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1 AS LIÇÕES DA EXPERIÊNCIA DA IGUALDADE DE GÉNERO DA NORUEGA PARA ANGOLA Lulenga Mambu 2017

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ASLIÇÕESDAEXPERIÊNCIADAIGUALDADEDEGÉNERODANORUEGAPARAANGOLA

LulengaMambu2017

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ASLIÇÕESDAEXPERIÊNCIADEIGUALDADEDEGÉNERODANORUEGAPARAANGOLA

ÍNDICE

I. PARTE-OSDIREITOSHUMANOS

1. Asorigensdosdireitoshumanos2. OsistemadosdireitoshumanosdasNaçõesUnidas3. OsDireitosdasmulheresnasNaçõesUnidas

II. PARTE-AEXPERIÊNCIADAIGUALDADEDEGÉNERONANORUEGA

1. AhistóriadaNoruega2. Aleidaigualdadedegénero3. OsdireitosdasmulheresnaNoruega

III. PARTE-ASLIÇÕESDAEXPÊRIENCIANORUEGUESAPARAANGOLA

1. AsliçõesdaexperiêncianorueguesaparaAngola2. Acriaçãodascondiçõesparaaigualdade3. Aspropostasadaptadasàrealidadeangolana

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ABREVIATURASCRA:ConstituiçãodaRepúblicadeAngolaCADHP:CartaAfricanadosDireitosHumanosedosPovosCEDAW:ConventionforEliminationallformsDiscriminationAgainstWomens-Convenção sobre a Eliminação de Todas Formas de Discriminação contra asmulheres.DUDH:DeclaraçãoUniversaldosDireitosHumanosONU:OrganizaçãodasNaçõesUnidasOIT:OrganizaçãoInternacionaldoTrabalho.ONG:OrganizaçãoNãoGovernamental.PNIEG:PolíticaNacionaldeIgualdadeeEquidadedoGéneroPIDCP:PactoInternacionalsobreosDireitosCivisePolíticosPIDESC:PactoInternacionalsobreosDireitosEconómicos,SociaiseCulturaisSDN:SociedadedasNaçõesUPR:UniversalperiodicrevisionouRevisãoperíodicauniversalILPI:InternationalLawandPolicyInstitute

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INTRODUÇÃONoquadrodacooperaçãoentreoMinistériodaJustiçaedosDireitosHumanoseaEmbaixadadaNoruegaemLuandadentrodoapoioqueoReinodaNoruegaoferecepara fortalecer os direitos humanosnos países emdesenvolvimento.NestecontextoqueoILPIeasinstituiçõesacadémicasangolanastrabalhamparaaexpansãodaculturadedireitoshumanos.Aquestãoquesecolocanãoédefazer a comparação entre Angola e a Noruega tendo em conta o nível dedesenvolvimentodiferente.Masédesaberqueaproveitamentopodeserfeitodanossacooperaçãocomestepaísdesenvolvidonodomíniodapromoçãodeigualdade de género. Daí a questão da experiência norueguesa poder seraproveitada na nossa preocupação para o fomento da cultura dos direitoshumanos em Angola. O tema do trabalho é “As lições da experiência deigualdadedegénerodaNoruegaparaAngola”.Oobjectivogeraléanalisaralegislaçãonorueguesasobreaigualdadedegéneroeosmecanismosdasuaimplementaçãoetentarfazeralgumaspropostasqueseenquadramnarealidadeangolana.Istoéparatornarasconvençõesassinadase ratificadas exequíveis.Os objectivos específicos visam a ter conhecimentosgeraissobreosdireitoshumanos,perceberaevoluçãodosdireitoshumanosnaNoruega, as condições que facilitaram que ela cumprisse as suas obrigaçõesinternacionais, avaliar e analisar a sua implementação em países em via dedesenvolvimento. É neste contexto, que pensamos fomentar a cultura dosdireitos humanos em Angola. Porque o respeito dos direitos humanos é umprocessoalongoprazo.Assim,paratratarotemadividimosemtrêspartes:Na primeira parte, começamos a tratar dos direitos humanos em geral ondepassamosaverasorigensdosdireitoshumanos,osistemadosdireitoshumanosdasNaçõesUnidaseporfimosdireitosdasmulheresdasNaçõesUnidas.Na segunda parte, examinamos a experiência da igualdade de género naNoruega onde fizemos umabreve incursão na história daNoruega, da lei deigualdadedegénero,edosdireitosdasmulheresnaNoruega.Na terceira parte, nós tentamos tirar as lições da experiência norueguesa daigualdadedegénero,pensandonascondiçõesdesuaadaptaçãoparaAngolaeapresentamos algumas propostas que pensamos podem ser adaptadas àrealidadeangolana.

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I. PARTE-OSDIREITOSHUMANOS1. ASORIGENSDOSDIREITOSHUMANOS

Osdireitoshumanoscomoapalavraindica,sãotodososdireitosinerentesaoser humano. Estes direitos tem características próprias. Eles são universais,inatos, indivisíveis, inalienáveis, imprescriptíveis, irrenúnciaveis, obrigatórios,interdependentes,limitadoseprogressivos.Todavia,elesexistememqualquersociedadeporqueelesuponhaaexistênciadenormasqueregulamavidanasociedade. Os direitos humanos foram estabelecidos para proteger osgovernadosdosabusosdosgovernantesnumaprimeiraaproximação.Depoisvaisurgirumadesigualdadedentrodaprópriasociedadecomoaparecimentodosgruposvulneráveisquesãoasmulheres,ascrianças,osdeficientes,osidososeasminorias.OsdireitoshumanosvãoevoluirrapidamentenassociedadesquetêmescritassobretudonaEuropa.Elesdependemdoníveldeevoluçãodecadasociedade.Isto é, nos países como a Noruega com a proclamacão da constituiçãonorueguesa em 1814, na Inglaterra com a revolução de Cromwell e aconsequenteelaboraçãodeBillofRightsem1689,queinfluenciouosEstadosUnidosdaAméricanaelaboraçãodaDeclaraçãodaindependênciadosEstadosUnidos.EstaDeclaraçãoinfluencioutambémaDeclaraçãoFrancesadeDireitosdoHomemedoCidadãode1789.Houve premissa de protecção de direitos humanos antes do fim da primeiraGuerra.Masédepoisdaprimeiraguerramundialqueapareceuaproteccãodostrabalhadores coma criação daOrganização Internacional do Trabalho comotambémosdireitosdascrianças.MassódepoisdasegundaguerramundialquesecriaaOrganizaçãodasNaçõesUnidas, jáqueaSociedadedasNaçõesnãoconseguiuatingirosobjectivospelosquaiselafoicriada.Os direitos humanos subdivide-se em várias categorias. Os direitos civis epolíticostêmasuaorigemnoiluminismoenasoutrasrevoluçõeseuropeiasquereflectem uma concepção liberal dos direitos humanos. Eles têm comofundamentos a liberdade, a igualdade e a legalidade. São direitos ligados àpessoahumanaousejadireitossubjectivosquepodemserlevantadosperanteuma juridisçãonacional.Nestecaso,oEstadonãopode interferirnavidadosindivíduos.Enquantoqueosdireitoseconómicos,sociaiseculturaisnecessitam

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deumaintervençãodoEstadoousejaoEstadoéchamadoaintervir,daíanoçãodoEstadoprovidência.Éumaconcepçãoquetemasuaessêncianadoutrinamarxista.Essascategoriasevoluíramacompanhandoadinâmicadasociedade.Hoje é dificil dividir as duas categorias por causa da interdependência dosdireitos.Aprimeiraéqualificadadedireitosdaprimeirageraçãoeoutraéadasegundageração.Hojeemdia,apareceramosdireitosdaterceirageraçãoquesãoosdireitos colectivosenão já individuais comoporexemploodireitodasolidariedadeinternacionaletratadosproblemasglobaisdomundo.Razãopelaqualosdireitoshumanossãosubmetidosaumapressãointernacionalcadavezmaisacrescida.Aoutradivisãovemdefactodoexercíciododireitosercolectivoounãocomoosdireitosdoindivíduocujooexercícioéindividualeosdireitoscolectivosquesãoosdireitosindividuaiscujooexercícioécolectivocomoodireitosindical.Emfimosdireitosquevisampreservaraintegridadedacolectividadecomoosdireitosdaminorias,osdireitosdasmulheresporexemplo.Osdireitosdasolidariedadevisampromoverosdireitosdascolectividadesemdetrimentodosdireitosindividuaiscomoosdireitosdospovosadisporemdesipróprio,odireitoàautodeterminaçãodospovos,direitoaodesenvolvimento,direitodoambienteedireitoaopatrimóniocomumdahumanidade.1Houve uma necessidade de criar uma organização a nível mundial capaz deassegurar a convivência entre vários países para a manutencão da paz e dasegurançamundial em substituição da Sociedade das Nações (SDN). É nestecontexto que surgiu as Nações Unidas porque houve a necessidade deestabelecernovasregrasparaamanutençãodapazmundialecriou-seosistemadosdireitoshumanosparaasuasustentabilidade.

1Martins,AnaMariaGuerra,2014,Direitointernacionaldosdireitoshumanos,páginas84-85EdiçõesAlmedina,LisboaPortugal.

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2. OSISTEMADOSDIREITOSHUMANOSDASNAÇÕESUNIDAS

DaconferênciadeSanFranciscovai-secriaraOrganizaçãodasNaçõesUnidas(ONU) com o objectivo de manter a paz e a segurança mundial. É nestacircunstância que o Conselho Económico e Social das Nações Unidas sob adirecçãodeEleonorRooseveltvaielaboraraDeclaraçãoUniversaldeDireitosHumanosdasNaçõesUnidasnodia10deDezembrode1948.ADeclaracãoéuma resoluçãonãoobrigatória ou seja ela é um ideal queos Estadosdevematingir.Houveumconjuntoderegrasouinstrumentoslegaisqueconsagraramereafirmaram a igualdade, equidade do género e nomeadamente noreconhecimento dos direitos humanos das mulheres. A OrganizaçãoInternacionaldoTrabalho(OIT)consagraodireitodotrabalhoparahomensemulherescombasenoprincípiodaigualdadedetratamentoquefoiadoptadaem1958comasuaconvençãon°100relativaàigualdadederemuneraçãoentreamãodeobramasculinaemãodeobrafemininaemtrabalhodeigualvalor.Maistardevai-seelaborarospactossobreosdireitoscivisepolíticos(PIDCP)eoutrosobreosdireitoseconómicos,sociaiseculturais(PIDESC)ambosem1966.O PIDCP reconhece o gozo dos direitos em igualdade de condições eoportunidadesentrehomensemulheresnomeadamenteodireitoàherança,àpropriedade,eodireitodecontraíremmatrimónio.EnquantoqueoPIDESCnoseuartigo3°,osestadosmembroscomprometem-seem“assegurarodireitoigualaohomemeàmulherogozodetodososdireitoseconómicos,sociaiseculturais” reconhecidos pelo pacto.Omesmo acontece comas condições dotrabalho.Depoisforamelaboradosnovetratados:

- Convenção sobre a eliminaçãode todas formasdediscriminação racial(1965)

- Convençãosobreaeliminaçãodetodasformasdediscriminaçãocontraasmulheres(1979)

- Convençãocontraatorturaeoutrostratamentosoupuniçõesdesumanosoudegradantes(1984)

- Convençãosobreosdireitosdascrianças(1989)- Convençãosobreostrabalhadoresmigrantes- Convençãosobreosdireitosdaspessoascomdeficiência(2006)- Convençãosobreodesaparecimentoforçado

Estasconvençõestêmmecanismosdemonitorizaçãoeimplementação.Cadaumdosnovetratadostemumcomitédeespecialistasparaasuaimplementação.Hojeemdiaosdireitoshumanostêmuma importânciaacrescidaporqueelespermitemregularasrelaçõesentreosindivíduoseasautoridadesestatais.AsconvençõesestabelecemdireitosentreindivíduoseobrigaçõesdosEstadoseas

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mesmas tambémobrigamosEstadosa respeitar,aproteger,apromovereacumprir com os direitos humanos. Todos estes tratados internacionais sãobaseadosnosprincípiosdauniversalidadeedenãodiscriminação.Estesdoisprincípiossãoinvocadosemváriosdocumentos:

a. NaCartadasNaçõesUnidasnosartigo1°(3),eArtigo55°(c).b. NaDeclaraçãoUniversaldosDireitosHumanosde1948nosseusartigos

1°,2°e7°.c. NoPactoInternacionalsobreosDireitosCivisePolíticosnosartigos2°,3°

e26°.d. NoPactoInternacionalsobreosDireitosEconómicos,SociaiseCulturais

noseusartigos2°e3°.Ainda tem outros instrumentos internacionais e regionais (CADHP) que sãoespecificamentedirigidosàdiscriminaçãocontraasmulheresdentrodosquaiso mais importante é a Convenção sobre a Eliminação de todas Formas deDiscriminaçãocontraasMulheres(CEDAW).

3. OSDIREITOSDASMULHERESDASNAÇÕESUNIDAS

AConvenção sobre a eliminaçãode todas formasdediscriminação contra asmulheresproíbeemgeraladiscriminaçãobaseadanosexoereflectesobreumaaproximaçãomais neutral.Muitos países já assinaram a Convenção e outrosemitiramreservasnumcertonúmerodeparágrafos.EstaConvençãodefinenoseuartigo1°oqueéadiscriminaçãocontraasmulherescombasenosexo.Estadiscriminação temconsequênciasnasesferaspolítica,económicae socialdasmulheres prejudicando–as no gozo dos seus direitos. Por isso é daresponsabilidade primária do Estado assegurar o gozo destes direitos não sónumaabordagemjurídicaouprogramática.Mastrabalharacurto,médioelongoprazonosentidodemudaralgumasatitudestradicionais,históricas,religiosaseculturaisretrógradasparareporosdireitos.Veroartigo2°daCEDAW.Distinguem-seváriostiposdediscriminação:discriminaçãodirecta, indirectaeestrutural.Adiscriminaçãodirectaconsisteemnegaroexercíciodeumdireitosópelo factodesermulhercomocasodemulhergestantequepretendeumemprego. A discriminação indirecta é uma prática subtil ou aparentementeneutramastemcomoconsequênciaanegaçãodoexercíciodeumdireito.Ousejacolocaumapessoanumasituaçãodedesvantagemrelativamenteaoutra.

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A discriminação estrutural é aquilo que é determinado pelas atitudestradicionais,históricas,culturaisereligiosascomoocasonosuldeAngolaondeamulhernãopodemandarnumhomem.Nestecasoéprevistoaeliminaçãodasbarreirasestruturaisparacorrigiromercadodotrabalhoporexemplo.Porissoa nível dos Estados é necessário adoptar estratégias para eliminar adiscriminação.Os Estados, na declaração e plataforma de Beijing de 1995, chegaram àconclusãoqueaproblemáticadogénerodeveserencaradadeformatransversalem todaspolíticas de desenvolvimento.As estratégias podem ser dedireitosindividuais onde é dada um direito legal de igualdade de tratamento na lei.Podemserdeapoiosocialondehánecessidadedefornecerumapoiosocialàspessoas ou grupos de pessoas que tem menos oportunidades. A últimaestratégia é damudança social e cultural para eliminar as causas estruturaisdessadiscriminaçãoatravésdainformação,daeducaçãodosdireitoshumanosatodosníveisdoensino.AexecuçãodestasestratégiasédaresponsabilidadedoEstadosignátarioqueratificouaConvenção.ComosenotouincumprimentodasobrigaçõesassumidaspelosEstadoscriou-seoConselhodasNaçõesUnidasparaos direitos humanos paramonitorar as convenções. A Comissão das NaçõesUnidas,instituiçãocriadaem1948peloConselhoEconómicoeSocialdasNaçõesUnidas para monitorar as obrigações dos Estados não funcionou. Em suasubstituiçãocriou-seoConselhodasNaçõesUnidasparaosdireitoshumanosem2006queestabeleceumecanismosconvencionaisparaamonitoriadestestratados e tem também procedimentos especiais. Neste caso podemos terespecialistas independentes, relatores especiais ou grupos de trabalho. OConselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas criou desde 2008 ummecanismoderevisãoperíodicauniversal(UPR).EsteprocessopermiteacadaEstadoPartereverasuasituaçãodedireitoshumanoscadaquatroanosemeio.A revisão períodica visa por meio de recomendações fortalecer os sistemasnacionais deprotecçãodedireitos humanos.OpróprioConselhodasNaçõesUnidaspodeorganizarreuniõesespeciaisnocasoexcepcional.2MasopróprioEstado pode tomar iniciativa dependendo da sua própria história e de seudesenvolvimento como o caso da experiência da Noruega da igualdade degénero.2PalestranoILPIsobreosistemadasNaçõesUnidas.

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II. PARTE.AEXPERIÊNCIADAIGUALDADEDEGÉNERONANORUEGA

1. AHISTÓRIADANORUEGA.ANoruegaéumpaissituadononortedaEuropaquetemcomocapitalOslo.Elaéumpaisde5.147.792habitantes.3Esteterritóriofoihabitadoporpopulaçõesgermânicasdesdeapré–história.Nasuaevoluçãocomopaís,houveumauniãocomaDinamarcaqueacaboucomaadopcãodasuaconstituiçãonodia17deMaiode1814edepoishouveumauniãocomaSuécia.4DesdeadissoluçãodauniãocomaSuéciaem1905,aNoruegatevetrêsreis:HaakonVII(1905-1957),Olav(1957-1991),HaraldVdesde1991aosnossosdias.ANoruegaéumamonarquiaconstucional.Actualmente,elaédirigidapeloreieoprincipeHaakonMagnuséosucessornotrono.Este período caracterizou-se por uma expansão económica e umdesenvolvimentosocialsemprecedentesemtermodedireitosindividuaiseasmulheresobtiveramodireitodevotoem1913.A constituição norueguesa tem três fundamentos: a soberania do povo, aseparaçãodospodereseosdireitoshumanos.Háumaseparaçãoentreopoderpolítico, poder legislativo e poder judiciário. Este último é composto pelotribunalsupremo,tribunalderecursoetribunaldedistrito.EssasinstituiçõesdoEstado funcionam com as outras instituições independentes dos direitoshumanos. Dentro das instituições independentes, tem o provedor doparlamento,asinstituiçõesdosdireitoshumanos,oprovedordascriançaseoprovedordaigualdadedegénero.Oprovedordascriançasinfluenciaepressionaaspolíticasgovernativas.Oprovedordaigualdadedegénerotemcomoprincipaltarefaaconsultoriajurídica,amonitoria,aprotecçãoeapromoçãodaigualdadeentre os homens e asmulheres. Segundo as recomendações do Comité dosdireitos humanos das Nações Unidas, as instituições dos direitos humanosdevemterumfundopróprio,seremindependentesdopoderpolíticoeterumprograma próprio. Eles participam na promoção do direito à igualdade dosdireitos e das oportunidades na legislação, na feitura da política e na suaimplementação.Promovemtambémacompreensãodosdireitosdasmulheresna sociedade, ouvindo-as, recolhendo informações directamente delas. Este

3http://www.indexmundi.Com/pt/noruega/população_perfil.htlm4 Silva, José Manzumba da, Hostmaelingen, Njal, Compêndio de Direitos Humanos –Implementaçãoprovincialelocaldosdireitoshumanos–MinistériodaJustiçaedosDireitosHumanoseInternacionalLawandPolicyInstitute

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diálogoentreasautoridadeseasociedadecivilfacilitouaproclamaçãodaleideigualdadedegéneronaNoruega.

2. ALEIDEIGUALDADEDEGÉNERONANORUEGA

ANoruegaadoptoualeisobreigualdadedegéneroem1978quegaranteaoshomens e às mulheres uma igualdade de oportunidades na educação, noemprego, na culturaenapromoçãoprofissional.5 Esta lei foi adoptadaantesmesmodaCEDAW.Todavia,elaratificouaConvençãodasNaçõesUnidasparaEliminaçãodetodasFormasdeDiscriminaçãocontraasMulheresnodia21Maiode1981.6Oprotocoloopcionaldamesmaconvençãodáoportunidadeàmulherougruposde mulheres para ser ouvido pelo comité da Convenção. Este último foiadoptadonodia6deOutubrode1999eratificadopelaNorueganodia5deMarçode2002.Estaleifoialteradaem2005paraseralinhadacomoutrasleisquetemcomobaseadiscriminaçãoreligiosaeétnica,adeficiênciaeaorientaçãosexual.EmJaneirode2014,aleisobreaigualdadedegéneron°45foirecolocadananovalei ou seja houve uma revisão da constituição norueguesa. 7A políticanorueguesadeigualdadedegéneroestásobaresponsabilidadedoministrodasCrianças,daIgualdadeeInclusãosocial.A lei foi introduzida no ordenamento jurídico norueguês com algumas dasprincipaisconvenções internacionaisdedireitoshumanosdaOrganizaçãodasNaçõesUnidasedoConselhodaEuropa.Istoé,emcasodeconflitosentreasleisnorueguesasformaisealeidosdireitoshumanos,háprimaziadasnormasdedireitos humanos. Assim sendo a Convenção passou a ser implementada naNoruegacomaLeidaigualdadedegénero.ExistemcondiçõesobjectivasqueajudaramaNoruegaaconseguirimplementara igualdadedegénerocommais facilidade.Dentrodestascondições,convémrecordarqueaNoruegaéumavelhademocraciaondeaparticipaçãodopovona tomadadedecisãoéefectivadesde1905datadasua independência. Istoconstituiaspremissaslongínquasdasuademocracia.

5https//www.genderindex.org/country/Norwaypag.26https//www.regjering.no/en/topics/equality-and-social-inclusion/likestilling-og-inkludering/gender-equality/id670481/7https//www.genderindex.org/country/Norwaypag.2

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Eisascondições:democraciaestável,populaçãoinstruída,economiaprósperaeumaboagestãoeredistribuiçãodasriquezas.O Estado norueguês investiu muito nos cidadãos e com uma democraciaactuante onde os governantes são chamados a prestar contas sobre as suasacções.Todavia,eleparaalémdaboagovernaçãoteveumagestãocuidadadosfundos públicos.8 Assim a Noruega dotada dos instrumentos jurídicos crioumecanismosparacumprircomosseuscompromissosinternacionais.MesmoassimnaNoruega,háfunçõesondeoshomenssãomaisrepresentadoscomonapolíticadadefesa,nasfinançaseindústriaenosnégociosestrangeiros.Asempresasestataissãoasqueaplicamaigualdadedegéneronodomíniodosnegócios.Asmulheressãobemrepresentadasnasáreassociais,najustiça,naeducaçãoenapolíticaexternaaliás50%dejuízesnaNoruegasãomulheres.9

8Hostmaelingen,Njal,2016,Direitoshumanosnumrelance,ILPI,ediçõesSílabo9Repartiçãoentrehomensemulheresemváriossectoresdasociedade,GenderandpowerintheNordiccountries,Astudyofpoliticsandbusiness,NordicGenderInstitute,Pág.53

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3. OSDIREITOSDASMULHERESNANORUEGAParaumacompanhamentosériodosdireitos,elacriouváriasprovedoriastaiscomodascrianças,dosconsumidores,desaúde,deadministraçãopúblicaeporfimdadiscriminaçãoeigualdadedegénero.Esteúltimotempapeldiferentedosoutros.Comoéobvio,aNoruegacriou instituiçõesdoEstadoqueajudamnaaplicaçãopráticadosdireitosdasmulheresemecanismosparaimplementaçãodaigualdadedegéneroatravésdanomeaçãodeumprovedordeigualdadeeanti-discriminação,dostribunaisespecíficosdeigualdadeeanti-discriminação,da polícia e da participação da sociedade civil com as associações de váriossectores da vida social. Este provedor está habilitado a receber queixasindividuais, das organizações não governamentais e outros. O seu conselhojurídiconãoévinculativomasassuasdecisõessãogeralmenteaceites.Elepodetambémteriniciativaprópria.Asuanomeaçãoéporconcursopúblicoetemummandato de seis anos. O provedor da igualdade de género tem muitacredibilidadeeassuasopiniõessãoseguidasemgeral.Mastambémnocasodecontestaçãopoderecorrer-seao“Nemda”queéotribunaldeigualdadeeantidiscriminação.Cadaministroéresponsaveldaaplicaçãodeigualdadedegéneronoseuramo.Osprovedorestêmcomoprincipaltarefaapromoçãodedireitoshumanosnosváriossectoresdasociedade.Istoéacaracteristicafundamentaldasuapolíticanãosódopontodevistainternomastambémexterno.A igualdadedegéneroévisivelatéaoníveldetomadadedecisãoousejanogoverno,noparlamentoeaonívellocalporcausadosistemadequotas.10(VerapercentagemdasmulheresnoparlamentodaNorueganoanexo1).Napágina62,lugardaNoruegaedeAngolanorankingdarepresentaçãodasmulheresnoParlamento)11.Os órgãos judiciais, a polícia trabalham em parceria com a sociedade civilenquadradanaFokus12 comocontrapoderparaamelhoriadascondiçõesdeigualdade do género. A sociedade civil intervém sempre que for necessário.AssimsendohojeaNoruegaatingiuumlugardedestaquenoquetocaàquestãode igualdade entre homens e mulheres. A igualdade de género é bemassegurada na Noruega devido a uma educação gratuita a todos níveis. Estaeducaçãoincluioensinodosdireitoshumanosatodosníveisdoensinoouseja

10Idem,successinparliamentarypolitics,Pág.5311Ibidem,Table1,Topoftheworldrankinglistoffemalerepresentationsinparliament,pág.6212Fokuséumafederaçãoquecongregasessentaequatroassociaçõesdemulheresdeváriossectores.

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do ensino primário, médio até ao superior. Os direitos das mulheres sãorespeitados com uma forte sociedade civil. Esta última está baseada numaassociação das mulheres (Fokus) que exerce uma pressão sobre o governoNorueguês.AFokustemumaactuaçãointernacomotambémexterna.Nocasodeumproblemainterno,ela indicaumadasassociaçõesparaacompanharoscasos domésticos e no aspecto internacional, ela recebe o apoio da agêncianorueguesaparaodesenvolvimentoparaasuaactuação.Dopontodevistaexterno,elaestáaenvidaresforçoparaajudarosoutrospaísesaminimizaradesigualdadeentreoshomenseasmullheres.Razãopelaqualtendoconstatado,quealgunspaísesemdesenvolvimentotêmdificuldadesparacumprircomassuasobrigaçõesinternacionais,aNoruegatemocompromissodeajudarestesEstadosacumprircomassuasobrigaçõesinternacionais.13Istotraduz-sepelaactuaçãodadiplomacianorueguesaparaminimizarodesrespeitodemonstrado pelos países em desenvolvimento no que toca aos direitoshumanos na prática. Hoje em dia assiste-se a uma violação sistemática ecrescente dos direitos humanos emmuitas partes do mundo especialmentedireitoscivisepolíticos,económicos,sociaiseculturaisesobretudoosdireitosdasmulheres.Osmecanismosdediálogoestabelecidosnumasociedadequesequer democrática não funcionam. Isto provoca uma série de discriminação eviolência não só contra a população emgeralmas particularmente contra asmulheres,criançaseminorias.Emconsequênciadisto,nãohádesenvolvimentopolítico,económicoesocialeprovocatambémumasaídamassivadapopulaçãodeumpaísparaooutro.Paraevitarestetipodesituação,achamosquepodemostirar lições da experência norueguesa no quadro da sua cooperação com ospaísesemviadedesenvolvimento.13http://www.Noruega.org.br/News_and_events/Assuntos–Atuais/Aco...esforcos-para-apromocao-dos–Direitos–Humanos/#.WJsNexiDqu5

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III. PARTE.ASLIÇÕESDAEXPERIÊNCIANORUEGUESAPARAANGOLA

1. ASLIÇÕESDAEXPERIÊNCIANORUEGUESAANoruegatemumatradiçãodeigualdadedegénerohámuitotempo.Amulherfoisemprebemrepresentadadesdeasegundaguerramundial.Todavia,elatevecondiçõesreunidasparapoderimplementaraigualdadedegénerocomsucessodevidoaváriosfactores.OprimeirofactorpodemosdizerqueaNoruegaéumvelhopaisdemocráticoonde há uma separação clara dos três poderes a saber o poder executivo,legislativo e judicial. Tendo em conta este pressuposto, há um equilibrio dopoder.Istopermiteaostrêspoderesdefuncionaremharmoniaousejaostrêspoderes vigiam-se e há equilíbro do poder. É aquilo que Thomas Jeffersonchamou“checksandbalances”.Osistemapolíticoenvolvealiberdadenãosónorelacionamentopolíticomastambémnorelacionamentoeconómicoesocial.Noquetangeorelacionamentopolítico,aliberdadepolíticadáapossibilidadeaopovo,queéosoberanoprimárioparaescolherosseusdirigentes.Eaomesmotempo, ele concede ao povo a possibilidade de fiscalizar as acções dosgovernantespormeiodaseleiçõeslivres,justasetransparentes.Estaseleiçõesestãoorganizadascombasenatransparência.OsegundofactorcomoconsequênciadobomfuncionamentodoEstado,équeo indivíduoé livre. Em termoseconómicos, a liberdadeeconómicapermiteaactuaçãodosagenteseconómicos.OEstadopreocupa-seemestabelecerregraseconómicas,intervémnosdomíniosqueeleachaimportanteparaassegurarointeressepúblico,comotambémpararestabeleceroequilíbrionaeconomia.Eletemaliberdadenãosópolíticamastambémeconómicaquelhepermitecriarriquezas,sebemqueestamosnumaeconomiamista.Narealidade,aNoruegatem uma economia liberal mista que no contexto democrático deu umaeconomiapróspera.Oequilíbriodopoderconduznecessariamenteaumaboagestão da coisa pública. Desta prosperidade, por sua vez resultou numa boaredistribuiçãodariqueza,oacessoàeducaçãoparatodos,aexistênciadeumasociedadecivilmuitoforte.Oterceirofactorésocial,ousejacomaarrecadaçãodosimpostoseumagestãocuidada,fezumaredistribuiçãoequitativadariquezanacional.Osresultadossão

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visíveiscomoagratuidadedaeducaçãodesdeoensinoprimárioatéaosuperior,doserviçodesaúdeequiçadoníveldedesenvolvimentoatingidopelaNoruega.Em consequência, a população da Noruega é educada, respeita os direitosestabelecidos e a lei é cumprida. A educação temum componente forte dosdireitoshumanosadaptadoatodosníveisdoensino.Assimapopulacãotorna-se homogénea. A própria história da Noruega com a sua ocupação pelaAlemanha durante a segunda guerra mundial ajudou as mulheres a sair dastarefasdomésticasparatarefasqueeramrealizadaspeloshomens.OquartofactoréaassinaturaearatificaçãodaConvençãoesuaintegraçãonalegislaçãonorueguesaeaconsequentecriaçãodasinstituições(públicascomoprivadas)paraqueosdireitosproclamadossejamexequíveis.TendoemcontaonívelatingidopelaNoruega,podemosrefectirnascondiçõesnecessáriasparaacriaçãodeigualdadedegéneroemAngola.

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2. ACRIAÇÃODASCONDIÇÕESPARAIGUALDADEEMANGOLA

AconstituiçãodeAngola(CRA]ealegislaçãoemvigornãoadmitemqualquerforma de discriminação de género a nível do reconhecimento dos direitosfundamentaisehumanos.NamesmasendaaCRA,aoabrigodon°2doartigo2°,AngolacomoEstadodedireitodemocráticopromoveedefendeosdireitoseliberdadesfundamentaisdosseuscidadãos,quercomoindivíduos,quercomomembrosdegrupossociaisorganizados,asseguraorespeitoeagarantiadasuaefectivação pelos poderes legislativo, executivo e judicial, seus orgãos einstituições,bemcomoportodasaspessoasindividuaisecolectivas.14Nos termosdoartigo13°daCRA,odireito internacionalgeraloucomumfazparteintegrantedaordemjurídicadeAngoladesdequeosseusinstrumentosjurídicosestejamdevidamenteaprovadosouratificados.Estespassamavigorarnaordemjurídicaangolanaapósasuapublicaçãooficialeentradaemvigornaordemjurídicainternacional,enquantovigorareminternacionalmente.15Oartigo14°daCRAreconheceapropriedadeprivadaealiberdadedeiniciativa,atravésdorespeitoeprotecçãodoEstadoemrelaçãoàpropriedadeprivadadaspessoasindividuaisecolectivas.Oartigo21°domesmoinstrumentodestacaa“garantias dos direitos, liberdades e garantias fundamentais”; a criaçãoprogressiva das condições necessárias para tornar efectivos os direitoseconómicos, sociais e culturais dos cidadãos; a promoção da erradicação dapobreza; a promoção da igualdade de direitos e de oportunidades entre osangolanos,sempreconceitosdeorigem,raça,filiaçãopartidária,sexo,cor,idadee quaisquer outras formas de discriminação; a promoção de igualdade entrehomem e mulher e do desenvolvimento harmonioso e sustentado em todoterritório nacional; a protecção do ambiente, dos recursos naturais e dopatrimóniohistórico,culturaleartísticonacional.ACRAestabelecetambémumconjunto de princípios gerais que de forma directa asseguram a igualdade eequidadedegénero,nomeadamenteosprincípiosdauniversalidade(artigo22°)edaigualdade(artigo23°).Elaprêvequeosdireitosfundamentaispodemserestabelecidos por outros dispositivos legais e que os mesmos devem serinterpretadosaluzdaDUDH,daCADHP,edostratadosinternacionais.Oartigo

14 Silva, José Manzumba da, Hostmaelingen, Njal, Compêndio de Direitos humanos –Implementaçãoprovincialelocaldosdireitoshumanos–MinistériodaJustiçaedosDireitosHumanoseInternacionalLawandPolicyInstitute,pág.3215LuísaBorges,CalengoAndré,GalanBeatriz,CoelhoAntonieta,Guiãoparaaintegraçãodaperspectiva de género na legislação relativa a terra e águas em Angola, Cabo Verde eMoçambique,FAOlegalpapersonlinen882011,pág.23

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29°daCRAreconheceoacessodetodoscidadãosaostribunaisparadefesadosseus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça serdenegadoporinsuficiênciadosmeioseconómicos.16Em termos das convenções internacionais, Angola assinou e ratificou váriostratadosentreosquaisaCEDAWdasNaçõesUnidasem1981,ratificadonodia17 de Setembro de 1986. Ela assinou também a lei sobre a participação damulhernavidapolíticaem2005,aleicontraaviolênciadomésticaem2011eoprotocoloopcionalparaaconvençãosobreaeliminaçãodadiscriminaçãocontraamulherem2007.A nível regional, a CADHP reafirma os princípios de igualdade e nãodiscriminação(art.2°e3°)comotambémodireitodepropriedade(art.14°),defamília (art. 18°), acesso aos recursos naturais (art. 21°) e desenvolvimentoeconómico(art22°).AngolaassinouoprotocolosobreosdireitosdamulhernoquadrodaCartaAfricanadosDireitosdoHomemedosPovos.Esteprotocoloincide sobre a eliminação da discriminação contra a mulher nas suas váriasdimensões.(Verosartigos2°,3°,4°,5°,6°,7°,8°e13°doprotocolo)Alegislaçãoangolanatemumquadrogeralsobreaprotecçãoepromoçãodosdireitos humanos tais como a lei 25/ 11 de 14 de Julho de 2011, o decretopresidencial n° 124/13de28deAgostode2013 sobreoRegulamentoda leicontra a violência doméstica, o decreto presidencial n° 222/13 que aprova apolítica nacional para igualdade e equidade de género e a estratégia deadvocaciaemobilizaçãode recursospara implementaçãoemonitorizaçãodapolítica.17Mesmoassimaparticipaçãodasmulheresébaixanavidapolíticaepública,nosescalõesde tomadadedecisão,no judiciárioenaadministraçãopúblicaanívelnacional,provincialemunicipal.18Angolaapesardeconsagrarnoseuregimejurídico,osprincipiosdeigualdade,universalidadeenãodiscriminação,nãointegrouparaasualegislaçãonacionalvários direitos da mulher reconhecidos nos instrumentos jurídicosinternacionais. Ainda assim, asmedidas legislativas transitórias que implicamumatransformaçãosocialaindanão foramcontempladasaoníveldosistemajurídico.IstoexplicaasdificuldadesquetêmosEstadosemdesenvolvimentoemgeral para pôr em práticas os direitos proclamados ou seja não conseguemcumprircomosseuscompromissosinternacionaiseAngolanãoescapaàregra.

16Idem,página24.17http://angola,unfa.org/pt/topics/igualdade-do-género,08/02/2017,13:2818CEDAWdaO.N.U,Marçode2013,ObservaçõesconclusivassobreosextorelatórioperiódicodeAngolaadoptadaspeloComiténasuaquinquagésimaquartasessão.(11deFevereiro-1deMarço)

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BemqueosprincípiosdeigualdadeentrehomensemulheressãoconsagradosnaCRA,noquotidianoasregrascostumeirasestãobaseadasnumadiscriminaçãocontraasmulheres.Legalmente,asmulherestêmosmesmosdireitosatribuídosaos homens mas na prática, as mulheres estão numa situação de grandevulnerabilidade e dependência ou seja os seus direitos são facilmenteretirados.19Razãopelaqualobservandoarealidadeeexperiêncianorueguesaemtermosdaigualdadedegénerosesugereoseguinte:Em termos jurídicos, a introdução da convenção no ordenamento juridiconacionalnosparecemais interessantebemqueaCRAprevêqueemcasodeconflitos, os tratados têmprimazia. A elaboração de uma legislação nacionalclara é necessária e dar directivas para a eliminação de todas as formas dediscriminação contra as mulheres e a promoção específica de igualdade dogénero.Nestasenda,propomosumesboçodaleisobreaigualdadedegéneroparaAngola.Paraumamelhorconduçãodapolíticadeigualdadedegéneroquejáestáemcurso,comumministériodafamiliaedapromoçãodamulher,somosapropora nomeação de um provedor especifíco para a igualdade de género e antidiscriminação,acriaçãodeumainstituiçãonacionaldosdireitoshumanosedeumtribunalespecificodeigualdadedegéneroeantidiscriminação.Estasnovasinstituiçõesterãocomotarefademonitorar,promover,protegeredeouviraspreocupaçõesdasmulheresparaparticiparnafeituradaspolíticasnamatéria.Éumalegislaçãoespecíficaparaogéneroqueajudaráaeliminaradiscriminaçãocontra a mulher em todos os domínios como na atribuição da herança epromover um tratamento diferenciado no domínio onde elas estão emdesvantagem.Se Angola consegue criar estas condições, podemos tentar fazer propostasadaptadasàsuarealidadequepensamosnãoserexaustivas.

19LuísaBorges,CalengoAndré,GalanBeatriz,CoelhoAntonieta,GuiãoparaaintegraçãodaperspectivadegéneronalegislaçãorelativaaterraeáguasemAngola,CaboverdeeMoçambique,FAOlegalpapersonlinen882011,página33

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3. ASPROPOSTASADAPTADASÀREALIDADEANGOLANADepoisdeobservara realidadede igualdadedegéneronaNoruegaachamosbemfazeralgumaspropostastendoemcontaaprópriahistóriadeAngola,oseuníveldedesenvolvimento,asuaculturaeocontextoactual.Oproblemacoloca-seemduasvertentes:vertentejurídicaevertenteprática.Navertentejurídica,aconstituiçãodaRepúblicadeAngolaestabelecenoâmbitodos“direitos, liberdadesegarantias“umconjuntodeprincípiosgeraisquedeformadirectaasseguramaigualdadeeequidadedegéneronomeadamenteosprincípiosdauniversalidade(artigo22°)edaigualdade(artigo23°).Comestespressupostos,somosaproporoesboçodeumaleisobreaigualdadedegénero:

CapítuloI(Disposiçõesgerais)

Artigo1°(Âmbito)

Apresenteleidefineosconceitosbásicosdapromoçãodeigualdadedegéneroenãodiscriminaçãoetemporobjectivomelhoraraposiçãodasmulheres.

Artigo2°(Definições)

As definições e conceitos utilizados no articulado são definidos no glossárioanexo, que faz parte integrantedapresente lei, que é aplicável em todosossectoresdasociedade.

Artigo3°(Invariabilidade)

Asdisposiçõesdestaleinãopodemseralteradasporacordosalvaemsituaçãoquevenhaasersempreembenefíciodapromoçãodaigualdadedegénero.

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CapituloII

(Proíbiçãodediscriminação)

Artigo4°(Regrageralrelativaàproíbiçãodediscriminação)

Eproibidaadiscriminaçãocombasenogénero.Adiscriminaçãocombasenagravidez e na licença em relação com o parto ou adopção é consideradadiscriminaçãocombasenogénero.Aproibiçãoaplica-seàdiscriminaçãocombasedalicençamaternidadeefectivaouassumida,anterioroufuturadeumapessoa.Aproibiçãoaplica-seigualmenteàdiscriminaçãocombasenogénerodeumapessoacomquemapessoadiscriminadatemconexão.

Artigo5°(Tratamentodiferenciadolegal)

Otratamentodiferenciadonãopodeviolaraproibiçãodoartigo4se:

a. Temumapropostaobjectiva,b. Énecessárioparaalcançaroobjectivo,ec. Oimpactonegativodotratamentodiferenciadosobrea(s)pessoa(s)cuja

situação se agrava é razoavelmente proporcional tendo em conta oresultadopretendido.

Artigo6°

(Tratamentodiferenciadopositivo)O tratamento diferenciado positivo de um género não violará a proibiçãoconstantedoartigo4°se:

a. O tratamento diferenciado é o adequado para promover a finalidadedestalei,

b. Oimpactonegativodotratamentodiferenciadosobrea(s)pessoa(s)cujaposição se agrava é razoavelmente proporcionado em função doresultadopretendidoe

c. Otratamentodiferenciadocessaráquandooseuobjectivoforalcançado.

Artigo7°(Proibiçãocontraoassédiosexual)

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Éproibidooassédiocombaseemassédiosexualenogénero.

Artigo8°(Proibiçãocontraaretaliação)

É proibido tomar represálias contra qualquer pessoaque tenha apresentadoumaqueixaporviolaçãodapresenteleiouquetenhadeclaradoqueumaqueixapodeviraserapresentada.Issopodenãoseaplicarcasooqueixosoagiucomnegligênciagrave.Aproibiçãotambémseaplicaatestemunhasemcasodequeixa.Éproibido retaliar contraqualquerpessoaquenão seguiruma instruçãoquevioleoartigo9°.

Artigo9°(Proibiçãocontrainstruções)

É proibido instruir qualquer pessoa a discriminar, perseguir ou praticarretaliaçõescontráriasàpresentelei.

Artigo10°(Proibiçãocontraaparticipação)

Éproibidoparticiparnadiscriminação,assédio,retaliaçãoouinstruçãocontráriaàpresentelei.

CapituloIII

(Esforçosdeigualdadeactiva)

Artigo11°(Deverdaacçãoeficazdasautoridadespúblicasparaaigualdade)

As autoridades públicas devem envidar esforços activos, direccionados esistemáticosparapromoveraigualdadeentrehomensemulheres.

Artigo12°(Equilíbriodogéneroemcomitéspúblicos)

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Quando um organismo público nomear ou selecionar comités, directores deadministração, conselhos, juntas, delegações, etc… ambos sexos serãorepresentadosdaseguinteforma:

a. Se a comissão tiver dois ou três membros, ambos sexos serãorepresentados.

b. Se o comité tiver quatro ou cinco membros, cada género serárepresentadoporpelomenosdoismembros.

c. Seocomitétiverseisouoitomembros,cadagéneroserárepresentadoporpelomenostrêsmembros.

d. Seocomitétivernovemembros,cadagéneroserárepresentadoporpelomenosquatromembros.

e. Seocomitétivermaismembros,cadagéneroserárepresentadoporpelomenos40%dosmembros.

Oprimeroparágrafoaplica-seigualmenteàselecçãodosmembrossuplentes.O Ministério está autorizado a conceder isenções quando se verificaremcircunstâncias especiais que tornem manifestamente despropositado ocumprimentodosrequisitos.Oprimeiroparágrafonãoseaplicaaoscomités,etc.quenostermosdoestatutosó podem ter membros de assembleias eleitas directamente. No caso decomités, etc. eleitos por órgãos eleitos publicamente em municípios eautoridades das aldeias, as disposições da lei do governo local deverão seraplicadas.

Artigo13°

(Deverdosempregadoreseorganizaçõesdetrabalhadores)Empregadoreseorganizaçõesdetrabalhadoresdevemenvidaresforçosactivos,orientadosesistemáticosparapromoveroobjectivodapresente leinosseusdomíniosdeactividade.

Artigo14°

(Deverdeorganizaçõeseinstituiçõesdoensinoparaimpedirepreveniroassédio)

Asdirecçõesdasorganizaçõeseinstituiçõesdeensinodeverão,dentrodassuasáreasderesponsabilidade,impedireprocurarpreveniraocorrênciadeassédiocontrárioaodispostonoartigo7°.

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Artigo15°

(Conteúdodosmateriaisdidácticos)Osmatériaisdidácticosutilizadosnasinstituiçõesdoensinodevembasear-senaigualdade,independentementedogénero.

CapituloIV(Regrascomplementaresrelativasàsrelaçõesdetrabalho)

Artigo16°

(Proibiçãodediscriminaçãonasrelaçõeslaborais)Asproibiçõesdocapítulo4aplicam-seatodososaspectosdeumarelaçãodetrabalho.Issodeveincluiroseguinte:

a. Anúnciodeumaposiçãob. Nomeação,reatribuiçãoepromoção,c. Formaçãoedesenvolvimentodecompetências,d. Remuneraçãoecondiçõesdetrabalho,ee. Cessaçãodarelaçãodetrabalho.

O primeiro parágrafo aplica-se de forma correspondente à selecção e aotratamento dos trabalhadores por conta própria e dos trabalhadoresassalariadospelaentidadepatronal.

Artigo17°

(Proibiçãodacolheitadeinformaçãorelacionadacomanomeação)O empregador não deve colectar informações sobre gravidez, adopção ouplaneamento de ter filhos durante o processo de nomeação, seja duranteentrevistasoudeoutraforma.

Artigo18°(Deverdedivulgaçãodoempregadordoscandidatosaoemprego)

Oscandidatosaempregoqueseconsideremdesrespeitadosemcontráriodestalei,terãoodireitodeexigirqueoempregadorforneçainformaçõesporescritosobre a pessoa que foi nomeada. O empregador deve fornecer informaçõessobreaeducação,aexperiênciaeoutrasqualificaçõesformais.

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Artigo19°

(Direitosdostrabalhadoresemmatériadelicençaparental)Otrabalhadorqueestáouesteveemlicençaparentaltemdireitoa:

a. Retornaraomesmo,ouumaposiçãocorrespondente,b. Beneficiardemelhoriasnascondiçõesdo trabalhoaqueo trabalhador

teria,deoutromodo,direitoduranteaausência,ec. Efectuarempedidosdeindemnizaçãonasnegociaçõesderemuneração,e

serem avaliados da mesma forma que os outros trabalhadores daempresa.

Oprimeiroparágrafonãodeveregularafixaçãooualteraçãodepagamentoedas condições de trabalho em consequência de circunstâncias diferentes dalicençaparental.Esteartigodeve-seaplicardeformacorrespondenteaoutrostiposde licençaligadosàgravidezeaoparto.

Artigo20°(Pagamentoigualporumtrabalhodeigualvalor)

Asmulhereseoshomensdamesmaempresadevemrecebersalárioigualpelomesmotrabalhooutrabalhodeigualvalor.Aremuneraçãoseráestabelecidadamesmaformaparaasmulhereseoshomens,semdistinçãodogénero.Odireitoàigualdadederemuneraçãoparaummesmotrabalhooutrabalhodeigual valor aplica-se independentemente do facto de o trabalho se referir adiferentesprofissõesoudeospagamentosseremregidospordiferentesacordossalariais.Seotrabalhoédevalorigualdeveserdeterminadoapósumaavaliaçãoglobalemqueédadaênfaseàespecializaçãoqueénecessáriapararealizarotrabalhoeoutrosfactoresrelevantes,taiscomoesforço,responsabilidadeecondiçõesdotrabalho.

Artigo21°

(Deverdecomunicaçãodoempregador)

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Osempregadoresdeveminformarsobre:

a. Asituaçãoactualdaigualdadeentrehomensemulheresnasuaempresa,e

b. Medidas de igualdade que foram tomadas e que devem serimplementadasparacumprirodeverdeactividadedeacordocomoartigo22°.

O direito de apresentação de relatórios aplica-se às empresas que têm aobrigação legal de elaborar um relatório anual. Esses organismos devemincluirrelatosnosseusorçamentosanuais.

Artigo22°(Direitodeactividadedoempregador)

Osempregadoresdevemfazerumesforçoactivo,direcionadoesistemáticoparapromover o propósito desta lei em seus empreendimentos. O dever deactividadeenglobaquestõescomorecrutamento,remuneraçãoecondiçõesdetrabalho,promoção,oportunidadesdedesenvolvimentoeprotecçãocontraoassédio.

Artigo23°(Deverdecomunicaçãodoempregador)

Osempregadoresdeveminformarsobre:

a. Asituaçãoactualdaigualdadeentrehomensemulheresnasuaempresa,e

b. Medidas de igualdade que foram tomadas, e que devem serimplementadasparacumprirodeverdeactividadedeacordocomoartigo22.

Aobrigaçãodeapresentaçãoderelatóriosaplica-seigualmenteàsautoridadespúblicaseàsempresaspúblicasquenãoestejamsujeitasàobrigaçãodeelaborarum relatório anual. Esses organismos devem incluir os relatos nos seusorçamentosanuais.

Artigo24°(Odeverdoempregadordeimpedireevitaroassédio)

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Osempregadoresdevemimpedireprocurarpreveniraocorrênciadeassédiocontráriaaoartigo7°.

CapítuloV

(Execução,ónusdaprovaesanções)

Artigo25°(Aplicaçãodestalei)

Aprovedoriade justiçapara a igualdadeenãodiscriminaçãoeo tribunal deigualdadeenãodiscriminaçãodevemimporecontribuirparaaimplementaçãodestalei.

a. Assédiosexualnoartigo7°b. EsforçosdeigualdadenocapítuloIVenoartigo22°,c. Manipulaçãodeinformaçõessobreremuneraçãonoartigo21°,segundo

parágrafo,ed. Compensação por perdas não económicas e compensação por perdas

económicasnoartigo27°.Aprovedoriaeotribunalnãodevemimporaproibiçãodediscriminaçãonavidafamiliarerelaçõespuramentepessoais.

Artigo26°(Ônusdaprova)

Considera-sequeadiscriminaçãoocorreuse:

a. Circunstânciasquepermitamacreditarqueadiscriminaçãoocorreu,eb. Apessoaresponsávelnãocomprovarqueadiscriminaçãonãoocorreude

facto.

Isto aplica-se no caso de alegadas violações do disposto no capítulo 3 e nosartigos16°,17°,19°e20°.Numarelaçãodetrabalho,aresponsabilidadedeveexistirindependentementede o empregador poder ser responsabilizado pela discriminação. Em outrossectoresdasociedade,aresponsabilidadedeveexistirseapessoaquecometeuoactodiscriminatóriopodeserculpadaporfazê-lo.

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A compensação por perdas económicas abrange as perdas económicasresultantesdadiscriminação.Aindemnizaçãoporperdasnãoeconómicasseráfixadanummontanterazoáveltendoemcontaoâmbitoeanaturezadodano,arelaçãoentreasparteseascircunstânciasemcontrário.Essasregrasnãodevemlimitarodireitodaspessoasareclamarcompensaçãopor perdas não económicas e compensação por perdas económicas sob osprincípiosgeraisdaresponsabilidade.

Artigo27°(Compensaçãoporperdasnãoeconómicasecompensaçãoporperdas

económicas)Uma pessoa discriminada pode reclamar uma indemnização por perdas nãoeconómicas e uma indemnização por perdas económicas. Esta disposição éaplicávelemcasodeviolaçãododispostonocapítulo3enosartigos16°,17°,19°e20°.

Artigo28°(Direitosdasorganizaçõesdeagircomorepresentanteslegais)

Nos casos tratados pela procuradoria de justiça da igualdade e nãodiscriminaçãoedotribunaldeigualdadeenãodiscriminação,umaorganizaçãoquetemtrabalhocontraadiscriminaçãocomoseuúnicoouparcialpropósitopodeserusadocomoumrepresentantelegal.Em casos perante os tribunais, uma pessoa nomeada por e associada a umaorganização que tem trabalho anti discriminação como seu único ou parcialpropósito pode ser usado como conselheiro. Isto não se aplica ao tribunalsupremo.20

CapítuloVI(Dúvidaseomissões)

Artigo29°

20http://www.regjeringen.no/en/dokumenter/the-act-relating-to-gender-equality-the-/id454568/08/02/1711h39.

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Asdúvidaseomissõesquesuscitaremnainterpretaçãoeaplicaçãodapresentelei,sãoresolvidaspelotribunaldeigualdadeeantidiscriminação.

CapítuloVII

(Entradaemvigor)

Artigo30°(Entradaemvigor)

Apresenteleientraemvigoràdatadasuapublicação.

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AnexoàLeidaIgualdadedegénero

Para efeitos de interpretação da presente Lei da igualdade de género, sãoadoptadasasseguintesdefinições,paraaspalavraseconceitosutilizadosnoseuarticulado:

1. Igualdade-Condiçõesiguais,igualdadedeoportunidades,acessibilidadeealojamento.

2. Discriminação - Tratamento diferenciado directo e indirecto que não élícito.

3. Tratamento diferenciado directo - Um acto ou omissão que tem opropósitoouefeitodequeumapessoasejatratadapiordoqueoutraspessoasnamesmasituação.

4. Tratamento diferenciado indirecto - Qualquer disposição, condição,

prática,actoouomissãoaparentementeneutroqueresultenumaposiçãopiordoqueoutraspessoasequeocorracombasenogénero.

5. Assédio sexual - atenção sexual indesejada que é problemática para a

pessoaquerecebeaatenção.

6. Pagamento - remuneração normal do trabalho acrescida de todos osoutroscomplementosouvantagensououtrosbenefíciosconcedidospeloempregador.

7. Assédio com base em género - actos, omissões ou declarações que

tenhamoefeitooupropósitodeseremofensivas,assustadoras,hostis,degradantes,ouhumilhantes.

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Com uma proposta de lei, estamos preparados para outras tarefas porque amatériadaigualdadedegéneroétransversalousejaabrangetodossectoresdavidasocial.Assimpodemosenumeraralgumastarefasqueachamosprioritáriascomoamelhoriadoacessoà justiçaque iniciacomaobtençãodobilhetedeidentidadeparaasmulheresetambémfacilitaroacessoàjustiçaparaaspessoasdebaixarendaeasmulheres.HáumanecessidadedereformadajustiçaquejáestáemcursomasquedeveseraprofundadaparadarumaceleridadeàsacçõesdaJustiçaemtermosdostribunaiscomotambémdosjuízes.Porfimnoaspectosocial,preconizamosacriaçãodecentrodeacolhimentoparaasmulheressofredorasdeviolênciafisíca,psicológicaeoutros.Umaformaçãocontínuadosdireitoshumanosparaoslegisladores,osjuízes,apolícia enquanto responsáveis da elaboração e aplicação das leis sobre aigualdade de género e promoção da mulher. Tendo em conta a baixarepresentaçãodasmulheresnafunçãopúblicacomonosoutrossectoresdavidasocial,éprecisoestabelecerosistemadasquotasaníveldafunçãopúblicanomínimode40%.Orespeitodasquotasdevesermonitorizadoporumprovedorde igualdade de género que deve necessariamente ser jurista. Para darmaisespaço às mulheres, achamos que é necessário rever o salário minímo eestabelecer um regime das incompatibilidades das funções. Podemos aplicartambémquotasaníveldogovernocentral,dosgovernadoresdasprovínciasedosmunicípiospara incentivarumaparticipaçãodasmulheresnatomadadasdecisõesatodosníveis.Navertentepráticasugerimosdeumladooaumentodoorçamentoreservadoàeducaçãoeàsaúdeeamonitorizaçãodasacçõesdestesministérios,proclamara violência doméstica e a violação como crime público onde doravante nãohaveránecessidadedefazerqueixa.Cadaministrotemaresponsabilidadedevelarpelaigualdadedegéneronoseusector. Como os direitos humanos são interdependentes, isto vai terconsequêncianosoutrossectoresdavidasocialcomonoacessoàáguapotável,osaneamentobásicoecriaçãodeactividadegeradoraderendimento.

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CONSIDERAÇÕESGERAISFINAISO factodeassinare ratificarum tratado significaqueoEstadoéobrigadoacumprircomassuasobrigações internacionais.Acooperaçãonorueguesanosajuda para melhorar a prática sobretudo quando o país adere e ratifica umtratado. Angola assinou e ratificou a convenção das Nações Unidas sobre aEliminação de todas Formas de Discriminação contra a Mulher que é muitoimportante.Masofactodeajudarapôrempráticaosdireitosproclamadoséaindamelhorporqueamulheréumelementofundamentaldasociedade.Aliásháumprovérbiopopularquediz:“Educarumamulheréeducarumanação.”Senós conseguirmos respeitar os direitos das mulheres e pôr em prática aigualdadedegénero,estaremosa respeitarosdireitoshumanosemtodososaspectos.IstoimplicaoreforçodoumEstadodemocráticoededireitos.Assimo Estado em questão, tem as condições mínimas estabelecidas para o seuprópriodesenvolvimentoporqueademocraciaésempreacompanhadacomorespeitodosdireitoshumanos.Umanãofuncionasemooutraporqueháumaresponsabilizaçãonãosódosactorespolíticosmas tambémda sociedadeemgeral.Oresultadoéumdesenvolvimentosustentáveleharmoniosodopaísmasistoéumaoutraquestão.

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BIBLIOGRAFIA

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