as faces do machismo na universidade

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  • 7/23/2019 As Faces Do Machismo Na Universidade

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    Disponvel em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/as-faces-do-machismo-nas-

    universidades-1174.html. Acessado em: 14/0/!01".

    As faces do machismo nas universidades, de Rosana Pinheiro-Machado.

    #$ muito tempo venho refletindo sobre as desi%ualdades de %&nero no mundo

    acad&mico' nas escolas ou na poltica. (uitos acreditam )ue o sucesso feminino * a

    melhor arma contra um mundo predominantemente masculino. +omo sou um pouco

    incr*dula em rela,o ao conceito de sucesso por no entender muito bem o )ue ele

    si%nifica e )uais os parmetros )ue o definem' prefiro acreditar )ue a resist&ncia se d$

    por palavras. alavras p2blicas. Dedo na ferida. 3 preciso desnudar a i%norncia

    machista e apont$-la no fla%ra. osso papel * tornar o invisvel' visvel.

    5oucault 6$ diia )ue conhecimento * poder. 8 feminismolembra )ue conhecimento *

    poder masculino. +omo se reprodu' ento' essa ci&ncia dos homens9 +ertamente por

    mecanismos to sutis e invisveis )ue nem sempre so facilmente identific$veis.

    (uitas mulheres )uando entram em uma sala de aula pela primeira ve para ensinar se6a

    5sica ou +i&ncia oltica enfrentam rotineiramente a ridiculariaro de meninos )ue

    simplesmente no conse%uem sincroniar a epectativa ; uma disciplina encarnada nafi%ura de um homem ; e a realidade. A come,a uma lon%a 6ornada de deboches'

    afrontas e desd*ns.

    (as isso no * observado por todos.

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    o se surpreenda se seus cole%as continuarem de costas para voc&' mais ou menos

    como acontece )uando uma mulher tenta dar uma opinio sobre t$tica futebolstica. >e a

    mulher levantar a vo para ser ouvida' ser$ chamada de hist*rica. (as se ela conse%uir

    entrar na roda dos meninos' no * raro )ue sua opinio se6a despreada por %estos

    microsc=picos' como a mudan,a li%eira de assunto. @ma verdadeira m$)uina de

    ecluso e de corroer autoestima.

    Ao lon%o destes anos' ouvi muitas cole%as dierem )ue eu precisava me masculiniar se

    )uisesse ser respeitada. u teria )ue aprender a Bcolocar o pau na mesaC. 8u apenas

    tornar-me BasseuadaC. (as confesso )ue a pre%ui,a de colocar esse plano em pr$tica *

    inversamente proporcional ao apre,o )ue tenho pelo meu batom vermelho.

    u tamb*m tenho pre%ui,a profunda de tentar soar inteli%ente. Aos 1 anos eu faia isso

    com muita facilidade. @sava palavras bonitas' referia-me a fil=sofos franceses'

    preferencialmente citando conceitos da moda ou palavras )ue nin%u*m entendia. (as

    um pouco de refleo crtica sobre isso nos demonstra )ue essa tem sido 6ustamente a

    forma de reprodu,o de poder via conhecimento. no * nisso )ue eu acredito.

    u acredito na for,a da simplicidade das palavras e na democratia,o do

    conhecimento' )ue precisa ser uma via%em praerosa coletiva e no uma masturba,o

    intelectual.

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    mas muito enfeitadas. a maioria das vees em )ue eu tento discutir o avan,o da direita

    no Grasil e os desafios da es)uerda' * preciso a%uentar uma tonelada de clich&s

    acad&micos para uma situa,o )ue ei%e ob6etividade e pondera,o. o entanto'

    elitismo e machismo acad&mico faem com a simplicidade ; )ue deveria ser a maior

    virtude intelectual ; se6a considerada uma fra)uea feminista' 6ustamente en)uanto o

    pas pe%a fo%o dentro e fora das redes sociais.

    Deio as frases difceis )ueles )ue precisam delas. ?odo o dia' lembro )ue muitos dos

    meus alunos estavam esperando o professor velho britnico' mas vo encontrar a 6ovem

    latino-americana' um tanto desa6eitada e sem vontade nenhuma de parecer s*ria.

    Assumo as conse)u&ncias de minha escolha ; e no so poucas. ra bem mais f$cil

    fechar a cara' falar %rosso e delirar na dial*tica discursiva.

    Assim como milhares de companheiras' opto por desafiar o poder masculino

    cotidianamente 6o%ando lues no escuro. o discurso reto' come,o minhas aulas de

    desenvolvimento internacional lembrando )ue no se pode lutar contra a in6usti,a %lobal

    sem nos darmos conta das in6usti,as locais' a)uelas mesmo )ue se reproduem na sala

    de aula.

    u paro a aula e per%unto por )ue fulano est$ rindo e pe,o para ele compartilhar a piada

    com o %rupo todo. le fica vermelho e seu imp*rio de papel desmorona. eu continuo

    a)ui' em minhas aulas ou em minhas colunas' acreditando no poder revolucion$rio e

    democratiante do sorriso %eneroso e das palavras simples.