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    FACULDADE CATLICA SALESIANA DO ESPRITO SANTO

    LORENA TORRES DE LEMOS

    MARCIELE VIEIRA RIBEIRO

    AS ESTRATGIAS DE MANUTENO DAS FAMLIAS DURANTE O PERODO

    DE BLOQUEIO DO PROGRAMA BOLSA FAMLIA DEVIDO DESCUMPRIMENTO

    DE CONDICIONALIDADES

    VITRIA

    2012

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    LORENA TORRES DE LEMOS

    MARCIELE VIEIRA RIBEIRO

    AS ESTRATGIAS DE MANUTENO DAS FAMLIAS DURANTE O PERODO

    DE BLOQUEIO DO PROGRAMA BOLSA FAMLIA DEVIDO DESCUMPRIMENTO

    DE CONDICIONALIDADES

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Faculdade Catlica Salesiana do Esprito Santo,

    como requisito obrigatrio para obteno do ttulo deBacharel em Servio Social.

    Orientador: Prof Ms. Alasa de Oliveira Siqueira

    VITRIA

    2012

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    LORENA TORRES DE LEMOS

    MARCIELE VIEIRA RIBEIRO

    AS ESTRATGIAS DE MANUTENO DAS FAMLIAS DURANTE O PERODO

    DE BLOQUEIO DO PROGRAMA BOLSA FAMLIA DEVIDO DESCUMPRIMENTO

    DE CONDICIONALIDADES

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Faculdade Catlica Salesiana doEsprito Santo, como requisito obrigatrio para obteno do ttulo de Bacharel emServio Social.

    Aprovado em 06 de dezembro de 2012, por:

    _____________________________________Prof. Ms. Alasa de Oliveira Siqueira(Orientadora)

    _____________________________________Prof. Ms. Camila TaquettiFaculdade Catlica Salesiana do Esprito Santo(Examinadora)

    _____________________________________Bruna de Andrade MartinsAssistente Social

    Coordenadora da Central de Cadastro nico e Programa Bolsa Famliado Municpio de Cariacica/ES(Examinadora)

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    DEDICATRIA

    Com muito amor a Deus, aos nossos pais, e

    a todas as vtimas da fome, fruto do sistema

    capitalista.

    (Lorena e Marciele).

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    AGRADECIMENTOS

    Ao grande DEUSque nunca me desamparou e que quando eu percebia que estava

    cansada e que as coisas no estavam fceis ele me confortava e iluminava os meuspensamentos.

    Aos meus pais, Carlos Srgio e Shirley, que so minha vida que me deram muito

    apoio, que fizeram e fazem de tudo para que eu seja quem eu sou hoje, quero

    sempre me espelhar em vocs.

    Meu namorado Marlon que sempre foi compreensvel, que entendeu muitas das

    vezes que eu necessitei me ausentar, que me acompanhou durante toda essa

    caminhada.

    A todos da minha famlia materna quando da paterna que sempre acreditaram,

    torceram por mim e me ajudaram no que foi preciso.

    Aos meus amigos de infncia que infelizmente estou um pouco distante devido

    graduao, mas, so muito especiais e carrego todos os dias em meu corao.

    Tambm as minhas colegas e amigas formadas na academia que irei lev-las para

    sempre em minha vida. Em especial um agradecimento as minhas amigas de

    risadas, de segredos, de um simples bom dia, de compreenso e que transmitiram

    momentos de descontrao naquela tenso, sendo essas: Aline, Bruna, Janini,

    Leda , Marciele e Sarize.

    Aos profissionais do Instituto Federal do Esprito Santo campus Serra, que meproporcionaram um primeiro olhar da minha real profisso, que me acolheram e me

    deram ensinamentos. Aos profissionais do Centro de Referencia de Assistncia

    Social de Serra Dourada,aos tcnicos que me ensinaram como ser uma Assistente

    Social na prtica, a toda equipe que sempre foi amiga, divertida e que realiza um

    trabalho com unio e com amor. Tanto a equipe de quando eu entrei como aquela

    em que eu estou saindo, tenho um grande prazer em ter feito parte dessa equipe.

    Em especial as minhas supervisoras de estgio Cibelle, Mira, Silvia e Andriamuito obrigado por me passarem da melhor forma tudo que vocs sabem, por terem

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    confiado no meu potencial, por ter permitido que eu me sentisse reconhecida. Levo

    vocs no s como minhas supervisoras, mas como minhas grandes amigas,

    lembrando tambm da Psicloga e minha amiga Libnaque conheci no CRAS e que

    gosto de corao.

    Agradeo tambm ao CRAS de Serra Dourada e a Central de Cadastro nico de

    Cariacica por permitirem que coleta de dados para a realizao desta pesquisa

    tenha sido realizada dentro de seus espaos.

    Aos mestres e professoresque me ensinaram e me tornaram a profissional que eu

    sou hoje, obrigado por esses quatro anos de dedicao, em especial: Camila

    Taquetti, Jaqueline Silva, Renato Andrade e Silvia Trugilho.

    A minha grande amiga e parceira desta pesquisa Marciele, no tnhamos ideia da

    amizade iria vir a se formar atravs de um trabalho to rspido. Obrigado minha

    amiga por ter tido pacincia comigo nos meus momentos de stress, por ter

    construdo essa unio, por ter sido essa pessoa alegre, extrovertida e companheira.

    Fico muito feliz em dizer que eu tive uma parceira de TCC que realmente se dedicou

    e trabalhou comigo.

    A minha orientadora Prof Ms. Alasa de Oliveira Siqueira que com muita pacincia e

    ateno, dedicou do seu valioso tempo para nos auxiliar em cada passo deste

    trabalho.

    Aos usurios que colaboraram efetivamente para que este trabalho se tornasse

    possvel, vocs so as peas chave deste processo.

    Agradeo tambm a Prof. Ms. Camila Taquetti e pela Assistente Social Bruna de

    Andrade Martins por terem aceitado compor a banca examinadora deste trabalho,

    enriquecendo-o com seus conhecimentos.

    Obrigado por todos, aos que no foram descritos acima, mas que lutam diariamente

    ao meu lado, transmitindo f, amor, alegria, determinao, pacincia, coragem e que

    tornam os meus dias mais felizes e bonitos.

    LORENA TORRES DE LEMOS

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus pela oportunidade de cursar o ensino superior, por me dar

    sabedoria e perseverana na busca pelo saber mesmo nos momentos mais difceis,

    e pela linda profisso que agora devo honrar.

    Agradeo aos meus pais Nilda e Jacy e ao meu irmo Marciel, pelo apoio e

    confiana, afinal foram quatro anos sem ter vocs comigo todos os dias, essa vitria

    para vocs meus grandes amores.

    Ao meu amor Chesley, por estar sempre comigo me apoiando nos momentos emque achei que no dava mais, obrigada por no ter me deixado desistir nunca, voc

    muito especial para mim.

    Ao afeto das minhas famlias, Ribeiro e Vieira (tios, madrinhas, primas e primos) e as

    famlias Wendler e Lemos que me adotaram e me aturaram durante esse tempo

    vocs so demais, as irms Prando minhas colegas da repblica, pela amizade e

    companheirismo.

    A minha parceira de TCC Lorena Torres de Lemos, obrigada pela amizade que

    construmos, pelos momentos em que fomos escritoras e verdadeiras estudiosas,

    pela cumplicidade, pacincia, pelo esforo de comear e recomear, pela

    compreenso, pelas gargalhadas e vrias histrias e momentos engraados que

    vamos guardar sempre, obrigada por fazer parte e dividir comigo a concretizao

    desse nosso sonho profissional, vou sentir falta da nossa convivncia diria, nossaparceria deu certo e construiu laos eternos que tenho certeza que no vo parar

    por aqui, voc dez caulinha da turma!

    Agradeo ao carinho e estmulo de todas as minhas amigas e amigos de velhos e

    poucos anos, a todos colegas de sala que com certeza sero excelentes

    profissionais, a quem aprendi a amar cada um com seu jeito e esquisitice, em

    especial a Bruna, Aline, Sarize, Leda e Janini vocs souberam me aturar direitinho

    durante esses 4 anos !!!

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    Grata a todos profissionais que me supervisionaram durante o perodo de estgio ou

    contriburam de alguma forma para a evoluo da minha prxis profissional, de cada

    um de vocs levo o que h de mais especial, o profissionalismo, o compromisso

    tico e o entusiasmo na busca por uma sociedade mais justa, em especial as

    supervisoras Juliane Mateddi, Elielma Griggio, Tabita Gonalves,Bruna Martins,

    Marilcia Mattos, Denise Lemos e Gabriela Corra, obrigada pelas trocas de

    saberes, pela compreenso dos erros de quando ainda estava comeando a

    caminhar.

    Aos usurios atendidos por mim, pelo respeito enquanto ainda era estagiria. Aosusurios, funcionrios e profissionais dos Campos de Pesquisa que contriburam

    pela concretizao deste trabalho, muito obrigada!

    Agradeo a todos professores da faculdade Salesiana que desempenharam com

    dedicao as aulas ministradas e foram fundamentais para o meu aprendizado, um

    abrao aos professores, Renato Andrade, Silvia Trugilho, Camila Taquetti, Jaqueline

    Silva e especialmente a Professora e Mestra Alaiza de Oliveira Siqueira peloestmulo intelectual e pela confiana depositada na nossa capacidade de levar

    adiante este trabalho. Quero deixar registrada a vocs minha admirao tanto pelo

    acmulo terico e rigor intelectual, como pela postura humana frente aos seus

    ideais.

    Aos convidados da banca, por dedicar parte do precioso tempo a leitura e anlise do

    contedo exposto neste trabalho. Enfim, meu muito obrigada a todos que, mesmono estando citados aqui, contriburam para a concluso desta importante vitria.

    MARCIELE VIEIRA RIBEIRO

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    "Se voc capaz de tremer de indignao a

    cada vez que se comete uma injustia no

    mundo, ento somos companheiros.

    Che Guevara

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    RESUMO

    Esta pesquisa consiste em um trabalho de concluso de curso, requisito paraobteno de titulo em bacharel de Servio Social. Possui enquanto objetivo geral:

    Analisar as estratgias de sobrevivncia utilizadas pelas famlias em situao de

    bloqueio do Programa Bolsa Famlia (PBF). Dentre os objetivos especficos

    esto: Discutir e analisar as principais situaes que ocasionam o bloqueio do PBF

    dos municpios de Cariacica e Serra, dos usurios dos servios da Central de

    Cadastro nico (Cadnico) e do Centro de Referncia e Assistncia Social (CRAS)

    de Serra Dourada; identificar como as famlias se organizam para garantir a

    obteno de renda durante o perodo de bloqueio do PBF. Metodologia:Quanto a

    sua finalidade, se classificou como uma pesquisa descritiva e qualitativa, pois esta

    nos permitiu uma melhor compreenso a cerca do tema abordado. Em relao aos

    sujeitos participantes da pesquisa, foram os usurios dos servios de ambas

    instituies que encontravam-se com o beneficio retido por descumprimento de

    condicionalidades do PBF. A coleta de dados com os sujeitos participantes foi

    realizada por meio de entrevista do tipo semi-estruturada, com perguntas abertas e

    fechadas, seguindo um roteiro previamente elaborado. O perodo da coleta de

    dados foi no ms de setembro do ano de 2012, ms em que ocorreu a repercusso

    dos benefcios. Para o tratamento dos dados obtidos, foi adotada a anlise

    qualitativa que contempla trs passos: Reduo, categorizao e interpretao dos

    dados.Resultados:Atravs da anlise das entrevistas obtivemos como resultados,

    que as famlias possuem como estratgias de manuteno no perodo do bloqueio

    do PBF o trabalho informal e o emprstimo de dinheiro com terceiros.

    Palavras Chaves: Bolsa Famlia, condicionalidades, pobreza, CRAS, Cadnico.

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    ABSTRACT

    This research is a work of completion, a prerequisite for obtaining title in Bachelor of

    Social Work. It has as main objective: To analyze the coping strategies used byfamilies in blocking the Bolsa Famlia Program. Among the specific objectivesare:

    Discuss and analyze key situations that cause blockage of the BFP and the

    municipalities of Cariacica Serra, the service users' Center Unified Register

    (Cadnico) and the Centre for Reference and Social Assistance (CRAS) Sierra Gold;

    identify how families organize themselves to ensure the achievement of income

    during the BFP block. Methodology: For the purpose, qualified as a descriptive and

    qualitative, as this allowed us a better understanding about the theme. Regarding the

    subject of the research participants were service users of both institutions were

    retained with the benefit of noncompliance by conditionalities were interviewed PBF.

    Data collection with the participating subjects was conducted through interviews of

    semi-structured, with open and closed questions, following a previously elaborated.

    The period of data collection was in September of 2012, the month in which occurred

    the transmission of benefits. For the treatment of the data, we adopted the qualitative

    analysis that involves three steps: reduction, categorization and interpretation details.

    Results:Through the analysis of interviews obtained as a result that families have as

    maintenance strategies during the blockade of PBF informal work and lending money

    to third parties.

    Key Words: Bolsa Familia, conditionalities, poverty, CRAS, Cadnico.

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    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Distribuio dos usurios atendidos por gnero no CRAS de Serra

    Dourada......................................................................................................................72Grfico 2 - Faixa etria dos usurios atendidos no CRAS de Serra Dourada...........73

    Grfico 3Distribuio dos usurios atendidos por procedncia no CRAS de Serra

    Dourada......................................................................................................................74

    Grfico 4Idade dos entrevistados...........................................................................83

    Grfico 5 - Situao Empregatcia..............................................................................84

    Grfico 6 - Renda Familiar.........................................................................................86

    Grfico 7 - Tempo de Permanncia no Programa......................................................87

    Grfico 8 - Conscincia sobre o motivo de bloqueio do benefcio ............................89

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    LISTA DE MAPAS

    Mapa 1Cariacica e bairros, e municpios vizinhos ................................................ 78

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    LISTAS DE QUADROS

    Quadro 1Valores que as Famlias com renda per capita familiar mensal de at R$

    70,00 reais (setenta reais) podem receber ................................................................ 54

    Quadro 2Valores que as famlias com renda per capita familiar mensal de R$ 70

    (setenta reais) a R$ 140 (cento e quarenta reais) podem receber ............................ 55

    Quadro 3Calendrio de 2012 de pagamento do PBF .......................................... 56

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    LISTAS DE TABELAS

    Tabela 1Territrio de abrangncia do CRAS de Serra Dourada ........................... 67

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    LISTA DE SIGLAS

    AIDS -Sndrome da Imunodeficincia Adquirida

    BPCBenefcio de Prestao Continuada

    BSP -Benefcio de Superao da Extrema Pobreza na Primeira Infncia

    BVCEBenefcio Varivel de Carter Extraordinrio

    BVJBenefcio Varivel Jovem

    CADBES - Cadastro do Bolsa Escola

    CadnicoCadastro nico

    CEFCaixa Econmica Federal

    CEP - Comit de tica e PesquisaCF - Constituio Federal

    CNAS - Conselho Nacional de Assistncia Social

    COFAVI - Companhia de Ferro e Ao de Vitria

    CRAS - Centro de Referncia de Assistncia Social

    CREAS - Centro de Referncia Especializado da Assistncia Social

    CVRD - Companhia Vale do Rio Doce

    DFDistrito FederalDSTs - Doenas Sexualmente Transmissveis

    ES - Esprito Santo

    IBGEInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDH - ndice de Desenvolvimento Humano

    INSS - Instituto Nacional de Seguro Social

    LA - Liberdade Assistida

    LOAS - Lei Orgnica de Assistncia Social

    MDSMinistrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome

    MP - Medida Provisria

    NIS - Nmero de identificao Social

    NOB/SUAS - Norma Operacional Bsica do SUAS

    PAIF - Programa de Ateno Integral a Famlia

    PBC - Projeto Bolsa Capixaba

    PBF- Programa Bolsa Famlia

    PETIPrograma de Erradicao do Trabalho Infantil

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    PGRFMPrograma de Garantia de Renda Familiar Mnima

    PGRMPrograma de Garantia de Renda Mnima

    PIB - Produto Interno Bruto

    PNAS - Poltica Nacional de Assistncia Social

    PSC - Prestao de Servios Comunidade

    RFResponsvel Familiar

    RMV - Renda Mensal Vitalcia

    SCFV - Servios de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos

    SENARC - Secretaria Nacional de Renda de Cidadania

    SEPROM - Secretaria de Promoo Social

    SICON - Sistema de Condicionalidades do Programa Bolsa FamliaSIBEC - Sistema de Gesto de Benefcios SIBEC

    SPSo Paulo

    SUAS - Sistema nico de Assistncia Social

    TCC- Trabalho de Concluso de Curso

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    SUMRIO

    1 INTRODUO........................................................................................................19

    2 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS...............................................................23

    3 POLTICA SOCIAL, OS PERODOS HISTRICOS DA CONFIGURAO DAASSISTNCIA SOCIAL NO BRASIL E A POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL APARTIR DA CONSTITUIO FEDERAL DE 1988..................................................27

    3.1BREVE CONTEXTUALIZAO DA POLTICA SOCIAL E OS PERODOSHISTRICOS DA CONFIGURAO DA ASSISTNCIA SOCIAL NOBRASIL......................................................................................................................27

    3.2 POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL A PARTIR DA CONSTITUIOFEDERAL DE 1988....................................................................................................28

    4 OS PROGRAMAS DE TRANSFERNCIA DE RENDA NO BRASIL E O BOLSAFAMILIA.........39

    4.1 BREVE HISTRICO DOS PROGRAMAS DE TRANSFERNCIA DE RENDA

    NO BRASIL...........................................................................................................39

    4.2 JUSTIFICATIVAS PARA UNIFICAO DOS PROGRAMAS NACIONAIS DE

    TRANSFERENCIA DE RENDA.............................................................................46

    4.3 CARACTERIZAO E DEFINIO DO PROGRAMA BOLSA FAMLIA........48

    4.3.1 Critrios de Incluso e Valores do Beneficio....................................51

    4.3.2 Condicionalidades do PBF..................................................................58

    4.3.3 O Cadastro nico Para Programa Sociais do Governo Federal.....59

    4.3.4 Programas Complementares..............................................................61

    5 CONTEXTUALIZANDO OS CAMPOS DE PESQUISA..........................................65

    5.1 CARACTERSTICAS DO MUNICPIO DE SERRA (ES).................................65

    5.2 CAMPO DE PESQUISA E PERFIL DAS FAMLIAS ATENDIDAS NO CRASDE SERRA DOURADASERRA (ES).................................................................66

    5.3 CARACTERSTICAS DO MUNICPIO DE CARIACICA.................................75

    5.4 CAMPO DE PESQUISA: CENTRAL DE CADASTRO NICO (CADNICO)DE CARIACICA....................................................................................................78

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    6 ANALISANDO AS ESTRTEGIAS DE MANUTENO DAS FAMLIAS

    DURANTE O PERIODO DE BLOQUEIO DO BOLSA FAMILIA ............................82

    6.1 PERFIL SOCIOECONOMICO DAS FAMLIAS DOS USURIOS

    ENTREVISTADOS NOS MUNCIPIOS DE SERRA E CARIACICA.....................82

    6.2 O TEMPO DE PERMANNCIA NO PBF E O CONHECIMENTO SOBRE AS

    CONDICIONALIDADES.........................................................................................87

    6.3 O PODER DE COMPRA DAS FAMLIAS E AS DIFICULDADES

    ENCONTRADAS NO PERODO DE BLOQUEIO DO BENEFCIO.......................90

    6.4 ESTRATGIAS DE MANUTENO APRESENTADAS PELAS FAMLIAS NO

    PERODO DE BLOQUEIO DO BOLSA FAMLIA..................................................92

    7 CONSIDERAES FINAIS....................................................................................96

    REFERNCIA............................................................................................................99

    APNDICE...............................................................................................................104

    APNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS BENEFICIRIOS..............105

    APNDICE BPARECER DO CONSUBSTANCIADO DO COMIT DE TICA E

    PESQUISA (CEP) DA FACULDADE CATLICA SALESIANA DO ESPRITO

    SANTO.....................................................................................................................106

    APNDICE C - DECLARAO DA INSTITUIO CO-PARTICIPANTE CRAS DE

    SERRA DOURADA..................................................................................................108

    APNDICE D - DECLARAO DA INSTITUIO CO-PARTICIPANTE CENTRAL

    DE CADASTRO NICO PARA PROGRAMAS SOCIAIS DE CARIACICA.............109

    APNDICE E - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO...........120

    ANEXO.....................................................................................................................113

    ANEXO A FORMULRIO PRINCIPAL DO CADASTRO NICO PARA

    PROGRAMAS SOCIAS............................................................................................114

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    1 INTRODUO

    Constituiu-se como foco deste estudo o Programa Bolsa Famlia (PBF), os valores

    do benefcio, critrios de incluso, condicionalidades do programa, dentre outros.

    Este Trabalho de Concluso de Curso (TCC)1 possui enquanto objetivo geral

    identificar as estratgias de sobrevivncia utilizadas pelas famlias em situao de

    bloqueio do PBF. Dentre os objetivos especficos esto: discutir e analisar as

    principais situaes que ocasionam o bloqueio do PBF dos municpios de Cariacica

    e Serra, dos usurios dos servios da Central de Cadastro nico de Cariacica e do

    Centro de Referncia e Assistncia Social (CRAS) de Serra Dourada e identificar

    como as famlias se organizam para garantir a obteno de renda durante o perodo

    de bloqueio do PBF.

    A reviso de literatura abarcou a poltica social, os perodos histricos da

    configurao da assistncia social no Brasil e a poltica de assistncia social a partir

    da Constituio Federal de 1988; e o Programa Bolsa Famlia (PBF). Foi realizada

    por meio de busca de informaes tericas em autores tais como: Andrade (2011);

    Cunha (2001, 2009); Behring (2007), Garcia (2003); Hfling (2001), Silva (2004),

    Sposati (2005), Pereira (2008), Yasbek (2003 e 2004), que possuem um debate

    terico, histrico e atual acerca do objeto de pesquisa.

    Foram tomadas como referncia a Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS), o

    Sistema nico de Assistncia Social (SUAS), a Lei Orgnica de Assistncia Social

    (LOAS) e demais legislaes vigentes, bem como o processo de efetivao e gestodo PBF, com discusso entre os municpios de Cariacica na Central de Cadastro

    1De acordo com o Guia de Normalizao de Trabalhos acadmicos e pesquisa da faculdade CatlicaSalesiana do Esprito Santo (2012), o Trabalho de Concluso de Curso (TCC) um tipo de trabalhoexigido como requisito obrigatrio para a concluso de cursos de graduao. O grau de profundidadedo TCC pode ser menor que o da monografia dos cursos de ps-graduao lato sensu. O TCC umimportante instrumento acadmico para auxiliar o desenvolvimento da capacidade de raciocnio,escrita, argumentao, sistematizao e de aplicao dos conhecimentos adquiridos durante o curso.A elaborao deste tipo de trabalho exige o conhecimento e a aplicao das normas tcnicas de

    elaborao de trabalhos cientficos.

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    nico para Programas Sociais (Cadnico) e no municpio da Serra no Centro de

    Referncia de Assistncia Social (CRAS) de Serra Dourada, locais que se

    classificam como campo de pesquisa e onde foram realizadas as coletas de dados

    com os usurios desses servios em ambos municpios.

    O percurso metodolgico dessa pesquisa a priori se deu por meio de elaborao de

    um projeto de pesquisa inicial, que foi reescrito depois, para apresentao e

    aprovao dos campos de pesquisa e do Comit de tica e Pesquisa (CEP) da

    Faculdade Catlica Salesiana do Esprito Santo.

    A pretenso em realizar esta pesquisa, foi de estimular os gestores de ambos os

    municpios a elaborar novos meios de instigar as famlias a evitar que ocorresse

    descumprimento de condicionalidade, motivo que ocasiona o bloqueio do PBF, alm

    disso, buscar novas estratgias para que as famlias em situao de bloqueio

    pudessem se manter durante esse perodo. O interesse pela realizao desta

    pesquisa teve por referncia as vivncias obtidas pelas pesquisadoras nos campos

    de estgio.

    Pelo fato do Bolsa famlia ser um dos maiores programas de transferncia de renda 2

    do Brasil, com abrangncia de mais de 13 milhes de famlias 3 em todo territrio

    nacional, consideramos que foi relevante realizar o estudo acerca deste tema, pois

    este propiciou as instituies Central de Cadastro nico no municpio de Cariacica e

    o Centro de Referncia de Assistncia Social (CRAS) de Serra Dourada, conhecer

    mais a fundo o perfil dos usurios atendidos nessas instituies e os profissionais

    que se encontram nesses locais podero intervir de uma forma melhor, pois iroconhecer e ter informaes mais precisas sobre os aspectos socioeconmicos

    destes usurios.

    2Segundo Santana (2007, p.3), [...] Os programas de transferncia de renda surgiram como umaalternativa para combate a pobreza. Eles foram concebidos segundo a ideia de que o beneficirio tema autonomia para definir como melhor utilizar o benefcio por saber quais so suas necessidadesmais urgentes [...].3

    Informao retirada do site do Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate a Fome.Disponvel em:. Acesso em: 10 abr. de 2012.

    http://www.mds.gov.br/bolsafamiliahttp://www.mds.gov.br/bolsafamiliahttp://www.mds.gov.br/bolsafamilia
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    Com a realizao deste estudo foi possvel adquirir conhecimentos tericos

    cientficos e identificar como as famlias se organizam para garantir a obteno de

    renda durante o perodo de bloqueio. Foi realizada uma breve discusso e anlise

    das principais situaes que ocasionaram o bloqueio do Programa Bolsa Famlia nos

    municpios de Cariacica e Serra, dos usurios dos servios da Central de Cadastro

    nico para Programas Sociais (Cadnico) e do Centro de Referncia e Assistncia

    Social (CRAS) de Serra Dourada.

    Para a realizao da investigao cientfica a partir da qual se materializou o estudo,

    foi desempenhada uma pesquisa de abordagem qualitativa, quanto a sua finalidade,

    foi classificada como uma pesquisa exploratria.

    Foram realizadas 5 (cinco) entrevistas em cada campo de pesquisa. Para a coleta

    de dados foi aplicada uma entrevista do tipo semi-estruturada com os sujeitos

    participantes da pesquisa. Tomamos como dimenso temporal da coleta de dados o

    ms de setembro de 2012. Consideramos que esse mtodo de coleta de dados,

    pde resultar na obteno dos objetivos do estudo apresentando os resultados

    necessrios para responder nosso problema de pesquisa.

    O presente TCC foi estruturado por uma introduo, procedimentos metodolgicos

    seguido de quatro captulos e as consideraes finais.

    No primeiro captulo, a partir da reviso bibliogrfica, abordamos uma discusso

    sobre a poltica social, os perodos histricos da configurao da assistncia social

    no Brasil e a poltica de assistncia social a partir da constituio federal de 1988.

    No segundo captulo, foi apresentado um breve histrico de como surgiram os

    programas de transferncia de renda no Brasil com nfase no PBF, explicitamos o

    Cadastro nico Para Programas Sociais (Cadnico), destacando os critrios de

    seleo e de incluso no PBF, suas condicionalidades, e valores do benefcio.

    No terceiro captulo, foi abordado um breve perfil dos municpios de Serra (ES) e

    Cariacica (ES), evidenciando as caractersticas especficas do CRAS de Serra

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    Dourada e da Central de Cadastro nico caracterizando, os perfis dos usurios

    atendidos nestas instituies, locais onde foram realizadas as coletas de dados.

    No quarto e ltimo captulo, apresentamos os dados e resultados obtidos na coletade dados realizada com os beneficirios do PBF dos municpios citados acima,

    constatamos neste capitulo as estratgias de manuteno das famlias no perodo

    de bloqueio do PBF e possveis intervenes que os municpios podem realizar a

    cerca deste motivo.

    Por fim, apresentamos as consideraes finais resultantes das observaes,

    reflexes e estudos, expressando nossas opinies em relao s possibilidades e oslimites do PBF e indicamos opes de trabalhos que podem dar continuidade a esta

    pesquisa.

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    2 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    O presente estudo, quanto a sua finalidade, se classificou como uma pesquisa

    descritiva, tendo em vista o maior conhecimento a respeito das estratgias mantidas

    pelas famlias beneficirias do Programa Bolsa Famlia (PBF) em condio de

    suspenso do benefcio, identificamos os meios usados por elas para sobrevivncia.

    As pesquisas descritivas tm como objetivo primordial a descrio das

    caractersticas de determinada populao ou fenmeno ou, ento, o

    estabelecimento de relaes entre variveis. Uma de suas caractersticas mais

    significativas est na utilizao de tcnicas padronizadas de coleta de dados, tais

    como o questionrio e a observao sistemtica. Habitualmente quem realiza este

    tipo de pesquisa so os pesquisadores sociais preocupados com a atuao prtica

    (GIL, 2002).

    Para aprofundarmos os conhecimentos a respeito das estratgias de manuteno

    das famlias no perodo de bloqueio do PBF, foi utilizada a pesquisa qualitativa, pois

    esta nos permitiu uma melhor compreenso a cerca do tema pesquisado.

    A pesquisa qualitativa proporcionou um contato mais direto com os sujeitos da

    pesquisa, ampliando nosso conhecimento sobre os objetivos propostos por esse

    trabalho. Segundo Martinelli (1999, p.26) [...] uma considerao importante que a

    pesquisa qualitativa participante, ns tambm somos sujeitos da pesquisa [...].

    Considerando o descrito acima, em relao ao mtodo, cabe aqui afirmar que opresente estudo se constituiu em uma pesquisa qualitativa e descritiva.

    A coleta de dados com os sujeitos participantes foi realizada por meio de uma

    entrevista do tipo semi-estruturada, com perguntas abertas e fechadas, seguindo um

    roteiro previamente elaborado (APNDICE A), foi atravs dessa entrevista semi-

    estruturada que verificamos as estratgias de manuteno das famlias no momento

    do bloqueio do beneficio.

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    A entrevista um procedimento utilizado na investigao social para a coleta de

    dados ou no diagnstico ou tratamento de um problema social. Esta tcnica de

    pesquisa pode ser utilizada com todos os segmentos da populao, o entrevistado

    no precisa saber ler ou escrever, ao contrrio do questionrio onde necessrio

    que o entrevistado seja alfabetizado. A entrevista ainda possibilita que sejam

    utilizadas tanto as abordagens quantitativas submetidas ao tratamento estatstico,

    quanto s abordagens qualitativas que so referncia nesse tipo de abordagem

    (MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 80-81), neste caso foi utilizada a pesquisa

    qualitativa.

    Vale destacar que a coleta de dados s foi iniciada aps a aprovao do Comit de

    tica e Pesquisa (CEP) da Faculdade Catlica Salesiana do Esprito Santo

    (APNDICE B).

    O Centro de Referncia de Assistncia Social (CRAS) de Serra Dourada e a Central

    de Cadastro nico para programas sociais do municpio de Cariacica foram os

    campos de pesquisa e onde ocorreram s entrevistas, sendo estes espaos

    destinados ao atendimento dos beneficirios do Programa Bolsa Famlia (PBF)conforme territrio de abrangncia, com isso foi assegurado privacidade e

    confidencialidade aos sujeitos.

    A escolha dos campos de pesquisa se deu pelo fato das pesquisadoras estarem

    inseridas como acadmicas de Servio Social nas instituies, o que facilitou o

    acesso aos usurios com o perfil que se busca nessa pesquisa e a coleta dos dados

    necessrios.

    Essas instituies tambm assinaram uma declarao (APNDICES C e D) onde

    afirmaram estar de acordo para que as pesquisadoras utilizassem esses espaos

    para a coleta de dados.

    Em relao aos sujeitos participantes da pesquisa, foram realizadas 5 (cinco)

    entrevistas em cada campo de pesquisa com os usurios dos servios de ambas as

    instituies, que so beneficirios do PBF e que residem nos territrios de

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    abrangncia dessas instituies. O acesso a estes sujeitos foi atravs de

    atendimentos por demanda espontnea, realizados nas instituies mencionadas.

    O perodo da coleta de dados foi no ms de setembro do ano de 2012, ms em que

    ocorreu a repercusso dos benefcios4, os perodos que impactam nessa

    repercusso so os meses de junho e julho de 2012.

    As entrevistas ocorreram nos dias em que os participantes estiveram nas instituies

    para solucionar demandas referentes ao descumprimento de condicionalidades, com

    isso foi evitado o gasto dos usurios com transporte, e tambm foi impedido que se

    deslocassem de suas casas especialmente para a participao na pesquisa.

    Estes foram convidados a participar da pesquisa, e ela foi realizada com aqueles

    que concordaram em participar, sendo assim foi entregue aos participantes um

    Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) (APNDICE E) para que os

    mesmos autorizassem o uso dos dados.

    No roteiro da entrevista foi utilizada uma linguagem simples e objetiva, devido obaixo nvel de escolaridade dos sujeitos, com isso facilitou a compreenso dos

    mesmos. Todavia, no tratamento dos dados foi utilizada uma linguagem tcnica.

    Para o tratamento dos dados obtidos, foi adotada a anlise qualitativa descrita por

    Gil (2002, p. 134). Segundo o autor, a anlise qualitativa dos dados contempla trs

    passos: reduo, categorizao e interpretao dos dados.

    Reduo dos dados: Consiste em processo de seleo, simplificao,abstrao, e transformao dos dados originais provenientes dasobservaes de campo. Para que essa tarefa seja desenvolvida a contento, necessrio ter objetivos claros, at mesmo porque estes podem ter sidoalterados ao longo do estudo de campo. Quando os objetivos no estoclaros, o que costuma ocorrer o acmulo de grande quantidade de dadose consequentemente dificuldade para selecionar os que possam sersignificativos para a pesquisa.

    4Segundo Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate a Fome: Programa Bolsa Famlia gesto

    de condicionalidades (s.d). Repercusso o efeito no benefcio da famlia em decorrncia dodescumprimento da condicionalidade de sade, educao ou assistncia social. Esse efeito pode seradvertncia, bloqueio, suspenso ou o cancelamento do benefcio. A repercusso no benefcio dasfamlias ocorre nos meses mpares: JAN, MAR, MAI, JUL, SET, NOV.

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    Categorizao dos dados: Consiste na organizao dos dados de forma queo pesquisador consiga tomar decises e tirar concluses a partir deles. Issorequer a construo de um conjunto de categorias descritivas, que podemser fundamentadas no referencial terico da pesquisa [...].

    Interpretao dos dados: [...] necessrio que o pesquisador ultrapasse

    a mera descrio, buscando acrescentar algo ao questionamento existentesobre o assunto. Para tanto, ele ter que fazer um esforo de abstrao,ultrapassando os dados, tentando possveis explicaes, configuraes efluxos de causa e efeito. Isso ir exigir constantes retomadas s anotaesde campo e ao campo e literatura e at mesmo coleta de dadosadicionais.

    Para efeito de tratamento de dados neste estudo, conforme o descrito acima foi

    procedido da seguinte maneira:

    A reduo de dados foi realizada a partir do material transcrito das entrevistas, deonde foram extrados os dados necessrios para anlise.

    Em seguida, foi realizado o agrupamento das unidades semelhantes, compondo

    nossas categorias de anlise.

    Por fim, apresentamos descritivamente cada categoria interpretando-as luz do

    referencial terico adotado.

    No momento da apresentao das falas dos usurios neste estudo eles foram

    apresentados por nome de pssaros para com isso manter o sigilo e segurana dos

    entrevistados.

    O presente estudo encontra-se em consonncia com os aspectos ticos inerentes

    pesquisa com seres humanos, estabelecidos na resoluo 196/96 do Conselho

    Nacional de Sade (CNS) e suas complementares. As informaes coletadas sero

    mantidas com privacidade na coleta, assegurando a proteo e a identidade dos

    participantes da pesquisa.

    A escolha por essas abordagens metodolgicas foram fundamentais para esse tipo

    de pesquisa, uma vez que foi realizada atravs da realidade vivncias pelos

    beneficirios do PBF que se encontram com o benefcio retido. Esse tipos de

    abordagens nos proporcionou ir alm de descrever um objeto, mas tambm

    identificar diferentes experincias sociais.

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    3 POLTICA SOCIAL, OS PERODOS HISTRICOS DA CONFIGURAO DA

    ASSISTNCIA SOCIAL NO BRASIL E A POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL A

    PARTIR DA CONSTITUIO FEDERAL DE 1988

    Neste captulo, discorremos superficialmente sobre a origem da Poltica Social,

    citando os perodos histricos que a Assistncia Social se configurou no Brasil, com

    aprofundamento na trajetria da Poltica de Assistncia Social no Brasil a partir da

    Constituio Federal de 1988. A escolha e discusso a partir deste perodo se faz

    importante visto que o tema a ser trabalhado nos captulos seguintes se efetiva na

    realidade presente, e se configura na atual conjuntura das principais polticas sociais

    pblicas geridas no Brasil at este momento, no obtendo a exigncia em buscar

    fazer um resgate histrico desta poltica.

    3.1 BREVE CONTEXTUALIZAO DA POLTICA SOCIAL E OS PERODOS

    HISTRICOS DA CONFIGURAO DA ASSISTNCIA SOCIAL NO BRASIL

    As polticas sociais tm sua origem relacionada ao desenvolvimento da primeirarevoluo industrial, no sculo XIX, quando o Estado se organizava para responder

    s demandas sociais produzidas pelo sistema capitalista. O acesso aos direitos

    bsicos era restrito, e nem todas as pessoas tinham acesso, desde ento a

    sociedade considerada como classe trabalhadora passa a lutar para universaliz-los.

    Neste sentido, a poltica social se d como uma estratgia de interveno e

    regulao do Estado no que diz respeito questo social5

    . O Estado passa a serimplementador de polticas sociais baseadas nos princpios sociais universais,

    igualitrios e solidrios, tais princpios inspirados pelo chamado Estado de bem estar

    social, onde esto includos os direitos a educao, assistncia mdica gratuita,

    auxlio no desemprego, garantia de uma renda mnima dentre outros (SILVA, 2004).

    5A questo social aqui considerada como o conjunto de problemas polticos, sociais e econmicosengendrados pela sociedade capitalista historicamente resultante da constituio do operariado.

    Vincula-se, pois, visceralmente relao capital trabalho. Aparece no Brasil como questo concretae reconhecida legitimamente na dcada de 30 (Filho, apud Sposati, 2003, p. 27).

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    Segundo Hfling (2001, p. 31):

    As polticas sociais se referem a aes que determinam o padro de

    proteo social implementado pelo Estado, voltadas, em princpio, para aredistribuio dos benefcios sociais visando diminuio dasdesigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimentosocioeconmico.

    Historicamente, a assistncia social se configurou no Brasil de maneira marginal aos

    direitos sociais, ligada a atividade voluntarista carregada por uma forte carga

    moralista de patrimonialismo, clientelismo e das diversas expresses da cultura do

    favor (RAICHELIS apud ANDRADE, 2011, p. 25).

    Pereira (2008, p.127), complementa que as polticas de satisfao de necessidades

    bsicas, foram divididas em cinco perodos histricos de acordo com o perfil de

    regulao poltica, econmica e social prevalecente:

    1. perodo anterior a 1930: poltica social do laissez-faire;

    2. de 1930-1964: poltica social predominantemente populista, com laivosdesenvolvimentistas;

    3. de 1964-1985: poltica social do regime tecnocrtico-militar, incluindo afase da abertura poltica;

    4. de 1985-1990: poltica social do perodo de transio para democracialiberal;

    5. a partir dos anos 1990: poltica social neoliberal.

    Antes de 1988, os direitos eram sempre ligados e vinculados ordem econmica e

    social ligados aos direitos trabalhistas e previdencirios pouco se pensava em

    assistncia como poltica pblica e dever do Estado.

    3.2 POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL A PARTIR DA CONSTITUIO

    FEDERAL DE 1988

    No Brasil, somente na dcada de 80, a partir das lutas sociais, especialmente dos

    movimentos sociais organizados, que culminou na Constituio Federal de 1988, foiinstitudo o modelo da Seguridade Social, passando a compor um trip: Assistncia

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    Social garantida no art. 203 e 204, Previdncia art. 201 e Sade art. 196, estes

    passam a serem reconhecidos como direito social, [...] rompendo a viso de

    favoritismo e caridade, delegando ao Estado a responsabilidade de propor polticas

    pblicas que assegurassem os direitos voltados a Seguridade Social (NETO;

    TEIXEIRA, 2011, p.24).

    A Poltica Social no Brasil instituda como direito a partir da Constituio Federal

    Brasileira de 1988 que em seu primeiro captulo art. 5 assegura que:

    Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a

    inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade [...].

    Os Artigos 203 e 204 desta constituio definem a assistncia social:

    Art.203 A assistncia social ser prestada a quem dela necessitar,independentemente de contribuio seguridade social, e tem porobjetivos:

    I - a proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia e velhice;II - o amparo s crianas e adolescentes carentes;

    III - a promoo da integrao ao mercado de trabalho;IV - a habilitao e reabilitao das pessoas portadoras de deficincia e apromoo de sua integrao vida comunitria;V - a garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadorade deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia, conforme dispuser alei.

    Art. 204. As aes governamentais na rea da assistncia social serorealizadas com recursos do oramento da seguridade social, previstos noart. 195, alm de outras fontes, e organizadas com base nas seguintesdiretrizes:I - descentralizao poltico-administrativa, cabendo a coordenao e as

    normas gerais esfera federal e a coordenao e a execuo dosrespectivos programas s esferas estadual e municipal, bem como aentidades beneficentes e de assistncia social;II - participao da populao, por meio de organizaes representativas, naformulao das polticas e no controle das aes em todos os nveis.

    O artigo 203 da Constituio Federal de 1988 foi regulamentado na Lei Orgnica de

    Assistncia Social (LOAS) em seu artigo 1 como poltica de Seguridade Social,

    sendo direito do cidado e dever do Estado prover os mnimos sociais atravs de um

    conjunto integrado de aes de iniciativa pblica e da sociedade, garantindo assim

    as necessidades bsicas a quem dela necessitar, independentemente de

    contribuio.

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    A apresentao dos motivos que levaram a incluso da assistncia social na

    Constituio rompe com o conceito de populao beneficiria como marginal ou

    carente o que seria vitimiz-la, pois as necessidades desta populao resultam da

    estrutura social e no do carter pessoal (SPOSATI, 2005, p.42).

    Quando o pas esperava pela democracia social e poltica, os escndalos da Era

    Collor provocaram um desmonte de esperana na sociedade, devido o ento

    presidente adotar a opo de governo neoliberal6, ocorrendo nesse perodo um

    crescimento das demandas sociais representadas pelo desemprego e pobreza,

    decorrendo da o trinmio do neoliberalismo: privatizao, focalizao/seletividade e

    descentralizao (DRAIBE apud BEHRING; BOSCHETTI, 2007).

    As lutas sociais entre democracia e direitos sociais se repetem e a implementao

    da Lei Orgnica da Assistncia Social (LOAS) foi adiada, pois outras questes mais

    fortes se levantavam (SPOSATI, 2005, p. 50).

    Pereira (1996) ressalta que a assistncia social como poltica pode ter um carter

    ambguo, que resulta de interesses contrrios entre a lgica produtiva e as

    necessidades sociais, podendo ser efetiva mediante a correlao de fora que a

    permeia.

    Aps surgirem vrios projetos de lei, somente em 07 de dezembro do ano de 1993

    foi promulgada a LOAS determinada pela Lei n 8.742/1993, onde se define que a

    assistncia social uma Poltica de Seguridade Social no contributiva, responsvel

    por prover os mnimos sociais, sendo realizada atravs de um conjunto integrado deaes de iniciativa pblica e da sociedade, para garantir o atendimento s

    necessidades bsicas da populao.

    6O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na regio da Europa e da Amrica doNorte onde imperava o capitalismo. Foi uma reao terica e poltica veemente contra o Estado

    intervencionista e de bemestar. Seu texto de origem O Caminho da Servido, de Friedrich Hayek,escrito em 1944 (Anderson, 1998, p. 9).

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    Prevista nos artigos 18 e 19 da Lei Orgnica de Assistncia Social (LOAS), a Poltica

    Nacional de Assistncia Social (PNAS) foi aprovada em setembro de 2004. Esta

    define um Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) para o Brasil que entrou em

    vigor atravs da Lei n 12.435 de 6 de julho de 2011.

    Dos benefcios garantidos pela LOAS podemos destacar o Beneficio de Prestao

    Continuada (BPC), que garante um salrio mnimo a pessoa com deficincia fsica e

    ao idoso a partir de 65 anos, que comprovem no possuir meios para manter a sua

    sobrevivncia ou de t-las provida pela sua famlia.

    Em relao aos benefcios eventuais so aqueles que visam cobrir necessidades

    temporrias em razo de contingncias, relativas a situaes de vulnerabilidades

    temporrias, em geral relacionadas ao ciclo de vida, a situaes de desvantagem

    pessoal ou a ocorrncias de incertezas que representam perdas e danos. So

    exemplos de benefcios eventuais o pagamento do auxilio por natalidade ou morte

    as famlias que possuam uma renda per capita7 (um quarto) do salrio mnimo

    vigente (LOAS, 1993).

    O art. 203 da Constituio Federal de 1988, discute os objetivos da assistncia

    social presentes no art. 2 da LOAS, com os quais se compatibilizam os previstos

    nos incisos I a V do presente artigo.

    A assistncia social realiza-se de forma integrada s polticas setoriais, visando ao

    enfrentamento da pobreza, garantia dos mnimos sociais, ao provimento de

    condies para atender contingncias sociais e universalizao dos direitos sociais(LOAS, 1993).

    7Renda per capita compreendida como a soma de todos os rendimentos recebidos no ms poraqueles que compem a famlia, divida pela quantidade de membros. Os rendimentos que entram noclculo da renda bruta mensal so aqueles provenientes de: salrios; proventos; penses; pensesalimentcias; benefcios de previdncia pblica ou privada; seguro desemprego; comisses; pr-labore; outros rendimentos do trabalho no assalariado; rendimentos do mercado informal ouautnomo; rendimentos auferidos do patrimnio; Renda Mensal Vitalcia (RMV), e o Benefcio dePrestao Continuada da Assistncia Social (BPC). Texto construdo com base nas informaescontidas no site do Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS). Disponvel em:

    . Acesso em: 21 set. 2012.

    http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/bpc/como-calcular-a-renda-familiar-per-capita/?searchterm=renda%20per%20capitahttp://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/bpc/como-calcular-a-renda-familiar-per-capita/?searchterm=renda%20per%20capitahttp://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/bpc/como-calcular-a-renda-familiar-per-capita/?searchterm=renda%20per%20capitahttp://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/bpc/como-calcular-a-renda-familiar-per-capita/?searchterm=renda%20per%20capitahttp://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/bpc/como-calcular-a-renda-familiar-per-capita/?searchterm=renda%20per%20capita
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    As aes realizadas pelo Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) tomam como

    base a Poltica Nacional de Assistncia (PNAS) que foi aprovada pelo Conselho

    Nacional de Assistncia Social (CNAS) no ano de 2004, a qual se compatibiliza com

    a Norma Operacional Bsica do SUAS (NOB/SUAS), que tem como objetivo fazer a

    organizao e disciplinar as instncias e as trs esferas de governo (federal,

    estadual e municipal) responsveis pela aplicao dos recursos pblicos nas aes

    socioassistenciais, dentre tais aes a primeira determina e d orientaes para a

    execuo de aes visando o enfrentamento das desigualdades sociais, ela prope

    que sejam garantidos os mnimos sociais e a universalizao dos direitos.

    De acordo com a PNAS (2004, p.33) a Poltica Pblica de Assistncia Social,

    objetiva:

    Promover servios, programas, projetos e benefcios de proteo socialbsica e, ou, especial para famlias, indivduos e grupos que delesnecessitarem;

    Contribuir com a incluso e a eqidade dos usurios e grupos especficos,ampliando o acesso aos bens e servios socioassistenciais bsicos eespeciais, em reas urbana e rural;

    Assegurar que as aes no mbito da assistncia social tenhamcentralidade na famlia, e que garantam a convivncia familiar e comunitria.

    A PNAS objetiva ainda, tornar clara as suas diretrizes na efetivao da assistncia

    social como direito de cidadania e responsabilidade do Estado. Nela so definidos

    tambm os tipos de proteo social, garantidas por esta poltica e d outras

    providncias, sendo assim, as protees so dividas em:

    Proteo Social Bsica: tem como objetivos prevenir situaes de risco por meiodo desenvolvimento de potencialidades e aquisies e o fortalecimento de vnculos

    familiares e comunitrios, ela destinada a populao que se encontra em

    vulnerabilidade social8. Prope ainda o desenvolvimento de servios, programas e

    projetos locais de acolhimento, convivncia e socializao de famlias e de

    indivduos, com atendimento integral, organizados em rede. Deve-se incluir as

    8

    De acordo com a Politica de Assistncia Social (PNAS) a vulnerabilidade social decorrente dapobreza, privao (ausncia de renda, precrio ou nulo acesso aos servios pblicos e etc.) e, oufragilizao de vnculos afetivos (discriminaes etrias, tnicas, de gnero ou por deficincias,dentre outras).

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    pessoas com deficincia de modo a inseri-las nas diversas aes ofertadas. Os

    benefcios que compem a proteo social bsica so o Benefcio de Prestao

    Continuada (BPC) e os benefcios eventuais, conforme foram explicitados nesse

    captulo (PNAS, 2004).

    Conforme prev a PNAS (2004, p. 35):

    Os servios de proteo social bsica so executados nos Centros deReferencia de Assistncia Social (CRAS)9e em outras unidades bsicas epblicas de assistncia social, bem como de forma indireta nas entidades eorganizaes de assistncia social da rea de abrangncia dos CRAS.

    Proteo Social Especial: Conforme a PNAS (2004, p. 37), esse tipo de proteo se

    subdivide em Proteo Social Especial de Mdia e Alta Complexidade, estas se

    resumem em:

    [...] uma modalidade de atendimento assistencial destinada a famlias eindivduos que se encontram em situao de risco pessoal e social, porocorrncia de abandono, maus tratos fsicos e, ou, psquicos, abuso sexual,uso de substncias psicoativas, cumprimento de medidas scio-educativas,situao de rua, situao de trabalho infantil [...].

    Os servios de proteo especial tm estreita interface com o sistema de

    garantia de direito exigindo, muitas vezes, uma gesto mais complexa ecompartilhada com o poder Judicirio, Ministrio Pblico e outros rgos eaes do executivo.

    Proteo Social Especial de Mdia Complexidade: Oferece atendimentos as

    famlias e indivduos com seus direitos violados, mas cujo vnculos familiares e

    comunitrios no foram rompidos. A instituio responsvel pela Proteo Social

    Especial de Mdia Complexidade o Centro de Referncia Especializado da

    Assistncia Social (CREAS).

    A lei do SUAS n 12.435/2011, define o CREAS como uma unidade pblica estatal

    de abrangncia municipal ou regional que tem como papel construir-se em lcus de

    referncia, nos territrios, da oferta de trabalho social especializado no SUAS a

    famlias e indivduos em situao de risco pessoal e social, por violao de direitos.

    9Para maior detalhamento a respeito do CRAS verificar o cap. 5, subitem 5.2 desse trabalho.

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    Os servios ofertados pelo CREAS no podem sofrer interrupes, por questes

    relativas alternncia da gesto ou qualquer outro motivo (MDS, 2011). Segundo a

    PNAS (2004), o CREAS visa orientao e o convvio-scio familiar e comunitrio.

    Difere-se da proteo social bsica por se tratar de um atendimento dirigido s

    situaes de violao de direitos.

    Dentre os servios realizados no CREAS esto (PNAS, 2004):

    Medidas scio-educativas em meio-aberto: Prestao de Servios

    Comunidade (PSC) e Liberdade Assistida (LA): o servio tem por finalidade

    prover ateno socioassistencial e acompanhamento a adolescentes e jovens

    em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, determinadas

    judicialmente. Servio de orientao e apoio sociofamiliar.

    Abordagem de Rua: o servio tem como finalidade assegurar trabalho social

    de abordagem e busca ativa que identifique, nos territrios, a incidncia de

    trabalho infantil, explorao sexual de crianas e adolescentes, situao de

    rua, dentre outras.

    Planto Social: oferece atendimento social as famlias que demandam dealguma situao emergencial, e no podem aguardar pelo agendamento do

    atendimento, as situaes emergenciais mais comuns so para concesso de

    Auxilio Funeral, Atendimento em situaes de violncia domstica e ao idoso,

    Abuso Sexual, Cesta Bsica Emergencial, dentre outras expresses da

    questo social.

    Cuidado no domiclio: atravs de visitas domiciliares, o assistente social frente

    a diversas intervenes e encaminhamentos realizados, visa intervir nasexpresses da questo social apresentadas pela famlia.

    Servio de Habilitao e Reabilitao na comunidade das pessoas com

    deficincia: servio destinado promoo de atendimento especializado a

    famlias com pessoas com deficincia e idosos com algum grau de

    dependncia, que tiveram suas limitaes agravas por violaes de direito.

    Proteo Social de Alta Complexidade: Os servios so voltados para famlias e

    indivduos que se encontram sem referncia, em situao de ameaa precisando ser

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    retirados da convivncia familiar ou comunitrio, eles garantem a proteo integral

    ao indivduo. Como moradia alimentao higienizao e etc. Destacamos os

    servios (PNAS, 2004).

    Casa Lar: a Casa Lar integra a rede de proteo social especial que, de

    acordo com a Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS), estabelece

    servios de abrigamento a pessoas que, por vrios motivos, no contam mais

    com proteo de suas famlias.

    Albergue: em alguns municpios os servios de Albergue so destinados a

    Migrantes e a populao em situao de rua. Integra a rede de proteo

    social especial que, estabelece servios de abrigamento a pessoas que, por

    vrios motivos, no contam mais com proteo de suas famlias.

    Repblica: trabalha atravs da oferta de proteo, apoio e moradia a grupos

    de pessoas maiores de 18 anos em situao de abandono, vulnerabilidade e

    risco pessoal e social, com vnculos familiares rompidos ou extremamente

    fragilizados e sem condies de moradia e autossustento. Nas repblicas de

    jovens o servio destinado, prioritariamente ao pblico 18 e 21 anos aps

    desligamento de servios de acolhimento para crianas e adolescentes ou emoutra situao que demande este servio. Possui tempo de permanncia

    limitado, podendo ser reavaliado e prorrogado, tambm podem ser ofertadas

    de acordo com a poltica de cada municpio repblicas para idosos.

    Famlia Substituta: aquela que se prope trazer para dentro de sua prpria

    casa, uma criana ou um adolescente que por qualquer circunstncia foi

    desprovido da famlia natural, para que faa parte integrante dela e nela se

    desenvolva.Famlia Acolhedora: as famlias acolhedoras assumem o compromisso de

    tornarem-se parceiras no atendimento e na preparao para o retorno da

    criana e/ou adolescente famlia de origem.

    Trabalho Protegido: para famlias e indivduos que se encontram sem

    referncia e, ou, em situao de ameaa.

    Medidas Scio-educativas restritivas e privativas de liberdade semiliberdade,

    internao provisria e sentenciada.

    http://www.vitoria.es.gov.br/semas.php?pagina=protecaosocialespecialhttp://www.vitoria.es.gov.br/semas.php?pagina=protecaosocialespecialhttp://www.vitoria.es.gov.br/semas.php?pagina=protecaosocialespecialhttp://www.vitoria.es.gov.br/semas.php?pagina=protecaosocialespecialhttp://www.vitoria.es.gov.br/semas.php?pagina=protecaosocialespecialhttp://www.vitoria.es.gov.br/semas.php?pagina=protecaosocialespecialhttp://www.vitoria.es.gov.br/semas.php?pagina=protecaosocialespecial
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    Casa de Passagem: atende crianas e adolescentes sob medida de proteo,

    inclusive com deficincia, em situao de risco pessoal e social, em situao

    de abandono ou cujas famlias ou responsveis encontram-se

    temporariamente impossibilitados de cumprir sua funo de cuidado e

    proteo.

    Atendimento integral Institucional: consiste no atendimento integral e

    institucional a crianas, idosos e portadores de deficincia, que se encontra

    em situao de abandono, risco pessoal ou social.

    Por fim, a PNAS que norteia e d diretrizes para implementao das aes do

    SUAS. O SUAS coordenado pelo Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate

    Fome (MDS), responsvel pela gesto das aes na rea de assistncia social

    ficando organizado sob a forma de sistema descentralizado e participativo.

    O SUAS tem como foco organizar os elementos necessrios para a execuo da

    Poltica de Assistncia tornando possvel a normatizao nos servios, qualidade no

    atendimento, indicadores de avaliao e resultado, nomenclatura dos servios e da

    rede socioassistencial10 que priorizam as aes voltadas para a vigilncia social,

    proteo social, defesa social e institucional com o intuito de promover o bem-estar e

    proteo social famlia, crianas, adolescentes e jovens, pessoas com deficincias

    e idosos.

    Vale destacar o que Andrade (2011, p. 42) caracteriza a respeito da gesto do

    Sistema nico de Assistncia Social (SUAS):

    O SUAS no apenas um instrumento gerencial, mas, sobretudo uminstrumento poltico, que expressa um campo de lutas e contradiesinerentes poltica de Assistncia Social em nosso pas, que busca seassentar na concretizao e ampliao da proteo social no contributivano campo socioassistencial.

    10

    De acordo com a NOB SUAS 2005, a rede socioassistencial um conjunto integrado de iniciativaspblicas e da sociedade, que ofertam e operam benefcios, servios, programas e projetos, o quesupe a articulao entre todas estas unidades de proviso de proteo social, sob a hierarquia debsica e especial e ainda por nveis de complexidade.

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    Andrade (2011) referencia-se na idia de que a Assistncia Social, enquanto

    partcipe do sistema de proteo social brasileiro, deve ser uma poltica com

    contedo prprio voltado para a proviso [...] da universalizao dos mnimos sociais

    como padres bsicos de incluso.

    Andrade (2011, p. 28) complementa que:

    As aes no mbito da assistncia social acabam se restringindo a grupossociais especficos e, sobretudo, condicionados ao nvel de renda, em que oacesso a servios e benefcios operacionalizado pela focalizao 11 eseletividade12 atravs dos testes de meios. Tal situao demarca a nocobertura de significativos contingentes populacionais, que invariavelmente

    dependem de aes individuais e particulares para a garantia dasobrevivncia.

    Podemos afirmar que o ano de 2011 marcou a sano da Lei do SUAS. A criao do

    SUAS institucionalizou uma nova concepo socioassistencial no Brasil: o

    rompimento da Lgica da assistncia como filantropia e adoo da concepo de

    direito a todo cidado brasileiro.

    Na medida em que o SUAS estava sendo implementado, houve propostas para

    melhoria do trabalho, sendo necessria a criao de um instrumento capaz de

    identificar e caracterizar as famlias brasileiras de baixa renda, por meio de

    informaes e dados coletados, com o objetivo e necessidade de inclu-las em

    programas de Assistncia Social e redistribuio de renda, denominado como

    Cadastro nico para Programas Sociais13(Cadnico).

    11

    A seletividade rege-se pela inteno de eleger, selecionar, optar, definir quem deve passar pelapeneira ou pelo crivo. Os objetivos da seletividade no so estabelecer e stratgias para ampliar oacesso aos direitos, mas definir regras e critrios para escolher, para averiguar minuciosa ecriteriosamente, quem vai ser selecionado, quem vai ser eleito para ser includo (Boschetti, 2003, p.85-86).

    12A focalizao, [...] no pode ser entendida como sinnimo de seletividade. [...] focalizar significa porem foco, fazer voltar a ateno para algo que se quer destacar, salientar, evidenciar. [...] Focalizar,nessa direo, no restringir o acesso aos direitos, mas no universo atendido, diferenciar aquelesque necessitam de ateno especial para reduzir as desigualdades. A focalizao passa a sernegativa quando, associada seletividade, restringe e reduz as aes a poucos e pequenos grupos,desconsiderando o direito de todos (Boschetti, 2003, p. 86).

    13

    O Cadastro nico conhecido como Cadnico, foi criado em 2001, regulamentado pelo Decreton 6.135/07 e coordenado pelo Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS), deveser obrigatoriamente utilizado para seleo de beneficirios e integrao de programas sociais doGoverno Federal.

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    No decorrer do capitulo 4 item 4.3.3 do presente trabalho, o Cadnico ser

    abordado detalhadamente, bem como sua contribuio para a incluso das famlias

    cadastradas em programas e benefcios socioassistenciais associados a este,

    impreterivelmente os programas de transferncia de renda.

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    4 OS PROGRAMAS DE TRANSFERNCIA DE RENDA NO BRASIL E O BOLSA

    FAMLIA

    Neste captulo abordaremos um breve histrico de como surgiram os Programas de

    Transferncia de Renda14no Brasil. Evidenciando o Programa Bolsa Famlia (PBF),

    criado em 2003, um dos principais programas de transferncia de renda que vem se

    destacando at o presente momento. Dentro deste programa explicitaremos os

    critrios de seleo e incluso, salientando as condicionalidades e valores do

    benefcio, com precisa apresentao dos programas que esto relacionados ao PBF,

    discorrendo tambm sobre o Cadastro nico para Programas Sociais do Governo

    Federal (Cadnico). Vale lembrar, que este captulo foi descrito com bases nas

    informaes do MDS sem pontuar uma anlise crtica sobre o programa, na qual

    ser discutida na anlise dos dados deste trabalho.

    4.1 BREVE HISTRICO DOS PROGRAMAS DE TRANSFERNCIA DE RENDA NO

    BRASIL

    Os marcos iniciais de constituio de um sistema de proteo social no Brasil

    situam-se no perodo compreendido entre 1930 e 1943. Sendo um momento

    assinalado por grandes modificaes socioeconmicas, pela passagem do modelo

    de desenvolvimento agro-exportador para um modelo urbano-industrial.

    Esse Sistema de Proteo Social progrediu rumo a sua consolidao e expanso

    durante as dcadas de 1970 e 1980, sobre a orientao do autoritarismo da ditadura

    militar, fazendo com que a expanso dos programas e servios sociais passasse a

    funcionar como compensao represso e ao arbtrio. Desenvolver-se os

    14Segundo Santana (2007, p. 3), [...] Os programas de transferncia de renda surgiram como umaalternativa para combate a pobreza. Eles foram concebidos segundo a ideia de que o beneficirio tema autonomia para definir como melhor utilizar o benefcio por saber quais so suas necessidadesmais urgentes [...].

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    programas sociais como uma espcie de compensao pela represso aberta

    direcionada aos movimentos sociais e aos movimentos sindicais (SILVA, 2004).

    Expressando a inteno de enfrentar a pobreza absoluta15, foi instituda a poltica de

    renda mnima ou de manuteno de renda, denominada como poltica de

    transferncia de renda.

    Considerando que a pobreza no que diz respeito ausncia de renda, traz

    consequncias para formulao e criao de polticas sociais de transferncia de

    renda no Brasil, adotaremos como significado no presente estudo o conceito de

    pobreza agregado proposio das polticas sociais brasileiras que entendido

    apenas como ausncia de renda, sem que sejam consideradas as determinaes

    estruturais geradoras da pobreza estrutural e da desigualdade social.

    As polticas sociais se restringem a permanncia e controle da pobreza, ao mesmo

    tempo em que refora a legitimao do Estado. Mantm um estrato de pobres no

    limite de sua sobrevivncia, inserido no circuito do consumo marginal. Nesse

    processo, questes estruturais fundamentais, como a elevada concentrao dapropriedade e a extrema situao de desigualdade social, to marcantes e histricas

    na sociedade brasileira, so secundarizadas, criando-se a iluso de que a pobreza

    pode ser erradicada pela poltica social, mediante programas de transferncia de

    renda (SILVA, 2010, p.8).

    Anteriormente a implementao dos programas de transferncia de renda, j haviam

    vrios debates sobre quem deveria ser os beneficiados pelas polticas detransferncia de renda e se essas devem ou no ser condicionadas, esse debates

    permanecem at os dias atuais, existindo nestes, trs concepes a serem

    destacadas.

    15A situao de pobreza absoluta ocorre quando um indivduo ou grupo se encontra num nvel decondio abaixo do rendimento mnimo, o que no lhes permite comprar bens essenciais como

    alimentos e gua potvel.Texto elaborado com base nas informaes contidas na enciclopdia livreWikipdia. Disponvel em:. Acesso em: 12. nov.2012.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Pobreza_absolutahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pobreza_absoluta
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    Cunha (2009, p. 333-334) afirma que:

    A primeira delas entende que as transferncias de renda devem ser

    universais, garantidas como direito de todos os cidados sem levar emconta a renda, e sem a necessidade de contrapartida por parte dosbeneficirios. Portanto, as transferncias seriam incondicionais. Essaconcepo se materializa em proposta como as de renda bsica ou rendade cidadania. Uma segunda concepo aquela que entende que devemse restringir queles extremamente pobres ou incapazes de prover suaprpria sobrevivncia. Tal concepo no se restringe transferncia derenda, mas tambm entende que a atuao do Estado em reas comosade, educao, assistncia social, dentre outras, tambm devem serresiduais. J o terceiro grupo, entende que polticas para reduo dapobreza e das desigualdades pressupem uma opo do Poder Publico emprivilegiar os mais pobres. Para eles preciso um tratamento diferenciado,de forma a reduzir desigualdades vividas e, no futuro, promover a igualdade.

    As experincias brasileiras no que diz respeito ao carter dos programas de

    transferncia de renda inspiram-se em duas experincias, segundo Silva (2004):

    uma orientao de programas com carter compensatrios e residuais

    fundamentados nas propostas liberais/neoliberais, norteados pelo entendimento que

    o desemprego e a excluso so inevitveis, esses programas so orientados com

    base em focalizar a extrema pobreza, buscando estimular o sujeito a prover sua

    autonomia enquanto consumidor, sem considerar o crescimento do desemprego e a

    distribuio de renda no pas, essa distribuio de renda mnima, que no garante

    na ntegra uma alternativa ou sada da linha da pobreza, isso ocorre para que no

    acontea desestmulo na busca pelo trabalho.

    Outra orientao parte de pressuposto de programas que visam redistribuio de

    renda orientada por uma ideologia de cidadania universal, possuem enquanto

    objetivo alcanar a autonomia do cidado, e orientam-se por uma focalizao

    positiva, visando uma vida digna para todos, tendo como impacto a incluso social.

    As primeiras experincias de programas de transferncia de renda no Brasil tiveram

    incio em nvel local, no entanto, foi em mbito nacional que iniciou-se a discusso e

    adeso de uma proposta do Programa de Garantia de Renda Mnima (PGRM)16,

    proferida pelo Senador Eduardo Suplicy no Senado Federal, que foi aprovada em 16

    de dezembro de 1991. O ento Senador Suplicy, justificava e orientava o seu PGRM

    16Para maior detalhamento sobre a Renda Bsica de Cidadania apresentada pelo senador Suplicy,verificar livro Renda de Cidadania: a sada pela porta.Cortez. 2002.

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    com base no art. 3, inciso III da Constituio Federal de 1988, no qual descreve a

    erradicao da pobreza e da marginalizao e a reduo das desigualdades sociais

    e regionais.

    O PGRM tinha como proposta a transferncia de renda mnima atravs do imposto

    de renda negativo para beneficiar todos os residentes no pas, que no tinham como

    satisfazer suas necessidades mnimas bsicas. Para ter direito e acesso ao

    beneficio era preciso ter idade acima de 25 anos e possuir uma renda menor

    naquele perodo, correspondente a 45 mil cruzeiros, equivalente segundo Silva

    (2004) cerca de 2,25 salrios mnimos.

    O PGRM iniciaria no ano de 1995, com idosos acima de 60 anos, finalizando a

    implantao no ano de 2002, incluindo todos os cidados maiores de 25 anos.

    Porm o programa sofreu muitas crticas e no se efetivou da forma que foi

    proposto.

    As polticas de transferncia de renda passam a designar tarefas por opo do

    poder pblico, aproximadamente na dcada dos anos 90, a partir do momento emque as polticas sociais passaram a acrescentar em sua formulao e considerar a

    pobreza tambm como questo social e coletiva.

    Foram vrias experincias que serviram de referncias para o aperfeioamento e

    ampliao dos programas de transferncia de renda, mas no ano de 1995 que se

    obteve um marco inicial atravs da criao do PGRM, com programas municipais

    implantados em certos estados, de acordo com SILVA, YASBEK, GIOVANNI (2004),dentre as principais destacamos:

    Experincias pioneiras de Campinas (SP), Ribeiro Preto (SP), Santos (SP) e

    Braslia (DF), denominados Programa de Garantia de Renda Familiar Mnima

    (PGRM) e o programa Bolsa Escola, com transferncia de recursos a famlias que

    garantissem a frequncia escolar de suas crianas.

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    De acordo com Siqueira (2008, p. 45):

    [...] a primeira experincia de um programa de governo em nvel nacional,com carter de Transferncia de Renda, foi o Programa Bolsa Escola,quando o presidente Fernando Henrique Cardoso em seu segundo mandato(1999-2002), influenciado pelas experincias dos municpios pioneiros,adotou em seu governo os programas de transferncia de renda parafamlias pobres.

    Eram 7 (sete) os principais programas federais17at maro de 2003: o Bolsa Escola

    institudo pela Lei n 10.219, de 11 de abril de 2001; o Bolsa Alimentao

    assegurado pela Medida Provisria n 2.206, de 06 de setembro de 2001; o

    Programa de Erradicao do Trabalho Infantil (PETI) garantido pela Portaria n 458,

    de 04 de outubro de 2001; o Auxlio Gs adotado pelo Decreto n 4.102, de 24 de

    janeiro de 2002; o Carto Alimentao conforme a Lei n 10.689, de 13 de junho de

    2003; e o Projeto Agente Jovem de Desenvolvimento Social do Ministrio de

    Assistncia Social e Humano18 e o Benefcio de Prestao Continuada (BPC)19

    (SIQUEIRA, 2008, p. 45).

    Vejamos algumas caractersticas dos chamados Programas Remanescentes20(Bolsa

    Escola, Bolsa Alimentao, Auxlio Gs e Carto Alimentao), do Programa de

    Erradicao do Trabalho Infantil (PETI)21, do Projeto Agente Jovem de

    17 Todos esses programas estavam destinados a um pblico especfico, cujo corte de renda, parafixao da linha da pobreza, era de salrio mnimo de renda per capita, com exceo do BPC quedetermina uma rendaper capitaainda menor, ou seja, inferior a do salrio mnimo.

    18Compreendido como uma conjugao da Bolsa Agente Jovem e da ao socioeducativa, deveriapromover atividades continuadas que proporcionem ao jovem, entre 15 e 17 anos, experinciasprticas e o desenvolvimento do protagonismo juvenil, fortalecendo os vnculos familiares ecomunitrios e possibilitando a compreenso sobre o mundo contemporneo com especial nfasesobre os aspectos da educao e do trabalho.

    19Para maior detalhamento sobre o BPC, verificar o capitulo 3 deste trabalho.

    20CUNHA, R. Concepo e gesto da proteo social no contributiva no Brasil. Braslia, Ministriodo Desenvolvimento Social e Combate a Fome. UNESCO, 2009, p. 344.

    21CUNHA, R. Concepo e gesto da proteo social no contributiva no Brasil. Braslia, Ministriodo Desenvolvimento Social e Combate a Fome. UNESCO, 2009, p. 345.

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    Desenvolvimento Social do Ministrio de Assistncia Social e Humano e do

    Benefcio de Prestao Continuada (BPC):

    1) Bolsa-Escola: criado em 2001 por iniciativa do Ministrio da Educao. O

    pblico-alvo era formado por crianas entre 6 e 15 anos de idade onde as

    famlias possuam rendaper capita abaixo de R$ 90,00. O valor do benefcio

    era de R$ 15,00 por criana, com limite mximo de 3 benefcios no valor de

    R$ 45,00 (trs crianas). Em termos de condicionalidades, as crianas

    beneficirias deviam ter frequncia s aulas de pelo menos 85%. A maior

    parte das crianas beneficiadas foram cadastradas no Cadastro do Bolsa

    Escola (Cadbes).

    2) Bolsa Alimentao: criado em setembro de 2001 por iniciativa do Ministrio

    da Sade. Tinha como objetivo combater a mortalidade infantil em famlias

    com renda per capita mensal de R$ 90,00. O valor do benefcio era de R$

    15,00 por criana entre 0 e 6 anos ou gestantes at um mximo de R$ 45,00

    (trs crianas). Em termos de condicionalidades, a famlia se comprometeria a

    atualizar o carto de vacinao para crianas entre 0 e 6 anos, e, para as

    mes, a fazer visitas regulares ao posto de sade para o pr-natal e enquantoestivesse amamentando.

    3) Auxlio Gs: criado em dezembro de 2001 como medida compensatria para

    o fim do subsdio ao gs de cozinha. Destinado a famlias com renda mensal

    per capitade at salrio mnimo, no impunha nenhuma condicionalidade

    famlia a no ser estar registrada no Cadastro nico. Quanto ao valor do

    benefcio, este era de R$ 7,50 mensais, pagos bimestralmente. O Ministrio

    de Minas e Energia era responsvel por sua administrao.4) Carto Alimentao: criado em 2003, consiste em uma transferncia de R$

    50,00 para famlias com uma renda familiar per capita menor do que metade

    do salrio mnimo por 6 meses podendo tal perodo ser prorrogado, at o

    limite mximo de 18 meses. O objetivo era lutar contra a insegurana

    alimentar enquanto outras medidas aes estruturantes seriam

    implementadas a fim de assegurar que as famlias deixariam de padecer de

    insegurana alimentar. O programa no possua condicionalidades, e sua

    implementao ficou a cargo dos Comits Gestores.

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    5) Programa de Erradicao ao Trabalho Infantil (PETI):foi criado em 1996e

    consiste na transferncia de renda para famlias que possuem crianas e

    adolescentes, trabalhando ou em risco de trabalhar em atividades

    consideradas perigosas e prejudiciais sade. O programa tambm prev o

    repasse de verbas para que os municpios desenvolvam atividades

    socioeducativas e de convivncia. O valor do benefcio de R$ 25,00 por

    criana nas reas rurais e R$ 40,00 nas reas urbanas. As famlias se

    comprometem a no permitir que crianas menores de 16 anos trabalhem e

    que elas tenham pelo menos 75% de presena na escola.

    6) Outro Programa de Transferncia de Renda, com mbito nacional de

    responsabilidade do Ministrio de Assistncia Social, foi o Agente Jovem de

    Desenvolvimento Social e Humano22 criado em 2001, tinha como pblico

    alvo jovens de 15 17 anos de idade, preferencialmente aqueles que

    estavam evadidos do sistema escolar; membros de famlias pobres; com

    renda per capita (por pessoa) de at meio salrio mnimo; em situao de

    risco social, participantes de outros programas sociais como PETI e de

    atendimento a explorao sexual; em liberdade assistida; sob medida

    protetiva; ou jovens com alguma deficincia. O valor do beneficio era deR$65,00 reais mensais pago diretamente ao jovem no perodo de doze

    meses. O projeto propunha oferecer atividades de capacitao aos jovens

    preparando-os para o mercado de trabalho futuro, possibilitando a

    permanncia dos jovens no sistema de ensino, com objetivos de

    fortalecimento de vnculos familiares e comunitrios, e contribui para reduo

    de ndices de violncia, uso de drogas, Doenas Sexualmente Transmissveis

    (DSTs), Sndrome da Imunodeficincia Adquirida (AIDS).7) Em relao ao Benefcio de Prestao Continuada (BPC)23 o nico

    Programa de Transferncia de Renda inscrito na Constituio Federal de

    1988 e regulamentado por lei. um programa de poltica social, garantido

    pela Constituio Federal de 1988, no captulo II da Assistncia Social, seo

    22 SIQUEIRA, Alasa de Oliveira. Programa Bolsa Famlia (PBF): autonomia ou legitimao dapobreza? Dissertao de Mestrado (Servio Social). Pontifcia Universidade Catlica do Rio de

    Janeiro (PUC - Rio), Rio de Janeiro, 2008.23 SIQUEIRA, Alasa de Oliveira. Programa Bolsa Famlia (PBF): autonomia ou legitimao dapobreza? Dissertao de Mestrado (Servio Social). Pontifcia Universidade Catlica do Rio deJaneiro (PUC - Rio), Rio de Janeiro, 2008.

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    IV, inciso V e regulamentada pela Lei Orgnica da Assistncia Social (LOAS),

    captulo I, artigo 2, inciso V (Lei n 8.742 de 7 de dezembro de 1993) e est

    em vigor desde 1 de janeiro de 1996. um benefcio de 01 (um) salrio

    mnimo destinado a pessoas idosas, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos

    (Estatuto do Idoso lei n 10.741, artigo 34 de 03 de outubro de 2003) e a

    pessoa portadora de deficincia, incapacitada para a vida independente e

    para o trabalho, cuja renda mensal per capita seja inferior a (um quarto) do

    salrio mnimo.

    J no ano de 2005, ao identificar que o PBF e o PETI tinham objetivos em comum e

    atendiam as famlias com perfis similares o governo decidiu pela sua integrao. As

    crianas em situao de trabalho infantil alm de cumprir as condicionalidades do

    PBF, precisavam exercer uma jornada de atividades socioeducativas, esportivas e

    culturais, de cidadania, reforo escolar, dentre outras.

    4.2 JUSTIFICATIVAS PARA UNIFICAO DOS PROGRAMAS NACIONAIS DE

    TRANSFERENCIA DE RENDA

    importante verificar qual vem sendo a argumentao e justificativas que

    demandam as necessidades de unificao dos programas de transferncia de renda

    no Brasil24, essa questo foi colocada a partir de um relatrio e um diagnstico sobre

    os programas sociais em desenvolvimento no Brasil, elaborado durante a transio

    do governo Fernando Henrique Cardoso para o governo de Luiz Incio Lula da Silva,

    no terceiro trimestre de 2012.

    A concluso desse relatrio foi de que era necessrio que houvesse a unificao

    desses programas. Tal relatrio afirma que a poltica compensatria representada

    pela transferncia de renda que permite a sobrevivncia imediata de famlias

    extremamente pobres e outra de acesso a polticas universais, que possui a ideia

    anteriormente definida de oferecer a autonomia dessas famlias, no foi

    devidamente implementada em decorrncia de problemas identificados. Foram

    24Os programas de Transferncia de Renda do Governo Federal foram considerados no item 4.1.

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    levantadas indicaes de problemas e sugestes para superao da situao

    identificada.

    Dentre as principais justificativas para a unificao dos programas de transferncia

    de renda, Silva, Yazbek, Giovanni (2004, p. 132-133) apontam:

    Existncia de programas concorrentes e sobrepostos nos seus objetivos eno sue pblico alvo, como ocorre com os programas Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentao e PETI, implementados por trs Ministrios distintos(Educao, Sade, Assistncia Social), gerando s vezes, tratamentodiferenciado, inclusive no valor do benefcio, com competio entreinstituies;

    Ausncia de uma coordenao geral dos programas [...] gerandodesperdcios de recursos, cuja a conseqncia maior uma limitadaefetividade nos resultados decorrentes desses programas;Ausncia de planejamento gerencial dos programas [...];

    [...] falta estratgia mais ampla que garanta autonomizao das famliasaps o desligamento dos programas, verificando-se a no vinculaosistemtica dos programas de transferncia de renda com outrosprogramas, projetos e aes, como projetos de desenvolvimento localcooperativas banco do povo e outros que ofeream opes reais para aautonomia das famlias. Nesse sentido, esses programas se apresentamcomo um fim em si mesmos, no apontando para real superao dasituao de pobrez