as grandes fotos · 1 as grandes fotos w. j. solha É aqui que escrevo. na parede, quadros meus a...
TRANSCRIPT
1
AS GRANDES FOTOS W. J. Solha
É aqui que escrevo.
Na parede, quadros meus a partir de fotos de dois profissionais daqui da Paraíba, quase
todos de Antonio David, que clicou, também, este belo lance dramático
2
e este, hilário, em que os ferrabrases do monumento a João Pessoa, no centro, aqui, da
capital, que seguram uma bigorna adiante da Fama, parecem fazer um esforço enorme
para suportar... a faxineira e sua escada.
Há outro flagrante dele, chapliniano, obtido no mesmo local, de que me aproveitei aqui.
3
Já meu autorretrato foi feito em cima de uma
despretensiosa (mas maravilhosa) foto de Gustavo Moura, quando rodávamos o curta A
Canga ( de Marcus Vilar, baseado em meu livro com o mesmo nome ), pra guardar deta-
lhes de figurino e acessórios de cada cena. Gustavo tem, entre outras publicações, o livro
DO REINO ENCANTADO, sobre o universo de Ariano Suassuna, cheio de fotos im-
pressionantes, como esta:
4
Também entre os fotógrafos paraibanos, de uma linha diferente, está João Lobo, de
quem já prefaciei dois ou três livros enfocando a luz e o movimento.
O também conterrâneo Walter Carvalho, diretor de fotografia do nosso curta e reno-
mado pelas imagens de grandes realizações como Central do Brasil, Carandiru, Janela
da Alma, A Grande Arte, Budapest, Lavoura Arcaica, Madame Satã, etc, etc, é também
famoso profissional fora do cinema, como se vê nesta foto antológica... sobre um curioso
cinema, o Cumaru, no sudeste do Pará:
5
Aliás o Brasil é uma extraordinária fonte de grandes imagens. Como esta, de Erno
Schneider, que nos disse tudo sobre Jânio.
6
André Dusek não fica atrás, com Sarney significativamente espremido entre seus minis-
tros militares.
De Juca Martins, há esta cena forte ante a Catedral da Sé, em São Paulo:
7
Antonio Gaudério, gaúcho, tem este fabuloso flagrante de uma pelada, aqui em João
Pessoa. Veja o detalhe no outdoor, à direita: A PAIXÃO DE TODOS. Genial.
Respeitado em todo o mundo, o mineiro Sebastião Salgado tem vários volume editados,
todos indispensáveis.
Difícil destacar algo, entre tantas obras-primas que vem produzindo.
8
9
10
As fotos que fez na África nos remetem a Leni Riefenstahl. Curioso, como essa notável
cineasta, responsável por filmes geniais, embora de propaganda nazista,
deixou maravilhas da fotografia, em que nos apresenta os negros como deuses da beleza:
11
Mas vamos à lição número um de fotografia. Cartier-Bresson dizia:
- Dentro do movimento existe um instante no qual todos os elementos que se
movem ficam em equilíbrio. A fotografia deve intervir neste instante, tor-
nando o equilíbrio imóvel.
“Momento decisivo”. Exatamente o que Andréia Solha viu ao flagrar esse
olhar de Cristo enquanto eu o estava pintando, anos atrás.
E André Kertész também, quando “sentiu” o inusi-
tado da nuvenzinha - solitária e pequenina presen-
ça da natureza - na Nova Iorque concreta de
1937... e clicou: “Lost Cloud”. Perfeito.
12
E eis Cartier-Bresson em ação. Fixou a bicicleta no exato milésimo de segundo em que
passava, necessária ao movimento da curva. E fixou o homem que caminhava com a cri-
ança, na praça, “seguido” pelo gigantesco Lênin, que passou, com igual capa, a cami-
nhar na sua mesma direção, transversal ao enquadramento.
Que imagem mais clara da superpopulação na China?
13
E eis foto semelhante à primeira, da bicicleta,
em que as mulheres de negro é que dão vida ao
“movimento” das passarelas e grades.
Agora Brassaï, o gênio da noite parisiense. Esta imagem da Notre-Dame – enorme e
maciço vulto entre os brilhos das luminárias - é impressionante:
14
E também a da Pont Neuf,
... como também o belo flagrante deste jogo amoroso,
enquanto bruma e treva reinam lá fora.
15
Eugène Atget tem um desses momentos decisivos à Cartier-Bresson, em que flagra o
êxtase da pequena cantora de rua, ante o evidente sucesso que acaba de obter, na plateia
das janelas, acompanhada pelo realejo!
Já o Jacques-Henri Lartigue, em pleno 1912 - três anos
depois de o Marinetti, pai do Futurismo, dizer que via
mais beleza num carro de corrida do que na Vitória de
Samotrácia, que é toda movimento -, celebrizou-se
com esta sensacional largada expressionista, símbolo
da velocidade, na época:
16
Segundo a Wikipédia, Tina Modotti (Údine, 16/17 de agosto de 1896 — 5 de janeiro de 1942)
foi uma fotógrafa italiana, modelo, atriz e ativista política revolucionária. Ei-la no canto direito
do mural de Rivera, que tem à esquerda outro grande muralista mexicano, Siqueiros, e
- ao centro - Frida Kahlo:
Esta é uma foto sua com o próprio casal Diego Rivera e Frida ao centro,
17
,
seguida de seu click mais famoso, o dos trabalhadores do México, marcado pelo mar de
sombreros:
Já Robert Capa, húngaro, foi um dos mais célebres fotógrafos de guerra. Cobriu a Civil Espa-
nhola, a Segunda Sino-Japonesa, a Segunda Mundial, a Guerra árabe-israelense de 1948 e
a Primeira da Indochina. Esta sua foto na Espanha correu mundo:
.
18
Famoso, também, é este seu flagrante na paz. Com justiça.
Picasso and his muse Françoise Gilot (1948)
19
Joe Rosenthal, enquanto isso, ganhou o prêmio Pulitzer com esta célebre foto tirada em
Iwo Jima.
Climt Eastwood, entretanto, diz que tudo
não passou de uma encenação pra efeito de
propaganda americana. Ou seja: nada de
re- flexo à Cartier-Bresson ante um momento
decisivo.
20
Dorothea Lange - (1895 – 1965) foi uma influente fotógrafa documental e fotojorna-
lista norte-americana conhecida por seus retratos da Grande Depressão. De fato, as
fotos abaixo sintetizam toda a angústia, miséria e incerteza que tão bem ficamos conhe-
cendo através de Vinhas da Ira, o belo romance de Steinbeck que virou grande filme nas
mãos de John Ford.
21
A imagem mais ponderosa desse momento histórico, no entanto, é de Margareth Bour-
ke-White, de uma ironia terrível, pelo contraste entre o delírio branco do outdoor e a
realidade negra que ela viu na rua:
Já o francês Andreas Feininger deixou fotos
soberbas de N. Y. Como esta, vista do Rio
Hudson, em que a maciça série vertical de edi-
fícios contrasta, embaixo, com o rastro do na-
vio na água e, em cima, o do seu vapor no ar.
Olha que beleza:
22
Outro ícone fotográfico americano produzido
por um estrangeiro, foi o do suíço Robert
Frank, enfocando o vasto deserto do Novo
México como retrato da grande vastidão ter-
ritorial americana,
... o que nos leva ao Canyon de Chelly, no
Arizona, pela majestosa foto do americano
Ansel Adams. E haja imponência:
23
Mas voltam os europeus. Mais crítica social à burguesia, agora do polonês Weegee. Tem
o título, a propósito, de A Crítica.
E um pouco mais de humor não vai mal. Voltemos à França, agora sob a óptica de Ro-
bert Doisneau:
24
Olha só os quatro passarinhos que encheram as três graças de titica:
25
E hoje? Bom. Dois exemplos: Steve McCurry,
26
e Chan Kwok Hung:
27
E por aí vai. Felizmente há enormes lacunas na mostra acima. Toda escolha vem sob o
risco de ser injusta. Mas me parece que, a partir do que vimos, poderíamos dizer que a
fotografia é uma das nossas grandes artes.
E OK. Acrescentemos, para encerrar, que Antonio David, de quem transpus tantas fotos
para os quadros que estão em minha sala de trabalho, apresentados no início deste texto,
em registro de Andréia Solha, obteve, em 2011, o primeiro lugar no quesito cor do 8º
Concurso Fotográfico Cultural Leica-Fotografe (prêmio mais cobiçado por fotógrafos
profissionais), promovido pela Leica e revista Fotografe Melhor, com a foto abaixo, ti-
rada na Pedra da Boca, município de Araruna, a 150 km de João Pessoa:
Ele acaba de lançar este livro.