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NORBERT GLAS

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fievelam 0 ^Homert1 AMTROPQSOFICA

t

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Norbert Glas

AS MÃOS REVELAM O HOMEM

Tradução de GERARD BANNWART

ANTROPOSÓFICA

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Sumário

Prefácio 9 FISIOGNOMONIA GERAL DAS MÃOS 11

FISIOGNOMONIA ESPECIAL DAS MÃOS E DOS DEDOS

I. O polegar 41 II. O dedo indicador 47 III. O dedo médio 53 IV. O dedo anular 57 V. O dedo mínimo 68 VI. A mão 75

MÃOS E TEMPERAMENTO 79

COOPERAÇÃO ENTRE AS MÃOS ESQUERDA E DIREITA

Posfácio 105 índice das ilustrações 107

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Prefácio

Após o primeiro volume de fisiognomonia, Das Antlitz offenbart den Menschen (A face revela o homem), e o segundo, Die Temperamente (Os temperamentos)*, segue agora, no terceiro volume, a tentativa de desco-brir nas formas das mãos os segredos da figura humana. Assim como em ambas as obras mencionadas, também aqui o autor se apóia totalmente na contemplação do homem, tal como foi transmitida à nossa época por Ru-dolf Steiner, em sua obra de vida.

O presente estudo é o resultado de longos anos de experiência médica; propõe-se proporcionar a qualquer pessoa a possibilidade de uma compreen-são dos enigmas do ser humano sem, no entanto, transmitir conhecimentos particularmente especializados. Educadores e professores, psicólogos e mé-dicos podem encontrar, nas exposições e ilustrações, uma ajuda para sua atividade profissional. Desejamos dar ao leitor um estímulo que possa conduzi-lo a uma observação prática. Quem contemplar o homem com amor descobrirá, em suas mãos, uma plenitude de mistérios que, de certo modo, poderão desvendar-lhe os enigmas da alma. Por fim, mencione-se ainda que notar em si mesmo algumas fraquezas pode ser um passo importante para o autoconhecimento; pois estas são superáveis quando simplesmente ele-vadas à consciência. Não nos deveríamos afligir acerca de nossas limitações, mas sim ficar satisfeitos por podermos modificar e melhorar em nós mes-mos muitas coisas por meio da vontade própria, mesmo que alguns aspec-tos desagradáveis já se tenham inscrito em nossa aparência corpórea.

Assim, que este livro possa ser aceito não apenas como uma publicação voltada para a pedagogia, mas também para a auto-educação.

* Editados em português em seguida ao presente tomo, alterando-se a ordem original. (N.E.)

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FISIOGNOMONIA GERAL DAS MÃOS

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VIII.

Chega-se a uma fisiognomonia compreensível das mãos tão logo se possa aplicar, à multiplicidade de sua configuração, uma estruturação natural. Pri-meiramente, note-se que as mãos devem ser encaradas como um desfecho dos braços. Desta maneira, pertencem àquela parte do corpo que deve ser agregada à região do meio. De acordo com a concepção de Rudolf Steiner, o homem deve ser visto, em sua forma, como um ser trimembrado. Mais pormenores a esse respeito encontram-se, por exemplo, em Rudolf Steiner, Von Seelenrãtseln (Dos enigmas da alma). Nesse livro o presente autor fun-damentou também o estudo fisiognomônico Das Antlitz offenbart den Men-scben (A face revela o homem). Neste ponto bastaria indicar que esse ho-mem "do meio" relaciona-se com aqueles órgãos que regulam o ritmo. Co-ração e pulmão são os pontos centrais para ambas as atividades rítmicas: circulação sangüínea e respiração. Braços e mãos irradiam, em certa medi-da, desta região central rumo à periferia. As mãos são livremente móveis; em sua posição normal não tocam o solo, como por exemplo os pés, que são direcionados para baixo, nem são dirigidas para cima quando em posi-ção natural, como é o caso óbvio da cabeça. Em geral sua área de atuação situa-se mais no meio, na horizontal, mesmo quando têm a possibilidade de cavar em profundidade ou de empurrar para cima.

O parentesco das mãos com o organismo rítmico leva a uma evidente bimembração, tal como esta existe na respiração e na circulação sangüínea. Olhando-se para as costas da mão e para os dedos, ou para a palma da mão (ilustrações 1 e 2), sempre se evidenciará uma certa bimembração: de um lado os quatro dedos, do mínimo ao indicador, e a parte da mão que lhes está associada, e do outro o polegar com a polpa respectiva. Uma metade da mão, nomeadamente aquela com os quatro dedos, tem parentesco com o homem que vive no sistema respiratório; a outra, a metade do polegar, com o que vive na circulação sangüínea. As condições respiratória e circulatória refletem-se muito especialmente na pele de nossas mãos. Quando a respira-ção é pouco profunda, origina-se um represamento do sangue, mostrando-se logo a seguir, sob as unhas, uma coloração azulada; por isso a cor da pele simultaneamente também se modifica. Quando sentimos calor, não só nos-sas faces se tornam vermelhas, mas também nossas mãos. Sendo o teor de ferro no sangue muito baixo, na anemia, as unhas denunciarão a palidez do sangue circulante sob as mesmas. Em determinadas doenças que se fazem acompanhar de uma respiração mais difícil e da decorrente inibição da cir-culação sangüínea, torna-se visível, após algum tempo, um instumescimen-to das falangetas, chegando a um exagerado abaulamento das unhas. Todas as enfermidades referentes a este fenômeno desenrolam-se no espaço torá-

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xico — portanto, no lugar onde se encontram os principais órgãos do ho-mem rítmico: os pulmões e o coração. As doenças em que se apresentam as formas descritas na medicina como "dedos de baqueta de tambor" (ilus-tração 3) são: tuberculose dos pulmões com formação de cavidades, abces-sos e gangrena do pulmão, dilatações dos brônquios (a assim chamada bronco-ectasia), supurações no espaço da pleura, falhas cardíacas congêni-tas (bebês cianóticos).

No caso de um estreitamento da artéria pulmonar surge, po vezes, uma curvatura adunca das unhas, muito característica. Excluindo-se as unhas, essas deformidades encontram-se apenas nas partes moles dos dedos, e naõ nos ossos. Após a cura das doenças mencionadas, sobrevêm também uma invo-lução das deformidades dos dedos. Tais processos doentios evidenciam a relação direta que existe entre as mãos e os órgãos da cavidade toráxica. Uma vez que as referidas enfermidades são acompanhadas tanto de fenô-menos de congestão da circulação quanto de dificuldades respiratórias, não se deve efetuar, no caso das alterações dos dedos, uma separação entre os dois processos do homem rítmico.

II.

A distinção entre "mão dos dedos" e "mão do polegar" — conforme ambas as partes devem ser chamadas, a bem da simplificação — será reco-nhecida em outros fenômenos. Antes que isso possa ser mostrado, faz-se ainda necessário atentar, do ponto de vista fisiológico, para o seguinte: os órgãos da respiração pertencem, em verdade, ao organismo rítmico, porém em seus processos estão muito próximos das funções dos nervos, o que sig-nifica que apresentam uma estreita relação com o sistema nervoso. Isso se expressa também no fato de as manifestações da consciência estarem am-plamente ligadas ao organismo nervoso. A consciência penetra ainda na res-piração a ponto de sermos, até certo grau, capazes de influenciar arbitraria-mente a respiração. É muito grande a sensibilidade dos nervos que se en-contram nas mucosas dos órgãos respiratórios. Manifesta-se de modo mui-to penoso, em forma de hipersensibilidade, por exemplo na assim chamada febre do feno. Neste caso percebe-se diretamente como no campo da respi-ração se faz valer algo que lembra até uma atividade dos órgãos dos senti-dos (os pólens, ou cheiros, ou quaisquer partículas de pó, são percebidos por essas mucosas tal como uma aspereza o é pelo tato, ou um odor pelo olfato). Neste aspecto é muito estreita a relação entre as atividades respira-tória e nervosa.

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A mão com os quatro dedos triarticulados tem, antes de tudo, mais a ver com o homem que respira (só mais adiante, ao se falar sobre cada dedo, entrar-se-á em mais pormenores). O relacionamento da organização nervo-sa com os dedos revela-se tão logo se observe a grande sensibilidade ao ta-to, especialmente das pontas dos dedos. Nesta região, sobretudo nos dedos indicador e médio, a sensação para cada contato é tão delicada que no ce-go, por exemplo, molda-se um aparelho sensório que se transforma num verdadeiro substituto dos olhos. O sistema nervoso ligado ao tato alcança, em certas circunstâncias, uma tal perfeição que se equipara a um milagre. Do tatear participam, quando muito, os dedos da "mão dos dedos", não mais o polegar. A "mão do polegar", por pertencer ao homem circulató-rio, vive em estreita relação com o vizinho sistema metabólico. Do mesmo modo como este é sempre a base para todo elemento volitivo, assim o pole-gar e sua polpa adjacente — na qual também se espelha, na maioria das ve-zes, a cor róseo-encarnada do semblante — têm mais relação com as ativi-dades volitivas da mão do que com as percepções dos sentidos (como é o caso, por exemplo, do dedo indicador). O parentesco da "mão do polegar" com o ritmo sangüíneo talvez possa encontrar uma espécie de confirmação também no fato de — exatamente na extensão da polpa do polegar para baixo — encontrar-se aquele ponto onde, há milhares de anos, a batida da artéria radial, o pulso do homem, é sentida pelos médicos.

Penetrar em certos gestos pode levar à compreensão da mão, à medida que os mesmos estejam relacionados com a bimembração. Sejam lembra-dos aqui dois movimentos opostos: presuma-se que o sangue, com seu ca-lor inerente, entre em especial efervescência. O coração bate mais rápido que o normal, a cabeça torna-se vermelha e quente. O ponto alto de uma tal explosão de irritação, ira ou fúria freqüentemente consiste em que a pes-soa irritada cerre o punho ou até ameace outros com o mesmo. Para conse-guir cerrá-lo, começa por enrolar fortemente os quatro dedos triarticula-dos da mão (na maioria das vezes será a direita) e cobre com o polegar os irmãos, que são os mais prudentes e que, graças à sua estreita pertinência à fria respiração, possuem um parentesco com a cabeça. O polegar assume, num tal momento, a postura de um tirano que quer refrear qualquer oposi-ção (ilustração 4). Aqui existe um movimento exagerado da vontade.

Há uma postura anímica bem contrária à mostrada acima. A pessoa não chega exatamente a ficar fora de si, como em uma irritação, mas quer refle-tir um pouco e deseja interiorizar-se; recolhe-se a fim de encontrar com-preensão para um pensamento. Quem for observado em tal momento mos-trará amiúde o seguinte gesto de uma das mãos, às vezes também de ambas: o polegar é como que escondido na palma da mão, os quatro dedos restan-tes o comprimem e o envolvem fortemente (ilustração 5). Essa postura po-de também ser adotada de maneira exageradamente freqüente e convulsi-va; neste caso revela menos a — em outra situação — virtude da reflexão, e muito mais o esforço por querer guardar tudo quanto possível em si. Atra-

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vés desta postura pode trair-se, por exemplo, aquele que tem a mania de guardar segredos, ou aquele mais rusticamente voltado para o materialis-mo, o avarento; este não quer dar nada, ou, como popularmente se diz com muito acerto, "Ele é um mão-fechada". Também se pode observar que cer-tas pessoas, de manhã após o sono, antes de se decidirem por alguma ativi-dade igualmente envolvem seu polegar, cobrindo-o com os outros dedos: a vontade não atua para fora.

A partir do que segue pode-se ainda reconhecer em que extensão a "mão dos dedos" tem a ver com o homem respiratório. A respiração consiste de três ocorrências que se sucedem uma à outra, a saber: a expiração, a inspi-ração e o momento de transição, o qual pode parecer como que uma pausa, mas que, na respiração uniforme, mal é perceptível no tempo. Essas três ocorrências refletem-se em forma e função nos quatro dedos. Com a expi-ração o homem sai de si mesmo com uma parte de seu ser, embora isso fi-que quase invisível para os olhos. Ele se liga ao meio ambiente. Tal fato cor-responde em alto grau àquilo que vive no dedo indicador (em parte já cha-mamos a atenção sobre isso). Ele imerge de maneira bem visível no mundo exterior, unindo-se a este.

O contrário acontece na inspiração. Nesta, não só o ar é trazido para dentro, mas todo o nosso ser esforça-se para o interior. Consuma-se uma verdadeira interiorização, tal qual a que pode ser percebida na alma em to-das as emoções. Nas mãos, essa vivência reflete-se nos dedos anular e míni-mo, conforme se tornará claro no exposto adiante. Entre ambas as ocorrên-cias, todavia, é necessário ainda considerar o momento no qual a expiração se transforma em inspiração e, inversamente, a inspiração em expiração. Uma pausa respiratória só será mais facilmente mensurável na respiração intensificada ou reduzida, enquanto que, de outra forma, a transição se con-suma continuamente. Contudo, é importante levar em consideração o pon-to de mudança. Utilizando-se, por exemplo, mais oxigêncio do ar, a inver-são da expiração para inspiração ocorrerá mais rapidamente; utilizando-se menos, a mudança processar-se-á mais lentamente. Estabelece-se portanto, no momento da pausa de transição, frequentemente mal mensurável, um verdadeiro equilíbrio no processo respiratório. O portador do equilíbrio en-tre o exterior e o interior, na mão, é o dedo médio. Ele não se situa de fato no meio apenas anatomicamente, mas tem também a capacidade de produ-zir continuamente a compensação. Na medida do necessário, ele pode inclinar-se mais para o dedo indicador ou para o anular e, assim, trazer a harmonia para a forma e o movimento. Isso ficará ainda mais evidente na abordagem específica do dedo, num capítulo posterior.

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VIII.

Se, na observação das mãos, houver alguma referência principalmente ao homem rítmico, será inteiramente correto falarmos de uma bimembra-ção; pois o homem do meio tem em sua base ambos os importantes proces-sos da respiração e da circulação sangüínea. Na configuração total do cor-po existem, porém, três áreas a distinguir, de conformidade com Rudolf Stei-ner: o sistema neuro-sensorial com a cabeça e os órgãos dos sentidos; o já mencionado sistema rítmico e, como terceiro, o sistema metabólico-motor, cujo nome fala por si. Cada qual destes três sistemas de órgãos cons-titui também o fundamento para a respectiva atividade da vida anímica, a saber: o pensar, o sentir e o querer. Esta trimembração do corpo e da alma espelha-se igualmente na mão — o que se torna visível nos dedos. O pensar e o perceber, em sua relação com os processos nervosos, refletem-se pre-dominantemente nos dedos indicador e médio. Não há nenhuma dúvida a respeito de que nestes dois dedos existe, ou pode ser desenvolvido por exer-cício, o mais delicado sentido do tato. A dita "sensibilidade nas pontas dos dedos" * tem, nas pontas destes dois, sua autêntica pátria. Aqui o olho po-de muito bem, por assim dizer, ser mais facilmente substituído, tal como o que o cego se esforça por fazer.

Se for necessário chamar a atenção com as mãos para algo percebido no mundo exterior, então o dedo indicador, e nenhum outro, apontará de forma bem óbvia para o objeto em questão. O caçador que espreita a caça e visa a atirar num animal deixa o dedo indicador descansar sobre o gati-lho, para apertá-lo no momento oportuno. Neste caso, portanto, o olho e o dedo indicador trabalham de fato em plena harmonia.

O ato de apontar com o segundo dedo pode ser executado no âmbito de três direções. Há, por exemplo, um apontar para cima porque algo im-portante emergiu no pensamento. Na "Última Ceia" de Leonardo vemos como Tomé estende, significativamente, o dedo indicador para cima (ilus-tração 6). É bem verdade que o dedo aponta para algo importante, mas o movimento parece de fato inibido. Em Tomé reinam dúvidas, e por detrás destas está o cético; daí mostrar-se na ilustração vima certa estreiteza no gesto executado. Mas o gesto de indicar para cima também pode ser poderoso. Para algo muito grandioso e sagrado deve ser chamada a atenção. Assim, em Leonardo, o dedo indicador da mão direita do Batista é dirigido para cima (ilustração 7). João aponta com o dedo para o céu, de onde descerá o Salvador, que ele pode anunciar profeticamente. Com esse dedo o ho-

* Tradução literal da expressão alemã Fingerspitzengefühl, equivalente a tato, sensibilidade, no sentido figurado. (N.R.)

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mem é remetido a um plano superior. "Eis Aquele de quem eu disse: depois de mim virá Aquele que foi antes de mim, pois Ele era antes de mim. E de Sua plenitude todos nós recebemos graça por graça." (Jo 1,15.)

Em contraposição a isso, o dedo indicador aponta para baixo quando é necessário expressar que na Terra tudo chegou a um ponto de decadên-cia: "Ó raça de víboras, quem vos mostrou, pois, que sereis poupados à ira futura? Vede, produzi frutos dignos da expiação..." (Mt 3, 7-8). Estas são as palavras com que João clama aos fariseus e aos saduceus. Leonardo dese-nhou um pequeno esboço do Batista — o qual aparentemente profere uma admoestação e, com imperiosa severidade, dirige o dedo indicador direta-mente para o solo (ilustração 8).

O grande pintor buscou ainda, com todo o cuidado, uma terceira posi-ção para o segundo dedo. Nesta, o dedo indicador é apontado rigorosamente na horizontal. Aqui se encontra a região dos membros superiores, à qual, juntamente com o coração, também pertence o homem rítmico. Deste emana todo amor carinhoso. Em "Madona na Gruta" (versão parisiense no Lou-vre), o anjo protetor que pousa ao lado do Menino Jesus estende seu dedo indicador bem reto para a frente, para mostrar o pequeno João mergulhado em profunda adoração. Este pode ser sentido como o gesto verdadeiramente correto com o qual se chama a atenção de uma criança para algo significati-vo (ilustração 9)-

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IV.

Ainda que mais tarde tenhamos de abordar a estrutura peculiar de cada um dos dedos, façamos neste ponto uma inserção relacionada a um hábito pelo qual os dedos indicador e médio são, com muita freqüência, judiados. Trata-se da inclinação para roer unhas, que hoje em dia está assustadora-mente difundida, sobretudo entre crianças. No primeiro volume de fisiog-nomonia foi exposto e esclarecido de que forma, em tais casos, apresenta-se a ânsia inconsciente de combater as forças endurecedoras do organismo. O roedor de unhas tenta livrar-se de uma das partes mais duras de seu cor-po (os ossos, ainda mais duros, não lhe são acessíveis). Por isso rói as unhas.

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Deve-se considerar que existe uma estreita relação entre os processos ner-vosos de um lado e, de outro, as ancilosidades e endurecimentos que se apre-sentam no corpo. Esta é a razão pela qual os processos vivos do crescimento enfraquecem continuamente tão logo a atividade nervosa atue com maior intensidade. A própria célula nervosa tem — comparada, por exemplo, com uma célula do fígado — uma vitalidade proporcionalmente muito menor. Isso se torna igualmente perceptível nos dedos: as pontas dos dedos, que por sua abundante distribuição de nervos possuem uma sensibilidade tão ele-vada, são recobertas pela unha dura. Em comparação, poder-se-ia dizer que, da mesma forma como o cérebro — o mais importante e complexo órgão do sistema nervoso — está envolto e recoberto em grande escala pela abó-bada craniana, assim também a unha dura e recurvada se coloca, em menor escala, sobre a ponta de dedo — que é um órgão dos sentidos sumamente rico em nervos e sensível — como uma espécie de "cobertura craniana". Talvez se permita dar vazão à fantasia e imaginar que o homem leva na peri-feria de suas mãos dez pequenas cabecinhas, cada qual dotada de um peque-nino cérebro, com uma cobertura craniana feita da substância córnea da unha.

Yale notar o número de roedores de unhas que, ao serem indagados, informam que na maioria das vezes iniciam pelos dedos indicador e médio. Trata-se normalmente de pessoas que se sentem organicamente perturba-das tão logo lhes são apresentadas exigências mentais — muitas vezes ape-nas de natureza leve. A situação pode agravar-se, porém, até ao ponto em que cada interferência do estado vígil já ofereça motivo para se ocuparem das unhas. Basta, por exemplo, pesquisar quando é que certas crianças bus-cam refúgio em seu hábito, e elas esclarecem: assim que sentem fome — o que aliás sempre torna o homem mais alerta — ou quando estão deitadas na cama e não conseguem adormecer. Estas circunstâncias valem também para os roedores de unhas adultos. Para estes, acrescentar-se-ia ainda que preocupações especiais das quais não conseguem libertar-se podem ser uma razão especial para sua propensão. O ato de roer unhas emerge, como pro-pensão, a partir da vida volitiva inconsciente e instintiva, sendo por isso mesmo tão difícil de combater. Para que primeiramente os dedos indicador e médio sejam atacados há boa razão. Ambos têm, entre todos os dedos, a mais forte ligação com o sistema neuro-sensorial.

As muitas tentativas para curar o hábito de roer unhas não são muito bem sucedidas, conforme ensina a experiência. De qualquer maneira, po-rém, pode-se combater o hábito a partir de dois lados: no primeiro deles conduz-se a pessoa pelo lado volitivo — tudo se relaciona com uma cons-ciência muito maior da vontade. Para adultos podem ser recomendados exer-cícios regulares da vontade, os quais podem ser encontrados, por exemplo, no livro de Rudolf Steiner O conhecimento dos mundos superiores.* No

F.diç-ão brasileira em Iraci, de Erika Reimann (5. ed. São Paulo: Antroposófica, 2002) . (N.E.)

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caso de crianças, isso deverá ser conduzido pelo educador de maneira es-pecial, ocupando-se a criança corretamente e alimentando-a de modo apro-priado. A nível anímico, deve ser rigorosamente evitada a tensão do medo, tanto quanto o tédio. Ou deve-se então procurar, pelo lado mental, elevar o pensar do nível abstrato mais para o objetivo e para o figurativo. O ensi-no vivificado artisticamente e liberto de toda aridez levará cada criança, ao menos por algum tempo, a esquecer sua mania. Mas se a educação não se entrosar no sentido proposto, os impulsos insatisfeitos se precipitarão co-mo pequenos lobos dilaceradores sobre as unhas, não poupando então ne-nhuma delas. O resultado é uma mão cujas cabeças dos dedos estão despo-jadas da proteção; observados de cima, os dedos parecem mutilados (ilus-tração 10).

A descrição de um jovem que rói unhas tornará mais facilmente com-preensível o que aqui se quer dizer. Ele tem treze anos de idade e rói suas unhas há tanto tempo quanto possa lembrar-se. Tem cabelos acentuadamente ruivos e um rosto de cor rósea, fresca. Certa vez Rudolf Steiner citou que, no ruivo, a atividade do processo sulfúrico é especialmente intensa (por exemplo, na proteína). Na maioria das vezes os ruivos tendem mais à trans-piração que outros, com cabelos mais escuros; os processos do metabolis-mo ocorrem com maior rapidez, o sangue lhes sobe mais depressa à cabeça. A conseqüência disso são ataques de ira facilmente suscitáveis, conforme também era o caso do rapaz mencionado. Suas mãos são acentuadamente moles nas articulações e assemelham-se àquelas de crianças muito novas. A pele nada tem de rijo. Ele deseja — é claro que inconscientemente — per-manecer o maior tempo possível na moleza agradável de seu corpo. A par-tir desta tendência quer eliminar os pontos duros dos dedos e rói as unhas de maneira francamente devastadora. Nele, o comprimento de uma unha é reduzido para quase a metade de uma unha sadia.

Um pensamento interessante, que não pode ser pura e simplesmente rejeitado, parece ser ainda o seguinte: na total condição corpórea de um roedor de unhas desse tipo encontra-se uma certa avidez por enxofre; co-mo também existem pessoas que, de forma muito mais acentuada, têm uma ânsia notadamente grande por sal. A queratina é uma parte essencial da unha, com um conteúdo relativamente elevado de enxofre (2 - 5%). Talvez um ser faminto de enxofre tente satisfazer seu apetite roendo unhas. Pode ser que para isso nem seja necessário considerar quantidades especialmente al-tas da substância. Um oposto total ao homem que rói as unhas é aquele que se compraz em deixar suas unhas crescerem demais. Com isto denuncia que ama justamente as forças do endurecimento atuantes nele, e que também quer mostrá-lo à sua redondeza. A criança teimosa e intransigente, tal co-mo a descreveu e delineou o médico Heinrich Hoffman no famoso "João Felpudo", possui, óbvia e consequentemente, as unhas excessivamente lon-gas, as quais o pestinha não deixa encurtar (ilustração 10a).

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VIII.

A falange provida de unha aponta portanto, de um modo mais geral, para a relação do homem com processos formativos também endurecedo-res, cujo ponto de partida é representado pelo sistema neuro-sensorial. Ten-temos agora, após a observação precedente, encontrar novamente nas mãos o reflexo do corpo humano trimembrado com as correspondentes emoções da alma.

O dedo condutor, o dedo do pensamento e da percepção, conforme ficou demonstrado de várias maneiras pelos exemplos já mencionados, é sobretudo o dedo indicador, e em parte também o médio, como se mostra-rá adiante. Se, por exemplo, quisermos recolher-nos pensativamente, sen-tiremos que existe um centro, para isso, em um ponto que se encontra aci-ma da raiz do nariz e entre ambas as sobrancelhas. Nesta região se encontra visível, também do ponto de vista fisionômico, uma contração das dobras da testa dirigidas para baixo. Desta maneira uma pessoa conserva um as-pecto que descrevemos, na maioria das vezes, como pensativo. A pessoa em questão como que se recolhe em seu próprio ponto central, também ani-micamente, quando deseja pensar. "Concentrar-se" é apenas a tradução de uma tal atividade. Com que freqüência, porém, no momento de uma con-centração, alguém coloca justamente o seu dedo indicador nesse exato lu-gar acima do nariz! O dedo indicador desempenha aí o papel principal, mes-mo que casualmente outros dedos possam acompanhar o movimento.

Há ainda um outro gesto, quando alguém deseja retirar-se do barulho do mundo. A reflexão sobre si mesmo deve ter lugar, há que reinar silêncio, o qual não deve ser interrompido por palavras. Mesmo para crianças inquie-tas e tagarelas, tal gesto pode ser feito quando devem ouvir aquilo que o professor lhes tem a transmitir: o dedo indicador faz o sinal do silêncio ao ser dirigido para cima e apontado para o meio da boca. Quem teria repre-sentado isso mais expressivamente que Fra Angélico? (ilustração 11).

Também a partir de outros movimentos, menos dirigidos ao coração, pode-se sempre voltar a reconhecer como o segundo dedo, às vezes ainda acompanhado do dedo médio, é levado à relação com o ato de indicar, cha-mar a atenção, pensar. Quando alguém quer indicar, com um breve gesto, que seu companheiro não parece ser muito claro em suas idéias, toca, com o dedo indicador direito, o cotovelo esquerdo. Com isso deseja expressar que a sensatez lhe escorregou da cabeça, desapareceu para baixo. * Aqui im-porta apenas que, mais uma vez, é o dedo indicador que assume a liderança quando se trata das forças da cabeça.

Em algumas regiões predomina o costume de, quando alguém cometeu

* Mímica estranha no Brasil. (N.R.)

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uma tolice de fato, escarnecer-se dele da seguinte maneira: ambos os indi-cadores, o esquerdo do lado esquerdo, o direito do lado direito, recolhidos os demais dedos, são mantidos esticados contra as fontes correspondentes e postos a girar em movimentos leves. Pode-se assim dar a entender: "Em você bem que deve haver alguns parafusos soltos na cabeça." *

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VI.

O parentesco dos dedos indicador e médio com todos os processos da percepção e com as forças da imaginação e do pensamento tem seu signifi-cado pedagógico e terapêutico. Através de indicações de Rudolf Steiner e da elaboração das mesmas na assim chamada "eurritmia curativa"**,

* Gesto que, no Brasil, é executado com apenas um dos indicadores. (N.R.) * * V.M. Kirchner-Bockholt, Grundelemente der Heileurythmie, Dörnach (Suíça), Phil.- An-throposophischer Verlag, 1962.

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demonstrou-se ao longo dos anos como, por exemplo, exercícios bem espe-cíficos com os dois dedos mencionados — especialmente, porém, com o dedo indicador — podem exercer uma influência extraordinariamente benéfica sobre algumas formas de estrabismo e, em particular, sobre a miopia. Isto tem significado em nosso contexto à medida que, a partir daí, torna-se claro que exatamente o "dedo do pensamento", o "dedo da percepção", pode influir curativamente, através de exercícios adequados, em um órgão dos sentidos como os olhos. A influência sobre a miopia por meio de determina-dos exercícios do segundo dedo também parece ser, por uma outra razão, extraordinariamente digna de nota. O dedo indicador sempre pretende apon-tar para o derredor. Aponta justamente, de acordo com toda a sua essência, para o mundo ao redor, para tudo o que se passa fora. O míope, porém, tem exatamente a tendência oposta; ele gosta de fechar-se em si mesmo. O mun-do exterior o interessa tão pouco que ele nem sequer lhe dirige os olhos di-retamente. Entretanto, torna-se assim inteiramente compreensível por que o míope deve ser tratado de maneira como se o retirássemos de sua própria concha, onde ele quer continuamente esconder-se. Isso pode ser feito de modo muito adequado por meio dos exercícios com o dedo indicador, o qual, além disso e consoante sua natureza, quer sempre revolutear.

Em oposição a esses "pensadores" e "videntes" entre os dedos está o polegar. Nele se revela o elemento volitivo e, ligado a este, também o me-tabolismo do homem. O punho cerrado, do qual se falou anteriormente, tem o polegar como sua força condutora. Na criança bem pequena, os pro-cessos da formação e do metabolismo desempenham o mais importante dos papéis. Rudolf Steiner, certa vez, descreveu expressivamente como o lac-tente vive a partir de sua natureza volitiva e como também pode ser enten-dido a partir dela. Isso se expressa de maneira encantadora quando a crian-ça, com inteira dedicação, suga o leite ao mesmo tempo que cerra seus pe-queninos punhos com firmeza. Muitas, já deitadas a dormir, mantêm ainda a mesma atitude. Quando, porém, o lactente acorda com fome e chora, notar-se-á com freqüência como no ritmo do choro a mão se abre e novamente se fecha em punho. Numa ação recíproca, os quatro dedos envolvem o po-legar por fora (como na "atitude interiorizada") e depois o polegar volta a colocar-se sobre os quatro dedos (como na "atitude de ira").

A relação deste dedo com as manifestações do metabolismo pode ain-da ser verificada no fato de que, já na mais tenra idade do recém-nascido, é exatamente o polegar que será sugado. Bem no início pode-se notar que primeiro, talvez, todos os dedos juntos sejam introduzidos na boca, mas is-to se modifica relativamente depressa e a seguir só o polegar servirá para chupar. A criança o faz quando está com fome; mas também após ser ali-mentada introduz o dedão rapidamente entre os lábios. Os prazeres que fo-ram sentidos em todo o organismo ao mamar o leite não querem ser aban-donados. Neste ponto interessa-nos sobretudo que precisamente o polegar foi o escolhido dentre todos os demais dedos. Este pertence à atividade me-

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tabólica e por isso o bebê quer simplesmente continuar a sugar dele tudo aquilo que de outro modo lhe oferece o seio materno — ou também a ma-madeira. A chupeta representa apenas o substituto inferior para ambos! Considere-se, porém, que em geral sempre se fala só do "chupador do de-dão", mas jamais do chupador do dedo indicador!

Um movimento relacionado sobretudo com o polegar merece ser ain-da especialmente mencionado. Quem se senta quieto, se enfada, ou por qual-quer razão não adormece, tenta, sem normalmente tomar consciência dis-so, trazer atividade à sua imobilidade corporal e anímica. Desejaria avivar a vontade arrasada. O que faz o homem, freqüentemente, nesta condição? Começa a girar os polegares um em torno do outro — não o faz com ne-nhum outro dedo senão precisamente com aquele que se encontra mais pró-ximo do organismo da vontade. No assim chamado girar dos polegares, por-tanto, reside de fato um significativo tratamento do tédio. Aqui cabe tam-bém fazer correr entre os dedos um colar enfiado com pérolas de madeira. Sobretudo as pessoas do Oriente gostam de ocupar-se com este jogo quan-do, por exemplo, estão sozinhas e desejam manter-se despertas. O movi-mento é efetuado quase que exclusivamente pelo polegar, que empurra as pequenas esferas com rapidez digna de nota.

VII.

Entre ambos os pólos do ser humano — o homem neuro-sensorial e aquele ligado ao metabolismo — vive o homem rítmico. Este forma a base do mundo do sentimento. Na mão, a participação desta região espelha-se sobretudo nos dedos anular e mínimo. O dedo anular carrega, como símbo-lo do amor conjugal no mais belo sentido, a aliança de ouro. Também as freiras pertencentes à maioria das ordens levam seu anel de ouro no mesmo dedo que a esposa. Elas prometeram-se ao noivo divino. Esse é um antigo símbolo para o amor mais elevado a que um homem pode entregar-se.

A maneira pela qual o sentimento vibra em ambos os dedos e neles en-contra sua expressão é, por vezes, bastante visível em regentes de orques-tras. Em trechos muito delicados, e também naqueles especialmente carre-gados de afetividade, o maestro solicita de seus músicos, com os dedos anular e mínimo, a íntima expressão do sentimento. O movimento resulta natural e inconsciente para o músico.

É na abordagem mais particular de ambos estes dedos que se torna pos-sível expor mais de perto, por meio de detalhes e ilustrações adequadas,

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a relação do quarto e do quinto dedos com o sentimento. Neste ponto, atente-se apenas para o fato de que esses dois dedos, mas principalmente o anular, por sua estreita relação com os sentimentos e a índole da alma humana, estão mais direcionados para o interior, desejando como que recolher-se do mundo. Graças a tal particularidade desses dois dedos torna-se compreensível que determinados exercícios com os mesmos possam servir para reconduzir a si mesmo o homem que se vem perdendo na exterioriza-ção. Uma criança que tenda para o presbitismo* trai-se por sempre desejar dispersar-se. Seus olhos estão como que desinteressados da proximidade. Os exercícios que, na eurritmia curativa, são empreendidos contra o pres-bitismo de tais crianças relacionam-se sobretudo com este quarto dedo, que tem parentesco com a vida interiorizada do sentimento.

Há que mencionar ainda o quanto a idéia da trimembração se realiza corporalmente até nos menores detalhes. Como exemplo oportuno pode-se citar a configuração da unha. Neste caso tem-se em mira principalmente a forma, sem entrar demasiadamente em particularidades anatômicas. Pode-se distinguir nitidamente, na unha, três partes. A parte anterior é esbranqui-çada, sem relação muito viva com a parte restante. Na realidade, constitui a porção morta da unha que é repelida e também cortada de forma total-mente indolor. Até aqui pode ser relacionada com o organismo neuro-sensorial, uma vez que relativamente ao sistema nervoso se expôs estar ele justamente em oposição à vitalidade. Nas vizinhanças da substância nervo-sa forma-se com freqüência a matéria endurecida. Lembremo-nos do cére-bro e da cobertura craniana que o envolve. A esta parte da unha segue aque-la rósea, que é mais extensamente desenvolvida e que está alojada na de-pressão ungular da pele. A cor avermelhada está relacionada com os vasos sangüíneos que transparecem. Para quem olha, esta área é a unha propria-mente dita. Ela é um espelho para a quantidade de hemoglobina contida no sangue e é muito sensível devido à estreita ligação com a pele que lhe subjaz. Esta parte da unha pode ser associada, sem mais, ao homem do meio. Esta parte também é, em conseqüência, a mais longa, pois que reconhecida-mente a mão como um todo está extremamente próxima ao sistema rítmico.

Por fim encontramos ainda a assim chamada raiz da unha. Esta se apre-senta mais visível no polegar, com o formato de um arco em meia-lua e de cor mais clara. Anatomicamente, este local — devido à sua configuração — é denominado lúnula, isto é, pequena lua. É a partir daqui que a unha nasce e é nutrida. Quando esta região é ferida, cessa o crescimento da unha. Aqui se encontra, portanto, da maneira mais clara, a região do metabolis-mo da unha. Uma vez que o polegar possui, dentre os dedos, a mais profun-da relação com o metabolismo, exibe também de maneira mais pronuncia-da a assim chamada lúnula.

* Deficiência da visão por perda da elasticidade do cristalino, impedindo ver nitidamente ob-jetos próximos. (N.R.)

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VIII.

Até este ponto foi descrito em que medida cada um dos dedos corres-ponde, respectivamente, ao homem trimembrado. Agora será mencionado um movimento dos dedos no qual todas as três emoções da alma — isto é, pensar, sentir, querer — serão reunidas em uma unidade harmônica no gesto da mão. Isto ocorre na concessão da bênção. Tal gesto pode ser en-contrado em muitos quadros antigos. De maneira esplêndida o Anjo da Anun-ciação abençoa Maria no quadro de Leonardo (ilustração 12). Nessa pintura pode-se tentar comparar a mão do anjo com seu nobre semblante. A fronte inclinada para a frente, com sua curvatura arredondada, corresponde intei-

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ramente à posição dos dedos indicador e médio. Assim como aquela está repleta da força do pensamento divino, pela qual nasceu a imagem do ho-mem, assim também ambos estes dedos conduzem, como em uma corrente sagrada, a forma divina vinda do céu à Mãe de Deus. O amor que se entrega a partir do interior pode ser reconhecido na delicada formação do nariz e da face, que constitui a parte do meio do rosto. Este sentir envolvente expressa-se com clareza na posição dos dedos anular e mínimo. O anjo foi enviado por Deus-Pai, de cuja vontade tudo derivou. Mas esta vontade, que aqui é pouco visível de imediato, está reprimida na parte do semblante rela-tiva à vontade, uma vez que a boca e o queixo recuam um pouco. E assim está também o polegar escondido pela mão; mas pressente-se que ele deva estar levemente inclinado para o lado, descrevendo um suave arco e prote-gendo a descida divina (ilustração 13)-

Em completa harmonia, enquanto todos os três dedos permanecem re-conhecíveis, está a mão do Menino Jesus abençoando o pequeno João na "Madona na Gruta" (ilustração 9). O dedo indicador e o médio estão levan-tados de maneira equilibrada, sendo orlados pelos dedos anular e mínimo afetuosamente inclinados e limitados do outro lado pelo firme polegar. Es-ta trindade dos dedos também é mantida em uma harmônica relação com o espaço (ilustração 14).

De modo exemplar o gesto abençoante foi esculpido em nossa época por Rudolf Steiner em sua estátua de madeira. Também nessa figura, que

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foi designada com muito gosto por seu criador como o "Representante da Humanidade", pode-se perceber de maneira especialmente bela de que mo-do, no gesto de abençoar, os cinco dedos em ambas as mãos estão harmoni-camente associadas à trindade. Abençoar um homem significa, no fundo, desejar proporcionar-lhe forças para que aquilo que vive em sua alma co-mo pensar, sentir e querer se eleve para uma unidade superior. Existe ainda uma posição algo modificada da mão, ao abençoar, que pode ser encontra-da nas igrejas orientais. O segundo e o terceiro dedos mantêm sua direção, mas o polegar toca a ponta do dedo anular de tal maneira que ambos, por

vezes, formam um anel fechado. Isto tem a ver, presumivelmente, com o fato de nessas igrejas o elemento do consciente no querer ser menos acen-tuado que o estreito contato do querer (assinalado pelo polegar) com o sen-tir (simbolizado pelo quarto dedo). Encontra-se esse gesto em quase todos os ícones, mais antigos ou mais recentes, onde tenha sido pintada uma figu-ra abençoando (ilustração 15).

Tentamos aqui, portanto, primeiramente descobrir na mão uma duali-dade; isto acontece assim que reconhecemos como as mãos, por sua liga-ção com os braços, estão integradas diretamente ao organismo rítmico. Pois

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o homem do meio está orientado para dois lados: para o pólo do movimen-to respiratório e para o pólo do movimento sangüíneo. Dando-se um passo

à frente, as mãos poderão ser contempladas em relação total com a figura humana e as três correspondentes atividades da alma. Com isso dedos e mãos, numa clara trimembração, integram-se também a todo o homem trimem-brado.

IX.

O ser humano pode, todavia, ser considerado de um ponto ainda mais elevado: voltemo-nos para a espiritualidade que lhe é inerente, para o seu

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eu individual; então se reúne em uma unidade o que antes se desmembrava. Pode-se agora lançar a pergunta: isso também é reconhecível na mão? Se o for, como e onde isso se expressa de maneira visível? Não se pode res-ponder a esta pergunta sem antes apontar para fatos significativos.

Há quadros expressivos nos quais, de certa maneira, a unidade do ser humano fica demonstrada, tais como aqueles em que é representada a res-surreição do Salvador. Podem servir de exemplo a "Disputa" de Rafael ou a "Ressurreição" de Grünewald. Porém, antes de se tratar dos movimentos dos braços e das mãos neles exibidos, dever-se-ia lembrar as mãos na Cruci-ficação (ilustração 16). Elas foram despojadas de sua mobilidade. Como? Pe-

los cruéis cravos que transformam as mãos em prisioneiras da força da gravi-dade. Que a gravidade conseguiu poder sobre o corpo, na morte, é também um fato muito digno de nota. A cabeça do Crucificado, neste quadro, sucum-be igualmente à força da terra; desceu abaixo da altura da viga transversal e puxa para baixo os braços e as mãos que, todavia, estão presos. Em vida a cabeça é precisamente aquele poder que dirige o corpo para o alto, que o impele para cima por força de seu espírito, o qual vive no eu; só assim o homem consegue a posição ereta que, na verdade, falta ao animal. É por-tanto à cabeça erguida que seguem os braços e mãos. No quadro, as mãos deveriam seguir a cabeça pendente; elas estão, no entanto, vigorosamente presas. É da maior importância o local onde os cravos perfuram as mãos. Os ferros foram cravados no meio da palma da mão. Pode-se examinar com mais precisão este ponto, até mesmo em si próprio: o local mais sensível encontra-se no lado de dentro da palma da mão. Aí, na maioria das vezes,

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a pele costuma exibir dois vincos transversais, um superior e um inferior; além disso, freqüentemente uma linha principal dirige-se do lado do dedo mínimo, de baixo para cima, em direção ao dedo médio. Essa linha cruza, na maioria das vezes, a linha transversal inferior que se estende da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda. No ponto de cruzamento encontra-se o acima considerado ponto central da palma da mão, com o respectivo lugar mais sensível. Enquanto considerarmos os membros supe-riores poderemos, a partir deste ponto, tornar-nos conscientes de toda a nossa personalidade. Se quisermos, por exemplo, encontrar-nos com um outro homem e então falar ao seu eu, ou se sentimos o desejo de fazê-lo, estender-lhe-emos a mão para saudá-lo. Com um "cordial" * aperto de mãos, os pontos mencionados da parte interna das mãos de ambas as pes-soas que se encontram colocar-se-ão bem próximos um ao outro. Isto tem um sentido profundo, uma vez que o lugar descrito da mão pode ser consi-derado um dos importantes pontos do eu do homem. Cegos, quando per-guntados, relatam que seu principal órgão de percepção, além das pontas dos dedos, é acima de tudo a parte mais interna de ambas as superfícies das mãos. Com essa parte de suas mãos eles sentem, por exemplo, até mesmo se um local ao qual chegaram deve ser considerado belo por eles. Cristo, que em relação à evolução da Terra é aquele ser ao qual, por primeiro, foi permitido permear inteiramente o corpo com o espírito humano, deve ex-perimentar dolorosamente esse encravamento no corpo. Contudo, reside também em sua missão padecer a enorme dor que sobrevêm quando o ser espiritual é violentamente arrancado do físico. Os algozes, seus inimigos, feriram-no com prazer no ponto em que a vivência da dor é mais forte, isto é, no meio da palma da mão. O resultado é de tal maneira aniquilador que a própria cabeça pende para baixo, tal como Grünewald o repre-sentou.

Os antigos pintores devem ter conhecido com exatidão esse segredo das mãos e seu ponto central. Do contrário seria muito pouco provável que, por exemplo, Giovanni Bellini tivesse sabido pintar de tal modo a mão aben-çoante do Ressurreto com a chaga, conforme o fez no quadro situado no Louvre (ilustração 17). O ferimento encontra-se exatamente no local acima descrito. Até mesmo as linhas são nitidamente visíveis.

Os cravos foram removidos e o espírito agrilhoado às mãos pôde libertar-se. Como alguém que, ameaçado de submergir na água, com um mo-vimento vigoroso dos braços nas vagas retira seu corpo das profundezas ao levantar a cabeça, assim aparece agora o Ressurreto em ascensão. Talvez isso possa ser vivenciado de maneira mais impressionante no outro quadro de Grünewald (ilustração 18). Igualmente, como que para comparar, dever-se-ia sempre ter em mente também a Crucificação: a cabeça pende e puxa

* Note-se aqui a referência ao coração (lat. cor, cordis). (N.R.)

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os braços para si (Crucificação); os braços estão livres, mergulham na at-mosfera celestial onde brilham as estrelas e fazem a cabeça resplandecer na radiante aura solar (Ressurreição). Como em triunfo, fulguram as chagas das mãos em um vermelho ardente.

De outro modo, mas em essência com a mesma sabedoria a respeito de como Cristo se desprende do escuro domínio da Terra, também Rafael pintou o Ressurreto na "Disputa" e na "Transfiguração", oferecendo as mãos estendidas com as chagas à contemplação.

Com isto foi apresentada a terceira possibilidade com a qual talvez se possa descrever, em sentido mais amplo, aquilo que se mostra nas mãos do ser humano. Havia sido indicado, por último, o ponto de vista espiritual; anteriormente, aquele mais relacionado ao anímico, que se faz valer mais fortemente quando se recorre à trimembração do corpo e da alma, enquan-to que no início foi possível tratar da polaridade na mão por sua vinculação ao homem do meio.

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FISIOGNOMONIA ESPECIAL DAS MÃOS E DOS DEDOS

Os fundamentos de uma fisiognomonia das mãos e dos dedos, apresen-tados no primeiro capítulo, devem agora servir para passar do ponto de vista geral para o mais específico. As particularidades apresentar-se-ão melhor quando cada dedo, bem como a mão, forem examinados de per si mais exa-tamente.

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VIII.

O POLEGAR

O que mais salta aos olhos, ao se observar o polegar pelo lado das cos-tas da mão, é o fato de ele realmente se destacar da série dos demais dedos. A diferença essencial consiste em não estar articulado em três estágios, con-forme os outros quatro, porém visivelmente em apenas dois. Tem-se a im-pressão de que sua falangeta, na qual se encontra a unha, não corresponde às falangetas dos demais dedos. Em geral alcança apenas o limite superior da primeira falange do dedo indicador, apresentando aproximadamente o mesmo comprimento (ilustração 19). O segundo segmento, isto é, a primei-ra falange do polegar, do contrário, encontra-se lateralmente à altura do osso do dedo indicador no metacarpo. Deve-se notar ainda que os ossos do me-tacarpo a partir do dedo indicador mantêm-se quase invisíveis (na palma da mão não se percebe nenhum sinal deles), enquanto o osso do polegar no metacarpo sempre desempenha uma importante colaboração com a pri-meira falange. Os movimentos de ambos são fáceis de acompanhar.

A despeito de situar-se muito mais abaixo, a falangeta do polegar per-tence, sem dúvida, à série terminal dos segmentos da "mão dos dedos". Isso resulta do fato de que ela, do mesmo modo como as outras falangetas, desenvolve uma unha e possui relações semelhantes com o sistema neuro-sensorial, apesar de o sentido do tato ser menos desenvolvido no polegar. Ela tem, como as outras falangetas, uma verdadeira "cabecinha", mas no entanto diferencia-se essencialmente daquelas. Possui constituição mais larga e grosseira, sendo menos delicada na forma. Sua unha é mais larga e mais longa. Pode-se constatar como o polegar, na posição horizontal das mãos, situa-se inclinado para baixo, ao mesmo tempo que todas as outras unhas se voltam para cima. Na assim chamada raiz da unha, a unha do polegar exibe uma superfície em forma de meia-lua (a assim chamada "lúnula") muito mais nítida que os demais dedos. É o local a partir do qual a unha nasce, conforme foi mencionado. Não admira que a região relacionada com o cres-cimento seja tão evidenciada exatamente no polegar; pois ele tem, confor-me já foi mostrado, pronunciada relação com o metabolismo. A unha do polegar, dentre todas as outras unhas da mão, é a mais fortemente desen-volvida. A participação sensorial do polegar está reduzida a um mínimo; nele tudo se dispõe mais para o exercício da força. Ele está mais sujeito à vontade, que é ávida por apreender coisas sólidas, terrestres. Os quatro ou-tros dedos estão como que dispostos um pouco acima dele, são mais aristo-cratas; ele mesmo, porém, foi inserido mais profundamente no corpo da

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mão. Por seu estreito parentesco com o sangue e com o metabolismo, falta-lhe um pouco da influência libertadora da respiração. Ele foi criado mais para o trabalho terreno. Examine-se, a título de ilustração, a mão esquerda do violinista. Todos os dedos, com exceção do polegar, ao tocar livremen-te são capazes de determinar o tom nas cordas, enquanto a esse compete apenas apoiar o instrumento. Isto, naturalmente, não constitui um juízo de-preciativo; serve apenas para tornar clara sua diferença em relação aos de-mais dedos. Mas tampouco na mão direita, ao tocar o violino, o polegar é determinante para gerar o tom; ele desempenha apenas o papel de assis-tente necessário, sem o qual o arco simplesmente se desprenderia.

O caráter articular do polegar expressa-se de maneira muito especial em sua extraordinária mobilidade, que quase não se deixa comparar com nenhuma das outras articulações — quando muito, com a articulação da mão toda. A estreita relação do polegar com o sistema metabólico-motor, entre-

Esqueleto da mão direita (lado de dentro)

tanto, denuncia-se não apenas na grande mobilidade de suas articulações e na formação muscular extraordinariamente forte e complexa, mas pela total falta de uma parte, que nos demais dedos é essencial, a saber: a do meio, como é claramente visível na anatomia dos ossos da mão (ilustração 19). Um modo goethiano de observar poderia talvez conduzir-nos a consta-tar o seguinte: a mesma força que, nos quatro dedos, levou à formação da

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falange do meio, foi poupada no polegar, a fim de poder agregá-lo muito mais à parte do organismo relacionada com o âmbito metabólico e com a vontade ali consolidada.

Do acima exposto se conclui, como que naturalmente, que deve existir uma certa diferença no desenvolvimento do polegar em homens e mulhe-res. A natureza do corpo masculino contém algo muito mais sólido e terre-no que o corpo da mulher, o qual pode subtrair-se com maior facilidade às influências do pesado e do terreno. Correspondentemente a isso, o es-queleto feminino se desenvolve de maneira muito mais delicada que o mas-culino. Isto se mostra igualmente no polegar, cuja falange final apresenta-se mais estreita em mulheres e, na maioria das vezes, exibe também uma unha mais arredondada. O mesmo vale ainda para a respectiva musculatura (ilustrações 20, 21 — feminina; 22, 23 — masculina). De maneira bem ge-neralizada pode-se dizer que a forma do polegar possibilita alguma conclu-são sobre a conformação da vontade de uma pessoa. Para prevenir mal-en-

tendidos, e mesmo possíveis ofensas que porventura apareçam, nunca é de-mais insistir, em considerações fisiognomônicas de cada tipo, que em julga-mentos como, por exemplo, vontade com disposição fraca ou forte, trata-se apenas da predisposição de uma só pessoa. Jamais, porém, pode-se ver até que ponto alguém se beneficiou de uma aptidão existente ou combateu e superou uma fraqueza constatada. O talento ou a falta de talento com que

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nasce uma criança já se mostra freqüentemente nos primeiros anos, deman-dando uma adequada intervenção pedagógica. Todavia, até que ponto esta foi bem sucedida dificilmente se faz reconhecer na forma. O polegar que se apresenta muito curto (ilustração 24) indica talvez existir uma fraqueza na região do metabolismo, ou uma inibição na vida volitiva. O polegar apresenta-se muito curto quando, colocado ao lado do dedo indicador, não ultrapassa pelos menos a metade da falange básica do segundo dedo. So-mente isso, naturalmente, não será decisivo. Depende ainda, e acima de tu-do, da impressão geral que o dedo proporcione. O olhar prático, quando se possui alguma compreensão artística, poderá logo avaliá-lo.

O polegar longo, que ao mesmo tempo se estende também na largura, indica a possibilidade de um forte organismo volitivo. Em qualquer caso deve-se considerar que nas costas da mão a conformação dos ossos aparece mais acentuadamente. Em geral este lado das costas é muito mais rústico e rijo; irradiando em direção à periferia termina, por fim, nas unhas bastan-te duras. Existe uma diferença essencial entre as costas e a palma da mão. Nesta não somente se destaca a maciez, mas também a configuração almo-fadada da musculatura que está dirigida para o centro da mão e mal permite ver algo da forma do osso. No polegar, quase sempre a polpa protuberante se encontra em primeiro plano, mais que o próprio dedo — isto é, visto

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do lado da palma —, denunciando quanta força repousa oculta numa só mão. A diferença que existe entre as costas da mão e sua palma expressa-se

claramente, do ponto de vista anímico, por dois gestos específicos. Quan-do alguém, inteiramente a partir do intelecto, mas com muita ênfase, cha-ma a atenção para algo que lhe parece ser claramente compreensível, colo-ca as costas da mão sobre a mesa à frente e acrescenta, por exemplo, a ob-servação: "Mas isto é tão óbvio, meus senhores", e toca repetidas vezes no tampo da mesa, como que para prová-lo. Às vezes também se diz: "Isso está na palma da mão!"

Entretanto, se entre os ouvintes surgir uma agitação de contrariedade e o orador se tornar cada vez mais excitado, ele tentará então reprimir os demais pela vontade, batendo com o lado interno, isto é, com a palma de sua mão sobre a mesa, e talvez grite: "Simplesmente não posso mais admi-tir isso!"

No primeiro caso ele se apoiou na sensação que lhe podem transmitir as costas da mão, mais rudes, mais voltadas para o endurecimento e para a intelectualidade, enquanto que no segundo caso manifestou sua vontade com a palma da mão, mais intensamente irrigada de sangue e fortalecida por músculos.

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O contraste entre o polegar e o dedo indicador manifesta-se pelo se-guinte movimento: quase sempre usaremos o dedo indicador quando dese-

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jarmos chamar a atenção para algo à nossa frente. Nesse caso o ato de apon-tar acontece, por assim dizer, em associação com os olhos. Entretanto, de-vendo ser mostrado algo atrás de mim, isso ocorre então sem que o olhar o acompanhe, na maioria das vezes com o polegar. Queixo-me, por exem-plo, no teatro, a respeito do homem que está sentado atrás de mim: "O ho-mem está fumando aqui!" E estendo o polegar para trás, sem me voltar. Sem-pre o polegar estará, pois, mais relacionado com um impulso da vontade. É necessário um grau mais elevado de esforço para chamar a atenção sobre algo que não posso ver com os olhos, mas que ainda posso perceber. Neste caso, por conseguinte, o polegar será acionado. Quando alguém quiser "pe-gar uma carona" na estrada, utilizará para isso o sinal de parada tornado quase internacional: o polegar. Tentará, com sua vontade claramente mani-festa, influenciar o motorista para que se detenha.

Em pessoas idosas e mais velhas nota-se, de vez em quando, que seu polegar parece ter uma curvatura mais côncava que na juventude (ilustra-ções 25, 26).

A articulação da base, que forma a ligação entre a falange básica e o osso subseqüente do metacarpo, torna-se mais nitidamente visível. Nesta con-formação do primeiro dedo anuncia-se por vezes um enfraquecimento do metabolismo e um início de enrijecimento. Isto pode manifestar-se acen-tuadamente em alterações reumáticas, sobretudo na velhice. Neste sintoma

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se expressa a maneira pela qual retrocedem os processos construtivos do metabolismo. Freqüentemente isto pode valer como indício de uma tendên-cia geral ao endurecimento. Tem-se então a impressão de que nessas cir-cunstâncias o polegar recua ainda mais da comunidade dos demais dedos. Todavia, essa forma de velhice poderia também ser entendida como resul-tado de determinados movimentos. Algumas pessoas adotam, já na juven-tude, o hábito de em certas ocasiões estender o polegar para longe de si, sem que ainda tenha surgido qualquer alteração nas articulações. As pes-soas quase sempre fazem isso quando, em suas atividades volitivas, separam-se o mais possível das demais emoções anímicas. Neste caso, porém, preva-lece algo enrijecedor, espasmódico; prevalece também uma certa obstina-ção, conforme se verifica facilmente em pessoas que envelhecem.

Ao que já foi mencionado acrescente-se resumidamente ainda o seguinte: na formação do punho, num acesso de fúria, quando o polegar se coloca sobre os outros dedos, torna-se imediatamente visível como uma vontade oprimida —combinada com a vida instintiva flamejando da região inferior — assume o domínio sobre o pensar e o sentir. No ato de recolher o pole-gar sob os demais dedos — por exemplo, na reflexão meditativa — revela-se, ao contrário, que os esforços da vontade devem ser reprimidos primei-ramente a partir de cima, pelo pensar. Mas o afastamento, acima descrito, do polegar — um terceiro movimento que pertence a este contexto — é mais um sinal de fraqueza no âmbito da atividade metabólica: causa um en-durecimento e uma espécie de imobilidade da vontade.

Como fenômeno da velhice, o gesto do polegar que se afasta é, do ponto de vista fisiognomônico, tão digno de nota por representar exatamente o oposto da mão fechada em punho do recém-nascido ao tomar sua alimen-tação e digeri-la.

II.

O DEDO INDICADOR

Este dedo parece ser um franco rival do polegar, já que se encontra tão extraordinária e fortemente ligado à atividade dos sentidos da observação e do pensamento. Já se falou de um parentesco com os olhos, o que deve ainda ser complementado com mais um aspecto: os olhos, como órgãos sen-soriais, têm uma influência muito grande sobre nossa observação, nossa re-presentação e nosso pensamento imaginativo. O olhar se relaciona, sobre-

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tudo, com luz e cor; ambos elevam-se acima da gravidade da Terra. O dedo indicador dos cegos substitui os olhos através da sensação do tato. Isto se realiza freqüentemente de maneira bastante notável, como na leitura, com os dedos, da escrita em relevo, onde em verdade não apenas o dedo indica-dor é ativo.

No dedo indicador observa-se em especial que ele, em sua atividade, tem sempre preferência por apoiar-se no sentido do tato. Isso é denuncia-do pelos mais variados movimentos: na verdade ele sempre anseia por um toque. Quando pensamos, conforme já mencionado, ele toca a fronte entre as duas sobrancelhas. Quando refletimos sobre algo, mas desejando silen-ciar os sentimentos, ele gosta de tocar a ponta do nariz (o nariz tem relação com o homem do meio, o homem sensitivo!). As crianças travessas que quei-ram expressar a aversão (outra vez sentimento, portanto) por alguém dão-na a entender por uma mímica inequívoca: apertando com força a ponta do nariz, agora não mais à maneira do movimento anterior, em que empur-ram a ponta do nariz um pouco para baixo, mas comprimirido-a para cima com o segundo dedo.

E quando se trata de conter qualquer expressão da vontade, por exem-plo ao falar, é igualmente o dedo indicador que aponta para a boca, que pertence à imagem do homem volitivo. Já se chamou a atenção para tal fato na parte geral, onde o ilustra o quadro de Fra Angélico (ilustração 11).

A força da atividade nervosa e da sensibilidade na falangeta do dedo indicador quase não tem paralelo em qualquer outro dedo (apenas, até cer-to grau, no dedo médio, do qual ainda se falará mais tarde). Por conseguin-te também é fácil notar como a configuração do dedo indicador se torna, até certo grau, reflexo das possibilidades da percepção e do pensamento de um homem.

O pensador bem capacitado geralmente ostenta uma unha cujo com-primento corresponde à metade da falangeta do dedo indicador. Ela não deveria, portanto, ser muito curta, sendo antes mais plana no sentido lon-gitudinal e levemente abaulada no transversal. Um recurvamento muito pro-nunciado, insinuando a forma de garra, denuncia normalmente uma ten-dência ao represamento a partir do peito. Uma pessoa assim está mais for-temente exposta a seus impulsos instintivos. Inclina-se antes a segui-los do que a deixar-se guiar por um pensamento claro. O recurvamento acentua-do da unha é mais freqüentemente encontrado em mulheres, as quais, já por sua natureza, seguem mais seus impulsos e não se deixam vencer tão facilmente pelo pensar abstrato. O amor pelos próprios instintos pode ser enfatizado exteriormente deixando-se, de bom grado, crescer a unha muito além da ponta do dedo, fato pelo qual a forma de garra, tal como se encon-tra em animais, manifesta-se ainda mais fortemente (isso é válido natural-mente para todos os dedos; entretanto, sobressai especialmente no segun-do dedo). A ostentação de unhas excessivamente longas indica, com fre-qüência, que se possa ter também a inclinação para enrijecer interiormente

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de maneira egoísta. Consideradas orgânica e clinicamente, elas são o puro contraste das unhas mordidas com violência, cujo significado já foi tratado em pormenores. Na figura (ilustração 27) vê-se uma longa unha do polegar portada com orgulho. Pertence a uma menina difícil de educar, que tenta obstinadamente impor sua vontade muito egoísta em qualquer oportunidade.

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Em uma consideração fisiognomônica talvez não seja levado tão a mal se entrarmos, mesmo que sucintamente, em um costume que em nossos dias recrudesceu extraordinariamente, a saber: o colorir e polir as unhas. Nesse procedimento encontra-se — inconscientemente — o anseio de recobrir e de "vivificar" com cores as partes do corpo que possam ser uma imagem do pensamento frio, talvez até mesmo duro. Tais medidas, da mesma ma-neira como a pintura do rosto, traem na pessoa, em sua vida cotidiana (não nos referimos, portanto, ao palco), uma falsidade. Na educação de crianças dever-se-ia atentar bem para que nem mães nem professoras se entregassem a tais tendências da moda, pois com isso destroem o íntimo sentido de ver-dade das crianças, a cuja formação é mister dar tanta importância!

Pode acontecer que a unha do dedo indicador se apresente, por sua própria natureza, demasiado curta. Isto permite supor que alguém sofra exa-tamente de uma insuficiência de forças formativas e do pensar. Tais pes-soas podem ter uma tendência a engordar, e possuem freqüentemente uma

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musculatura flácida. O rosto costuma ser mais arredondado e com traços pouco marcantes. Pelo caráter, tais pessoas são mais transigentes e inexpressivas em seu pensar (ilustração 28). Ao contrário, em uma unha um tanto longa demais e pouco arredondada denuncia-se a intenção inconsciente de alguém que de-seja depositar sua substância de endurecimento o mais possível na periferia do corpo. Esta configuração é muitas vezes acompanhada de um enrijecimento no pensar e um endurecimento que se estende até à região do metabolismo. Uma intensificação doentia dessa disposição manifesta-se, por exemplo, em doenças reumáticas. Nas articulações dos dedos formam-se espessamentos deformantes, caso em que podemos observar repetidas vezes essas modifica-ções em pessoas mais velhas, a começar pelo dedo indicador.

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Além da observação anterior, de que o dedo indicador revela sua rela-ção com o sentido do tato por buscar constantemente, em sua movimenta-ção, o contato com o objeto exterior, lembre-se ainda aqui que certas pes-soas, ao ler para si ou para ouvintes, adotam o hábito de continuamente deslizar o dedo indicador ao longo das linhas respectivas. Para apoiar os olhos, a pessoa quer prender-se ao texto com o dedo; sempre fará isso só com seu segundo dedo.

Um outro gesto merece ser citado porque, através dele, aparece igual-mente com clareza como o dedo indicador gosta de continuamente buscar

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um contato. Quando alguém está do lado de fora, diante da porta, e quere-mos chamá-lo para entrar e vir ao nosso encontro, executamos um movi-mento de aceno com o dedo indicador: o outro deve chegar ao nosso al-cance. Mesmo que não queiramos exatamente tocá-lo, o homem será de fa-to trazido para mais perto e, na verdade, por meio de um sinal que sempre será feito apenas com o dedo indicador. Quanto a este, é significativo que, em geral, as três falanges de que consiste sejam harmonicamente constituí-das e tenham aproximadamente o mesmo comprimento. Toda diferença mar-cante de tamanho indica, sem dúvida, uma determinada desarmonia no por-tador desse dedo. Pode ocorrer que não só a unha, mas toda a falangeta seja algo encurtada. Isto pode ser a expressão de diversas deficiências: uma fraqueza congênita geral dos olhos, uma miopia, uma certa falta de jeito oriundas de um deficiente sentido do tato, de dificuldades anímicas na vida do pensamento e da representação (ilustração 28).

Sendo o dedo indicador o primeiro dos dedos triarticulados levado à discussão, deve-se atentar para o significado fisiognomônico de possuirmos quatro dedos, cada qual consistindo de três falanges. Sob exame cuidadoso descobre-se, na verdade, que nestas partes da mão mais uma vez se anuncia um reflexo da trimembração, tão importante para o homem corpóreo e aní-mico. O polegar, por isso, exclui-se desta ordem; pois ele, conforme foi pre-cisamente explicado, está tão fortemente vinculado à atividade metabóli-ca que, para a formação de um membro intermediário de ligação, não res-tou mais nenhuma força formativa. Sua fração do meio deslocou-se parcial-mente para cima, para a falangeta, levando mais calor à atividade nervosa ali existente, enquanto que para baixo, na falange básica, mergulhou muito da mobilidade dos acontecimentos rítmicos. Todavia, como elemento do meio conservou-se do polegar apenas o fato de que, como parte da mão, em última análise ele ainda permanece ligado ao homem rítmico. Entretan-to, essa ligação por si só não foi, de qualquer modo, suficientemente forte para que uma mesofalange pudesse formar-se, como aconteceu nos demais dedos.

Não obstante, no dedo indicador, onde o pólo sensorial está tão forte-mente representado, continua subsistindo na maioria das vezes uma trimem-bração harmoniosa. Basta ver a ilustração 29, na qual as três partes do dedo têm aproximadamente o mesmo comprimento. Isto indica um desenvolvi-mento uniforme dos três membros corpóreos e anímicos *. Note-se que a primeira falange apresenta configuração vigorosa. Isto permite concluir que

* O Autor se refere aos três sistemas corpóreos (neuro-sensorial, rítmico-circulatório e metabólico-motor) e às três correspondentes atividades anímicas (pensar, sentir e querer). (N.R.)

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um forte elemento da vontade também se projeta para dentro do pensamento dessa pessoa, ou seja, que ela é capaz de executar aquilo a que se propõe.

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A ponta do dedo bem arredondada ressalta tanto uma boa capacidade de observação quanto uma boa capacidade pensante da pessoa. Também a fa-lange do meio está aqui bem desenvolvida, denunciando uma disposição harmoniosa da índole para com ambas as outras atividades da vida anímica.

Em contraposição a isso mostra-se totalmente diversa a configuração do dedo indicador com uma falangeta muito curta e a unha pequena (ilus-tração 28). As três falanges têm comprimentos desiguais e são mal modela-das. Na reduzida falange da unha fica visível a difícil disposição para pen-sar, assim como certa rusticidade da vontade na falange básica mal forma-da. O sentir só se inclui com dificuldade.

Estes dois exemplos servem para conscientizar-nos de como apenas neste dedo indicador já se manifesta a essência do homem todo: o pensar, o sen-tir e o querer. Isso é possível porque justamente este dedo possui, em medi-da especial e em cada membro, o representante de cada um dos três proces-sos do corpo ou da alma. Para os dedos individuais isso naturalmente torna a modificar-se em correspondência com as respectivas relações, mais fortes ou mais fracas, com os três sistemas orgânicos, semelhantemente às varia-ções de um tema musical. Em um primeiro momento isso talvez possa parecer

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confuso, mas logo mais poderá proporcionar felicidade por sua multiplici-dade. Nenhum esquematismo precisa dirigir-nos — apenas um pensamento espiritual condutor.

O "dedo do pensar", como também designamos o dedo indicador, ensina-nos de maneira tão clara que, com efeito, em todas as suas atividades a percepção nervosa do tato e a atividade pensante encontram-se em primeiro plano — mas estes processos são também sempre acompanhados daquilo que, ao lado da falangeta, ainda têm a acrescentar as falanges do meio e da base. Lembremo-nos de que cada nervo não pode subsistir por si, tendo, ao contrário, de ser abas-tecido com sangue e alimento. Em última análise isso corresponde, ainda que apenas em uma consideração fisiognomônica, àquilo que Rudolf Steiner en-sinou em sua A filosofia da liberdade*: que, afinal, cada pensamento está impregnado de uma medida de vontade, sendo acompanhado por um sentimento.

Com isto chegamos a uma bem definida concepção ternária dos quatro dedos: em cima temos a "cabecinha" recoberta pela unha, a falange supe-rior; a esta segue-se a de ligação, a do meio. Embaixo vive, por fim, a por-ção mais volumosa, na falange básica. Observada pelo lado interno da mão, esta bem poderia ser qualificada também como "barriguinha" do dedo. Aí sobressaem, mais acentuadamente, os músculos da flexão (também anato-micamente se fala de "ventre do músculo"). Em mãos particularmente atlé-ticas isto se manifesta claramente. Uma mão de pianista também permite observá-lo bem (ilustração 30).

Resumindo, deve portanto ser dito, a respeito do dedo indicador, que o desenvolvimento harmonioso da alma em uma pessoa consegue deixar também nele sua impressão. Esta expressa-se por uma conformação bem pro-porcionada de todas as três partes do dedo. Cada desvio mais acentuado no tamanho, a favor da falange superior, da média ou da inferior pode ser atribuído correspondentemente às indicações anteriormente mencionadas.

III.

O DEDO MÉDIO

Este dedo ultrapassa em tamanho todos os outros e também parece, por isso, ser o mais importante de todos: estando situado no meio, poder-se-ia

* Ed. brasileira em trad. de Marcelo da Veiga (3. ed. São Paulo: Antroposófica, 2000) . (N.E.)

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igualmente achar que ele dirigisse os restantes. Toda a extremidade supe-rior do corpo humano, começando do ombro, passando pelo braço e pelo antebraço, termina, no sentido externo, com toda a naturalidade na ponta do dedo médio. No dedo médio temos a irradiação do homem do meio es-tendendo-se ao mais amplo alcance para fora.

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O respectivo osso do metacarpo passa exatamente pelo meio da mão, e o centro da palma da mão, anteriormente mencionado, encontra-se mais ou menos no meio do terceiro osso do metacarpo. Lembrando-nos de que os braços e mãos pertencem ao homem rítmico, assim o dedo médio é co-mo que o mais mediano do meio. Dentre os dedos ele se torna o portador do apoio, o eixo em torno do qual tudo gira. A conclusão seguinte mostra ainda o quanto ele está vinculado ao meio: quando expúnhamos a triarticu-lação dos quatro dedos, pudemos constatar como a falange superior tem sempre mais a ver com o sistema neuro-sensorial e a inferior apresenta um íntimo parentesco com o sistema metabólico. Ao contrário, na falange do meio sempre interfere o homem da respiração e da circulação. Do exame do dedo médio resulta não apenas que ele é o maior, mas também que este fato está ligado à respectiva falange mediana, por ser esta a mais longa — mais longa até que qualquer outra parte dos dedos. Isto é muito digno de

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nota, e deve ser expresso com muita clareza. Assim fica patente que preci-samente esta parte do dedo médio é a mais bem formada, e que também aí está, novamente, como um representante da região do meio. É assim, tão precisa e sabiamente, que a Natureza trabalha em nós. Isto se revela quando se tenta penetrar com maior precisão em suas formas.

Com relação ao comprimento dos dedos, talvez se deva acrescentar ain-da que estes, fisiognomonicamente, isto é, tomados segundo a observação, só abrangem a extensão em que são livremente móveis e não estão ligados entre si por nenhuma ponte dérmica. Os nodos * não são mais imputáveis aos dedos, fazendo parte da região que adiante será discutida como a mão propriamente dita. Também no sentido anatômico, estes devem ser consi-derados como pertencentes aos ossos do metacarpo.

Ao dedo médio, em sua singular posição central entre os dedos, che-gam também razoavelmente todas as propriedades dos demais, em propor-ções bem uniformes. Sua sensibilidade é muito boa, mesmo não sendo igual à do dedo indicador. A própria unha é, às vezes, menos encurvada que em outros dedos. Com isso se expressa uma vinculação mais forte ao sistema neuro-sensorial; no entanto, a falangeta é menos delicadamente modelada que a do dedo indicador. Com isto, torna-se visível uma certa subordina-ção do terceiro dedo ao segundo, no que se refere à sensibilidade tátil. Não obstante, ambos formam juntos um extraordinário órgão do tato para o ho-mem, quiçá o melhor dos que ele possui. O comprimento da mesofalange já foi especialmente enfatizado; ela é maior que todos os demais segmentos dos dedos. Neste aspecto, assemelha-se mais à do vizinho externo, isto é, à mesofalange do dedo anular. Precisamente esta parte, por seu comprimen-to, mostra a profunda ligação do dedo médio com o sistema rítmico.

Este parece também ser o mais sadio de todos os dedos. Ressente-se muito menos de desordens da circulação do que por exemplo o dedo indi-cador, o qual, sob o efeito do frio, está mais sujeito a espasmos dos vasos, que podem levar a uma temporária aparência cerosa da pele. Também as frieiras, igualmente um sinal de má irrigação sangüínea em tempo frio, ata-cam com muito maior freqüência o segundo dedo do que o terceiro; o mes-mo vale também para a manifestação de pequenos caroços reumáticos nas articulações, os quais aparecem preferencialmente no dedo indicador, en-tre a falangeta e a mesofalange. O terço inferior do dedo médio é igualmen-te muito bem desenvolvido, melhor que nos dedos restantes. Pelo lado in-terno da mão vê-se muito bem, na primeira falange, o forte abaulamento do músculo flexor. Isso indica a força deste dedo e, simultaneamente, sua estreita relação com os processos da alimentação e do metabolismo do or-ganismo. Quando se pondera sobre todas essas propriedades do dedo mé-dio, elas não proporcionam senão a confirmação de que o mesmo pertence

* Saliências ósseas (neste caso, situadas na articulação do metacarpo com a primeira falange). (N.R.)

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às partes mais harmoniosas da mão. Nele não se formou nenhuma aptidão exagerada ou unilateral. Ele é o cidadão bem formado, ideal nesta comuni-dade tão importante!

As citadas características do dedo médio devem ser, em primeiro lu-gar, conscientemente compreendidas pelo educador, caso se deva chamar sua atenção para determinados desvios da forma em crianças com predis-posição para fraquezas. Então ele poderá, ainda na época certa, intervir cor-retivamente no sentido pedagógico, médico e social. Ser-lhe-á mesmo pos-sível pressentir até que ponto um resultado poderia ser mais facilmente al-cançado. Pode-se pensar nisso durante a abordagem do dedo médio, uma vez que este, por sua saúde natural, será como que o mais apto para assumir aquilo que um outro não mais esteja em condições de fazer. Deve-se, por isso, levar particularmente a sério quando, por exemplo, uma criança apre-senta modificações que sejam visíveis até mesmo no terceiro dedo.

Tomem-se, por exemplo, as mãos de um menino em ambas as ilustra-ções (ilustrações 31, 32).

A mão toda já demonstra com clareza tratar-se de uma pessoa que, por na-tureza, desenvolveu-se de maneira amolecida em seu ser, evidenciando-se que acumula gordura com facilidade. Sente-se a pele invulgarmente delica-da, estando, na maioria das vezes, quente e algo úmida. A aversão às forças

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formativas endurecedoras mostra-se aqui também nas unhas profundamen-te roídas. O menino empenha-se honestamente em abandonar esse hábito desagradável: já teria idade suficiente para fazê-lo com total consciência, mas é impedido por sua vontade fraca demais. Esta revela-se, aliás muito nitidamente, no polegar que se apresenta muito curto. O menino possui tam-bém um peso muito elevado. É com uma paixão cerimoniosa que ele sabo-reia sua alimentação. Procuremos então, para finalizar, novamente fazer um exame mais aprofundado de um dedo médio especial, isto é, o do menino recém-descrito; da ilustração se infere que a falangeta é certamente muito curta e demasiadamente grosseira na forma. As forças formativas intervêm apenas debilmente. Isto atinge mais esse dedo que o indicador. Os recursos do pensar estão fracamente esboçados. A falange do meio mostra-se pouco formada e, observada pelo lado das costas da mão, parece inchada. Com certeza não nos enganaremos se concluirmos, a partir dessa mesofalange do dedo médio, por uma vida dos sentimentos preguiçosa e superficial.

A primeira falange, contudo, permite deduzir um bom desenvolvimen-to muscular, porém é por demais curta e comprimida. Nisso se reconhece um metabolismo muito presente, que permanece enredado em si mesmo e não deixa sair da alma a verdadeira vontade.

Em um caso tão difícil como esse, são necessários anos para se levar o menino a um pensamento organizado, porém conduzido por fantasia. Pin-tar com cores fortes talvez pudesse despertar essas forças cerebrais ador-mecidas. Exercícios musicais, aprender a tocar um instrumento, deveriam servir para levar a uma organização e a um aprofundamento no âmbito sen-timental. O mais importante para o menino será a regularização da vida vo-litiva. Em primeiro lugar dever-se-ia fazer tudo para regrar com toda a pre-cisão o seu dia, não lhe deixando tempo algum para entregar-se à sua indo-lência inata.

Em tal caso mais doentio, na certa serão mais claramente reconhecidas do que numa pessoa sadia as modificações notórias que atingem a silhueta, e cujo esclarecimento a observação da mão nos pode fornecer.

IV.

O DEDO ANULAR

Sobre este dedo atuam forças de natureza muito diversa, na esfera da mão. Pode surpreender que o dedo anular apresente disposição quase si-

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métrica com o dedo indicador. Ambos situam-se — na maioria das vezes, mas não sempre — na mesma altura, tendo aproximadamente o mesmo com-primento. Não existe, entre todos os cinco dedos, uma tal semelhança en-tre si como a têm precisamente estes dois. Na verdade, porém, isso resulta apenas de uma observação mais superficial, pois o dedo anular contém muito menos de um verdadeiro "dedo do órgão sensorial" do que os dedos indi-cador ou médio. A unha do quarto dedo é normalmente mais abaulada que a do segundo. Nisto já se reflete novamente como o dedo anular é muito mais atingido por emoções inconscientes. Também pudera: em seu caso is-to não pode ser de outro modo, pois lhe é pertinente! Comparações são muito úteis em observações fisiognomônicas. Ao examinarmos os dedos in-dicador e anular vistos a partir de cima, podemos constatar que a mesofa-lange do dedo indicador possui na maioria das vezes uma leve curvatura no lado voltado para o dedo médio. Com ela fica insinuado que o dedo in-dicador, antes de tudo, aponta sempre para fora, para o exterior, para lon-ge do corpo (ilustrações 33, 34).

Em contraposição descobre-se, na mesofalange do dedo anular, justa-mente uma curvatura similar para o lado do dedo médio, porém exatamen-te na direção oposta. Ela está dirigida para o corpo do homem — portanto, não para longe dele, como no dedo indicador, mas justamente para o inte-

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rior. Mantendo-se os dedos contra a luz, aproximadamente dispostos lado a lado, tornar-se-ão visíveis, sem sombra de dúvidas, ambas as curvaturas aqui mencionadas.

Já na parte geral havíamos chamado a atenção para o fato de que o quar-to (e também o quinto) dedo mantém relação próxima com o sistema rítmi-co, isto é, com o homem do sentimento, toda vez que a mão for considera-da do ponto de vista do organismo trimembrado. Desta maneira, torna-se compreensível também que o dedo anular, geralmente em conjunto com o dedo mínimo, exiba esta leve inclinação voltada mais para o interior. A vida do sentimento é experimentada interiormente de modo muito mais forte que a atividade dos sentidos.

Usualmente o dedo anular é um pouco maior — com freqüência trata-se apenas de milímetros — que o dedo indicador. Este é um fato sobre o qual, costumeiramente, não se pensa. (A maioria das pessoas, se pergunta-da, diria que é o inverso.) Isto é fácil de identificar porque a unha do dedo indicador, na maioria das vezes, está aquém da do dedo anular, mas ultra-passa a inserção da unha do dedo médio. Ainda voltaremos a tratar das di-versas variações individuais. Não é por acaso que até os dias de hoje a alian-ça é colocada no dedo anular. O dedo que está mais vivamente ligado à ínti-ma e amorosa vida do sentimento é o que também carrega o símbolo do amor. É importante voltar a lembrar isso para a compreensão do significa-do deste quarto dedo. Ele também possui tendência a dobrar-se de forma algo arredondada. Freqüentemente faz isso em comum com o dedo míni-mo, realizando um gesto que atua como uma interiorização, a qual se pren-de sobretudo à essência do sentir.

A descrição mais precisa de certos gestos em que esses dedos têm espe-cial participação poderá ainda contribuir sobremaneira para uma explica-ção esclarecedora acerca da aparência de cada um dos dedos e de sua atua-ção conjunta.

Uma pessoa deseja refletir sobre algo, enquanto está sentada numa ca-deira. Naturalmente tentará aliviar o peso de sua cabeça, uma vez que preci-sa é da leveza dos pensamentos! Por isso, apóia o cotovelo. A mão é dobra-da com vigor, para trás e para fora, e o queixo colocado entre a palma da mão e o polegar. Dessa maneira a cabeça repousa confortavelmente (ilustra-ção 35)- O polegar, que na ilustração permanece invisível em virtude da fo-tografia lateral, é utilizado nessa posição também para ajudar a suportar o peso da cabeça (pois no caso deste dedo trata-se sempre de uma certa osten-tação de força!). O "dedo do sentido" e o "dedo do pensamento" são orien-tados para cima e levemente apoiados na face. Do dedo indicador e do mé-dio poder-se-ia deduzir que desejam buscar de cima para baixo os pensamen-tos corretos — eles ficam aguardando que as idéias cheguem. Entretanto, o dedo anular e o seu pequeno irmão estão enrolados como sinal de que os sentimentos do meditante repousam tranqüilamente na alma e preferem não

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intervir na vida mental. Ambos estes dedos comprimem o queixo na posi-ção que, para eles, é muito característica. Nesta atitude se expressa algo de-terminado. O queixo pertence ao homem volitivo, e os dedos "do senti-mento" comprimem esta parte da face. O gesto denuncia: "Os pensamen-

tos que a mim chegarem eu acolherei; entretanto, aquilo que meus senti-mentos me mostrarem eu converterei também em ação." É assim que esta posição da mão pode ser melhor interpretada. Para esse homem ela não é, certamente, nenhuma postura ocasional, e sim corresponde à essência de-le. A personalidade é Alfred Nobel, o inventor técnico e fundador do Prê-mio Nobel. Aquilo que ele, de certa feita, escreveu a lápis no verso de um de seus escritos de laboratório poder-se-ia talvez ler na expressão das mãos

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nessa ilustração: "Aqui há tanto uma filosofia do sentimento quanto do pen-samento." *

Quanta coisa também se denuncia, com freqüência, em somente peque-nas variações de tais posturas! Veja-se a ilustração seguinte (ilustração 36), que igualmente mostra uma posição meditativa.

O dedo indicador está dirigido para cima, porém repousa atrás da ore-lha. São pensamentos que ele deseja trazer para baixo, certamente bem di-ferentes daqueles procurados pelo inventor. Entraríamos demais no fanta-sioso se quiséssemos admitir que essas idéias pudessem advir de muito mais

* Citado em uma biografia: Alfred Nobel, the man and his work, de Bergengren. Londres, Thomas Nelson and Sons Ltd., I960.

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longe? Também neste caso o polegar apóia a cabeça, mas três dedos estão curvados e completamente recolhidos no anímico. O dedo anular e o míni-mo estão enrolados, como cabe ao homem que sente em profundidade; e o dedo médio — que, como o fiel na balança, pode dar a decisão — renun-ciou à sua comunhão com o dedo indicador e associou-se à comunidade de seus outros irmãos. Neste gesto a figura do envelhecido regente Furt-wãngler denota que o pensamento não mais se encontra, como outrora, tão vigorosamente em primeiro plano (o dedo indicador aponta de fato para cima, porém é mantido mais para trás); tornou-se agora mais importante, sobretudo, a cálida atmosfera do coração; esta prevalece (até o dedo indi-cador aponta para o anímico), mas a genuína força da juventude parece haver-se desvanecido. A cabeça está levemente inclinada para o lado e o polegar tem de transformar-se em suporte para vencer o cansaço. Mas o mun-do do sentir intervém, de fato, no reino da vontade. Aquilo que, como sen-timentos, habita a alma deslocar-se-á ainda para o campo da ação. Daí re-pousarem, pois, os três dedos na região do queixo. O artista ainda realizará coisas; ele fará a música ressoar, tal como esta vive em seu interior. É isso que nos conta o retrato com a postura de dedos tão expressivos.

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Dentro desta seqüência pode ser trazido mais um gesto, no qual até mes-mo todos os quatro dedos são levados, enrolados, ao queixo, e aí permane-

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cem. O polegar, invisível, mal serve de suporte substancial, apesar de pa-tentemente também comprimir por trás, de leve, o maxilar inferior. O ele-mento anímico está fortemente atingido, o que já se pode reconhecer no fato de não só o dedo médio ter sido levado à mesma atitude dos "dedos do sentimento" — o próprio dedo indicador o acompanha, embora um tanto contidamente. O homem olha para alguém com total inquietude de seu sen-timento. Não deseja, todavia, deter-se por longo tempo nesse tipo de ob-servação. Em breve intervirá amorosamente a partir da sua vontade de aju-dar, fortemente ativa, para fazer algo útil. Aqui se trata de um médico que, tendo sido consultado, deseja no instante seguinte ajudar seu próximo com solicitude (ilustração 37).

Por fim, uma pessoa pode apoiar a cabeça totalmente em sua mão, en-quanto os dedos saem para o lado; não é nenhum quadro impressionante o que se apresenta. A pessoa parece estar ou indolente ou muito cansada. A inatividade interior logo a levará ao sono (ilustração 38).

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A comparação entre as duas figuras (ilustrações 38a e 38b) mostra o quão sutis podem ser as gradações dos diversos gestos das mãos. Em uma delas Rembrandt pintou um ancião mergulhado em pensamentos. Notam-se os quatro dedos do lado direito, que apoiam a cabeça apenas levemente. Dos quatro dedos participam principalmente só as falangetas e, quando muito, ainda a metade das falanges centrais. A meditação do homem parece eleva-da acima de toda contemporaneidade, relacionando-se, talvez, com remi-niscências do passado que possam estar emergindo perante o olhar interior. Na outra figura temos o auto-retrato do envelhecido pintor Thoma. Tam-

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bém ele apoia a cabeça com a mão direita. Vemos todos os cinco dedos — e o que fazem eles? Seguram, realmente, o peso da cabeça — que parece não estar aliviada de pensamentos, mas sim precisamente sobrecarregada destes. Nos dedos e na mão já não se estampa muito do que normalmente estes manifestam, a afetividade da alma — o que na pintura de Rembrandt ainda pode ser vivenciado com nitidez. Entra em cena o puro caráter dos membros.

Nesta mão restou apenas a força capaz de suportar um peso; a mão di-reita ainda pode ao menos fazer isso, enquanto a esquerda, um tanto visí-vel, apenas repousa pesadamente sobre sua base.

Quão diferentemente estas duas pessoas atravessam sua velhice! A pos-sibilidade de representá-lo de forma artística repousa principalmente na po-sição das mãos. Em Rembrandt estas ainda estão inteiramente impregnadas de alma; em Thoma sucumbiram às forças terrestres. Podemos prezar am-bas, pois personificam uma verdade de forma bela.

O dedo anular parece estar participando o tempo todo, quando se tra-ta de um sentimento profundamente anímico. Para ilustrá-lo, lembremo-nos novamente do músico regente, que precisa extrair tudo de uma orquestra pelo impulso de seus braços e mãos. Quando o regente emprega uma batuta — são relativamente poucos os que prescindem desse instrumento —, esta

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serve à mão direita como uma extensão do dedo indicador e até certo grau também do dedo médio, enquanto o polegar deve mais controlar o peso do bastão. Em parte, o dedo médio já está entregue ao anular e ao mínimo. Estes dois mostram também o gesto afetivo interior (ilustração 39).

Poder-se-ia afirmar que a mão direita do maestro, pela forte participa-ção do dedo indicador nas entradas corretas, tem ocupação mais intelec-tual que a esquerda. Aqui o "dedo pensante" direito desempenha fortemente — para a orquestra inteira — o papel de dedo monitor, enfatizado ainda, em seu significado, pela batuta. Em maior escala, no entanto, pode ser re-conhecido como o dedo anular esquerdo e, adicionalmente, o dedo míni-mo do regente tentam extrair dos músicos o aspecto anímico especialmen-te tênue, que brota na música da profundeza da alma e pode estar contido em determinado rubato.

Nas mãos de Furtwángler talvez ainda se possa ver como esses dois de-dos executam exatamente o movimento em questão, embora isso possa ser mais difícil de reconhecer na figura ora disponível (ilustração 40).

Observada no nosso ponto de vista, a mão esquerda do célebre regente Leopold Stokowski, fotografada enquanto ele rege sua orquestra, é muito digna de nota (ilustração 41). Enquanto o dedo indicador se ocupa de algu-ma entrada, o polegar, sempre mais vinculado à vontade, retém o dedo mé-dio — o qual, de outro modo, aparentemente poderia acompanhar com fa-cilidade o segundo dedo — e o dirige rumo ao elemento sentimental do quar-

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to e do quinto dedos, que por sua vez expressam, em uma bela curvatura, aquilo que interiormente deseja ser vivenciado na alma. De modo todo exem-plar manifesta-se a posição profundamente afetiva da mão do dirigente Carl Schuricht (ilustração 41 a).

O dedo anular, que em freqüente associação com o dedo mínimo abri-ga tão intensamente a vida dos sentimentos do homem, é, portanto, como

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que o mais musical de todos os dedos. A um pianista eminente foi certa vez indagado — sem que ele nem suspeitasse por quê — se, na qualidade de pianista, ele poderia avaliar a aptidão de seus dedos em especial. Após cur-ta reflexão, ele respondeu, imparcialmente: "Quando é necessário expres-sar algo muito profundo da alma, totalmente proveniente do sentir, o quar-to dedo será o mais capaz de fazê-lo, bem como o dedo mínimo, até certo grau." Para exemplificar, citou prontamente um trecho que lhe era muito familiar, do movimento lento da sonata Waldstein, de Beethoven; ele ja-mais tocaria certos compassos de um arabesco de Schumann senão com o dedo anular, para expressar a intimidade romântica inerente a esta peça.

Tal manifestação de um músico profissional — um pianista praticante há decênios — é uma benvinda confirmação do parentesco do dedo por úl-timo descrito com o âmbito afetivo. Muito belo de se contemplar, sob este ponto de vista, é também o molde de gesso da mão de Chopin (ilustração 42).

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Justamente o quarto dedo apresenta a forma mais nobre, enquanto nos de-mais dedos sobressaem alguns sinais de doença (por exemplo, os espessamen-tos nas articulações medianas do indicador, do dedo médio e do mínimo). Segundo as descrições, jamais houve de fato alguém que, com igual delicade-za de expressão, soubesse tocar composições de Chopin como ele próprio.

Um dedo anular da mão esquerda extraordinariamente bem constituí-do é ostentado, conforme se pode ver na foto (ilustração 43), pelo grande violinista Jascha Heifetz. Este dedo tem conformação bem proporcionada; e o que antes de tudo aparece confirmando tão bem o nosso sentido é cons-tatável na mesofalange distinta e longa.

Os dedos anulares de Pablo Casals, de conformação particularmente ca-

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racterística (ilustração 43 a — mão direita; ilustração 43 b — mão esquerda), também são sobremodo notáveis.

Nesta seqüência de mãos de músicos mencionem-se ainda as de Wi-lhelm Backhaus (ilustração 42 a) e Alfred Cortot (ilustração 42 b). Em am-bas se notam os bem formados e longos dedos anular e mínimo da mão di-reita.

Em contraposição, sempre se mostram encurtamentos do dedo anular quando existem dificuldades especiais na vida dos sentimentos e no ritmo da circulação. As respectivas deformações serão melhor discutidas juntamente com o dedo mínimo, a cujas modificações são, na maioria das vezes, simul-tâneas.

V.

O DEDO MÍNIMO

O assim chamado dedo mínimo é realmente o menor dos quatro dedos triarticulados. Na mão bem formada, sua estrutura é muito harmoniosa (ilus-tração 34). Neste caso, a primeira, a segunda e a terceira falanges são apro-ximadamente do mesmo comprimento. Já na abordagem do dedo anular se aludiu repetidas vezes ao parentesco existente entre esses dois dedos. Am-bos estão estreitamente relacionados com o homem sensível, com o homem rítmico. São uma espécie de espelho do mesmo, e geralmente trabalham bem, juntos, em tudo que se refere ao sentir. Não obstante, há uma diferença pro-nunciada entre ambos. Poder-se-ia indagar por que o dedo mínimo se apre-senta tão pequeno. Do ponto de vista anatômico, em parte é porque a arti-culação inferior se insere mais abaixo que as dos outros três dedos. Desta maneira o dedo mínimo, em sua posição natural, alcança mais profunda-mente a esfera do metabolismo — o que vale, em medida muito mais eleva-da, para o polegar. De resto, o polegar e o mínimo têm, entre si, uma seme-lhança em alguns aspectos, a qual se fundamenta até mesmo anatomicamente: ambos possuem, em suas musculaturas — diversamente dos outros dedos — um músculo que possibilita uma contraposição (o "contrário" do pole-gar e o "contrário" do quinto dedo). Além disso, abaixo do dedo mínimo se encontra igualmente uma camada muscular mais espessa, a "contrapol-pa", do mesmo modo como, por seu lado, encontra-se abaixo do polegar sua

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espessa polpa.* Apesar de sua musculatura mais delicadamente disposta,

Ou tenar. (N.R.)

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o dedo mínimo é um robusto companheiro! Chopin, por exemplo, indaga-do certa vez sobre a força de seus dedos, declarou que para ele, após o pole-gar — que com relação à força deveria ser colocado em primeiro lugar — viria, logo a seguir, o seu dedo mínimo. Este pode, graças às forças muscula-res que lhe são inerentes, conferir ao seu vizinho fraternal um pouco mais do calor da vontade do que, sem essa ajuda, o dedo anular possuiria. O quarto e o quinto dedos também são, do ponto de vista anatômico, especialmente ligados pelo fato de seus tendões provirem de um ventre muscular comum. Conseqüentemente, certos movimentos só são possíveis em conjunto. Tudo isso pode transcorrer acertadamente desde que o dedo mínimo não fique atrasado em seu crescimento. Sua extensão é mais ou menos correta quando sua ponta ultrapassa pelo menos um pouco a altura da articulação superior do dedo anular. No dedo mínimo, algo delicadamente anímico pode encon-trar uma expressão visível. A proximidade deste dedo ao dedo anular indi-ca, de fato, a possibilidade de o mais instintivo-impulsivo, tal como facil-mente se lança dominadoramente corpo acima a partir do metabolismo, se-ja transferido ao âmbito verdadeiramente afetivo. Circustancialmente isso po-de vir muito bem à luz em um grande violinista. Veja-se o quinto dedo de Jascha Heifetz (ilustração 43).

Na maioria das vezes, o encurtamento do dedo mínimo indica uma fra-queza na região do homem mediano. Muitas vezes isto pode ser apenas um indício genérico, sem precisarmos ser tentados, por conseguinte, a fazer um diagnóstico. Tampouco este é, absolutamente, o propósito deste trabalho. O desejo é sempre mostrar que distúrbios situados mais profundamente no or-ganismo podem inscrever-se até nas formas das mãos.

Nesse sentido é bem digna de nota a mão de um jovem, vítima de uma deformidade congênita — uma abertura na parede que separa o coração es-querdo do direito. Ele foi operado com sucesso há alguns anos. O dedo mí-nimo do menino não só cresceu muito pouco, como também cresceu para dentro, isto é, encurvado em direção ao dedo vizinho. Pode-se ter quase sem-pre certeza de que malformações como esta chamam a atenção para quais-quer predisposições doentias de natureza corpórea no sistema rítmico, ou para dificuldades anímicas da vida dos sentimentos. Nada se pode dizer a respeito da dimensão ou mesmo da cura ocorrida! No presente caso é ex-traordinariamente significativo que, além da modificação do dedo mínimo, também o dedo anular apresente uma propriedade relativamente rara, ou seja, mostre-se de fato mais curto que o dedo indicador, o que em geral contraria a regra. Isso se evidencia tanto pelo lado das costas da mão (mão direita, ilustração 44) como pela palma da mão (mão esquerda, ilustração 44 a). A relação de tamanho entre o dedo indicador e o dedo anular é contrária à usual.

Também o dedo curto de um outro jovem deve ser mencionado. Nele, o aspecto doentio mostra-se especialmente em uma mania de roubar tudo que se encontra ao seu alcance e que por qualquer motivo lhe agrade. Os

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sentimentos vivem muito fortemente sob a influência da impulsividade. Daí quase lhe faltar qualquer sentimento de responsabilidade, de maneira que ele nega calmamente seus roubos, mesmo quando pego em flagrante. Deixa-se impelir preponderantemente pela vida instintiva descontrolada, o que por fim se revela também nas unhas roídas (ilustração 45).

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Entretanto, se tais impulsos forem combatidos a tempo mediante uma educação compreensiva, uma inclinação de tal ordem não precisará jamais apresentar-se na vida; pois tão logo uma forte vontade autoconsciente do homem se desenvolve no decorrer do tempo por meio de exercício ade-quado, perigos ameaçadores podem passar sem que esse efervescente sub-mundo anímico ouse jamais apresentar-se à luz do dia.

A observação ensina que a unha do dedo mínimo forma, com freqüên-cia, a curvatura mais acentuada dentre todos os dedos. Tal fato está em sin-tonia com a indicação, feita anteriormente, de que o abaulamento se forma com tanto maior intensidade quanto mais o inconsciente se insere no senti-mento; muitas vezes isso pode ser até um sinal do quão fortemente o ani-malesco se entranha no caráter. O dedo mínimo, em sua conformação, é aquele em que mais se evidencia tudo isso. Mesmo que, conforme já foi mos-trado, o sexo feminino tenha a tendência especial de exibir-se com as unhas arredondadas, não é raro encontrarem-se homens que deixam crescer a unha do dedo mínimo até um comprimento considerável. Quando o fazem, de-sejam — inconscientemente, é claro — gabar-se dos instintos que neles pu-lulam; hoje em dia, freqüentemente, tem-se até orgulho dos mesmos. Ou-tras pessoas, que enfatizam particularmente o fato de possuírem uma certa força vinculada à severidade — trata-se, com maior freqüência, de homens mais simples — deixam crescer o tanto quanto possível a sólida unha do polegar. O nosso exemplo (ilustração 27) refere-se, no entanto, a uma me-nina.

Podemos ainda citar aqui um gesto, uma vez que é executado sobretu-do com o dedo mínimo: uma pessoa toma uma xícara de chá, um copo de vinho ou outra coisa qualquer; quando ergue o recipiente em que o líquido se encontra, sente-se impelida a afastar seu dedo mínimo curvado para lon-ge, quase como num espasmo. Tenta, desta maneira, comportar-se elegan-temente e assume uma atitude como se absolutamente não lhe interessasse o iminente e imediato prazer que se lhe defronta. De fato, porém, o gesto descrito expressa o seguinte: "Na verdade vive em mim a cobiça pelo esti-mulante"; o dedo mínimo desliga-se da comunidade de seus irmãos, dá ex-pressão ao instintivo, porém quer apresentar ao mundo uma aparência de tranqüilidade e incorre no movimento espasmódico descrito. Nele se ex-pressa, num instante, um conflito relativamente discreto entre o impulso para o prazer e a intenção de não querer mostrá-lo.

Este é um gesto bem discreto; no entanto, trai certos abismos interio-res, aos quais uma pessoa também pode atentar por si mesma a fim de ad-quirir maior conhecimento de si própria e poder agir de maneira adequada. Talvez se possa, a seguir, expressar também uma suposição a respeito de um processo doentio que, na verdade, só se manifesta em idade algo mais avançada. Sucede que os tendões dos dedos individuais contraem-se de tal forma que pouco a pouco sua distensão não é mais possível. É então manti-da permanentemente uma posição que certas pessoas assumem apenas de

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modo passageiro e semiconsciente em determinadas ocasiões, por exemplo ao beber ou comer. Pode-se imaginar muito bem o quanto corresponde a todo o caráter de uma pessoa que se esforça durante a vida inteira por ocul-tar seus impulsos e não permitir que emerjam na superfície do mundo visí-vel, o fato de que na velhice a posição se fixar onde, anteriormente, tam-bém já surgia com facilidade. Lembremos comparativamente como, por exemplo, em uma pessoa que por longos anos se habituou a franzir a testa formando determinadas rugas, criam-se sulcos profundos, visíveis também em serenidade total. Transformam-se em rugas permanentes a partir das quais se pode ler algo dos acontecimentos na vida anímica.

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É justamente o dedo mínimo que se transforma com tanta facilidade no reflexo daquilo que se desenrola no limite dos elementos impulsivo e sentimental. Esta é também a razão pela qual, em muitas crianças mais ou menos atrasadas, descobre-se com freqüência um encurvamento do dedo mínimo (ilustrações 46 e 46 a). Essas crianças carentes de cuidados aními-cos — conforme são chamadas muito corretamente na pedagogia curativa empregada no sentido de Rudolf Steiner — distinguem-se, pois, de modo todo especial por uma impulsividade inconsciente que continuamente amea-ça dominá-las. Na maioria das vezes não se trata simplesmente da pequenez do dedo mínimo, mas da curvatura da falangeta e de sua articulação. A mes-ma se dirige quase sempre para dentro, rumo ao dedo anular, conforme tam-

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bém se depreende claramente das ilustrações.

Neste ponto temos de frisar mais uma vez que jamais se pode fazer um verdadeiro diagnóstico a partir da aparência; mas nas diferentes dificulda-des da vida corpórea e anímica constata-se, por exemplo, uma modificação na configuração do dedo mínimo.

Uma criança difícil em todas as emoções do sentimento — não deve-mos aqui descer a detalhes — é a menina cujas mãos estão reproduzidas nas ilustrações 47 e 48. Na palma da mão direita nota-se bem como a falangeta do quinto dedo desvia-se para o dedo anular, e na mão esquerda (ilustração 48), cujas costas podem ser vistas, mostra-se até mesmo, ao lado da curva-tura mais leve do dedo mínimo, uma torção do dedo anular, rara em grau tão visível.

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Parece também ser importante a espécie de modificação do dedo míni-mo — na maioria das vezes, o encurvamento da falangeta — em pessoas que sofrem de uma fraqueza nos olhos. E com freqüência trata-se mesmo da propensão à miopia e da tendência ao estrabismo. Em ambos os casos será muito recomendável fazer, com tais crianças, tudo para que aprendam a vencer seu empenho pelo recolhimento em si mesmas. Deve-se imbuir-lhes também o maior interesse possível pelo que as cerca, assim como um amor pela veracidade interior para com tudo aquilo que fazem. Todo adulto que,

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na educação de uma criança, lembrar-se de como o míope sucumbe com facilidade ao erro de retrair-se do mundo exterior, de bom grado fará tudo que estiver ao seu alcance tão logo apenas reconheça isso. Muito freqüente-mente encontraremos ainda uma alteração semelhante do dedo mínimo em pessoas que exibem certas tendências histéricas. Neste caso são referidas aquelas pessoas que estão mais fortemente entregues aos seus impulsos e, com isso, ao mesmo tempo estão considerando o seu próprio bem-estar. Toda pequena queixa é facilmente transformada por sua fantasia em um sé-rio sofrimento, em virtude de se ocuparem demais com sua própria condi-ção corpórea. Também nesses casos trata-se mais de uma predisposição inata que de uma histeria em anos posteriores.

Com isto fica suficientemente indicado o quanto o dedo mínimo — fre-qüentemente em conjunto com o dedo anular — em sua configuração ex-terna pode testemunhar a respeito da condição interior do homem todo. Também já deve ter-se tornado paulatinamente mais claro de que forma to-dos os dedos podem fornecer um quadro vivo da alma humana. Entretan-to, é necessário darmo-nos ao trabalho de observar conjuntamente formas e gestos, se esperamos que estes nos desvendem a natureza do pensar, do sentir e do querer.

VI.

A MÃO

Do ponto de vista da fisiognomonia, é também importante compreen-der aquela parte das mãos pertencente à "mão" propriamente dita, sem os respectivos dedos. Pelo lado interno consideraríamos, portanto, a assim cha-mada palma da mão; pelo lado externo, as costas da mão. Talvez se possa comparar a "mão" assim entendida a uma flor fechada. O botão aparenta ser ainda algo unitário, encoberto em sua essência. Somente pelo desabro-char das pétalas, conforme se poderia caracterizar os dedos irradiantes, revela-se aquilo que se desenvolveu às escondidas: a mão é como o cálice da flor, do qual irradia o leque dos cinco dedos. Ela foi preparada com mui-ta precisão pelos ossos do metacarpo (ilustração 19), que também consiste de cinco ossos individuais. Esses ossos mantêm-se de fato quase invisíveis, com exceção dos nodos, aos quais só então se ligam os dedos com suas arti-culações básicas. Todavia, não está aí a única relação que a "mão" tem com

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a qüinqüearticulação. Além disso a mão limita-se, de ambos os lados, por um pentágono constituído da seguinte maneira: o primeiro lado deve ser imaginado ao longo do lado externo do quinto osso do metacarpo até o nodo do dedo mínimo; o segundo lado, ao longo da linha dos nodos até o nodo do dedo indicador; o terceiro lado, deste ponto até o nodo do pole-gar; o quarto, ao longo do lado externo do primeiro osso do metacarpo pa-ra baixo; o quinto lado une, transversalmente ao longo da articulação do punho, ambos os pontos inferiores dos ossos externos do metacarpo. Aqui-lo que na descrição exata talvez pareça complicado torna-se claro no dese-nho (ilustração 49). A linha mencionada por último forma o limite aproxi-mado entre a mão e o antebraço adjacente.

Assim, o desdobramento da "mão" em cinco partes está, uma vez, ocul-to sob a camada de pele, ligamentos, tendões e músculos que recobrem os cinco ossos do metacarpo. Só vem à tona nos prologamentos deste, nos de-dos irradiantes. E novamente está encoberto quando não evidenciado pela forma do pentágono descrito. Quem estiver familiarizado com um certo sim-bolismo das formas recordará imediatamente como o pentágono, que em verdade é a base da estrela de cinco pontas, pode ser relacionado com as

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forças construtivas das coisas vivas. Rudolf Steiner falou das forças plasma-doras etéricas, que plasmam suas formas dentro da vida terrestre a partir do fisicamente invisível. Aqui isso é mencionado rapidamente apenas — to-dos os pormenores encontram-se expostos com precisão nas obras básicas de Rudolf Steiner — para fornecer a indicação muito importante de que a presença de cinco partes na forma da mão tem sua profunda justificação. Pois a "mão", sob observação treinada, pode transformar-se para o médico na imagem das forças vitais que reinam numa pessoa. No fundo, estas mes-mas forças podem manifestar-se em duas direções: de um lado, na direção da força formativa que se consolida, e de outro, na fluida torrente de vida que se transforma continuamente. Também para este aspecto conflitivo há as correspondentes imagens na mão humana. Ambos os lados têm sua ima-gem: de um lado há a palma da mão, para a qual se pode olhar; ela é macia, bem irrigada de sangue, umedece-se com facilidade; sua cor é rósea e assemelha-se, às vezes, ao frescor da face na infância. No lado interno da mão mal se esboça uma impressão dos ossos — somente é visível a confor-mação dos músculos com os seus ventres musculares, às vezes muito pro-nunciados. Aí labora uma vida irrigada de sangue — isso se sente. Do outro lado está a mão externa, as costas da mão, constituída de modo inteiramen-te diverso. Ela recobre-se, especialmente nos homens, de pêlos mais finos ou espessos, que podem atingir um ou até mesmo dois centímentros de com-primento. A pele é muito mais áspera e seca que no lado interno, e não trans-pira. Permite até ser levantada em dobras. Os ossos do metacarpo são facil-mente palpáveis e tornam-se também, juntamente com os tendões tensio-nados sobre eles, diretamente visíveis em movimento. Mais próximas à su-perfície circulam as veias mais finas ou mais grossas, transparecendo em azul mais claro ou mais escuro. Na primeira infância e na juventude, normalmente mal são identificáveis; destacam-se, porém, cada vez mais ao longo da ida-de, produzindo às vezes na pele um brilho que chega até ao azul-violeta, em contraste com o lustro quase róseo da palma da mão. Para melhor com-preensão das diferenças entre estas duas partes da mão, podemos lembrar que em relação ao homem trimembrado braços e mãos pertencem à parte rítmica, do meio, relacionada com a circulação e a respiração. Dessa ma-neira resulta como que obviamente, da descrição que acabamos de fazer dos lados da mão, que na palma da mão se inscreve, como numa imagem, a vi-talidade do sangue circulante, enquanto o fluxo respiratório — mais fresco — consegue, em sua atividade, produzir uma espécie de imagem nas costas da mão.

Pode-se ver na "mão", especialmente ao se tomarem ambos os lados em consideração, um verdadeiro reflexo das forças plasmadoras humanas, ou do corpo etérico, no sentido que lhe dá Rudolf Steiner. Esta é a razão pela qual predomina aqui o pentágono, que é uma base para a estrela de cinco pontas. Nele se expressa verdadeiramente o vigor purificado das for-ças vitais que reinam no homem. O pentagrama é um símbolo que aponta

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para o futuro. Para ocorrer a evolução, no sentido do verdadeiro progresso espiritual, terá de ser purificada a vida que se manifesta no crescimento. O ensinamento cristão aponta para isso, e anuncia também a descida do Cris-to precisamente com a estrela de cinco pontas. No ponto central dos puros raios da estrela forma-se um verdadeiro centro do eu purificado. Quando isso for alcançado, a ressureição espiritual tornar-se-á possível também pa-ra cada homem, tal como a vivenciou o Salvador. Ela está representada de forma grandiosa nas ilustrações anteriormente apresentadas (por exemplo, na ilustração 18).

É a tudo isto que nos leva uma observação meditativa das mãos. Talvez chegue uma época em que o desabrochar da mais elevada moralidade possa ser captado até mesmo pelo grau de regularidade e perfeição da estrela de cinco pontas que se possa inscrever na mão!

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MÃOS E TEMPERAMENTO

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VIII.

O temperamento de um homem lega às mãos suas marcas, não apenas através dos movimentos, mas também de sua configuração. Aquilo que foi exposto no livro que trata dos temperamentos* requer, quanto às mãos, ain-da uma complementação especial.

A renovação da teoria dos temperamentos por Rudolf Steiner tornou possível compreender a relação existente entre os quatro temperamentos e o quatro elementos que reinam também no ser humano. Para o adulto com predisposição colérica importa saber que, nele, o elemento do calor apre-senta um desenvolvimento especialmente poderoso, fazendo-se valer, con-seqüentemente, em diversas manifestações. Cite-se, para exemplificar, que no colérico o sangue quente pode fluir com excessiva rapidez para cima; daí dizer-se que nele " o sangue sobe à cabeça" com facilidade. Evidente-mente, neste temperamento o sangue também corre com maior velocidade rumo às mãos, represando-se nelas. Por isso o colérico, se não estiver doente, quase sempre apresentará as mãos bem aquecidas. Conseqüentemente estas também serão estimuladas para uma atividade mais rápida; pois que, com o calor, a vontade precipita-se igualmente para dentro de um órgão. Quan-do uma pessoa dotada de temperamento colérico é levada à excitação, faz toda sorte de gestos com as mãos. Por exemplo, fecha o punho (ilustração 4), bate na mesa ou pode até avançar, "indo às vias de fato" contra um ofen-sor. Um professor colérico, instigado por seus alunos, será permeado por uma onda de calor que atingirá rapidamente seus dedos e o inflamará a ponto de ele levantar a mão para uma poderosa bofetada.

O colérico, que tão rapidamente pode enviar a vontade para os braços e mãos, geralmente também será capaz de tornar-se um trabalhador veloz, que com perseverança leva a cabo aquilo que deseja realizar. Tal como o resto do corpo, nele as mãos transmitem a impressão de uma certa pequenez aliada à firmeza. Isto se evidencia muito claramente sobretudo no polegar, uma vez que este possui o maior parentesco com as áreas sangüínea e metabólica. A falange superior normalmente ostenta uma unha plana, porém a ponta do de-do acentuadamente arredondada. A falange adjacente, básica, é em verdade larga, porém mais curta. Por causa da musculatura quase sempre mais vigoro-samente desenvolvida, a polpa do polegar torna-se firme e dura. A mão de um pianista com disposição colérica (üustrações 50 e 51) oferece um bom exemplo para a mão típica de um homem com temperamento colérico. O seu polegar corresponde a todas as exigências que se possa fazer a um dedo "colérico".

"" Norbert Glas, Os temperamentos. Trad. Jacira Cardoso (4. ed. São Paulo: Antroposófica, 2002. (N.E.)

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Este artista também nos dirá, conforme Chopin já o fez, que quando toca tem no polegar sua maior força. Entretanto, os demais dedos também mostram, no caso em questão, o desenvolvimento particularmente forte das falanges básicas. Estas são muito musculosas, bem como algo curtas e como que compactadas sobre si mesmas. No sentido da triarticulação desses qua-tro dedos, desenvolveram-se de maneira particularmente forte precisamen-te aquelas partes que estão agregadas ao organismo metabólico-volitivo. Na

primeira falange do dedo indicador, isso se apresenta de maneira especial-mente acentuada. Nele poderia ser percebido com facilidade quão fortemente o elemento pensante mergulha no âmbito volitivo-inconsciente, em tal per-sonalidade. Notável é o dedo mínimo já bem formado, no qual, juntamente com o dedo anular, denuncia-se uma alma nobre e profunda, que no músico é muito valiosa. Na mesma figura vê-se uma palma da mão deveras caracte-rística para o colérico: o pentágono que nela poderia ser inscrito tem um formato regular, de modo que poderia dar origem a uma bela estrela radian-te. Com relação a isso talvez se possa acrescentar um esclarecimento, pois este se encaixa, como se fora por si próprio, em tudo que foi apresentado até agora. Rudolf Steiner contribuiu sobremaneira para a compreensão dos temperamentos quando demonstrou, por exemplo, no caso do colérico, com

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seu forte desenvolvimento calórico que o penetra profundamente, como a sua própria personalidade, o seu eu, pode colher totalmente o corpo. Por isso as grandes individualidades que, por assim dizer, sabem conduzir seus atos à correta realização na Terra tendem amiúde a um temperamento colé-rico; pelo menos este se encontra freqüentemente em primeiro plano, como em Händel e Beethoven, apenas para citar dois exemplos.

Do ponto de vista médico também é importante voltar a lembrar que, em certas condições, o colérico sobrecarrega seu metabolismo de uma for-ma tal que o leva à doença. Ele então sofrerá, por exemplo, de cálculos bilia-res. A mão pode estampar igualmente genialidade, doença ou mesmo sim-plesmente o temperamento; todavia, a íntima relação com as formas descri-tas continua a existir em todos os casos.

II.

Um homem com temperamento sangüíneo distingue-se por um siste-ma nervoso particularmente sensível. Ele tem, no que se refere aos elemen-tos, a relação mais íntima com o ar. Para maiores detalhes a esse respeito é necessário remeter ao mencionado livro sobre os temperamentos. Trata-se aqui, sobretudo, de reconhecer que conformação o temperamento inscreve nas mãos. Por sua mobilidade os dedos do sagüíneo costumam primeiramente denunciar a natureza delicada do sistema nervoso. As mãos das crianças encontram-se sempre em movimento, podendo levar o professor de uma clas-se ao desespero quando ele não consegue cativar a atenção justamente de seus alunos sangüíneos; pois estes querem continuamente tocar alguma coi-sa com seus dedos, acedendo à ânsia facilmente suscitada por seu — falan-do de modo figurativo — vibrante sistema nervoso. No adulto um quadro de sua infatigável atividade produz-se, por exemplo, da seguinte maneira: ele senta-se em uma poltrona, repousa seus antebraços e mãos nos braços da mesma e começa a tamborilar com os dedos, suave ou até ruidosamente. Isto acontece com facilidade e sobretudo quando ele tem de esperar por al-go. Pode-se ter a impressão de que ele, por meio de suas mãos e dedos, dese-ja libertar-se da inquietação interior. O colérico, ao contrário, livra-se de modo muito mais vigoroso de sua repressão armazenada: bate com o punho na me-sa. Não raro pode-se observar no sangüíneo que este descarrega sua agita-ção cantarolando suavemente ou assobiando alto, quando não se deixa cer-cear, à força, por uma educação em especial. Esse assobiar e cantar efetua-se, na maioria das vezes, de modo muito pouco consciente. Não se pode es-quecer que ambas as exteriorizações tão populares do homem sangüíneo (as

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sobiar e cantar) desenrolam-se exatamente no elemento ar, que está especial-mente ligado ao seu organismo. Será muito instrutivo observar os dedos "san-güíneos" ao lado dos "coléricos": os primeiros revelam diretamente, pela forma delicada e ao mesmo tempo delgada, algo do portador do tempera-mento. Os dedos são longos e finamente elaborados. Os "dedos do órgão sensorial", indicador e médio, mostram sua natureza "nervosa" de modo mui-to especial no segundo dedo levemente afilado (ilustrações 52 e 53). O pró-prio polegar perde algo de sua essência gorducha e reprimida. Essa

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configuração pode ser de grande proveito para o violinista profissional. Lance-se, pois, mais um olhar sobre os dedos de Jascha Heifetz (ilustração 43). No sangüíneo, também a conformação da "mão" aparece de forma especialmente característica. Isso se descobrirá com facilidade na palma da mão. Esta é, de fato, alongada — muito mais comprida que larga. No colérico, ao contrário, as medidas do comprimento e da largura costumam ser mais ou menos iguais, divergindo apenas ligeiramente uma da outra (ilustração 51). O pentágono a ser inscrito no sangüíneo pareceria estreito, comprimido a partir do lado, mas amplamente estendido para cima. A estrela de cinco pontas seria, cor-respondentemente, também algo esticada no comprimento, resultando daí, novamente, uma figura bem diversa da estrela de uma mão colérica.

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VIII.

O homem fleumático tem a propriedade de ligar-se muito fortemente ao meio líquido no organismo. Ele vive cheio de interesse nos processos me-tabólicos construtivos do corpo; a partir daí desenvolve também um amor pronunciado por tudo que tenha a ver com comer e beber. Disto resulta en-tão, com freqüência, um corpo que se estende na largura e acumula gordura facilmente. Por isso os dedos (ilustrações 54 e 55) não são finamente mode-lados; são relativamente curtos, não transmitindo, entretanto, a impressão de firmeza e de rigor como os do colérico — são, ao contrário, flácidos. De fato a gordura desenvolveu-se mais que o músculo. Correspondendo à fra-queza de vontade que facilmente se apresenta no fleumático, na maioria das vezes o polegar forma-se também curto demais. Não se deve esquecer que

as articulações moles freqüentemente encontráveis neste temperamento distendem-se com facilidade — mais ou menos como na conhecida mario-nete. O fleumático também apresenta, justamente na estrutura de suas mãos, uma ausência de qualquer tensão. Mesmo as unhas são usualmente planas

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e flexíveis. É justamente entre os fleumáticos que se encontrarão relativa-mente muitos roedores de unhas. É compreensível que um organismo de-tentor de tão grande predileção pelo aquoso e pelos processos metabólicos desenrolados no meio líquido goste de remover continuamente o elemento endurecedor tal como este surge na formação da unha. Pode-se mencionar neste contexto um fleumático que não se tornou roedor de unhas por não ter encontrado nenhuma oportunidade para roer sua substância córnea: é que, muito estranhamente, seu leito da unha não tem sequer condições para fazer crescer uma unha endurecida. A partir da célula originária forma-se, em lugar de uma unha sadia, apenas uma massa mole que nem mesmo con-segue crescer até à proximidade da ponta do dedo. Nenhum tratamento, por mais demorado que fosse, modificaria essa condição congênita. O caráter fleumático do homem veio à luz também por sua demanda excessivamente grande de alimentação: não admira, pois, quanta gordura ele tenha acumu-lado no corpo!

Entre as crianças atrasadas encontram-se muitas que ostentam na estru-tura de seu corpo as marcas de um temperamento fleumático. Nas mãos, ca-da um dos dedos demonstra com clareza como suas formas são flácidas e mal formadas. As unhas, freqüentemente roídas, destacam-se com nitidez. Nas costas da mão, sobre os nodos, formam-se pequenas covinhas que nor-malmente se apresentam em tenra idade, por exemplo nos lactentes. O pole-gar curto, com sua polpa esponjosa, remete à vontade debilitada, que o fleu-mático muito freqüentemente possui. A própria "mão", vista tanto de suas costas quanto do lado da palma, é muito mais curta que larga, quase o opos-to da mão "sangüínea". Também é claramente diferente do perfil mais regu-lar, quase harmonioso, da mão de um colérico.

IV.

Em se tratando de pessoas com temperamento melancólico, atua com mais força no organismo, entre os elementos, o sólido e terrestre. Também isto se reflete naturalmente nas mãos. Os dedos do melancólico são usual-mente longos, como na verdade também é o caso no sangüíneo; mas existe de fato uma grande diferença na conformação das mãos em ambos os tem-peramentos. Enquanto as belas e delgadas mãos do sangüíneo mostram con-tinuamente a tendência para movimentos leves, comprazendo-se em desdobrar-se como as penas de um pássaro que se prepara para alçar vôo, o melancólico gosta de comprimir seus dedos estreita e firmemente. Ele sem-

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pre busca para sua mão uma base que a suporte, e os dedos apóiam-se mu-tuamente, de maneira semelhante à de animais amedrontados que se com-primem uns aos outros num momento de perigo. Por sua forma, pode-se distinguir basicamente duas espécies de mãos melancólicas. À primeira per-tence a mão de Chopin (a esquerda, segundo um molde, pode ser vista na ilustração 42). Ela está naturalmente muito bem conformada, como a mão de um pianista, mas sinais peculiares do temperamento põem-se nitidamen-te em evidência. Os dedos são bastante longos, mas as falangetas em lugar algum se adelgaçaram, conforme é o caso no sangüíneo; por isso a "mão melancólica" dá a impressão de peso. Além disso, os ossos, no melancólico — em particular nas articulações — tornam-se muito evidentes. O osso em si faz parte das substâncias mais sólidas e, igualmente, das mais minerais do corpo; nestas se apóia com a maior satisfação o temperamento com paren-tesco tão próximo a tudo que é terrestre e sólido. Às vezes as costas do meta-carpo mostram esse fato, produzindo um efeito quase espectral. Acrescente-se a isso que a pele, na maioria das vezes, é pálida e fria. A imagem de uma "mão melancólica" pode também ser vista claramente nas ilustrações 56 e

.57. Nota-se nestes dedos um fenômeno particularmente característico: em

virtude da conformação óssea muito pronunciada, ao lado de uma muscu-latura estendida no sentido do comprimento e mais permeada por tendões,

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a formação de cada uma das falanges evidencia-se muito mais fortemente que em outras mãos. Nelas, uma espécie de análise anatômica do esqueleto pode ser efetuada com facilidade. O exemplo proposto permite reconhecer muito bem aquilo que foi mencionado anteriormente e em outro contexto: a maneira como o dedo indicador inclina-se mais para fora, em um arco ra-so, rumo ao dedo médio, enquanto o dedo anular o faz voltado para dentro, igualmente em direção ao dedo médio. As articulações do polegar também sobressaem pronunciadamente, assim como os ossos do metacarpo, obser-vados pelo lado das costas da mão; por isso a mão parece envelhecida, ape-sar de pertencer a uma pessoa ainda jovem. Isso corresponde ao tempera-mento do melancólico, o qual, por seu corpo depender da gravidade da Ter-ra, corre o perigo de perder prematuramente as forças da mocidade.

O outro tipo de mãos, que igualmente se encontra em melancólicos, po-de ser muito bem diferenciado do acima descrito. Trata-se, na maioria das ve-zes, de homens cujo trabalho não esteja relacionado com uma atividade mais delicada dos membros superiores, como seria o caso de violinistas, pianistas, técnicos e de profissões similares, para as quais é exigida uma habilidade ma-nual. Aquelas pessoas que não executam trabalhos delicados com seus dedos, e que podem ser comerciantes, lingüistas, filósofos ou trabalhadores não qua-lificados, sendo dotadas de temperamento melancólico, desenvolvem igual-mente formas bem características de suas mãos: na verdade elas têm, também, dedos alongados e a pele pálida, apergaminhada; a mão, entretanto, é menos expressiva em cada uma de suas partes. É mais maciça e as articulações são espessas, sem realmente estarem doentes. Quando essas dilatações ósseas so-bressaem de forma particular, fazem até lembrar remotamente os assim cha-mados "dedos de baqueta de tambor". Nestes casos mais marcantes trata-se também, em parte, das regiões moles em volta das articulações, que por sua vez são aumentadas. Pode surgir a pergunta indagando se esta formação não tem muito a ver com a respiração própria do melancólico, a qual se processa da seguinte maneira: ele aspira e retém o ar prolongadamente dentro de si, como se não quisesse soltar tão depressa aquilo que acabou de aspirar com os pulmões. Naturalmente ele precisa, por fim, voltar a exalar. Com freqüên-cia o faz de maneira intermitente, e gosta de acompanhar a expiração, vez por outra, de um suspiro. Nisto se trai uma espécie de dor por ele ter de restituir novamente algo, isto é, o ar com o qual acabou de relacionar-se intimamente. É claro que tudo isto permanece abaixo do limiar da consciência e acontece, talvez, apenas ocasionalmente; corresponde, contudo, à postura anímica do melancólico, que não quer separar-se de nada que uma vez possui, mesmo sendo tão-somente o ar que respira! Quando a respiração descrita se transfor-ma em hábito, com o tempo surge um certo represamento nos pulmões, mes-mo que em medida diminuta. Este retroage sobre a circulação e isto, por sua vez, reflete-se nos dedos, conformando-os como algo que poderia ser cha-mado de pseudo-"dedos de baqueta de tambor".

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O pentágono que pode ser inscrito também na palma da mão do "me-lancólico" é muito irregular e repuxado para cima. A estrela de cinco pon-tas, para a qual o pentágono proporciona a base, não forma raios vistosos e prolongados. A natureza pesada do temperamento melancólico prevalece também nesta imagem.

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COOPERAÇÃO ENTRE AS MÃOS ESQUERDA E DIREITA

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VIII.

Para a compreensão das mãos não basta apenas o conhecimento de sua configuração; requer-se também uma sondagem do fundamento anímico-espiritual de determinados gestos característicos de muitas pessoas.

Antes de tratarmos de diferentes gestos que parecem dignos de men-ção, é necessário fazer algumas observações sobre a diferença entre os la-dos esquerdo e direito, no que tange às mãos. Uma indicação feita certa vez por Rudolf Steiner, no contexto de uma conferência médica, pode ser de grande ajuda para se compreenderem mais facilmente algumas coisas rela-cionadas ao enigma da esquerda e da direita. De sua explicação ficou evi-dente que na mão esquerda se inscreve aquilo que tem origem, sobretudo, no destino pretérito de um homem, ao passo que na mão direita se imprime principalmente aquilo que está relacionado com a atuação presente e futu-ra de uma personalidade. Aqui estamos levando em conta, naturalmente, o aspecto do destino. Este pensamento-chave permite alguns esclarecimen-tos quanto à cooperação visível entre as mãos.

II.

As mãos postas em dedicada devoção no ato de orar fazem parte, com certeza, dos mais belos e impressionantes gestos. Nesta emoção a pessoa sente-se como um homem pleno, podendo até mesmo evocar o respeito de uma pessoa má. A individualidade procura, em primeiro lugar, estar intei-ramente só consigo mesma, desejando aproximar-se de seu Deus para mer-gulhar no Espírito do Mundo, para o qual se volta com fé. Qual o aspecto exterior disto? Ambas as mãos, em oração, são justapostas na região da li-nha mediana do corpo. Isto se consuma, portanto, bem ali onde o lado es-querdo e o lado direito precisamente se encontram. Esse quadro configura de que forma, ao rezar, a parte da individualidade portadora do destino pas-sado — vindo da esquerda — deseja encontra-se com o presente e o futuro — vindo da direita. A pessoa só se compreende em seu ser como unidade quando essas duas partes da personalidade, pelo menos por um determina-do tempo, podem ser unidas. No fundo isso só pode acontecer no homem do meio, pois é no coração que se encontra, no sangue, aquilo que conflui de todos os lados. É aqui, no coração pulsante, que podemos sentir-nos como

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homens plenos. Por isso é que também na oração a mão esquerda e a direita se encontram justamente no espaço do meio. No decorrer de uma verda-deira oração unem-se, por assim dizer, o eu do passado com aquele do pre-sente e do futuro. Na postura ideal da oração, todos os cinco dedos de uma das mãos juntam-se aos cinco dedos da outra. Ambas as palmas das mãos se tocam firmemente, de tal modo que as posições opostas, descritas como "pontos do eu", quase encostam. No quadro de Dürer, do museu Albertina de Viena (ilustração 58), vê-se bem o juntar das duas mãos, mesmo que o

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dedo mínimo direito esteja um pouco levantado. Além desta, há também uma outra postura para a oração, na qual apenas as pontas dos dedos ou, no máximo, as falanges extremas dos dedos se tocam. Nesta atitude o ho-mem todo parece participar menos. Estaríamos mesmo tentados a falar de uma oração que decorre só no pesamento, no sentido das anteriores expli-cações sobre as falanges superiores dos dedos. Aqui parece participar prin-cipalmente, senão apenas, o homem da cabeça. Em contraposição a este gesto atua a postura das mãos em que as mesmas estão, na verdade, igualmente justapostas, mas na qual influem outras regiões da alma. No desenho de Dürer

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a oração vive ainda em total pureza, desejando dirigir-se ao espírito nas al-turas do mundo; por isso os dedos também aspiram às alturas em postura vertical, a fim de aproximar-se do poder divino. Notar-se-á, por exemplo, que os dedos na atitude "intelectual", onde apenas as pontas se tocam, são baixados mais obliquamente para a frente.

Diversa destas duas posições — nas quais o homem, antes de tudo, desprende-se de si mesmo — deve ser considerada outra condição, na qual as mãos juntadas de tal modo que os dedos se entrelaçam (ilustração 59).

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Estes não se voltam, portanto, absolutamente para cima ou para longe do corpo, mas repousam todos, curvados com maior ou menor vigor, na hori-zontal. Assim, cada dedo da direita comprime-se contra o dedo correspon-dente do outro lado. Merece ser especialmente observado que as respecti-vas falanges básicas pressionam-se mutuamente — portanto, aquelas partes que têm a ver com a porção volitiva de cada um dos dedos. Voltamos-nos, com este gesto, ao nosso interior, onde reside nosso querer. Convocamos a força do recolhimento. Para podermos fazer isso, os dedos de um lado comprimem-se contra os irmãos do lado oposto, a fim de poderem segurar-se; esta é uma postura anímica diferente daquela em que as orações são diri-gidas para cima em silêncio, em que os dedos se apoiam apenas auxilian-do-se levemente e, de fato, cada qual se esforçando para o alto.

Esse entrelaçamento dos dedos pode apresentar-se de duas maneiras. A mais freqüente parece ser aquela em que o polegar esquerdo comprime para cima o polegar direito, o dedo indicador esquerdo aperta, também por cima, o dedo indicador direito e assim por diante, quanto a todos os de-mais dedos. Nesta situação o polegar esquerdo encontra-se por cima e o dedo

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mínimo direito por baixo. Isso pode ser visto também na ilustração 59, que é um detalhe do altar de Isenheim: trata-se das mãos juntas de Maria Madalena.

Entretanto, também acontece de a posição ser assumida ao contrário, de modo que o polegar direito fique por cima e o dedo mínimo esquerdo por baixo. Talvez se possa emitir a suposição de que a diferença entre esses dois entrelaçamentos se relacione com o significado do esquerdo e do direi-to. Se a pessoa, em uma interiorização anímica, entregar-se mais àquilo que provém do destino transcorrido, provavelmente desejará sentir os dedos da mão esquerda por cima dos dedos da mão direita. Ou está permeada do an-seio — claro que inteiramente na subconsciência — de dirigir os sentimen-tos para o futuro, para criar um novo destino através de seus atos: neste caso o quadro se alterará — o polegar direito descansará por cima e o dedo míni-mo esquerdo por baixo.

Nos casos relativamente mais raros de canhotismo é possível que ocor-ra também uma total inversão da situação. Contudo, isto se acha além de qual-quer experiência conhecida.

III.

Em alguns oradores podemos observar um outro jogo de ambas as mãos quando, antes de iniciar suas exteriorizações, eles as friccionam de uma ma-neira particualr. O movimento lembra o lavar de mãos. Eles colocam, por exemplo, a palma de sua mão direita sobre a palma da mão esquerda. Com isso, os quatro dedos da mão esquerda, situados por baixo, seguram por ci-ma as costas da mão direita. Simultaneamente os dedos da mão direita con-têm as costas da mão esquerda, voltadas para baixo. Por um instante os cen-tros das mãos chegam a repousar um sobre o outro. E então o polegar direi-to enlaça o esquerdo pelo lado de fora, enquanto os demais dedos justapos-tos da mão direita prendem o polegar por dentro. Os quatro dedos da mão esquerda deslizam, vindo de baixo, sobre as costas da mão direita, a qual se acochega intimamente à palma da mão esquerda em um movimento gira-tório. Por fim, os dedos da mão direita movem-se de baixo para cima nas costas da mão esquerda, para de novo iniciarem o envolvimento do polegar. Nesta descrição precisa, tudo isso soa algo complicado, sendo porém muito simples, uma vez que muitas pessoas executam tais movimentos quando de-sejam aquecer suas mão frias, e não apenas quando as lavam.

Voltemo-nos agora para o orador acima mencionado que fricciona as mãos, e tentemos compreender seus gestos. Para o gesto descrito é essencial

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que provenha da dualidade que se encontra na mão, a saber: de um lado a participação do polegar, e do outro lado a participação dos quatro dedos triarticulados. Aqui participa, portanto, sobretudo o homem rítmico, o ho-mem do meio. Aí as atividades sangüínea e respiratória exercem um desem-penho predominante. Ao friccionar as mãos deseja-se promover a circula-ção adequada. O calor necessário deve ser levado às mãos. Concomitante-mente, porém, também a respiração deve participar de maneira reforçada; só assim o sangue pode renovar-se. Por isso, de cada lado entram em ativa relação tanto os quatro dedos triarticulados como o polegar. Poder-se-ia real-mente descrever esse gesto como uma espécie de movimento cardiopulmo-nar das mãos.

Ora, o que deseja o orador ao qual nos referíamos? Naturalmente ten-ciona — é óbvio que isso não lhe é de fato consciente, nesse instante — antes de mais nada falar a partir de seu homem do meio, a partir do ritmo cardiopulmonar, a partir de seu íntimo. Quando efetivamente o consegue, ele fala, tanto pleno do calor cordial de seu sentimento quanto também da força respiratória a partir da qual cria coragem. Tudo isso se prepara e se encontra dissimulado no pequeno prelúdio exibido pelo orador, antes de iniciar, ao friccionar vigorosamente suas mãos. Talvez ele o faça ainda du-rante as curtas pausas que intercala em sua apresentação. Uma impressão de que se deseja, através da fricção das mãos, provocar coragem vigorosa em si mesmo apresenta-se também na seguinte circunstância: alguém se en-contra perante a tarefa de erguer algo muito pesado; para estimular-se a is-so fricciona antes, vigorosamente, ambas as mãos. Esse é, por exemplo, um hábito apreciado entre os carregadores de móveis.

Um outro movimento que, por oportuno, também merece ser aqui ci-tado é a volta à calma nos gestos do orador recém-descrito: uma mão re-pousa em cima, a outra embaixo; os quatro dedos de cima seguram as cos-tas da mão inferior, assim como os dedos inferiores as costas da superior, enquanto ambos os polegares abraçam-se na altura de seus ossos do meta-carpo (ilustração 60). Também aqui se evidencia a dualidade das mãos. A pessoa quer acalmar em si mesma tudo aquilo que poderia erguer-se de sua vida dos sentimentos ou da vontade. Busca a calma interior antes de decidir-se.

IV.

Digna de nota é a postura de ambas as mãos no desespero. Neste esta-do de alma os dedos podem entrelaçar-se tal como na segunda postura de

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oração, já descrita. A diferença em relação a esta consiste, entretanto, no seguinte: o desesperado não aperta as "mãos" propriamente ditas, uma con-tra a outra, nem leva os braços para junto do corpo, como o que está oran-do; ambas as palmas das mãos são viradas para fora, e os braços são estendi-dos para a frente. Todos os músculos encontram-se sob uma tensão que se alastra até os dedos. Tem-se a impressão de que na dor a alma deseja recolher-se inteiramente em si mesma. Pensar, sentir e querer parecem estar contor-cidos. Isso se mostra pelo fato de os dedos, tão estreitamente vinculados às três emoções da alma, engancharem-se com vigor. Ao comportar-se des-ta maneira, a pessoa não se reencontra com seu eu. Este foi como que ex-pulso para fora dela e não consegue, por ora, aprumar-se. Por isso o lado interno da mão é voltado para fora. Os assim chamados "pontos do eu" da palma da mão não se encontram como na oração, ou como na situação de recolhimento interior. A perda da profunda essência humana reflete-se nitidamente no desespero.

Uma outra atitude, na qual braços e mãos desempenham um papel sin-gular, mostra-se quando nos sentamos para ouvir alguém. Talvez tenhamos convidado a pessoa a chegar-se e queiramos examinar despreconcebidamente o que ela nos tem a dizer. Da mesma forma, quando alguém põe-se a ouvir uma conferência, pode fazê-lo com um sentido semelhante. Ele se abre àquilo que deve ser-lhe oferecido e está preparado, com toda a sua personalidade, a aceitá-lo; propõe-se, contudo, a manter-se muito objetivo e a permane-cer, o mais que possível, destituído da influência de seus próprios sentimen-tos; estes devem ser contidos. De que forma se apresenta exteriormente tal

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ouvinte? Ele ergue levemente para diante os braços pendentes, dobra am-bos os antebraços mais ou menos em ângulo reto e os cruza. Os quatro de-dos da mão direita seguram pela frente o braço esquerdo um pouco acima da curva do cotovelo, enquanto o polegar direito o segura por trás. Oposta-mente, a mão esquerda pega na mesma altura sob o braço direito, apóia-se no antebraço direito e fica pouco visível, enquanto todos os dedos desapa-recem atrás do braço. Os quatro dedos estão, com freqüência, estreitamen-te unidos, enquanto o polegar esquerdo descansa com sua falangeta sobre a falange básica do dedo médio esquerdo. A posição logo se torna clara ao tentarmos nós mesmos assumi-la. Pode-se perguntar por que razão esta pos-tura — totalmente a partir do inconsciente — é assumida. Para realizar o cruzamento dos braços, é essencial que estes se cruzem no meio do eixo vertical do corpo. Um cruzamento da esquerda para a direita, assim como da direita para a esquerda, no homem, é sempre um sinal de que ele está interiormente ansioso por conter-se em seu eu. Neste sentido devem tam-bém ser entendidas muitas das observações de Rudolf Steiner feitas, por exemplo, entre outras, em suas apresentações a respeito da eurritmia e da eurritmia curativa (pormenores podem ser encontrados no já mencionado livro de Kirchner-Bockholt). O grande movimento principal no cruzar dos braços quer, portanto, dizer: "Agora estou consciente dentro de mim mesmo e defronto-me, como um eu, com uma outra pessoa. Ao mesmo tempo, to-davia, ponho uma espécie de couraça, feita de antebraços e mãos, em torno de meu ser do meio. Resolutamente tranco, por assim dizer, a região do ho-mem que sente, em benefício do homem que pensa." A mão direita retém o braço esquerdo, enquanto a mão esquerda é aprisionada pelo braço direi-to. A partir do lado direito eu poderia ser induzido (se não houvesse sido providenciada a retenção) a fazer um gesto do qual se depreenderia que agora e para o futuro sou contra as exteriorizações que neste momento devo ou-vir. Eu poderia, porém, fazer também um gesto que me declarasse decidido a não obedecer a uma concordância a partir de uma exaltação do sentimen-to. Com o braço esquerdo poderia, ao contrário, ser indicado — se ele esti-vesse livre! — como se pode, a partir de uma situação passada do destino, proceder afirmativa ou negativamente. Todas essas emoções indefinidas pre-cisam ser aferrolhadas. A mão esquerda, com seus dedos, é presa pelo bra-ço direito como em uma prensa; não consegue mexer-se nem expressar-se. É assim, pois, que uma personalidade se protege de maneira extremamente significativa por meio dos braços cruzados, para não se deixar influenciar em primeira instância pelo sentimento. Se o ouvinte quiser também ficar livre das insinuações da vontade, senta-se ainda com as pernas cruzadas. Somente depois, quando desejar abrir-se totalmente àquilo que acaba de ou-vir, tratará de desfazer o cruzamento das mãos assim como o das pernas a fim de, eventualmente, usar as mãos para aplaudir. Em um tal contato de ambas as mãos o homem do meio volta a atuar com plena alma.

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VIII.

A exclusão das mãos em uma alocução é quase sempre sinal de que o orador não quer deixar aflorar nada que tenha a ver com o homem rítmico. Nada deve transparecer daquilo que porventura pudesse emergir do afeti-vo! Os movimentos não precisam, naturalmente, tornar-se tão exagerados como em alguns povos do sul* que, em qualquer ocasião, agitam os braços e as mãos no ar. Sabe-se, porém, que eles o fazem porque colocam seus sen-timentos em cada palavra. Para o italiano este comportamento é bem co-nhecido e tem seu fundamento no fato de ele viver com muito vigor aquilo que provém de suas sensações da alma. Ele também desenvolveu em seu interior tudo aquilo que deriva da "alma da sensação", conforme a deno-mina Rudolf Steiner (veja Teosofia, de Rudolf Steiner**).

Um total contraste com esta mobilidade das mãos pode ser observado em alguém que deseja recolher-se não só como no cruzamento, com uma certa tensão, mas quando, ao falar, afunda suas mãos nos bolsos das calças. Uma exclusão deste tipo, que leva portanto a uma total invisibilidade das mãos, demonstra não somente que os pensamentos desse homem — na ver-dade, quase sempre se trata apenas de homens! — são mantidos distantes da vida dos sentimentos, mas que em seu ser se insinua uma certa indiferen-ça que exclui igualmente qualquer elemento vivo da vontade; pois, em últi-ma análise, um movimento, mesmo pertinente às mãos, necessita de estí-mulo através do querer.

Além do mais, note-se que o cruzamento dos braços, na verdade, é mais próprio do homem sentado. O sentimento é reprimido com uma certa cons-ciência, e a vontade é desligada. Ao contrário, falar com as mãos nos bolsos das calças é mais coisa do homem em pé, o qual nem corre o risco de deixar ascender seu sentimento nem tampouco de entrar em uma relação com a vi-da volitiva. Ele prefere permitir a esta última que se mantenha inativa. Há ainda um terceiro gesto, que igualmente faz parte desta seqüência. Pode ser observado na pessoa que anda ou passeia. Nas ruas e nas trilhas dos bosques encontramos, de vez em quando, caminhantes que seguram com firmeza suas mãos às costas. Eles caminham a fim de, durante o passeio, refletir sobre cer-.tas coisas. Um dos irmãos Grimm conta como caminhava assim, em longos passeios pelos jardins de Berlim, deixando passar pela alma importantes ques-tões; então na maioria das vezes, retornava para casa com soluções encon-tradas. Praticou-o até em idade avançada. Tais caminhantes estendem seus

"• Sul da Europa. (N.R.) "'* Ed. bras. em trad. de Daniel Brilhante de Brito (6. ed. São Paulo: Antroposófica, 2002) . (N.E.)

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braços geralmente para trás e ancoram suas mãos nas costas ou, mais exata-mente, na região do sacro. Isto quase sempre é feito de tal forma que a mão esquerda, com os dedos relaxados e levemente dobrados para dentro, fica disposta de costas e deixa-se segurar de cima pela mão direita. Quatro de-dos da mão direita pegam o pulso esquerdo ou ainda apenas as costas da mão esquerda, enquanto o polegar direito pega com força o pulso da mão esquerda, do lado contrário àquele sobre o qual repousam os quatro dedos. Por vezes, até o polegar e o dedo médio formam, pelo contato, um sólido anel em volta do pulso esquerdo, que descansa sobre as costas. Nesta atitu-de toma-se, na verdade, a posição inversa à do cruzamento dos braços. Tanto não é colocada ao redor do homem do meio nenhuma couraça repressiva, pela qual deva ser obtido um desligamento do mundo dos sentimentos, co-mo até mesmo se deixa o homem rítmico inteiramente livre e desimpedido por completo à frente. A respiração permanece desobstruída, nada inibe o desempenho dos pulmões. Os pensamentos em formação são facilmente per-meados pelos fluxos rítmicos dos sentimentos. Passos alongados levam o sangue a fluir de maneira correta, possibilitando-lhe transmitir a força do calor da vontade à cabeça, ocupada em trabalhar os pensamentos. Desta ma-neira pode desenvolver-se no alto, isto é, na cabeça, um pensamento pleno de vida e vigor. Pelo gesto descrito, um saudável equilíbrio é levado ao mun-do do sentimento: a mão esquerda, na qual se revela mais a expressão dos acontecimentos pretéritos, é reprimida pela mão direita, a qual, em termos de destino, aponta para o futuro. Tudo aquilo que possa oprimir a alma é afastado com sabedoria, uma vez que braços e mãos são deixados para trás, nas costas, em tranqüila contemplação. Não se pode esquecer que o homem descrito por último, caminhando a passos largos, diz respeito a este gesto, em contraste total com aquele que está sentado com os braços cruzados dian-te de si e que, para fortalecer mais sua postura anímica, ainda cruza as pernas.

É muito digno de nota que duas das mais significativas personalidades, ambas de temperamento acentuadamente colérico, possibilitem que as des-taquemos em nossa apresentação por duas atitudes francamente opostas. Naturalmente isto se relaciona com as imagens que, daquelas figuras, che-garam até nós: Napoleão, com os braços cruzados à frente e que, pelo po-der, oprimiu os povos da Europa subtraindo-lhes a liberdade; e Beethoven, que, com as mãos colocadas às costas, vai caminhando — um líder convic-to da liberdade espiritual do ser humano.

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VIII.

Se quiséssemos, agora, realmente resumir aquilo que pode ser expres-so pelas mãos e por seus movimentos, poderíamos recorrer a mais dois qua-dros que foram pintados por Rafael, para os quais Rudolf Steiner chamou especial atenção. Trata-se da "Santa Cecília" de Bolonha e do "Sermão de Paulo em Atenas", do Museu de South-Kennsington de Londres.

Tratemos de examinar ambas as cabeças de Paulo, tão diferentes em suas expressões. No semblante do apóstolo encontrado no quadro de Santa Cecília (ilustração 61) está representado o ser humano sensorial. Neste, Paulo

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está inteiramente devotado àquilo que, pelos serenos olhar e ouvir interio-res, recebe do mundo espiritual. Não apenas vê, mas precisa também ouvir, pois aos pés de Santa Cecília encontram-se instrumentos musicais, um dos quais ela retém nas mãos, enquanto seu olhar dirige-se para o alto, rumo ao céu, de onde o coro dos anjos ressoa para a Terra. Vê-se na pintura — conforme palavras de Rudolf Steiner — "uma expressão figurativa da músi-

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ca das esferas''. * Na mais perfeita quietude da alma Paulo absorve essas ima-gens e esses sons provindos de um mundo celestial. Em tais momentos sole-nes, tudo que no homem assoma da vontade própria, pessoal, deve poder silenciar. E como Rafael consegue expressar isso nas mãos do Santo? Atra-vés do movimento da mão direita. Esta prende com firmeza aquela parte do rosto que mais parece ser a expressão da vontade: segura o queixo forte-mente, por ambos os lados — com a "mão do polegar" pela direita e com a "mão dos dedos" pela esquerda. A vontade própria precisa ser conscien-temente contida, assim como a própria palavra, que não pode, em absolu-to, brotar da boca enquanto o queixo estiver seguro. É de tocar profunda-mente o coração a maneira pela qual emana da postura uma óbvia quietu-de; nenhuma dureza se deixa entrever, nenhuma violência. Uma tal expres-são torna-se possível pelo fato de poder manifestar-se tão expressivamente na mão aquilo que desponta da alma. Aqui a mão inteira participa igualmente do gesto. O homem revela-se como uma entidade que vive no espírito em plena consciência e quietude.

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A esta santa tranqüilidade compare-se agora aquilo que pode ser de-preendido do Paulo pregador, na pintura "O sermão de Paulo em Atenas", através da mobilidade de seus braços e mãos (ilustração 62). Aqui tudo con-

* V.Rudolf Steiner, Kunstgeschichte als Abbild innerer geistiger Impulse, 10? conferência (5 de outubro de 1917). Dornach, Phil.-Anthroposoph. Verlag, 1939.

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verge para a proclamação da palavra, que agora pode fluir da boca aberta. Aquilo que pelo olhar foi acolhido de cima e penetrou na alma liberta-se agora do interior, com o fogo próprio da vontade; no espírito transforma-se em movimento tempestuoso e arrojado, visível até mesmo nas dobras da roupagem. Os braços estendem-se inclinados para cima, não estando do-brados nem contidos, como no outro quadro! Podem agora apontar para cima, para o mundo celestial que antes havia sido mostrado ao vidente. O calor do coração estende-se às extremidades de seus dedos. Talvez mais que na figura anterior, nesta se expressa com clareza que cada parte das mãos, direita e esquerda, cada dedo e cada falange foi também atingida em igual medida pela sabedoria da vontade que, no sermão de Paulo, é perceptível aos ouvintes *. E há ainda outra coisa que se nos pode tornar clara através do gesto grandioso do orador: tudo que de grande e poderoso nos é dado ouvir neste homem repousa exatamente nos braços e mãos, mas nada há nele de valentia fanática. Há um chamado, amparado por amor, da vontade para com o agir que Cristo lhe depositou no coração. A possibilidade de sentir a representação de Rafael desta maneira reside, acima de tudo, no movimento dos braços e mãos. Especialmente importante e comovente é a posição de ambas as superfícies das mãos, voltadas uma para a outra. Ao pronunciarmos uma oração com as mãos juntas, concentramo-nos a nós pró-prios com todo o nosso eu sensível; no gesto de Paulo, porém, encontra-se ainda algo especial: ambas as superfícies das mãos estão de fato voltadas uma para a outra, porém não se tocam. As mãos estão abertas, porque o orador como que encerra seus ouvintes dentro do espaço em cujo ponto central parecem encontrar-se os raios invisíveis das palmas das mãos esquer-da e direita. Em amor ele encerra seus ouvintes naquele centro onde o ho-mem pode perceber com pureza seu ente sensível.

* " . . .e estendam aquilo que Rafael estudou a fundo na fisionomia de Paulo, no gesto de Paulo, até ao âmbito dos movimentos dos dedos..." (Rudolf Steiner, na conferência citada ante-riormente.)

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Posfácio

Talvez possa interessar ao leitor, neste posfácio, que o autor com o qual ele se relacionou ao longo do presente trabalho também manifeste uma ob-servação de natureza mais pessoal. No início do livro A face revela o ho-mem relatei como já na idade escolar o rosto das pessoas com quem me encontrava transformava-se em enigma. Passo a passo foram então busca-das soluções que, graças aos métodos e concepções que Rudolf Steiner ofe-receu ao mundo, tornaram-se possíveis ao longo dos anos.

Até há bem pouco tempo eu sentia um persistente desejo de acercar-me também do segredo que jaz oculto na forma das mãos. Eu sempre consi-derava ser uma grande lacuna não termos ainda, em nosso tempo, uma fi-siognomonia das mãos segundo o espírito. Entretanto, tornei-me particu-larmente consciente desta falta somente quando, certo dia, em companhia de um menino, defrontei-me com um burrinho que, raspando com as patas dianteiras, esforçava-se por juntar um pouco de feno encontrado no chão. O animal o fazia com muita dificuldade, e o menino, observando atenta-mente, disse de repente: "Deve ser de fato muito triste para o burrinho não ter mãos com as quais possa enfiar seu feno na boca." Isto me deu intima-mente um golpe, pois a criança havia descoberto, de modo totalmente in-dependente, que as mãos seriam algo infinitamente humano, a respeito do que deveríamos orgulhar-nos. Deveríamos, de fato, ter compaixão para com os animais por não possuírem mãos verdadeiras (pode-se abstrair dos maca-cos, considerando-se que há um número infinitamente grande de animais sem mãos). Assim cresceu, desde então, cada vez mais meu respeito pelas mãos que eram estendidas a uma pessoa, que acenavam, que acompanha-vam as exteriorizações dos oradores, com as quais eram executados o tra-balho mais grosseiro e o mais delicado. Por fim, caiu-me uma vez mais nas mãos, não muito tempo atrás, uma das conferências que Rudolf Steiner pro-feriu em novembro de 1923, em Haia, na Holanda. Ali ele fala do homem, de como este vive após a morte e de como se apresenta sua configuração.

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A cabeça e o semblante tornam-se indistintos; entretanto, muito mais ex-pressivo torna-se o homem do meio. Em seguida diz ele: "Após a morte, os braços e as mãos têm uma especial capacidade de expressão; nos braços e nas mãos pode-se ler diretamente a biografia do homem compreendida entre o nascimento e a morte, da maneira mais nítida nas mãos — as mãos que já na vida física, para o observador sensível, são tão significativas por seu aspecto, e que já na vida física denotam tantas coisas..." Estas palavras foram tão fulminantes que despertaram em mim um novo impulso volitivo. A seguir iniciei este trabalho e com ele espero, embora com toda a modés-tia, haver fornecido uma chave para a compreensão das mãos. Talvez apre-sente aqui apenas um início, mas este poderá eventualmente servir para cha-mar a atenção de nossos semelhantes, isto é, os seres humanos da atualida-de, para que se recordem renovadamente do enigma das mãos. E se isto con-duzir à observação prática, poderá ser útil não só na Terra, mas ainda ser de ajuda para as almas falecidas que ingressam no mundo do Além. Por meio de uma compreensão das mãos e de seus movimentos eles poderão, talvez, reconhecer com maior facilidade os entes dos falecidos que encontrarem. Rudolf Steiner diz, a respeito desse tempo após a morte, com referência às mãos: "Nelas se pode ler diretamente a história da vida do homem."

Entretanto, mesmo aquele para quem uma tal vida após a morte pareça duvidosa e que, contudo, admita a verdade daquilo que as formas e os ges-tos das mãos significam, sentirá pouco a pouco que um mistério tão pro-fundo quanto o das mãos humanas não pode dissipar-se, após a morte, em um nada sem sentido.

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