as mulheres nas séries de televisão intercom rio...

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro, RJ – 4 a 7/9/2015 1 As Mulheres Seriadas: Uma Breve Análise Sobre as Protagonistas Femininas nas Séries Brasileiras de Comédia 1 Fernanda FRIEDRICH 2 Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC RESUMO O presente artigo traz um levantamento que mostra a presença quantitativa e qualitativa da mulher no audiovisual brasileiro seriado. A pesquisa foca na investigação das ficções seriadas nacionais desde 2005, mirando nas protagonistas das séries brasileiras de comédia. Com o objetivo de revelar quem são as personagens, o estudo vai de encontro com pesquisas maiores feitas por universidades e institutos estadunidenses sobre a presença de personagens mulheres no cinema e na televisão. O artigo revela a discrepância na representação de personagens mulheres em comparação com os homens, expondo um campo com grande potencial de estudo. PALAVRAS-CHAVE: ficção seriada brasileira; mulheres; protagonistas; comédia; televisão paga. TEXTO DO TRABALHO INTRODUÇÃO Se hoje temos uma população dividida quase igualmente entre mulheres e homens, a representação de ambos os gêneros toma uma proporção bem diferente quando é refletida nas telas e telonas. Frequentemente estudos divulgam que as personagens mulheres no cinema e na televisão são mais raras do que as personagens do sexo masculino. Na San Diego State University há um centro específico de pesquisa sobre a presença de mulheres nos filmes e na televisão, o Center of Study of Women in Television and Film. Lá pesquisas sobre a divisão entre personagens nas telas foram realizadas nos últimos 18 anos e o último estudo divulgado, intitulado “É um mundo de homens” 3 expõe que nos filmes com maior bilheteria de 2014 apenas 12% foram 1 Trabalho apresentado no DT 4 Comunicação Audiovisual GP Ficção Seriada no XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, no Rio de Janeiro, RJ de 4 a 7/9/2015 2 Professora Substituta no curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutoranda em Literatura na mesma instituição. Email: [email protected] 3 Em livre tradução de “It’s a mans world”

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As Mulheres Seriadas: Uma Breve Análise Sobre as Protagonistas Femininas nas Séries Brasileiras de Comédia 1

Fernanda FRIEDRICH2 Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC

RESUMO

O presente artigo traz um levantamento que mostra a presença quantitativa e

qualitativa da mulher no audiovisual brasileiro seriado. A pesquisa foca na

investigação das ficções seriadas nacionais desde 2005, mirando nas protagonistas das

séries brasileiras de comédia. Com o objetivo de revelar quem são as personagens, o

estudo vai de encontro com pesquisas maiores feitas por universidades e institutos

estadunidenses sobre a presença de personagens mulheres no cinema e na televisão. O

artigo revela a discrepância na representação de personagens mulheres em

comparação com os homens, expondo um campo com grande potencial de estudo.

PALAVRAS-CHAVE: ficção seriada brasileira; mulheres; protagonistas; comédia; televisão paga. TEXTO DO TRABALHO INTRODUÇÃO

Se hoje temos uma população dividida quase igualmente entre mulheres e homens, a

representação de ambos os gêneros toma uma proporção bem diferente quando é

refletida nas telas e telonas. Frequentemente estudos divulgam que as personagens

mulheres no cinema e na televisão são mais raras do que as personagens do sexo

masculino. Na San Diego State University há um centro específico de pesquisa sobre

a presença de mulheres nos filmes e na televisão, o Center of Study of Women in

Television and Film. Lá pesquisas sobre a divisão entre personagens nas telas foram

realizadas nos últimos 18 anos e o último estudo divulgado, intitulado “É um mundo

de homens”3 expõe que nos filmes com maior bilheteria de 2014 apenas 12% foram

                                                                                                               1 Trabalho apresentado no DT 4 Comunicação Audiovisual GP Ficção Seriada no XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, no Rio de Janeiro, RJ de 4 a 7/9/2015 2 Professora Substituta no curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutoranda em Literatura na mesma instituição. Email: [email protected] 3 Em livre tradução de “It’s a mans world”

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protagonizados por mulheres.4 Dentre todos os filmes catalogados pelo centro, apenas

29% possuíam protagonistas mulheres.

As investigações não param no quesito protagonismo: apenas 30% de todos os

personagens com fala na tela nos filmes de 2014 eram mulheres.5 Os números

refletem diretamente na forma com que a representação do sexo feminino na tela é

feita. Enquanto 58% delas são identificadas por papéis sociais (mãe, esposa, amante),

61% dos homens são identificados pela sua profissão. Uma pesquisa do site

Fivethirtyeight revelou que o audiovisual consegue ser mais sexista que a própria

força de trabalho norte-americana, deixando atividades consideradas como complexas

ao cargo de homens. Enquanto 32% dos médicos, 33% dos advogados, 14% dos

engenheiros e 16% do exército é formado por mulheres, na ficção os números caem

para 10%, 11%, 5% e 3% respectivamente.6

Investigações particulares sobre televisão apenas reafirmam os dados

coletados há tantos anos sobre o cinema. Na década de 1980 pesquisas já apontavam a

clara desvantagem entre personagens mulheres nas telas. Mesmo com a atual maior

complexidade das tramas e uma política social mais favorável às mulheres, os

números ainda confirmam um disparate entre os gêneros. O artigo “Primetime TV

Still Mostly A Boys Club – And it’s getting taugher for women”7 aponta que o

percentual de mulheres à frente das câmeras (com papéis em que falam alguma

coisa8) caiu em 2.3% na última temporada pesquisada (2013-14)9. Um dado que

exemplifica ainda mais o diferencial que as séries que possuem entre os gêneros é de

que apenas 44% das séries no ar tinham de uma a quatro mulheres no elenco,

enquanto em contrapartida 1% dos programas possuíam quatro ou menos homens no

elenco.

O questionamento sobre a presença das mulheres nos filmes e na televisão no

                                                                                                               4 Pesquisa disponível em http://womenintvfilm.sdsu.edu/files/2014_Its_a_Mans_World_Report.pdf 5 Idem à nota de rodapé 2 6 Pesquisa disponível em http://fivethirtyeight.com/datalab/government-jobs-data-agrees-hollywood-is-even-more-sexist-than-the-real-workforce/ O estudo analisou filmes de 1995 a 2015. 7 Tradução Livre “O Horário Nobre ainda é um clube de meninos – e está ficando cada vez mais difícil para as mulheres http://deadline.com/2014/09/women-in-primetime-tv-losing-ground-boxed-in-study-834920/ 8 O Teste Bechdel é um exame que avalia se o filme/série possui uma presença mínima de personagens femininos. O teste avalia se o audiovisual possuí 1)no mínimo duas mulheres com nome; 2)que conversam uma com a outra; 3) A conversa precisa ser sobre algo diferente de um homem. O teste se popularizou através de um tira dos quadrinhos “Dykes to Watch Out For” (Lésbicas para ficar de olho. em tradução livre) de Alison Bechdel's, em 1985, que propunha o mesmo. 9 As temporadas de sitcom geralmente possuem de 20 a 25 episódios, começando em setembro e terminando entre abril e junho. A exibição é semanal, com intervalos em que episódios antigos geralmente são reprisados no horário reservado para o seriado.

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Brasil ainda é escassa. É raro encontrar alguma análise quantitativa sobre o assunto. O

livro As Maravilhosas Mulheres das Séries de TV, da jornalista brasileira Fernanda

Furquim, funciona como um almanaque listando séries com personagens femininos,

mas não estabelece um índice com a porcentagem de mulheres nas telinhas

brasileiras. O trabalho de Furquim é o que mais se aproxima de catalogar a presença

do sexo feminino nos seriados, tanto nacionais como internacionais. No entanto, trata-

se de um trabalho de cunho histórico, não há uma problematização maior. Falta um

questionamento mais profundo sobre a presença das mulheres que e as suas

relevâncias dentro da ficção seriada. É importante enfatizar que eu não encontrei um

estudo quantitativo com números gerais equivalente aos realizados pela San Diego

State University ou mesmo pelo site Fivethirtyeight. Coloco aqui a importância de um

levantamento neste quesito, porém grifo que este trabalho apenas faz um

levantamento raso neste setor, com muito mais a ser levantado e investigado sobre a

temática.

Análises qualitativas sobre personagens mulheres, verificando como as

mesmas são representadas no audiovisual, são mais comuns no mundo acadêmico.

Em termos nacionais, as pesquisas quase sempre são relacionadas à novela e ao

cinema. Destaco que a maioria dos autores que realizam estas investigações focam em

diagnósticos específicos sobre algum tema inserido no audiovisual, como no Trabalho

de Conclusão de Curso O Questionamento Sobre a Presença das Mulheres Negras nos

Filmes e na Televisão10 onde há uma avaliação da quantidade de mulheres negras ou

no artigo A Mulher Subalterna no Cinema Brasileiro11 que examina a forma como

elas são apresentadas em papéis subordinados. Em ambos os casos, os estudos não são

mais aprofundados. Como parte da minha tese de doutorado, resolvi focar meu

trabalho na análise das protagonistas nas séries de televisão, chegando ao presente

artigo como um dos resultados da minha pesquisa inicial.

Para definir o protagonista, utilizei conceitos de Robert Mckee e Sônia

Rodrigues. Ambos autores concordam que o mais normal é que a história tenha

                                                                                                               10 Monografia das estudantes Francijane Lima dos Santos e Marcia Ramos da Silva, graduandas em em História pela Universidade Estadual do Pernambuco, disponível em http://www.anpuhpb.org/anais_xiii_eeph/textos/ST%2016%20-%20Francijane%20Lima%20dos%20Santos%20e%20Marcia%20Ramos%20da%20Silva%20TC.PDF 11 Artigo do Doutor Wesley Pereira Grijó, publicada na revista Vozes & Diálogos, disponível em https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=3&cad=rja&uact=8&ved=0CDEQFjAC&url=http%3A%2F%2Fwww6.univali.br%2Fseer%2Findex.php%2Fvd%2Farticle%2Fview%2F4275&ei=DdJpVZfWGoWegwS--oC4DA&usg=AFQjCNFkE7twAvcmUvtt8iiRt8jRri0bNA&sig2=JwQdZFcxo2mgpIyrfLzfdQ

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apenas um protagonista, o que mais tarde reafirmo com os dados recolhidos neste

levantamento apresentado. Rodrigues destaca que geralmente os protagonistas são

heróis, mas nem sempre. Constante é o fato que os protagonistas sempre têm um

objetivo e um obstáculo. (RODRIGUES, 2014). Mckee vai de encontro com

Rodrigues e destaca que o protagonista tem desejos e a capacidade de buscá-los. Para

o autor, o ponto principal que diferencia o protagonista dos outros personagens é o

fato dele ser um ser voluntarioso (MCKEE, 2013), Ou seja, a história acaba sendo

costurada ao redor deste protagonista, afinal, é ele que faz a história acontecer. Assim,

para definir os protagonistas das séries brasileiras busquei os personagens centrais,

aqueles que guiam com as suas ações o storyline principal do seriado.

MULHERES EM ESTEREÓTIPOS NA COMÉDIA

Resumi meu objeto de estudo neste artigo em séries de comédia, assim como na

minha tese de doutorado. Considerando que o gênero de possui como cânone a

utilização de estereótipos para a narrativa12, encontrei aqui um gancho com o que

procuro nesta pesquisa. Portanto, para facilitar a análise das protagonistas verificarei a

utilização de estereótipos para a construção das mesmas. Acredito que através deste

processo a pesquisa será mais clara em mostrar a forma com que o retrato das

personagens é feito, facilitando a conexão com a representação real – ou não - das

mulheres nas telas.

A investigação de personagens através de estereótipos é bem utilizada na

análise de gênero no audiovisual. No livro O Corpo no Cinema, de Ana Mery Shbe de

Carli, a autora utiliza uma ficha específica para a análise de personagens onde a

categoria sobre estereótipos tem destaque (CARLI, 2009). Carli coloca a identificação

dos estereótipos como essencial para a observação das personagens. Em pesquisas

divulgadas pelo instituto Women in Film as mulheres na televisão são identificadas

com uma série de estereótipos: elas são mais novas que seus companheiros – a maior

parte das personagens estão na casa dos 20 anos-; elas possuem uma ligação mais

forte com tarefas domésticas; possuem uma papel de liderança inferior ao dos

homens; são menos cultas que os homens, entre tantas outras premissas. Além disso, a                                                                                                                12 Aristóteles ao falar de comédia destacava que o gênero se refere ao pior de nós e que a partir das nossas fragilidades temos um gancho para o cômico. Assim, através dos exageros e do zelo por alcançar o público de uma forma intrínseca o sitcom aparece com um bom objeto de estudo na hora de avaliar representações da sociedade. Luís Nogueira defende que “a comédia tende a fazer ressaltar as fragilidades do ser humano: o vício, a negligência, a pompa, a presunção ou a insensatez” (NOGUEIRA, 2010, p.20).

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maioria das personagens são brancas, heterossexuais, cristãs e magras. Enfim, se

encaixam em um padrão de maioria social além dos padrões estéticos impostos pela

sociedade. 13

Utilizei o conceito de Ligia Maria Prezia Lemos defendido no artigo TV paga

e Ficção Televisiva Brasileira: Dados de 2007 a 201314 onde a autora explica a

efetividade da Lei da TV Paga e a reclassificação de Gêneros pelo Observatório

Ibero-americano da Ficção Televisiva – OBITEL. Lemos coloca que com o

crescimento do setor “alguns títulos – poucos – foram reclassificados eliminados ou

acrescentados, como as séries compostas de quadros, ou esquetes, que não se

consideram mais como ficção televisiva stricto sensu” (LEMOS, 2015, p.8). Assim,

desconsidero as séries no estilo esquetes produzidas no último ano (Porta dos Fundos

da FOX, entre outras) quando analiso a representação e a estereotipagem das

personagens femininas.

A partir do foco na comédia, o artigo ganha também um fôlego já que se trata

de um recorte menor. Pelo mesmo motivo, optei por focar a análise em séries exibidas

na televisão paga na última década, afim de apresentar por vez uma leitura mais

detalhada do que um diagnóstico mais genérico faria.

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER EM SÉRIES DE TELEVISÃO

Crescente no Brasil e no mundo, as ficções seriadas foram ganhando espaço

nacionalmente nas últimas décadas, especialmente após a medida governamental Lei

da TV Paga.15 Considerando se tratar de um fenômeno mundial e uma tendência

futura para a televisão brasileira é apropriado iniciar um questionamento mais

profundo sobre a representação das mulheres na ficção seriada exibida no país. Nos

Estados Unidos há muitas pesquisas direcionadas para séries ficcionais na televisão

que podemos replicar no Brasil. Um estudo liderado pela socióloga Stacy Smith da

                                                                                                               13 Idem à nota de rodapé 2  14 Artigo apresentado no XIV Congresso Internacional IBERCOM 2015, disponível em https://www.academia.edu/12101399/TV_PAGA_E_FIC%C3%87%C3%83O_TELEVISIVA_BRASILEIRA_Dados_de_2007_a_2013 15 Lei da TV Paga além de abrir a concorrência entre empresas fornecedores do serviço de televisão paga para baixar os custos da mesma, instaura um Espaço Qualificado na programação dos canais de televisão paga, onde há a obrigação de veiculação de conteúdo nacional em 3h30 por semana nos canais fechados onde passem predominantemente filmes, séries, documentários, animação. (fonte: http://www.ancine.gov.br, acessado em 5 de novembro de 2013)

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Universidade da California16, revelou que em 2012 para cada personagem forte

feminina17 há seis mulheres retratadas como artificiais, dependentes e fracas. Das

11.927 personagens da televisão com falas analisadas, a maioria não tinha um

emprego satisfatório e não possuía destaque intelectual/de poder ou voz de comando.

Em sua maioria, o estudo mais uma vez mostra que as mulheres ainda são retratadas

por estereótipos do patriarcado (donas de casa, mães, fúteis, etc) e sexualizadadas

mais do que como mulheres independentes e relevantes para a sociedade.

As pesquisas sobre séries norte-americanas possuem uma significância

importante para nós brasileiros. Dentro do Brasil a maioria dos seriados que são

exibidos nas televisões abertas e pagas são seriados realizados nos Estados Unidos.

Mesmo com uma produção crescente nacional, a industria de seriados norte-

americanas é amplamente difundida pelo mundo desde o começo da televisão. Aqui

no Brasil, o primeiro seriado norte-americano exibido foi I Love Lucy em 1960.

Ironicamente, a primeira série originalmente desenvolvida em 1953, Alô Doçura!, foi

inspirada em I Love Lucy. O seriado estadunidense não chegou mais cedo por causa

de problemas tecnológicos do início da televisão, o que fez com que produtores

brasileiros tentassem reproduzi-lo no Brasil através de uma versão nacional.

Como a investigação pretende analisar a construção das protagonistas nas

séries de televisão, é importante destacar a relevância do meio na vida dos brasileiros.

A pesquisa brasileira de mídia 201518, divulgada pela Secretaria de Comunicação

Social da Presidência da República (SECOM), revelou que 95% dos brasileiros

assistem televisão e que em media assistem mais de quatro horas por dia. As mulheres

consomem mais televisão do que os homens, assistido cerca de 4h50 minutos diários

contra 4h15 respectivos. A presença do meio na vida dos brasileiros é inegável e

assim se legitimiza a importância que o conteúdo difundido através da televisão seja

criticamente analisado.

Ainda sobre a relevância das representações feitas no audiovisual, em

entrevista ao jornal International Business Times, a psicoterapeuta Silvia Dutchevici,

mestre em psicologia e em assistência social, fez comentários importantes para a                                                                                                                16 O estudo entitulado “Gender Role and Ocupations: A look at Characters Attributes and Job-related aspirations in Film and Television” em tradução livre Papéis de Gênero e ocupações: Uma visão de atributos de personagens e aspirações relacionadas ao trabalho em Filme e Televisão, foi publicado pelo Geena Davis Institute on Gender in Media. 17 Personagens com poder opinativo, geralmente protagonistas. 18Disponível em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf

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compreensão da influência do retrato das personagens da televisão na sociedade. Para

ela as jovens não vêem com a frequência que deveriam personagens mulheres fortes,

independentes com vidas e carreiras de sucesso. “Cada vez mais elas vêem mulheres sendo descritas como objetos sexuais, ou pior, se sexualizando. Na maioria dos casos, mesmo quando a mulher é colocada com uma carreira de sucesso, o foco principal de destaque da personagem continua sendo a sua sexualidade. Assim aprendemos, assistindo televisão, que o valor de uma mulher é atrelado ao seu preço como propriedade (sexualidade) ou objeto mais do que como um sujeito (com personalidade, sentimentos, vontades)” (DUTCHEVICI, 2012) 19

Dutchevici aponta a importância na representação da mulher na ficção, identificando

padrões estereotipados neste retrato e relatando as conseqüências de tal.

SÉRIES DE COMÉDIA BRASILEIRA EM TELEVISÃO PAGA

Com a Lei da TV paga, a produção para canais de televisão pagos aumentou muito ao

longo da última década. Lemos evidência que em 2005, de acordo com dados da

OBITEL, houve apenas duas produções de séries para canais fechados no Brasil,

sendo que uma delas era comédia: Cilada, produzida pelo Multishow, protagonizada e

escrita por Bruno Mazzeo. O número se manteve o mesmo até 2007. (LEMOS, 2015).

Em 2008 o número dobra, Com quatro séries produzidas, sendo duas de

comédia. Destas, Dilemas de Irene, da GNT, passa a ter uma protagonista mulher. Em

2009, cinco séries são produzidas, três delas comédias. Uma, Cilada, em sua última

temporada, ainda é protagonizada por um homem. As outras duas Quase Anônimos

(GNT) e Beijo me Liga (Multishow), são séries com o protagonismo divido entre os

sexos: uma com um casal de primos e a outras com um grupo de amigos,

respectivamente.

Em 2010, Lemos aponta o crescimento significativo da produção no Brasil

(LEMOS, 2015). Há um evidente crescimento também na comédia como gênero das

séries nacionais, se consolidando como o estilo mais produzido no país. Das 15

produzidas em 2010, 13 são comédia20 (LEMOS, 2015). Destas, quatro são

                                                                                                               19 Tradução livre de: "Increasingly they see women depicted either as sex objects, or worse, sexualizing themselves. In most cases, even when women are depicted as successful career women (for example 'Sex and the City'), their sexuality is still the focal point of their being. Therefore we learn, by watching TV, that women's worth is tied to her price as a commodity/object (sexy) rather than a subject (personality, feelings, agency)." 20 A série Quando a noite Cai do Canal Brasil foi retirada da contagem por se tratar se uma série com cinco curtas metragem de ficção se aproximando mais do conceito de uma minissérie do que de uma série. Luis Carlos Rondini coloca como um dos fatores determinantes para saber se a produção é uma minissérie o fato de ser uma trama fechada, com menos capítulos que uma novela (RONDINI, 2013). A série já trabalham com tramas que são convidativas para outras temporadas (RODRIGUES, 2014).

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protagonizadas por homens: Morando Sozinho (Multishow); Os Gozadores

(Multishow); Tô Frito (MTV/Band)21; e O Vampiro Carioca (Canal Brasil). Seis

possuem personagens principais de ambos os sexos: Quase Anônimos (GNT); Open

Bar (Multishow); Na Fama e na Lama (Multishow); Amoral da História (Multishow);

Bicicleta e Melancia (Multishow); e Vendemos Cadeiras (Multishow). Três séries

foram protagonizadas por mulheres: Adorável psicose (Multishow), estrelada e escrita

por Natalia Klein; Desprogramado, criada e protagonizadas por Luiza Micheletti; e

Elvirão ou como vovó já dizia (Canal Brasil) sobre a relação entre vó e neta.

No ano seguinte, em 2011, 18 séries foram registradas (LEMOS, 2015).

Destas, 15 foram de comédia, reafirmando a consolidação do gênero. Com o

personagem principal homem foram seis séries: Barata Flamejante (Multishow);

Desenrola aí (Multishow); Ed Mort (Multishow); Morando Sozinho (Multishow); Os

gozadores (Multishow); e O vampiro Carioca (Multishow). Quatro tiveram o

protagonismo divido: Bicicleta e Melancia (Multishow); Mais X Favela (Multishow);

Na Fama e na Lama (Multishow); Os Figuras (Multishow). Séries com mulheres no

protagonismo somaram cinco, novamente Adorável psicose e Desprogramado, com as

adições Cara Metade (Multishow) sobre uma mulher que decepcionada com o

casamento que não deu certo começa a trabalhar em uma agência de encontros; De

cabelo em pé (Multishow) sobre duas amigas que abrem um salão de beleza; Mulher

de Fases (HBO).

Em 2012 foram 17 séries, destas 10 foram comédias.22 (LEMOS, 2015)

Protagonizadas por homens são seis séries: Morando Sozinho (Multishow); Ed Mort

(Multishow); A vida de Rafinha Bastos (FX); Elmiro Miranda Show (TBS); Os

Buchas (Multishow); e Preamar (HBO). Com protagonismo divido foram duas: Meu

passado me Condena (Multishow); e Open Bar (Multishow). Apenas duas tiveram

mulheres no papel principal, mais uma vez Adorável Psicose e a novidade Quero Ser

Solteira (Multishow), sobre uma garota que quer aproveitar a vida sem um interesse

amoroso fixo.

                                                                                                               21 Série em parceira entre a MTV e a Band. Como a Band não tem variedades de séries, ela não entrou neste artigo como um canal em destaque, como a Rede Globo. Assim, a série que foi exibida simultaneamente pelos canais foi encaixada na televisão paga. 22 No levantamento de Lemos a série Do Amor, da Multishow, entra pela primeira vez em 2012 e em seguida em 2013. Porém, como a série foi exibida em 2013 e 2014, conto aqui a exibição da mesma, e não a produção, já que por hora tenho um propósito mais de avaliação do conteúdo exibido do que da produção.

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Em 2013, das 22 séries foram produzidas23, 15 comédias. (LEMOS, 2015)

Com homens como personagens principais foram sete séries: Copa Hotel (GNT);

Elmiro Miranda Show (TBS); Agora Sim (Sony); Vida de Estagiário (Sony); A vida

de Rafinha Bastos (FX); Vai que Cola (Multishow); e Sai de Baixo24 (VIVA/Globo).

Com protagonistas de ambos os sexos, foram quatro: Do Amor (Multishow); Meu

Passado me Condena (Multishow); Se Eu Fosse Você (FOX); Beleza S/A (GNT);

Quatro séries tiveram mulheres no papel principal: Adorável psicose, De volta pra

pista (Multishow) sobre uma mulher que quer retomar relacionamentos; As canalhas

(GNT) inspirado no livro de Martha Medeiros “Canalha, substantivo feminino”

mostra uma mulher diferente a cada episódio falando sobre as maldades que comete

contra outras pessoas; Surtadas na Yoga (GNT), escrita por Fernanda Young e

estrelada por ela fala sobre um grupo de amigas nas aulas de yoga.

Em 2014, o levantamento25 para este artigo concluiu que foram exibidas

temporadas inéditas de 26 séries brasileiras, sendo 13 comédia. Destaco aqui o

crescimento das séries dramáticas. Dos seriados cômicos, duas possuem o

personagem principal homem: Copa do Caos (MTV) e Vai que cola (Multishow). No

quesito protagonismo dividido, há cinco séries: Amor Veríssimo (GNT); Do Amor

(Multishow) Fred & Lucy (Multishow); Mais X Favela (Multishow); e Desencontros

(Sony). As personagens principais mulheres estão em seis séries, Surtadas na Yoga;

As Canalhas; e as novas Lili, a Ex (GNT) sobre uma mulher obcecada pelo seu ex-

marido; Os Homens são de Marte e é pra lá que eu vou (GNT) sobre uma mulher atrás

de um relacionamento; Trair e coçar é só começar (Multishow) onde uma empregada

doméstica tenta reunir seus patrões; e Por isso eu sou vingativa (Multishow) sobre

uma mulher que se vinga de seus ex.

                                                                                                               23 O levantamento feito neste artigo se difere do apresentado por Lemos ao considerar a série Vida de Estagiário, produzida pela Glatz e exibida em 2013 na Warner Channel Brasil. A série foi exibida primeiramente na TV Brasil (Canal Aberto) em 2011, mas como o canal não possui um histórico de produções ficcionais e a exibição recebeu mais atenção apenas na reexibição, considerei que valeria mais a pena considerá-la como uma série de 2013 na categoria que exponho aqui como séries de televisão paga. 24 Novamente o artigo traz uma série que não está na lista de Lemos. Saí de Baixo foi um seriado exibido entre 1996 e 2002 pela Rede Globo e teve uma série de quatro episódios inéditos produzidos em 2013 para comemorar os 10 anos do encerramento do programa. Os episódios novos foram exibidos primeiramente no canal VIVA para a comemoração de três anos do canal, fato que me faz considerar a série dentro das limitações propostas neste artigo. 25 Fora as listadas, no levantamento para este artigo considerei as seguintes séries dramáticas: Três Teresas (GNT); Animal (GNT); Questão de Família (GNT); Sessão de terapia (GNT); O Negócio (HBO); A segunda Vez (Multishow); Acerto de Contas (Multishow); Uma rua sem vergonha (Multishow); Na mira do crime (FOX); PSI (HBO); Força de elite (MGM); Muito Além do Medo (MGM); Motel (MAX/HBO);  

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Como o ano de 2015 ainda não terminou, trabalho com as séries que estão

confirmadas com novas temporadas para esse ano e as que já foram – e estão sendo -

exibidas. Por enquanto, o calculo é que há 14 séries exibidas com ineditismo26, destas,

dez são comédias. Com homens nos papéis principais são cinco: #partiushopping

(Multishow); Acredita na Peruca (Multishow); Os Suburbanos (Multishow); Vai que

Cola (Multishow); Refém (FOX). As séries que dividem o protagonismo são quatro:

Amor Veríssimo (GNT); Vizinhos (GNT); Fred & Lucy (Multishow); e Se eu Fosse

Você (FOX). A única série exibida com protagonista mulher é Trair e coçar é só

começar (Multishow).

AS MULHERES NAS SÉRIES BRASILEIRAS

Ao analisar os números resgatados neste artigo, podemos constatar que a presença da

protagonista feminina é bem inferior a do homem conforme os gráficos abaixo:

Comédia protagonizada por Homens

Comédia com protagonismo dividido entre homens e mulheres

Comédia protagonizada por mulheres

Total de séries de comédia (temporadas)

Total de séries de todos os gêneros (temporadas)

2005 1 0 0 1 2 2006 1 0 0 1 2 2007 1 0 0 1 2 2008 1 0 1 2 4 2009 1 2 0 3 5 2010 4 6 3 13 15 2011 6 4 5 15 18 2012 6 2 2 10 17 2013 7 4 4 15 22 2014 2 5 6 13 26 2015 5 4 1 10 14

TOTAL 35 27 22 84 127

                                                                                                               26 Fora as listadas, no levantamento para este artigo considerei as seguintes séries dramáticas exibidas/e, exibição: Questão de Família (GNT) e Magnífica 70 (HBO). Além das programadas: Rua Augusta (TNT) e O grampo (TNT);

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Analisando o protagonismo feminino nas séries do Brasil podemos observar

que ele representa 62% do protagonismo masculino, sendo inferior inclusive ao

protagonismo por ambos os sexos. As mulheres começaram a aparecer mais como

personagens principais a partir de 2010, mas mesmo assim o número só superou o dos

protagonistas homens em um ano, em 2014. Neste ano é possível notar um aumento

considerável no número das séries dramáticas. Estas, apesar de não listadas aqui,

possuem em sua maioria protagonistas masculinos, em um número ainda maior do

que nas séries de comédia. Com os dados, contatamos que a representatividade da

mulher nas séries brasileiras, assim como nas estadunidenses, é inferior à dos homens.

Quando analisamos as séries protagonizadas pelo sexo feminino podemos

observar mais discrepâncias. É bem mais comum encontrar séries relacionadas a

imagem da mulher buscando relacionamentos amorosos – ou fugindo deles, mas

acabando envolvidas com homens. A mulher retratada como forte, sem vínculos

amorosos é rara. Fazendo uma ponte com os estudos estadunidenses publicados,

dificilmente há mulheres caracterizadas pela profissão na comédia brasileira. Quando

consideramos dados gerais baseados nas temporadas, chegamos aos seguintes valores:

Homem  42%  

Mulher  26%  

Ambos    32%  

Protagonistas  das  Séries  de  Comédia  da  Televisão  Paga  ao  longo  de  2005-­  

2015  

Homem  

Mulher  

Ambos    

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Quando consideramos números absolutos, somente as séries, sem considerar as

temporadas como unidades, chegamos a números ainda mais evidentes, com oito

séries focadas em relacionamentos amorosos contra cinco séries com outros focos.

Na categoria das séries focadas em relacionamentos amorosos, Lili, a Ex e Por

Isso Eu Sou Vingativa caracterizam uma mulher dependente de relacionamentos

amorosos com homens, focando em aspectos neuróticos e histéricos. Já Os Homens

são de Marte e é Pra Lá Que Eu Vou; Cara Metade; De Volta Pra Pista e Mulher de

Fases ainda idealizam a imagem da mulher sempre buscando um companheiro,

dependente de um relacionamento. Por último, Trair e Coçar é Só Começar e Quero

Ser Solteira acabam reforçando estereótipos mesmo ao terem ideais mais diferentes

sobre relacionamentos. Em ambos os casos, há novamente a busca da mulher por uma

companhia amorosa.

As série Desprogramado e De Cabelo em Pé possuem premissas de abordarem

o ambiente do trabalho, se diferenciando das outras. No quesito amizade, Elvirão Ou

Como Vovó Já Dizia foca na relação familiar entre duas mulheres. Grifo que mesmo

nestes casos há a busca por um relacionamento dentro da temática, quase sempre não

Focada  em  relacionamentos  

amorosos  41%  (9)  

Focada  em  relacionamentos  de  trabalho  13,5%  (3)  

Focada  em  relacionamentos  de  amizade  apenas  

13,5%  (3)  

Outros  32%  (7)  

Protagonistas  Mulheres  (temporadas)  

Focada  em  relacionamentos  amorosos  

Focada  em  relacionamentos  de  trabalho  

Focada  em  relacionamentos  de  amizade  apenas  

Outros  

Focada  em  relacionamentos  

amorosos  62%  (8)  

Focada  em  relações  de  trabalho  15%  (2)  

Focada  em  relações  de  

amizade  apenas  8%  (1)  

Otros  15%  (3)  

Protagonistas  mulheres  (séries)  

Focada  em  relacionamentos  amorosos  

Focada  em  relações  de  trabalho  

Focada  em  relações  de  amizade  apenas  

Otros  

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como conseqüência, mas quase sempre como uma espécie de fixação da mulher por

um relacionamento amoroso. As séries As Canalhas; Dilemas de Irene e Adorável

Psicose se encaixaram na categoria outros por não se enquadrarem em nenhum dos

perfis citados – elas tratam de todas as temáticas, com enfoques diferenciados por

episódios. Novamente, nas duas o amor também é abordado de formas distintas,

diversas vezes.

Na comparação com as séries protagonizadas por homens o papel fica ainda

mais ressaltado, tanto nos números que contabilizam as temporadas como unidades,

assim como os que contabilizam somente as séries, como visto nos respectivos

gráficos.

Apenas uma das séries listadas com protagonismo por homens foca em

aspectos de relacionamento com mulheres: Refém. A série trata de um homem que

comete adultério e para justificar sua ausência diz para a parceira que está em um

ônibus que foi sequestrado. No mais, a maioria trata de tramas que envolvem a

profissão do homem, indo diretamente na direção oposta das séries protagonizadas

por mulheres.

Focada  em  relacionamentos  

amorosos  3%  (1)  

Focada  em  relações  de  trabalho  42%  (14)  

Focada  em  relações  de  

amizade  apenas  30%  (11)  

Outros  25%  (9)  

Protagonismo  dos  Homens  (temporadas)  Focada  em  relacionamentos  amorosos  

Focada  em  relações  de  trabalho  

Focada  em  relações  de  amizade  apenas  

Outros  

Focada  em  relacionamentos  

amorosos  5%  (1)  

Focada  em  relações  de  trabalho  45%  (10)  

Focada  em  relações  de  

amizade  apenas  36%  (8)  

Outros  14%  (3)  

Protagonismo  Homens  (série)  

Focada  em  relacionamentos  amorosos  

Focada  em  relações  de  trabalho  

Focada  em  relações  de  amizade  apenas  

Outros  

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Até mesmo as séries de trabalho como Preamar e Barata Flamejante, que

envolvem família, giram em torno do trabalho do protagonista. Tô frito; Morando

Sozinho; Agora Sim e Vida de Estagiário focam em um protagonista mais jovem, que

investem na sua carreira. Ed Mort, Elmiro Miranda Show; Copa Hotel;

#partiushopping; giram totalmente em torno do trabalho do personagem. Ou seja, a

única série com envolvimento romântico, na verdade é baseada em uma comédia com

tema principal a traição, e não com base em um relacionamento amoroso, como no

caso das séries protagonizadas por mulheres.

As séries com protagonista homem que focam em amizade ou relacionamento

com a família como Vai que Cola; Os Suburbanos e Sai de Baixo até possuem

mulheres como co-protagonistas, porém, ambas as séries possuem um foco evidente

em personagens homens como os provedores e gerenciadores das situações. Em Os

Gozadores; Desenrola Aí; Os Buchas e Copa do Caos há claramente a formação de

grupos de amigos homens, com poucas interferências femininas. Acredita na Peruca é

um caso aparte – é um homem que atua como mulher e uma série que renderia uma

exame individual facilmente. Listados como outro casos, aparece a série Cilada; O

Vampiro Carioca e A Vida de Rafinha Bastos, todas se caracterizam por mesclar os

itens acima e não possuem uma constante temática.

CONCLUSÕES

É possível observar que há sérias discrepâncias nas representações dos sexos. Mesmo

com a audiência feminina sendo superior à masculina, o tempo de tela não segue este

padrão, dando mais espaço aos homens do que às mulheres. Notamos ainda que na

representação do sexo masculino e do sexo feminino nas séries brasileiras de comédia

listadas neste estudo há uma notável diferença, com o homem mais independente e a

mulher mais subordinada à relacionamentos amorosos. Fica evidente que na ficção

seriada o regular é que o relacionamento seja uma consequência dos eventos dá série

para o protagonista homem, enquanto para a mulher ele é geralmente o motivo dos

acontecimentos do seriado.

Com os dados recolhidos para este artigo, pretendo realizar análises mais

complexas e de diferentes ângulos que não couberam neste espaço. Para este trabalho

específico, podemos notar que o estudo de personagens é imprescindível já que a

representação através de protagonistas de um meio tão visado como a televisão

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possuiu um grande alcance entre telespectadores e em termos de análise de gênero

pode gerar consequências indesejáveis ao apresentar uma representação falha da

mulher na sociedade.

REFERÊNCIAS:

CARLI, Ana Mery Shbe de. O corpo no cinema: variações do feminino. Caxias do Sul: Educs, 2009.

FUQUIM, Fernanda. As maravilhosas mulheres das séries de TV. São Paulo: Panda Books, 2008.

MCKEE, Robert. Story. São Paulo; Arte e Letra, 2013. SEGER, Linda. Como criar personagens inesquecíveis. São Paulo: Bossa Nova Editora,

2006. LEMOS, Ligia Maria Prezia. TV paga e Ficção Televisiva Brasileira: Dados de 2007 a

2013. XIV Congresso Internacional IBERCOM. São Paulo, 29 de março a 2 de abril de 2015. Anais. Disponível em: https://www.academia.edu/12101399/TV_PAGA_E_FIC%C3%87%C3%83O_TELEVISIVA_BRASILEIRA_Dados_de_2007_a_2013

LOPES, M. I. V. de; et al. (2014) BRASIL: Trânsito de formas e conteúdos na ficção televisiva. In: LOPES, M. I. V. de; OROZCO GÓMEZ, G. (Org.). ANUÁRIO OBITEL 2014 - Estratégias de produção transmídia na ficção televisiva. Porto Alegre: Sulina.

MULVEY, Laura. Prazer Visual e cinema narrativo. In: XAVIER, Ismail (org). A Experiência do Cinema: antologia. Rio de Janeiro: Edições Graal; Embrafilme, 1983. p. 437-453.

RONDINI, Luiz Carlos. As minisséries da Globo e a grade de programação. In: XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2007, Santos. Trabalhos... Santos: INTERCOM, 2007, p. 1-15. Disponível em <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1416-1.pdf>.

RODRIGUES, Sônia. Como escrever séries: Roteiro a partir dos maiores sucessos da TV. São Paulo: Aleph, 2014.