as digitais dos deuses (graham hancock).pdf

618
GRAHAM HANCOCK AS DIGITAIS DOS DEUSES Tradução de RUY JUNGMANN EDITORA RECORD 2001

Upload: jefferson-rodrigo-okazaki-garcia

Post on 02-Oct-2015

2.141 views

Category:

Documents


839 download

TRANSCRIPT

  • GRAHAM HANCOCK

    AS DIGITAIS DOS DEUSES

    Traduo de RUY JUNGMANN EDITORA RECORD

    2001

  • Para Santha... Por estar l, Com todo meu amor.

    Sumrio Agradecimentos Parte I Introduo: O mistrio dos mapas 1. Um mapa de lugares ocultos 2. Rios na Antrtida 3. Impresses digitais de uma cincia perdida Parte II Espuma do Mar: Peru e Bolvia 4. O vo do condor 5. A trilha inca para o passado 6. Ele veio em uma poca de caos 7. Houve, ento, gigantes? 8. O lago no topo do mundo 9. O antigo e futuro rei 10. A cidade no Portal do Sol 11. Indicaes de antiguidade 12. O fim dos viracochas Parte III A Serpente Emplumada: Amrica Central 13. O sangue e o tempo no fim do mundo 14. O povo da serpente 15. Babel mexicana 16. O santurio da serpente 17. O enigma olmeca 18. Estrangeiros bem visveis 19. Aventuras no mundo subterrneo, jornadas s estrelas

  • 20. Os filhos dos primeiros homens 21. Um computador para calcular o fim do mundo 22. A cidade dos deuses 23. O sol, a lua e o caminho dos mortos Parte IV O Mistrio dos Mitos 1. Uma espcie com amnsia 24. Ecos de nossos sonhos 25. As muitas mscaras do Apocalipse 26. Uma espcie nascida no longo inverno da terra 27. A face da terra escureceu e uma chuva negra comeou a cair Parte V O Mistrio dos Mitos 2. O cdigo da precesso dos equincios 28. A maquinaria do cu 29. A primeira tentativa de decifrar um antigo cdigo 30. A rvore csmica e o moinho dos deuses 31. Os nmeros de Osris 32. Falando para o futuro Parte VI Convite a Giz: Egito 1 33. Pontos cardeais 34. A manso da eternidade 35. Tumbas, e nada mais? 36. Anomalias 37. Feito por algum deus 38. Jogo interativo tridimensional 39. O local do incio Parte VII O Senhor da Eternidade: Egito 2

  • 40. H ainda segredos no Egito? 41. A Cidade do Sol, a Cmara do Chacal 42. Eras passadas e enigmas 43. Procurando os Primeiros Tempos 44. Deuses dos Primeiros Tempos 45. Obras de homens e de deuses 46. O undcimo milnio a.C. 47. A Esfinge 48. Medidas da terra 49. O poder da coisa Parte VIII Concluso: Onde est o corpo? 50. Procurando agulha em palheiro 51. O martelo e o pndulo 52. Como um ladro na noite Notas Bibliografia Selecionada ndice Remissivo

    Agradecimentos Este livro no poderia ter sido escrito sem o amor generoso, caloroso e encorajador de minha companheira Santha Faiia - que sempre d mais do que recebe e que, com criatividade, bondade e imaginao, enriquece a vida de todos que com ela convivem. Todas as fotos includas neste livro so de sua autoria. Sinto-me tambm grato pelo apoio e estmulo de nossos seis filhos -Gabrielle, Leila, Luke, Ravi, Sean e Shanti -, cuja presena um privilgio para mim. Meus pais, Donald e Muriel Hancock, foram incrivelmente prestativos, ativos e interessados neste e em numerosos outros tempos e projetos

  • difceis. Juntamente com meu tio James Macaulay, eles leram tambm pacientemente os esboos do original que, aos poucos, tomava forma, oferecendo uma grande riqueza de sugestes positivas. Obrigado, tambm, a meu mais velho e mais ntimo amigo, Peter Marshall, em cuja companhia resisti a numerosas tempestades, e a Rob Gardner, Joseph e Sherry Jahoda, Roel Oostra, Joseph e Laura Schor, Niven Sinclair, Colin Skinner e Clem Vallance, pelos bons conselhos. Em 1992, descobri subitamente que tinha um amigo em Lansing, Michigan. Ed Ponist entrou em contato comigo logo depois da publicao de meu livro anterior, The Sign and the Seal. Como um anjo da guarda, Ed se prontificou a dedicar parte considervel de seu tempo livre para me ajudar em pesquisas, contatos e coleta de fontes documentais nos Estados Unidos, relevantes para a preparao deste livro. Ele realizou um trabalho brilhante, enviando-me sempre os livros certos quando eu deles necessitava e localizando referncias que eu nem sabia que existiam. Revelou-se tambm muito hbil em avaliar a qualidade de meu trabalho e aprendi logo a confiar e a respeitar sua capacidade de julgamento. Finalmente, mas no de menor importncia, quando Santha e eu visitamos o Arizona para conhecer a nao hopi, Ed nos acompanhou e abriu caminhos... A carta inicial de Ed fez parte de um imenso dilvio de correspondncia que recebi de todas as partes do mundo, depois de publicar The Sign and the Seal. Durante algum tempo, tentei responder pessoalmente a todas elas. No fim, contudo, fiquei to ocupado na preparao deste livro que tive de deixar de lado esse trabalho. Sinto-me mal a esse respeito e aproveito esta oportunidade para agradecer a todos os que me escreveram e aos quais no pude dar resposta. Pretendo ser mais sistemtico no futuro, porque atribuo enorme valor a essa correspondncia e aprecio muito as informaes de alta qualidade que ela freqentemente contm... Entre outros pesquisadores que me ajudaram na preparao deste livro, no poderiam ser omitidos os nomes de Martin Slavin, David Mestecky e Jonathan Derrick. Alm disso, gostaria de agradecer aos meus editores de texto em ambos os lados do Atlntico, Tom Weldon,

  • na Heinemann, Jim Wade, na Crown, e John Pearce, na Doubleday Canad, bem como a meus agentes literrios, Bill Hamilton e Sara Fisher, pelo interesse, solidariedade e sbios e constantes conselhos. Envio daqui tambm meus calorosos agradecimentos aos pesquisadores e colegas que se transformaram em amigos no curso desta pesquisa: Robert Bauval, na Inglaterra (com quem escreverei em colaborao dois futuros livros sobre assuntos correlatos), John Anthony West e Lew Jenkins, nos Estados Unidos, Rand e Rose Flem-Ath e Paul William Roberts, no Canad. Finalmente, rendo homenagens a Ignatius Donnelly, Arthur Posnansky, R.A. Schwaller de Lubicz, Charles Hapgood e Giorgio de Santillana - pesquisadores que compreenderam que havia alguma coisa de profundamente errada na histria da humanidade, tiveram coragem de levantar a voz contra a m vontade intelectual e foram pioneiros da notvel mudana de paradigma ora em andamento.

    Parte I Introduo

    O Mistrio dos Mapas

    CAPTULO 1 Um Mapa de Lugares Ocultos

    8 ESQUADRO DE RECONHECIMENTO TCNICO (ERC) FORA AREA DOS ESTADOS UNIDOS

    Base de Westover da Fora Area Massachusetts

    6 de julho de 1960

  • ASSUNTO: Mapa-mndi do almirante Piri Reis Para: Professor Chartes H. Hapgood. Keene College Keene, New Hampshire Prezado professor Hapgood, Sua solicitao, no sentido de que fossem avaliados por esta unidade certos aspectos inusitados do mapa-mndi Piri Reis, datado de 1513, foi objeto de reexame. A alegao de que a parte inferior do mapa mostra a costa Princesa Martha, da Terra da Rainha Maud, na Antrtida, e a pennsula Palmer, razovel. Julgamos ser essa a interpretao mais lgica e, com toda probabilidade, correta do mapa. Os detalhes geogrficos mostrados na parte inferior do mapa concordam, de forma notvel, com os resultados do perfil ssmico, levantado de um lado a outro da calota polar, pela Expedio Sueco-Britnica Antrtida, realizada em 1949. Os resultados indicam que a linha costeira foi mapeada antes de ser coberta pela calota polar. A calota polar nessa regio tem atualmente uma espessura de cerca de 1.600m. No temos idia de como os dados constantes do mapa podem ser conciliados com o suposto estado dos conhecimentos geogrficos em 1513. HAROLD Z. OHLMEYER Ten.-Cel., Fora Area dos EUA Comandante A despeito da linguagem destituda de emoo, a carta de Ohlmeyer uma bomba. Se a Terra da Rainha Maud foi mapeada antes de ser coberta pelo gelo, o trabalho original de cartografia deve ter sido feito em um tempo extraordinariamente remoto.

  • H quanto tempo, exatamente? De acordo com o saber convencional, a calota polar da Antrtida, em sua atual forma e extenso, tem milhes de anos. Um exame mais atento, porm, revela que essa idia apresenta graves falhas - to graves que no precisamos supor que o mapa desenhado pelo almirante Piri Reis mostre a Terra da Rainha Maud como era h milhes de anos. A melhor prova recente sugere que a Terra da Rainha Maud e as regies vizinhas mostradas no mapa passaram por um longo perodo livres de gelo, perodo que talvez no tenha terminado inteiramente at cerca de seis mil anos atrs. Essa prova, que voltaremos a examinar no captulo seguinte, evita-nos a tarefa ingrata de explicar quem (ou o qu) dispunha da tecnologia necessria para efetuar um levantamento geogrfico preciso da Antrtida h, digamos, dois milhes de anos a.C., muito antes de nossa espcie surgir na Terra. Pela mesma razo, uma vez que a confeco de mapas uma atividade complexa e civilizada, obriga-nos a explicar como uma tarefa dessa natureza poderia ter sido realizada h seis mil anos, muito antes do aparecimento das primeiras civilizaes autnticas reconhecidas por historiadores.

    Fontes Antigas Ao tentar essa explicao, importante lembrar os fatos histricos e geogrficos bsicos: 1. O mapa de Piri Reis, que um documento autntico e no uma contrafao de qualquer tipo, foi desenhado em Constantinopla no ano 1513 d.C. 2. O mapa mostra a costa ocidental da frica, a costa oriental da Amrica do Sul e a costa norte da Antrtida.

  • 3. Piri Reis no poderia ter obtido, com exploradores da poca, informaes sobre esta ltima regio, uma vez que a Antrtida permaneceu desconhecida at 1818, mais de 300 anos depois de ele ter desenhado o mapa. 4. A costa livre de gelo da Terra da Rainha Maud mostrada no mapa constitui um quebra-cabea colossal, uma vez que a prova geolgica confirma que a data mais recente em que poderia ter sido inspecionada e mapeada, em um estado de ausncia de gelo, foi no ano 4000 a.C. 5. No possvel fixar exatamente a data mais antiga em que esse trabalho poderia ter sido feito, embora parea que o litoral da Terra da Rainha Maud pode ter permanecido em condies estveis, sem glaciao, pelo menos durante 9.000 anos antes que a calota polar em expanso a engolisse inteiramente. 6. A histria no conhece civilizao que tivesse capacidade ou necessidade de efetuar o levantamento topogrfico da linha costeira no perodo relevante, entre os anos 13000 a.C. e 4000 a.C. Em outras palavras, o verdadeiro enigma desse mapa de 1513 no est tanto no fato de ter includo um continente que s foi descoberto em 1818, mas em mostrar parte da linha costeira desse mesmo continente em condies de ausncia de gelo, que terminaram h 6.000 anos e que desde ento no se repetiram. De que maneira podem ser explicados esses fatos? Piri Reis, cortesmente, fornece--nos a resposta em uma srie de notas escritas do prprio punho, no prprio mapa. Confessa ele que no foi o responsvel pelo trabalho inicial de levantamento topogrfico e pela cartografia. Muito ao contrrio, admite que seu papel foi simplesmente o de compilador e copista e que o mapa baseia-se em grande nmero de mapas bsicos. Alguns deles foram desenhados por exploradores contemporneos ou quase contemporneos (incluindo Cristvo

  • Colombo) que, por essa poca, haviam chegado Amrica do Sul e ao Caribe, embora outros fossem documentos cujas datas retroagiam ao sculo IV a.C. ou mesmo antes. Piei Reis no deixou qualquer sugesto sobre a identidade dos cartgrafos que haviam produzido os mapas mais antigos. Em 1963, contudo, o professor Hapgood props uma soluo nova e instigante para o problema. Argumentou ele que alguns mapas bsicos que o almirante usara, em especial os que se supunha terem sido produzidos no sculo IV a.C., haviam se baseado em fontes ainda mais antigas, que, por seu lado, teriam se baseado em fontes bsicas de uma poca ainda mais recuada na antiguidade. Havia, afirmou ele, prova irrefutvel de que a terra fora extensamente mapeada, antes do ano 4000 a.C., por uma civilizao at ento desconhecida e ainda no descoberta, dotada de alto grau de progresso tecnolgico.

  • Parece [conclua ele] que informaes exatas foram transmitidas de um povo a outro. Ao que tudo indica, as cartas tiveram forosamente origem em um povo desconhecido, tendo sido passadas adiante, talvez pelos minoanos e os fencios, famosos, durante mil anos ou mais, como os maiores navegadores do mundo antigo. Temos prova de que, reunidos e estudados na grande biblioteca de Alexandria [Egito], compilaes dos mesmos foram feitas por gegrafos que l estudaram. Com incio em Alexandria, de acordo com a reconstruo de Hapgood, c6pias dessas compilaes e alguns mapas bsicos originais foram levados para outros centros de saber - notadamente Constantinopla. Finalmente, quando Constantinopla foi ocupada pelos venezianos durante a IV Cruzada, em 1204, os mapas comearam a chegar s mos de marinheiros e aventureiros europeus: A maioria desses mapas era do Mediterrneo e do mar Negro. Sobreviveram, porm, mapas de outras reas. Incluam eles mapas das Amricas e dos oceanos rtico e Antrtico. Torna-se claro que os antigos exploradores viajavam de um plo a outro. Inacreditvel como possa parecer, a prova, ainda assim, indica que alguns povos antigos exploraram a Antrtida quando suas costas estavam livres de gelo. claro, tambm, que dispunham de um instrumento de navegao para determinar acuradamente as longitudes que era imensamente superior a qualquer coisa possuda pelos povos dos tempos antigos, medieval ou moderno at a segunda metade do sculo XVIII. Essa prova, de que houve uma tecnologia desaparecida, sustenta e d credibilidade a numerosas outras hipteses sobre uma civilizao perdida, em tempos remotos. Estudiosos conseguiram refutar a maioria das alegadas provas, mostrando que eram apenas mitos, mas aqui temos prova que no pode ser refutada. A prova requer que todas as demais provas apresentadas no passado sejam reexaminadas com mente aberta.

  • A despeito do respeitado endosso de Albert Einstein (ver a seguir) e no obstante o reconhecimento posterior de John Wright, presidente da Sociedade Geogrfica Americana, de que Hapgood "formulou hipteses que exigem mais exames", nenhuma pesquisa cientfica ulterior foi realizada sobre esses antigos e estranhos mapas. Alm do mais, longe de ser aplaudido por dar uma nova e sria contribuio ao debate sobre a antiguidade da civilizao humana, Hapgood, at sua morte, foi esnobado pela maioria de seus colegas, que vazaram a discusso a que lhe submeteram a obra no que algum descreveu, acuradamente, como "sarcasmo flagrante e injustificado, escolhendo aspectos banais e fatores no suscetveis de verificao como bases para condenao, procurando, dessa maneira, evitar as questes bsicas".

    Um Homem frente de seu Tempo O falecido Charles Hapgood ensinou histria da cincia no Keene College, New Hampshire, Estados Unidos. Ele no era gelogo nem historiador da antiguidade. possvel, no entanto, que geraes futuras lembrem-se dele como o homem que abalou os alicerces da histria mundial - e tambm de um grande pedao da geologia. Albert Einstein foi um dos primeiros a compreender esse fato, quando deu o passo sem precedentes de contribuir com o prefcio para um livro de Hapgood escrito em 1953, alguns anos antes de ele iniciar a investigao do mapa de Piri Reis: Freqentemente, recebo comunicaes de pessoas que querem me consultar sobre idias suas ainda inditas [escreveu Einstein]. Dispensa dizer que s raramente tais idias tm validade cientfica. A primeira comunicao que recebi do Sr. Hapgood, porm, deixou-me eletrizado. Sua idia original, de grande simplicidade e - se continuar a ser provado que tem validade - de grande importncia para tudo aquilo que se relaciona com a histria da superfcie da terra.

  • A "idia" expressada no livro de 1953 de Hapgood uma teoria geolgica global, que explica elegantemente como e por que grandes regies da Antrtida permaneceram livres de gelo at o ano 4000 a.C., juntamente com numerosas outras anomalias encontradas na cincia da Terra. O argumento, em suma, o seguinte: 1. A Antrtida nem sempre foi coberta de gelo e houve poca em que era muito mais quente do que hoje. 2. E era quente porque, naquele perodo, no se localizava fisicamente no plo Sul. Em vez disso, situava-se a aproximadamente 3.600 quilmetros mais ao norte. Essa situao a teria colocado fora do Crculo Antrtico, em um clima temperado ou frio temperado. 3. O continente passou para sua atual posio, dentro do Crculo Antrtico, devido a um mecanismo conhecido como "deslocamento da crosta terrestre". Esse mecanismo, que no deve, de forma alguma, ser confundido com deslocamento de placas tectnicas, ou migrao de continentes, aquele atravs do qual a litosfera, isto , toda a crosta terrestre, "pode deslocar-se ocasionalmente, movendo-se por cima do ncleo interno mole, mais ou menos como uma pele de laranja, se estivesse solta, poderia deslocar-se em uma nica pea por cima da parte interna da fruta". 4. Durante esse suposto movimento da Antrtida na direo sul, ocasionado pelo deslocamento da crosta terrestre, o continente tornou-se gradualmente mais frio, formando-se uma calota polar que se expandiu irresistivelmente durante milhares de anos, at chegar s atuais dimenses. Detalhes adicionais da prova que sustenta essas idias radicais constam da Parte VIII deste livro. Gelogos ortodoxos, no entanto, permanecem relutantes em aceitar a teoria de Hapgood (embora

  • ningum tenha provado que ela estava errada). E a teoria provoca numerosas perguntas. Entre elas, a mais importante a seguinte: que mecanismo concebvel poderia exercer uma fora suficiente sobre a litosfera para precipitar um fenmeno de tal magnitude, como o deslocamento da crosta? Ningum melhor como guia do que Einstein para sumariar as descobertas de Hapgood: Nas regies polares, h uma acumulao constante de gelo, mas no distribuda simetricamente em torno do plo. A rotao da terra atua sobre essas massas assimetricamente depositadas e produz momento centrfugo, que transmitido crosta rgida da terra. O momento centrfugo, em aumento constante, produzido dessa maneira, dar origem, quando atingir um certo ponto, a movimento da crosta da terra por cima do resto do corpo da terra... O mapa de Piei Reis parece conter prova adicional surpreendente em apoio da tese de uma glaciao geologicamente recente de partes da Antrtida, em seguida a um sbito deslocamento, na direco sul, da crosta terrestre. Alm do mais, uma vez que esse mapa s poderia ter sido desenhado antes do ano 4000 a.C., so notveis suas implicaes para a histria da civilizao humana. Supostamente, antes do ano 4000 a.C. no havia qualquer civilizao. Correndo algum risco de uma simplificao excessiva, o consenso acadmico , em termos gerais, o seguinte: . A civilizao desenvolveu-se inicialmente no Crescente Frtil do Oriente Mdio. . Esse desenvolvimento comeou aps o ano 4000 a.C. e culminou no aparecimento das mais antigas civilizaes autnticas (Sumria e Egito), por volta do ano 3000 a.C., seguido logo depois por outras civilizaes no vale do Indo e na China. . Cerca de 1.500 anos depois, a civilizao decolou espontnea e independentemente nas Amricas.

  • . Desde o ano 3000 a.C. no Velho Mundo (e mais ou menos no ano 1500 no Novo Mundo), a civilizao "evoluiu" ininterruptamente na direo de formas cada vez mais refinadas, complexas e produtivas. . Em conseqncia, e especialmente em comparao com a nossa, todas as civilizaes antigas (e todas as suas obras) devem ser compreendidas como essencialmente primitivas (os astrnomos sumerianos sentiam pelos cus um respeito anticiendfico e at as pirmides do Egito teriam sido construdas por "primitivos com conhecimentos tecnolgicos"). A prova, sob a forma do mapa de Piri Reis, parece desmentir tudo isso.

    Piri Reis e suas Fontes Nos seus dias, Piri Reis foi figura bem conhecida. No h a menor dvida sobre sua identidade histrica. Almirante na marinha de guerra dos turcos otomanos, participou, em meados do sculo XVI, no raro no lado vencedor, de numerosas batalhas navais. Era, alm disso, considerado especialista nas terras do Mediterrneo, e escreveu um livro de navegao famoso, o Kitabi Bahriye, onde constava uma descrio completa das costas, ancoradouros, correntes, baixios, pontos de desembarque, baas e estreitos dos mares Egeu e Mediterrneo. A despeito de uma carreira ilustre, caiu no desagrado de seus senhores e foi decapitado no ano 1554 ou 1555 d.C. Os mapas bsicos usados por ele para desenhar o mapa de 1513 estiveram, com toda probabilidade, arquivados inicialmente na Biblioteca Imperial, em Constantinopla, qual se sabe que o almirante tinha acesso privilegiado. Essas fontes (que podem ter sido trazidas ou copiadas de centros de saber ainda mais antigos) no existem mais ou, pelo menos, no foram encontradas. No obstante, foi na biblioteca do velho Palcio Imperial que, em data to recente quanto

  • 1929, algum redescobriu o mapa de Piri Reis, pintado em pele de gazela e enrolado, em uma empoeirada prateleira.

    Legado de uma Civilizao Perdida? Como o confuso Ohlmeyer reconheceu na carta escrita a Hapgood em 1960, o mapa de Piri Reis mostrava a topografia subglacial, o verdadeiro perfil da Terra da Rainha Maud, na Antrtida, por baixo do gelo. Esse perfil permaneceu inteiramente oculto desde o ano 4000 a.C. (quando foi coberto pelo lenol de gelo em expanso) at ser revelado, mais uma vez, como resultado de extenso levantamento ssmico da regio, efetuado em 1949 por uma equipe cientfica de reconhecimento britnico-sueca. Se Piri Reis tivesse sido o nico cartgrafo com acesso a essas informaes anmalas, seria errneo dar qualquer grande importncia ao mapa. No mximo, poderamos dizer: "Talvez ele seja importante, mas, tambm, talvez seja apenas uma coincidncia. O almirante turco, porm, no foi o nico a ter acesso a esse conhecimento geogrfico aparentemente impossvel e inexplicvel. Seria intil especular ainda mais do que Hapgood j fez, isto , se a "corrente subterrnea" poderia ter conduzido e preservado esse conhecimento atravs das idades, transmitindo fragmentos dele de uma cultura a outra, de uma poca a outra. Qualquer que tenha sido o mecanismo, o fato que um bom nmero de outros cartgrafos aparentemente tomou conhecimento dos mesmos curiosos segredos. Seria possvel que todos esses cartgrafos tivessem compartilhado, talvez sem saber, do abundante legado cientfico de uma civilizao desaparecida?

  • CAPTULO 2 Rios na Antrtida

    Nas frias de Natal de 1959-60, Charles Hapgood procurava dados sobre a Antrtida na Sala de Obras de Referncia da Biblioteca do Congresso, em Washington, D.C. Durante vrias semanas consecutivas, prosseguiu nesse trabalho, absorto na pesquisa, cercado por literalmente centenas de mapas e cartas medievais. Descobri [escreveu ele] um sem-nmero de coisas fascinantes e inesperadas e vrias cartas mostrando o continente antrtico. Certo dia, virei uma pgina e fiquei paralisado, transfixado. Lanando meus olhos sobre o hemisfrio Sul de um mapa-mndi desenhado por Oronteus Finaeus em 1531, senti a convico imediata de que descobrira nele um mapa inegavelmente autntico da verdadeira Antrtida. A forma geral do continente era surpreendentemente parecida com o esboo encontrado em mapas modernos. A posio do plo Sul, quase no centro do continente, parecia mais ou menos correta. As cordilheiras que seguiam as costas sugeriam as numerosas cadeias de montanhas descobertas na Antrtida em anos recentes. Era bvio, tambm, que esse mapa no constitua uma criao atamancada da imaginao de algum. As cadeias de montanhas apareciam bem individualizadas, algumas claramente costeiras e, outras, no. Originando-se nelas, rios corriam em direo ao mar, seguindo, em todos os casos, o que pareciam bacias hidrogrficas naturais, muito convincentes. Esse fato sugeria, claro, que as costas deveriam ter estado livres de gelo ao ser desenhado o mapa original. O interior profundo, porm, estava inteiramente livre de rios e montanhas, sugerindo esse fato que gelo poderia ter estado presente nessa regio.

  • Um estudo mais profundo do mapa de Oronteus Finaeus, realizado por Hapgood e pelo Dr. Richard Strachan, do Massachusetts Institute of Technology, confirmou os fatos seguintes: 1. O mapa havia sido copiado e compilado de mapas primrios anteriores, desenhados de acordo com certo nmero de projees diferentes. 2. O mapa mostrava, de fato, condies no-glaciais nas regies costeiras da Antrtida, notamente na Terra da Rainha Maud, Terra de Enderby, Terra de Wilkes, Terra de Vitria (a costa oriental do mar de Ross) e Terra de Marie Byrd. 3. Tal como no caso do mapa de Piri Reis, o perfil geral do terreno e os acidentes fsicos visveis correspondiam estreitamente a mapas de levantamentos ssmicos das superfcies de terras subglaciais da Antrtida. O mapa de Oronteus Finaeus, concluiu Hapgood, parecia documentar "a surpreendente sugesto de que a Antrtida fora visitada, e talvez colonizada, numa poca em que as condies eram predominante, se no inteiramente, no-glaciais. Dispensa dizer que o mapa implicava uma antiguidade muito remota... [Na verdade] o mapa de Oronteus Finaeus leva a civilizao dos homens que desenharam o mapa original a uma poca contempornea do fim da ltima Idade Glacial no hemisfrio Norte.

  • O Mar de Ross Prova adicional em apoio dessa idia encontrada na maneira como o mar de Ross foi mostrado por Oronteus Finaeus. Nos locais onde hoje grandes geleiras, como a Beardmore e a Scott, desembocam no mar, o mapa de 1531 mostra esturios, extensas baas e indicaes de rios. A implicao inconfundvel desses acidentes geogrficos que no havia gelo no mar de Ross, ou em suas costas, quando foram desenhados os mapas primrios usados por Oronteus Finaeus. "Teria que haver tambm uma grande extenso de terra livre de gelo para alimentar os rios. Atualmente, todas essas costas e as terras que ficavam mais para trs encontram-se profundamente sepultadas sob

  • uma calota de gelo, com uma espessura de 1.600m, enquanto que, no prprio mar de Ross, so encontrados icebergs flutuantes de centenas de metros de espessura. A prova relativa ao mar de Ross implica forte corroborao idia de que a Antrtida deve ter sido mapeada por alguma civilizao desconhecida durante o perodo, muito extenso, em que a regio ficou livre do gelo, e que terminou por volta do ano 4000 a.C. Essa concluso robustecida pelo trabalho das sondas usadas em 1949 para coleta de ncleos-testemunho por uma das expedies do almirante Byrd Antrtida, com o objetivo de tirar amostras dos sedimentos do leito do mar de Ross. Os sedimentos revelaram numerosas camadas de estratificao claramente demarcadas, refletindo diferentes condies ambientais em diferentes pocas: "depsitos marinhos glaciais grossos", "depsitos marinhos glaciais mdios", "depsitos marinhos glaciais finos", e assim por diante. A descoberta mais surpreendente, contudo, foi "que grande nmero de camadas era formado de sedimentos variados, de fina granulao, tais como os que so trazidos para o mar por rios que fluem de terras de clima temperado (isto , livres de gelo)...". Usando o mtodo de datao por inio, criado pelo de. W.D. Urry (que utiliza trs elementos radioativos diferentes encontrados na gua do mar), pesquisadores do Carnegie Institute, em Washington, D.C., conseguiram provar, alm de qualquer dvida razovel, que caudalosos rios, trazendo sedimentos muito variados de fina granulao, haviam realmente existido na Antrtida h cerca de 6.000 anos, conforme demonstrava o mapa de Oronteus Finaeus. S depois dessa data, por volta do ano 4000 a.C., " que o sedimento de tipo glacial comeou a ser depositado no leito do mar de Ross... Os ncleos-testemunho indicam que condies quentes prevaleceram durante um longo perodo, antes daquela data".

  • Merctor e Buache Os mapas de Piri Reis e de Oronteus Finaeus, portanto, proporcionam-nos um vislumbre da Antrtida que nenhum cartgrafo dos tempos modernos poderia ter visto, em nenhuma hiptese. Por si mesmas, claro, essas duas peas de prova no seriam suficientes para nos convencer de que poderamos estar olhando para as impresses digitais de uma civilizao perdida. Mas trs, quatro, ou seis mapas desse tipo poderiam ser refutados com igual justificao? Seria seguro, ou razovel, por exemplo, continuar a ignorar as implicaes histricas de alguns dos mapas elaborados pelo mais famoso cartgrafo do sculo XVI, Gerard Kremer, conhecido tambm como Merctor? Mais lembrado pela "projeo de Merctor", ainda usada na maioria dos mapas-mndi modernos, esse enigmtico indivduo (que realizou uma inexplicada visita Grande Pirmide do Egito em 1563), foi, segundo consta de documentos, "infatigvel na busca (...) do saber de pocas remotas", tendo passado muitos anos acumulando diligentemente uma vasta e ecltica biblioteca de obras de referncia de mapas primrios antigos.

  • No que muito importante, Merctor incluiu o mapa de Oronteus Finaeus em seu Atlas de 1569 e mostrou tambm a Antrtida em vrios outros mapas que ele mesmo produziu no mesmo ano. Entre as partes do continente sul ainda no descobertas na poca e constantes do mapa figuram o cabo Dart e o cabo Herlacher, na Terra de Marie Byrd, o mar de Amundsen, a ilha Thurston, na Terra de Ellsworth, as ilhas Fletcher, no mar de Bellinghausen, a ilha Alexander, a pennsula Antrtica (Palmer), o mar de Weddell, o cabo Norvegia, a cordilheira Regula, na Terra da Rainha Maud (sob a forma de ilhas), as montanhas Muhlig-Hoffinan (como ilhas), a costa Prncipe Harald, a geleira Shirase, como esturio, na costa Prncipe Harald, a ilha Padda, na baa Lutzow-Holm, e a costa Prncipe Olaf, na Terra de Enderby.

  • "Em alguns casos, esses acidentes geogrficos so claramente mais reconhecveis do que no mapa de Oronteus Finaeus", observou Hapgood, "e parece claro, de modo geral, que Merctor dispunha de mapas primrios, alm dos usados por Oronteus Finaeus. E no apenas Merctor. Philippe Buache, cartgrafo francs do sculo XVIII, publicou um mapa da Antrtida muito tempo antes de o continente meridional ter sido "descoberto" oficialmente. O notvel no mapa de Buache que parece ter se inspirado em um mapa primrio desenhado antes, talvez milhares de anos antes, diferente dos usados por Oronteus Finaeus e Merctor. E o que Buache nos mostra em uma representao sobrenaturalmente precisa como a Antrtida deveria ter parecido quando no havia l absolutamente nenhum gelo. O mapa revela a topografia subglacial de um continente inteiro, do qual nem mesmo ns tivemos conhecimento completo at 1958, data do Ano Geofsico Internacional, quando foi realizado um levantamento ssmico completo da regio. O levantamento simplesmente confirmou o que Buach proclamou em 1737, ao publicar seu mapa da Antrtida. Baseando o trabalho cartogrfico em fontes antigas ora perdidas, o acadmico francs desenhou uma clara via navegvel de um lado a outro do continente, dividindo-o em duas massas principais de terra, a leste e a oeste da linha hoje assinalada como montanhas Transantrticas. Essa via navegvel, ligando os mares de Ross, Weddell e Bellinghausen, teria realmente existido, se a Antrtida houvesse estado livre de gelo. Conforme demonstraram os resultados do Ano Geofsico Internacional, de 1958, o continente (que nos mapas modernos aparece como uma massa de terra contnua) consiste de um arquiplago de grandes ilhas, com gelo compacto de 1.600m de espessura entre elas, projetando-se acima da superfcie do mar.

  • A poca dos Cartgrafos

    Conforme vimos, numerosos gelogos ortodoxos acreditam que h milhes de anos existiram, pela ltima vez, vias fluviais nessas bacias ora cobertas de gelo. Do ponto de vista dos estudiosos, porm, igualmente ortodoxo afirmar que nenhum ser humano existia naqueles tempos remotos, quanto mais seres humanos capazes de mapear acuradamente as massas continentais da Antrtida. O grande problema levantado pela prova oferecida por Buache/AGI que essas massas parecem realmente ter sido mapeadas quando se

  • encontravam livres de gelo. Esse fato apresenta aos estudiosos duas proposies mutuamente contraditrias. Qual delas a correta? Se formamos com a faco dos gelogos ortodoxos e aceitamos que milhes de anos se passaram indubitavelmente desde que a Antrtida esteve, pela ltima vez, inteiramente livre de gelo, ento toda prova de evoluo humana, laboriosamente acumulada por cientistas ilustres desde o tempo de Darwin, deve carecer de fundamento. E parece inconcebvel que isso tenha acontecido: o registro fssil deixa meridianamente claro que h milhes de anos existiam apenas ancestrais ainda no evoludos da humanidade - homindeos de testa baixa, que se arrastavam pelo cho com as juntas dos dedos tocando a terra, incapazes de trabalhos sofisticados como a elaborao de mapas. Deveramos, ento, supor a interveno de cartgrafos aliengenas, a bordo de espaonaves em rbita, a fim de explicar a existncia de mapas sofisticados de uma Antrtida livre de gelo? Ou deveramos pensar novamente nas implicaes da teoria de Hapgood sobre o deslocamento da crosta da terra, o que permitiria que o continente sul houvesse ficado livre de gelo h uns 15.000 anos, da forma mostrada por Buache? Seria possvel que uma civilizao humana, suficientemente desenvolvida para ter condies de mapear a Antrtida, pudesse ter surgido cerca de 13.000 anos antes de Cristo e, em seguida, desaparecido? E, se isso aconteceu, quanto tempo depois? O efeito combinado dos mapas de Piri Reis, Oronteus Finaeus, Merctor e Buache a forte, embora perturbadora, impresso de que a Antrtida deve ter sido continuamente mapeada durante um perodo de vrios milhares de anos, medida que a calota de gelo expandia-se gradualmente a partir do interior, aumentando seu alcance a cada milnio, mas s conseguindo cobrir todas as costas do continente sul por volta do ano 4000 a.C. As fontes primrias dos mapas de Piri Reis e Merctor deveriam, portanto, ter sido preparadas perto do fim desse perodo, poca em que, na Antrtida, s as costas se encontravam

  • livres de gelo. A fonte usada no mapa de Oronteus Finaeus, por outro lado, parece ter sido muito anterior, quando a calota de gelo existia apenas no interior profundo do continente, ao passo que a de Buache teve origem, aparentemente, em data ainda mais antiga (por volta do ano 13000 a.C.), quando no havia absolutamente gelo na Antnida.

    Amrica do Sul Teriam sido outras partes do mundo objeto de levantamento topogrfico e mapeadas com preciso a intervalos muito separados durante a mesma poca, ou seja, aproximadamente dos anos 13000 a 4000 a.C.? A resposta talvez se encontre, mais uma vez, no mapa de Piei Reis, que contm mais mistrios do que apenas a Antrtida: . Desenhado em 1513, o mapa revela um misterioso conhecimento da Amrica do Sul - no s da costa oriental, mas tambm dos Andes no lado ocidental do continente, que, claro, eram desconhecidos na poca. O mapa mostra corretamente o rio Amazonas nascendo nessas montanhas inexploradas e delas correndo na direo leste. . Compilado vista de mais de vinte documentos primrios diferentes, de antiguidade variada, o mapa de Piri Reis mostra o Amazonas no apenas uma, mas duas vezes (com toda probabilidade, como resultado de superposio no intencional de dois dos documentos primrios usados pelo almirante turco). Na primeira, o curso do Amazonas mostrado descendo at a foz do rio Par, embora no conste a importante ilha de Maraj. De acordo com Hapgood, esse fato sugere que o mapa primrio relevante deve ter sido datado de uma poca, talvez h 15.000 anos, quando o rio Par era a principal ou nica foz do Amazonas e quando a ilha de Maraj fazia parte do continente, no lado norte do rio. A segunda verso do Amazonas, por outro lado, mostra a ilha de Maraj (e em detalhes fantasticamente exatos), a despeito do fato de que essa ilha s foi descoberta em

  • 1543. Mais uma vez, surge a possibilidade de uma civilizao desconhecida, que realizava operaes contnuas de levantamento topogrfico e mapeamento da face mutvel da terra, ao longo de um perodo de muitos milhares de anos, tendo Piri Reis usado no s os mapas primrios mais antigos, mas tambm os mais recentes deixados por essa civilizao. . Nem o rio Orinoco nem o seu atual delta so mostrados no mapa de Piri Reis. Em vez disso, como prova Hapgood, dois esturios, que se estendiam muito terra adentro (numa distncia de 160km), foram mostrados perto do local onde se encontra o rio atual. A longitude na quadrcula seria correta para o Orinoco e a latitude tambm bastante acurada. Ser possvel que esses esturios tenham sido soterrados por sedimentos e o delta se estendido por essa distncia toda, desde que os mapas primrios foram desenhados? . Embora permanecessem desconhecidas at 1592, as ilhas Falkland aparecem em sua latitude correta no mapa de 1513. . A mapoteca de fontes antigas incorporada ao mapa de Piri Reis poderia explicar tambm o fato de mostrar convincentemente a existncia de uma grande ilha no oceano Atlntico, a leste da costa da Amrica do Sul, onde nenhuma ilha existe atualmente. Seria pura coincidncia que essa ilha "imaginria" tenha sido localizada exatamente acima da cordilheira subocenica existente no meio do Atlntico, imediatamente ao norte do equador e a 1.100km a leste da costa do Brasil, onde os minsculos rochedos de So Pedro e So Paulo se projetam acima das ondas? Ou teria sido o mapa primrio relevante desenhado no auge da ltima Era Glacial, quando o nvel dos mares era muito mais baixo do que hoje e uma grande ilha poderia, realmente, ter ficado exposta nesse ponto?

  • Nveis do Mar e Eras Glaciais Outros mapas do sculo XVI do tambm a impresso de que poderiam ter-se baseado em levantamentos topogrficos mundiais, realizados durante a ltima Era Glacial. Um deles foi compilado em 1559 por um turco, Hadji Ahmed, cartgrafo, que, como dizia Hapgood, devia ter tido acesso a alguns mapas primrios "de natureza a mais extraordinria. O aspecto mais estranho e que logo impressiona na compilao de Hadji que ela mostra, com grande clareza, uma faixa de territrio, de quase 1.600km de largura, ligando o Atasca Sibria. Essa "ponte continental", como a chamam os gelogos, efetivamente existiu no passado (no local onde hoje existe o estreito de Bering), mas foi coberta pelas ondas quando o nvel do mar subiu ao fim da ltima Era Glacial. O aumento do nvel do mar foi causado pelo degelo tumultuoso da calota polar, que recuava celeremente por toda parte no hemisfrio Norte, por volta do ano 10000 a.C. Por isso mesmo, interessante que pelo menos um mapa antigo parece mostrar o sul da Sucia coberto por geleiras remanescentes, do tipo que deve ter sido realmente predominante nessas latitudes. As geleiras remanescentes figuram no famoso Mapa do Norte, de Claudius Ptolomeu. Compilado originariamente no sculo II d.C., esse trabalho notvel do ltimo grande gegrafo da antiguidade clssica ficou perdido durante centenas de anos e s foi redescoberto no sculo XV. Ptolomeu trabalhava como curador da Biblioteca de Alexandria, onde era conservada a maior coleo de manuscritos dos tempos antigos, e foi nela que ele consultou os documentos arcaicos primrios que lhe permitiram compilar seu prprio mapa. A aceitao da possibilidade de que a verso original de pelo menos uma das cartas a que ele se referiu teria sido preparada por volta do ano 10000 a.C. contribui para explicar por que o mapa mostra geleiras, caractersticas dessa exata poca, juntamente com "lagos (ou) sugerindo a forma dos lagos e

  • cursos d'gua atuais que lembram muito correntes glaciais (...) descendo das geleiras para os lagos". provavelmente desnecessrio acrescentar que ningum nos tempos romanos, poca em que Ptolomeu elaborou seu mapa, tinha a menor suspeita de que eras glaciais poderiam ter coberto outrora o norte da Europa. Nem ningum no sculo XV (quando foi redescoberto o mapa) possua tal conhecimento. Na verdade, impossvel dizer como as geleiras remanescentes e outros acidentes geogrficos mostrados no mapa de Ptolomeu poderiam ter sido constatados em levantamentos, imaginados ou inventados por qualquer civilizao conhecida anterior nossa. So bvias as implicaes desse fato. Como tambm so as de outro mapa, o "Portolano", de lehudi Ibn Ben Zara, desenhado em 1487. Essa carta da Europa e norte da frica pode ter sido baseada em fonte ainda mais antiga do que a usada por Ptolomeu, porquanto aparentemente mostra geleiras muito ao sul da Sucia (na verdade, aproximadamente na mesma latitude da Inglaterra) e o Mediterrneo, o Adritico e o Egeu como devem ter sido antes do derretimento da calota europia. O nvel do mar, claro, teria sido muito mais baixo do que hoje. interessante notar, por exemplo, na seo do Egeu do mapa, que existiam muito mais ilhas do que atualmente. primeira vista, esse fato parece estranho. Contudo, se dez ou doze mil anos se passaram desde a era em que foi elaborado o mapa de Ibn Ben Zara, a discrepncia pode ser explicada sem dificuldade: as ilhas perdidas devem ter sido cobertas pelo nvel do mar que subia ao fim da ltima Era Glacial. Mais uma vez, parece que estamos olhando para as impresses digitais de uma civilizao desaparecida - uma civilizao capaz de produzir mapas incrivelmente precisos de partes muito separadas da terra. Que tipo de tecnologia e que estado da cincia e da cultura teriam sido necessrios para realizar um trabalho dessa natureza?

  • CAPTULO 3 Impresses Digitais de uma Cincia Perdida

    Vimos que o mapa-mndi de Merctor, datado de 1569, inclua uma representao precisa das costas da Antrtida, como deveriam ter parecido h milhares de anos, quando estiveram livres de gelo. Curiosamente, esse mesmo mapa muito menos preciso na representao de outra regio, a costa ocidental da Amrica do Sul, do que um mapa anterior (1538) tambm elaborado por Merctor. A razo desse fato parece ser que o gegrafo do sculo XVI baseou o mapa anterior nas fontes antigas que sabemos que tinha disposio, ao passo que, no tocante ao mapa mais moderno, confiou em observaes e medies dos primeiros exploradores espanhis da regio ocidental da Amrica do Sul. Uma vez que eles supostamente levaram consigo para a Europa as informaes mais recentes, dificilmente poderamos culpar Merctor por t-Ias aceito. Mas, ao fazer isso, declinou a preciso de seu trabalho: em 1569, no existiam instrumentos capazes de fixar a longitude, ainda que parecesse que foram usados para preparar os documentos primrios antigos consultados por ele para produzir o mapa de 1538.

    Os Mistrios da Longitude Vejamos o problema da longitude, definido como a distncia em graus a leste ou oeste do meridiano de referncia. O meridiano de referncia atual, internacionalmente aceito, a curva imaginria traada do plo Norte ao plo Sul que passa pelo Real Observatrio de Greenwich, em Londres. Greenwich, portanto, representa a longitude 0, enquanto que Nova York, por exemplo, situa-se a 74 oeste e Camberra, Austrlia, a aproximadamente 150 leste. Poderamos dar uma explicao detalhada da longitude e do que precisa ser feito para fix-Ia exatamente no tocante a qualquer dado ponto na superfcie da terra. O que nos interessa aqui, contudo, no

  • tanto o detalhe tcnico quanto os fatos histricos aceitos sobre o conhecimento crescente da humanidade no tocante aos mistrios da longitude. Entre esses fatos, o mais importante o seguinte: at a ocorrncia de uma inveno inovadora no sculo XVIII, cartgrafos e navegantes no conseguiam fixar a longitude com qualquer tipo de preciso. Limitavam-se a dar palpites, que em geral erravam em muitas centenas de quilmetros, porque no surgira ainda a tecnologia necessria para que pudessem fazer corretamente o trabalho. A latitude ao norte ou sul do equador no criava problema dessa natureza: a latitude podia ser obtida atravs de medies angulares do sol e das estrelas, usando-se instrumentos relativamente simples. Para fixar a longitude, porm, era necessrio equipamento inteiramente diferente e de calibre superior, que pudesse combinar medies de posio com medies de tempo. Durante todo o transcurso da histria conhecida, a inveno de equipamento dessa natureza permaneceu alm da capacidade dos cientistas. Em princpios do sculo XVIII, porm, com o aumento cada vez maior do trfego martimo, aumentou a sensao de impacincia e urgncia para soluo do problema. Ou, nas palavras de uma autoridade do perodo: "A busca da longitude era uma sombra sobre a vida de todos os marinheiros e a segurana de todos os navios e cargas. A medio precisa parecia ser um sonho impossvel e 'descobrir a longitude' tornou-se uma frase padro na imprensa, do tipo 'to fcil quanto um porco voar. Acima de tudo, precisava-se de um instrumento que controlasse o tempo (no local de partida) com exatido perfeita durante as longas viagens martimas, a despeito dos movimentos do navio e no obstante as condies adversas de tempo quente e frio, chuvoso e seco. "Um Relgio desse tipo", como disse Isaac Newton em 1714 a membros da Junta de Longitude, um organismo oficial do governo britnico, "no foi ainda fabricado. E, de fato, no havia sido. Os relgios do sculo XVII e princpios do sculo XVIII eram dispositivos grosseiros, que costumeiramente adiantavam ou atrasavam um quarto

  • de hora por dia. Em contraste, o cronmetro martimo eficaz s poderia adiantar ou atrasar essa margem em vrios anos.

    S na dcada de 1720, porm, que um talentoso relojoeiro ingls, John Harrison, comeou a trabalhar no primeiro de uma srie de modelos, que resultou na fabricao de um cronmetro desse tipo. O objetivo de Harrison era ganhar o prmio de 20.000 libras oferecido pela Junta de Longitude "ao inventor de qualquer meio para determinar a longitude de um navio, com uma margem de erro de apenas 48 milhas nuticas ao cabo de uma viagem de seis semanas". Um cronmetro capaz de atender a esse requisito teria que marcar o tempo com uma margem de erro de trs segundos ao dia. Foram necessrios quase 40 anos, perodo em que completou e submeteu a

  • teste vrios prottipos, antes que Harrison pudesse adequar-se a tais padres. Finalmente, em 1761, o elegante Cronmetro N 4 deixou a Gr-Bretanha a bordo do HMS Deptford a caminho da Jamaica, acompanhado pelo filho de Harrison, William. Nove dias depois de iniciada a viagem, e na base dos clculos de longitude tornados possveis com o cronmetro, William informou ao comandante que avistariam as ilhas da Madeira na manh seguinte. O comandante apostou e deu uma vantagem de cinco a um de que ele estava errado, mas concordou em manter o curso do navio. William ganhou a aposta. Dois meses depois, na Jamaica, descobriu-se que o instrumento atrasara apenas cinco segundos. Harrison havia superado as condies estabelecidas pela Junta de Longitude. Devido a entraves burocrticos no governo britnico, porm, ele s recebeu o prmio trs anos depois e antes de seu falecimento em 1776. Compreensivelmente, s quando recebeu o dinheiro que ele divulgou os segredos de seu projeto. Como resultado dessa demora, o capito James Cook no pde contar com as vantagens de um cronmetro quando empreendeu sua primeira viagem de descoberta em 1768. Ao realizar a terceira viagem (1778-9), porm, conseguiu mapear o Pacfico com uma preciso impressionante, fixando no s as latitudes corretas, mas tambm a longitude de todas as ilhas e costas. Da em diante, "graas aos cuidados de Cook e ao cronmetro de Harrison (...) nenhum navegador teria desculpa para deixar de encontrar uma ilha no Pacfico (...) ou por naufragar em uma costa que aparecia, surgida do nada. Realmente, com as longitudes exatas, os mapas do Pacfico elaborados por Cook devem ser classificados entre os primeiros exemplos de cartografia precisa da era moderna. Eles nos lembram, contudo, que a elaborao de mapas realmente dignos de confiana exige pelo menos trs ingredientes principais: grandes viagens de descoberta, competncia matemtica e cartogrfica de primeira classe e cronmetros sofisticados.

  • Mas s depois de o cronmetro de Harrison tornar-se de uso corrente na dcada de 1770 que foi atendida a terceira das pr-condies. A brilhante inveno permitiu que cartgrafos fixassem com preciso a longitude, algo que os sumrios, os antigos egpcios, os gregos e os romanos e, na verdade, todas as demais civilizaes conhecidas anteriores ao sculo XVIII, aparentemente no conseguiram fazer. Por isso mesmo, surpreende e perturba descobrir mapas imensamente mais antigos que fixam com uma preciso moderna as latitudes e longitudes.

    Instrumentos de Preciso Essas latitudes e longitudes inexplicavelmente precisas so encontradas na mesma categoria geral de documentos que contm os conhecimentos geogrficos avanados que mencionamos sumariamente acima. O mapa de Piri Reis de 1513, por exemplo, pe a Amrica do Sul e a frica nas latitudes relativas corretas, o que, teoricamente, teria sido uma faanha impossvel para a cincia da poca. Piri Reis, porm, teve a honestidade de reconhecer que o mapa baseava-se em fontes mais antigas. Poderia ter ele tirado dessas fontes as longitudes precisas? Reveste-se tambm de grande interesse o denominado "Dulcert Portolano", do ano 1339 d.C., que mostra a Europa e o Norte da frica. Neste caso, a latitude perfeita, a despeito das distncias imensas, e a longitude total dos mares Mediterrneo e Negro dada com uma margem de erro de apenas meio grau. O professor Hapgood comenta que o autor da fonte primria, da qual foi copiado o Dulcert Portolano, havia "alcanado uma preciso altamente cientfica, ao encontrar a razo entre latitude e longitude. Ele s poderia ter feito isso se dispusesse de informaes precisas sobre as longitudes relativas de grande nmero de lugares espalhados

  • pelo caminho todo, de Galway, na Irlanda, at a curva oriental do rio Don, na Rssia. O mapa Zeno, do ano 1380 d.C., constitui outro enigma. Cobrindo uma vasta rea do hemisfrio norte que chega at a Groenlndia, o mapa localiza numerosos locais muito separados, em latitudes e longitudes "espantosamente corretas". "incrvel", declara Hapgood, "que algum no sculo XIV pudesse ter descoberto as latitudes exatas desses locais, para nada dizer das longitudes precisas". O mapa-mndi de Oronteus Finaeus merece tambm ateno: coloca as costas da Antrtida nas latitudes e longitudes relativas corretas e d uma rea notavelmente exata para o continente como um todo. Esses resultados refletem um nvel de conhecimento geogrfico que s se tornou disponvel no sculo XX. O Portolano, de Yehudi Ibn Ben Zara, outro mapa notvel por sua preciso no que concerne a latitudes e longitudes relativas. A longitude total entre Gibraltar e o mar de Azov dada com uma preciso de meio grau, enquanto que, no mapa em geral, os erros mdios de longitude ficam abaixo de um grau. Esses exemplos representam apenas uma pequena frao do grande e instigante dossi de provas apresentado por Hapgood. Camada aps camada, o efeito cumulativo desses trabalhos e anlise detalhada sugerem que estamos nos iludindo quando supomos que instrumentos precisos para medir longitude s foram inventados no sculo XVIII. Muito ao contrrio, o mapa de Piri Reis e outros indicam, com forte credibilidade, que esses instrumentos foram redescobertos nessas ocasies, que existiram em incontveis eras anteriores e que foram usados por um povo civilizado, ora perdido nas brumas da histria, que havia explorado e mapeado toda a terra. Alm do mais, parece que esse povo era capaz no s de projetar e fabricar instrumentos mecnicos tecnicamente avanados, mas foram mestres de uma cincia matemtica muito antiga.

  • Os Matemticos Perdidos Se queremos compreender o motivo, devemos inicialmente recordar o bvio: a Terra uma esfera. Quando o assunto mape-Ia, por conseguinte, o globo a nica forma que pode represent-Ia em proporo correta. Transferir dados cartogrficos de um globo para folhas lisas de papel implica inevitavelmente distores e isso s pode ser feito atravs de mtodos matemticos mecnicos e complexos, conhecidos como projeo cartogrfica. H vrios tipos de tal projeo. A de Merctor, ainda usada hoje em atlas, talvez a mais conhecida. Outras so designadas misteriosamente como azimutal, estereogrfica, gnomnica, azimutal eqidistante, projeo conforme, e assim por diante, mas desnecessrio entrar aqui em maiores detalhes sobre o assunto. Precisamos apenas observar que todas as projees cartogrficas bem-feitas exigem o uso de tcnicas matemticas sofisticadas, de um tipo supostamente desconhecido no mundo antigo (particularmente na antiguidade mais remota, antes do ano 4000 a.C., quando alegadamente no havia qualquer civilizao humana, quanto mais uma capaz de criar e usar matemtica e geometria avanadas). Charles Hapgood submeteu sua coleo de mapas antigos ao Massachusetts Institute of Technology, onde foi analisada pelo professor Richard Strachan. A concluso geral era bvia. Ele, no entanto, queria saber precisamente que nvel de matemtica teria sido necessrio para desenhar os documentos primrios originais. No dia 18 de abril de 1965, Strachan respondeu que um nvel muito alto de matemtica teria sido necessrio. Alguns dos mapas, por exemplo, pareciam ser do tipo da projeo de Merctor, datados de muito antes do nascimento do prprio Merctor. A complexidade relativa dessa projeo (implicando expanso de latitude) implica que um mtodo de transformao de coordenada trigonomtrica teria que ter sido usado. Outras razes por ele dadas para deduzir que os antigos cangrafos deveriam ter sido hbeis matemticos foram as seguintes:

  • 1. A determinao de localizaes em continentes exige pelo menos mtodos de triangulao geomtrica. No que interessa a grandes distncias (da ordem de 1.600km ou mais), correes tero que ser feitas para levar em conta a curvatura da terra, o que exige alguma compreenso de trigonometria esfrica. 2. A localizao de continentes em suas posies relativas recprocas requer compreenso da esfericidade da terra e o uso de trigonometria esfrica. 3. Culturas possuidoras desses conhecimentos, alm de instrumentos de preciso para fazer as medies necessrias determinao da localizao, usariam com toda certeza sua tecnologia matemtica para confeccionar mapas e cartas. A impresso de Strachan, de que os mapas, atravs de geraes de copistas, revelavam o trabalho de uma civilizao antiga, misteriosa e tecnologicamente avanada, foi compartilhada pelos especialistas em reconhecimento areo da Fora Area americana, aos quais Hapgood submeteu suas provas. Lorenzo Burroughs, comandante do 8 Esquadro de Reconhecimento Tcnico, Seo de Cartografia, da Base Area de Westover, realizou um estudo especialmente cuidadoso do mapa de Oronteus Finaeus. Concluiu ele que algumas das fontes sobre as quais o mapa se baseou deveriam ter sido desenhadas com auxlio de uma projeo semelhante moderna Projeo Cordiforme. Esse fato, disse Burroughs, sugere o uso de matemtica avanada. Alm disso, a forma dada ao continente da Antrtida lembra a possibilidade, se no a probabilidade, de que os mapas primrios originais foram compilados com um tipo estereogrfico ou gnomnico de projeo, implicando o uso de trigonometria esfrica. Estamos convencidos de que as descobertas realizadas pelo senhor e por seus colegas so vlidas, e que equacionam questes de extrema importncia, que afetam a geologia e a histria antiga..."

  • Hapgood faria ainda mais uma descoberta importante: um mapa chins copiado de um original mais antigo e transposto, no ano 1137 d.C., para um pilar de pedra. O mapa inclui exatamente o mesmo tipo de informaes de alta qualidade sobre longitudes que os outros. Exibe uma quadrcula semelhante e foi desenhado com uso de trigonometria esfrica. Na verdade, examinando-se bem, descobrimos que compartilha de tantos aspectos de mapas europeus e do Oriente Prximo que s uma explicao parece aceitvel: esse mapa e os outros devem ter se originado de uma fonte comum. Parece, mais uma vez, que temos diante de ns um fragmento remanescente dos conhecimentos cientficos de uma civilizao desaparecida. Mais do que isso, parece que essa civilizao deve ter sido, pelo menos em alguns aspectos, to avanada quanto a nossa, e que seus cartgrafos "mapearam virtualmente todo o globo com um nvel geral uniforme de tecnologia, com mtodos semelhantes, e igual conhecimento de matemtica e, provavelmente, com os mesmos tipos de instrumentos". O mapa chins indica ainda outra coisa: um legado global deve ter sido transmitido - um legado de valor inestimvel, incluindo, com toda probabilidade, muito mais do que conhecimentos geogrficos sofisticados. Poderia uma parte desse legado ter sido distribuda no Peru pr-histrico pelos denominados "viracochas", estranhos, misteriosos indivduos barbudos que se dizia ter vindo do outro lado do mar, em uma" poca de trevas", para restabelecer a civilizao aps uma grande calamidade na terra? Resolvi ir ao Peru para ver o que poderia descobrir.

  • Parte II Espuma do Mar Peru e Bolvia

    CAPTULO 4

    O Vo do Condor Estou no sul do Peru, voando por cima das linhas de Nazca. Acreditem em mim, depois da baleia e do macaco, o beija-flor aparece, bate as asas e estende o bico delicado para uma flor imaginria. Em seguida, fazemos uma volta fechada para a direita, perseguidos por nossa prpria minscula sombra, enquanto cruzamos a cicatriz plida da rodovia Pan-Americana e seguimos a trajetria que nos leva por cima da fabulosa Alcatraz" com pescoo de serpente: uma gara de 270m de comprimento, concebida pela mente de um mestregemetra. Descrevemos um crculo, cruzamos a estrada pela segunda vez, passamos por um arranjo espantoso de peixes e tringulos desenhados ao lado de um pelicano, viramos para a esquerda e nos descobrimos pairando acima da imagem sublime de um condor gigantesco, com as asas estendidas em um vo estilizado. Exatamente no momento em que tento recuperar o flego, outro condor, quase perto o suficiente para que pudesse ser tocado, materializa-se, vindo de ningum sabe onde, um condor autntico desta vez, orgulhoso como um anjo cado, navegando sobre uma corrente trmica de volta ao cu. Meu piloto solta um arquejo e tenta segui-lo. Por um momento, tenho um vislumbre de olhos brilhantes e imparciais que parecem nos avaliar e nos achar aqum do esperado. Em seguida, como a viso de algum mito antigo, a criatura inclina-se e flutua desdenhosamente para trs na direo do sol, deixando nosso monomotor Cessna afundando no ar mais baixo. Abaixo de ns, vemos um par de linhas paralelas, de quase 3,2km de comprimento, reta como uma flecha, at desaparecer ao longe. E ali,

  • direita, uma srie de formas abstratas, em uma escala to vasta - e ainda assim executada com tanta preciso - que parece inconcebvel que tenha sido obra de homens. Pessoas por aqui dizem que elas no foram trabalho de homens, mas de semideuses, dos Viracochas, que deixaram tambm suas impresses digitais em outros lugares na regio andina, h milhares de anos.

    O Enigma das Linhas O plat de Nazca, situado no sul do Peru, um lugar desolado, ressequido e hostil, estril e sem nenhum valor econmico. Populaes humanas jamais viveram aqui, nem o faro no futuro: a superfcie da lua dificilmente parece menos hospitaleira. Se o leitor for um pintor com projetos grandiosos, porm, esses plats altos e misteriosos parecem uma tela muito promissora, com 520km quadrados de planalto ininterrupto e a certeza de que sua obra-prima no ser apagada pela brisa do deserto ou coberta por areia transportada pelo vento. bem verdade que ventos fortes sopram por aqui, mas, por um feliz acidente da fsica, so roubados de seu ferro ao nvel do solo: os seixos que cobrem o pampa absorvem e retm o calor do sol, lanando para o alto um campo de fora de ar quente. Alm disso, o solo contm gipso suficiente para colar pequenas pedras subsuperfcie, adesivo este regularmente renovado pelo efeito umidificador do orvalho de comeos da manh. Uma vez desenhadas aqui, portanto, coisas tendem a permanecer desenhadas. Quase no h chuva. Na verdade, a precipitao no passa de meia hora de chuvisco fino a cada dcada. Nazca figura entre os lugares mais secos da terra. Se voc pintor, portanto, se tem algo grandioso e importante para expressar, e se quer ser visvel para sempre, estes estranhos e solitrios plats parecem a resposta s suas oraes.

  • Especialistas deram opinies sobre a antiguidade de Nazca, baseando-as em fragmentos de cermica encontrados cravados nas linhas e em resultados de testes de carbono radioativo com vrios restos orgnicos desenterrados aqui. As datas, objeto de conjecturas, variam entre o ano 350 a.C. e 600 d.C. Realisticamente, eles nada nos dizem sobre a antiguidade das prprias linhas, que so inerentemente to refratrias datao quanto as pedras removidas para risc-Ias. Tudo que podemos dizer com certeza que as mais recentes tm pelo menos 1.400 anos de idade. Mas teoricamente possvel que possam ser muito mais antigas do que isso - pela razo muito simples de que os artefatos dos quais essas datas so obtidas poderiam ter sido trazidos a Nazca por povos mais recentes. A maioria dos desenhos espalha-se por uma rea claramente definida do sul do Peru, limitada pelo rio Ingenio, ao norte, e pelo rio Nazca, ao sul, formando uma tela aproximadamente quadrada de deserto, de cor fulva, com 46km da estrada Pan-Americana cortando-a obliquamente da parte superior central para o canto inferior direito. Aqui, espalhadas de modo aparentemente aleatrio, h literalmente centenas de figuras diferentes. Algumas delas mostram animais e aves (um total de 18 aves diferentes). Um nmero muito maior, porm, tem a forma de figuras geomtricas, sob a forma de trapezides, retngulos, tringulos e linhas retas. Vistas do alto, estas ltimas parecem aos olhos modernos estradas em runas, como se algum engenheiro civil megalomanaco tivesse obtido licena para transformar em realidade suas fantasias mais alucinadas de projeto de um campo de aviao. No constitui surpresa, portanto, desde que se supe que o homem s conseguiu voar em incios do sculo XX, que as linhas de Nazca tenham sido identificadas por certo nmero de observadores como campos de pouso de espaonaves aliengenas. Trata-se de uma idia sedutora, mas Nazca no provavelmente o melhor lugar para buscar prova desse fato. difcil, por exemplo, entender por que extraterrestres avanados o suficiente para ter cruzado centenas de anos-luz de espao interestelar teriam precisado absolutamente de

  • campos de pouso. Claro que esses seres teriam dominado a tecnologia do pouso vertical de seus discos voadores, certo? Alm disso, no h realmente a questo de as linhas de Nazca terem algum dia sido usadas como pistas de pouso - por discos voadores ou qualquer outro tipo de nave -, embora algumas delas paream exatamente isso quando vistas do alto. Vistas ao nvel do cho, elas pouco mais so do que riscos na superfcie, feitos pela remoo de milhares de toneladas de seixos vulcnicos pretos para expor a base amarela e parda do deserto. Nenhuma das reas limpas tem mais do que alguns centmetros de profundidade e todas elas so moles demais para ter permitido o pouso de mquinas voadoras dotadas de rodas. A matemtica alem Maria Reiche, que dedicou meio sculo ao estudo das linhas, estava sendo apenas lgica quando, com uma frase seca, cortou h alguns anos a teoria extraterreste: "Lamento dizer que os espaonautas teriam ficado presos na terra. Se no foram pistas de pouso para as bigas de "deuses" aliengenas, o que mais poderiam ser as linhas de Nazca? A verdade que ningum sabe para que foram riscadas, da mesma maneira que ningum conhece realmente sua idade. Elas continuam a ser um autntico mistrio do passado. E quanto mais atentamente as observamos, mais enigmticas elas se tornam.

  • claro, por exemplo, que os animais e as aves so anteriores geometria das "pistas de pouso", porque muitos dos trapezides, retngulos e linhas retas cortam em duas (e, portanto, obliteram parcialmente) as figuras mais complexas. A deduo bvia que a arte final no deserto, como a vemos hoje, deve ter sido produzida em duas fases. Alm do mais, embora este fato parea contrrio s leis normais do progresso tcnico, temos de admitir que a mais antiga das duas fases era a mais avanada. A execuo das figuras zoomrficas

  • exigia nveis muito mais altos de habilidade e tecnologia do que riscar linhas retas. Mas que distncia separava, no tempo, os artistas mais recentes e mais modernos? Os estudiosos no abordam diretamente essa questo. Em vez disso, renem numa s ambas as culturas, dando-lhes o nome de "nazcana, e as descrevem como membros primitivos de tribos que, inexplicavelmente, desenvolveram tcnicas sofisticadas de auto-expresso artstica e, em seguida, desapareceram do cenrio peruano muitas centenas de anos antes do aparecimento de seus sucessores mais conhecidos, os incas. At que ponto foram sofisticados esses nazcanos "primitivos"? Que tipo de conhecimento teriam de possuir para deixar suas assinaturas gigantescas no plat? Para comear, parece que foram astrnomos observadores muito competentes - pelo menos na opinio da Dra. Phillis Pitluga, astrnoma do Adler Planetarium, em Chicago. Aps realizar um estudo intensivo, com auxlio de computador, dos alinhamentos estelares em Nazca, ela concluiu que a famosa figura da aranha foi criada como um diagrama terrestre da gigantesca constelao de rion, e que as linhas retas ligadas figura parecem ter sido traadas para acompanhar atravs das idades as declinaes mutveis das trs estrelas do Cinturo de rion. A importncia real da descoberta da Dra. Pitluga tornar-se- clara no momento oportuno. Enquanto isso, vale notar que a aranha de Nazca mostra tambm acuradamente um membro de um gnero conhecido de aranha - o Ricinulei. Acontece que este um dos gneros de aranha mais raros no mundo, to raro, na verdade, que s foi encontrado em partes remotas e inacessveis da floresta tropical amaznicas. De que modo poderiam esses artistas nazcanos, supostamente primitivos, ter viajado para to longe da terra natal, cruzando a formidvel barreira dos Andes, para obter um espcime do inseto? Mais a propsito, por que deveriam eles ter desejado fazer tal coisa e como puderam duplicar os detalhes minuciosos da anatomia da Ricinulei, que so normalmente visveis apenas com auxlio de

  • microscpio, notadamente o rgo reprodutivo, situado na extremidade da perna direita mais longa? Mistrios desse tipo multiplicam-se em Nazca e nenhum dos desenhos, exceto talvez o do condor, parece realmente estar vontade aqui. A baleia e o macaco, afinal de contas, esto to deslocados nesse ambiente desrtico como a aranha amaznica. No se pode dizer que uma figura curiosa de homem, com o brao direito erguido como se estivesse fazendo uma saudao, calado com pesadas botas e com olhos redondos de coruja olhando para a frente pertena a qualquer era ou cultura. Outros desenhos representando a forma humana so igualmente peculiares: cabeas envolvidas em halos de luz parecem realmente pertencer a visitantes de outros planetas. O puro tamanho dessas figuras tambm extravagante e digno de nota. O beija-Bor tem 50m de comprimento, a aranha, 45m, o condor se estende por quase 120m do bico s penas da cauda (como tambm o pelicano) e um lagarto, no ponto em que a cauda hoje cortada pela estrada Pan-Americana, mede 190m de comprimento. Todos os desenhos foram feitos na mesma escala ciclpica e mesma maneira difcil, pelo desenvolvimento cuidadoso de contorno de uma nica linha contnua. Ateno semelhante ao detalhe encontrada nos desenhos geomtricos. Alguns deles tomam a forma de linhas retas de mais de oito quilmetros de comprimento, cruzando o deserto como se fossem estradas romanas, descendo para leitos secos de rios, passando por cima de projees rochosas e nem por um momento desviando-se da direo certa. Esse tipo de preciso, embora difcil, no impossvel de explicar em termos de bom senso convencional. Muito mais enigmticas so as figuras zoomrficas. De que modo poderiam ter sido desenhadas com tanta perfeio quando, sem uma aeronave, seus criadores no poderiam ter conferido o progresso do trabalho, vendo-o em sua perspectiva correta? Nenhum dos desenhos suficientemente pequeno para ser visto do nvel do cho, onde parecem simplesmente uma srie de sulcos informes no deserto, e s mostram sua

  • verdadeira forma quando vistos de uma altitude de vrias centenas de metros. No h por perto uma elevao que pudesse ter servido de ponto de observao.

    Riscadores de Linhas, Cartgrafos Estou voando por cima das linhas, tentando delas extrair algum sentido. Meu piloto Rodolfo Arias, que pertenceu Fora Area peruana. Aps uma carreira feita em caas a jato, ele considera o pequeno Cessna lento e montono demais e trata-o como se fosse apenas um txi com asas. J voltamos uma vez ao aeroporto de Nazca para retirar uma janela do aparelho, de modo que minha companheira Santha pudesse assestar verticalmente suas cmaras para os misteriosos glifos. Nesse momento, estamos fazendo experimentos, de altitudes diferentes, de interpretao da paisagem. A algumas dezenas de metros acima da Ricinulei, a aranha da Amaznia, parece que ela est se levantando sobre as patas traseiras para nos pegar com as mandbulas. A 150m de altura, podemos ver simultaneamente vrias figuras: um co, uma rvore, um estranhssimo par de mos, o condor e alguns tringulos e trapezides. Quando subimos para 1.500m, os zoomorfos, at ento predominantes, aparecem apenas como pequenas unidades espalhadas, cercadas por uma garatuja impressionante de imensas formas geomtricas. Essas formas, nesse momento, parecem-se menos com pistas de pouso e mais com trilhas abertas por ps de gigantes, trilhas que cruzam o plat no que parece, primeira vista, uma desnorteante variedade de formas, ngulos e tamanhos. medida que o solo continua a afastar-se, contudo, na proporo em que a ampliao da perspectiva das linhas permite uma viso do alto mais ampla, comeo a me perguntar se, afinal de contas, no haveria algum mtodo nos cortes e riscos cuneiformes espalhados l embaixo. Lembro-me de uma observao feita por Maria Reiche, a matemtica

  • que morou em Nazca e estudou as linhas desde 1946. Em sua opinio: Os desenhos geomtricos do a impresso de ser uma escrita cifrada, na qual as mesmas palavras so, s vezes, escritas em letras gigantescas e, em outras ocasies, em caracteres minsculos. H arranjos de linhas que aparecem em uma grande variedade de categorias de tamanho, com formas muito parecidas. Todos os desenhos so compostos de certo nmero de elementos bsicos... Enquanto o Cessna se sacode e corcoveia nos cus, lembro-me tambm que no constituiu acidente que as linhas de Nazca s tenham sido devidamente identificadas no sculo XX, aps o incio da era dos vos pelo homem. Em fins do sculo XVI, um magistrado chamado Luis de Monzon tornou-se o primeiro viajante espanhol a trazer relatos de testemunha ocular a respeito dessas misteriosas "marcas no deserto" e a compilar as estranhas tradies que as ligavam aos Viracochas. At que companhias de aviao comercial comeassem a operar regularmente entre Lima e Arequipa na dcada de 1930, porm, aparentemente ningum havia percebido que a maior pea de arte grfica existente no mundo estava ali, no sul do Peru. O desenvolvimento da aviao fez toda diferena, dando a homens e mulheres a capacidade divina de subir aos cus e ver coisas belas e enigmticas que, at ento, lhes haviam sido veladas. Rodolfo, nesse momento, dirige o Cessna em um crculo suave sobre a figura do macaco - um macaco enorme preso em um quebra-cabeas de formas geomtricas. No fcil para mim descrever a sensao sobrenatural, hipntica, que esse desenho me produziu: era algo muito complicado e absorvente para a vista e ligeiramente sinistro, de uma forma abstrata, indefinvel. O corpo do macaco definido por uma linha contnua, ininterrupta. E sem jamais ser interrompida, a mesma linha coleia subindo degraus, passa por cima de pirmides, em uma srie de ziguezagues, atravs de um labirinto em espiral (a cauda), em seguida recuando em certo nmero de voltas

  • apertadas em forma de losango. Seria um verdadeiro tour de force para um desenhista e exibio de percia artstica reproduzir tudo isso em uma folha de papel, mas o que tnhamos a era o deserto de Nazca (onde as coisas foram feitas em escala grandiosa) e o macaco tem pelo menos 120m de comprimento por 90m de largura... Teriam os riscadores de linhas sido tambm cartgrafos? E por que eram chamados de Viracochas?

    CAPTULO 5 A Trilha Inca Para o Passado

    Nenhum artefato ou monumento, nenhuma cidade ou templo, tm durado mais, em forma reconhecvel, do que as tradies religiosas mais persistentes. Fossem elas expressas nos Textos das Pirmides, do antigo Egito, ou na Bblia hebraica, essas tradies figuram entre as mais imperecveis de todas as criaes humanas: poderamos dizer que so veculos de conhecimento que viajam atravs do tempo. Os ltimos guardies da herana religiosa antiga do Peru, os incas, tiveram suas crenas e "idolatria" "extirpadas", e seus tesouros foram pilhados durante os trinta anos terrveis que se seguiram conquista espanhola, no ano de 1532. Milagrosamente, contudo, alguns dos primeiros viajantes espanhis esforaram-se para documentar as tradies antes que elas fossem inteiramente esquecidas. Embora pouca ateno lhes tenha sido dada na poca, algumas dessas tradies referem-se surpreendentemente a uma grande civilizao que se acredita ter existido muitos milhares de anos antes no Peru. Memrias duradouras, no entanto, foram preservadas dessa civilizao, que algumas fontes dizem ter sido fundada pelos Viracochas, os mesmos seres misteriosos a quem se atribui o crdito pelo traado das linhas de Nazca.

  • "Espuma do Mar Ao chegarem os conquistadores espanhis, o Imprio Inca estendia-se pela costa do Pacfico e altiplanos dos Andes, desde a fronteira norte do moderno Equador, passando por todo o Peru e prolongando-se to ao sul quanto o rio Maule, no centro do Chile. Ligando os cantos muito separados do imprio havia um vasto e sofisticado sistema de estradas: duas estradas paralelas que corriam no sentido norte-sul, por exemplo, uma delas com 3.600km de extenso, bordejando a costa e, a outra, em distncia semelhante, cruzando os Andes. Ambas as grandes vias eram pavimentadas e contavam com uma rede de numerosas estradas vicinais. Alm disso, exibiam uma interessante variedade de projetos e obras de engenharia, tais como pontes pnseis e tneis escavados em rocha bruta. A obra era trabalho de uma sociedade evoluda, disciplinada e ambiciosa. Ironicamente, essas obras desempenharam um papel importante na queda do imprio: as foras espanholas, sob o comando de Francisco Pizarro, usaram-nas com grande proveito para acelerar seu avano implacvel at o corao do imprio. O imprio tinha como capital a cidade de Cuzco, nome que na lngua quchua significa "umbigo da terra. Segundo a lenda, Cuzco fora fundada por Manco Capac e Mama Occlo, dois filhos do sol. No local, embora os incas adorassem o deus sol, a quem davam o nome de Inti, outro ser divino, muito diferente, era venerado como o Mais Sagrado de todos, o Viracocha, cujos homnimos teriam traado as linhas de Nazca e cujo nome significa "Espuma do Mar". Constituiu sem dvida mera coincidncia que a deusa grega Afrodite, nascida do mar, tenha recebido seu nome numa referncia "espuma [aphros] da qual fora criada. Alm do mais, Viracocha era sempre descrito como inconfundivelmente humano pelos povos dos Andes. Esse fato sobre ele incontestvel. Nenhum historiador, porm, pode dizer qual a antiguidade do culto a essa divindade, antes de os espanhis chegarem para pr fim a tudo isso. E isso aconteceu

  • porque o culto parecia ter sempre existido. Na verdade, muito antes de os incas terem-no incorporado sua cosmogonia e lhe construdo um templo magnfico em Cuzco, a evidncia disponvel sugere que o deus supremo Viracocha fora adorado por todas as civilizaes que um dia existiram na longa histria do Peru.

    A Cidadela de Viracocha Poucos dias depois de termos deixado Nazca, Santha e eu chegamos a Cuzco e fomos conhecer o local onde se erguia o Coricancha, o grande templo dedicado a Viracocha na era pr-colombiana. O Coricancha, claro, desaparecera h muito tempo. Ou, para ser mais exato, em vez de desaparecido fora sepultado por camadas de obras de arquitetura posterior. Os espanhis haviam conservado as soberbas fundaes incaicas e as partes baixas de suas paredes fabulosamente robustas e sobre elas erigido sua prpria grandiosa catedral colonial. Cruzando a entrada principal da catedral, lembrei-me de que o templo incaico que ali existira fora recoberto por mais de 700 chapas de ouro puro (cada chapa pesava dois quilos) e que seu espaoso ptio contara com "milharais" de imitao, cujas espigas tinham tambm gros de ouro. No pude deixar de me lembrar do Templo de Salomo na distante Jerusalm, que a lenda diz ter sido tambm adornado com chapas de ouro e um pomar maravilhoso de rvores tambm de ouro. Terremotos em 1650 e, mais uma vez, em 1950 tinham derrubado quase por completo a Catedral de Santo Domingo, que ocupava o local onde antes existira o templo de Viracocha, e fora necessrio reconstru-Ia em ambas as ocasies. As fundaes e as paredes inferiores, de construo incaica, haviam resistido a ambas as calamidades graas ao projeto caracterstico usado, que empregava um engenhoso sistema de blocos poligonais interligados. Esses blocos, e a disposio geral do local, eram praticamente tudo que restava da estrutura original, parte uma plataforma octogonal de

  • pedra cinzenta, no centro do vasto ptio retangular, que fora em priscas eras revestido com 55kg de ouro. De cada lado do ptio, abriam-se antecmaras, pertencentes tambm ao templo, ostentando refinados aspectos arquitetnicos, tais como tetos que se afilavam para cima e nichos maravilhosamente lavrados e cortados em uma nica pea de granito. Demos um passeio pelas ruas estreitas e lajeadas de Cuzco. Olhando em volta, dei-me conta de que no era apenas a catedral que refletia a prepotncia espanhola sobre uma cultura mais antiga: a cidade toda parecia ligeiramente esquizofrnica. Casas e palcios coloniais, espaosos, em tons pastel, avarandados, erguiam-se altos em volta, mas quase todos assentados sobre fundaes incaicas ou incorporando estruturas completas da mesma origem, do tipo usado em Coricancha. Em um dos becos, conhecido como Hatunrumiyoc, parei para examinar um complicado quebra-cabea sob a forma de uma muralha construda com incontveis blocos de pedra, todos perfeitamente encaixados, todos de diferentes tamanhos e formas, interligando-se em um desnorteante conjunto de ngulos. O corte dos blocos individuais e o arranjo a eles dado na complicada estrutura s poderiam ter sido realizados por mestres-artesos com alto grau de habilidade, tendo por trs incontveis sculos de experimentao arquitetnica. Em um nico bloco, contei doze ngulos e lados em um nico plano e no consegui introduzir nem a ponta de uma folha de papel fino nas juntas que o ligavam aos blocos em volta.

    O Estrangeiro Barbudo Parecia que, em princpios do sculo XVI, antes que os espanhis comeassem a demolir a todo vapor a cultura peruana, uma esttua de Viracocha estivera vista no Santurio de Coricancha. Segundo um texto da poca, Relacion anonyma de los costumbres antiquos de los naturales del Piru, o dolo era uma esttua de mrmore do deus - uma esttua descrita assim: "nos cabelos, cor, traos fisionmicos,

  • traje e sandlias exatamente como pintores representavam o apstolo So Bartolomeu". Outras descries apresentavam Viracocha como parecido com So Tom. Examinei certo nmero de manuscritos eclesisticos ilustrados, nos quais apareciam os dois santos. Ambos eram rotineiramente descritos como homens brancos magros, barbudos, j alm da meia-idade, usando sandlias e casacos compridos e ondulantes. Conforme veremos adiante, os registros remanescentes confirmam que esta era exatamente a aparncia atribuda a Viracocha pelos que o adoravam. Quem quer que fosse, portanto, ele no poderia ter sido um ndio americano, que tem a pele relativamente escura e pouca barba. A frondosa barba de Viracocha e o rosto claro davam-lhe o aspecto de um tipo caucasiano. No sculo XVI, os incas pensavam da mesma forma. Na verdade, as lendas e crenas religiosas haviam-nos convencido tanto da aparncia do deus que, no incio, eles confundiram os espanhis brancos e barbudos que chegavam s suas praias com a volta de Viracocha e seus semideuses, fato este profetizado muito tempo antes e que, segundo todas as lendas, ele prometera fazer. Essa feliz coincidncia deu aos conquistadores de Pizarro a vantagem estratgica e psicolgica decisiva de que precisavam para vencer as foras incas numericamente superiores nas batalhas que se seguiram. Quem havia fornecido o modelo para os Viracochas?

    CAPTULO 6 Ele Veio em uma poca de Caos

    Atravs de todas as lendas antigas dos povos andinos perpassa misteriosa uma figura alta, barbuda, de pele clara, envolvida em um manto de segredo. Embora, em muitos diferentes lugares, fosse conhecido por diferentes nomes, ele era sempre reconhecivelmente a mesma figura: Viracocha, Espuma do Mar, mestre da cincia e da magia que manejava armas terrveis e que chegara em uma poca de caos para restabelecer a ordem no mundo.

  • A mesma histria bsica era contada com numerosas variantes por todos os povos da regio andina. Tudo comeou com a descrio vvida de um perodo apavorante, quando a terra fora inundada por grandes enchentes e mergulhara na escurido com o desaparecimento do sol. A sociedade caiu na maior desordem e o povo enfrentou um sem-nmero de dificuldades. Mas ento subitamente apareceu, vindo do sul, um homem branco de grande estatura e postura autoritria. Esse homem tinha tal poder que transformou colinas em vales e de vales criou grandes colinas e fez com que gua jorrasse de pedra viva... O historiador espanhol antigo que ps no papel essa tradio explicou que ela lhe fora contada por ndios que conhecera em jornadas pelos Andes: E eles ouviram essas histrias de seus pais, que, por seu lado, tinham-nas recebido atravs de velhas canes legadas de uma gerao a outra desde tempos muito antigos... Disseram que esse homem viajou pela rota do altiplano em direo ao norte, fazendo maravilhas por onde passava e que nunca mais voltaram a v-Io... Contaram que, em muitos lugares, ele deu instrues aos homens sobre como deveriam viver, falando-lhes com grande amor e bondade e aconselhando-os a ser bons e no causar danos ou mal uns aos outros, mas que se amassem e que demonstrassem compaixo para com todos os seres. Na maioria dos locais, deram-lhe o nome de Ticci Viracocha... Entre outros nomes pelos quais era conhecida a mesma figura contavam-se os de Huaracocha, Con, Con Ticci ou Kon Tiki, Thunupa, Taapac, Tupaca e Illa. Ele era cientista, arquiteto de superior qualidade, escultor e engenheiro: "Ele mandou que terraos e campos fossem construdos em encostas ngremes de ravinas e levantados muros para sustent-Ios. E criou tambm canais de irrigao para que a gua corresse... e viajou em vrias direes, organizando muitas coisas.

  • Viracocha foi ainda mestre e curador e ajudava os necessitados. Dizia-se que, "por onde ele passava, curava todos os que estavam doentes e restitua a vista aos cegos". Esse samaritano bondoso, civilizador, "super-humano", porm, tinha um outro lado. Se sua vida fosse ameaada, como parece que aconteceu em vrias ocasies, ele tinha disposio a arma do fogo dos cus: Realizando grandes milagres com suas palavras, ele chegou ao distrito de Canas e a, perto da aldeia conhecida como Cacha (...) o povo se levantou contra ele e ameaou apedrej-lo. Viram-no cair de joelhos e erguer as mos para o cu, como se implorando ajuda naquele perigo. Os ndios contaram que, em seguida, viram fogo descer do cu, que parecia cerc-Ios por todos os lados. Aterrorizados, aproximaram-se dele, que antes tencionavam matar, e imploraram que os perdoasse. Logo em seguida, viram que o fogo se apagava sua ordem, embora pedras tivessem sido consumidas de tal maneira pelo fogo que grandes blocos podiam ser levantados com a mo, como se fossem de rolha. Eles contaram ainda que, deixando o local onde havia acontecido tudo isso, ele se dirigiu para a costa e l, puxando o manto para o corpo, entrou nas ondas e no foi mais visto. E quando ele se foi, deram-lhe o nome de Viracocha, que significa "Espuma do Mar". As lendas eram unnimes na descrio fsica de Viracocha. No Suma y Narracion de los Incas, por exemplo, Juan de Betanzos, um historiador espanhol do sculo XVI, afirma que, de acordo com os ndios, ele fora "um homem barbudo de alta estatura, que vestia um manto branco que lhe chegava aos ps e que usava amarrado com um cinto". Outras descries, recolhidas entre povos andinos muito diferentes e muito separados entre si, aparentemente identificavam o mesmo indivduo enigmtico. De acordo com uma dessas fontes, ele era: Um homem barbudo de estatura mediana, vestido com um manto bem longo... J na meia-idade, tinha cabelos grisalhos e era magro.

  • Andava com um cajado e dirigia-se em termos afetuosos aos nativos, chamando-os de filhos e filhas. Viajando pela terra, fazia milagres. Curava os doentes ao toc-los. Falava todas as lnguas melhor do que os nativos. Os ndios chamavam-no de Thunupa ou Tarpaca, Viracocha-rapacha ou Pachacan... Outra lenda dizia que Thunupa- Viracocha fora um "homem branco de grande estatura, cujo ar e porte despertavam grande respeito e venerao". Em outra, era descrito como "um homem branco de aparncia augusta, olhos azuis, barbudo, sem adereo na cabea e que usava uma cusma, uma blusa ou camisa sem mangas que lhe chegava aos joelhos". Em ainda outra, que aparentemente se referia a outra fase da vida de Viracocha, ele era reverenciado como "sbio conselheiro em assuntos de Estado" e descrito como "um velho, com barba e cabelos longos, que usava uma comprida tnica".

    Misso Civilizatria Acima de tudo, Viracocha era lembrado nas lendas como um mestre. Antes de sua vinda, diziam as histrias, "os homens viviam em um estado de desordem, muitos andavam nus como selvagens, no tinham casas ou outras habitaes que no cavernas e delas saam para coletar nos campos o que podiam para comer". Atribua-se a Viracocha ter mudado tudo isso e dado incio a uma longa era de ouro, que geraes posteriores mencionavam com nostalgia. Todas as lendas concordavam, alm disso, que ele realizara sua misso civilizatria com grande bondade e, tanto quanto possvel, evitara o uso da fora: instrues cuidadosas e exemplo pessoal haviam sido os mtodos principais por ele usados para ensinar ao povo as tcnicas e conhecimentos necessrios a uma vida civilizada e produtiva. Em especial, era lembrado por ter trazido ao Peru conhecimentos to variados como os de medicina, metalurgia, agricultura, criao de animais, a escrita (que, diziam os incas, fora

  • ensinada por Viracocha, mas posteriormente esquecida) e conhecimentos sofisticados de princpios da engenharia e arquitetura. Eu j estava impressionado com a qualidade do trabalho de cantaria dos incas em Cuzco. Continuando minhas pesquisas na velha cidade, contudo, fiquei surpreso ao descobrir que o citado trabalho de construo dos incas no podia ser atribudo, com qualquer grau de certeza arqueolgica, apenas a eles. Era bem verdade que haviam sido mestres na manipulao de pedras e que numerosos monumentos em Cuzco foram, sem a menor dvida, trabalhos deles. Parecia, no entanto, que algumas das estruturas mais notveis que lhes eram rotineiramente atribudas poderiam ter sido erigidas por civilizaes mais antigas. A prova sugeria que os incas haviam muitas vezes trabalhado como restauradores dessas estruturas, e no como seus construtores originais. O mesmo parecia acontecer com o altamente desenvolvido sistema de estradas, que ligava partes muito distantes do imprio. O leitor deve lembrar-se de que essas obras tinham a forma de estradas paralelas, que corriam no sentido norte-sul, uma delas ao longo da costa e a outra cruzando os Andes. No total, mais de 24.000km de estradas pavimentadas estiveram em uso regular e eficiente ao tempo da conquista espanhola. Eu havia feito a suposio de que os incas tinham sido responsveis pela construo dessa rede viria. Nesse momento, descobri que era muito mais provvel que constitussem um sistema herdado. O trabalho que coubera aos incas fora o de restaurar, manter e unificar a rede pr-existente. Na verdade, embora este fato no fosse admitido com freqncia, nenhum especialista podia estimar, com segurana, que idade tinham essas estradas incrveis e quem as havia construdo. O mistrio tornava-se ainda mais profundo dadas as tradies locais, que afirmavam no s que o sistema de estradas e a arquitetura sofisticada j "eram antigos no tempo dos incas", mas tambm que ambos "eram obra de homens brancos, ruivos" que haviam vivido milhares de anos antes.

  • Uma das lendas descrevia Viracocha como acompanhado de "mensageiros" de dois tipos, "soldados fiis" (huaminca) e "refulgentes" (hayhuaypanti), a quem cabia o papel de levar a mensagem de seu senhor "a todas as partes do mundo". Em outras lendas, encontramos frases como "Con Ticci voltou (...) com certo nmero de atendentes", "Con Ticci, em seguida, convocou seus seguidores, que eram chamados de viracochas", "Con Ticci ordenou a todos, menos a dois viracochas, que seguissem para o leste...". "De um lago saiu um Senhor chamado Con Ticci Viracocha, trazendo consigo certo nmero de homens...". "E, assim, os viracochas seguiram para os diferentes distritos que Viracocha lhes designara...".

    Obra de Demnios? A antiga cidadela de Sacsayhuamn situa-se a pouca distncia ao norte de Cuzco. Chegamos ao local em fins da tarde, sob um cu quase encoberto por pesadas nuvens cor de prata suja. Uma brisa fria soprava pela tundra de alta altitude, enquanto eu subia as escadarias, passava por portais com dintis, construdos para gigantes, e caminhava ao longo de fileiras gigantescas de muralhas em forma de Ziguezague. Espichei o pescoo e levantei a vista para a grande pedra de granito por baixo da qual passava meu cam