as drogas e a indústria da construção

26
Página 1 de 26 As drogas e a Indú stria da Construção Engº Antonio Fernando Navarro, M.Sc. 1 Resumo O objetivo do artigo é o de apresentar uma série de considerações envolvendo o uso ou o abuso de drogas, sejam essas lícitas ou não em uma construção, e o impacto de isso representa para o próprio trabalhador e para a empresa. As drogas, lícitas e ilícitas sempre foram “toleradas” em muitas empresas, principalmente naquelas onde os empregados ficavam alojados, quase sempre obras distantes, como de construção de estradas ou linhas férreas, hidroelétricas e demais obras de grande porte. As cervejinhas na hora do almoço, ou no final da tarde, em uma roda de violeiros ou durante o jogo de cartas, o cigarro constantemente, os remédios para vários fins, a maconha nos finais do dia, a cocaína (carreirinha) nos embalos dos finais de semana, o crack, sem deixar “bandeira”, quase sempre em “baladas” ou encontros com os amigos nas sextas-feiras e sábados, enfim, as empresas entendiam que os funcionários se drogavam de alguma maneira, e de certo modo, terminavam aceitando essa realidade, enquanto não prejudicasse as atividades de cada um. E houvesse problemas a solução era uma só – demissão. Dificilmente uma dessas empresas investia no tratamento do trabalhador, conversava sobre o assunto internamente ou tinha assistentes sociais que amparassem os mesmos. Drogado era sinônimo de sem-vergonhice. Com o tempo, a falta da necessidade de alojamentos ou de canteiros de obras distantes, as cidades mais próximas passaram a abrigar os contingentes de trabalhadores. O que então não era o interesse das empresas, de controlar ou orientar os trabalhadores, passou a fazer menos sentido ainda. Quando jovens e trabalhando em uma grande construtora, ouvimos do gerente: “o fulano bebe muito quando sai daqui a noite, mas no outro dia trabalha direitinho”. O cigarro, até hoje é tolerado. Há empresas que adotam os “fumódromos”. Outras procuram evitar contratar empregados fumantes. Quanto ao emprego das drogas ilícitas esse controle passa a ser difícil, pois que o uso das mesmas passa ao largo do perímetro de responsabilidade e controle das empresas. Isso se dá em empresas de grande porte, com atuação notadamente em atividades de construção e montagem. Nas pequenas empreiteiras, como o controle é menos rigoroso ou inexistente, as chances do trabalhador fazer uso das drogas passam a ser maiores. Muitas dessas empresas, até por não terem condições de oferecerem almoço dentro da obra fornecem os tickets para que os empregados comprem suas refeições. Muitos substituem a comida pelo cigarro e o álcool, droga mais comumente utilizada nas obras. Nas investigações e análise de ocorrências de acidentes do trabalho, o uso de drogas pelos empregados, como causa básica ou raiz, não é investigado. Assim, a distração do trabalhador provocando a queda do mesmo não pode ter sido provocada pelo uso de drogas, que turvam sua atenção ou reduzem seus níveis de percepção? Como em muitas empresas, notadamente as pequenas os acidentes não são investigados, mas simplesmente registrados, as empresas não apuram corretamente o que causou o acidente, apenas os registram. 1 Antonio Fernando Navarro é graduado em física, engenharia civil, engenharia de segurança do trabalho, mestrado em saúde e meio ambiente, doutorando em engenharia civil e especialista em gestão de riscos, professor da Universidade Federal Fluminense. [email protected]; [email protected]

Upload: antonio-fernando-navarro

Post on 10-Jul-2015

139 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Página 1 de 26

AsdrogaseaIndustriadaConstruçao

Engº Antonio Fernando Navarro, M.Sc.1

Resumo

O objetivo do artigo é o de apresentar uma série de considerações envolvendo o uso ou o abuso de drogas,

sejam essas lícitas ou não em uma construção, e o impacto de isso representa para o próprio trabalhador e

para a empresa.

As drogas, lícitas e ilícitas sempre foram “toleradas” em muitas empresas, principalmente naquelas onde os

empregados ficavam alojados, quase sempre obras distantes, como de construção de estradas ou linhas

férreas, hidroelétricas e demais obras de grande porte. As cervejinhas na hora do almoço, ou no final da

tarde, em uma roda de violeiros ou durante o jogo de cartas, o cigarro constantemente, os remédios para

vários fins, a maconha nos finais do dia, a cocaína (carreirinha) nos embalos dos finais de semana, o crack,

sem deixar “bandeira”, quase sempre em “baladas” ou encontros com os amigos nas sextas-feiras e

sábados, enfim, as empresas entendiam que os funcionários se drogavam de alguma maneira, e de certo

modo, terminavam aceitando essa realidade, enquanto não prejudicasse as atividades de cada um. E

houvesse problemas a solução era uma só – demissão. Dificilmente uma dessas empresas investia no

tratamento do trabalhador, conversava sobre o assunto internamente ou tinha assistentes sociais que

amparassem os mesmos. Drogado era sinônimo de sem-vergonhice.

Com o tempo, a falta da necessidade de alojamentos ou de canteiros de obras distantes, as cidades mais

próximas passaram a abrigar os contingentes de trabalhadores. O que então não era o interesse das

empresas, de controlar ou orientar os trabalhadores, passou a fazer menos sentido ainda. Quando jovens e

trabalhando em uma grande construtora, ouvimos do gerente: “o fulano bebe muito quando sai daqui a

noite, mas no outro dia trabalha direitinho”.

O cigarro, até hoje é tolerado. Há empresas que adotam os “fumódromos”. Outras procuram evitar

contratar empregados fumantes. Quanto ao emprego das drogas ilícitas esse controle passa a ser difícil,

pois que o uso das mesmas passa ao largo do perímetro de responsabilidade e controle das empresas. Isso

se dá em empresas de grande porte, com atuação notadamente em atividades de construção e montagem.

Nas pequenas empreiteiras, como o controle é menos rigoroso ou inexistente, as chances do trabalhador

fazer uso das drogas passam a ser maiores. Muitas dessas empresas, até por não terem condições de

oferecerem almoço dentro da obra fornecem os tickets para que os empregados comprem suas refeições.

Muitos substituem a comida pelo cigarro e o álcool, droga mais comumente utilizada nas obras.

Nas investigações e análise de ocorrências de acidentes do trabalho, o uso de drogas pelos empregados,

como causa básica ou raiz, não é investigado. Assim, a distração do trabalhador provocando a queda do

mesmo não pode ter sido provocada pelo uso de drogas, que turvam sua atenção ou reduzem seus níveis

de percepção? Como em muitas empresas, notadamente as pequenas os acidentes não são investigados,

mas simplesmente registrados, as empresas não apuram corretamente o que causou o acidente, apenas os

registram.

1 Antonio Fernando Navarro é graduado em física, engenharia civil, engenharia de segurança do trabalho, mestrado

em saúde e meio ambiente, doutorando em engenharia civil e especialista em gestão de riscos, professor da

Universidade Federal Fluminense. [email protected]; [email protected]

Página 2 de 26

Essa questão de associação das drogas aos acidentes e do emprego de drogas pelos empregados durante o

horário de serviço, mais notadamente nas cidades, sempre foi um Tabu, pois que se trata de assunto

complexo e não aceito por grande parte das empresas. Isso se deve ao fato do uso comprovado de drogas

em um canteiro de obras, principalmente quando isso é causa de acidentes, para não dizer que também

afeta a qualidade dos serviços, termina prejudicando a imagem das empresas. Se empregarmos as técnicas

de associação dos acidentes em função das práticas de desvios, como a pirâmide acidentes, e ficarmos

cinco minutos observando o andamento de uma obra civil do outro lado da calçada, iremos detectar

inúmeros desvios ocorridos. Se as pirâmides estão corretas e as técnicas adequadas, por que será que

nessas obras a quantidade de registro de acidentes é sempre muito baixa?

Será que nas fotos a seguir, algumas hilárias, pode-se dizer que o trabalhador assumiu a postura

fotografada porque estava fazendo ou fez uso de drogas? (Fotos do arquivo pessoal de AFANP)

Página 3 de 26

Observando as imagens anteriores fica difícil dizer-se se essa natural e espontânea exposição aos riscos é

devida às drogas, ou se não se trata mais de uma questão de cultura de segurança do trabalhador e da

empresa.

O contingente de pessoas viciadas hoje, com qualquer tipo de drogas lícitas ou não, tem crescido em todos

os segmentos. A disponibilidade das drogas aos viciados é cada vez mais fácil. Na televisão vê-se que as

cracolândias estão presentes em todas as grandes cidades. Trata-se de droga de fácil aquisição, baixo custo

e pode ser facilmente disfarçada quanto ao transporte. Nesse ponto, os traficantes ganham, já que não há

revistas em nenhuma das obras que tivemos presentes ou que visitamos.

Por essa razão, a questão para nós passou a ter maior relevância. Como cresce o contingente de usuários,

em todas as classes sociais e intelectuais, atingindo mais as classes menos favorecidas, e como nas obras,

principalmente nas atividades “menos nobres”, como a de serventes, e pedreiros, há pessoas que fazem

parte dessas classes sociais atingidas pelo mal do século, por que não considerar que nos canteiros de

obras possam estar presentes as drogas ou essas são empregadas?

Desenvolvimento do Tema

Durante um período de dois anos teve-se a oportunidade de avaliar e conviver com os profissionais de uma

construtora, em um nível de interação muito próximo, pois que havia conversas e orientações. Essa

primeira aproximação se deu em decorrência de se perceber que o nível de terceirização das atividades era

alto e que os níveis de percepção de riscos pelos trabalhadores era baixo. O conjunto de fotos anteriores

ressalta essa afirmativa.

A princípio, traçamos uma relação entre terceirização e percepção, mas não conseguimos chegar a uma

correlação, que poderia validar um conceito bastante difundido, que os acidentes tendem a ocorrer mais

em empresas com baixo nível de percepção de riscos pelos trabalhadores.

Os pesquisadores buscam essas relações no afã de entender as origens dos acidentes, ou “causas raiz”.

Todavia isso não tem sido tão fácil assim, já que são inúmeros os fatores envolvidos com a ocorrência dos

acidentes.

Podemos afirmar, sem receio, que o Acidente é o resultado de um momento, construído ao longo de um

tempo, ou resultado de ações repetitivas. Que, em última análise, ainda não foram “traçadas” pelos

Página 4 de 26

especialistas. O tema é tão importante que gerou milhares de artigos e a criação de metodologias, como a

do Queijo Suíço, a dos Dominós, entre outras. São metodologias que buscam uma explicação. Contudo, em

sua maior parte, a explicação está no próprio Homem, ou na vítima, que assume comportamentos fora de

padrões estabelecidos ou até mesmo bizarros.

Em uma fotografia tirada de uma obra, a recomendação do SMS era a de que os trabalhadores que

executassem atividades em altura estivessem com os talabartes de seus cintos de segurança presos à linha

de vida. O trabalhador sobre a um beiral para revestir uma alvenaria, está fazendo uso do cinto de

segurança com talabarte. Mas, por não encontrar uma linha de vida prende o gancho do talabarte a um

orifício do tijolo de argila. Assim, entendia ele, não seria chamado a atenção pelo técnico de segurança que

inspecionava as atividades lá em baixo. Seria essa uma atitude bizarra? Essa atitude foi fruto do medo de

perder o emprego? O trabalhador realmente sabia como deveria proceder? Por não termos todas as

respostas, simplesmente registramos fotograficamente a situação, conforme a seguir. Posteriormente, em

conversa com o trabalhador, de pouco conhecimento, semi alfabetizado, percebemos que para ele, o medo

de perder o emprego era maior do que o medo de cair de uma altura de mais de 15 metros. Na verdade, foi

uma opção consciente, onde o trabalhador comparou os níveis de medo e tomou sua decisão.

No resumo do artigo publicado sob o título Alcoolismo e Trabalho: Como estão relacionados?, da

Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários/Programa de Atendimento Integral ao Alcoolista e

Outros Dependentes Químicos /PROBEX , da Universidade Federal da Paraíba, os autores comentam:

As novas exigências do capitalismo globalizado acarretam múltiplos riscos à sociedade, dentre os quais a

busca de novas motivações ao uso do álcool e outras drogas, responsável pelo que já se constitui um

problema internacional de saúde pública. No trabalho, o consumo de álcool “auxilia” no enfrentamento de

situações perigosas e de tensões, insensibilizando contra o que faz sofrer. O presente estudo procurou

rastrear a literatura existente que aborda a relação entre trabalho e alcoolismo. A principal base teórica sob

a qual nos apoiamos é a Psicodinâmica do Trabalho, cujo autor mais conhecido é Christophe Dejours. Por

meio dela, buscamos acessar a relação psíquica com o trabalho, através da investigação das fontes de

sofrimento e prazer, das defesas acionadas para enfrentar os constrangimentos do trabalho. Os resultados

mostram que algumas situações específicas do trabalho favorecem o aumento do uso do álcool, a saber:

disponibilidade do álcool; pressão social para beber; altos ou baixos rendimentos; tensão, estresse e

perigo; volume de trabalho insuficiente ou excessivo; invisibilidade do trabalho; pressão quanto a horários

e metas; condições climáticas adversas; isolamento social; trabalho noturno. Verificou-se ainda que, no

Brasil, o alcoolismo é o terceiro motivo para faltas e a causa mais frequente de acidentes no trabalho.

Outros efeitos apontados são: concessões de auxílio-doença, atrasos, queda de produtividade, conflitos

interpessoais. Esses dados constituem um impulso importante para que as organizações aprofundem esta

problemática, verificando em que medida fatores organizacionais podem estar criando um ambiente

favorável ao alcoolismo. Coloca-se como urgente a necessidade de programas voltados à saúde do

trabalhador. Na UFPB, a resposta a esse apelo veio em 1993, com a criação do Programa de Atendimento

Integral ao Alcoolista e outros Dependentes Químicos, originado numa demanda da Superintendência de

Recursos Humanos, preocupada com os servidores que apresentavam problemas em função do alcoolismo.

Considera-se que os aspectos abordados impulsionam a reflexões mais profundas, a fim de que novas

ações possam ser planejadas, especificamente referentes à prevenção do alcoolismo no âmbito do

trabalho.

Quantas e quantas vezes, em uma análise de ocorrência de acidentes, ou investigação de acidentes, não

poderíamos ter chegado a conclusões desse tipo? Más, as interrogações ainda são grandes. O trabalhador

diria a verdade? O Técnico de Segurança admitiria que o trabalhador não estivesse preparado para a

Página 5 de 26

função? O encarregado assumiria que para ele a entrega da obra era mais importante do que a segurança

do trabalhador?

Talvez as respostas fossem não a todos os quesitos. Mas então, porque a questão “drogas”. Será essa

importante? Cremos que sob muitos aspectos, o ambiente de onde os trabalhadores menos esclarecidos,

os disponíveis, são os mesmos daqueles onde o uso de drogas é uma questão normal. Se ele convive com

essa situação será que não faz uso também? A droga pode ter influenciado em suas escolhas?

Foto nº1 do arquivo pessoal de AFANP

Na fotografia anterior, o funcionário, após o almoço, e antes de retornar para a obra, ao ser questionado na

pesquisa por que havia feito o que fez, respondeu que por medo do encarregado. Quando lhe foi explicado

os riscos, solicitou a um colega que prendesse o gancho a um pedaço de ferro do outro lado da parede.

Foto nº 2 do arquivo pessoal de AFANP

Nesta fotografia o operário conversa com seu colega sobre o posicionamento da barra de ferro do outro

lado da parede, ainda por ser chapiscada e rebocada.

Esses casos em obras de curta duração ou atividades de curta duração, quase sempre terceirizadas, não

chega a ser incomum. O que de comum se apresenta é a facilidade com que os trabalhadores se expõem

aos riscos, sem noção. Será? Em algumas das entrevistas os respondentes declaravam que para eliminar o

medo, e como sabiam que poderiam cair, utilizavam algum tipo de droga que os “dava mais coragem”. A

partir daí, nosso rumo foi alterado para a identificação e avaliação do nível de emprego de drogas por parte

dos empregados.

Página 6 de 26

O que leva um trabalhador a buscar a droga em seu ambiente de trabalho

A avaliação das questões que levam um trabalhador a assumir, intencionalmente posturas inseguras, fez

com que se pensasse que, além de causas normais, avaliadas pelos profissionais de segurança do trabalho,

como a capacidade de assimilar os treinamentos, e a cultura da empresa, poderiam existir outras não tão

aparentes assim.

Na pesquisa foram obtidos 400 depoimentos, de pessoas que trabalharam na obra durante o período

estudado, e que declararam não terem iniciado o uso de drogas na obra específica. Já a empregavam,

Entretanto, como ficavam mais expostos no local, “se seguravam” e evitavam usar as drogas. Contudo,

sempre que podiam davam suas “fugidinhas” para usar as drogas. Uma avaliação interessante é que o crack

praticamente inviabiliza o trabalhador para a continuidade de suas atividades. O álcool deixa o odor e pode

ser percebido pelos outros à distância. Ou seja, os usuários, para não se deixarem perceber terminam por

utilizar outras que despertem menos a atenção dos demais colegas. Seus amigos mais próximos sabem e

terminam fazendo um acordo de silêncio. Por outro lado, os encarregados, premidos pela pressão dos

donos das empresas em busca de entregar as obras o mais rapidamente possível, voltam suas atenções a

evolução das mesmas, e não como ou de que maneira as pessoas envolvidas executam suas atividades.

Também se identificou que pode existir uma permissividade do encarregado, quando percebe que o

empregado usa drogas mas consegue realizar suas tarefas, Isso às vezes é mais cômodo do que demiti-lo e

tentar contratar outro para o seu lugar, principalmente quando faltam no mercado pessoas experientes.

A questão da Percepção e Valores – o que é dito na bibliografia

Um fato preponderante surgiu quando um trabalhador, ao ser questionado sobre se tinha medo de

trabalhar em locais elevados, disse que sim. Contudo, para perder o medo usava drogas. A resposta não

pode ser traduzida como padrão, já que outros disseram que preferiam se concentrar no trabalho e não

olhar para baixo, do que olharem para baixo e não realizarem as tarefas, por medo. As fotos a seguir

ilustram bem o que se disse, do trabalhador focar sua atenção no trabalho, e apenas isso. Simples, não é?

Em condições onde se prega a excelência em SMS (Segurança, Meio Ambiente e Saúde) passa a ser

acintoso se pensar desta forma.

Página 7 de 26

Foto nº 3 do arquivo pessoal de AFANP

Tanto a foto 3 quanto a seguinte ilustram a montagem de ferragens de pilares. No primeiro caso, o

trabalhador encontra-se a menos de um metro da borda do prédio, a uma altura superior a 9 metros. Por

falta de opção, segundo ele, improvisou junto com o colega uma “plataforma de trabalho” e na única tábua

existente prepara a ferragem que será envolvida pela fôrma logo depois.

Foto nº 4 do arquivo pessoal de AFANP

Na foto, o trabalhador, pressionado pelo encarregado, e pela proximidade da chegada do caminhão

betoneira trazendo o concreto faz os últimos ajustes, pregando sarrafos adicionais. Também aqui, agora a

mais de 12 metros de altura, o que move o trabalhador é a rápida conclusão de sua tarefa, procurando ficar

de costas para o perigo. Nesse caso, durante a entrevista, o trabalhador disse-nos que iria embora da

empresa na semana seguinte, porque o encarregado não planejava a execução das atividades

compartilhando as informações com sua equipe. Assim, havia improvisos ou situações como a apresentada,

onde o trabalhador “irado” resolve desprezar sua segurança para se livrar de uma cobrança incômoda do

encarregado.

Para essa avaliação era importante se saber ou conhecer as distintas culturas existentes no ambiente da

obra, devido ao elevado nível de terceirização de atividades, em função das características das mesmas,

como também porque muitos desses serviços não chegavam a um mês de duração. Mudar culturas ou

criarem-se culturas de segurança não é das tarefas mais fáceis. Há empresas que tentam e nunca

conseguem, outras que as culturas que prevalecem são a de seus gerentes, e ainda aquelas cujas culturas

passam a ser moldadas conforme determina o anexo contratual específico sobre as questões de SMS, ou as

temidas políticas de incentivo á produtividade.

De acordo com NEAL & GRIFFIN (2000) os comportamentos de segurança podem ser de dois tipos

diferentes: o trabalhador pode desenvolver comportamentos de segurança porque é compelido a cumprir

regras de segurança, como usar os EPIs, e neste caso referimo-nos a complacência em segurança, ou

podem ser desenvolvidos porque o trabalhador se sente motivado em participar voluntariamente em

determinadas atividades relativas à segurança, como a participação voluntária em simulados de segurança.

Qualquer organização pode diminuir a sua taxa de sinistralidade através do simples cumprimento das

regras básicas de segurança (aplicação de proteções individuais e coletivas); implementação de

Página 8 de 26

metodologias de trabalho mais seguras (utilização de materiais menos perigosos e com menos riscos para a

saúde dos trabalhadores). Contudo, essas ações não são da mesma natureza. A primeira pressupõe uma

obrigatoriedade legal, enquanto que a segunda pressupõe uma atividade voluntária. (Oliveira, 2007)

Segundo PIDGEON (1998) a existência de muitas culturas de SMS em uma só organização sugere a ausência

de uma só cultura coerente de SMS. Por conseguinte, é questionável a adoção da mudança de cultura nas

organizações deve levar em conta as essas subculturas em vigor, como elas interagem entre elas e como

elas podem interagir com a nova cultura a ser implantada.

Em entrevistas realizadas com trabalhadores da área offshore Collinson (1999) concluiu que os

trabalhadores criticaram as tentativas das empresas de vincular a segurança com as avaliações de

desempenho, o que, em última análise, afetava os pagamentos. Foram relatadas situações de

trabalhadores penalizados pelos gerentes e supervisores por haverem sofrido acidentes. Essa vinculação da

segurança com a avaliação de desempenho transformou-se na ‘cultura de culpa’ fazendo com que os

trabalhadores ficassem relutantes em relatar os acidentes, lesões ou falhas cometidas por terceiros. Essas

avaliações foram feitas em empresas com cultura de segurança positiva e abrangente, com registros

positivos, vários prêmios e realizações em SMS. Os gerentes confiavam que 99,9% dos acidentes e quase

acidentes haviam sido relatados. As entrevistas, todavia revelaram que isso não acontecia, com cerca de 50

% dos entrevistados admitindo haverem escondido ou deixado de relatar os acidentes e quase acidentes

para salvaguardar sua avaliação.

A cultura de uma Organização pode ser vista como um conceito que descreve os valores compartilhados

que influenciam as atitudes e comportamentos dos empregados. A cultura de segurança é uma parte

integrante da cultura da Organização e é vista como aquela que afeta as atitudes e crenças dos acionistas

em termos do desempenho nessa área (Cooper, 2000).

Dedobbeleer e Beland (1998) em uma revisão de exames do clima de segurança encontraram a evidência

para dois fatores principais, um que eles identificaram como o compromisso da gerência. As atividades dos

gerentes incluem as percepções das atitudes e comportamentos da força de trabalho quanto aos aspectos

de SMS, das atividades de produção e demais áreas. Em alguns dos estudos, entretanto, o título da

gerência é usada de maneira ambígua, dificultando a correta avaliação por parte dos trabalhadores, que

não a “enxergam” de maneira correta. Cada nível gerencial tem papéis distintos dentro de uma organização

e a força de trabalho os percebe diferentemente.

Vassie e Lucas (2001) revelaram que a organizações que empregaram supervisores dentro do ambiente de

trabalho que tinham pouco envolvimento com as atividades de segurança, demonstraram problemas de

comunicação com a força de trabalho. Em contrapartida, quando os líderes tinham maior envolvimento a

comunicação era mais fluente. Descobriram também que de 35 organizações avaliadas 5 não tinham

qualquer processo formal de comunicação dos resultados das avaliações de risco para os empregados, que

é motivo de preocupação.

Página 9 de 26

Foto nº 5 do arquivo pessoal de AFANP

Encarregado fiscalizando as obras sem fazer uso de qualquer equipamento ou dispositivo de proteção

pessoal. Quem deveria estar dando o exemplo é justamente aquele que não está seguindo os

procedimentos e deixa-se ver por todos como uma pessoa “que não tem medo de altura”.

De acordo com Cooper (1998), o processo de comunicação pode ser melhorado pelas organizações através

de canais como: instruções de segurança, fóruns de segurança, caixa de sugestões, palestras e encontros,

quadros de aviso ou placas, boletins, e-mail e etc... Muitas vezes as empresas são boas na divulgação de

informações de cima para baixo, mas menos eficazes no estabelecimento da comunicação no mesmo nível.

Quanto a quadros de aviso esses precisam ser cuidadosamente controlados, pois podem ocorrer abusos.

Todavia, se eficientemente administrado é uma boa forma de comunicação no processo de segurança.

O' Dea e Flin (1998, citado por Flin e outros, 2000) avaliando o desempenho de 200 gerentes de

companhias de petróleo em atividades offshore, observaram que os gerentes se sentiam muito

sobrecarregados com as atividades administrativas e não tinham o tempo necessário para cuidar das

questões de SMS e manter a visibilidade e a participação dentro do local de trabalho, muito embora

sentissem que tais atitudes eram necessárias para a melhoria das condições de SMS.

Collinson (1999) observou que a principal influência numa organização é exercida pelo gestor de mais alto

posto no site. Altos executivos que normalmente baseiam-se em sites distintos podem até desenvolver e

aplicar as políticas de SMS da Organização, mas como, suas influências na condução da implementação

dessas políticas é menor. A presença dos mesmos, fisicamente, é um fator preponderante de sucesso, não

só para a implantação como também para a implementação das políticas.

Heinrich (1959, citado por Cooper, 1998) observa que as pressões para o aumento da produção podem

reforçar o comportamento inseguro dos funcionários, já que pode ser a única forma de se assegurar que

um trabalho seja feito. Verificou também que dos 330 atos inseguros observados, 229 conduziriam a um

prejuízo grave e um incidente importante. Assim, a inexistência de acidentes poderia induzir as chefias que

as preocupações da área de SMS talvez não fossem tão importantes assim. Nos períodos de maior pressão

pelo aumento da produção os gerentes que fecham os olhos para as questões de SMS podem estar

incentivando os empregados a empregarem artifícios para simplificar os processos que não estejam

previstos nos procedimentos, para atender aos prazos, assumindo com isso posturas inseguras. A atitude

do gerente que adota esse tipo de postura transmite uma imagem contraditória, minando confiança dos

empregados com as questões de SMS.

Página 10 de 26

Folkard (1999) verifica que os sucessivos de turnos noturnos aumentam a probabilidade de riscos de

acidentes industriais e devem ser reduzidos ao mínimo, por não mais de quatro noites. O tempo de

recuperação entre turnos deve ser pelo menos 48 horas, enquanto que a jornada de trabalho deve ser

limitada a 12 horas, visto que o desempenho humano tende a deteriorar-se além desse limite (HSE, 1999).

Dickety et al. (2002) verificaram que os trabalhadores regulares podem estar se envolvendo em acidentes e

desvios mais graves por se sentirem mais confiantes, encarando os desvios existentes em suas atividades

como normais. Nesses casos, os cursos de reciclagem e os retreinamentos podem modificar esses

comportamentos de riscos.

Cooper (1998) sugere que a baixa qualidade dos processos de organização e limpeza pode ser uma

consequência das pressões extremas de produção associadas a limitadas condições de armazenamento e

operação. Esses fatores podem fazer com que os empregados passem a acreditar que as atividades de

organização e limpeza não sejam tão importantes assim, principalmente porque trabalham em áreas com

normas de organização e limpeza precárias ou insuficientes e não enxergam as consequências dos sinistros

ocorridos.

De acordo com Hilder (1991) as empresas podem ser mais motivadas em manter os locais de trabalho

limpos e organizados se compreenderem que esse processo age positivamente sobre o processo de

produção, através da manutenção das áreas de trabalho limpas e organizadas, o recolhimento regular dos

desperdícios, resíduos e sucata, o armazenamento correto das matérias-primas e produtos acabados.

De acordo com Mearns e outros (1998) nas organizações costumam existir diferentes culturas de SMS,

desde as mais ortodoxas até as mais flexíveis, desde as baseadas exclusivamente nas normas até as

baseadas nas experiências dos profissionais de SMS. Existem muitas vezes grupos diferentes que têm seu

próprio estilo de gestão e diferentes níveis de preocupação para com as questões de segurança, As

diferentes culturas, ou subculturas podem variar de acordo com ocupação, idade, relutância ou aceitação

às mudanças e outros mais.

Para Pidgeon (1998) a existência de muitas culturas de SMS em uma só organização sugere a ausência de

uma só cultura coerente de SMS. Por conseguinte, é questionável a adoção da mudança de cultura nas

organizações deve levar em conta as essas subculturas em vigor, como elas interagem entre elas e como

elas podem interagir com a nova cultura a ser implantada.

Em entrevistas realizadas com trabalhadores da área offshore Collinson (1999) concluiu que os

trabalhadores criticaram as tentativas das empresas de vincular a segurança com as avaliações de

desempenho, o que, em última análise, afetava os pagamentos. Foram relatadas situações de

trabalhadores penalizados pelos gerentes e supervisores por haverem sofrido acidentes. Essa vinculação da

segurança com a avaliação de desempenho transformou-se na ‘cultura de culpa’ fazendo com que os

trabalhadores ficassem relutantes em relatar os acidentes, lesões ou falhas cometidas por terceiros.

Essas avaliações foram feitas em empresas com cultura de segurança positiva e abrangente, com registros

positivos, vários prêmios e realizações em SMS. Os gerentes confiavam que 99,9% dos acidentes e quase-

acidentes haviam sido relatados. As entrevistas todavia revelaram que isso não acontecia, com cerca de 50

% dos entrevistados admitindo haverem escondido ou deixado de relatar os acidentes e quase acidentes

para salvaguardar sua avaliação. Collinson (1999) sugere que a percepção dos funcionários e a cultura de

culpa teve um impacto maior sobre seu comportamento do que a cultura de segurança promovida pela

própria organização.

Página 11 de 26

Todos esses comentários apresentados tratam principalmente da cultura das empresas. Se essa é forte e

permeia toda a estrutura de pessoal os riscos de encontra-se alguém drogado passa a ser menor, pois não

deve fazer parte da cultura aceitar-se o uso de drogas no horário dos serviços, ou permitir-se que o

trabalhador visivelmente drogado inicie seu trabalho. Em uma pesquisa realizada de benchmarking em

estaleiros, voltados para a atividade de Óleo e Gás, identificamos apenas uma empresa que identificava o

empregado viciado e adotava políticas de recuperação do mesmo. Para uma empresa com esse nível de

responsabilidade, de construir embarcações e plataformas isso chega a ser raro. Em todas as demais,

também estrangeiras, adota-se a “Tolerância Zero” quanto ao uso das drogas.

Etapas para se chegar ao vício

O vício não chega sorrateiramente para as pessoas. Existem trabalhos acadêmicos que associam à herança

genética o vício de álcool. Em outros trabalhos, associa-se o uso de drogas ao ambiente onde o trabalhador

reside ou convive. Isso é bem mais plausível, já que para o trabalhador, o uso de drogas passa a ser algo

natural. Em outros trabalhos os autores reforçam a tese de que o uso começa na admissão do trabalhador

ao grupo que ele irá pertencer. O uso é a chave da porta que possibilita o seu acesso a aquele ambiente.

Içami Tiba (Tiba, Içami. 123 respostas sobre drogas. São Paulo: Scipione, 1994.) apresenta algumas razões

para que o trabalhador passe a ser um usuário de drogas. Essas razões são as mais divulgadas em clínicas

especializadas e em hospitais que tratam da drogadição. São elas:

1ª) Curiosidade

É a curiosidade que empurra o jovem para as drogas. Ele começa a colher informações, se possível, com

usuários. Fica atento, "ligado" no tema. Pode fazer isso de forma ativa, perguntando, buscando, lendo ou

de forma silenciosa, disfarçando seu interesse, sem perguntar muito, sem "dar bandeira".

2ª) Formação do papel imaginário de experimentador

Com as informações adquiridas, o jovem passa a se imaginar experimentando ou usando a droga: qual, com

quem, quando, onde, quais seriam as sensações, etc. Quanto mais elementos reunir, mais próximo está da

experimentação. Mas também pode parar por aqui seu envolvimento com a droga.

3ª) Experimentação

Da imaginação para a realização há apenas um passo, cheio de ansiedade e expectativa, próprio de tudo

que é novo e, principalmente, proibido. A experimentação é definitiva para se fazer a escolha: se valeu a

pena, é comum repetir-se a experiência. Para os viciáveis, a simples experiência nunca satisfaz, mas para

quem teve uma experiência ruim, é possível que não queira mais a droga.

4ª) Repetir a experimentação

Quando um jovem repete a experiência é porque está buscando algo que nem ele mesmo tem certeza do

que é. Mau sinal, pois vai continuar experimentando até encontrar uma droga que preencha essa

insatisfação.

5ª) Uso esporádico situacional

Aqui a droga é usada em determinadas situações: beber antes de ir a festas; fumar maconha junto com

colegas que a usam num fim de semana: tomar "bolinha" quando se tem sono. Aparentemente sempre

existe um motivo, uma situação, que justifique o uso. Com o tempo, porém, o jovem vai se envolvendo com

Página 12 de 26

a droga, e passa a procurar propositalmente tais situações para usá-la. Trata-se de uma inversão de

objetivos. Imperceptivelmente, a droga passou a ser um motivo de uso e não mais um "auxilio" para

aquelas situações.

6ª) Uso constante situacional = hábito

Quase sem perceber, o jovem passa a se drogar em todas as situações anteriormente mencionadas. Basta

chegar um fim de semana, que ele já quer fumar maconha, independentemente do programa. Não importa

qual seja a festa ou se há festa; o que quer é beber. Isso é hábito.

7ª) Uso constante generalizado = abuso

Com a frequência do hábito, o jovem não percebe quando passa a usar a droga sem justificativas. Nesta

etapa, o jovem já está viciado, mas afirma que ainda não está defendendo-se e argumentando como pode.

8ª) Vício

Nesta etapa, o jovem já sente necessidade da droga, não importa se por dependência física ou psicológica.

Sua vida gira em torno do vício. Quaisquer outras atividades já não têm mais a devida importância.

Organiza-se, então, em função da droga: quando, quanto e como comprar; quando, onde, como e com

quem quer usar; onde guardar, etc. No começo, o viciado tenta disfarçar, esconder e negar, mas tais

mecanismos de defesa caem por terra quando o vício avança e aí ele já não consegue mais manter as

aparências e, perdendo o senso crítico, usa a droga despudoradamente.

O usuário pode desistir em qualquer uma dessas etapas ou prosseguir no caminho do vício. O tempo de

permanência nas diferentes etapas varia de pessoa para pessoa, mas é difícil pular qualquer uma delas.

Quanto mais etapas se alcançar, maior a distância da recuperação. As etapas aqui descritas são referentes a

quem inicia por si mesmo uma aproximação com a droga.

Há, porém, outros caminhos para o vício que, às vezes, independem da iniciativa das pessoas. São os casos

de tratamento médico com drogas fortes (morfina, por exemplo), ou de quem trabalha com produtos

tóxicos (inalantes). Independentemente da pessoa, existem drogas que demoram anos para levar alguém

ao vício (álcool), e outras que em dias ou semanas estabelecem o vício (crack).

A questão do uso de Drogas pelos trabalhadores

O trabalhador utiliza drogas por uma grande quantidade de razões. Muitas são citadas como justificativas

ao uso. Outras são relacionadas ao ambiente de trabalho. Assim, fica bastante difícil elencar-se as razões,

ou principais razões para o uso de drogas pelos trabalhadores. Sabe-se, pelas pesquisas realizadas no

período, que muitos já chegaram às obras fazendo uso das drogas. Outros adquiriram o hábito por verem

ou fazerem parte de um ambiente social local, nas obras, onde o uso das drogas é uma realidade, e de

identificação com o grupo, como se fosse uma tatuagem que distinguisse indivíduos de outros. O que se

pode complementar é que se já há a vontade da experimentação, ou essa é a maneira de se juntar ao

grupo.

Se após a experimentação há o prazer, se após esse o organismo assimila os seus efeitos e depois já sente

sua falta, têm-se o círculo do vício instalado. Nesse momento, tudo passa a ser a razão para o uso das

drogas. O chefe que reclama muito, o trabalho penoso, o ambiente desagradável, a comida ruim, as longas

jornadas de trabalho, a falta do pagamento das horas extra ou a redução do pagamento, enfim, tudo o que

Página 13 de 26

possa causar a desestabilidade do humor do indivíduo passa a ser a motivação para o uso das drogas. E, em

havendo usuários, logo aparecem aqueles que as vendem. Assim, o controle vai ficando cada vez mais

difícil. O indivíduo normalmente, no início, busca pretextos para usar as drogas. Depois de certo tempo,

usa-as sem qualquer pretexto. Ainda na faze inicial, um dos pretextos é a negativa a um anseio, a frustação

de uma ansiedade, ou o descontrole emocional.

Em uma obra civil muitos são os locais que podem propiciar que o trabalhador se sinta deprimido. Por

exemplo, a atividade em espaço confinado. A legislação, prevendo ou não essas situações, determina que

as atividades desses ambientes ocorra somente com o trabalhador acompanhado por outro, ou assistido.

Pode-se completar a lista acrescentando as atividades em que o trabalhador passa mais tempo sozinho,

como: vigia em guarita, operador de ponte rolante, operador de grua, operador de escavadeiras ou

similares, trabalhos de controle em ambientes escuros e com baixo nível de ventilação. Nessas condições

de trabalho a atenção se dispersa e o trabalhador busca algo para ficar “ligado”. Esse algo pode ser a droga.

Em uma de nossas experiências passadas registramos casos de vigilantes que ficavam em cabines de

vigilância no interior de agências bancárias, hoje substituídas por portas giratórias, onde, por ficarem

longos períodos sozinhos, fumavam cigarros de maconha, dormiam e etc. Em duas situações, um dos

vigilantes ao dormir, acionou o gatilho da escopeta, provocando enorme susto nos clientes. Em outro caso,

em uma agência junto à praia, o vigilante ficou tão empolgado com uma cliente que entrou na agência de

biquíni que apertou sem querer o alarme que conectava a agência à delegacia policial.

Não se deve esquecer que cerca de 40% dos trabalhadores de uma construção civil tem baixo nível de

escolaridade e que vieram de locais humildes. Muitos veem em seus ambientes de residência, a droga

como algo comum. Assim, passam a incorporar o uso, como hábito.

Na cartilha editada pelo SESI, em parceria com o Escritório contra Drogas e Crime das Nações Unidas de

2002, há um trecho do trabalho do SESI voltado para a questão.

... O SESI-RS, atento às mudanças estruturais por que vêm passando as empresas gaúchas, tem a oferecer à

comunidade empresarial um novo serviço para o Gerenciamento da Qualidade, com ênfase num dos

aspectos que, de forma crescente, vêm interferindo na saúde e no desempenho da mão-de-obra: o uso de

drogas. O consumo de drogas é um dos mais sérios problemas enfrentados pelo mundo contemporâneo.

A utilização abusiva de substâncias psicoativas, lícitas ou ilícitas, constitui uma ameaça à inserção do

indivíduo em vários aspectos da vida social, como os vínculos familiares e laborais. Consequentemente,

concorre para perdas significativas em produtividade e competitividade por parte das empresas.

As primeiras iniciativas para o enfrentamento do problema nas empresas industriais gaúchas foram

tomadas pelo SESI-RS ainda na década de 1970, com um programa de palestras. A partir desse trabalho

pioneiro, que consolidou uma visão mais abrangente e profunda sobre a questão do uso de drogas, a

instituição buscou a utilização de conhecimentos e técnicas que vinham sendo desenvolvidos pela

Organização das Nações Unidas, dada a amplitude global do problema. Em 1994, após um amplo estudo, o

SESI-RS firmou um compromisso para o desenvolvimento do Projeto de Prevenção do Uso de Drogas no

Trabalho e na Família em parceria com o Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crime (UNODC).

O princípio do UNODC, desenvolvido com o apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da

Organização Mundial de Saúde (OMS), buscava abrir novas oportunidades de inserção social, estimulando

aptidões e interesses dos usuários de substâncias psicoativas, ao mesmo tempo em que desenvolvia o

sentimento de solidariedade e união de todas as pessoas envolvidas no ambiente de trabalho. Essa

Página 14 de 26

abordagem significou na época uma verdadeira revolução de conceitos, na medida em que o problema das

drogas nas empresas era tratado com simples repressão e, muitas vezes, exclusão. ...

... Este modelo de prevenção do UNODC, plenamente de acordo com a visão do SESI-RS, já vinha sendo

aplicado em regime de parcerias com instituições locais nos mais diversos países. Casos de sucesso haviam

sido observados em nações com realidades tão díspares quanto México, Sri Lanka, Egito, Namíbia e Polônia.

A adição desses novos conhecimentos, somados à experiência de cinco décadas do SESI-RS no apoio ao

trabalhador da indústria e a seus familiares, criou uma sinergia que resultou em ampla aceitação por

empresários e trabalhadores gaúchos. Desde 2003, o modelo do programa vem sendo aplicado nos países

vizinhos do Cone Sul: Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile.

As empresas que implantam a metodologia e concluem o processo ganham do SESI-RS e do UNODC a

certificação “Aqui se Pratica a Prevenção”, como forma de destacar o exemplo perante os colaboradores,

parceiros e a sociedade. Já as companhias que tornam esses princípios uma estratégia permanente,

desenvolvendo uma cultura de responsabilidade social com a comunidade, fazem jus a um selo especial do

projeto. No ano 2000 a iniciativa recebeu o prêmio Top Social ADVB São Paulo – SP.

O Projeto de Prevenção ao Uso de Drogas no Trabalho e na Família recebeu da empresa Bureau Veritas a

certificação ISO 9001/2000 em dezembro de 2002. A documentação existente até então foi padronizada de

acordo com as normas e os procedimentos referentes ao processo. ...

Em artigo envolvendo a atividade portuária, Soares JFS, Cezar-Vaz MR, Cardoso LS, Soares MCF, Costa VZ,

Almeida MCV, tratam do tema: O risco do uso de drogas no trabalho portuário, publicado em Esc Anna

Nery Rev Enferm 2007 dez; 11 (4): 593 - 8. Nesse artigo lê-se:

... O presente trabalho identifica a existência do risco à saúde e à segurança individual e de colegas dos

trabalhadores portuários avulsos (TPAs), da ação de trabalhar sob efeito de algumas drogas (álcool,

maconha, cocaína e crack), em um Porto localizado no extremo sul do Brasil.

Os TPAs representam um grupo de trabalhadores que prestam serviços às operadoras portuárias, sem

vínculo empregatício, através da solicitação ao Órgão Gestor de Mão-de-Obra do Trabalho Portuário Avulso

(OGMO). Estes trabalhadores desenvolvem as atividades de capatazia (carga/descarga de produtos em

terra); estiva (carga/descarga de produtos a bordo das embarcações); conferência de carga (conferência

dos produtos embarcados/desembarcados); conserto de carga (conserto da embalagem das mercadorias

que sofreram avarias); vigilância de embarcações (vigilância da entrada/saída de pessoas e mercadorias da

embarcação) e trabalhos em bloco (reparo das embarcações).

O uso de drogas sempre esteve presente na história da humanidade, sendo visível em vários contextos, e

são utilizadas com objetivos distintos: rituais, comemorações, cultos religiosos, alívio da dor, prazer e como

forma de vivência de experiências desconhecidas, tendo também o significado de desregramento,

contestação, ameaça, poder e desqualificação. O consumo de drogas apresenta em cada sociedade

especificidades próprias, já que o consumo condiciona e é condicionado pelos costumes nela encontrados,

podendo-se dizer que “a utilização de drogas lícitas e ilícitas permeia a cultura da adolescência à velhice e,

no caso do Brasil, notadamente por meio do consumo de álcool, fumo e maconha”.

A redução de danos, que se constitui como o conjunto de ações que objetiva a diminuição de danos

oriundos do uso/abuso de drogas, parte das premissas de que inexistiram sociedades alheias às drogas e de

diminuir os danos por elas ocasionados, objetivando maximizar o alívio e bem-estar a indivíduos ou

coletivos. ...

Página 15 de 26

... No contexto particular de análise, o ambiente portuário, o uso de drogas pode implicar risco à saúde e à

vida do próprio trabalhador/usuário e dos seus colegas, tendo em vista que todos realizam seu trabalho no

mesmo ambiente ou em um muito próximo. Entre os TPAs entrevistados, 43,14% afirmaram que seus

colegas já trabalharam sob o efeito de drogas. Esse percentual pode ser maior e estar atrelado ao fato de

que o uso de drogas ainda é um tema estigmatizado na atual conjuntura da sociedade brasileira. Portanto,

deve ser compreendido e tratado como um problema que é condicionado pelos distintos ambientes nos

quais as pessoas que as usam se inserem, ou seja, depende da cultura de cada núcleo social, o que facilita

ou não o acesso e o consumo destas substâncias.

O uso das drogas ilícitas, em particular, possui leis que o condenam, porém o grupo social do usuário o

aprova, o que também pode estar associado ao resultado obtido neste estudo.

Neste sentido, o debate acerca desta problemática deve estar inserido na realidade do usuário, para que as

propostas de prevenção estejam contextualizadas, possibilitando a superação da estigmatização e um

debate socialmente ampliado. Assim, torna-se importante utilizar, neste contexto, o enfoque da redução

de danos, demonstrando ao TPA/usuário que não somente a sua segurança e vida podem estar

comprometidas pelo uso de drogas, mas também a de seus colegas. Isso faz com que o trabalhador se

responsabilize por si e por outros TPAs, entendendo, dessa maneira, que o uso de drogas, neste cenário tão

particular, pode representar um dos limites para a saúde e a segurança de todos os envolvidos na operação

portuária.

Os dados obtidos neste estudo apontam que o álcool foi a droga mais utilizada no ambiente portuário,

assim como por 78,7% trabalhadores da indústria. O alcoolismo relacionado ao trabalho pode ser uma

prática defensiva utilizada pelos trabalhadores como forma de inclusão social ou como uma maneira de

viabilizar o próprio trabalho. É uma droga utilizada com maior frequência em ocupações cuja principal

característica é o desprestígio social e em situações de trabalho perigoso. O contexto de trabalho portuário,

que em sua essência possui muitos riscos, comprova, através dessa pesquisa, o anteriormente referido.

Além disso, o álcool é das drogas pesquisadas nesse estudo, a única aceita socialmente, ou seja, a admissão

do uso dessa pelos colegas de trabalho não representa um estigma para o grupo, tampouco uma ameaça.

O uso do álcool para viabilizar o trabalho graças aos efeitos farmacológicos obtidos: calmante, euforizante,

estimulante, relaxante, indutor do sono, anestésico, pode representar um risco a mais no contexto

portuário, não se devendo esquecer que o risco é decorrente da decisão livre e consciente de se expor a

uma situação, objetivando a concretização de um bem ou um desejo, podendo implicar a perda ou

ferimento físico, material ou psicológico.

Este sentido de risco pode ser assumido somente pelo trabalhador/usuário, e não por seus colegas que não

fizeram uso desta substância, e, portanto, sua decisão não foi livre e consciente, já que não se escolhe no

porto com quem se irá ou não trabalhar. Assim, há a necessidade de contemplar que o uso do álcool por

alguns trabalhadores pode implicar um risco assumido involuntariamente por outros, podendo ocasionar

situações indesejadas para todos, tendo em vista que os riscos à saúde e à vida no contexto portuário não

são sempre os mesmos, porque distintos são os navios e as cargas que se apresentam no porto, com

exigências de procedimentos de segurança peculiares a cada operação.

Neste trabalho, encontrou-se a maconha como a segunda droga referenciada como de utilização pelos

colegas do entrevistado. Esta possui distribuição de uso por trabalhadores em todas as regiões brasileiras, o

que pode ser explicado pela facilidade de acesso à droga, por ser cultivada nas regiões norte e nordeste

brasileiras, bem como em outros países da América do Sul, sendo a droga ilícita mais utilizada na população

de estudantes da cidade de Campinas.

Página 16 de 26

A maconha, pelas suas propriedades farmacológicas que tendem a relaxar e deixar o usuário em estado

introspectivo, pode contribuir para a intensificação dos riscos à saúde e à vida no contexto portuário. Para

a redução de danos em relação à maconha e dos riscos ocasionados pelo seu uso, fazem-se necessários o

diálogo aberto entre todos os TPAs e o profissional de saúde; e a construção coletiva de possibilidades que

permitam a diminuição de seu uso antes/durante o trabalho, enfatizando a importância da abstinência para

a sua realização e sempre respeitando a cultura dos trabalhadores, dado que o risco é incessantemente

construído e negociado como fator constituinte de uma rede de trocas sociais e de construção de sentidos.

O motivo principal apontado para o uso de drogas pelos colegas, a dependência, além de demonstrar a

importância das ações de redução de danos no ambiente portuário, representa um limite, pois o presente

estudo não visou apreender a existência de um diagnóstico ou se esta constatação se trata de senso

comum. Entendendo que a dependência química, enquanto doença possui natureza biológica, psicológica e

social, o OGMO, através do serviço de Assistência Social, encaminha os trabalhadores que o procuram,

através de demanda espontânea, para um centro de referência em drogas do município. Conforme dados

obtidos junto ao serviço, foram encaminhados para tratamento, no período de março a outubro de 2007,

quatro TPAs.

O uso das drogas na Construção Civil

Além da questão das distintas culturas existentes em uma obra, relativamente pequena, com cerca de

5.500m2 de área construída, foi importante avaliar-se mais cuidadosamente a questão do uso de drogas

lícitas ou não pelos trabalhadores e o impacto que esse uso poderia causar na produtividade dos mesmos e

no aumento das ocorrências de acidentes. Essa questão, pouco abordada em artigos voltados para as

atividades de obras, principalmente de construção civil, não redigidos por profissionais da área de saúde,

foi “pinçada”, dentre todas, até pelos atos inseguros praticados pelos trabalhadores, continuamente.

Considerando o período de tempo de dois anos de obras, entre funcionários da construtora e os

“terceirizados” contou-se com um contingente de aproximadamente 400 pessoas. Quanto às empresas

envolvidas, o número chegou a mais de 30 empresas. Foram contratadas empresas com efetivo mínimo de

8 pessoas e um máximo de 90 pessoas.

Na obra pesquisada, como em qualquer outra, ocorreram terceirizações. Essas relações de trabalho buscam

primeiramente o aumento dos ganhos financeiros das empresas. Por outro lado, as empresas buscam

terceirizar atividades que não sejam fins, ou atividades principais, o que as obrigaria a manter grandes

contingentes de pessoal, que, em caso de não continuidade de carteira de obras obrigaria os empresários a

demitir o excesso de contingente, onerando sobremaneira a folha de pagamentos. Assim, terceirizam-se

atividades como: montagem e impermeabilização de telhados, montagem e vedação de janelas, instalação

elétrica e hidro sanitária, concretagem, elevação de alvenarias e acabamentos, instalações especiais

(incluindo-se elevadores, ar condicionado e sistemas de proteção contra descarga atmosférica), pinturas,

aplicação de revestimentos cerâmicos, colocação e polimento de pisos, instalação de forros, colocação de

portas, gradis e proteções específicas, entre outras. Em qualquer fase da construção, ao longo desse

período existia uma relação de 1:10 quanto ao emprego de mão-de-obra própria e contratada. A empresa

retém o pessoal necessário para o acompanhamento do planejamento econômico-financeiro da obra,

gestão dos serviços, relação com o cliente e, eventualmente, as atividades de fiscalização, entre as quais de

Segurança, Meio Ambiente e Saúde. Nas ações de saúde já é lugar comum à existência de empresas

especializadas, com pessoal que elabora os Programas de Controle Médico e Saúde Ocupacional – PCMSO,

e realizam os exames para a emissão dos Atestados de Saúde Ocupacional. Nesses, quase sempre se tem

Página 17 de 26

uma anamnese clínica e alguns exames laboratoriais, entre os quais não constam os exames para a

detecção de abuso de drogas.

Nessas abordagens, até mesmo pelo fato dos respondentes não quererem se identificar, em função do

tema tratado, os registros dessas avaliações foram posteriores, mas, as perguntas elaboradas foram pré-

definidas com antecedência, em função do fato de havermos atuado, como voluntários, em clínicas de

desintoxicação e hospitais psiquiátricos. Nesses últimos, a questão das drogas era predominante. E, em

assim sendo, o tempo de permanência dos pacientes variava de 15 a 20 dias, em média. Em obras

industriais de instalação e montagem percebíamos que o uso de drogas, apesar de restrito ou limitado não

tinha a divulgação necessária por parte das empresas contratadas, para evitarem-se situações de riscos,

tanto para o próprio trabalhador quanto para seus colegas.

Estruturação da questão

Para se obter o resultado desejado, que é o de saber-se o quanto os empregados usam drogas, que tipo de

drogas são mais consumidas, o impacto que essas provocam na segurança dos trabalhadores, desenvolveu-

se questionário, apresentado a seguir. Os resultados podem não ser extremamente corretos, vez que os

contatos pessoais ou abordagens foram informais e os trabalhadores podem ter omitido parte das

informações. Os números lançados na planilha significam as respostas positivas às perguntas formuladas.

Convém destacar-se que uma parcela de aproximadamente 40% dos entrevistados tinha baixo nível de

escolaridade, o que pode causar alguma resposta errada ou equivocada pelo baixo nível de interpretação

das perguntas.

Antes de apresentarem-se os resultados da pesquisa é importante definirem-se alguns aspectos:

Perguntas = significa a questão principal. Os números apresentados significam SIM às respostas.

Drogas = significa o conjunto de drogas lícitas (fumo, álcool, remédios orgânicos ou não, chás) e

as ilícitas (crack, cocaína, maconha, oxi, heroína), e a mistura de drogas lícitas com ilícitas,

incluindo-se aqui os estimulantes à base de cafeína.

Respondentes = são todos aqueles que foram abordados ao longo do período da pesquisa, de dois anos.

Alguns, poucos, menos de 3% responderam mais de uma vez, o que não descaracteriza o

objetivo maior que é o de se conhecer como o trabalhador usa, o quanto usa, como isso

dificulta ou favorece o seu trabalho, se há ou não a conivência das chefias quanto a essa

questão.

Relacionamento = significa se os respondentes fazem parte de empresa terceirizada (T) ou se são

empregados da contratada (C).

Tipo = significa drogas lícitas (L) ou ilícitas (I)

Perguntas Respondentes Tipo Relacionamento

L I T C

1. Você já usou drogas? 380 230 150 320 60

2. Para você o uso de drogas é um assunto problemático ou constrangedor?

270 230 40 225 45

3. Você já viu ou presenciou seus companheiros usando drogas?

385 325 60 330 55

4. Você já usou drogas durante o trabalho? 60 35 25 45 15

5. Seus companheiros já usaram drogas durante o trabalho?

160 100 60 140 20

Página 18 de 26

6. Suas chefias imediatas usam drogas? 30 25 5 25 5

7. Suas chefias imediatas toleram o uso de drogas? 5 5 0 5 0

8. Já ocorreram acidentes em sua obra em decorrência do uso de drogas?

0 0 0 0 0

9. Você percebe que as drogas estimulam você para a realização de trabalhos mais pesados/penosos?

60 20 40 55 5

10. Você percebe que as drogas estimulam você para a realização de trabalhos mais perigosos?

30 5 25 30 0

11. Qual o momento do dia você faz uso de drogas?

a) De manhã: 40 35 5 40 0

b) De tarde: 60 45 15 50 10

c) Ao sair do trabalho: 250 100 150 200 50

12. Quantas vezes você faz uso dessas:

a) Até duas vezes: 300 220 80 298 2

b) De duas a cinco vezes: 50 44 60 49 1

c) Mais de cinco vezes ao dia: 30 25 10 30 0

13. O ambiente de trabalho estimula ou contribui para o uso de drogas?

20 18 2 20 0

14. O tipo de trabalho faz com que as pessoas usem mais drogas?

50 35 15 45 5

15. Você se acha um dependente químico? 20 20 16 4

16. Sua dependência ou uso de drogas prejudica seu relacionamento pessoal ou familiar?

90 80 10 80 10

17. Você aceitaria se tratar para não ser um viciado? 20 15 5 10 10

18. Você já foi internado por abuso de drogas? 10 2 8 9 1

19. O tratamento a que você se submeteu foi eficaz? 3 1 2 3 0

20. “Drogas” é um assunto tratado em sua empresa? 2 2 2 0

21. Se sua empresa estivesse mais preocupada com o uso de drogas isso influenciaria você a evita-las?

140 100 40 120 20

Discussão dos resultados

Surpreendeu-nos o fato de que apenas dois dos depoentes declararam que o Tema Drogas era tratado em

suas empresas. O número mais impressionante é o de que cerca de 38% das pessoas que responderam às

perguntas disseram que a divulgação e interesse da empresa teria sido um aspecto positivo para que, se

não utilizassem as drogas, pelo menos reduzisse seu uso, principalmente durante o trabalho.

Dos 400 trabalhadores que tiveram algum envolvimento com as drogas, 380 disseram que já haviam

utilizado, sendo que dessas pessoas 150 utilizaram drogas ilícitas. Ainda para esses que fizeram ou faziam

uso de drogas 40 pessoas se incomodaram quando se abordava a questão, ou seja, faziam o uso, mas não

gostaram de serem questionados sobre isso.

Quanto ao uso, 25 disseram que usaram drogas ilícitas no trabalho. Não consta da planilha, mas o crack é

uma das drogas mais consumidas, pelo fato de ser barata e disponível próximo das obras. A seguir vem a

cocaína, seguida pela maconha. Essa última, pelo odor exalado, incomoda os usuários, pois podem ser

facilmente localizados e identificados.

Se associarmos ao trabalho realizado, uma parcela elevada delas atuava em trabalhos penosos, como na

escavação para o arrasamento de estacas, na carga e descarga de materiais e no emprego de ferramentas

pesadas.

Página 19 de 26

Quando se trata do uso das drogas associando ao tipo de trabalho 40 declararam que o ambiente

contribuía para isso, no exercício das atividades penosas, enquanto que 15 disseram que faziam uso das

drogas pelas características dos serviços.

Um dos casos que chamou a atenção foi que dois dos respondentes declararam que tinham medo de altura

e o uso de algum tipo de droga os aliviavam do estresse.

Dos 385 respondentes apenas 20 se declararam dependentes químicos. Desses, 10 disseram que isso influía

no relacionamento familiar. 8 foram internados para tratamento, 5 disseram que aceitariam se tratar e

apenas 2 declararam que o tratamento foi eficaz.

Dos 150 usuários de drogas ilícitas declarados, todos utilizavam mais as drogas ao sair do trabalho.

Enquanto 5 declaram utilizar na parte da manhã e 15 de tarde. Desse mesmo grupo, 80 pessoas faziam uso

de drogas até duas vezes ao dia, 60 pessoas de duas a cinco vezes ao dia e 10 pessoas utilizavam mais de 5

vezes ao dia. Ao compara-se esses dados com os do parágrafo anterior percebe-se que muitos dos

declarantes somente se expuseram enquanto isso, a exposição, não os prejudicasse profissionalmente.

Em ambientes como o avaliado, com uma relação entre empregados e prestadores de serviços na faixa de 1

para cada 10, e que muitos dos serviços contratados não durava mais do que um mês, passa a ser natural

que possam existir o que chamamos de eventuais contaminações, onde um usuário pode induzir outros

que o percebam, e desde que isso não os prejudique profissionalmente.

Outra questão também evidenciada é a de que os usuários apresentam baixo rendimento, principalmente

porque durante o uso saem de seus ambientes normais de trabalho, para se “esconderem” dos olhares das

chefias. Hoje, o absenteísmo provocado pelo fumo, a partir do momento em que os fumantes contumazes

passam a ser obrigados a sair de seus locais de serviço para se dirigirem a “fumódromos” ou saírem dos

prédios, chega a ser pequeno se comparado com quem usa crack ou cocaína. Para aqueles trabalhadores

que atuam em locais com baixo nível de fiscalização, as ausências um pouco mais prolongadas não são tão

perceptíveis assim.

Durante a pesquisa, um dos usuários declarou que nunca foi chamado pela chefia. Disse que se dirigia ao

local de trabalho e acompanhava o que os demais faziam, sem o controle de seus superiores.

Por fim, e o mais importante, é que, dos 150 declarantes como usuários de drogas, 40 repensariam o uso se

houvesse um maior interesse de suas empresas na divulgação e tratamento da questão. Ainda assim, dos 8

internados apenas 2 disseram que o tratamento foi eficaz.

Discussão da questão

De oito engenheiros de obras consultados, todos disseram que jamais contratariam empregados que

fizessem uso de drogas. Para esses mesmos engenheiros, caso surpreendessem um empregado fazendo

uso de drogas no local de trabalho ou chegando ao trabalho visivelmente drogados, ou ainda, sob o efeito

de drogas, essas pessoas seriam demitidas, independentemente dos níveis de qualificação que possuíssem.

Em obras onde a rotatividade de empresas e de pessoal é alta, as chances de subnotificação de acidentes é

baixa, ou seja, uma coisa é inversamente proporcional a outra. Quando há drogas envolvida, ou o uso de

drogas pelo empregado o assunto passa a ser ignorado, o acidente, pois que a empresa é sempre

corresponsável por tudo o quanto ocorra em suas instalações ou canteiros de obras. É quase impossível

Página 20 de 26

imaginar-se que uma empresa emita uma Comunicação de Acidente de Trabalho para um trabalhador que

se acidentou por estar drogado.

De acordo com a pesquisa desenvolvida e divulgada no Resumo Extraído de Enciclopédias do Projeto

Renasce Brasil, As drogas são substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que provocam alterações

psíquicas e físicas a quem as consome e levam à dependência física e psicológica. Seu uso sistemático traz

sérias consequências físicas, psicológicas e sociais, podendo levar à morte em casos extremos, em geral por

problemas circulatórios ou respiratórios. É o que se chama overdose. Além das drogas tradicionais, os

especialistas também incluem na lista o cigarro e o álcool.

Quanto à ação no organismo, no mesmo resumo tem-se os seguintes dados: As drogas são classificadas de

acordo com a ação que exercem sobre o sistema nervoso central. Elas podem ser depressoras,

estimulantes, perturbadoras ou, ainda, combinar mais de um efeito.

Depressoras - Substâncias que diminuem a atividade cerebral, deixando os estímulos nervosos mais lentos.

Fazem parte desse grupo o álcool, os tranqüilizantes, o ópio (extraído da planta Papoula somniferum) e

seus derivados, como a morfina e a heroína.

Estimulantes - Aumentam a atividade cerebral, deixando os estímulos nervosos mais rápidos. Excitam

especialmente as áreas sensorial e motora. Nesse grupo estão as anfetaminas, a cocaína (produzida das

folhas da planta da coca, Erytroxylum coca) e seus derivados, como o crack.

Perturbadoras - São substâncias que fazem o cérebro funcionar de uma maneira diferente, muitas vezes

com efeito alucinógeno. Não alteram a velocidade dos estímulos cerebrais, mas causam perturbações na

mente do usuário. Incluem a maconha, o haxixe (produzidos da planta Cannabis sativa), os solventes

orgânicos (como a cola de sapateiro) e o LSD (ácido lisérgico).

Drogas com efeito misto - Combinam dois ou mais efeitos. A droga mais conhecida desse grupo é o ecstasy,

metileno dioxi-metanfetamina (MDMA), que produz uma sensação ao mesmo tempo estimulante e

alucinógena.

Enganam-se aqueles que veem apenas nas tradicionais drogas os problemas. A cola de fixação do carpete

ou de forrações de paredes também passam a ser drogas, quando inaladas em um ambiente fechado. A

falta de ventilação adequada em um ambiente com solventes pode terminar por drogar incidentalmente o

trabalhador.

No site http://www.maisdicas.net/drogas-e-seus-efeitos-destruidores, lê-se que: A palavra solvente

significa capaz de dissolver coisas e inalantes, é toda substância que pode ser inalada, isto é, introduzida no

organismo através da aspiração pelo nariz ou boca. Todo o solvente é uma substância altamente volátil,

isto é, evapora facilmente e, portanto, facilmente inaladas. Outra característica dos solventes ou inalantes

é que muitos deles (mas não todos) são inflamáveis. Há um enorme número de produtos comerciais como

esmalte, colas, tintas, thinners, propelentes, gasolina, removedores, vernizes, etc.

Efeitos no cérebro: O início dos efeitos após a aspiração é bem rápido – de segundos a minuto no máximo

– e em 15 a 40 minutos desaparecem; o usuário repete esse processo para que as sensações durem mais.

1. Fase: É a chamada fase de excitação e é a desejada, pois a pessoa fica eufórica, aparentemente excitada, ocorrendo tonturas e perturbações auditivas e visuais. Mas pode também aparecer náuseas, espirros, tosse, muita salivação e as faces podem ficara avermelhadas.

2. Fase: A depressão e desorientação.

Página 21 de 26

3. Fase: A depressão se aprofunda com redução acentuada do alerta, falta de coordenação ocular (o indivíduo não consegue fixar os olhos nos objetos), falta de coordenação motora com marcha vacilante, reflexos deprimidos; alucinações.

4. Fase: Depressão tardia; o indivíduo pode perder a consciência, queda de pressão, sonhos estranhos, podendo ainda a pessoa apresentar surtos e convulsões (ataques). Esta fase ocorre com frequência entre aqueles que cheiram em sacos plásticos. Sabe-se que a aspiração repetida dos solventes leva a destruição de neurônios (as células cerebrais) causando lesões irreversíveis no cérebro.

Efeitos tóxicos: As inalações constantes podem ocasionar lesões da medula óssea, dos rins, do fígado e dos

nervos periféricos que controlam os músculos. Em alguns casos, principalmente quando existe no solvente

uma impureza, o benzeno, mesmo em pequenas quantidades, pode haver diminuição de produção de

glóbulos brancos e vermelhos pelo organismo.

Em outro site http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=4724&ReturnCatID=1796, quando

trata da questão do abuso do uso de drogas, assim se refere: A dependência começa com o abuso das

drogas quando uma pessoa faz uma escolha consciente de usar drogas, mas a dependência não é apenas "o

uso de grande quantidade de drogas". Pesquisas científicas recentes têm demonstrado que as drogas não

somente interferem com o funcionamento cerebral normal, criando sensações de prazer, mas também tem

efeitos a longo-prazo no metabolismo e atividade cerebral, e num determinado momento, as mudanças

que ocorrem no cérebro podem transformar o abuso em dependência. As pessoas viciadas em drogas têm

um desejo compulsório e não conseguem deixar as drogas por vontade própria. O tratamento é necessário

para dar fim a esse comportamento compulsivo.

Estudos recentes demonstraram que a dependência é claramente tratável. O tratamento pode ter um

profundo efeito não apenas nos usuários de drogas, mas também na sociedade como uma diminuição da

criminalidade e violência, redução da contaminação da AIDS, acidentes automobilísticos e outros fatores

associados às drogas. O entendimento do abuso das drogas e seus efeitos prejudiciais na saúde pode ajudar

a prevenir o seu uso.

Cocaína

A cocaína é uma droga com grande potencial de causar dependência. Uma pessoa que experimenta a

cocaína não pode prever ou controlar a extensão de seu uso. Existem grandes riscos no uso da cocaína

independente do modo de como ela é usada, por inalação, injeção ou fumo. Parece que o uso compulsivo

da cocaína pode se desenvolver ainda mais rapidamente se a substância for fumada (na forma de crack).

Os efeitos físicos do uso da cocaína incluem uma constrição nos vasos periféricos, dilatação das pupilas, e

aumento da temperatura, frequência cardíaca e pressão arterial. A duração dos efeitos eufóricos imediatos

da cocaína, que incluem hiperestimulação, redução do cansaço e clareza mental, depende da via de

administração. Quanto maior a absorção, maior a intensidade dos efeitos. Evidências científicas sugerem

que as propriedades do poderoso envolvimento neuropsicológico da cocaína é responsável pelo seu uso

contínuo, mesmo com as consequências físicas e sociais danosas. Existe o risco de morte súbita mesmo no

primeiro uso da cocaína ou de forma inesperada após o seu uso. Entretanto, não há como determinar

quem tem propensão para morte súbita.

Altas doses de cocaína e/ou uso prolongado pode desencadear paranoia. O crack pode produzir um

comportamento particularmente agressivo em seus usuários. Quando as pessoas dependentes

interrompem o uso de cocaína, elas frequentemente apresentam depressão. O uso prolongado de cocaína

por inalação pode resultar em ulceração das mucosas no nariz e pode lesar o septo nasal gravemente. As

Página 22 de 26

mortes relacionadas com a cocaína são frequentemente resultado de parada cardíaca ou convulsões

seguida de parada respiratória.

Inalantes

Os inalantes são substâncias químicas voláteis que produzem efeitos psicoativos. Muitas pessoas não veem

produtos como tintas spray, colas, e fluidos de limpeza como drogas porque nunca tiveram a intenção de

usá-los para obter um efeito intoxicante, entretanto crianças e adolescentes tem acesso fácil a esses

produtos e estão entre o grupo de maior risco de abuso dessas substâncias extremamente tóxicas. Dentre

as substâncias inalantes encontram-se os solventes (thinner, removedores, fluidos de limpeza, gasolina,

cola) e gases (butano, propano, aerossóis, gases anestésicos, etc.).

Quase todos os inalantes produzem efeitos similares aos anestésicos, que agem diminuindo as funções do

organismo. A intoxicação usualmente dura apenas alguns minutos. Entretanto, alguns usuários apresentam

o seu efeito por muitas horas pela inalação repetida. Inicialmente, os usuários podem sentir um efeito

estimulador e inalações sucessivas podem os tornar menos inibidos e com menos controle. Se usado

continuadamente, pode provocar a perda de consciência. Estes produtos podem induzir diretamente a

parada cardíaca e morte dentro de poucos minutos de uma única sessão de uso prolongado. Altas

concentrações de inalantes podem também causar morte por sufocação por deslocar o oxigênio dos

pulmões. Deve-se estar atento mesmo para o uso de aerossóis e produtos voláteis para seus fins legítimos

(como pintura, limpeza, etc.), que deve ser feito em ambientes bem ventilados, para evitar seus efeitos

prejudiciais. O abuso crônico de solventes pode causar danos graves ao cérebro, fígado e rins.

De acordo com António Paula Brito de Pina © Portal de Saúde Pública, 2000, em artigo disponível em

http://www.saudepublica.web.pt/05-promocaosaude/055-toxicodependencia/Dependencias/Efeitosdroga.htm

CARACTERIZAÇÃO DAS DROGAS SEGUNDO OS EFEITOS IMEDIATOS (POSITIVOS E NEGATIVOS) E EFEITOS TARDIOS DO CONSUMO CONTÍNUO

EFEITOS IMEDIATOS

Droga POSITIVOS NEGATIVOS EFEITOS TARDIOS DO CONSUMO CONTÍNUO

são os que o toxicodependente procura

mais frequentes na sobredosagem e em fases tardias do consumo continuado

Opiáceos (ex.: heroína)

Elimina a ansiedade e depressão, promove a confiança, euforia e extremo bem-estar

Cólicas abdominais, confusão mental, convulsões, paragem respiratória por inibição dos Centros Respiratórios e, se não houver assistência terapêutica rápida, a morte

Anorexia, emagrecimento e desnutrição, obstipação, impotência ou frigidez sexual, esterilidade, demência, confusão e infecções várias

Benzodiazepinas

Elimina a ansiedade e a tensão muscular. Promove a desinibição psicológica e o sono "para dormir e esquecer"

Diminuição da coordenação motora, do equilíbrio, hipotensão, bradicárdia, paragem respiratória e morte

Emagrecimento, ansiedade, irritabilidade e agressividade, grande labilidade emocional, depressão com risco de suicídio

Álcool Igual às benzodiazepinas Igual às benzodiazepinas

Polineurite, impotência ou frigidez sexual, amnésia, diplopia (visão dupla), cirrose hepática, labilidade emocional, agressividade extrema e demência irreversível

Inalantes, (tintas, lacas, colas, gasolina, solventes, aerossóis, etc.)

Igual às benzodiazepinas

Embriaguez, alucinações, diplopia (visão dupla), paragem respiratória, coma e morte

Doenças graves do fígado, rim e sangue (leucemias), e demência irreversível

Página 23 de 26

Anfetaminas, Ecstasy, Cocaína

Estado de grande auto-confiança, euforia e energia. Aumento efémero da capacidade de concentração, memorização, rapidez de associação de ideias, maior força muscular e diminuição da fadiga, sono, fome, sede ou frio

Secura da boca, suores, febre, hipertensão e arritmias cardíacas, irritabilidade, agressividade, tremores e convulsões, delírios paranoides.

Emagrecimento, irritabilidade, delírios paranóides (sensação de ser perseguido por organizações secretas, etc.)

A perfuração do septo nasal é uma complicação típica do consumo inalado de cocaína

Canabinóides

Elimina a ansiedade e promove sensação de bem-estar, desinibição, maior capacidade de fantasiação, visualização da realidade com mais intensidade

Secura da boca, reações de ansiedade e pânico (paradoxalmente mais comuns em fumadores experientes), agressividade e, excepcionalmente, alucinações

Pode desencadear uma doença mental (psicose) nos raros indivíduos predispostos Síndrome "amotivacional" (provavelmente apenas em grandes consumidores predispostos)

Alucinogénios (ex.: LSD)

Forte exaltação das percepções sensoriais (cores e sons mais intensos), sinestesias (transferências das impressões de um sentido para outro

Má viagem ou "bad trip" em que o consumidor tem sensação intensa de pânico e delírios paranóides que podem durar até cerca de 2 dias

Crises psicóticas com delírios e alucinações; Flash-backs ou períodos efémeros nos quais o ex-consumidor volta a sentir os efeitos do consumo até um ano depois de deixar de consumir

Tabaco Relaxamento psicológico, facilitador da concentração

Aumento do ritmo cardíaco e hipertensão, tosse e problemas cardíacos e vasculares graves

Doenças pulmonares e cancros, Doenças vasculares (enfarte do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais, gangrena dos membros e impotência sexual)

Conclusão

A questão das drogas não é só um tabu para algumas classes da sociedade. É também um tabu no

ambiente das construções ou na indústria da construção. Sabe-se que existe o uso, porém, não o controla-

se adequadamente. O “viciado” ainda é visto com um ser indesejável, fraco, doente, e até por isso, sem

condições de recuperação.

Nos grupos de Narcóticos Anônimos ou Alcoólicos Anônimos é difícil encontrar-se pessoas que tenham

ultrapassado a barreira de 10 anos sem utilizar a droga. As instituições, com suas regras de acolhimento e

tratamento, mantêm o paciente por um prazo pequeno para que o mesmo se livre daquilo que o provoca

ao uso de drogas e o libera. Esse, por não ter opções, termina por retornar ao lugar de onde veio. Assim,

fecha-se um grande ciclo onde que sai perdendo é o próprio drogado, vítima ou não, e a sociedade,

incluindo aqui, principalmente sua família.

Em uma obra, quase sempre com os operários com baixo nível de qualificação e de informação, ao terem

contato com colegas que fazem uso de drogas passam a ter mais oportunidade de utilizá-la também. Por

momentos muito curtos de satisfação vai-se o salário da quinzena, vão-se todos os bens adquiridos

honestamente, vão-se as oportunidades de trabalho e, o que é pior, a rejeição de todos, mesmo que o

operário tenha elevado nível de qualificação. A razão, talvez seja o fato de que as lesões produzidas pelo

uso continuado de drogas termina fazendo com que os operários percam suas habilidades motoras e de

percepção.

Do que pudemos extrair desta pesquisa, e talvez o elemento mais relevante de todos, é que as pessoas,

mesmo fazendo uso das drogas ainda continuam com a esperança de serem pessoas normais como os

demais. A falta de apoio, como de divulgação por parte das empresas, a troca de experiências e a

ampliação dos níveis de fiscalização podem mudar o quadro. Na pesquisa, apresentada, 40 pessoas de um

Página 24 de 26

total de 140 declararam que a preocupação da empresa em que trabalham influenciaria suas decisões

futuras.

Perguntas Respondentes Tipo Relacionamento

L I T C

21. Se sua empresa estivesse mais preocupada com o uso de drogas isso influenciaria você a evita-las?

140 100 40 120 20

O percentual de 28,5% passa a ser superior ao percentual daqueles que se “mantém limpos” por longos

períodos.

Em um texto sobre Crack, extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/Crack, relacionando algumas fontes de

pesquisa2: As chances de recuperação dessa doença, que muitos especialistas chamam de "doença

adquirida" (lembrando que a adição não tem cura), são das mais baixas que se conhece dentre todas as

droga-dependências. A submissão voluntária ao tratamento por parte do dependente é difícil, haja vista

que a "fissura", isto é, a vontade de voltar a usar a droga, é grande demais. Além disso, a maioria das

famílias de usuários não tem condições de custear tratamentos em clínicas particulares ou de conseguir

vagas em clínicas terapêuticas assistenciais, que nem sempre são idôneas. É comum o dependente iniciar,

mas abandonar o tratamento.

Por fim, as empresas têm que aceitar o fato de que em seu micro sistema, ou micro comunidade, há um

espelhamento do que ocorre em toda a sociedade. Muitas vezes, por falta de uma visão mais crítica, os

empresários deixam de avaliar melhor seus empregados por causa dos custos dos exames admissionais e

dos problemas sociais que poderão ter no futuro, como por exemplo, a discriminação de pessoas pelo fato

de usarem drogas. Assim, com essa política de varrer para debaixo do tapete a sujeira, terminam por fechar

os olhos para uma realidade. O que fazer se o operador de uma grua, transportando cinco toneladas de

carga por sobre prédios, carros e pessoas usa drogas? O que fazer se o motorista do caminhão da empresa

também o faz, ou quem sabe o operador de uma retroescavadeira? Lógico é que pessoas envolvidas nessas

atividades, com o agravante de fazerem uso de drogas passam a representar um elevado risco para todos.

Será que você confiaria a montagem de um andaime de 18 metros de altura a uma pessoa que usa drogas?

Será que essa pessoa teria a preocupação necessária de conferir todos os encaixes da estrutura? Dito desta

maneira podemos passar a impressão de que somos contra essas pessoas. Não, não o somos, mas nos

preocupamos com o fato de que eles, culposamente, pelo abuso de drogas, podem causar a morte de

pessoas inocentes, talvez com mais problemas pessoais do que aqueles que se utilizaram disso para abraçar

as drogas, mas não o fizeram.

A imprensa também tem mostrado as dificuldades sofridas por parentes de viciados em crack para tratá-

los. Casos extremos, de famílias que não conseguem ajuda no sistema publico de saúde, são cada vez mais

2 ↑ Recuperação: muitos abandonam o tratamento ainda no início. clicRBS (27 de maio de 2009). Página visitada em 3 de agosto de 2011. ↑ Familiares têm dificuldade em tratar viciados em crack. globo.com (27 de outubro de 2009). Página visitada em 3 de agosto de 2011. ↑ Mãe acorrenta filho usuário de drogas. Tudo em Dia. Página visitada em 3 de agosto de 2011. ↑ Autoridades querem internar usuários de crack. globo.com (25 de junho de 2009). Página visitada em 3 de agosto de 2011. ↑ Pesquisa: 98% das cidades brasileiras têm problemas ligados ao crack. Estadão (13 de dezembro de 2010). Página visitada em 3 de agosto de 2011. ↑ Prevenção ao uso indevido de drogas : Capacitação para Conselheiros e Lideranças Comunitárias. - 3.ed.- Brasília: Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas - SENAD, 2010 ↑ Entrevista com Marcelo Ribeiro. ABEAD (10 de outubro de 2008). Página visitada em 3 de agosto de 2011. ↑ Alta mortalidade entre jovens usuários de crack no Brasil. drashirleydecampos.com.br (19 de agosto de 2005). Página visitada em 3 de agosto de 2011. ↑ http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,pesquisa-98-das-cidades-brasileiras-tem-problemas-ligados-ao-crack,653165,0.htm

Página 25 de 26

comuns. E, o que é pior, os níveis de retorno às clínicas são elevados, ou seja, as pessoas entram e saem

com uma frequência muito grande, talvez pelo fato de que, ao saírem, voltam sempre para seus locais de

origem, seus hábitos e costumes, enfim, retomam as suas anteriores vidas antes das internações.

A melhor forma de tratamento desses pacientes ainda parece ser objeto de discussão entre especialistas,

mas muitos psiquiatras e autoridades posicionam-se a favor da internação compulsória em casos graves e

emergenciais, cobrando previsão legal e aumento de vagas em clínicas públicas que oferecem esse tipo de

internação. Poucas cidades brasileiras possuem o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e drogas (CAPS

AD). Essa modalidade de CAPS possui atendimento ambulatorial e hospital-dia com equipes

interdisciplinares cuja a função é criar uma rede de atenção aos usuários de álcool e outras drogas.

A recuperação não é impossível, mas depende de muitos fatores, como o apoio familiar, da comunidade e a

persistência da pessoa (vontade de mudar). Além disso, quanto antes procurada a ajuda, mais provável o

sucesso no tratamento. Segundo o médico psiquiatra Marcelo Ribeiro de Araújo, "Faz-se necessário a

constituição de equipe interdisciplinar experiente e capacitada, capaz de lhes oferecer um atendimento

intensivo e adequado às particularidades de cada um deles, contemplando suas reais necessidades de

cuidados médicos gerais, de apoio psicológico e familiar, bem como de reinserção social". Seis vezes mais

potente que a cocaína, o crack tem ação devastadora provocando lesões cerebrais irreversíveis e

aumentando os riscos de um derrame cerebral ou de um infarto.

Diferentemente do que muitos possam pensar uma obra de construção, principalmente de edificações, é

um ambiente onde o trabalhador, quando quer, e mesmo sem o apoio das empresas, pode aprender. Cada

obra é uma obra diferente, com características e atividades distintas. Os operários, quando acolhidos e

supervisionados, podem crescer profissionalmente. Todavia, livrá-lo das drogas é uma questão que

extrapola os limites da obra, já que depende muito mais do trabalhador. Cabe a esse, com ou sem o apoio

dos demais, ter a força necessária para livrar-se do vício. Certamente com o apoio da empresa e dos

colegas suas chances serão sempre maiores.

Bibliografia

COLLINS, A. M. et al. Safety Culture: A review of the literature, Health & Safety Laboratory, 25, 2002 Collinson, D.L.. Surviving the rigs: Safety and surveillance on North Sea oil installations. Organization studies; Vol 20(4), pp579-600, 1999. Cooper, M.D.. Improving safety culture Chichester: Wiley, 1998. Cooper, M.D.. Towards a model of safety culture. Safety Science. vol.36. pp111-136, 2000. Dedobbeleer, N & Beland, F (1998). Is risk perception one of the dimensions of safety climate? In: Dickety, N., Collins, A & Williamson, J (2002). Analysis of accidents in the foundry industry. Flin, R., Mearns, K., O’Connor, P. & Bryden, R.. Measuring safety climate: Identifying the common features. Safety Science, Vol.34, No.1-3, pp177-193, 2000. Folkard, S.. Transport: Rhythm and Blues. 10th Westminster lecture on transport safety. Hilder, K.. The order of the day. OH&S Canada. pp124-133, 1991. Mearns, J., Whitaker, S.M & Flin, R.. Benchmarking safety climate in hazardous environments: A longitudinal, interorganizational approach. Risk analysis, Vol. 21, No.4, pp771-786, 2001. Mearns, K. & Flin, R.. Assessing the state of organizational safety – culture or climate? Current Psychology, Vol 18(1), pp.5-17, 1999. Mearns, K., Flin, R & O’Connor, P.. Sharing ‘worlds of risk’: improving communication with crew resource management. Journal or Risk Research, 4(4), pp377-392, 2001. Mearns, K., Flin, R. Gordon, R. & Fleming, M. (1998). Measuring safety climate on offshore installations. Work and stress, Vol.12, No.3, pp238-254 Mearns, K., Flin, R., Fleming, M & Gordon, R.. Organisational and Human Factors in Offshore Safety. (OTH 97 543). London:HSE, 1997.

Página 26 de 26

Mearns, K., Flin, R., Gordon, R. & Fleming, M.. Human and organizational factors in offshore safety. Work and Stress, Vol.15, No.2, pp144-160, 2001.

NEAL, A. & GRIFFIN, M. A.. Safety climate and safety at work. In J. Barling, M.R. FRONE (eds.). The psychology of workplace safety. (pp. 15-34).Washington, DC: American Psychological Association, 2004.

NEAL, A. & GRIFFIN, M. A.. Safety climate and safety behaviour. Australian Journal of Management, 27 Special Issue, 67-76, 2002.

NEAL, A. & GRIFFIN, M.A.. A study of the lagged relationships among safety climate, safety motivation, safety behaviour, and accidents at the individual and group levels. Journal of Applied Psychology, 91 (4), 946-953, 2006.

NEAL, A.; GRIFFIN, M. A. & HART, P. M.. The impact of organizational climate on safety climate and individual behaviour. Safety Science, 34, 99-109, 2000.

OLIVEIRA, M. J. & SILVA, S.. O papel da experiência de acidentes e do clima de segurança na explicação dos comportamentos de segurança. Comunicação apresentada no VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia, Évora, Portugal, 2006.

OLIVEIRA, M. J. S.. Os comportamentos de segurança: o contributo da experiência de acidentes de trabalho e do clima de segurança, Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia Social e Organizacional pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Departamento de Psicologia Social e das Organizações, tendo como orientadora a Profa Dra Sílvia Agostinho Silva, Professora Auxiliar, pp 98, Outubro de 2007.

OLIVEIRA, M. J.. Ser(-se) Humano: Variabilidade e objectivo. (Tese Monográfica de Licenciatura não publicada). Leiria: Instituto Superior de Línguas e Administração de Leiria, 1999. OLIVEIRA, R. C.; SANTOS, J. B.. Gestão ambiental nas empresas do setor de petróleo e gás em Mossoró-RN. Holos, Vol. 3, 126-137, 2007. Pidgeon, N. & O’Leary, M.. Man-made disasters: why technology and organizations (sometimes) fail. Safety Science, Vol.34, pp15-30, 2000. Pidgeon, N..Safety culture: key theoretical issues. Work and Stress, Vol.12, No.3, pp202-216, 1998.