as festas que a república manda guardar

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As Festas que a República Manda Guardar ste artigo pretende explor al- guns uaços que distinguem a Re- pública do Imrio no Brasil. Ou melhor, ptende alar da ques- que envolve a quebra de uma i- ç e a conSlço de um novo univer simlico caz de conferir legitimidade à nova çao republicana. A crise brasileira de hoje envolve, entre OUS problemas, o ceticismo em rel (Bril, pa do futuro) e aos políticos e o questionamento da crença que o "novo" é melhor, crença que feito pte do sentido meo de história, no qual nos inserimos. O rompimento desta rel itiva com o fu, cfigurada na nao ps- , s leva igualmente a reve, a relaçao com o pdo. Sabemos que a relaçao com o p o MO é similar em tos os vos; u ela é mais , pro- duzin um esqᵫcimento que enaque- ce a memória coletiva, ingrediente bási- co da identide nional. Lúcia Uppi Oliveira O prent e configura o futuro e o pdo, o que nos leva a indagar a res- פito das fronteiras ene esses marc da reflexão bre o tem. Samos da cplexide des temáca, que f presente, inclu sive, no Centenário da República e que cermente susci ques- ts do ti: como organizar a comemo- raç de acontimento que prova ho ntos ntimentos bivalentes e dúvidas? Não nos pe ser r aca que a cemoração do Centenário da República tem pautado פla r- lização de minários, simsios e me redondas relativam ente fechadas, acadêmicas. Hoje valoza a פsqui histórica, o debate historiográfico, em d ento d e uma comemor mais festiva da memória nacional. Este é um indício imrnte do Brasil atual. Sem fug de" tendência, pr- mos explor co e quem dedic à csuç memória republicana na pgem do Imrio à República e l e- vanr algum hiteses para explic o Noto: A, I a de d s Faa o à , . Hi.� "'- 1 fi. 4, 1Η, P. 111- I".

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As Festas Que a República Manda Guardar

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Page 1: As Festas Que a República Manda Guardar

As Festas que a

República Manda Guardar

ste artigo pretende explorar al­guns uaços que distinguem a Re­pública do Império no Brasil. Ou melhor, pretende Iralar da ques­

tão que envolve a quebra de uma tradi­ção e a conSlrUçlio de um novo universo simbólico capaz de conferir legitimidade à nova naçao republicana.

A crise brasileira de hoje envolve, entre OUIrOS problemas, o ceticismo em relação ao país (Brasil, país do futuro) e aos políticos e o questionamento da crença de que o "novo" é melhor, crença que tem feito parte do sentido moderno de história, no qual nos inserimos. O rompimento desta relação positiva com o futuro, configurada na noçao de progres­so, nos leva igualmente a reve, a relaçao com o passado. Sabemos que a relaçao com o passado MO é similar em todos os povos; para uns ela é mais pesada, pro­duzindo um esquecimento que enfraque­ce a memória coletiva, ingrediente bási­co da identidade nacional.

Lúcia Uppi Oliveira

O presente configura o futuro e o passado, o que nos leva a indagar a res­peito das fronteiras enlre esses marcos da reflexão sobre o tem po. Sabemos da complexidade desta temática, que se faz presente, inclusive, no Centenário da República e que certamente suscita ques­tões do tipo: como organizar a comemo­ração de um acontecimento que provoca hoje tantos sentimentos arnbivalentes e tantas dúvidas? Não nos parece ser por acaso que a comemoração do Centenário da República tem se pautado pela rea­lização de seminários, simpósios e mesas redondas relativamente fechadas, acadêmicas. Hoje se valoriza a pesquisa histórica, o debate historiográfico, em delrirnento de uma comemoração mais festiva da memória nacional. Este é um indício importante do Brasil atual.

Sem fugir des"" tendência, procurare­mos explorar como e quem se dedicou à conslrução da memória republicana na passagem do Império à República e le­vantar algumas hipóteses para explicar o

Noto: A,radeço I coIaborlçio de André Luis Faria eo. .. o à "I'OOU, estagiirio do Cpdoc. !Mui" Hi.� Rio "'-iro. voI. 1. fi.. 4, 1919, P. 111- I".

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AS FESTAS QUE A RE'.PÚ8UCA MANDA GUARDAR 173

que nos parcce ser O fracasso de tal em­preitada.

I. A comemor.çlo ou como .vl1.r o

•• queclm .... to

As revoluções têm que lidar ao mes­mo tempo com a organizaçllo de uma nova vida social e poUtica e com a cons­trução de um imaginário capaz de recu­pelar um equilíbrio perdido ao longo do tempo. Assim, ao se iniciar um momento novo, precisa-se evocar um tempo remo­to. Lá estariam as raizes, o sentido ver­dadeiro do homem e da sociedade. Esta ubiqüidade das revoluções, marcadas por ter um pé no futuro e outro no pas<ado, tem se delineado de diferentes maneiras.

A Revolução Francesa, como outras revoluções, conjuga o novo e a volta às origens. Sua novidade envolve a consti­tuição de um sistema político mais apro­priado para o desenvolvimento da natu­reza do homem. A igualdade, princípio ordenador da sociedade poUtica, resuha de um ensinamento: os homens são iguais por natureza. Não é à toa que Rousseau aparece como um dos fú6so­fos mais recuperados, ao conjugar a construção de uma nova sociedade orga­nizada pela vontade geral à indicação do caminho para os homens encontrarem seu verdadeiro lugar na natureza (Nasci­mento, 1989:7).

O princípio do novo e a volta às ori­gens naturais conferem enorme força simbólica a esta revolução que, do ponto de vista do desenrolar histórico, é tão controversa. A crença de que é possível mudar o homem e a sociedade, mudar as estruturas que garantiam por nascimento a desigualdade entre os homens, con­figura a atualidade da Revolução France­sa como ideal simbólico.

A Revolução Francesa foi pródiga em construir sim bolos nacionais capazes de garantir coesao social em substituição à antiga tradiçllo monárquica e aristocráti­ca. Bandeira, hino, datas comemorativas, cerimônias, procissões, marchas, festas para a deusa da ra:zJ!o e her6is objetiva­vam garantir a ot>Miência, a lealdade e a cooperação dos súditos, ainda mais quando estes tinham-se tornado cida­dllos.

A comemoração pretende exorcizar o esquecimento. Mona Ozouf ( 1976) estu­da a utilizaçllo da festa revolucionária a serviço da memória e mostra que come­morar fez parte do programa revolucio­nário. As comemoraçOes alimentam a recordação da revolução. A pr6pria Constituição de 1791 expressa este prin­cipio ao declarar: "Serão estabelecidas festas nacionais para conservar a recor­dação da Revolução Francesa".

A alteração do calendário pode ser tomada como um exemplo extremo de que controlar O tempo se toma essencial ao poder. A mudança no calendário, ob­jeto cientifico e culwral, envolveu a pro­posta revolucionária de controle do tem­po e de reencontro com a natureza.

O calendário republicano, instaurado por dccrelo da Convenção a 5 de ouwbro de 1793, propunha romper com o tempo passado. A escolha do inicio do ano era também o início de uma era. O dia 22 de setembro de 1792, dia da proclamação da República, era o equinócio de outono. A história coincidia com a ordem natu­ral. O relator do projeto sublinhou "esta milaglOsa simultaneidade: no mesmo dia o sol iluminou os dois pólos e o archote da liberdade iluminou a nação francesa. No mesmo dia o sol passou de um hemisfério para o outro e o povo do governo monárquico para o republicano" (Ozouf, 1976: 191).

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174 ESTIJDOS HISTÓRICOS - 1989/4

Substituiu-se a semana pela década, inventaram-se novos nomes para os dez dias da década. Os meses, divididos em três décadas, eram uniformes, O que tornou necessário, no fun do ano, islO é, em selembro, acrescenlar dias com­plementares. Os nomes dos meses foram reinventados segundo uma ordem da natureza e do clima O oulOno incluía: vindimário, brumário, frimário; o inverno: njvoso, pluvioso. ventoso; a primavera: germinal, floreai, pradial; o verão: messidor, tennidor, frutidor. Esse calendário allerava os rilmOS de trabalho, do lempo livre e das festividades. Não é necessário ressallar as dificuldades e re jeições à sua vigência. O que surpreende é que tenha durado 13 anos, sendo abolido por um decreto de NapoleãO em 9 de setembro de 1805.

Se esta foi, por assim dizer, uma experiência pontual e traumática de marcar um novo tempo, a explosão do espírilO comemorativo se deu durante o século XIX, juntamente com a valorização das nações. A nação enquanlo uma "comunidade polftica imaginária" (Anderson, 1987) precisou organizar e disciplinar os indivíduos, constituindo uma memória nacional. Os nacionalistas desenvolveram com grande empenho a construção da memória. Para eles, inspirados nas idéias românticas, a memória é um objelo fundamental para a identidade da nação. No caso francês, eles acrescentaram ao 14 de julho republicano a celebração de Joana d' Are como símholo da identidade coletiva católica francesa (Oliveira, 1986: 76).

Datas, heróis, monumentos, músicas e folclore se conjugam na montagem da memória nacional e, se eSla tem consistência, produz-se um importante reforço à coesão social.

No fmal do século XIX, assiste-se à emergência política das mas<as urbanas el pour caust à descoberta da im­portância dos elernenlos simbólicos con­siderados como "irracionais" no compor­tamenlO dos homens e no funcionamento da ordem social. Na França, a reper­cussão da guerra franco-prussiana na política interna, o caso Dreyfus, o boulangismo e a Ação Francesa expres­sam essa tendência de participação popular e de incerteza no cenário nacio­nal. É frente a este cenário que os homens da Terceira República recorre­ram ao· simbolismo republicano do passado para enfrentar a crise de legi­tim idade. A proposta de uma ''religião cívica" capaz de, por meio de uma educação primária, "transformar não só os camponeses em franceses, mas lOdos os franceses em bons republicanos" (Hobsbawn, 1984: 279) simboliza esta tradição revolucionária e republicana construída. A sociologia durkheimiana pertence certamente a este mesmo contexto intelectual e social.

A invenção das cerimônias públicas - sem o delírio comemorativo da revo­lução - tem um só feriado oficial, o 14 de julho, e a proliferação de monumen­tos públicos. A imagem da Terceira República se concentra em símbolos gerais: a bandeira tricolor, o monograma da República (RF), o lema (liberdade, igualdade, fraternidade), a Marselhesa e Marianne - símbolo da República e da liberdade. Como bem nota Hobsbawn, as tradições inventadas na Terceira República "não recorrem à história. Em parte, sem dúvida, porque a história, antes de 1789 ( . .. ) lembrava a Igreja e a monarquia, em pane porque a história a partir de 1789 era uma força divisória, não unifICadora: cada tipo - ou grau -de republicanismo tinha seus próprios

,

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AS FESTAS QUE A REPúBUCA MANDA GUARDAR 175

heróis e vilOes no panteão revolu­cionário, como demonstra a historiogra­fia da Revoluçllo Francesa" (1984: 280).

Como a memória é construida, toma­se imponante conhecer os "processos e os atores que inlervêm no trabalho de constituição e formalização das memórias" (pollak, 1989). Diferentes grupos da sociedade constroem suas memórias coletivas a partir das quais é montada e organizada uma memória nacional dominanle. Os especialistas -historiadores, publicistas, ideólogos, doutrinadores e educadores -constroem a memória nacional. organizando as comemoraçOes, as festas, definindo os heróis que nllo merecem ser esquecidos.

Cada momento presenle e cada crise ou mudança na sociedade permilem que se construa uma nova tradição, definindo que eventos e pessoas devem ser lembrados e quais devem passar ao

esquecimento. Charles Maurras expressa esle principio de construçllo ao dizer: "A tradiçllo não significa a transmissllo de tudo, mas daquilo que é bom e

verdadeiro" (Oliveira, 1986: 71). Sabemos que o que é bom e

verdadeiro muda dependendo do espaço

social ocupado pelos construtores da memória.

A festa tem sempre uma função pedagógica e unificadora, r'!<luzindo as diferenças existentes. Embora seu sonho homogeneizador tenha sido desfeito e hoje "a festa revolucionária tenha sido eliminada da hislÓria com seus teóricos, seus doulrinadores e seus párocos, parece, no entanto, que nem por isso desapareceu a noção de um liame

necessário a ser estabelecido (ou

restabelecido) entre o religioso e o político, a convicção de uma in­dispensável inlegração (ou reintegraçãO)

do sagrado na organização da Cidade" (Girardet, 1987: 150).

11. O regime republicano no 8r • • II : du •• y.,.411

Um dos problemas enfrentados pela República é a quesllio da legitimidade do novo regime. A proclamaçllo parece ler sido uma ação militar, e os militares não tinham até enllio atuaçllo reconhecida na

hislÓria nacional. Durante 60 anos, o país não sofreu crise no governo imperial que fosse provocada pela força armada. A atuação na Guerra do Paraguai, por assim dizer, funda uma nova experiência, e, a partir daí, cresce a demanda por um novo papel das forças armadas na polftica brasileira, o que só se vai dar efetivamenle na proclamaçllo.

O espril de corps que uniu os "bacharéis fardados" (tenentes, alunos ou ex-alunos de Benjamin Constant) e os "tarimbeiros" (oficiais superiores que tinham lutado na Guerra do Paraguai) possibilitou a ação polftica de proclamar a República. Essa unidade temporária resultante dos efeitos da QuesLllo Militar produziu uma ação política, mas não garantiu a institucionalização da nova ordem nem sua legitimidade. E, é preciso lembrar: "O núclco republicano civil mais poderoso e organizado, o

paulista, tinha poucos contatos com os militares e muitas dúvidas sobre a

conveniência de envolvê· los na campanha" (Carvalho, 1977: 217).

Se é assim, cabe perguntar como se construiu a legitimidade da nova ordem e dos novos atores políticos. A antiga

ordem havia se desagregado e a nova

ainda nllo se consolidara sob a forma de instituçOes esláveis e aceitas. Esle tempo fone, composto de momentos de

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176 ES11JDOS ID� - 1989/4

efervescência da vida política, caracteriza os primeiros dez anos da República (1889-98), também chamados de "anos entrópicos", nos quais a quantidade de desafios parece ser maior que a capacidade dos atores de erradicar a ignorância sobre o que se passava (Lessa, 1988: 15).

Nessa "década do caos" se buscou, sem êxito, construir as bases da obediência legítima, já que "a noçao de legitimidade não corresponde a nada além do reconhecimento espontâneo da ordem estabelecida, da aceitaçao nawral, não obrigatoriamente das decisões daqueles que governam, mas dos princípios em virtude dos quais eles governam" (Girarde� 1 987: 88).

Memórias específicas compOem as versões em conflito. Essas imagens conSlruídas preenchem tanto uma funçllo explicativa capaz de fornecer parâmetros para a compreensão do momento presente quanto uma função mobi­lizadora, quando o objetivo é alterar a ordem estabelecida. As versões ex­pressam situaçOes opostas no quadro político, expondo as posições de diferentes grupos que fazem parte da mesma sociedade.

Monarquistas e republicanos cons­tituíam os dois grupos em conflito explícito no início da República, conslruindo cada qual a Sua verslio dos fatos e dos desafios a serem vencidos. Quem eram eles? O que pensavam? Quais os seus heróis?

Os monarquistas ou, como na feliz expressa0 de Maria de Lourdes Janotti (1986), os "subversivos da República" formavam um grupo de grande consistência ideológica, composto por políticos influentes, jornalistas, inte­lechaais. ativistas, que se dividiam entre restauradores e adesistas o u neo-

republicanos. Apesar de muitos deles terem aceito o novo regime como falO consumado, o grupo sempre esteve envolvido nas questOes políticas que marcaram a "década do caos", trazendo dificuldades à consolidaçllo republicana.

Os defensores da monarquia con­fiaram, em um primeiro momento, na possibilidade de rearticular sua força política por ocasião das eleições para a Constituinte. Desejavam levar o povo, através de um plebiscito, a não refe­rendar a açllo militar que proclamara a República. Entretanto, dentro de suas próprias fileiras, enfrentavam algumas questões cruciais: desde a de res­ponsabilizar o gabinete liberal de Ouro Preto pela ruína do Império e a pas­sividade de Pedro U em incentivar as ações restauradoras, até a dilTcil questllo dinástica que incluía a possibilidade de uma regência

Os monarquistas esperavam e desejavam que as crises republicanas convencessem as forças políticas das ameaças de desmembramento e da validade da única salvação possível - a restauraçllo. Tinham esperança na ruína do regime, mesmo quando nllo estavam atuando neste sentido. Sofriam perseguições, eram vistos com desconfiança, principalmente os que aderiram ao novo regime e aceitaram jogar o jogo republicano!

A Revolta da Armada foi o movimento mais sério em que estiveram envolvidos. Resultante do manifesto de J3 oficiais que, em nome da defesa da Constituição republicana se rebelaram contra a posse de Floriano, esse

• • •

mOVimento apareceu em um pnmcuo momento como uma reação legalista contra o militarismo que ameaçava tomar conta da República. A adesão do almirante Saldanha da Gama -

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conhecido mODan!wsla - caracterizou o movimento como restaurador e forneceu muniçao aos jacobinos que apoiavam Floriano nG combate à revolla.

O fato de os monarquistas terem participado intensamente da luta política nao significa que tenham tido êxito. Entretanto, ressaltamos aqui sua su­perioridade do ponto de vista de sua versao e de seus quadros. Inúmeros intelectuais sao seus porta-vozes, o que parece ter conferido mais estabilidade e consistência à sua interpretaçao.

Eduardo Prado, em seu livro Fastos da ditadura militar no Brasil (1902), reuniu artigos publicados (entre dezembro de 1889 e junho de 1890), na Revista de Portugal, periódico dirigido por Eça de Queiroz. Sob o pseudônimo de Frederico S., Eduardo Prado denunciava as práticas da ditadura mililar republicana que se opunham às teorias e práticas liberais vigentes no

Império. O autor via no Império a presença liberal, enquanto a República

se apresentava como a introdução do caudilhismo na política brasileira. A República trazia a ameaça de dividir o Brasil em múltiplos países, rompendo a unidade conseguida pelo Império.

Outro livro de Eduardo Prado, A ilusoo americana, escrito em 18932 trata do período histórico que se estende de 1 823, com a elaboraçao da doutrina Monroe, até 1892, com - a chamada política do big-stick, sob a inspiração de Blaine, quando o expansionismo nortc­americano fez sua presença armada na América Central.

A ilusão americana condena a forma republicana apresentando-a como a cópia do modelo polftico norte-ame­ricano. A crítica à República aparece já no prefácio, onde Eduardo Prado se refere a este regime como "dolorosa

provaçao que ( ... ) tanto tem amargurado a pálria brasileira", ou quando diz: "o governo republicano do Brasil, lristemente predestinado a reagir sempre contra a civilizaçãO".

A primeira parte de A ilusão americana centra-se na apresenlaçao de falOS da política externa americana frente aos paises da América Latina, com especial ênfase no caso mexicano e

das Antilhas. A concJusao do autor é a

de que O grande protetor da inde­pendência dos países latinos sempre foi a Inglaterra. A doutrina Monroe e sua execução estariam bem distantes da interpretação jacobina que os repu­blicanos brasileiros estavam dando a ela.

Ao adotarem o modelo norte­americano, os países d a América espanhola renegaram suas tradições. "O Brasil, mais fe liz, instinlivamente, obedeceu à grande lei de que as nações devem reformar-se dentro de si mesmas,

como todos os organismos vivos, com a própria subslAncia" (prado, 1893: 53). Em 1889, comelCu-se o mesmo erro dos países hispano-americanos: a imposiçao de um modelo que produziu, imedia­larnenlC, a perda da liberdade.

Eduardo Prado reconhece que a república americana fora criada em um

período onde predominou o patriotismo e a abnegação. E, relembra Montesquieu em sua proposiçao de que as repúblicas precisam ter como fundamento a virtude. Essa fora O fundamento da república americana ao tempo dos pais fundadores. Os vicios, as falIaS atuais não eslavam presentes no seu inicio, tinham a ver com a sociedade burguesa.

Do ponto de vista cultural, Eduardo Prado aponta o encanlamento americano pela realeza e pelas aristocracias européias. Esta admiração tem sentido, já que "os Estados Unidos sao ainda uma

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colônia. A civilização vem-lhe da Europa" (p. 116). Refere-se ao ame­ricano como um parvenu enriquecido. O encanlamenlO pela realeza fez com que os ESlados Unidos dessem preferência pelo apoio à Alemanha, durante a guerra franco-prussiana, mesmo depois da proclamação da república francesa. Aprovaram a guerra de 187 0 e a conseqüente anexaçllo da Alsácia e da Lorena. O aulOr deseja demonstrar que nllo há qualquer compromisso essencial­mente republicano na política externa dos Estados Unidos.

Outro ponlO de deslaque é a questão da aboliçllo. Segundo Prado, a SOlUça0 norle-americana foi genuinamente re publicana e none-americana, islO é, pela violência, pela força, pela guerra entre irmãos. No Brasil tivemos a soluÇllo monárquica. Nossa monarquia "teve a glória de ser punida pela sua açao liberladora" (p. 131). Isto em si não

é uma novidade já que, para Eduardo Prado, todas as grandes reformas sociais

se realizam sob um governo monárquico. De acordo com Prado, "na geslAo dos

negócios e dos dinheiros públicos, a monarquia arrisca a sua própria existência; é como uma firma solidária que responde com a sua pessoa e com a totalidade de seus bens. A República é uma companhia anônima d e res­ponsabilidade limitada" (p. 130-1). E complementa: "a forma republicana burguesa, como existe em França e nos Estados Unidos, é a que mais protege os abusos do capilalismo" (p. 133).

Ao mesmo tempo em que combate a imitação - "sejamos nós mesmos, sejamos o que somos, e só assim seremos alguma coisa" (p. 169), -

Eduardo Prado não considera serem os exemplos americanos dignos de qualquer apreço. Os Eslados Unidos mantinham

um sentimenlO de indiferença e mesmo de superioridade para com os sul­americanos. Os laços da amizade eram fictícios. A grande ajuda que recebíamos tinha sido e era a inglesa. A águia americana com que se sonhava não

eslava protegendo e sim dominando toda a América - era a política imperial dos Eslados Unidos.

Procuramos destaCar ponlOs do livro de Eduardo Prado em que seu pen­samento apresenta, de forma mais explícila, a defesa da monarquia. Suas

idéias o colocam como um digno represenlante do pantcão onde estão presentes figuras como Renan e Maurras.

Eduardo Prado, liberal, anglófilo e ardente monarquista. teria sido certamente, uma das mais destacadas presenças no mundo intelectual bra­sileiro, não fosse sua morte prematura, aos 41 anos. Sua posição no mundo literário era proeminente, fazia parte de um grupo luso-brasileiro, junlO com Eça de Queiroz, Rio Branco, Ramalho Onigão, Oliveira Manins, Afonso Arinos. Foi também um dos orga­nizadores da Academia Brasileira de .

Letras. A proclamação da República trouxe

Eduardo Prado para o mundo da luta político-ideológica através dos textos acima referidos. Ele foi, também, o responsável pela organização de uma série de conferências comemorativas do centenário de José de Anchieta, dentro do espírilO histórico e do renascimento do catolicismo no Brasil.

Além de Eduardo Prado, as fileiras monarquistas contavam, entre outros, com Afonso Celso (filho do visconde de Ouro Preto), autor de Por que me ufano do meu país?, e Joaquim Nabuco, político abolicionista que, com seu livro

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AS fESTAS QUE A REPúBUCA MANDA GUARDAR 179

Um estadista do Império, abordando a figura de seu pai, o conselheiro Nabuco de Anlújo, construiu o modelo de um gênero que seria muito utilizado no Brasil, a biografia polltica.

Se esses textos expressam a versllo que os monarquistas têm da República, a súmula desse ponto de visla parece eslar presente na publicação, em quatro volumes, de A d/cada republicana (Janotti, 1986; Queiroz, 1986).

Os republicanos jacobinos' consti­tuíam a tropa de choque de defesa da Re­pública e de combate aos monarquistas. Originários' dos batalhões patrióticos, espécie de milfcia volunlária, fonnada nos primeiros dias da República para a sua defesa, proliferaram principalmente durante O governo de Floriano Peixoto. Compostos de alunos de escolas supe­riores, funcionários públicos, comer­ciantes e guarda-livros, atuavam junto com milil.ares nos clubes jacobinos. Desenvolveriam sua ação em meetings, passeatas, agressões e empastelamento de jornais, ajudando a manter O clima de conflito político no Rio de Janeiro. O Nacional e O Jacobino eram os prin­cipais jornais que divulgavam os pontos de visla e as propostas desse grupo.

Para os jacobinos, o novo regime deveria ser nllo só republicano e federativo, mas sobretudo presiden­cialista, e do presidencialismo, os jacobinos chegaram à defesa da ditadura mililar no run do governo de Prudente de Moraes. A defesa do papel fun­damenlal dos mililares não só con­trolando as revoltas (RevoluçãO Federalisla e Revolla da Annada, ambas em 1883), mas Lambém outros postos do governo foi a prática do governo Floriano e ideário do jacobinismo.

Em seu combate à monarquia os jacobinos associavam o Império à

dominaçllo lusilana e clerical. Neste sentido denunciavam e se opunham ao decreto de naturalização do Governo Provisório, expedido nos primeiros dias da República. Apoiaram Floriano quando este rompeu relações diplo­máticas com Portugal em 1894, em conseqilência do apoio deste país aos vencidos da Revolla da Annada. Além disso, empreenderam duro combate à colônia portuguesa do Rio de Janeiro, que teria sempre apoiado ações reslauradoras.

O movimento jacobino emergiu como força polftica no governo Floriano, mas não desapareceu com a saída e a morte deste: sua força aumentou como oposição ao governo Prudente de Morais. As atitudes de Prudente (demitindo norianiSlas do governo, reatando com Portugal, anistiando rebeldes federalistas e da Revolla da Armada, diminuindo as restrições à

atividades dos monarquistas) só fizeram aumentar os conflitos. Os desastres contra Canudos puseram mais lenha na fogueira. Esta linha ascendente de conflito político só foi rompida com O atentado ao presidente (5/1 1/1897), quando morreu o ministro da Guerra .

E a partir dai que se reverte o quadro político. Vários polfLicos' foram envol­vidos no atentado e este evento fez com que a ação política oposicionisla mu­dasse de direção. A partir de enlAo, vá­rios políticos se uniram contra os jaco­binos e passaram a defender O governo Prudente de Moraes.

Raul pompéia é figura imporlante desse período, sendo considerado um elo entre os intelectuais e os jacobinos ativistas (Queiroz, 1986: 115-6). Por meio de seus artigos pela imprensa, este autor constrói uma versão do nacionalismo, combate o sentido

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180 ESTUDOS Hlm)RJCOS - 1989/4

impresso à colonização brasileira e o

lusitanisHlo do Império e defende a cria­ção de uma indústria nacional, única atividade capaz de proporcionar a independência do país.

Sua carta-prefácio do li vro de Rodrigo Otávio, Fesras Nacionais, datada de 1893, expressa com clareza sua interpretação sobre o conflito político do país dilacerado entre dois grupos: o partido da emancipaçao e o partido da colônia. Este duelo secular já tivcra como contendores José Bonifácio e José Clcmcnte Pereira, representando o primeiro a pátria nova e o último a servidão colonial.

Raul Pompéia relê a história do Brasil segundo esta luta política. Condena o Império, rcsponsabilizando-o por

cinqüenta anos de inércia e de abandono:

uma "inépcia benigna", que "alcançava a

ordem e a tranqüilidade a preço de

passividades, resignações, corrupções"

(p. XI). Para ele, o Segundo Reinado voltou as costas à pátria. O em­preendimento do princípio de uma

dinastia europ<'i;I foi a "anulação do caráter naciona'''. O estrangeiro apoiava o trono, que garantia seu monopólio

sobre as especulaçOes mercantis. O fazendeiro apoiava o trono, que garantia a manutençilo do trabalho servil. Neste sistema, o brasileiro que não fosse proprietário rural "tinha que ser o parasita involuntário do funcionalismo, ou O soldado, sob a prevenção eficaz da chibata. As carreiras de futuro pela especulaçao c pcla indústria, que crian! o povo forte e independente, foram reservadas aos hóspedes da terra, aos estranhos do patriotismo" (p. XII). Concluindo sua análise, Raul Pompéia

afirma que O povo brasileiro não contava

com classes conservadoras. Os

proprietários rurais, únicos conser-

vadores possíveis, acabaram por confundir seus interesses com os do comércio, controlados exclusivamente por estrangeiros. A pátria brasileira não contou com o patriotismo das classes ricas, com a vigilância dos que mais têm o que perder: "Somos assim, em economia políLica, uns miserandos desvertebrados."

Para Raul Pompéia o militar, "tradi­çao de virilidade do povo", núcleo do

nacionalismo brasileiro, ensaiou a redenção e era, então, condenado. Contra ele, contra a República, coligavam-se todas as forças reacionárias, que compunham o "sebastianismo" e comandavam tanto "a aversão à República - porque a República tenta promover a emancipação nacional", quanto a "aversão do soldado - porque o soldado fez a República" (p. XVIII).

O partido da colônia representava o grande obstáculo à organização

republicana, pois dominava pontos estratégicos da política e do comércio. Foi ele, também, o responsável pela manutenção do preconceito de cor, desconhecido do brasileiro, c que serviu como elemento demolidor do civismo nacional.

Raul Pompéia combate o conser­vadorismo estrangeiro porque este nada conserva para O Brasil. Defende a organização, em seu lugar, do partido conservador brasileiro. "Tivemos um dia a revolução em nome da dignidade

humana (a Abolição). Temos a revo­lUÇãO da dignidade política (a Re-

pública). E preciso que não tarde a terceira revolução: a revolução da dig­nidade econômica, depois da qual so­mente poder-se-á dizer que existe a Nação Brasileira" (p. XXII).

Desse período emerge a figura con­troversa de Floriano Peixoto. Chamado

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AS FESTAS QUE A REPÚBUCA MANDA GUARDAR 181

de Marechal de Feno, ele recebeu as glórias por ter conseguido debelar as duas mais gI1Ives revollas à República. Por outro lado, subiu ao poder subs­tituindo Deodoro, que renunciara, com o apoio da única força política republicana organizada: o Partido Republicano Paulista. Em seu governo, os paulistas ocuparam os principais postos: Bernardino de Campos foi (li esidente da Câmara; Prudente de Moraes foi presidente do Senado e Rodrigues Alves ocupou o ministério de Finanças.

"Floriano, ao mesmo tempo em que foi arbitrário e despótico, foi o contrário de lOdo isso: iniciador de uma mCstica de pureza e republicanismo" (Cardoso, 1982: 44). Lutou contra a volta ao passa­do, consolidou a República identificada com uma disciplina centralizadora e com a pureza das instituiçOes.

Floriano foi, em inúmeros momentos posteriores, invocado como pai fundador da República brasileira. Os movimentos nacionalistas do Rio de Janeiro -Propaganda Nativista (1919), Ação Social Nacionalista (1920) - relOrnaram o antilusitanismo, a luta pe la pureza das instituiçOes e construCram um panteao que começou por Floriano Peixoto e incorporou Epitácio Pessoa. Estes movimentos posteriores à Primeira Guerra combinaram em suas ftIeiras ex­monarquistas, como Afonso Celso, e

defensores do jacobinismo, como Alvaro Bomilcar (Oliveira, 1986: 164-8).

111. O. oonltrutor •• da nova IradJçlo

Sabemos que a maioria das tradições inventadas estão relacionadas com a inovação histórica chamada nação (Oliveira, (989). Os estados nacionais foram pródigos em definir hinos,

bandeiras, imagens e sfmbolos que "personificam" a "açAo, fomecendo-lhes o sentido de identidade e expressando sua soberania. Legitimidade, soberania e cidadania são as questOes centrais de construção de uma nação e se fazem presentes na organização da tradiçAo e da memória coletiva, constituidora da identidade nacional.

"A maioria das ocasiOes em que as pessoas tomam consciência da cidadania como tal permanecem associadas a sfmbolos e práticas semi-rituais (por exemplo, as eleiçOes), que em sua maior pane sAo historicamente originais e livremente inventadas: bandeiras, imagens, ceri mônias e músicas" (Hobsbawn, 1984: 20).

Neste artigo viemos tentando mostrar a relevância da invençAo das tradiçOes e apontando a importância das festas ofi­ciais. Ao proporem a lembrança de falOS, de feitos heróicos passados a serem recuperados, as festas contribuem para legitimar e dar coesAo social à nação.

Quais as festas que a República mandou guardar, ou seja, o que nAo devia ser esquecido?

O Decreto n' 155-B, de 14 de janeiro de 1890, do Governo Provisório, con­sideza:

"que o regime republicano se baseia no profundo sentimento de frater­nidade univClS8l; que esse sentimento não se pode desenvolver convenientemente sem um sistema de festas públicas, des­tinadas a comemorar a continuidade e a solidariwade de todas as gerações humanas; que cada pátria deve instituir tais festas segundo os laços especiais que prendem os seus destinos aos de todos os povos;"

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182 ESnJDOS lllSTÓRlCOS - 1989/4

E, dentro desta perspectiva, decreta como dias de festa nacional:

a) I de janeiro - comemoração da fra­lernidade universal;

b) 21 de abril - comemoração dos precursores da independência bra­sileira, resumidos em Tiradenles;

c) 3 de maio - Descoberta do Brasil; d) 13 de maio - fralernidade dos bra­

sileiros; e) 14 de julho - república, liberdade e

independência dos povos ameri­canos;

f) 7 de setembro - Independência do Brasil;

g) 12 de outubro - Descoberta da América;

h) 2 de novembro - Mortos; i) 15 de novembro - comemoração

da pátria brasileira. (Otávio, 1893)

A essas datas decretadas pelo Go­verno Provisório, acrescente-se o 24 de fevereiro, quando se comemora a pro­mulgação da Constituição da República, festa nacional decretada pelo Congresso Nacional.

Antes de analisarmos o que essas datas festejam, convém lembrar que o livro F estas nacionais (1893) de Rodrigo Otávio,' que servirá aqui para analisarmos a constituição da história re­publicana, leve, até 1905, três edições e foi indicado como leitura para a moci­dade brasileira.

As festas republicanas 'podem ser di­vididas em duas calegoria;: aquelas que privilegiam a fraternidade universal (1 de janeiro; 14 de julho;' 12 de outubro e 2 de novembro) e as que se referem dire­tamenle à fralernidade nacional (21 de abril; 3 de maio; 7 de setembro e 15 de novembro). Outro ponto relevanle é que estas festas pretendem assinalar a

continuidade entre as gerações, a con­tinuidade com o passado ou com par1e deste passado, estando distante da idéia de um novo marco, o ponto zero, na tradição brasileira. A inspiração intelectual dessas comemorações está longe de indicar princípios revo­lucionários e parece ser muito próxima do pensamento positivista de Comle.

Deixando d e lado as datas que comemoram a fraternidade universal, vamos ver duas delas que falam da história brasileira e das gerações que merecem a solidariedade republicana.

1. SeI. de Setembro

"O Brasil que os fugitivos de Lisboa vieram encontrar em 1808 era já quase uma nação" (Otávio, 1893). A expulsão dos holandeses, a luta paulista depois da dominação espanhola, a conspiração mineira (na qual TiradenleS representa a encarnação da idéia revolucionária), o movimento baiano de 1798 e o de Per­nambuco de 1817 são lembrados para ressaltar o caráter republicano e o espí­rilO do governo que a nação desejava e pelo qual havia sido derramado o sangue generoso dos patriotas. Para Rodrigo Otávio (1893), os aconleCirnentos do dia 7 de setembro de 1822 só fizeram piorar a situação brasileira, prolongando a dominação portuguesa:

"Era bem acentuado o espírito do movimento separatista e a república teria sido uma realidade se a ingênua generosidade desse povo não se houvesse acalentado com promessas vlls de completa liber­dade sem lutas e não se houvesse es­pavorido com a ameaça infundada da repetição das cenas de 89 e do Terror e, sobretudo, com O receio

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AS FESTAS QUE A REPÚBUCA MANDA GUARDAR 183

voo de ver fragmentado, em vários estados fracos, esse enorme corpo que constitufa o Brasil."

2. QuInze de No .... mbro •

o Brasil é apresentado por Rodrigo Otávio corno país novo, sem tradições monárquicas, e que deveria, ponanto, organizar seu governo com elementos nacionais, sem sofrer o jugo e a domi­nação estrangeira. Otávio relembra os movimentos durante o período colonial, já mencionados, destacando as figuras de Felipe dos Santos, Amador Bueno, Henrique Dias, Tiradentes e, após o sete de setembro, a Confederação do Equador (1824), onde se destaca, entre outros, Frei Caneca do Amor Divino. Mas será após a abdicação que o grito revo­lucionário tomará conta do país, Ira­?.cndo novamente à tona a idéia repu­blicana. Foi quando "se operou no país a mais honrosa convulsão" por que passou

• •

a patrla. Após mencionar os movimentos

revoltosos de meados do século XIX,

Rodrigo Otávio declara que daí começou "a profunda degenerescência do espírito cívico, o abastardamento do caráter nacional".

O Segundo Reinado representou para esse autor "quarenta anos de mentiras, de perfídias, de prepotência, de usurpaçoo". Otávio destaca a atuação de Caxias, sufocando todas as aspirações liberais e, por fim, a cisão do Partido Liberal, que resultou na criação do Partido Republicano. Menciona o trabalho de Rui Barbosa, Quintino Bocaiúva, Rangel Pestana, América de Campos, Júlio de Castilhos e Martins Júnior, doutrinando o povo e pregando a república.

Neste estado de espírito, o último gabinete imperial cavou sua ruína, atinge O Exército, em cujas meiras "dois bra­vos soldados", Deodoro e Benjamin Constanl, velaram pela independência e pelo desenvolvimento moral e material das forças armadas. A causa da demo­cracia foi ganha com a confraternização patriótica saudada pela salva de arti­lharia a 15 de novembro.

E Rodrigo Otávio conclui: "Saiba agora a nação tirar em favor das liberdades pátrias, lodos os proveitos que devem necessariamente decorrer da revoluçoo e ter paciência para suportar as penurbações e mal estar que, por uma lei histórica, se seguem sempre às transformações radicais na sociedade e na poliúca."

Além dessas questões políticas, o livro de Rodrigo Otávio incorpora a crítica à colonização ponuguesa, citando, por exemplo, nosso mais remoto historiador, frei Vicente do Salvador, quando este diz que os que aqui vieram ou aqui nascerain "usam da terra não como senhores mas como usufrutuários, só para a desfrutarem e a deixarem destruída. Donde nasce também que nenhum homem nesta terra é repúblico, nem zela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular."

Não é à toa que Raul Pompéia em sua cana-prefácio se diz tomado por sentimento estranho. O livro relembra as dificuldades na afirmação da pátria, menciona uma "escala de derrotas", sendo, portanto, uma afirmação verdadeira e cruel da ''pátria vencida". E Raul Pompéia, em 1893, fala das amarguras da hora presente, onde não há "garantias de glória". A obra deixa transparecer "a contradição fundamental das nossas glórias, a contingência trágica dos fastos da nossa grandeza pátria".

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184 ESTIJDOS IDSTÓIUCOS - 1989/4

"Na sucessão das gloriosas derrolaS, vamos sendo cada vez menos derro­lados", esta é a esperança de Raul Pom­péia e que, a seu ver, irradia do livro.

A versllo republicana da hislÓria do Brasil, ou seja, a parte do passado que merece ser lem brada e ensinada, está presente em outras obras, como a de Gonzaga Duque, Revoluções brasileiras (1897), e a de Urias A. da Silveira, Galeria histórica da Revolução bra­sileira de J 5 de novembro de J 889 (1890). São livros de época, que re­tomam os movimentos precursores da república e assim tentam mostrar que este regime foi sempre uma aspiração nacional, ou seja, tem tradição, tem passado na história pátria. O novo regime tem origem no passado.

Importa notar que livros de história publicados posteriormente, como o de Rocha Pombo, História do Brasil (1925), incorpora as revoltas precursoras da República. A possível diferenciação entre a historiografia que aborda a hislÓria do Brasil produzida no Império e na República merece uma pesquisa mais detalhada, envolvendo uma comparação entre livros e manuais produzidos em cada uma destas épocas, o que não será desenvolvido aqui.

Mencionaremos apenas um arligo do visconde de Taunay, "O Tiradentes e nós, monarquistas", escrito em tomo de 1890 e republicado em sua obra Império e República (1933). Nele, Taunay protesta contra O "direi lO exclusivo da glorificação" de Tiradentes, reivinclicado pelos republicanos. Tiradentes sonhou com a libertação da terra natal, coisa que eles, monarquistas, souberam e puderam realizar. Ou seja, Taunay coloca Tiradentes no panteão dos monarquistas. Menciona uma sessão solene presidida por d. Pedro 11 e realizada no Instituto

Histórico e Geográfico Brasileiro a 4 de julho de 1889, na qual ele, Taunay, co­memorando o centenário da morte de Cláudio Manoel da Costa, ressaltou o "espírito arrebatado, sôfrego, espon­tâneo" de Tiradentes na luta pela independência. E termina o artigo dizendo que a república sonhada por Tiradentes e seus companheiros nada tem a ver com "essa paródia ridícula e sanguinária do regime democrático", imposta por um grupo mínimo, "misto de pedantesca ciência e teOrias repelidas pelo simples bom senso".

Os republicanos, se não foram os únicos, foram os mais conwndentes glo­rificadores de Tiradentes. Quintino Bocaiúva (1986),' por exemplo, ao farer seu elogio em 1886, considera os repu­blicanos seus herdeiros e sucessores, tendo como missão tornarem-se c1ignos do "legado que representa o sacriflcio do mártir". Dentro da idéia de buscar uma genealogia de mártires, Quintino en­contra no passado "seu mais legítimo progenitor o mártir sublime que pereécu também na cruz pelo mesmo crime, de pretender reformar a humanidade e cujo nome fulgura ainda hoje na consciência cristA, como o Filho de Deus e redentor do mundo" (p. 582). Sem pretender ferir o sentimento religioso das pessoas, Quinlino reafirma a semelhança, a identidade dos dois reformadores e da missão que se propuseram. Certamente entre esta memória de Tiradentes e a de Taunay vai uma longa distância.

Quintino Bocaiúva, republicano hislÓrico, um dos autores do Manifcsto Republicano de 1870, faz a defesa da americanidade da República. Florença, Gênova e Holanda são mencionados como testemunhos hislÓricos do regime republicano; entretanto, modernamente, a liberdade estaria simbolizada nos

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AS JlESTAS QUE A REPúBUCA MANDA GUARDAR 1 85

Estados Unidos da América. Faz"rvlo referências criticas li Alemallha, Inglaterra, Rússia e Áustria, Quíntino reitera a posição dos Estadcx Unidos da América como "a nação mais forre e poderosa, a mais unida e a mais sólida, a mais rica e a mais satisfeita, a mais tranqüila no seu trabalho, e a mais segura dos seus futuros destinos" (Bocaiúva, 1 986, \"01. I , p. 630).

"A América é a República, a América é a liberdade; é o repúdio da vassala­gem a !oda e qualquec influência tradi­cional ou institucional, cujas raizes se prendem ao solo da Europa e às suas constituiçOcs políticas" (Bocaiúva, 1 986, vol. 2, p. 15 1). Frente a esta posiçao, pode-se entender melhor a de Eduardo Prado e de seu livro, procurando moslrar que a política e o mundo americano eram uma ilusão cultivada pelos republicanos.

Em discurso no Senado, em julho de 1895, por ocasião do falecimento de Floriano Peixoto, Quintino reafirma a posiçao do ex- presidente na memória da pátria: por ter representado em um momento crítico para a República um ponto de convergência de todas as energias, Floriano deve ser o símholo e o elo entre todos os republicanos.'

Acentuando O caráter comum de todos os grandes heróis, Quintino assim se refere a Floriano: "( ... ) um homem modesto, singelo, de estirpe obscura, de virtudes comuns, de qualidades vulgares: modesto e vulgar enfim como foi Washington, como foi Lincoln, como foi Gui lherme TeU, como foram tantos outros, cujos nomes resplandecem na história da humanidade" (Bocaiúva, 1 986, vol. 2, p. 268)

Os republicanos insti tuíram suas festas procurando estabelecer uma continuidade com eventos históricos pas­sados; valorizaram a lembrança de feitos

e !heróis até enlllo perdedores. A República os resgatava em sua dignidade e valor. A proposta ,da .tradição re­publicana n!lo destacava a singularidade do pais e sim seu pertcncimento a uma fraw .. idade com palses e/ou momentos visualizados como representantes do lema: liben1ade, igualdade, fn!Il;",idade.

rv. O "'OPk!o ... 110

Emília VioUi da Costa (1 987) retoma com muita peilinência as (llIas versOes sobre a República. Citando textos de época,' ela sintetiza a argumentação dos republicanos: o regime republicano sempre foi uma aspiraçao nacional (haja vista as revoluçOes anteriores); a monarquia era uma anomalia na América (argumento presente desde o Manifesto Republicano de 1 870); no Império, o poder moderador cecceava a liberdade através de arbitrariedades e abusos; havia uma centralização excessiva. A monarquia, por sua própria natureza, estava condenada.

A síntese da versão monarquista acentuava que a monarquia tinha dado ao pais setenta anos de paz interna e ga­rantido a unidade nacional, o progresso, a liberdade e o prestigio internacional.

A unidade nacional garantida pelo Império e a ameaça de desmembramento produzida pela República constitui o eixo central da argumentação monar­quista. São os monarquistas também que falam da proclamação como um levante militar, alheio li vontade do povo, e dão pouca atenção à atuação dos poHticos republicanos.

A historiografia monarquista contou, além de Eduardo Prado, Afonso Celso e Joaquim Nabuco, já mencionados, com O visconde de Taunay, Oliveira Lima e

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186 ESTUDOS InSTÓRICOS - 1989/4

Rocha Pombo, entre outros. ISlO não significa a ausência de figuras menores c esquecidas nas hOSlCS monarquistas. Mas quem, nos dias de hoje, já ouviu falar em Oscar Araújo ou Felício Buarque? O mesmo não se pode dizer de Nabuco ou Taunay.

EslCS dois grupos - republicanos e • •

monarqUistas - conslrulram suas memórias específicas e lutaram por lorná-las mais eSláveis. A memória nacional, por OUlrQ lado, procura superar as versões e consuuir símbolos, sínlCses que unifiquem, apaguem as diferenças e diluam as lembranças distimas.

Nossa hipótese é a de que o novo un iverso simbólico não foi capaz de conferir legitimidade à nação repu­blicana. Os monarquistas, por outro lado, não foram suficientemente fortes para restaurar a monarquia; entretanto, foram-no o bastante para garantir a supremacia de sua inlCrpretação sobre o

Brasil. Stanley Slein ( 1 964) sugere que a

imerpretação pr6-império foi dominanlC de 1889 a mcados de 1 920. Seus expo­entes: barJo do Rio Branco, Rocha Pom­bo, Joaquim Nabuco e Oliveira Lima, entre outros, que mantiveram viva a ima­gem de ordem, respeilO às autoridades, moderação, arislOCracia e paternalismo que seria o Império. Em sua figura simbólica, Pedro 1 1 , o " imperador

filósofo", teria concentrado o libera­lismo, o humanitarismo, a sabedoria, enfim, o próprio e verdadeiro espírito do republicanismo.

Stein observa com pertinência que a

hislOriografia sobre o Segundo Reinado não pode ser divorciada das vicissitudes da República. São as agitações das décadas de 20 e 30 que produzem uma leilura de defesa do Império e de ataque à República inaugurada em 1889.

As comemoraç1lcs do centenário de nascimento do imperador, em 1 925, rca­tuaham O debate político-ideológico em lama da República. A avaliação do regi­me se fazia de forma camuflada (sob o governo Artur Bernardes e sua Lei de Imprensa), ao se julgar a figura de Pedro 11. Se no final do Império Pedro 11 era responsabilizado pelas fraquezas do regi­me e VislO como fraco, versão que atri­buía ao imperador o mote "d. Pedro Banana", agora exalLava-se a ordem imperial e o imperador virava "d. Pedro, o Magnânimo".

Afonso Celso (ainda Afonso Celso), ressalta em um discurso as qualidades de

Pedro 11, filósofo, sábio, estadista, magnânimo, enfim, um verdadeiro republicano, diferentememe dos repu­blicanos exisLCntes. "A idcalização de D. Pedro 11 revelava tudo o que os homens da República não eram, mas "deveriam ser": liberais. tolerantes, magnânimos. eselarecidos, adversários da violência" (Silva, 1 988: 69).

Esta reavaliação se dava � propósito de discutir o projeto que propunha considerar feriado nacional a data de nascimemo de Pedro 11 (Silva, 1 988). Os deputados não votaram o projelO mas o presidente Artur Bernardes decretou feriado nacional a data de nascimento do imperador. Rcalizaram-se cerimônias e missas pela alma do imperador; festejou­

se no Colégio Pedro 11; comemorou-se no Instituto Histórico e Geográfico

Brasileiro. Ou seja, os brasileiros desiludidos com os republicanos - e com a capacidade e a honestidade dos homens públicos da República -fantasiavam o Império.

O jomal republicano O País retrata a questão: mas se o Império era esta maravilha que se está dizendo, por que se proclamou a República? Medeiros e

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AS FESTAS QUE A REPúBUCA MANDA GUARDAR 187

Albuquerque também expressa a dúvida do momemo: "A República se fez para eliminar D. Pedro I!. Se se vem declarar que ele era um grande homem, um governante excepcional, a República foi um erro" (Silva, 1988: 66).

Nesta tendência duas figuras con­testam a interpretação dominante e de­fendem o regime republicano, que fora deturpado pcla união das oligarquias. Vi­cente Licfnio Cardoso e Gilbeno Amado "examinando o Império encontram um imperador medíocre, preso à rotina, um burocrata por excelência, cuja inca­pacidade tornou inevitável a procla­mação da República ( ... ). Suas publi­cações ( ... ) sugerem que a inabilidade do governo imperial para solucionar o problema da modernização tornou o regimc moribundo e abriu caminho para a Rcpública" (Stein, 1964: 103-4).

Vicente Licínio Cardoso está presente no volume À margem da história da República ( 1 924). Além de ser o organizador do volume, comparece com o texto "Benjamin Constant, o fundador da República". Entretanto, nesse volume está também Oliveira Viana, que atualiza uma versão positiva sobre o Império.

A reinterpretação da mudança do re­

gime de império para república, dos có­digos de honra e da (falta de) vinude cf­vica necessária ao funcionamento do no­vo regime tem obedecido às vicissitudes da vida política nos últimos 100 anos.

Mesmo assim, consideramos que a interpretação dos intelectuais monar­quistas, dizendo que O Império foi O garantidor da unidade nacional e fazendo da unidade nacional a questão mais importante, mais crucial da vida política brasileira foi vitoriosa e deixou marcas que se prolongam até hoje. Os histo­riadores monarquistas foram mais corn­petentes, seja porque compunham a elite

letrada de alta linhagem, seja porque construíram e divulgaram sua versão através de instituições corno o Instituto Histórico c Geográfico Brasileiro, ou ainda porque foram mais longevos.'o

A unidade nacional, frulO da elite imperial que representa a continuidade da elite ponugucsa, ou melhor, européia, simboliza a continuidade, ou seja, a manutenção dos laços entre Ponugal e Brasil, entre o Velho Mundo e O Novo Mundo. Unidade e continuidade cons­tituíram a visão e O desejo da maioria dos intelectuais brasileiros e as principais questõcs a serem enfrentadas por todos aqueles que quiseram se libertar desta construção simbólica.

A interpretação sobre o papel do Império como garantidor da unidade nacional e da República como seara da anarquia desenfreada abriu caminho para a aceitação do pacto oligárquico como a única solUÇãO capaz de controlar as

forças centrípetas e a ameaça de separatismo.

A institucionalização da nova ordem - o pacto das forças oligárquicas, a política dos estados ou dos go­vernadores, federalismo à brasileira ou outra designação que se queira - passou a simbolizar a única solução para manter a continuidade daquilo que o Império conseguira - a unidade nacional. Mas esta é uma queslllo e uma construção posterior ao período que estamos analisando, já que a ordem republicana só vai se instaurar no Governo Campos Sales (Kugelmas, 1986).

Notas 1 . Carlos de Lael e Josi da Costa Azevedo,

monarquista' cariocas que participaram dai chapas �public.nu. Rio tiveram Seul diplomas reconhe· cidos pan • Constituinte.

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188 ESl1JOOS IDSTORICOS - 1989/4

2. A primeira ediçio ,do livro foi confi,ced. ,pelo ,ovemo. UumOl • quinta cdiçio. de 1980, pnbtiC'd. JICla IBRASA, $1o Paulo.

3. UMmot aqui. buicmtenre. o livro de'Suely Rotlh. {;luciroz (1986).

4 . .Entte'0I poUticos 'mudos de envolvimento cun o jaoot ; niamo e o .&enredo ealio: Francisco Glic6ri.o. icpublic.Ml bju6rico �ulista. c:hefe do P.artido Jt.cpublic.eoo Federal., e Manuel Vhorino, poUIico baiano, vice9.ptelidente de Prudente de Mcoc FI,

S. Rochi&o OIivio de juriJta e mapu.do. Nnccu an (SI? em 1866 e (·teneu no Rio de Janeiro em 1944. Foi M>\,jetirio da Prui4ência da Rcp.lblica no ,ovedlO de I'ruda"o de Mor.·. {I B94·96}, dolo,odo piai. pnt'mci.6rio do Sruil em divenu conferências m· &emacionai •• vice-presidente da Liga da. Naç6e. (1920), rubsecn:úrio de Etlado das Relações E�lCr riora (1920-21), pu.KIen1e do InltiIuto dos Adv� g.doI BruileirOl por diversas vezes, vicc.-pre­.idm'e do Instituto Hillórioo e Geogri.fico Brasi­leiro e membro-fundador da Acadcmi. B�sileira de Letru, onde ocupou • cadcinI 3S, cujo palfOOO 6 T.Yaft:1 B·"OI.

6. O capÍ1Ulo lObn: o Quiaze de Novembro foi lMnb6i1 public'do em sep&rado pela Imprensa da CIS. d. Moeda em 1894. para distribuiç.Jo 'fltui· ta, constando o tItulo "Educaçio dvica; Quinze de novembro",

7. Quintino FenW'a d. Silva &doe... o JObteno­me indlgen. Boc'ióva seguindo I voga n.cionali.­la de meadot do �cu10 XIX.

8. Indicador da permanência de Aoriano COlhO fieura importante e polêmica � o romance de Lima Banew, O 'rU/e fllft de Policarpo Quaresma, pu­blicado como folhetim em 191 1 .

9. Suetônio, O Q.Il/igo r�giIM. �1Lf e coUiJ.f. prefácio de QuinLino Bocaiúv', Rio de Janeiro, 1886; Oscar Araújo, L'idi� ripublicaiM ali BrisiJ,

Pari., 1 893; Felfcio Buarque, Origens upu.blica· MS,' estudos cU gi"u� políJica, 1 894.

10. � irJtereJ5ante observar como OI iepublia­nOl mais polemistas, aquelea que denm mais vui­bilidade ao projeto republicano, mOileam cedo. Escolhendo um pouco ao acaso podemos citar: entre os republicanos, Silva J.rdim (1860-91), Benj.min Constant (1836-91), Raul Pom�i. (1863·9Sl, AorUno Peixoto (I839·9Sl e Quintino Bocaillva (1836-1911); entre os monarquistas, Joa­quim N.buco (1849-1910), visconde de Ouro PrelO (1837·1912), Carlos de Lael (1847·1927), Afon.o CoI", (1860·1938) e Edu.nIo Prado (1860-190I). que � o c"o desviante.

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.lúci.-lippi Oliveira i doutor. em sociologia pela Uruvenu:lade de 510 Paulo epeaquiudora do Cpdoc. � co-autora do livro Estado Novo: ideologia e poder (Riodc Janeiro, Zahu. 1982) e coordertlldora do livro EJis, illl,J'C/UD/ t dtbat, polflico ",M tJIfO$ 30.- Mo'lWl

biblic,raflO ca'itl'wM da R,WJluç40 clt 19]() (Rio de Janeiro. Fundaç:lo Getúlio V 11'IU; Brum .. � 1980).