as grandes navegaÇÕes

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ESCOLA SESI OS GRANDES NAVEGADORES YASMIN BATISTA DE ALENCAR SILVEIRA PROFESSORA : MIRIAN ANO: 7° TURMA : C Maceió Abril de 2011

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ESCOLA SESI

OS GRANDES NAVEGADORES

YASMIN BATISTA DE ALENCAR SILVEIRA

PROFESSORA : MIRIAN

ANO: 7° TURMA : C

Maceió

Abril de 2011

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VASCO DA GAMA

Juventude

Vasco da Gama nasceu provavelmente em 1460[2] ou 1469,[3] em Sines, na costa sudoeste de Portugal, possivelmente numa casa perto da igreja de Nossa Senhora das Salas. Sines, um dos poucos portos da costa alentejana, era então uma pequena povoação de casas habitadas por pescadores.

Vasco da Gama era filho de Estêvão da Gama, que em 1460 era cavaleiro da casa de D.Fernando de Portugal, Duque de Viseu.[4] D. Fernando nomeara-o alcaide-mor de Sines e permitira-lhe receber uma pequena receita de impostos sobre a fabricação de sabão em Estremoz. Estêvão da Gama era casado com Dona Isabel Sodré, filha de João Sodré (também conhecido como João de Resende). Sodré, que era de ascendência Inglesa, tinha ligações à casa do príncipe Diogo, Duque de Viseu, filho do rei D.Duarte I de Portugal e governador da Ordem Militar de Cristo.[5]

Pouco se sabe do início da vida de Vasco da Gama. Foi sugerido pelo historiador Português Teixeira de Aragão, que terá estudado em Évora, onde poderá ter aprendido matemática e navegação. É evidente que Vasco da Gama conhecia bem a astronomia, e é possível que tenha estudado com o astrónomo Abraão Zacuto.[6]

Em 1492, o rei D. João II de Portugal enviou Vasco da Gama ao porto de Setúbal, a sul de Lisboa e ao Algarve para capturar navios franceses em

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retaliação por depredações feitas em tempo de paz contra a navegação Portuguesa - uma tarefa que o Vasco da Gama executou rápida e eficazmente.

Antecedentes

Viagem de Vasco da Gama (a preto) e as viagens anteriores de Pêro da Covilhã (laranja) e Afonso de Paiva (azul), com o caminho percorrido antes de se separarem a verde.

Desde o início do século XV, impulsionados pelo Infante D. Henrique, os portugueses vinham aprofundando o conhecimento sobre o litoral Africano. A partir da década de 1460, a meta tornara-se conseguir contornar a extremidade sul do continente africano para assim aceder às riquezas da Índia - pimenta preta e outras especiarias - estabelecendo uma rota marítima de confiança. A República de Veneza dominava grande parte das rotas comerciais entre a Europa e a Ásia, e desde 1453 a tomada de Constantinopla pelos otomanos limitara o comércio e aumentara os custos. Portugal pretendia usar a rota iniciada por Bartolomeu Dias para quebrar o monopólio do comércio mediterrânico.

Quando Vasco da Gama tinha cerca de dez anos, esses planos de longo prazo estavam perto de ser concretizados: Bartolomeu Dias tinha retornado de dobrar o Cabo da Boa Esperança, depois de explorar o "Rio do Infante" (Great Fish River, na actual África do Sul) e após ter verificado que a costa desconhecida se estendia para o nordeste.

Em simultâneo foram feitas explorações por terra durante o reinado de D. João II de Portugal, suportando a teoria de que a Índia era acessível por mar a partir do Oceano Atlântico. Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva foram enviados via Barcelona, Nápoles e Rodes até Alexandria, porta para Aden, Ormuz e Índia.

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Faltava apenas um navegador comprovar a ligação entre os achados de Bartolomeu Dias e os de Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, para inaugurar uma rota de comércio potencialmente lucrativa para o Oceano Índico. A tarefa fora inicialmente atribuida por D. João II a Estevão da Gama, pai de Vasco da Gama. Contudo, dada a morte de ambos, em Julho de 1497 o comando da expedição foi delegado pelo novo rei D. Manuel I de Portugal a Vasco da Gama, possivelmente tendo em conta o seu desempenho ao proteger os interesses comerciais portugueses de depredações pelos franceses ao longo da Costa do Ouro Africana.

A viagem

"São Gabriel", "São Rafael" e "Bérrio" c. de 1558. Ilustração do "Roteiro da viagem" de Álvaro Velho.

Manuel I de Portugal confiou a Vasco da Gama o cargo de capitão-mor da frota que, num sábado 8 de Julho de 1497, zarpou de Belém em demanda da Índia.

Era uma expedição essencialmente exploratória que levava cartas do rei D. Manuel I para os reinos a visitar, padrões para colocar, e que fora equipada por Bartolomeu Dias com alguns produtos que haviam provado ser úteis nas suas viagens, para as trocas com o comércio local. O único testemunho presencial da viagem é consta num diário de bordo anónimo, atribuído a Álvaro Velho:[7]

Contava com cerca de cento e setenta homens, entre marinheiros, soldados e religiosos, distribuídos por quatro embarcações:[8]

São Gabriel, uma carraca de 27 metros de comprimento e 178 toneladas, construída especialmente para esta viagem, comandada pelo próprio Vasco da Gama;

São Rafael, de dimensões semelhantes à São Gabriel, também construída especialmente para esta viagem, comandada por Paulo da Gama, seu irmão; no regresso, com a tripulação dimunuida, foi abatida em Melinde, prosseguindo na Bérrio e São Gabriel.

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Bérrio, uma caravela ligeiramente menor que as anteriores, oferecida por D. Manuel de Bérrio, seu proprietário, sob o comando de Nicolau Coelho;

São Miguel, uma carraca para transporte de mantimentos, sob o comando de Gonçalo Nunes, que viria a ser queimada na ida, perto da baía de São Brás, na costa oriental africana.[4]

A expedição partiu de Lisboa, acompanhada por Bartolomeu Dias que seguia numa caravela rumo à Mina, seguindo a rota já experimentada pelos anteriores exploradores ao longo da costa de África, através de Tenerife e do Arquipélago de Cabo Verde. Após atingir a costa da atual Serra Leoa, Vasco da Gama desviou-se para o sul em mar aberto, cruzando a linha do Equador, em demanda dos ventos vindos do oeste do Atlântico Sul, que Bartolomeu Dias já havia identificado desde 1487. Esta manobra de "volta do mar" foi bem sucedida e, a 4 de Novembro de 1497, a expedição atingiu novamente o litoral Africano. Após mais de três meses, os navios tinham navegado mais de 6.000 quilómetros de mar aberto, a viagem mais longa até realizada em alto mar.[9]

Reprodução da cruz de Vasco da Gama no Cabo da Boa Esperança.

A 16 de Dezembro, a frota já tinha ultrapassado o chamado "rio do Infante" ("Great Fish River", na atual África do Sul) - de onde Bartolomeu Dias havia retornado anteriormente - e navegou em águas até então desconhecidas para os europeus. No dia de Natal, Gama e sua tripulação batizaram a costa em que navegavam o nome de Natal (actual província KwaZulu-Natal da África do Sul).

A 2 de Março de 1498, completando o contorno da costa africana, a armada chegou à costa de Moçambique, após haver sofrido fortes temporais e de Vasco da Gama ter sufocado com mão de ferro uma revolta da marinhagem. Na costa Leste Africana, os territórios controlados por muçulmanos integravam a rede de comércio no Oceano Índico. Em Moçambique encontram os primeiros mercadores indianos. Inicialmente são bem recebidos pelo sultão, que os confunde com muçulmanos e disponibiliza dois pilotos. Temendo que a população fosse hostil aos cristãos, tentam manter o equívoco mas, após uma série de mal entendidos, foram forçados por uma multidão hostil a fugir de

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Moçambique, e zarparam do porto disparando os seus canhões contra a cidade.[10][11]

O piloto que o sultão da ilha de Moçambique ofereceu para os conduzir à Índia havia sido secretamente incumbido de entregar os navios portugueses aos mouros em Mombaça. Um acaso fez descobrir a cilada e Vasco da Gama pôde continuar.

Pilar de Vasco da Gama em Melinde.

Na costa do actual Quénia a expedição saqueou navios mercantes árabes desarmados. Os portugueses tornaram-se conhecidos como os primeiros europeus a visitar o porto de Mombaça, mas foram recebidos com hostilidade e logo partiram.

Em Fevereiro de 1498, Vasco da Gama seguiu para norte, desembarcando no amistoso porto de Melinde - rival de Mombaça - onde foi bem recebido pelo sultão que lhe forneceu um piloto árabe, conhecedor do Oceano Índico, cujo conhecimento dos ventos de monções permitiu guiar a expedição até Calecute, na costa sudoeste da Índia. As fontes divergem quanto à identidade do piloto, identificando-o por vezes como um cristão, um muçulmano e um guzerate. Uma história tradicional descreve o piloto como o famoso navegador árabe Ibn Majid, mas relatos contemporâneos posicionam Majid lugar noutro local naquele momento.[12]

Em 20 de Maio de 1498, a frota alcançou Kappakadavu, próxima a Calecute, no actual estado indiano de Kerala,[13] ficando estabelecida a Rota do Cabo e aberto o caminho marítimo dos Europeus para a Índia.

No dia seguinte à chegada, entre a multidão reunida na praia, foram saudados por dois mouros de Tunes (Tunísia), um dos quais dirigiu-se em castelhano «Ao diabo que te dou; quem te trouxe cá?». E perguntaram-lhe o que vínhamos buscar tão longe; e ele respondeu: «Vimos buscar cristãos e especiaria.», conforme relatado por Álvaro Velho. Ao ver as imagens de deuses Hindus Gama e os seus homens pensaram tratar-se de santos cristãos, por contraste com os muçulmanos que não tinham

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imagens. A crença nos "cristãos da Índia", como então lhes chamaram, perdurou algum tempo mesmo depois do regresso.[14]

Contudo as negociações com o governador local, Samutiri Manavikraman Rajá, Samorim de Calecute, foram difíceis. Os esforços de Vasco da Gama para obter condições comerciais favoráveis foram dificultados pela diferença de culturas e pelo baixo valor de suas mercadorias,[15] com os representantes do samorim a escarnecerem das suas ofertas, e os mercadores árabes aí estabelecidos a resistir à possibilidade de concorrência indesejada. As mercadorias apresentadas pelos portugueses mostraram-se insuficientes para impressionar o samorim, em comparação com os bens de alto valor ali comerciados, o que gerou alguma desconfiança. Os portugueses acabariam por vender as suas mercadorias por baixo preço para poderem comprar pequenas quantidades de especiarias e jóias para levar para o reino.

Por fim o Samorim mostrou-se agradado com as cartas de D. Manuel I e Vasco da Gama conseguiu obter uma carta ambígua de concessão de direitos para comerciar, mas acabou por partir sem aviso após o Samorim e o seu chefe da Marinha Kunjali Marakkar insistirem para que deixasse todos os seus bens como garantia. Vasco da Gama manteve os seus bens, mas deixou alguns portugueses com ordens para iniciar uma feitoria.

Regresso a Portugal

Vasco da Gama iniciou a viagem de regresso a 29 de Agosto de 1498. Na ânsia de partir, ignorou o conhecimento local sobre os padrões da monção que lhe permitiria velejar. Na Ilha de Angediva foram abordados por um homem que se afirmava cristão mas que se fingia de muçulmano ao serviço de Hidalcão, o sultão de Bijapur. Suspeitando que era um espião, açoitaram-no até que ele confessou ser um aventureiro judeu polaco no Oriente. Vasco da Gama apadrinhou-o, nomeando-o Gaspar da Gama.

Na viagem de ida, cruzar o Índico até à Índia com o auxílio dos ventos de monção demorara apenas 23 dias. A de regresso, navegando contra o vento, consumiu 132 dias, tendo as embarcações aportado em Melinde a 7 de Janeiro de 1499. Nesta viagem cerca de metade da tripulação sobrevivente pereceu, e muitos dos restantes foram severamente

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atingidos pelo escorbuto, por isso dos 148 homens que integravam a armada, só 55 regressaram a Portugal. Apenas duas das embarcações que partiram do Tejo conseguiram voltar a Portugal, chegando, respectivamente em Julho e Agosto de 1499.[16] A caravela Bérrio, sendo a mais leve e rápida da frota, foi a primeira a regressar a Lisboa, onde aportou a 10 de Julho de 1499, sob o comando de Nicolau Coelho e tendo como piloto Pêro Escobar, que mais tarde acompanhariam a frota de Pedro Álvares Cabral na viagem em que se registrou o descobrimento do Brasil em Abril de 1500.

Vasco da Gama regressou a Portugal em Setembro de 1499, um mês depois de seus companheiros, pois teve de sepultar o irmão mais velho Paulo da Gama, que adoecera e acabara por falecer na ilha Terceira, nos Açores. Em seu regresso, foi recompensado como o homem que finalizara um plano que levara oitenta anos a cumprir. Recebeu o título de "almirante-mor dos Mares das Índia",[17] sendo lhe concedida uma renda de trezentos mil réis anuais, que passaria para os filhos que tivesse. Recebeu ainda, conjuntamente com os irmãos, o título perpétuo de Dom e duas vilas, Sines e Vila Nova de Milfontes.[18]

Segunda viagem à Índia (1502)

A 12 de Fevereiro de 1502, Vasco da Gama comandou nova expedição com uma frota de vinte navios de guerra, com o objetivo de fazer cumprir os interesses portugueses no oriente. Fora convidado após a recusa de Pedro Álvares Cabral, que se desentendera com o monarca acerca do comando da expedição. Esta viagem ocorreu depois da segunda armada à Índia, comandada por Pedro Álvares Cabral em 1500, que ao desviar-se da rota descobrira o Brasil. Quando chegou à Índia, Cabral soube que os portugueses que haviam sido aí deixados por Vasco da Gama na primeira viagem para estabelecer um posto comercial haviam sido mortos. Após bombardear Calecute, rumou para o sul até Cochim, um pequeno reino rival, onde foi calorosamente recebido pelo Rajá, regressando à Europa com seda e ouro.

Gama tomou e exigiu um tributo à ilha de Quíloa na África Oriental, um dos portos de domínio árabe que haviam combatido os portugueses,

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tornando-a tributária de Portugal. Com ouro proveniente de 500 moedas trazidas por Vasco da Gama do régulo de Quíloa (actual Kilwa Kisiwani, na Tanzânia), como tributo de vassalagem ao rei de Portugal, foi mandada criar, pelo rei D. Manuel I para o Mosteiro dos Jerónimos, a Custódia de Belém.

Nesta viagem ocorreu o primeiro registo europeu conhecido do avistamento das ilhas Seychelles, que Vasco da Gama nomeou Ilhas Amirante (ilhas do Almirante) em sua própria honra.

Vasco da Gama partira com o objectivo de instalar o centro português e uma feitoria em Cochim, após esforços consecutivos de Pedro Álvares Cabral e João da Nova. Bombardeou Calecute e destruiu postos de comércio árabes.

Depois de chegar ao norte do Oceano Índico, Vasco da Gama aguardou até capturar um navio que retornava de Meca, o Mîrî, com importantes mercadores muçulmanos, apreendendo todas as mercadorias e incendiando-o.[19] Ao chegar a Calecute a 30 de de Outubro 1502 o samorim estava disposto a assinar um tratado.[20] num acto de ferocidade que chocou até os cronistas contemporâneos, que o consideraram um acto e vingança pelos portugueses mortos em Calecute da sua primeira viagem.

Em 1 de Março de 1503 inicia-se a guerra entre o samorim de Calecute e o rajá de Cochim. Os seus navios assaltaram navios mercantes árabes, destruindo também uma frota de 29 navios de Calecute. Após essa batalha, obteve então concessões comerciais favoráveis do Samorim. Vasco da Gama fundou a colónia portuguesa de Cochim, na Índia, regressando a Portugal em Setembro de 1503.

Terceira viagem à Índia (1524)

Em 1519 foi feito primeiro Conde da Vidigueira pelo rei D. Manuel I, com sede num terreno comprado a D. Jaime I, Duque de Bragança, que a 4 de Novembro cedera as vilas da Vidigueira e Vila de Frades a Vasco da Gama, seus herdeiros e sucessores, bem como todos os rendimentos e privilégios relacionados,[21] sendo o primeiro Conde português sem sangue real.

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Tendo adquirido uma reputação de temível "solucionador" de problemas na Índia, Vasco da Gama foi enviado de novo para o subcontinente indiano em 1524. O objectivo era o de que ele substituisse o vice-rei Duarte de Meneses, cujo governo se revelava desastroso, mas Vasco da Gama contraiu malária pouco depois de chegar a Goa. Como governador e segundo vice-rei actuou com rigidez e conseguiu impor a ordem, mas veio a falecer na cidade de Cochim, na véspera de Natal em 1524.

Túmulo de Vasco da Gama no Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa.

Foi sepultado na Igreja de São Francisco (Cochim). Em 1539 os seus restos mortais foram transladados para Portugal, mais concretamente para a Igreja de um convento carmelita, conhecido actualmente como Quinta do Carmo (hoje propriedade privada), próximo da vila alentejana da Vidigueira, como conde da Vidigueira de juro e herdade (ou seja a si e aos seus descendentes) desde 1519.

Aqui estiveram até 1880, data em que ocorreu a trasladação para o Mosteiro dos Jerónimos, que foram construídos logo após a sua viagem, com os primeiros lucros do comércio de especiarias, ficando ao lado do túmulo de Luís Vaz de Camões. Há quem defenda, porém, que os ossos de Vasco da Gama ainda se encontram na vila alentejana. Como testemunho da trasladação das ossadas, em frente à estátua do navegador na Vidigueira, existe a antiga Escola Primária Vasco da Gama (cuja construção serviu de moeda de troca para obter permissão para efectuar a trasladação à época), onde se encontra instalado o Museu Municipal de Vidigueira.

PEDRO ÁLVARES CABRAL

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Pedro Álvares Cabral[A] (Belmonte, 1467 ou 1468 — Santarém, c. 1520) foi um fidalgo, comandante militar, navegador e explorador português considerado o descobridor do Brasil. Cabral realizou a primeira exploração significativa da costa nordeste da América do Sul, reivindicando-a para Portugal. Embora os detalhes da vida de Cabral sejam esparsos, sabe-se que veio de uma família nobre de grandeza secundária e recebeu uma boa educação formal. Foi nomeado para chefiar uma expedição à Índia em 1500, seguindo a rota recém-inaugurada por Vasco da Gama, contornando a África. O objetivo deste empreendimento era retornar com especiarias valiosas e estabelecer relações comerciais na Índia — contornando o monopólio sobre o comércio de especiarias, então nas mãos de comerciantes árabes, turcos e italianos.

Sua frota de 13 navios afastou-se bastante da costa africana no Oceano Atlântico, talvez intencionalmente, desembarcando no que ele inicialmente achou tratar-se de uma grande ilha. Como o novo território se encontrava dentro do hemisfério português de acordo com o Tratado de Tordesilhas, Cabral reivindicou-o para a Coroa Portuguesa. Explorou o litoral e percebeu que a grande massa de terra era provavelmente um continente, despachando em seguida um navio para notificar o rei Manuel I da descoberta das terras. Havia desembarcado na América do Sul, e as terras que havia reivindicado para Portugal mais tarde constituiriam o Brasil. A frota reabasteceu-se e continuou rumo ao leste, com a finalidade de retomar a viagem rumo à Índia.

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Uma tempestade no Atlântico Sul provocou a perda de vários navios e os seis navios restantes encontraram-se eventualmente no Canal de Moçambique antes de prosseguirem para Calecute, na Índia. Cabral inicialmente obteve sucesso na negociação dos direitos de comercialização das especiarias, mas os comerciantes árabes consideraram o negócio português como uma ameaça ao monopólio deles e provocaram um ataque de muçulmanos e hindus ao entreposto português. Os portugueses sofreram várias baixas e suas instalações foram destruídas. Cabral vingou-se do ataque saqueando e queimando a frota árabe e, em seguida, bombardeou a cidade em represália à incapacidade de seu governante em explicar o ocorrido. De Calecute a expedição rumou para Cochim, outra cidade-estado indiana, onde Cabral fez amizade com seu governante e carregou seus navios com especiarias cobiçadas antes de retornar para a Europa. Apesar da perda de vidas humanas e de navios, a viagem de Cabral foi considerada um sucesso após o seu regresso a Portugal. Os lucros extraordinários resultantes da venda das especiarias reforçaram as finanças da Coroa Portuguesa e ajudaram a lançar as bases de um Império Português, que se estenderia das Américas ao Extremo Oriente.[B]

Cabral foi mais tarde preterido quando uma nova frota foi reunida para estabelecer uma presença mais robusta na Índia, possivelmente como resultado de uma desavença com Manuel I. Tendo perdido a preferência do rei, aposentou-se da vida pública, havendo poucos registros sobre a parte final de sua vida. Suas realizações caíram no esquecimento por mais de 300 anos. Algumas décadas depois da independência do Brasil de Portugal, no século XIX, a reputação de Cabral começou a ser reabilitada pelo Imperador Pedro II do Brasil. Desde então, os historiadores têm discutido se Cabral foi o descobridor do Brasil e se a descoberta foi acidental ou intencional. A primeira dúvida foi resolvida pela observação de que os poucos encontros superficiais feitos por exploradores antes dele mal foram notados e em nada contribuíram para o desenvolvimento e a história futuros da terra que se tornaria o Brasil, única nação das Américas onde a língua oficial é o português. Quanto à segunda questão, nenhum consenso definitivo foi formado e a hipótese de descoberta intencional carece de provas sólidas. Não obstante, embora seu prestígio tenha sido

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ofuscado pela fama de outros exploradores da época, Cabral é hoje considerado uma das personalidades mais importantes da Era dos Descobrimentos.

Primeiros anos

Pouco se sabe ao certo a respeito da vida de Pedro Álvares Cabral antes ou depois da viagem que o levou a chegar no Brasil. Acredita-se que tenha nascido em 1467 ou 1468—o ano anterior é o mais provável[2][3]— em Belmonte, a cerca de 30 km de distância da cidade atual de Covilhã no centro de Portugal.[1][2][4][5] Seu pai foi Fernão Álvares Cabral e sua mãe, Isabel Gouveia—um dos cinco filhos e seis filhas da família.[2][4][6] Cabral foi batizado como Pedro Álvares de Gouveia e, só anos mais tarde, supostamente após a morte de seu irmão mais velho em 1503,[4][7][8] começou a usar o sobrenome do pai.[C][6][9] O brasão de armas de sua família foi elaborado com duas cabras roxas em um campo de prata. Roxo representa fidelidade e as cabras derivam do nome de família.[2] No entanto, apenas seu irmão mais velho tinha o direito de fazer uso do brasão da família.[10]

De acordo com a tradição familiar, os Cabrais eram descendentes de Carano, o lendário primeiro rei da Macedônia. Carano era, por sua vez, um suposto descendente de sétima geração do semideus grego Hércules.[11] Mitos à parte, o historiador James McClymont acredita que outro conto familiar pode conter pistas para a verdadeira origem da família Cabral. Segundo essa tradição, os Cabrais derivam de um clã castelhano chamado Cabreiras que possuía um brasão similar.[12] A família Cabral ganhou destaque durante o século XIV. Álvaro Gil Cabral (trisavô de Cabral e um comandante militar de fronteira), foi um dos poucos nobres portugueses a permanecer fiel ao rei D. João I durante a guerra contra o rei de Castela. Como recompensa, D. João I presenteou Álvaro Gil com a propriedade do feudo hereditário de Belmonte.[1][2][13]

Criado como membro da baixa nobreza,[14][15] Cabral foi enviado à corte do rei D. Afonso V em 1479, quando tinha cerca de 12 anos. Educou-se em humanidades e foi treinado para lutar e pegar em armas.[4] Tinha cerca de 17 anos de idade em 30 junho de 1484, quando foi nomeado moço

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fidalgo (um título de menor importância normalmente concedido a jovens nobres) pelo rei D. João II.[4] Os registros de suas ações antes de 1500 são extremamente incompletos, mas Cabral pode ter excursionado pelo norte da África, tal como haviam feito seus antepassados e era comumente feito por outros jovens nobres de sua época.[1][6][16] O rei D. Manuel I, que tinha ascendido ao trono dois anos antes, concedeu-lhe um subsídio anual no valor de 30 mil reais em 12 de abril de 1497.[17][18] Na mesma época, recebeu o título de fidalgo do Conselho do Rei e foi nomeado Cavaleiro da Ordem de Cristo.[18] Não há nenhuma imagem ou descrição física detalhada de Cabral contemporâneas à sua época. Sabe-se que era forte[19] e igualava seu pai em altura (1,90 metros).[20][21][22] O caráter de Cabral tem sido descrito como culto, cortês,[22] prudente,[5] generoso, tolerante com os inimigos,[9] humilde,[19] mas também vaidoso[22] e muito preocupado com o respeito que sentia que sua nobreza e posição exigiam.[23]

Pouco se sabe ao certo a respeito da vida de Pedro Álvares Cabral antes ou depois da viagem que o levou a chegar no Brasil. Acredita-se que tenha nascido em 1467 ou 1468—o ano anterior é o mais provável[2][3]— em Belmonte, a cerca de 30 km de distância da cidade atual de Covilhã no centro de Portugal.[1][2][4][5] Seu pai foi Fernão Álvares Cabral e sua mãe, Isabel Gouveia—um dos cinco filhos e seis filhas da família.[2][4][6] Cabral foi batizado como Pedro Álvares de Gouveia e, só anos mais tarde, supostamente após a morte de seu irmão mais velho em 1503,[4][7][8] começou a usar o sobrenome do pai.[C][6][9] O brasão de armas de sua família foi elaborado com duas cabras roxas em um campo de prata. Roxo representa fidelidade e as cabras derivam do nome de família.[2] No entanto, apenas seu irmão mais velho tinha o direito de fazer uso do brasão da família.[10]

De acordo com a tradição familiar, os Cabrais eram descendentes de Carano, o lendário primeiro rei da Macedônia. Carano era, por sua vez, um suposto descendente de sétima geração do semideus grego Hércules.[11] Mitos à parte, o historiador James McClymont acredita que outro conto familiar pode conter pistas para a verdadeira origem da família Cabral. Segundo essa tradição, os Cabrais derivam de um clã castelhano chamado

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Cabreiras que possuía um brasão similar.[12] A família Cabral ganhou destaque durante o século XIV. Álvaro Gil Cabral (trisavô de Cabral e um comandante militar de fronteira), foi um dos poucos nobres portugueses a permanecer fiel ao rei D. João I durante a guerra contra o rei de Castela. Como recompensa, D. João I presenteou Álvaro Gil com a propriedade do feudo hereditário de Belmonte.[1][2][13]

Criado como membro da baixa nobreza,[14][15] Cabral foi enviado à corte do rei D. Afonso V em 1479, quando tinha cerca de 12 anos. Educou-se em humanidades e foi treinado para lutar e pegar em armas.[4] Tinha cerca de 17 anos de idade em 30 junho de 1484, quando foi nomeado moço fidalgo (um título de menor importância normalmente concedido a jovens nobres) pelo rei D. João II.[4] Os registros de suas ações antes de 1500 são extremamente incompletos, mas Cabral pode ter excursionado pelo norte da África, tal como haviam feito seus antepassados e era comumente feito por outros jovens nobres de sua época.[1][6][16] O rei D. Manuel I, que tinha ascendido ao trono dois anos antes, concedeu-lhe um subsídio anual no valor de 30 mil reais em 12 de abril de 1497.[17][18] Na mesma época, recebeu o título de fidalgo do Conselho do Rei e foi nomeado Cavaleiro da Ordem de Cristo.[18] Não há nenhuma imagem ou descrição física detalhada de Cabral contemporâneas à sua época. Sabe-se que era forte[19] e igualava seu pai em altura (1,90 metros).[20][21][22] O caráter de Cabral tem sido descrito como culto, cortês,[22] prudente,[5] generoso, tolerante com os inimigos,[9] humilde,[19] mas também vaidoso[22] e muito preocupado com o respeito que sentia que sua nobreza e posição exigiam.[23]

Partida e chegada numa nova terra

A frota, sob o comando de Cabral, então com 32-33 anos de idade, partiu de Lisboa em 9 de março de 1500 ao meio-dia. No dia anterior, a tripulação tinha recebido uma despedida pública que incluíra uma missa e comemorações com a presença do rei, da corte e de uma enorme multidão.[37][44][45][46][47][48] Na manhã de 14 de março, a frota passou por Grã Canária, a maior das Ilhas Canárias.[46][49] Em seguida, partiu rumo a Cabo Verde, uma colônia portuguesa situada na costa oeste da África, que foi alcançada em 22 de março.[46][50] No dia seguinte, uma

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nau com 150 homens, comandada por Vasco de Ataíde, desapareceu sem deixar vestígios.[44][46][50] A frota cruzou a Linha do Equador em 9 de abril e navegou rumo a oeste afastando-se o mais possível do continente africano, utilizando uma técnica de navegação conhecida como a volta do mar.[44][51] Os marujos avistaram algas-marinhas no dia 21 de abril, o que os levou a acreditar que estavam próximos da costa. Provou-se estarem certos na tarde do dia seguinte, quarta-feira, 22 de abril de 1500, quando a frota ancorou perto do que Cabral batizou de Monte Pascoal (uma vez que aquela era a semana da Páscoa). O monte localiza-se no que hoje é a costa nordestina do Brasil.[46][51][52][53]

Os portugueses detectaram a presença de habitantes na costa, e os capitães de todos os navios reuniram-se a bordo do navio de Cabral no dia 23 de abril.[54] Cabral mandou Nicolau Coelho, capitão que havia viajado com Vasco da Gama à Índia, para desembarcar e estabelecer contato. Ele pisou na terra e trocou presentes com os indígenas.[55] Após Coelho voltar, Cabral ordenou que a frota rumasse ao norte, onde, após 65 km de viagem, ancorou em 24 de abril no local que o capitão-mor chamou de Porto Seguro.[56] O lugar era um porto natural, e Afonso Lopes (piloto do navio principal) trouxe dois índios a bordo para conversarem com Cabral.[57]

Assim como no primeiro contato, o encontro foi amistoso e Cabral ofereceu presentes aos nativos.[58] Os habitantes eram caçadores-coletores da idade da pedra, a quem os europeus atribuiriam o rótulo genérico de "índios". Os homens coletavam alimento por meio da caça e da pesca, enquanto as mulheres se dedicavam à agricultura em pequena escala. Eles se dividiam em inúmeras tribos rivais. A tribo que Cabral encontrou foi a tupiniquim.[59] Alguns deles eram nômades e outros sedentários — tendo conhecimento do fogo, mas não dos metais. Algumas poucas tribos praticavam o canibalismo.[60] Em 26 de abril (domingo de Páscoa), conforme cada vez mais nativos curiosos apareciam, Cabral ordenou aos seus homens a construção de um altar em terra, onde uma missa católica foi celebrada por Henrique de Coimbra — a primeira a sê-lo no solo do que mais tarde viria a ser o Brasil.[61]

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Os dias seguintes foram gastos armazenando água, alimentos, madeira e outros suprimentos. Os portugueses também construíram uma enorme cruz de madeira — talvez com sete metros de altura. Cabral constatou que a nova terra estava a leste da linha de demarcação entre Portugal e Espanha que tinha sido estabelecida no Tratado de Tordesilhas. O território estava, portanto, dentro do hemisfério atribuído a Portugal. Para solenizar a reivindicação de Portugal sobre aquelas terras, ergueu-se a cruz de madeira e uma segunda missa foi celebrada em 1 de maio.[56][62] Em honra à cruz, Cabral nomeou a terra recém-descoberta de Ilha de Vera Cruz.[63] No dia seguinte, um navio de suprimentos sob o comando de Gaspar de Lemos[64][65] ou André Gonçalves[66] (há um conflito entre as fontes sobre quem foi enviado),[67] retornou para Portugal para informar o rei da descoberta, por meio da carta escrita por Pero Vaz de Caminha.

Viagem à Índia

A frota retomou sua viagem em 2[68] ou 3[66] de maio de 1500, navegando ao longo da costa leste da América do Sul. Ao fazê-lo, Cabral convenceu-se de que tinha encontrado um continente inteiro, ao invés de uma ilha.[69] Por volta do dia 5 de maio, a esquadra virou para leste em direção à África.[69] Em 23[69] ou 24[65] de maio, os navios encontraram uma tempestade na zona de alta pressão do Atlântico Sul, resultando na perda de quatro navios. O local exato do desastre é desconhecido — as especulações variam desde perto do Cabo da Boa Esperança, no extremo sul do continente africano[69] até um local "à vista da costa sul-americana".[70] Três naus e a caravela comandada por Bartolomeu Dias — o primeiro europeu a chegar ao Cabo da Boa Esperança em 1488 — naufragaram, perdendo-se 380 homens.[71]

Os navios restantes, prejudicados pelo mau tempo e com seus aparelhos danificados, separaram-se. Um dos navios que se havia separado, comandado por Diogo Dias, vagou sozinho adiante,[72] enquanto os outros seis lograram reagrupar-se. Reuniram-se em duas formações de três navios cada, e o grupo de Cabral navegou rumo ao leste, passando pelo Cabo da Boa Esperança. Determinada a sua posição e avistando terra, viraram para o norte e desembarcaram em algum lugar no arquipélago

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das Ilhas Primeiras e Segundas, ao largo da África oriental e ao norte de Sofala.[72][73] A frota principal permaneceu perto de Sofala por dez dias enquanto era reparada.[72][74] A expedição, em seguida, rumou ao norte, chegando a Quíloa em 26 de maio, onde Cabral fez uma tentativa fracassada de negociar um tratado comercial com o rei local.[75]

De Quíloa, a frota partiu para Melinde, onde desembarcou em 2 de agosto. Cabral reuniu-se com o rei local, com quem estabeleceu relações de amizade e trocou presentes. Também em Melinde foram recrutados pilotos para a última etapa da viagem à Índia. Antes do destino final, desembarcaram em Angediva, uma ilha onde os navios a caminho de Calecute se abasteciam. Ali, os navios foram puxados para a praia, calafetados e pintados. Foram feitos os últimos preparativos para o encontro com o governante de Calecute.[76][77][78]

Massacre em Calecute

A frota partiu de Angediva e chegou a Calecute em 13 de setembro.[68][76][78] Cabral obteve êxito nas negociações com o samorim (título dado ao governante de Calecute) e obteve autorização para instalar uma feitoria e um armazém na cidade-estado.[77] Na esperança de melhorar ainda mais as relações, Cabral despachou seus homens em várias missões militares a pedido do Samorim.[79] No entanto, em 16[80] ou 17[81] de dezembro, a feitoria sofreu um ataque de surpresa por cerca de 300[80] (de acordo com outros relatos, talvez até milhares)[77] árabes muçulmanos e indianos hindus. Apesar da defesa desesperada dos besteiros, mais de 50 portugueses foram mortos.[D][80][79] Os defensores restantes se retiraram para os navios, alguns a nado. Pensando que o ataque fora resultado de incitação não-autorizada de comerciantes árabes invejosos, Cabral esperou 24 horas para obter uma explicação do governante de Calecute, mas nenhum pedido de desculpas foi apresentado.[81][79][82]

Os portugueses ficaram indignados com o ataque à feitoria e com a morte de seus companheiros e atacaram 10 navios mercantes dos árabes ancorados no porto. Mataram cerca de 600 tripulantes[79] e confiscaram o carregamento antes de incendiar os navios.[81][82] Cabral também

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ordenou que seus navios bombardeassem Calecute por um dia inteiro em represália à violação do acordo.[81][82] O massacre foi atribuído, em parte, à animosidade portuguesa em relação aos muçulmanos, resultante de séculos de conflitos com os mouros na Península Ibérica e no norte da África.[83] Além disso, os portugueses estavam determinados a dominar o comércio de especiarias e não tinham a intenção de permitir que a concorrência florescesse. Os árabes também não tinham interesse em permitir que os portugueses quebrassem seu monopólio sobre as especiarias. Os portugueses haviam começado por insistir em que lhes fosse dado tratamento preferencial em todos os aspectos do comércio. A carta de D. Manuel I entregue por Cabral ao governante de Calecute — traduzida pelos intérpretes árabes deste — pedia a exclusão dos comerciantes árabes. Os comerciantes muçulmanos, acreditando que estavam prestes a perder suas oportunidades comerciais e sua forma de subsistência,[84] teriam tentado colocar o governante hindu contra os portugueses. Portugueses e árabes eram muito desconfiados uns dos outros, em cada ação.[85]

Para o historiador William Greenlee, os portugueses perceberam que "eram poucos em número e que aqueles que viriam à Índia nas frotas futuras também estariam sempre em desvantagem numérica; então esta traição deveria ser punida de forma tão decisiva que os portugueses fossem temidos e respeitados no futuro. Era a sua artilharia superior que lhes permitiria realizar esse objetivo". Assim sendo, os portugueses estabeleceram um precedente para o comportamento dos exploradores europeus na Ásia durante os séculos seguintes.[86]

Retorno a Portugal

Avisos nos relatos da viagem de Vasco da Gama à Índia levaram o rei D. Manuel I a informar Cabral a respeito de outro porto, ao sul de Calecute, onde também se poderiam estabelecer relações comerciais. A cidade em questão era Cochim, onde a frota desembarcou em 24 de dezembro.[87] Cochim era nominalmente um território vassalo de Calecute, assim como também era dominado por outras cidades-estados indianas. O governante de Cochim estava ansioso para conseguir a independência da cidade, e os portugueses estavam dispostos a explorar a desunião indiana — como os

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britânicos também fariam 300 anos mais tarde. A tática acabaria por assegurar a hegemonia portuguesa sobre a região.[87] Cabral forjou uma aliança com o governante de Cochim, e com líderes de outras cidades-estados, sendo capaz de estabelecer uma feitoria. Por fim, carregada de especiarias preciosas, a frota foi para Cananor, a fim de comerciar uma vez mais antes de partir em sua viagem de retorno a Portugal em 16 de janeiro de 1501.[80][81][87]

A expedição dirigiu-se para a costa leste da África. Um dos navios encalhou em um banco de areia e começou a afundar. Como não havia espaço nos demais navios, a carga foi abandonada e Cabral ordenou que a nau fosse incendiada.[88][89][90] Em seguida, a frota prosseguiu em direção à Ilha de Moçambique (a nordeste de Sofala), a fim de se prover de mantimentos para que os navios estivessem prontos para a agitada passagem em torno do Cabo da Boa Esperança.[91] Uma caravela foi enviada para Sofala — outro dos objetivos da expedição. Uma segunda caravela, considerada o navio mais veloz da frota e capitaneada por Nicolau Coelho, foi enviada à frente das demais para dar ao rei o aviso prévio sobre o sucesso da viagem. Um terceiro navio, comandado por Pedro de Ataíde, separou-se da frota após partir de Moçambique.[91]

Em 22 de Maio, a frota — agora reduzida a apenas dois navios — passou pelo Cabo da Boa Esperança.[92] Chegaram em Bezeguiche (atual cidade de Dakar, localizada perto de Cabo Verde), em 2 de junho. Ali, encontraram não só a caravela de Nicolau Coelho como também a nau comandada por Diogo Dias — que se encontrava perdida por mais de um ano após o desastre no Atlântico Sul. A nau havia passado por várias aventuras[E] e estava em péssimas condições, sendo que apenas sete homens doentes e mal-nutridos estavam a bordo — um dos quais estava tão fraco que morreu de felicidade ao ver seus companheiros novamente.[89] Outra frota portuguesa também foi encontrada ancorada em Bezeguiche. Após D. Manuel I ter sido informado da descoberta do Brasil, enviou uma frota menor para explorá-lo. Um de seus navegadores era Américo Vespúcio (explorador italiano cujo nome designaria a América), que contou a Cabral detalhes de sua exploração, confirmando-lhe que

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havia de fato desembarcado num continente inteiro e não apenas numa ilha.[93]

A caravela de Nicolau Coelho partiu primeiro de Bezeguiche e chegou a Portugal em 23 de junho de 1501.[94] O navio de Cabral ficou para trás, à espera do navio desaparecido de Pedro de Ataíde e da caravela que havia sido enviada para Sofala. Ambos os navios acabaram por aparecer e Cabral chegou a Portugal em 21 de julho de 1501, com os outros navios chegando durante os dias seguintes.[95] Ao todo, dois navios voltaram vazios, cinco estavam completamente carregados e seis foram perdidos. No entanto, as cargas transportadas pela frota geraram lucros de até 800% para a Coroa Portuguesa.[96] Após as especiarias serem vendidas, as receitas cobriram os custos de equipamento da frota e dos navios que foram perdidos, gerando um lucro que por si só excedia a soma total desses custos.[97] "Sem desanimar pelas perdas sem precedentes que havia sofrido, quando chegou à costa do leste africano, Cabral seguiu adiante com a realização da tarefa que lhe tinha sido atribuída e foi capaz de inspirar os oficiais e homens sobreviventes com coragem igual", afirma o historiador James McClymont.[92] "Poucas viagens para o Brasil e Índia foram tão bem executadas como a de Cabral", afirmou o historiador Bailey Diffie,[53] para quem a viagem estabeleceu um caminho entre a abertura imediata "de um império marítimo português da África ao Extremo Oriente", e mais tarde a um "império terrestre no Brasil".[68]

Últimos anos

Túmulo de Pedro Álvares Cabral em Santarém, Portugal.

Após o retorno de Cabral, D. Manuel I começou a planejar outra frota para fazer a viagem à Índia e para vingar as perdas portuguesas em Calecute. Cabral foi escolhido para comandar essa "Frota da Vingança", como era chamada. Durante oito meses Cabral fez todos os preparativos para a viagem,[98] mas por razões que permanecem incertas, foi afastado do comando.[99] Aparentemente, havia sido proposto dar a um outro navegador, Vicente Sodré, o comando independente sobre uma parte da frota - e Cabral se opôs fortemente contra isso.[99][100][101][102] Não se sabe se foi demitido[101] ou se pediu para ser liberado do cargo,[100] de

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qualquer maneira, quando a frota partiu em março 1502, seu comandante era Vasco da Gama, um sobrinho materno de Vicente Sodré, e não Cabral.[21][101][102] Sabe-se, no entanto, que surgiu hostilidade entre as facções que apoiavam Vasco da Gama e Cabral. Em algum momento, Cabral deixou a corte permanentemente.[98] O rei ficou muito irritado com a briga, a tal ponto que simplesmente mencionar o assunto em sua presença poderia resultar no banimento da corte, como ocorreu com um dos apoiantes de Vasco da Gama.[103]

Apesar da perda dos favores do rei,[99][102] Cabral conseguiu um vantajoso casamento em 1503[103][104] com D. Isabel de Castro, uma nobre mulher rica e descendente do rei D. Fernando I.[103] Sua mãe era irmã de Afonso de Albuquerque, um dos maiores líderes militares de Portugal durante a Era dos Descobrimentos.[14][20][103] O casal teve pelo menos quatro filhos: dois meninos (Fernão Álvares Cabral e António Cabral) e duas meninas (Catarina de Castro e Guiomar de Castro).[13] Também teriam tido outras duas filhas, chamadas Isabel e Leonor, de acordo com outras fontes, que dizem também que Guiomar, Isabel e Leonor foram admitidas em ordens religiosas. O primogênito Fernão teria sido o único dos filhos de Cabral a lhe dar herdeiros, uma vez que António morreu em 1521 sem se casar.[105] Afonso de Albuquerque tentou interceder a favor de Cabral e, em 2 de dezembro de 1514, pediu para D. Manuel I perdoá-lo e permitir seu retorno à corte, mas não obteve êxito.[14][103][106]

Sofrendo de febre recorrente e um tremor (possivelmente resultado de malária) desde sua viagem,[21] Cabral se retirou para Santarém em 1509. Passou seus últimos anos por lá.[14][102] Somente informações esparsas estão disponíveis sobre suas atividades durante aquele tempo. Segundo uma carta régia datada de 17 de dezembro de 1509, Cabral tornou-se parte envolvida numa disputa por uma transação de terras envolvendo parte da propriedade que lhe pertencia.[103][107] Outra carta do mesmo ano informa que ele iria receber certos privilégios por um serviço militar não divulgado.[17][103] Em 1518, ou talvez antes, foi elevado de fidalgo a cavaleiro no Conselho do Rei, tendo direito a um subsídio mensal de 2437 reais.[17][103][106] Isto se somava à pensão anual concedida a ele em

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1497, que ainda estava sendo paga.[17] Cabral morreu de causas não especificadas, provavelmente em 1520,[21][96][105][106] e foi enterrado no interior da Capela de São João Evangelista na Igreja do Antigo Convento da Graça de Santarém.[108]

Legado

Reabilitação póstuma

Planisfério de Cantino (1502), um dos primeiros mapas ainda existentes mostrando o território do Brasil. A linha do Tratado de Tordesilhas também está representada.

O primeiro assentamento permanente português na terra que viria a se tornar o Brasil foi São Vicente, estabelecido em 1532 por Martim Afonso de Sousa. Conforme os anos se passaram, os portugueses foram lentamente expandindo as fronteiras de sua colônia para o oeste, conquistando as terras tanto de ameríndios quanto de espanhóis. O Brasil havia assegurado grande parte de suas fronteiras atuais por volta de 1750, sendo considerado por Portugal como a parte mais importante de seu vasto império marítimo. Em 7 de setembro de 1822, o herdeiro de D. João VI, o Príncipe Pedro, garantiu a independência do Brasil de Portugal e tornou-se seu primeiro imperador.[109][110]

As descobertas de Cabral, e até mesmo o local onde foi enterrado, ficaram esquecidos por quase 300 anos desde sua expedição.[109][110] Esta situação começou a mudar no início da década de 1840, quando o Imperador D. Pedro II, sucessor e filho de Pedro I, patrocinou pesquisas e publicações sobre a vida e a expedição de Cabral através do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Isso fazia parte do ambicioso plano do Imperador para incentivar e reforçar um sentimento de nacionalismo na diversificada sociedade brasileira — dando aos cidadãos uma identidade e história comuns como residentes do único país de língua portuguesa das Américas.[111] O início do ressurgimento do interesse em Cabral havia resultado da descoberta de seu túmulo pelo historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen (mais tarde nomeado Visconde de Porto Seguro) em 1839.[21][112] O estado completamente negligenciado em que o túmulo de Cabral foi encontrado quase provocou uma crise

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diplomática entre Brasil e Portugal — este último era então governado pela irmã mais velha de D. Pedro II, D. Maria II.[113]

Parte dos restos mortais de Cabral se encontra em exposição na Antiga Sé, no Rio de Janeiro.

Em 1871, o imperador brasileiro — então em visita oficial à Europa — visitou o túmulo de Cabral e propôs uma exumação para fins científicos, a qual foi realizada em 1882.[112] Numa segunda exumação, em 1896, foi autorizada a remoção de uma urna contendo terra e fragmentos de ossos. Apesar de seus restos mortais ainda estarem em Portugal, a urna foi eventualmente trazida à Antiga Sé do Rio de Janeiro em 30 de dezembro de 1903.[112] Desde então, Cabral tornou-se um herói nacional do Brasil.[114] Em Portugal, porém, os autores afirmam que seu prestígio é ofuscado pela fama de Vasco da Gama.[115][116] Para o historiador William Greenlee, a viagem de Cabral é importante "não só devido à sua posição na história da geografia, mas por causa de sua influência na história e economia da época". Embora este autor reconheça que poucas viagens "tiveram maior importância para a posteridade", diz também que "poucas foram menos apreciadas em seu tempo".[117] No entanto, o historiador James McClymont afirmou que "a posição de Cabral na história das conquistas e descobertas portuguesas é inexpugnável apesar da supremacia de homens maiores ou mais afortunados".[118] Segundo ele, Cabral "será sempre lembrado na história como o principal, se não o primeiro, descobridor do Brasil".[118]

Hipótese da descoberta intencional

Monumento a Pedro Álvares Cabral em Lisboa.

Uma controvérsia que ocupa os estudiosos há mais de um século é se a descoberta de Cabral foi por acaso ou intencional. Neste último caso, isso significaria que os portugueses tinham pelo menos algum indício de que existia uma terra a oeste. A questão foi levantada pela primeira vez pelo imperador Pedro II em 1854 durante uma sessão do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro quando indagou aos pesquisadores se a descoberta poderia ter sido intencional.[119]

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Até a conferência de 1854, a presunção generalizada era de que a descoberta tinha sido um acidente. Obras iniciais sobre o assunto defendiam esta visão, tais como História do Descobrimento e Conquista da Índia (publicado em 1541) de Fernão Lopes de Castanheda, Décadas da Ásia (1552) de João de Barros, Crônicas do Felicíssimo Rei D. Manuel (1558) de Damião de Góis, Lendas da Índia (1561) de Gaspar Correia,[120] História do Brasil (1627) de frei Vicente do Salvador e História da América Portuguesa (1730) de Sebastião da Rocha Pita.[121]

A primeira obra a defender a ideia de descoberta intencional foi publicada em 1854 por Joaquim Noberto de Sousa e Silva, depois que D. Pedro II iniciou o debate.[122] Desde então, vários estudiosos apoiaram a ideia, tais como Francisco Adolfo de Varnhagen,[113] Capistrano de Abreu,[113] Pedro Calmon,[123] Fábio Pestana Ramos[124] e Mário Barata.[125] Para o historiador Hélio Vianna, "embora haja sinais da intencionalidade" da descoberta de Cabral, "baseados principalmente no conhecimento ou nas suspeitas anteriores da existência de terras à beira do Atlântico Sul", não existem provas irrefutáveis que a comprovem.[126] Esta opinião também é compartilhada pelo historiador Thomas Skidmore.[127] O debate sobre se a descoberta foi deliberada ou não é considerado "irrelevante" pelo historiador Charles R. Boxer.[60] Para o historiador Anthony Smith, as alegações conflitantes "provavelmente nunca serão resolvidas".[128]

Precursores

O Mapa de Juan de la Cosa, datado de 1500, menciona a viagem ao nordeste brasileiro feita por Vicente Yáñez Pinzón.

Cabral não teria sido o primeiro europeu a pisar em terras brasileiras, para não mencionar outras partes da América do Sul. Moedas romanas foram encontradas na atual Venezuela, a noroeste do Brasil, provavelmente originárias de navios que foram levados para lá por tempestades na Idade Antiga.[129] Os escandinavos chegaram à América do Norte e estabeleceram até mesmo assentamentos, embora estes tenham fracassado em algum momento antes do final do século XV.[129] Cristóvão Colombo, em sua terceira viagem ao Novo Mundo, em 1498, percorreu parte do que viria a ser a Venezuela.[125]

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No caso do Brasil, já foi considerado provável que o navegador português Duarte Pacheco Pereira teria feito uma viagem à costa brasileira em 1498. Essa crença foi entretanto descartada e atualmente se considera a possibilidade de que ele tenha viajado para a América do Norte em vez disso.[19][130][131] Há mais evidências concretas de que dois espanhóis, Vicente Yáñez Pinzón e Diego de Lepe, teriam viajado ao longo da costa norte do Brasil entre janeiro e março de 1500. Pinzón foi do que hoje é Fortaleza até a foz do rio Amazonas. Ali, encontrou uma outra expedição espanhola, liderada por Lepe, que chegaria ao rio Oiapoque em março. A razão pela qual Cabral é considerado descobridor do Brasil, ao invés dos exploradores espanhóis, deve-se ao fato de que as viagens de Pinzón e Lepe foram breves e não tiveram qualquer impacto duradouro. Os historiadores Capistrano de Abreu,[132] Francisco Adolfo de Varnhagen,[133] Mário Barata[134] e Hélio Vianna[135] concordam que as expedições espanholas não influenciaram em nada o desenvolvimento do que viria a ser a única nação de língua portuguesa das Américas — com história, cultura e sociedade únicas, diferenciando-a das sociedades hispano-americanas que dominam o resto do continente.

CRISTOVÃO COLOMBO

Origem e primeiros anos

A data do nascimento de Colombo pode ser determinada com alguma precisão, uma vez que num documento datado de 31 de Outubro de 1470 afirma-se que Cristóvão Colombo, filho de Domenico é já maior de

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dezanove anos.[4][nota 1] Esta informação, juntamente com o documento Assereto,[5] onde ele próprio afirma ter "cerca de 27 anos", permite precisar o ano do seu nascimento como sendo o de 1451, entre 25 de Agosto e 31 de Outubro. Segundo a documentação existente, era natural de Génova,[nota 2] tendo provavelmente nascido no bairro de Quinto, onde o seu pai residia já em 1429.[7] Era filho de Domenico Colombo e de Susana Fontanarubea, e neto de Giovanni Colombo, morador em Quinto, e já defunto a 20 de Abril de 1448. Tinha ainda um tio chamado António Colombo e uma tia Battistina, casada com Giovanni Frittalo, a qual foi dotada no referido ano de 1448.[8] A 21 de Fevereiro de 1429 o pai de Colombo, Domenico, foi enviado pelo seu pai Giovanni, avô de Colombo, para casa de um tecelão Alemão, como aprendiz dessa arte, por um prazo de seis anos. Giovanni, originário de Moconesi, era então habitante em Quinto.[7]

Domenico Colombo e Susana Fontanarubea tiveram pelo menos quatro filhos, Bartolomeu, Cristóvão e Giacomo e João Peregrino, e uma filha, Blanchinetta, a qual em 1489 estava já casada com o queijeiro Jacobo Bavarelli. Tanto João peregrino como Blanchinetta morreram jovens, tendo esta deixado um filho, por nome Pantaleão.[9] Cristóvão e Bartolomeo terão tido desde cedo vocação marítima, enquanto Giacomo aprendeu o ofício de tecedor.[10] Vários documentos notariais Genoveses atestam a presença em Espanha dos três filhos de Domenico, Bartolomeu, Cristóvão e Giacomo. Em 1489, após um processo entre Domenico e o pai do seu genro, Giacomo Bavarello, queijeiro, este, já viúvo, assina na qualidade de legítimo administrador da parte dos seus três filhos. A 11 de Outubro de 1496, um acordo é assinado entre Giovanni Colombo de Quinto e Matteo e Amighetto, seus irmãos, todos filhos de Antonio Colombo já defunto, segundo o qual o primeiro deles se deveria dirigir a Espanha, a expensas comuns, para visitar «Cristóvão Colombo, seu primo, Almirante do Rei de Espanha». Em 1501, alguns cidadãos de Savona juraram que Cristóvão, Bartolomeu e Giacomo Colombo, filhos e herdeiros do defunto Domenico são «há muito tempo afastados da cidade e território de Savona, para lá de Pisa e de Nice em Provença, e que vivem em Espanha, como toda a gente sabe e o sabia já»[11]. No documento

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denominado "Fundación de Mayorazgo", Colombo declara igualmente a sua naturalidade genovesa.

Numa minuta datada de 25 de Agosto de 1479, Colombo é referido como "cidadão Genovês". O mesmo documento, denominado "documento Assereto", no qual Colombo é citado como testemunha num processo judicial sobre uma compra de açúcar na Ilha da Madeira na qual esteve envolvido, transcreve a afirmação de Colombo sobre a sua idade à época, cerca de 27 anos, e que estava de partida para Lisboa.[5] O documento refere ainda os mercadores Genoveses Paolo di Negro e Lodovico Centurione, cujos herdeiros são citados nos testamentos de Colombo (1506) e do seu filho Diogo (1523).[11] Através deste documento sabe-se, com certeza, que em 1479 Colombo trabalhava como representante da casa Centurione no comércio do açúcar, tendo já visitado a Madeira e parecendo já estar estabelecido em Lisboa.

A sua origem é considerada por alguns como enigmática, existindo hipóteses para um nascimento ocorrido entre 1436 e 1456.[19] O seu filho, Fernando Colombo, na sua Historia del almirante Don Cristóbal Colón, obscureceu a pátria e origem de Colombo, afirmando que o pai não queria que fossem conhecidas tais informações.[20][21] Em parte por este motivo foram surgindo múltiplas teorias sobre o lugar de nascimento de Colombo, das quais se destacam a hipótese portuguesa, a catalã e a galega.

Casamento e descendência

Portugal, à época, buscava uma passagem marítima para o Oriente, que lhe permitisse comerciar directamente com a Índia, de onde eram redistribuídas as especiarias oriundas das ilhas Molucas, a par de outros produtos de luxo. Via nesse projeto uma resposta cristã à hegemonia turco-egípcia, muçulmana, sobre a rota terrestre abastecedora da Europa, particularmente das cidades de Gênova e de Veneza.

Como alternativa a esse projeto, Colombo concebeu atingir as Índias navegando para o Ocidente, contornando o planeta. As suas ideias básicas eram:

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a esfericidade da Terra; e que os mares eram formados por uma única massa.

Durante a sua estadia em Portugal, Colombo correspondeu-se com Paolo del Pozzo Toscanelli. Nessa correspondência Toscanelli indica uma estimativa (incorreta) de que a distância era mais curta que a aceite pela Junta de Matemática de D. João II. Este órgão aceitava a afirmação de Ptolomeu de que a massa de terras da Eurafrásia, que é a Eurásia (Europa e Ásia) e a África, ocupava 180 graus da esfera terrestre, com 180 graus de mar. De facto só ocupa cerca de 120 graus. Colombo teria usado os cálculos de Pierre d'Ailly, acreditando que a massa ocupada por terras era de 225 graus, deixando 135 graus de mar e atribuindo um comprimento menor ao grau de longitude terrestre; estes factos, em conjunto com o globo de Martin Behaim, teriam tido a virtude de convencer os castelhanos, no Concelho de Salamanca onde apresentou o seu projeto a um grupo de religiosos e leigos, a patrocinar a sua expedição. A circunferência verdadeira da Terra é de aproximadamente quarenta mil quilómetros. Colombo teria afirmado que era de trinta mil e seiscentos quilómetros, estimando assim que a distância ao Japão era de cerca de quatro mil quatrocentos e quarenta e quatro quilómetros.

Mas Manuel Rosa prova no seu último livro Colón. La Historia Nunca Contada que Colombo de facto media 231 léguas desde Santa Maria nos Açores até Lisboa (uns 6000 quilómetros por légua), e que essa era a mesma distância que dá Valentim Fernandes no seu Livro de Marco Paulo.[26] Também o Infante D. Henrique menciona as mesmas léguas na doação da Ilha Terceira a Jacome de Bruges em 1450. Deduz-se assim que Colombo em vez de andar perdido ou enganado, ocultava o que sabia e fazia-o para enganar os Reis Católicos e que o globo de Martin Behaim, um perito da Junta de Matemática de D. João II fazia parte do mesmo engano.

Colombo conseguiu finalmente fazer aprovar o projecto da sua viagem junto dos Reis Católicos, após a conquista de Granada, com a ajuda do confessor da rainha Isabel de Castela. Os termos da sua contratação tornavam-no almirante dos mares da Índia a descobrir e governador e vice-rei das terras do Oriente a que se propunha chegar, em competição com os portugueses que exploravam a Rota do Cabo.

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Alguns historiadores têm procurado demonstrar que o navegador mentia propositadamente a Castela para ajudar Portugal e que tinha a ajuda de Américo Vespúcio nessa missão.[nota 4]

As quatro viagens ao Novo Mundo

Na noite de 3 de agosto de 1492, Colombo partiu de Palos de la Frontera, com três navios: uma nau maior, Santa María, apelidada Gallega, e duas caravelas menores, Pinta e Santa Clara, apelidada de Niña depois de seu proprietário Juan Niño de Moguer.[28] Eram propriedade de Juan de la Cosa e dos irmãos Pinzón (Martín Alonso e Vicente Yáñez), mas os monarcas forçaram os habitantes de Palos a contribuir para a expedição. Colombo navegou inicialmente para as ilhas Canárias, que eram propriedade da Castela, onde reabasteceu as provisões e fez reparos. Em 6 de setembro, partiu de San Sebastián de la Gomera para o que acabou por ser uma viagem de cinco semanas através do oceano.

A terra foi avistada às duas horas da manhã de 12 de outubro de 1492, por um marinheiro chamado Rodrigo de Triana (também conhecido como Juan Rodríguez Bermejo) a bordo de Pinta.[29] Colombo chamou a ilha (no que é agora Bahamas) San Salvador, enquanto os nativos a chamavam Guanahani. Exatamente qual era a ilha nas Bahamas é um assunto não resolvido. As candidatas principais são Samana Cay, Plana Cays e San Salvador Island (assim chamada em 1925, na convicção de que era a San Salvador de Colombo). Os indígenas que encontrou, os lucaians, taínos ou aruaques, eram pacíficas e amigáveis. Desde a entrada em 12 de outubro de 1492 em seu diário, Colombo escreveu sobre eles: "Muitos dos homens que já vi têm cicatrizes em seus corpos, e quando eu fazia sinais para eles para descobrir como isso aconteceu, eles indicavam que pessoas de outras ilhas vizinhas chegavam a San Salvador para capturá-los e eles se defendiam o melhor possível. Acredito que as pessoas do continente vêm aqui para tomá-los como escravos. Devem servir como ajudantes bons e qualificados, pois eles repetem muito rapidamente o que lhes dizemos. Acho que eles podem muito facilmente ser cristãos, porque eles parecem não ter nenhuma religião. Se for do agrado de nosso Senhor, vou tomar seis deles de Suas Altezas quando eu partir, para que possam aprender a nossa língua."[30] Observou que a falta de armamento moderno e até

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mesmo espadas e lanças forjadas de metal era uma vulnerabilidade tática, escrevendo: "Eu poderia conquistar a totalidade deles com 50 homens e governá-los como quisesse."[31] Colombo também explorou a costa nordeste de Cuba, onde desembarcaram em 28 de outubro (segundo os próprios cubanos[32] o nome é derivado da palavra Taíno, "cubanacán", significando "um lugar central"), e o litoral norte de Hispaniola, em 5 de dezembro. Aqui, o Santa Maria encalhou na manhã do natal de 1492 e teve de ser abandonado. Foi recebido pelos cacique nativo Guacanagari, que lhe deu permissão para deixar alguns de seus homens para trás. Colombo deixou 39 homens e fundou o povoado de La Navidad no local da atual Môle Saint-Nicolas, Haiti.[33] Antes de retornar à Espanha, Colombo também sequestrou entre 10 a 25 nativos e os levou de volta com ele. Apenas sete ou oito dos índios nativos chegaram à Espanha vivos, mas eles causaram forte impressão em Sevilha.[29]

A sua segunda viagem iniciou-se em 1493, com três naus e catorze caravelas. Nela avistou as Antilhas e abordou a Martinica. Rumou depois para o norte e alcançou Porto Rico. Foi a Hispaniola onde a pequena colônia tinha sido arrasada pelos indígenas. Tendo ali deixado outro contingente de homens, navegou para o ocidente e chegou à Jamaica. Nessa viagem fundou Isabela, atual Santo Domingo, na República Dominicana, a primeira povoação européia no continente americano.

Para a terceira viagem, partiu em 1498, com seis naus, tendo chegado à ilha da Trinidad depois de uma atribulada viagem. Rumando ao sul chegou a uma grande terra que pensou ser uma ilha, a que chamou de Gracia. Rumando ao norte chegou a Santo Domingo, onde entrou em conflito com o governador, vindo ele e o irmão a ser presos e enviados para Castela.

Na quarta viagem, saiu de Cádiz com quatro naus em 1502, propondo-se uma vez mais a chegar ao Oriente. Avistou a Jamaica e, depois de grande tempestade, chegou à Ilha de Pinos nas Honduras. Avistou depois as costas da Nicarágua, Costa Rica e Panamá. Devido ao péssimo estado das naus teve de regressar a Hispaniola, de onde voltou para Castela.

Os últimos anos de vida

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Colombo sempre atribuiu as suas viagens ao desejo de converter novos povos ao Cristianismo, uma crença que se intensificou com a idade. Reivindicou ouvir vozes divinas, e procurou que se organizasse uma nova cruzada para capturar Jerusalém. Usava as vestes de franciscano, e descreveu as suas explorações ao "paraíso".

Por outro lado, exigiu da Coroa castelhana dez por cento de todos os lucros nas terras novas de que viesse a tomar posse, conforme o acordo antecedente com os Reis Católicos. Como Colombo já não governava "as Índias", o novo monarca rejeitou estas pretensões. Os seus filhos processaram a Coroa castelhana para obter parte dos lucros do comércio com a América, mas perderam a causa cinqüenta anos mais tarde.

Razoavelmente rico devido ao ouro que os seus homens tinham acumulado em Hispaniola e particularmente honrado pelos seus filhos, Colombo faleceu em Valladolid a 20 de Maio de 1506.

Andres Bernaldez, cronista dos Reis Católicos, amigo íntimo e confidente de Colombo, atribui-lhe a idade de 70 anos à época do seu falecimento. Teria, assim, nascido em 1436-1437.

Restos mortais

Em 1509 os seus restos mortais foram transladados para a capela da ilha Cartuxa, em Sevilha.

Por desejo do seu filho, Diogo Colombo, as ossadas foram levadas para a Catedral de São Domingos, em 1542.

Em 1795 a ilha Hispaniola foi conquistada pela França, e parte dos seus restos mortais terão sido levados para Havana, em Cuba.

Em 1877, foi descoberta em São Domingos uma caixa de chumbo com a inscrição "Varón ilustre y distinguido Cristóbal Colón", contendo fragmentos de ossos. Estes restos permaneceram na Catedral de São Domingos até 1992, ano em que foram trasladados para o Farol a Colombo, um grande monumento construído pelo governo dominicano, para conservar os restos do Almirante, e onde também se supõe que repousam ainda alguns dos restos mortais de Colombo.

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Em 1898, durante a Guerra Hispano-Americana, outra parte dos seus restos regressou a Sevilha.

Em 2004 foi aberto o túmulo de Sevilha onde foram encontrados duzentos gramas de ossos (cerca de 15% do total), que análises feitas por arqueólogos e cientistas do DNA mitocondrial apontam que os restos mortais pertencem ao ilustre navegador.

Já foi pedida autorização às autoridades da República Dominicana para analisar o túmulo de São Domingos, autorização que foi rejeitada até ao momento.

AMÉRICO VESPÚCIO

Dados biográficos

Diz dele o historiador britânico Hugh Thomas em «Rivers of Gold», 2003, traduzido em espanhol como «El Imperio español - De Colón a Magallanes», Planeta. 2006, página 377/378: «Os Vespucci eram uma das famílias florentinas mais importantes, donas de grande extensão de terra fora da cidade, em Peretola, povoado hoje destruído pela construção de um aeroporto internacional. Fizeram fortuna no comércio da seda. Tinham palácio em Florença, muito bem situado, a noroeste, perto da Porta del Prato então chamada Porto della Cana, distrito de Santa Lucia di

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Ognissanti. Diversos membros da família haviam ostentado cargos importantes, por muitas gerações, em Florença. (...) O jovem Vespúcio estudou sob a direção de seu tio Jorge (Giorgio), que lhe falou de Ptolomeu e de Aristóteles, e provavelmente conheceu Toscanelli, o geógrafo florentino e comerciante que se correspondia com o rei de Portugal e com Cristóvão Colombo. Vários Vespucci já haviam estado ligados ao mar (...). O jovem Américo começou sua carreira em Paris, como secretário particular de um primo, Guidantonio Vespucio, que exercia como embaixador de Florença na capital francesa, e que depois se dirigiu a Roma e Milão com o mesmo emprego. Posteriormente Guidantonio foi nomeado magistrado ou confaloniero chefe de Florença. Mas Américo começou a trabalhar para o novo ramo da família Medici que na ocasião dirigiam o jovem Lorenzo di Pier Francesco dei Medici, e seu irmão Giovanni (João). Viajou por causa do trabalho a distintas partes da Itália e visitou diversas vezes a Espanha, até se estabelecer em Sevilha no outono de 1492, quando Colombo já tinha partido em sua primeira viagem. Seguia trabalhando para os Medicis. No ano seguinte colaborou com Juanotto Berardi, seu «amigo especial», que ajudava os Medici desde 1489. Segundo um dos biógrafos de Américo Vespúcio, sua ambição havia sido alentada pelo que Colombo tentara, e segundo ele não conseguira, isto é, chegar à Índia pelo oeste. Daí sua participação na expedição de Alonso de Ojeda entre 1499 e 1500, daí ter aceitado o encargo de seguir o litoral do continente sul-americano, por ordem do rei de Portugal, entre maio de 1501 e o verão de 1502, quando percorreu o litoral brasileiro desde o que chamou Cabo de São Roque (onde esteve em 16 de agosto) e, além da Bahia e do Rio de Janeiro, até Cananéia (onde chegou em janeiro de 1502). Aquele seria, segundo ele, o ponto mais ocidental ao qual, em virtude do Tratado de Tordesilhas com a Espanha, poderiam aspirar os portugueses. E logo prosseguiu sua viagem rumo ao Rio da Prata.

No Brasil

Em 13 de Maio de 1501, a serviço do rei D. Manuel I de Portugal, partiu de Lisboa na expedição de Gaspar de Lemos constituída por três naus, cujo objetivo era investigar as potencialidades económicas e explorar a recém

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descoberta costa do Brasil. Em Agosto avistaram terra firme e continuaram a percorrer a costa sul até entrar a 1 de Janeiro de 1502 na baía do Rio de Janeiro.

Outros historiadores dizem que em 1501 a armada era comandada por André Gonçalves, estando encarregada de explorar a costa brasileira. Saindo de Lisboa a 17 de agosto, alcançou o cabo de São Roque e provavelmente desceu o litoral até a Patagônia.

As falsificações e o nome "América"

Diz Hugh Thomas na obra acima citada, página 379: «Quando Vespúcio regressou do Brasil, declarou que o território frente ao qual havia navegado estendia-se demasiadamente para o sul para se tratar da Índia. De Lisboa escreveu a Pier Francesco dei Medici: ´Chegamos a uma nova terra que, por muitas razões que enumero a seguir, observamos tratar-se de um continente.´Estava seguro de ter descoberto um território completamente novo, não simplesmente um prolongamento para leste da Ásia. O que Colombo tinha descoberto era um continente que bloqueava o caminho para a Ásia pelo oeste, a menos que se descobrisse uma passagem que tornasse desnecessário rodeá-lo. A assombrosa observação se fez pela primeira vez em Lisboa, e a corte, os cartógrafos e os comerciantes da cidade, não tardaram em levá-la muito em conta. O excelente mapa portulano, que data de 1502, mostra o novo continente em duas partes não unidas.»

Vespúcio regressou a Sevilha. Seu amigo florentino, o empresário Bartolomeu Marchionni, escreveu que «tinha tido duro trabalho e recolhido escasso benefício». Posteriormente, se disse que Vespúcio escreveu então duas outras cartas: uma, intitulada Mundus Novus, dirigida a Lorenzo de Medicis, que foi publicada em janeiro de 1504. Trata-se de um cúmulo de inexatidões e falsas afirmações, dirigida a alguém que ele sabia ter morrido há algum tempo. Em setembro de 1504 foi publicada outra falsificação, uma carta supostamente endereçada a Piero Soderini, novo confaloniero de Florença, logo publicada como Quatuor Americi Vesputti Navigationes - em que a primeira e o quarta viagens são falsos...

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A carta está também, como a anterior, cheia de inexatidões, absurdos, erros gramaticais, embora tenha tido um destino extraordinário, presenteada em 1505 a René ou Renato II, duque de Lorena, o qual fez dela presente a um grupo de sábios conhecidos como Ginásio Vosgiano, em Saint-Dié, aldeia daquelas montanhas dos Vosges - entre os quais se contava Martin Waldseemüller. Este já tinha decidido publicar nova versão da Cosmografia de Ptolomeu: escreveu uma introdução, que intitulou Cosmographia Introductio, na qual inseriu as Navegationes de Vespúcio, traduzidas para o latim. Waldseemüller escreveu: «Na atualidade as partes da Terra, Europa, Ásia e África, já foram completamente exploradas, e outra parte foi descoberta por Amerigo Vespuccio, como se pode ver nos mapas adjuntos. E como a Europa e Ásia receberam nomes de mulher, não vejo razão pela qual não possamos chamar a esta parte Amerige, isto é, a terra de Amérigo, ou América, em honra do sábio que a descobriu.» E assim neste mapa o novo hemisfério situado do outro lado do mar Oceano foi chamado «América» por primeira vez.

A primeira viagem que teria realizado Vespúcio em 1497 jamais existiu , e Colombo descobriu efetivamente o continente sul-americano em sua terceira viagem, em 1498. Em outra edição da Cosmografia, de 1513, Waldseemüller concedia maior crédito a Colombo. Mas, apesar de tudo, o cartógrafo Mercator, em seu primeiro mapa mundi, o chamado «Orbis Imago» de 1538, deu também o nome de batismo de Américo ao continente setentrional, ou América do Norte. A fraude só se percebeu em 1879 e em 1926 Alberto Magnaghi, catedrático de Milão, demonstrou em um estudo a evidência...

De novo o relato de sua vida

Em 1503 Vespúcio retornou ao Brasil, desta vez comandando um navio da frota de Gonçalo Coelho, armada por cristãos-novos associados a Fernão de Noronha. Perdendo-se do resto da armada, carregou o navio de pau-brasil ao sul da baía de Todos os Santos e desembarcou em Lisboa em 18 de junho de 1504. Afirmou então haver estado em um novo mundo, ao qual chamaria Novus Orbis porque os antigos o desconheciam. Disse também, segundo o historiador Hugh Thomas, que desejava retornar e

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chegar ao oriente pelo sul, aproveitando-se dos ventos austrais. Mas nunca o fez.

Em 1505, em Sevilha, naturalizou-se espanhol. De 1508 até a morte, foi o piloto-mor da Casa de Contratação das Índias. Integrava, com Juan de la Cosa, Vicente Yáñez Pinzón e Juan Díaz de Solís, a comissão de conselheiros reais que se reuniu em Burgos em 1505 e decidiu fundar a Casa de Contratação, criando os cargos de piloto mor, geógrafo e cartógrafo. A nomeação de piloto-mor recaiu nele próprio que, como desejava o rei, deveria dividir seus conhecimentos com os pilotos espanhóis e convencê-los a usar métodos astronómicos para determinar a longitude quando no mar, em vez de estimativas vagas. Como tal, ninguém poderia pretender pilotar naves nem cobrar salário de piloto, nem patrão algum poderia aceitá-lo a bordo, até que fosse examinado por Vespúcio, que lhe expediria ou não um certificado de aprovação. O piloto-mor deveria portanto ser uma espécie de professor que dirigisse uma escola de capitães de barco em sua casa de Sevilha.

A popularidade trazida pelas narrativas de suas viagens converteu-o num dos autores mais vendidos à época. Como se viu acima, foi o cartógrafo Martin Waldseemüller quem primeiro nomeou o novo continente América, em sua homenagem.