as fronteiras entre a arquitetura e o design€¦ · as fronteiras entre a arquitetura e o design...

80
Frederico Azevedo Marques da Fonseca As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato Sensu do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de Especialista em Design Gráfico. Orientador: Prof. Dr. Carlos Tadeu Siepierski São Paulo 2006

Upload: others

Post on 27-Jul-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

Frederico Azevedo Marques da Fonseca

As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design

Monografia de conclusão de curso apresentada

ao programa de Pós-Graduação Lato Sensu

do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo

como exigência parcial para obtenção do título de

Especialista em Design Gráfico.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Tadeu Siepierski

São Paulo

2006

Page 2: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

ii

Aos meus pais e avós

Page 3: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

iii

Agradeço ao Orientador Prof. Dr. Carlos Tadeu Siepierski

e todos amigos e familiares que me apoiaram

Page 4: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

iv

Sumário

Introdução .................................................................................................................................. 1

Capítulo 1. A Sociedade Industrial ............................................................................................ 3

1.1. O Manifesto Futurista ....................................................................................................... 4

1.2. O Mundo Não-figurativo da Rússia ................................................................................... 5

1.3. A Influência do Cubismo ................................................................................................... 8

1.4. DeStijl e o Construtivismo ................................................................................................. 9

1.5. Influências do Manifesto Futurista .................................................................................. 11

1.6. A Bauhaus e o Construtivismo ........................................................................................ 12

1.7. O Modernismo Americano .............................................................................................. 15

Capítulo 2. A Sociedade Pós-industrial .................................................................................... 17

2.1. O Período pós-guerra ...................................................................................................... 18

2.2. Arquitetura Pós-moderna ................................................................................................ 21

2.3. A Cultura Pop e os Movimentos Artísticos ..................................................................... 25

2.4. Influências da Pop-art ..................................................................................................... 27

2.5. Geração Anos 80 ............................................................................................................ 30

Capítulo 3. O Deconstrutivismo ................................................................................................ 31

Capítulo 4. A Sociedade Digital ................................................................................................ 36

4.1. A Expansão da Rede Mundial ......................................................................................... 38

4.2. Realidade Virtual ............................................................................................................. 39

4.3. Pixels por todo parte ....................................................................................................... 40

4.4. Sensores e Inteligência Artificial ..................................................................................... 41

Page 5: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

v

Capítulo 5. Cidades do Século XXI ........................................................................................... 43

5.1. Edifícios Inteligentes ....................................................................................................... 44

5.2. Home-offices ................................................................................................................... 45

5.3. Bairros Eletrônicos 24 horas ........................................................................................... 45

5.4. Pontos de encontro ......................................................................................................... 47

5.5. Os novos locais de trabalho ............................................................................................ 47

5.6. A cidade online ............................................................................................................... 48

5.7. A nova economia ............................................................................................................ 48

5.8. E-topias ........................................................................................................................... 49

5.9. Desmaterialização ........................................................................................................... 51

5.10. Economia de recursos ..................................................................................................... 52

5.11. Personalização em massa ............................................................................................... 52

Capítulo 6. A Cidade do Futuro ................................................................................................. 54

Capítulo 7. Espaços Híbridos ................................................................................................... 56

7.1. Ciberespaço .................................................................................................................... 59

7.2. A Arquitetura Virtual ....................................................................................................... 60

7.3. Tecnologia e design ........................................................................................................ 64

Conclusão ................................................................................................................................. 66

Bibliografia ............................................................................................................................... 69

Linha de tempo ......................................................................................................................... 71

Page 6: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

vi

Resumo

Os movimentos artísticos, influenciados pelo desenvolvimento tecnológico, político e social,

marcaram mudanças profundas no século XX e no início deste novo século. Fruto de uma sociedade

industrial, o Manifesto Futurista marcou o desenvolvimento da arquitetura e do design, influenciando a

vanguarda modernista, do Neoplasticismo do De Stijl a Escola Bauhaus e, posteriormente, os movimentos

contemporâneos.

No período após a Segunda Guerra Mundial, o avanço tecnológico e o marketing em alta rotação

consagraram o consumo massivo. Influenciados pela Cultura Pop Americana e o Futurismo, a arquitetura

pós-moderna lançou-se à procura de uma nova estética bem-humorada, influenciando designers e

assumindo uma linha oposta ao funcional. Era a oposição ao racionalismo da Bauhaus.

Com a rápida evolução das telecomunicações e a informatização, arquitetos, designers e outras

pessoas, redefinirão suas preocupações com os espaços onde passamos nossa vida diária, construindo

cidades eletronicamente servidas e globalmente ligadas para este novo século.

Através da hipermídia, a arquitetura e o design digital se tornam híbridos. O espaço urbano e a

arte se adaptam ao nosso mundo tecnológico. Podemos criar comunidades virtuais, mudando a ideologia

das cidades, interagindo com o meio virtual do ciberespaço.

A transformação faz parte da contemporaneidade. As diversas áreas de design e arquitetura,

influenciadas ou não pelos movimentos artísticos, se convergem, e poderiam se aproximar para criar

novas realidades.

Page 7: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

vii

Abstract

The artistic movements that influenced by political, social and technological development have

made several changes in 20th Century and in the beginning of this new one. As a result of an industrial

society, the Futurist Manifest changed development of the architecture an of design, influencing the

Modernist Vanguard from the De Stijl’s Neoplasticism to the Bauhaus’s school and changing the

contemporary movements later.

After the 2nd world war, the called Postmodern Architecture, influenced by American Pop Culture

and Futurism, launched itself on a search for a brand new witty aesthetic. It was the opposition to the

Bauhaus’s Racionalism.

Because of Technological Advances, architects, designers and other professionals will redefine

their concerns about the spaces, where we spend our daily life, building cities eletronically served and

connected for this new century.

Architecture and digital design have been becoming hibrid, through Hypermedia. Urban space and

art adapt to our technological world. Finally, we can create virtual communities changing the cities’s

ideology and interecting with the virtual mean of the cyberspace.

Since changes are part of the contemporarity, several design and architecture’s areas, influenced

or not by artistics movements, could converge and approximate themselves to create new realities.

Page 8: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

viii

Lista de figuras e ilustrações Capítulo 1 Figura 01: Manifesto Futurista - Filippo Tommaso Marinetti. http://www.atelier-rc.com/Atelier.RC/b-dayCalendar/12.22-Marinetti-Irredent.jpg http://artnetweb.com/abstraction/Abimages/poetry3.gif Figura 02: O Construtivismo Russo – Kasimir Malevitch – Supremus n. 58. http://perso.wanadoo.fr/listephilo/malevitch.jpeg Figura 03: Piet Mondrian (De Stijl) - Composition with Red, Blue, and Yellow Óleo sobre tela – 1930. http://faculty.evansville.edu/rl29/art105/img/mondrian_composition.jpg Figura 04: Gerrit Rietveld – Cadeira Red and Blue (Influências do De Stijl). http://www.steelclassic.com/img/salomon/products/sessel/gerrit_rietveld_stuhl_red_a.jpg Figura 05: Edifício Bauhaus. http://www.zakros.com/mica/emacF03/Bauhaus.jpeg Figura 06: Alfabeto Universal Herbert Bayer. http://demo.sfgb-b.ch/tg03/Bauhaus/Werke_Typo2.html Capítulo 2 Figura 07: Archigram. http://www.fabiofeminofantascience.org/RETROFUTURE/3herron.jpg Figura 08: Charles Moore - Piazza d’Italia –1977. http://ccat.sas.upenn.edu/george/plecnik/moore01.GIF Figura 09: Edifício Portland de Michael Graves (1982). http://www.vivercidades.org.br/publique/media/cab15graves.jpg Figura 10: Pôster de William Longhauser. POYNOR, Rick. No More Rules, Graphic Design and Postmodernism. New Haven, EUA: Yale University Press, 2003 Figura 11: Posters de Wolfgang Weingart. http://www.my-os.net/blog/images/septembre_2005/cassandre.jpg

Figura 12: Archizoom, No stop city, 1968. http://www.medienkunstnetz.de/kuenstler/archizoom/biografie/ Figura 13: Grupo Memphis. Estante Carlton. http://boijmans.medialab.nl/onderw/genre/graphgen/g0027.jpg Figura 14: Grupo Memphis. 'Super lamp' criado por Martine Bedine http://www.design-technology.org/superlamp.jpg

Page 9: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

ix

Figura 15: Grupo Memphis. Designer desconhecido - Capa de livro. POYNOR, Rick. No More Rules, Graphic Design and Postmodernism. New Haven, EUA: Yale University Press, 2003 Capítulo 3 Figura 16: Neville Brody. Anúncio para Revista Torchsong POYNOR, Rick. No More Rules, Graphic Design and Postmodernism. New Haven, EUA: Yale University Press, 2003 Figura 17: David Carson – revista Ray Gun. CARSON, David & BLACKWELL, Lewis. The End of Print. São Francisco: Chronicle Books, 1995.

Capítulo 7 Figura 18 - Marcos Novak. Figura 19 - Marcos Novak. Figura 20 - Marcos Novak – Allo Bio http://www.centrifuge.org Figura 21 – John Maeda – 12 o’clocks Figura 22 – John Maeda - The Reactive Square Figura 23 – Design digital de John Maeda http://www.maedastudio.com http://www.designboom.com/eng/interview/maeda.html

Page 10: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

1

Introdução

No início do Século XX, com a velha Europa sacudida pela 1ª Guerra Mundial e convulsionada por

agitações políticas, surge a Vanguarda Futurista, exaltando aspectos do mundo moderno em uma

sociedade industrializada. Por outro lado, na agora União Soviética, a ideologia mecânica era

representada pela nova pintura abstrata no movimento artístico popular do Construtivismo,

aproximando a arte e a arquitetura. Com ele, surgiu uma nova concepção de design na Europa,

influenciando gerações de arquitetos e designers.

Com a aproximação da produção artística e industrial, a escola Bauhaus, na Alemanha,

desenvolveu o design e a arquitetura moderna, procurando a integração do homem e seu espaço, a busca

da funcionalidade e do racionalismo. Enquanto o Grupo De Stijl, na Suíça, influenciado pelo

Construtivismo, utilizava as linhas retas e cores primárias nas pinturas. É o Neoplasticismo de Piet

Mondrian.

A ascensão do nazismo na Alemanha e o fortalecimento de Stalin na União Soviética causaram

tanto o fechamento da Bauhaus quanto uma evasão de artistas para os Estados Unidos. O racionalismo

do Modernismo, com emblema americano, penetra em todos os cantos do globo, acompanhados pela

cultura capitalista americana, como Levi´s e Coca-Cola, substituindo tradições nativas locais e

reafirmando a hegemonia das instituições americanas.

No período após a Segunda Guerra Mundial, vários acontecimentos mudaram a maneira de pensar.

O avanço tecnológico e o marketing em alta rotação consagraram o consumo massivo. Influenciados pela

Cultura Pop Americana e o Futurismo, a arquitetura pós-moderna lançou-se à procura de uma nova

estética bem-humorada, assumindo uma linha oposta ao funcional. Era a oposição ao racionalismo da

Bauhaus. Na Itália, O Grupo Memphis influenciado também pela cultura pop e os conceitos de oposição,

criam um design inovador para objetos, utilizando novos materiais.

Nas décadas de 70 e 80, o ecletismo na arquitetura, buscando motivos históricos, tornou-se

restrito e não mais universal, portanto não popular. Estas características do Pós-modernismo ganharam

uma grande oposição, fazendo surgir na Europa Ocidental e EUA, a Vanguarda Desconstrutivista e as

Page 11: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

2

tendências para o Design Contemporâneo, em uma época de tecno-informatização, com a adaptação

do homem às máquinas com relativa rapidez e a marginalização social e econômica muito maior.

O Desconstrutivismo, influenciado pelo Construtivismo russo, com características de ausência de

estabilidade, fragmentação e descontinuidade, tornam-se interpretes da sociedade. Mas estes conceitos

poderiam ser aplicados às tendências da arquitetura e do design contemporâneo?

Hoje, livres do papel, texto e imagens são lançados a uma velocidade incrível por meio de redes de

computadores. Temos arquivos on-line, web sites e programas de busca. O e-mail substitui rapidamente

o correio tradicional. Em nossa era tecnológica, aqueles que buscam o conhecimento não precisam mais

embarcar em viagens cansativas para obter a informação na fonte. Nem mesmo precisam ir a bibliotecas

locais. O comércio não é mais impedido pela distância, tendo assim um equivalente virtual. Como

descrever estes conceitos e transformações na arquitetura e no design? Estas mudanças na sociedade

seriam influenciadoras de novos movimentos artísticos?

Quais seriam as bases desse novo pensamento urbano? Existe mesmo um espaço público urbano

global? Que tipo de arquitetura estaria apto a enfrentar um mundo baseado em uma rede de conexão

mundial? William Mitchell 1 descreve alguns destes conceitos em “E-topia”, a vida urbana como uma

sociedade digital e suas conexões com o mundo tecnológico e cibernético.

Através da Hipermídia, a arte se adapta ao nosso mundo tecnológico. Nesse contexto, a

arquitetura experimental e o design seriam ambientes híbridos? O arquiteto multimídia Marcos Novak,

com sua Transarquitetura, nos leva a um novo pensamento urbano, onde comunidades virtuais

mudaram a idéia de cidades, enquanto o designer multimídia, John Maeda, desenvolve seus trabalhos

através de algoritmos, com programas elaborados por ele mesmo. Estas manifestações seriam

representações de ambientes virtuais neste início de século XXI? Ou seriam apenas movimentos

artísticos experimentando novas possibilidades?

1 William J. Mitchell, E-topia: A vida urbana, mas não como a conhecemos, São Paulo: Editora SENAC

São Paulo, 2002

Page 12: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

3

Page 13: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

4

A Sociedade Industrial

O Manifesto Futurista

No final do século XIX, a sociedade burguesa italiana, cada vez menos interessada

na agricultura e cada vez mais empenhada no processo de industrialização do país,

desloca seus capitais de um âmbito produtivo para o outro, fomentando o

desenvolvimento das primeiras indústrias italianas. Com isso, configura-se a

fisionomia das primeiras regiões modernas da Itália, com um fator que parece dar

razão aos princípios marxistas da sociedade capitalista.

O antigo camponês é expulso do campo pela falta de investimentos e obrigado a

transformar-se em operário, não encontra condições de trabalho e de vida

satisfatórios na nova ordem econômica e social.

Com uma política de baixos salários, longas jornadas de trabalho, e a falta absoluta

de diálogo com os empresários proporcionam a divulgação das idéias anarquistas,

consolidando o movimento operário em ligas e partidos até alcançarem um ápice em

1896 com a fundação do Partido Socialista Italiano.

Os motivos de luta, da guerra, recorrentes de debates ideológicos e culturais do

início do século XX, conseqüência tanto da situação interna quanto das aspirações de

domínio colonial, levam os intelectuais a exaltarem a modernidade da guerra.

Guerra e vida moderna tornam-se praticamente sinônimos. É nesse contexto

altamente conflituoso e tendente à conservação da ordem burguesa, mesmo através

da violência, que virá se inserir o pensamento de Filippo Tommaso Marinetti e dos

futuristas, muitos dos quais provêm de uma primeira experiência anarquista.

Page 14: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

5

Em 20 de fevereiro de 1909, Le Figaro publica Fundação e Manifesto do

Futurismo. O objetivo claro do manifesto de Marinetti é o ambiente cultural italiano

que o escritor deseja mudar radicalmente, mas é estratégica a escolha de Paris para o

lançamento e de um jornal como Le Figaro para assegurar ao movimento recém-

formado a repercussão internacional, redobrando sua força nos países vizinhos.

Figura 01 -Filippo Tommaso Marinetti e o Futurismo

O Mundo Não-figurativo da Rússia

Na Rússia, a ruptura com a pintura e a escultura cubista foi parcialmente

catalisada pelo futurismo - em Moscou, foram lidos os manifestos, e Marinetti deu

palestras para futuristas russos – parcialmente pelo livro “Do espiritual na arte”,

de Kandinsky, escrito em alemão em 1910, e traduzido para o russo em 1912. Deste

modo, os russos, se encontravam preparados para o salto rumo a arte completamente

não-figurativa.

Page 15: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

6

O Construtivismo Russo era visto como uma arte aplicada aos trabalhadores,

acolhendo e utilizando materiais industriais. Em uma época onde a Rússia era

assolada pela guerra civil, qualquer material era bom, valioso e útil, pois cada material

específico tem seu valor estético. O método de trabalho era determinado pelo

material.

Kasimir Malevitch, após ter desenhado um cenário para uma ópera futurista,

declarou: “Tentando desesperadamente liberar a arte do mundo representacional,

procurei refúgio na forma do quadrado”. Reconheceu sua dívida com o futurismo.- “a

expressão dos ritmos de nosso tempo, já apontando para a arte abstrata, generaliza

todos os fenômenos e, portanto toca a nova cultura – “suprematismo não-

figurativo”.

Trabalhando com formas tão simples quanto o quadrado, o triângulo e a cruz,

Malevitch, em poucos meses, havia atingindo uma completa apreensão da arte não-

figurativa. Mondrian, um pouco mais velho e mais místico, levou anos para dar esse

grande passo.

Malevitch comprimiu o todo da pintura em quadrado preto sobre a tela branca.

Para ele a arte transcendia a religião, e o suprematismo era a forma mais espiritual e

pura da arte. Além disso, acreditava que o exemplo mais puro da arte era um

quadrado desenhado a lápis.

O impacto desta teoria foi imediato, tornando-se inegavelmente, a filosofia

artística dominante no meio vanguardista de Moscou.

Naum Gabo, maior expoente russo da arte não-figurativa, durante a guerra civil

russa, com suas esculturas, deu uma grande contribuição tanto para a arte quanto

para a história, publicando manifestos de domínio público.

Em 1921, os estúdios de grandes nomes do Construtivismo, como Pevsner,

Kandinsky e Malevitch, foram fechados subitamente, sem nenhuma explicação. Naum

Gabo, maior expoente russo da arte não-figurativa, conseguiu permissão para ir a

Berlim, não retornando mais a sua terra natal. Mais tarde, Gabo realizou esculturas

Page 16: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

7

monumentais com a colaboração de engenheiros, além de dar uma grande

contribuição tanto para a arte quanto para a história, publicando manifestos de

domínio público.

Graças à antipatia de Lênin pela arte moderna, termina a fase do construtivismo

russo. Porém seus conceitos foram herdados por artistas, arquitetos e designers no

decorrer de todo o século XX.

Figura 02 - O Construtivismo Russo – Kasimir Malevitch

Page 17: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

8

A Influência do Cubismo

O uso consciente das formas geométricas foi introduzido na arte do século XX com

a famosa frase de Cézanne: “Trate a natureza por meio do cilindro, da esfera e do

cone”, que se tratava de uma fórmula pessoal do artista para representar os objetos

da natureza. Esta afirmação estabeleceu um molde geométrico para obtenção das

formas da natureza, conservando-se geralmente suas proporções. O Construtivismo

tem uma grande dívida para com os cubistas, que romperam com o realismo do

século XIX.

A evolução do cubismo foi rápida. Cinco anos em Paris, 1908 a 1913, bastaram

para o seu desenvolvimento, incluindo-se aí um desdobramento ideológico no

futurismo (a tentativa abortada de acrescentar dimensão temporal à geometria

cubista), uma expansão técnica da colagem.

O cubismo foi forte o suficiente para influenciar profundamente o

desenvolvimento da arte durante 50 anos, atraindo homens importantes e também

experientes: Braque, Picasso, Villon, Laurens, que estavam ainda vivos e produtivos

em 1962. E continuavam a observar ainda a natureza.

Em 1918, uma reformulação do cubismo, chamada “purismo”, foi tentada por Lê

Cobusier, sendo publicado um manifesto invocando “uma arte tão pura e rigorosa

quanto a máquina”.

Page 18: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

9

De Stijl e o Construtivismo

Piet Mondrian, ex-cubista, havia transposto a natureza para seus quadros

através de linhas verticais e horizontais, concebendo uma arte conhecida como

Neoplasticismo.

Em 1917, Mondrian conheceu Theo Doesburg, e juntos fundaram o grupo De

Stijl, publicando uma revista com o mesmo nome. Em 1921, Mondrian aperfeiçoou

seu estilo, tornando-se conhecido. A grade preta sobre o fundo branco, os retângulos

pintados com cores primárias e as proporções lineares e com intervalos regulares,

ajustadas em conformidade com um trabalho preliminar feito com tiras de papel. O

trabalho de Mondrian, estava predestinado à fama e a influência, dada a longa estadia

do artista em Paris, centro do mundo artístico na época.

Doesburg, por sua vez, era um orador persuasivo. Pregava suas idéias em Berlim,

Paris e Weimar, onde conheceu, Lê Cobusier, Mies Van der Rohe, Moholy-Nagy e

Walter Gropius, o diretor da Bauhaus. Apesar disto, suas ligações com Mondrian

foram cortadas, ao introduzir as linhas diagonais na pintura, causando diferenças em

ponto de vista do Neoplasticismo.

Entre as características essenciais da imagem para o Neoplasticismo temos: a

superfície plana, com as cores primárias, utilizando mais o preto, o branco e o cinza.

Deve-se estabelecer o equilíbrio entre espaços grandes e vazios e superfícies pequenas

e coloridas. A cor encontra oposição na não-cor – por exemplo, no preto e o no

branco. Equilíbrio pela proporção dos meios plásticos (plano, linhas e cores) e

nenhuma simetria.

Page 19: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

10

Figura 03 - Piet Mondrian (De Stijl) - Composition with Red, Blue, and Yellow - Óleo sobre tela - 1930

Page 20: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

11

Influências do Manifesto Futurista

No século XX, o homem moderno deveria estar cercado de objetos funcionais, a

idéia de forma e função já era uma necessidade. A idéia de casa é pensada não só no

sentido estético, mas também na sua funcionalidade, representando o modo de vida

do homem moderno.

A pesquisa de novos materiais, o homem cercado pelas máquinas nos grandes

centros urbanos, faz surgir o Neoplasticismo, rompendo com a pintura de observação.

O objeto da pintura passa a ser a própria pintura, predominando linhas retas e cores

primárias.

O Neoplasticismo do De Stijl, com seu grafismo radical foi utilizado também na

Bauhaus, se estendendo para os móveis de Gerrit Rietveld, a “Cadeira Red and

Blue”.

Figura 04 - Gerrit Rietveld – Cadeira Red and Blue (Influências do De Stijl)

Page 21: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

12

Na escola de Glasgow, Charles Rennie Mackintosh, influenciado pela tendência da

época, desenvolve um design de linhas retas, valorizando o efeito da luz como parte

importante do objeto, forçando a passagem e realçando a utilização do espaço em sua

criação estrutural.

Com a migração para os grandes centros urbanos e o crescimento das cidades, o

urbanismo passa a ser um fator importante quando se pensa no futuro. Tony Garnier,

arquiteto francês, apresentou um projeto para cidade industrial, integrando a

natureza e a tecnologia.

Esta preocupação de integração do trabalho e lazer que o mundo moderno passa a

desenvolver representou uma nova concepção de design urbano para viabilizar o

tempo gasto no trabalho. Os objetos utilitários são menos ornamentais e passam para

a linguagem da funcionalidade. Com a vida moderna, o tempo passa a ser escasso.

A Bauhaus e o Construtivismo

A Revolução Industrial e a produção em série trouxeram mudanças profundas em

nossa vida, e era necessário, com o surgimento de uma sociedade industrializada, que

essas manifestações, como a Bauhaus, passassem a ser mais uma possibilidade para o

homem entender a era mecanizada.

A Bauhaus iniciara suas atividades, em 1919, em Weimar, sob a direção de Walter

Gropius, como uma “associação de artesões sem distinção de classe”. Sua ideologia

pregava a integração da produção artística com a industrial, ou seja, sua meta

principal era desenvolver o design moderno, a integração do homem e seu espaço.

Os esforços visavam descobrir uma nova postura, que deveria desenvolver uma

consciência criadora nos participantes, para finalmente levar a uma nova concepção

de vida. A Bauhaus foi a primeira instituição do mundo que ousou apresentar este

Page 22: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

13

princípio em um programa de ensino definido. A formulação desse programa foi

antecedida de uma análise das condições de nossa era industrial e de suas correntes

básicas.

O corpo docente e os alunos haviam sido também preparados para uma “estética

da máquina”, que surgiu com os russos em Berlim, onde então professores, já

familiarizados com o De Stijl, acharam seu equivalente construtivista. As duas

principais ramificações da arte não-figurativa – holandesa e russa – encontraram-se e

fundiram-se na acolhedora escola alemã. Uma vez incorporadas ao currículo, seriam,

nos quinze anos seguintes, propagadas mundialmente.

Figura 05 – Edifício da Bauhaus

A Bauhaus reuniu mais artistas de talento do que nenhuma outra escola de arte de

nosso tempo o fizera. Na arte, desenvolveu uma forma de beleza nova e moderna que

encontrou no De Stijl e no construtivismo, cujos artistas visitavam a escola com

freqüência, mantendo um contato próximo com o corpo docente.

Page 23: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

14

O pensamento e as imagens construtivistas, a Bauhaus e a estética desnuda da

máquina, freqüentemente degradada, difundiram-se em todos os níveis da cultura

visual européia, na América e nas áreas industrializadas do Oriente – da arquitetura

oficial aos produtos domésticos de produção de massa, dos elegantes projetos gráficos

de livros ao lay-out da imprensa popular. Seus efeitos parecem ter atingindo as

massas mais do que os indivíduos.

Com um desenho desprovido de ornamentos, sem correlação com estilos antes

executados, o racionalismo da Bauhaus foi empregado em estruturas modulares

padrão que permitiam realizar o mesmo objeto em qualquer parte do mundo. Com a

produção em série destes objetos, a própria Bauhaus já teria com isso criado a

necessidade de impedir a escravização do homem pela máquina.

Baseado no conceito modular, em

1925, Herbert Bayer cria o alfabeto

universal, tipografia influenciada pelo

racionalismo e o sistema de produção

industrial em série.

Apenas catorze anos se passaram

entre a fundação da Bauhaus, em

1919, e seu fechamento forçado, em

1933, quando foi condenada como

fonte perigosa de pensamento

independente e de arte degenerada. Quando os soldados de Hitler forçaram as portas

da escola, a maior parte dos professores já havia partido.

Um dos maiores beneficiados foi os EUA, especialmente a cidade de Chicago, que

serviu como refúgio de muitos professores após o fechamento da Bauhaus. Com isso,

inicia-se a construção edifícios altos revestidos de vidro através de uma arquitetura

modular modernista.

Figura 06 - Alfabeto Universal - Herbert 1

Page 24: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

15

O Modernismo Americano

No período entre guerras, o fechamento da Bauhaus e o

fortalecimento de Stalin, na União Soviética, causam uma evasão

de artistas para os EUA. O Modernismo, com emblema americano

penetrou em todos os cantos do globo, acompanhados pela cultura

americana, como Levi’s, Coca-cola, substituindo tradições

nativas locais e reafirmando a hegemonia do capital e das

instituições americanas. Mies Van der Rohe, transforma a face

urbana de Chicago, com a construção de arranha-céus com

fachadas de vidro.

Os EUA, no final da Segunda Guerra, avançam nas pesquisas de

novos materiais para os objetos pós-guerra. Na década de

cinqüenta, os materiais utilizados na produção de objetos

requisitados na guerra, poderiam abrir espaços para o consumo

em massa. A borracha, o acrílico, a resina de poliéster e

fiber-glass, permitiam a produção de objetos biomorfos,

baseados em organismos biológicos não representativos, com

tendências de formas curvas, parabólicas, longas e baixas,

leves e sem ornamentos.

As cadeiras de arame trançado, e a utilização de fiber-glass

em formato de concha, de Charles Eames e sua esposa Ray, foi

uma verdadeira revolução. Além do sofá em formato

“marchmallow”, de George Nelson, com oposição de cores,

apresentando as novas tendências do Pós-modernismo.

Este novo design, com influências do abstracionismo, e suas

formas assimétricas, foi um grito contra o racionalismo da

Bauhaus.

Page 25: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

16

No Brasil, Oscar Niemeyer e os projetos arquitetônicos para

Brasília, iniciados em 1957, exibiram o design moderno

brasileiro a nível internacional, sendo chamado de Bossa Nova

da Arquitetura.

O racionalismo da Bauhaus e o grande espaço estético para o

expressionismo abstrato revelou a distância entre a forma reta

e modular para a orgânica, incentivando, assim, designers nas

décadas de 60 e 80 a pensar os objetos da pós-modernidade.

Page 26: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

17

Page 27: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

18

A Sociedade Pós-industrial

O Período Pós-guerra

EUA, Japão, e centros europeus, países capitalistas e multinacionais, com os

sistemas pós-industriais, buscam a constante elevação do nível de vida pelo

consumo acelerado de bens e serviços, que são cada vez mais diversificados.

O acontecimento que marcou o início de um novo período foi a Bomba de

Hiroxima. A modernidade encerrou e o apocalipse ficou mais próximo. Em 1953 a

descoberta do DNA, o código da vida, impulsionaria o salto para a biologia molecular.

Em 1957, o desenho do Chip e o Sputnik soviético revolucionaram a era espacial e

as telecomunicações. O self-service com o marketing em alta rotação consagrou o

consumo massivo. O rock, a pílula, o motel, a minissaia, foram liberadores que

emergiram nos anos 60.

Estilo de vida com modismos e idéias, gostos e atitudes com extravagância e

humor, micro-computadores, videogame, vídeo-bar, FM, moda eclética, maquilagem

pesada, new wave, ecologia, pacifismo, esporte, pornô, astrologia, terapias, apatia

social, e sentimento de vazio – características do cotidiano pós-moderno, girando em

torno de um só eixo: consumista, hedonista, narcisista.

O indivíduo pós-moderno consome como um jogo personalizado, bens e serviços,

do disco a laser ao horóscopo por telefone.

As sociedades pós-industriais, planejadas pela tecnociência, programam a vida

social nos seus menores detalhes, pois nelas tudo é mercadoria paga a uma

Page 28: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

19

empresa privada ou estatal, seja um telex em banco ou uma hidromassagem. Sendo

economias muitas ricas, que tem como única meta a elevação constante do nível de

vida. Elas deixam ao individuo, a opção de consumir entre uma infinidade de artigos,

mas não a opção de não consumir.

Extravagantes e apáticos, vivendo em ritmo apressado, os indivíduos que

formaram a massa pós-moderna criaram uma paisagem social diferente daquela

desenhada pela massa moderna.

A massa moderna na era industrial, proletária, com idéias e padrões rígidos,

procurava dar um sentido à História e lutava em bloco por melhores condições de

vida e pelo poder político.

A massa pós-moderna, consumista, flexível nas idéias e nos costumes. Vive em

conformismo em nações sem ideais, seduzida pela propaganda, querendo

espetáculos com bens e serviços no lugar de poder. Participa de pequenas causas

inseridas no cotidiano. Ela vive sem as tradições do passado e sem projetos de

futuro. Só o presente conta. Pátria, heróis e mitos colam muito pouco num tempo

dominado pela tecnociência. Além disso, o pesadelo nuclear, as crises econômicas e

a velocidade de mudança foram grandes discussões no final do século XX. Um clima

apocalíptico, de fim da História.

A modernidade com intensa mobilização política (duas guerras mundiais,

revoluções, guerras anticoloniais) e a pós-modernidade se interessa antes pelo

transpolítico: liberação sexual, feminismo, educação permissiva, questões vividas no

dia-a-dia. O indivíduo é frio, prefere movimentos com fins práticos, nos quais a

participação é flutuante e personalizada. Nada de lutas prolongadas ou

patrulhamento ideológico. Ele vai na “onda”, nas subculturas punk, metaleira, yuppie,

na ascensão do homossexualismo e transexualismo.

As sociedades pós-industriais vivem saturadas de informações publicitárias,

consumindo o design e a embalagem, devorando-se também informação em todos

Page 29: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

20

os meios de comunicação e na tecnociência, através de micro-computadores e

vídeo.

A espetacularização converte a vida em um show contínuo e as pessoas em

espectadores permanentes. TV, vitrines, revistas, moda, na sociedade de consumo,

geram um fluxo espetacular cuja função é embelezar e magnificar o dia-a-dia pelas

cores e formas envolventes.

Materiais e processos simulantes trazidos pela tecnociência reproduzem com

mágica e perfeição, o real. A fórmica simula o jacarandá. Batalhas siderais se travam

no videogame e sintetizadores programáveis tocam flauta. Pontos coloridos na TV

avivam o mundo, ao mesmo tempo, computadores simulam na Terra, pousos

lunares.

Porém o mais avassalador é a moda em ação. Moda e modismos em alta

rotatividade ditam o ritmo social. Oposta ao bom gosto moderno, com seu corte

solene, alta-costura, hierarquias, a moda pós-moderna utiliza formas extravagantes e

liberdade combinatória. O casual comanda o mix-total: camisão com colete, paletó

com minissaia, gravata com tênis. O look deve ser jovem e sexy, a invenção

personalizada. Jorrando cores, a moda anima a festa mercadológica do cotidiano.

O pós-modernismo, visto como uma arte popular, revela freqüentemente a

formação da vida contemporânea no dia-a-dia da arte com a literatura, arquitetura,

arte final, fotografia, música pop, costumes (fashion), filmes e televisão, mas eles

mostram apenas avisos, ainda com pequenos ataques, algumas tentativas teóricas,

e formas de design. Sem a referência do modernismo, o pós-modernismo não

poderia ser entendido.

Paródias, pastiches e objetos irônicos são formas facilmente proliferadas na

sociedade. O pós-modernismo problematiza o significado, oferecendo múltiplos

pontos e facilitando a abertura de novas possibilidades de interpretação.

Page 30: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

21

Arquitetura pós-moderna

Na arte, o pós-modernismo apareceu primeiro na arquitetura, já nos anos 50. O

inimigo mais visado foi o racionalismo da Bauhaus e seu dogma modernista: “A

forma segue a função”. Primeiro a finalidade, depois a beleza. E funcionalismo

significa racionalidade com simplicidade, clareza, abstração, janelas em série, ângulo

reto. O Modernismo passa ser considerado pouco criativo.

A reação pós-moderna começa com arquitetos italianos, depois com americanos

e ingleses. Contra o estilo universal modernista, eles se voltam para o passado,

pesquisam novos e velhos materiais, estudam o ambiente, a fim de criar uma

arquitetura que fale a linguagem cultural das pessoas que vão utilizá-la.

O Grupo Archigram na Inglaterra, Superstudio na Itália e, em menor grau, os

metabolistas japoneses puseram fim a qualquer conexão tediosa com a realidade.

Influenciados pela Pop-art, com uma série de publicações vistosas e imagens de

quadrinhos e ficção científica, deixaram sua marca sem levar a sério questões sobre

como as coisas seriam construídas, como suportariam a ação do tempo e quais

seriam as conseqüências sociais para as pessoas destinadas a ocupar suas cidades

fantásticas. Apesar de não serem levados a sério, eles assinalaram o fim do encanto

do modernismo racionalista, a reação a um estilo de construção que passou a ser

tedioso.

A função passou a obedecer à forma e à fantasia. Aos materias abandonados

(cascalho) ou bem recentes (fórmica e plexiglass), os ornamentos são recuperados.

Mas é ao organizar o espaço que o espírito carnavalesco do pós-modernismo se

declara. Às retas, racionais, opõem-se à emoção e o humor das curvas. Contra a

pureza, temos o ecletismo.

Page 31: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

22

Figura 07 - Archigram

Page 32: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

23

Robert Venturi, em 1961, valorizava a utilização de elementos históricos na

fachada, com jogo complexo de materiais e alusões históricas, e em fragmentos e

variações. O pós-modernismo americano é associado a códigos visuais e uma visão

do público como consumidor. A cultura dos EUA apresenta neste período, a

publicidade comercial como estrutura.

Na década de 70, o arquiteto Charles Moore, considerado também um dos

precursores do pós-modernismo americano, projeta a Piazza d’Italia em Nova

Orleans, revelando a importante ligação entre a arquitetura e o passado, buscando

novos materiais e simulando “colagens visuais” em sua obra.

Figura 08 - Charles Moore - Piazza d’Italia -1977

O termo "pós-moderno" continuou a ser aplicado à arquitetura por vários críticos e

arquitetos, mas foi Charles Jencks que estabeleu os maiores conceitos, com seu livro

“The Language of Post-Modern Architecture” (1977). Segundo Jencks, os arquitetos

do Pós-modernismo são em parte modernos nos termos de sensibilidade e no uso da

tecnologia. Conseqüentemente, o estilo pós-moderno é híbrido, baseado em

dualidades fundamentais. Isto poderia envolver a justaposição do velho e do novo,

ou o inverso com o velho.

Para Jencks, o pós-modernismo representou a demissão do extremismo do

modernismo e um retorno parcial às tradições. Era um reconhecimento, demasiado,

Page 33: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

24

mostrando que a sociedade contemporânea está composta de grupos diferentes com

gostos diferentes.

Figura 09 – Edifício Portland de

Michael Graves (1982).

A arquitetura pós-moderna no final de 70 e

80, tentou irradiar um significado, havia

portanto, a busca de motivos históricos, ela se

tornou restrita e não universal. Portanto, o

design das edificações não foi feito para a

sociedade em geral, tentava transmitir sua

sagacidade à classe profissional e para a elite,

capaz de decifrar as referências, e o público

em geral, que apreciariam os elementos de

cenário arquitetônico. O Edifício Portland de

Michael Graves (1982), com sua imponência

decorativa, foi um dos principais projetos da

arquitetura pós-moderna.

Uma resposta às possibilidades formais de

arquitetura e de design pós-moderno pode ser

vista em um poster produzido em 1983 pelo

designer americano William Longhauser para

a exibição dos trabalhos de Michael Graves.

Cada letra do sobrenome Graves, representa

um aspecto da linguagem arquitetônica, como

o "V", sobrepondo as outras letras

representando a fachada do Edifício

Portland. Como se esta expressão poderosa

não fosse o bastante, o arquiteto Michael

Graves se destacava em todos os aspectos

com sua arquitetura pós-moderna.

Figura 10 - Pôster de William Longhauser.

Page 34: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

25

A Pop-art e os movimentos artísticos

Nos anos 60, foi contra o racionalismo e o subjetivismo modernos que surgiu a

arte Pop, primeira expressão pós-moderna nas artes plásticas. Convertida em

antiarte, a arte abandona os museus, as galerias, os teatros. É lançada nas ruas com

outra linguagem, identificada pelo público: os signos e objetos de massa. Dando

valor artístico a banalidade do cotidiano: anúncios, quadrinhos, sabonetes, sopas,

com uma comunicação direta, jovem, alegre na pintura e na escultura.

O hiper-realismo ou foto-realismo é uma forma da arte Pop e pós-moderna, pois

copiava minuciosamente em tinta acrílica, fotografias de automóveis, paisagens

urbanas e fachadas que depois eram apresentados em tamanho natural ou

monumental.

A pintura e a escultura Pop buscaram a fusão da arte com a vida. A antiarte

trabalha sobre a arte dos ilustradores de revistas, publicitários e designers, e acaba

sendo uma ponte entre a arte culta e arte de massa. Portanto, elite e massa se

fundem na antiarte.

Acabou-se também a contemplação fria e intelectual dos modernos. A antiarte é

participativa, o público reagindo pelo envolvimento sensorial e corporal.

Enquanto a arte moderna havia nascida com estéticas bem claras e manifestas

escandalosos, a antiarte pós-moderna não apresenta propostas definidas, nem

coerência, nem linha evolutiva. Os estilos convivem sem choques, as tendências se

sucedem com rapidez.

No design gráfico, Wolfgang WeingartWolfgang WeingartWolfgang WeingartWolfgang Weingart, entrou com a "nova onda" que veio a ser

chamado de pós-modernista. Weingart ensinava tipografia em Basle, Suiça, e em 1968

foi professor em Kunstgewerbeschule de Basle. A determinação de Weingart iria contra

as convenções pré-estabelecidas pela tipografia suiça modernista, que em seu ponto de

vista havia se concretizado no ortodoxo através de fórmulas.

Page 35: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

26

Usando a ligação datilografia e impressão, começou a investigar relacionamentos da

tipografia básica, tais como o tamanho, o peso, a inclinação, e os limites da legibilidade.

Foi fascinado pelos efeitos do espaço entre letras e esticou palavras e linhas até que o

texto estivesse perto do ilegível. Naquele tempo, não havia precedentes para os espaços

e composições pictóricas criadas por Weingart, além disso, começou a criar posters com

a tipografia fundida, os elementos gráficos e fragmentos das fotografias formando

composições. Expôs as seções do "grid", e trabalhava com fotos rasgadas e formas

aleatórias, explodindo as texturas nas folhas. Weingart rompeu com a geometria

modernista modular, transformando um tipo novo de espaço gráfico como referência.

Figura 11 - Posters de Wolfgang Weingart

Page 36: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

27

Influências da Pop-art

Durante os anos 60, com a Bienal de Arte de Veneza, o design italiano é

influenciado por artistas pops americanos.

Jovens designers da faculdade de arquitetura de Florença, o Archizoom

Associati e o Superstudio, procuravam investigar o surgimento de uma nova

estética, através da linguagem pop européia, buscando novas experiências no

campo do design. Com isso, estas duas escolas montaram duas exposições

importantes que se intitularam “Superarchitecture”, onde mostravam móveis e

projetos arquitetônicos, influenciados pela cultura pop e esboçavam uma das

primeiras idéias do objeto pós-moderno.

Figura 12 - Archizoom, No stop city, 1968

Page 37: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

28

Em 1981, Ettore Sottsass, fundou o Grupo

Memphis. O valor emocional em relação ao objeto

não é dado através da funcionalidade, mas através

de seu nível de expressividade. Os móveis

representavam avanços tecnológicos, com maiores

possibilidades na tradução de formas e na inovação

da linguagem. Na Estante Carlton, por exemplo, os

livros ficam todos inclinados, já que se acredita

que é sua vontade original, livrando-se de regras

pré-estabelecidas.

Figura 13 – Estante Carlton

O Estilo Memphis, influenciou também a mídia impressa, com sobreposições de

retículas desenvolvidas com padronagens que através da sua diagramação, criam

uma nova dimensão de espaço impresso.

O design estava à procura de uma nova estética bem-humorada que denominou

de não estética, assumindo as características de design de “colagem” do passado,

demonstrando influências do dadaísmo e do construtivismo russo.

Figura 14 – 'Super lamp' criado por Martine Bedine

Só recentemente o pós-modernismo

chegou ao design. E também para

desbancar a Bauhaus. O grupo de design

Memphis fundado em Milão por Ettore

Sottsass, Michele de Lucchi e outros

nomes, produziam os objetos mais

impressionantes. Fabricados com

laminados e plástico, exibiam uma

variedade de padrões coloridos.

O estilo Memphis se destacava com as sinalizações de neon, e a utilização de

laminados com impressos, projetando objetos para interiores como “coffee-shops'”,

Page 38: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

29

“fast-foods”, cozinhas e banheiros, aplicando estes materiais de custo baixo em

peças luxuosos de salas de estar, sendo tão intencionais e bizarras como

forçosamente estéticas.

A comunicação das peças do Memphis, não seria apenas uma transmissão de

informações, revelaria sempre uma troca de tensões e provocações, um desafio. A

Memphis, ao contrário dos modernistas, não reivindicava a necessidade funcional de

seu design, mas acreditava na preferência de seus usuários.

Figura 15 – Designer desconhecido. Capa de livro

O primeiro catálogo do Memphis em

1981 apresentava uma sobreposição de

camadas com "patterns" (texturas) e o

logo do Memphis modelados

similarmente, antecipando a utilização

de uma tipografia geométrica, que

posteriormente seriam criadas por

Neville Brody para a revista The Face.

Não era de surpreender que as

formas e o imaginário da arquitetura e

do design do mobiliário pós-moderno,

inspiraram um novo estilo, muito

comentado, para os designers gráficos.

Page 39: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

30

Geração anos 80

Na pós-modernidade, a matéria e o espírito são digitalizados num

fluxo acelerado. Uma distinção importante. Os signos podem ser

digitais ou analógicos. O digital permite escolher, o analógico,

reconhecer ou compreender. Com a invasão da computação digital no

cotidiano, estamos assistindo à digitalização do social.

Enquanto no mundo moderno são utilizadas palavras como

energia, máquina, produção, proletariado, autenticidade, no pós-

moderno palavras como chip, digital, hiper-real, simulação, interação

e desreferencialização, são contraditórias, causando um choque entre

a racionalidade produtiva e os valores morais e sociais já esboçados

no mundo moderno e industrializados.

Na pós-modernidade, a tecnociência invade o cotidiano com mil

artefatos e serviços, mas não oferece nenhum valor moral além do

hedonismo consumista. Ao mesmo tempo, tais sociedades fabricaram

fantasmas alarmantes como a guerra nuclear, o desastre ecológico, o

terrorismo, as crises econômicas, a neurose urbana, a insegurança

psicológica. A sociedade continua com meios racionais, mas buscam

fins irracionais como o lucro e o poder.

Page 40: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

31

Page 41: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

32

Desconstrutivismo

Foi em 1988 que se realizou a exposição Arquitetura

Desconstrutivista, no Museu de Arte Moderno (MoMA), em Nova York,

introduzindo provavelmente a desconstrução para os designers gráficos. Dirigido por

Philip Johnson, com a assistência de Mark Wigley, a exibição teve como pontos

marcantes os projetos arquitetônicos realizados por Frank Gehry, Daniel Libeskind, Rem

Koolhaas, Peter Eisenmann, Zaha Hadid, e outros. A distinção e a ligação dos trabalhos

destes arquitetos, argumentou Wigley, foi a sensibilidade a qual "o sonho da forma

pura havia se desordenado. A forma tornou-se contaminada". A arquitetura

desconstrutivista, explicou Wigley, não desmonta edifícios e dificilmente encontra

ligações estruturais em suas representações.

Os Desconstrutivistas representam a nova geração deixada pelo legado do

Construtivismo Russo. Nas primeiras décadas do século XX, os artistas

construtivistas, tais como Tatlin e Rodchenko propuseram estruturas radicais,

baseados em formas geométricos instáveis, porém eles nunca realizaram edifícios. O

Desconstrutivismo não quer demolir, decompor ou destruir a estrutura de um edifício.

Ao invés disso, o Desconstrutivismo procura desfazer, deslocar e desviar, incorporando um

distúrbio na estrutura interior do edifício, atuando com autenticidade nos projetos

arquitetônicos.

Com diferentes interpretações no campo da arquitetura, foi difícil surpreender que

o design gráfico pegou emprestado a etiqueta “Desconstrução”. Em 1990, no artigo

"De-construting typography", o historiador de design Phillip Meggs usa o termo

"Desconstrutivismo" relacionado com o design e a tipografia, por outro lado

discussões anteriores sobre este assunto descreviam as influências com o

Page 42: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

33

Construtivismo, como Johnson e Wigley haviam mostrado nos exemplos de

arquitetura.

Falando sobre o valor da palavra "Desconstrução", Meggs define-o como

"fazendo a integração de todos os elementos separados, ou destruindo as

seqüências que prendem o design gráfico". Isto reduz o termo “desmontar” na

Desconstrução, como Wigley havia interpretado, contradizendo o sentido de um

rompimento ou de um desvio, revelado em uma arquitetura (ou tipografia) estrutural.

Figura 16 – Neville Brody – Revista Torchsong

No anúncio de Neville Brody para

Torchsong, as letras de "Torchsong" foram

misturadas formando um personagem de

tipografia. Este caminho não é tradicional,

não existem linhas tipográficas, mas é ainda

uma forma de ordem estética, resultando

em uma estrutura vigorosa, e como Meggs

nota, não seria o caos. Os elementos,

mostrando uma sensação de dinamismo,

não foram destruídos neste processo de

reorganização.

O objetivo da tipografia tem sido sempre

controlar e regularizar o uso do espaço,

entre letras, palavras e linhas, entre títulos,

textos e as bordas das páginas.

Se o Design Desconstrutivista em 1980, aparentemente insubordinado às regras

constituídas e considerado um estilo semi-underground, no início de 1990 a

Desconstrução estava pronta para ser popularizada.

Foi o designer David Carson, na década de 1990, quem popularizou com

maior eficácia estas abordagens. Para muitos designers novos, o trabalho de Carson

Page 43: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

34

na revista Ray Gun, entre 1992 a 1995, apoiada por leitores e oficinas em todo mundo,

proporcionava uma introdução ao design experimental - tão impressionante e

elogiada para alguns que obscureceram seus trabalhos anteriores.

A revista Ray Gun ofereceu também a primeira experiência deste tipo de design

para muitos "não-designers", especialmente fora dos EUA, sendo comentado

freqüentemente, que seus métodos eram inteiramente sem precedentes.

Certamente, os sucessos do design da Ray Gun, voltada para uma nova geração de

jovens leitores e designers, incentivavam a rápida assimilação do desconstruído pela

propaganda corporativa. O próprio David Carson criou anúncios para Pepsi-Cola,

Nike, e mais tarde, Microsoft. Em 1997, um jornal inglês foi saudoso com ele na

manchete "A Hero of Deconstruction".

No seu trabalho, o impulso pela quebra de regras foi central, visto no movimento

punk e na desconstrução da imagem. Nada era inquestionável e todos os princípios

estruturais poderiam ser desrespeitados em nome do design expressivo.

Figura 17 - David Carson – Revista Ray Gun

Enquanto Carson era diretor de arte da Ray Gun e lançava jovens designers

empregando seus artifícios gráficos que se aproximavam do trabalho

deconstrutivista, o sucesso da revista lançava um novo estilo gráfico - o grunge.

Page 44: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

35

A diferença essencial entre o punk (1970) e o design grunge (1990) foi a

tecnologia aplicada. Os gráficos punks eram trabalhados manualmente, com birôs,

fotocópias, tesoura e cola. O Grunge, apesar de degradado, destruído, sem

aparência tecnológica, foi um produto de poderosas ferramentas digitais que

potencialmente possibilitava qualquer um, com talento, a destruir a tipografia e

causar efeitos impressionantes nas imagens em um dia.

Page 45: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

36

Figura 18 – Neville Brody - The Face n.50-55, 1984

Page 46: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

37

Page 47: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

38

A sociedade digital

Por volta de 1993, a decolagem da WWW e o lançamento da revista Wired,

tiveram sua revolução digital. Os regimes conhecidos estavam sendo varridos por

processos de inovação tecnológica, mobilização de capital, reorganização social, e

transformação cultural que se desenrolavam simultaneamente, entrelaçando-se em

seqüências de causa e efeito.

A WWW agiu como fagulha, e o resultado foi uma expansão exponencial

explosiva, um bing-bang que é o início de algo realmente novo e que está apenas se

preparando para funcionar. Este é um novo roteiro, interpretado por novos atores.

O silício é o novo aço, e a internet, a nova ferrovia.

Agora, entramos na marca dos megabits por segundo, é possível transmitir

aúdio e vídeo com qualidade, os documentos gráficos podem ser tridimensionais,

mais sofisticados e elaborados, e mundos virtuais podem ser criados e

compartilhados.

Nos países desenvolvidos, a revolução digital se deu no contexto da infra-

estrutura existente de linhas telefônicas e de cabo, que foram adaptadas para o

tráfego de dados digitais. Isso tornou a situação mais complexa. Pode-se obter uma

conexão digital em quase qualquer lugar - normalmente oferecida por vários

provedores concorrentes - mas a velocidade, o custo e o grau de confiabilidade

variam muito.

A informação se tornou desmaterializada e incorpórea e circula agora ao redor

do globo na velocidade da luz e em volumes assustadores, através das redes de

computadores. E esse vasto processo global está apenas se preparando para

funcionar.

Page 48: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

39

As empresas descobriram que conexões para voz e vídeo de alta qualidade e

baixo custo possibilitam que uma série de serviços ao consumidor seja transmitida

por longas distâncias. Estar no fuso horário certo, falar a mesma língua, possuir o

software certo e ser competitivo no mercado de trabalho mundial – tudo isso se

tornou mais importante do que viver na mesma área metropolitana.

A expansão da rede mundial

Os sistemas digitais de distribuição de dados em breve se tornarão tão

onipresentes dentro das cidades quanto as redes de eletricidade e telefonia. Eles

vão transportar muitos tipos de informações e mais tarde (se não imediatamente)

permitirão uma alta capacidade a baixo custo.

Do ponto de vista das empresas, cujos produtos podem ser encomendados e

distribuídos eletronicamente, as novas redes digitais intra-urbanas criam mercados

de consumidores de fácil acesso. Assim, elas são essenciais para empresas

jornalísticas e de entreterimento, editores, bancos e para comércio online.

Nos locais da rede onde a segurança é importante, intranets e outras redes

privadas tentam preservar sua privacidade com o isolamento físico e o controle

cuidadoso dos pontos de acesso. Como as antigas muralhas, eles têm pouco acesso

com o mundo exterior, e essas conexões foram projetadas de modo que permita

um rígido controle de tudo que entra e sai, funcionando como “porteiros”

eletrônicos. Ao fazer isso, delimita seu território que está “dentro do firewall” e o

ambiente exterior.

“A idéia de que a informação flui livremente em todos os lugares em um mundo

digitalmente conectado não passa, portanto, de um mito libertário otimista.”

Page 49: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

40

A interconexão universal não representa o fim do território controlado ou a

eliminação das distinções entre áreas públicas e privadas, mas nos obriga a repensar

e reinventar essas instâncias em um novo contexto. O novo sistema de limites e

pontos de controle do ciberespaço é menos visível que as velhas fronteiras,

muralhas e portões do mundo físico, mas não é menos real, ou menos importante

politicamente. Com o crescimento explosivo da WWW advogados e legisladores

tornaram-se cada vez mais atentos a isso e começaram a tentar atender as questões

que emergiram como resultado.

Realidade Virtual

Quando a computação gráfica tridimensional tornou-se realidade, usando as

salas de bate-papo on line, com seus cenários em perspectiva e seus atores virtuais,

tornaram-se populares, e o vídeo digital começou a apagar a distinção entre PC e

TV, a tela tornou-se outra vez um palco – um furo na membrana que separa o

espaço de nossos corpos e de nossas construções do ciberespaço.

Podemos olhar o espaço da tela e obter informações a partir dela, mas não

podemos entrar nela. Portanto, ultrapassar os limites da tela é muito mais do que

oferecer uma área de exposição adicional. Abre a possibilidade de ter lugares

inteligentes que envolvam nossos sentidos e atraiam nossa atenção em múltiplos

níveis.

Quando posicionamos as telas de vídeo diretamente diante de nossos olhos e a

miniaturizamos para produzir um imenso painel estéreo, em combinação com

sofisticados dispositivos de rastreamento para assegurar a sincronia da cena

computadorizada com nossos movimentos, e com suficiente poder computacional

para criar visões em perspectiva em tempo real, produzem a ilusão de completa

imersão em um espaço virtual tridimensional. O palco desapareceu totalmente; esse

Page 50: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

41

mecanismo de realidade virtual é um embaraço, mas nos coloca bem no centro do

ciberespaço.

Seja qual for a tecnologia VR (Virtual Reality ou Realidade Virtual), entretanto,

seu efeito é nos desconectar do ambiente físico e substituí-lo por um ambiente

virtual construído eletronicamente. Isso acarreta problemas, é claro; é fácil chocar-

se com as paredes reais ou cair da cadeira. Do ponto de vista do observador

desconectado, que não pode ver o que nós vemos, parecemos verdadeiros malucos.

E todo essa realidade única sustentada eletronicamente é sem dúvida inútil para a

interação humana.

Felizmente não é necessário eliminar por inteiro o ambiente físico que nos

rodeia. É possível, por exemplo, incorporar prismas nas lentes dos óculos VR; isso

sobrepõe imagens produzidas por computação gráfica ao ambiente, de maneira

que os objetos virtuais em 3D pareçam misturar-se aos objetos físicos para criar

uma arquitetura híbrida2 .

Pixels por toda parte

Em um mundo onde proliferam telas e caixas de som, superfícies inteligentes,

telas de projeção de vídeo, realidade virtual e realidade amplificada, a informação

digital luminosa está em toda parte, sobreposta à realidade física tangível.

Os pixels são para nós o que os blocos de pedra foram para os romanos. Placas

de sinalização e rótulos estão se tornando dinâmicos, textos saltam da página para

o espaço tridimensional, murais estão sendo postos em movimento, e o imaterial

está se misturando imperceptivelmente ao material.

2 Híbrida, adj. 1. Que provem do cruzamento de espécies, raças ou variedades diferentes. 2. Que se afasta das leis naturais.

Page 51: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

42

A arquitetura não é mais simplesmente um jogo de volumes sob a luz. Hoje, ela

engloba a disposição da informação digital no espaço.

Sensores e inteligência digital

A tecnologia de sistema de rastreamento por satélite (GPS) pode fornecer a

localização de veículos e outros objetos em qualquer lugar na face da Terra com

exatidão impressionante. Essa informação alimenta um sistema de navegação

dentro de um carro e o sistema de chamada de serviços de emergência. Em escala

arquitetônica e urbana, transceptores terrestres rastreiam carros e telefones

celulares.

No interior de um prédio vários sensores ativados por movimento, permitem,

por exemplo, que chamadas e mensagens sejam transferidas automaticamente.

Brinquedos inteligentes simulam organismos vivos através da implantação de

sensores.

Em geral, as novas tecnologias de sensores permitem que os objetos se tornem

conscientes uns dos outros e comecem a interagir. Esse é o primeiro passo em

direção a ecossistemas artificiais e sociedades de matéria-prima inteligente.

Como os chips estão se tornando cada vez menores, mais baratos, mais

potentes, mais resistentes e de menor consumo de energia elétrica, essa invasão de

produtos dotados de inteligência digital no mercado vai continuar. Haverá memória

e capacidade de processamento disponíveis onde for preciso e para qualquer

propósito. Posteriormente, deixaremos de pensar em computadores como

aparelhos independentes e começaremos a considerar a inteligência da máquina

como uma propriedade que não precisa estar associada a praticamente nada.

Page 52: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

43

Habitaremos um mundo onde as coisas não ficam paradas, mas pensam no que

deviam estar fazendo e decidem o que fazer de acordo com suas funções.

Com o avanço das telecomunicações, a conexão de rede sem fio e a garantia de

compatibilidade de hardware, os aparelhos eletrônicos podem se conectar

facilmente. As redes de comunicação deixam de parecerem condutores fixos e

passam a ser configurações capazes de atender a objetivos específicos temporários.

Page 53: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

44

Page 54: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

45

Cidades do Século XXI

Edifícios Inteligentes

Com a revolução industrial, novos produtos foram criados com a mecanização e

a produção em série. Com isso, produziu-se um mundo que necessitava de serviços

de assistência técnica. A rede de energia elétrica e a proliferação de pequenos

motores elétricos favoreceram este processo. Introduziram a era dos aparelhos

elétricos e muniram nosso dia-a-dia com suporte eletromecânico. Hoje, a rede

digital e os pequenos processadores eletrônicos estão transformando aparelhos

pouco eficientes em robôs inteligentes:

A máquina de escrever transformou-se em processadores de texto, máquina

fotográfica em câmeras digitais, máquinas industriais transformaram-se em robôs e

outros.

Com o desenvolvimento destas novas tecnologias, surge um novo estágio na

evolução da arquitetura. Nossos prédios serão menos parecidos com amebas e mais

parecidos conosco. Estaremos interagindo continuamente com eles, e cada vez mais

os veremos como robôs onde se pode viver. Hoje, no despertar da revolução digital,

elas estão ganhando um sistema nervoso artificial: sensores, telas e aparelhos

computadorizados. A estrutura do edifício transforma-se num chassi para

sofisticados sistemas eletrônicos, que desempenham um papel cada vez maior na

satisfação das necessidades de seus moradores.

À medida que essa evolução prossegue, a distinção entre construção e superfície

computadorizada desaparece. Habitação e interação com computadores serão

Page 55: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

46

inseparáveis e simultâneas, podendo realizar tarefas como economia no consumo

de energia e água, e também nos controles de acesso.

O edifício do novo milênio funcionará como um grande computador com

processadores múltiplos, memória distribuída, numerosos dispositivos de controle e

conexões de rede. Ele será capaz de captar continuamente as informações de seu

interior e das redondezas e de construir e manter um complexo e dinâmico sistema

de armazenamento de informações.

Com isso, o ramo da construção abrirá espaço para novos profissionais.

Especialistas em redes, técnicos de hardware e de software se juntarão a

serralheiros, pedreiros, carpinteiros, encanadores, pintores e eletricistas.

A expansão desses lugares inteligentes acabará por produzir uma nova estrutura

urbana e, no final, reformular radicalmente as cidades.

Apesar de a diferença social continuar, o progresso ambiental tem representado

uma melhoria das condições de vida, e poucos de nós – mesmo os mais céticos e

duros críticos da tecnologia – iriam querer voltar no tempo.

A cidade do século XXI será um sistema interconectado, interativo, saturado de

software e silício de lugares inteligentes, conscientes e receptivos. E eles estarão

presentes em roupas, salas, prédios, bairros, regiões metropolitanas e infra-

estruturas globais.

Home-offices

A maioria de nós ainda quer viver num lugar mais ou menos fixo. Apesar de

toda essa variedade de novas configurações, o lar é ainda o lugar onde o coração

permanece – e onde um número cada vez maior de outras coisas acabará

Page 56: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

47

permanecendo também – Ele se tornará o foco da atenção e da inovação

arquitetônica, pois integrará novas funções e serviços.

Da mesma forma que a revolução industrial forçou a separação entre casa e

local de trabalho, a revolução digital está unindo os dois novamente. Veremos uma

quantidade crescente de home-offices, equipadas eletronicamente, fazendo com

que sejam encontrados meios para passar mais tempo com a família, como a

distribuição eletrônica de serviços – desde serviços de e-commerce até

monitoramento médico.

Tudo isso vem ao encontro da necessidade do ser humano de pertencer a algum

lugar. Haverá sempre um lugar que chamaremos de “lar”. E quando estivermos

longe dele, continuaremos a chamá-lo de lar.

A difusão de habitações de vida/trabalho é uma conseqüência da

telecomunicação eletrônica, uma vez que ela reduziu a necessidade de se viver

próximo aos locais de trabalho e serviços. Com isso, poderemos ter visões alarmistas

sobre a dissolução das cidades e sua transformação num imenso subúrbio

indiferenciado e sem fim.

Por outro lado, cidades de incomparável beleza arquitetônica e tradições

culturais irão se beneficiar com a nova liberdade de escolha do local de residência.

Cidades turísticas com as suas atrações, poderão integrar com uma moderna infra-

estrutura de telecomunicações, elas teriam a capacidade de atrair tele-trabalhadores

livres, revitalizando centros históricos e outras atrações com uma forma mais

adequada ao século XXI. Muitas cidades históricas, consideradas marginalizadas

economicamente teriam potencial semelhante.

As telecomunicações podem agregar valor às áreas onde os mais ricos gostariam

de morar, mas não conseguiria fazer muito pelas localidades sem atração intrínseca.

E nem pode ajudar as pessoas que estão presas em áreas marginalizadas, mal

servidas e que não têm dinheiro para se mudar.

Page 57: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

48

Bairros Eletrônicos 24 horas

Lugares de interesse cultural e paisagístico atrairão uma população permanente

de teletrabalhadores.

As áreas urbanas podem continuar favorecendo a existência de comunidades

fechadas e ricas incrustadas em meio a “buracos negros”, frutos da falta de

investimento, negligência e pobreza. O mercado parece sugerir, às comunidades de

baixa renda, para continuarem sendo as últimas a receberem a infra-estrutura de

telecomunicações digitais e a educação para utilizá-la.

Para arquitetos e urbanistas, a tarefa complementar é criar uma estrutura

urbana que ofereça aos grupos sociais a oportunidade de se cruzarem e

sobreporem, ao invés de permanecerem isolados pela distância ou por muros

protetores – o laptop na mesa de café da praça em vez do PC no condomínio

fechado.

Pontos de encontro

Muitos deles serão virtuais. Amigos, familiares, companheiros de trabalho,

estudantes e membros de grupos e associações, irão cada vez mais se comunicar

por meio de softwares que criam pontos de encontro acessíveis a todos.

As pessoas usarão cada vez mais correio eletrônico, páginas da WEB, sistemas de

busca, áudio e videoconferências – mundos virtuais online cada vez mais elaborados

e ambientes mediados por software que nem sequer imaginamos.

Page 58: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

49

Para que a vida pública não se desintegre totalmente, as comunidades devem

encontrar formas de criar e manter locais de reunião e interação para seus membros

– sejam eles físicos e virtuais ou alguma nova e complexa combinação dos dois. E,

para que possam servir a seus propósitos, esses locais devem permitir a liberdade de

acesso e de expressão.

Os novos locais de trabalho

Em uma empresa, quando os arquivos estão on-line, através de uma intranet, e

os funcionários do escritório têm seu próprio computador e sua própria impressora,

não há necessidade de agrupar os espaços de trabalho ao redor dos recursos

centrais. O trabalho que era realizado no escritório pode ser feito pelos funcionários

em casa ou em trânsito, e as salas que eram reservadas permanentemente a

determinados funcionários podem ser ocupadas por qualquer um, conforme a

necessidade. Às salas de reunião e espaços sociais informais são acrescentados

locais de reunião virtual, mas a necessidade de encontros reservados permanece.

A cidade online

No século XIX, a tecnologia de telecomunicações adaptou-se rapidamente à

necessidade do consumidor de solicitar um serviço móvel a uma central, o que

agilizou o tempo de resposta e tornou os serviços mais eficientes.

O monitoramento e as chamadas a distância mudam significamente a qualidade

de serviços – principalmente dos serviços médicos e de emergência. Isso cria

grandes mercados, promete igualdade de distribuição e é uma notícia

Page 59: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

50

particularmente boa para os que vivem em regiões distantes, subdesenvolvidas e

para aqueles que estão imobilizados pela idade ou por enfermidade.

A rede de telecomunicações está abrindo um grande mercado para serviços e

cada vez mais empresas de serviços tradicionais se verão, de repente, influenciadas

pelo sucesso das “pontocoms”.

A conseqüência social dessa nova gama de telesserviços é a eliminação do

intermediário, que está sendo substituído por sistemas eletrônicos e softwares.

Numa loja online, uma interface eletrônica assume as funções da fachada, das

placas, das vitrines e do salão de vendas; e o software se encarrega de mediar as

interações entre a empresa e os consumidores. O espaço dos fundos permanece: a

necessidade de guardar o estoque e acomodar o pessoal administrativo não

desaparece. Além disso, os prédios que abrigam esse espaço não precisam estar

num local visível ou em uma das áreas valorizadas da cidade. Podem ser anônimos e

estar distantes.

Numa livraria online, por exemplo, a home page equivale à fachada, e, para

encontrá-la, não precisamos caminhar ao longo de uma rua; podemos descobrí-la

através de um programa de busca.

A nova economia

Nas cidades estruturadas do século XXI, como vamos escolher entre a

comunicação pessoal e a telecomunicação? Quando vamos querer viajar para uma

reunião e quando vamos preferir substituí-la pela conexão à distância? Quando a

Page 60: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

51

comunicação será assincrônica e sincrônica3. Como fazer para que nossas escolhas

sejam coerentes? Que modelos temporais e espaciais agregados emergirão?

Com estas perguntas, levaremos constantemente em conta os benefícios dos

diferentes graus de presença que temos agora disponíveis e os avaliaremos em

relação aos custos.

Com a comunicação assincrônica a distância, os participantes são separados

tanto no espaço quanto no tempo. Assim uma mensagem por e-mail é muito

menos pessoal que um encontro ou um telefonema. Porém, pode ser muito mais

conveniente e barata – principalmente quando a distância é grande e há diferença

de fuso horário. Hoje, mesmo pessoas muito ocupadas conseguem lidar com

dezenas e até centenas de mensagens por e-mail num dia de trabalho, mas não

poderiam interagir com mais do que um pequeno número de pessoas em encontros

pessoais ou conversas telefônicas.

Muito mais recentemente, com o desenvolvimento e a instalação das redes

digitais em grande escala, houve uma mudança radical e rápida da atividade para

as interações assincrônicas a distância, que têm baixíssimo custo. Esse foi o efeito

mais fundamental da revolução digital.

Com isso, os locais residenciais atraentes – inclusive resorts e centros de

recreação – vão ter uma densidade maior de trabalhadores a distância e residências

de vida/trabalho. As comunidades que têm sido marginalizadas pelo isolamento e

pela pobreza tentarão melhorar, suas condições através da educação a distância, da

telemedicina e de outros tipos de distribuição eletrônica de serviços de baixo custo.

Os pólos tecnológicos avançados, que têm alto custo de mão-de-obra, como

Silicon Valley, buscarão avidamente o mercado de trabalho global mediado

eletronicamente, enquanto cidades que têm mão-de-obra barata e capacitada –

3 Sincrônica – Ex.: falar pessoalmente, falar pelo telefone. Assincrônica: deixar um bilhete sobre a mesa, mandar um e-mail.

Page 61: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

52

como Nova Délhi, Bangalore e Kingstom – venderão sua força de trabalho no

mercado global. Cidades que dispõem de centros de distribuição e transporte de

mercadorias, acabarão desempenhando um papel-chave no novo sistema de

comércio eletrônico. Os centros de cultura, entretenimento, educação e pesquisa se

tornarão mais especializados, concentrando seus esforços no que fazem melhor e

importando eletronicamente quaisquer outros recursos intelectuais de que possam

precisar. Todos irão procurar as condições que forem mais vantajosos em âmbito

local.

A arquitetura e o urbanismo do futuro certamente refletirão a combinação de

modos de interação que funcionem melhor para cada pessoa, em determinada hora

e lugar, em face de suas circunstâncias dentro da nova economia de presença.

E-topias

Na era industrial que agora declina lentamente, nossas cidades foram

submetidas a exigências cada vez mais pesadas. Em conseqüência disso, foram se

tornando cada vez maiores, mais populosas, mais tensas e hostis, e

desesperadamente sufocadas com o tráfego e poluição.

Mas a revolução digital, aliada à economia de presença que está emergindo a

partir dela, oferece-nos algumas alternativas animadoras. A virtualidade agora

disputa com a materialidade. Viajar não é mais a única maneira de chegar a algum

lugar. E a inteligência humana está sendo aumentada, em grande escala, pela

parceria entre software e o silício.

Com isso, podemos criar e-topias – cidades enxutas e ecológicas capazes de

trabalhar de maneira mais inteligente ao invés de trabalhar mais. Assim, poderemos

satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações

Page 62: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

53

futuras em satisfazer as próprias necessidades, definido como “sustentabilidade”.

Este termo poderia ser aplicado em design de produto, arquitetura, planejamento

urbano e estratégia regional, nacional e global.

Desmaterialização

A utilização do home banking na Internet substitui uma construção material,

como agência de um banco, há um efeito de desmaterialização. Não precisamos de

mais tantas construções físicas e gastar energia para mantê-las aquecidas e

refrigeradas.

As mensagens eletrônicas são separadas de seu substrato material, havendo

benefícios análogos: uma mensagem de e-mail, lida na tela, não consome papel, e

nunca se transformará em lixo. Um bit não é poluente!

O resultado da desmaterialização aponta em direção a aparelhos menores,

manufaturam mais ecológico e baixo consumo de energia.

Personalização em massa

As máquinas burras da era industrial nos deram a produção em massa, a

repetição e a padronização, mas as máquinas inteligentes da era dos computadores

podem nos oferecer adaptação inteligente e personalização automática.

A produção em série e a produção em massa eletronicamente mediada acabam

tendo implicações nitidamente diferentes. No auge da era industrial, nos anos

1920, Henry Ford padronizou rigorosamente o modelo T. Da mesma forma, Mies

Page 63: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

54

van der Rohe padronizou módulos, elementos e detalhes de construção, explorou a

poesia das formas simples e a repetição regulares, sempre presos à lógica de

padronização e repetição da máquina. Quando se constrói uma estrutura a partir de

elementos uniformes, alguns deles serão superdimensionados, causando

desperdício.

Hoje, no entanto, os projetos da era da informação, como o de Frank Gehry para

o museu Guggenheim em Bilbao, começam a mostrar uma nova e radical solução

do problema. Eles exploram a capacidade de máquinas controladas por

computador para criar composições de elementos não repetitivos e não

padronizados, que respondem precisamente a funções e contextos determinados.

Os complexos resultados estão longe de ser arbitrários e irracionais, como os velhos

e icorrigíveis seguidores de Mies van der Rohe gostam de dizer. Na verdade,

obedecem a uma racionalidade mais sutil e sofisticada. E, claro, despertam nossa

sensibilidade ao produzir uma nova e surpreendente espécie de poesia material e

espacial.

Page 64: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

55

Page 65: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

56

A cidade do futuro

No século XXI, portanto, podemos criar uma urbanidade civilizada

apoiada menos na acumulação de coisas e mais no fluxo de informação,

menos na centralidade geográfica e mais na conectividade eletrônica,

menos no consumo descontrolado de recursos escassos e mais no

gerenciamento inteligente. Cada vez mais, descobriremos que podemos

adaptar lugares existentes às novas necessidades através da instalação

de hardware, reposição de software e reorganização das conexões de

rede, sem demolir estruturas físicas e construir novas.

Mas o poder do lugar ainda prevalecerá. À medida que os velhos

imperativos de proximidade e localização forem perdendo força,

gravitaremos para cenários que oferecem atrações climáticas,

paisagísticas e culturais – aquelas qualidades únicas que não podem ser

obtidas através de um fio, assim como a possibilidade das interações

pessoais que tanto apreciamos.

Ambientes físicos e virtuais funcionarão de uma maneira

interdependente e, na maioria das vezes, se complementarão segundo

os novos padrões de vida urbana, sem substituir os existentes. Algumas

vezes, usaremos a rede para evitar ir a algum lugar. Porém, em outras

ocasiões, iremos a um lugar para interagir.

Page 66: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

57

Page 67: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

58

Espaços Híbridos

A revolução cultural e social abordada pelas telecomunicações e pela tecnologia

das informações é rapidamente transformada para o campo da arquitetura. Nós

vivemos em uma era de escolhas aceleradas. A população metropolitana,

previamente limitada culturalmente e fisicamente localizada, tem se tornado

nômade e transitório, resultando em grandes acumulações demográficas.

Com estes fatores, a arquitetura está se transformando, redefinindo os seus

princípios, ajustando-se a um mundo cada vez mais adaptável e inconstante. A

Arquitetura é remodelada, tornando-se em parte uma investigação experimental da

geometria, parcialmente uma orquestra da computação, com produção de

materiais robóticos e parcialmente uma modelagem espacial.

Estas novas modalidades da arquitetura com a geometrica-topológica4 definem

o espaço híbrido, criando-se idéias ou conceitos de contraste e heterogeneidade – o

forte e o fraco, a forma e o sem forma, o real e o virtual, se transformando através

de identidades conflitantes, revelando e consumindo diferentes geometrias e

postulados espaciais. Esta nova arquitetura organiza o mundo arranjando os

espaços entre as coisas, em vez de perpetuar o mito da forma ideal.

No final do século XX, a revolução da informática mudou a arquitetura e o

desenho urbano. Tecnologias digitais transformaram a natureza arquitetônica

criativamente, mudando o relacionamento entre a matéria e os dados, entre o real e

4 Uma definição de geometria-topológica seria o estudo da topografia de uma região: o levantamento

e delineação gráfica do lugar e a configuração dele, posições e elevações. A topologia envolve o estudo de estranhas superfícies que podem ser transformadas sem quebrar a estrutura elástica da superfície destas. Todas estas definições de topologia são essenciais para a arquitetura computacional revelada no Espaço Híbrido. Estas explorações constroem formas que não são baseadas na pura geometria Euclideana da esfera, cubo ou pirâmide, mas ao invés disto, são freqüentemente modeladas.

Page 68: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

59

o virtual e entre o orgânico e o inorgânico, nos levando dentro de um território

instável com formas inovadoras. A arquitetura está reescrevendo um novo modelo

de cidade com cabos de rede e conexões via-satélite, diminuindo as distâncias

geográficas. Estruturas e edifícios ficam livres de um ponto de vista convencional.

As construções podem se tornar apenas símbolos fixados e sem mobilidade,

podendo também, organizar e produzir o desenvolvimento da área.

A idéia de lugar tem sido remodelada. Os edifícios podem estar em vários

lugares simultaneamente através da conexão digital, e ao mesmo tempo, podemos

perceber várias situações simultaneamente.

É neste contexto que os atuais arquitetos experimentais estão entregando

produtos, materiais e tecnologias digitais para gerar uma arquitetura de

incorporação e conjunção, testando o potencial criativo disponibilizado pelos

aplicativos de computador. Se a vanguarda do século XX desenhou uma arquitetura

para a era das máquinas, então os arquitetos do espaço híbrido estão inventando

respostas pragmáticas, poéticas e transformadoras para as tecnologias, redes

urbanas e processos da era da informação. Eles estão desenvolvendo rotinas e

códigos urbanos para o mundo ambíguo. Esta arquitetura não revolucionária, nem

seria utópica, mas seria evolutiva, contextualizada e transmultada5, as pesquisas

estão disparando a mudança da nossa percepção e compreensão do espaço,

materealidade e tempo no início do novo milênio.

5 O uso do termo transmultações parece bastante apropriado para definir a condição estabelecida com

a cultura contemporânea da sociedade da informação, na qual “novas espécies” de espaço se formam e novas condições de experiência são estabelecidas, como os processos de virtualização. Originalmente, o termo transmultação sugere que certos acontecimentos podem levar á formação de uma nova espécie em razão de mutações.

Page 69: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

60

Ciberespaço

Em 1984, no livro Neuromancer de William Gibson, aparece pela primeira vez o termo

ciberespaço, uma representação física e multidimensional do universo abstrato da “informação”, um

espaço de comunicação configurado pela rede interconectada de computadores, cuja característica

fundamental é ser um lugar para onde se vai com a mente, um ambiente bioeletrônico habitado pelo

saber.

Para “entrarmos” no ciberespaço, necessitamos de dispositivos tecnológicos, computadores,

cabos, de uma estrutura física que nos conecte a ele. Assim, através de interfaces que conectam o

mundo físico e o mundo virtual, existe uma interação e transitamos entre esses dois domínios,

ampliando o sentido de presença.

O ciberespaço é uma representação física de nossas atividades mentais, outra dimensão da

mente, uma extensão de nós, onde a consciência pode ser representada. Tal como o espaço

mental, ele não produz uma geografia definida, mas suas representações definem uma topologia

espacial. A arquitetura do ciberespaço é topológica, fluida, plástica e inexaurível.

Espaço físico e espaço virtual estão interconectados de tal maneira que transitamos entre esses

domínios espaciais, ampliando o campo de nossas experiências sensoriais. Essa ampliação ou

extensão de nossas experiências para outro domínio espacial se dá por meio de dispositivos

tecnológicos que são incorporados ao nosso corpo, expandindo nossas capacidades sensoriais e

também cognitivas. No ciberespaço, toda tecnologia usada serve para estender a comunicação do

nosso corpo com o espaço virtual e, assim, experimentar novas experiências nesse domínio.

Page 70: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

61

A arquitetura virtual

Na arquitetura contemporânea, persiste a busca tanto de novas formas de representação

quanto à concepção de uma nova idéia de espaço, porém, motivada por um novo domínio que se

interpõe: o ciberespaço. Na década de 1990, todo esse movimento de arquitetura, que se iniciou

nos anos 1980 em torno de uma perspectiva transformadora da linguagem arquitetônica, é

impulsionado pelo fenômeno do ciberespaço. Assim, uma das características do cenário

contemporâneo da arquitetura é o diálogo entre arquitetura e espaço digital.

A arquitetura inscreve-se, cada vez mais, numa dimensão científica e tecnológica. Estamos

diante de um contexto social em que é possível conceber novas formas de vivência por meio de

novos sistemas. O fazer arquitetônico deve levar em conta não só a construção de espaços

concretos, realizáveis, mas também a construção de espaços simulados, atualizáveis e

virtualizados.

A arquitetura contemporânea em seu processo de concepção não é guiada por proposições

estilísticas, ela é motivada primordialmente pela busca de novos sistemas de representação,

referenciados pelo fenômeno do ciberespaço. Assim, o que se pode verificar é a busca de novos

conceitos, que expressem uma reflexão baseada no novo pressuposto introduzido no contexto da

arquitetura contemporânea, que é o de pensar na virtualidade dos espaços.

É possível identificar um alto nível de abstração na arquitetura contemporânea, com os

trabalhos do arquiteto Marcos Novak6, cujo primeiro objetivo não é conceber espaços, mas

explorar as condições dos sistemas computacionais em relação à produção de uma arquitetura

além do espaço. Para esta arquitetura foi adotado o conceito da transarquitetura, uma

6 Marcos Novak (1957), arquiteto, artista e musicista, concebe espaços virtuais, híbridos e inteligentes, com base em algoritmos matemáticos. Suas pesquisas são voltadas ao estudo do espaço não-euclidiano. É professor e pesquisador do laboratório virtual da faculdade de arquitetura da Univerdade do Texas

Page 71: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

62

arquitetura representante das idéias, dos conceitos, das abstrações, sem nenhum caráter

funcionalista, comprometida com o contexto tecnológico relacionado ao ciberespaço.

A pesquisa de Novak está voltada para o desenvolvimento de estratégias que discutem e

incorporam a transformação do espaço físico pelo espaço virtual, uma arquitetura que resulta de um

fenômeno cultural mais amplo, que ele define como transmodernidade. Novak é um dos

pioneiros na construção de espaços virtuais. Para ele, a arquitetura digital é o meio adequado para a

expressão e experimentação de um pensamento arquitetônico diferente do pensamento atrelado às

necessidades de construções do mundo concreto. As suas estratégias de exploração de conceitos e

formas para o ciberespaço relacionam e integram um conjunto de dados referenciados em

processos abstratos, como conceito de espaços não-euclidianos, desdobramento de algoritmos,

visualização de objetos metalizados e ambientes musicais navegáveis por computador.

Figura 18

Page 72: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

63

O conceito de arquitetura líquida sugere uma paisagem imaginária, fluida, que apenas

existe no domínio digital e define uma estrutura de experimentação arquitetônica desvinculada de

qualquer necessidade de realização no espaço físico. Para Novak, a exploração de modelos

matemáticos, princípio de sua concepção, oferece a oportunidade de experimentar a forma

arquitetônica dentro das capacidades e dos limites dos sistemas computacionais.

A arquitetura já não precisa ser gerada por convenções estáticas de plano, seção e elevação.

Em vez disso, as construções podem ser agora totalmente idealizadas por modelagem

tridimensional, perfilação, prototipagem e implementação de softwares, interfaces e hardwares,

anulando assim as etapas entre conceituação e fabricação, produção e construção, cálculos e

experiência espacial.

Figura 19

Page 73: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

64

Figura 20 - Marcos Novak – Allo Bio

Page 74: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

65

Tecnologia e Design

O Designer digital, ou artista tecnólogo, John Maeda7 é reconhecido como pioneiro da

revolução dos sistemas de design gráfico.

Os espaços híbridos de Marcos Novak, e os sistemas de Maeda nos levam a uma nova direção

do design gráfico, alcançando todas as vantagens adquiridas pelo poder algorítmico dos programas

de computador, transformando a maneira de pensar de muitos designers gráficos sobre as cores, a

tipografia e a folha impressa.

Para Maeda o computador não é nenhum Deus mágico que sozinho nos dará compreensão

instantânea. O ingrediente fundamental para o aprendizado avançado seria o usuário não ter medo

de inovar.

Figura 21 – John Maeda – 12 o’clocks

Em um de seus trabalhos, Reactive

Books, Maeda consegue atrair tanto

“experts” em arte como crianças pequenas,

misturando a impressão e a programação de

computador. A série é formada pelos livros:

12 o´clocks, Flying letters e o Reactive

Square. Em Reactive Books, Maeda nos

mostra o computador como uma tela multi-

dimensional, manifestando uma projeção de

luz ou uma impressão, com a qual nós

podemos exercitar um controle expressivo

completo, utilizando um ou dois caminhos.

7 John Maeda nasceu em Seatle em 1966 e formou-se em ciência da computação em 1989 no Massachusetts Instituto of Technology, Cambridge, MA. Tornou-se em 1996 Ph. D. pelo Tsukuba University Institute of Art and Design, Tsukuba, Japão. Maeda é diretor associado do laboratório do MIT e renomados conselhos de arte e computação, além de ter seu estúdio de design.

Page 75: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

66

Primeiro, através de alguns meios físicos, como a mão no mouse, onde cada movimento é

correspondente aos nossos gestos e escolhas na tela. Esta aproximação é semelhante ao processo

tradicional – aplicando pigmento no papel através da interação física com o meio – sendo o meio

mais natural. Em outra mão, existe decididamente um meio não físico, com a expressão chamada

computação, onde um programa de computador, definido pelo artista/programador, explicitamente

instrui a tela onde e como ele mesmo poderia aplicar os pigmentos virtuais. O artista faz um contato

não físico com o meio, por outro lado o processo está gravando as instruções do programa no

computador.

Figura 22 – John Maeda - The Reactive Square

Nesta pesquisa, Maeda ativamente

busca ligar a diferença entre

computacional e a expressão não

computacional com a impressão, com a

qual ilustra sensivelmente o passado e ao

mesmo tempo envolve o futuro. A série

Reactive Books ilustra a tentativa

de união entre a impressão e a mídia

digital, o meio físico com o ciberespaço,

redesenhando a realidade, e alcançando a

dimensão tátil através da interatividade.

Figura 23 – Design digital de John Maeda

Page 76: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

67

Conclusão

A arquitetura e o design são influenciados constantemente

por novos movimentos artísticos e estilos.

As mudanças na sociedade, os acontecimentos históricos

como as Guerras Mundiais, o medo causado pela destruição

nuclear e outros fatores marcantes, alteram nossa forma de

pensar e ao mesmo tempo podem trazer novas tecnologias para

a arquitetura e o design.

No final do século XIX, o impacto da revolução industrial foi

largamente sentido na arquitetura e no urbanismo. Novamente

formas de poder e distribuição de energia foram rapidamente

dispersadas e dissolvidas nas cidades, novas produções e linhas

de montagem foram transformando a lógica da estrutura, sua

aparência e sua materialidade nas formas mais comuns dos

edifícios. O uso do aço e o concreto armado deram novas

possibilidades para a construção.

A revolução Industrial e a produção em série, trouxeram

mudanças profundas em nossa vida, e era necessário, com o

surgimento de uma sociedade industrializada, que essas

manifestações, como a Bauhaus, passassem a ser mais uma

possibilidade para os homens entenderem a era mecanizada.

Page 77: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

68

Nas bases de sua ideologia, a Bauhaus pregava a integração da

produção artística com a industrial, ou seja, sua meta principal

era desenvolver o design moderno, a integração do homem e

seu espaço.

No modernismo, a produção em série e a preocupação com a

funcionalidade levaram a criação de um sistema modular, sendo

que toda forma de produção em arquitetura e design eram

baseadas nesta ideologia.

Os movimentos artísticos, principalmente o construtivismo e

a cultura pop, deixaram grandes heranças, para arquitetos e

designers do século XX e do novo milênio. A Bauhaus e o

Movimento modernista, o Pós-modernismo com o Grupo

Memphis e a arquitetura de Michael Graves, o

Desconstrutivismo de Zaha Hadid e o Design Punk de Neville

Brody, entre vários outros citados anteriormente, tiveram

influências claras com os movimentos artísticos e a evolução da

sociedade.

Os avanços tecnológicos, a informatização e a criação de uma

nova dimensão cibernética, tornam cada vez mais tênues as

fronteiras entre a arte e o design. Hoje pensamos em bits e

pixels, e identificamos que a história nos mostra que o

computador foi muito mais que um mero instrumento: trouxe

alterações profundas na linguagem do design gráfico, ampliou

Page 78: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

69

tremendamente sua área de atuação e, como querem alguns,

mudou a própria forma de pensar.

No novo milênio os projetos arquitetônicos não são apenas

páginas impressas de um projeto, o computador tornou-se mais

acessível, de modo cada vez mais intenso, reproduzindo

imagens e criando novas possibilidades com o ciberespaço,

provocando novas sensações, simulações e interações,

ampliando nossa visão diante do mundo – a realidade ampliada.

A arte sempre integrará a arquitetura e o design, seja ela

criadora de novos movimentos e estilos, com base digital ou

analógica. Da era mecanizada ao mundo tecnológico, arquitetos

e designers sempre idealizaram novos estilos e

experimentações.

A transformação faz parte da contemporaneidade. As

diversas áreas de design e arquitetura, influenciadas ou não

pelos movimentos artísticos, se convergem, e poderiam se

aproximar para criar novas realidades.

Page 79: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

70

Bibliografia AZEVEDO, Wilton. O que é design. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Editora Brasiliense, 1998. CARSON, David & BLACKWELL, Lewis. The End of Print. São Francisco: Chronicle Books, 1995. FABRIS, Annateresa. Futurismo: uma poética da modernidade. Coleção estudos; 94. São Paulo: Perspectiva - Editora da Universidade de São Paulo, 1987. FERLAUTO, Cláudio AR. O tipo da gráfica, uma continuação. São Paulo: Edições Rosari, 2002. GHIRARDO, Diane Yvonne. Arquitetura Contemporânea: Uma História Concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002. GROPIUS, Walter. Bauhaus: Nova Arquitetura. Coleção Debates. São Paulo: Editora Perspectiva, 1997. HOLLIS, Richard. Design Gráfico: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2000 MIGAYROU, Frédéric & BRAYER, Marie-Ange. Archilab, Radical Experiments in Global Architecture. Orléans, France. Thames & Hudson, 2001. MITCHELL, William J. .E-topia: A vida urbana, mas não como a conhecemos. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2002 PIAZZALUNGA, Renata. A virtualização da arquitetura. Série Ofício de Arte e Forma. Campinas, SP: Editora Papirus, 2005 POYNOR, Rick. No More Rules, Graphic Design and Postmodernism. New Haven, EUA: Yale University Press, 2003 RICKEY, George. Construtivismo – Origens e Evolução. Cosac & Naify, 2002. SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é Pós moderno?. Coleção Primeiros Passos. 165. São Paulo: Editora Brasiliense, 2000. WEINGART, Wolfgang. Como se pode fazer Tipografia Suiça?. Coleção Qual é o seu tipo?. São Paulo: Edições Rosari, 2004 ZELLNER, Peter. Hybrid Space: New forms in digital architecture. Londres: Thames & Hudson, 1999

Page 80: As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design€¦ · As Fronteiras entre a Arquitetura e o Design Monografia de conclusão de curso apresentada ao programa de Pós-Graduação Lato

71

Sites

Walter Gropius e a Bauhaus

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2005/03/12/002.htm

Bits e Pixels redesenham a década

http://www.arcoweb.com.br/design/design15.asp

John Maeda

http://www.maedastudio.com/rbooks/square.html

Marcos Novak

http://www.centrifuge.org

http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/brasmitte/portugues/novak_forum.htm

http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/brasmitte/portugues/novak_sp.htm

http://www.altx.com/interviews/marcos.novak.html

http://www.itaucultural.org.br/invencao/27p.htm