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As idéias políticas do gal. Golbery do Couto e Silva A linguagem das crianças O trabalho das mulheres brasileiras Comércio externo: como pagar as importações 7 II do morço do 1974 n.° 70 Cr$ 3.50 ^SmBk.1l^flBk. ,+B\ ,^[ ^^^^B B. ^tfBk ,com a edição semanal brasileira do ^ B7 fflí Bb^^JbbOIbh WWWW.^BSHÉeBBBBBBmB^Bv' '""""TMMMmcy**""""" "" ¦ ig/^4. M—Njjax «.^ BBarXB BkiBmm Bw \ Em^l^L.B i9 m mm m^wMm m\Wã\ ^^ ,KflVJV¦ i bb\\w^m*Mw bV Kbb kwHIUIp^ 1 bHJ m v V 'Al(MkK IIrIJfJil vi ¦ É^^^*^* VC %WMwYmÍBB!1^^tt o^K |r MJA Ptfl )Bw ffl ScVa BVJfa^KBBBlmJBBjBl Bi 4r^ ^^^ •••- mrnw ^W ãr/MwiM)FJÍwEhSM\. i i^QK^^IK^ill^^w^lm ' •'  muMwJBÊ ' Êssú vmwÊ f&Káw x ^1 r_3 bSSMtS g _JtWNb\J' AlL ' 11 i^ r ?^rfvl^l^^.Be^bBiBR ^B BtJ^il HH 5^Z^I1^^ f /"tf AMÈ^MF?Jr ^/àmá K^ 9Px^^^^^BkHiflB 1 KKíflKr^l^.1 W^r^ÊmL^ A\jk\r ?C V . I HlriLi J &9bYK H bMMy^ \ ?wÈ'''''' abr Bi ElE 1 HE gíüaK ^ \ Dbbbj1 bY^^bv^H^H bp s\\\\\\\\WW\t^ flB^vv ^vVgicy^Mfl$\ ?M A73 B^Be£3SBJB B&/?«£BlfiB ?Ml»*»^M^^^^J BSvBW^^^^Z^ \ ,v ' .' J 1 BnK«Ik lUk' / \ IIt*/ á 'I |MmSBSeSM mtWWW * vt^Hpnm / v mmy ? . jr 1 19|///jnp^^ 11 * 1 KTlu ^ / +m $ t 4 1 ' ^ * lia ^ ^^m Pm^^^-j ¦ ..tuiníüía Ml»l——^^fc. ————a^fcg mr^^ ^^^wrt3BJ^B . ?.¦"•¦".*1 ¦ V Carlos Castaneda, o, novo culto do oculto \ 1

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As idéias políticas do gal. Golbery do Couto e SilvaA linguagem das crianças

O trabalho das mulheres brasileirasComércio externo: como pagar as importações

7II do morço do 1974 n.° 70 Cr$ 3.50

^Sm Bk.1 l^fl Bk. B\ ^[ ^^^^B B. ^tf Bk

• com a edição semanal brasileira do

^ B7 fflí Bb^^JbbOIbh WWWW .^BS HÉeBBB BBBm B^Bv ' '""""TMMMmcy**""""" ""

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opiniãoD BRASIL Opinido. II do morto do lf74

Uma publicação do idltoroInuWo Itdo.

DMiTOftrornondo Gatoorion*

MDAÇAO

Editor:Raimundo Rodrigues Pereira

Editor Executivo:Antônio Carlos Farroiro

Aftuntos Nocionols: OucouBfísolo (editor}. Ivo Cardoso(edüor assistonta}, GenilsonCesor* Aguinc'Jo Silva (editorcontribuinte).

Eeonomia: Marcos Gomes(editor}, Ricardo Bueno. AloysioBcfíi (editor contribuinte).Gerson Toller Gomes (editorcontríbuinto).Tendências e Cultura: JúlioCosar Montenogro (oditor).Sérgio Augusto o Jeon-ClaudoBernardot (cinema). Tórik deSouza (música). Ronaldo. Brito(arte e literatura). HaroldoMarinho (televisão). HeloisaOaddario. João Lizardo.Assuntos Internacionais: Flóviode Carvalho (editor assistente).Juracy Andrade. Marta Vilela.Celina Whately. Aldo Bocchini.

Arte: Elifas Andreato (editor).Cássio Loredano. Diter Stein.Luis Trimano. Petchó.Correspondentes naeionais:Teodomiro Braga (BeloHorizonte), Alves de Souza(Brasília).

Correspondentes inter-nacionais: Norma Bahia Pontese Rita Moreira (Novo York).Vana Brocca (Milão). AlbertoCarbone e Claudia BoechatAbreu (Buenos Aires). BernardoKucinski (Londres). LaymerlGarcia dos Santos (Paris).-Produção: Ana Maria Nogueira

(secretária),. Maria da Con-ceição Choves Fernandes.Antônio Fernando de SouzaBorges. Maria Helena Lavinas deMorais.

ADMINISTRAÇÃO

* Gerente administrativo:Raimundo Andrade.

A assinatura para o Brasil. CrS160,00 a anual e CrS 80.00 asemestral; para o exterior USS40 a anual e 20 a semestral.Envio p"ór' via aérea ou pelosserviços postais de entregarápida. Redação: Rua AbadeRamos, 78, Jardim Botânico. Riode Janeiro, telefones: 246-7466e 226-1764. Administração,telefone: 246-5326.Distribuição: Abril S. A. Culturale Industrial. Rua Emilio Goeldi,575: Lapa, São Paulo. Compostoe Impresso na Editora MoryLtda., Rua do Resende 65, Rio deJaneiro.

ALÉM DA EDIÇÃOBRASILEIRA DOLE MONDEOPINIÃO PUBLICA AINDA

UMA SELEÇÃO DE ARTIGOSDOS SEGUINTES JORNAIS

E REVISTAS

H)C toasljington flastGUARDIANThe New York Review

NOTASMDB-Belo Horizonte

A oposição a favor

A situação da btneada do MPBna Clmara Municipal dos

Vereadores de Belo Horizonte éoriginal: a maioria da bancada seguefielmente as determinações do prefeitoOsvaldo Pierueetti. arenista. O blocoadesista — composto por seis dos 10vereadores do partido teoricamente deoposição — é mais conhecido como

AR l.N ai • ou "turma da ban-dinha". tal a disposição com que sebate pela aprovação de qualquerprojeto enviado i Clmara peloprefeito. Os »rfc únicos vereadores mieainda insistem em fazer oposição àadministração municipal já chegaramá conclusão de que ê impossívelprocessar a bancada adesista porinfidelidade partidária. Isto porque,levando-se em coma o quadro atual,são eles três.os infiéis as decisõestomadas durante as reuniões dopartido. O diretório municipal, queteria competência para julgar asconstantes acusações de infidelidade,não age nem toma conhecimento dasdenúncias simplesmente porque oórgão também é controlado pelosvereadores adesistas.

O dilema (inusitado?) do MDBcompleta-se com Wilson Piazza. atletado Cruzeiro e da Seleção Brasileira queaceitou eleger-se vereador pela siglaoposicionista "só

porque o convite doMDB veio primeiro". Certamente nvereador mais elegante da Câmara,"Piazza

comparece às reuniões quasesempre com uma pasta preta, tipoJames Bond. e trajando ternos vistosose camisas bem engomadas. Nosprimeiros dias de mandato ele pensouem votar, através da Câmara de BeloHorizonte, uma lei que regulamentariaa situação dos atletas profissionais nãosó do município mas de todo o pais.Passou o resto do ano apenas "ob-servando para aprender". Uma dasraras vezes em que largou a pasta pretae aventurou-se a subir à tribuna foipara defender o presidente da CBD.João Havelange. então acusado deprejudicar o futebol de Belo Horizonteno episódio do inquérito promovidopela entidade para apurar o doping aojogador Campos. (Apesar da in-tervenvão de Piazza, Havelange acabousendo considerado pela Câmara comopersona non grata à cidade.)

O bloco adesista é mais importantepara o prefeito Osvaldo Pierueetti quea própria ARENA, e a recente eleiçãopara a presidência da Câmara com-provou isto. O diretório da ARENAlançou um candidato oficial àpresidência (Obregon Gonçalves) e oprefeito apoiou a candidatura de outro(Helvécio Arantes), provocando umadissidência no partido — com seisvereadores de um lado, solidários a/Obregon, e cinco do outro.

O articulador dos conchavos para aeleição do candidato do prefeito foi opróprio líder da "turma da bandinha",Geraldo Quiabo, que somou os seisvotos dos adesistas aos outros cinco eelegeu Helvécio.

Antes, o MDB havia se reunido paraestudar a situação pois, se tivessecoesão, poderia aproveitar e eleger opresidente da casa. Durante a reunião,o líder emedebista, Luis OtávioValadares, se irritou tanto com aposição assumida por Geraldo Quiaboque acabou lhe concedendo meia horapara que fosse logo consultarPierueetti.

Velho compadre do prefeito,Geraldo Quiabo é reconhecido atémesmo dentro da ARENA como o líderde Pierueetti na Câmara. Quandoalguém não o encontra na Câmara, élogo informado: ele está no gabinete ouna casa de Pierueetti. No domingo pelamanhã é mais facilmente localizado:invariavelmente está jogando vôlei comPierueetti na casa de campo daprefeitura.

"Não quero nada com esse •

troço de oposição, o meu negócio é com.Pierueetti", costuma dizer com in-disfarçável orgulho. E faz questão derevelar ' a ligação, comparecendo àsinaugurações de obras em companhiado prefeito.

Há um ano na liderança da bancadaoposicionista. Luis Otávio Valadaresadmite que é uma tarefa impossíveldirigir uma bancada como a sua."Assim nio dá", reclama. "Ano

passado a ARI NA conseguiu aprovartudo o que quis e o pessoal do MDBnão reagiu nem mesmo contra aaprovação do projeto que transferiu opagamento da taxa de iluminaçãopública da prefeitura para o povo".

Para o !.* secretário da comissãoregional do MDB. Emílio Hadad. asituação é "constrangedora". "Não

queremos que fiquem de pedra na miopata jogar no prefeito mas apenas umcomportamenfo digno. Que pelomenos d***n ao partido característicade oposição e o combate aos erros doexecutivo seja uma regra e nàoexceção".

Transferir-separaaARENA.norcm.éuma hipótese que nenhum dosadesistas do MDB admite. Pois. comoem várias outras capitais do pais.também em Belo Horizonte o MDBtem mais receptividade junto aoeleitorado. Mas o eleitora''»»emedebista parece desiludido com aorientação ao partido e manifesta odesagravo através das urnas. Em 1966.na primeira eleição após a implantaçãodos dois partidos, o MDB conseguiueleger 12 vereadores contra nove daARENA. Em 1970 a oposição baixou onúmero para 11 e finalmente perdtmaioria na eleição m? 1972.

3qu a

São Paulo:"o sr. já viulilme do Vietnã?"

O que deve fa/.er um cidadãode reduzidos recursos financeiros

quando uma fábrica vizinha incendeia-se provocando explosões que fazemdesabar parcialmente sua casa? Paraos moradores do último quarteirão dasRuas Major Basllio e Acre no confuso emovimentado ponto de encontro dosbairros da Mooca e Água Rasa, naZona Leste da cidade de São Paulo,essa é uma pergunta ainda semresposta.

Na madrugada de sexta-feira, dia 8de fevereiro, muitos deles acordaramcom um cheiro de produto químicomuito forte e irritante. Outros sópularam da cama quando o primeiro epavoroso estampido fez á terra tremer:a fábrica da Uniplast, plantada bem nomeio de uma quadra ocupada porpequenos sobrados de aspecto desiguale desajeitado — em grande parteconstruídos pelos próprios ocupantes— estava pegando fogo e os latões detiner empilhados no páteo começavama explodir.

A Rua Major Basílio é nesse trechouma ladeira que desce da Mooca até aAv. Álvaro Ramos, a principal da ÁguaRasa. Quem morava da fábrica parabaixo desceu e os que moravam paracima correram' no-sentido contrário. Apequena multidão de mulheres decamisola e homens de pijama ousimplesmente de cuecas deslocou-seaos gritos, as famílias convocando seusmembros para ter certeza que estavamvivos.

Ainda chocados pelo terrívelespetáculo do incêndio do edifícioJoelma as pessoas se desesperavam."Os latões subiam a mais de 100metros ae altura e explodiam lá emcima", conta Timóteo Vitoriano, umhomem de aparentemente 50 anos, paide dois filhos e mais uma meninaadotada, que mora na segunda casaacima da fábrica. "O sr. já viu filme doVietnã? Pois é, eu estive lá duranteuma hora. Não desejo que um cachorro,passe num segundo o que eu passeiaquela hora. Se eu visse um filmedaquilo desligava a televisão".

A expressiva descrição do Vitorinotalvez contenha algum exagerocomparativo mas a sensação de que o

incêndio dl Uniplast foi um» espéciede catástrofe é comum entre o* que oassistiram. E houve realmente razõespara isso. Um motor de cerca dt X)quilos, impulsionado pelas explosões,percorreu petos ares o espaço de duascasas e foi arrebentar o telhado de umaterceira. Um latio de tiner atravessou arua e bateu no muro. incendiandoparcialmente a casa em frente àfábrica, e um fuscâo (comprado amenos de 15 dias) estacionado tambémdo outro lado da rua pegou fogo.Telhados e tetos ruiram. muitasparedes das casas vizinhas racharam ealgumas desabaram totalmente.Partiram-se vidraças, portas evenezianas.

Na casa de Vitorino. por exemplo,caiu todo o forro, à exceção de umquarto, e a parede da cozinha foidestruída. A cobertura despencou dotelhado, alguns móveis nào resistiramao pevo do material que desabou sobrecies e três -metros, cujas gaiolasestavam penduradas numa parede queruiu. morreram. "O dono diz que vaipagar", afirma sem grande convicçãoVitorino. "Ele diz que tem seguro masainda ninguém sabe de quanto é esseseguro nem se ele existe para terceiros.Eu sinceramente não sei o que fazer.Com a ajuda de amigos que me deramtelhas, tijolos, madeira e de outros quevim para trabalhar nós estamosreconstruindo a casa. Ainda bem queesses amigos vêm para ajudar. Senãoeu não sei como é que estaria agora. Seeu não tivesse ganho 950 telhas do DitoPreto que mora aqui perto, a casaainda estaria descoberta. Quanto àindenização não tenho idéia. Como éque eu. na situação que estou, possopensar em pôr advogado? Se ele pagar,graças a Deus. Se não pagar, o que éque eu posso fazer"?

Outros moradores da região, noentanto, acharam que podiam fazeralguma coisa, pelo menos para evitarum acontecimento semelhante aoexplosivo incêndio da Uniplast. Nosábado eles começaram a movimentai-se e na segunda-feira, dia 11, um grupodeles reuniu-se à porta da Pneutec S.A.Indústria e Comércio de Pneus, cujasinstalações ficam a uns 30 metros dafábrica incendiada. Estavam ali paraexigir da Pneutec medidas desegurança contra explosões e incêndiosou mesmo a transferência da empresapara um local mais adequado.Segundo "ós reclamantes, a Pneutectrabalha com material extremamentecombustível sem atender aos mínimosrequisitos de segurança. E, fora isso,suas caldeiras despejam no ar umapoeira escura que cobre as ruas, suja ascasas e provoca problemas derespiração. De acordo com a empresa,contudo, as condições de segurança sãoboas ("Estamos aqui há 20 anos ejamais aconteceu nada além de umas(Jescargas de caldeira", diz o chefe deescritório José Rocha) e a poluição nãochega a ser um problema porque

"elaexiste em toda a parte".

Não se sabe se a Pneutec tomaráalguma providência para tranqüilizaros seus vizinhos. No dia da con-centração os seus dirigentes preferiram

iuma saída menos dispendiosa echamaram a policia, que prontamenteenviou quatro viaturas de choque daPM. Não se sabe também quempagará, se é que alguém pagará, o

fuscào, os telhados e as vidraçasquebradas, Sabe-se apenas que pessoascomo Timóteo Vitorino pouco ou nadafario para defender o seu direito. Natesta-feira. dia 16 passado, umasemana depois do incêndio, a senhoraVitorino e algumas vizinhas rnan»daram reatar uma missa de sétimo dia.de ação de graças pelo que nioaconteceu. E sorridente a sra. Vitorinovoltou da cerimonia placidamenteresignada, trazendo peto braço a filhamais velha, uma adolescente feliz porter recuperado a cadelinha pequinesque desaparecera no dia do incêndio."Eu nio digo nada contra o dono", dizVitorino referindo-se ao proprietárioda Uniplast. "Ele até já pagou umascervejas pra gente ali no bar. Eu sóqueria que ele tirasse dali os latões queainda ficaram, para poder dormir umpouco mais tranqüilo. Mas ele disseque quem tem que remover os latões éacompanhta de seguros. E sabe comosão essas companhias de seguros"..IDlrceu Brisolal

Piauí:o sociólogoe o "lubisome"

Durante 45 dias uma equipe de

técnicos da Fundação ProjetoPiauí, entidade mantida pelo governopiauiense e pela InteramericanFoundation, pesquisou uma região de8.200 quilômetros quadrados nomunicípio de São Raimundo Nonato.O objetivo era elaborar um diagnósticoglobal do Distrito de Curral Novo. Ostícnico< ouviram 5.800 pessoas numapopulação de 6.100.

A pesquisa, considerada a maisimportante e a mais completa que sefez até hoje no Piauí, exigiu que ostécnicos participassem de um curso demetodologia antes de partiren para asentrevistas diretas, custou CrS 120 mile os resultados exigiram seis meses deestudos e interpretações. Na áreaforam descobertas jazidas de cal,cimento, amianto, galena e anilina. Astabulações mostraram que em milnascimentos há 350 mortes e que ascausas mais comuns são a difteria, acoqueluche e, nas crianças, o tétanoumbilical, chamado de "mal de setedias".

Segundo os resultados. 67% dasfamílias bebem água poluída. Nascasas não existem fossas e as pessoasfazem suas necessidades', depreferência, perto de touceiras demato. Sessenta por cento dospossuidores de título de eleitor sãoanalfabetos, só sabendo assinar bnome. Nessa região, considerada amais pobre do Piauí e onde se registra0,7 habitantes por quilômetroquadrado, há cinco anos um sociólogoteria sido morto pelos moradores deuma casa onde se hospedava. Um diateria amanhecido de roupão e quandoescovava os dentes foi acuado e morto aDauladas. Explicação que teria sidodada pelos assassinos- depois: "Eleparecia um lubisome. botando espumapela boca".

• l-e.-SJgrí:

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Op.n.óo 11 dt março d* It74

As idéias políticasdo general Golbery do Couto e Silva ^

,mals alio stafj do governo'federal no Brasil pode serbasicamente dividido cm duas equipes;o Ministério c a Presidência daKcpública. Embora tenham irurut deministro de Estado, os chefes deGabinete. Civil e Militar, e o chefe doServiço Nacional de Informaçõescompõem uma pequena e poderosaequipe que trabalha diretamente com oPresidente no Palácio do Planalto e oacompanha sempre nas viagens e nosperíodos cm que cie permanece no Riode Janeiro. Durante o governo dogeneral Emílio Garrasta?u Mediei esseconjunto, composto pelo general JoioBaptista' de Oliveira Figueiredo, da °Casa Militar, .pelo professor JoãoLeitão de Abreu, da Casa Civil, e pelogeneral Carlos Alberto Fontoura, doSNI. era conhecido no jargão palacianocomo troika — os companheiros in*separáveis do presidente — edesempenhava funções da maiorimportância', durante um largo períododo governo os ministros civisdespachavam a maior parte das vezescom Leitão de Abreu, que tomavaantecipadamente e com a necessáriadiscrição todas as providências capazes

.de encaminhar as decisõespresidenciais.

Com a ascensão do general Geisel achefia do governo essa equipe serábasicamanete renovada, per-manecendo nela apenas o generalFigueiredo', que troca a Casa Militarpelo SNI. Figueiredo. 56 anos. da armade Cavalaria como Mediei, ex-comandante da Força Pública de SãoPaulo, ligado ao setor de informaçõesdesde 1961. quando chefiou uma seçãodo então Serviço Federal de In-formações e Contra-informações, chefeda agencia-1 central do SNI naGuanabara no governo CastelloBranco e chefe do Estado-Maior do 111Exército quando Mediei era ocomandante, tem servido desde que ogeneral Geisel foi indicado para apresidência como uma espécie de pontede comunicação entre o atual governo eo que vai sucedê-lo, exercendo tais

> funções mesmo nos momentos e emtorno das questões mais delicadas.

Ninguém, contudo, põe em dúvida

'o fato de que. entre os auxiíiaresimediatos do presidente, a figura demaior destaque no próximo governoserá a do general Golbery do Couto eSilva, chefe do Gabinete Civil aprincípio e talvez posteriormentetitular de um Ministério de Coor-denação ou de uma Secretaria Geral daPresidência a serem possivelmentecriadas.

Desde quando Geisel foioficialmente homologado candidato daARENA, Golbery tornou-se o seuprincipal colaborador, o primeiro —além do coronel Gustavo de MoraesRego e do professor Heitor de AquinoFerreira, que já estavam ao lado deGeisel na Petrobrás — a ter sala nodecisivo gabinete do Largo daMisericórdia. Durante a fase deescolha do Ministério,Golbery foi oresponsável por grande parte dosentendimentos diretos'com os possíveisministros e alimentou a bagagem delivros e documentos que estes in-variavelmente carregavam ao deixar oLargo da Misericórdia depois depraticamente escolhidos. Ê\por issomesmo inevitável que a atenção dosque se interessam em desvendar o.srumos do futuro governo voltç-sf paraesse gaúcho do Rio Grande, de cabelosbrancos aos 63 anos de idade, quequando capitão escreveu seu primeiroíivro sobre a técnica do tiro de morteiroe posteriormente publicou outros dois(Planejamento Estratégico, em 1955 eGeopolítica do Brasil, contendo trêsestudos sobre os aspectos geopolíticosdo Brasil, respectivamente de 1952,1959 e 1960) e ganhou notoriedadenacional quando foi. encarregado dacriação do SNI por Castello Branco,lodo após a vitória do movimento demarço de 1964.

Mas quem é e como pensa o generalGolbery do Couto e Silva e quais asrelevantíssimas funções que lhe estarãoreservadas no decorrer dos próximos

quatro anos? Essas perguntas aindanão estão inteiramente respondidasmesmo para a pequena pane do povobrasileiro que se interessa por taisquestões, Sabcse de Golbery quedurante seus M anos de Exército elecultivou a imajçcm de um intelectualvoltado para o que julgava serem osgrandes problemas políticos eestratégicos do pais. Primeiro aluno desua turma (1927/30). teve sua carreiramarcada pelo interesse em participardas decisões quanto aos rumospolíticos do Brasil que o levou aingressar em 1952 na Escola Superiorde Guerra, órgio destinado a exercergrande influência na definição daestratégia e dos programas dosgovernos posteriores a l%4.

Fm l%0 Golbery colaborou com acampanha de Jânio Quadros ápresidência da República e em !%1deixou o Eaército reformando-se noposto de general para participar doIPÊS — Instituto de Pesquisas Sociais— uma organização sustentada porempresários assustados com o com-portamento do governo João Goulart eque viria a desempenhar um im-portante papel na articulação esustentação da sua derrubada em1964. Do IPÊS Golbery mantinhacontato com <:'...—. envolvidos naconspiração que resultaria nomovimento de março de 64.especialmente com o então generalCastelo Branco, de quem era amigo eadmirador, c se tornaria auxiliar comoprimeiro chefe do SNI.

Terminado o governo CasteloBranco ele deixou a vida pública paraocupar o posto de presidente da DowQuímica do Brasil, subsidiária dopoderosos grupo norte-americano DowChemical, sendo depois promovido àpresidência do grupo na América doSul. Desligado da Dow. da qualdespediu-se em recente banquete emSão Paulo, volta ao governo para sertalvez a sua peça mais importantedepois do próprio presidente daRepública.

Em virtude das'suas habilidades

e aptidões Golberty deverádesempenhar no governo funções decaráter essencialmente político e nãoadministrativo: a coordenação de quese fala seria assim fundamentalmentepolítica, a atividade de manter oMinistério, o Congresso, a ARENA etodas as forças políticas que apoiam oudevem apoiar o governo coordenadasaos seus objetivos estratégicos. Umadas mais graves incumbências dessepapel seria a de procurar ampliar abase de apoio ao governo incorporandoa ela o máximo possível de forças comum mínimo de desvios e concessõesquarto às opções políticas, econômicase sociais adotadas pelos governosrevolucionários.

Para quem pretende investigar opensamento e as opiniões do generalGoibery. o maior repositório de in-formações é ainda o seu livroGeopolítica do Brasil, reeditado em1967 pela coleção DocumentosBrasileiros, trazendo um prefácio emque Afonso Arinos jde Melo Franco oconsidera de grande importância por"seguir a marchadas idéias de um dosmais qualificados representantes danossa inteligência militar" contendo"indicações interessantes sobre asposições de análise e de interpretaçãodos acontecimentos brasileiros daúltima década, predominantes nachamada Sorbonne (apelido quecomumente se dá à ESG), ou seja. nosmeios intelectuais mais atuantes dasForças Armadas; posições essas quetão grande influência tiveram_ namobilização revolucionária e'naorientação do governo formado pelaRevolução".

De uma maneira aproximada — '

porque é sempre. arriscado resumirteses e idéias expdstas tium livro —pode-se dizer que Golbery considera omundo num impasse imposto pelarigorosa divisão entre o Ocidentedemocrático, liderado pelos EUA, ecristão e o Oriente comunista, en-

• cabeçado pela URSS e pela China. Esseé o "antagonismo dominante" que

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norteia as relações internacionais cdefine as posições dos países de umlado ou de outro, apenas raramenteno meio "lutando por nm neutralismoque se radica no justo temor pelasobrevivência nacional. No mundo dehoje", diz ele, "o antagonismodominante entre os EUA e a Rússia,polarizando todo o conflito, deprofundas raízes ideológicas, entre acivilização cristã do Ocidente e omaterialismo comunista do Oriente, eno qual se joga pelo domínio ou pelalibertação do mundo, arregimenta todoo planeta sob o seu dinamismoavassalante a que não podem, nãopoderão sequer, escapar, nosmomentos decisivos, os propósitos maisreiterados e honestos de umneutralismo. afinal de contas, im-potente e obrigatoriamente oscilante".

A paz mundial duradoura é dessaforma somente uma quimera."Francamente", escreveu Golbery.

"não entendemos como — a menosque busque por um mecanismosubconsciente de compensaçãoenganar-se a si mesmo e à angústia dainstabilidade a que deseja fugir —possa alguém acreditar hoje nos velhossonhos de uma paz mundial, fundada— e ainda mais para os nossos dias ouos dias de nossos filhos — na justiçainternacional, na intangível liberdadedas nações, reconhecida e respeitadapor todos e nesse princípio tão lógico,tão moral, mas não menos irreal, daautodeterminação e absoluta soberaniados povos, o qual, nem por não se podernele confiar, de forma alguma, importaque se deixe de usá-lo e defendê-lo atodo o custo como argumento único,que é\ dos fracos contra os fortes. Oideal da 'renúncia à guerra comoinstrumento da política' proclamadoingenuamente no Pacto Briand-Kellogg, ainda em meio ao interregnoeufórico que apenas

'separou as duasmaiores guerras que já convulsionaramo mundo, viu-se inteiramenteultrapassado pela realidade in-

discutível dos fatos. A Liga das Naçõesnascera já moribunda, triste abono deum grande idealismo utópico, e a ONUe seu estranho sistema de paternalismopolítico, por mais que. se lhereconheçam os méritos e as realizaçõesno setor da cultura e da assistênciatécnica, serviu apenas para criar, à luzmeridiana, um palco incruento onde sedigladiam tenazmente nações inimigase irreconciliáveis e onde-ressoam astensões violentas que dissociam omundo de nossos dias".

Essa seria a situação mundial, umestilo de guerra permanente,

"guerramoderna que se trava entre nações,mobilizando toda a força arrasadora.todos os impulsos destruidores, todo oprimarismo incontido da emotividadebárbara das massas angustiadas eesporeadas à luta. e.xpandindo-se, emcrescendo, a todos os setores deatividades', não mais a guerra demercenários ou de profissionais en-durecidos, mas guerra total que a todosenvolve e a todos oprime, guerrapolítica, econômica, psicossocial e nãosó militar, perdurando no tempo sob a,forma de guerra fria ou ampliando oseu domínio no espaço comoavassaladora onda universal que nãorespeita nem os desertos saáricos nemas alturas tibetanas, nem as imen-sidades polares, vem acrescer ao velhodilema entre liberdade e segurança umcolorido profundamente trágico,quando

'as novas armas saídas in-cessantemente dos laboratórios depesquisas — as bombas atômicas, assuperbombas de hidrogênio e cobalto,os teleguiados de alcance in-tercontinental, os satélites artificiaisque já cruzam os céus anunciando asplataformas giratórias do futuro deonde poderão ser lançados ataquesinopinados, demolidores e esquivos —passam a ameaçar a humanidadeinteira, em sua loucura coletiva, deaniquilamento e de morte. Essa é aguerra — total, permanente, global,apocalíptica — que se desenha desde jáno horizonte sombrio da nossa era

conturbada E so nos resta, nações dequalquci quadrante do mundo,preparar mo-nos para ela. comdeterminação, com clarividência e comfé".

Nesse panorama sombrio para ahumanidade, o Brasil tem uma posiçãonítida e definida ao lado do Ocidente.**E, pois. pertencemos ao Ocidente, di/Goldcry: nele estamos e vivemos: oOcidente vive e persiste realmente emnós. em nosso passado e cm nossopresente, em nosso sangue e em nossosmúsculos, em nossos corações e emnossos nervos, nos ideais pelos quaislutamos e nos interesses que defen*demos, na técnica que nos arma obraço, na ciência que nos alimenta oespirito, na fé que nos fortalece a alma.nos livros que lemos, nas palavras queproferimos, nos cânticos que en-toamos, nas preces que balbuciamos.até nesta maravilhosa paisagemplástica, que nos rodeia, praias,montanhas.selvas, campos, planaltos erios ocidentalizados mais e mais petoesforço perseverante e incansável deincontáveis gerações". E como oOcidente encontra-se ameaçado("A guerra fria — eis ai o quítíroverdadeiro da coexistência pacificacom que os comunistas acenam para oOcidente em seus trombeteados efalsos apdtos de paz. certos de que. emtal ambiente, poderão alcançar, comriscos muito menores, o seu objetivo deconquista do mundo") e "o Brasil «"depende do Ocidente." e "o Ocidenteprecisa do Brasil", os grandes rumosdo destino nacional devem fundar-senessa série de constatações.

Segundo o general Golbery, a

guerra total que envolve o planetadcscnrola-sc no espaço interno dasnações ocidentais, onde a ideologiacomunista atua como ponta de lança.Por isso não basta a esses paísesdisporem "de um poder nuclear deintimidação, resposta violenta e. porisso mesmo, exageradamente rígida,nem sempre aplicável .no caso deameaças limitadas" mas lhes convém"contar com forças militares ao pé daobra organizadas de preferência comelementos locais devidamenteequipados e assistidos, reforçados, senecessário, por destacamentos dotadosde armamento do mais moderno epotente", e além disso "construir umprimeiro escalão de reserva, .geral,brigada de choque altamente móvel esuperiormente equipada, capaz deatender no mais curto prazo, aqui ouacolá, como bombeiros internacionaisde uma nova estirpe, aos focos deperturbação atiçados pelos comunistasou às ameaças de ataque tanto da v*Rússia como da China no vastoperímetro do mundo livre".

£ diante desse quadro e atendendoàs suas necessidades que o Brasil deve'definir a sua estratégia nacional. "Oinstrumento da ação estratégica, nestaera de guerras totais, só pode ser o queresulta da integração de todas as forçasnacionais, de todos os recursos físicos ehumanos de que dispõe a nação, detoda a sua capacidade espiritual ematerial, da totalidade de meioseconômicos, políticos, psicossociais emilitares que possa reunir para a luta— de seu Poder 'Nacional, em suma".Embora essa situação traga em si osdilemas entre liberdade e segurançanacional e entre esta e b bem-estar("apontado por Goergin em diaspassados sob a forma menos justa masaltamente sugestiva de seu slogan:'mais canhões, menos manteiga' ") aprópria segurança exige "um mínimode bem-estar que se precisa assegurar,dequalquer forma, em permanência^'; enão vale a pena sacrificar inteiramentea liberdade em busca de segurança."Não se acredite pois", escreveuGolbery, "que o sacrifício da Liber-dade possa conduzir sempre a umaumento de Segurança. Além de certoslimites, a Liberdade sacrificadadeterminará, de sua parte, perda vitalda Segurança. Os escravos não sãobons combatentes — eis a lição que astiranias aprenderam no decurso dos

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OpinUo, 11 do morna do Wg

ontinuoçdo do pagino 3

séculos". E. no mesmo sentido, afirmaque "a liberdade democrática é umvalor inestimável para a civilização o..Ocidente, e rrnegáda. em face doagressor totalitário, seria, no fundo,confessar^sc a priori vencido. Berrsabem disso os comunistas — osprimeiros a clamar nas praças publicaspelas franquias da democracia maisliberal, enquanto se apresentam paralogo sufocadas, tão pronto alcancem opodtt"-

Com base nas suas convidei ações

planetárias mais mais.nospanfadamaspectos ireográflstH. econômicos epolitiCiKdo Brasil e no que seriam seusObjetivo* Nacionais Permanentes, ogeneral Golbcrs avançou no* váriosensaios algumas propostasgeogramáticas de antculacào e in«icgracâo nacional que apenas muito delonge poderiam sersír para esclareceros que pretendem descobrir qual será oseu comportamento diante dasquestões políticas que o ocuparão nogoverno Geisel. Apenas algumaspassagens como quando afirma que onacionalú o "deve ser. só pode ser um

absoluto, em si mesmo um fim dJiinto— pdo menos enquanto perdurar anação como tal", esvaziando o conceitode nacionalismo do seu contendo deinstrumento político de defesa dasriquezas nacionais e contra apenetração indiscriminada do capitalestrangeiro, ou quando sugere asquatro esferas de solidariedade Inlernaciunal do Brasil «r o mundo luso*hri»tiMm, o mundo latino, o mundocatólico e o mundo subdesenvolvido —afirmando que quanto ao que chamamundo luw-hrasilcire. o Brasil mais"Portugal e suas colônias", temos

muitas obrigações e interesses comunsde segurança e devemos compartilhardas responsabilidades portuguesas nosseus territórios africanos, "umaresponsabilidade que devemos estarprontos a reconhecer e assumir aqualquer momento, como nossalambem".

De um modo geral as idéias dogeneral Colher)' podem parecer poucoatualizadas e sao cm grano> nanerealmente antigas, exposf as em estudosda década de 50, alguns con-lemporâneos à guerra da Coréia e ápresença de Siálin na direção da UniãoSoviética. Mas foi o próprio autor que

revitalizou e susiptou «tnualidade desua obra dizendo •nó* prefácio dasegunda edição, em 1%?. que o livronão et» atualizado ao ano em curso.ma> que. por outro lado. "deatualização a rigor não necessitavatambém" e que esta poderia ser útil epossível mas "de forma algumanecessária" pois "tem a pretensãoInerente a todo o pensamentogcopolltico que se preze de resistir, emseu núcleo central de idéias, ásvariações conjunturais mesmo emépocas de um dinamismo excepcionalcomo a quadra que atravessamos".

A ponte: águas passadas

Na manha do dia 4 passado, cer-

ca de 10 mil testemunhasassistiram á última grandv festa doatual governo. Ao lado de miniMjw.governadores e embaixadores, opresidente Mediei inaugurou :• ponteRio-Niterói. batizada com o some deseu antecessor. Artur d-, f. ,u. c Silva,que a iniciou rr: Jo/i n»«c uc 1968. Oato solene rce^zado na praça depedágio. local./ada na extremidade daponte do lado fluminense,praticamente encerrou uma história cuma polêmica de quase 100 anos.iniciadas em 1875 quando Dom PedroII concedeu ao engenheiro inglêsHamilton Lindsay Bucknali o direitode construir uma ponte ou um túnciferroviário através da bala deGuanabara.

O que resta para discutir sobre estemonumento de aço c concreto, de13.900 metros de extensão, 27 delargura c seis pistas para até 50 milcarros? Hoje. a maioria das questõesda polêmica centenária estãoautomaticamente respondidas. Por quea ponte c não um túnel? A opção pelaponte de certa forma revela aprioridade que é (ou era) dada no paísao tráfego rodoviário. Ficaram noesquecimento os pro},-os de cons-trução de um túnel ferroviário unindoGragoatá (Niterói) ao Calabouço (Rio),que possibilitaria sua integração aosistema d^ transporte de massa como.por*exempío, o metrô. Quatro con-corrências chegaram a ser abertas paraa construção do túnel. Hoje dele .estauma desconhecida Comissão paraConstrução do Túnel, criada pelomirechal Juarez Távora quandoministro da Viação e Obras Públicas, eque funciona timidamente numapequena e moderna casa na tradicionalRua do Mercado, no centro do Rio.alimentando esperanças do ler, o metrôcarioca. Seus funcionários alegam queo túnel ficaria em 60 a 80 milhões dedólares contra cerca de 250 da ponte.Mas esse debate hoje é coisa dopassado.

O que resta então? Unia discussãodos custos do projeto? Nem mesmo asconstantes alterações nas pr kões docusto à medida que a obra avançava, eas surpreendentes estimativas de queesse custo atingiria hoje a ordem de 1,5bilhão de cruzeiros, parecem en-

tusiasmar mesmo os amigos opositoresda ponte. Na verdade, só o primeiroconsórcio construtor consumiu dedezembro de 1968. quando a obracomeçou, a dezembro de 1970. 70% dopreço estimado na época (238 milhõesde cruzeiros) para realizar apenas 20%da ponte. Diante da evidente in-capacidade do consórcio de cumprir oprazo prometido (três anos), opresidente Mrdici assinou um decreto,cm janeiro de 1971. desapropriando oconsórcio construtor c tornando ogoverno dono de todo o materialutilizado. E a partir dai os trabalhos deconstrução da ponte, agora sob umnovo consórcio construtor (CamargoCorreia, José Mendes Júnior e Rabellou. A.), pareceram seguir indiferentesás criticas da oposição, enquanto novascorreções eram feitas em seu preço:438 milhões no inicio de 1971. 688milhões em maio do mesmo ano. atéchegar aos 990 milhões cm que éavaliada hoje. extra-oficialmente.Estimativa, aliás, que exclui os gastoscom os equipamentos adquiridos pelaEcex (Empresa de Construção eExploração da Ponte Costa cSilva), avaliados cm 400 milhões decruzeiros — o que elevaria o custo finalda obra para perto de 1.5 bilhão dectuzeiros. quase três vezes o orçamentodo Ministério da Saúde, cm 1973.Nisso se poderia discutir se opagamento da obra poderá ser feitocom o dinheiro do seu próprio pedágio(como diz o ministro Andreazza) ounão (como diz a oposição). De qualquerforma é certo que a ponte será paga cnão será este um debate que apareceránas manchetes dos jornais.

E quanto às vitimas? Embora osigilo e a exagerada cautela com quesempre foram divulgadas as questõesde segurança de trabalho na ponte decerta forma tenham contribuído paradar um certo ar de mistério em tornodo destino de muitos trabalhadoresesse tema também está enterrado,como seus mortos. Parece naturalesperar em obras desse porte umrazoável número de acidentes fatais.

Até o momento da inauguração aEcex admitiu a morte de 33 pessoas, oque certamente permitiria outrasinterpretações mas com poucos efeitospráticos. Discutir isso, contudo, é tãoinútil quanto esperar a ressurreição

dos mortos.O que restaria então para ser

discutido? Previsões razoavelmenteseguras indicam longosengarrafamentos para as três pistas deacesso do lado carioca e as 18 do ladofluminense. No Rio. uma dessas vias deacesso (a Avenida Brasil, que atravessaquase toda a Zona Norte) estápraticamente saturada com ummovimento diário de 120 mil veículos epassará a receber da ponte, inclusive,veículos que até então lhe eramestranhos: os caminhões que não sedestinam ao Rio. mas que terão naponte uma opção em seu trajeto paraoutros Estados. "Vai ser o caos", dissehá algum tempo o diretor da Divisãode Engenharia do DETRAN carioca,Cimar Garcia dos Santos, confessando-se impotente para resolver o problemaque a ponte representará para o játumultuado trânsito carioca. "Asrampas da ponte no lado do Rio", disseSantos, "foram projetadas c cons-iruídas sem que o DETRAN tivessesido ouvido. Do ponto de vistaarquitetônico c estrutural trata-se deum bom trabalho, mas do ângulo dotráfego é considerado desastroso".

Muito mais que no Rio. a ponteapresenta para Niterói perspectivasque chegam a ser assustadoras. Semum plano diretor urbano, com umsistema de água e esgotos que data de80 anos. ruas estreint •• esburacadas,Niterói deverá viver problemas incrf-veis com o volume de tráfego querecebeiá da ponte (aos seus 60 milveículos diários serão acrescidos mais20 mil) e com o previsível deslocamentoda já saturada especulação imobiliáriacarioca para suas praias.

ê possível que a construção da ponterepresente, muito mais do que umasolução para o tráfego urbano, umavitória das empresas construtoras? Issoporque será necessário um complexode novas obras viárias, tanto no Riocomo em Niterói, para dar vazão aos 50mil veículos diários, em ambas asdireções, que circularão na ponte até1987? Talvez. Mas se isso acontecer, ase acreditar nos estudos dos técnicos doEscritório de Engenharia AntônioAlves Noronha, firma que realizou osestudos de viabilidade, a ponte con-tud* já estará com seu tráfegosaturado. Aí o debate talv'ez recomece.Mas então já será uma outra história.

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De Castelo a Geisel, uma cronologia de pronunciamentosAto Institucional de 9 de abril de

1964: "

gg ^ff indispensável fixar o con-E#ceito do movimento civil e

militar que acaba d -brir uo Brasiluma nova perspectiva .-obre o seufuturo. O que houve e continuará ahaver neste momento, não só no espí-rito e no comportamento das classesarmadas, como na opinião públicanacional, é uma autêntica revolução.

A revolução se distingue de outrosmovimentos armados ;>elo fato de quenele se traduz, não o interesse ea vontade de um grupo, mas o interessee a vontade da Nação,

A revolução vitoriosa se investe noexercício do Poder Constituinte. Estese manifesta pela eleição popular oupela revolução. Esta ê a forma mais

expressiva e mais radical do PoderConstituinte. Assim, a revoluçãovitoriosa, como o Poder Constituinte,se legitima por si mesma. Ela destitui ogoverno anterior e tem a capacidadede corstituir o novo governo. Nela secontém a força normativa, inerente aoPoder Constituinte. Ela edita normasjurídicas sem que nisto seja limitadapela normatividade anterior à suavitória, Os chefes da revoluçãovitorioia. graças à ação dás ForçasArmadas e ao apoio inequívoco daNação, representam o Povo e em seunome exercem o Poder Constituinte, deque o Povo é o único titular. O AtoInstitucional que é hoje editado pelosComandantís-em-Cheíe do Exército,da Marinha e da Aeronáutica, emnome da revolução que se tornou

vitoriosa com o apoio da Nação na suaquase totalidade, ^ destina aassegurar ao novo governo a ser ins-tituído os meios indispensáveis,à obrade reconstrução econômica, financeira.política e moral do Brasil, de maneira apoder enfrentar, de modo direto eimediato, os graves e urgentesproblemas de que depende arestauração da ordem interna e doprestígio internacional da nossa pátria.A revolução vitoriosa necessita de seinstitucionalizar e se apressa peia suainstitucionalização a limitar os plenospoderes de que efetivamente dispõe"(...)

Pronunciamento do presidenteCastelo Branco no dia 11 de abril de1964:

'"Minha eleição pelo CongressoNacional em expressiva votação traduzsobremaneira o pesado fardo dasresponsabilidades que sabia já haverassumido ao aceitar a indicação deminha candidatura à Presidência daRepública por forças políticas pon-

r. -eis. sob a liderança de vários{.'"¦•rnadores de Estados.

O calor da opinião pública atravésde autênticas manifestações popularese de numerosas entidades de classeestimulou-me a esta atitude. Agoraespero em Deus corresponder àsesperanças de nuus compatriotas nestahora tão decisiva dos destinos doBrasil, cumprindo plenamente oselevados objetivos do movimentovitorioso de abril, no qual se irmanamo povo inteiro e as Forças Armadas, na

mesma aspiração de restaurar alegalidade, revigorar a democracia,restabelecer a paz e promover oprogresso e a justiça social. '

Espero, também, em me ajudando oespírito de colaboração de todos osbrasileiros e o sentimento da gravidadeda hora preseníe, possa entregar, aoiniciar-se o ano de 1966, ao meusucessor legitimamente eleito pelo povoem eleições livres, uma nação coesa eainda mais confiante em seu futuro, aque não mais assaltem os temores e osangustiemos problemas do momentoatual- Ao Congresso Nacional, comtoe' .,ieu respeito de brasileiro e depresidente eleito da República,apresento nesta oportunidade de modo

continua na página ao lado

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Opinião. 11 do ntorfo do I97«

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especial as minhas saudações"

Pronunciamento do marechalCastelo Branco no Congresso Nacionalao auumlr a pretldêncla da República,no dia 15 de abril de 1964:

(...) "Defenderei e cumprirei comhonra c lealdade a Constituição doBrasil, inclusive o Ato Institucionalque a integra. Cumprirei e defendereiambos com determinação, pois sereiescravo das leis do pais e permanecereiem vigília para que todos as observemcom exação e zelo. Meu governo será odas leis. o das tradições e princípiosmorais c políticos que refletem a almabrasileira. O que vale dizer que seráum governo firmemente voltado para ofuturo, tanto é certo que um constantesentimento de progresso e aper-feiçoamento constitui a marca ctambém o sentido da nossa históriapolítica e social. (...)

Nossa vocação é a da liberdadedemocrática, governo da maioria coma colaboração e respeito das minorias.Os cidadãos, dentre eles também, emexpressiva atitude, as mulheresbrasileiras, todos, civis c soldados,ergueram-se num dos mais belos eunânimes impulsos da nossa históriacontra a desvirtuação do regime. (...)

Caminharemos para a frente com asegurança de que o remédio para osmalefícios da extrema-esquerda nãoserá o nascimento de uma direitareacionária, mas o das reformas que sefizerem necessárias. Creio firmementena compatibilidade do desen-volvimento com os processosdemocráticos. (...)

Venham a mim os brasileiros e euirei com eles para, com auxílio de Deuse com a serena confiança, buscarmelhores dias no horizonte do futuro".

Pronunciamento do presidenteCastelo Branco em Belo Horizonte, nodia 21 de abril de 1964:"...Assim, identificados, comaqueles ideais, nos quais encontramos,indissoluvelmente reunidos, um fortedesejo de progresso e aperfeiçoamentoe inabalável fé nas excelências daliberdade, o Governo, que ora se inicia,está certo de não decepcionar o povobrasileiro. Nào será um governovoltado apenas para o passado, masum governo fundamentalmentepreocupado com o futuro, que deveráatender às justas e crescentesaspirações de milhões de brasileiros,especialmente os mais jovens, e queestão __reclamar dignas e adequadascondições de vida, condições que,certamente, não alcançaremos semlevar a cabo algumas reformas,destinadas a abrir novos caminhos enovos horizontes para a ascensão decada qual na medida da suacapacidade.

Até porque a revolução não se fezpara manter privilégios de quem querque seja, mas para; em nome do povo,e em seu favor, democratizar osbenefícios do desenvolvimento e dacivilização. (...)

Havendo assumido as respon-sabilidades do Governo "em con-dições notoriamente difíceis eextraordinárias, não nos seria possívelapresentar, inicialmente, ao povo

brasileiro, minucioso plano de admi-niviraçi». natural desdobramento daurientaçio c dot princípios que nosinspiram, na contecuçio do bem-estar

Cal. Tudo virá. porém, a teu tempo

JPodem os bratileirot ter a tcg urança

de que o futuro não detmerecerá ottonhot de emancipação da In-confidencia, que bem te reconhece emtudo quanto o poso mineiro e o teuilustre governador acabam de realiza;pela liberdade e pelo progresso doPait".•

Pronunciamento do presidenteCastelo' Branco Justificando o AtoInstitucional n.* 2. dt 27 de outubro deI965i"A Resolução bratileira. comoqualquer movimento njcional. «Misujeita a contingências, até metmo acircunstâncias várias.

Cabe ao Governo, que também aemanou, garantir a conquista de seusobjetivos, sobretudo por serem estescoincidentes com ot da Nação.

Um ato revolucionário, que objetivetal garantia, por ser iminente élegitimo.

As contingências e as circunstânciastem sido apreciadas, c uma e outrasque tenham o sentido de revanchitmo.reacionarismo e de contra-revoluçãodevem ser afastados.

Sobreleva em nossa ação afinalidade de empreender o movimentode 31 de março e a consolidação daordem política, financeira e conômica.<...)

A Revolução é um movimento queveio da inspiração do povo brasileiropara atender às suas aspirações «maislegitimas: erradicar uma situação e umgoverno que afundavam o País nacorrupção e na subversão.

No preâmbulo do Ato que iniciou ainstitucionalização do movimento de31 de março de 1964 foi dito que o quehouve e continuará a haver, não só noespirito c no comportamento dasclasses armadas, mas também naopinião pública nacional, é umaautêntica revolução. E frisou-se que:

a) ela se distingue de outrosmovimentos armados pelo fato de quetraduz, não o interesse e a vontade deum grupo, mas o interesse e a vontadeda Nação:

b) a Revolução investe-se. por isso.no exercício do Poder Constituinte,legitimando-se por si mesma;

c) edita normas jurídicas, sem quenisto seja limitada pela normatividadeanterior à sua vitória, pois. graças àação das Forças Armadas e ao apoioinequívico da Nação, representa o povoe em seu nome exerce o Poder Cons-tituinte de que o povo é o únicotitular.

Não se disse que a Revolução foi,mas que é e continuará. Assim, o- seuPoder Constituinte não se exauriu,tanto é ele próprio do processorevolucionário, que tem de serdinâmico para atingir os seus objetivos.Acentuou-se. por isso. no esquemadaqueles conceitos, traduzindo umarealidade incontestável de DireitoPúblico, o poder institucionalizante deque a Revolução é dotada para fazervingar os princípios em nome dos quaisa Nação se levantou contra a situaçãoanterior.

A autolimitação que a Revolução seimpôs no Ato Institucional de 9 deabril de 1964 nãb significa, portanto,que, tendo poderes para limitar-se, setenha negado a si mesma por essalimitação, ou se tenha despojado dacarga de poder que lhe é inerente comomovimento. Por isso se declarou,textualmente, que "os processosconstitucionais não funcionaram paradestituir o Governo quedeliberadamente se dispunha abolchevizar o País", mas seacrescentou, desde logo, que,"destituído pela Revolução, só a estacabe ditar as normas e os processos deconstituição do novo Governo eatribuir-lhe os poderes ou os ins-trumentos jurídicos que !heassegurem o exercício do Poder noexclusivo interesse do País".

Exposição de Motivos do Ministroda Justiça, Carlos Medeiros e Silva,sobre o anteprojeto da Constituição emdezembro de 1966:

"(...) Em verdade, a Revolução nãose fez somente para extirpar, da Carta

Magna preceitos que. no curto dotempo, te tomarem obsoletos; tinha dtinovar e o fez. através de Atos eEmendas Constitucionaisvcom oobjetivo de consolidar a democracia e otittema presidencial de governo.

At Conttiiuiçoct de 1934 e de l**6tão derem ao pait a estabilidadepolítica; at crises que haviamcomeçado a eclodir detde o fim daPrimeira Guerra Mundial provocarama primeira emenda, em 1926. do testorepublicano de J vi l at tréguat teestreitaram no tempo, de forma a que aNação tem vivido inquieta, detdeentio. tob at ameaçat de ideologiatradicait. todat divorciadat do idealttcm<«rráiteo e representativo.

Para que a Revolução continuasse,com êtito feliz not teut hjcmot eraindispensável que um diploma deinspiras*© nacional moldado naexperiência positiva e negativa dotúltimos 40 anos fosse promulgadoantes de encerrar-se' o teu primeirociclo.

Não é preciso buscar, em palies texóticos, pôr amor i novidade, ou cmpráticat tedimentadat entre ot outrospovos, durante téculos. mas resultantesdas peculiaridades nacionait. remédiosmilagrosos para a nossa crise cons-titucional.

O regime democrático é o regime dalei e sem lei não há liberdade. (...)

Um novo período presidencial e umanova legislativa vão ter inicio em 15 demarço de 1%?: não só o CongressoNacional como o Presidente daRepública e os órgãos do PoderJudiciário precisam ter as suasatribuições ajustadas a experiêncianacional e - prática revolucionária dosúltimos anos.

Os atos de força devem ser banidos,no regime do Estado de Direito: ospoderes constituídos entre si e osprovocados pelas pressões exteriores,dos interesses internos e in-ternacionais. que se arregimentamatravés de grupos c facções de ins-piração egoística. alheia aos im-perativos da pazedo bem-estar social.

A técnica constitucional, nestasegunda metade do século XX. não é, enão pode ser, a de outros tempos: eladeve traduzir, no texto fundamental, aexperiência do passado, a realidade dopresente e as aspirações do futuro.

A divisão dos poderes. que foi'ainspiração do constitucionalismo daépoca ,^<to liberalismo, cede à in-terdependéncia e a cooperação, sobvárias modalidades, nos últimostempos, em todos os países.

Os Parlamentos conservam ocontrole político da elaboraçãolegislativa, nos regimes democráticos erepresentativos, mas deixam, aostécnicos do Executivo, o preparo deprojetos de relevância, especialmenteno campo da segurança nacional, daeconomia e das finanças.

Amplia-se a ação do Executivo e secriam as comissões parlamentares deinquérito para que a Nação conheça,através de seus mandatários, o queocorre quanto à execução das leis eregulamentos, no âmbito ad-ministrativo. (...)

O Brasil é um país amadurecido '

para a conquista de seus destinos; épreciso que os homens desta geraçãonão desperdicem a sua inteligência e oseu trabalho, em discussõesacadêmicas ou no mimetismojurídicoepolítico, procurando em outros povos,ou em outras épocas, as soluções que.somente tendo raízes na conjunturanacional, poderão durar e prosperar.

A tarefa da reorganização cons-titucional deve contar, portanto, coma colaboração de todos, feita umatrégua nas dissenções partidárias, como voto de humildade e de desapego àsposições tomadas, no campo político,em outras situações.

A recompensa de dotar o país deuma Constituição democrática eamoldada às realidades nacionais,como adverte um dos maiores cons-titucionalistas de nossa época, será omaior bem que um povo pode aspirar:A LIBERDADE".

Pronunciamento do marechal Costae Silva na Convenção da ARENAquando da sua candidatura àpresidência da República:"(...) Vejo com grande alegria queminha candidatura é proclamada pelasmais altas expressões da vida pública

de todos ot recantos do Bratil. quateiodes representantes do povobrasileiro, do pato de quem todo poderemana, de notto povo soberano,centtrutor c tlmholo de nossa Pátriaque. na frate lapidar de Rui. "nio éum tittema. nem teita. nem ummonopólio, nem uma forma deprenso" mat "o céu. o tolo. o povo. atradição, a consciência, o lar. o berçodot fUhot e o túmulo dot antepattadot.a comunhão da ¦- da língua, daliberdade (...)

Consciência temos todos not. dequanto tem tido penota. através daHistória, a luta de notta gente nacfettsaçio de teut ideais de In-dependência, na defesa da integridadee unidade territorial e nacional, daliberdade, d*democracia, da paz e dasegurança econômica, na luta pelaregeneração dos cottumet políticos,pelo progresso cultural e material.

Notta independência nào nos foidada.

Foi conquistada a duras penas pornotta gente. (...)

Infelizmente, porém, a PrimeiraRepública, que durou 41 anos. não notproporcionou um Governo realmentedemocrático.

Viciaram-na:O voto de cabrestoc coroncliimo de facçõesas guerras de familiao cangaçoas oligarquias regionaisa política pessoal dos' goscr-

nadoreso caudilismoo absolutismo presidencialistaa insensibilidade ante os.

problemas sociais, econômicos,educacionais do povo. das camadaspopulares menos favorecidas.

Contra essa deturpação dademocracia, contra essa falsademocracia, insurgiram-se osrevolucionários da década de 20.patriotas e idealistas que sacrificaramsuas vidas e derrotados, embora nãocombateram inutilmente, poisprepararam ambiente propicio àeclosão e à vitória da Revolução de 30.que deveria moralizar as eleições,tornando-as livres através do votosecreto t das garantias da JustiçaEleitoral.

A demora da reconstitucionalizaçãodo País provocou, no entanto, aRevolução cívica e constitucionalistade 1932.

Aprovada a Constituição de 1934.após um breve período de Governodemocrático, padecemos de 1937 a1945. a ameaça do fascismo, na farsatotalitária do chamado Estado Novo.

Só e unicamente a manifestaçãoineontida e irreprimível da vontadepopular então nos levou a combater,vitoriosa e gloriosamente, lado a ladocom os povos livres, contra o im-perialismo nazi-fascista.

Regime sob o qual o Estado todo-poderoso aniquilava e absorvia apersonalidade humana, porque, assimo Partido único fascista proclamava:nada existe fora do Estado, nada acimado Estado, nada contra o Estado: tudoexiste no Estado e pelo Estado.

Por sua vez. sob o nazismo só seadmitia uma Raça, uma Moral, umDireito só. só um Partido, isto é, aRaça. a Moral, o Direito e o Partido donazismo encarnado pelo Führer. comoo fascismo se encarnava no Duce.

Foram regimes, esses, quesublimaram a violência, suprimiram aliberdade e praticaram os maisnefandos crimes, registrados pelaHistória.

Depois da derrocada do nazi-fascismo no plano universal e após aderrubada do fascismo indígena em1945. voltamos a padecer da infiltraçãoinsidiosa e do assédio do comunismoque, em 1935, já havia provocado umarebelião que tantas e tantas vidaspreciosas ceifou entre os defensores daliberdade.. da legalidade, de nossastradições humanas e cristãs.

Se o nazi-fascismo foi totalitário eabsolutista, o comunismo, materialistae ateu. não o é menos, nem constituiumenos ameaça às nossas instituiçõespolíticas e sociais, ao nosso modobrasileiro de viver e de conviver semódios, sem preconceitos de qualquerespécie. *

As infiltrações comunistas oucomunistóides nos setores gover-riamentais e nos meios intelectuais e

populares, até mesmo nas ctaacasarmadas, juntou-te o desgaste caiaSopelo ímpeto da inflaçio e dacorrupção, frutos de um esforçodesesperado e irracional em busca deum desenvolvimento sem basesrcallsticat. conduzido açodada—te,sem apuração prévia de nossacapacidade financeira e econômica,tem consideração dot encargos aueviriam a ter tuportadot pelo povo. (...)

Identificado com at mait legitimasatpiraçôet populares, o movimento de31 de março propõe-te fun*damentalmente a:

restaurar o regime democráticorepresentativo e republicano

restabelecer o primado da ordemjurídica~ promover a moralização eputificaçào dot nottot cottumetpolltico-adminittrativoempreender, dentro da lei daliberdade, e de acordo com as tradiçõescristãs da Nação, as indispensáveisreformas de nossa estrutura todo-econômica, assegurando, a todos osbrasileiros, a igualdade de direitos eoportunidades.

empenhar o máximo de enorgiatda Nação no sentido da harmonia e dajustiça social eliminando odisisionismo e a desigualdade

rcrüegrar plenamente as ForçasArmadas na sua destinaçâo dedefensores da Pátria e de garantidoras.apartidárias dós poderes cons-titucionais da lei e da Ordem.

libertar da mistificação e dademagogia as minorias que. por boa féou idealismo, se desviaram da estradalarga da democracia c da liberdade

preparar os homens de amanhãpara o exercício de uma democraciaauienticamente nossa — justa,próspera, cristã, forte, feliz emagnânima. (...)

Não ignoro que. nesta oportunidade,esperais de mim a apresentação de umprograma de governo, embora daspalavras que acabo de proferir sedespreendam. desde logo. as diretrizesque hei de observar.

Mas vós também não ignorais que,no momento, só vos posso apresentar.dentro destas diretrizes, apenas aslinhas gerais de uma ação gover-namental. quer no campo da políticaexterna, quer no campo da política

__b '14

A/interna e da Administração.

No campo da Política Externa,mantidos e observados todos os nossoscompromissos anteriores, cumpre-nosreafirmar e fazer valer, ativa e cons-tantemente. nossa presença nacomunhão universal dos povos, livres,sempre fiéis às nossas tradições cristãse democráticas, sempre irredutíveisquanto ao respeito de nossa soberania,sempre propensos à solução pacíficadas controvérsias e dos conflitos in-ternacionais. batalhando tenazmentepela preservação da paz. (...)

Cumpre-nos intensificar as relaçõestom nossos irmãos da América Latina,fortalecendo ao máximo a política daboa vizinhança, s'ab ia menteproclamada, desde 1750, pelo Tratadode Madri, estendendo-a a todas asNações do Continente, estendendo-a. .ainda, a todos os países com os quaismantemos relações. (...)

continuo na página 18

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ECONOMIA. gpjrjgo, 11 do more» do 1074

At necessidades econômicas

costumam provocar curiosasreações. Por eiemplo a posiçãortctntcmcntc assumida por váriosempresários da construção civilfavorávcif á participação das mulheresnas obras que suas empresas reabramComo interpretar esta posição? Seráque as mulheres brasileiras ganharamnovos aliados para tentar destruir osvários tipos de discriminação sexualimpostos pelas Armas nos maisdiferentes ramos da economia e queimpedem que um numero expressivode trabalhadoras se integre noprocesso social de produção?

A relativa crise de mão-de-obraexistente nos grandes centros urbanosparece ter feito com que as empresasque mais de perto estão sofrendo comela' — as de construção civil —descobrissem subitamente que há umaenorme reserva de mão-de-obra nioaproveitada (ou subaproveitada) nucidades: as mulhem. Uma construtorade Brasília, a Consunan. contratou 42mulheres para trabalhar comoserventes na construção do edifício*sede da Embratel. A Consunanalegou, quase que justificando essasituação insólita, que há escassez demão-de-obra masculina em Brasília eela tem prazos certos (e multasprevistas em caso de atraso) para aentrega da obra. Ba. por exemplo,precisava de ISO homens, e só arrumouseis; quando resolveu apelar para asmulheres não encontrou nenhumadificuldade: no dia seguinte á primeiracontratação, a noticia se espalhou emais de 100 muJMNne apresentarampara as poucas vtgoriinda existentes.

A descoberta do inexplorado filão damão-de-obra feminina teve de passar

AS TRABALHADORASA crise de mào-de-ohra está obrigando as empresas da construçãocivil a recrutar mulheres txtra trabalhar tias obras como serventes

primeiro por alguns impedimentoslegais: em Brasília, a DelegaciaRegional do Trabalho chegou ' aanunciar que impediria a contratação.Dizia a DRT que o artigo 387 daConsolidação das Leis do Trabalho(CLT) proíbe o trabalho da mulher nossubterrâneos, na mineração emsubsolo e obras da construção civil.Como o mesmo artigo permite noentanto ao Ministério do Trabalho"estabelecer revogações totais ouparciais ás proibições", ouvindo asrazões da Consunan. o ministro JúlioBarata acabou concedendo á empresao direito de empregar mulheres comoserventes, "a titulo precário",enquanto durar a situação em que seencontra o setor: escassez e preçoselevados da mão-de-obra masculina.

Nessa altura, parece que muitosempresários da construção civilpassaram a cogitar seriamente doemprego de mulheres para amenizar acrise do setor. Em São Paulo, onde secalcula que há uma carência de 40 mUhomens nas obras de construção civildo Estado, o presidente do Sindicatoda Indústria Civil de GrandesEstruturas. Armênio Crestana.declarou ser "favorável ao trabalho damulher nas obras, pois calculadamente30% das tarefas sao compatíveis comsuas condições". Para ele e outros

empresários o artigo 387 da CLT écoisa do passado. "Quando essa lei foi •feita, as condições eram muitodiferentes das de hoje", disse Crestana.E concluiu: "A minha impressão é queesta legislação está hoje antiquada,considerando as conquistas Jialcançadas pela mulher e tendo emconta, também, a necessidade de todoscontribuírem para o progressocrescente do pais no atual surto dedesenvolvimento".

Não se sabe. evidentemente, em quemedida a crise da mão-de-obrainfluenciou o engenheiro Crestana areconhecer "as conquistas jáalcançadas pela mulher", ou qua* «criaà reação dos empreiteiros há algunsanos. quando a construção civil nãoenfrentava nenhuma crise de falta detrabalhadores, se alguma mulherquisesse arranjar um emprego comoservente de pedreiro. O setor daconstrução civil sempre foi um dos queapresentou baixíssimo índice departicipação feminina. O Censo de1970 revelou que naquele ano cerca de1.400 mil homens estavam ocupadosno setor, que no entanto empregavaapenas 4.491 mulheres. Este númeronao refletiria exatamente o fato da leivedar á mulher o trabalho naconstrução civil?

Ao que tudo indica, a baixíssima-

participação feminina na mão-de-obraempregada na construção civil nlo sedeve a nenhuma lei de proteção aotrabalho feminino (essas leis costumaminclusive variar bastante de acordocom as necessidades da economia). Jáque em outros ramos onde aparticipação feminina não sofrenenhum obstáculo legal a presença damulher também é pequena. Pode-semesmo afirmar que as mulheresconstituem a maior reserva de recursoshumanos não utilizados no pais. AsTubulações A vançançadas do Censo de1970 indicavam que a populaçãoeconomicamente ativa brasileira era de29.S milhões de pessoas, das quaisapenas 6,1 milhões de mulheres.Enquanto isso, na população nãoeconomicamente ativa (estudantes,aposentados, pensionistas, presos,inválidos e pessoas com atividadesdomésticas não remuneradas) onúmero de mulheres subia para 27,2milhões, enquanto que o de homensbaixava para 9,1 milhões. Ou: haviacerca de quatro vezes mais homens do-que mulheres na população ocupada; etrês vezes mais mulheres do quehomens na população não ocupada.

Não há dúvida de que o fato donúmero de mulheres nãoeconomicamente ativas ser três vezessuperior ao dos homens — além de

revelar o elevado grau de exclusão damão-de-obra feminina no processo dedesenvolvimento econômico — édevido principalmcnie ao número demulhem brasileiras ainda presas aatividades domésticas nãoremuneradas, no campo ou na cidadeisto é. ainda sujeitas ás funçõesfemininas tradicionais eeconomicamente dependentes doshomens.

Mesmo as mulheres que formam obloco chamado pelos economistayd»^"economicamente ativas" ainda-tsião^

Írcdominantcmcnte ligadas no Brasil

s atividades domésticas. Se comoobservou um sociólogo "aemancipação da mulher e suaequiparação ao homem são econtinuarão sendo impossíveis,enquanto ela permanecer excluída dotrabalho produtivo social e confinadaao trabalho doméstico, que é umtrabalho privado", pode-se dizer que ograu de emancipação da mulher nopais ainda é baixo. Por isso. novasoportunidades de elas se integrarem noprocesso social de trabalho, ainda queatravés da construção civil, não'deixam de representar um progresso. OCenso Demográfico mostra, por-exemplo, que as trabalhadorasbrasileiras se concentram em trêssetores: nas "ocupações daagropecuária e da produção extrativavegetal e animal" (no caso dapopulação feminina rural) e nas''ocupações técnicas, cientificas,artísticas e afins" e 'ocupações daprestação de serviço!" (no caso dapopulação feminina urbana).

Que representa para a mulher a

continuo no poglno oo lodo

Num estudo publicado no ano

passado (1), os economistas FcllciaMadeira e Paul Singer procuraramanalisar a evolução do trabalhofeminino no Brasil no período 1920-1970. Eles demonstraram as variaçõesque vem sofrendo o trabalho femininono pais, e como nesse período de 50anos evoluiu sua participação noprocesso social de produção. Em 1970,por exemplo, menos de 25% dapopulação feminina urbana trabalhava— sendo que quase a metade eraconstituída por empregadasdomésticas; no campo, a situação eramelhor — 43% da população ruralfeminina trabalhava.

Segundo os autores, entre 1920 e197Q houve um forte crescimento daforça de trabalho no pais — o númerode homens .que trabalhavam triplicou(passando de 7,6 para 24 milhões),enquanto o de mulheres aumentoumais de sete vezes (passando de 1,4para 10,6 milhões). Eles procuraramverificar como esse aumento sedistribuiu pelos diferentes setores daeconomia (agricultura, indústria eserviços).

/ - Na agricultura:A agricultura tem sido o principal

determinante das variações irregularesdo número de mulheres empregadas noBrasil. Os autores localizaram dois ti-pos de movimentos determinados pelastransformações na agricultura, "comreflexos diferentes no empregofeminino:

Um primeiro, de origem mais geral,que é a liberação da mão-de-obraurbana agrícola, provocando asmigrações do campo para a cidade,que no caso das mulheres significouuma maior participação na mão-de-obra urbana, .basicamente no setor deserviços.

Um segundo, dentro da própriaagricultura, provocando a saída dasmulheres das grandes propriedades,onde a especialização das atividadeslevou à substituição da mulher pelohomem numa primeira etapa (1940—1950) e à substituição de ambos pelamáquina a seguir. Isso se verifica pelaconstante diminuição das assalariadasentre as mulheres que trabaJham nocampo. Assim, em 1940, crás^nulheresque trabalhavam na agricultura, 37%eram assalariadas, caindo para 23%em 1950 e apenas 18% em 1960.

Ao» mesmo tempo, o aumento donúmero de pequenas e médiaspropriedades ocorrido nesse períodofez Ciescer a participaçãp da mulher notrabalho, não sob a .forma de

Da agricultura à construção civilDe que modo evoluiu o trabalho feminino

no Brasil nestes últimos 50 anos?

empregadas (ou assalariadas), mascomo "membro não remunerado dafamília", já que nessas propriedades,ao contrário das grandes, é possr.elcombinar atividades domésticas eprodutivas — que é uma das formastradicionais do trabalho feminino.

Observam os dois economistas queos resultados analisados indicam que"há duas agriculturas no Brasil: uma,na qual se encontram sobretudo asgrandes propriedades, que tende cadavez mais» a se integrar na economiacapitalista, apresentando mudançastecnológicas, aumento daprodutividade do trabalho e reduçãodo emprego. Nesta, a mulher passa aser cada vez menos utilizada em tarefasprodutivas. A outra compoe-sepredominantemente de

'minifúndios,

permanece ainda essencialmente emeconomia de subsistência,apresentando relativa' imobilidadetecnológica. A sua expansão respondeem grande parte ao crescimentodemográfico, que leva à subdivisão daspropriedades e à ocupação de novasterras por imigrantes, que se tornamposseiros nas áreas pioneiras. Nestetipo de agricultura, a participação damulher na atividade produtiva não sereduz, como indica a proporçãoconstante de mulheres entre osresponsáveis, parceiros e membros nãoremunerados da família".

De 1920 a 1970, o total de mulherestrabalhando no setor primário(agricultura, extração vegetal, caça epesca) aumentou de 607,8 mil para 3,1milhões. Em 70, as mulheresrepresentavam 31,8% do total da forçade trabalho do setor primário.

2 - Na indústria:Até 1950, as mulheres tinham

participação mais acentuada nasatividades industriais que podem sercombinadas1 com as tarefas domésticas— como por exemplo costureiras,bordadeiras, etc, que trabalhavam emsuas próprias casas."Na medida em que se dá aindustrialização, a produção artesanalé substituída pela fabril, o queacarreta, dadas as circunstâncias, asubstituição do trabalho feminino pelo

masculino, já que o afastamento damulher do lar encontrava obstáculostanto objetivos (a necessidade decuidar das tarefas domésticas), comosubjetivos (preconceitos contra otrabalho da mulher fora do lar)", êassim que se pode explicar que aparticipação da mulher no empregototal do setor secundário tenha caídode 35,5%. em 1920, para 31,8% em1940 e 20,6% em 1950.

Mas se bem que a participação damulher em termos relativos noconjunto das atividades industriais(incluindo a indústria doméstica, aartesanal e a fabril) tenha drcrescido,aumentou o número de trabalhadorasassalariadas nas atividadespropriamente fabris — como porexemplo na indústria têxtil. Entre 1940e 1970, o número de mulheresocupadas nas atividades fabris cresceuem 116%, embora o crescimento doshomens tenha sido de 274%. Em partea explicação está em que os ramos queocupam maior proporção de mulherscomo a indústria têxtil e a dovestuário — se expandiram muitomenos que outros, como a metalurgia,a indústria automobilística, etc, queempregam sobretudo homens.

Não há dúvida de que a passagem damulher da agricultura para á indústriaparticularmente a indústria fabrilrepresenta para ela um saltoqualitativo maior que para o homem.Transformando-se em operária, elanão só aumenta suas possibilidades deindependência econômica, ao mesmotempo que, no trabalho coletivo emuma fábrica,' rompe com os estreitoshorizontes próprios do trabalhodoméstico privado. Entretanto, pode-se dizer que o número de mulheres quetrabalha na indústria no Brasil é muitopequeno e representava, em 1970,apenas 12,3% do total das pessoasocupada^ nos vários ramos industriais.

1 - No terciário1O que se chama normalmente de

setor terciário engloba um númeromuito grande de atividades, comoalgumas fortemente ligadas àprodução (transportes, comunicações)e também atividades pseudoprodutiva.c

(os serviços domésticos). Dentro doterciário, os chamados Serviços deConsumo Individual constituem oúnico setor em que, desde 1920, amaior parte dos ocupados é constituídapor mulheres, devido ao elevadonúmero de empregadas domésticas —cerca de 2 milhões em 1970.

Esse é um tipo de trabalho que alémde possibilitar pouquíssimos benefíciospara as pessoas que a ele se dedicamnão tem quase nenhum significado doponto de vista econômico."O trabalho doméstico não constituiuma atividade produtiva propriamentedita, pois não se acha integrado nadivisão social do trabalho nemcontribui para o produto social. Ê umaatividade que produz serviços análogosàqueles que o consumidor presta a simesmo. Muitos bens, uma vez noâmbito do consumo, sofrem novastransformações ou adaptações — osalimentos são cozidos, as roupas sãolavadas e passadas, os móveis sãolimpos e conservados, etc. — que sóapresentam significado econômicoquando decorrem de serviços prestadospor empresas que os vendem. Quandoestas transformações são realizadaspelo próprio consumidor ou poralguém que as faz em seu nome, deforma remunerada ou não, o seusignificado econômico é nulo para oconjunto da sociedade, embora nãopara o consumidor individual. É poresse motivo que o trabalho das donasde casa não é incluído na computaçãodo produto nacional".

£ interessante a observação deFelícia Madeira e Paul Singer de que"a urbanização tem levado a mulherbrasileira a abandonar a atividadeprodutiva", salientando que esteabandono tem assumido "duas formas,.ambas implicando na realização detarefas domésticas por parte damulher: uma o desemprego oculto (istoé, as mulheres que <"icam em casafazendo trabalho doméstico nãoremunerado, normalmente,classificadas como donas de casa), aoutra o emprego doméstico".

No setor terciário há porém

determinados tipos de ocupaçõesimportantes e socialmente produtivas— os Serviços de Consumo Coletivo(administração pública a atividadessociais, como educação, saúde, etc.) emque a participação feminina vemaumentando. Al o número de mulherestem crescido muito mais que o dehomens. Assim, enquanto em 1920 estesetor era predominantementemasculino (as mulheres nãorepresentavam mais que 17,2% de suamão-de-obra), ele vai se tornando cadavez mais misto com o continuoaumento da participação femininaque,- em 1970, atingiu 43,3% (das 2,6milhões de pessoas nele ocup.idas, ototal de mulheres era de 1,1 milhão).Os autores do trabalho notam que "do

ponto de vista qualitativo, os Serviçosde Consumo Coletivo representam ooposto dos Serviços de ConsumoIndividual: o trabalho neles exige emgeral um certo nível de qualificação euma ruptura total com as tarefasdomésticas".

Apesar de todas as transformaçõesocorridas entre 1920-1970, o nível demarginalização da mulher do processoeconômico ainda continuava muitoalto em 1970: da população femininaurbana com 10 anos de idade ou mais,total que alcançava 20 milhões, apenas4,8 milhões trabalhavam. O grau departicipação feminina nas atividadesindustriais chegou mesmo a decrescerno período/devido à substituição dasatividades artesanais pelas fabris.Mesmo/ as novas oportunidadessurgidas com a expansão dasatividades de educação, saúde,-íomércio, crédito, etc. e das atividade5industriais não foram capazes demodificar em profundidade o quadrogeral do trabalho feminino no país eabsorver a elevada proporção demulheres que trabalham semparticipar plenamente da produçãosocial: as que permanecem na.agricultura de subsistência, no serviçodoméstico remunerado, etc. "Em1970", concluem os autores, "pode-seestimar que mais de três quartos dasmulheres economicamente ativas seencontravam nestas categorias". Segrande parle delas a^ora irão engrossara mão-de-obra da construção civil, equais as vantagens que conseguirãotirar disso, aindr é difícil irevi-

(I) Estrutura do Emprego e TrabalhoFeminino no Brasil: 1920-1970,Cadernos Cebrap n.° 13. Todas ascitações entre aspas são desse trabalho.

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Opinião II de m»to 4m I9M

continuoçflo do pógino oo lodopankipaçao em cada uma dessasocupações?

Apesar do Censo de 70 ter registradocerca de 1.2 milhio de mulherestrabalhando na agricultura — dasquaH I milhio classificadas como"trabalhadora da enxada" — estenúmero deve ser bem maior, já quenesse setor da economia há apossibilidade das mulherescombinarem atividades doméstiras etrabalho produtivo. Na agricultura, asmulheres que trabalham vivemsobretudo nas pequenas e médiaspropriedades, onde. apesar de teremquase os mesmos devera econômicosdos homens, estão normalmentesubmetidas ás relações familiarestradicionais, isto é. de sujeição-ao chefeda casa. Uma pesquisa sobre status epapéis socio-econômicos da mulher (t)realizada no sertão de Itapecerica(Estadode São Paulo), na localidade dePalmeirinhas. onde viviam 80 famíliasem pequenas propriedades dedicadas iagricultura de subsistência,demonstrou que "a mulher, no meiorural tradicional, tem igualdade dedeveres. os quais significam trabalhos,c ncsiç ponto se equipara ao homem;mas nào tem igualdade de direitos, querepresentam decisões, pois as decisõescabem somente ao homem". Apesquisa mostrou que o ritmo de vidadas mulheres de Palmeirinhas seresumia a: 1) atividades domésticas:tratar dos C.hos. lavar, passar,cozinhar, limpar a casa; 2) trabalhoagrícola: buscar lenha, trabalhar na

lavoura (earpir. plantar, colher).cuidar da crtaçâo: 3) atividades detransformação; fabricar farinha demilho várias vezes ao ano.

Era de se supor que a situação dastrabalhadoras da cidade fosse bemdiferente, a mulher aqui sebeneficiando com as vantagens daurbanização, No entanto, nas grandescidades brasileiras, as mulhers quetrabalham estio concentradas nas"ocupações da prestação de serviços"(mah de 2 milhões de mulheres eapenas 242 mil homens, segundo oCenso de 1970). o que significa que siosobretudo empregadas domésticas.Esse tipo de emprego seria, como diz o

Íirolessor Paul Singcr. duplamente

also: "falso tanto do ponto de vistasocial — pois está à margem da divisãosocial do trabalho—como do ponto devista da emancipação da mulher. Aempregada doméstica continuadesempenhando as funções femininastradicionais — prestar serviçospessoais aos membros de uma família— só que não á própria, mas a umaFamília estranha. Mesmo comotrabalhadora, a empregada domésticasofre uma, pseudo-integração nodomicilio, como um membro inferior docirculo familiar, ao qual se impõem asrestrições habituais de ordem moral àliberdade pessoal". (2) Sob certo pontode vista, a empregada domésticaurbana está mesmo numa situaçãoinferior à mulher do campo — estaúltima, além de viver cm sua própriatamilia. ainda se liga à produçãosocial, o que lhe permite um tipo de

tll Maria Isaura Pereira de Queiroz, O <2l Paul Singcr. Caminhos Brasileiros»«...:_,_... c«„;„;rf, Ortlnlin

Mois de 65% dos 6.1 milhões .de mulheres empregados em 1970

estavam concentrados em 6 atividades

... O quanto representon»fjae». empr.godos mu|h.r„

empregadas

Doméstico» '- 1.940.000 16%

(MOgrlcuHiKo) 1000.000 J2*.ftcbnotmpiVm6t\m 535.000 8*.

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Fonte: Censo — 1970

integração na comunidade superior âdas empregadas urbanas.,

O trabalho assalariado é a maisimportante das formas de participaçãona vida econômica que podem alterar ouaius social da mulher e lhe dar umabase econômica (o salário) que por serdesligada das atividades domésticasaumentasua possibilidade deemancipação. Nas cidades, o aumentodo número de mulheres assalariadastem se verificado principalmente nas"ocupações técnicas, cientificas,artísticas e afins", onde. em 1970. seunúmero ultrapassava o de homens (829mil mulheres e 557 mil homens). Sebem que o grande número de mulheresempregadas nessas ocupaçõesrepresente um evidente progresso, aiprofissões onde as mulheres seconcentram revelam que elas aindatêm pouco acesso ás atividadescientificas e culturais superiores. Onúmero de mulheres é expressivo entreos enfermeiros — diplomados ou não(mais de 113 mil mulheres em com-paracãncomumpoucomaisdc30mil ho-mens) - mas pequeno quando s» ir;-ta de médicos (40.4 mil homens e 4.5mil mulheres) e dcnmtav (28.3 milhomenv e 4.2 mi! mulheres). Nasatividades do ensino, elas quase quemonopoli/am.o número de professoresirimáríos (mais de 535 mil mulheres,para 36 mil homens), também superamos homens no ensino secundário, masperdem no ensino superior (12.4 milhomens e 5.3 mil mulheres).

Na indústria, por outro iado. aparticipação das mulheres é rela-tivamente pequena — ocupavam cm1970 ap.nas 644 mil empregos,enquanto os homens empregadosatinpiam -i.5 milhões — o que tamhémrevela seu pequeno grau departicipação na economia moderna.Nos diversos ramos industriais, elas seconcentram ainda no setor têxtil c naindústria do vestuário — os únicosonde a mào-de-obra feminina erasuperior à masculina e em que aparticipação feminina era expressiva.

Tudo isso expressa o elevado grau demarginalização da mulher no processosocial da produção em nosso pais. oque também da a medida de suaemancipação, cujas possibilidadescontinuarão nulas enquanto estequadro persistir. Um outro dadoimportante, que revela a situação deinferioridade da mulher: sua força detrabalho, além de ser . poucoaproveitada, é mais desvalorizada quea dos homens. Um estudo divulgadoem 1972 pelo Instituto de PesquisasEconômicas da Universidade de SãoPaulo localizou que. entre outrascoisas, os homens ganham cerca de57% a mais que as mulheres em todasas profissões exercidas na indústriapaulista — a mais avançada do Brasil.

A conclusão é que depois de lutarpor' uma maior participação no

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processo social da produção — capazde livrá-las do estreito mundodoméstico e da sujeição econômica aque estão submetidas — as mulheresque trabalham ainda têm de se baterpela aplicação do principiouniversalmente reconhecido do"salário igual para trabalho igual". Nocaso das primeiras 42 mulheresempregadas pela construtoraConsursan de Brasília, por exemplo, osalário estipulado foi de CrS 1.50 ahora. enquanto que o salário pago aoshomens pela mesma função (servente) éde 1.70 a hora.

A crise de mão-de-obra pode abrir,em certa medida, novas oportunidadespara o ingresso ' de mulheres noprocesso de produção social, com todos

os reflexos contraditórios que issoparece acarretar. Por um lado. elapoderá permitir que novas mulheres setransformem de domésticas oudesempregadas em trabalhadoras' as-salariadas. Por outro, são conhecidasãi condições de trabalho na construçãocivil: é dos ramos que apresentam ossalários mais baixos (não é à toa que aconstrução civil é que está sendo maisduramente atingida pela crise, poispresume-se que. havendo maioresoportunidades em outros setores, osoperários da construção civil setransfiram para eles), um dos queapresentam os mais altos índices deacidentes de trabalho, e onde ainda amaior parte das tarefas exige autilização da força física.

Brasil:"uma superpotênciacm surgimento"

ffjp. maneira mais fácil de se4^4^ganhar dinhoiro não é casar

com uma mulher rica, mas sim exportardo Brasil", declarou o presidente daAssociação dos ExportadoresBrasileiros (AEB), Giulite Coutinho, noprimeiro dia do seminário Brasil, umaSuperpotência em Surgimento,organizado recentemente em NovaYork pela American ManagementAssociation. No folheto deapresentação do seminário a entidadeempresarial norte-americana afirmaque "o governo brasileiro estáaproveitando seus . recursos e osconhecimentos técnicos de muitascompanhias privadas para desenvolvero setor industrial e econômico do país.Paralelamente, realiza um esforçogeral--para cooperar com as empresasprivadas que procuram se.estabelecerno Brasil".

Com "uma espirituosa fluência naoratória" que, segundo o Estado de 'São Paulo, "conseguiu infundir largootimismo e semeou esperanças entre oshomens de negócios que participam doseminário(,..)y, Giulite Coutinho

apresentou sua original tese de que"para o planejamento da estratégia deexportação se poderia pensar no Brasilcomo *se fosse uma mulher rica.Pessoalmente, devem ser averiguadas"quais são suas características e o quesabe fazer.

Ò fluente Giulite ressaltou, também,que uma das melhores oportunidadesde investimento no Brasil é afabricação de máquinas sob licença esuá exportação para os mercados dospaíses desenvolvidos. "Muitascompanhias", afirmou ele, "quefornecem licenças de produção parafirmas brasileiras estão insistindo emcomprar parte da produção,principalmente de máquinas de baixocusto, para serem vendidas em seuspróprios países, onde os altos custos demão-de-obra estão criando problemaspara. a produção de pequenas•quantidades". Para Giulite o baixocusto do trabalho é uma das maioresvantagens oferecidas pelo país porque"o custo da mão-de-obra no Brasil éaproximadamente um terço daquelesda Europa e dos Estados Unidos".

Abrindo o seminário, o secretário-geral do Ministério da Fazenda. JoséFiávio Pécora. afirmou que o Brasilnão mudará sua política deinvestimentos estrangeiros durante onovo governo. Para Pécora a saída doministro Delfim Netto não deverá

investimentos internacionais, porque"o Brasil tem mantido uma política denacionalismo inteligente desde 1964, econtinuamos precisando doinvestimento estrangeiro paracomplementar nossa poupança".

Analisando as diferentes fases daformação de estabelecimentosindustriais no Brasil o diretor daJohnson and Johnson, John Frederick'Koning. recomendou aos possíveisinvestidores norte-americanos quecontratem, treinem e confiem maisresponsabilidades a pessoal brasileiro."A mão-de-obra brasileira é muitoafeita ao trabalho. Os brasileiros estãointeressados no crescimento de seu país •e gostam de trabalhar sem levar emconta se o empregador é estrangeiro",afirmou ele, que elogiou também "arapidez de adaptação e a capacidadepara aprender coisas novas" dosoperários do país.

Em 13. lugar

resultar num controle dos

Segundo o recentemente publi-

cado Atlas do Banco Mundial, arenda per capita (renda nacionaldividida pela população) do Brasil em1971 era a 13.a da América Latina.

alcançando 460 dólares por ano. Arenda per capita de nosso país era.então, quase quatro vezes inferior à dePorto Rico (1.83U dolaresf'menos dametade da argentina (i.230 dólares) ouvenezuelana (l.ObO) e bem menor doque a do México (700). Alguns paísesconsiderados menos desenvolvidos doque o Brasil (como o Suriname, oPanamá e a Guiana Francesa) tambémtinham renda per capita superior ànossa.

A renda per capita brasileira foi. noentanto, quatro vezes maior do que a

do Haiti (120 dólares) e superounitidamente a de outros países como aBolívia (190 dólares). Equador (310) eEl Salvador (320). Atualmente,segundo o ministro do Planejamento.Reis Velloso. a renda per capitabrasileira subiu para 520 dólares. Se oBrasil tivesse alcançado essa renda percapita em 1971 e a dos demais paísespermanecessem as mesmas, ocuparia o-1!.° lugar entre os 24 países daAmérica Latina, um pouco acima deCuba. que tinha uma renda per capitade 510 dólares.

Rendo per capito «m alguns poisas da América Latina •— 1971(«mdõlore»), . ___

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(1) Colônlo do» EUAFONTE: BANCO MUNDIAL -Fonte: Banco Mundial

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Opinião, 11 jjt morto do tf*4

Uma da» preocupações centrais

.'. * analistas econômicos nosúltimo» mcsr» tem *»*», »em dúvida,especalar acerca de como evoluirá o

ifçfj! e»»a» ,máli»es »*» pcssimiua»;devido ao aumento >'¦¦ •• preços dopetróleo c à redução da laia decrescimento da maioria dof palieiocidentais, ti inienâmbu» internacionalde» mercadoria* e vervtco» deverá

frei uma queda e a dUpuia pelo»mercado» ** lomarâ mai» acirrada

Evidentemente eada pai* leniará portodo* o* meies aumentar suasexportações e comprimir as im

•• k «¦ para compensar a elevaçãoda» dcspevas com o petróleo eamenizar <n déficit» de suas balançascomerciai» previsto» para este ano.Entretanto, um limple» raciocíniomatemático é capai de mostrar que osdeveio» individual» de cada pai», «etomado» globalmente, acabam »ctransformando num abturdo: todo»de»ejam aumentar »uat tenda» ediminuir »ua» compra». E»»a violentacompetição certamente provocarádanos nu economias dos paísessubdesenvolvidos — os mais depcn-dentes do comércio internacional ecom menos capacidade para sedefender de seus reflexos negativos.

Diante dessa situação perigosa quaissão as perspectivas para o Brasil, quenos últimos ano» promoveu uma in>tema abertura para o exterior, in-crementando rapidamente suasexportações e ao mesmo tempoaumentando com incrível velocidade*uas importações? Em geral asautoridades oficiais (como por exemploo ministro Delfim Nctto e o presidentedo Banco do Brasil. Nestor Jost) eeconomistas muito ligados ao governo(como o ex-ministro da Fazenda.Octavio Gouvea de Bulhões) acreditamque as exportações brasileiras deverãocrescer significativamente este ano.atingindo cerca de 8 bilhões de dólares. •O fuiuro ministro da Fazenda. MárioHenrique Simonsen. em declaraçãorecente, também fez seus prognósticos:ele estima que as vendas ao exterioralcançarão realmente os 8 bilhões eque. por outro lado. as importaçõesficarão em torno dos 9,5 bilhões. Issosegnifica que o déficit da balançacomercial em 1974 deverá, atingir 1,5bilhão de dólares.

Suas declarações sem dúvida podemservir como um testemunho dosdelicados problemas que o comércioexterior deverá enfrentar este ano.porque mesmo que as exportaçõesbrasileiras (que cresceram 55.3 porcento em 1973) consigam aumentar 30por cento este ano. não conseguirãosequer pagar nossas elevadas (e nemsempre necessárias) importações.

A ascensão das importações

O Brasil terá que pagar este anopreços muito elevados por algunsdos principais produtos que importa.Esse é, obviamente, o caso do petróleo.Os cálculos que estão sendo feitos para1974 partem de uma necessidade decompras no exterior de 800 mil barrisdiários, ou seja, 292 milhões de barrispor ano, o que significa um incrementode 11,9 por cento em relação ao anopassado. Admitindo-se um preçomédio de 10 dólares por barril, osgastos com a compra de óleo atingiriam2.920 milhões de dólares. "Isso emborajá se fale em compras do barril depetróleo a 12 e a 13 dólares", segundoo Jornal do Brasil.

O Brasil também terá que gastarmais dólares para comprar trigo: aprodução mundial deverá ser in-suficiente para atender a uma procuraem rápida ascensão e os preços docereal certamente vão atingir níveismais elevados que os do ano passado.Apesar da atual safra brasileira tersido quase três vezes superior à de 1973,o país terá que adquirir lá fora cerca de2.6 milhões de toneladas de trigo. Se ospreços permanecerem estáveis durantetodo o ano — no final de janeiro umatonelada do cereal colocada no portode Santos custava 240 dólares (umahipótese que pode ser consideradamuito otimista) — a importação detrigo alcançará 624 milhões de dólares.Com as expectativas de elevação dospreços, técnicos .oficiais falam emgastos de 800 milhões de dólares,contra 390 milhões no ano passado.

Os preços dos produtos que utilizam

Comércio exteriorComo pagar as importações?

o petróleo como matéria-primatambém deverão aumentar e algumdele», ti» - como o» produto» químico»,borracha sintética, flora» artificiai» eíertiltzantr» pesam muito m no»»apauta de importações. Em l°?2. porexemplo, enquanto o Brasil gastou 4&?milhões de dólares com petróleo,despendeu *• ** milhòe» com produto»das indústria» química» e indústria»conexa» e 11? milhòe» com at compra»externa» de matérias plástica», éteres,resinas e borrachas'. ,

As dificuldades brasileira» nãoterminam ai. porque o» preços dosbens de capital (máquinas eequipamento») no mercado mundialdeverão subir, devido ao en>careeimento da» matérias-primas queentram em sua fabricação, ocorrido noano pa»»ado. Além do» bens de capital— principal item da nosta pauta deimportações — os minerai» nãometálicos poderão ser con>sideravelmente valorizados este ano e oBrasil depende do exterior para tuprirquase todas as suas necessidades dealumínio, cobre, níquel e chumbo.

Como pagar u Importações?

Para pagar suas importações oBrasil tem quatro saldas: expandir asexportações, receber mais capitais eempréstimos externos, utilizar asreservas monetárias e. evidentemente,reduzir as importações.

II Expandir as exportaçõesbrasileiras?

As exportações brasileiras crescerama passos largos nos últimos 10 anos. Noperíodo 1964/70 elas aumentaram 11.4por cento ao ano e no ano passado seelevaram cm mais de 50 por cento.Esse excepcional salio cm 19?§ foipossibilitado pela elevação dos preçosdas matérias-primas e alimentos nomercado internacional provocada nãosó pela intensa demanda dessesprodutos pelos países capitalistasavançados mas também por manobrasespeculativas de banqueiros in-ternacionais. trading con.panies,empresas multinacionais, etc. quequerendo se livrar das suas enormesreservas de dólares desvalorizadospassaram a comprar e estocarmatérias-primas.

Este ano. no entanto, estas condiçõespodem não se repetir. Ninguém esperaque os países capitalistas avançados,ameaçados pela recessão econômica,aumentem substancialmente a suaprocura por matérias-primas ealimentos.

Uma queda nos preços das matérias-primas e alimentos prejudicariasensivelmente o Brasil porque em 1973,por exemplo. 66 por cento das nossasvendas ao exterior foram de produtosagrícolas e minérios. Apesar dadiversificação da nossa pauta nosúltimos anos, devido principalmente àinclusão de diversos produtosmanufaturados, as vendas brasileirascontinuaram concentradas em cincoprodutos do setor primário, que em1973 totalizaram 53 por cento dasnossas exportações: café (20 por cento),soja (14,8 por cento), açúcar (8,8 porcento), minério de ferro (5,9 por cento)e algodão (3,5 por cento).

Além disso o desempenho daagricultura brasileira se tornou maissensível à oscilação de preços nomercado mundial, porque parcelascada vez maiores da produção docampo são destinadas ao exterior. Aparticipação das exportações dematérias-primas e alimentos na rendado setor agrícola, que era de 22 porcento em 1964, aumentou para 40 porcento em 1970 e continuou a subir nosúltimos anos.

Para traçar as perspectivas comrelação à exportação demanufaturados — que representaram31 por cento das nossas vendas aoexterior em 73 — é preciso examinarsua composição nos últimos anos. Umestudo do Instituto de PesquisasEconômicas Aplicadas (IPEA) doMinistério do Planejamento mostraque o Brasil se especializou naexportação de produtos que utilizamintensamente mão-de-obra não

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qualificada e ou recursos naturais.Muitos desses manufaturados sãomatérias-primas cuja exportação embruto nào traria nenhuma vantagem epor isso recebem um certobencficiamento antes da exportação —caso da madeira serrada, cera decarnaúba, peles e couros, etc.

Os produtos que utilizam in-tensamente mão-de-obra nãoqualificada e matérias-primas sãocouros e peles, alimentos, madeiras,produtos químicos, borracha, bebidasc outros. Em 1970. a participaçãodesses setores no total das exportaçõesde manufaturados foi deaproximadamente 80 por cento.

O Brasil encontra certa facilidadepara exportar esses produtos, porqueseus custos de produção são inferioresaos de outros países. As matérias-primas que entram na composiçãodesses manufaturados são abundantese relativamente baratas aqui e a mão-de-obra brasileira recebe, em geral,salários baixos em comparação com ade outros países. Estas condiçõesvantajosas devem permitir que o Brasileste ano continue a exportar couros epeles, produtos químicos, etc. porquepara os países importadores seriadifícil produzi-los a custos menores doque os nossos.

A p-articipação de. outrosmanufaturados, que requerem parasua elaboração tecnologia maissofisticada e mão-de-obraespecializada, nas exportaçõesbrasileiras, embora tenha aumentadonos últimos anos, ainda é pequena.Essas exportações foram possibilitadaspor um processo' de reformulação dadivisão internacional do trabalho. Ospaíses capitalistas avançados têmnecessidade de reequipar suas in-dústrias para aumentar a taxa delucros, reduzir os custos de produção,atender às solicitações de um consumocada vez mais refinado, etc. Diantedisto, tem havido um deslocamentopara países mais atrasados e quç;oferecem estímulos , à entrada docapital estrangeiro, de indústrias queutilizam tecnologia de retaguarda.Essa situação tem beneficiado paísescomo o Brasil, que passam a exportarmanufaturas cuja produção não in-teressa mais aos países capitalistasavançados. Por isso, o Brasil temvendido ao exterior — principalmenteatravés das multinacionais aqui íns-taladas — produtos como materialelétrico, peças para computadores, etc.

Quais as perspectivas, então, dosmanufaturados brasileiros no mercadomundial? Apesar da recessãoeconômica que os ameaça, os paísescapitalistas avançados podemcontinuar desinteressados na produção

da maioria dos manufaturados que oBrasil exporta, embora com oagravamento da competição comercialpossam surgir questões semelhantes àdo café solúvel — em que osprodutores domésticos dos EstadosUnidos pressionaram o governoamericana a impor restrições para aentrada do solúvel brasileiro.

Para estimular as exportaçõesbrasileiras, as autoridadesgovernamentais desvalorizaram ocruzeiro duas vezes em menos de 20dias — cm 2.7 por cento na últimasemana de janeiro e cm 1.9 por centona última semana de fevereiro (o querepresenta o período mais curto entreduas desvalorizações desde 1968). Asdesvalorizações, no entanto, emboratornem mais barato? os produtosbrasileiros no exterior, tambémencarecem as importações. Além disso,o Brasil não pode desconhecer umcerto "acordo de cavalheiros" em nívelinternacional, que procura evitar asdesvalorizações competitivas dasmoedas.

Mas, apesar dessas medidas, asexportações brasileiras demanufaturados permanecemvulneráveis a uma crise no comérciointernacional, porque elas se destinambasicamente à América Latina (48 porcento em 1970) e os países dessecontinente, .em razão dos sériosproblemas que deverão ter na balançacomercial, certamente tentarãocomprimir suas importações.

2) Incentivar um maior ingresso decapitais externos?

Outra maneira de evitar o déficit nobalanço de pagamentos é estimular aentrada de capitais estrangeiros etentar obter empréstimos no exterior.Recentemente, foi eliminado odepósito compulsório no BancoCentral de 40 por cento sobre osempréstimos estrangeiros queingressam no Brasil. Através dessamedida' o governo pretende,barateando os custos do dinheiro vindode fora, estimular este fluxo. Essamedida poderá ter, no entanto, efeitoslimitados embora o Brasil continue arepresentar um excelente risco para osbanqueiros e investidores estrangeiros.Em primeiro lugar, porque foi mantidaa exigência do prazo mínimo de 10anos de permanência dos recursosexternos no Brasil e ps banqueirosinternacionais não parecem dispostos aemprestar quantidades substanciais dedinheiro para ficarem retidas por tantotempo. Em segundo lugar, os paísesque tinham recursos disponíveis páraaplicações e empréstimos tiveram suasreservas grandemente diminuídasdevido ao aumento dos gastos com aimportação de petróleo. Esse é o caso,

por exemplo, do Japle e da Franca eaté eeno pomo da AlemanhaOcidental.

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O Brasil também pudera pagar suasimportações utilizando suas reservasinternacionais, que já ultrapa»»aram o»»- bilhões de dólares Essas reserva», noentanto, servem como garantia para osbanqueiros internacionais de que opais goza de boa situação financeira epor isso não poderiam ver u»ada» alénde certo limite. Além disso, énecessário ao Brasil manter um nívelelevado de reservas para poder pagaros juros e amoritirações dos seusempréstimo» externo», que apena» esseano deverão alcançar cerca de 1.9bilhão de dólares.

41 Evitar as impurtaçâtttiesufOrsíêriai?

Como as principais imponacõe»bra»ileiras são de bens de capital —

„que cresceram Jl por cento ao ano noperíodo l%4/?2. enquanto a indústrianacional funcionou com 40 por cento decapacidade ociosa — técnicos oficiaisacham que algumas medidas poderiamver adotadas para rcduzMas. A curtoprazo, por exemplo, seria possívelaumentar a utilização da indústriabrasileira de bens de capital, tornandomais rigorosa a aplicação da lei dosimilar nacional ou estabelecendotarifas aduaneiras mais elevadas para aaquisição de certas máquinas. Outramedida necessária seria a criação parao setor de um sistema definanciamentos a longo prazo,competitivo com. os existentes nomercado internacional. Osfinanciamentos internacionais tém avantagem de serem concedidos aprazos mais convenientes e a jurosmais baixos do que os brasileiros. Naatual situação as indústriasestrangeiras levam vantagem nacompetição com as nacionais.

Consideráveis somas são gastastambém com a importação desupérfluos. Só em frutas e alimentosenlatados o Brasil desembolsou em1972 cerca de 210 milhões de dólares— quantia superior à despendida coma importação de trigo nesse mesmoano. Grande parte dos supérfluos sãobens de consumo duráveis. O Brasilgastou, por exemplo. 17 milhões dedólares com a compra de toca-fitas. 14milhões em toca«discos e 8 milhões cmtelevisores nos primeiros nove meses de1973. No ano passado essas despesasrepresentaram quase 14 por cento dasimportações brasileiras. Algunstécnicos acreditam, no entanto, queessas compras não deverão ser muitoreduzidas, não só porque isso atingiriaas camadas sociais que têm o hábito deconsumir tais produtos.- como tambémporque romperia acordos comerciaiscom outros países.

O que se pode concluir de toda essaanálise é que o Brasil se encontrabastante exposto ao comércio

-internacional e vulnerávej às suastendências. Além da grandedependência do setor primário domercado internacional, o país comprano exterior boa parte dos bens decapital de que necessita para levaravante seus planos de investimentos (27por cento da nova maquinariaincorporada à indústria nacional noperíodo 1967/71 veio do estrangeiro).O fato da indústria brasileira — apesarde já ter alcançado um certo grau dematuridade— não dispor ainda de umsetor de máquinas e equipamentoscapaz de sustentá-la e alimentá-larevela uma das deformações maisflagrantes de nossa estruturaeconômica, impedindo que a curtoprazo possa haver uma economiasubstancial de divisas nesse item, queconsome mais de 40 por cento denossos gastos no exterior com a comprade mercadorias. Ç

, Tudo isso contribui evidentementepara a vulnerabilidade_ brasileira .%àstendências do comercio externo. A

t curto parazo o problema talvez possa• ser minorado comprimindo asimportações, utilizando as reservas,etc. Mas a longo .prazo somente ummaior desenvolvimento do setorindustrial de bens de capital e a

. ampliação do mercado interno — quepermitiria reduzir a dependência das

. exportações — será capaz de distanciaro país das incertezas e inseguranças docomércio internacional. (Armando G.Ourique)

. «¦

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D mundq4tffc urrem fazer de tòf.j.»b» a ít

^gptul do socialismo mat nUvamos fazer dela a capital doperonismo". Cem essas palavras, oministro do Interior da Argentina.Benito Uambi. resumia ulvez opentamento do próprio Perón arespeito da rebelião que not últimosdiat de fevereiro deu um atpecto deguerra civil â segunda maior «idade dopait, In» Córdoba. pcronittat etocialittat de diversos matizes de umlado e pcronittat e direiiittas dediversos matizes de outro travaramtalvez uma dat batalhas mait im-portantes para a definição dot rumotdo governo de Juan Domingo Perón,

A "guerra" começou no dia 27 defevereiro último, quando o chefe dePolicia. Antônio Domingo Navarro,apoiado pela maioria de teut 10 milsubordinados, tomou a Casa dogoverno prendendo o governadorObregon Cano. o vicegosernadorAtílio Lopez e 80 pettoat entre fún-cionáriot e legitlodoret presentes nolocal. Conscientemente ou não.Navarro se constituía com o golpe numcaso estremo da campanha que oJuttkialitmo move contra "a in-filtraçâo marxista" no própriomovimento que lesou Perón de volta âpresidência da Argentina.

Córdoba está a 800 quilômetros anoroeste de Buenos Aires, tem 800 milhabitantes e. além de ser a segundacidade em importância no pais e sededa indústria automobilística, cr.-contrava-se desde as eleições de marçodo ano passado, que levaram Camporaâ presidência, praticamente controladapela ala mais combativa do peronismo,que tem como objetivo "a

pátriasocialista". Córdoba é também umadas cidades de maior tradição de lutapolítica na recente historia argentina.O nome cordobazo é uma herançadessa história.

Em junho de 1969 os estudantes eoperários de Córdoba paralisaram portrês dias a cidade, na primeiramanifestação violenta contra o regimemilitar que se implantara na Argentinatrês anos antes. Na liderança dessarebelião apareciam Atílio Lopez. vice-governador de Córdoba antes do golpe,e Agustin Tosco, atualmente um doslíderes mais em evidência em Córdoba.

Dessa vez a rebelião de Córdoba temmotivos e inimigos diferentes. Nelaculminam, ae certa torma. duas seriesde acontecimentos. Uma de âmbitomais geral é a chegada a Córdoba domovimento de expurgos que vêm sendofeitos dentro do MovimentoJusticialista desde que Camporadeixou a presidência. De meados doano passado para cá várias figuras queatuavam dentro do aparelho de Estadoe que manifestavam simpatia pela alamais radical do Justicialismo foramsendo, sucessivamente, afastadas.

As primeiras depurações atingiramos ministros de Campora consideradosde esquerda entre eles o do Interior(que comanda a Polícia), o do Exterior,e o general Garcagno, chefe doExército.

Depois do atentado do ExércitoRevolucionário do Povo (ERP) aoregimento militar de Azul, em meadosde janeiro passado, a JuventudePeronista, ou os muchachos de Perón.passou a ser o principal alvo dosataques. Perón passou a criticarabertamente a tendênciarevolucionária, setor mais radical daJuventude Peronista, exigindo umàdefinição clara de seus militantes a fim"de se saber "quem é quem" dentro doperonismo. Esse neríodo coincidiu comdiversas medidas tomadas pelopresidente, como a aprovação Ho novoCódigo Penal, que lhe dava ins-trumentos legais mais radicais parareprimir a violência. Nele foramexpulsos do peronismo 12 deputadosque se opuseranj a nova lei, o gover-nador de Buenos Aires, onde ocorreu oatentado, e de certa forma iniciou oprocesso de intervenção desta semanacontra Córdoba.

Os outros acontecimentos quelevaram à atual situação de Córdobareferem-se a problemas internos daprovíncia.

A crise dos transportes

A 24 de dezembro do ano passado, aUnião de Tranviários Automotores(UTA). cujo secretário-geral era Atílio

ArgentinaUm "cordobazo" diferente

Lopei tenião vicegovernador daprovíncia), solicitou â Federação deEmpresários de Transpurie umaumento salarial de puco mait de30% para ot choferes do transportecoletivo da cidade. Na ocasião AtílioLopez tubttitula o governadorObregon Cano que estava de férias.Atílio homologou o acordo com acondição de que nào houvette aumentono preço dat passagens. Ot cm-pretários. porém, te negaram aratificar o acordo feito alegando quecom ele estariam siolando o PactoSocial, uma dat bates do programaperonista. De acordo com etvc Pacto,minado a 8 de junho de 1973 entre aConfederação Geral dotTrabalhadoret (CGT) e a Con-federação Geral Econômica (CGF. —entidade de pequenas e médias cmpresas), que vitava conter a inflação ecriar um clima favorável aos em-preendimentos. ficaram proibidosaumentos de preços ou salários.

Diante da negativa dos empresáriosem conceder o aumento, ostrabalhadores dos coletivos entraramem greve e Lopez decretou a in-tervenção nas empresas a fim deestudar a situação financeira de cadauma. O caso foi levado à Justiça local,que se definiu pela intervenção.

A crise dos transportes de t.rtaforma funcionou como um divisor deáguas entre a direita e a esquerdacordobesas, peronistas ou não.

CGT peronltta-perc-lata

O debate mais importante que setravava em Córdoba às vésperas darebelião de Navarro dividia ainda maisos setores sindicais. Era a época darenovação das autoridades da Con-federação Geral dos Trabalhadoresregior li. As eleições, marcadas para 28de fevereiro, foram consideradas pelosecretário-adjunto da CGT nacional.Raul Rayitti, como "de um significadotremendamente importante para omovimento nacional".

Foi em Córdoba, em 1957, que ostrabalhadores conseguiram recuperarpela primeira vez, depois que operonismo foi banido, sua delegaçãoregional. Formaram-se então 1) achamada CGT "legalista" que admitiaa participação de não peronistas e daesquerda independente e cujosecretário-geral era Atílio Lopez, e 2) a"CGT negra", integrada pelos or-todoxos, que viria, depois de 1966. aser denominada "participacionista"

pelos primeiros (cm relação à suaposição de participação nasnegociações com o regime militar).

Essa divergência dentro da CGTcordobesa se acentuou com a liderançada CGT "legalista" durante os doiscordobazos. Apenas durante umoequeno espaço de tempo, de meadosao final do ano passado, legalistas eortodoxos chegaram a um acordopara uma direção unitária da CGT deCórdoba. No entanto, no início dejaneiro último, como uma das con-seqüências da crise dos transportes.Atilio Lopez foi expulso das 62Organizações ficando, assim, rompidaa direção unitária. As 62 Organizaçõessão a entidade que reúne os grêmiosperonistas e que embora não controle aCGT de Córdoba é hegemônica dentroda CGT nacional.

Nas eleições de 28 de fevereiroúltimo, o objetivo dos ortodoxos eraimpor uma CGT peronista-peronista.A isso se opunham fortemente os"legalistas", ou seja, peronistas-socialistas, jas "classistas ' comoSalamanca e a esquerda independente,como a de Tosco. Até a renovação dasautoridades da CGT regional eramesses três setores que controlavam essaorganização.

As vésperas das eleições, os"legalistas", cujo candidate era MiguelGodoy, contavani com o apoio de 28grêmios, fora os votos dos seguidoresde Salamanca e Tosco, e os ortodoxoscontavam com ò2 grêmios. Seucandidato era Bernabé Barcena. Dessaforma, os ortodoxos viam-seameaçados de não conseguirem seu

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II - ¦

objetivo de controlar a CGT regional.A intervenção de Córdoba já vinha

sendo há muito tempo pedida pelosortodoxos. Além de Córdoba, outrasprovíncias como Mendoza e Saltatambém eram alvo das críticas dadireita do peronismo. O próprio Perónnuma de suas recentes declarações sereferira "aos agentes governamentaisque buscam destruir o equilíbriosocial", ou seja, que burlam o PactoSocial, numa direta alusão a Cano. Noentanto, não interessava a Perónintervir diretamente na província. Aoentrevistar-se com os gremialistas, ochefe do Justicialismo chegou,inclusive, a pedir a moderação de seusmilitantes: "No momento, o que há emCórdoba é um foco de infecção,produzido por forças que são tãoinimigas do governo como das 62Organizações... Temos que fazer essascoisas (o expurgo) às quais não meoponho... mas temos que agir semfavorecer nossos inimigos.Principalmente em zonas como a deCórdoba. que está um poucoinfestada". Se por um lado Perónparecia pedir moderação, ao declararabertamente que não se opunha "aessas coisas" deixava aberta apossibilidade de que outros agissem.

Iniciada a rebelião de Navarro.Perón pareceu esperar para ver uma deduas formas favoráveis de intervir: 1)se Navarro consumasse seu golpe semresistência ele poderia intervir com asituação já dominada a seu favor: 2) seCano reagisse, sem o apoio do Exércitonem da Polícia, ou seja, só com osoperários, ele poderia intervir paraevitar a "guerra civil".

A rebelião recebeu o imediato apoioda ala direita do peronismo local.Grupos civis começaram a ocupar asrádios da cidade, de onde divulgavamcomunicados contra "a infiltraçãomarxista no governo" qualificandoCano e Lopez de "agentes doimperialismo soviético". Oscomunicados eram intercalados porcompassos de marchas peronistas etrechos de discursos /de Eva Perón.Seus autores se autodenominaram"comando peronista de resistênciajusticialista" ou "comando de rebeliãocivil" e esclareciam à população queCano tinha sido preso quandodistribuía armas "a grupos civis deconhecida militância marxista". Alémdos,.. comunicados, as rádiosdivulgavam mensagens enigmáticas.çprno: "papai está resfriado" ou"sejam bem-vindas as crianças".

Os disparos de metralhadoras eramrespondidos pelos franco-atiradores e ospartidários de Cano começaram aconstruir barricadas, fazendo lembrar3S cordobazos passados.*

O clima reinante em Córdoba era,então, segundo o enviado especial dojornal argentino La Opiniòn, porta-vozoficioso do peronismo, semelhante aoda guerra civil espanhola, em 1937.

A cidade permaneceu praticamenteparalisada, fosse por decisão de seuspróprios habitantes, fosse pela grevedecretada pela ala ortodoxa das 62Organizações (pró-Navarro) ou pelagreve da CGT em apoio a Cano. Asruas eram policiadas por efetivospoliciais e também por elementos civis,ostensivamente armados. Váriaspessoas chegaram a abandonar acidade em direção às montanhas.Segundo La Opinión "os requisitospara participar desse "êxodo" eramsimplesmente ter conseguido algunsquilos de carne e ter conduçãoprópria".

O poderoso III Exército, sediado emCórdoba, manteve-se em estado dealerta, embora em momento algumtivesse interferido na rebelião. Amesma atitude foi tomada pelos 250homens da Polícia Federal, vindos deBuenos Aires.

Ao final do primeiro dia de lutas,talvez porque a situação ainda estivesseindefinida, o ministro do Interior,Benito Llambi, depois de conferenciarcom Perón, reafirmava o desejo dopresidente de não intervir no conflitoprovincial. Sua declaração de queesperava que a província encontrasse*"dentro da jogo de suas própriasinstituições e da maturidade política deseu povo as soluções mais adequadaspara que a ordem e a tranqüilidadevoltassem a Córdoba" foi equiparadapelos partidos de oposição a umadeclaração feita em outro planeta, ouda Organização dos EstadosAmericanos.

Depois de passar 24 horas acéfala,fui nomeado governador provisório daprovíncia o presidente da Câmara- dosDeputados, Mario Dante Agodino,ligado à" aia direita do peronismo,embora não tivesse em momentoalgum sido anunciada o demissão deCano.

Segundo a Constituição provincial, opresidente da Câmara deve assumir ogoverno "em caso de impedimentosimultâneo do governador, vice-governador e presidente do Senado...

por morte, incapacidade ou fuga daprovíncia". No cato. •» dois primei»»*»v-ncuntravanvte pretot por Navarro, eI '¦ ko Tcjada. previdente do Senado.ausente.

A posse de Agodino foi questionadapeio procurador-geral da província.

Sue acusou de tcdtctoto o movimento

e Navarro, referindo-te â ConstituiçãoFederal, que úm "O Poder ExecutivoNacional deve apoio às autoridadeseonttiiuldat. para tuttentá-lat ourcvtabclecé-las. se houverem sidodepostas por tediçào".

Em Buenos Airev. Ricardo Balbin.líder da Uniào Cívica Radical, ategunda maior força política do pait.manifestou seu repudio à ação deNavarro, denunciando também comotedicioto o movimento "que impede atautoridades eleitas pelo povo decscrccr o poder". Manifestando suapreocupação com a situação Balbindeclarou, ainda, que os fatos "sio deuma gravidade inusitada, semantecedentes na história institucionalda República". Ao insistir na reposiçãode Cano em tuat funções. Balbin frizouque nio ettava defendendo umgovernador

"mat um governo, umtittema político que o povo elegeu a 11de março".

Agodino. que antet de serempossado fez sua profissão de fé:"nem ianque, nem marxista,peronista", anunciou que a l.° desetembro seriam realizadas novaseleições para substituir Cano e Lopezno governo.

Quarenta e oito horas depois deiniciada a rebelião, havia em Córdobatrês governos: o de Agodino.provisório; o de Obregon Cano. que serecusou a aceitar a nomeação depor motivo de segurança: e o governode fato de Navarro.

Perón continuava em silêncioparecendo esperar, como declararaanteriormente, que "o problema deCórdoba fosse resolvido peloscordobeses".

A posse de Agodino. no entanto, nãofora suficiente para restabelecer atranqüilidade em Córdoba. e osortodoxos continuavam a pressionarpela intervenção. Em Buenos Aires.Balbin. em novas declarações, defendiauma intervenção diferente da propostados ortodoxos: "Uma intervenção nãopode ser considerada umavassalamento da autonomiaprovincial, mas uma medida destinadaa prestigiar as autoridades eleitas péTó"povo".

Como a província não estavapacificada depois de três dias e as lutastendiam a se ampliar, Perón se decidiu,depois de 72 horas de omissão, a enviarao Congresso o projeto de intervençãode Córdoba. Nele, Cano é acusado deter organizado "a mais importanteação subversiva registrada no país".Em outro ponto. Perón endossa ajustificativa apresentada por Navarropara a prisão de Cano,, ao dizer que"na Casa do governo se fazia adistribuição de armas".

Lucros e perdas

Terminava, assim, a primeira etapado conflito cordobês. com a cidadeapresentando uma tensatranqüilidade. Perón conquistavaalgumas vitórias. Por um lado. naseleições da CGT local, com todos ospartidários de Atilio, Tosco eSalamanca ausentes, saíram vitoriososos ortodoxos. Já no dia I.° de marçoPerón mandava seu ministro doTrabalho, Ricardo Otero. de BuenosAires, para empossá-los. Otero fez asdeclarações apropriadas: "Assisti a umdos momentos mais transcendentais domovimento operário argentino, que é arecuperação da regional de Córdobapara o movimento peronista".» Osgrandes ausentes desse "momentotranscendental" foram os legalistas,não peronistas e esquerdaindependente, que não chegaram avotar.

A deposição de Cano representou aoutra vitória de Perón. Por outro lado,no entanto, o clima de guerra civilgerado por Navarro e a sublevação daprovíncia contra Perón é sua primeiraderrota dentro do próprio movimentopopular. Quanto à intervenção naprovíncia, talvez ela venha arepresentar um alto custo político — ofim do diálogo com a oposição.

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10

1InglaterraO dilema dos liberais

timão e com um capitão trancado cmsua cabine.

Os quatro Mi

O único resultado concreto daietckôes britânicas do 'Vtitrw» dia

2* foi o de que muito em brese terãonecessárias notas cleiçovi gerais. Aquestão básica do poder políticoresultou ainda menos definida depoisda contagem dos votos do que já estavaquando o primeiro*ministroconservador decidiu aumentar suareduiida maioria parlamentar,convocando as eleições quase um ano emeio antes do praro fatal. Dos trêsgrandes partidos, o Conservador, oTrabalhista e o Liberal, nenhumconseguiu um número de cadeirassuperior á soma das cadeiras dosoutros dois. Como as coalizões nãofarem parte da tndição parlamentarbritânica, exceto em tempos de guerra,é quase inevitável a convocação denovas eleições. Mas a Grã-Bretanha jáfoi governada por coalizões, nadécada dos 20. auando a classeoperária emergiu de seu purosindicalismo, e. através da conquistado voto universal, deslocou para o 3.°plano o Partido Liberal, oferecendo aoeleitorado a opção do PartidoTrabalhista contra o quase imutávelPartido Conservador. Como na décadados 20. uma coalizão provisória hojesimboliza novamente um período deindefinição nas lealdades políticas dosvários grupos sociais do pais. Destavez foi a classe média que emergiu,negando seus votos tanto a trabalhistasquando a conservadores. Osconservadores mantiveram apenas osvotos de seu núcleo mais fiel, as elitesparasitárias, os altos funcionários e osprofissionais em ascensão, assim comoos aposentados com concepçõespolíticas já cristalizadas e velhosdemais para mudarem de idéia. Ostrabalhistas conseguiram manter alealdadedos núcleos sindicais ortodoxose ganharam parte dos votos dajuventude. O resto — quase todo classemédia — votou Liberal. Cerca de 6milhões de ingleses votaram no PartidoLiberal, ou seja, um quinto doeleitorado. Em termos de cadeiras noParlamento, os liberais conseguiramapenas metade do que esperavam U3cadeiras, contra cerca de 30 previstaspelo partido) (1). Mas mesmo assimJeremy Thorpe. o líder liberal,conquistou seu objetivo estratégico, cde ser o fiel da balança, devido àdiminuta diferença entre

conservadores - " cadeiras) etrabalhistas t3tM)i Com «* 6 milhócs detotós e 0 fiel da balança em suas mãos,leremv Thorpe tem o poder pratico e aforça moral de decidir o destino do paisalé as próximas eleições, Mas qual foi omandato dado pela classe média aJeremy Thorjie?

Ao votar nos liberais a classe médiase identificou muito mais com ostrabalhistas do que com osconservadores, porque tambémrejeitou o capitalismo, como ele existehoje na Grã-Bretanha. A maioria dospontos básicos do manifesto liberaicoincide com o manifesto trabalhista:política mais distribuitiva da rendanacional, salários melhores para os queganham muiio pouco, combate âinflação através da limitação dos lucrose salários (os trabalhistas não incluemcontrole salarial, mas admitem umaforma voluntária de moderação nospedidos de aumentos salariais).

Os liberais e a dam média

A grande diferença entre otrabalhista e o liberal está muito maisna atitude de cada um frente aocrescimento econômico — um dosdogmas do capitalismo britânico — efrente ao relacionamento entretrabalhadores e patrões. Enquanto otrabalhista tradicional sindicalizadorecusa-se a apertar a mão do patrão eexige uma política de pleno emprego ede expansão industrial (e um envelopede pagamento bem gordo no fim domês), o liberal que votou noscandidatos de Jeremy Thorpe no mêspassado põe em dúvida a própriavalidade do crescimento econômicocomo fim em si. A luta. sindical, osliberais oferecem a alternativa do quechamam "democracia industrial": aparticipação dos trabalhadores nadireção das empresas. Os setores maisortodoxos do movimento operáriobritânico, assim como os pequenospartidos de extrema-esquerda.denunciam essa proposição de"democracia industrial" como"fascismo disfarçado", dizendo que osliberais propõem simplesmente umestado corporativista. ondetrabalhadores e patrões colaboremmutuamente na manutenção docapitalismo. Mesmo setores não

radicais insistem na definição. |áanMúgica. de que

"um liberal é umconservador que tem vergonha de serconservador" De faio. durante os triHanos : meio de got«mo de Heaih. osliberais aprotaram quase todas as leisapresentadas pelos conservadores, Maso eleiiorado solou nos liberais comevidente boa fé. atraído pela suadenúncia, ainda curiosamente maisradical do que a denúncia trabalhistada chamada "face feia do eapiialismo"que só visa lucros, que não respeita anatureza e as pequenas comunidades, eque só serve aos interesses dos grandemonopólios e oligopólios.

A palavra de ordem de "democraciaindustrial", sob esse ponto de vista,pode ser encarada como um passo àfrente natural num pais de fortetradição democrática, onde se pretendeampliar o conceito mesmo dedemocracia.

Assim como o direito de comerpassou a ser considerado um dosdireitos humanos fundamentais odireito de decidir sobre as prioridadesda indústria onde se está empregadopassa a ser considerado parte dosdireitos democráticos. O fato de Heathter insistido cm formar uma coalizãomostra até que ponto os conservado-res estavam dispostos a tudopara manutenção do poder. Mas essaseleições, provavelmente, marcam ocomeço do ocaso do PartidoConservador, assim como marcam aredução ao seu núcleo sindical doPartido Trabalhista. E marcam aaglutinação, da classe média em tornodos liberais — uma aglutinação quepode ou não se cristalizar nas próximaseleições. Vai depender docomportamento de Jeremy Thorpe e deseu pequeno punhado de deputadosliberais nos próximos meses. Se elesforem fiéis ao seu manifesto eleitoral,as chances dos liberais se reforçaremainda mais na eventualidade deeleições próximas, é grande (BernardoKuclnskl)II) Pelo sistema distrital, quandoexistem três grandes partidos, ascadeiras em cada distrito só começama ser ganhas quando o partido passa abarreira dos JJ?S dos votos. Os liberaisnão conseguiram passar essa barreiralia maioria dos distritos, apesar dacontagem nacional lhes dar 20 porcento dos votos.

FrançaQuem é o próximo?

Na noite passada, uma coruja

piava junto às janelas de meuapartamento em Paris. "Deve terandado muito desde os jardins deLuxemburgo", disse eu. Um amigorespondeu: "Não importa saber deonde vem. O problema é para onde vai.Irá ela pousar junto ao Elysée (opalácio do presidente) ou ao Matignon(a residência do primeiro-ministro)?Assim se poderia saber qual das duasresidências vai ficar vazia primeira".

A adivinhação pelo vôo dos pássarosé quase a única forma de profeciapolítica que ainda não foi tentada naFrança. A classe política ferve derumores. Pompidou está morrendo decâncer da medula óssea. Pompidoutrabalha apenas duas horas por dia.Pompidou está perfeitamente bem,mas está a ponto de demitir oenfadonho e descolorido primeiro-ministro. Pierre Messmer, e substituí-Io pelo seu ministro do Exterior,Michel Jobert, que cresceu dentro da"corte" de Pompidou assim como estena de De Gaulle.

Ou pelo seu ministro da Defesa,Robén Galley, que foi o herói ou ovilão da luta do ano passado contra agreve dos técnicos controladores deaeroportos quando era ministro dosTransportes. Ou pelo ex-ministro daAgricultura, Jacques Chirac (atualministro do interior que conseguiu

com sucesso tornar-se o francês maisdetestado na Inglaterra, o mestre dademagogia cínica contra o* fazendeirosalemães, ou contra os produtores deaçúcar ingleses, e o perpétuo alvo dazombaria de Le Canard Enchainé porcausa de sua casa de campo subsidiadapelo Estado. Ou ainda — numatentativa desesperada de unir facçõespolíticas diante da crise econômica —pelo líder socialista François-Miterrand.

As histórias escandalosas abundam.O ministro das Finanças passa todo oseu tempo com uma amante. O filho dogeneral De Gaulle vai se candidatar apresidência. Edgar Faure competiriacomo candidato do centro, com oapoio de uns 75°/o das posiçõesconhecidas do Kama Sutra político daQuinta República. Se há algo de certoo público será o último a saber.

O barco e sen capitão

Toda segunda-feira, faz-se fila paracomprar três semanários franceses: oLe Point (que é principalmente pró-governo), o VExpress (pró-centro), e oLe Nouvel Observateur (pró-esquerda,mas no momento empenhado numabriga com o Partido Comunista porcausa de Soljenitzyn). Aí podem serencontradas especulações à escolha.L'Express tem estado na liderança

ultimamerte. Uma semana a revistaafirmou que Messmer seria em brevesubstituído por Olivier Guichard,ministro do Planejamento e ServiçosPúblicos. Na semana seguinte, tambémconfidencialmente, passou o cargo deMessmer para o ministro das Finanças,Valery Giscard d'Estaing. Sobre isto,Pompidou comentou secamente: "Elesnão podem continuar neste passo pormais 52 semanas".

Como dizem seus amigos, por maisdoente que Pompidou esteja, sualíngua mordaz será o último órgão asofrer. E até què ponto ele está doente?Ninguém sabe. Sua aparência édesoladora — embora não se devajulgar por uns poucos instantâneospouco lisonjeiros, ele está muitoinchado devido às injeções decortisona. Caminha lentamente, seusdiscursos em público são às vezeshesitantes e mal-humorados, evistantes do Elysée comentam que eletem bons e maus dias.

Aiüda zsíim, quando necessário, ogoverno francês se movimenta comconsiderável rapidez, como ficoudemonstrado pela flutuação do tranc",as viagens de Michel Jooert ao OrienteMédio e o gigantesco contratocomercial assinado semana passadacom o Irã. De qualquer modo, éperigosamente, difícil evitar aimpressão geral de ura. barco sem

Dentro da densa bruma de rumorr*.duas conclusões assomamindistintamente. A primeira erelativamente >em importância; veja >•que for a Quinta Republica, não é um"governo aberto", comparado com aInglaterra, os Estados Unidos, ou aAlemanha Ocidental. O governo e osjornais estão presos num circulo skiosode silencio e especulação. Quantomenos o presidente di>. mais os jornaisinventam, e quanto mais os jornaisinvcniam. menos o presidente se semeobrigado a diser. Finalmente, este jogonão tem sencedores. fato reconhecidopelo governo quando publicou umboletim sobre o estado de saúde dopresidente, assinado por seu própriomédico, admitindo que ele está sofrendode uma forte grtpe. com umatemperatura de Jo graus. Como atitudedestinada a acabar com a especulação,foi insignificante e tardia. Mas aomenos sugere que o governo por"poder divino" nao mais faz parte daConstituição.

Falando mais seriamente, o prcsfhtcalvoroço de rumores revela o quanto éíngreme e estreita a pirâmide dapolítica francesa: o presidente é tãoimportante, c os mecanismosalternativos tão frágeis, que o mais leveindicio de doença tanto pode ser umtinadmissível traição como um pretextopara todo mundo parar de trabalhar.Toda a vida política francesa estávoltada para o quadro de avisos doElysée.

Partindo do principio de qte a vidapolítica francesa é quase inteiramenteum problema de personalidades, pode-se pôr algumas cartas na mesa. Trêsdelas são "ases". Na hipótese"fortemente provável" de quePompidou esteja realmente doentedemais para ir até o fim de seumandato (que vai até meados de 1976)há três candidatos óbvios ,i sucessão: oex-primeiro-ministro gaullista JacquesChaban-Delmas (58). o' ministro dasFinanças, independente republicano.Valey Giscard d Estaing (48). e o lídersocialista François Mitterrand (57). Sequaiquer deles, neste meio tempo, forpromovido a primeiro-ministro, suaposição com relação à sucessão seriafrancamente reforçada, se nãoassegurada. Mas Mitterrand apostoutão firmemente na coalizão socialista-comunista que suas chances dealcançar o poder, exceto pelo votodireto, são remotas. Se Chaban-Delmas ou Giscard d'Estaing foremapontados como primeiro-ministro,por outro lado, estarão a meio caminhodo poder.

Os quatro "reis"

Justamente por esta razão, sePompidou não está doente, ou nãosabe que está doente, ou está decidido

Opwüo. H de mora» èm Ít74

a continuar, embora doente, éeiirrmamenie prosiscl que ele estejatambém pensando em alguém que nlo«eja improvável socevsor Uvntrodrst*Iratit hipfcrvc o previdente «onsidanaimediatamente Messmer a se retirar doMaiignon. em favor dos quairo "reis"cm suas mios; Quichard. Jobert.üdllcv ou Chirac. Cada um delespoderia crescer no fértil selo do poder,e se tornar candidato presidencial, masnenhum deles poderia (como podem os"'aves")aestfer sem resistência, e faiercampanha mesmo contra os desejos dopresidente.

A corrida para a sucessão se parece,de falo. com o selhu jogo infantil noqual. qualquer um dos participantesque seja visto se aproximandosorrateiramente, de modo mais oumenos óbvio, enquanto o presidenteestá de costas, deverá soltar ao pontode partida. Tanio Chaban comoGiscard estão plenamente conscientesdisso. Chaban tcnvsc dedicado aconsertar o partido gaullista (UDS).iornando*o sua machine de guerre.particularmente depois que AlexandreSanguinettl. "chabanista" de fé*,tornou-se secretário do partido noverão passado. Mas embora aconferência do partido em novembropassado cm Nantes tenha sido umtriunfo de Chaban e de seu programade "gaullismo de esquerda", ele estáagora apenas mantendo sua cabeçafora da linha de fogo. e tentando(provavelmente em vâo) diluir o ciúmee a antipatia de Pompidou por ele pormeio de atos leais tais como apoiar omal sucedido plano presidencial dereduzir seu próprio mandato de setepara cinco anos.

Quem é o próximo

Da mesma maneira. Giscard passoua maior parte do ano passadoprojetando-se como algo mais do queum simples especialista financeiro.Muitas de suas tentativas de publicrelations foram absurdas (como tocaracordeão ou dar o primeiro chute emjogos de futebol), mas de qualquermodo refletem sua ansiedade de cairno agrado público. O general certa vezdisse sobre ele: "Giscard? Sua únicadesvantagem é o povo". O presidentePompidou Josta dele: amboscompartilham um desprezo intelectualpela ignorância da plebe gaullista dassutilezas financeiras, c ncnnum delesconsegue entediar o outro com suasanedotas sobre a Resistência, da qualGiscard era muito jovem e Pompidouprudente demais para participar.

£ claro que a história oficial podetambém ser verdadeira: Pompidoupode estar gozando de plena saúde, eMessmer gozando inteiramente de suaconfiança.

Na França de hoje estes doisdignatáríos são apenas o objeto de duasperguntas: Quando sairão? E quem é opróximo? Talvez, se foremsimplesmente ignoradas, estasperguntas desaparecerão. Talvez...(Henry Fox, New Statesman)

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IDIÇÀO SEMANAL BRASILEIRA II

m f duas questões qu* dominaramM* segunda conferência decúpula" islâmica nlo figuravam em%ua ordem do dir o .«k »n! ¦.<«. m ¦< • • «•Bangladesh pelo Paquistão t oproblema do petróleo M>ic este. du&ticif» foram colocadas durante - debatepublico, rettrantmitido diretamentepela telcsisâo, e mesmo i• ¦¦ debatei apunas fechadas, At duas teses tinhamcomo defensores personalidades muitopopulares, por ra/ões diferentes, nomundo muçulmano, e a controvertiagirou principalmente em torno dasconseqüências da alta dot preços paraot paivet pobres nãu produtores depetróleo.

Por um lado. o coronel Kadhafi.aparentemente um pouco menos àvontade no estreito salão da Assembléiaprovincial do Pendjab do que diantedas multidões de Labore, declarou-seconsciente de que a crise do petróleotornava-se penosa para certos países doTerceiro Mundo, "especialmente

paraaqueles que adotaram uma atitudefavorável em relação aos países árabesdurante a Guerra de Outubro. Eusei", continuou ele. "que a crise seagrava no mundo industrial, mas estedeve escolher: ou bem nossa amizade,ou a de nosso ininfbo. Quando ele optapor esta última d&c pagar o preço, equando opta por nossa ami/ade. énecessário que receba a recompensa".

O chefe de Estado Kbio tambémpropôs que os países consumidoresrecebam um tratamento diferente (I).de acordo com três categorias:

Primeiro os paises industriais aosquais o petróleo deve ser vendido aopreço convencional (com exceçãodaqueles que prestam uma "as-mtencia eficaz" tecnológica cmilitar), depois os paises do TerceiroMundo que deveriam obter umtratamento melhor. Finalmente ospaises islâmicos aos quais seria dadoum tratamento preferencial.

A tese de Boumedlene

Por outro lado. segundo o presidenteBoumediene da Argélia, não se devecolocar a questão de baixar o preço dopetróleo,

"que não é alto". O debatedeve ser ampliado: não são os preçosque devem ser revistos. m;.s a ordemeconômica mundial. Encontra-se ai atese argelina, mas esta foi. em Lahore,desenvolvida numa linguagem didáticaque. é bom dizer, impressionou os"irmãos muçulmanos". Os laçosespirituais que unem o mundoislâmico, declarou Boumediene. nãoprecisam ser relembrados, ê preciso-dar a eles um conteúdo econômico,pois a economia é a base da vida nomundo de hoje. Mais do que os

.capítulos do Corão, os povos que têmfome precisam de alimentos, osanalfabetos de educação, os que estãodoentes de hospitais. Pois bem, existeuma luta entre os países do Terceiro

———————— ^„M d» março de 1974 5. ruo do* llalienf — Poris 9o Tol. 7.709.129

CONFERÊNCIA ISLÂMICA

Laços espirituais e econômicosMundo e ot países tndust ri«:izados. Osárabes utilizaram a arma do petróleoporque, além da força militar, todas aspotencialidade,* deviam sermobilizadas... A batalha do petróleo é ade todas as matérias-primas, docontrole de seus recursos naturais pelospaises subdesenvolvidos. "Nós deve-mos". continuou o presidente Boume-diene. "agir cm gjcupos coordenados. á>rabe. isISmico. não alinhados, para queiiwvsat voies sejam ouvidas. Os paísessubdesenvolvidos sofrem, é certo, aconseqüência do encarecimento dosprodutos petrolíferos, mas seuconsumo é fraco, c é possível discutirseus casos: soluções podem serconcentradas".

Finalmente foi esta tese mais do quea do coronel Kadhafi que foi adotadapela conferência. A conferênciadenunciou a falta de vontade políticados poises desenvolvidos para pôr fim asua exploração dos recursos doTerceiro Mundo. Ela convidouprioritariamente os paísessubdesenvolvidos a mobilizar e arevalorizar seus recursos e os Estadosmuçulmanos a entrar num acordo de

Gôford Virotollo

apoio mútuo neste sentido.A convocação de uma sessão

extraordinária da Assembléia Ceraldas Nações Unidas, dandocontinuidade â iniciativa argelina, foiaprovada por unanimidade. Mas estatomada de posição continua muiiogeral: ela nio especifica, por exemplo.as medidas práticas que os paivesmuçulmanos produtores de petróleopoderiam tomar para vir em ajuda dospaíses pobres nao produtores. Estesserão estudados em seguida por umcomitê de especialistas.

Apesar disso, o ministro da.Relações Exteriores do Irã indicou queseu pais tinha sido um dos primeiros acompreender as conseqüências doaumento dos preços do pctrólcoj>ara oTerreiro Mundo. Teerã ofereceu comoiabemos 2 bilhões de dólares ao BancoMundial c ao FMI. Yasser Arafatexigiu que eles não acabem nos cofresde Israel. O delegado iraniano precisouque um comitê especial, compreenden-

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[ I V.noríos. muçulmanos impoflor'es

jOTOANlAM. MAMOCOSN. NIGtRIAS. SÍRIAI. IRAQUES. S. ÍSPANHOI

do personalidades neutras, estariaencarregado de vua gestão.

As duas resoluções políticas, umavobre Jerusalém e a outra sobre oOriente Médio e a causa palestina,constituem uma lembrança dasposições que já foram expressas poroutras reuniões: foram portantoaprovadas desta vez por um númeromaior de paises muçulmanos. Se opresidente Sadat e o rei Faiçal tiverampapel relativamente apagado durante'aconferência. Yasser Arafat fezintervenções apaixonada». A OLP foireconnecida como a única organizaçãolegitima dos palestinos (a Jordânia,cujo delegado aceitou esta definição,reserva-se o direito de aplicá-la comobem entende).'O

presidente.Sadat pode declarar aosair de Lahore para Nova Deli quetodos os palestinos deveriam serconvidados para participar daconferência de Genebra. Os Estadosmuçulmanos deram seu "apoio total eefetivo ao Egito, a Sfria c à Jordânia cto povo palestino para recuperar portodos os meios seus territórios ocu-pados". Estes meios não são no en-tanto definidos, .vias nennuma vuz selevantou publicamente para reclamar"a liquidação de Israel" (o pitorescochefe de Estado ugandense somentesugeriu, provocando risadas, que acomunidade muçulmana mundialdesigne um novo profeta, e fez alusõesao rei Faiçal).

Libertar Jerusalém

Os países muçulmanos reconhecemna verdade a existência de Israel, maiseles chamam aqueles entre eles queainda mantém relações com o Estadohebreu (Turquia. Irã) a rompê-lasj|)U--> <Iui—• i i i i ii.rnn tafaifl od es engajamento na Síria c aconferência de Genebra ique não podeacontecer sem a Síria, lembrou Sadat).Os "paises do campo de batalha--receberam portanto em Lahore oapoio, mesmo que platônico, de toda acomunidade muçulmana. Esta, por

outro lado. proclamou «ua prolundaligação com a cidade de Jerusalém, Os|:vij-i ¦¦- muçulmanos c*igcm aretirada imediata de Krad da ciifòdcde Jerusalém, e consideram a toberania árabe sobre a cidade sar-ia como "u°nu pré>condiçát< tínt */«•** *o* paraqualquer acordo no Oriente Médio Ochefe dot crittaot árabe* de Beirute, opatriarca Mua»ad Aliat. convidado aattumir a palavra por exigência deArafat. declararia ante a maiorassenibléiamuçulmanadomundo;"Nàohi outra alternativa* além de libertarJerusalém da ocupação israelense e dereestabelecer a administração árabe".

Apesar disso, não se trata de"arrancar pda força o que foi tomado

pela força", eomo quer o coronelKadhafi. O lurMcnto chefe de Estadolibio fez bem cm letnbrar que -asresoluções itllmicas permaneceramletra mona no passado, citando oexemplo do projeto de abertura de umescritório de recrutamento devoluntários desejosos de participar nodjihad (combate pela fé), as visnegociações da conferência da Françapara que cia devolvesse á Somália,submetida á dominação francesa, sualiberdade e sua independência, ouainda os resultados da missão daconferência precedente, que fez umlevantamento há cerca de um anosobre a situação das minoriasmuçulmanas no sul das Filipinas, e queainda não viu pronto seu relatório. "Oinimigo realiza melhor as resoluçõesque toma do que o fazem o:muçulmanos", disse o coronelKadhafi. atual herói, se julgarmos pelaacolhida triunfal que. recebeu noPaquistão, principalmente dos jovensmuçulmanos.

Porém mais do que o reflexo dossentimentos populares, que inflamamfacilmente toda evocação no Islã. aconferência de Lahore queria ser umgrande ajuntamento de paises deregimes políticos muito diferentes,algumas vezes francamente opostos,afetados de maneira diversa peloconflito do Oriente M dio e pela"guerra do petróleo". De* -jando ser aconferência da unidade isiámica, elanão poderia exprimir posiçõesintermediárias refletindo em geulhábeis compromissos. '

ill Sc os outros paises produtores depetróleo estão de acordo cor- oprincipio de um só preço para opetróleo, seja qual for o comprador.isto nao impede os arranjos especiais...£ assim que, segundo o correip\jnãèHH!'do Financial Times cm Teerã, o Irateria decidido vender 2 milhões de

-H}tn>ladas—p()tL_aiw_à índia a 3.50dólares por barril, enquanto que opreço fixado do óleo bruto iraniano rde 11.65 dólares.

Os limites da solidariedade

O Islã pode legitimamente se or-gulhar de conquistar o que

nenhuma religião seria capaz derealizar: agrupar os representantes depovos de origens étnicas diferentes quenão vivem na mesma área geográfica.Estados de regime políticos e sociaisdiferentes, mas capazes de assumirposições comuns em ..relação aproblemas internacionais.

Com relação a isto, a conierénciaque se ralizou de 22 a 24 de fevereiroem Lahoremo Paquistão, constitui umavitória para cerca de 35 países daÁfrica e da Ásia que delaparticiparam. As decisões mais'espetaculares adotadas po'runanimidade se referem ao conflitopalestino: Israel deve evacuarimediatamente todos os territórios queocupou em 1967. inclusive o setorárabe de Jerusalém (a restituição destesetor é considerada uma pré-condiçãopara qualquer regulamentaçãodefinitiva); a OLP (Organização paraLibertação da Palestina) de YasserArafat foi reconhecida como a únicarepresentante legítima do povopalestino; os Estados Unidos,finalmente, foram criticados pelo apoio

?

ao Estado hebreu.Os resultados nos outros domínios

que foram examinados durante aconferência são, em comparação,menores.

Foram, em última análise, o reiFaiçal e seus partidários que lucraramcom a conferência de Lahore. Oscongressistas retomaram por sua contaas teses da soberania saudita, bemcomo as conclusões da "reunião decúpula" árabe que se realizou naArgélia em novembro passado, éverdade que se trata sobretudo, na suamaioria, de um apoio platônico.Imagina-se erradamente, na verdade, oIrã interrompendo suas trocaseconômicas e comerciais com Israel oua Turquia rompendo relaçõesdiplomáticas com o Estado hebreu.Parece da mesma maneira fora ciecogitação que ós representantes daOLP sejam autorizados a abrirescritórios em Teerã e em Ancara,_oumesmo a receber uma ajuda qualquerdos vários outros governos cujosdelegados estiveram em Lahore.

A experiência convido ao ceticismo:diversas das resoluções tomadas naprimeira conferência panislâmica

reunida em Rabat em setembro de1969 continuaram sem continuidade.

Mede-se aqui em Lahore os limitesda "fraternidade" islâmica, limitesimpostos, pelos interesses dos Estados.O coronel Boumediene não fez mal emdeclarar que a solidariedade que nãotoma a forma de dólares corre o sériorisco de permanecer declarada em vão.

A primeira conferência islâmica "de

cúpula" foi realizada em Rabat emsetembro de 19b9, em seguida aoincêndio criminoso do mosteiro de El\qsa, em Jerusalém, a ^i ae agosu> immesmo ano. Convocada sobre niniciativa dos ministros das Relações.Exteriores dos países-membros da LigaÁrabe, ela consagrou a vitória das tesesdo rei Faiçal da Arábia Saudita que,desde janeiro ei? 1966, tinha anunciadosua intenção de reunir os chefes deEstado muçulmanos "a fim de quepudessem ser examinados seusproblemas comuns". Sua iniciativa,aprovada pela Jordânia, Irã.Paquistão, Sudão. Somália, Turquia^Tunísia e Marrocos, tinha no entantosuscitado a oposição da Argélia, ciabir.ia e do Egito, que viam aí mais umamanobra política do que o desejo de

um' acordo religioso.O presidente Nasser, em particular,

tinha denunciado os dirigentes que,sob o nome cie Islã. "serviam aosgovernos de Washington e deLondres". Ele havia afirmado que osárabes lutariam até o fim contra oimperialismo americano.

A derrota de junho de 190" noentanto modificaria as relações entreRyad e o Cairo, dependendo estaúltima capital cada vez mais dos paísesárabes petrolíferos, portanto da ArábiaSaudita, que o ajudava a sustentarsua frágil economia. A grande emoçãosuscitada no mundo muçulmano peloincêndio de El Aqsa, atribuído pelosárabes ao governo israelita, deveriadissipar as últimas reservas que opresidente Nasser pudesse ainda nutrirem relação ao projeto do rei Faiçal.

Reatizaaa em Rabai a 22 ciesetembro de 1969. na ausência dopresidente Nasser. já atingida pelosprimeiros males que deveriam ocorrerum ano depois, a conferência juntou asdelegações de 25 países de numerosapopulação muçulmana — o Iraquetinha decidido não participar dareunião c a Índia tinha sido excluída a

pedido do Paquistão. A reuniãoterminou após^ês dias óe debates,depois de ter acwtado uma declaraçãocomum relativamente moderada,representando um compromisso entreas teses de "conservadores" e de'"progressistas"'. Os participantesabstiveram-se principalmente decolocar diretamente em questão ogoverno israelense. Eles se declararam"resolvidos a rejeitar qualquer soluçãodo problema^ palestino que recusasse aJerusalém seu status, anterior . edecidiram "levar seu apoio total aopovo palestino na sua luta pelalibertação nacional"

A conferência decidiu além disso aconvocação de uma reunião cieministros das Relações Exteriores emDjeddah, no mês de março de 1Q"0,com vistaó' a "lançar as bases de umsecretariado permanente encarregadode garantir a ligação entre os Estadosparticipantes e de coordenar suaação". Depois a conferência islâmicados ministros das Relações Exterioresreuniu-se em três etapas: em Karachi. '

dezembro, cie 1^70. em Djeddah.novamente em marccH.de 1972, efinalmente em Benfhási', março de1973.

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19 Opinião. 11 do moro» do If74

INDONÉSIA

|*»te ano o petróleo renderá IE Indonésia uma vintena de bilhões

derrancos. duas veies mais do que em1973, No entanto, neste pais que jáconta com perto de 130 milhões dehabitantes e cuja população deveduplicar antes do ano 5000, a rendaper capita continua inferior a SOOfrancos por ano.

Os militares abriram o pai» aosinvestimentos estrangeiros pararecuperar a economia que Sukarnolhes deixou arruinada. Elesempreenderam uma exploraçãosistemática de suas ricas reservas depetróleo. Este esforço foi incrementadopelos "tecnocratas". "a máfla deBcrkcley". como te diz lá. um grupo decinco economistas formados na mesmauniversidade americana. Enquantoisso. o presidente Suharto colocouordem numa vida política poucodisciplinada.

ê necessário muito tempo antes queeste tipo de experiência deixe de afetarseriamente a situação no campo. Atéagora, a superpopulação de Java (pertode 80 milhões de habitantes) forçou oscamponeses mais pobres a partir paraas cidades onde só os espera a miragemde um emprego e um abrigo precário.Em alguns lugares do campo de Java.às vezes o homem substitui o búfalo.pois este animal de tração custa caro.

si

Um novü-rteo no clube do petróleoO mal-estar cresce nos campo»

universitários e nos meios intelectuais.O "milagre econômico" conhecelimites: uma colheita ruim de arroz(em 1972) e a volta da inflação mundialrelançaram a alta dos preços (pelomenos 2% cm 1973). Os estudante»constatam sobretudo que aumenta oabi»mo entre a massa de pobres e aminoria de novos-ricos. O afluxo decapitais estrangeiros, dizem eles. poderecolocar em questão a independênciado pais.* bem como uma maneiraoriginal de vida.

AIni eatranetirea

Numa palavra, depois de agostopassado, eles começaram a sepronunciar abertamente contra o quesentem como uma comunhãosilenciosa entre os generais acusadosde corrupção, a rica comunidadechinesa e os investidores estrangeirosprincipalmente japoneses. Este tema étão mais popular quanto, em algunscasos, a evidência se impõe aos olhos.Para se tomar um exemplo, 'os trêsquartos de investimentos japonesespassam pelo intermediário chinês, e acomunidade de Bandoung além dissoarcou com a maioria das despesasocasionadas por esta situação durante

Joon Cloudo Pomonti

um primeiro tumulto a 5 de agostoúltimo. Na época, perto de um milharde magazines, na sua maioria chineses,foram atacados pelos manifestantes,muito jovens e cansados do exagero dasdividas.

O poder não fleou insensível aosargumentos levantados pelosestudantes. No inverno passado ogeneral Sumitro. encarregado damanutenção da ordem e da segurança(à frente de um organismo chamadoKopkamtib). iniciou o diálogo mm He»,uma iniciativa que depois oconstrangeu a desmentir que aspiravaa sucessão do presidente Suharto.

Na verdade, frente ao recrudesci-mento da agitação universitária, opoder, essencialmente javanês. pareceestar dividido em duas tendências. Noclã dos partidários de uma soluçãoautoritária, encontramos o general AliMurtopo. um dos quatro conselheirostos Aspri do presidente Suharto e aeminência parda dos Golkar). espéciede partido oficial que leva uma vidapolítica bem pálida depois de suaretumbante vitória eleitoral de 1971.

O general Sumitro e. mais tarde, a"máfia de Berkeley" tinham

constituído o campo favorável a certosreajustes. Eles prometeram umarepartição mais justa das rendas, e ogeneral Sumitro fez emendas a uma leisobre o casamento civil para acalmaros meios religiosos.

Nesta situação, a visita do primeiro,ministro japonês parece ter aliçadomal» os ânimos. Todos se preocuparamcom uma manifestação estudantil e.quandqela aconteceu a 15 de janeiro, apolicia e o Exército, no entanto,reagiiam com tolerância. Masninguém parecia prever que amanifestação se tornaria o "tumulto

popular" neste centro de Jacarta ondetêm surgido muitos arranha-céusnesses últimos anos. Uma multidão dejovens, muitas vezes vindos dos.ubúrbios vizinhos, causou surpresa

ao se prender nao somente aos bensde fabricação japonesa (automóveis,•motocicletas e magazines) mastambém àquilo que devia simbolizaraos seus olhos o luxo desmesurado deuma minoria de privilegiados — ossalões de massagem de um novíssimosupermercado. A história destesacontecimentos ainda é confusa, maspodemos descrevê-los como umaquermesse popular, uma espécie deestouro de alegria para ossubproletários de uma capital cujametade da população habitualmente

não fa/ nada além de olhar a outrametade viver.

Jacarta. única cidade atingida destatez. não recebeu por isso um golpemenor: " morto», mai» de umaseniena de feridos, mais de um milharde viaturas queimadas ou seriamenteestragadas, dezenas de construções»aqueadas ou arruinadas. A imagemde uma Indonésia estável e próspera foidestruída. O primeiro-ministro japonêsteve que sair precipitadamente depoisde ter passado três dias fechado em suaresidência protegido por blindados. Ogoverno reagiu utilizando armas ebastões. Ouasc 800 pessoas foramrecolhidas em pri»áo preventiva, oeampus da universidade de Jacarta foiocupado pelos blindados e uma dezenade publicações foram suspensasprovisoriamente, inclusive certaspublicações que são chegadas aogeneral <»•«»»•« ou àquele que seapresenta como um adversário, ogeneral Murtopo.

O presidente Suharto decidiuigualmente dissolver o corpo dos Asprie dar ao general Sumitro o comando doKopkamtib. que ele já exercia em1956. O general Murtopo não é maisdo que o adjunto do chefe dos serviços

continuo no pógino oo lodo

IRLANDA

Em busca da prosperidadeO futuro imediato da República, que

pela primeira vez parece estarchegando às portas da prosperidade,depende em grande parte das opçõesdo governo .britânico na Irlanda doNorte illlster para os ingleses) e emBruxelas, sede da ComunidadeEconômica Européia.

A reaproximação que se notava já háalgumas semanas entre os extremistasprotestantes e católicos foi finalmenteconfirmada no dia 21 de fevereiro, emDublin, com a informação de que a alaoficial do IRA. de tendência marxista,ê a organização pró-britânica Força deVoluntários do Ulster (UVF)miLUiiliuiain je—*ar«*>i°—**ti> fmcapital da República. As discussõesteriam tratado do acordo, deSunningdale, que prevê a criação deum Conselho da Irlanda, uu qual se-opõem as duas organizações, e dacessação dos assassinatos "sectários"no Ulster.

N a República da Irlanda o ano de1974 começou num clima de

euforia misturada com ansiedade.Como os outros países da ComunidadeEuropéia, a Irlanda inquieta-se com asconseqüências da crise-da energia,mas, para Dublin, essa ameaça surgiunum momento crucial da curta históriado país.

O fortalecimento das relações comLondres e Belfast, capital do Ulster,cria uma nova situação: a criação doConselho da Irlanda, anunciadadurante a conferência tripartite deSunningdale, em dezembro, permitirápela primeira vez um relacionamentoregular entre ministros eparlamentares das duas partes da ilha.Há vários anos que Dublin defendiaesse projeto, do qua! um dos principaisartífices foi o seu ministro das RelaçõesExteriores, Garret Fitzgerald. Asatribuições do Conselho da Irlandadevem ser, de início, puramenteeconômicas e sociais: elas permitirãoharmonizar as diferentes concepçõessobre o desenvolvimento, osinvestimentos e o emprego, para podermelhor utilizar as subvenções dosfundos de desenvolvimento socia.1 eregional da Comunidade Européia,com sede em Bruxelas."

Apesar das agitações queensangüentaram a Irlanda do Nortedepois de 1969, as relações

administrativas e comerciais não foraminterrompidas entre as duas partes dailha. se bem que tenham sido mantidasnuma quase-clandestinidade. commedo de provocar represálias dosextremistas católicos ou protestantes.Assim, um cidadão da República daIrlanda contava-nos recentemente que.proprietário de um imóvel em Belfast.ele só ia ao norte no mais absolutosegredo e que só se encontrava lá com"pessoas seguras". O Conselho da.Irlanda sem dúvida permitirá que asrelações pessoais e discretas que jáexistiam entre funcionários ou homensde negócios sejam mantidas à luz dodia, abertamente. A esse respeitolembra-se em Uúollli que u chefe do— -Executivo da nova Assembléia deBelfast. Brian Faulkner, descendentede uma ...velha. Jamjjia.protestante deUlster (Irlanda do Norte), tez os seusestudos universitários na capital do sule... que ele é um apaixonado caçadorde raposas, da mesma forma que LiamCosgrave. primeiro-ministro daRepública da Irlanda...

A criação do Conselho da Irlandapermitirá também a realização deprojetos industriais muito importantespara a ilha, onde o índice dedesemprego continua sendo um dosmais elevados da CEE (ComunidadeEconômica Européia). É o caso daconstrução de duas fábricas do grupoCourtaulds, uma em Letterkenny, nonoroesie da República, outra emNewry, na parte leste da Irlanda doNorte. O projeto representa no totalum investimento de mais de 100milhões de dólares e fornecerá 2.500empregos, devendo ser inteiramenteconcluído no final de 1975.

Modificando a antiga Imagem

A melhoria da situação na Irlandado Norte surge num momento em quea economia da República começa adecolar: se bem que o PNB porhabitante (Produto Nacional Bruto percapita) continue sendo o mais baixo daCEE, a expansão econômica tematingido um índice de 4% nos últimostrês anos, enquanto que a produçãoindustrial cresce 9% ao ano. Pelaprimeira vez desde há muitos séculos aemigração cessou e o número deirlandeses que voltam aô país com umcontrato de trabalho no bolso, depois

Nicole Bernheim

de terem vivido como imigrantes,sobretudo na Inglaterra, crescerapidamente. Há pouco tempo, 40%dos que se formavam no ensinosuperior tinham que sair do pais paraencontrar emprego.

O IDA (Industrial DeveloomentAuthority — conselho v*ra uDesenvolvimento Industrial) fez umesforço considerável para convencer osinvestidores estrangeiros de que aIrlanda não é mais um paisunicamente agrícola, industrialmentesuodesenvolviao: ós% do Produto

-nacional Bruto e hoje proporcionadopela indústria, que emprega 31% damão-de-obra; 58% das exportações sãode origem industrial.

Multiplicando suas atividades,estabelecendo importantes delegaçõesno exterior, os dirigentes da economiairlandesa pretendem modificar aimagem de uma "terra de lendas" paraturistas preguiçosos, substituindo-apela de um país moderno que podeoferecer vantagens apreciáveis aosinvestidores: espaço, mão-de-obraabundante, subvenções oficiais quepodem chegar a 50% dos custos comequipamentos, subvenções para aformação de ínão-de-obra e sobretudouma isenção fiscal de 15 anos sobre oslucros derivados áí: exportação deprodutos manufaturados.

Os irlandeses, que com 83% dosvotos responderam "sim" aoreferendum sobre a entrada do país<naComunidade Européia, são certamenteos mais entusiastas defensores daunidade européia. As más línguasasseguram, além disso, que aamplitude da sua representação emBruxelas não corresponde àimportância real do<país na CEE. Mas,até aqui, Dublin parece ter apenas sefelicitado pela escolha que fez e que, de.meio. se destinava sobretudo a que opaís depenuvsse menoseconomicamente da Grã-Bretanha epudesse assegurar um mercado maisvantajoso para os seus produtosagrícolas. Todavia, continua existindouma certa inquietude a respeito darepartição dos fundos dedesenvolvimento regional da CEE, dosquais a Irlanda pediu uma partesubstancial, esperando que essas

exigências nao venham acomprometer, contrariamente ao queprevê o boato que periodicamentecircula a esse respeito, o sistema devantagens excepcionais que o paisoferece às indústrias estrangeiras.

0% Inrestlmentoa estrangeira

Os investimentos estrangeiros semultiplicam na República da Irlanda:das 732 empresas industriais modernasque se instalaram no pais de 10 anospara cá, 500 são de origem estrangeira,sobretudo americanas, britânicas ealemãs. Das companhias de seguroexistentes em Dublin, 85% sãobritânicas. Dos 14 mil empregos novoscriados em 1973, 56% foram oferecidospor firmas estrangeiras. Esta tendêncianão deixa de inquietar os trabalhistasda coalizão governamental, tanto maisque a participação irlandesa nessasfirmas se tornou uma exceção.

Um dos exemplos mais espantososde desenvolvimento é a nova zonaindustrial de Shannon. O aeroporto,criado em 1937, na época dasprimeiras ligações transatlânticas porhidroaviões,- cesbereu os seus temposde glória depois da Segunda GuerraMundial com a multiplicação dos vôosregulares entre a Europa e a América '

do Norte. Mas a era dos aviões a jatoameaçava liquidar com essa escalaprivilegiada. Para . conservar emShannon as suas atividades, Dublin selançou a um desenvolvimentointensivo, ao mesmo tempo industrial eturístico, dessa região do oestegrandioso mas miserável, da qualCromwell, o "pacificador" de sinistramemória para os irlandeses, dizia quenão se encontrava "nem madeirasuficiente para enforcar um homem,nem água suficiente para afogá-lo, enem mesmo terra suficiente paraenterrá-lo"... .

Hoje, Shannon éuma cidade dequase 6 mil habitantes, que contará,segundo se diz, com 30 mil na próximadécada (o Eire possuía em 1972 cercade 3 milhões de habitantes). Dosprodutos manufaturados made inIrland, 24% são fabricados emShannon. Do capital investido, 30% éde origem americana. Entretanto, asequipes de executivos são cada vezmais -irlandesas. Para conservar avocação internacional do aeroporto, as

atividades turísticas foramdiversificadas: os vôos transatlânticossão feitos durante todo o ano e muitosdos seus passageiros são americanos de »origem irlandesa que vêm descobrir aterra dos seus ancestrais. No verão.Shannon é ligada diretamente àsprincipais capitais européias. Sãoorganizados "banquetes medievais"com cozinha e canções folclóricas,estilo e amabilidade, nos castelos doséculo XII ou XIV, ainda bem.conservados; cm várias vilasameaçadas de despovoamento foramconstruídas "cabanas" típicas paraaluguel. Com os seus 5 milhões delibras anuais em volume de vendas, aslojas do aeroporto de Shannon, isentasde taxação, continuam sendo a maisimportante "zona franca" (free taxshop) do mundo.

As dificuldades energéticas

Em que medida a crise de energiaameaça comprometer esses esforçosirlandeses? Assinala-se em Dublin quea dependência da Irlanda com respeitoao exterior, e sobretudo à Grã-Bretanha, é quase total no que se refereA energia: três quartos do seu consumode petróleo são importados da Grã-Bretanha e a única refinaria do país,localizada em Cork, fornece apenas50% do seu consumo. O carvãotambém tem que ser importado daInglaterra e da Polônia. Por outro lado,a diminuição do número de viagensaéreas ameaça comprometerseriamente a próxima estação turística.

Estimulados pelas descobertas depetróleo e gás natural no mar do Norte,os irlandeses multiplicaram assondagens nas costas do mar daIrlanda e do oceano Atlântico. Nacosta sul, já foi descoberto gás natural"em quantidades comerciais". O IDApretende, além disso, desenvolver autilização da turfa e talvez construir,como fez a Finlândia, centrais térmicasalimentadas por esse combustívelnatural que existe em abundância naregião oeste do país.

Isso significaria um retorno(bastante paradoxal) às origens daIrlanda de outrora, miserável nação depoetas, combatentes e famintos queuma nova geração de irlandesesrealistas e eficientes não pretende,••«lias, renegar. ¦.-

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Opinião. II de meiço de It74 13

continooçdo do pagino oo lodo

de ensino, enquanto que o generalSumilro conserva tuas funções <«. chefedo Estado-Maior geral adjunto dasForcas Armadas tornando-secomandante cm segundo lugar doKopkamiib,

Ita outro lado. o governo iniciou arevisão dot objetivos do tegundo planoqüinqüenal (Rcpeliia 2). que deve terlançado em abril. Ot salários dosfuncionários vão aumentar em 20<t a*¦**". durante o próximo exercícioorçamentário, Nào te conttruirão maitarranha-céut em Jacarta e ot talòct demattagem sem dúvida não abrirãomais suas portas. Dispositivotcomplexos foram decretados paraicntar controlar ot capitait chinetet.Ot fundos de desenvolvimento do paitvio quadruplicar.

A população mait pobre de Jacartanào virá mait ât tuat te ot estudantet— ou outros, supõe-se — nào lhestiverem apontado as vitrinas opulentas.Também não podemos maissubestimar o tradicional jogo de clãsmilitares que ainda parecemreagrupar-se segundo suas anterioretligações a divisões de elite. Mas. pormenos que o regime se envolva nocaminho das reformas mantendo umpulso forte sobre a política, aestabilidade provavelmente não serácomprometida. No universo indonésio,é preciso contar com a herança radicaldeixada por Sukarno e o que se podechamar a sexta-feira na hora da rezanos mosteiros.

Os cofres do Estado no entantonunca estiseram tão cheios, e ogoverno parece contar com bastantegente realista para acertar a pontaria eevitar que no futuro eventuaismanifestações tenham o alcancedaquelas do mês de janeiro.

Ibnu Sutowo, o reiasiático do petróleo

Jacarta-Pcrtamina... Esta palavrapode suscitar de vez em quando a in-veja. a admiraçâu, a inquietação ou oazedume. Um império, diz-se cmJacarta a respeito desta companhiaestatal do petróleo que levará àindonésia este ano a bagatela de 4jilhões de dólares americanos. E a>bra de um homem muito

controvertido, o general Ibnu Sutowo.um ex-médico que um dia não hesitoucm dizer: "Se devo construir aPertamina através de corrupção, poisbem, que todo mundo sejacorrompido"!

Numa República que procuraestabilizar sua economia, tal sucessosignifica também que Ibnu Sutowo temcarta branca. Ele pode fazerpraticamente o que quiser, poisalimenta, talvez na proporção de umterço, o orçamento do Exércitonacional. Ele pode mesmo se dar aoluxo de boicotar uma comissão deinquérito encarregada de verificar umpouco mais profundamente as contasde sua empresa. E quando MochtarLubis, editor de reportagem de umjornal de Jacarta, lançou umacampanha de imprensa contra acorrupção da Pertamina, o generalSutowo não teve necessidade de franzirdemais o cenho para que o assuntoterminasse silenciosamente.

Ibnu Sutowo é rico, diz-se mesmoque é imensamente rico. Ele tiravantagem de seu talento indiscutível deorganizador e seu senso para osnegócios. Mas se a Pertamina se tornaruma empresa moderna, isto se faz àmargem do país: o indonésio quase nãovê as radiações dessa nova riqueza. Poroutro lado, a estratégia de Ibnu Sutowonos faz pensar numa partida arriscada:estima-se que a Indonésia só dispõe de2% das reservas mundiais de petróleoe, no ritmo atual de exploração, estaspoderiam se acabar por volta de 1990.Mas por enquanto está entrandodinheiro. O general Sutowo, de 60anos de idade, poderá continuar acircular tranqüilamente em seu RollsRoyce milionário pelas ruas deJacarta, ou então tomar' seu aviãoparticular ..para passar um fim desemana em Hong-Kong por tantotempo quanto o Exército o considereum hábil planejador.

A SICUNOA INDIPf NOlNCIA OO ZAIM

I -A revolta do cavalo#¦

*

Joon do Io Guorivièro

Uma estranha enecnaçíe te

repete toda noite, na televisão doZaire, antet do boletim deinformações: diante dostelespectadores pastam nuvens quedescobrem, aot poucot. uma figuraceleste, a do general Mobutu SeteSeko. chefe do Estado. A "introdução"nào fica ai. Durante algunt minutos, ovídeo é ocupado por cenas filmadatdurante at visitas do presidente daRepública a cada uma dat oito regiõesdo Zaire. Estas seqüências têm porobjetivo exaltar a unidadereencor trada pelo antigo Congo Belga.após as desordens e lutas que seseguiram á proclamaçào daindependência, em 1960. Esse períodoé lembrado com cenas de combates,seguidas de legendas lacônicas:"desolação", "morte", etc. Quando sechega ao ano de 1965, durante o qual ogeneral Mobutu assumiu o poder, alegenda anuncia: "a salvação".

O visitante, que poderiaimpacientar-se tm essa repetiçãodiária, deve armar-se de coragem sequiser ver as "informações" até o fim.Como no rádio, a difusão de noticiaspela tevê é interrompida, cada cincominutos, para dar lugar a extratos dosdiscursos pronunciados pelo chefe doEstado, nos dias 4 de outubro e 30 denovembro, o primeiro na triK*ina dasNações Unidas e o outro na capital doZaire. Kinshasa (cx-Lcopoldville).

No primeiro desses discursos, opresidente do Zaire, tomando umaatitude que logo seria seguida pornumerosos líderes africanos, anunciouo rompimento de relações diplomáticascom Israel. Do segundo discurso sãolembradas na Europa especialmenteduas frases: "O processamento de todoo nosso cobre será 100% feito no Zaireantes de 1980". "No domínio dacomercialização scrà exercido umcontrole rigoroso sobre o destino donosso cobre".

Mas é preciso lembrar, antes detudo. as medidas de africanização daeconomia, que atingem muito maisdiretamente, de i "ediato. os zairensese os estrangeiros estabelecidos em seuspais. Tornadas públicas no momentoem que os países ricos tomavamconsciência da sua vulnerabilidade,essas medidas são capazes de garantir,conforme se diz em Kinshasa, a"segunda independência" do país.

Parafraseando, sem citá-lo. lordeMalvern. ex-primeiro-ministro daFederação das Rodésias e de*Niassalândia (que dizia que as relaçõesentre africanos e brancos na Rodésialembravam "a associação do cavalocom o cavaleiro"), o general Mobutudenuncia, por sua vez, o contrato de"casamento entre o cavalo e ocavaleiro", pois "apesar de todas asdeclarações de amizade e de ternura, ocavaleiro jamais chegará a carregar ocavalo nas costas".

As recentes decisões do chefe doEstado podem classificar-se em trêscapítulos: "recuperação" das filiaiszairenses das grandes companhiasbelgas; "retomada" dos fundoscomerciais e das propriedadesagrícolas nas mãos de estrangeiros;controle da comercialização dasmatérias-primas e "retomada" (nuncase pronuncia a palavra"nacionalização") das instalações dascompanhias distribuidoras de petróleo.

A "propriedade pessoal" do rei

Depois que a conferência de Berlimdecidiu, em 1885, que o "Estadoindependente do Congo" era

í "propriedade pessoal" do rei LeopoldoII, o soberano belga decretou que todasas minas e todas as terras devolutaspertenciam, de direito, ao Estado. Para

['assegurar, a valorização do seu"domínio", concluiu com gruposfinanceiros associações sob a forma de

companhias de economia mista, queforam trantformadat em sociedadesconccttionáriat no começo do séculoXX. quando o Congo se tornou colôniaporque o rei decidiu ceder á Bélgica oque considerava como "tua própriaobra. fruto do teu trabalho". Tratadatcomo "auxlliaret da obra colonial", attociedadet receberam a plenapropriedade de uma região ondecobravam impostos, dispunham depolicia, organizavam os transportes, etc.

Essas sociedades foram dissolvidasem seguida à "meta • redondaeconômica" de 1960. Por isso atpalavras de Mobutu não tinhamfundamento jurídico quando eledeclarou: "A partir de hoje. ponho fimá existência de todas at tociedadetconcessionárias". De fato. o chefe doEstado estava se referindo ás

que os invettimentot na África negradcvtm v<r amortizado* cm cinco anospor cauta dot ."riscos poiiticot",cuntideram até agora o Zaire como umdos países mais "interessantes". Asimport ações de material e produtosnecessários ao bom andamento daempresa tio integralmente trantferi*veis após a taxação de 50%; cm catode cessão ou liquidação da empresa to-do d capitar pude ter repatriado.

Depoit da ente de 1967. marcadapela "revolta dot mercenários",acreditou-se que as relações entre oZaire e at grandes companhias belgas0 -iam normalizar-se. Dois meses depoisda visita do rei Baldulno a Kinshasa.em junho de 1970. a Union Miniére duHaut-Katanga — emanação da Société .Générale de Belgique •— tomouiniciativas para reiniciar at atividades

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companhias que surgiram, sob diversasformas, para conservar os ativos dasque as tinham precedido.

A companhia belga Forminière, porexemplo, "continua a passar por cimado Estado zairense 13 anos após aindependência" — explicou o generalMobutu, graças a uma companhiafilial, que tomou sucessivamente osnomes de Interfor e Indufor.

Outras decisões vão ser aplicadasnos domínios que não dependemexclusivamente das antigascompanhias, mas são consideradosessenciais à atividade conômica dopaís. Uma nova companhia — aCompanhia Marítima Zairense — comcapitais inteiramente nacionais, terá omonopólio das exportações. ACompanhia Nacional de Seguros(CONAS) terá a exclusividade de todosos contratos de seguro. Seráencarregada, além disso, do aluguel eda venda de todos os imóveis, deixandode existir os agentes imobiliáriosinstalados por conta própria. Todos ostrabalhos de construçãoencomendados pelo Estado' serãoconfiados à Empresa Nacional deConstrução (ENC). Os bancos serão oúnico setor importante que escapa àtutela total do Estado.

Vai ser criada uma companhiazairense para controlar as operaçõesdas companhias estrangeiras que sebeneficiam do código de investimentospromulgado em 1969. Esse código, quecontinua em vigor, contém disposiçõesbastante liberais, e as grandescompanhias internacionais, que acham

que foi obrigada a cessar no país em1966. Suas propostas foram rejeitadaspelo general Mobutu em proveito dosamericanos, japoneses e franceses, cjueofereceram condições mais vantajosas".

As firmas belgas de menorimportância se abstiveram deaproveitar-se do código' deinvestimentos zairense. Algumasempresas já instaladas no Zairefizeram apenas os investimentosnecessários para manter-se nos limitesda rentabilidade.

Em 1975 todas as empresas quetiverem completado mais de cinco anosde existência no Zaire terão que contarcom zairenses nos cargos de presidenteedediretor-superintendente. Fora isso,as empresas estrangeiras^ que não são-'emanações de antigas concessionárias,que se instalaram no 'Zaire paraexercer atividade industrial, não estãoameaçadas. Além de algunsinvestidores belgas que tiveram a"lucidez de adaptar-se e deamadurecer com o país", "há grandescompanhias estrangeiras que merecemfelicitações especiais" — declarou ochefe do Estado, durante sua visitaoficial à Grã-Bretanha, em dezembro,citando especialmente. ,o grupoUnilever.

Hoje. os membros dessas grandescompanhias estão inquietos com osefeitos da "zairização" sobre oscircuitos de distribuição, masdeclaram, com discrição, que "nemtudo é mau no discurso de 30 denovembro", dando a entender que são

at companhiat belgas "retrógradas"que pagará» at despesas da •-.<'¦-,-

Í«*J<» ano — afirma o generalMobutu — wH trantferimot para aiklgtca uma soma que varia entre 12 «?1$ bilhões de francos belgas (cerca de240 a 300 rmlhães de dólares»,eveetuandote as eperaçícs sobremercadorias, iito é. transfcrénciatsalariais, comittões. despesas deadministração, dividendos e todos osserviços diversos Chamei várias vezes s>atenção dos meios belgas para o fatodelet só investirem no Zaire 2 milhõesde dólares belgas por ano. Quemassiste quem"?

Ot bcl|at que encontrei emKinthasanao parecem estar de acordocom at estatísticas do chefe do Estadozairense. mas reconhecem "certoserros" da antiga metrópole, com umafacilidade ás vezes surpreendente..

Mottrando-te áo mesmo tempoconciliador e duro. o general Mobutudiste, no discurso de 30 de nosembro.após fazer o processo da antigametrópole: "Pela

primeira vez — possodizer-lhes vJenemcntc — não somentemantenho relações quase sentimentaiscom a família real belga mas. alémdisso, o atual primeiro-ministro daBélgica é um dos politicos desse paisde quem eu gosto e que respeito".Essa dialética faz com que muitos dos40 mil belgas que ainda vivem no Zairepensem no futuro sem demasiadainquietação.

Em 1972. 17~s das imponações doZaire foram de origem belga e S&% dasexportações foram feitas para - antigametrópole. Em 1965. essasporcentagens foram respectivamentede 33°o e 24~. Se o Zaire é um clientemenos importante do que antigamente,tornou-se. no entanto, o principalfornecedor de matérias-primas desdeque o general Mobutu restabeleceu aordem.

A 30 de junho último havia no Zaire3.792 auxiliares estrangeiros em,serviço no setor público: os belgaseram os mais numerosos: 956professores. 437 conselheiros civis e180 militares. Segundo alguns de seuscompatriotas, esses auxiliarei belgasnem sempre são' de um nívelsatisfatório: ex-funcionários zairenses.permanecendo mais pára garantir suaaposentadoria, .pois a legislação bçjganão prevê seu aproveitamento noserviço público se voltarem para ametrópole.

Depoi* dos belgas, os maisnumerosos são os franceses Iterca de200 técnicos e 120 professores), osamericanos, os italianos e os ingleses.Pot último vêm os chineses, com 50conselheiros agrícolas.

Em 19"2. os auxiliares estrangeiroseram 4.987. A importante reduçãooperada em um ano mostra a vontadedo general Mobutu de africanizar o mais"rapidamente possível os principaispostos da administração. Essa vontade ,inspirou também as novas medidas nocomércio e na agricultura, as que terãomaior repercussão sobre a populaçãonos próximos meses.

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u Opinioo, I fè* morcndoJWú

Os ricos e o Terceiro Mundo

Uma transformação radical das

relações econômicasinicrnactonais lalsei esteja flnalmeniese esboçando. No eniamo. a vitória dospaíses em desenvolvimento, naprimeira

"frente"* aberta para por fima décadas de exploração, pode serenfraquecida por operaçõesdivcrsionistas tentadas pelosdetentores do statu «mo os .uperricos.As tentativas de divisão dos paísesprodutores de petróleo e do 3.° Mundoestão ligadas a uma poüiica conhecida.

Os países ricos, da mesma maneiraque orientaram'o mundo, conscienteou inconscientemente, para conceitosde desenvolvimento, opiniões, ouestratégica* econômicas e sistemas de•atores inadequados, também fizeramcom que fosse aceito um regimeinternacional inigualiiário.

O empobrecimento dos paises doTerceiro Mundo era consideredo comouma fatalidade, contra a qual aspalavras dm organismos internacionais(UNCTAD e outros) ou de organismosdo Terceiro Mundo nada podiam. Oaparecimento de paises. antes doiadosde meios de negociação desiguais, quepodem resistir ás pressões dos super-ricos (como é o caso dos paisesprodutores de petróleo), veio derrubara tranqüilidade econômica eintelectual da sociedade de consumo.Estas reconhecem hoje as verdades queo Terceiro Mundo e algunseconomistas procuram fazer entender.

O atual nível de vida dos paisesdesenvolvidos é devido principalmenteao baixo custo das matérias-primasimportadas dos países do TerceiroMundo. Os preços relativos dessasmatérias sofreu uma queda de 40%desde 1947-51 é não aumentaramdesde 1890! f

Os sábios do mundo ocidental, emvez de se solidarizarem com o TerceiroMundo (que com 70% dosconsumidores mundiais subsiste comapenas 20'" da renda mundial) c decolocarem os problemas quepermanecem sem solução — mádivisão internacional do trabalho,fracas e custosas transferências detecnologia, eic. — escolheram, em suamaioria, o campo dos paisesdesenvolvidos. A história guardará quea única tomada de posições que quatroprêmios Nobel de economia tomaramfoi contra os paises que querem tornar-se senhores dos preços e quantidadesde sua única fonte de divisas.

A renda dos países .produtores depetróleo das zonas desérticas éconsiderada escandalosa, um frutonefasto "dos azares da_geografm". Porque esse termo não^e empregado emrelação a outra rtfida. constituída pelaabundância de^boas terras a de_chuvana Europa e nos Estados ünídos?\

Os transtornos da economiamundial foram imputadas, comdemasiada freqüência. peloV mundoocidental aos paises petrolíferos, enenhuma pressão moral ouinstitucional foi exercida para reduziros privilégios dos trustes ou diminuir arenda fiscal sobre o petróleo. Os paísesconsumidores sempre taxaram opetróleo mais fortemente do que osmais luxuosos produtos. O termo"fabuloso" ou "colossal" não | usadoem relação às grandes companhiaspetrolíferas que, ao contrário dospaíses produtores, não têm que fazerpassar uma população de um nível devida infra-humano para o dos paísesdesenvolvidos.

Uma campanha de intoxicação emtorno dos efeitos do preço do petróleosobre os países em desenvolvimento foiarmada. Manifesta-se umasolidariedade tocante, ""de repente,entre o terço da humanidade queconsome 91% do petróleo mundial e o

. Terceiro Mundo que consome apenas9%. Ora, "a dependência trágica dospaíses pobres" (Nixon) existeessencialmente em relação aos super-ricos. Por que a alta do petróleo não écomparada com os lucros das empresaspetrolíferas, com o crescimento dosmeios financeiros dos paísesconsumidores, ou com a alta- do preçodo trigo, que' quadruplicou, docimento. Kq u e t r i p t\c o-u, dosequipamentos industriais e fhilitares (opreço dos aviões triplicou)?

Em tempo recorde foi constituídoum banco de desenvolvimentoindustrial e agrícola cara a África, como capital de 500 milhões de dólares. Elefará empréstimos a jurt* bem baixos»Essa iniciativa é conside-adainsuficiente por aqueles mesmos quenunca reclamaram medidas taogenerosas a cada etapa da deterioraçãodo intercâmbio Internacional.

Uma multidão de tentativas visandoorientar ss estratégia de investimentosdos exportadores de pctrólto éorquestrada no sentido dos interessesda minoria da população mundial.Aparecem economistas cheios de idéiasengenhosas para apresentar um planode conjunto de utilização dos capitaisdo petrólce. sobre os quais existe asuposição, tácita e simplista, de que ospaíses produtores não os podeminvestir cm casa.

• Os famosos 70 bilhões de dólarespodem ser gastos facilmente nacompra de complexos petroquímicos(20 a 40 milhões de dólares cada um),de refinarias que permitam ganhar abatalha da 'transformação (cerca de200 a 400 milhões de dólares cadauma. com capacidade para 25 milhõesde toneladas), flotilhas de petroleiros,usinas de matéria plástica (o plásticcsubstituindo o ferro, o vidro e amadeira), complexos siderúrgicos ecentrais nucleares. Podem ser gastostambém cm prospccçòcs mineiras,trabalhos de hidrologia e a criação deabundantes fontes de água(importação de instalações dedessalinizaçãoda água do mar atravésda utilização da energia do petróleo oudo sol). Esse dinheiro deve tambémfinanciar o funcionamento dos paisesdos quais o petróleo é o único recurso.

E por que não poderia esse dinheirof comprar armas, no momento cm que'os desejos de uma grande camada

política se casa às ameaçasamericanas? £ preciso uma grandedose de hipocrisia para se espantarcom tal atitude da parte dos paisesdesenvolvidos, que aumentam cada vez

. mais seu potencial de defesa, e isso nahora da distensão e do degelo. Comooutro emprego do lucro do petróleo hácertamente a ajuda aos países semrecursos minerais. Mas, para os que os

iém. a ajuda deve ser no sentido daorganização da retenção para fazersubirem preços normalmente baixos,

Por que ss países árabes, contra osquais todos os arques atuais sevonceniram. nio se tornariam umapotência tfconómica. financeira,técnica e militar? Um novo Japãodaqui para o firo do século? Será que ostatus de «imigrante nos paísesdesenvolvidos ou o de prestador drserviços turísticos em seus paises éumelemento da "ordem internacional"?

A humanidade se encontra numas irada da sua história: ou se pane paraa escalada na confrontação, ou então épreciso criar um diálogo construtivoorientado para o estabelecimento deum mundo solidário que beneficie amaioria das populações dos diferentespaíses do planeta. A escalada naconfrontação pode atingir grausextremos (ocupação militar e guerraspopulares) ou estender-se a outros _vetores (outras matérias-primas!,serviços (banco*, seguros, turismo,etc), recursos humanos de que hágrande procura nos paísesdesenvolvidos. £ o caminho mais fácila seguir.

A construção de uma nova ordemeconômica, baseada não na multiformcdominação atual mas sobre a melhorutilização dos meios técnicos, materiaise humanos, para a promoção de todos,é mais difícil de organizar. Parapermitir um "dialogo com armasiguais" é preciso primeiro aceitar ocrescimento dos meios de negociaçãodos paises em desenvolvimento. A altados preços do petróleo, aniquilando osefeitos da "ajuda" reduzida'dada pelos

. paises desenvolvidos aos paises pobres,vai tornar esses últimos nísisreivindicamos, quando foremprodutores de matérias-primas."Falta provar que somos pobres".

3 Esta frase, pronunciada pelopresidente do Zaire, por ocasião de mi.visita oficial a Abidjã (Costa doMarfim) não se aplica aos paísespossuidores de matérias-primas nãovalorizadas atualmente — no planodos preços ou na sua transformação cmprodutos acabados ou semiacabados-* mas aos países que só têm recursosiiumanos: os 25 paises considerados

pobres,Essa primeira batalha do petróleo

deserta permitir "degelar" as duasúnicas soluções para o problema doempobrecimento acelerado dos pahcscm desenvolvimento: reformas dosistema econômico mundial e das"regras" do comércio internacional.

Uma nova divisão internacional devepoder instaurar-se t panir do aumentodos meios dos primeiros países doTerceiro Mundo para chegar à suaentrada no clube dos paísesdesenvolvidos: da teria que organizar arepartição das implantaçõesindustriais segundo as predileçõcs epotencialidades das diferentes regiõesgeográficas. Os países árabes têmtrunfos iinponantes dentro do quadroda remodelação do mapj industrialmundial: capitais, energia, espaço queainda não conhece os malefícios — ebenefícios — da poluição, umapopulação suficiente (100 milhõesatualmente) e apta para a civilizaçãoindustrial, após uma formaçãoespecializada facilmente organizável.

Os países em desenvolvimentodeveriam poder beneficiar-se datransferência de indústrias queconsomem matérias-primas e queexigem mão-de-obra imigrada (malacolhida nos pStses que a recebem) e decapitais cada vez mais dificilmentemobilizas-eis pelos paisesdesenvolvidos, principalmente aEuropa. Esta e o Japão poderiamdeslocar para o Terceiro Mundo asiderurgia, a petroquímica, osfertilizantes, os metais não Terrosos, aconstrução naval. etc.

O "conciliábulo" dos super-ricos emWashington, que representam 75% a80% do consumo mundial de petróleo,terá sido o último combate deret agu ard^a. sem nenhumaconseqüência "prática, dos partidáriosde uma certa "ordem" econômicamundial. A única esperança de resolveros problemas da economia e dapopulação mundial está naorganização de um mundo solidário apartir da assembléia geral das NaçõesUnidas sobre matérias-primas, cujareunião foi pedida pelo presidenteBoumediene. da Argélia. (AlemThalath)

*Turquia/GréciaA disputa pelo petróleo do mar Egeu

Só se passaram sete anos desde

que a Grécia e a Turquiachegaram ao limiar da guerra, edurante este período tem havidofreqüentes instantes de tensão.

O pior destes tem ocorrido por causada disputa de Chipre — e nesse campo

^ tem havido alguns progressos menores— mas subitamente õ petróleocomeçou a surgir como uma ameaçamuito mais imediata para os relaçõesentre os dois inimigos tradicionais.

Os gregos estiveram exultantes nosdois últimos meses com a descobertade petróleo na ilha de Thassos, aonortkdo mar Egeu. Ele será explorávelem l(w6 e o jornal grego EllinikosVorraY tem descrito esta descobertacomo "petróleo

para 20 anos".Executivos de companhias de

petróleo têm sido mais reservados mastêm sugerido que a Grécia poderia bemtornar-se auto-suliciente em produtosde petróleo, já que as descobertasindicam que deve existir um grande,mesmo que fino, campo de petróleo,estendendo-se pela Grécia até aBulgária e Turquia e dando no Egeu.Como que confirmando esse campo,têm sido encontradas quantidadeslimitadas de petróleo no lado turco dafronteira da Grécia com a Turquia.

O governo tem feito alarde destadescoberta, enquanto que oshabitantes da capital nortista deSalokika, a 90 milhas oeste de Thassos,começam a imaginar-se assumindo opapej de milaneses para os romanos deAtenas. "Nossa fronteira 'econômicaprecisa ser fortificada", escreverecentemente o Ellinikos Varas. "Será

quoçAtenas não compreendeu que apróxima refinaria de petróleo deve serestabelecida aqui 9 e que as fábricasdeveriam'sê-lo no norte"?

Mais importantes ainda têm sido asconseqüências políticas da descoberta.Um contrato de 90 milhões de dólarescom a União Soviética para construiruma central energética movida a turfaperto do poço de petróleo acaba de sercancelado pelo governo grego. Acentral estaria a apenas 65 quilômetrosda fronteira búlgaraje o governo estavaaparentemente preocupado em tertécnicos soviéticos na área, bem comocm ser molestado pelas contínuasobjecpes de 4 mil famílias gregas cujaíerra estaria sendo apropriada.

Mais problemática, no entanto, é adiscussão que surgiu agora sobre asexigências da Turquia de partes domar Egeu que a Grécia considera suas.A exigência surgiu quando o diáriooficial da Turquia concedeu direitos d,eperfuração à companhia petrolíferaestatal da Turquia em locais perto dasilhas gregas no nordeste do Egeu,particularmente Samothraki, Mytilenee Chios.

A decisão de 1.° de novembroúltimo já tinha causado preocupaçãooficial — como tinha a forma como umbarco turco navegando por fora deThassos recusou-se recentemente a sairquando recebeu ordens de umapatrulha costeira grega. Todavia, oassunto só foi revelado ao público hátrês semanas, quando o ministro doExterior grego, Spyridon Tetenes,respondeu anunciando que o governogrego já tinha entrado ementendimentos com a Turquia. Ele

disse que a Turquia estava "dividindoo Egeu de forma a não considerar asoberania dos direitos da Grécia aoleito do mar".

A Convenção de Genebra de 1958sobre o assunto dá aos paises direitos asuas plataformas continentais,definindo» isto como o mar até umaprofundidade de 200 metros. A Gréciaassinou esta convenção em 1972. ATurquja não o fez, mas agora pareceestar contando com uma interpretaçãoda convenção: de que as ilhas nãopodem ser levadas em conta nadefinição da plataforma continental deum país. Nenhuma das ilhas gregas aque se está dando direitos deperfuração tem águas mais profundasdo que 200 metros entre elas e aTurquia, enquanto que Chios, porexemplo, está'a 5 milhas da Turquiamas a 125 milhas de Atenas.

Deverá ser realizada umaconferência sobre a Convenção' deGenebra em junho na Venezuela parase discutir assuntos como a plataformacontinental e o direito a ela. O governoturco consultou professores de leiinternacional antes de fazer, suas"concessões" e pode muito bem acharque na Justiça a Grécia não podereclamar todo o Egeu e'que na praticaa Turquia pode contar com um apoiointernacional muito maior do que ogoverno gTego atualmente.

Também pode achar, sugeriu úrú4jornalista de Atenas, que o governogrego não está em posição parasustentar suas exigências pela força, jáque. por razões políticas internas, aGrécia provavelmente não quer tomara decisão de Mobilizar oficiais da força

de reserva, cuja lealdade ao atualsistema nio é garantida.

Os jornais de Atenas sabidamentereceberam ordens de nio escrevereditoriais sobre o assunto, embora umjornal tenha escrito uma siolentadenúncia da '"perfídia" da Turquia, aopasso que o tlllinikoí Vorras. falandode SaJonikâ. dii: "Os professoresturcos e camaradas literatos deveriamsaber bem que. especialmente para aTurquia, o Egeu e um mar fechado,um lago grego, c tem sido assim desde1821 (inicio da guerra deindependência grega)".

Referindo-se a noticias de que osEstados Unidos pretende situar oproblema na área de interesse daOTAN. ele escreve: "Seu interesse édispensável. Nio há assunto para «serdiscutido. Os direitos dos turcos nomar Egeu são semelhantes aos seusdireitos no Golfo do México".

Mas até recentemente o principalproblema tem sempre sido «Chipre. Osgregos ainda não têm certeza se apalavra de ordem "federação" comidano programa do novo governo turco esubsequentes declarações representamuma mudança na posição da Turquia(quatro quintos da população deChipre são gregos onodoxos e umquinto turcos muçulmanos). Oministro do Exterior da Turquia, sr.Cunes. expressou que a palavra"federação";;estava sendo usada noscntidQcm que Chipre era um "Estadoinicro-mun.il independente"- e quelanto a partilha quanto a unificaçãoda ilha com a Grécia eram ilegais.

Diplomatas observam que estarepetição da antiga linha turca está deacordo com a maneira como Aldikacti.o especialista constitucional da turquianas conversações tntercomunais. foiinstruído durante sua recente visita aAnkara de que líão haveria mudançasnas instruções anteriores.

Todavia, o ministro do Exterior daGrécia aparentemente teme que aconversa sobre federação possa estardestinada a deixar o caminho abertopara a partilha de Chipre numa épocafutura mais favorável. Na própria ilhacontinuam as conversações inter-comunais. tendo feito algum pro-gresso comjo acordo a respeito de umafórmula complicada sobre cadeiasparalelas do governo local, sobcomissários a serem indicados pelopresidente (um cipriota grego) e pelovice-presidente (um cipriota turco).

Os especialistas constitucionaisgrego e turco concordaram em relaçãoa isto. mas não discutiram, ou foramautorizados a discutir, até que nívellocal os cipnotas turcos, serãoautorizados, a governar a si próprios.Esta questão tem sido a grande pedrabloqueando as conversações durante osúltimos seis anos, junto com as'rejeições do arcebispo Makarios dasexigências feitas pelos cipriotas turcoscomo sendo impossíveis e equivalentesà partilhada ilha.

Problemas sobre educação, direitoscivis e do judiciário foram todosresolvidos, enquanto que diplomatasacreditam que pode-se chegar a umcompromisso sobre a composição daforça policial da ilha. Os cipriotasturcos desejam uma força própria. Oscipriotas gregos propõem um únicocorpo central de polícia com oitodivisões, das quais uma seriaconstituída de cipriotas turcos.

Mas não foi feito nenhum progressona questão da administração localpelos cipriotas turcos. Por sugestão dorepresentante da ONU, os dois ladosapresentaram um relatório escrito desuas posições em dezembro."Aquela idéia talvez tenha sido umerro", comenta um diplomata doOcidente, "uma vez que os dois ladosendureceram então suas posições, sefor o caso de serem chamados paranegociar nas bases de seus relatórios".

Numa atitude ab erra mentedesafiadora em relação ao arcebispoMakarios, o sínodo da Igreja gregaacaba de mandar um telegrama aAnthimos, ex-bispo de Kitium. Otelegrama não apenas reconhece-ocomo um bispo canônico, apesar de tersido destituído por Makarios nò anopassado, mas expressa o desejo de queAnthimos continue sua "lutaeclesiástica sagrada e também nacionalpelo bem da Igreja cipriota e seurebanho sofredor". (David Tonge, TheGuardian)

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Opinioo. 11 do mc*<o do 1*74 II

NOTASEgito

De fiéis, mágicose céticos

Não sou mágico", disse o prcsi-

dente Sadat. a Ali Amim. o novoeditor do influente jornal Al Akram.Porém os egípcios estão sendo levadosa crer que ele é. Realmente, toda suaestratégia de negociações da guerradepende disso. Há muitas raiôcs parao predecessor de Amin na direção do

¦Al Ahram. Mohamed Haikal. tersido destituído de seu importantecargo, mas a principal foi seuspersistentes palpites sobre essaestratégia.

Ele era o que se tornou conhecidocomo um "cético". Por causa de suaimportância, ele era um perigoso"cético". Existe um número respeitávelde "céticos" no Egito, para nao falarno mundo Árabe."-muitos queacreditam junto com Haikal que Sadatdeu muito em troca de muito pouco,confiou muito mais no outro mágico.Kissingcr, do que este merecia. Haikaltornou-se um herói menor em círculosum tanto não apropriados, incluindo aesquerda egípcia, que sempre oconsiderou um representante daAmérica, mas agora presta-lhe uminvejoso respeito.

Os fiéis — aqueles que não têmdúvidas — estão agora numa faseascendente. Com o afastamento deHaikal eles dominam os meios decomunicação. Suas atitudes variampassando por graus diferentes debajulação. Eles idolatram Sadat. enada pode acontecer em nenhumcampo — da histórica travessia doCanal à importação de peças avulsaspara os guindastes do Cairo — que nãovenha de seu nobre e generoso espirito.

O Egito é uma sociedade de slogans.e o da "recon- trução" está destinado aser o maior slogan dos próximos meses.A prioridade agora é para a reaberturado canal e restabelecimento dascidades devastadas peia guerra.

A Atina—rriTaçio econômica

Basta dar uma olhada nas últimasestatísticas populacionais para seentender o que significa reconstrução.O Cairo tem agora mais de 7 milhõesde habitantes — uma nova leva de 500estabelece-se todos os dias. Deverão serconstruídas 100 mil novas casas porano — umas 400 é a média atual.Cada vez que se visita o Cairo, osônibus, incrivelmente cheios, parecemse arrastar um pouco maistropegamente, as insolúveis filas decarne e de peixe parecem um poucomaiores e mais turbulentas. A volta demilhões de refugiados para a zona doCanal, dizem os habitantes do Cairo,facilitará certamente a vida dos queficam.

Mas a reconstrução está começandoa significar muito mais do quereabilitação da zona do Canal.Significará nada menos do que arevisão de toda a economia e dosprincípios ideológicos nos quais sebaseia — desnasserização econômicade fato. ê muito surpreendente que oencarregado seja Òthman AhmadUthman. Ele e um grande magnata, oHaikal dos negócios, que conseguiucriar uma lei para si mesmo.Diferentemente de Haikal elesobreviveu vitoriosamente nosocialismo nasserista para tornar-seum executivo-chave da liberalizaçãoeconômica que está em ascensão agora."Deveremos vender o setor público",era o título de um artigo no Akhbar Al-Yaum.

E-"=a irreverência anti-socialista nãochoca mais. O Egito está em transiçãopara um novo sistema. £ cedo demaispara se dizer come ficarão as coisas.Provavelmente será uma misturacontendo não a liquidação mascertamente a diluição de todas ascoisas socialistas.

Não-oficialmente, também há umareconstrução política e institucionalsendo encaminhada. Ou, talvez, sé

devesse dwcr um revisionlsmo político."Ele convida o rei Idris (rei llbiodestronado por Kadhafl) para ocasamento de sua filha — em seguidavahemos que o príncipe Fuad tfithuexilado do falecido Farouk. o últimomonarca eglpcioi voltará ao Cairo".

O ressurgimento de um homemcomo Ali Amin é indicativa de umEgito que olha prá trás. a fim decontinuar adiante. Ali e seu irmão'gêmeo Muttafá foram os pioneiros deum jornalismo moderno e agressivo, noestilo americano, com tanto sucessoque seu jornal Akhhar Al-Yaum tinhafama de formar e detarer gabinetes.Eles eram basicamente partidários dnrei (deposto em 1952), mas fizeram darevolução sua paz. Foi umrelacionamento difícil, e quando em1965 o Egito e a América estavam sedando muito mal. Mustafá foi presocomo suposto agente da CIA.

Agora os dois irmãos lideram os fiéisa Sadat. Eles o saúdam como orestaurador das liberdades que Nasserhavia retirado. Ali Amin nao disse naimprensa que o imortal líder era umtirano, mas disse que Sadat não era. oque dá no mesmo. Ele rejeitou minhaopinião de que Sadat estava sendotransformado num novo deus. uN6s daimprensa fizemos isso com estepredecessor e ele nos destruiu". Eleencara como seu papel influenciarSadat mais além na direção liberal queele parece estar tomando.

Os jornais, mesmo depois dorelaxamento das medidas de controle,ainda devem seguir a política geral queé ostensivamente determinada pelaUnião Socialista Árabe, único partidopolítico do Egito, mas na realidade o épelo presidente do partido, o próprioSadat.

Alguns escritores acreditam que asuspensão das medidas de controle dosjornais nao passa'' de uma farsa semsumido. "Temo", disse um deles, "queesses advogados da liberdade queirammonopolizá-las para si mesmos". Noentanto Ali Amin está cheio deimpecáveis sentimentos liberais. "£.certo que depois de 20 anos deinabilidade se leve algum tempo paraaprender a andar novamente, masvocês começarão a notar mudançasdaqui a uns dois meses".

Ele quer retirar os jornais existentesda dependência*m relação ao partidogovernamental e torná-los propriedadede seus funcionários. E ele deseja verjornais de propriedade privadacompetindo com .os jornais jáexistentes — existem rumores de queseu irmão vai abrir um chamado 6 deoutubro.

Não há dúvidas de- que areconstrução econômica e política atraios egípcios, no entanto também não hádúvidas de que sem uma "pazhonrosa" ela não pode manter o sloganda "reconstrução".

Há um limite para as concessões queSadat pode fazer agora para conseguira "paz honrosa" no futuro. "Algumasvezes eu penso que se, para testar suasinceridade, os israelenses pedissem aSadat para demolir não apenas osmísseis mas o Cairo também, eleconsideraria seriamente o assunto",disse um dos céticos.

Sadat ainda insiste em esconder doseu povo muito do que ele já conhecemuito bem. Os jornais só falam daretirada dos israelenses — não dizemnada sobre o semelhante recuo egípcio.

É estranho que a promessa deliberdade de discussão seja precedidapelo afastamento de um homem queestava tentando exercitá-la. Aabordagem da paz feita pelo mágico —como diz Haikal — 'é essênciaImVnunão democrática.

Se a mágica falhar rio, « v vapelar novamente para seus soldadas.Os céticos, conquistando a voz dedecisão, vão exigi-lo — e, se as novasliberdades significam alguma coisa.

eles poderio fuMo abertamente. Areconstrução torna a batalha maisdifícil, por raiões pskulóglcas emateriais, mas Sadat nlo pode deixarque se torne impossltel. E %¦ b deoutubro é prova suficiente de que elenão deixará (Dasld lllrst. TheGuardian)

Vietnã:esforçode reconstrução

OBureau Político do Vietnã

do Norte tomou uma súbitadecisão: restringir, pelo menostemporariamente, todos osmovimentos militares na Indochina emfavor da reconstrução econômica. Estafoi a mensagem que os especialistasocidentais deduziram a partir daretórica que envolveu a recém->concluída sessão da Assembléia*Nacional.

Enquanto a maioria dos discursosredamava a manutenção do apoio áluta que se desenvolve no Vietnã doSul. também ficou evidente que osplanos militares foram amplamente

.restringidos. A voz do ministro daDefesa, general Nguyen Vo Giap. nãofoi sequei ouvida na Assembléia.Acredita-se que isso significa que amáquina militar de Hanói serámantida apenas o suficiente para darcontinuidade à luta tal como sedesenvolve atualmente. Este nível deatividade — que se destina a minar aforça militar, política e econômica dogoverno de Saigon — só seriaintensificado se uma situação difícilpara o regime pró-americano criassecondições efetivas para um avançofácil.

O líder do partido. Le Duan,provavelmente influenciado pelaRússia c pela China;-conseguiu ouimpôs ao Bureau Político umaaceitação do plano que tirará doVietnã do Sul os frutos da paz,enquanto Hanói prossegue com a"renovação socialista" no norte dopais. Aparentemente, devido às ironiaspróprias da Indochina, Hanói ratificouo ponto de vista de Thieu, que sempreafirmou que os acordos de cessar-fogoassinados em Paris levariam a umasituação na qual não haveria "nemguerra nem paz"., ,,¦

A mudança de. prioridades, daguerra para a reconstrução socialista,foi claramente indicada no discursoproferido na Assembléia pelo vice-primeiro-ministro Le Thanh Nghi.principal teórico de economia dopartido revolucionário e há muitotempo responsável pelas negociaçõesde ajuda internacional com os paísescomunistas. A essência do discurso foiobviamente incorporada no orçamentodo Estado e no- "plano estatal" de1974 adotado pela Assembléia popular.

Se bem que a Assembléia Nacionalseja um organismo praticamenteratificador das decisões partidárias, elaém freqüentemente utilizada comoplataforma para importantescomunicados e revelações públicas. Oseu funcionamento é preciosamenteorientado e os discursos importantessão transmitidos pela Rádio Hanói deforma "integral e são tambémpublicados pelos órgãos de imprensamilitares e partidários. Isso significaque, já que foi tão amplamentedivulgado, o discurso de Nghi traduz a"linha do partido".

Apesar de uma certa retórica, odiscurso deixa claro para a populaçãoque a tarefa de reconstrução é agora aprincipal. Além disso, menciona uma,longa lista de prioridades e, naAssembléia, geralmente essas coisas'são muito bem pesadas, refletidas. Emduas partes importantes do informe,Nghi mencionou cm último lugar asprioridades do., esforços militarestanto no Vietnã do Sul como no

• Camboja, se bem que tenha prometidoo contínuo apoio de Hanói a essas lutasle ihertação.

período necessário para areconstrução foi publieamenfe.ncncióhadoem 1.973 por um membrodoComitê Central. Hoang Ouoc Viet. que... . s*admitiu que se levaria três anos paraque o nível da produção voltasse ao que

era em l%4. ano anterior à maciçaintervenção americana na guerra

Outros informes dignos de créditopartiram de fontes individuais e falamde um continuo e amplo deslocamentono esforço de reconstrução, que atéaqui se centralizou no funcionamentodas ferrovias e rodovias, Em muitosprojetos de reconstrução, por exemplei,os operários especializados trabalhamapenas umas poucas horas por mésdevido à escassez de combustíveis. I*avarias nos equipamentos pesados eoutras dificuldades semelhantes queimpedem uma centralizaçãoapropriada do esforço nacional.(Goargt McArtbssr, The Guardian)

Estados {Unidos:modificando ocomportamentodos prisioneiros

O governo norte-americano plane-ja continuar o seu criticado

programa de experiências sobre"modificações no comportamento"com os internos de algumas prisõesfederais, apesar da interrupção de umdos programas mais controvertidos noinicio do més de fevereiro passado.

Isto ficou claro numa recente sessãoparlamentar sobre planos de pesquisacom prisioneiros: está sendoconstruído um amplo centro depesquisas na Carolina do Norte paraabrigar 200 prisioneiros considerados' de alta pcrkulosidade que possibilitaráa continuação do esforço para atingir oponto de "ruptura" na alteração dapersonalidade de alguns dosprisioneiros mais violentos e perigosos.

O programa de modificação docomportam elt to que foi

japecificamente atacado por gruposque lutam pelas liberdades civis no ano"passado,

e que interrompeu seusTrabalhos no inicio do mês de fevereiro,foi o chamado TRTE (Treinamento deReabilitação e Tratamento Especial)realizado no centro médico federal emSpringfiels. Missouri.

Ali. um grupo "dos

prisioneiros maisviolentos de prisões federais dosEstados Unidos, foram colocados emtotal isolamento e submetidos a umaprolongada série de experiênciassupostamente psiquiátricas .—algumas humilhantes, algumasextremamente dolorosas, algumasenvolvendo a utilização de drogas.

As experiências destinavam-se a verse os homens mudariam de "inúteis

prisioneiros" que eram para"membros úteis da sociedade".O programa TRTE foi

aparentemente um fracasso: apenasum dos prisioneiros drogados pelosLxperimentadores foi solto nas ruas econsiderado um" "sucesso" peloscientistas; outros nove .também foramconsiderados "sucessos moderados"pois foram devolvidos às celas de ondetinham sido tirados.

No início do mês de fevereiro oBureau Federal de Prisões anunciouque estava interrompendo o programaTRTE e devolvendo os submetidospara seus antigos guardiães. Poucosdias depois a Law EnforcementAssistance Administration (umorganismo federal que cuida daobservância da lei) anunciava emWashington que não forneceria mais 'linheiro para nenhum futuro projetorelacionado com modificação decomportamento.

Todavia, o clr.. Martin Groder,diretor do Centro Federal de PesquisasCorretivas, em Butner, Carolina doNorte, deixou bem claro que osprogramas do tipo TRTE vãocontinuar, tanto em seu aindaincompleto centro como noutros.•stabclecimentos nos -sistemaspresidiários federal e estadual.

Ele deu alguns detalhes doprograma de seu centro de pesquisa:rie Vogar;'. 2(X> prisioneiros por ano decentros federais no Icj. dos EstadosUnidos. Estes homens serã.>. disse ele,voluntários pois terão que assinar uniformulário de consentimentopermitindo que sejam transferidospara seus cuidados. lum.il;ldo> :iocentro do J.r. Groder. os internospassai ao por ünt dos ires tipos de

"programacio" p» lógica ourante

até dois anos,Nenhum dos pr»**amas propostos

pelo dr. Groder; semelhante aomodelo de progr») 4o TRTE, quebasicamente amou? ¦¦ m internos emambientes coereiii. . e quando ocomportamento e um delesmelhorava era "j miado" com adiminuição gradai! dos terrores.

De acordo cor u sr. NormanCarlson. diretor«: reau Federal dePrisões: 'Nao nsideramos oprograma TRTE fracasso, e deveser esclarecido qtk pesquisas sobreinovações deste *. • continuarão".

Portugal:sem soluçãomilitar possível

Um novo livro, intitulado Por"

tugal <• o Futwn. de autoria dogeneral Antônio S; ola. recentementeindicado para a .hcfiaadjunta doEstado-Maior e ex governador militarda Guiné-Bissau. provavelmentedividirá a opinião pública portuguesa c.,causará sensação entre os observadorevda política de Portugal para as colôniasafricanas.

No livro o general Spinola diz quenão há solução militar possível para osterritórios ultramarinos e defende acriação de uma federação de Estadosportugueses.

O seu plano para uma RepúblicaFederativa de Portugal, compostageograficamente de Estadosautônomos separados, não é novo e. defato. tem sidq persistentementedefendido pelos principais oponentesdo regime, inclusive o general Mortonde Matos, candidato democrata àseleições presidenciais de 1949, e ogeneral Humberto Delgado, líder anti-salazarista que propôs um pianosemelhante num livro publicído emLondres em 1963.

Mas o general Spinola faz parte deuma geração de generais surgida a

(^partir do inicio da guerra nas colôniasafricanas em 1961. e seus pontos devista têm agora o peso da autoridade edo prestigio de que desfruta entre a alaliberal (cada vez mais forte) do regimeno pais em geral.

Da mesma forma que o general••Delgado. Spinola é um admirador dofalecido general De Gaulle e,igualmente, sonha com ser capaz deresolver a "questão ultramarina"sugerindo aos seus compatriotas aidéia de uma independência nominalpara os territórios africanos dentro da"união" portuguesa. Há indícios deque Portugal se encontra agora maisacessível a esses pontos de vista, jâ quemuitos portugueses estão começando aduvidar da capacidade portuguesa emliquidar com a atividade de guerrilhasem três frentes simultâneas.

A outra tese fundamental do general *Spinola — a de que não há soluçãomilitar possível para a "questãoultramarina" — também não é nova.já que, na época em que a revolta foidesencadeada em Angola, em 1961. oentão ministro da Defesa, generalBotelho Moniz. e o grupo militar quetentou derrubar o dr. Salazar fizeramItlltlWV ..*. V ...4. ,»(,.• .!. N

argumentos do general Spinola sãofortalecidos por sua considerávelexperiência na Guiné-Bissau durantecinco anos cruciais que terminaram em1973.

Próximo do final do seu mandato, ogovernador Spinola tentou acelerar oprocesso de "africanização" na Guiné-Bissau. Essa política baseava-se nasesperanças que tinha de poder realizarnegociações pacíficas com o falecidoAmílcar Cabral (assassinado no anopassado), ex-ííder do PAIGC (PartidoAfricano para a Independência daGuiné e Cabo Verde), homem educadona metrópole.

Todavia, o esquema gerai AcSpinola. que visa manter o' controleportuguês sobre as políticas financeira,de defesa e exterior dos 1'u'u.ros'Estados federados autônomos,provavelmente será comparada aoatual sistetu.! em vieor ira. Uv:ca do

..:;: eovertit de .'olotiosnanteria. por controle

Sul. pele qu-.tlporríijiuc.ios irem«i Antônio de I

de I isbo.i, .'. sua doiuinaV.to.dr hc t.a nv. i)

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.H .CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Opioüo. 11 on mmfg jlt itfa

Japão

5.250 vezes Hiroshima

Apesar aas freqüentes declara'

ções «Iihjiv no Japão sobre os; ertgi v do poder atômico — este paisfoi a única vitima no mundo de umataque nuclear — os círculos dirigenteslocais parecem dispostos a ser osprimeiros a utilizar perigososexplosivos atômicos com fins "civis". Oprojeto nuclear consiste em abrir umcanal de 100 quilômetros de extensãoatravés da península da Tailândia, noistmo de Kra. que uniria o sul do mar.,da China com o oceano Indico, os

Srincipais apoios deste projeto estão no

apão — cujos ^círculos dirigentesquerem contar cóm uma rota maiscurta, que lhes assegure a passagemdos tanques petroleiros que •-'- doOriente Médio — c os Estados Unidos,interessados num fádl acesso para suaMarinha de guerra para o oceanoIndico.

O projeto propõe remover 2.800milhões de metros cúbicos de terra —28 sezes mais do que se esigiu paraconstruir o Canal de Suez e 16 sezesmais do que o extraído para construir oCanal do Panamá.

K.Y. Cho«. um cidadão chinêsnascido em Formosa, presidente da:•-..:, U:í Refínihg Company. tinha

obtido autorização do governo daTailândia para realizar os estudosprelirrinare* do projeto cm setembrode 1972. Desde então, sem dúvida, oplano praticamente foiinternacionalizado e entre osfinanciadores estão os laboratóriosLrgence üvermore. cujo presidente éEdwartf Teller (o pai da bomba dehidrogênio nos Estados Unidos), oHudson i.istitute de Nova York,dirigido pelo futurólogo HermanKahn. a companhia industrial ioirabalho. da França, e a firmacomercial japonesa Nissho-Iwai. Em1973 realizaram-se três reuniõesinternacionais para analisar o projeto:cm março em Oakland. Califórnia, emabri' em Paris c em julho em Tóquio.Em setembro Cho» apresentou uminforme preliminar de 600 páginas aogoverno da Tailândia.

As acusações que vinculam ogoverno japonês com este projeto sebaseiam na participação da corporaçãofinanceira para o comércio e a

. indústria (instituição bancária oficial) eo Japão Industrial Location Center —entidade integrada pelos maisimportantes consórcios privados dopaís e supervisionada pelo Ministéricda Indústria e Comercio Exterior.Deiegados do Ministério das RelaçõesExteriores e uá Indústria e Comérciotxierior participaram come•'observadores" da reunião,empresarial realizada em julho de 1973

em TóquioO governo norfe-americano também

participa do projeto. Entre ospromotores

"taiiandeses" do planofiguram o general Ed»in F, Black, ei*comandante do corpo militar deassessores norte-americanos naTailândia, que agora atuarta neste paiscomo agente da Central IntelligcnceAgcncs. O volumoso informe técnies*apresentado ao governo tailandés cmsetembro passado se baseava, alémdisso, em dados recoletados na suamaior parte pelo corpo de engenheirosdo Exército norte-americano.

Desde quando as tropas britânicasse retiraram de toda a região situada ateste do Canal de Suez, os EstadosUnidos redobraram suas gestões paraexpandir sua influência econômica naMalásia com o objetivo de convertereste pais numa região militar apta areparar o avanço dos norte-americanosaté o oceano Indico. A construção doCanal de Kra diminuirá a rota daMarinha norte-americana até o Indicoem 500 quilômetros, facilitando adominação militar norte-americana emáreas que englobavam desde o sul domar da China até a região do golfo,onde o conflito entre os EstadosUnidos e a União Soviética seintensificou nos últimos meses.

A participação japonesa no projetose justifica pela absoluta dependênciadeste pais em relação ao petróleo doOriente Médio. Até agora esse petróleoatravessa o estreito da Malásia, o quesupõe dois problemas maiores para oJapão: 1) os direitos de passagem por-este estreito não estão garantidos, namedida em que tanto a Indonésia comoa Malásia reclamam sua soberaniasobre a região; 2) o estreito da Malásianão permite a passagem de tanquescom mais de 200 mil toneladas deporte, quando já começam a navegaros superpetrolciros de 400 miltoneladas. Além do significadoeconômico do projeto, tanto o governodo Japão quanto os grandes círculosempresariais que financiam aconstrução do canal já esboçaramimportantes planos para construircentros industriais sobre ambas asmargens do curso de água, uma vezcompletada a obra. Os pianos incluem-> construção de plantas "ara oenriquecimento ae urânio e centraisatômicas para a produção de energiaelétrica.

Em termos econômicos, a utilizaçãode bombas atômicas para abrir o Canalde Kra resultaria altamente

* competitiva: calculou-se que,utilizando explosivos convencionais, senecessitaria de 14 anos de trabalho e 11

mil milhões de dólares, enquanto quecom* bomb\s atômicas o mesmotrabalho reali/arseia em 12 anos ecom uma inversão de '<>*> milnõet dedosarei.

A obra de engenharia projetadactige escavar 4*,S quilômetros de terra«mu- P«j isto se planeja csplodir I Jonombas atômicas de 0J megatonscada uma. A potência total atômicadeflagrada — se se cumprirem estesplanos — seria então equivalente a 105megatons, de 5.52o bombas atômicascomo a que arrasou Hiroshima em1945. Estima-se que 215 mil pessoas —40 por cento da população atual daárea — deverão ser evacuadas da áreavizinha de Kra e calcula-se que anuvem radioativa da explosões chegaráa Sumatra — região densamentepovoada da Indonésia — em ?6 horas,uma área muito mais «tensa dosudeste asiático estaria exposta àdisseminação radioativa durantequatro anos a partir da primeiraexplosão atômica.

Ao revelar o conteúdo deste plano odeputado Okada sublinhou a co-responsabilidade do governo japonêsneste projeto. As afirmações doprimeiro-ministro Tanaka e membrosde seu Gabinete, segundo os quais oprojeto do Canal de Kra é umprograma estritamente privado, odeputado socialista opôs a participaçãode representantes do governo nareunião de Tóquio realizada em juiho.Simultaneamente, a associaçãojaponesa contra as bombas atômicas ede hidrogênio (Gcnsuikin) lançou umadeclaração opondo-se ao projeto.

A utilização eventual de explosivosnucleares, ademais, violaria o tratadocontra a proliferação de bombasatômicas e as explosões nucleares naatmosfera, firmado pelos EstadosUnidos e pela Rússia c a que aderiramtanto o governo do Japão como o daTailândia.

O deputado Okada. finalmente,explicou ao autor desta nota que osEstados Unidos estão analisando apossibilidade de utilizar explosivosnucleares não somente para o projetodo Canal de Kra. mas também para oplano de abrir um segundo Canal doPanamá, para o desenvolvimento dejazidas de gás natural na AméricaLatina e em outros quatro projetos."Esta é outra corrente da diplomaciaatômica dos Estados Unidos", advertiuo deputado. "As revelações doparlamentar Okada Haruoconstituíram um severo impacto sobrea opinião pública japonesa, que haviasido mantida à margem do projeto doCanal de Kra durante dois anos".(Jamakawa Akio, Interpress Service)

AmbienteA terra dos homens

Nos próximos anos é provável

que você venha a ouvir falar cadavez mais de uma nova organizaçãochamada UNEP, cuja missão é.literalmente, salvar o mundo.

UNEP é a sigla para United NationsEnvironment Program (Programa dasNações Unidas para o Meio-Ambiente). Ela representa um esforçodecisivo de 140 nações, inclusive asgrandes potências como os EstadosUnidos, a União Soviética e a China,assim como outros países que não sãomembros das Nações Unidas."Esta é a primeira vez que as naçõesdo mundo, atuando juntas,reconheceram que alguma coisa estáerrada na maneira com que o homemvem manipulando o seu meio-ambiente", diz Maurice F. Strong, umcanrdense de 44 anos que é o primeirodiretor-executivo da UNEP.

Strong diz que a geração atual podeter o poder de decidir se o homem écapaz de conseguir o tipo de .mudançasnecessárias das formas decomportamento para assegurar uma

.ida próspera e sadia sobre o planeta."Não quero dizer que a catástrofe, seé que haverá alguma, vai ocorrer naatual geração", diz ele. "Mas podemosser aqueles a decidir se estão sendotomados os passos necessários paraevitá-la".

Strong e seus conselheiros científicosacreditam que a poluição, acontaminação e o fracasso em usaradequadamente os nossos recursos —especialmente nos países altamenteindustrializados como os EstadosUnidos — são ameaças claras â vida talcomo nós a conhecemos."Também não quero dizer que elaacontecerá de uma vez,abruptamente", acrescenta. "Muitoantes de um col pso total é provávelque ocorram catástrofes limitadas —•-.ecas regionais, áreas de fomer colapsodas cidades nos países emdesenvolvimento. Alguns exemplosdesses casos já foram presenciados".

Alguns desses "limites últimos" oupontos de estrangulamento ecológicosão:

• A terra e a camada de solasuperior. Em várias regiões todas asterras aráveis já estão sendo cultivadas.Em outras áreas ein que é possívelexpandir o cultivo, . o mesmo éimpedido pelos altos custos, pelatecnologia inadequada ou pelo climadesfavorável. Milhões de acres de soloprodutivo estão anualmente setransformando em desertos pela açãoerosiva e outros fatores.

Água. Praticamente todos os:países do munto têm problemas com oabas1 .'cimento de água.

Fontes de energia. No final do séculras reservas mundiais de petróleo e gásnatural esta.ão se aproximando doesgotamento. A energia nuclear é aprincipal alternativa possível, mas asua utilização apresenta problemas.

Alimentos. A população mundialdeverá dobrar até o final do século..Será difícil dobrar também a atualprodução mundial de alimentos parasatisfazer as necessidades futuras.

• CUnsa. As atividades do honveme«crêem um impacto sobre o dtma edesem ser estudadas cuidadosamentepara que seja conhecida a sua ttaiainfluencia.

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Muitas substancias notasfabricadas pelo homem tioesiremameate tôsieas e deveriam sercontroladas. A UNBP planeja compilaium registro internacional dassubstâncias químicas toiicas.

a Os oreanot. Os oceanos tioindispensiveis à vida. mas a crescentepoluição prosocada pelas atividadeshumanas podem colocá-los sob umacarga eicessiva. impossível de seisustentada. A UNEP procurará tratainão apenas da poluição dos mares mastambém da dos rios que nelesdesaguam.

Independentemente da cooperaçãoque ot gostrnot de todo o mundopossam dar aoo programa ecológico daONU. observa Strong. o sucesso domesmo dependerá do comportamentoe atitudes dos cidadãos ornados,"At pessoas comuns são a chave doproblema". dí# ele "At

pessoas niopoluem ou despcdKam recursos deforma deliberada, propinai: elasprocedem involuntariamente,inconscientemente. Temot quemostrar-lhes as conseqüências das suasaçòcv Os Estados Unidos, apenas parao funcionamento dos seus aparelhos dear condicionado, utilizam mais energiado que a República Popular da Chinaem todas as suas atividades. Em 40anos os l vi -• '• - Unidos passaram demaior exportador mundial de produtosderivados do petróleo para o maiorimportador mundial dos mesmoprodutos. (Herbert Kupfcrberg.Washington Postl

-XADREZPôquer de tempo no xadrez

Leonord Barden

Os grandes mestres soviéticos com*

pletaram a eliminação de seusoponentes nas quartas de final pelocampeonato mundial com Pctrosianderrotando Ponisch por 3 a 2. depoisdo húngaro ter-se recuperado de 0 a 2para 2 a 2. As semifinais, que devemcomeçar por volta de 15 de abril, sãoSpassky x Karpos c Pctrosian xKortchnoi. sendo este último encontrouma reprise da tediosa semifinal de1971. que Pctrosian ganhou por 1 a 0.Mais importante é que seguramente odesafiante de Bobbv Fischer cm 1975sirá da URSS. c os torcedoressoviéticos tém um ano para saborear avisão de uma revanche de Reykjavik.

Kortchnoi e seu adversárioderrotado. Mccking. são ambosgrandes peritos num jogo de pôquercom o controle de tempo, cujoexpoente supremo era Rcshcvsky nosseus bons tempos. Não é uma técnicaque eu recomende aos leitores paraaplicar cm seu clube: para usá-la comêxito é preciso ser um jogador derelâmpagos com autoconfiança,experiência, reflexos rápidos, nervosfor»es e um julgamento instintivo dequantos segundos restam para aDandeirinha cair. O ioeador de póqueide tempo reage a uma posição igual oiinferior atraindo seu adversário a umabriga pelo tempo, com os erros e asjogadas emotivas conseqüentes.Naturalmente o adversário deve ficarfora da corrida pelo tempo, se puder,mas na prática essa escassez de tempotende a ser contagiosa c mútua. Nadécima partida do encontro Mecking-Kortchnoi, Kortchnoi liderando por 2a 1 depois do brasileiro ter reagido esaído do placar de 2 a 0, ambos osgrandes mestres encaminharam-seinstintivamente para um pôquer detempo. Na altura do lance 22, sórestava a cada um alguns minutos paraatingir o controle de tempo no lance40. A partida de pôquer, e aclassificação para as semifinais, ficoudecidida quando Mecking deixou queas torres de Kortchnoi penetrassempelo centro. A partida é interessante,apesar de longe da perfeição porpadrões de um campeonato mundial.

Victor Kortchnoi (URSS) —Henrique Mecking (Brasil)

Décima terceira partida do encontro,1974

Defesa Benoni Moderna

1 P4D C3BR 2 C3BR P4B 3 P5DP3R 4 P4B PxP 5 PxP P3D 6 C3BP3CR 7 P4R B2C 8 R?R 0—0 9 0—OT1R 10 C2D CD2D 11 D2B C4R11...C4T !2BxC PxB é o plano com oqual Fischer derrotou Spassky na'terceira partida de Reykjavik e que opôs a caminho do título mundial, masseu inconveniente é 13 P4TD seguidode C-1D-3R e levando o cavalo de 2Dpara 4BD. Gligoric venceu doisgrandes mestres com esta manobra decavalo (ver esta coluna, Opinião n.°18), de modo que logicamente Meckingreverte agora a um plano anterior deFischer, visando trazer seus cavalos àscasas negras, avançadas 4R e 5BR eavançar o PCR para ameaçar o rei

branco.12 P3CD Kortchnoi também tem

uma idéia nova; ele procura ganhar umtempo sobre a variante normalomitindo P4TD,

12... P4CR 13 B2C P5C 14 TRIRC4T 15 CID C5BR 16 BSC T1B I?C3R D4C 18 C5B? O primeiro de umasérie de lapsos que mostram a tensãocausada pelo placar. As brancasdeveriam proteger seu rei com 18BI BR. depois jogar 02DMB (seriamelhor ainda se o bispo tivesse idopara 1BR no lance 16).

18...BxC 19 PsB CI4RI6D? Perdendoo ganho fácil de um peão 19...C6B-+-20 CxC PxC 21 P3C BxB 22 DxBDxPB.

20 BxC BxB 21 TD1D B5D 22 C4RDxP 23 C3C D4C 24 BxP+ R1T 25DSB D3T? Optando pelo pôquer detempo. 25...DxD 26 BxD CxPD 27 BxPi provavelmente uma posiçãoempatada, com bispos de coresopostas.

26 DxPC! CxPC? Sc 26...RxB 2"C5B retoma a peça. O melhor era 26...CxPD 27 B5B. mas Mecking estáconfiando na coluna aberta CR...

27 RxC DxB 28 T7R TlCR 29 D4BB4R 30 D3B T2C 31 TxPC D7B 32T1R R1C 33 T4R T1BR ... que acabarevclando-se uma auto-estrada para aorre de Kortchnoi.

34 T4CR! DxPT 35 C5K lxT+ 36DxT+ R2T 37 D5T+ 'R1C 38 C6T +R2C 39 CxP TlCR? 40 CxB-f? Asbrancas ganham de qualquer jeito,mas qual foi a última vez que umgrande mestre perdeu mate em um? Sóconsigo me lembrar de Gligoric-Book.1948.

40...R3B4 41 C4C+ TxC+ 42 DxTAbandonam. N

Problema N.° 63

í&k' ÍÉM ;#%í ffl

jé li mm ÉÈifÉAfiè

Vffl: W M « »m. wm m §§

"à": ¦"%'* ;::.;:* WMt",W-ú újm \&é. m;.. ,.j%xé «KLtjaSa», „ JSáí?#i ÉÉ É>>; *p

Jogam as brancas, que témapenas uma torre e peão contra odama negra, mas podem empatar a'partida. Como fazê-lo? (estudo definal por Boné)

Solução do N.° 62Posição das peças: 8 — 3rd3 — 8

— 3PlblR — 2T5 — 8 — 3B4 — 8.1 P5C. Se l...CxP 2 PxC, ou se RxC

2 P6R, ou se D2CD 2 CxP, ou se D3C 2C7C, ou se C2R 2 C7C, ou se C3C 2.CxP.

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—TENDÊNCIAS E CULTURA. 17

A f ••• do Diabo {lhe TtodiMit ofDom Jwon) Carlos Cottofiedotgttore Um&4 744 j. a j-. OI 39.00Umo litronKo ••olidod* (A toporototeolil-j C0'l0S CoSlQrtedQ f<jilO«afc_»M.i 243 poo> OS 30 00Vioftm o litloo (Jowrooy Io Ufian)Carlos CosioAedo Ediioro -«=.-!34? pàqt Ci% 30 00

rá pouco tempo seria praticamenteimpossível imaginar que yma tese

de doutorado em antropologia pudessese transformar em um bett seller quetendesse cerca de SOO mil csemplaresem alguns meies. Mas foi o queaconteceu com o misteriosoantropólogo (peruano? brasileiro?)Carlos Castaneda. autor de uma tesepara a Universidade de Califórnia quefoi parar na capa da revista Time. apósse tornar leitor* obrigatória no*círculos underground norte*

Nau c difícil imaginar as raiòes doaparentemente estranho fenômeno.The Teachings of Dom Juan lOsEnsinamentos de Dom Juan .traduzido scnsacionalistkamente parao português como A Erva do Diabo)parece com tudo menos com uma teseuniversitária nos moldes tradicionais.Nos meios acadêmicos europeus, asteses universitárias se caracterizamsobretudo pelo caráter sistemático eraramente trazem referência à vidapessoal de seu autor. Dizer de uma teseque ela lembra um romance, porexemplo, seria um modo pouco sut:l deaplastrá-la. E no entanto o primeiroimpulso com relação ao relato queCarlos Castaneda faz do seu encontrocom Dom Juan. um velho Índio Yaqui.de Sonora, no México, é compara-lo aum romance.

O debate em torno da veracidadedesse relato — e mesmo da existênciade Dom Juan ¦— foi aberto pelo própriolime. em sua edição de 5 de março de1973. A revista encontrara uma sériede mentiras na história que oescorregadio Castaneda — que entreoutras coisas permitia apenas que sefotografasse partes do seu rosto —contara a sua repórter, durante aentrevista que tiveram no apartamentodo antropólogo, em Los Angeles. Eledisse, por exemplo, que nascera emSão Paulo, no Brasil, e que sua mãemorrera quando ele tinha apenas seisanos. As investigações da revistamostraram que Castaneda era peruanoc que sua mãe morrera quando já tinha24 anos.

Confrontado com esses fatos, oantropólogo saiu-se de um modobastante coerente para alguém quepassara um período de 10 anos ásvoltas com feitiçarias e plantas queproduziam estranhos efeitos:argumentou que os sentimentos -daspessoas em relação a suas mães nãodependiam de coisas como o tempo.Despreocupado com respeito a essetipo de fatos, mostrava-se por sua vezapreensivo com o excesso depopularidade — "Eu não quero verAnthony Quinn no papel de DomJuan" — e firmemente convencido deque levaria os ensinamentos esotéricosde Dom Juan às últimas con-seqüências. "Eu vou me tornar umfeiticeiro, isto é certo. Só a morte podeme impedir", declarou Castaneda.

Como revelasse um extremodesprezo por meros fatos objetivos,ficou mais ou menos claro que seriamais do que possível que as suasmentiras se estendessem até os seusescritos. Opinião corroborada, por'exemplo, pelo chefe do departamentode etnografia do Museu Nacional deAntropologia do México, Jesus Ochoa,que declarou acreditar que o trabalhode Castaneda tinha uma alta por-centagem de imaginação.

é evidente que opiniões de etnólogospouco ou nada influenciariam noconsumo dos livros de CarlosCastaneda. (Depois de A Erva doDiabo, ele publicaria Uma EstranhaRealidade e Viagem a l.xtlqn.) Elesrapidamente deixaram os gruposligados apenas à onda de magia emisticismo para conquistar o públicode um modo geral, por uma razãobastante simples: foram lançadosexatamente no momento em que arazão, como a forma por excelência do

Os ensinamentos de Carlos Castanedat

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homem resolver os seus problemas, setornava mais e mais deotrpditaHa noshstados Unidos. Uma busca confusa edesregrada já existia há anos em tornodo zcn-budismo, da arte indiana e detoda a tradição esotérica ocidental eoriental. O próprio profeta dos tempospsicodélicos, Timothy Leary, já tinhaacontecido.

Critica ao racionaliimo

Não era surpresa portanto que oslivros de um antropólogo que par-ticipara de uma experiência mística enão racional fizessem sucesso. Etivessem ainda mais chances deconquistar o grande público, graças aoaval de autoridade científica que lhe*era outorgado — afinal A Erva doDiabo não fora aceito como tese deloutorado? Assim, unindo umatécnica narrativa de ficção — a históriado processo de inciação de um jovemcientista nas artes mágicas dosindígenas — a uma pretensãocientífica, os ensinamentos de DomJuan teriam, quase que forçosamentede se transformar em best seller, pelojnenos nos Estados Unidos.

A tese de The Teachings of DomJuan, porém, não é suficientementerevolucionária para promover intensosdebates entre pessoas que tenhamvagos conMctmentos de antiopologiaou saibam üni pouco a. respeito dopensamento mítico dos povos ditosprimitivos. A descrição do que seriauma forma não racional deconhecimento e a crítica implícita queCastaneda parece fazer aoracionalismo ocidental, que teriainibido consideravelmente nossasfaculdades perceptivas, sãodescobertas que não podem sercomparadas com justiça à invenção dapólvora. Mesmo porque até um an-tropólogo que criou um sistema tãorigoroso formalmente como Lévi-

Strauss já tinha dito que "a linguageme a civilização cientifica contribuírampara empobrecer a percepção e priva-Ia de suas implicações afetivas estéticase mágicas, e para tomar o pensamentoesquemático (1)".

Ò que Lévi-Strauss e provavelmentenenhum outro antropólogo teriacoragem de anunciar é que se trans-formaria, custasse o que custasse, err.feiticeiro. Nem teria coragem paraignorar dois mil anos de pensamentológico-abstrato e sair em busca depoderes mentais que teriam sidoperdidos durante a evolução dopensamento racional. Não que sejasumariamente ridículo quererconhecer a sabedoria dos povos"primitivos", ou que se possa negartodo e qualquer valor ao pensamentomítico. O próprio Lévi-Straussdemonstrou a lógica cerrada que rege opensamento mítico e o equívoco que oOcidente cometia em considerá-lodestituído de qualquer organizaçãoformal. Além disso, poetas modernoscomo o francês Antonin Artaud (2)encontraram no mesmo México e nasmesmas plantas de Castanedaelementos que consideraram fun-damentais para a compreensão da arte.

Méritos literários

Mas se, do ponto de vista científico,a obra de Castaneda não parece dasmais irrepreensíveis — asistematização que se pode encontrarno final de A Erva do Diaboprovavelmente não convence a umespecialista — do ponto de vistaliterário ela tem méritos indiscutíveis.Castaneda sabe levar o relato a seuclímax e não seria forçado comparar AEr\'a do Diabo ao famoso Lobo da

II) Les Structures Elementaires de IaParente, Ed, PUF — Paris.

Estepe, do escritor alemão HermanHesse. Em auibos a trama se desen-volve em torno da progressiva edolorosa iniciação do personagem,obrigado não só a abandonar os seusantigos esquemas de pensamento comoa passar por experiências que o deixama um passo da loucura. O fascínio dopersonagem Dom Juan —¦ exista ele defato em algum ponto obscuro doMéxico, como sustenta o antropólogo,ou não — também é indiscutível. Comoantropólogo, o dever do autor talvezfosse o de tentar separar no velho índioaquilo que era realmente sabedoriaacumulada ao longo de gerações, econservada viva por um homem in-teligente. e a ingênua superstição quemuitas vezes demonstra. Mas semdúvida, do ponto de vista fíccional, foiimportante manter o personagemcomo um todo enigmático, teatral equase impenetrável,

i-

Novo herói ,

O segundo livro de Castaneda, UmaEstranha Realidade IA Separa teReulityl. poderia ser uma tentativa desistematizar com mais rigor os en-sinamentos de Dom Juan. Ao invésdisso, o livro aproxima-se ainda maisde um romance. Logo nas primeiraspáginas o leitor fica sabendo que lera acontinuação, com passagens repetidasinclusive, de .4 En-a do Diabo. E épossível que se sinta desanimado com aperspectiva cie seguir acompanhandoas peripécias desse antropólogo quenem adota uma atitude científicacoerente nem se mostra capaz depenetrar inteiramente na sabedoria dovelho índio feiticeiro.

Mas em Uma Estranha RealidadeDom Juan se revela ainda mais in-teressante: assemelha-se por seusparadoxos e sutilezas a um mestrezen-budista. (Não teria o misteriosoCastaneda lido muno a literatura zer* e

taolsta h<4e bastante difundida nosEstados Unidos?) Há momentos emque o relacionamento entre o mesjre¦ u ü. iuani e o aprendi* (CaitaiWdalreproduz Iklmcnie t* que se estabeleceum mosteiros «n: o mestre tentando,por meio dos K*>an% lespeeie deuur • c pâradoiaisi. Hrrar o discípulode seus eondiaonamcmat logkm e dasimo que o bom senso lhe impôs dasida.

A estranha.realidade de que fala oesenior-antropâiojfo é aquela que sepode contemplar aprenderão a "ser",no sentido que Dum Juan dá a essapalavra. "Ver" seria muito mais doqut ornar ¦¦¦¦¦¦¦¦* capacidade de atingir"estfdos nào comuns" que trans>formaria por completo nossa relaçãocom o mundo. Para se chegar a "ter"— objetivo final na sida de umfeiticeiro — é necessário umadisciplina rigorosa e oposta à tradiçãoracionalista. Uma verdadeira luta.durante a qua! o pobre Castaneda secomporta muitas vezes como umacriança amedrontada.

A impressão quase inevitável que setem ao abrtr VtagtatÁ Jxtlan iJoumey

r<< Ixtluni icrtciro e ^timo litr» vohrcos encontros de Carjbf Castaneda comDom Juan. é a de 40c o autor en-contrara um tema que fez sucesso eentão nào queria abandoná-lo. Eleinsiste im espremê-lo atê a última gotanuma lenta operação que se prolongaao longo de 24? páginas. O livro é umaretomada de muitas passagens de AI. -.a do Diabo e Uma EstranhaRealidade, as quais pretendeaprofundar ou pelo menos tornar maisdetalhadas.

O que sustenta Viagem a Ixtlancomo uma nc-tela (?) razoavelmente* agradável é a habilidade de Castanedacomo escritor, uma vez que as suasambições cientificas parecem terparado timidamente no final de seuprimeiro livro. Mas mesmo essahabilidade não é suficiente paratransformar os seus livros naquilo queeles talvez pretendam ser: o relato dasaventuras de um novo tipo de heróimitológico, uma espécie de Fausto damoderna sociedade indostrial. com acoragem de enfrentar o própriodemônio — aqui representado pelaloucura das plantas alucinógenas —em troca do saber. Essa tarefa até certoponto bastante ambiciosa exigiria, noentanto, um Thomas Mann pararealizá-la. Talvez Castaneda estejamais próximo de ser uma espécie deJames Bond às voltas como os perigosdo mundo interior.

Como o espião inglês. CarlosCastaneda não se caracterizaprecisamente pela inteligência. A suaposição com respeito a Dom Juan esobretudo às plantas que era obrigadoa ingerir revelam uma espantosaingenuidade intelectual e falta de rigor.Um poeta, o belga Henri Michaux 13).cujo ofício não exige á primeira vista origor científico que se espera de umantropólogo, foi bastante mais con-sequente. Relatando as suasexperiências, embora menostruculentas do que as do peruano (oubrasileiro?). Michaux demonstra umaatitude reflexiva que torna o seudepoimento muito mais esclarecedordo que o de Castaneda. E muito menossujeito a interpretações fantasistas.

No Brasil, a julgar pela sofreguidãocom que foram lançados, num curtoespaço de tempo, os três livros deCastaneda, pode-se prever um sucessosemelhante ao que ocorreu nos EstadosUnidos. Em meio à onda de "exor-cistas" e "b<rbés de Rosemary", oslivros de^/Castaneda são atésofisticações de consumo e não deixamde criar uma certa expectativa. Em suaentrevista ao Time, o antropólogoavisara que se transformaria cer-tamente num feiticeiro. Não se sabe aocerto como interpretar essa frase.Talvez não haja outra solução senão ade esperar pacientemente pela trans-forjnação. (Ronaldo Brito)

12) Antonin Artaud (1896-1948) eraligado ao movimento surrealista. Olivro em que descreve sua viagem aoMéxico c Les ¦ Tarahumaras, Ed.Arbaléte, Paris.I.V Ver Conaissance p.ir les Gouffres,Ed. Gallimanl. !%l. L'Infin: Tur;btilent. Ed, Mercure de Frunce. l%4:Les Grands Épreuves de L'Hsprit. /:"./.Gallimanl. 4%9; Misérable Miracle.Ed. Gullimard. /<>7:.

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fr

IIOpMiièo. j I d; mgg jg jgj

fffMira uma sei e uma boa seiJE#"-> hasta uma vaquinha —

andando na estradinha e essa saquinha— muu que andava na estradinhaencontrou um menintnho bonltinhochamado nenezinho patinho".

De forma bastante adequada. Jovcccomeçou Retraio do Artista com umahistória para ninar crianças emlinguagem infantil, Mas o processo porque aprendemos a falar ("nós" refere*se a todos os seres humanos falandotodas as línguas da Terra) é con<sidcrasclmente mais comples© do quea linguagem infantil. Entre as noçõeserradas sobre linguagem infantil esiá ade que representa uma maneira ins-tinttsa. "natural", das criançascomcsarem a falar, e que é umaimitação adulta da fala infantil. Averdade 6 que a linguagem infantil ésimplesmente uma variante dalinguagem adulta, ensinada às criançaspor adubos, os quais, então, após unspoucos anos. encorajariam ascnanças a deixar de usá-la.

O dado realmente fascinante sobrelinguagem infantil é a universalidadede sua forma e de seu conteúdolingüístico, como se demonstra airavésde uma comparação da forma dessafala em seis línguas completamentediferentes: inglês dos Estados Unidos,espanhol, árabe falado na Síria,marathi na índia, gilyak na Sibéria ccomanche índio na América do Norte.Os vocabulários reais da linguageminfantil nessas seis línguas sao ecr-lamente diferenies: entretanto, aspalavras revelam surpreendentessimilaridades cm característicaslingüísticas. Todas

"as seis línguas

simplificam grupos de consoantes(como os falantes de inglês quandosubstituem stomach por tummv (2):

/// Peter Farb é lingüista e tem várioslivros publicados, entre os quais Man'sRise to Civilization. Ecology. The Faceof North America »• Word Play: WhatHappens When Pcople Talk.(2) Argumentar que eles assim o fazempf>dc parecer refletir os pontos de vistadeJean Piaget e da Escola de Genebra.Trabalho psicolinguistico recente sobreaquisição da linguagem está sendopesquisado longe de simples regras eanálises e mais perto do interesse dePiaget na relação entre cognição e suaexpressão lingüística. O obstáculofundamental para uma maiorinfluência da escola de Piaget sobre osamericanos foi. acredito, que ospsicólogos da linha de Piaget estudama linguagem como parte da atividadecognitiva total da criança — incluindopercepções de tempo, número, formas,atividades lógicas tais_ comoclassificação e outras — e não comoentidade em si mesma. A escola dePiaget propõe que o desenvolvimentocognitivo proceda de si mesmo durantea interação da criança com o ambiente,e é seguida pelo desenvolvimentolingüístico, mas este desenvolvimento,geralmente, nao tem um efeito sobre acognição. Contudo, o próximo passo na

pesquisa sobre aquisição de linguagempode ser influenciado em larga escalapor Piaget. Embora não tenhaproposto explicitamente uma teoria daaquisição da linguagem, outros têmtentado delinear como poderia ser essa

'teoria- Ver, por exemplo. A PossibleTheorv Acquisition Within the GeneralFramework of Piaget's Developmental

¦Theory por H. Sinclair de Swart emStudies in Cognitive Development.editado por D. Elkind e J. Flavell(Oxford üniversity Press. 1969, págs.326-336). '

A lógica do tatibltatePeter Farb (l),Thc New York Rcvncwof Books

elas reduplicam silabas (mi*ml).alteram palavras de maneira con«sistente para formar diminutisos(carrinho, bolzinhe). eliminampronomes ("papai quer" em sez de "eu

quero"): em muitas das línguas cortamsílabas não acentuadas (é quando, eminglês. gõod-bw se toma byt ou byt-byr). A existência de tais similaridadescm línguas muitíssimo diferentes emextensos aspectos sugere que adultossem aprendizado das outras teriamchegado quase às mesmas fórmulaslingüísticas.

Está'se tornando também claro queiodas as crianças atravessam fases naaprendizagem da fala. In*dependentemente da língua dacomunidade cm que nasceram, e queessas fases nada têm a ver com idéiastradicionais sobre "linguagem in-faniil". A Psicolingulstica temrecolhido muita» provas de que ascrianças falantes de inglês de todas asorigens étnicas c classes sócio-econômicas atravessam fases sur-preendeniemente similares dedesenvolvimento nesse aprendizado:além disso, estas fases parecem ser asmesmas para crianças cujas línguasnativas representam mais de 30 línguasde famílias lingüísticas muitodiferentes.

Não admira que o recentecrescimento de interesse sobreaquisição inicial da lingua nativa tenhasido extraordinário, começando há uns15 anos e crescendo rapidamente nosúltimos cinco anos. Como escreveRoger Brown (3):

"Em todo o mundo as primeirassentenças de crianças pequenas estãosendo esmeradamente registradas emfita magnética, transcritas e analisadascomo se fossem as últimas palavras degrandes sábios. O que é destino sur-preendente para expressõessemelhantes a 'o cachorrinho'. "mais

leite' e 'jogar bola'".As capacidades intelectuais dos

bebês e crianças pequenas sãonaturalmente muito limitadas. Porém,começando com cerca de um ano emeio de idade, num período de menosde quatro anos. todas as crianças,limitadas ou inteligentes, dominammuitas das estruturas extremamentecomplexas de sua língua — e o fazemantes mesmo de entrar na chamadaescola primária. Os pais podem excitare encorajar as crianças muito jovens afalar, mas sua influência é desprezívelpara levar a criança a um trabalhosubstancialmente melhor ou pior naprodução da gramática da língua.Uma criança não fala muito mais cedoou mais tarde enj função do apoio ounegligência da família: e quandofinalmente começa, a falar, o faz.deuma forma fixa semelhante à dascrianças em geral. Os pais de classemédia pensam que influenciam a falade suas crianças, mas isso é verdadeapenas no que se refere_a correções napronúncia e a eliminação de palavras-tabu. Numerosas observaçõesrevelaram que os pais quase nuncacorrigem os erros em sintaxe (e, defato. não parecem mesmo estar cientesda maior parte deles).

A maneira complexa e fascinantepela qual aprendemos a falar estásendo compreeendida cada vez melhor,em grande parte, em razão do trabalho

Íioneirodc Roger Brown em Harvard e

)an Slobin M> e Suian Ervin 15) emHetkclcy e dos numerosos estudantesque influenciaram, O tapeto inicialpara uma nova abordagem daaquisiçàí» da linguagem seio há cereade 15 anos. de idéias levadasadiante por Noam Chomsky doMassachusscts Instituie of Technology(MIT) mais tarde elaboradas por ele cseuv colegas em discussões sobre

gramática iransformacional. Não éhora de vermos os prós c os contras dasFeições de Chomsky quanto a muitosaspectos da linguagem mas enfatizaraqueles pomos específicos que. In-dcpcndentcmenic de serem ver-dadeiros ou não. têm uma influêncialiberadora na Psicolingulstica.

Com uma brevidade vfbe esperamosnão atentatória quer a Chomsky quer aseus detratores, tesumiremos os pomosde visia chomskyanos que se referemparticularmente à aquisição dalinguagem pela criança.

Chomsky argumentou que um bebêé dotado de uma capacidade inaia deadquirir uma linguagem, a que ouve aseu redor, assim como possui umacapacidade inata para aprender aandar. Este código para linguagemtorna todas as crianças extraor-dinariamente criativas cm produzir ccompreender sentenças que nuncatinham ouvido anteriormente, e isto é

particularmente óbvio quando as

primeiras construções da criança sãoexaminadas. Nenhuma criança poderialembrar todas as sentenças que ouvecm sua lingua nativa (c. de fato. onúmero de tais sentenças éteoricamente infinito). Em vez disso,adquire regras gramaticais para acriação de sentenças, que lhes per-mitem produzir uma infinita variedadede tentativas de emissão de vocábulosem sua língua nativa, sendo que quasenenhum deles ouvidos anteriormente.

Um aviso: o termo "regras" deve serbem compreendido. Chomsky e os

psicolinguistas não disseram que osfalantes, adultos ou crianças, poderiamestabelecer explicitas (e extraor-dinariamente complexas) regras da

gramática de sua linguagem. De fato,ninguém pode — se por outra razãonão for senão pela inabilidade doslingüistas descobrirem até agora asregras completas e adequadas paraqualquer linguagem. O fato im-portanto é que desde o tempo de nossasprimeiras sentenças falamos como secompreendêssemos essas regras.Mostre a uma criança pequena umretrato de uma criatura imaginária ediga-lhe que se chama "zilim": entãomostre-lhe um outro quadro com duas

cnaiur«s iguais á primeira e ela saichamá-la sem hesitação dots "zilins".

uma clara indiraçãu de que possui umaregra para produzir plurais em por*luguêv. mesmo que ela possivelmentenão tivesse oustdo pres lamente aimaginada palasra

"ztSin" Da mesmamaneira, adultos seguem regras asmais complexas, mesmo que nenhumadulto, com exceção dos lingüistas,possa articuladas.

O Impulso de Chomsky

Enquanto a gramática trans-formacional de Chomsky deu o im-pulso para o trabalho de Brown eSlobin. e em menor extensão ao deErvin-Tripp. os lingüistas trans-formacionais. contudo, atacaram ametodologia da pesquisapsicolingulstica.

A discussão tem a ver essen-cialmente com a questão de com-petência versus performance(desempenho), uma distinção vistamais claramente im analogia com aaritmética. O fato de que alguém tenhacaptado e internalizado regras paramultiplicação (competência) nãosignifica que esse alguém produzirárespostas corretas para os problemas{performance). Tal distinção torna-semesmo mais clara no caso dascrianças, cuja performance icmprobabilidade de resultar numa taxaexcepcionalmente alta de erros demultiplicação.

Chomsky percebe, da mesmamaneira, que a linguagem infantil é cmgrande parte composta demanifestações gaguejadas.desajustadas e não gramaticais, c quetal performance é quase inútil para olingüista — que procura chegar a umdiscernimento da competência d3criança. A posição de Chomsky. queexpôs com considerável lógica, temmuito a recomendá-la — exceto queBrown. Slobin. Ervin-Tripp c outrostiveram extraordinários insights arespeito estudando performance. E poroutro lado os lingüistas trans-formacionais não tem oferecido umametodologia alternativa que tenha sido'produtiva.

13) A First Language: The Early Stages(Uma Primeira Linguagem: OsEstágios Iniciais). Roger Brown. ed.Haiyard— Estados Unidos. 437 págs..15 dólares.14) Psycholinguistics (Psicolingulstica).Dan l. Slobin. ed. Scolt. Foresman —Estados Unidos. 148 págs.. 3,40dólares.(5) Language Acquisition^ andCommunicative Choice (Aquisição daLinguagem e Escolha Comunicativa).SusatiM. Ervin-Tripp. ed. Stanford —Estados Unidos. 39.8 págs.. 10,95

. dólares.

De Castelo a Geiselcontinuação da página 5

Internamente, nosso dever primeiroé o de defender a democracia contra osseus inimigos ostensivos ou ocultos,internos ou externos, empreendendo aobra de restauração e consolidação dasinstituições democráticas, adotandosoluções adequadas à nossa realidade,restituindo ao povo o direito de

Ts"c"oiher livremente os seusrepresentantes, que temporariamentelhe foi retirado por necessidadeinarredável da ordem revolucionária,instaurando, enfim, o saneamento dos

costumes políticos de conformidadecom osprincípios e diretrizes em tornodos quais se irmanaram o povo e asForças Armadas em março de' 1964.

No campo social, competirá aoGoverno da Revolução, em suasegunda fase, manter-se per-manentemente voltado para osproblemas essencialmente humanosque poderíamos sintetizar nestetrinômio: saúde, educação e níveldigno de vida.

As doenças, a subnutrição, a in-digência, enfim, o modo sub-humanode se viver por falta de recursos, porfalta de habitação, por falta de

assistência, são chagas que corroemnosso organismo social^ e devemmerecer a maior atenção, o maisdecidido empenho na execução dassoluções 'mais aconselháveis, maiscapazes de curar males, real eefetivamente.

Eis porque envidaremos todos osesforços no sentido de realizar odesenvolvimento na base do homemcomo ser livre, como pessoa humana,na sua dignidade de filho do mesmoDeus. Desenvolvimento econômico edesenvolvimento social, desen-volvimento global que não se limita à

continua na página 20

' Os psicolinguistas foram en-

corajados a fazer pesquisa sobre aaprendizagem de fala com umadescoberta que parece lugar-comumpara o não especialista. A descobertafoi. simplesmente, que crianças,mesmo muito pequenas, pretendemdar significado ao que dizem (osprimeiros estudos ignoraram asconsiderações semânticas em favor deabstrações sintáticas). No tempo emque a maior parte dos bebês alcança ofim do primeiro ano. os pais nor-malmente identificam no seu balbuciaro aparecimento repentino deocorrências inteligíveis, formadas deuma só palavra. Estas são tec-nicamente conhecidas como "fala

holofrástica". na qual uma só palavra écolocada no lugar de uma sentençainteira e complicada. Um bebê ten-tando emitir a palavra

"bola" podesignificar (dependendo da situaçãoparticular da fala) "Eu vejo a bola"."Dê-me a bola", "Eu perdi a bola" ouqualquer outra coisa. Um poucodepois, lá pela metade do segundo ano,a criança coloca duas palavras juntaspara formar sentenças primitivas, taiscomo "mais leite", "dá brinquedo","papai, nenê caiu", "tá dodói".Estudos recentes mostram que mesmonesta fase inicial a criança está usando¦linguagem no sentido basicamentehumano de pretender comunicarsignificados que ultrapassam a meradenominação ou descrição de acon-tecimentos. Todos os pais sabem que acriança está, de fato, afirmando aexistência de relações particulares noseu meio-ambiente. Ela compreende,¦por exemplo, as relações semânticasíentre um agente (tal como uma coisaque bate) e um objeto (a coisa em que oagente bate), relações que em inglêssão expressas freqüentemente por umapalavra de ordem. Isso pode serdemonstrado por seu comportamento

diferente em relação è ordem Façaseu caminhão bater no carro e a•*dem "Faca seu carro bater nocaminha©". Ambas §s ordens en-«etsem as mesmas palasras e ação. masa mudança na ordem das palasrasdcttnc que btinqucdu í o agentetaquele que bate) e qual é o objeto (•ç»»na rm que se bate)

Um lato verdadeiramente espantosoque emerge dos estudos decruzamentos lingüísticos na fala dascrianças é a similaridade no seuprogresso em todos os lugares domundo, A expressão da criança falantede inglês, na função de pedido, comocf» mort milk tmah leite), tem umafunção similar c uma forma lingüísticasimilar quando usadas por alemães. •russos, finlandeses, nativos de Samoa.África Oriental, e por ouiras criançasem estágios equivalentes de aquisiçãode suas línguas nativas. De fato. umsimples conjunto de 18 relações pa-ra praticamente todas as tentativasde cnunciação por crianças muitopequenas falando inglês e outraslínguas tem sido estudado comfinalidades comparativas. Estasrelações incluem o nominativo (aquelabola), o possessivo (papaizinhoquerido), locativo (vá para casa),itribuiivo (bola grande) e outras.

Mesmo neste primeiro estágio, ascrianças falando línguas nãorelacionadas tendem a falar sobre asmesmas coisas — tais como localizaçãodos objetos, descrição de uma situação,ou uma expressão de pedido — c quasesobre eles mesmos ou sobre relaçõessociais. Quase todas as suas produçõessão nemes c verbos, nunca artigos oupreposições; usam uma forma inicialde negação que enfatiza a não-existência antes da rejeição ou danegativa absoluta. Aparentemente, assimilaridades na fala incipiente nasmuitas linguagens estudadas refletema espécie de crescimento cognitivo queas crianças em todo o mundo têm sobresua idade. As crianças que estãocomeçando a falar simplesmenteexpressam o que já sabem: primeiroelas pensam, depois elas falam.

A criança que está começando afalar logo produz sentenças de mais deduas palavras. A transição de duaspalavras para tentativas de enunciaçãomaiores podem realmente serdetectadas quando uma criançacomeça uma pequena sentença, entãofaz uma pausa e acrescenta palavraspara criar uma sentença maior comoem "Quer brinquedo". E hesitações

adiante indicam a compreensão pelacriança das relações gramaticais: umacriança que diz "fica de pé"...

"gato

fica de pé"... "gato fica de pé

(hesitação) mesa" desajeitadamenteofereceu uma visão do sistemagramatical que começou a adquirir.

Suas repetições e hesitações revelamque inconscientemente analisou estasentença em seus constituinteshierárquicos. Sabe a diferença: a entreo sujeito (gato) e o predicado (fica depé... mesa). Sua hesitação antes de"mesa" indica que em seguida dividiuo predicado no verbo (fica de pé) emlocativo (mesa). A criança podegaguejar, hesitar, dizer coisas tolas ouinteligentes, mas sempre operando emseus próprios princípios gramaticais.Mesmo que sua fala nesses anos iniciaisse desvie da fala adulta, o faz de umamaneira regular e sistemática. Aconclusão é inevitável: que tais ten-tativas de enunciação são construçõescriativas que resultam da análisepreliminar feita pela criança em sualíngua nativa.

Um discernimento posterior dosprocessos de aquisição da linguagemdiz respeito a verbos irregulares. Ospais sabem que as crianças flexionamincorretamente o passado dos verbosirregulares como se fossem regularçs,produzindo formas como "fazeu" ou"dizeu" e que continuam a fazê-lo nasescolas primárias. Este fenômeno,conhecido como "regularização", temtambém sido notado entre crianças quefalam muitas outras línguas. Aexplicação corrente costuma ser que ascrianças simplesmente estendem asformas regulares para o passado. Areal conseqüência dosacontecimentos, contudo, é maiscomplicada do que isso.

continua na pogina ao lodo

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Otmtêo II fhjmm f lt?«

centinuo^io do pòyno oo lodo

No ínkío at criança* usam os vetVnirregulire* corretamente: diiem"disse" e

"te*' Mas quando teu

«Mohnrtmentodegramíihía ¦••<- eipandee €t*mcçam a aprender »t passados demuitos ttrhot rettulares ->«¦•" andar etrincar, elas substituem at formas«orretat pelas incorretas.Aparentemrnte o forem porque apreponderância de format regularvtlhes permite discernir uma regrapara pastados: elas então "super'regulariram" a regra parainconscientemente aplicada tioamplamente quanto possível.vhegando até a eliminar de seuvocabulário as formas correias (disse,(e/l que ames conheciam. Como Slobincomenta. "Nada s<? pode fa«r senâi»fkar impressionado com a grandeprupcnsàu da% crianças parageneralizar, farer analogias, procurarrcgulartdadcs—em simesc. procurar ecriar ordem em sua linguagem".

Nada mais tenho feito do que sugerirque a Psicolinguistiea emdesenvolvimento è um eampo em queestão sendo efetuadas importantes

Íiesquisas. com implicaçoet em

inguagem. desenvolvimento infantil,mente, personalidade, nossoconhecimento do mundo a nosso redorc muitas outras coisas. Por exemp'o. acriança em crescimento melhorasensivelmente sua gramática,aproximando-se cada vez mais daforma adulta. Pareceria sensato que a

Começando com cerca deum ano e meio de idade,num período de menos

de quatro anos, todas ascrianças, limitadas ouinteligentes, dominammuitas das estruturas

extremamente complexasde sua língua

aprovação ou desaprovação dos paisencorajaria inevitavelmente a criança amover-se cm direção a sentenças maisbem formadas — mas a evidência nãosustenta esta sensata conclusão. O queentão impele a criança a colocar delado. um após outro, e em seqüência.os níveis infantis da fala até quefinalmente a forma adulta sejaalcançada? Para uma resposta a umapergunta dessas é preciso ir até asraízes do processo da mente. Alémdisso, uma resposta iria bastante longe,definindo o que é exclusivamentehumano. Nas várias épocas os sereshumanos foram definidos comoanimais fazedores de instrumentos,animais sociais ou"' animaisbrincalhões, mas todas essas definiçõestoram solapauas quando osbehavioristas descobriramcomportamento equivalente nosanimais. A unicidade dos sereshumanos precisa agora ser definida emfujjção da linguagem — e estecomportamento começa com asprimeiras palavras do engatinhante edesamparado bebê.

Todos os três livros comentados sãotrabalhos valiosos sobre este assunto,embora por razões completamente

, diferentes. Em apenas 148 páginasSlobin apresentou brilhantemente umresumo claro da situação dalinguagem, mas não se limitando a esseassunto; seu livro pode ser consultadopor qualquer leitor mesmo os semorientação neste assunto muitocomplexo, é bom ter os principaisensaios de Ervin-Tripp reunidos emum só livro. No mínimo porquemostram as interessantes questões que. podem ser/ levantadas na pesquisapsicolinguísrica. tais como o modo peloqual crianças bilíngües lidam com osdados para adquirir duas linguagens.O volume de Brown está escrito noestilo marcante dos principaistrabalhos pioneiros do gênero, mas éde tal complexidade que requer quaseuma espécie de estudo talmúdico.Estudo e paciência, porém,recompensados: é um livro interessantesobre um novo campo doconhecimento humano.

It

O »»• *>»<• do romanc* A Pedra doRe*no intui* ttittra • *: w% ptrnattonde foiam puNuadas • -.**. mimtuai tiMti mentrmentt, o nome «V¦-'* -'• •¦ '••-••' • ¦<*A*.td ¦¦i dramaturgoshfautrtrw. Afiam* Suassuna Cuma¦""¦'í"'-.n lahri /<•.•:<• •.;.. 0rt/ífom iW Qhmpm nrlantou a&**aduas das mau importantes peçat deSuassuna, O Santo e a Porca e OCatam?nio Suspeitos®,

Oicairo de Suassuna se debate

enire o realismo e a imaginação,entre a verdade social e a verdadereligiosa. E procura ser uma tinieseentre a atvimtlaçàu critica de umacultura clássica, sobretudo a comédiagrecolatina e os clássicos do teatroespanhol e protugues. e uma culturapopular brasileira autêntica, oromanceiro nordestino

Suassuna nasceu em 192" v> Paraíbae pastou sua infância no sertão dePernambuco. Estudou a culturaocidental na Faculdade de Direito ebatalhou nas primeiras lutas do Teatrodo Estudante de Pernambuco. Suasprimeiras peças procuram conciliarí .: •¦- de'Vega Caldcr6n e Gil Vicentecom a realidade do nordeste brasileiroEscreveu sua primeira peça em l°A7.

Suassuna somente se tomou umautor de repercussão nacional 10 anosdepois, quando O Auto da Com-padecida — com uma estruturaelaborada a partir dos autos religiososmedievais — foi apresentada no Riopelo Teatro do Adolescente do Recife,num festival de amadores. Lembro anoite de estréia: uma platéia perplexa,a grande maioria fascinada pelo queparecia ser o nascimento de um ver-dadeiro teatro popular nacional, umaminoria até revoltada diante do vigor e

TeatroFábulas nordestinas

da aparente falta de respeito de uma>,<'•>** popular qo* vigorosamentedestruía a ilusio de criar um teatrobrasileiro a partir da coloni/adaaculturação de testas estrangeiros

O Auto da Compttdtiida tUou umparâmetro inalienável no teatronacional e alcançou depoit estraor*dinária rcpercuttào no esicrtor? en<cenada em todo o Brasil por graposamadores e profissionais.' •< encçnadae traduzida em alemão, inglês, frantés.italiano, espanhol, polonês, (checo,brandes, finlandês c hebraico. Averdade é que llcamov •¦•:•¦¦. á etperade novos textos de Suattuna e i'»-" loio ano em que. sem atingir o nivcl deseu maior êxito, escreveu lambem OSanto r a Porca (inspirado numa peçade Flauto, a mesma que seniu deponto de partida para 0 Avarento deMoliêrcJ e O Casamento Suspritoso.

Como se autodeflne. através de umpersonagem, no final de O CasamentoSuspritoso. Suassuna é um moralistaincorrigivcl. E seu teatro traduz umatisio religiosa, católica, mas nem porisso isenta de indagação c critica a umaestrutura social fechada. Condenarcomportamentos "eternos" c"universais" do homem, sem iden-tificá-los com uma situação históricadeterminada, é o objetivo e a limitadaconclusão de sua apreensão darealidade. O que não invalida, masdiminui, o vigor popular e polêmico desuas obras.

Em O Casamento SuspritosoSuassuna se detém num moralismo

"edificante", mat primário, nãosolucionado dentro da estrutura daobra. mat anifkialmenie imposto notinal. quando os personagens sepenitenciam diante do publico peloscrimes de lusória e cobiça. Já em OSanto *> a Porca Suassuna consegue darao (exio. ainda que esquemádco. umsignificado maiv amplo, na medida emque ¦!'-'.:./ na temática ceniral uma;oniribu»çâo mait pettoal e mait forte.O tema k o mesmo de Flauto e deMolicre. o homem alienado à posse dodinheiro (e í preciso acentuar que odinheiro i o tema que motiva assituações das duas peças}, só que odinheiro guardado pdo avarento nãovale mais nada. há muitos anos estáfora de circulação.

Assim, o personagem está perplexodiante do vazio: será que isso temsentido? será que tudo tem sentido? Afábula -.'¦.:;a

que o avarento foitraido, Na introdução do texto deSuassuna. José Lauréndo de Meloacentua, com precisão, que Suassunagostaria de crer cm Deus como ascrianças, mas crê com angústia, fervore perguntas. O próprio Suassunaafirma, apresentando o texto, que avida é uma traição continua, que aúnica salda para seu personagem, noimpasse em que se encontra, é ocaminho de Deus. que ele haviaseguido num primeiro impulso, mas doqual depois havia se desviado aospoucos, pela idolatria do dinheiro, dasegurança e do poder. Para Suassuna,esta é a conclusão moral da peça. a

«á algo de errado nu quarto onde

Jack Lcmmon executa seuritual matinal, no começo de Sonhos dnPassado fSave the Tigerí. A impressãoé a de que o personagem. Harry Stoncr,está numa suíte de hotel e não em suaprópria casa. Os indícios de quenaquele ambiente luxuosamente frio eimpessoal o sr. e a sra. Stoncr moram,e fazem amor. são dados pela apariçãode uma parafernália eletrônica in-crementada demais Uape-deck. rádio.TV com controle remoto) para fazerparte do serviço de um hotel.Casualmente ou não. toda a seqüênciade abertura expressa, em seus váriosníveis de leitura (sobretudo o indiciai-decorativo, reflexo perfeito da vidaartificial e perdulária do casal Stoner),as limitações e as pequenas virtudes deum certo tipo de cinema popular.

De saída, possibilita a Jack Lemmonexercitar-se num solo em que se tornoumestre às custas de repetidas per-formances. Nenhum ator de cinemalevanta de uma cama, toma banho,escova os dentes ou simula uma gripecom tanta convicção e justa dose derealismo como ele. Enquanto a câmaralimita-se a registrar a pantominaperfeita de Lemmon, o filme mantém-se a- um nível elevado de en-tretenimento. A entrada de umsegundo personagem, a sra. Stoner,não altera o equilíbrio do espetáculo.Nos surpreendemos/sem dúvida, coma sua emersão dos lençóis (afinal,acreditávamos que Harry estivessesozinho num quarto de hotel), mas aatriz Patrícia Smith, como de resto todoo elenco, não destoa do irrepreensíveldiapasão orientado por Lemmon.Quando, porém, Save the Tiger deixade lado os sortilégios da puragestualidade e se põe a pensar (e, o queé pior, a pensar em voz alta), os rugidosdo tigre ficam insuportáveis.Aparentemente não há a menornecessidade de Harry acionar toda asua maquinaria eletrônica antes dobreakfast, mas ele o faz porque sóassim o diretor John G. Avildsenconseguirá situá-lo historicamente,topograficamente e socialmente.

• Nos velhos filmes americanos osmeios de difusão viviam incrivelmenteà mercê dos acontecimentos engen-drados pelos atores. Se um criminosoem fuga ligasse o rádio era certo queum locutor interrompia a música paradar alguma notícia a respeito da fuga.Quantas manchetes de jornais não 'foram desperdiçadas com notícias

CINEMAUm tigre sem salvação

sobre casamentos, divórcios e mortesque. normalmente, na "vida real",mereceriam apenas uma modesta notanas páginas internas? Nos anos 60. os

•meios de difusão passaram a ter umanova. mas ainda subalterna, serventiacinematográfica: em vez de senir(informando) aos personagens, elesagora servem à platéia, £ através delesque os cineastas reforçam ar-tificialmente os seus recados ou situamideologicamente os seus filmes.

Por isso é que sempre que umpersonagem liga à TV- ou o rádio" ainformação veiculada (noriciosa oumusical) "significa" alguma coisa.Nada a objetar em se tratando de umfilme em que tudo está sob controle docineasta, ou. como dirá Pasolini, em setratando de um "filme de poesia".Jean-Luc não fez outra coisa senãodotar de "significações" as mensagensmais banais dos rádios, dos televisorese dos jornais em seus filmes. Foi oCinema de Autor soprado da Europaque alterou o modo de usar os meios dedifusão no cinema americano dos anos60. Esse novo modo, no entanto, entraquase sempre em conflito com a índoleintuitiva e^ as tradições elípticas do

cinema tradicional americano —conflito este que nenhum cineasta (oAnhur Penn de Mickey One e Bonnieand Clyde e o John Boorman de PòintllTank chegaram perto) conseguiuainda'solucionar. E não há nada maisinsuportável do que interrupçõesintelectuais lou intelectualizadas)numa conversa simples (ou simplória)como de hábito costumam ser os filmesamericanos.

A seqüência introdutória de Save theTiger estremece em sua sólida con-sistência behaviorista justamente aoapelar para o recurso pouco sutil daexpletiva por vias eletrônrtas. HarryStoner tem de ligar seus aparelhosaudiovisuais para que a platéia fiquesabendo que: 1) Los Angeles é uminferno de poluição e 2) Harry é umfanático saudosista da música populardo passado. Nenhuma dessas in-formações, porém, se mostram tãourgentes a ponto de justificar suaforçada, ou pelo menos apressada,transmissão (a primeira pelo noticiáriometeorológico da TV, a segunda pelaexecução de um pasticho de Bennyüoodman) a menos de 15 minutos dosletreiros de apresentação. Como ofilme não se caracteriza exatamente

tida. uma aventura cotidiana diflcil.nao tem sentido tem Ikus A peçatermina, ê verdade, n^ms indagaçãoMat a resposta do autue aparecenítida. Deixando de lado o com-ponamenio moral de seu personagem.resta, inesperadamente, uma con-clusáu que revisa, a partir de sua srsãode mundo, o tema clássico, I aparábola materialista de Pfauío passapara o eampo saiio da metafísica,

O Santo v a Porca contudo guardauma sitalidade como (ema social,popular. Nela Suatsuna revela umdomínio tivo do teatro, criandosituaçôc* e personagens com dever)-soltura, com domínio veguro de seumaterial. Em O Casamento Suspritoso.isso acuniecv igualmente mas com umresultado mais pobre, apesar dofasri nb dos doit pcrviiugcnv centrais.Canção e Gatpar. que repetem (e nãohá nada de errado nisso, comoquiseram ter alguns crilicusi a duplaIo*o Grilo — Chico de A Compadecida.

Suassuna se define como um autorrealista: á maneira da nossamaravilhosa literatura popular, quetransfigura a vida com a imaginaçãopara ter fid à vida. A proptnta de seuteatro é antiilusiontsta embora acabeprisioneiro de um outro tipo deilusionismo, no teu significado.

£ evidente a qualidade vupcriur de OSanto e a Porca cumo texto teatral,proposta e significado critico. Mas.mesmo assim, em ambas as peçasSuassuna consegue — ainda que aestrutura da comédia clássica nao lhepermita a liberdade fornecida pelaestrutura aberta do auto medieval,como aconteceu com A Compadecida— propor um teatro que. segundo afórmula clássica da sátira greco-romana, através do riso castiga oscostumes. (Andréa Sarti)

pela sutileza, as apressadas confissõesle nostalgia de Harry por antigos

craques de beisebol e pdos arranjos deGoodman c Charlie Christian soamainda mais perfuntórios no final,quando, mais uma vez. / CVxn'f CetStarted (que "significa" a im-possibilidade de um recomeço, emtodos os sentidos, para o personagem)inunda a trilha sonora com suarespeitável carga emocional.

_ Se é dificil simpatizar com um filmetão sublinhado e esquemático. maiscomplicado ainda é acreditar — eestimar — em Harry Stonner.Estratagemas, contudo, não faltam.Jack Lemmon é um intérprete en-volvente. capaz portanto de nosdespertar compaixão por um homemde negócios atormentado por • lem-brancas da II Guerra, pela falênciaiminente dos seus negócios e pelo medode envelhecer e de não entender mais oque está acontecendo ao seu redor.Quando lhe perguntam a idade, eleresponde com evasivas humorísticas.Esse Peter Pan contemporâneo docomplexo Vietnã-Watergate-SpiroAgnew daria um belo e trágico per-sonagem se o seu autor, o produtor eroteirista Steve Shagan, fivesse umasensibilidade menos deformada pelosmaus filmes (Movidos pelo ódio, OHomem do Prego) que tentou copiar oupela dramaturgia urbana (o Odets deA wake and Sing. quase todas as peçasde Arthur Miller) que não soubeatualizar. (Sérgio Auguto)

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20Op«óo II dt morçode 1174

Entrevista com Thomas Farkas (o produtor de "O Pieapau Amarelo")

Documentando como vivem os brasileiros

Recentemente lançado no Kio

• Sio !'->•• '' Piwpau Amarelaili é produzido ; i Tnomat Farkat edirigido por Geraldo Sarno, Estes doisnomes já haviam tido vistosanteriormente nas mesmas funçõespelos espectadores que tiveram acessoa importantes documentários de curtae média metragens sobre a sida e astradições no nordeste do Brasil, comopor etcmplo Virumundo. Vim Cariri.Jornal do Sertão. Vítalino 'Lampião,Na serdade O Pieapau Amarelo é oprimeiro longa-mciragcm produzidopor Farkas. Húngaro de 50 anos quechegou ao Brasil com quatro, eleconsidera o documentário suaprincipal atividade como produtor e.eventualmente, fotógrafo.

Produtor da térie A CondiçãoBrasileira — cerca de 20documentários de vários diretores (2)que. segundo Farkas. procurammostrar "como vive o homem doBrasil" — ele fala em entrevista aGetúiio Dutra Bittencourt, paraOplnlio. dat dificuldades,principalmente de ordem técnica e decomercialização, da produção dessetipo de filmes. Mas para Farkas essasdificuldades são também fonte deexperiência e os problemas decomercialização, pelo menos quanto àsituação pessoal de Farkas. sãocompensados com sua loja deaparelhagem fotográfica cm São Pauloc as auias de fotojornalismo elelcjornalismo que dá na Escola deComunicações da Universidade de SãoPaulo (USP).

Pergunta — Sua entrada nomercado dos filmes de longa-mctragemé o final dos documentários da série ACondição Brasileira?

Thomas harkas — Não. Foi baseadono nosso interesse em continuar osdocumentários que vim procurarrecursos no mercado do longa-metragem.

P. — Em quanto tempo você calculao retorno de seu investimento — Imilhão de cruzeiros — no Pieapau?

T.F. — Isso é muito variável. Se ofilme for bem. ele retorna em um ano.se for mal retorna em três ou quatroanos. Mas certamente vai retornar,pois teve um orçamento caro. porémrealista. A trajetória comercialdepende de fatores alheios • aoprodutor. Eu não posso escolher o-.circuito de cinemas exato que quero, asdatas que quero. Como está é aprimeira experiência, a gente nãoacertou 100 por cento em todas ascoisas que fez, é evidente.

P. — Quais as principaisdificuldades que você tevCna produçãodo Pieapau?

T.F. — At dificuldades tio at de umprodutor ctpcrienic na área do curta-metragem que. quando chega nolonga metragem, encontra-te com otproblemas de uma produção muitocomplicada, com muitos figurantet,montes de coisas a serem feitas, o sitiotodo reformado num lugar longe, faltade alojamentos, deficiências detransportes... Não vou dizer que achuva também atrapalhou, claro,porque ai a culpa nào é da produção.

P. — Qual a origem dosdocu ntittu.i da «'.-¦• A CondiçãoBrasileira?

T.F. — Esses filmes tio um projetomuito antigo meu — do inicio dos anos60 — de mostrar como vive o homemno Brasil. Em 63. 64. começaram asurgir os amigos com quemconseguimos armar as produções. Aintenção era mostrar como vive ohomem do norte, do nordeste, quaistão os problemas dele. Porque nósconhecemos muito pouco do brasileiro.O cara do Kio Grande do Sul nãoconhece nada do vaqueiro nordestino,eles não se comparam. Não existiamfilmes que comparassem aspectos dosvaqueiros de diferentes regiões, nem asdiferenças de fala. de usos. decostumes. Em geral, os filmes mostramSão Paulo como a grande ilusão doprogresso, do tecnicismo. de prédios,usinas c fábricas. São filmes depropaganda, não são filmes queexploram uma realidade maisconsistente. E nós nos propusemos afazer os filmes que completariam, porexemplo, a visão do lean Manzon.Enquanto o Jean Manzon mostra umlado, nós queríamos a visão de dentro '

para fora, queríamos mostrar o que ohomem faz. O que o homem faz émaravilhoso c cie não se reconhece-nasfábricas e nas usinas, exclusivamente.

E esse trabalho é umadocumentação para o futuro, porqueessas coisas estão em mudançacontínua: o que você encontra nointerior hoje, daqui a dois anos vocênão encontra mais. A estrada ou osprodutos industriais já modificaramtudo. Condições primitivas desobrevivência estão em fase, dedesaparecimento. Então, tudo isto agente queria documentar. Fazer uns100 ou 200 filmes, para o professor viraqui e dizer: "Olha, eu vou dar aulasobre problemas brasileiros, queromostrar como é á cultura da banana, acultura da carnaúba, como vive ohomem da pesca". E ele leva três ouquatro filmes, leva para a classe,projeta e discute com os alunos. Sim,discutir será preciso, porque eles nãosão filmes técnicos, que descrevemsimplesmente um processo. Estes,filmes não são uma aula. são um pontode vista de autor, subjetivados. Porenquanto há 20 prontos — quero fazer

outros 20 filmes logo mais — feitos porcinco ou seis cineastas diferentes.

P. — llâ sete ou <>.'•• ano* *ocireuniu quatro i/o{ documentário* —Escola de Samba. Subterrâneos doFutebol. Viramundo .- Memória doCangaço — num tonga-mrtrugem.para comercializa-Ias. Sao deu certo?

T.F. — Sim. foram os quatroprimeiros, produzidot entre l%4 c1966 e rcunidot em //rw»i7 Verdade.Nào deu ceno. o filme loi muito mallançado. Tive falta de tone: a firmaque lançou não preparou nada.Ouando socé entra na pane comercial,termina a proposta cultural. Você temque pegar o seu filme, que nestemomento tira uma lata de goiabada, ecomercializar como %c comercializauma lata de goiabada. Você tem desaber como i que se comercializa isso.Nós estamos aprendendo agora.Estamos apanhando, mas vamosaprender.

P. — Sua idéia original era venderesses documentários parauniversidade* e emissora* de televisão?

T.F. — Sim. Entretanto, com asemissoras de TV. no final dosentendimentos nada se concretizava.As pessoas achavam que as imagenseram muito violentas, que nãorefletiam o desenvolvimento industrialadequado, e ficavam com medo. Masiodos os 20 documentários têm censuralivre, não vejo motivo nenhum paraproblemas. Houve receio dedesagradar cenas áreas, o que não temfundamento. Por exemplo, um dosfilmes mostra um matadouroprimitivo. Pois a gente poderiacontrapor a essas imagens outras deuma moderna indústria de carnes,obtendo contrastes interessantes. OBrasil é um país cheio de contrastes. ATV Globo apresentou hâ pouco umdeles. Frei Damião. remontado ereduzido pelo Paulo Gil. Pode ser queoutras se interessem ainda.

P. — A mesma Globo produziualguns filmes, dirigidos por Guga eMaurice Capovilla. com roteiros deJeaifClaude Bernadet. Ela não teriainteresse em comprar a sua série?

T.F. — ê que eles pfeTerem fazer osfilmes. Aliás, todas as televisões domundo preferem fazer os filmes comsuas equipes, ou co-produzir. e só emúltima instância comprar. Querem tero controle da elaboração.

P. — E auniversidades?

venda para as

T.F. — Nós não temos uma máquinadistribuidora, que contate as

De Castelo a Geiselcontinuação da página 18

elevação dos índices de produção, aoaumento das riquezas, mas que visemprioritariamente a integração social eeconômica do povo, dando-lhe acessoaos bens essenciais da vida, semdiscriminações.

A revolução se projetará, sobre ofuturo, se conseguir realizar demaneira eficiente esses propósitos, quevisam a ensejar a plenitude dademocracia e a desenvolver a cons-ciência cívica de nossa população,tornando-a sadia e instruída eproporcionando-lhe, » custe ossacrifícios que custar, o pão do espíritoe o pão da vida. (...)

Sociais também são os problemastrabalhistas.

Neste setor, há que incentivar a vidasindical como expressão autêntica dademocracia social, preservando eaperfeiçoando os direitos sociais,estimulando a sindicalização e a

garantia de sua autonomia dentro dasfronteiras da representaçãoprofissional, assegurando o direito devoto a todos os trabalhadores paraeleição dos dirigentes dos seus órgãosde classe, dirigentes que sejam alegítima expressão dos reais interessesde cada classe e não profissionais daagitação ou da subversão, que maisdefendem suas ambições políticas doque os direitos dos trabalhadores.

É indispensável, por outro lado, aparticipação dos trabalhadores eempregadores no planejamento e naexecução das medidas que visem aobem-estar social.

É de ver neste seior que o Governocontinua atento aos desdobramentosdos problemas salariais , e procuraassegurar, a par do salário mínimoreal, um salário de produtividade,mantendo-se constantemente vigilantepara que os direitos e as justasreivindicações dos que iabutam noscampos, nas cidades não sejamsacrificados ostensiva ouastuciosamente. (...)

No campo militar, há de animar nonovo Governo o propósito de-persistirno reaparelhamento e na remodelaçãode nossas Forças Armadas, de sorte aque, mais eficiente e menos onerosas,,se conservem inteiramente dedicadasàs suas tarefas profissionais, coesas eunidas no cumprimento de sua nobre ealta missão de preservarem a nossasegurança interna e externa, livres dolabéu injusto e infamante de umsuposto militarismo que jamaiscaracterizou as nossas Forças de Terra,Tvlar e Ar. (...)

Da reforma agrária muito se temdito. Preciso é, porém, que se in-'tensifique a sua efetivação suprimindo-se o latifúndio improdutivo, in-centivaiido-.se. a pequrna e médiapropriedades, distribuindo-se as terrasdevolutas e as desapropriadas,procedendo-se, porém,- semdemagogia, atues cpm atendimentodas condições peculiares de cadaregião do País e visando-se. acima detudo, ás condições humanas dostrabalhadores rurais. (...)

universidades eficientemente. Talvez«gora. através dos cineclubes. com ctiaFederação de Cineclubes que vai sedesenvolvendo, talvez per ai dé paraprojetar ot filmes, Nesta altura, já nioé mait o dinheiro, é a divulgação, Elesdio algum dinheiro, é certo, dealuguel Parece-me que no ano pattadopingaram 10 mil cruzeiros.

P. — Uma lei criando reterxa demrreado para o filme brasileira natelevisão pôde modificar essepanorama?

T.F. — Depende do tipo de filmebrasileiro. Sc for do tipo nmela. comoas que já fazem agora, não muda nada.Eu estou falando dos documentários,nio dos longa-metragem de ficção. Amenos que a lei obrigue a exibição dosdocumentários. Al. se a legislação forbem feita, as televisões faraó alguns ecomprarão outros. E neste cato é maitbarato comprar. Infelizmente, esse tipode legislação ainda não foi possívelaplicar na televisão, só no cinema. E éum caminho, porque toda a televisãoestrangeira se baseia nosdocumentários. O mercado de trabalhoé bom e pode ser alargado. O Globo-Shell, que socé citou, é o inicio destapottibilidade. Com a TV JB entrando,e a TV Cultura também teinteressando, aos poucos a coisa vaitender para isso.

P. — Em média, quanto cuttou cadadocumentário?

T.F. — Creio que de 15 a 20 milcruzeiros. Alguns têm 10 minutos deduração, outros têm 40. Atualmentecustariam o dobro, ou o triplo. E só umou outro se pagou, porque custoumuito barato. São os que foramfilmados em apenas um dia ou dois.Essçs se pagaram. Naquele tempo, nãohavia o prêmio do INC — InstitutoNacional do Cinema — queconseguimos agora: cada filme declassificação especial recebe 15 milcruzeiros. De um ou outro o Institutome comprou os direitos decontratipagem (direito de extraircópias do negativo, que o INCposteriormente distribui entre escolas).Mas o Instituto deveria comprar todosos filmes.

P. — A solução seria a compra doscurta-metragem pelo INC?

T.F. — A solução seria o INC darclassificação especial a todos os curta-metragem, que representariam 50salários mínimos (hoje. 15 milcruzeiros), e ao mesmo tempo compraros direitos de contratipagem —pagando mais 10 mil cruzeiros — paratotalizar 25 mil cruzeiros por cadafilme. Aí estariam todos pagos. Nomomento, a legislação exige que osfilmes que concorrem à classificaçãoespecial nào ultrapassem 10 minutosde projeção e todos precisam ser feitosem 35mm. Acho que a lei não deveespecificar esses detalhes inadequados.Mas, por trás disso, há outrosinteresses, que a gente sabe quais são.Enfim, já são coisas pessoais, que aquinão interessam.

£ a exibição nas cuirmas?

T.F, — Sio rtibidos nos cinemasapenas os filmes com classificaçãoespecial, que não passam de 15 porano. Os outros "documentários" sio{Umes qu«,,.,i paga para eiibir. comopublicidade. Eu faço um filme tobreum prédio e quero mottrá-io, Vou aoesibidor. peço os cinemas tais e tais cpago 20 mil cruzeiros. Recebo 100 milcruzeiros da conttrutora do prédio epronto. E como a inserção de umanúncio. Estamos tentando separaruma coisa da outra, esses anúnciosdisfarçados do documentário cultural.O que queremos é uma lei que obriguea programação de qualquer longa-metragem, nacional ou estrangeiro, aincluir também a exibição de umcuna-metragem cultural.

/'. — K os casos de pequeno*pntdutares que acabam vendendo seuscurta-metragem aos exihidores. aperco de banana''

T.F. — Isso é proibido por lei. masexiste uma lei maior, chamada lei daoferta eda procura. Um diretor faz umfilme que lhe custa 10 mil cruzeiros,está apenado. atrapalhado, encontraum exibidor que lhe oferece 6 mil. Elevende. Acontece. Não te pode impediro cara. tem dinheiro e precisando, desender. As vezes vendem pelo preço dacópia. Acredito que essa época jápassou. Os filmes produzidos nessabase já foram absorvidos. Acredito quevamos entrar numa fase de exibir osnossos filmes 365 dias por ano.

P. — A que você atribui a resistênciados exihidores contra os curta-metragem no Brasil?

T.F. — Ah. são muitos fatores. Um.porque os curta-metragem ocupam umtempo de exibição, que atualmente elesvendem. Outro é que a remuneraçãodo produtor é feita pelo exibidor. quepaga uma importância, calculadasobre a número de cadeiras da cinema.Sc a lei atual fosse levada a ferro efogo. os curta-metragem declassificação especial seriam rentáveis.Não há. por enquanto, umafiscalização eficiente, nem mesmo paraconstatar se o filme foi exibido: àsvezes o exibidor paga a percentagemlegal e não exibe o filme.

P. — Você conseguiu comercializarindividualmente os documentários deA Condição Brasileira?

T.F. — Apenas três — Casa deFarinha, Um Engenho e A Mão doHomem — justamente os únicos quetêm a classificação especial do INC.Mas são muito mal comercializados, odinheiro que entra é ridículo.Enquanto não houver um mecanismobom de distribuição, não voucomercializar nenhum deles.

(Il Ver Opinião n.° 67.(2) Constam da série A CondiçãoBrasileira: Casa de Farinha, VivaCariri, Um Engenho. Padre Cícero,Viramundo, Jornal do Sertão, OsImaginários. Cantoria,Vítalino Lampião (direção de GeraldoSarnol; Memória de Cangaço. FreiDamião. Jaramantaia, A Mão doHomem, Vaquejada, Erva Bruxa, AMorte do Boi (direção de Paulo GilSoares); Visão de Juazeiro (direção deEduardo Escorei): Beste. O Rastejador(direção de Sérgio Muni:)

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nVi.! n.° 1_

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