC): teleaulas, fascículos encartados em jornal e o livro

“Interligando saberes”.

O programa de EaD do IFRN não está restrito ao ingresso de alunos nos cursos

técnicos de nível médio. A partir do ano de 2009 o IFRN passou a oferecer cursos técnicos

subsequentes na modalidade da EaD, através do programa Escola Técnica Aberta do Brasil

(E-tec Brasil).

Inicialmente, foram oferecidas 450 vagas, referentes aos cursos de Turismo (225) e

Segurança do Trabalho (225), distribuídas nos polos de apoio presencial situados nos

municípios de Assu, Currais Novos, Lajes e Parnamirim.

Ainda no ano de 2009, o IFRN inicia suas atividades com cursos de Especialização

através da EaD. Foram ofertadas 682 vagas para os cursos de Educação Ambiental e

Geografia do Semi-árido (258), Literatura e Ensino (216) e Língua Portuguesa e Matemática

(208), distribuídas nos polos de apoio presencial situados nos municípios de Marcelino Vieira,

Grossos, Lajes, Caraúbas, Parnamirim e Natal.

Já o curso superior de Tecnologia em Gestão Ambiental na modalidade a distância

teve suas atividades iniciadas no segundo semestre do ano de 2007, com polos vinculados à

UAB nas cidades de Currais Novos, Luiz Gomes e Martins, “[...] objetivando o

desenvolvimento do Projeto de democratização do ensino superior oferecido pela

Universidade Aberta do Brasil, por meio do Edital MEC-SEED Nº. 1, publicado em 20 de

dezembro de 2005”. (CEFET-RN, 2006, p. 07)

Em cada um desses polos de apoio presencial foram ofertadas 50 vagas para o curso

de Tecnologia em Gestão Ambiental.

Como, em sua organização didática, o IFRN considera evadido o aluno que efetua a

matrícula e não frequenta as atividades nos dez primeiros dias de funcionamento do curso,

alguns alunos dos polos de Currais Novos, Luiz Gomes e Martins, que não haviam sido

selecionados em um primeiro momento, foram convidados para ocupar as vagas deixadas

pelos alunos que se matricularam, mas não frequentaram o curso nesse período.

Por esse motivo, os polos de Currais Novos, Luiz Gomes e Martins iniciaram suas

atividades com, respectivamente, 54, 55 e 52 alunos matriculados.

Nesse mesmo período, o Campus de Mossoró do IFRN iniciou suas atividades com

cursos superiores através da EaD. Assim como os demais polos de EaD do IFRN, o Campus

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de Mossoró iniciou suas atividades com cursos superiores através dessa modalidade educativa

oferecendo à comunidade 40 vagas para o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental.

O IFRN comete um sério equívoco ao acreditar que o uso das TCI faz com que um

professor consiga oferecer atendimento de qualidade para cerca de 190 alunos de um curso a

distância, quando ele ainda precisa continuar desenvolvendo todas as atividades que já

desenvolvia nos cursos presenciais. O elevado número de alunos matriculados dificulta a

interação entre o professor e seus alunos, fazendo com que muitos alunos se sintam

abandonados pela instituição promotora do curso.

É importante ressaltar que o polo de EaD situado no campus de Mossoró do IFRN não

faz parte da UAB, pois a Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM) não se interessou em

participar da parceria com o IFRN.

De acordo com a coordenação do curso no polo de Mossoró, foram feitas reuniões

com a Gerência de educação da cidade, onde foi apresentada a proposta do curso. A Gerente

de educação do Município gostou da ideia e se comprometeu em encaminhar a proposta de

parceria à Prefeita de Mossoró.

Porém, a Prefeitura de Mossoró se recusou a participar do convênio, argumentando

que existiam várias IES no Município, de modo que a população já contava com um número

significativo de vagas em IES presenciais. Além disso, a Prefeitura não gostaria de firmar um

compromisso com uma só instituição de ensino, para não criar embaraço com as demais IES.

Estranhamente, algum tempo depois de afirmar que a iniciativa de oferecer novas

vagas em um curso superior era desnecessária, a PMM cria o Programa de Incentivo à

Educação Universitária, oferecendo bolsas de estudo para que os alunos possam frequentar os

cursos de graduação oferecidos pelas IES privadas instaladas no Município.

Mesmo sem a participação da PMM, o campus de Mossoró do IFRN decidiu oferecer

o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental. Assim, ao invés de desenvolver as atividades

em uma estrutura física fornecida pela PMM, os alunos passaram a desenvolver as atividades

presenciais do curso no próprio campus de Mossoró do IFRN.

De acordo com o Plano do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental

(2006), a necessidade de uma integração/interação com o mundo do trabalho faz com que a

concepção e a organização desse curso enfatizem a unidade entre teoria e prática como seu

princípio fundamental.

Para concretizar essa articulação, o IFRN se compromete com um fazer pedagógico

voltado para o desenvolvimento de métodos que estimulem a participação ativa dos alunos,

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tais como: pesquisas, projetos, estudos de caso, seminários, visitas técnicas e práticas

laboratoriais.

Com uma carga horária total de 2.700 horas, o curso analisado está organizado por

núcleos temáticos30 distribuídos em seis períodos letivos, integralizados por disciplinas,

atividades acadêmico-científico-culturais, prática profissional e o trabalho de conclusão de

curso.

É importante ressaltar que, apesar de estar garantida na matriz curricular, com uma

carga horária de 400 horas, a prática profissional não foi exigida para que os alunos pudessem

concluir o curso, fato que pode prejudicar a unidade entre teoria e prática e a

interação/integração com o mundo do trabalho.

De acordo com o coordenador do curso no polo de Mossoró, a prática profissional foi

substituída pela participação em seminários integradores, onde eram apresentadas atividades e

pesquisas orientadas pelos professores, bem como a defesa de uma monografia de conclusão

de curso.

O corpo docente vinculado ao Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental é composto

por 39 professores, sendo 32 professores com o título de Mestre e sete professores com o

título de Doutor.

O elevado nível de qualificação do quadro de professores não justifica o fato de que

esses professores não receberam uma formação específica para atuar na EaD. Apenas depois

de alguns semestres de funcionamento do curso, o IFRN passou a se preocupar com essa

formação, oferecendo o curso de Formação em EaD e exigindo a participação e a aprovação

dos professores e tutores nesse curso para que esses profissionais pudessem atuar na EaD.

Nesse curso os professores conhecem a estrutura do Campus EaD, a legislação que

regulamenta a EaD no Brasil e que institui a UAB, os referenciais de qualidade da EaD e as

bases conceituais que fundamentam o trabalho com essa modalidade educativa na instituição.

Além disso, os professores são levados a refletir sobre o seu papel na EaD e ainda

desenvolvem atividades práticas voltadas para o uso da plataforma Moodle, ambiente virtual

utilizado nos cursos a distância oferecidos pelo IFRN.

Esse curso é fundamental para que os profissionais oriundos de uma cultura de ensino

presencial passem a conhecer as especificidades do trabalho na EaD e consigam se

familiarizar com a plataforma Moodle, haja vista que é nessa plataforma que se ocorre parte

significativa das atividades do curso.

30 Núcleo básico, núcleo de educação e política ambiental, núcleo de proteção ambiental, núcleo de qualidade ambiental.

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Ao ofertar o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental através da EaD, o IFRN parte

do pressuposto de que a EaD tem características próprias que a diferenciam da educação

presencial, tanto no seu enfoque, quanto nos seus meios e métodos.

Nesse sentido, o IFRN toma como referência uma concepção de EaD que afirma que

“A educação a distância se baseia em um diálogo didático mediado entre o professor

(instituição) e o que, localizado em espaço diferente daquele, aprende de forma independente

(cooperativa)” (ARETIO, 2001, p. 41), assumindo que essa modalidade educativa possui as

seguintes características principais:

a) A quase permanente separação do professor e estudante no espaço e no tempo [...]; b) O estudo independente, no qual o estudante controla o tempo, espaço, seu ritmo de

estudo e, em alguns casos, itinerários, atividades, tempo de avaliação etc. [...]; c) A comunicação mediada de via dupla entre professor e alunos e, em alguns casos,

destes entre si, através de diferentes recursos; d) O suporte de uma instituição que planeja, projeta, produz materiais, avalia e realiza o

acompanhamento e motivação do processo de aprendizagem através da tutoria. (CEFET, 2006, p. 7-8)

Ao reconhecer essas especificidades da EaD, o IFRN destaca:

a) A importância dos meios de aprendizagem e dos materiais didáticos, ressaltando que

esses elementos devem ser pensados e produzidos respeitando as especificidades da

EaD e da realidade do estudante para o qual está sendo elaborado;

b) A utilização predominante de material impresso, áudio e vídeo, sem desconsiderar os

avanços no desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação que

permitem a elaboração de materiais para web ou a utilização de mídias digitais como o

CD-ROM;

c) A importância da construção coletiva do conhecimento e da necessidade do grupo

social como referência para o aprender, apesar da característica de estudo autônomo da

EaD; e

d) A importância da tutoria, pois

A presença e a disponibilidade do tutor/orientador têm sido importante não somente como elemento motivador, mas também, como estratégia de diminuição da evasão. Um papel que a tutoria vem sendo chamada a desempenhar é o de espaço de articulação e de suporte ao estudo cooperativo, de modo a garantir a construção coletiva do conhecimento (CEFET, 2006, p. 08).

Além disso, o IFRN considera que

[...] por suas características, a educação a distância supõe um tipo de ensino em que o foco está no estudante e não na turma. Esse estudante deve ser considerado como um sujeito do seu aprendizado, desenvolvendo autonomia e independência em relação ao professor, que o orienta no sentido do aprender a aprender e do aprender a fazer. (CEFET-RN, 2006, p. 08)

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O reconhecimento da centralidade do estudante na EaD aponta para a necessidade de

se conhecer adequadamente o perfil desse ator social, suas perspectivas e percepções acerca

do curso e da EaD e suas dificuldades ao longo do desenvolvimento do curso, para que se

possa planejar adequadamente esse desenvolvimento, objetivando a melhoria da

aprendizagem e a minimização da evasão.

O curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do IFRN adotou estratégias

diversificadas para atender as necessidades dos alunos. Criou momentos presenciais para

agrupar as pessoas, criar a sensação de pertencimento a uma instituição e promover a relação

face-a-face entre alunos e professores. Além disso, implantou a Plataforma Moodle para

facilitar a exposição de ideias e o debate entre alunos, tutores e professores e forneceu uma

estrutura com laboratórios de informática onde os alunos poderiam desenvolver suas

atividades e sua capacidade para trabalhar com as TCI.

Apesar disso, a evasão não foi evitada, de modo que o curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental apresenta altos índices de evasão, como veremos a seguir.

3.6 A evasão no curso de Tecnologia em Gestão Ambiental oferecido através da

modalidade de EaD no IFRN.

Ao observarmos a realidade do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do IFRN é

possível perceber um acentuado índice de evasão por parte dos discentes após quatro

semestres de efetivo funcionamento do curso. Segundo dados fornecidos pelo DETED do

IFRN, dos 201 alunos que efetuaram suas matrículas no primeiro semestre, apenas 101 alunos

efetuaram a matrícula no sexto período (Evasão de 49,75%).

TABELA 5 – NÚMERO DE ALUNOS MATRICULADOS NO CURSO DE

TECNOLOGIA EM GESTÃO AMBIENTAL EM CADA SEMESTRE

Polo 1o semestre 2o semestre 3o semestre 4o semestre 5o semestre 6o semestre Currais Novos 54 alunos 35 alunos 26 alunos 21 alunos 20 alunos 18 alunos Luiz Gomes 55 alunos 46 alunos 39 alunos 38 alunos 37 alunos 37 alunos

Martins 52 alunos 48 alunos 41 alunos 36 alunos 32 alunos 29 alunos Mossoró 40 alunos 25 alunos 18 alunos 17 alunos 17 alunos 17 alunos

Total 201 alunos 154 alunos 124 alunos 112 alunos 106 alunos 101 alunos Fonte: IFRN

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O polo de Currais Novos iniciou suas atividades com 54 alunos e chega ao sexto

semestre com 18 alunos. 36 alunos abandonaram as atividades nesse polo, contabilizando uma

evasão de 66,67%.

O polo de Luiz Gomes contava com 55 alunos no primeiro semestre e inicia o sexto

semestre com 37 alunos. Com 18 alunos evadidos, esse polo apresenta, no início do sexto

semestre, uma evasão de 32,73%.

O polo de Martins deu inicio às suas atividades com 52 alunos e chega ao sexto

semestre com 29 alunos matriculados. Com 23 alunos evadidos, esse polo de EaD do IFRN

apresenta um índice de evasão de 44,23%.

Já o polo de Mossoró, que iniciou suas atividades com 40 alunos, chega ao sexto

semestre com 17 alunos matriculados. Com 22 alunos evadidos, esse polo de EaD do IFRN

apresenta um índice de evasão de 55%31.

Esses dados representam a realidade do curso em termos de evasão até o início do

sexto período. Informações acerca da evolução da evasão nos polos de EaD que oferecem o

curso de Gestão Ambiental são apresentadas na tabela abaixo.

TABELA 6 – NÚMERO DE ALUNOS QUE DEIXARAM DE FREQUENTAR O

CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO AMBIENTAL EM CADA SEMESTRE

Polo 1o semestre

2o semestre

3o semestre

4o semestre

5o semestre

Total

Currais Novos

19 alunos 09 alunos 05 alunos 01 alunos 02 alunos 36 alunos

Luiz Gomes 09 alunos 07 alunos 01 alunos 01 aluno 00 alunos 18 alunos Martins 04 alunos 07 alunos 05 alunos 04 alunos 03 alunos 23 alunos Mossoró 15 alunos 07 alunos 01 alunos 00 alunos 00 alunos 23 alunos

Total 47 alunos 30 alunos 12 alunos 06 alunos 05 alunos 100 alunos

Fonte: IFRN

A tabela acima mostra que, nos polos de Mossoró e Currais Novos e Luiz Gomes, a

evasão se concentra nos dois primeiros semestres do curso. Já no polo de Martins, a evasão

ocorre ao longo de todo o período de funcionamento do curso.

Índices tão elevados de evasão podem estar vinculados a problemas intrínsecos ou

extrínsecos ao curso, que se manifestam ao longo do seu desenvolvimento e cujos reflexos

podem se fazer sentir na aprendizagem dos alunos.

31 Quando apresentamos uma evasão de 22 alunos (55,0%), não estamos contabilizando a evasão de um aluno que faleceu quando ainda frequentava o curso, pois consideramos que um aluno que faleceu não deve ser classificado como evadido.

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Esses índices de evasão também levam a um questionamento acerca da argumentação

apresentada pelo Banco Mundial, que afirma que os programas de educação a distância são

menos custosos que os programas universitários presenciais, devido à possibilidade de

atendimento a um maior número de estudantes por parte do professor.

Nesse sentido, Belloni (1998) afirma que o investimento no uso de tecnologias ou no

ensino a distância não significará economia de custos, em um primeiro momento, devido ao

maior investimento em equipamentos, na valorização necessária do professor e na sua

formação, que deverá ser repensada. Porém, a médio e longo prazo, deve-se obter uma maior

rentabilidade, entre outros motivos, pelo menor fracasso escolar.

Contrariando os argumentos apresentados pela autora e pelo próprio BM,

consideramos que a discussão acerca da promessa de redução de custos proporcionada pela

EaD precisa ser melhor analisada, pois, sem os devidos cuidados, os elevados índices de

evasão apresentados pelos cursos a distância podem comprometer a argumentação de que,

através da EaD, é possível oferecer educação de qualidade a um custo inferior ao

proporcionado pela educação presencial.

Mesmo sem considerar a questão da evasão, Palloff e Pratt (2002) levantam dúvidas

acerca da promessa de que a EaD promove uma economia de custos, evidenciando uma

mudança no perfil dos gastos quando comparamos a EaD com a educação presencial, ao

afirmarem que

Na verdade, oferecer cursos a distância pode não ser mais econômico para a instituição. Embora economize no uso do espaço da sala de aula, os custos com tecnologia, transmissão, manutenção, infra-estrutura, produção, apoio e, naturalmente, pessoal devem ser levados em conta. (PALLOFF, PRATT, 2002, p. 85)

Até o momento, procuramos mostrar que diversas ações foram e vêm sendo

desenvolvidas nas duas últimas décadas, objetivando promover a expansão da EaD, utilizando

o argumento de que essa modalidade educativa pode oferecer uma grande contribuição

objetivando a solução para a carência de educação no país.

Mostramos ainda que a evasão é um problema comum a diversos cursos a distância e

que o curso de Tecnologia e Gestão Ambiental na modalidade da EaD do IFRN não está

imune a esse problema.

No próximo capítulo iremos apresentar um perfil dos alunos evadidos do curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental e analisar as expectativas e percepções desses alunos acerca

do curso e da EaD, procurando ainda identificar as principais dificuldades enfrentadas durante

o período em que frequentaram o curso.

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4 O ALUNO EVADIDO DA EAD NO IFRN: PERFIL, EXPECTATIVAS,

PERCEPÇÕES E DIFICULDADES ENFRENTADAS NO DESENVOLVIMENTO DO

CURSO.

Quando nos propomos a apresentar os perfis dos alunos evadidos do curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental nos polos de apoio presencial localizados nas cidades de

Mossoró e Martins, bem como analisar as expectativas e percepções desses alunos acerca do

curso e da EaD, procurando ainda identificar as principais dificuldades enfrentadas por esses

alunos, consideramos que estamos apresentando elementos importantes para a análise da

evasão discente nesses dois polos.

Para uma melhor sistematização das ideias, iremos, em um primeiro momento,

apresentar uma breve descrição do contexto em que cada polo está inserido. Em seguida,

apresentaremos os perfis dos alunos evadidos de cada polo e, posteriormente, faremos uma

análise dos dados obtidos junto a esses alunos.

Vejamos agora o contexto em que os polos de apoio presencial das cidades de

Mossoró e Martins estão inseridos.

4.1 A cidade de Mossoró

A cidade de Mossoró está situada no estado do Rio Grande do Norte, a uma distância

de 280 Km da cidade do Natal, e possui a segunda maior população do estado, com cerca de

260 mil habitantes, sendo considerada uma das cidades interioranas mais atraentes para

investimentos no país, devido ao seu notável desenvolvimento econômico, à geração de novos

empregos, ao crescimento da renda e à ascensão da classe média.

As atividades de maior destaque na cidade estão ligadas a setores como: construção

civil, cuja ascensão tem gerado muitos postos de trabalho, tornando-se um dos grandes

propulsores da economia da cidade; a fruticultura tropical irrigada, com destaque para a

produção de melão; a indústria de petróleo e sal, onde Mossoró é o maior produtor nacional

de sal e petróleo em terra; a produção de cimento; a indústria cerâmica; contando também

com a agroindústria que se destaca com o algodão e a cera da carnaúba.

No que se refere à infraestrutura, a cidade tem se destacado no setor imobiliário.

Inúmeros residenciais foram construídos ou estão em andamento, o que vem acarretando o

aquecimento do setor imobiliário e de todos os setores envolvidos nesses empreendimentos,

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desde a mão-de-obra, até a produção de muitos dos materiais utilizados, que é realizada na

própria cidade.

Mossoró tem grande destaque no turismo cultural e de eventos na região, representada,

principalmente, pelo artesanato e por manifestações populares. Há espetáculos que atraem

pessoas das mais diversas localidades, como: o “Mossoró Cidade Junina”, o “Alto da

Liberdade” e o “Chuva de Bala no país de Mossoró”.

Em relação à fruticultura, Mossoró destaca-se na produção do melão. Em 2008,

Mossoró foi considerada a capital internacional da fruticultura irrigada. Há um número

significativo de agroindústrias na área de influência de Mossoró, com destaque para a Maísa.

O assentamento Maísa chegou a exportar manga, acerola e melão para Europa e Ásia. Hoje, é

um dos projetos de assentamento mais bem sucedidos do Brasil, possuindo cerca de 19 mil

hectares e abrigando 1.150 famílias que vivem da agricultura.

Tomando como referência os dados citados anteriormente, é possível perceber que a

cidade de Mossoró está se desenvolvendo em grandes proporções e nas mais diversas áreas.

Muitos dos setores mais dinâmicos da economia da cidade de Mossoró exercem influência

direta sobre o meio ambiente. São exemplos dessa realidade, a produção de petróleo e a

fruticultura irrigada. Porém, para que o potencial econômico de Mossoró se concretize, surge

a necessidade de profissionais capacitados para gerir empreendimentos que envolvem

diretamente o meio ambiente, procurando assegurar que o processo produtivo ocorra de

maneira sustentável, evitando prejuízos ao meio ambiente.

Diante dessa necessidade, o campus de Mossoró do IFRN implantou o curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental na modalidade à distância, com o intuito de

[...] formar profissionais detentores de competências com ênfase na gestão dos recursos ambientais, possuidor de senso de administração e conhecimentos científicos e tecnológicos voltados para o equilíbrio do meio ambiente e da boa qualidade de vida no planeta e nas dimensões regional e local. (CEFET-RN, 2006, p. 12)

Desse modo, o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental atende a uma necessidade,

não só da cidade, mas de toda a região, garantindo a formação de profissionais que poderão

oferecer uma valiosa contribuição para que o desenvolvimento econômico proporcionado

pelas empresas instaladas na região ocorra em harmonia com o meio ambiente.

Dentre os objetivos descritos pelo projeto do curso, no que diz respeito às

competências dos seus concluintes, estão: formar tecnólogos para desenvolver atividades de

gestor ambiental com capacidade de gerenciar sistemas de gestão e planos de resíduos,

prestarem consultoria e assessoria a instituições públicas e privadas, dentre outros.

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Esses objetivos evidenciam a importância do curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental para a região, diante de toda a potencialidade econômica existente na cidade de

Mossoró, da necessidade de cuidados com a viabilidade de seus empreendimentos e os

impactos causados pelos mesmos.

Quanto à questão educacional, Mossoró possui três instituições de ensino superior

públicas: A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), a Universidade Federal

Rural do Semi-Árido (UFERSA) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do

Rio Grande do Norte (IFRN). Além disso, a cidade conta com IES particulares como a

Faculdade Mater Christi, a Universidade Potiguar (UnP) e a Faculdade de Enfermagem e

Medicina Nova Esperança (FACENE).

Apesar de atuarem, predominantemente, através da educação presencial, a UERN e a

UFERSA já oferecem opções de cursos através da EaD, ampliando a sua área de atuação, bem

como o número de vagas oferecidas.

Essas instituições oferecem, anualmente, milhares de vagas aos estudantes de Mossoró

e de várias outras cidades da região, nos mais variados setores do mercado de trabalho: área

tecnológica, da saúde, das ciências humanas, etc. Essa ampla oferta de cursos dá a Mossoró o

status de cidade universitária.

4.2 A cidade de Martins e a importância da EaD para essa região

A cidade de Martins, situada no interior do estado do Rio Grande do Norte, é um

exemplo de uma região onde a população sempre apresentou grandes dificuldades no acesso

ao ensino superior.

Depois da implantação de um polo da UAB, em uma parceria envolvendo a Prefeitura

de Martins e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

(IFRN), a população da cidade de Martins e de algumas cidades próximas passou a ter a

oportunidade de frequentar um curso superior sem a necessidade de realizar viagens diárias

para frequentar uma instituição de ensino presencial situada em outra cidade.

A cidade de Martins está localizada na região Oeste do Estado do Rio Grande do

Norte. Cidade serrana, situada a 703 m de altitude, tem um clima agradável que é considerado

um dos melhores do Estado.

Sua economia básica está concentrada no turismo, na agricultura e na pecuária de leite

e corte. Em pequeno número, ainda são encontrados engenhos de cana-de-açúcar e casas de

farinha.

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Situada a 362 km da cidade do Natal, a cidade de Martins possui um enorme potencial

turístico devido ao clima e às suas belezas naturais.

Nas serras úmidas de Martins está um dos climas mais agradáveis do Rio Grande do Norte, de grande potencial turístico em decorrência da situação física, cultural e histórica, mediante exploração a ser feita com incentivos governamentais que sejam orientados à saúde, repouso e boa qualidade de vida durante o período de férias. (IDEMA, 2005, p. 06)

Além do clima tropical chuvoso, com um período chuvoso que se inicia em janeiro e

chega até o mês junho, e temperatura mínima de 15,0o C, a cidade de Martins oferece aos

turistas: belas paisagens observadas dos mirantes; banhos em cachoeiras na época das chuvas;

caminhadas em trilhas; museus que abordam aspectos históricos, culturais e arqueológicos;

pequena reserva florestal particular; engenhos de cana e casas de farinha; obras de artistas,

pintores, escultores e ceramistas; construções antigas no estilo barroco; imagens portuguesas;

cavernas, entre outras atrações turísticas.

A cidade de Martins faz fronteira com as cidades de: Umarizal, Viçosa, Portalegre,

Antônio Martins, Frutuoso Gomes, Serrinha dos Pintos e Lucrécia.

De acordo com a publicação, Perfil do seu Município – 2005, do Instituto de

Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA), a cidade

de Martins contava, neste período, com 19 estabelecimentos de ensino, dos quais, dez

estabelecimentos eram municipais, oito eram estaduais e um pertencia à iniciativa privada.

Estas instituições ofereciam educação básica para a população de Martins, atendendo

292 alunos na educação infantil, 1848 alunos no ensino fundamental e 438 alunos no ensino

médio.

A ausência de uma IES na cidade de Martins sempre dificultou o acesso da sua

população ao ensino superior, bem como para a população de cidades próximas, que

apresentam a mesma carência de IES. Para frequentar uma IES antes da implantação do polo

de apoio presencial da UAB, os alunos da cidade de Martins precisavam se deslocar para as

cidades de Patu ou Umarizal (situadas, respectivamente a 60 km e a 30 km de Martins).

As dificuldades de acesso a uma IES presencial por parte da população da região em

que está localizada a cidade de Martins e a importância da EaD para essa região serão

evidenciadas ao longo desta pesquisa, pois, como demonstraremos posteriormente, a maioria

dos alunos que participaram da pesquisa possuía apenas o ensino médio quando iniciaram o

curso de Tecnologia em Gestão Ambiental e, após a conclusão do ensino médio, muitos

desses alunos estavam completamente afastados do ambiente educacional, devido à

necessidade de deslocamento diário para outras cidades onde existem IES presencial.

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Após a implantação do polo de EaD para a oferta do curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental na cidade de Martins, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

também passou a ofertar cursos superiores voltados para a formação inicial de professores de

Ciências Biológicas, Matemática, Física e Geografia. Além disso, a UFRN também oferece o

curso de Gestão Pública, ampliando e diversificando a oferta de cursos superiores na região.

O polo de apoio presencial da cidade de Martins está situado no interior da Escola

Estadual Joaquim Inácio. Esse polo possui uma infraestrutura que conta com um laboratório

de informática, biblioteca e secretaria. O laboratório de informática do polo conta com 27

computadores conectados à Internet.

Esse polo conta com a presença de um coordenador, uma secretária e dois tutores

presenciais, disponibilizados pela Prefeitura de Martins, que auxiliam os estudantes no

desenvolvimento de suas atividades através de encontros presenciais no próprio polo.

Depois de conhecermos o contexto em que os polos de Mossoró e Martins e seus

alunos estão inseridos, vamos conhecer agora os perfis dos alunos evadidos do curso em

ambos os polos, suas perspectivas e percepções acerca do curso e da EaD e suas dificuldades

ao longo do desenvolvimento do curso.

Os perfis dos alunos evadidos do curso nos polos de Mossoró e Martins foram

elaborados a partir dos dados coletados através da aplicação de questionários com esses

alunos.

A aplicação de questionários com os alunos evadidos do polo de Mossoró ocorreu nos

meses de maio, junho e julho de 2009. O período relativamente extenso para a aplicação de 15

questionários se deve à dificuldade em localizar os alunos evadidos32 e à dificuldade em

agendar um horário para a aplicação do questionário33.

4.3 O perfil do aluno evadido do polo de Mossoró

Na primeira parte do questionário, procuramos construir um perfil dos alunos que

evadiram do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do polo de Mossoró, identificando

aspectos como: idade, sexo, estado civil, renda, exercício de atividade remunerada, nível de

escolaridade, tempo dedicado aos estudos etc.

32 Alguns alunos evadidos residem em outras cidades e até mesmo em outro país, outros mudaram de residência, de modo que o endereço fornecido pelo IFRN não é mais o endereço em que o ex-aluno reside. 33 Muitos alunos evadidos trabalham e estudam, além disso, alguns desses alunos trabalham em outras cidades.

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Procurarmos traçar um perfil do aluno evadido do curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental, por consideramos que o conhecimento das suas condições sociais, econômicas e

culturais é fundamental para uma compreensão mais adequada das suas motivações para a

evasão.

É importante ressaltar que, quando solicitamos aos alunos evadidos que respondessem

a esses questionamentos, levassem em consideração o período em que ainda frequentavam o

curso de Tecnologia em Gestão Ambiental.

Essa solicitação objetiva conhecer as características dos alunos quando ainda

frequentavam o curso, para que possamos entender melhor os motivos que influenciaram na

sua decisão pela evasão do curso no momento em que decidiram abandoná-lo.

De um total de 22 alunos evadidos, foram aplicados questionários com 15 alunos

(68,18%), dos quais 13 alunos (86,67%) residiam na cidade de Mossoró, um aluno (6,67%)

residia em Apodi e um aluno (6,67%) residia em Angicos quando participavam do curso.

Esses alunos chegaram ao final do primeiro semestre do curso inseridos em uma faixa etária

de 18 a 45 anos, com uma maior concentração na faixa etária de 18 a 31 anos (80,0%).

Por se tratar de um grupo de adultos, torna-se compreensível o fato de que 11 alunos

(73,33%) exerciam atividade remunerada no período em que frequentavam o curso. Esses 11

alunos tinham o trabalho como principal fonte de sustento, enquanto que os outros quatro

alunos (26,67%) ainda eram sustentados pelos pais.

A tabela abaixo apresenta a relação entre o exercício de atividade remunerada e o

estado civil dos alunos evadidos que participaram desta etapa da pesquisa.

TABELA 7 – RELAÇÃO ENTRE GÊNERO, ESTADO CIVIL E EXERCÍCIO DE

ATIVIDADE REMUNERADA DOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE MOSSORÓ

Gênero e Trabalho Casado (a) Solteiro (a) Total Homens que trabalham 04 03 07 Homens que não trabalham 00 02 02 Mulheres que trabalham 01 03 04 Mulheres que não trabalham 00 02 02 Total 05 10 15

Apesar de 11 alunos evadidos exercerem atividade remunerada e considerarem essa

atividade a sua principal fonte de sustento, apenas oito alunos (53,33%) consideravam o

trabalho a sua principal atividade. Seis alunos (40,0%) afirmaram que os estudos eram a sua

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principal atividade, enquanto que um aluno (6,67%) considerava tanto o trabalho quanto os

estudos como sua atividade principal.

O que se percebe é que os alunos que não trabalhavam ou ainda aqueles que exerciam

alguma atividade com baixa remuneração apresentavam os estudos como sua principal

atividade.

A constatação de que a maioria dos alunos evadidos exercia alguma atividade

remunerada evidencia a busca por novas qualificações profissionais, seja para a manutenção

da empregabilidade, ou ainda objetivando atuar em uma nova atividade profissional com

maior possibilidade de ascensão econômica, dentro de uma perspectiva da necessidade de

educação ao longo da vida.

Outro aspecto que merece destaque diz respeito ao fato de que a maioria dos alunos

evadidos era oriunda de instituições de ensino públicas, conforme mostra a tabela abaixo.

TABELA 8 – INSTITUIÇÃO DE ORIGEM DOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO

DE MOSSORÓ POR DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA

Dependência administrativa Aluno evadido Escola pública 09 Escola privada 06 Total 15

Sete alunos evadidos (46,67%) já estavam estudando quando passaram a frequentar o

curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, três alunos (20,0%) estavam a, no máximo, um

ano sem frequentar uma instituição de ensino, quatro alunos (26,67%) estavam afastados das

atividades educativas por um período entre dois e três anos, enquanto que apenas um aluno

(6,67%) estava há sete anos sem estudar.

Esses dados evidenciam que a maioria dos alunos evadidos não estava distanciada do

ambiente acadêmico quando optaram pela EaD.

Além disso, ao conhecermos o nível de escolaridade desses alunos, pudemos constatar

que alguns alunos já possuíam formação em nível superior e que outros alunos frequentavam

outro curso superior paralelamente ao curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, existindo

ainda aqueles que frequentaram e não concluíram outro curso superior antes de iniciar as

atividades do curso analisado.

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TABELA 9 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE DOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO

DE MOSSORÓ QUANDO INICIARAM O CURSO

Nível de escolaridade Aluno evadido Curso superior completo 04 Curso superior incompleto 05 Ensino Médio 05 Ensino técnico integrado ao ensino médio 01 Total 15

É importante ressaltar o fato de que, entre os alunos evadidos do polo de Mossoró,

apenas cinco alunos (33,33%) eram oriundos do ensino médio. Outro dado que merece

destaque diz respeito ao percentual de alunos que possuíam um curso superior incompleto

(33,33%) e que estavam buscando na EaD uma oportunidade de retomar sua formação em um

curso superior.

As várias possibilidades de estudar em um curso superior oferecidas pela cidade de

Mossoró ficam evidentes quando se observa o significativo número de alunos evadidos que

frequentavam outro curso superior paralelamente ao curso analisado (20,0%).

O reduzido número de alunos oriundos do ensino médio, aliado ao elevado número de

alunos que possuem um curso superior, completo ou incompleto, em conjunto com os alunos

que frequentam outro curso superior paralelamente ao curso analisado demonstram a vivência

desses alunos no ambiente acadêmico e a familiaridade com o ensino superior.

Entre os 15 alunos que participaram da pesquisa, 13 alunos (86,67%) preferiam

estudar individualmente, enquanto que apenas dois alunos (13,33%) preferiam estudar em

grupo. No grupo analisado, 13 alunos evadidos (86,67%) nunca haviam participado de um

curso através da modalidade da EaD.

A preferência pelo estudo individualizado contraria a ideia apresentada pelo projeto do

curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, onde se afirma que:

O presente projeto pedagógico pressupõe um curso de graduação a distância, utilizando prioritariamente Internet e materiais impressos, suportado por um sistema pedagógico e de tutoria que articule, organize e estimule o trabalho grupal, cooperativo, mais do que o individual (CEFET-RN, 2006, p. 20)

O fato de a maioria dos alunos exercer alguma atividade profissional, aliada a

existência de alunos que frequentavam outro curso paralelamente ao curso analisado, dificulta

a realização de estudos em grupo e ajuda a entender porque esses alunos optam pelo estudo

individual, bem como a opção pelo turno noturno para a realização das atividades do curso,

como pode ser constatado na tabela abaixo.

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TABELA 10 – HORÁRIO EM QUE OS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE

MOSSORÓ ESTUDAVAM COM MAIOR FREQUÊNCIA

Turno Alunos evadidos

%

Manhã 02 13,33 Tarde 04 26,67 Noite 07 46,67 Madrugada 02 13,33 Qualquer horário disponível 00 0,0 Total 15 100,0

A realização de estudos à noite ou durante a madrugada é um reflexo da realidade de

um grupo onde a maioria dos alunos exerce alguma atividade remunerada, disponibilizando

apenas desses horários para realizar as atividades do curso.

Além disso, o fato de seis alunos evadidos (40,0%) estudarem, preferencialmente,

durante a manhã ou a tarde, reflete a realidade de alguns alunos que não exercem atividade

remunerada, ou ainda, daqueles alunos que consideram os estudos como sua principal

atividade, dos quais muitos ainda têm os pais como principal fonte de sustento.

4.4 O perfil do aluno evadido do polo de Martins

No segundo semestre de 2008 (terceiro semestre letivo), quando definimos quais os

polos que seriam nosso objeto de análise para a investigação das causas da evasão no curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental na modalidade de EaD, o polo de Martins apresentava o

menor índice de evasão entre os polos de apoio presencial que ofereciam esse curso.

O polo de Martins, que iniciou suas atividades com 52 alunos matriculados, contava

com 41 alunos matriculados no início do terceiro semestre letivo (2008.2), apresentando uma

taxa de evasão de 21,15%, até aquele momento.

A aplicação de questionários com os alunos evadidos no polo de Martins ocorreu

durante o mês de setembro de 2009, no início do quinto semestre letivo (2009.2). No

momento em que realizamos essa coleta de dados, o polo de Martins contava com apenas 32

alunos matriculados, apresentando uma taxa de evasão de 38,46%. Nessa etapa da pesquisa

foram aplicados questionários com dez alunos evadidos (50,0% do total de alunos evadidos

até aquele momento).

A observação da realidade do polo também teve início no mês de setembro de 2009, se

estendendo até abril de 2010, quando passamos a observar as atividades desenvolvidas no

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polo durante os momentos presenciais. Além disso, procuramos conversar com a comunidade

que reside na cidade de Martins, objetivando conhecer melhor o contexto em que o polo de

apoio presencial está inserido (aspectos políticos, econômicos, culturais etc.), bem como a

importância do polo e da EaD para essa comunidade.

Na primeira parte do questionário buscamos elaborar um perfil dos alunos que

evadiram do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental no polo de Martins, procurando

identificar aspectos como: idade, sexo, estado civil, renda, exercício de atividade remunerada,

nível de escolaridade, tempo dedicado aos estudos etc.

Assim como fizemos no polo de Mossoró, solicitamos aos alunos evadidos do polo de

Martins que respondessem a esses questionamentos tomando como referência o período em

que ainda frequentavam o referido curso.

O grupo de alunos evadidos que participou desta etapa da pesquisa é constituído por

cinco homens (três casados e dois solteiros) e cinco mulheres (uma casada e quatro solteiras),

com idade variando de 18 a 40 anos, apresentando uma maior concentração de alunos na faixa

etária de 18 a 34 anos (90,0%).

Esses alunos residiam nas cidades de Martins (80%), Malhada Vermelha (10,0%) e

Lucrecia (10,0%).

A tabela abaixo apresenta a relação entre o exercício de atividade remunerada e o

estado civil dos (as) alunos (as) evadidos (as) que participaram desta etapa da pesquisa.

TABELA 11 – RELAÇÃO ENTRE GÊNERO, ESTADO CIVIL E EXERCÍCIO DE

ATIVIDADE REMUNERADA DOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE MARTINS

Gênero e Trabalho Casado (a) Solteiro (a) Total Homens que trabalham 03 01 04

Homens que não trabalham 00 01 01 Mulheres que trabalham 01 01 02

Mulheres que não trabalham 00 03 03 Total 04 06 10

Seis alunos evadidos exerciam atividade remunerada no período em que frequentaram

o curso, com renda variando de um a três salários mínimos, e tinham o trabalho como

atividade principal e fonte de sustento, enquanto que os quatro alunos que não exerciam

atividade remunerada apontaram para os estudos como principal atividade e eram sustentados

pelos pais.

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Assim como ocorreu no polo de Mossoró, onde um número significativo de alunos

evadidos cursou a educação básica em instituições de ensino públicas, no polo de Martins, a

maioria dos alunos evadidos também era oriunda de escolas públicas, conforme mostra a

tabela abaixo.

TABELA 12 – INSTITUIÇÃO DE ORIGEM DOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO

DE MARTINS POR DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA

Dependência administrativa Aluno evadido Escola pública 08 Escola privada 02 Total 10

Além de terem frequentado escolas públicas ao longo da sua educação básica, a maior

parte desses alunos possuía apenas o ensino médio quando iniciou o curso de Tecnologia em

Gestão Ambiental.

A tabela abaixo apresenta o nível de escolaridade desses alunos quando iniciaram as

atividades no curso analisado.

TABELA 13 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE DOS ALUNOS EVADIDOS DO

POLO DE MARTINS QUANDO INICIARAM O CURSO

Nível de escolaridade Aluno evadido Curso superior completo 02

Curso superior incompleto 00 Frequentava outro curso superior ao mesmo tempo 01

Ensino Médio 07 Total 10

Além do distanciamento com relação ao ambiente acadêmico de nível superior,

quando questionamos o tempo que os alunos evadidos ficaram afastados do ambiente

acadêmico, foi possível constatar que a maioria desses alunos (70,0%) estava sem estudar por

um período que variava de dois a dez anos. Apenas três alunos fizeram a transição do ensino

médio para o ensino superior sem ficar um longo período longe do ambiente acadêmico.

Essa constatações acerca da realidade dos alunos do polo de Martins evidenciam a

importância da EaD como modalidade educativa necessária para a interiorização da oferta de

educação superior em um país com as dimensões do Brasil, atendendo à uma demanda

historicamente reprimida para esse nível de ensino.

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Além do distanciamento em relação ao ambiente acadêmico, é importante ressaltar que

nenhum aluno que participou desta etapa da pesquisa frequentou outro curso oferecido através

da EaD.

A preferência pelo turno noturno para a realização das atividades do curso fica

evidente na tabela abaixo.

TABELA 14 – HORÁRIO EM QUE OS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE

MARTINS ESTUDAVAM COM MAIOR FREQUÊNCIA

Turno Aluno evadido % Manhã 01 10,0 Tarde 01 10,0 Noite 08 80,0

Tarde e noite 00 0,0 Noite e madrugada 00 0,0

Total 10 100,0

A preferência pelo turno da noite para a realização das atividades aliada ao fato de que

um número significativo de alunos preferia estudar individualmente34 reflete a realidade de

alunos adultos que, na sua maioria, exercem atividades profissionais.

A análise dos perfis dos alunos evadidos dos polos de apoio presencial em Martins e

Mossoró não nos permite apresentar um perfil genérico do aluno evadido, pois, em ambos os

polos, a evasão atinge alunos casados ou solteiros, que trabalham ou não trabalham, com

outra formação em um curso superior ou sem essa formação, e ainda alunos mais jovens ou

com idade mais avançada.

4.5 Motivações dos alunos evadidos do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental nos

polos de Mossoró e Martins para prestar vestibular

Para que pudéssemos conhecer as expectativas, percepções e dificuldades dos alunos

evadidos do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental e entender suas motivações para

evadir, procuramos, inicialmente, conhecer os motivos que os levaram a prestar vestibular

para esse curso.

34 60,0% dos alunos evadidos preferiam estudar individualmente.

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TABELA 15 – MOTIVAÇÕES DOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE

MOSSORÓ PARA PRESTAR VESTIBULAR35

Motivações Alunos evadidos

%

Curso com grandes possibilidades profissionais 07 46,67 Interesse pela questão ambiental 05 33,33 Flexibilidade nos horários de estudo 05 33,33 Credibilidade do IFRN 04 26,67 Possibilidade de complementar a formação 03 20,0 Conciliar o curso com outra área profissional ou outro curso presencial

03 20,0

Foram citadas ainda: a duração do curso (três anos); a possibilidade de voltar à sala de

aula; manter contatos pessoais; e o fato de considerar a EaD uma modalidade interessante.

Quando identificamos as motivações para prestar vestibular apresentadas pelos alunos

evadidos do polo de Martins, constatamos que existem diversas semelhanças entre as

motivações apresentadas pelos alunos evadidos de ambos os polos.

TABELA 16 – MOTIVAÇÕES DOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE

MARTINS PARA PRESTAR VESTIBULAR

Motivações Alunos evadidos % Curso interessante e com grandes possibilidades profissionais 08 80,0 Possibilidade de frequentar um curso na cidade em que reside 08 80,0 Possibilidade de estudar através da EaD 01 10,0 Conciliar o curso com outra área profissional 01 10,0

Como já era previsível, a maioria dos alunos evadidos (80,0%) do polo de Martins

afirma que a decisão de prestar vestibular para o curso analisado foi motivada pela

possibilidade de frequentar um curso superior na cidade em que reside. Até mesmo os alunos

que não residem em Martins ressaltam que é mais viável economicamente se deslocar para o

polo na cidade de Martins do que para as cidades que disponibilizam cursos presenciais.

É importante ressaltar que a facilidade no acesso ao curso superior não foi o único

elemento que despertou o interesse desses alunos. Oito alunos evadidos (80,0%) afirmaram

que resolveram prestar vestibular para o curso analisado por se tratar de um curso

interessante, em uma área de conhecimento nova e que oferecia possibilidades de sucesso

35 Em vários questionamentos apresentados na pesquisa, os alunos poderiam apontar mais de uma resposta. Por esse motivo, em alguns casos, a frequência total é maior que o número de alunos que participaram da pesquisa e a soma dos percentuais é superior a 100,0%.

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profissional em uma cidade que não contava com essa possibilidade até a implantação do polo

de EaD.

Vejamos o que dizem alguns desses alunos, acerca das suas motivações para se

tornarem alunos do curso analisado.

É bem notório analisar que a cidade que resido não tinha um campo onde o aluno pudesse se profissionalizar, então esse curso pela EaD, foi a primeira oportunidade que surgiu. Foi onde aproveitei, pois a outra opção de grau superior teria que deslocar da cidade para outra, onde na qual não seria em hipótese alguma minha vontade. (Artur36) Porque tinha o desejo de fazer um curso superior na minha cidade sem precisar me deslocar para outra cidade. Isso sem contar que gestão ambiental era o primeiro curso em Martins, onde já tinha ouvido que o mesmo era o curso do “futuro” com grandes possibilidades de sucesso no mercado de trabalho após o término. Por isso, resolvi prestar vestibular para o curso de gestão ambiental através de EaD no CEFET-RN. (Lunete)

Essas afirmações ilustram as principais motivações apresentadas pelos alunos

evadidos no momento em que decidiram prestar vestibular para o curso analisado.

É importante ressaltar que a segunda afirmação foi feita por uma aluna que

frequentava um curso superior presencial oferecido pelo campus da Universidade do Estado

do Rio Grande do Norte (UERN) localizado na cidade de Patu.

Para frequentar os cursos oferecidos pela UERN nesse campus, os alunos precisam

viajar diariamente, o que requer uma disponibilidade de tempo e dinheiro para realizar esse

deslocamento. Essa necessidade de deslocamento dificulta a continuidade dos estudos para

muitos dos alunos que concluem o ensino médio na região, pois nem todos têm o tempo e o

dinheiro necessários.

Essas justificativas também evidenciam o interesse pela temática contemplada pelo

curso e a oportunidade que a EaD oferece à população da região atendida pelo polo de

frequentar um curso superior gratuito, oferecido por uma instituição pública de grande

credibilidade em todo o país, ampliando as possibilidades profissionais dos alunos atendidos.

É importante ressaltar que o fato de o curso analisado ser oferecido através da EaD

não exerceu influência sobre a maioria dos alunos evadidos do polo de Martins na decisão de

frequentá-lo, pois apenas um aluno afirma que levou isso em consideração quando optou pela

realização do vestibular, chegando a existir casos em que alguns desses alunos afirmaram que

não sabiam que se tratava de um curso a distância e que ficaram desmotivados quando

souberam disso. 36 Com o objetivo de preservar a identidade dos sujeitos da pesquisa, os nomes dos alunos apresentados nesta pesquisa foram substituídos por nomes fictícios.

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Quando comparamos as motivações dos alunos evadidos do polo de Martins com as

motivações apresentadas pelos alunos evadidos do polo de Mossoró, é possível perceber que o

interesse pela área ambiental é uma motivação relevante em ambos os polos. Porém,

diferentemente do que ocorre no polo de Mossoró, os alunos evadidos do polo de Martins

enfatizam a possibilidade de cursar uma faculdade na cidade em que residem, sem

necessidade de se deslocar diariamente para outros municípios.

Essa é uma diferença marcante entre as duas realidades analisadas, já que os alunos do

polo de Mossoró possuem inúmeras oportunidades de acesso a uma IES, o que faz com suas

motivações para a escolha do curso estejam relacionadas às possibilidades profissionais

oferecidas pelo curso, ao interesse pela temática ambiental e à flexibilidade nos horários de

estudo oportunizada por um curso oferecido através da EaD.

Por outro lado, os alunos do polo de Martins estão inseridos em um contexto onde as

oportunidades de acesso a uma IES são escassas, fato que se reflete no elevado número de

alunos que possuíam apenas o ensino médio quando iniciaram as atividades do curso, e que

demonstra a importância da EaD como estratégia para a interiorização da educação superior

em um país com as dimensões do Brasil.

Em seguida, perguntamos aos alunos evadidos quais eram suas expectativas com

relação ao curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, quando iniciaram as atividades do

curso.

4.6 Expectativas dos alunos evadidos do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental nos

polos de Mossoró e Martins

Para que possamos promover uma melhor sistematização das informações

apresentadas, iremos, em um primeiro momento, apresentar as expectativas dos alunos

evadidos do polo de Mossoró e, posteriormente, apresentaremos as expectativas dos alunos

evadidos do polo de Martins, procurando apresentar as percepções dos alunos evadidos acerca

do atendimento a essas expectativas em ambos os polos.

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TABELA 17 – EXPECTATIVAS DOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE

MOSSORÓ COM RELAÇÃO AO CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO

AMBIENTAL

Expectativas Frequência Que o projeto do curso fosse cumprido 06 Flexibilidade no desenvolvimento das atividades e no horário de estudos 04 Adquirir conhecimento/qualificação para trabalhar em uma área nova e com excelentes perspectivas profissionais

03

As melhores possíveis devido à credibilidade do IFRN 03 Mais dificuldades de aprendizagem exigindo uma maior disciplina 02

Entre as respostas apresentadas pelos alunos evadidos do polo de Mossoró, podemos

destacar a expectativa de poder construir o próprio horário de estudos devido à flexibilidade

no desenvolvimento das atividades proporcionada pela EaD.

De acordo com Palloff e Pratt (2002), os cursos a distância podem ser desenvolvidos

em ambientes sincrônicos, onde as atividades ocorrem em tempo real, ou ambientes

assincrônicos, onde as atividades são desenvolvidas em intervalos de tempo variados, de

acordo com as possibilidades de tempo dos alunos e professores.

Esses autores ressaltam a importância dos ambientes assincrônicos para o

desenvolvimento dos cursos a distância, pois esses ambientes permitem que, a qualquer

momento, [...] os participantes conectem-se à aula ou às discussões, pensem sobre o que se

discute e enviem suas propostas no momento em que julgarem adequado”. (PALLOFF,

PRATT, 2002, p. 74)

Se levarmos em consideração o fato de que a maioria dos alunos evadidos do polo de

Mossoró exercia alguma atividade profissional, a possibilidade de estudar em horários

variados, de acordo com a disponibilidade de tempo de cada um, seria fundamental para que

esses alunos pudessem dar continuidade aos seus estudos. Porém, nem mesmo essa

possibilidade oferecida pela EaD foi suficiente para garantir a permanência desses alunos no

curso analisado.

Além disso, esses alunos destacam a expectativa de cumprimento do projeto do curso,

enfatizando aspectos como: o cumprimento das promessas feitas pela coordenação do curso; a

boa interatividade entre alunos e professores; a boa qualidade dos momentos presenciais e o

suporte adequado por parte do curso.

Durante a observação da realidade também foi possível constatar que os alunos

apresentavam expectativas bastante positivas acerca do curso, afirmando que

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Eram grandes, em função das informações passadas quanto aos recursos tecnológicos, [...] (Sofia) Eu sempre acreditei que seria um curso ótimo, principalmente por ser oferecido pelo CEFET. (Clare) As melhores. Um pouco de receio, pois não conhecia de perto a educação a distância, mas era muito positiva em relação ao curso e principalmente por ter o nome do CEFET envolvido, pois é uma instituição que admiro. (Lisbela)

Essas afirmações demonstram a diversidade de expectativas e o quanto os alunos

acreditavam na qualidade do curso, principalmente, devido à credibilidade do IFRN.

Depois de conhecermos as expectativas dos alunos evadidos do polo de Mossoró com

relação ao curso analisado, vejamos agora as expectativas apresentadas pelos alunos evadidos

do polo de Martins.

Ao questionarmos os alunos evadidos do polo de Martins acerca das suas expectativas

com relação ao curso de Gestão Ambiental quando iniciaram as atividades do curso, pudemos

perceber que essas expectativas estão relacionadas, predominantemente, às possibilidades de

qualificação profissional na área ambiental, que é considerada uma área com excelentes

possibilidades profissionais, devido à atualidade dessa temática.

Esperava me preparar para trabalhar com a questão ambiental, preservação do meio ambiente, gestão ambiental, porque hoje a gente vê que, a cada dia, as empresas estão sendo mais exigidas a dar uma resposta positiva com relação à questão ambiental, preservação, e isso aumenta as expectativas profissionais, tanto em empresas públicas, quanto privadas, que mais cedo ou mais tarde irão precisar de profissionais para realizar esse trabalho. (Aang)

Além das expectativas profissionais, constatamos que havia uma diversidade de

expectativas compartilhadas por esses alunos com relação ao desenvolvimento do curso,

principalmente no que diz respeito à aquisição de conhecimento na área ambiental e à

qualidade do trabalho desenvolvido pelos profissionais que atuavam no curso, com ênfase na

assistência adequada por parte dos professores e no entendimento às necessidades dos alunos,

devido à credibilidade do IFRN e à qualidade do projeto do curso.

A tabela abaixo apresenta as principais expectativas apresentadas pelos alunos

evadidos do polo de Martins que participaram desta etapa da pesquisa.

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TABELA 18 – EXPECTATIVAS DOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE

MARTINS COM RELAÇÃO AO CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO

AMBIENTAL

Expectativas Alunos evadidos

%

Adquirir conhecimentos sobre a questão ambiental 03 30,0 Adquirir conhecimento/qualificação para trabalhar em uma área nova e com excelentes perspectivas profissionais

07 70,0

Esperava que o projeto do curso fosse cumprido devido à credibilidade do IFRN

04 40,0

Um curso que me motivasse a desenvolver as atividades 02 20,0

Apesar das expectativas positivas apresentadas pelos alunos evadidos de ambos os

polos no início das atividades, quando questionarmos se as expectativas iniciais com relação

ao curso de Tecnologia em Gestão Ambiental foram atendidas, começamos a identificar os

problemas enfrentados pelos alunos evadidos com relação a diversos aspectos do

desenvolvimento do curso.

4.7 Atendimento às expectativas dos alunos evadidos do curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental nos polos de Mossoró e Martins

Vejamos agora as percepções dos alunos evadidos do curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental nos polos de Mossoró e Martins acerca de como as suas expectativas com relação

ao curso foram atendidas, bem como as afirmações apresentadas por esses alunos para

justificar as opiniões apresentadas.

TABELA 19 – ATENDIMENTO ÀS EXPECTATIVAS DOS ALUNOS EVADIDOS

DO POLO DE MOSSORÓ

Atendimento às expectativas Alunos evadidos Totalmente atendidas 00 Parcialmente atendidas 03 Não foram atendidas 12 Total 15

A constatação de que a maioria dos alunos evadidos no polo de Mossoró (80,0%)

considera que suas expectativas com relação ao curso de tecnologia em Gestão Ambiental não

foram atendidas evidencia a insatisfação desses alunos com a forma como o curso se

desenvolveu.

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As principais justificativas apresentadas pelos alunos evadidos do polo de Mossoró

para o fato de que suas expectativas com relação ao curso de Gestão Ambiental não foram

adequadamente atendidas são apresentadas na tabela abaixo.

TABELA 20 – JUSTIFICATIVAS DOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE

MOSSORÓ QUE AFIRMAM QUE SUAS EXPECTATIVAS COM RELAÇÃO AO

CURSO NÃO FORAM TOTALMENTE ATENDIDAS

Justificativa Frequência Problemas no trabalho dos professores e tutores 13 Problemas na interação com professores e tutores 09 O projeto do curso não foi cumprido 07 A abordagem inadequada dos conteúdos 04 Problemas na organização e no acompanhamento dos alunos 04 Falta de flexibilidade nas atividades presenciais 03 A inutilidade dos momentos presenciais 02

As deficiências no trabalho dos professores formadores e tutores a distância ficam

evidentes quando os alunos evadidos afirmam que o trabalho desses profissionais deixou a

desejar, pois as dúvidas não eram sanadas em tempo hábil. Além disso, esses alunos tecem

críticas ao fato de que os professores não realizaram visitas aos polos para solucionar dúvidas

e, em alguns casos, demoravam a responder aos questionamentos enviados através de e-mail,

o que ocasionou um distanciamento entre os professores e os alunos.

As dificuldades na interação entre alunos, professores e tutores ficam evidentes

quando os alunos identificam problemas como: o distanciamento entre professores, tutores e

alunos, o fato de as dúvidas não serem sanadas em tempo hábil e o uso limitado de recursos

tecnológicos disponíveis.

Esperava que as dúvidas fossem esclarecidas, o que não acontecia. A gente enviava uma pergunta e depois de muito tempo recebia uma resposta lacônica e sem nenhuma clareza, quando se tinha sorte. (Ceinwyn) Não tinha naquele momento muita noção de como se desenvolvia um curso a distância. Por isso mesmo não apresentava muitas expectativas, mas esperava que o curso se desenvolvesse com maior clareza. Tudo bem que era a distância, mas não precisava de tanta ‘distância’. (Lunete)

Essas afirmações apontam para uma contradição entre uma das promessas comumente

anunciadas pelo uso de TCI mais modernas na EaD e a realidade apresentada pelo curso

analisado, que diz respeito à possibilidade de oferecer novas e variadas formas de interação

entre os professores e os alunos, bem como entre os próprios alunos.

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Hoje entendemos que o desenvolvimento atual da tecnologia favorece a criação e o enriquecimento das propostas na educação a distância na medida em que permite abordar de maneira ágil inúmeros tratamentos de temas, assim como gerar novas formas de aproximação entre docentes e alunos, e de alunos entre si. (LITWIN, 2001, p. 17)

Em um contexto de ensino e aprendizagem a distância, a interação, síncrona ou

assíncrona, entre professores e alunos e dos alunos entre si é extremamente importante para a

consolidação da aprendizagem. Nesse sentido, as tecnologias de comunicação e informação

postas a disposição da EaD oferecem possibilidades inéditas, flexibilizando a interação entre

os atores do processo educativo, livrando-os das amarras do tempo e do espaço.

Porém, durante a observação da realidade foi possível constatar que o IFRN não teve o

cuidado de implantar todos os recursos voltados para a interação dos alunos e professores

desde o início das atividades do curso, nem utilizou a videoconferência, tecnologia disponível

no polo de Mossoró e que poderia facilitar a interação entre os alunos e os professores

formadores.

Mesmo com a implantação da Plataforma Moodle, muitos alunos continuaram

reclamando das dificuldades de interação, apesar de reconhecer que a plataforma melhorou a

qualidade do curso.

Os problemas na interação entre os alunos e seus professores e tutores geraram sérias

dificuldades para o desenvolvimento do curso, comprometendo a aprendizagem,

desestimulando os alunos e gerando percepções errôneas acerca da EaD, que ficam evidentes

nas afirmações dos alunos:

Por ser à distância, alguns assuntos não eram totalmente esclarecidos. (Toranaga) Que apesar de ser à distância existiria uma conexão e participação de todos os envolvidos para o desenvolvimento das atividades propostas. (o que não aconteceu enquanto frequentei as aulas). (Norwenna)

Será que os assuntos não eram totalmente esclarecidos porque o curso é oferecido

através da EaD?

Se a clareza na abordagem dos conteúdos fica comprometida pelo fato de o curso ser

oferecido através da EaD, toda a argumentação feita a favor da EaD, também está

comprometida, pois a defesa da EaD se pauta na afirmação de que essa modalidade educativa

permite que a aprendizagem se dê com a mesma qualidade que ocorre nas boas experiências

de educação presencial.

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101

Não se pode aceitar que, pelo fato de o curso ser oferecido através da EaD, existam

problemas na abordagem dos conteúdos e comprometimento da aprendizagem dos alunos.

Esse tipo de argumento, evidencia que, para alguns alunos, a EaD é uma modalidade

educativa incapaz de atender às necessidades dos alunos nos mesmos padrões de qualidade da

educação presencial, no que diz respeito à qualidade da aprendizagem.

Além disso, a constatação de que não ocorreram visitas dos professores formadores ao

polo para trabalhar com os alunos aponta para o não cumprimento da proposta metodológica

apresentada no projeto do curso, onde se afirma que “Os momentos presenciais de cada

disciplina serão coordenados pelo Coordenador do Curso, que se encarregará de organizar

cronograma de visitas dos professores responsáveis pelas disciplinas.” (CEFET-RN, 2006, p.

18-19).

Alguns dos alunos evadidos do polo de Mossoró destacaram a falta flexibilidade e a

exigência de participação presencial como elementos que contribuíram para que as

expectativas com relação ao curso não fossem atendidas, de modo que, em alguns casos,

chegaram a inviabilizar a participação do aluno no curso.

Vejamos o que esses alunos afirmaram acerca de suas expectativas com relação ao

curso:

Não foram atendidas porque eu não tive condições de continuar e terminar o curso. O CEFET exigia muitas horas semanais e eu acabei sendo transferido para Natal. Definitivamente, não tive como terminar esse curso. (Blackthorne) Não consegui conciliar o tempo entre trabalho e avaliações. (Aragorn)

Além disso, a abordagem inadequada dos conteúdos, que eram vagos e não eram

repassados adequadamente, a complexidade de algumas disciplinas e o fato de as atividades

estarem voltadas apenas para a resolução de exercícios, também são apontadas como fatores

que fizeram com que as expectativas dos alunos evadidos do polo de Mossoró com relação ao

curso não fossem atendidas.

Com relação às metodologias utilizadas para a abordagem dos conteúdos, esses alunos

afirmam que:

Quando se via a grade do curso, todas as disciplinas eram interessantes e possuíam conteúdos indispensáveis para ser um bom gestor, porém da maneira que eram explorados pelas atividades e avaliados pelos professores deixava muito a desejar. Qualquer resposta estava boa e quando tinha uma dúvida não era bem esclarecida. (Norwenna)

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Achava os conteúdos vagos, a participação dos tutores e professores era péssima, não havia uma conscientização a respeito da causa ambiental, os alunos e tutores só se preocupavam em responder exercícios. (Nimue)

Ao criticarem a organização do curso e a forma como o curso promovia o

acompanhamento dos alunos, esses alunos afirmam que tudo era muito fraco e que o curso

não funcionava. Esses alunos se sentiam abandonados pelo curso, que não organizava

adequadamente as atividades, com destaque para os momentos presenciais, que não contavam

com a presença de um tutor presencial, conforme previa o projeto do curso.

É importante ressaltar que o projeto do curso aponta para a importância da presença de

um tutor presencial para coordenar as atividades desenvolvidas no polo, contribuindo para o

desenvolvimento da motivação dos alunos e para a diminuição da evasão, através da

articulação e do suporte ao estudo cooperativo, ajudando a garantir a construção coletiva do

conhecimento.

Além disso,

O tutor presencial atua no polo e é responsável pela mediação entre os estudantes e o coordenador de polo, entre, de um lado, o estudante e, do outro, o professor formador, o tutor a distância e a equipe gestora do curso (CEFET-RN), atuando no esclarecimento de dúvidas, na coleta de informação sobre o andamento da aprendizagem e da freqüência, além de ser responsável pela motivação e apoio à participação do estudante em eventos acadêmico-científico-culturais. (CEFET-RN, 2006, p. 33)

Como ficou evidenciado, são muitos os motivos que fizeram com que as expectativas

dos alunos evadidos do polo de Mossoró em relação ao curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental não fossem adequadamente atendidas, com consequências para a permanência

desses alunos no referido curso.

Esses problemas também ficam evidentes quando os alunos evadidos fazem

afirmações como:

Porque eu teria me esforçado mais, me dedicado mais se minhas dúvidas tivessem sido tiradas, digo, se em algum momento, tivesse um professor virtual ou não (se bem que senti muita falta da presença do professor na sala, de olhar ‘olho no olho’, de trocar ideias, e por fim, depois de uma longa discussão as dúvidas fossem esclarecidas). (Ceinwyn)

Diante de todas essas críticas, alguns desses alunos abandonaram o curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental com a percepção de que se tratava apenas um curso de

emissão de certificado.

Além disso, esses alunos criticam a baixa qualidade do material didático, a falta de

organização, a falta de estrutura física para atender aos alunos, a pouca receptividade do

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mercado para os tecnólogos, a postura rígida de alguns professores e a falta de apoio da

Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM).

Não há motivos para que os alunos critiquem a falta de apoio por parte da Prefeitura

Municipal de Mossoró, pois a PMM não tem responsabilidade alguma pelo desenvolvimento

do curso, já que se recusou a participar da parceria com o IFRN e a UAB.

Desse modo, o Campus de Mossoró do IFRN é o único responsável pelo fornecimento

de uma estrutura de apoio aos alunos e pelo funcionamento adequado do curso nesse polo.

Já no polo de Martins, três alunos evadidos (30,0%) afirmam que suas expectativas

estão sendo totalmente atendidas, o que evidencia uma maior satisfação por parte dos alunos

evadidos desse polo com relação ao curso, quando comparamos com as opiniões dos alunos

evadidos do polo de Mossoró.

TABELA 21 – ATENDIMENTO ÀS EXPECTATIVAS DOS ALUNOS EVADIDOS

DO POLO DE MARTINS

Atendimento às expectativas Alunos evadidos Totalmente atendidas 03 Parcialmente atendidas 04 Não foram atendidas 03 Total 10

Os alunos evadidos que consideram que suas expectativas com relação ao

desenvolvimento do curso foram totalmente atendidas ressaltam elementos como maior

praticidade e liberdade para o desenvolvimento dos estudos, afirmando ainda que o curso

oferece uma visão interessante da questão ambiental e que está é uma temática inovadora.

Quando analisamos as justificativas dos alunos evadidos que afirmaram que suas

expectativas foram parcialmente atendidas, em conjunto com as afirmações dos alunos

evadidos que consideram que suas expectativas não foram atendidas, identificamos alguns dos

principais problemas enfrentados pelos alunos evadidos do polo de Martins durante o período

em que participaram das atividades do curso.

Esses alunos afirmam que, em vários aspectos, o projeto do curso não foi cumprido,

pois não ocorreram visitas dos professores ao polo, o modelo de avaliação era inadequado,

faltava uma biblioteca, tornando a Internet a única fonte de pesquisas, o acesso à Internet era

limitado pela baixa velocidade da conexão disponibilizada no polo, as aulas em CD-ROM não

eram atraentes, o conteúdo disponibilizado nesses CDs era muito resumido e não havia

sintonia entre a coordenação geral do curso e a coordenação do polo de Martins.

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Consideramos importante ressaltar que alguns dos problemas apresentados pelos

alunos evadidos como, por exemplo, as dificuldades no acesso à Internet e a implantação da

biblioteca, já haviam sido solucionados no período em que realizamos a observação da

realidade.

Infelizmente, esses elementos são muito importantes para a aprendizagem e só

estavam funcionando adequadamente quando vários alunos já haviam evadido, evidenciando

a importância de uma organização prévia da infraestrutura a ser utilizada na EaD para a

prevenção da evasão.

O desperdício de tempo proporcionado pelos momentos presenciais e as mudanças no

local onde esses momentos ocorriam no início do curso também são apontados como

elementos que desestimulavam os alunos evadidos, contribuindo para que suas expectativas

com relação ao curso não fossem adequadamente atendidas.

Alguns alunos evadidos fazem sérias críticas à participação do IFRN no

desenvolvimento do curso, ressaltando a forma como o IFRN preparou os profissionais

ligados à prefeitura e que coordenavam as atividades do polo para trabalharem com a EaD.

Esses alunos criticam ainda a metodologia de trabalho utilizada, afirmando que faltava

orientação nas atividades, que o trabalho dos professores e tutores era deficiente, enfatizando

os problemas de interação entre esses profissionais e os alunos.

Os alunos evadidos apontam para as dificuldades na interação com os professores e

tutores como o principal problema da EaD e ressaltam que as formas de interação não

contribuíam para a aprendizagem e não funcionavam na prática, prejudicando o diálogo e

proporcionando um distanciamento entre alunos, professore e tutores.

Senti falta da conversação, da troca de ideias e opiniões. Teoricamente, as formas de aprendizagem eram ótimas, mas não funcionavam na prática. Alunos, professores e tutores estavam mesmo distantes. (Morgana)

A interação entre os alunos e seus professores e tutores se apresenta como o

“calcanhar de Aquiles” da EaD no polo de Martins, pois esses problemas estão na base de

muitos dos outros problemas apresentados.

Assim como no polo de Mossoró, os problemas na interação entre os alunos do polo

de Martins e seus professores e tutores ficaram evidentes devido à demora com que esses

profissionais respondiam às dúvidas dos alunos, gerando a sensação de que o número de

tutores era insuficiente para atender às suas necessidades.

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A percepção que alguns desses alunos têm é de que existe um distanciamento

excessivo entre alunos, professores e tutores, e que esses profissionais estavam ausentes em

atividades que precisavam de orientação.

Vejamos o que afirma uma das alunas evadidas com relação aos problemas de

interação envolvendo alunos, professores e tutores.

Não me identifiquei com tanto distanciamento durante o período que frequentei o curso. A clareza, como enfoquei, estava muito longe do que esperei. Por frequentar um curso presencial, achei que o trabalho desenvolvido pelos tutores e a falta da figura do professor mais presente, quer seja nas aulas, como nas atividades em que era preciso maior orientação, deixava muito a desejar. (Lunete)

Assim como ocorreu no polo de Mossoró, o fato de a Plataforma Moodle não ter sido

implantada desde o início das atividades foi um dos fatores que mais contribuiu para que a

interação entre os alunos e seus professores/tutores não ocorresse de forma adequada,

provocando todos os prejuízos já citados.

É importante ressaltar que, apesar de o polo de Martins apresentar um número

reduzido de alunos que afirmam que suas expectativas com relação ao curso não foram

atendidas, quando comparados com os alunos do polo de Mossoró, as justificativas

apresentadas pelos alunos que afirmam que suas expectativas foram parcialmente atendidas

ou não foram atendidas apresentam pontos em comum com as justificativas apresentadas

pelos alunos do polo de Mossoró, com destaque para as dificuldades na interação com

professores formadores e tutores a distância, o pouco tempo disponibilizado para o

desenvolvimento das atividades e a metodologia utilizada para promover a avaliação da

aprendizagem.

A insatisfação com essas questões fica evidente em afirmações como:

Falta tempo para atender a demanda do material, pois é muito material para pouco tempo que a instituição oferece. (Grenouille) Porque a metodologia utilizada em relação às provas não convém. (Jean Valjean) O maior problema é que ainda existem alguns entraves com referência à comunicação por conta do sistema que muitas vezes deixa a desejar. (Gandalf)

Vejamos mais detalhadamente alguns dos aspectos apresentados pelos alunos evadidos

e pelos alunos que ainda frequentavam o polo de Martins no período em que realizamos a

observação da realidade.

As dificuldades na interação entre os alunos e seus professores formadores e tutores a

distância eram agravadas por problemas no acesso à Internet, principalmente, nos primeiros

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semestres. Essas dificuldades ficaram evidentes na demora ao atendimento às dúvidas dos

alunos e na falta de comentários acerca das atividades desenvolvidas pelos alunos e enviadas

aos professores, trazendo prejuízos para a aprendizagem dos alunos.

O tempo disponibilizado pelo IFRN para o desenvolvimento das atividades do

semestre é bastante reduzido. Tomando como referência a observação das atividades

desenvolvidas no quarto semestre do curso, foi possível constatar que essas atividades tiveram

início no dia 28 de março, com a realização de um encontro na cidade de Currais Novos, e

terminaram no dia 28 de junho, com a realização das avaliações.

Isso significa que todas as atividades do quarto semestre do curso de Tecnologia em

Gestão Ambiental foram desenvolvidas ao longo de três meses. Nesse sentido, é possível

perceber que o tempo disponibilizado aos alunos para o desenvolvimento das atividades do

semestre é inferior ao tempo disponibilizado aos alunos que frequentam cursos presenciais no

próprio IFRN.

Apesar de se tratar de um curso a distância, o curso analisado apresentou uma

estrutura de desenvolvimento de atividades pouco flexível (prazos, estrutura curricular,

avaliações etc.), nos moldes dos cursos presenciais (totalmente adaptado às convenções de

semestralidade já existentes na instituição), porém desenvolvido a distância. Em alguns

momentos, essa rigidez fez com alguns alunos apresentassem dificuldades no cumprimento

das tarefas, devido a limitações de tempo, chegando a contribuir para a evasão de alguns

alunos que não conseguiram compatibilizar as atividades do curso com as suas atividades

profissionais.

Ao seguir os mesmos moldes dos cursos presenciais, com prazos comuns para todos os

alunos, independentemente das suas características individuais, o projeto do curso adquire

uma rigidez que não favorece a flexibilidade e a facilidade de acesso, contrariando o

argumento de que a EaD respeita o ritmo de aprendizado de cada aluno, bem como suas

necessidades e limitações.

Palloff e Pratt (2002) alertam para os problemas de se tentar adequar os cursos a

distância à estrutura de tempo institucional, considerando que adaptar os cursos a períodos de

tempo comuns aos cursos presenciais (trimestres ou semestres) pode ser limitador ou inibidor,

pois os cursos a distância têm o seu próprio ritmo.

Apesar disso, consideramos que os problemas envolvendo a utilização do tempo para

o desenvolvimento do curso se devem menos à tentativa de se adequar o período de

desenvolvimento das atividades ao calendário dos cursos superiores presenciais da instituição,

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do que ao fato de que o curso analisado não aproveita adequadamente esse tempo,

desenvolvendo um número significativo de atividades em um curto período de tempo.

As críticas feitas pelos alunos à metodologia utilizada para a avaliação se devem,

principalmente, ao fato de que todo o conteúdo apresentado pelas disciplinas é avaliado em

um único momento, ao final do semestre.

É importante ressaltar que essa crítica é feita apenas a avaliação escrita. Além dessa

avaliação escrita, no final do semestre, os alunos são avaliados continuamente através de

atividades enviadas aos professores e pela sua participação em atividades desenvolvidas na

Plataforma Moodle.

Como a avaliação escrita era feita no final do semestre e os alunos não recebiam

comentários acerca da qualidade das atividades enviadas aos professores ao longo do

semestre, alguns alunos reclamavam que não tomavam conhecimento das percepções dos

professores acerca da sua aprendizagem ao longo do semestre.

Após conhecermos as expectativas dos alunos evadidos dos polos de Mossoró e

Martins com relação ao curso de Tecnologia em Gestão Ambiental quando iniciaram suas

atividades no curso, de constatarmos que a maioria desses alunos avalia que suas expectativas

foram parcialmente atendidas ou não foram atendidas e identificar suas justificativas para esse

fato, procuramos conhecer quais as percepções desses alunos com relação à EaD.

4.8 Percepções dos alunos evadidos do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental nos

polos de Mossoró e Martins com relação à EaD

Apesar de quatro alunos evadidos do polo de Mossoró (26,67%) afirmarem que

acreditam na EaD, quando analisamos as percepções do grupo de alunos evadidos acerca

dessa modalidade educativa, percebemos que a forma como o curso foi desenvolvido no

período em que esses alunos o frequentaram contribuiu para consolidar uma visão negativa

acerca da EaD.

Isso fica evidente quando constatamos que, para a maioria dos alunos evadidos que

fizeram parte da pesquisa, estudar no IFRN através da EaD não foi como esperado, pois não

havia um planejamento capaz de preencher todas as lacunas e faltava qualidade no

desenvolvimento do curso que se mostrou incapaz de alcançar seus objetivos.

Para alguns desses alunos, a EaD não substitui adequadamente o modelo presencial e

não é adequada para cursos de graduação universitária.

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Esses alunos afirmam que existem sérios problemas de comunicação com os

professores, tutores e até com a coordenação do curso, de modo que é necessária uma maior

integração entre professores, alunos e coordenadores e um acompanhamento adequado do

aluno.

Além disso, os alunos evadidos do polo de Mossoró fazem críticas à maneira como os

conteúdos são abordados afirmando que falta aprofundamento desses conteúdos. Esses alunos

afirmam que, em alguns momentos, quando buscavam a ajuda de alguns professores para

obter esclarecimentos acerca de determinados conteúdos, recebiam como resposta apenas a

recomendação de realizar a leitura de textos complementares.

Vejamos o que nos falou um dos alunos durante a observação dos momentos

presenciais:

Em algumas situações a atuação do professor mais atrapalha do que ajuda. Uma vez eu enviei uma dúvida sobre um texto e ele me mandou fazer a leitura dos textos complementares e me enviou um texto complementar com cerca de 500 páginas. (Sauron)

Diante de todos os problemas apresentados, alguns alunos evadidos afirmam que, na

EaD, o aluno é responsável pela sua aprendizagem e que essa aprendizagem é mérito apenas

do aluno, de modo que a instituição apenas valida o diploma.

Esses alunos ressaltam que:

Se todos os cursos a distância forem aplicados do mesmo modo, qualquer conhecimento que o aluno adquira é mérito apenas do mesmo. A instituição teria apenas o papel de validar o diploma. (Ceinwyn) Vejo a formação acadêmica com muita seriedade, não sei se substituir o modelo de professor presente em sala de aula seja uma boa ideia. (Henry) Não devo julgar a instituição pela experiência que tive, creio que em outra circunstancia pode ser diferente. Porém não tenho nenhum interesse em fazer outro curso a distancia, qualquer que seja. (Nimue)

Essas afirmações demonstram que, do modo como foi desenvolvido, o curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental do IFRN consolidou junto a muitos de seus alunos a ideia

de que a EaD não é capaz de atender às necessidades educativas dos alunos dentro dos

mesmos padrões de qualidade da educação presencial.

Essas percepções da EaD levaram alguns alunos evadidos a afirmar que não têm mais

interesse em participar de outro curso através dessa modalidade educativa.

Não nos surpreende o fato de os alunos se sentirem responsáveis por sua

aprendizagem, desenvolvendo a percepção de que na EaD a cobrança é maior do que na

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educação presencial. O que nos preocupa é a afirmação recorrente de que os alunos não se

sentem apoiados pelo IFRN, nem pelos professores.

Durante o período de observação da realidade, alguns alunos reclamaram da ausência

de um tutor presencial para tirar dúvidas, de modo que eles se consideravam muito sozinhos,

chegando a afirmar que

A coordenação em Natal deixa o polo de Mossoró um pouco de lado. (Capitu) Antes da implantação da Plataforma Moodle alguns professores não respondiam às dúvidas dos alunos. (Mariko)

Depois de conhecermos as percepções dos alunos evadidos do polo de Mossoró acerca

da EaD, vejamos quais as percepções dos alunos evadidos do polo de Martins acerca dessa

modalidade educativa.

TABELA 22 – PERCEPÇÕES DOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE

MARTINS ACERCA DA EAD

Percepções acerca da EaD Alunos evadidos

%

Modalidade educativa capaz de oferecer ensino de qualidade 08 80% Existe um distanciamento excessivo entre alunos e professores 06 60% A EaD transfere muita responsabilidade para o aluno 05 50% A instituição e os professores devem se qualificar para que o curso funcione

04 40%

É mais difícil aprender através da EaD do que através do ensino presencial

03 30%

Entre os dez alunos evadidos que participaram da pesquisa no polo de Martins, a

maioria (80,0%) apresenta percepções positivas acerca da EaD. Ao destacar as qualidades da

EaD, alguns desses alunos afirmam que fariam outro curso a distância, pois consideram que a

formação oferecida através da EaD pode ser tão boa quanto em um curso presencial. Além

disso, esses alunos consideram que se deve incentivar o crescimento da EaD e lavá-la para

locais onde ela ofereça oportunidades para as pessoas, pois se trata de uma modalidade

educativa condizente com a realidade mundial atual.

Esses alunos afirmam ainda que a EaD exige muito dos alunos (tanto quanto o ensino

presencial), ressaltando que a distância não atrapalha o aprendizado.

Alguns alunos chegam a afirmar que essa modalidade educativa pode ser considerada

a educação do futuro, pois é capaz de oferecer um ensino de qualidade, desde que seja

estruturada adequadamente.

Além disso, os alunos afirmam que:

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A EaD é tão qualificada quanto o ensino presencial. (Merlin) A EaD facilita o aprendizado dos alunos e a entrada dos mesmos em um curso superior. (Dúnia) A educação a distância requer muita responsabilidade e competência na questão do gerenciamento dos horários no dia a dia. (Javert)

As percepções apresentadas por esses alunos acerca da EaD sintetizam muitos dos

objetivos dessa modalidade educativa (oferecer uma educação de qualidade, facilitar o

aprendizado e o acesso à educação superior), bem como a importância do desenvolvimento

adequado das ações por parte da instituição promotora do curso, o comprometimento e a

autonomia dos alunos no desenvolvimento das atividades propostas pelo curso.

Apesar de reconhecerem as qualidades, a importância e as potencialidades da EaD,

alguns alunos evadidos fazem ressalvas à essa modalidade educativa. Eles afirmam que existe

um distanciamento excessivo entre professores e alunos, gerando nos alunos a sensação de

abandono.

Muitas das vezes fico decepcionado pela falta de comunicação por parte do corpo docente. (Grenouille)

A crítica acerca da questão da interação surge novamente, porém, é preciso ressaltar

que os problemas envolvendo a interação entre professores e alunos não são inerentes a todos

os cursos oferecidos através da EaD. Os problemas de interação apresentados pelo curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental poderiam ser resolvidos pelos próprios professores em

parceria com os responsáveis pela coordenação do curso, criando-se condições adequadas

para o envolvimento dos professores e tutores com as atividades do curso e através do uso de

um suporte tecnológico adequado a realidade dos alunos.

Nesse sentido, concordamos com a ideia de que

O primeiro grande desafio a ser enfrentado pelas instituições provedoras de educação aberta e a distância refere-se, portanto, mais a questões de ordem socioafetiva do que propriamente a conteúdos ou métodos de cursos; mais a estratégias de contato e interação com os estudantes do que a sistemas de avaliação e de produção de materiais. (BELLONI, 2003, p. 45)

Além das dificuldades na interação, esses alunos afirmam que a falta da qualificação

dos professores e tutores para atuar na EaD e a omissão da instituição em funções importantes

para o funcionamento do curso fazem com que muitas responsabilidades sejam transferidas

para os alunos.

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Percebi que era um curso muito difícil, pois tínhamos que ser o ‘professor e o aluno’. Não tínhamos ninguém para tirar uma dúvida qualquer, pois acho que os tutores presenciais e a distância não tinham capacitação para exercer nenhum curso a distância. (Valerin) Percebo que não me identifiquei com a EaD. Acho que ter um professor mais próximo é de fundamental importância para que haja um trabalho onde, enquanto aluna, possa existir esta troca de conhecimentos indispensáveis para o êxito de qualquer trabalho. (Lunete)

Além das dificuldades de adaptação a uma modalidade educativa onde professores e

alunos estão separados no espaço e/ou no tempo durante a maior parte das atividades, a maior

parte das ressalvas apresentadas se deve à forma como o curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental se desenvolveu, e isso fica evidente em afirmações como:

Achei negativo estudar através da EaD, pois sempre deixava a desejar. Depois que eu cheguei à UERN eu conheci outras pessoas que estudavam através da EaD. Só que era em instituições diferentes, como a UFRN, e eu vi que lá era diferente. Eu acho que, dependendo das instituições, existe uma diferença também. Eu acho que o erro não está na EaD, mas nas instituições. Acho que o IFRN ainda não está preparado para a EaD. Não se deve abrir a EaD só por abrir. Vamos porque a UFRN tem, porque as instituições grandes têm. Eu acho que deve abrir quando se sentir preparado, quando existir professores preparados para essas disciplinas. Eu tenho amigas que fazem Física a distância na UFRN e eu vejo que elas aprendem, elas me ensinam e elas tiram dúvidas diariamente com os professores e tutores. O tutor, quando pode, manda livros via correio, indica livros. Eu vejo que lá tem uma presença. É a distância, mas o tutor está presente. Existe essa diferença. Eu acho que no IFRN falta essa presença do tutor. É a distância e o tutor não está presente, nem através do e-mail ele está presente. Falta a presença do tutor através do e-mail, falta a presença do professor através da videoconferência. Eu acho que o IFRN precisa rever o método a distância deles, ver o que precisa melhorar para trazer benefícios para o curso e para a instituição. (Guinevere)

Esses dados, em conjunto com as afirmações apresentadas, permitem perceber que,

para a maioria dos alunos evadidos do polo de Martins, os problemas apresentados e que

exerceram influência sobre a decisão de evadir não são inerentes à EaD em si, mas ao modo

como essa modalidade educativa se desenvolveu no curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental do IFRN.

Finalizamos essa etapa da coleta de dados solicitando aos alunos que identificassem os

motivos que influenciaram na sua decisão pela evasão do curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental, justificando porque cada elemento identificado motivou essa evasão.

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5 AS MOTIVAÇÕES PARA A EVASÃO NO CURSO DE TECNOLOGIA EM

GESTÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA EAD NO IFRN: UM INTENTO DE

COMPREENSÃO A PARTIR DAS PERCEPÇÕES DOS ALUNOS EVADIDOS DOS

POLOS DE APOIO PRESENCIAL DE MOSSORÓ E MARTINS

Com base na nossa convivência com a realidade analisada e na literatura acerca da

questão da evasão, destacamos a possibilidade de que a evasão discente no curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental poderia ser motivada por um conjunto de fatores intrínsecos

ou extrínsecos ao curso, que poderiam atuar de forma combinada ou não, ou ainda pela

combinação desses fatores com elementos inerentes ao contexto em que o curso e os alunos

estão inseridos.

Tomando como referência as categorias destacadas no início deste trabalho para

classificar os elementos motivadores de evasão, vejamos as principais justificativas para a

evasão apresentadas pelos alunos evadidos dos polos de Mossoró e Martins.

5.1 Fatores inerentes ao desenvolvimento do curso que motivaram a evasão nos polos de

Mossoró e Martins

Na análise dos fatores inerentes ao desenvolvimento do curso apontados como

motivadores da evasão, iremos, em um primeiro momento, apresentar uma análise da

realidade do polo de Mossoró e, em seguida, faremos uma discussão sobre os principais

fatores destacados pelos alunos evadidos do polo de Martins, procurando estabelecer

conexões entre as realidades dos dois polos.

Por se tratar de um grupo de adultos que, em sua maioria, exerce atividade

remunerada, dispondo de tempo parcial para os estudos, poderíamos supor que uma das

principais causas da evasão apresentadas pelos alunos evadidos do polo de Mossoró seria o

cansaço que esses alunos sentiriam depois de um dia de trabalho, dificultando o aprendizado e

diminuindo o interesse em dar continuidade aos estudos. Porém, fatores de ordem pessoal

como cansaço e desinteresse não são os únicos e nem mesmo os principais fatores

motivadores da evasão nesse polo.

No polo de Mossoró, os fatores inerentes ao funcionamento do curso surgiram como

as principais causas da evasão discente. A tabela abaixo apresenta os principais fatores

inerentes ao desenvolvimento do curso apontados pelos alunos evadidos como motivadores da

evasão.

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TABELA 23 – FATORES INERENTES AO DESENVOLVIMENTO DO CURSO

APRESENTADOS COMO MOTIVADORES DA EVASÃO PELOS ALUNOS

EVADIDOS DO POLO DE MOSSORÓ

Fatores motivadores da evasão Frequência % O trabalho dos professores e tutores 14 93,33 As expectativas com relação ao curso não foram atendidas 12 80,0 Os processos de interação entre professores, tutores e alunos 11 73,33 A qualidade das TCI e a forma como essas TCI foram utilizadas 08 53,33 As estratégias utilizadas para o desenvolvimento da autonomia dos alunos

08 53,33

A falta de flexibilidade nos horários das atividades presenciais 06 40,0 A qualidade do acompanhamento promovido pela coordenação do curso

06 40,0

São inúmeros os elementos inerentes ao desenvolvimento do curso que, segundo os

alunos evadidos no polo de Mossoró, exerceram influência na decisão de evadir. Vejamos

agora como esses elementos foram desenvolvidos para que possamos entender porque se

tornaram motivadores da evasão.

O trabalho dos professores e tutores foi o principal elemento apresentado pelos alunos

como motivador da evasão no polo de Mossoró, sendo citado por 93,33% dos alunos

evadidos.

Na EaD, e mais especificamente no curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do

IFRN, professores formadores e tutores a distância desempenham funções muito importantes

para a aprendizagem dos alunos e para o desenvolvimento da motivação e da autonomia.

A íntima articulação que deve existir no trabalho desenvolvido por esses profissionais

fica evidente quando o projeto do curso afirma que

O tutor a distância deverá auxiliar o professor pesquisador formador no desenvolvimento do curso, na interação com o estudante, através de diversas mídias, tanto no que diz respeito ao conteúdo quanto às demais atividades acadêmicas; estará à disposição dos estudantes para tirar dúvidas quanto ao conteúdo das disciplinas. (CEFET-RN, 2006, p. 25)

Maggio (2001) nos mostra que, nas perspectivas pedagógicas mais atuais, o professor

é visto como um profissional que elabora propostas de atividades com o objetivo de estimular

a reflexão, apoia sua solução, sugere fontes de informação, oferece explicações, favorece os

processos de compreensão, isto é, guia, orienta e apoia os alunos, e nisso consiste o seu

ensino.

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Por desempenhar funções tão importantes, consideramos que a maneira como esses

profissionais desempenham suas funções em um curso a distância tem consequências diretas

na redução ou elevação dos índices de evasão.

Partindo do pressuposto de que, na EaD, quem ensina é uma instituição, Belloni

(2003) afirma que o papel, as funções e as tarefas do professor na EaD devem ser diferentes

daquelas apresentadas no ensino presencial, pois o uso intensivo de recursos tecnológicos

torna esse trabalho mais complexo e fragmentado. Assim, na EaD o professor deve assumir o

papel de parceiro do estudante no processo de construção do conhecimento, ensinando o

aluno a aprender.

Para essa autora, se no ensino presencial a função docente é assegurada por um

indivíduo, na EaD o professor assume múltiplas funções, tais como: professor formador,

conceptor e realizador de cursos e materiais, professor pesquisador, professor tutor, tecnólogo

educacional, professor recurso e monitor.

Ao descrever o papel da tutoria ao longo do curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental, o IFRN ressalta que o tutor deve desempenhar as funções de: articulação e suporte

para o estudo cooperativo, orientação de estudos, organização das atividades individuais e

grupais e incentivo ao prazer das descobertas. Desse modo, espera-se que, assim como o

professor formador, a presença e a disponibilidade do tutor funcionem como estratégias para a

diminuição da evasão.

Além do trabalho de acompanhamento do aluno desenvolvido pelos professores

formadores, o projeto do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do IFRN prevê dois tipos

de tutoria: a tutoria presencial e a tutoria a distância.

A tutoria presencial é realizada nos polos, de forma individual e grupal, através de

professores da rede pública municipal ou estadual, estudantes de pós-graduação ou outros

profissionais de nível superior selecionados pelo IFRN.

Enquanto a tutoria presencial individual deve ser disponibilizada todos os dias da

semana, inclusive aos sábados, promovendo a orientação de estudos e o acompanhamento do

estudante na sua adaptação à EaD, a tutoria presencial grupal deve ocorrer sempre que as

atividades das disciplinas exigirem trabalhos coletivos, organizando e dinamizando os grupos

e estimulando o trabalho cooperativo.

A tutoria a distância é desenvolvida por outro tutor, que deve ser um profissional com

conhecimento específico da disciplina em que irá atuar, e pelo professor responsável pela

disciplina. O tutor a distância deverá dar suporte ao tutor presencial nas questões específicas

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da área, orientá-lo na realização das atividades práticas e grupais e na aplicação das avaliações

presenciais.

Apesar da importância do tutor presencial para a orientação de estudos, a motivação

dos alunos e a sua adaptação ao estudo através da EaD, durante a observação das atividades

presenciais constatamos que o polo de Mossoró não contava com a presença desse

profissional, o que contribuiu para que os momentos presenciais não atendessem aos objetivos

apresentados pelo projeto do curso e fossem pouco valorizados pelos alunos.

De acordo com Balmant (2006), para que o sistema proposto pela UAB funcione, é

fundamental a adesão de Estados e Municípios, que serão responsáveis pela implantação e

manutenção dos polos de apoio presencial, oferecendo uma infraestrutura e recursos humanos

capazes de atender adequadamente aos estudantes que precisem realizar provas, dirimir

dúvidas com o corpo docente ou fazer atividades conjuntas com outros alunos. Nestes locais,

os alunos devem ter acesso à biblioteca e ao laboratório de informática, contando com o

atendimento de tutores, assistindo às aulas e realizando trabalhos práticos.

Nesse sentido, a ausência de um tutor presencial no polo de Mossoró está diretamente

relacionada ao fato de que a Prefeitura do Município de Mossoró não se dispôs a fazer parte

da parceria com o IFRN e a UAB.

Apesar da omissão da PMM, consideramos que o campus de Mossoró do IFRN

deveria disponibilizar tutores para o desenvolvimento das atividades presenciais, pois, ao

assumir o compromisso de oferecer o curso, esse campus passa a ser responsável pela oferta

de todas as condições necessárias ao funcionamento adequado do curso.

Durante a fase de observação das atividades presenciais, pudemos constatar que, em

alguns momentos, o coordenador do curso também atuava como tutor presencial, recebendo

os alunos, repassando informações acerca do funcionamento do curso, ajudando os alunos a

resolver problemas com relação às notas etc. Porém, o desenvolvimento dessas atividades está

muito aquém do papel de um tutor presencial apresentado pelo próprio IFRN.

Em outros momentos, pudemos constatar que as tarefas de recepção e

acompanhamento dos alunos nos momentos presenciais eram realizadas por um adolescente

que era aluno de um curso técnico integrado e também atuava como bolsista de trabalho no

IFRN.

Ao solicitar informações a esse aluno acerca do funcionamento dos momentos

presenciais ele afirmou que não conhecia a dinâmica de funcionamento daquelas atividades e

que estava ali apenas para abrir e fechar o laboratório de informática, devendo permanecer no

local enquanto os alunos desenvolviam suas atividades.

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Como o polo de Mossoró não conta com a presença de um profissional contratado

especificamente para exercer as atividades de tutoria presencial, a análise da influência do

trabalho dos professores e tutores desse polo na evasão discente diz respeito apenas às ações

desenvolvidas pelos professores formadores e tutores a distância.

As principais críticas feitas ao trabalho desses profissionais abordam as dificuldades

no diálogo entre os professores, tutores e alunos, comprometendo o atendimento aos alunos

devido à excessiva lentidão nas respostas às dúvidas, bem como a pouca atenção que esses

profissionais davam aos alunos, gerando a sensação de abandono. Além disso, alguns alunos

ressaltam a dificuldade que esses profissionais possuem para trabalhar em um curso

desenvolvido através da EaD.

Essas críticas ao trabalho dos professores e tutores podem ser sintetizadas nas opiniões

dos alunos quando afirmam que:

Achei que os professores fossem mais comprometidos com o curso. Quando precisava tirar alguma dúvida, esperava quase uma semana e quando chegavam as respostas, eram recortes que se encontravam na Internet e nunca conseguia falar no MSN ou ter aula por videoconferência. (Norwenna) Não posso discordar da capacidade dos professores, porém acredito que eles deveriam ser mais preparados para a modalidade a distância, já que o processo de ensino/aprendizagem se dá por meios diferentes entre as modalidades a distância e presencial. Porque de certa forma havia urgência em certos questionamentos por parte dos alunos e nem sempre havia essa pressa na resposta por parte dos professores, tendo em vista que esses também desempenham funções no CEFET como professores presenciais, priorizando muitas vezes essas últimas. (Cosette) Foi a primeira vez na minha vida que desisti de algo que eu queria muito, portanto não foi fácil. Acredito que o que mais pesou na minha decisão foi mesmo a falta de atenção dos docentes ao curso, pois mesmo com todas as dificuldades o assunto é empolgante, instigante, atual e muito importante para a vida do planeta. Para interessar-me por tudo isso não seria necessário estar matriculada num curso, seja presencial ou a distância. Por isso pra mim eu não desisti, apenas adiei este sonho. (Ceinwyn)

As críticas feitas ao trabalho dos professores formadores e tutores a distância com

relação à demora no atendimento às dúvidas dos alunos, o distanciamento entre esses

profissionais e os alunos, e o fato de que não ocorreram visitas dos professores para dirimir

dúvidas, reforçam a ideia de que os problemas apresentados no trabalho desenvolvido por

esses profissionais fizeram com que as expectativas dos alunos com relação ao curso de

Gestão Ambiental não fossem atendidas, como demonstramos anteriormente.

É importante ressaltar que, ao criticar o trabalho dos professores e tutores e apontá-lo

como um dos principais fatores motivadores de evasão, os alunos fazem ressalvas afirmando

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que alguns desses profissionais desenvolvem um trabalho de excelente qualidade e que, na

opinião de alguns alunos que ainda frequentavam o curso durante o período em que

realizamos a observação da realidade, esse trabalho estava melhorando à medida que o curso

se desenvolvia.

Como as atividades na EaD necessitam de muita disponibilidade de tempo por parte

dos professores e os professores do IFRN já possuem atribuições nos cursos presenciais, em

alguns momentos esse trabalho fica comprometido, originando muitos dos problemas citados

pelos alunos evadidos ao longo de toda a pesquisa, como, por exemplo, a demora em

responder aos questionamentos dos alunos e os problemas na interação entre os alunos, os

professores e os tutores.

Para minimizar os problemas relacionados ao atendimento aos alunos, Palloff e Pratt

(2002) recomendam que as atividades desenvolvidas a distância passem a fazer parte da carga

horária dos professores e que o número de alunos em cada curso seja limitado, deixando de

lado a ideia de que quanto maior for a turma, maior será o retorno financeiro.

Esses autores ressaltam ainda a importância de os professores verificarem diariamente

o ambiente onde ocorre o curso, com o objetivo de responder as dúvidas dos alunos,

aconselhar ou dar sugestões, fazendo-se presentes no ambiente do curso.

O professor não pode simplesmente enviar o material do curso e ausentar-se por uma semana. Se isso acontecer, o professor, ao conectar-se novamente, encontrará uma enxurrada de mensagens e perguntas, tendo dificuldade em voltar a participar do debate. (PALLOFF, PRATT, 2002, p. 75)

Nesse sentido, as dificuldades de interação entre os atores desse processo educativo

surgem como a segunda principal motivação para a evasão discente no polo de Mossoró,

sendo citada por 73,33% dos alunos que participaram da pesquisa.

O elevado número de alunos evadidos que apontam para os problemas na interação

como elemento motivador da evasão reforça as afirmações de Maia (2003), pois, de acordo

com essa autora, nos cursos onde há menores índices de evasão, a interação entre os

participantes do curso é muito intensa. Por outro lado, o aluno que se sente “abandonado”

desiste com maior facilidade.

Com a inserção das TCI mais modernas (teleconferência, videoconferência, Internet

etc.), uma das principais características da EaD na atualidade diz respeito às possibilidades

variadas de interação que ocorrem no processo de ensino-aprendizagem.

De acordo com Bolzan (1998), devemos considerar quatro tipos de interação na EAD:

a) a interação aluno/interface – considerada a “linha vital” no contato entre o professor e

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o aluno, permitindo a estes receber o treinamento e participar dele;

b) a interação aluno/conteúdo – é nesta interação onde o entendimento, a percepção e as

estruturas cognitivas do aluno são modificadas;

c) a interação aluno/professor – neste tipo de interação o professor tem a função de

dirigir o fluxo de informação para o aluno, seja na organização das matérias e das

aulas, seja procurando motivar o aluno, mantendo o seu interesse e o encorajando ao

longo do processo de aprendizagem;

d) a interação aluno/aluno – considerada a mais produtiva das formas de interação, por

oferecer aos alunos a oportunidade de expandir e aplicar, de outra forma, os

conhecimentos adquiridos.

Alonso (2000) destaca que, na tentativa de conseguir o máximo de interação entre os

indivíduos e os meios, não se deve descuidar da interação humana, cujos níveis de qualidade

dependem da capacidade dos atores do processo formativo “[...] de utilizar os meios para se

expressar, e não apenas como meios que sustentem fluxos informacionais.” (p. 96)

Como demonstramos anteriormente, Maia et al (2004) constataram que os cursos

totalmente à distância apresentam evasão média de 30,0%, um índice significativamente

elevado diante do que costuma ser apresentado pelos cursos a distância que proporcionam

encontros presenciais, que apresentam uma evasão média de 8%.

Favero e Franco (2006) ressaltam a importância dos encontros presenciais devido à

possibilidade de se propiciar uma maior aproximação entre alunos e professores, facilitando o

diálogo e estimulando o aluno a continuar e a participar efetivamente do curso, pois a solidão

e a falta de interação entre professores e alunos e entre os próprios alunos pode provocar uma

maior evasão nos cursos oferecidos através da EaD.

Esses autores consideram que

Os alunos que fazem cursos a distância, na sua grande maioria, têm uma característica em comum, que é a solidão, isto é, uma sensação de abandono que o cerca durante todo o curso, principalmente quando não ocorre uma maior interação entre os atores deste processo. Porém quando, num Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), ocorre diálogo entre educadores e educandos e entre os educandos, é possível observar que o percentual de evasão diminui. (FAVERO, FRANCO, 2006, p. 02)

Ao apresentarem a qualidade da interação com professores formadores e tutores como

um dos elementos que motivou a evasão, os alunos afirmam que os processos de interação

apresentavam problemas, de modo que, para alguns alunos não havia interação alguma.

Quando analisamos as afirmações desses alunos em conjunto com os dados

apresentados anteriormente, percebemos que os problemas com a interação entre professores

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e alunos têm sintomas diversos, dos quais podemos destacar: a demora nas respostas aos

questionamentos dos alunos e a não utilização de tecnologias disponíveis, como, por exemplo,

a videoconferência.

Além disso, não podemos esquecer que a Plataforma Moddle, atualmente uilizada para

o desenvolvimento de grande parte das atividades do curso, não havia sido implantada no

início das atividades.

Durante a observação das atividades presenciais pudemos constatar que os alunos que

ainda frequentavam o curso ressaltavam a importância da Plataforma Moddle, chegando a

afirmar que a qualidade do curso melhorou com a implantação dessa Plataforma.

Nesse sentido, é possível perceber que os problemas na interação entre professores

formadores, tutores e alunos estão articulados com os problemas no trabalho dos professores e

tutores, bem como, com a qualidade das tecnologias e a maneira como essas tecnologias são

utilizadas.

Como demonstramos anteriormente, nas últimas décadas as TCI foram inseridas nos

processos produtivos, modificando as funções dos trabalhadores e exigindo novas

qualificações desses trabalhadores.

Essa mesma tecnologia está disponível para a EaD, oferecendo possibilidades inéditas

de tratamento da informação, de interação e interatividade, tornando essa modalidade

educativa capaz de atender às novas e diversificadas demandas educacionais apresentadas

pela sociedade.

Para Belloni (2003), no desenvolvimento da atividade educativa presencial o professor

utiliza algum meio de comunicação (livro, quadro negro, filmes, jogos, apostilas etc.) para

complementar sua ação pedagógica em interação direta com os alunos, enquanto que,

Na EaD, a interação com o professor é indireta e tem de ser mediatizada por uma combinação dos mais adequados suportes técnicos de comunicação, o que torna esta modalidade de educação bem mais dependente da mediatização que a educação convencional, de onde decorre a grande importância dos meios tecnológicos. (BELLONI, 2003, p. 54)

Mesmo em um curso a distância onde os alunos dispõem de momentos presenciais

para interagir com os professores e/ou tutores, a mediação através das TCI é fundamental para

o sucesso desse curso, pois os momentos presenciais não são capazes de contemplar toda a

diversidade de situações de aprendizagem inerentes a um curso que tem a maior parte das suas

atividades desenvolvidas a distância.

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Para Maroto (1996), a EAD é uma prática educativa que deve ter como ponto de

partida a realidade social e a população, com suas demandas de formação e qualificação, e

que, por ser uma prática mediatizada, exige a utilização de alguma tecnologia.

Esta autora considera que a mediação pedagógica é a chave da EaD, de modo que, se

na educação presencial o professor tem sido o mediador pedagógico por excelência,

Na EAD a mediação pedagógica se dá predominantemente através do tratamento dos dados aos conteúdos e formas de expressão mediatizados pelos materiais didáticos, meios tecnológicos, tutoria e avaliação. Assim sendo, são as relações estabelecidas nessa mediação as que criam e recriam o sentido da prática educativa, onde os protagonistas são construtores de conhecimento e não meros receptores, desenvolvendo atitudes críticas e criativas num contexto de participação, apesar da distância. (MAROTO, 1996, p. 27)

Nesse sentido, o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do IFRN adotou diversas

tecnologias, com o objetivo de facilitar a interação entre alunos, professores e tutores,

melhorar a qualidade da aprendizagem e reduzir os índices de evasão.

De acordo com o plano do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental

Compreende-se a educação a distância como um diálogo mediado por objetos de aprendizagem, os quais são projetados para substituir a ‘presencialidade’ do professor. Nesse sentido, os materiais e objetos didáticos adquirem uma importância fundamental no planejamento de cursos a distância. A escolha das mídias a serem utilizadas pode interferir no aprendizado do estudante, se não for levada em consideração a sua realidade sócio-econômica. (CEFET-RN, 2006, p. 19)

Partindo desse presuposto, o IFRN procura promover a convergência entre diferentes

mídias para proporcionar a interação entre alunos, professores e tutores. De acordo com o

projeto do curso, além do material impresso, os alunos contariam com uma plataforma on-

line, fitas de áudio, vídeo, transmissões de programas por televisão, CD-ROM e aulas através

de videoconferência.

Apesar disso, a maioria dos alunos evadidos (53,33%) fez críticas à qualidade das TCI

disponibilizadas, bem como à forma como essas TCI foram utilizadas por professores e

tutores, como pode ser constatado na afirmação abaixo.

Quanto à tecnologia utilizada, achei-a insuficiente para uma aprendizagem plena. Eu esperava vídeo-aulas gravadas, ou, até mesmo, aulas por videoconferência (como acontece em vários cursos à distância), e o que nos ofertaram foi tão-somente uns CD-ROM’s contendo um material de qualidade questionável. (Murdock)

Como demonstramos anteriormente, alguns alunos chegaram a destacar a não

utilização da videoconferência como elemento que contribuiu para que suas expectativas com

relação ao curso de Gestão Ambiental não fossem totalmente atendidas, contrariando o

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próprio projeto do curso, que ressalta a importância da utilização da videoconferência ao

afirmar que:

De acordo com o planejamento de cada módulo temático e suas disciplinas, serão desenvolvidas aulas, utilizando-se a videoconferência, dando um caráter de sincronicidade às aulas a distância com comunicação em tempo real, atendendo a várias turmas simultaneamente de acordo com as condições pedagógicas da instituição proponente e dos polos. Esse formato possibilita a interatividade e interação entre estudantes, professores e tutores. (CEFET-RN, 2006, p. 20)

Além da não utilização da sala de videoconferência, os alunos fizeram críticas ao uso

do correio eletrônico como principal meio de comunicação utilizado, pois, como

demonstramos anteriormente, alguns professores demoravam semanas para responder aos

questionamentos dos alunos, existindo situações em que esses questionamentos não eram

respondidos, evidenciando dificuldades na interação entre professores, tutores e alunos.

Nos foi apresentado o modelo de curso a distância, pagamos inclusive uma cadeira relacionada a esta modalidade. Na teoria mostrava-se eficaz, porém com suas particularidades onde o aluno, mais do que nunca, deveria possuir uma postura mais independente em relação a estudos e pesquisas. Aprendemos e vimos na teoria como o conteúdo deveria ser passado para o aluno, com o uso das mais diversas tecnologias, vídeo aulas, videoconferências, aulas presenciais (com carga horária reduzida) dentre outras formas que aparentemente substituiriam a tradicional forma de ensino. Infelizmente a instituição não fez jus a essas práticas, o conteúdo era repassado através de um CD-ROM que continha materiais resumidos sobre cada matéria e junto a esse conteúdo acompanhava questões para avaliação do conteúdo, tais questões deveriam ser repassadas para os professores via e-mail. Era exclusivamente através do correio eletrônico que existia a comunicação entre professores e alunos, as maiores reclamações eram sobre o fato desses professores não estarem sempre a postos para eventuais esclarecimentos de dúvidas e correções das atividades propostas. (Henry)

Essas afirmações sintetizam alguns dos problemas apresentados pelo curso com reação

ao uso das tecnologias, as dificuldades na interação e no atendimento realizado pelos

professores, com implicações diretas para a evasão.

É lugar comum destacar a importância da autonomia do aluno para o seu sucesso em

um curso a distância.

O aluno virtual de sucesso sabe trabalhar de modo independente, envolvendo-se com o material do curso com pouquíssima necessidade de intervenção do professor. O aluno que precisa de mais assistência do professor e não deseja ou não consegue envolver-se nas discussões e atividades colaborativas provavelmente terá problemas nas atividades on-line (PALLOFF, PRATT, 2004, p. 139)

É comum imaginar que o aluno da EaD é um sujeito autônomo, que possui

maturidade, motivação e habilidades de estudo que o tornam capaz de gerir seu processo de

aprendizagem. Não há dúvida de que um aluno com essas características seria desejável para

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qualquer curso, seja um curso a distância ou mesmo um curso presencial. Porém, esse

estudante autônomo ainda é uma exceção no ambiente acadêmico.

É fundamental que o aluno da EaD desenvolva sua capacidade de aprendizado

autônomo, haja vista que essa autonomia facilitará sua participação no curso, sendo também

importante para o seu sucesso nas mais diversas esferas da sociedade contemporânea.

De acordo com Eliasquevici e Fonseca (2006, p. 58)

Autonomia faz parte das demandas da sociedade contemporânea, como um dos pré-requisitos para viver sob a égide das novas tecnologias presentes nos diversos setores, incluindo o educacional, sendo condição básica para conviver com os riscos, as incertezas e os conflitos dessa sociedade.

Qualquer instituição que deseje desenvolver um sistema de EaD, deve fornecer as

condições necessárias à construção de uma aprendizagem autônoma, entendendo o aluno

como um sujeito ativo no processo educativo e não apenas como a matéria prima de um

processo industrial de formação.

Nesse sentido, consideramos que um curso desenvolvido através da EaD deve elaborar

estratégias que objetivem favorecer a construção da autonomia do aluno, estimulando-o a

participar ativamente das atividades do curso e a refletir criticamente sobre o material

apresentado pelos professores e pelos colegas de turma.

O IFRN reconhece que, na EaD, o foco do processo educativo está no estudante, que

deve ser considerado como o sujeito do seu aprendizado, desenvolvendo autonomia e

independência em relação ao professor.

Porém, as estratégias utilizadas no curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, que

poderiam estimular o desenvolvimento da autonomia dos alunos, são muito criticadas pelos

alunos evadidos do polo de Mossoró, sendo apontadas por 53,33% desses alunos como um

dos fatores que influenciaram na sua decisão de evadir.

Alguns alunos chegam a afirmar que não eram desenvolvidas atividades voltadas para

o desenvolvimento da sua autonomia, pois o curso não possuía uma estrutura organizacional

capaz de atendê-los e motivá-los.

Apesar de ser citada por um número menor de alunos (40,0%), quando comparada

com outros elementos motivadores de evasão, é preocupante perceber que os alunos evadidos

identificam a falta de flexibilidade nos horários das atividades presenciais (provas, aulas etc.)

como um dos elementos que influenciaram na decisão de evadir, pois, como demonstramos

anteriormente, a flexibilidade dos horários possibilitada pela EaD, foi apontada por cinco

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alunos evadidos (33,33%) como um dos motivos que os levaram a prestar vestibular para esse

curso.

Além disso, a EaD costuma ser apresentada como uma modalidade educativa que se

caracteriza pela flexibilidade, onde se enfatiza a sua capacidade de atender às necessidades de

formação de amplos segmentos da população, criando as condições de acesso à educação para

muitas pessoas que não podem participar de um curso oferecido através da educação

presencial.

Entendemos que a separação física entre aluno e professor, característica da EaD, traz

consequências diretas para o processo educativo, que passa a ser realizado de forma

independente e autônoma pelo aluno, de acordo com seu ritmo de aprendizagem e sua

disponibilidade de tempo.

Nesse sentido, concordamos com Henriques (1996), quando essa autora afirma que a

EaD apresenta uma concepção de educação onde é

[...] a escola que vai ao encontro do aluno onde quer que ele se encontre; que respeita sua individualidade, suas necessidades e possibilidades; que procura soluções para a contradição massificação ‘versus’ qualidade, e cuja operacionalização é viável, somente, pela via da educação a distância; e que se fundamente no auto-estudo, no estudo independente e orientado, no processo de aprender a aprender, constituindo, por conseguinte, a melhor alternativa de libertação ideológica e conceitual no processo de aprendizagem e de democratização da educação, quando permite o acesso, a ela, da população há tempo marginalizada. (HENRIQUES, 1996, p. 145)

Desse modo, um sistema eficiente de EaD deve possuir em sua estrutura, um conjunto

de recursos tecnológicos que possibilitem a superação das distâncias, das dificuldades de

locomoção, do acesso e dos problemas de aprendizagem do estudo individualizado.

Obedecendo a determinação do Decreto 5.622, de 19 de dezembro de 2005, o curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental do IFRN exige a presença dos alunos em momentos

presenciais semanais e em momentos de avaliação, estabelecendo ainda prazos fixos para o

envio de atividades.

Essas exigências limitaram a flexibilidade oferecida pela EaD e inviabilizaram a

permanência de alguns alunos, conforme podemos perceber a partir de afirmações como:

Eu esperava fazer esse curso com flexibilidade, me dedicar ao máximo e me formar, porém, o curso terminou tomando muito do meu tempo. Não tive a flexibilidade desejada, não podia acessar a internet de casa, pois o espaço dos alunos não estava pronto. Tinha que ir duas vezes na semana a Mossoró e mais uma vez no sábado, não consegui estudar dessa maneira.” (Blackthorne)

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Estava cursando o segundo período e tinha prazo até uma determinada sexta-feira para enviar todos os trabalhos da primeira etapa. Como trabalho em um banco, só tinha tempo a noite para concluir os trabalhos. Fiquei toda a noite de sexta e madrugada do sábado para enviar os trabalhos (detalhe: meu computador era de apenas 256 MB e minha linha era discada). Para minha triste surpresa, todo um esforço sobre-humano foi coroado com a devolução de tudo o que enviei após a meia noite da sexta-feira. Pareceu-me engraçado e trágico ao mesmo tempo. [...] Respondi dizendo apenas que me considerasse desistente do curso. Me arrependi meses depois, mas já era tarde. Já havia perdido várias provas. Não deveria ter desistido por causa da truculência de algumas pessoas. Hoje já estou até pensando em fazer EaD novamente [...] (Bentinho)

Depoimentos como esses evidenciam a tensão existente entre o discurso que exalta a

flexibilidade na aprendizagem em cursos desenvolvidos através da EaD, afirmando que, nessa

modalidade educativa, o aluno pode gerir seu próprio processo de aprendizagem, e a

autoridade docente no que diz respeito ao cumprimento dos prazos estabelecidos para a

entrega de atividades por parte dos alunos.

Por outro lado, esses depoimentos evidenciam a importância do bom senso e da

vigilância desse bom senso na prática docente. Nesse sentido, concordamos com ideia de que

Antes, por exemplo, de qualquer reflexão mais detida e rigorosa é o meu bom senso que me diz ser tão negativo, do ponto de vista de minha tarefa docente, o formalismo insensível que me faz recusar o trabalho de um aluno por perda de prazo, apesar das explicações convincentes do aluno, quanto o desrespeito pleno pelos princípios reguladores da entrega dos trabalhos (FREIRE, 1998, p. 67-68)

Ao adequar o período de desenvolvimento das atividades do curso ao calendário dos

cursos superiores presenciais da instituição, torna-se fundamental a determinação de prazos

para o cumprimento das atividades do curso. Porém, concordamos com o autor supracitado

quando ele aponta para a importância do bom senso por parte dos professores no recebimento

dessas atividades, para que se evite a evasão de alunos, como no caso apontado anteriormente.

Analisando especificamente a questão da flexibilidade, Belloni (2003) considera que a

EaD pode propiciar a flexibilização do acesso (numa perspectiva de democratização das

oportunidades), a flexibilização do ensino (estimulando o desenvolvimento de habilidades de

auto-aprendizagem), a flexibilização da aprendizagem (desenvolvendo no aluno a capacidade

de gerir a sua própria aprendizagem) e a flexibilização da oferta (em uma perspectiva de

atendimento a demandas sociais de formação ao longo da vida).

Para a autora, do ponto de vista do aluno da EaD, é mais fácil lidar com a separação no

espaço do que com a separação no tempo, pois, geralmente, nos cursos através de EaD existe

uma grande flexibilidade em termos de espaço, permitindo ao aluno poder estudar em casa ou

no trabalho sem a obrigatoriedade de frequentar aulas presenciais. Por outro lado, os alunos

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dispõem de pouca flexibilidade de tempo quando se trata de prazos para entrega de atividades

ou mesmo para a realização de avaliações.

Porém, as afirmações anteriores evidenciam as dificuldades enfrentadas por alguns

alunos do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, seja com relação à separação no espaço

ou ainda pela separação no tempo, devido à falta de flexibilidade nas atividades

desenvolvidas, principalmente no que diz respeito aos prazos para a entrega das atividades

avaliativas e à obrigatoriedade da participação nos momentos presenciais, com todas as suas

consequências para a evasão discente.

A ausência de um tutor presencial no polo, com uma carga horária de 20 horas

semanais exclusiva para o atendimento às determinações do projeto do curso limitou as

possibilidades dos alunos em termos de participação nos momentos presenciais, já que o polo

de Mossoró do IFRN acabou por determinar que os momentos presenciais deveriam ocorrer

nas noites das segundas-feiras e terças-feiras e que as avaliações finais deveriam ocorrer

durante os fins de semana, criando mais uma dificuldade com relação à flexibilidade no

desenvolvimento dos momentos presenciais.

Assim, a falta flexibilidade e a exigência de participação presencial foram apontadas

por alguns alunos evadidos como elementos que contribuíram para que as suas expectativas

com relação ao curso não fossem atendidas, chegando, em alguns casos, a inviabilizar a

permanência desses alunos no curso analisado.

Ao que parece, apesar de utilizar tecnologias de comunicação (Plataforma Moodle, e-

mail, CD-ROM, grupos de discussão etc.) que oferecem possibilidades inéditas de interação

(professor/aluno ou aluno/aluno) e de interatividade com os materiais, o curso de Tecnologia

em Gestão Ambiental tem dificuldades em combinar essa flexibilidade na interação com a

independência no tempo e no espaço.

De acordo com o projeto do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, o IFRN exige

dos alunos uma frequência de oito horas semanais no laboratório de ensino situado no polo.

Porém, a observação das atividades presenciais desenvolvidas pelo curso no polo de Mossoró

nos permitiu perceber que, a partir do quarto semestre, ocorreu um relaxamento com relação à

frequência dos alunos, de modo que alguns alunos pouco participavam dos momentos

presenciais.

Alguns alunos raramente frequentavam o polo. Além disso, ocorreram situações em

que alguns alunos assinavam a lista de frequência, quando existia lista de frequência, e se

retiravam do laboratório.

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126

Ao ressaltar a importância dos polos de atendimento para o processo ensino-

aprendizagem através da EaD, o IFRN afirma que esse processo se torna mais rico, chegando

a ocorrer queda nos índices de evasão quando os alunos dispõem desse ambiente de estudo,

onde podem contar com uma infraestrutura de atendimento, além de orientação e apoio

efetivo dos tutores.

Nesse sentido, o polo se constituiria em um local onde deveriam ser realizados a

tutoria presencial, os estudos individuais ou em grupo e os exames presenciais, de modo que,

em sua infraestrutura, o polo deveria contar com videoconferência, Internet, telefone ou

outros meios que venham a ser necessários para que possa ocorrer a tutoria. O próprio IFRN

afirma que “Assim, os polos estabelecem e mantêm o vínculo dos estudantes com a entidade

executora e deverão, portanto, funcionar como laboratórios pedagógicos com equipamentos

que serão utilizados ao longo do processo ensino-aprendizagem.” (CEFET-RN, 2006, p. 36)

Se levarmos em consideração que o curso analisado faz uso da Plataforma Moodle

para o desenvolvimento de muitas de suas atividades (fóruns de discussões, envio de

atividades etc.), o acesso à Internet é de importância fundamental para o seu adequado

desenvolvimento.

Apesar de serem obrigados a frequentar os momentos presenciais, a maioria dos

alunos evadidos do polo de Mossoró (60,0%) não utilizava a estrutura física do polo para

acessar a Internet, preferindo acessá-la em casa ou no local de trabalho, conforme podemos

constatar na tabela abaixo.

TABALA 24 – LOCAL ONDE OS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE

MOSSORÓ ACESSAVAM A INTERNET

Local Alunos evadidos % Residência 08 53,33 Polo 01 6,67 Trabalho 01 6,67 Residência e polo 03 20,0 Polo e lan house 01 6,67 Residência, trabalho e polo 01 6,67 Total 15 100,0

O fato de apenas 40,0% dos alunos evadidos utilizarem as dependências do polo de

Mossoró do IFRN evidencia o distanciamento desses alunos em relação aos momentos

presenciais, tendo em vista que a observação desses momentos mostrou que eles eram usados,

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predominantemente, para o acesso à Internet e para o repasse de informações por parte do

coordenador do polo.

A observação das atividades presenciais também permitiu constatar que, enquanto

alguns alunos trabalhavam na Plataforma Moodle, outros apenas registravam a presença e se

retiravam do laboratório. Alguns alunos chegaram a afirmar que desenvolviam melhor as

atividades em outros ambientes como o local de trabalho ou a própria residência.

Além disso, a observação da realidade e os depoimentos dos alunos evadidos

demonstraram que, desde o início das atividades do curso, existiam problemas com relação à

disponibilidade de um local específico para que os alunos do polo de Mossoró realizassem as

atividades do curso nos momentos presenciais.

No caso de Mossoró, a utilização da estrutura física do Campus do IFRN pelos alunos

poderia, em um primeiro momento, ser considerada uma vantagem, já que o campus dispõe

de um grupo de profissionais qualificados e de uma infraestrutura invejável. Porém, o que

conseguimos perceber é que a não delimitação de um espaço específico para o

desenvolvimento dos momentos presenciais provocou em muitos alunos a sensação de

abandono por parte do IFRN, pois os alunos da EaD só utilizavam os recursos do IFRN,

quando esses recursos não estavam sendo utilizados pelos alunos dos cursos presenciais.

Contrariando as recomendações apresentadas pelo projeto do curso, o polo de Mossoró

do IFRN, em vários momentos, não disponibilizou um laboratório de informática para os

alunos do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, pois os laboratórios da instituição

também eram usados por alunos e professores de outros cursos oferecidos através do ensino

presencial.

Nas cidades onde a Prefeitura oficializou o convênio para participar das atividades da

UAB, a própria Prefeitura se responsabiliza pela estrutura física do polo de apoio presencial,

bem como pelos profissionais que atuarão nesse polo.

A ausência de um local exclusivo para que os alunos desenvolvessem suas atividades é

apenas uma das dificuldades enfrentadas pelos alunos do polo de Mossoró devido ao fato de

que a PMM não se interessou em efetuar o convênio com o IFRN para oferecer o curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental.

Esse problema fica evidente em afirmações como:

Acessava a Internet no IFRN, mas por pouco tempo, pois no IFRN não tínhamos muito espaço. Às vezes precisávamos do laboratório de informática e não estava disponível. Como eu não possuía Internet em casa, o acesso era bem difícil. Parecia que a gente nem era aluno da instituição, pois não havia um local reservado para a gente. Eu pensava que o nosso local era a sala de videoconferência, mas até de lá a

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gente já foi retirado para que outro professor pudesse dar aula. Aí a gente ficava nos corredores e o coordenador do polo dava os informes e a gente ia embora. Para mim que morava em Apodi e tinha que esperar o ônibus que saia daqui as 22:30 para chegar lá a meia noite, era muito ruim. Por isso, eu acabei desistindo. (Katara)

As afirmações apresentadas puderam ser constatadas durante o período em que foram

realizadas as observações dos encontros presenciais. Em um determinado dia do quarto

semestre letivo, os alunos que ainda frequentavam o curso no polo de Mossoró foram

“convidados” a se retirar do laboratório de informática onde desenvolviam suas atividades

para que outro professor pudesse ministrar uma aula.

Durante outra dessas observações, também no quarto semestre letivo, pudemos

presenciar o próprio coordenador do polo informar aos alunos que um dos laboratórios estaria

livre às terças-feiras. Porém, às segundas-feiras37, os três laboratórios de informática da

instituição estariam ocupados.

A falta de um local específico para a realização das atividades do curso é um problema

que, de acordo com os alunos evadidos, ocorria desde o início das atividades do curso.

Durante a fase de observação das atividades foi possível constatar que, algumas vezes, todos

os laboratórios de informática onde os alunos poderiam realizar as atividades estavam

ocupados nos dias em que os alunos do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental deveriam

utilizá-los.

De acordo com Palloff e Pratt (2002), para que as atividades realizadas no ambiente

on-line sejam bem sucedidas é fundamental que os participantes do curso tenham acesso à

tecnologia a ser utilizada e estejam familiarizados com ela, pois quando o aluno se sente à

vontade com a tecnologia existe uma maior possibilidade de participação.

É evidente que o próprio campus de Mossoró do IFRN poderia ter resolvido esse

problema, disponibilizando um local específico para que os alunos do curso analisado

pudessem desenvolver suas atividades em qualquer dia da semana, conforme previa o projeto

do curso. Porém, durante todo o período em que realizamos a observação da realidade

pudemos constatar que esse problema não foi resolvido.

Quando os profissionais responsáveis pela UAB elaboraram o projeto de um curso

através da EaD e decidiram desenvolver momentos presenciais, exigindo a participação dos

alunos nesses momentos, eles estavam, em certa medida, trocando a flexibilidade de um curso

totalmente a distância pela possibilidade de desenvolver atividades que contribuiriam para

37 A segunda-feira e a terça-feira eram os dias comumente destinados às atividades presenciais no polo de Mossoró.

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melhorar a qualidade da aprendizagem, e que só poderiam ser desenvolvidas nos momentos

presenciais.

Como demonstramos anteriormente, algumas pesquisas comprovam que cursos que

oferecem momentos presenciais possuem índices de evasão menores do que cursos

desenvolvidos totalmente a distância. Porém, quando os momentos presenciais são pouco

aproveitados, convertendo-se apenas em uma exigência legal de frequência para aprovação, o

curso perde nos dois sentidos.

Por um lado, porque a flexibilidade, tão buscada por alunos que trabalham e que vêem

na EaD a possibilidade de dar continuidade a sua formação, fica comprometida pela

obrigatoriedade de frequentar os momentos presenciais. Por outro lado, porque os alunos

acabam desperdiçando tempo, ao ter que se deslocar para o polo apenas para registrar sua

presença ou para desenvolver atividades que poderiam ser realizadas fora do polo, como, por

exemplo, o uso da Plataforma Moodle, haja vista que o uso dessa plataforma pode ser

realizado em qualquer computador com acesso à Internet.

Consideramos que o campus de Mossoró do IFRN deveria disponibilizar um tutor

presencial desenvolvendo atividades durante 20 horas semanais, conforme determina o

projeto do curso, de modo que os alunos possam desenvolver suas atividades presenciais em

qualquer dia da semana, e não apenas durante as segundas-feiras e terças-feiras.

Assim, o curso continuaria tendo a flexibilidade necessária a um curso a distância,

garantindo ainda a possibilidade do desenvolvimento de atividades presenciais com a

orientação de um profissional capacitado, o que poderia contribuir para a melhoria da

qualidade da aprendizagem e para a redução dos índices de evasão.

40,0% dos alunos evadidos também fazem críticas à qualidade do acompanhamento

promovido pela coordenação do curso, apontando esse problema como um dos elementos

motivadores da evasão.

Vejamos o que alguns desses alunos falam acerca do acompanhamento feito pela

coordenação do curso, para que possamos compreender melhor de que maneira a qualidade

desse acompanhamento influencia na decisão de evadir.

Porque o abandono oferecido aos alunos de Gestão Ambiental proporcionou um grande esforço individual na tentativa de atender às exigências do curso. Sabia que teria de ter autonomia nos estudos, porém me decepcionou o fato de nós alunos sermos completamente esquecidos e soltos para o desenvolvimento do curso. (Cosette) A coordenação, praticamente não aparecia, e quando aprecia alguém, parecia que queria fugir dos alunos. (Katara)

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Esperava que a proposta do curso fosse seguida à risca, muita coisa deixou a desejar e só existia no ‘projeto do curso’. Pra mim foi uma falta de respeito com os alunos do curso, uma vez que a instituição estava a par de todos os problemas e não podia fazer nada, como sempre de mãos atadas. (Bentinho)

Essas afirmações evidenciam que a forma como a coordenação do curso de Tecnologia

em Gestão Ambiental acompanhou as atividades desenvolvidas pelos alunos, fez com que

alguns alunos se sentissem abandonados e desrespeitados em uma instituição que não se

mostrou capaz de cumprir o projeto de curso apresentado e atender às necessidades e

expectativas desses alunos, estimulando a evasão discente.

Esse conjunto de dificuldades fez com que 80,0% dos alunos evadidos do polo de

Mossoró afirmassem que evadiram porque suas expectativas com relação ao curso não foram

atendidas.

Diferentemente do que ocorreu em Mossoró, onde os aspectos inerentes ao

desenvolvimento do curso foram apontados como os principais fatores motivadores da

evasão, no polo de Martins esses elementos ficaram em segundo plano, perdendo espaço para

os fatores de ordem pessoal.

Como demonstramos anteriormente, os alunos evadidos do polo de Martins

apresentaram uma maior satisfação com a forma como o curso se desenvolveu, de modo que a

maior satisfação com o curso por parte desses alunos também se reflete no menor número de

alunos evadidos que apontam os aspectos inerentes ao desenvolvimento do curso como

motivadores de evasão, quando comparados com os alunos evadidos do polo de Mossoró.

Apesar disso, consideramos importante apresentar os fatores inerentes ao

desenvolvimento do curso que exerceram influência na decisão de evadir e que foram

destacados pelos alunos evadidos do polo de Martins, para que possamos entender de que

forma esses elementos se desenvolveram e porque se tornaram motivadores da evasão, bem

como identificar as semelhanças e diferenças entre as realidades dos dois polos.

TABELA 25 – FATORES INERENTES AO DESENVOLVIMENTO DO CURSO

APRESENTADOS COMO MOTIVADORES DA EVASÃO PELOS ALUNOS

EVADIDOS DO POLO DE MARTINS

Fatores motivadores da evasão Frequência % Dificuldades na interação com professores e tutores 05 50,0 O trabalho dos professores e tutores 05 50,0 O curso não atendeu às expectativas 04 40,0

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Assim como ocorreu no polo de Mossoró, os problemas na interação entre os alunos e

seus professores formadores e tutores a distância, aliados aos problemas apresentados pelo

trabalho desses profissionais, são os principais elementos inerentes ao desenvolvimento do

curso apontados como motivadores da evasão pelos alunos do polo de Martins.

Não senti interação efetiva entre alunos, professores e tutores. Os contatos eram mínimos e de forma precária, a Internet não colaborava, sendo o principal meio de interação. Apesar dos computadores serem novos, o acesso era difícil. Por exemplo: passávamos mais de trinta minutos para enviar um e-mail. (Morgana)

Como já ressaltamos, os problemas na interação entre alunos, professores e tutores têm

consequências diretas para a qualidade do trabalho desenvolvido por esses profissionais, pois

a presteza com que esses profissionais atendem aos questionamentos dos alunos, dirimindo

dúvidas, sugerindo leituras, incentivando e motivando os alunos, reflete a qualidade desse

trabalho junto aos alunos e é essencial para a construção de aprendizagens significativas.

Assim como ocorreu no polo de Mossoró, os problemas no trabalho desenvolvido por

professores e tutores ficaram evidentes nas críticas apresentadas pelos alunos evadidos do

polo de Martins, com ênfase em aspectos como: a qualidade do material didático produzido e

as dificuldades na interação entre esses profissionais e os alunos, com os consequentes

prejuízos para o acompanhamento aos alunos e o esclarecimento às dúvidas apresentadas por

esses alunos.

Esses problemas contribuíram para que o curso não atendesse às expectativas dos

alunos que, em alguns casos, optaram por evadir.

Desde o início do curso minhas expectativas não foram atendidas. Pensava uma coisa e foi outra. Havia uma grande dificuldade porque tantos os professores quanto os tutores não tinham conhecimento algum do material didático que estava estudando. Cheguei até a achar aulas iguais pela Internet mudando só o instituto. (Valerin)

A observação da realidade nos mostrou que parte das dificuldades enfrentadas pelos

professores e tutores se devia às formas como são definidas as condições de trabalho e de

formação desses profissionais na EaD.

Em conversas com professores e tutores, alguns desses profissionais chegaram a

afirmar que não era possível atender a todos os alunos, devido à grande quantidade de e-mails

que lhes eram enviados, quando a comunicação entre esses profissionais e os alunos ocorria

exclusivamente através de e-mail.

Como já demonstramos anteriormente, Coelho (2000) considera que a falta da relação

face-a-face entre professor e aluno, a ausência de reciprocidade da comunicação e a falta de

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um agrupamento de pessoas em uma instituição destinada à transmissão de saberes estão entre

as principais explicações para a evasão em cursos através da EaD.

Para garantir a relação face-a-face o IFRN apresentou em seu projeto de curso

estratégias como a utilização da videoconferência, encontros presenciais no início e no final

de cada semestre com a presença de professores e tutores e as visitas dos professores aos

polos.

Apenas os encontros presenciais no início e no final do semestre ocorreram e, até

mesmo essa estratégia deixou de ser utilizada no último semestre do curso.

Nesses encontros, os alunos participavam de atividades importantes para o

desenvolvimento do curso, tais como: palestras, atividades avaliativas, apresentações de

trabalhos, apresentação dos professores formadores e tutores a distância, bem como as

disciplinas onde cada um desses profissionais iria atuar etc.

Com o objetivo de desenvolver nos alunos a sensação de pertencimento a um grupo e

a uma instituição de ensino, o IFRN exige a participação dos alunos em momentos presenciais

semanais, caracterizando o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental como um curso

semipresencial. Além disso, para desenvolver as atividades do curso os alunos necessitavam

de um local com acesso à Internet.

Apesar de contar com a estrutura do polo e da obrigatoriedade dos momentos

presenciais, quando procuramos saber que locais os alunos utilizavam para acessar a Internet,

pudemos constatar que poucos alunos utilizavam a estrutura fornecida pelo polo de Martins

para acessar a Internet e desenvolver as atividades do curso.

60,0% dos alunos evadidos afirmaram que não utilizavam a estrutura física do polo

para acessar a Internet, preferindo acessá-la em casa, no local de trabalho ou em lan houses.

TABELA 26 – LOCAL ONDE OS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE MARTINS

ACESSAVAM A INTERNET

Local Aluno evadido % Residência 04 40,0 Polo 03 30,0 Trabalho 01 10,0 Residência e polo 01 10,0 Lan house 01 10,0 Total 10 100,0

Segundo os próprios alunos, nos primeiros semestres de funcionamento do curso,

havia muitos problemas com o acesso à Internet no polo de Martins, com destaque para a

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baixa velocidade no carregamento de páginas e a lentidão no envio e recebimento de e-

mails38.

Posteriormente, quando a maioria dos alunos evadidos que participaram desta pesquisa

já havia deixado de participar das atividades do curso, os problemas com a Internet foram

resolvidos, de modo que, no momento em que iniciamos a observação das atividades

desenvolvidas no polo de Martins, os alunos já contavam com um serviço de Internet capaz de

atender adequadamente às suas necessidades dentro do curso.

A constatação de que apenas 40,0% dos alunos evadidos utilizavam a estrutura do polo

para realizar suas atividades confirma o distanciamento desses alunos em relação aos

momentos presenciais.

Esse distanciamento pode ser um indicativo de que os alunos não consideravam as

atividades desenvolvidas nos momentos presenciais relevantes para a sua aprendizagem.

Além disso, durante a observação dos momentos presenciais, foi possível constatar a pouca

frequência dos alunos no polo.

Se levarmos em consideração que a participação nos momentos presenciais é

obrigatória, é importante questionar como esses alunos conseguiam obter a frequência

necessária para a sua aprovação?

A resposta para essa questão fica evidente quando um dos tutores do polo de Martins

afirma que

Os alunos não frequentam o polo com a mesma assiduidade do início do curso porque o IFRN negligenciou na questão da frequência. (Zuko)

O tutor presencial do polo afirmou ainda que enviava os relatórios de frequência para a

coordenação do curso na cidade do Natal, porém, os alunos terminavam o semestre com

100% de frequência, mesmo não tendo frequentado o polo nos momentos presenciais

determinados pelo projeto do curso.

Assim como ocorreu no polo de Mossoró, a observação das atividades presenciais no

polo de Martins nos permitiu perceber que ocorreu um relaxamento com relação à frequência

dos alunos, de modo que alguns alunos pouco participavam dos momentos presenciais.

Aparentemente, a pouca frequência desses alunos nos momentos presenciais não tinha

consequências para a sua aprovação.

As afirmações dos alunos evadidos do polo de Martins demonstram que esses

momentos presenciais apresentaram sérias limitações na construção de um ambiente de 38 Antes da implantação da Plataforma Moodle, os alunos enviavam suas dúvidas e atividades para os professores apenas através de e-mail.

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aprendizado colaborativo, evidenciando que, se os momentos presenciais não são bem

desenvolvidos, as oportunidades de interação, integração, motivação e aprendizado são

desperdiçadas.

Eu acho que os tutores presenciais deveriam ter uma preparação na questão de quando os alunos chegarem lá eles terem uma pauta para o encontro. Não existe isso. O aluno chega, liga o computador, e se quiser ir embora vai. Eles abrem a sala e se os alunos quiserem estudar, bem, se não quiserem, vai para casa. Isso acaba desestimulando. Você faz uma viagem até lá e quando chega lá não tem ninguém para lhe estimular, os alunos vão para um lado, outros vão para o outro, outros vão para a praça. (Guinevere)

De acordo com Oliveira (2007), os encontros presenciais revelam muito da

fidedignidade da instituição promotora do curso para todos os envolvidos no processo. Desse

modo, quando desenvolvidos de forma inadequada, os momentos presenciais surtem um

efeito perverso.

Para Maia et al (2004, p. 09)

[...] cursos totalmente a distância causam, consequentemente, interações totalmente a distância entre aluno e professor e entre os alunos, podendo gerar nos alunos o sentimento de isolamento em relação ao grupo, desestimulando os alunos a continuarem no curso. Diferentemente, aqueles que participam de encontros presenciais sentem-se motivados a aprender, a interagir, pois se sentem incluídos em uma turma.

A realidade encontrada nos polos de Mossoró e Martins contraria essa ideia, pois, ao

invés de criar nos alunos a sensação de pertencimento a um grupo e a uma instituição, motivar

os alunos e facilitar a construção de aprendizagens significativas, os encontros presenciais

revelaram as fragilidades do curso, desmotivaram muitos alunos, geraram a sensação de

abandono, favorecendo a evasão, como pode ser constatado na afirmação abaixo.

No início, quando nós chegávamos lá, passavam filmes, eu dizia até a mamãe que nós perdíamos muito tempo lá em Martins, na verdade tempo e gasto, porque eu via que lá na presença era o momento de nós tirarmos dúvidas de algum exercício, alguma coisa desse tipo e eles não estavam preparados para nos responder, eles não sabiam. Às vezes eles diziam para a gente mandar um e-mail para os professores para eles responderem, mas às vezes nós precisávamos de uma resposta instantânea e eles não estavam preparados para responder. (Guinevere)

A criação de oportunidades para o diálogo entre os alunos, professores e tutores é

fundamental para o sucesso de um curso a distância. Nesse sentido, mais uma vez as

semelhanças entre as realidades dos polos de Mossoró e Martins vêm à tona, pois, assim

como ocorreu no polo de Mossoró, as afirmações dos alunos evadidos no polo de Martins

evidenciam a fragilidade na interação entre alunos professores e tutores, e apontam para a

existência de problemas envolvendo outro elemento inerente ao desenvolvimento do curso

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que exerce influência direta sobre o trabalho desses profissionais e a interação com os alunos:

a qualidade das tecnologias utilizadas.

Apesar de autores como Hall et al (2003) mostrarem a importância da elaboração de

um desenho de curso na Web que leve em consideração aspectos como: interatividade

(estimulando a participação ativa do aluno), multimodalidade (apresentação dos conteúdos em

formatos variados como: áudio, vídeo ou texto) e adaptabilidade (possibilitando ajustes às

características individuais dos alunos), o curso analisado iniciou suas atividades utilizando

apenas o e-mail para promover a interação entre alunos professores e tutores, mesmo depois

de afirmar para os alunos e propor no projeto do curso que esses alunos iriam desenvolver

atividades utilizando tecnologias como a videoconferência e a Plataforma Moodle.

Ao planejar o curso analisado, o IFRN se propôs a oferecê-lo para um elevado número

de alunos em diversos locais diferentes, acreditando que as tecnologias que seriam utilizadas

poderiam compensar o distanciamento físico entre alunos e professores.

A Plataforma Moodle é um exemplo de tecnologia apresentada no projeto do curso e

que não foi implantada desde o início das atividades do curso.

A não implantação da Plataforma Moodle limitou as possibilidades de diálogo entre os

alunos e os professores, de modo que os alunos utilizavam exclusivamente o e-mail para

solicitar o esclarecimento de suas dúvidas. Em ambos os polos, muitos alunos afirmaram que

as respostas a esses e-mails demoravam semanas e, em alguns casos, os e-mails não

chegavam a ser respondidos.

Além disso, ao longo de toda a pesquisa ficou evidente que a não utilização da

videoconferência contraria o projeto do curso, limitando as possibilidades de interação entre

alunos, professores e tutores, frustrando as expectativas dos alunos e criando uma sensação de

abandono, já que a interação através de e-mail apresentou muitas limitações.

Ao observarmos as atividades no polo de Martins, constatamos que os computadores

são novos e que o problema com a qualidade da conexão com a Internet já foi resolvido.

Porém, no período em que a Plataforma Moodle ainda não havia sido implantada e que o

principal meio de comunicação entre alunos, professores e tutores era o e-mail, uma conexão

de baixa qualidade se mostrou muito prejudicial para essa interação.

Em pesquisa que procurou identificar variáveis explicativas para a evasão em um

curso gratuito a distância, Abbad et al. (2006) sugerem que os índices de evasão encontrados

na pesquisa podem estar relacionados com a baixa frequência de interação entre os evadidos

com os tutores e demais colegas e conclui que o uso de ferramentas eletrônicas de interação

exerce um papel muito importante na retenção do aluno no curso.

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Quando observamos as tecnologias utilizadas no curso analisado, constatamos que a

Plataforma Moodle se mostrou um meio importante para a aprendizagem dos alunos, pois,

nos dois polos, muitos alunos chegaram a afirmar que o curso ficou melhor depois da

implantação dessa tecnologia. Porém, a não implantação da Plataforma Moodle desde o início

das atividades se mostrou um grave equívoco, pois muitos alunos tiveram problemas na

interação com professores e tutores e esses problemas ocasionaram dificuldades para a

aprendizagem e estimularam a evasão.

Nesse sentido, as críticas ao não cumprimento do projeto do curso são muito

pertinentes, pois o projeto previa a utilização de tecnologias como a videoconferência e a

Plataforma Moodle. Porém, a videoconferência nunca foi utilizada e a Plataforma Moodle foi

implantada depois que muitos dos alunos que participaram desta pesquisa já haviam evadido,

de modo que alguns desses alunos não chegaram a utilizá-la.

Apesar de utilizar alguns dos recursos tecnológicos característicos das gerações mais

modernas da EaD (CD-ROM, Plataforma Moodle, Internet, fóruns virtuais, e-mail etc.)

associados ao material impresso, o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental apresenta

algumas características típicas de experiências de primeira e segunda geração de multimeios,

que são: a ênfase na distribuição de materiais através dos meios e na validação dos resultados

da aprendizagem através da avaliação.

O funcionamento inadequado de uma estrutura teoricamente consistente, projetada

para o acompanhamento das atividades desenvolvidas pelos alunos, para o atendimento às

necessidades desses alunos e para o desenvolvimento de um curso fundamentado na interação

ao longo de todo o processo educativo, evidencia a efetivação de uma concepção de EaD

caracterizada pela mediatização dos conteúdos, a auto-suficiência dos materiais e o

autodidatismo dos alunos.

Não podemos esquecer que, experiências de EaD que assumiam que eram os materiais

que ensinavam, quando ensinar era sinônimo de transmissão de informações e estímulo ao

aparecimento de determinadas condutas, apresentavam o tutor como um acompanhante

funcional para o sistema, de modo que “A tarefa do tutor consistia em assegurar o

cumprimento de objetivos oferecendo um apoio que, da perspectiva do programa, incorporava

mais uma variável para o controle e para o ajuste dos processos”. (MAGGIO, 2001, p. 96)

Além dos problemas com as TCI, alguns alunos evadidos fazem críticas à atuação dos

profissionais ligados à Prefeitura de Martins, afirmando que esses profissionais não eram

devidamente preparados para atender às necessidades dos alunos.

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Nós esperávamos sempre o melhor por se tratar do IFRN, que a sociedade tem um respeito pelo antigo CEFET, porém, quando eu cheguei lá, raramente a gente via alguém do CEFET. Via mais o pessoal da prefeitura e quando eu chegava lá e perguntava, às vezes, alguma coisa simples do curso eles não sabiam responder. Eles não tinham informação de nada e eu me questionava o que é que eu estou fazendo aqui se os coordenadores não sabem nem responder a algumas questões simples do curso? Assim, dúvidas do curso que você iria tirar, que eram umas bobagens, mas precisava tirar e eles não sabiam responder. Eu acho que os coordenadores não eram preparados e isso desestimulava o aluno. Acho que o defeito não estava nos coordenadores, mas no CEFET que não preparou esses coordenadores para trabalhar. Uma vez que você vai abrir um curso a distância, você tem que ver também os benefícios e os malefícios que isso pode causar e eles não prepararam bem as pessoas para trabalhar nesse curso. (Guinevere)

Além de todos os fatores citados anteriormente e que apontam para motivações para a

evasão intrínsecas ao curso, surgem ainda os fatores de ordem pessoal, apontados por todos os

alunos evadidos do polo de Martins que participaram da pesquisa e por 73,33% dos alunos

evadidos do polo de Mossoró.

5.2 Fatores de ordem pessoal que influenciaram os alunos dos polos de Mossoró e

Martins na decisão de evadir

Os dados apresentados na tabela abaixo destacam os principais fatores de ordem

pessoal apontados como motivadores da evasão no polo de Mossoró. Esses dados, em

conjunto com as informações discutidas anteriormente, demonstram que a evasão no polo de

Mossoró do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental não foi motivada apenas por fatores

inerentes ao desenvolvimento do curso, sendo um problema resultante de um conjunto de

vários fatores intrínsecos e extrínsecos ao curso que influenciaram na decisão do aluno quanto

à permanência ou não no referido curso.

TABELA 27 – FATORES DE ORDEM PESSOAL APRESENTADOS COMO

MOTIVADORES DA EVASÃO PELOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE

MOSSORÓ

Fatores de ordem pessoal motivadores de evasão Frequência %

Cansaço 02 13,33

Falta de motivação para dar continuidade ao curso 04 26,67

Falta de tempo devido ao excesso de atividades 04 26,67

Problemas de saúde na família 01 6,67

O nível de dificuldade das tarefas 05 33,33

Dificuldade para estudar em um curso oferecido através da EaD 02 13,33

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A maioria dos fatores de ordem pessoal apresentados como motivadores da evasão

pelos alunos evadidos do pólo de Mossoró está em consonância com os estudos apresentados

por Santos et al (2008).

Em sua pesquisa sobre as causas da evasão em um curso de graduação em Ciências

Biológicas a distância,

[...] verificou-se que a maioria das causas é de origem extrínseca ao curso, ou seja, razões pessoais, nas quais encontram, principalmente, a falta de tempo para dedicar-se ao curso, priorização de outras atividades em detrimento do curso, falta de habilidade pra as exigências da EaD, problemas de saúde e não-adequação ao modelo de aprendizagem da EaD. (SANTOS ET AL, 2008, p. 09)

Apesar de não ser a principal causa de evasão no polo de Mossoró, a influência dos

fatores de ordem pessoal na decisão de evadir fica evidente em afirmações como:

Minha filha bebê, que precisava demais da minha atenção, pois na época amamentava, e como ela tinha problemas de baixos peso e crescimento, foi uma sábia decisão. O curso de especialização em enfermagem do trabalho, que eu já havia iniciado quando comecei o curso de gestão ambiental também exigia um pouco do meu tempo. Porém havia aulas presenciais muito proveitosas o que me estimulou a continuar. Além disso, acabava de assumir outro emprego, o duplo vínculo empregatício foi a gota d’água para a minha decisão. (Cenwyn) Por ter uma vida familiar e trabalho, causava uma certa dificuldade [...] (Toranaga) As aulas eram à noite e eu trabalhava pela manhã e tarde. Só que começaram as aulas em outros polos no meu horário de trabalho e depois as avaliações. Como eu não podia assistir às aulas e nem fazer as provas, resolvi desistir. (Norwenna)

Essas afirmações evidenciam que, junto com os elementos motivadores de evasão

inerentes à forma como o curso foi desenvolvido, surgiram elementos de ordem pessoal,

relacionados à questão familiar ou profissional, que contribuíram para que a evasão discente

ocorresse.

Problemas de saúde do aluno ou de alguém da sua família e as dificuldades em

conciliar os estudos com as atividades profissionais são causas bastante comuns da evasão em

cursos a distância.

Em uma pesquisa sobre evasão em cursos de educação continuada a distância,

Nascimento e Esper (2009) mostram que o número elevado de horas de trabalho, os

problemas de saúde e os problemas com a família estão entre as principais motivações de

ordem pessoal para a evasão.

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No caso dos alunos evadidos do polo de Mossoró, os problemas apresentados pelo

curso se somam aos aspectos inerentes à vida privada de alguns alunos influenciando na sua

decisão de evadir.

Porém, é possível perceber que a dificuldade em conciliar as atividades pessoais e

profissionais com as atividades do curso evidencia os problemas com a falta de flexibilidade

por parte do curso, que, por ser oferecido através da EaD, deveria apresentar alternativas

objetivando a superação dessas dificuldades.

Os responsáveis pela implantação e pelo desenvolvimento das atividades de um curso

através da EaD devem estar conscientes de que irão lidar com alunos adultos que, em sua

maioria, já desenvolvem atividades profissionais. Assim, para que esse curso obtenha os

resultados desejados e apresente índices de evasão satisfatórios, é fundamental que sejam

criadas estratégias que permitam aos alunos desenvolverem as atividades do curso com a

flexibilidade necessária.

Diferentemente do que ocorreu no polo de Mossoró, onde os fatores de ordem pessoal

tiveram uma influência menor que os fatores inerentes ao desenvolvimento do curso como

motivadores de evasão, no polo de Martins os fatores de ordem pessoal foram a principal

causa da evasão apontada pelos alunos evadidos.

Os principais fatores de ordem pessoal que influenciaram os alunos na decisão de

evadir são indicados na tabela abaixo.

TABELA 28 – FATORES DE ORDEM PESSOAL APRESENTADOS COMO

MOTIVADORES DA EVASÃO PELOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE

MARTINS

Fatores de ordem pessoal motivadores de evasão Frequência % Falta de motivação para dar continuidade ao curso 03 30,0 Problemas de saúde na família 02 20,0 Falta de tempo devido ao excesso de atividades 03 30,0 Cansaço 02 20,0 Dificuldade para estudar através da EaD 06 60,0

As afirmações feitas por esses alunos ajudam a entender a influência desses fatores na

decisão de evadir.

Infelizmente abandonei o curso devido a um grande problema familiar. Tive que viajar, vencer um grande obstáculo, um drama. Foi esse o motivo, mas, graças a Deus, venci. Se algum dia tiver vestibular, eu farei novamente. (Lancelot)

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Confesso que o cansaço do trabalho, das tarefas domésticas, filha etc., me tiraram forças para seguir em frente. (Morgana)

Afirmações como estas, obtidas de alguns alunos evadidos que apresentam opiniões

bastante positivas acerca do curso e da EaD, levam-nos a concordar com Freitas (2009),

quando esta autora afirma que

Fatores importantes e determinantes da evasão de adultos estão intimamente vinculados com as pressões de trabalho e as responsabilidades familiares, que podem interferir no tempo possível para dedicar aos estudos, não significando realmente falta de habilidade intelectual. (FREITAS, 2009, p. 258)

Alguns alunos evadidos reconhecem que existem problemas no desenvolvimento do

curso, mas afirmam que não evadiram por causa desses problemas.

As respostas dos alunos evadidos aos questionários e a convivência com os alunos que

permaneceram no curso durante o período em que realizamos a observação da realidade

mostraram que a ausência de IES na cidade de Martins faz com que muitos alunos superem as

dificuldades apresentadas pelo curso analisado para poderem obter uma formação em um

curso superior.

Apesar de existirem alunos que resistem aos problemas apresentados ao longo do

desenvolvimento do curso e que afirmaram que desistiram exclusivamente, devido a fatores

de ordem pessoal, outros alunos (50,0%) apresentam respostas que demonstram que eles

evadiram devido a uma combinação de fatores de ordem pessoal com fatores inerentes ao

desenvolvimento do curso.

O desinteresse chegou devido à dificuldade que tive sem ninguém para tirar minhas dúvidas. Muitas vezes mandava solicitação de uma dúvida e não era nem respondido. Acho que é um curso muito forçado para quem não tem a presença de ‘ninguém’ e muitas atividades de uma só vez. (Valerin)

As afirmações deste aluno evidenciam mais que dificuldades para estudar através da

EaD, deixando claras as falhas no trabalho desenvolvido pela instituição e por professores e

tutores no que diz respeito ao acompanhamento das dificuldades enfrentadas pelos alunos,

gerando nesses alunos sentimentos como o desinteresse pelo curso e a sensação de abandono

por parte dos professores e do IFRN, contribuindo diretamente para a evasão.

Os dados apresentados, somados às afirmações dos alunos acerca das suas motivações

para a evasão, demonstram que, em muitos casos, além dos fatores de ordem pessoal

relacionados com a complexidade da vida familiar e pessoal, a situação financeira e as

condições de trabalho,

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[...] existem as instituições responsáveis pela educação e as políticas sociais mal implementadas, que nem sempre atendem às necessidades dos estudantes e praticamente os deixam evadir, sem sequer demonstrar interesse em tentar identificar a causa e verificar se é possível evitar a evasão. (FREITAS, 2009, p. 248)

Também fica evidente que, para alguns alunos, o nível das atividades propostas é

muito elevado para um curso onde muitos dos profissionais envolvidos não conseguem ajudar

a sanar as dificuldades dos alunos no desenvolvimento das atividades.

Vários alunos afirmam que as dificuldades para estudar através da EaD exerceram

influência na sua decisão de evadir.

Com certeza influenciou. Minha maior dificuldade foi a questão de não ter uma sala (turma). Nossa sala era composta por 30 alunos e tinha dia que vinha 10, 20. Variava e eu não tinha contato com todos os alunos, não havia laços de amizade. Quando você estuda no ensino presencial, você cria laços de amizade dentro da sala de aula e isso me deixou muito sem graça. Eu não conheço quase ninguém dessa lista. Porque eu não tinha laços de amizade lá. O pouco tempo que nós passávamos juntos, era um junto distante, porque um ia para um canto outro ia para outro, nós não tínhamos contato. Era realmente tudo era distante, até os próprios alunos se tornavam distantes do curso e isso me desestimulou muito. Eu disse: eu não quero isso para mim, eu quero uma sala que cresça junto comigo, que caminhe junto comigo, porque eu não sentia isso. Era um curso onde cada um tomava um rumo diferente e eu achei isso muito difícil para mim, que não iria dar certo e eu achei melhor sair. (Guinevere)

Essa afirmação evidencia que, para alguns alunos, a dificuldade em estudar através da

EaD se soma aos problemas apresentados pelo curso no desenvolvimento de estratégias

voltadas para a construção de um ambiente de aprendizagem colaborativa (presencial e

virtual), com o objetivo de ajudar os alunos a superar suas dificuldades.

As dificuldades para estudar através da EaD não são uma exclusividade dos alunos

evadidos do polo de Martins. Nascimento e Esper (2009) nos mostram que dificuldades para

utilizar as tecnologias através das quais o curso se desenvolve, dificuldades no acesso a

Internet e até mesmo para estudar sozinho, fazem com que muitos alunos desistam de um

curso a distância.

Apesar de todos os alunos evadidos do polo de Martins apontarem para algum fator de

ordem pessoal como motivador da evasão, para metade desses alunos, a motivação para

evadir se deu a partir da combinação de fatores de ordem pessoal com fatores inerentes ao

desenvolvimento do curso. Para esses alunos, o desenvolvimento inadequado de aspectos

inerentes ao funcionamento do curso, compromete a qualidade da aprendizagem e faz com

que o curso não atenda às suas expectativas, estimulando a evasão.

Apesar de alguns alunos apontarem apenas para fatores de ordem pessoal como

elementos motivadores da sua evasão, a pluralidade de respostas apresentadas demonstra que

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uma parcela significativa dos alunos evadiu devido a uma combinação de elementos de ordem

pessoal com fatores inerentes ao desenvolvimento do curso.

Além disso, devemos ressaltar a influência de aspectos inerentes ao contexto em que o

curso e os alunos estão inseridos. Esses fatores, combinados com questões de ordem pessoal

ou com o desenvolvimento inadequado de fatores inerentes ao curso, contribuíram para a

evasão nos polos de Mossoró e Martins.

5.3 Fatores inerentes ao contexto apresentados como motivadores da evasão pelos alunos

evadidos dos polos de Mossoró e Martins

Como demonstramos ao longo deste trabalho, os fatores inerentes ao contexto em que

os alunos estão inseridos não costumam ser levados em consideração nas pesquisas que

analisam as causas da evasão em cursos oferecidos através da EaD. Apesar disso,

consideramos que a análise desses fatores é de extrema relevância para que se possa

compreender adequadamente as motivações para a evasão em cursos oferecidos através dessa

modalidade educativa.

No caso específico dos alunos do polo de Mossoró, a possibilidade de frequentar

outro curso em uma instituição de ensino presencial, combinada ou não com os problemas

apresentados pelo curso ou por fatores de ordem pessoal, foi apontada por vários alunos como

um fator que influenciou na decisão de evadir.

Percebia muitos alunos se esforçando bastante para o progresso do curso e via grandes frustrações e desgosto dos mesmos, o curso simplesmente não funcionava. Não demorei muito para jogar as cartas e desistir do curso, fui "levando com a barriga" o ultimo semestre em que estive lá, pois tinha retomado os estudos para o vestibular. Passei para Administração na UFERSA logo em seguida e é onde eu estou até hoje. (Henry)

A possibilidade de estudar em outra instituição de ensino fez com que alguns alunos se

tornassem menos complacentes com os problemas apresentados pelo curso, evadindo logo

que conseguiam uma vaga em outra instituição ou mesmo em um curso presencial do próprio

IFRN.

Entre os quinze alunos evadidos do polo de Mossoró que participaram desta pesquisa,

foi possível constatar que sete alunos (46,67%) evadiram do curso analisado e passaram a

frequentar um curso presencial.

Além disso, o fato de a Prefeitura Municipal de Mossoró não ter se interessado em

oferecer um polo de apoio presencial para o curso analisado trouxe sérias consequências para

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a qualidade do curso, já que os alunos não dispunham de um local específico para o

desenvolvimento dos momentos presenciais e não contavam com a ajuda de um tutor

presencial, conforme previa o projeto do curso.

Como já demonstramos, a forma como foram desenvolvidos os momentos presenciais

teve uma influência significativa na evasão, pois o desenvolvimento inadequado desses

momentos e o desperdício das suas potencialidades desestimularam muitos alunos, gerando a

sensação de abandono, dificultando a aprendizagem e o diálogo entre professores formadores,

tutores e alunos.

No caso do polo de Mossoró, a ausência de um tutor presencial levou ao extremo essa

sensação de abandono, de modo que os alunos evadidos desse polo reclamaram da ausência

desse profissional, chegando a afirmar que era muito melhor quando os professores eram do

próprio polo, pois ficava mais fácil para tirar as dúvidas.

Já no polo de Martins, a possibilidade de cursar uma faculdade presencial, as questões

inerentes á política local e a falta de expectativas profissionais foram os principais fatores

inerentes ao contexto apontados pelos alunos evadidos, conforme mostra a tabela abaixo.

TABELA 29 – FATORES INERENTES AO CONTEXTO APRESENTADOS COMO

MOTIVADORES DA EVASÃO PELOS ALUNOS EVADIDOS DO POLO DE

MARTINS

Fatores inerentes ao contexto que influenciaram na evasão Frequência A possibilidade de cursar uma faculdade presencial 02 Questões inerentes à política local 02 A falta de expectativas profissionais na região 01

Apesar de não existir IES presenciais na cidade de Martins, alguns alunos conseguiam

frequentar uma IES presencial em cidades próximas, como Patu, Umarizal ou mesmo

Mossoró, que não é tão próxima, estando localizada a cerca de 142 km de Martins.

Essa possibilidade fez com que alguns alunos evadissem, optando por frequentar uma

IES presencial, conforme fica evidenciado na afirmação abaixo.

Pretendia fazer vestibular para Gestão Ambiental em Areia Branca quando surgiu a possibilidade de fazer aqui em Martins. Levei em consideração o fato de ser a opção mais próxima, uma vez que o custo era bem menor. A despesa era bem menor do que vir para Mossoró. Não sabia que iria ser a distância, não fui informada, o que me desestimulou um pouco. Continuei até passar no vestibular em Mossoró, porque se não tivesse passado, acho que eu teria ficado lá. Já estava fazendo, não é? (Guinevere)

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É importante ressaltar que a maioria dos alunos do polo de Martins não possui a

disponibilidade de tempo e de recursos para frequentar um curso presencial em outra cidade,

fato que inviabilizava a continuidade dos estudos para muitos desses alunos após a conclusão

do ensino médio.

Como afirma Litto (2005, p. 09), “[...] está ficando cada vez mais claro que, sem o

emprego de educação a distância, será difícil cumprir o dever social de fornecer acesso à

aprendizagem a grupos até agora socialmente excluídos.”

Diante dessa realidade, constatamos a importância da EaD como um instrumento de

justiça social e inclusão educacional, pois essa modalidade educativa está proporcionando à

uma população historicamente esquecida pelas IES presencial, a oportunidade de dar

continuidade à sua formação.

Quando analisamos a questão da presença/ausência de IES na região em que um curso

a distância é oferecido, constatamos que a ausência de IES na cidade de Martins ajuda a

entender porque, de um modo geral, os alunos desse polo demonstraram uma maior

resistência e uma maior satisfação com o curso, enquanto que os alunos do polo de Mossoró

se mostraram mais exigentes e mais críticos diante dos problemas apresentados pelo curso,

apesar das críticas apresentadas por alguns alunos do polo de Martins que, muitas vezes,

coincidiam com as críticas apresentadas pelos alunos do polo de Mossoró.

A maior experiência acadêmica dos alunos do polo de Mossoró contribui para que

esses alunos se mostrem mais exigentes quanto ao desenvolvimento adequado das estratégias

metodológicas apresentadas pelo projeto do curso e reconheçam a importância do papel a ser

desempenhado pela instituição promotora do curso e por seus profissionais dentro do processo

educativo.

Por outro lado, muitos alunos evadidos do polo de Martins têm a percepção de que, na

EaD, o aluno é responsável por todo o processo educativo, de modo que ele é o único

responsável pela solução das dificuldades e limitações que surgiram ao longo desse processo.

A maioria desses alunos tem pouca convivência com IES e nunca frequentou cursos a

distância, o que contribui para que alguns alunos demonstrem que desconhecem as

responsabilidades da instituição e dos seus profissionais dentro do processo educativo a

distância.

Essas percepções diferenciadas podem ser um indicativo de que o contexto fornece

elementos que exercem influência sobre as percepções dos alunos acerca dos fatores inerentes

ao desenvolvimento do curso, desempenhando um papel importante sobre a questão da

evasão.

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Nesse sentido, o fato de muitos alunos do polo de Mossoró já haverem estudado em

IES certamente contribuiu para que esses alunos apresentassem percepções diferenciadas

acerca de um ensino de qualidade, quando comparados com os alunos do polo de Martins que,

em sua maioria, não passaram por essa experiência.

Apesar de ser citada explicitamente por apenas dois alunos evadidos do polo de

Martins, as questões inerentes à política local são bastante relevantes para a análise das

motivações para a evasão, pois, as afirmações dos alunos e a observação da realidade

evidenciaram que a disputa política nas eleições para Prefeito da cidade envolviam alunos,

tutores presenciais e a própria coordenadora do polo, que era esposa do Prefeito de Martins,

então candidato à reeleição.

Vejamos o que diz uma aluna:

Em Martins existe a questão politiqueira. Isso gera uma grande dificuldade dentro do curso, pois a tutora apoiava um partido e a primeira dama era a coordenadora e era de outro partido. As pessoas viam que elas não se batiam. Eles não diferenciavam o ambiente de trabalho. Colocavam suas divergências na frente dos alunos. Acho que o problema não está nem neles e sim na cidade, porque a cidade tem uma marca muito forte quando se trata de política. Quando a coordenadora saia os tutores reclamavam, falavam sobre a política, diziam que a coordenação não ia para frente por causa dela, que ela não estimulava. Eu via que existiam divergências dos alunos com a coordenadora. Porque tinha alunos que não apoiavam o prefeito e diziam: não vou hoje porque a coordenadora está lá. Havia alunos que não iam mesmo porque a coordenadora estava presente. (Guinevere)

Essa questão política nos foi relatada pela própria tutora que, entre outras coisas,

revelou que a coordenação do curso tentou excluí-la das atividades de tutoria, junto com o seu

esposo, que também é tutor presencial.

Passadas as eleições municipais, o Prefeito não conseguiu se reeleger. Junto com a

mudança na Prefeitura, veio a mudança na coordenação do polo, fato que trouxe maior

tranquilidade para os tutores presenciais, que puderam continuar desenvolvendo suas

atividades de tutoria.

Durante as conversas com alguns alunos e até mesmo com pais de alunos evadidos, foi

possível perceber que o clima político na cidade exerceu influência sobre o desempenho de

alguns alunos, contribuindo para a elevação dos índices de evasão no curso.

O envolvimento com a campanha eleitoral foi tão significativo que alguns alunos

deixaram de se dedicar às atividades do curso durante o período eleitoral e, quando tentaram

retornar, não conseguiram cumprir as atividades estabelecidas pelos professores.

Isso fez com que um dos alunos fosse reprovado em um grande número de disciplinas,

com a consequente evasão do curso, já que o curso não oferecia novas turmas que

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possibilitassem ao aluno se matricular novamente nas disciplinas em que foi reprovado e dar

continuidade ao curso.

Ao longo de toda a pesquisa foram comuns as críticas apresentadas ao trabalho dos

professores formadores e tutores a distância por parte dos alunos evadidos. Essas críticas,

aliadas ao fato de que o trabalho desses profissionais foi apontado como a principal motivação

para a evasão no polo de Mossoró, poderiam, em um primeiro momento, levar a crer que

esses profissionais seriam os grandes culpados pela evasão no polo.

Porém, consideramos necessário entender o contexto em que se realiza a prática dos

professores e tutores, para que possamos evitar uma culpabilização excessiva desses

profissionais, pois as condições que a UAB e o IFRN lhes oferecem para a realização das

atividades na EaD podem dificultar o desenvolvimento de um trabalho dentro dos padrões de

qualidade desejados.

Apesar de reconhecermos a necessidade de uma maior qualificação dos professores

formadores e dos tutores a distância para atuar na EaD, consideramos que os problemas

apresentados pelo trabalho desses profissionais não se devem apenas à sua dificuldade de

atuar na EaD, sendo também motivados por uma determinada proposta de EaD, mais

preocupada com a certificação em massa do que com a qualidade da formação oferecida e que

favorece a precarização das condições de trabalho dos profissionais da educação.

No caso dos tutores a distância, fica evidente a contribuição da UAB para a

precarização do trabalho e da remuneração docente, pois esses profissionais não precisam ter

vínculo com o IFRN para poderem atuar na EaD, de modo que muitos desses profissionais

atuam na EaD sem nenhuma das garantias trabalhistas asseguradas a outros servidores da

própria instituição, sendo contratados temporariamente, sem vínculo efetivo com o IFRN, sem

proteção sindical e recebendo apenas uma remuneração na forma de bolsa durante o período

em que desenvolvem as atividades de tutoria.

Para minimizar os efeitos de aspectos ligados à precarização do trabalho docente, o

IFRN deveria priorizar a contratação de profissionais da própria instituição para a função de

tutoria a distância, pois, ao contratar profissionais sem vínculo com a instituição, o IFRN

desperdiça toda a experiência e a qualificação adquirida por esses profissionais, já que eles

abandonam suas atribuições na instituição assim que termina o seu contrato de trabalho.

Os professores são escolhidos dentro do quadro de professores do próprio IFRN,

recebendo uma remuneração adicional para atuar na EaD através de uma bolsa financiada pela

UAB. Desse modo, os professores do IFRN que atuam na EaD não têm uma carga horária

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específica para o trabalho e a formação continuada na EaD, dentro da sua carga horária

semanal no IFRN.

Na verdade, esses profissionais acrescentam suas atividades na EaD às atividades que

já desenvolvem regularmente no IFRN, de modo que alguns professores ficam

sobrecarregados pelo acúmulo de atividades na EaD, atividades em cursos presenciais (Cursos

superiores, cursos técnicos integrados e subsequentes), atividades de pesquisa, extensão e, em

alguns casos, atividades ligadas à própria gestão do IFRN.

Ao oferecer uma remuneração extra aos professores através de bolsas, a UAB

inviabiliza a inserção das atividades realizadas através da EaD na carga horária semanal dos

professores que desejam desenvolver atividades através dessa modalidade educativa, de modo

que esses professores adicionam as atividades dos cursos a distância ao trabalho que já estão

desenvolvendo nos cursos presenciais, o que, em muitos casos, ocasiona uma sobrecarga nas

atividades desses professores.

De acordo com Palloff e Pratt (2002) muitos professores e as próprias instituições

costumam se enganar ao acreditar que um curso a distância é de fácil administração, quando,

na verdade, o tempo necessário para ministrar esse tipo de curso costuma ser duas ou três

vezes maior do que o tempo necessário para ministrar um curso presencial.

Aliada a questão do tempo surge a questão do tamanho do grupo. Ao longo deste

trabalho procuramos demonstrar que a UAB é uma estratégia desenvolvida pelo Governo

Federal que procura atender a um número elevado de alunos a um custo inferior ao que

resultaria do atendimento em instituições de ensino presencial.

Porém, a quantidade de tempo necessária para que o professor desenvolva um trabalho

de qualidade evidencia que é necessário que ocorra uma limitação no tamanho do grupo que

será atendido por esse professor, já que o tempo e o esforço do professor são proporcionais ao

número de alunos do grupo.

A ideia de limitar o tamanho da turma se opõe frontalmente ao argumento de que a

EaD possibilita uma economia de recursos devido ao aumento no número de alunos

atendidos. Por isso, é fácil concluir que essa recomendação não será aplicada por muitos

administradores de instituições de ensino que vislumbram na EaD apenas uma oportunidade

de ampliar seus lucros ou de receber mais recursos públicos devido ao aumento no número de

matrículas.

Apesar de contrariar interesses econômicos e recomendações de órgãos como o Banco

Mundial, a ideia de limitar o tamanho da turma ajudaria a minimizar os problemas de

interação entre os alunos e seus professores formadores e tutores a distância no curso

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analisado, já que esses problemas evidenciam as dificuldades enfrentadas por esses

profissionais para atender adequadamente ao elevado número de alunos do curso.

Além disso, em nenhuma modalidade de ensino, o aluno pode ficar entregue à própria

sorte. Nesse sentido, concordamos com a opinião de que

As instituições, assim como seus professores, devem empenhar-se em planejar bem os programas e os cursos on-line, além de desejar fornecer o apoio necessário para que tudo seja satisfatório. Caso isso não aconteça, o resultado será a frustração dos professores e alunos, bem como a perda de confiança no processo de aprendizagem a distância. Se as instituições e os professores forem incapazes de assumir o compromisso necessário ao oferecimento de uma aprendizagem a distância de qualidade, não devem nem sequer entrar nesse campo. (PALLOFF, PRATT, 2002, p. 97)

Desse modo, consideramos que o IFRN, ou qualquer outra instituição que deseje

desenvolver atividades através da EaD, não deve vislumbrar nessa modalidade educativa uma

estratégia para economizar recursos através do aumento no número de alunos atendidos pelo

professor e que o professor não pode se adaptar ao tamanho da turma diminuindo o tempo que

dedica a cada aluno.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante as duas últimas décadas, as orientações dos organismos internacionais e as

iniciativas voltadas para a promoção da reforma do Estado, com ênfase na redução de gastos

nas áreas sociais, motivaram o Brasil a realizar um conjunto de ações objetivando promover a

expansão da oferta de educação superior através da ampliação dessa oferta por parte de

instituições de ensino privadas aliada à utilização da EaD, fundamentado na crença de que

essa modalidade educativa possibilitaria essa expansão a um custo inferior ao que resultaria

de uma possível expansão da educação superior pública presencial.

Apesar de estarmos vivenciando um período em que vem ocorrendo uma expansão

rápida e desordenada da EaD, com uma presença marcante da iniciativa privada, os altos

índices de evasão apresentados por diversos cursos oferecidos através dessa modalidade

educativa podem colocar em dúvida as suas vantagens econômicas e pedagógicas.

Ao longo deste trabalho procuramos identificar e analisar os fatores que exerceram

influencia na evasão dos alunos do curso superior de Tecnologia em Gestão Ambiental,

oferecido através da EaD pelo IFRN, procurando conhecer como esses fatores motivadores da

evasão foram desenvolvidos dentro do curso e porque se tornaram motivadores de evasão.

Tomando como referência a literatura que aborda a problemática da evasão discente

em cursos oferecidos através da EaD, bem como a experiência de convívio com a realidade da

instituição analisada, apresentamos, no início deste trabalho, a seguinte tese:

A evasão em cursos a distância é fruto de uma combinação de dificuldades de ordem

pessoal com aspectos inerentes ao funcionamento do curso que foram desenvolvidos de forma

inadequada e elementos específicos apresentados pelo contexto em que o curso e os alunos

estão inseridos. Além disso, podem existir situações em que o aluno decide evadir devido à

influência de um único aspecto, seja ele inerente ao desenvolvimento do curso, de ordem

pessoal, ou ainda, um fator determinado pelo contexto em que o curso ou o aluno está

inserido.

Os resultados obtidos a partir da análise de documentos, da observação participante da

realidade e da aplicação de questionários com os alunos evadidos do curso de Tecnologia em

Gestão Ambiental nos polos de Mossoró e Martins confirmam a veracidade dessa tese.

Ao analisarmos as expectativas e as percepções dos alunos evadidos acerca do curso e

da EaD, bem como as dificuldades enfrentadas ao longo do curso e suas justificativas para a

evasão, foi possível perceber que alguns dos elementos identificados por esses alunos como

responsáveis pelo não atendimento às suas expectativas e pelas dificuldades para o

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desenvolvimento do curso foram apresentados por muitos alunos evadidos como fatores que

motivaram a evasão.

Esta constatação evidencia uma estreita relação entre o desenvolvimento inadequado

de aspectos inerentes ao funcionamento do curso, com suas consequentes dificuldades para a

aprendizagem, e a evasão, notadamente no polo de Mossoró, o que nos leva a acreditar que

esses aspectos foram os principais responsáveis pela decisão de evadir neste polo.

As informações obtidas demonstram que os alunos evadidos do polo de Mossoró

apontam para os elementos inerentes ao desenvolvimento do curso como motivadores da

evasão com maior frequência do que os alunos do polo de Martins, que enfatizam os fatores

de ordem pessoal como os principais motivadores da evasão.

Apesar disso, no polo de Martins também foi possível encontrar alunos que

apresentam o desenvolvimento inadequado de um conjunto fatores inerentes ao

funcionamento do curso como motivadores da evasão.

A inexistência de tutores presenciais para sanar as dúvidas (especificamente no polo

de Mossoró), o não cumprimento da metodologia de trabalho apresentada e a não utilização

da videoconferência foram elementos apresentados pelos alunos evadidos para justificar o fato

de que suas expectativas com relação ao curso não tinham sido atendidas e que apontam para

a existência de contradições entre o que é apresentado no projeto do curso e o que foi vivido

pelos alunos.

Os problemas apresentados pelos alunos evadidos acerca do trabalho dos professores

formadores e tutores a distância também se refletiram nas dificuldades na interação entre os

atores da EaD.

O distanciamento excessivo, a sensação de abandono e o despreparo de alguns

professores, tutores e da própria instituição, para atuar na EaD, criaram dificuldades para a

aprendizagem e desmotivaram alguns alunos evadidos, levando-os a afirmar que é mais difícil

aprender através da EaD do que em um curso presencial.

A forma como o IFRN desenvolveu as atividades através da EaD fez com que os

alunos se sentissem como os únicos responsáveis por sua aprendizagem, promovendo a

percepção de que na EaD a cobrança é maior do que na educação presencial, ou ainda, que é

necessário dispor de muito tempo para o desenvolvimento adequado das atividades. Porém, é

preocupante perceber que alguns alunos não se sentiram apoiados pelo IFRN, nem pelos

professores formadores e tutores a distância.

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Desse modo, muitos alunos que esperavam poder contar com a presença, mesmo que

virtual, dos professores e tutores, não se sentiram contemplados com essa presença, e essa

ausência, em alguns casos, motivou a evasão.

Além disso, a análise das duas realidades nos permite concluir que, quando os

momentos presenciais não são desenvolvidos adequadamente, esse elemento deixa de atuar

como um fator capaz de criar motivação e sensação de pertencimento, tornando-se mais um

fator motivador de evasão.

Desse modo, podemos concluir que não é a simples existência de momentos

presenciais como parte das atividades do curso que garante a efetividade da interação, a

qualidade da aprendizagem e a redução dos índices de evasão. Por outro lado, a frequência

obrigatória aliada ao desenvolvimento inadequado desses momentos estimulou alguns alunos

a evadir.

Esses são apenas alguns dos principais problemas apresentados pelo curso e que

comprometeram a interação entre os professores formadores, os tutores a distância e os

alunos, contribuíram para desestimular o diálogo, gerar a sensação de abandono e diminuir a

motivação de muitos alunos que, em sua totalidade, são oriundos de uma cultura do ensino

presencial, onde o professor dispõe de mais oportunidades de convivência direta com o aluno.

Os dados apresentados ao longo deste trabalho também confirmam a afirmação de que

fatores de ordem pessoal influenciaram na evasão discente no curso analisado, pois a maioria

dos alunos evadidos dos polos de Mossoró e Martins destacou a influência desses fatores na

decisão de evadir.

No caso do polo de Mossoró, apesar da evidente predominância de fatores inerentes ao

desenvolvimento do curso como motivadores da evasão, a maioria dos alunos evadidos

aponta para a influência de fatores de ordem pessoal na decisão de evadir, aliados ou não aos

fatores inerentes ao desenvolvimento do curso, bem como a influência de elementos inerentes

ao contexto em que esses alunos estavam inseridos.

Já os alunos do polo de Martins enfatizam os fatores de ordem pessoal como os

principais motivadores da evasão. Em alguns casos, os fatores de ordem pessoal também se

somam aos problemas apresentados pelo curso e até a fatores inerentes ao contexto, para

motivar a evasão, mas ficou clara a ênfase com que os alunos deste polo apontam para os

fatores de ordem pessoal como principais motivadores da evasão.

A ênfase dada às motivações de ordem pessoal não significa que os alunos do polo de

Martins não reconhecem os problemas apresentados pelo curso. Na verdade, os alunos

evadidos fazem muitas críticas à forma como o curso se desenvolveu. Porém, a

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impossibilidade de frequentar outra IES faz com que muitos alunos resistam aos problemas

apresentados pelo curso para poder adquirir uma formação em um curso superior.

Como demonstramos, os poucos alunos que tiveram a oportunidade de frequentar

outra IES fizeram a opção pela evasão e ainda estavam frequentando o novo curso no período

em que realizamos a coleta de dados.

Apesar das dificuldades apresentadas pelos alunos evadidos do curso de Tecnologia

em Gestão Ambiental no polo de Martins, desejamos ressaltar que esses problemas não

diminuem a importância do curso e da própria EaD para a população da região e,

principalmente, para os alunos que conseguiram concluir o curso.

Além de todos os fatores inerentes ao funcionamento do curso e dos fatores de ordem

pessoal, esta pesquisa mostrou que, apesar de ser esquecido pela maioria das pesquisas que

investigam a questão da evasão na EaD, o contexto em que o curso e os alunos estão inseridos

apresenta elementos que influenciam na decisão de evadir. Além disso, a análise de duas

realidades distintas mostrou que esses elementos variam consideravelmente de um contexto

para o outro.

Além das questões políticas e da falta de expectativas profissionais relacionadas à área

ambiental, a presença/ausência de IES no contexto em que o polo está inserido influenciou

alguns alunos na decisão de evadir ou permanecer no curso analisado.

Os alunos de polo de Mossoró, cidade que oferece muitas oportunidades de acesso a

instituições de ensino superior presencial, demonstraram uma menor tolerância diante dos

problemas apresentados no desenvolvimento do curso e afirmaram que estes problemas foram

determinantes para a sua evasão.

No momento em que realizávamos a coleta de dados com esses alunos, foi possível

perceber que alguns deles já estavam vinculados a outras instituições de ensino, frequentando

cursos como Direito, Medicina, Administração, ou ainda, cursos de pós-graduação.

Merece destaque o fato de termos encontrado uma aluna que evadiu do curso

analisado (um curso superior) para frequentar um curso técnico de nível médio presencial no

próprio campus de Mossoró do IFRN.

No polo de Martins, a possibilidade de cursar uma faculdade presencial em outra

cidade se somou à falta de oportunidades profissionais e aos aspectos inerentes à política

local, como elementos motivadores da evasão.

Apesar disso, o fato de a cidade de Martins não oferecer outras possibilidades de

frequentar uma IES fez com que os alunos desse polo apresentassem um nível mais elevado

de persistência, reconhecendo a importância da existência do polo para a região.

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Desse modo, consideramos que a análise de duas realidades distintas nos mostrou que

alunos evadidos de um mesmo curso a distância (com os mesmos professores e tutores, o

mesmo material didático, a mesma metodologia, as mesmas tecnologias etc.) situados nos

polos de Mossoró e Martins apresentaram percepções diferentes acerca da EaD e do papel de

vários dos seus elementos constituintes, com destaque para o papel da instituição promotora

do curso, dos professores formadores e tutores nessa modalidade educativa.

Essas percepções diferenciadas se manifestaram nas opiniões acerca da qualidade e da

importância desses elementos para a sua aprendizagem e nas justificativas apresentadas por

vários alunos acerca das motivações para o fato de terem evadido.

Além de todos os fatores inerentes ao contexto local onde o curso e os alunos estão

inseridos, não podemos esquecer os aspectos contextuais mais amplos como, por exemplo, a

concepção de EaD que norteia as ações desenvolvidas pela UAB. Nesse sentido, a adoção da

EaD como uma estratégia voltada para o atendimento a um grande contingente de alunos,

reduzindo o tempo que o professor dedica a cada aluno, acreditando que a utilização de TCI

mais modernas pode suprir a lacuna deixada pelo professor, compromete a qualidade do

trabalho desenvolvido por esse profissional que, muitas vezes, acaba sendo visto como o

grande culpado pelos problemas apresentados pelo curso.

Além disso, os problemas oriundos da adoção da EaD como alternativa para a oferta

educacional devido à sua viabilidade dentro de uma perspectiva econômica favorecem a

crítica a essa modalidade educativa, que acaba sendo considerada por muitos críticos como

uma modalidade incapaz de oferecer educação superior nos mesmos níveis de qualidade dos

cursos superiores presenciais.

Não desejamos concluir esta etapa da pesquisa prescrevendo receitas que poderiam

resolver os problemas inerentes ao desenvolvimento de atividades de ensino através da EaD.

Porém, gostaríamos de apresentar alguns elementos cuja reflexão poderia ajudar os

responsáveis pela implantação de programas de EaD a encontrar caminhos para resolver os

problemas que se apresentam nos cursos oferecidos através dessa modalidade educativa e que

podem motivar a evasão.

Por mais que as pesquisas apresentem resultados divergentes acerca das motivações

para a evasão, havendo pesquisas que ressaltam elementos inerentes ao funcionamento do

curso e pesquisas que enfatizam as motivações pessoais, existe certo consenso acerca de

alguns fatores que, quando desenvolvidos inadequadamente, contribuem para a evasão.

Entre esses elementos é possível destacar: os problemas na interação entre

professores/tutores e alunos; o uso inadequado das TCI ou a não utilização de tecnologias

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disponíveis; a baixa qualidade do material didático; o trabalho dos professores e tutores; e, em

cursos que utilizam os encontros presenciais, o desenvolvimento inadequado desses

momentos.

Diante da certeza de que o desenvolvimento inadequado desses aspectos contribui para

a evasão, os profissionais responsáveis pela implantação de cursos a distância deveriam

analisar como esses fatores estão se desenvolvendo desde o início das atividades do curso e

adotar ações preventivas no sentido de combater a evasão.

Nesta pesquisa, muitos desses fatores foram apontados pelos alunos evadidos como

motivadores da evasão. São fatores já conhecidos, o que demonstra que parte dessa evasão

poderia ser evitada se o IFRN tivesse promovido um acompanhamento adequado do curso e

dos alunos.

Não podemos esquecer que, no Brasil, todos estão aprendendo a trabalhar com a EaD,

mas isso não significa que devemos ser coniventes com os equívocos que foram constatados.

Ao contrário, a certeza de que há um longo caminho a ser percorrido deveria estimular os

responsáveis pela implantação de cursos a distância a se manter alertas aos problemas que

surgem ao longo do curso e, sempre que possível, antecipar-se aos problemas mais comuns,

amplamente discutidos na literatura, apresentando soluções que garantam a qualidade do

processo educativo e a permanência dos alunos até o final do curso.

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIOS

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QUESTIONÁRIO SOBRE EVASÃO

Prezado aluno. Segue abaixo algumas perguntas acerca das suas atividades no curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental, oferecido pelo IFRN Através da modalidade da EaD.

Desde já, muito obrigado.

Você permite a citação do seu nome em trabalhos/eventos científicos?

SIM ( ) NÃO ( )

1a parte: O sujeito da pesquisa (Responda essas perguntas tomando como referência o

período em que você frequentou o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental).

Nome: Data de nascimento: sexo:

e-mail:

a) Estado civil: Reside em:

b) Exercia atividade remunerada: SIM ( ) Qual?:__________________________ NÃO ( )

c) Renda (Em salários mínimos):___________________

d) Atividade principal: Estudos ( ) Trabalho ( ) Outros ( ):_______________________

e)Principal fonte de sustento: Trabalho ( ) Pais ( ) Outros ( ):___________________

f) Oriundo(a) de: escola pública ( ) Escola privada ( )

g) Nível de escolaridade quando iniciou o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental: Ensino

médio ( ) Ensino técnico integrado ao ensino médio ( ) Possuía outro curso superior ( )

Curso superior incompleto ( ) Frequentava outro curso superior paralelamente ao de

Tecnologia em Gestão Ambiental ( )

h) Há quantos anos estava sem estudar quando iniciou o curso?_________________________

i) Já havia participado de outro curso através da educação a distância SIM ( ) NÃO ( )

j) Onde você acessava a Internet? Em casa ( ) No trabalho ( ) No IFRN ( )

Outros ( )___________________

k) Quantas horas por semana você acessava a Internet?_________________

l) Quais os sites que você costumava acessar?_____________________________________

m) Quantas horas semanais você dedicava aos estudos (Em média)?_____________________

n) Qual o horário em que você estudava com maior frequência? Manhã ( ) Tarde ( )

Noite ( ) Madrugada ( ) Outros ( )___________________________________________

o) Você preferia estudar? Individualmente ( ) Em grupo ( )

1)Porque você decidiu prestar vestibular para o curso de Gestão Ambiental através da EAD

no CEFET-RN?

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2)Quais as suas expectativas com relação ao curso de Gestão Ambiental, quando você iniciou

as atividades do curso?

3) Suas expectativas com relação ao curso de Gestão Ambiental foram atendidas?

Totalmente ( ) Parcialmente ( ) Não foram atendidas ( )

Justifique sua resposta:

4) Quais as suas expectativas com relação à EaD, quando você iniciou as atividades do curso?

5) suas expectativas com relação à EaD foram atendidas?

Totalmente ( ) Parcialmente ( ) Não foram atendidas ( )

Justifique sua resposta:

6) Quais as suas percepções acerca da EaD depois de frequentar o curso de Tecnologia em

Gestão Ambiental do IFRN?

7) Identifique os motivos que influenciaram na sua decisão pelo abandono do curso de

Tecnologia em Gestão Ambiental.

Suas expectativas com relação ao curso não foram atendidas ( )

O trabalho dos professores ( )

O trabalho dos tutores ( )

Os processos de interação entre professores, tutores e alunos ( )

O estratégias utilizadas para o desenvolvimento da autonomia dos alunos ( )

A qualidade das tecnologias de comunicação e informação utilizadas ( )

Fatores de ordem pessoal (cansaço, desinteresse etc.) ( )

Dificuldade para estudar em um curso oferecido através da EaD ( )

O nível de dificuldade das tarefas desenvolvidas ao longo do curso ( )

A possibilidade de cursar uma faculdade presencial ( )

A falta de flexibilidade nos horários das atividades presenciais (provas, aulas etc.) ( )

A qualidade do acompanhamento promovido pela coordenação do curso ( )

Outros motivos ( ): _____________________________________________________

Justifique por que os fatores que você identificou influenciaram na sua decisão de abandonar

o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental.